caderno especial a critica petroleo e gas natural parte2
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Caderno Especial A Critica Petroleo e Gas Natural Parte2TRANSCRIPT
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a críticaMANAUS, SEGUNDA-FEIRA,
19 DEMARÇODE 2012
Perseverança>>>Populaçãovivedepressãoeconômicaàesperadediasmelhores
Coari:osonhoacabouCoari:osonhoacabou
EwertonRodrigoAlves,25, temumalistade inadimplênciaquesomaR$700mil
Preço tabelado: na feira que acontece aos finais de semana em uma das principais vias da cidade, todo e qualquer produto custa R$ 1, por que não há dinheiro
Da cadeira de madeiraonde Raimundo Ribei-ro Ramos atende aosclientes de seu restau-
rante, ele consegue ver as lojasda rua XV de Novembro fechan-do, dia após dia, e torce para quesua vez não chegue. As quase30 mesas do restaurante DonaVanderleia -nome dado em ho-menagem à sua esposa - antesviviam lotadas. Agora, andamvazias.Raimundoémaisumdosem-
presários que lutam para nãosucumbir à “depressão” econô-mica vivida pelo segundomuni-cípio mais rico do Amazonas.No início dos anos 2000, empol-gado com o movimento frenéti-co de trabalhadores contratadosem todo o Brasil para as obrasdo gasoduto Coari-Manaus, Rai-mundo decidiu que era hora deinvestir. O pequeno bar em queatendia “pés-inchados” da beirado Lago de Coari, virou um res-taurante. Em pouco tempo, ga-nhou dinheiro e quando se deuconta, já tinha três outras uni-dades servindo milhares de re-feições por dia e lhe rendendomais dinheiro do que jamaispensou emver na vida.RaimundochegouaCoari em
meadosdadécadade80.Apesarde aexploração comercial depe-tróleo e gás ter começado em1986, foi apenas na segundametade da década de 90 que a
população da cidade começou asentir mais intensamente osefeitos da atividade. O início deum ciclo de obras de infraestru-tura necessárias à extração doouro negro, como o gasodutoUrucu - Polo Arara - Coari e doterminal de distribuição no rioSolimões, movimentou a cida-de, gerando milhares de empre-gos e atraindo outros milharesdemigrantes. No início da déca-da de 2000, com o começo dasobras do gasoduto Coari-Ma-naus, amais ambiciosa de todasna região, o “boom” ganhou di-mensões incontroláveis. Foinesse vai e vem de pessoas e di-nheiro que Raimundo e cente-
nasdeoutrosempresáriosnave-garam. “A gente não tinha ideiade que aquilo ia acabar. Usei odinheiro para investir nos negó-cios, mas uma hora o vento mu-dou”, contaRaimundo.
ÀSMOSCASNa realidade, o “vento” não mu-dou, apenas passou a soprarmaisdevagar. Com o final das obras dogasodutoCoari-Manaus,em2009,as dezenas de empresas contrata-das pela Petrobras para realizar aobra foram embora, levando osempregos,milhõesdereaisemar-recadaçãodetributoseobviamen-te,osclientesdeRaimundo.De uma hora para a outra, os
coarienses tiveram de voltar àrealidadedequeCoari é ummu-nicípio como a maioria na Ama-zônia, onde se produz muitopouco e a prefeitura é o princi-pal empregador da cidade comoagravante de que o “cobertor”não dá para todomundo.A “calmaria” trouxenovospro-
blemas com os quais a populaçãoainda não estava acostumada a li-dar:desemprego,falências,violên-ciaefavelas.“Otempofoipassandoeosclientessumindo.Dostrêsres-taurantes que eu tinha, sóme res-touum,que eumantenho fazendoconvênios com as poucas empre-sas que ainda ficaram prestandoalgumserviçoàPetrobras”,diz.
Estagnaçãosocial medidaem números
A crise econômica em Coari po-de ser medida em números. En-tre 2008 e 2009, o PIB do muni-cípio caiuumterço, saindodeR$1,5 bilhão para R$ 1 bilhão. A ge-ração de empregos formais caiu47% entre 2007 e 2011. Mesmocom todo o peso dos números, énas ruas que a crise se mostramais evidente. A estagnação so-cial tambémé grave.Coari tem, segundo o Institu-
to Brasileiro deGeografia e Esta-tística (IBGE), quatro aglomera-dos subnormais, eufemismo pa-ra favelas. Mais de oito mil pes-soas vivem nelas, o que equivalea mais de 10% dos 75 mil habi-tantes domunicípio.“Meu antigo contadorme dis-
se que apenas no ano passado,
fechou 18 empresas emCoari. Eolha que foi só ele, imagine oresto”, comenta Ewerton Rodri-go Alves, um comerciante de 25anos que gerencia com a mãe,uma pequena loja de ferragens apoucomais de40metros do res-taurante de Raimundo.Entreumclienteeoutro,Ewer-
ton, que é formado em Adminis-tração de Empresas, diz que nun-ca vivenciou uma crise tão agudaquanto a que a cidade passaatualmente. A cada sábado, eleimprime um relatório com a listadosclientes inadimplentes.Aúlti-ma, tinha mais de 20 páginas eumsaldodeR$700mila receber.“Eudou10%decomissãopara
oscobradores,masninguémvol-tacomdinheiro.Nemadiantaco-brar.Naépocadas vacas gordas,a gente investiu. Construímostrês depósitos com apartamen-tos na parte de cima. Fizemos 12apartamentos que, na época, agente alugavaporR$800, atéR$1mil. Antes, todos estavam cominquilinos. Agora, só tenho doisalugados, e por R$ 400, nomáxi-mo”, lamentaEwerton.
Persistência éa ‘marca’ donegócio
Pressionada por uma folha depagamentos que consumia até60% de todo o seu orçamento, aprefeitura de Coari começou adispensar funcionários contra-tados sem concurso público, oque, associado ao atraso de doismeses no pagamento do funcio-nalismo, agravou ainda mais asituação.“Coari é uma cidade pobre.
Ou você tem emprego na prefei-tura ou no comércio. Quando aprefeituraatrasaopagamentooudemiteopessoal, éum ‘Deusnosacuda’ aqui”, explica Ewerton,que já estuda a possibilidade dese mudar com a família para Ma-naus.No restaurante Dona Vander-
leia, Raimundo manuseiacom dificuldade as co-mandas de seusclientes, masnão desiste.Desde que umjacaré-açu lhearrancou parte
do braço direito durante umapescaria, ele aprendeu a persis-tir. Com o que sobrou do braçodestruído, segura papeis e di-nheiro e faz, com resignação, omovimento do caixa. “Eu já es-capei de coisa pior. Tenho fé dequeos ventos vãomudar”, diz aofazer o balanço do dia.
Coari
População: 75.965
Área: 57.921,914 Km²
Distância: a 363quilômetros deManausem linha reta ou a 421quilômetros por via fluvial
PIB: R$ 1,1 bilhão
IDH-M: 0,703
Coari GP11
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AE12
a críticaMANAUS, SEGUNDA-FEIRA,
19 DEMARÇODE 2012
GP12
Legado>>>Para amaioria dos coarienses, o eldoradodo “ouronegro” nãoé realidade
Geraçãoperdida
Às 12h58 de uma ter-ça-feira, uma fila demulheres e criançasextrapolava o saguão
da lotérica VidaNova, emCoari,chegando até a calçada. PaulaCavalcante de Freitas já estavana fila havia meia hora quandoa operadora de um dos caixas,visivelmente irritada com omo-vimento e o calor úmido, anun-ciou: “O dinheiro acabou. Se al-guém tiver conta para pagar, ve-nham logo para que eu tenha di-nheiro em caixa. Senão, eu nãovou ter como pagar vocês”. Nãohouve resposta porque ali nin-guém estava na fila para pagar,mas para receber, deixando evi-dente que na cidade a “geração”do gás e do petróleo também é a“geração” do Bolsa Família.Os petrodólares que jorra-
ram ao longo dos últimos 25anos levaram o município a ter
um PIB per capta de R$ 16,4mil, mas não conseguiram mu-dar uma realidade paradoxal:Coari é umdosmunicípiosmaispobres do Brasil. Segundo o Ins-tituto Brasileiro de Geografia eEstatística (IBGE), o analfabe-tismo atinge 22% da populaçãoenquanto a média nacional é de9,3% e, de acordo comoMinisté-rio doDesenvolvimento Social eCombate a Fome (MDS),metadedas famílias é tão carente queprecisa receber o Bolsa Famíliapara complementar a renda.Paula tem o corpo magro e
longilíneo, apesar de não medirmais que 1,60 m. Com a mão,enxuga o suor que desce da tes-ta, procurando mais paciênciapara enfrentar a fila. Há pelomenos três anos, desde que in-gressou no Bolsa Família, o ri-tual de espera na lotérica se re-petemensalmente.
Ela nasceu em 1986, mesmoano em que a Petrobras desco-briu petróleo na região do rioUrucu. Sua história se entrelaçacom a do ouro negro da Amazô-nia. “Meu pai era ribeirinho edeixou o interior do municípiopara buscar um emprego numadas firmas que vieram a Coaripara trabalhar na construçãodas bases da Petrobras. Ele tra-balhava como braçal, abrindopicada no mato. Foi o primeiroemprego com carteira assinadada vida dele”, conta.O emprego de seu Francisco,
pai de Paula, hoje com 72 anos,não durou para sempre e assimque as obras iniciais termina-ram, ele ficou sem trabalho.Analfabeto, restou-lhe voltar àagricultura. Da riqueza do pe-tróleo, Paula diz não ter apro-veitado muito. “As escolas emque eu estudei deixaram muito
A‘primeira-dama’dainvasãoNazaréPinheiro
InvasãoNazaréPinheirotemmaisde600pessoasecresceacadadia.PrefeituradeCoarinãoconseguecombaterafavelização
6 Josiane de Araújo Rodri-gues, 26, é a “primeira da-
ma” da invasão Nazaré Pinhei-ro, em Coari. Seu marido, Char-les Vanderlei Marinho Almei-da, é o presidente do que elechama de “comunidade”, mas éclaro que, ser primeira damapor ali, não representa muitosprivilégios.A invasão Nazaré Pinheiro é
uma das quatro favelas de Coa-ri, segundo dados divulgadospelo IBGE em 2011. A maioriasurgiu no final dos anos 90 e emmeados dos anos 2000, quandoa cidade viveuduas fases distin-tas: o “boom” causado pelasobras do Gasoduto Coari-Ma-naus e a depressão que sobre-veio ao final da obra.No local, vivem em torno de
600pessoas,morandoembarra-cões de madeira ou alvenaria,com telhas de amianto e semabastecimento de água, esgotoou energia elétrica. As ruas nãotêm asfalto e após as chuvas doinverno amazônico, o lamaçal éinevitável.Nofinaldoanopassa-do, a comunidadeseuniuecriouuma associação de moradores.Após eleição, Charles, o maridodeJosiane, foieleitoopresidenteda entidade que agora cobraobrasde infraestrutura.
HISTÓRIAQUESEREPETEJosiane conheceuCharles quan-do ainda era adolescente. Elesaiu de Manaus para trabalharnas obras do gasoduto, emmea-dos dos anos 2000. Quando aobra terminou, ficou sem em-
prego, mas em vez de voltar pa-ra a capital amazonense, resol-veu fincar raízes emCoari.No final de 2011, o casal de-
cidiu que era hora de sair da ca-sa da mãe de Josiane. Ouviramfalar de uma área de terra emque a Prefeitura iria abrir umnovo bairro e decidiram cons-truir o próprio barraco.“Aqui a gente não tem luxo
de nada. Nossa esperança é quea prefeitura passe o asfalto aquie traga água. Eu tenho que to-mar banho usando lata”, contaJosiane, que, assim como Paula,também engravidou na adoles-cência, também não passou doEnsino Médio e também temque enfrentar, todos osmeses, afila da lotérica Vida Nova parareceber o Bolsa Família.
a desejar. O ensino não era bom.Quando a gente ouvia que Coaritinha petróleo, a gente imagina-va que a cidade ia mudar, que aeducação ia melhorar. Mas ho-je, não consigo entender porquenuma cidade tão ricavive um povo tãopobre. Na filado Bolsa Famí-lia fico meperguntan-do isso”, dis-se a jovemquando falta-vam apenas
duas pessoas para chegar a suavez.
SEGUNDAGERAÇÃOAos 16 anos, pouco antes deconcluir o Ensino Médio, Paulaengravidou do primeiro de seustrês filhos (dois meninos e umamenina). Ela passa todas as tar-des no Instituto Federal de Edu-cação Tecnológica (Ifam) deCoari. Não como aluna, já quenunca cursou o Ensino Supe-rior, mas como balconista dalanchonete. O namorado, tam-
bém adolescente quandoela engravidou, encon-trou seu primeiroemprego em umafirma que pres-ta serviçopara a Pe-trobras.Hoje, elevive de
empresa em empresa, terceiri-zadas da companhia petrolífe-ra, ganhando poucomais de umsalário mínimo, dinheiro que,para sustentar a casa, não é su-ficiente.Uma nova remessa de di-
nheiro chega à lotérica e a filavolta a andar. Chega a vez dePaula. Ela tira o cartão magnéti-co amarelo do bolso de trás, quesai acompanhado de um papelbranco, amassado, com algunsnúmeros escritos à caneta. Ésua senha. Como não lida bemcom computadores, é o opera-dor do caixa que faz toda a tran-sação. Em menos de dois minu-tos, a espera de quase uma horae meia termina. Paula sai da lo-térica com os R$ 166 com osquais vai comprar material es-colar para o início do ano letivodos filhos, a segunda geração dogás e do petróleo de Coari.
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Escuridão >>> Vila Lira, vizinha da Petrobras, sonha com eletrecidade há dois anos
Luzparaquasetodos
Terminal Fluvial de Solimões (TESOL) foi construído nos anos 90 e é responsável pelo escoamento da produção deGLP e óleo
Formigassãoasúnicasqueusamgeladeirado lídercomunitárioErivandro
Quando os postes doprograma Luz para To-dos começaram a serinstalados em Vila Li-
ra, os moradores da comunida-de localizada a pouco mais deuma hora de lancha da cidadede Coari pensaram que, final-mente, o futuro estava chegan-do. Infelizmente, eles se enga-naram. Dois anos depois da ins-talação dos postes e da fiação, aeletricidade ainda não chegou.O problema de Vila Lira não é adistância em relação à sede domunicípio, mas um vizinho in-cômodo, grande, e, sobretudo,poderoso: a Petrobras. A “luz”do Luz Para Todos não chegaporque, para isso, precisa pas-sar por dentro da área do termi-nal de distribuição da estatal,no Rio Solimões. Como a Petro-bras não autoriza, os ribeiri-nhos vivemcondenados ao atra-so, sob a luz do lampião.Em meados dos anos 90,
quando a exploração comercialdepetróleo egásna regiãodo rioUrucu já estava consolidada, aPetrobras construiu um termi-nal para escoar a produção degás liquefeito de petróleo (GLP)e do petróleo bruto. O TerminalFluvialdeSolimões (TESOL) ficaapoucomaisdequatroquilôme-tros de Vila Lira e abriga tan-ques gigantescos, onde todo oóleo extraído dos poços emUru-cuéarmazenado.Posteriormen-te, ele é embarcado em naviospetroleiros que o leva para refi-narias em diversos pontos doBrasil, mas, principalmente, naRefinaria deManaus (Reman). Élá que o óleo é processado etransformado, entre outras coi-sas,nodieselqueabasteceosge-radores espalhados em boa par-
te do Amazonas, inclusive emCoari. À noite, lâmpadas amare-las iluminamo terminal deixan-do-o visível a quase cinco quilô-metros de distância. Uma lumi-nescência que contrasta com aescuridãoemVilaLira.“Essa energia é o sonhode to-
da a comunidade. A gente estáesperando issohádois anos. En-quanto isso, a gente se vira dojeito que dá”, diz Ercival PereiraLira, 42, agricultor, pescador eum dos descendentes dos fun-dadores da comunidade.Osmoradores só têm eletrici-
dade quando cotizam a comprado óleo diesel que abastece umgeradorvelho.Mesmoassim,elesó é ligado entre 18h e 22h. “É ohorário do jornal e das novelas.Não temos dinheiro para maisque isso. Mesmo assim, quandoa roça não está boa, como agora,nãotemdinheiro. Játemdoisme-ses que não temos diesel”, expli-ca Erivando Alves Cardoso, 34,lídercomunitáriodeVilaLira.“Eu já falei com o pessoal da
Petrobras, mas eles disseramque não vão deixar os cabos pas-saremnoterrenoporquestõesde
segurança. O problema é que ládentro eles têm instalações elé-tricas. Porqueanossaéperigosaeasdelesnão?”,dizErivando.O prefeito de Coari, Arnaldo
Mitouso, diz que já conversoucomadireção doTESOLpara ten-tarresolveroproblema.“Estamosencontrandodificuldadeemobteruma resposta deles, mas algumacoisa precisa ser feita”, diz. O cu-riosoéqueoprefeitoquedizestarempenhadonasoluçãodoproble-ma é omesmo que, há quase doisanos, suspendeu o fornecimentodeóleodieselparaacomunidade.
Uma luta deDavid contraGolias
A casa de Erivando, assim comoamaioria das 47moradias da co-munidade, foi pintada de amare-lo, verde ou vermelho há doisanos, quando um funcionário daprefeitura de Coari chegou ao lo-cal dizendo que o então presi-denteLuiz InácioLuladaSilva iriaà Vila Lira inaugurar uma escolaconstruídanumaparceriaentreaprefeituraeaPetrobras.Aescolapersiste, com algumas janelasquebradas e móveis velhos, massem energia elétrica. Os alunosmal conseguemsuportarocalor.Dentro de sua casa, Erivando
mostra todos os eletrodomésti-cos que ele não consegue utili-zar. Na sala, uma TV de LCD de32 polegadas, um carregador debaterias e um aparelho de som.No quarto principal, um ventila-dor velho e na cozinha uma gela-deira tomada por formigas, detão pouco utilizada. “É um ab-surdo que a gente viva no meiodessa riqueza toda e não tenhanem eletricidade”, diz.Apesar de ter estudado pou-
co, Erivando sabe que a batalhapela energia elétrica emVila Liraé dura, sobretudo pelo tamanhode seu oponente. O problema éque todo esse “tamanho”, deixaa luta aindamais paradoxal. Eleslutam por energia contra a ter-ceira maior empresa de energiadomundo.
R$1,5milhão
A Petrobras informou que co-municou à Eletrobras Amazo-nas Energia que seriam ne-cessários procedimentos adi-cionais de segurança paraque a fiação fosse instaladadentrodoTESOL. AEletrobrasAmazonas Energia informouqueasaídaseráaextensãodeum cabo subaquático que sódeverá ficar pronto no finaldeste anoencarecendoemR$1,5milhão o projeto inicial.
“Quando temosdinheiro para odiesel do gerador,temos energiadurante quatrohoras. Não temospara mais queisso. Mesmoassim, quando aroça não está boa,como agora, nãotem dinheiro. Játem dois mesessem diesel”ErivandoAlvesCardoso,34
frase
Coari GP13
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GP14
Coariéapenasumadas‘pobrescidadesricas’
Irregularidadesnaprestaçãodecontas deconvênio inviabilizou repassesdaUniãopara construçãodecasaspopulares
6 Cláudio Paiva é professordo departamento de eco-
nomia da Unesp de Araraquara,emSão Paulo. Seu estudo intitu-lado Pobres Cidades Ricas é umdos mais completos retratos so-bre como os municípios do Nor-te e Nordeste fluminense, osmais beneficiados pelos royal-ties do petróleo, vêm utilizandoesses recursos. Ele faz um para-lelo entre o histórico de corrup-ção em Coari e em Campos dosGoytacazes, o município cam-peão em royalties do Brasil.“Quando os prefeitos come-
çam a receber tantos recursos,eles passam a não ligar mais pa-ra os tribunais de contas. Cam-pos dos Goytacazes, por exem-plo, ficou um bom período sementregar as prestações de con-tas. Era uma forma de desviar osrecursos do petróleo. O aumento
da corrupção não é uma particu-laridadeapenasdeCoari,masdequase todas as cidades em que opetróleo respondeporumapartemuito grande das suas rique-zas”,dizCláudioPaiva.Como exemplo, professor ci-
ta a Operação Telhado de Vidro,feita pela Polícia Federal em2008, mesmo ano da OperaçãoVorax. À época, os federais in-vestigaram uma organizaçãocriminosa que fraudava licita-ções e desviava recursos oriun-dos dos royalties do petróleo. Aoperação no município flumi-nense resultou no afastamentodo então prefeito, AlexandroMocaiber, que depois acabouretornando ao cargo. “Não é queo petróleo faça surgir a corrup-ção nesses municípios. Infeliz-mente, nós encontramos cor-rupção emquase todos osmuni-
cípios brasileiros, independen-te de eles terem acesso ao di-nheiro dos royalties ou não,mas a abundância de dinheiroproveniente dele faz comque osprefeitos fiquem mais criativose invistam em novos esquemaspara desviar esses recursos”,explica Dieter Gawora, profes-sor da Universidade de Kassel,na Alemanha, que estudou Coa-ri no início da década de 2000.Para Cláudio Paiva, um dos
fatores que dificulta o controledos recursos provenientes dosroyalties é a confusão fiscal pra-ticada pelamaioria das prefeitu-ras que, segundo ele, emmuitoscasos,éproposital. “Essedinhei-ro não fica emumaconta especí-fica.Aprefeituraocolocaemumsó ‘bolo’ enahorade investigaroque fizeram com essas verbas,ficamuitodifícil rastrear”.
Royalties >>>Principal legado da riqueza que jorra da terra têmsido desvio de verbas
Opreçodacorrupção
Um dos impactos maissignificativos causa-dos pelas duas décadase meia do ciclo do pe-
tróleo e do gás emCoari é, certa-mente, a corrupção. Dos seisprefeitos que o município tevedesde 1986, três já foram con-denados pelo Tribunal de Con-tas da União (TCU), e dos trêsque restaram, um foi assassina-do no meio do mandato, outrofoi cassado e o outro está no car-go hámenos de dois anos. Espe-cialistas afirmamque o ouro ne-gro por si só não faz surgir a cor-rupção, mas fornece os meiospara que ela se potencialize,comprometendo o destino detanta riqueza.O caso que melhor ilustra o
quantoacorrupçãoseentranhounas engrenagens da administra-ção pública em Coari é a organi-zação criminosa investigada pe-laPolíciaFederal (PF)demeadosde2007até2008.Ainvestigaçãoresultou na Operação Vorax. Naépoca, 33 pessoas foram presas,entre funcionários públicos eempresários. A quadrilha, deacordo comaPF, era comandadapelo então prefeito de Coari,Adail Pinheiro. À época, esti-mou-sequeo rombocausadoaos
cofres públicos tenha alcançadoamarcadeR$25milhões.Adail governou a cidade entre
2001e2009.Deacordocomasin-vestigações, o esquema fraudavalicitações públicas e parte do di-nheiroerarepassadoparaos inte-grantes da quadrilha. Agentes daPF encontraram R$ 6,8 milhõesescondidos no forro de uma casaque pertenceriam a membros daorganização.Aindadeacordocoma PF, parte do dinheiro desviadopeloesquemaeraprovenientedosroyaltiespagospelaPetrobras.
PEDOFILIAO caso Adail Pinheiro ganhouainda mais destaque depois queas investigações apuraram quealém de desviar recursos públi-cos, a quadrilha também finan-ciava um esquema de prostitui-çãoinfantilutilizadopeloex-pre-feito. Adail foi preso,mas depoisliberado. Em julho de 2009, an-tes da prisão, ele chegou a pres-tar depoimento na ComissãoParlamentar de Inquérito (CPI)doSenado, sobrepedofilia.Apesar das condenações pe-
lo TCU, ele ainda não foi julgadopelos crimes que a PF e oMinis-tério Público Federal o acusam.Outro caso que chama aten-
ção em Coari é o do ex-prefeitoRoberval Rodrigues da Silva.Prefeito de Coari duas vezes,em 2010 ele foi condenado peloTCU a devolver R$ 400 mil que,segundo os ministros, foramdesviados de um convênio fir-mado pela prefeitura e o Gover-no Federal para a melhoria dainfraestrutura do município. Oproblema é que quando a sen-tença saiu, Roberval já estavamorto e agora a dívida está sen-do cobrada do seu espólio.Emesmoestandoapoucome-
nos de umano emeio no cargo, oatual prefeito de Coari, ArnaldoMitouso, já responde a pelo me-nos dois inquéritos civis instau-radospeloMinistérioPúblicoEs-tadual (MPE). Ele é investigadopor supostas fraudes e dispen-sas em licitações que somariampelomenosR$11milhões.Alémdisso, responde a um inquéritopor nepotismo. Seu irmão, Alte-mir Mitouso, é secretário muni-cipaldeEconomiaeFinanças.“Nomeei, sim,meu irmão, por
entenderqueeleécapacitado.Emrelaçãoàssupostasfraudes,essasdenúncias são fruto de persegui-çãopolítica”eascontasdaprefei-tura estão abertas para qualquertipodeinvestigação”,declarou.
Adail Pinheiro5 condenações no TCU e res-ponde a processos nas justi-ças estadual e federal, entreeles por improbidade admi-nistrativa e pedofilia.
Odair CarlosGeraldoNenhuma condenação noTCU. Foi assassinadoantesdecompletar o mandato pelo
Prefeitos deCoari têmhistórico deproblemas coma Justiça
atual prefeito de Coari, Arnal-doMitouso.
RobervalRodriguesdaSilvaFoi condenado cinco vezespelo TCU.
Evandro Francisco AquinodeOliveiraTem três condenações noTCU.
RodrigoAlvesNenhuma condenação noTCU, mas teve o mandatocassado por compra de vo-tos. Foi preso durante Opera-ção Vorax.
ArnaldoMitousoCondenado por homicídio,responde a inquéritos por im-probidade administrativa.
Ex-prefeito Adail Pinheiro liderou esquemaque se tornou-se sinônimode corrupção noAmazonas
Prejuízo de apenas umdosesquemas investigados emCoari foi de R$ 25milhões
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a críticaMANAUS, SEGUNDA-FEIRA,
19 DEMARÇODE 2012
Ética >>> Ex-diretor do Ipaam é “homem forte” de petrolífera
LicençasdaHRTsobsuspeita
Graco Diniz com secretária demeio ambiente Nádia Ferreira, em 2010
Uma relação estreita eperigosa coloca em xe-que a lisura do licen-ciamento ambiental da
HRT O&G no Amazonas. Das 31licenças expedidas pelo Institu-to de Proteção Ambiental doAmazonas (Ipaam) entre 2010 a2011, 19 foram liberadas peloex-diretor do órgão, Graco DinizFregapani. O problema é que
desde o início de 2011, Gracopassou a trabalhar emcargos dechefia da petrolífera. Para re-presentantes do movimentoambientalista, as relações entreGraco e a HRT O&G levantamsuspeitas quanto ao processode licenciamento.Graco Diniz Fregapani foi di-
retor-presidente do Ipaamentremeados de 2010 a fevereiro de
2011, quando pediu exonera-ção e entrou em licença por in-teresse particular. Atualmenteele é o gerente executivo da eHRTO&GnoAmazonas.Operíodocoincidiucomo iní-
cio das atividades da companhiapetrolífera no Amazonas. Paracomeçar as suas pesquisas, aempresaingressoucomdezenasdepedidosde licençaambiental,
muitas delas para poder cons-truir suas bases na floresta e ini-ciar oprocessodeprospecçãodegás e petróleo nos blocos conce-didos pela Agência Nacional ePetróleo (ANP) em Carauari, Te-fé e Coari. Desde que começou aoperar no Amazonas, a empresaobteve a concessão de 31 licen-ças ambientais, sendo 19 libera-dasporGraco.
Governorebateacusações
6 Para coordenador do Gru-po de Trabalho da Amazô-
nia (GTA), RubensGomes, a pro-ximidade entre a saída deGracoe o início de sua atividade naHRT O&G é escandalosa. “Todoesse processo está sob suspeita.As licenças precisam ser revis-tas. Em um país sério, esse tipode coisa não aconteceria. Isso éum escândalo”, afirma RubensGomes.O atual diretor-presidente do
Ipaam, Antônio Stroski, con-temporiza. “O licenciamentonão pode ser concedido à reve-lia dos estudos. Para cada licen-ça liberada, há o trabalho dostécnicos. Ele não poderia libe-rar licenças sem ter estudos erecomendações nesse sentido”,diz Stroski. Questionado sobreo conflito ético, Stroski admitecerto constrangimento e acredi-ta que, neste caso, poderia tersido feita uma espécie de qua-rentena. “É... a gente questionaisso, em outras áreas, como noMinistério da Fazenda, tem isso(quarentena)”, diz Stroski.Procurada pela reportagem,
a secretária de Estado deDesen-volvimento Sustentável (SDS),Nádia Ferreira, não se manifes-tou oficialmente. Em nota, oIpaam reiterou que “o trata-mento dispensado à HRT é omesmo dado à Petrobras e aqualquer outro empreendimen-to do ramo. Os requisitos de li-cenciamento estão definidosem leis e resoluções e neles nãoconstam tratamento diferencia-do a nenhum pleiteante de li-cenciamento”.Procurada pela reportagem,
a assessoria de imprensa daHRT O&G comunicou que “osprincípios que norteiam a con-tratação do profissional comoGerente Geral do escritório emManaus são a sua vasta expe-riência como advogado e admi-nistrador, commestrado emDe-senvolvimento Regional Sus-tentável, o que contribui forte-mente para a implantação e aconsolidação das atividades daHRTO&Gno Estado”.Na avaliação do cientista do
Instituto Nacional de Pesquisasda Amazônia (Inpa), PhilipFearnside, o curto intervalo en-tre a transferência de Graco doIpaam para a HRT O&G compro-va uma grave situação de confli-to de interesses. “Isso é muitograve. Sobre esses processos,não deveria haver nenhum tipode proximidade entre quem li-cencia e quem pede”, explicaFearnside.
AntônioStroskiadmiteconstragimento
Conflitos GP15
![Page 6: Caderno Especial A Critica Petroleo e Gas Natural Parte2](https://reader031.vdocuments.com.br/reader031/viewer/2022020320/568bd7cc1a28ab2034a10599/html5/thumbnails/6.jpg)
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a críticaMANAUS, SEGUNDA-FEIRA,
19 DEMARÇODE 2012
Brasil vai deixar de explorarum recurso dessa natureza.Acho que essa atividade,comparativamente à pecuá-ria, por exemplo, causa me-nos danos à floresta, mas éclaro que ela precisa ser vi-giada constantemente”, diz.Na opinião do gerente de
projetos de infraestrutura daOrganização Não Governa-mental(ONG)WWF,PedroBa-ra Neto, a exploração de gás epetróleo na Amazônia não fazomenor sentido. “Eu não vejológica nessemercado. Em vezdeestarmosbuscandoummo-delo econômico para substi-tuir a dependência que temosdopetróleo,estamosfazendoocontrário, buscando mais pe-tróleo, e ainda por cima numambiente tão complicadoquantoaAmazônia?Éumcon-trassensoterrível”,afirma.
PROPOSTASBara Neto acha ainda maisabsurda a ideia, em análiseno Governo do Estado, de le-galizaraexploraçãodepetró-leo emunidadesde conserva-ção estaduais. Um grupo detrabalho avalia desde julhodo ano passado os aspectoslegais para que blocos explo-ratórios dentro de unidadesde conservação possam serlicitados pela Agência Nacio-nal doPetróleo (ANP).Segundo a secretária de
Estado de DesenvolvimentoSustentável (SDS), NádiaFerreira, o grupo de estudonãovemse reunindoea ideiade liberar a exploração de pe-tróleo em áreas protegidasnão é uma prioridade do go-verno. “O simples fato de nãotermos feito mais reuniões éuma mostra do quanto isso
Perspectivas>>>EspecialistasavaliamospróseoscontrasdopetróleonaAmazônia
Unidadesdeconservaçãosãoopróximoalvo
Benção ou maldição?Redenção ou proble-ma? Os dilemas quecercam a exploração
de petróleo nomundo inteironão são simples, mas naAmazônia, uma questão ga-nha contornosmais dramáti-cos: por que investir tantoem combustíveis fósseis emuma região com um ecossis-tema tão sensível e onde sedeveria procurar alternati-vas para uma economiamais“verde”?Para o co-fundador e pes-
quisador sênior do Institutodo Homem e Meio Ambienteda Amazônia (Imazon), BetoVeríssimo, a resposta é rela-tivamente simples: dinheiro.“O petróleo vai continuarsendo um ativo importantepara todos os países do mun-do. É difícil imaginar que o
Para Beto Veríssimo, do Insti-tuto do Homem eMeio AmbientedaAmazônia (Imazon), opetróleona Amazônia tem sido exploradode formadiferente do que aconte-ceu na floresta amazônica doEquador e do Peru, onde houvegrandes desastres ambientais,mas ressaltouqueos recursosge-radosporessaatividadeprecisamser investidosnatransiçãodama-triz energética e no desenvolvi-mento sustentável na Amazônia.“A região vai ser alvo de investi-mentos bilionários nessa década.Preciamos aproveitar essa opor-tunidadeeessedinheirode formainteligente”,dizopesquisador.NaRDSUacari,aHRTO&Gpretendetreinarprofessoresparaatuarna localidade
Regulamentaçãojáestásendoestudada6Os sinais que vêm do Go-
vernodoEstadosãocontra-ditórios,masalgunsprojetospon-tuaisindicamqueoAmazonaspo-deráseprepararmelhorparaessesegundomomento da exploraçãodogásedopetróleonaAmazônia.Oprimeirodelesvememformadeleieosegundo,deacordo.Tramita nos gabinetes da Se-
cretaria de Estado de Desenvolvi-mento Sustentável (SDS) umpro-jetode leipara regulamentarose-tor de serviços ambientais. Servi-ços ambientais são aqueles pres-tados por ecossistemas como aprodução de umidade na Amazô-niaquedepois vira chuvanoCen-
zar as unidades de conservação”,afirma.
BARRILVERDEA outra iniciativa em andamentoé o acordo firmado entre a HRTO&G com a Fundação AmazonasSustentável (FAS)queprevêopa-gamento deR$ 1 por barril de pe-tróleo produzido pela companhiaemterritórioamazonense.Acom-panhia também“adotou”aReser-va deDesenvolvimento Sustentá-vel (RDS) Uacari, localizada nocurso médio do rio Juruá, ondepretende construir um centro detreinamentoparaprofessoresqueatuamnacomunidade.
tro-Oeste e no Sul do Brasil ou acaptura de carbono feita pela flo-restaamazônica.DeacordocomatitulardaSDS,
NádiaFerreira,umdospontosdis-cutidosnessaleiéumaespéciedefundo (temporariamente chama-dodeFundoClima)que receberiapartedosrecursospagospelaspe-trolíferas ao governo do Estado atítulo de royalties. O dinheiro se-ria destinado a financiar projetosvoltados para a preservação domeio ambiente em unidades deconservaçãoestaduais.“Oprojetoestá praticamente finalizado. Seele for aprovado, será um instru-mento importante para capitali-
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Um dos maiores desafios do Amazo-nas é reduzir suas elevadas taxas deanalfabetismo.
Apesar da riqueza dos seus subso-los, Carauari, Coari e Tefé têm altíssi-mas taxas de pobreza.
não está na nossa pauta deprioridades. Acho que temostantas áreas já concedidas àexploração que não precisa-mos disponibilizar mais”,afirmaNádia.A opinião de Nádia, po-
rém, não encontra eco na deoutro secretário, o de Mine-ração e Geodiversidade, Da-niel Nava. Ele é umdosmaio-res entusiatas do projeto.“Estamos vendo o marco le-gal para isso, mas acho quepode ser uma boa alternativaparaqueunidadesde conser-vação consigam gerar recur-sos. Comparativamente a ou-tras atividades, a exploraçãode petróleo não é uma amea-ça tão grandeassimàAmazô-nia”, avalia.Beto Veríssimo ilustra o
argumento de Daniel Navacom dados. Segundo ele, 18%
da floresta amazônica já fo-ram desmatados e 2% refe-rem-se a projetos de explora-ção de petróleo ou minera-ção, outra atividade conside-rada vilã da preservação daAmazônia. “Esses dados nãosignificam que não há pro-blema algum na exploraçãode petróleo. Apesar de cau-sar umbaixo desmatamento,os perigos são grandes. Umapreocupação que temos écom os outros projetos quevêm com o petróleo como ga-sodutos e óleodutos”, afir-ma.
IMPACTOSO cientista do Instituto
Nacional de Pesquisas daAmazônia (Inpa), PhilipFearnside, diz que os impac-tos ambientais causados pe-la construção de gasodutos
ou óleodutos podem ser se-melhantes aos causados pe-las rodovias na Amazônia.“Eles são vetores de atraçãopopulacional. Se essa expan-são da fronteira do petróleose desse apenas em regiõespouco povoadas, o impactoseria menor. Mas se queremfazer um gasoduto para Por-to Velho, por exemplo, o im-pacto poderá ser grande”,afirma.Na opinião do cientista so-
cial alemão Dieter Gawora,que estudou os efeitos da in-dustria dopetróleo emCoari,a resposta à pergunta é sim-ples: o petróleo foi uma mal-dição para o município. Obispo de Tefé, Sérgio Castria-ni, pondera. “Essa riqueza éuma benção, mas se for malutilizada, pode virar um cas-tigo”, afirma.