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ANÁLISE DE RISCO APLICADA À SEGURANÇA DO TRABALHO NA INDÚSTRIA DE PETRÓLEO E GÁS Edson Jansen Pedrosa de Miranda Junior (IFMA ) [email protected] Sergio Sampaio Cutrim (UFMA ) [email protected] A literatura que discorre sobre a análise de risco aplicada à segurança do trabalho no Brasil ainda é muito escassa, uma vez que esta análise é mais aplicada na avaliação do mercado financeiro. Entretanto, grandes empresas, como, por exempllo, a Petrobras, vem investindo bastante na análise de risco quantitativa aplicada à segurança do trabalho, principalmente, relacionada com os riscos de incêndio e explosão. O principal objetivo deste trabalho foi realizar a revisão da literatura sobre a análise de risco aplicada à segurança do trabalho no contexto da indústria de petróleo e gás. O tipo de revisão de literatura utilizado foi o estudo de revisão passiva, pois foram obedecidos os critérios de resumir, analisar e sintetizar as informações contidas em um determinado assunto, mas não foi seguida uma metodologia pré- estabelecida. A partir do levantamento bibliográfico realizado, pôde-se observar que as ferramentas de análise de risco aplicadas ao setor de produção ou setor financeiro podem ser adaptadas e implementadas para utilização no setor petrolífero na segurança do trabalho. Ademais, pôde-se observar que os riscos de incêndio e explosão fazem parte do processo de produção de uma indústria de petróleo e gás e que estão sempre presentes, esperando apenas que ocorra um erro operacional para gerar uma catástrofe. Palavras-chaves: Análise de risco, segurança do trabalho, risco de incêndio e explosão, revisão de literatura. XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

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  • ANLISE DE RISCO APLICADA

    SEGURANA DO TRABALHO NA

    INDSTRIA DE PETRLEO E GS

    Edson Jansen Pedrosa de Miranda Junior (IFMA )

    [email protected]

    Sergio Sampaio Cutrim (UFMA )

    [email protected]

    A literatura que discorre sobre a anlise de risco aplicada segurana

    do trabalho no Brasil ainda muito escassa, uma vez que esta anlise

    mais aplicada na avaliao do mercado financeiro. Entretanto,

    grandes empresas, como, por exempllo, a Petrobras, vem investindo

    bastante na anlise de risco quantitativa aplicada segurana do

    trabalho, principalmente, relacionada com os riscos de incndio e

    exploso. O principal objetivo deste trabalho foi realizar a reviso da

    literatura sobre a anlise de risco aplicada segurana do trabalho no

    contexto da indstria de petrleo e gs. O tipo de reviso de literatura

    utilizado foi o estudo de reviso passiva, pois foram obedecidos os

    critrios de resumir, analisar e sintetizar as informaes contidas em

    um determinado assunto, mas no foi seguida uma metodologia pr-

    estabelecida. A partir do levantamento bibliogrfico realizado, pde-se

    observar que as ferramentas de anlise de risco aplicadas ao setor de

    produo ou setor financeiro podem ser adaptadas e implementadas

    para utilizao no setor petrolfero na segurana do trabalho.

    Ademais, pde-se observar que os riscos de incndio e exploso fazem

    parte do processo de produo de uma indstria de petrleo e gs e

    que esto sempre presentes, esperando apenas que ocorra um erro

    operacional para gerar uma catstrofe.

    Palavras-chaves: Anlise de risco, segurana do trabalho, risco de

    incndio e exploso, reviso de literatura.

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    1 Introduo

    A maioria das empresas brasileiras de pequeno e mdio porte que trabalham com

    combustveis inflamveis ainda no possui uma poltica prevencionista no que tange ao

    gerenciamento de risco. Isso ocorre principalmente pela falta de conscientizao dos

    empregadores em relao aos riscos de incndio e exploso envolvidos em cada etapa do

    processo industrial. Ademais, as fiscalizaes pelo corpo de bombeiros, pelo exrcito

    brasileiro (com relao aos materiais explosivos) e pelos auditores fiscais do trabalho ainda

    so insuficientes.

    Do ponto de vista prevencionista da segurana do trabalho, toda e qualquer atividade do

    trabalhador em uma empresa ou indstria de qualquer setor, tem um risco especfico

    envolvido. Na indstria de petrleo e gs, os principais riscos envolvidos so os riscos de

    incndio e de exploso que esto associados explorao e produo (E&P) de petrleo.

    Ademais, os resultados destes riscos, na maioria das vezes, caso no sejam controlados, so

    catastrficos.

    Apesar da anlise de risco aplicada segurana do trabalho ainda ser bastante restrita, ela

    essencial para o desenvolvimento de um sistema de gerenciamento de risco eficaz, o qual

    poder reduzir o nmero de acidentes e incidentes nas indstrias. Trabalhos de reviso de

    literatura nesta rea so praticamente inexistentes no Brasil, o que dificulta a aplicao das

    tcnicas de anlise de risco na segurana do trabalho.

    Este trabalho teve como principal objetivo realizar a reviso da literatura sobre a anlise de

    risco aplicada segurana do trabalho no contexto da indstria de petrleo e gs.

    2 Metodologia

    A metodologia utilizada neste trabalho foi a de reviso de literatura. Segundo Mattar (1996)

    apud Lima et al. (2013), uma das formas mais rpidas e econmicas de aprofundar um

    problema de pesquisa atravs do conhecimento dos trabalhos j feitos por outros

    pesquisadores, via levantamentos bibliogrficos.

    As revises da literatura so caracterizadas pela anlise e pela sntese da informao

    disponibilizada por estudos relevantes abordando um determinado tema, de forma a resumir o

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    corpo de conhecimento existente e a concluir sobre o assunto de interesse (MANCINI et al.,

    2006).

    Segundo Mancini et al. (2006), existem diversos tipos de estudos de reviso de literatura e

    cada um deles segue uma metodologia especfica, quais sejam a reviso crtica ou passiva da

    literatura e a reviso sistemtica da literatura e de metanlise.

    Neste trabalho, o tipo de reviso de literatura selecionado foi o estudo de reviso passiva, uma

    vez que foram obedecidos os critrios de resumir, analisar e sintetizar as informaes contidas

    em um determinado assunto e no foi seguida uma metodologia pr-estabelecida.

    3 Anlise de Risco na Segurana do Trabalho

    3.1 Conceitos Fundamentais

    O objetivo de um sistema de gerenciamento de segurana garantir que uma determinada

    organizao alcance suas metas com segurana, eficientemente e sem prejudicar o meio

    ambiente. Um dos fatores mais importantes do processo de segurana uma explicao de

    como o operador do sistema de gerencimento ser capacitado para garantir que os objetivos

    sejam realmente alcanados com segurana (WANG, 2002). Ademais, uma meta pode ser

    definida como o ponto de partida para qualquer processo de gerenciamento de risco ou de

    anlise de risco (FEKETE, 2012).

    O gerenciamento de riscos pode ser definido como o processo de identificao, avaliao e

    priorizao dos riscos. Posteriormente, faz necessria a aplicao coordenada e econmica de

    recursos para minimizar, monitorar e controlar a probabilidade ou o impacto de eventos

    indesejveis (HUBBARD, 2009).

    Com relao segurana do trabalho, o gerenciamento de riscos visa identificao,

    avaliao e o controle dos riscos ambientais e de acidente, presentes nas atividades laborais.

    de consenso na literatura que o gerenciamento de riscos uma rea com termos

    conflitantes, e h uma necessidade amplamente reconhecida para uma reflexo crtica de suas

    definies, contedo de ncleo, princpios e regulamentaes (AVEN, 2011 apud FEKETE,

    2012).

    A utilizao do termo anlise de risco varia amplamente na indstria de petrleo e gs. Na

    maioria dos casos, denota uma anlise de rentabilidade, caracterizando cada projeto em

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    termos de probabilidade de alcanar a produo comercial. Alternativamente, pode significar

    uma viabilidade de tratamento de anlise com incerteza em questes tcnicas, um tratamento

    de anlise de confiabilidade com equipamentos e um estudo de perigo e operacionalidade de

    sistemas com plantas processadas por humanos (MIURA et al., 2006).

    Existe uma divergncia quanto definio da anlise de risco. Frequentemente, a avaliao de

    risco utilizada como sinnimo de anlise de risco, entretanto, esse problema ocorre,

    principalmente, devido divergncia de definio destas expresses em alguns pases.

    Segundo Kirchhoff (2004), no Canad, a anlise de risco uma etapa da avaliao de risco,

    enquanto que nos Estados Unidos, a avaliao de risco uma das etapas da anlise de risco.

    A anlise de risco pode ser definida como um processo composto por basicamente trs

    elementos: avaliao de risco, gerenciamento de risco e comunicao de risco (CODEX,

    2013). Essa definio se aproxima da utilizada pela SRA (Society of Risk Analysis

    Sociedade de Anlise de Risco), em que a anlise de risco engloba a avaliao de riscos, a

    caracterizao do risco, a comunicao do risco, o gerenciamento do risco e as polticas

    relativas ao risco.

    Entretanto, segundo Frantzich (1998) e I & Cheng (2008), a anlise de risco somente uma

    parte do processo de gerenciamento de risco, como pode ser observado nas Figuras 1 e 2,

    respectivamente.

    Ademais, segundo a ISO 31000, a anlise de risco apenas parte da avaliao de risco,

    podendo ser definida como parte do processo de avaliao de risco que compreende a

    natureza do risco e define o nvel do risco (AVEN, 2012b). Esta definio da ISO 31000

    tambm corroborada por Frantzich (1998), como se pode observar na Figura 1.

    Segundo European (2006), um conceito importante para a anlise de risco da avaliao de

    risco, que pode ser definida como sendo o processo de avaliao do risco da sade e

    segurana dos trabalhadores no trabalho, resultante da ocorrncia de situaes de perigo no

    local de trabalho.

    Conforme a OHSAS 18001 (2007), a avaliao de risco pode ser definida como o processo

    para avaliar os riscos originados dos perigos, levando-se em considerao a adequao dos

    controles existentes e a deciso se o risco aceitvel ou no.

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    Figura 1 As subdivises do gerenciamento de risco

    Fonte: Frantzich (1998)

    A partir da Figura 2, pode-se observar que a anlise de risco envolve uma srie de etapas,

    como por exemplo, a identificao do perigo, a anlise de sua frequncia e consequncia e,

    posteriormente, a quantificao do risco.

    Figura 2 Diferentes elementos da anlise de risco dentro do procedimento de gerenciamento de risco

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    F

    onte: I & Cheng (2008)

    Segundo Frantzich (1998), a anlise de risco quantitativa focada na combinao dos efeitos

    de frequncia e consequncia de um determinado acidente, como se pode observar na Figura

    3, em que as consequncias podem ser quantificadas em nmero de ferimentos, fatalidades ou

    pessoas que tenham suas rotas de fuga obstrudas.

    A partir da Figura 3, observa-se que o primeiro passo, antes de comear a quantificar o risco,

    est relacionado com a descrio e definio do sistema. O sistema definido em termos de

    um ou mais cenrios, dependendo da situao em questo. Ademais, este sistema pode ser

    definido com base nas suas limitaes fsicas.

    Depois de o sistema ser descrito, os perigos podem ser identificados e quantificados com base

    na anlise de consequncias e estimatio de frequncia. A prxima etapa do processo, de

    acordo com a Figura 3, o clculo do risco para executao da anlise de risco quantitativa.

    Figura 3 O processo de anlise de risco

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    Fonte: Frantzich (1998)

    3.2 Indstria de Petrleo e Gs

    A produo de petrleo no Brasil aumentou de 750 m3/dia na poca da criao da Petrobras

    para mais de 182.000 m3/dia no final dos anos 90. Esse aumento ocorreu devido,

    principalmente, ao desenvolvimento de novas tecnologias de perfurao e produo na

    plataforma continental (THOMAS et al., 2004).

    Recentemente, em janeiro de 2013, a produo de petrleo e gs natural no Brasil foi de

    aproximadamente 2.054 Mbbl/d (mil barris por dia) e 75,9 MMm/d (milhes de m por dia),

    respectivamente, totalizando em torno de 2.531 Mboe/d (mil barris de leo equivalente por

    dia) (ANP, 2013).

    A partir da Figura 4, pode-se observar o histrico da produo de petrleo e gs natural no

    Brasil no ano de 2012 e janeiro de 2013, em que neste perodo houve uma reduo de

    aproximadamente 2.700 Mboe/d para 2.500 Mboe/d.

    Apresenta-se nas Figuras 5 e 6, a distribuio da produo de petrleo e a distribuio da

    produo de gs natural por Estado em janeiro de 2013, respectivamente. Os maiores

    produtores de petrleo so os estados de Rio de Janeiro e Esprito Santo, enquanto que os

    maiores produtores de gs natural so os estados de Rio Grande do Norte e Esprito Santo.

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    Figura 4 Histrico de produo de petrleo e gs

    natural

    Fonte: ANP (2013)

    Figura 5 Distribuio da produo de petrleo por estado em janeiro de 2013

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    Fonte: ANP (2013)

    Figura 6 Distribuio da produo de gs natural por estado em janeiro de 2013

    Fonte: ANP (2013)

    Os vinte campos com maior produo de petrleo no Brasil, em janeiro de 2013, esto

    apresentados no grfico da Figura 7.

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    Figura 7 Campos com maior produo de petrleo em janeiro de 2013

    Fonte: ANP (2013)

    Ao longo do perodo de 2004 a 2010, a oferta total de petrleo no mundo se manteve

    relativamente constante, em um patamar aproximado de 80 milhes de barris/dia. Nessa linha,

    o avano tecnolgico o que direciona as possibilidades de ampliao da oferta potencial

    (ERNST & YOUNG TERCO BRASIL, 2011). Pode-se observar, a partir da Figura 8, a

    evoluo da produo mundial de petrleo e de suas reservas.

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    Figura 8 Evoluo da produo mundial de petrleo e de suas reservas

    Fonte: Ernst & Young Terco Brasil (2011)

    Desde a dcada de 90, tm sido introduzidas inovaes nos processos de prospeco,

    desenvolvimento e produo, por meio da utilizao de novos instrumentos, computadores de

    alto desempenho e aplicao de tcnicas avanadas de processamento de dados. Essas novas

    tecnologias que, recentemente, permitiram a identificao de reservatrios de petrleo e gs

    natural em guas ultraprofundas, como se pode observar no grfico das reservas da Figura 8,

    tm custos elevados, entretanto, permitem maior economia em outras fases de

    desenvolvimento dos campos (ERNST & YOUNG TERCO BRASIL, 2011).

    3.3 Anlise de Risco na Indstria de Petrleo e Gs

    As refinarias de petrleo so consideradas fontes de risco de magnitude relativa alta, o que

    lhes confere os maiores volumes de risco. Entretanto, as demais instalaes, como, por

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    exemplo, o transporte, o armazenamento e as unidades de produo de petrleo, esto entre

    mdia e baixa. Entende-se que as refinarias sejam consideradas dessa forma, tendo em vista

    que suas mquinas e equipamentos de processo, alm de estarem presentes em grandes

    quantidades e grande diversidade de modelos, operam com parmetros de processo

    normalmente elevados, havendo tambm para essas unidades uma caracterstica muito forte

    de processo (JORDO et al., 2002).

    No caso das unidades de armazenamento, de transporte de produtos de petrleo e de

    produo, normalmente, no h uma caracterstica muito acentuada de processo. Ademais, as

    mquinas e os equipamentos de processo operam na maioria das vezes com parmetros no

    to elevados como no caso das refinarias de petrleo. As unidades de produo de petrleo

    no possuem grande diversidade de produtos inflamveis e os produtos so o petrleo, o gs

    natural e eventualmente o gs sulfdrico, alm de no haver tambm caractersticas de

    processo (JORDO et al., 2002).

    Segundo Ferreira (2007), o nmero de acidentes ocorridos em uma indstria de petrleo e gs

    deve ser analisado em funo do modo de operao na hora do acidente, quais sejam: a

    perfurao, produo, construo, transferncia, dentre outros. A Figura 9 abaixo apresenta

    alguns tipos de acidentes ocorridos em uma unidade petrolfera com o seu respectivo nmero

    de fatalidades.

    Na rea do E&P da Petrobras, foi desenvolvida uma ferramenta SMSNet que permite a

    elaborao dos estudos de riscos qualitativos (APR e HAZOP) e o arquivamento dos

    relatrios dos estudos quantitativos de incndio, exploso e disperso de gases (OLIVEIRA,

    2008).

    Segundo Oliveira (2008), essa ferramenta permite realizar o gerenciamento das

    recomendaes dos estudos de forma a atender o sistema de gesto de riscos. Os estudos so

    desenvolvidos e so propostas aes de mitigao ou neutralizao dos perigos. Ademais,

    estas aes so acompanhadas em sua implementao ou de suas alternativas aprovadas.

    Todas as partes que esto envolvidas com o projeto tm acesso as anlises de maneira que a

    mudana seja implementada com menor impacto possvel segurana da unidade petrolfera.

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    Figura 9 Tipos de acidentes e nmero de fatalidades em uma indstria de petrleo e gs

    Fonte: Ferreia (2007)

    O trabalho de Oliveira (2008) buscou evidenciar a prtica da gesto de riscos de uma unidade

    de negcio de explorao e produo de petrleo da Petrobras e identificar as ferramentas e as

    metodologias de anlise de riscos aplicadas aos seus projetos e as mudanas nas instalaes

    de superfcie das unidades martimas de produo. Algumas perguntas foram realizadas no

    trabalho de Oliveira (2008) relacionadas ao sistema de gesto da UN-RIO, servindo de

    parmetros para outras empresas que trabalham com produtos inflamveis.

    A segunda pergunta realizada questionava de que maneira era realizado o levantamento dos

    perigos de uma plataforma de petrleo, durante a fase de elaborao e construo. A resposta

    obtida foi que:

    Os Projetos Bsicos so elaborados pelo Centro de Pesquisa CENPES da Petrobras, onde so geradas as Especificaes Tcnicas

    para cada projeto a ser desenvolvido. Nessa fase os Estudos de Riscos

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    so realizados e os perigos do processo das instalaes de superfcie

    so identificados atravs das metodologias APR e HAZOP, gerando

    propostas de melhorias para a fase de detalhamento. Os Projetos de

    Detalhamento das plataformas de petrleo so feitos atravs de

    licitaes internacionais, quando so entregues s empresas candidatas

    de projeto e construo, todas as especificaes tcnicas da Petrobras

    para aquele projeto. Dentre a documentao que ser gerada durante

    essa fase esto os relatrios dos Estudos de Riscos. Esses podem ser

    elaborados individualmente para cada mdulo da plataforma

    identificando e tratando os perigos (OLIVEIRA, 2008).

    A terceira pergunta indagava de que maneira era realizado o levantamento dos perigos de uma

    plataforma de petrleo em operao. A resposta obtida foi:

    Nas plataformas em operao os perigos esto relacionados

    realizao dos trabalhos de manuteno e interveno em

    equipamentos, ou quando da alterao do projeto original. Para a

    execuo de trabalhos a bordo de uma plataforma necessria a

    Permisso para Trabalho que emitida em formulrios prprios.

    Nesse momento o trabalho avaliado pelo executante e pelo emissor

    da PT e conforme a complexidade da tarefa elaborada uma Anlise

    de Riscos de Nvel 1 (APN1) ou de Nvel 2 (APN2). A APN1 feita

    atravs do preenchimento de um checklist pelo emitente da PT

    juntamente com o executante, a APN2 baseada na metodologia de

    uma Anlise Preliminar de Perigos e envolve a participao de um

    Tcnico de Segurana que ir coordenar a anlise, de um Coordenador

    da rea envolvida, do emitente da PT e do executante da obra.

    3.3.1 Causas de Incndio e Exploso na Indstria de Petrleo e Gs

    Inmeros fatores podem coexistir para que ocorra um incndio ou uma exploso em uma

    indstria de petrleo e gs. Esses fatores podem estar principalmente relacionados com a

    armazenagem inadequada de material, manuteno inadequada, inexistncia de para-raios e

    falta de ordem e limpeza.

    Com relao ao armazenamento de materiais, alguns procedimentos simples podem ser

    levados em considerao para evitar que ocorra incndio ou exploso (JORDO et al., 2002):

    Manter a substncia inflamvel distante da fonte de calor e do comburente, como

    ocorre em casos de operaes de solda e oxicorte;

    Separar ou isolar os tubos de acetileno dos tubos de oxignio durante a operao de

    solda. A armazenagem em locais separados contribui de maneira eficaz para o aumento

    da segurana;

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    Manter a mnima quantidade de material inflamvel para uso, como, por exemplo, de

    operaes de pintura, nas quais o solvente armazenado deve ser apenas o suficiente para

    um dia de trabalho;

    Possuir boas condies de ventilao em um depsito para a armazenagem de

    inflamveis e manter o mais longe possvel da rea de trabalho;

    Proibio de fumar nas reas onde existam combustveis ou inflamveis estocados.

    Os fatores potenciais relacionados manuteno inadequada que podem causar o incndio ou

    a exploso em uma indstria de petrleo e gs so (JORDO et al., 2002):

    Instalao eltrica em condies precrias, como, por exemplo, fios expostos ou

    descascados que podem ocasionar curtos-circuitos. Eles podero ser a origem de focos

    de incndio se encontrarem condies favorveis formao do fogo;

    Instalaes eltricas mal projetadas, as quais podero provocar o aquecimento nos fios

    e ser a origem de incndios ou exploses;

    Pisos anti-fasca nos setores em que h estoque de lquidos ou de gases inflamveis.

    Os pisos devem ser anti-fasca, porque um simples prego no sapato poder ocasionar

    uma fasca, proveniente do atrito, e ocasionar um incndio ou exploso. Pela mesma

    razo, chaves eltricas a leo oferecem maior proteo que as chaves de faca;

    Instalao mecnica: a falta de manuteno e de lubrificao em equipamentos e

    dispositivos mecnicos podem ocasionar o aquecimento por atrito em partes mveis,

    resultando em uma perigosa fonte de calor.

    As medidas de ordem e limpeza tambm so cruciais no processo de preveno contra

    incndio ou exploso, quais sejam (JORDO et al., 2002):

    Os corredores, com papis e estopas sujos de leo, graxa e lubrificantes pelo cho so

    lugares onde o fogo poder iniciar e se propagar rapidamente, dando incio ao incndio;

    A decorao, os mveis e os equipamentos de escritrio devem merecer ateno

    especial, tendo em vista que podem estar aumentando em demasia o volume do material

    combustvel. Todo esse material combustvel pode, em certas circunstncias e

    condies, transformar a indstria de petrleo e gs numa gigantesca fogueira.

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    3.3.1.1 Instalaes Eltricas

    A presena de produtos inflamveis na indstria de petrleo e gs inerente ao seu processo.

    Consequentemente, necessrio que a instalao eltrica tenha um cuidado especial, uma vez

    que os nveis de energia presentes em mquinas e equipamentos, na grande maioria dos casos,

    so maiores que o mnimo necessrio para iniciar um incndio ou uma exploso.

    O procedimento inicial neste tipo de situao a avaliao do grau de risco no local de

    trabalho, podendo ser obtido atravs de um mapa do ambiente industrial que mostre a

    probabilidade de presena de mistura explosiva nesse ambiente e em que extenso a mistura

    explosiva poder ocorrer. Ademais, tambm necessrio determinar (JORDO et al., 2002):

    O tipo de substncia ou material que pode estar presente no local;

    A probabilidade com que essa substncia ou material pode ocorrer;

    A extenso da rea onde essa mistura poder ser encontrada.

    O conjunto desses itens supracitados chamado de classificao de reas. Aps a

    classificao de reas, pode-se passar para a fase seguinte, referente implementao da

    seleo e aplicao otimizada dos equipamentos eltricos. Para isso, fundamental conhecer

    os cuidados especiais que devem ter os equipamentos eltricos e seus acessrios para que no

    se constituam em uma fonte potencial de ignio (JORDO et al., 2002).

    Segundo Jordo et al. (2002), para que uma determinada instalao eltrica apresente

    segurana em uma indstria de petrleo e gs necessrio que esteja de acordo com os

    requisitos construtivos especficos, especificados por normas tcnicas, que a torna adequada

    operao em atmosferas potencialmente explosivas. Ademais, devem-se levar em

    considerao os cuidados com a montagem, manuteno e operaes desta instalao.

    4 Consideraes Finais

    A literatura existente que aborda a anlise de risco aplicada segurana do trabalho no

    contexto da indstria de petrleo e gs muito escassa e quase inexistente no Brasil.

    Entretanto, algumas empresas, como a Petrobras, possuem um sistema de gerenciamento de

    risco adequado que foi e que est sendo desenvolvido com base em normas internacionais e

    em casos de sucesso.

  • XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gesto dos Processos de Produo e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentvel dos Sistemas Produtivos

    Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

    17

    Entretanto, ainda hoje, existe um grande conflito de definies dos termos bsicos da rea de

    anlise de risco, o que colabora para dificultar a elaborao de documentos tcnicos

    padronizados na rea de anlise de riscos e para padronizar as definies existentes em

    normas internacionais e nacionais.

    Pde-se observar que as ferramentas de anlise de risco aplicadas ao setor de produo ou

    setor financeiro podem ser adaptadas e implementadas para utilizao no setor petrolfero na

    segurana do trabalho.

    A partir do levantamento bibliogrfico realizado, pde-se observar que os riscos de incndio e

    exploso fazem parte do processo de produo de uma indstria de petrleo e gs e que esto

    sempre presentes, esperando apenas que ocorra um erro operacional para gerar uma

    catstrofe. Consequentemente, a anlise de risco aplicada a segurana do trabalho,

    especialmente na indstria de petrleo e gs, deve avanar bastante at que se atinja um maior

    grau de segurana, reduzindo assim esses riscos e, consequentemente, os acidentes por estes

    gerados.

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