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ADMINISTRAÇÃO DE ESTOQUE COMO FATOR GERADOR DE LUCRO Anderson Loose 1 RESUMO A administração de estoque se desponta no contexto empresarial como um gerenciamento de relevante importância, tanto para o processo e desempenho operacional, como financeiro. Nesse sentido, o objetivo central deste trabalho é analisar a gestão do estoque como fator otimizador dos investimentos realizados no ativo circulante da empresa por meio da administração de seus estoques e apresentar, principalmente aos micro-empresários, os benefícios de uma administração de estoque eficiente. A pesquisa exploratória e bibliográfica permitiu detectar que a administração de estoque se fundamenta na percepção de que esse tipo de administração nas empresas é uma poderosa arma que pode afetar tanto a satisfação do consumidor (qualidade do produto e tempo de atendimento), quanto a satisfação da empresa (otimização de espaço e capital investido). Palavras-chave: Estoque. Investimento. Satisfação. INTRODUÇÃO Cada vez mais o sucesso e a competitividade das empresas vêm dependendo da maneira como se utiliza as estratégias de produção, visto que o mercado atual estabelece, a cada instante, novas mudanças na política de estocagem, fazendo com que seja obrigatória a busca de novas formas de gestão, com o objetivo de manter a sustentabilidade empresarial. Aprofundando-se neste tema, percebe-se que existe uma acirrada competição no mercado, onde está em evidência o “preço a cobrar”, o “prazo a cumprir” e a “qualidade a ofertar”. 1 Graduando do curso de Administração de Empresas da Fundação Universidade Federal de Rondônia ― UNIR Campus de Cacoal ― 2008-2.

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ADMINISTRAÇÃO DE ESTOQUE COMO FATOR GERADOR DE LUCRO

Anderson Loose1

RESUMO

A administração de estoque se desponta no contexto empresarial como um gerenciamento de relevante importância, tanto para o processo e desempenho operacional, como financeiro. Nesse sentido, o objetivo central deste trabalho é analisar a gestão do estoque como fator otimizador dos investimentos realizados no ativo circulante da empresa por meio da administração de seus estoques e apresentar, principalmente aos micro-empresários, os benefícios de uma administração de estoque eficiente. A pesquisa exploratória e bibliográfica permitiu detectar que a administração de estoque se fundamenta na percepção de que esse tipo de administração nas empresas é uma poderosa arma que pode afetar tanto a satisfação do consumidor (qualidade do produto e tempo de atendimento), quanto a satisfação da empresa (otimização de espaço e capital investido).

Palavras-chave: Estoque. Investimento. Satisfação.

INTRODUÇÃO

Cada vez mais o sucesso e a competitividade das empresas vêm

dependendo da maneira como se utiliza as estratégias de produção, visto que o

mercado atual estabelece, a cada instante, novas mudanças na política de

estocagem, fazendo com que seja obrigatória a busca de novas formas de

gestão, com o objetivo de manter a sustentabilidade empresarial.

Aprofundando-se neste tema, percebe-se que existe uma acirrada

competição no mercado, onde está em evidência o “preço a cobrar”, o “prazo a

cumprir” e a “qualidade a ofertar”.

1 Graduando do curso de Administração de Empresas da Fundação Universidade Federal de Rondônia ― UNIR Campus de Cacoal ― 2008-2.

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Com essa nova perspectiva, a administração de estoque assume um

caráter essencialmente relevante para a ligação entre a eficiência do processo e

a redução de custos com aspectos diretamente relacionados à satisfação dos

clientes com a qualidade do produto. Logo, é preciso o cumprimento de prazos e

rapidez na adaptação a novas circunstâncias do mercado, como a introdução de

novos produtos, capacidade de produção, eficiência nas entregas, etc.

Diante disso, nota-se que o controle de estoque em tempos atuais tem

recebido especial atenção dos meios acadêmicos e empresariais, de modo a

entender a administração dos estoques em ambiente de produção e distribuição.

A necessidade de rever o gerenciamento de estoque é conseqüência da

urgência das empresas em estarem preparadas constantemente para a

competitividade, aonde este pode ser uma expressiva diferença entre as

empresas para a sobrevivência no mercado global. Neste cenário, colocar o

produto certo, no local certo, na hora certa, pelo menor preço é a grande meta a

ser alcançada.

A importância da administração de estoques é que os mesmos são ativos

relevantes para a empresa, portanto, parte substancial do capital de

investimentos da empresa. Com isso, manter estoques gera custos, que por sua

vez a estratégia implica na sua redução sem afetar o processo produtivo e o

atendimento do cliente.

Portanto, em ambientes cada vez mais complexos, exigentes e

competitivos a administração de estoque se torna um grande desafio, que leva

nesse trabalho o questionamento, a saber: Quais os benefícios que pode obter

uma empresa com uma administração eficiente de seus estoques?

O objetivo geral é analisar a gestão do estoque como fator otimizador dos

investimentos realizados no ativo circulante da empresa por meio da

administração de seus estoques.

A fim de alcançar o objetivo geral serão atendidos os seguintes objetivos

específicos:

a) apresentar princípios básicos na administração de estoque;

b) expor os conflitos existentes entre os departamentos com relação aos

estoques;

c) demonstrar a importância da administração do estoque para o lucro

efetivo da empresa;

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d) identificar fatores de desperdícios e perdas no estoque por vencimento

de validade;

e) descrever ferramentas auxiliares para a administração eficiente do

estoque.

De acordo com o critério de classificação de pesquisa de Vergara (2000),

quanto aos fins e quanto aos meios de investigação, este trabalho se baseia na

pesquisa exploratória e bibliográfica.

Conforme Vergara (2000) a pesquisa exploratória é realizada em área na

qual há pouco conhecimento acumulado e sistematizado.

Gil (1999) expõe que a pesquisa exploratória tem como escopo

proporcionar uma visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato.

Quanto aos meios de busca, explica Gil (1999) que a pesquisa

bibliográfica surge a partir de trabalhos de pesquisas de diversos autores

referentes a determinado assunto. Portanto, se fez necessário o levantamento de

publicações disponíveis ao público sobre o assunto, tais como livros, artigos,

revistas especializadas, a fim de compor a fundamentação teórica.

Considerando que o estudo apresenta uma relação dinâmica entre o

mundo real e o sujeito, onde existe uma interpretação dos fenômenos e a

atribuição de significados, esta pesquisa, segundo Silva e Menezes (2001),

possui uma abordagem qualitativa.

Justifica-se o estudo da administração de estoque, fundamentado na

percepção de que esse tipo de administração nas empresas é uma poderosa

arma que pode afetar a satisfação do consumidor e da própria empresa, além de

despertar, principalmente nos “administradores empíricos” que não tiveram uma

formação teórica-científica, a relevância que o estoque assume na empresa.

1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Há algumas décadas atrás o foco e a preocupação das empresas estavam

voltados, na grande maioria, para o setor da produção e da venda com uma visão

voltada estritamente na busca dos lucros, e não se dava a devida importância para o

estoque, no sentido de melhor administra-lo, para que este também contribuísse

para um melhor resultado financeiro do empreendimento.

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Com base nas diversas literaturas disponíveis, pode-se verificar a

importância da administração de estoque e formas de melhor administra-lo.

1.1 Estoque

O estoque é o objeto central atacado no desenvolvimento deste artigo,

dessa forma far-se-á necessária a correta compreensão e ciência do que vem a ser

estoque no ambiente da empresa.

1.1.1 Conceito

De forma bem simplificada conceitua-se estoque como a quantidade de

mercadoria ou produto disponível, tanto para a venda como para o uso e o

processamento.

Arnold (1999) destaca o estoque como todos os materiais e suprimentos

que uma empresa mantém, seja para a venda final ou fornecimento de insumos

para o processo de produção. Ressalta-se que em todas as organizações é

necessária a manutenção de estoques, que se constituem em parte substancial

dos ativos totais.

Slack et al. (2002) apresenta o estoque como a acumulação armazenada

de materiais em um sistema de produção. Os autores ressaltam que o estoque é

um elemento obrigatório na cadeia de suprimentos para atender a demanda

exigida.

O estoque se torna necessário a partir do momento em que não se pode

precisar exatamente a dimensão existente entre a oferta e a demanda, sendo

assim, o estoque funciona como um amortecedor que absorve as irregularidades

entre a demanda e a oferta de um produto.

Uma analogia muito utilizada e muito didática para a compreensão da

função principal do estoque na empresa é a analogia entre o estoque e um

reservatório de água, onde, conforme Martins e Alt (2006), o reservatório possui

uma entrada de água, que seria comparada a aquisição de produtos ou matéria-

prima, a saída da água, que seria as vendas dos produtos e o reservatório, que

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seria o estoque da empresa. A administração de estoque deve sincronizar as

entradas com as saídas, de forma que seja exigido o mínimo possível do estoque

(reservatório).

Dentro do contexto o estoque vai absorver outras variáveis do processo,

justificando a sua existência, como será apresentado oportunamente.

1.1.2 Tipo de estoque

Conforme a área de atuação da empresa, o seu estoque pode assumir

várias tipificações em sua classificação, assim como dimensões variadas. Se tratar

de uma empresa de prestação de serviço, por exemplo, seu tipo de estoque será

mais restrito mantendo estoque de material relacionado ao serviço que presta. Se

tratar de uma empresa comercial, seu estoque será mais abrangente e, se

analisarmos uma indústria os estoque serão ainda mais abrangentes, pois

necessitará de vários tipos de estoques para desenvolver suas atividades, como por

exemplo: estoque de matéria-prima, estoque em processo, estoque de produtos

acabados, além de vários outros como: material de expediente, produtos de limpeza,

peças de reposição, etc.

Segundo Moura (2004) os estoques podem ser classificados em ativos e

inativos e cada um engloba os vários tipos de estoques, conforme abaixo

relacionado.

1.1.2.1 Estoque ativo

O estoque ativo reúne materiais que estão à disposição da empresa para

aplicação imediata onde houver necessidade ou demanda. De acordo com a sua

destinação e a utilização, o estoque ativo se divide nos seguintes tipos de estoque:

a) matéria-prima: é todo material utilizado no processo para a obtenção de

um produto final. Material relacionado diretamente à atividade operacional

da empresa.

b) produtos em processamento: são todos os materiais que estão sofrendo o

processo a fim de serem transformados nos produtos finais. São materiais

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que saíram da fase de matéria-prima, mas não atingiram sua configuração

final; estão no processo de produção.

c) produtos acabados: São os produtos prontos para a distribuição e

comercialização. São os produtos aptos à venda.

d) materiais de manutenção e reparo: São materiais utilizados no processo

produtivo, mas que não integram o produto final. Geralmente são peças e

componentes envolvidos na atividade operacional da empresa, dando

condições ao processamento da matéria-prima, por exemplo.

e) materiais administrativos: São os materiais despendidos e necessários ao

andamento das atividades paralelas da empresa. São materiais de

aplicação geral na empresa e não tem vinculação direta com o processo

produtivo, como por exemplo: material de limpeza, higiene, material de

escritório, etc.

1.1.2.2 Estoque inativo

O estoque inativo reúne os materiais que não tem utilidade ou serventia para

a empresa devido a alguma forma de inutilização ou obsolescência. O estoque

inativo se divide nos seguintes tipos de estoque:

a) estoque alienável: são materiais que não tem mais utilidade para a

empresa pela sua obsolescência ou sucateamento, contudo, pode ser

disponibilizado para venda.

b) estoque disponível: são materiais que, além de não terem utilidade para a

empresa, não tem qualquer possibilidade de aproveitamento ou utilização.

Conforme o tipo de empresa ― prestação de serviço, comercial ou industrial

― o seu estoque pode assumir designações diferentes, como por exemplo: os

produtos acabados, matéria-prima e materiais em processo, assim designados na

indústria, são reunidos em “mercadoria em estoque”, na empresa comercial.

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1.2 Administração de estoque

Segundo Mello (2001), a preocupação com a administração do estoque

da empresa aflorou com maior intensidade nos Estados Unidos na década de 70

por ocasião da crise do petróleo. Tal crise se deu pelo fato de a Organização dos

Paises Exportadores de Petróleo (OPEP) ter reduzido a produção, a fim de que o

preço do produto se elevasse no mercado internacional. Tal manobra teve como

conseqüência um forte e amplo impacto na economia mundial com aumento dos

preços dos combustíveis e derivados, aumento do custo da mão-de-obra e fretes.

Com o aumento no custo dos itens supracitados e sendo o petróleo

matéria-prima essencial para muitas empresas americanas, a elevação do preço

gerou uma inevitável crise no setor, levando os americanos a procurar

alternativas para aliviar os prejuízos.

Uma alternativa encontrada foi a redução sistemática dos estoques de

produtos. Foram realizados vários estudos a fim de estabelecer um estoque ideal,

onde não tivesse excesso de estoque desnecessário e nem a sua falta, levando

em conta a possibilidade de ocorrência de algum imprevisto, exigindo assim, um

estoque de segurança.

Desde então se começa a deixar de lado aquele pensamento da

necessidade de um grande estoque para evitar a falta de material na linha de

produção ou para atender o cliente. Verificou-se que a administração de estoque, a

fim de torná-lo mais enxuto, traz enormes vantagens para a empresa, principalmente

vantagens financeiras.

A administração de estoque é necessária para garantir produtos

disponíveis no momento que são requisitados, aliado à busca da minimização do

custo financeiro, em uma função de amortecimento nos vários estágios de

produção até a venda final do produto.

De forma resumida e simplificada, a eficiente administração de estoque

tem o objetivo de otimizar o investimento em estoque, diminuindo a exigência de

capital financeiro investido no setor e, consequentemente, no ativo circulante da

empresa.

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1.2.1 Políticas de estoque

De acordo com Dias (1993), as políticas de estoque devem ser

determinadas ao departamento de controle de estoque pela administração geral

da empresa e consiste em padrões, objetivos e diretrizes a serem seguidos.

De forma geral as diretrizes das políticas de estoque são as seguintes:

a) metas da empresa com relação ao tempo de atendimento do cliente

através da entrega do produto;

b) definição da lista e do número de materiais ou produtos a serem

estocados;

c) determinar até que níveis deverão flutuar os estoques para atender

uma alta ou baixa demanda ou uma alteração de consumo;

d) determinar até que ponto será permitida a especulação com estoque;

e) definir a rotatividade dos estoques.

As políticas de estoque são de grande relevância para o bom

desempenho da administração de estoque.

1.2.2 Princípios para administração de estoque

Para o desempenho satisfatório da administração de estoque é

necessário observar alguns princípios básicos que estão relacionados às suas

funções.

Dias (1993) descreve as funções básicas, quais sejam:

a) determinar o número de itens que devem permanecer em estoque;

b) determinar a periodicidade do reabastecimento do estoque;

c) determinar a quantidade de estoque que será necessário para um

período pré-determinado;

d) acionar o departamento de compras para a aquisição de estoque,

quando necessário;

e) receber, armazenar e atender os materiais estocados de acordo com

as necessidades;

f) controlar o estoque quanto à quantidade, valor e sua posição;

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g) manter inventários periódicos para avaliação da quantidade e estado

dos materiais estocados;

h) identificar e retirar do estoque os itens danificados e obsoletos.

1.2.3 Razões para manter estoque

Segundo Garcia, Lacerda e Arozo (2001), o controle do estoque tem

como propósito o planejamento, o controle e o replanejamento do material

armazenado na empresa e tem como objetivo:

a) evitar a falta de material, porém que não exista também o excesso de

estoque às necessidades reais da empresa;

b) manter os níveis de equilíbrio entre as necessidades de consumo com

os custos decorrentes do armazenamento.

Toda empresa necessita contar com estoques a fim de atender às

demandas e a armazenagem das mercadorias prevendo seu uso futuro, exigindo

investimento por parte da empresa. O ideal seria uma perfeita sincronização entre a

oferta e a demanda, de maneira a tornar a manutenção de estoques desnecessária.

Entretanto, como é impossível determinar exatamente a demanda futura e como

nem sempre as mercadorias componentes do estoque estão disponíveis a qualquer

momento, deve-se acumulá-las para assegurar a sua disponibilidade e minimizar os

custos totais de produção e distribuição.

Conforme Ballou (1993), na verdade, o estoque serve para uma série de

finalidades, quais sejam:

a) permitir economias de escala nas compras e no transporte;

b) agir como proteção contra aumentos de preços;

c) proteger a empresa de incertezas na demanda e no tempo de

ressuprimento;

d) atender a produção;

e) atender o cliente;

As finalidades destacadas, todas são justificáveis; a aquisição de uma

quantidade maior que a necessária se justifica pelo desconto obtido; a aquisição de

mercadoria prevendo um aumento de preço se justifica pela diferença de preço; a

aquisição de uma quantidade maior se justifica pela possível variável na demanda

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ou atrasos de pedidos e a aquisição de mercadorias a fim de atender a produção e o

cliente é essencial para a atividade da empresa, contudo, é necessária uma análise

criteriosa quanto aos custos e benefícios verificando a peculiaridade de cada

operação, a fim de que não se reverta em prejuízo para a empresa.

1.2.4 Conflito entre departamentos

De acordo com Dias (1993) são vários os conflitos interdepartamentais

em uma organização, onde manter uma política de estoque satisfatória requer de

um grande desafio, entre os benefícios e barreiras que existe nesse tipo de

operação.

Geralmente os conflitos2 aparecem nos departamentos de compras,

produção, vendas e financeiro, que são as atividades envolvidas diretamente no

processo de produção e armazenagem dos produtos, sendo que esses conflitos

se expressam em sua maioria, na capacidade de determinar a quantidade de

estoque, que melhor modelo utilizar, quais são as vantagens e desvantagens em

manter um gerenciamento de estoque, entre outros. O tema é um tanto complexo

e polêmico.

Neushel e Fuueler (apud DIAS, 1993) argumentam que as contradições

que surgem com o estoque em uma empresa, estão relacionadas não somente

com o fluxo diário de matérias entre a compra e venda como também se relaciona

com cada departamento integrante deste processo. Os problemas surgem:

a) nos prazos de entregas para os produtos acabados e na de reposição

da matéria-prima;

b) nas quantidades maiores de estoque, enquanto a produção permanece

constante;

c) na elevação do número de cancelamento de pedidos ou mesmo

devoluções de produtos acabados;

d) na variação excessiva da quantidade a ser produzida;

e) na produção parada freqüentemente por falta de material;

f) na falta de espaço para armazenamento;

g) na baixa rotação de estoques, gerando obsolescência do produto.2 Divergências ocasionadas pela busca do atendimento dos interesses próprios de cada departamento.

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Cada departamento tem uma ótica própria quanto aos estoques. O

departamento de compras pretende comprar em quantidade para obter um

melhor preço ou desconto, o departamento de produção quer um elevado estoque

de matéria-prima para evitar a sua falta na linha de produção e,

conseqüentemente, interromper o processo de produção; o setor de vendas quer

estoque elevado a fim de atender de pronto as demandas de vendas,

proporcionando uma boa imagem perante os clientes; o setor financeiro quer

evitar o capital investido em estoque, o seu elevado custo com armazenagem ou

a sua possível perda por sua deterioração ou obsolescência.

De fato, o interesse de cada departamento é reconhecidamente relevante

e oportuno, contudo, esses interesses devem ser muito bem racionalizados, a fim

de proporcionar a otimização do investimento em estoque e evitar perdas e

prejuízos para a empresa.

1.2.5 Estoque é investimento

Muitos empresários ou comerciantes não têm noção o que representa o

estoque em sua empresa, principalmente aqueles que conduzem suas empresas de

forma empírica3, sem uma formação adequada na área.

Pois bem, muitos desses empresários, ao serem questionados, podem

alegar que seu negócio está muito bem, contudo, se tivessem a noção da

importância de uma administração de estoque eficiente poderiam estar ainda

melhores.

Segundo Christopher (1997) os estoques emergem no contexto

organizacional como um importante diferencial de investimento, onde se observa

que podem superar o nível de 15% dos ativos nas indústrias, e mais de 25% nas

empresas varejistas.

Como se pode deduzir, o estoque representa uma parcela substancial do

ativo de uma empresa. O estoque de uma empresa representa uma conta poupança

onde o empresário deposita determinada quantia e pretende obter um retorno

satisfatório do seu investimento. Para que o estoque dê o retorno ele deverá “girar”

para produzir o “rendimento” esperado. Se o estoque não girar, além de não

3 Baseado na experiência.

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proporcionar o retorno esperado vai proporcionar prejuízo, pois gerará despesas

com o espaço utilizado para a armazenagem, o custo de oportunidade do capital

investido, o risco de obsolescência, etc.

O estoque está diretamente relacionado com o capital total da empresa;

quanto maior o estoque, tanto maior será o capital empregado.

É importante ressaltar que o estoque reúne vários esforços (físico,

financeiro, de mão-de-obra) desenvolvidos pela empresa e esses esforços deverão

ser recompensados com a venda dos produtos com margem de lucratividade que

permita a remuneração de todo o investimento realizado.

Na determinação das políticas da empresa é necessário definir, através de

análises, a freqüência dos pedidos dos produtos para o estoque da empresa, pois,

quanto menor for a freqüência de pedido, maior deverá ser o tamanho do pedido e

maior será o capital investido (capital de giro).

Suponha uma determinada empresa estabeleça uma freqüência de pedidos

(compras) de 6 vezes ao ano, aplicando um capital de R$ 120.000,00 em cada

compra. Agora essa mesma empresa adota uma freqüência de compras de 10

vezes ao ano. Dessa forma a freqüência de pedido aumenta, diminuindo o tamanho

do mesmo e, conseqüentemente, diminuindo o capital investido no estoque que,

conforme o exemplo, reduzirá para R$ 72.000,00 em cada compra, restando R$

48.000,00 para investimentos em outra área, contudo, as suas compras terão uma

freqüência maior, aumentando também os custos com pedidos, fato este a ser

analisado visando determinar a melhor estratégia a ser adotada.

1.2.6 Desperdício e perdas no estoque

A falta de atenção apropriada ao estoque será refletida na apuração do

resultado financeiro da empresa e, em muitos casos, o administrador verifica que a

situação financeira está precária, mas não consegue enxergar o motivo.

A má administração do estoque proporciona desperdícios e perdas

relevantes para a empresa. Arnold (1999) relaciona problemas que originam da

manutenção do nível elevado do estoque, tais como:

a) a necessidade de espaço maior para estocagem;

b) maior custo de capital em estoque;

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c) falta de liquidez financeira;

d) maior custo de seguros;

e) aumento das despesas administrativas;

f) custo de oportunidade;

g) a possível desvalorização das mercadorias;

h) obsolescência das mercadorias;

i) pequenos furtos.

Por outro lado, o nível de estoque muito baixo também acarreta alguns

problemas, como por exemplo, a interrupção ou a diminuição da produção, o não

atendimento do cliente no momento exigido, o não atendimento de uma demanda

inesperada, etc. A interrupção da produção significa atraso na produção e

conseqüentemente atraso no cumprimento com os compromissos firmados com

clientes, o que pode ocasionar prejuízos muito maiores que se possa imaginar, visto

que a conquista de um cliente requer um esforço muito maior do que a sua

manutenção.

1.3 Ferramentas aplicadas à administração de estoque

A administração de estoque é fator de grande importância para as empresas

(como já explanado) e isso proporciona à empresa um poder de competitividade

muito maior no mercado em que atua.

Muitas empresas ainda mantêm vários itens em estoque por medo de que os

mesmos faltem na sua linha de produção ou para o atendimento do cliente. Para

manter um melhor controle do estoque e reduzir seu custo, sem comprometer o

nível do atendimento, é importante que a empresa adote algum tipo de ferramenta

para auxiliar no bom desempenho da administração do estoque.

Existem várias ferramentas que podem auxiliar na administração do estoque,

dentre elas destacamos: a curva ABC, o ponto de pedido, o MRP (planejamento

das necessidades de materiais), o ERP (planejamento de recursos empresariais) e

o JIT (just-in-time).

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1.3.1 A Curva ABC

A curva ABC ou classificação ABC trata da classificação do

estoque conforme o grau de importância de cada item. É um método antigo, mas

muito eficaz e, conforme Arnold (1999), baseia-se no raciocínio desenvolvido pelo

economista italiano Vilfredo Pareto, que é conhecido como regra 80-20, ou seja,

20% do estoque representa 80% do faturamento da empresa.

Slack et al. (2002) esclarece que no modelo ABC, alguns produtos são mais

importantes que outros, logo, é preciso identificá-los de acordo com sua taxa de

consumo. Isso envolve o controle da movimentação de valor de demanda, entre os

produtos de alta taxa e os de baixa circulação que não precisam ser controlados tão

rigorosamente.

É através da classificação da curva ABC que conseguimos determinar o

grau de importância dos itens, permitindo assim, identificá-los e administrá-los

conforme a sua importância na composição do estoque.

De acordo com a classificação ABC, a relação valor/quantidade dos

estoques segue os parâmetros da tabela abaixo apresentada.

Tabela 1 ― Representação em percentual da classificação ABC dos itens em estoque

ClassificaçãoABC

Quantidade em Estoque (%)

Valor em estoque (%)

A 20% 80%

B 30% 15%

C 50% 5%

Fonte ― Ching (2001)

Conforme Dias (1993), os materiais ou produtos mantidos em estoque na

empresa, de acordo com a curva ABC, podem ser classificados da seguinte forma:

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a) classe A: representa uma pequena quantidade física de produtos que

representa um alto valor financeiro, merecendo assim uma atenção especial

na administração dos mesmos;

b) classe B: representa uma quantidade física de produtos maior que a

classe A e representa um valor financeiro mediano, merecendo atenção

intermediária;

c) classe C: representa uma quantidade física de produtos expressiva e

representa um valor financeiro baixo, sendo dispensada uma atenção

especial.

O gráfico que segue apresenta a relação existente entre o valor financeiro e

a quantidade de itens ou produtos disponíveis no estoque.

Figura 1 ― Representação da curva ABC

Fonte ― Martins e Alt (2006), adaptado

1.3.1.1 Cálculo da Curva ABC

Conforme explanação de Moura (2004), para produzir a curva ABC é

necessário efetuar, primeiramente, a soma total dos custos de cada item durante o

período. Após se divide o custo total individual pela soma geral dos custos; o

resultado é multiplicado por 100 e resultará a porcentagem que equivale aquele item

em relação ao custo total do estoque.

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Suponha que determinada empresa possua em seu estoque os itens W, Y,

X, D e E. O item W tem demanda mensal de 250 peças e seu custo é de R$ 30,00; o

item Y tem demanda mensal de 185 peças e seu custo é de R$ 54,00; o item X tem

demanda mensal de 1.150 peças e seu custo é de R$ 15,00; o item D tem demanda

anual de 1.500 Kg e seu custo é de R$ 970,00 o quilo e o item E tem demanda de

3.750 Kg e seu custo é de R$ 3,00 o quilo.

Tabela 2 ― Apresentação de cálculo do exemplo demonstrado

Item Demanda anual Custo unitário Valor anual %

W 250x12= 3.000 30,00 90.000,00 4,8

Y 185x12= 2.220 54,00 119.880,00 6,4

X 1.150x12= 13.800 15,00 207.000,00 11

D 1.500 970,00 1.455.000,00 77,2

E 3.750 3,00 11.250,00 0,60

Total 1.883.130,00

Fonte ― Moura (2004), adaptado

Analisando a tabela de cálculo acima apresentada, verifica-se que o item D

representa 77,2% do valor total do estoque movimentado anualmente pela empresa,

sendo um produto de características da classe A, merecendo uma atenção maior por

parte da administração de estoque.

Os itens Y e X representam 17,4% do valor total do estoque movimentado

pela empresa, sendo produtos de características da classe B, merecendo uma

atenção menor que a classe A.

Os itens W e E representam 5,4% do valor total do estoque movimentado

pela empresa, sendo produtos de características da classe C, merecendo pequena

atenção por parte da administração de estoque.

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010

2030

40

5060

70

80

D Y e X W e E

Diante do apresentado verifica-se que o nível de importância do produto não

se refere apenas ao produto que tem maior demanda ou valor financeiro, mas sim

da relação entre as duas variáveis em relação aos demais.

Figura 2 ― Representação do resultado do exemplo

Fonte ― O autor

1.3.2 Ponto de pedido

O ponto de pedido utiliza o gráfico dente de serra que é uma ferramenta

muito útil na administração de estoque e tem por objetivo acompanhar o nível de

estoque e determinar o momento de efetuar o ressuprimento ou o pedido de novos

produtos para compor o estoque, de acordo com a política da empresa.

Bertaglia (2005) observa que no modelo ponto de pedido, a análise dos

pedidos podem ser feitos diária ou semanalmente, aonde cada revisão vai

determinar a quantidade de itens presente no estoque e o pedido de unidades que

deverão ser repostas quando o consumo alcançar um nível definido. Contudo, alerta

para o fato que a empresa deve considerar a demanda média entre o prazo de

entrega e o estoque assegurado para atender aos pedidos e produção.

O gráfico dente de serra apresenta a dinâmica do consumo de materiais no

tempo.

Valo

r do

Esto

que

(%)

Itens do Estoque

17

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Figura 3 ― Gráfico dente de serra

Fonte ― Arnold (1999)

O gráfico é composto por um ponto máximo de estoque, um ponto de pedido

e um nível de estoque de segurança.

O ponto máximo de estoque será determinado conforme a política adotada,

como o tamanho e freqüência das compras, por exemplo.

O ponto de pedido é um limite estipulado para o estoque em que, sendo

atingido, deverá ser providenciada a imediata expedição de pedido para compra de

produtos para a reposição do estoque.

O estoque de segurança é uma parcela do estoque destinado a amortecer

ou suprir qualquer atraso ou eventualidade que importe na possível falta de produto

na empresa e, conseqüentemente, o não atendimento do cliente.

Estando o estoque completo, o mesmo irá diminuir à medida que a empresa

vai utilizando ou vendendo o produto estocado. Utilizando o gráfico dente de serra

no acompanhamento da dinâmica do estoque o administrador poderá determinar o

momento de efetuar novo pedido a fim de restabelecer o estoque de forma eficiente.

Estoque Máximo

Ponto de reposição

Estoque de segurança

TempoTempo de ressuprimento

Qua

ntid

ade

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Para determinar o ponto do pedido será necessário saber o quanto é

demandado do estoque por dia e quantos dias serão necessários entre o pedido dos

produtos e a sua disponibilidade no estoque da empresa4.

Suponha que determinada empresa atenda uma demanda média de 100

unidades por dia e o tempo gasto entre o pedido e o recebimento desse pedido seja

de 8 dias. Dessa forma, quando o estoque dispuser de 800 unidades o pedido

deverá ser efetuado, caso contrário o estoque acabará antes da sua reposição.

Mesmo o administrador seguindo criteriosamente o exposto, é possível que

haja algum contra tempo, como por exemplo: a falta do produto no fornecedor, o

atraso na entrega do pedido devido à quebra do veículo transportador, aumento da

demanda ou qualquer outro impedimento ou contratempo. Prevendo tais

adversidades o estoque deverá contar com um nível de segurança (estoque de

segurança) a fim de suprir esses atrasos e fatos indesejáveis. O dimensionamento

do estoque de segurança vai depender, também, da política adotada pela empresa.

1.3.3 MRP ― Planejamento das necessidades de materiais

O MRP é uma ferramenta utilizada para o planejamento e cálculo das

necessidades de materiais na produção e envolve a administração de estoque em

sua estrutura.

Slack et al. (2002) esclarece que a técnica MRP fornece as condições para

que a organização calcule qual a variedade de produtos que necessita e o momento

para sua aquisição; que a composição do ciclo operacional deste modelo emprega

como cálculo para ressuprimento as seguintes etapas: autorização de compra,

preparação do pedido, tempo de espera, tempo para processamento, separação do

pedido, movimentação, recebimento e liberação do pedido.

Trata-se de um software composto por vários módulos com diferentes

funções que se relacionam entre si buscando obter o material certo, no ponto certo e

na hora certa, a fim de diminuir custos de estocagem, diminuir custos de obtenção,

prever compras, etc.

Segundo Moura (2004), o MRP tem a função de planejamento empresarial,

previsão de vendas, planejamento de recursos produtivos, planejamento da 4 O tempo compreendido entre o pedido e a disponibilidade do produto no estoque é denominado de Lead time ou tempo de ressuprimento.

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produção, planejamento das necessidades de produção, controle e

acompanhamento da fabricação, compras e contabilização dos custos. O sistema

utiliza um programa mestre, um arquivo-lista do material e um arquivo de registro de

estoque. O programa trabalha em cima da lógica, onde efetua vários cálculos e

previsões de acordo com a disponibilidade e necessidade de material, tempo de

ressuprimento e atendimento de prazos determinados.

A partir de uma simulação apresentada a seguir, será exposto o princípio

básico do sistema.

Tabela 3 ― Dinâmica do MRP

Período (semana) 1 2 3 4 5 6 7

Necessidades brutas 10 40 15

Recebimentos programados 50 50

Estoque projetado disponível 6 6 46 46 6 41 41

Plano de liberação de ordens 50 50

Tempo de ressuprimento= 1 períodoTamanho do lote= 50 unidades

Fonte ― Arnold (1999), adaptado

Analisando os dados do quadro representativo da dinâmica do MRP,

verifica-se que no período (semana) 1 o estoque registra 6 unidades, contudo, na

terceira semana está previsto o processamento ou a necessidade de 10 unidades,

originando a necessidade real de 4 unidades. Como o tempo de ressuprimento é de

1 período, será emitida uma ordem de compra no início do período 2, o qual já

consta como recebimento programado para o início do período 3.

O estoque projetado disponível no final do período 3 é de 46 unidades. No

período 5 está prevista a utilização de 40 unidades, obtendo-se um estoque

projetado disponível de 6 unidades. No período 6 está prevista a utilização de 15

unidades, originando uma necessidade real de 9 unidades. Diante de tal

necessidade será emitida nova ordem de compra no início do período 5, gerando o

recebimento programado das unidades no início do período 6. No final do período 6

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é registrado o estoque projetado disponível igual a 41 unidades que se conservará

no período 7 por não ter havido qualquer atividade.

O ideal seria que as ordens de compras fossem do tamanho exato das

necessidades, nem mais, nem menos. Entretanto, a empresa pode optar por

trabalhar com lotes de produção para fazer frente a eventuais custos fixos em

relação à quantidade produzida (como, por exemplo, os custos de preparação de

máquina).

Todo processo é efetuado automaticamente pelo programa e é possível a

alteração de dados visando simular situações futuras.

O MRP, conforme Moura (2004), pode disponibilizar vários tipos de relatórios

que são ferramentas de grande relevância para administrar o processo, tais como: a

quantidade de compras realizadas, pedidos atrasados, pedidos vencidos,

necessidade futura de estoque, etc.

1.3.4 ERP ― Planejamento de recursos empresariais

O ERP é um sistema orientado para o planejamento dos recursos de uma

empresa. Fornece uma interface entre o usuário e toda a organização de modo a

gerenciar a produção, desde seu planejamento, materiais, reposição, compra,

controle, logística, programação da produção, monitoramento das etapas

produtivas, gestão financeira, entre outras. É uma extensão do planejamento de

recursos da produção (MRP- II).

Segundo Roquete, Silva e Sacomano (2000) a evolução do ERP se

caracteriza em atender não apenas o processo de fabricação, como também os

demais departamentos e suas respectivas integrações. Com a utilização do ERP

os departamentos de produção, contabilidade, fiscal e outros passaram a atuar de

forma integrada com a gestão de estoque, diminuindo assim os conflitos entre os

departamentos, servindo para aperfeiçoar os processos e reduzir custos.

Conforme Silva e Pessoa (1999), o ERP é um sistema que visa criar e

manter funcionalidades, em todas as áreas de uma empresa, sejam elas: vendas;

contas a receber; engenharia; gerenciamento de estoques; compras; contas a

pagar; gerenciamento de qualidade; produção; planejamento de distribuição e

transporte.

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Ressaltam Roquete, Silva e Sacomano (2000) que durante sua inserção

nas empresas o ERP era considerado a um alto investimento financeiro, sendo

utilizado apenas pelas grandes empresas, como recursos para tal investimento;

contudo, a necessidade de expansão para aquisição de novos clientes fez com

que essa tecnologia de informação migrasse para o atendimento de empresas de

pequeno e médio porte. Atualmente a quantidade de empresas que utilizam um

sistema ERP é muito mais significativa do que antigamente e projeta-se para um

crescimento constante.

Mendes e Escrivão Filho (2002), em uma revisão de literatura, resumem

o ERP nas seguintes características:

a) auxilia na tomada de decisão;

b) atende a todas as áreas da empresa;

c) possui base de dados única e centralizada;

d) possibilita maior controle sobre a empresa;

e) evolução do MRP-II;

f) obtém a informação em tempo real;

g) permite a integração das áreas da empresa;

h) possui modelos e referência;

i) é um sistema genérico;

j) oferece suporte ao planejamento estratégico;

k) suporta a necessidade de informação das áreas;

l) apóia as operações da empresa;

m) é uma ferramenta de mudança organizacional;

n) orientação a processos.

O ERP oferece o benefício de melhoria dos processos de negócios, uma

vez que permite a visualização completa de todas as transações de uma

empresa, de forma on-line e em tempo real.

Correa, Gianesi e Caon (2001) consideram que dentro do cenário

organizacional o sistema ERP tem o propósito de suportar todas as necessidades

de informação para a tomada de decisão gerencial de modo que todo o

empreendimento esteja integrado a um único objetivo, tornar a empresa mais

competitiva.

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Em suma, os modelos atualmente desenvolvidos para o gerenciamento do

estoque da empresa abarcam todo um processo de fabricação em distintas áreas

de modo a colocar no produto a qualidade final exigida pelo mercado.

1.3.5 JIT ― Just-in-time

Conforme Moura (2004), o Just-in-time é uma filosofia de administração da

produção que surgiu no Japão, nos meados da década de 60, desenvolvida pela

Toyota Motor Company, por isso também conhecido como o “Sistema Toyota de

Produção”.

Just-in-time, que significa “no tempo justo”, exige o abastecimento ou

desabastecimento da produção no tempo certo, no lugar certo e na quantidade

certa, objetivando produzir somente o necessário ao atendimento da demanda, com

qualidade assegurada.

Segundo Lubben (1989), a meta do JIT é desenvolver um sistema que

permita a um fabricante ter somente os materiais, equipamentos e pessoas

necessários a cada tarefa. Para se conseguir esta meta, é preciso, na maioria dos

casos, trabalhar sobre seis objetivos básicos:

a) integrar e otimizar cada etapa do processo;

b) produzir produtos de qualidade;

c) reduzir os custos de produção;

d) produzir somente em função da demanda;

e) desenvolver flexibilidade de produção;

f) manter os compromissos assumidos com clientes e fornecedores.

Na verdade, esses objetivos são aspirações normais para qualquer

empresa, porém, nem sempre alcançados, devido ao desconhecimento dos meios

utilizados. Entretanto, a filosofia do JIT proporciona ferramentas gerenciais que

possibilitam alcançar esses objetivos.

Estendendo para questão da administração de estoque, o just-in-time

consiste em fornecer materiais e produtos aos vários setores produtivos de

determinada organização no momento que esta necessidade realmente existir.

É comum até hoje observarmos empresas de vários seguimentos que superlotam

pátios, almoxarifados e armazéns com materiais que serão consumidos no

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processo. Esses materiais ficarão estocados por um período muito grande. No

sistema just-in-time, é feito um estudo para aquisição e produção de materiais para

um curto período de tempo e fornecê-los na medida em que surgirem as reais

necessidades. O resultado é simples: menor capital de giro estagnado e menos

chances de perdas durante a estocagem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este ensaio teórico permitiu a observação sobre a importância do estoque

na empresa, assim como a sua eficiente administração no resultado financeiro e,

conseqüentemente, no nível de competitividade no mercado global.

Apesar dos vários conflitos existentes entre os departamentos da

empresa com relação aos estoques de produtos, verificou-se que é indispensável

a sincronia e bom senso entre os mesmos, a fim atender às políticas e objetivos

primordiais para o sucesso da empresa.

Verifica-se que a partir do momento que o administrador tem ciência dos

fatores que ocasionam as perdas e desperdícios nos estoques, observa os

princípios relacionados aos estoques e faz uso das ferramentas disponíveis para

a sua administração, adquiri maior potencialidade e capacidade para desenvolver

a administração e a gestão do estoque com maior eficiência.

Agregando-se ao exposto que as constantes modificações no ambiente

permitem o desenvolvimento de novas tecnologias é notório que o gerenciamento

dos estoques deve acompanhar as evoluções.

Foi possível verificar, por meios teóricos traçados, uma gestão de estoque

que passa a representar a parte substancial do planejamento estratégico da

empresa. Tal gerenciamento envolve distintos departamentos e recursos que

devem estar todos integrados e funcionando em um fluxo de mercadorias que

devem ser produzidas ou oferecidas no momento certo, na quantidade exigida e

em um prazo de entrega satisfatório que gere credibilidade no mercado

consumidor.

Pode-se dizer que através dos modelos apresentados, adaptados a

realidade organizacional, e com a tecnologia apropriada para um ágil fluxo de

informações e materiais ao longo da cadeia de valor, é possível reconhecer

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benefícios substanciais para a eficácia da empresa.

Em fim, considera-se que a administração de estoque aparece como fator

gerador de lucro no momento que uma empresa consegue alcançar um nível de

gerenciamento em toda cadeia de operações e processos, de modo a gerar uma

satisfação no mercado e na empresa, com redução de custos, qualidade de

produto e eficiência no atendimento.

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