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Janeiro 2009 – Este suplemento faz parte integrante da Vida Económica nº 1278, de 02.01.2009 Contabilidade p. 17 Adopção do SNC deveria estender-se a um universo mais vasto Com as normas internacionais de contabilidade, de relato financeiro e do futuro Sistema de Normalização Contabilística, ganha nova dimensão a discussão em torno do conceito de Justo Valor. As normas alargam a sua apli- cação. Joaquim da Cunha Guimarães lembra que há novas responsabilidades para os técnicos e revisores oficiais de contas. São novas regras, às quais estes profissionais deverão estar particular- mente atentos. A problemática do valor ou da valori- metria em Contabilidade continuará a ser uma questão sempre em discussão. Actualidade p. 4 Sistema de normalização contabilística e formação são questões por resolver Manuel Patuleia, presidente da APO- TEC, lamenta que os profissionais da Contabilidade atravessesm uma fase de profunda intraquilidade e indefinição. Tanto mais grave, quanto a actual situ- ação de crise. As decisões tardam a ser tomadas por parte do poder político, como acontece com a formação profissional e o Sistema de Normalização Contabilís- tica. Considera Patuleia que no actual contexto seria muito importante haver a necessária definição de em termos de actuação e ao nível profissional. Para bem não só do trabalho destes profissionais, como para a própria transparência e governação de todo o sistema fiscal e contabilístico. Fiscalidade p. 6 Técnicos de contas condenam agravamento da tributação autónoma A duplicação da taxa de tributação autónoma, em sede de IRC, de 5% para 10%, foi uma medida governamental que desagradou desagradou à Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas (CTOC), como fez saber o seu presidente, Domingues de Azevedo. O aumento da carga fiscal não faz sentido numa altura em que muitas empresas fazem esforços acrescidos para sobreviverem num clima de grandes difi- culdades. Lamenta o presidente da CTOC que os profissionais da Contabilidade continuem a não ser ouvidos pela tutela neste tipo de matérias. p. 18 Fiscalidade p. 7 Sistema fiscal português afasta investimento estrangeiro Joaquim da Cunha Guimarães avisa Justo Valor implica novas responsabilidades para técnicos e revisores de contas Acontece que o Estatuto da Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas não dá uma resposta efectiva ao que re- presenta o conceito de Justo Valor em termos profissionais. Já os revisores oficiais de contas têm perante si o pro- blema da auditoria/revisão do balanço e das demonstrações dos resultados do Justo Valor. A OROC emitiu uma directriz sobre este assunto, mas nem por isso deixa de ser determinante que os ROC tomem as devidas cautelas, como faz notar Joaquim da Cunha Guimarães.

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.2009

Contabilidade p.17Adopção do SNC deveria estender-sea um universo mais vasto

Com as normas internacionais de contabilidade, de relato financeiro e do futuro Sistema de Normalização Contabilística, ganha nova dimensão a discussão em torno do conceito de Justo Valor. As normas alargam a sua apli-cação. Joaquim da Cunha Guimarães lembra que há novas responsabilidades para os técnicos e revisores oficiais de contas. São novas regras, às quais estes profissionais deverão estar particular-mente atentos.A problemática do valor ou da valori-metria em Contabilidade continuará a ser uma questão sempre em discussão.

Actualidade p.4Sistema de normalização contabilística e formação são questões por resolver

Manuel Patuleia, presidente da APO-TEC, lamenta que os profissionais da Contabilidade atravessesm uma fase de profunda intraquilidade e indefinição. Tanto mais grave, quanto a actual situ-ação de crise. As decisões tardam a ser tomadas por parte do poder político, como acontece com a formação profissional e o Sistema de Normalização Contabilís-tica. Considera Patuleia que no actual contexto seria muito importante haver a necessária definição de em termos de actuação e ao nível profissional. Para bem não só do trabalho destes profissionais, como para a própria transparência e governação de todo o sistema fiscal e contabilístico.

Fiscalidade p.6Técnicos de contas condenam agravamento da tributação autónoma

A duplicação da taxa de tributação autónoma, em sede de IRC, de 5% para 10%, foi uma medida governamental que desagradou desagradou à Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas (CTOC), como fez saber o seu presidente, Domingues de Azevedo. O aumento da carga fiscal não faz sentido numa altura em que muitas empresas fazem esforços acrescidos para sobreviverem num clima de grandes difi-culdades. Lamenta o presidente da CTOC que os profissionais da Contabilidade continuem a não ser ouvidos pela tutela neste tipo de matérias.

p.18

Fiscalidade p.7Sistema fiscal portuguêsafasta investimento estrangeiro

Joaquim da Cunha Guimarães avisa

JustoValorimplicanovasresponsabilidadesparatécnicoserevisoresdecontas

Acontece que o Estatuto da Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas não dá uma resposta efectiva ao que re-presenta o conceito de Justo Valor em termos profissionais. Já os revisores oficiais de contas têm perante si o pro-blema da auditoria/revisão do balanço e das demonstrações dos resultados do Justo Valor. A OROC emitiu uma directriz sobre este assunto, mas nem por isso deixa de ser determinante que os ROC tomem as devidas cautelas, como faz notar Joaquim da Cunha Guimarães.

A INOVAÇÃO COMO MEIO PARA ALCANÇAR UM CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL

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Sumário

Contabilidade & Empresas - Janeiro 2009 - 3

Guilherme Osswald

Contabilidade & EmpresasRua Gonçalo Cristóvão, 111 - 6º Esq.4049-037 PortoTelef.: 223 399 400 • Fax: 222 058 098

Editorial

Guilherme Osswald

ActualidadeSistema de normalização contabilísticae formação são questões por resolver

Medidas fi scais de incentivoàs empresas são insufi cientes

Bruxelas altera regrasda tributação da poupança

FiscalidadeTécnicos de contas condenam agravamento da tributação autónoma

Sistema fi scal portuguêsafasta investimento

Bruxelas apresenta planopara combater a fraude em sede de IVA

Normativo baseado em conceitosé o indicado para o relato fi nanceiro

SectoresMedidas propostas no OEvão reduzir carga fi scal no imobiliário

Informáticana ContabilidadeRecessão mundial é uma oportunidade para o cibercrime

Tecnologias da Informaçãogarantem avaliação correctados indicadores de performance

Logiciel lança solução out-of-the-box para pequenas empresas

ContabilidadeAdopção do SNC deveria estender-sea um universo mais vasto

Justo Valor implica novas responsabilidades para técnicose revisores de contas

Consultório

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Necessidade de adaptação só para algunsTerminou um ano que se caracterizou por profundas mudanças aos mais variados níveis, sobretudo em resultado da turbulência dos mercados fi nan-ceiros. Os profi ssionais da Contabilidade não constituíram excepção e estão agora muito mais conscientes da necessidade de uma rápida adequação às novas circunstâncias. Entretanto, quem parece pensar de outra maneira é o poder político.Têm razão os profi ssionais e os responsáveis associativos quando afi rma que se vive na confusão. Esta é, de facto, uma profi ssão que vive grandes incertezas a todos os níveis. Ora, acontece que são os responsáveis primei-ros pela apresentação de contas das empresas. Mas raramente são ouvidos. Vamos por partes. O Sistema de Normalização Contabilística foi para consulta pública. Houve grande pressa na sua apresentação. Acontece que os dias vão passando e parece que o referido documento passou para as calendas gregas. O mais grave é que se trata de um sistema que terá mesmo que ser implementado e o tempo começa a escassear para se ter uma noção exacta do que se pretende.Um outro aspecto não menos importante prende-se com a Comissão de Nor-malização Contabilística. O Estado tem um peso excessivo neste organismo, que deveria, à partida, ser totalmente isento. Como é sabido, as normas internacionais de contabilidade têm suscitado muita polémica, desde a sua infl uência anglo-saxónica até ao facto de ser um trabalho feito à medida das grandes empresas de auditoria. Colocando de parte estes problemas, seria essencial retirar algum do peso estatal na CNC, a par de um reordenamento das muitas entidades que têm a seu cargo as NIC. Quantos mais forem os envolvidos, maior será a confusão. E a credibilidade será sempre colocada em causa, a partir do momento em que será sempre possível afi rmar que é um diploma feito em nome dos interesses do Estado.Os problemas não se fi cam por aqui. O poder político continua a rejeitar o apoio das entidades representativas dos técnicos e revisores ofi ciais de contas. O que não é compreensível. Talvez se contasse mais com estes pro-fi ssionais evitaria situações pouco éticas como aquelas que tiveram lugar nas últimas semanas do ano agora fi ndo. O caso, em particular, dos recibos verdes deixou um “amargo de boca” a muitos contribuintes. Muitos deles apressaram-se a saldar o incumprimento e agora terão que esperar pelo respectivo reembolso. Entretanto, o Governo garantiu uma receita adicional, ainda que temporariamente.Convém ainda referir que, apesar dos apelos feitos, a relação entre o fi sco e o contribuinte (ou os seus representantes) pouco melhorou. Com efeito, há queixas sucessivas de que a administração fi scal vai para além do que é razoável num qualquer Estado de Direito. De tal forma que são muitos os casos em que o contribuinte desiste por temor de eventuais “pressões fi scais”. São aspectos que não se podem aceitar, ainda que se admita que algumas melhorias houve em termos operacionais. É um facto que existem objectivos estipulados para os serviços de fi nanças. No entanto, a sua obtenção não pode acontecer a qualquer custo.

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4 - Contabilidade & Empresas - Janeiro 2009

Actualidade

APOTEC

Os profi ssionais da Contabilidade atravessam uma fase de profunda intranquilidade. Ora, em situações de incerteza, cabe ao poder político responsabilizar--se por encontrar soluções para tornar o contexto fi scal, contabilístico e económico mais adequado às novas realidades. Manuel Patuleia, presidenteda Associação Portuguesade Técnicos de Contabilidade (APOTEC), lamenta que se tenha chegado a uma situação de grande indefi nição.As decisões tardam a ser tomadas, como são os casos da formação e do Sistema de Normalização Contabilística (SNC). Os técnicos ofi ciaisde contas querem que exista uma maior defi nição relativamente à sua profi ssão.

“as inúmeras notícias vindas a público sobre a situação fi nanceira do

país e do mundo e o reflexo que todas estas circunstâncias poderão provocar nas sociedades onde as rupturas já se anunciam irão, cer-tamente, provocar nos profi ssionais ligados à Contabilidade sensações de mau-estar, já que estes são os pri-meiros a analisarem e a avaliarem os comportamentos das empresas”, de acordo com Manuel Patuleia. Perante este cenário, importa que os profi ssionais sejam esclarecidos e que sejam dadas respostas às suas legítimas pretensões.a aPoteC tem motivos para estar particularmente preocupada. des-de Julho de 2007 que espera por uma decisão fi nal sobre o abuso da

posição dominante, derivado de um regulamento sobre formação. “É o anacronismo dos processos, é a len-tidão, muitas vezes provocada por quem tudo faz para protelar reso-luções que impedem os organismos competentes, em tempo útil, de pro-ferirem as necessárias decisões.” aliás, a questão da formação tem suscitado viva polémica. É um problema que se arrasta há já algum tempo. Considera a associa-ção liderada por Manuel Patuleia que a Câmara dos técnicos ofi ciais de Contas não pode continuar a impedir, sem fundamento, que outras entidades, devidamente credenciadas, promovam acções de formação profi ssional, independen-temente da carga horária. assim, a aPoteFC continua à espera que a autoridade da Concorrência reconheça a sua formação para efeitos do regulamento da Qua-lidade daquela câmara. refere a este propósito: “a discriminação da formação ministrada pela aPoteC é atentatória das regras vigentes em toda a união europeia quanto à livre e regular concorrência e, consequentemente, inaceitável.”

SNC continua parado

Mas Manuel Patuleia também se revela descrente do processo rela-cionado com o sistema de norma-lização Contabilística. neste caso, os profi ssionais do sector continuam à espera que seja promulgado o documento respectivo por parte do poder político. sobretudo, lembra que deverão, eventualmente, ser introduzidas alterações, tendo em conta as actuais condições dos mer-cados a todos os níveis.Para a aPoteC, é essencial se-rem feitos esforços acrescidos para serem conhecidos, em defi nitivo, o snC. “Há que permitir aos profi s-sionais tempo para uma mudança de paradigma, de forma a que a sua implementação garanta os objecti-vos a que se propõe e não atrofi e a a actividade destes peofi ssionais e o desenvolvimento das empresas.”Considera ainda o dirigente associa-tivo que o incumprimento das leis deve, de facto, ser penalizado. só uma mudança de mentalidades fará com que se encare o cumprimento das normas como uma situação normal.

Manuel Patuleia, presidente da APOTEC, lamenta

Sistema de normalização contabilística e formação são questões por resolver

O presidente da APOTEC considera inaceitável a falta de resposta às solicitaçõesdos profi ssionais da Contabilidade por parte das autoridades públicas.

Contabilidade & Empresas - Janeiro 2009 - 5

vários gestores e empresários. o principal objectivo é descodifi car, interpretar e avaliar de que forma as alterações introduzidas no oe terão impacto efectivo na gestão fi scal das empresas que operam em Portugal.nas conclusões destes dois encon-tros fi cou evidente a escassez de medidas anticíclicas, consideran-do o actual contexto excepcional. o que signifi ca que as referidas medidas, pelo menos para já, terão pouca influência em termos de apoio às entidades empresariais, “não fomentando a competitivi-dade da economia portuguesa”. donde se conclui que é preciso ir bastante mais longe para alterar o actual estado de coisas.

A realidade é quea carga fi scal continua a ser excessiva, a burocraciaé demasiada e há aspectos, em concreto, que asfi xiam as empresas de menores dimensões

Actualidade

INCENT IVOS

as medidas fi scais de incen-tivo à recuperação das em-presas nacionais são ainda

escassas. a maioria dos fi scalistas considera que o governo tem que ir bastante mais longe para tornar as empresas fi scalmente competitivas. Mesmo as mais recentes medidas, ainda que revelem algumas me-lhorias, são interpretadas como insufi cientes. a realidade é que a carga fi scal continua a ser excessi-va, a burocracia é demasiada e há aspectos, em concreto, que asfi xiam as empresas de menores dimen-sões. e nesse aspecto tudo continua por fazer ou o impacto apenas terá efeitos no fi nal da década, o que poderá ser demasiado tarde.a deloitte organizou dois semi-nários para análise das medidas fi scais constantes do orçamento do estado para o próximo ano e as suas implicações para as em-presas. os seminários envolve-ram mais de 550 participantes e contaram com as intervenções de João César das neves e rui Mo-reira, a par do depoimanento de

Pela positiva, embora com im-pacto apenas em 2010, está a alteração à actual taxa de cálculo do irC, que passará a prever a aplicação de uma taxa de 12,5% à matéria colectável até 12 500 eiros. Foram ainda salientados outros aspectos específi cos, como é o caso da criação de medidas de apoio ao arrendamento habi-tacional.entretanto, o governo anunciou algumas medidas de apoio fi scal às PMe. desde logo, o crédito fiscal ao investimento, para o próximo ano, que poderá atin-gir 20% do montante investido, dedutível em quatro exercícios. Por outro lado, a autoliquidação do iva na prestação de bens e serviços às administrações públi-cas de montante superior a cinco mil euros. Foi ainda anunciada a aceleração do reembolso do iva, baixando o seu limiar de 7500 para três mil euros, para além da redução do valor mínimo do Pagamento especial por Conta para mil euros.

Medidas fi scais de incentivoàs empresas são insufi cientes

Bruxelas altera regrasda tributação da poupança

a Comissão europeia adoptou uma proposta que altera a directiva de tributação da

Poupança, com o objectivo de eli-minar lacunas existentes e evitar a evasão fi scal. desde 2005, esta directiva pretende garantir que as entidades pagadoras declaram os rendimentos de juros provenientes dos contribuintes residentes nou-tros estados-membros ou cobram

um imposto retido na fonte sobre os juros.a proposta da Comissão pretende melhorar a directiva, de forma a as-segurar a tributação nos pagamen-tos de juros, que são canalizados através de intermediários isentos de impostos. Propõe-se também alargar o âmbito de aplicação da directiva ao rendimento equiva-lente aos juros obtidos através de

investimentos em alguns produ-tos fi nanceiros complexos, assim como em determinados produtos de seguros de vida. Finalmente, a simplifi cação do funcionamento técnico desta directiva deve levar à criação de um sistema de utiliza-ção mais fácil e de implementação mais efi caz.

6 - Contabilidade & Empresas - Janeiro 2009

Fiscalidade

CTOC

As alterações introduzidas pelo Governo em sede de tributação autónoma desagradaram à Câmara dos Técnicos Ofi ciais de Contas. Domingues de Azevedo fez chegar à Secretaria de Estado dos Assuntos Fiscais uma missiva em que dá conta, expressamente, das suas preocupações neste âmbito. Considera a entidade que neste momento há esforços acrescidos para manter as empresas a funcionarem. Ora, criar maior carga fi scal para as empresas acaba por representar uma contradição que não se entende. Por outro lado, o presidente da CTOC torna a apelar para que os técnicos ofi ciais de contas sejam ouvidos, especialmente quando se trata de introduzir alterações legislativas em matéria fi scal ou contabilística.

“a retroactividade da lei na produção dos seus efeitos ao ano de 2008,

no que concerne à tributação autónoma, não é propriamente um exemplo de justiça de que nos possamos valer para incentivar as empresas e os empresários ao cumprimento das suas obrigações fi scais. Com efeito, quem cessou a sua actividade até à data da publi-cação da lei verá a sua tributação autónoma permanecer em 5%, mas quem continuar a exercer a activi-dade verá a respectiva tributação autónoma relativa às despesas so-bre que incide o ano de 2008 serem tributadas à taxa de 10%. uma diferença que é tão só e apenas o

dobro do imposto a pagar entre uma e outra empresas”, explica domingues de azevedo.ora, cabe aos toC informarem regularmentre as empresas da evo-lução dos seus volumes de negócios e o peso que os impostos represen-tam. “Como é natural, sempre con-sideraram a tributação autónoma à taxa de 5% e não de 10%, pelo que se vêem confrontados com realida-des que nunca previram, pois nada antevia nem se justificava que fosse publicada uma lei que viesse a produzir efeitos desde o início do ano.” assim, a CtoC considera da mais elementar justiça que as alterações introduzidas no âmbito do CirC apenas produzam efeitos no ano agora iniciado.Por outro lado, domingues de aze-vedo apela para a audição prévia dos toC nas iniciativas legislati-vas que mantenham matérias de natureza contabilística ou fi scal. admite que seria uma mais-valia para a redação fi nal das normas. Coloca-se a CtoC disponível para participar em equipas ou grupos de trabalho que tenham essa missão, até porque se trata também de dar

cumprimento às disposições de au-dição prévia previstas no estatuto da Câmara dos técnicos ofi ciais de Contas.

O dever de informar

a entidade reguladora da profi ssão de toC lembra que estes profi s-sionais têm um trabalho muito importante no âmbito declarativo fi scal, a par da sensibilização dos sujeitos passivos para o cumpri-mento dos seus deveres fi scais. “no Código deontológico estabelece-se mesmo a obrigatoriedade de infor-mação dos profi ssionais aos seus clientes, no sentido de se atingir uma maior consciência do cumpri-mento das respectivas obrigações tributárias.”ora, considera o presidente da CtoC que tal sensibilidade tem que assentar em pressupostos de razoabilidade e justiça, sem que se torna muito difícil não só a comunicação da mensagem mas também o seu cumprimento. e dá um exemplo concreto e recente: “a tardia publicação da lei para a antecipação de uma obrigação para o dia 15 de um mesmo mês não é propriamente um bom exemplo de sensatez, difi cultando aos profi s-sionais o cumprimento não só do dever declarativo, mas, fundamen-talmente, o dever informativo.”naturalmente, a câmara rejeita o envolvimento em áreas que são da responsabilidade do governo, este legitimamente eleito. apenas pretende que os seus profi ssionais concorram, na medida do possível, para “a estabilidade e o funciona-mento da sociedade, por via de uma intervenção positiva no exercício da profi ssão”, conclui domingues de azevedo.

Técnicos de contas condenam agravamento da tributação autónoma

O presidente da CTOC lamenta que sejam tomadas medidas que vão

tornar ainda mais complicada a actual situação das empresas

Contabilidade & Empresas - Janeiro 2009 - 7

Fiscalidade

ADMINISTRAÇÃO F ISCAL

A política fi scal portuguesa não é atractiva para o investimento estrangeiro. A que acresce um sistema judiciário arcaico e excesso de burocracia. António Lobo Xavier fala mesmo de uma tríade maldita para o investimento e o desenvolvimento: a fi scalidade, a justiça e a burocracia. O fi scalista é um defensor convicto de uma relação mais positiva entre o contribuinte e a administração fi scal, como faz notar em entrevista à revista TOC. Por sua vez, é mais um nome que se junta aos muitos outros que apoiam a ideia de que o Estado deveria generalizar o sistema de caixa no IVA.

admite que a máquina fi scal melhorou bastante a sua efi ciência e parte da actual

confl itualidade decorre dessa cir-cunstância. o que é normal. no entanto, lamenta que os incentivos estejam a ser mal orientados. os funcionários têm incentivos e pré-mios para a liquidação dos impostos e não sofrem consequências quando têm que os devolver aos contribuin-tes. não faz sentido, na sua óptica, estimular cobranças temerárias, não fundamentadas, em muitos casos surrealistas.Mas há outras situações que propi-ciam o afastamento dos investido-res estrangeiros. “a administração fi scal não cumpre espontaneamente as sentenças. em geral, há que avançar com acções de execução de sentença. em parte é mau funcio-namento, em parte é desadaptação aos novos processos e ao aumento

da efi ciência, em parte é a cultura que se gerou no estado e que não é combatida. ou seja, quanto mais tarde se devolve o dinheiro ou se paga aos fornecedores, melhor. É uma cultura profundamente nega-tiva, especialmente num momento de crise de liquidez.”a questão que se coloca é se existe, de facto, prepotência por parte da máquina fi scal. lobo Xavier acha que assim é em certas situações. a realidade é que ainda não houve a necessária cabeça fria para equi-librar a relação fi sco-contribuinte e torná-la mais suave. e dá um exemplo concreto a este propósito: a taxa de juro a que o estado de-volve o dinheiro que cobra a mais é um terço da que cobra aos contri-buintes quando estes se atrasam nos pagamentos dos impostos. e há outros factores preocupantes: “Fala-se em aumentar os prazos de caducidade e de prescrição. a efi ciência e a cobrança de receitas não podem justifi car tudo.”

Medidas simplese de longo alcance

o fi scalista considera que há as-pectos que podem ser alterados, com vantagens para as partes. “responder às informações vincu-lativas a tempo e horas, reduzir a burocracia, garantir que as repar-tições de Finanças dão informações homogéneas, ter uma forma expedi-ta de resolver os confl itos de elevado montante, através de uma comissão arbitral que decidisse em tempo útil. são pequenas medidas que não signifi cam redução da receita. Mas o discurso continua a ser de ataque, de perseguição de metas para che-gar ao fi m do ano com determinados resultados. e isso é pouco.”

relativamente à quebra do sigilo bancário para fins fiscais, tem muitas dúvidas sobre a legalidade do regime. um regime que a partir da desconformidade entre as re-lações do contribuinte e os sinais de fortuna permite logo o acesso directo às contas bancárias parece-lhe profundamente negativo. “o contribuinte deve ter o direito de poder explicar donde resulta essa desconformidade, com que meios a financiou e só se subsistirem dúvidas significativas é que se deve partir para o acesso às contas bancárias.”

Lobo Xavier considera

Sistema fi scal portuguêsafasta investimento

SISTEMA DE CAIXANO IVA É MEDIDA

DE APOIO À ECONOMIALobo Xavier é de opinião que o sistema de caixa no IVA seria uma excelente medida de apoio à economia. Como não há crédito neste momento, o mínimo que o Estado poderia fazer era libertar todo o dinheiro que é da econo-mia e que está nos seus cofres. É o dinheiro dos reembolsos do IVA, são as facturas dos contratos celebrados que são pagas muito tarde.Perante este cenário, deveria ser generalizado o sistema de caixa. “O que signifi ca que não se paga ao Estado quando é emitida a factura, mas apenas quando o cliente fornecesse os meios para pagar o IVA. É uma medida com que o Estado, sem perder recei-ta, poderia ajudar à liquidez da economia. Aliás, nalguns estados europeus o sistema de caixa é muito generalizado. “Generalizar este sistema, ainda que de forma temporária, seria uma excelente oportunidade de apoiar a econo-mia”, conclui o fi scalista.

8 - Contabilidade & Empresas - Janeiro 2009

Fiscalidade

UE

A Comissão Europeia apresentou um plano de acção a curto prazo com uma lista de medidas legislativas, no sentido do reforço da capacidade das administrações fi scais para prevenirem ou detectarem eventuais fraudes em sede de IVA – em especial “operador fi ctício” – e para recuperarem os impostos. Foram ainda adoptadas duas medidasde alteração da directivado IVA. Uma pretende evitar a utilização abusiva dos mecanismos existentesde isenção daquele imposto nas importações. A outra pretende dar aos Estados-membros a possibilidadede exigirem ao fornecedoro IVA pedido pela utilização de um “cliente ausente” num outro país da União Europeia, quando não tenha reportado os seus fornecimentos à respectivas autoridades fi scais.

o plano em causa pretende dar uma abordagem global, com o objectivo de garantir

as necessárias ferramentas para as administrações fi scais combate-rem de forma mais efi caz a fraude no iva nos diferentes estádios do processo. Bruxelas está consciente que um certo número das propos-tas é bastante substancial e toca o difícil equilíbrio entre a carga fi scal sobre os negócios e a admi-nistração fiscal. É uma matéria sensível que tenderá a provocar um debate aceso quando a Comissão

Medidas pretendem garantir uma maior abrangência

Bruxelas apresenta plano para combater a fraude em sede de IVA

apresentar as propostas defi nitivas neste âmbito.aliás, a Comissão não deixa de avisar que certas práticas admi-nistrativas há muito estabelecidas terão que ser alteradas e os es-tados-membros terão que revelar a necessária flexibilidade, bem como o desejo efectivo, para se adaptarem às novas regras. Certas medidas, como o acesso automático aos dados, vai implicar um esforço signifi cativo ao nível técnico. ou seja, os governos nacionais terão que estar preparados com os ne-cessários recursos para colocarem o processo em funcionamento.Quando as medidas são encaradas de uma forma separada, é um facto que nenhuma representa uma so-lução global para eliminar a fraude em sede de iva. Cada medida, em termos individuais, deve trazer valor acrescentado, mas é apenas a sua implementação como um todo que permitirá às autoridades fi scais disporem de um modelo ade-quado para combaterem a fraude, que representa um pesado encargo

para as fi nanças públicas em toda a união europeia.

Efi cácia e assunçãodas medidas dependedos governos

a Comissão europeia não deixa de avisar que o sucesso da estratégia anti-fraude, ao nível da união europeia, vai depender do que for adoptado pelo Conselho Europeu e da rapidez com que as medidas fo-rem depois colocadas em práticas. Como tal, a principal responsabili-dade fi cará nas mãos dos próprios governos nacionais.Por outro lado, a Comissão também não deixa de referir que este pro-grama de acção será um produto fi nal. encara o plano mais como um primeiro passo no sentido de uma abordagem coordenada para combater a fraude em sede de iva na união europeia. todavia, deixa o aviso que os esforços devem ser continuados. Por isso, apela a que as partes intervenientes continuem a desenvolver esforços para garan-tir um modelo de combate mais efi caz, como aliás tem sucedido nos anos mais recentes.existem dois aspectos que mere-cem especial atenção por parte de Bruxelas. Primeiro, as diferenças operacionais entre os países são uma forma de contornar a legis-lação e criam oportunidades para bloquearem a efi ciência de medidas já tomadas por parte da Comissão. Por outro lado, uma legislação mais harmonizada nesta área permiti-rá reduzir consideravelmente os custos das empresas, por exemplo, através de sistemas informáticas mais abrangentes.

Contabilidade & Empresas - Janeiro 2009 - 9

Fiscalidade

NORMALIZAÇÃO

O debate acerca de qual o melhor sistema de normalização contabilística a adoptar tem ganho especial importância, tendo em conta a iminente adopção generalizada de um novo normativo contabilístico, com base nas normas internacionais de contabilidade. Nos pratos da balança estão as normalizações assentes em regras ou conceitos. Ana Lúcia Ferreira e João Luís Ferreira, em trabalho publicado no “Jornal de Contabilidade”, defendem que o normativo baseado em conceitos se apresenta mais vantajoso para a utilidade da informação fi nanceira. No entanto, importa ter em conta alguns problemas que se colocam a este normativo.

É necessário que a prestação de contas e restante infor-mação financeira tenham

um enquadramento conceptual consistente. a ampla cobertura permitirá que a substância econó-mica seja destacada e privilegiada. referem os autores a este propósi-to: “a melhor forma de aplicação de um normativo baseado em conceitos será com a introdução de algumas orientações de imple-mentação, como forma de garantir a consistência e a comparabilidade da informação entre empresas e para a mesma empresa ao longo do tempo. a redução de subjectivi-dade resultante da introdução de orientações práticas nas normas permite a diminuição das possi-

bilidades de relato agressivo por parte das empresas, através de um menor leque de alternativas de tratamento existente para cada tipo de transacção.”ora, convém referir que as orienta-ções de implementação não deverão ser quantitativas, mas descritivas, isto para não se perder o realce da substância económica sobre a for-ma e para que se verifi que o efeito disciplinador sobre a estruturação das transacções. no entanto, os dois profi ssionais assumem que a implementação de um sistema de normalização baseado em conceitos tem inúmeros obstáculos, a maior parte internos ao processo de pres-tação de informação.“É previsível que preparadores e auditores demonstrem insatisfação pela escolha de um trajecto que lhes exija mais e melhor trabalho, com a aplicação mais frequente do julgamento profi ssional. Mas, mais importante que as previsíveis resis-tências à mudança, é a existência de um conjunto de factores críticos de sucesso para a execução efi caz de um normativo com base em conceitos.”

Questões éticas e morais

a questão da ética e do desenvolvi-mento moral de gestores, profi ssio-nais da contabilidade e auditores

pode ser relevante para o sucesso de qualquer estrutura normativa. “ao nível das profi ssões relaciona-das com o relato fi nanceiro, deve ser fomentada uma consciência mais colectiva, de modo a solidifi -car uma ideia de classe que só há pouco tempo começou a surgir. a participação de um maior número de indivíduos na tomada de decisão colectiva signifi caria uma aceitação e um interesse mais generalizados dos conteúdos dos códigos de con-duta”, adiantam.Por outro lado, defende-se neste trabalho que é importante imputar penalizações àqueles profi ssionais que não cumprirem com os valores éticos, “em detrimento de uma aceitação geral de comportamentos inadequados tomados por alguns indivíduos, os quais obtêm, muitas vezes, o reconhecimento social e profi ssional”.um outro ponto que merece des-taque, quanto à implementação de um sistema contabilístico assente em conceitos, é a efectiva inde-pendência dos profi ssionais, face às empresas e aos seus gestores. “os interesses destes últimos são, muitas vezes, contrários à demonstração de informação fi -nanceira que transmita a imagem verdadeira e apropriada que se pretende. “esta questão coloca-se independentemente do sistema normativo aplicado, mas torna-se mais determinante perante um normativo baseado em con-ceitos, na medida em que exige um maior volume de julgamento profi ssional, envolvendo, portanto, mis subjectividade e uma maior responsabilização por parte dos profi ssionais da Contabilidade e dos auditores.”

Normativo baseado em conceitosé o indicado para o relato fi nanceiro

10 - Contabilidade & Empresas - Janeiro 2009

Sectores

IMOBIL IÁR IO

O Governo pretende avançar com medidas para acelerar o processo de reabilitação urbana, fomentar o arrendamento urbano e adequar o Código de IRS à realidade do mercado imobiliário, no que respeita às mais-valias decorrentes da alienação da habitação própria e permanente. Quem o garantiu foi o secretário de Estado do Tesouro e Finanças, Carlos Costa Pina Pina, durante o Fórum Confi dencial Imobiliário. As medidas de natureza fi scal podem ser encaradas como multifacetadas e traduzem--se num alargamento a novos incentivos ou na ampliação dos prazos daqueles já instituídos.

o secretário de estado apon-tou a previsão de uma tributação liberatória re-

duzida em irs (5%) sobre mais-valias imobiliárias e rendimentos prediais decorrentes de imóveis situados em áreas de reabilitação urbana (aru), bem como a dedu-ção à colecta, em sede de irs, para despesas em imóveis situados nes-sas áreas. também está prevista no orçamento do estado a aplica-ção de uma taxa reduzida do iva nas empreitadas cujos donos da obra sejam empresas municipais que tenham por objecto a reabili-tação ou a gestão urbanas.Carlos Costa Pina referiu a exten-são da aplicação da taxa reduzida de iva às empreitadas de reabilita-

Governo garante

Medidas propostas no OEvão reduzir carga fi scal

no imobiliário

ção de imóveis contratadas directa-mente pelo instituto de Habitação e reabilitação urbana e a introdução de um benefício, em sede de iMt, na primeira transmissão onerosa do prédio reabilitado, quando lo-calizado em aru, desta feita para dinamizar o mercado da reabilita-ção. destacou ainda a introdução de benefícios em sede de iMi para imóveis localizados naquela área e a realização de acertos nos coefi -cientes de vetustez, de ajustamento e de localização.Quanto aos prédios em ruínas,

também se verifi carão alterações em termos fi scais. É o caso da alte-ração ao CiMi, de modo a permitir a duplicação anual da taxa de iMi para os prédios urbanos em ruínas ou devolutos há mais de um ano. de igual modo, a alteração ao Ci-Moi, de modo a que a autarquia passe a ter a necessária competên-cia para determinar que os prédios estão em ruínas. Finalmente, a equiparação dos prédios devolutos a prédios em ruínas, por forma a que estes possam ser avaliados a pedido da câmara municipal.

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Sectores

IMOBIL IÁR IO

Desagravamento fi scalna habitação

o secretário de estado garantiu “o desagravamento dos impostos que mais afectam o mercado da habitação, para minorar conse-quências mais adversas que pos-sam impender sobre as famílias com menores rendimentos”. daí o oe aprovar um conjunto de medidas fi scais, “com vista a sua-vizar, internamente, os efeitos das crise internacional nos mercados fi nanceiros.”neste âmbito, Costa Pina des-taca a alteração ao regime de deduções à colecta, respeitantes a encargos com imóveis, em sede de irs, através da majoração das despesas com habitação própria e permanente, que incluem juros, em função da matéria colectável, “benefi ciando os escalões de menor rendimento”. adiantou ainda a redução das taxas máximas, em sede de iMi, relativas aos prédios urbanos e o alargamento do prazo de isenção de iMi para habitação própria e permanente de seis para oito anos, para prédios com valor tributável até 157 500 euros, e de três para quatro anos, para pré-dios com valor tributável até 236 250 euros.lembrou aos muitos presentes que “o desfecho da vasta reforma do regime do património público criará condições para o alcance de uma gestão mais efi caz e ra-cional dos recursos públicos. as opções legislativas tomadas foram devidamente ponderadas pelo go-verno, em função de perspectivas de médio e longo prazos na busca da correcta gestão do imobiliário público”.o optimismo e o cenário muito po-sitivo não são encarados da mesma forma pelos agentes de mercado. a Federação da Construção (FePi-CoP) admite que houve melhorias nalguns aspectos relacionados com a habitação. no entanto, parece evidente que não é sufi ciente e há outras medidas que até irão agra-

var a situação das empresas, em especial no sector da construção. É o que se passa com o aumento da tributação autónoma, tendo em conta os “graves constrangimentos de tesouraria que as alterações que lhe estão associadas vão provocar às empresas”.o que acontece, como explica a federação, é que são introduzidas modifi cações com impacto em sede de irC, as quais serão aplicadas retroactivamente, “quebrando as expectativas dos contribuintes, face ao apuramento do lucro tri-butável”. Pelo que a taxa de tribu-tação autónoma que incide sobre os encargos dedutíveis relativos a despesas de representação e os relacionados com viaturas ligeiras de passageiros ou mistas, motos ou motociclos foi aumentada de 55% para 10%, excepto se os referidos veículos forem movidos a energia eléctrica ou cumprirem determi-nados requisitos em matéria de emissões poluentes.de igual modo, adianta a federação que agrega todas as associações do sector da construção, a taxa de tributação autónoma relativa aos encargos dedutíveis com viaturas ligeiras de passageiros ou mis-tas, cujo custo de aquisição seja superior a 40 mil euros, quando suportados por contribuintes que apresentem prejuízos fi scais nos dois últimos exercícios àquele a que os referidos encargos digam respeito, passa de 15% para 20%.a estrutura associativa tece duras críticas sobre esta política fi scal: “a intenção do governo de aumen-tar a tributação destes encargos é perfeitamente desajustada do contexto temporal, quanto mais se mostra descabida no âmbito de um diploma que pretendia introduzir

o secretário de Estado apontou a previsão de uma tributação liberatória reduzida em iRs (5%) sobre mais-valias imobiliáriase rendimentos prediais decorrentes de imóveis situadosem áreas de reabilitação urbana (ARU)

medidas anticíclicas, ou seja, de desagravamento da situação das empresas e das famílias, face à grave crise que a economia nacio-nal atravessa.”

Pagamento por conta mantém-se

entretanto, a federação avisa que o pagamento por conta se mantém. isto depois do episódio da ante-cipação do terceiro pagamento, sendo que o governo acabou por recuar nesta matéria, perante os muitos protestos que se fi zeram ouvir. a antecipação da sua exi-gibilidade foi revelador da pouca sensibilidade do governo perante as difi culdades que a maioria das empresas atravessa. Conclui que as medidas, de uma maneira geral, e contrariamente ao desejável, não representam soluções para os problemas que as empresas enfrentam, antes traduzindo um agravamento da situação por elas vivida.Perante este cenário, a maioria das associações, federações e empresas, um pouco de todas as áreas de actividade, continuam a insistir na necessidade de im-plementar medidas fiscais que permitam criar uma certa mar-gem, de forma a que seja possível estar no mercado de forma com-petitiva. não basta fazer algumas correcções pontuais, ao mesmo tempo em que são implementadas medidas de sentido contrário. torna-se evidente que o governo não está na disposição de abrir mão de receita fi scal. resta saber se desta forma não acabará por sair a perder.

12 - Contabilidade & Empresas - Janeiro 2009

Os líderes e a visão estratégica

AGOST INHO COSTA

Análise

3ª Parte

«A cultura da empresa é o comportamento de seus líderes. Os líderes conseguem o com-portamento que mostram e toleram. Você muda a cultura de uma empresa mudando o comportamento de seus líderes. Você mede a mudança, avaliando a mudança no comportamento pessoal de seus líderes e o desempenho de seu negócio.»

Dick Brown

as organizações estão perante épocas de rápidas mudanças. a concorrência é cada vez mais agres-siva. Como tal, todos os recursos deverão ser objecto duma gestão mais efi ciente.

Perante esta situaçãocomo reage uma grande partedos gestores?

reage demasiado tarde e demasia-do lentamente.

Porquê esta reacção tardia?

Jean Brilman, um estudioso desta problemática, aponta uma lista causas, para explicar a reacção tardia de muitos gestores:- têm esperança duma melhoria da conjuntura;- Confundem crise estrutural com um simples abrandamento con-juntural;- não têm informação de gestão capaz, que proporcione um conheci-

mento claro das divisões com lucro e das que têm prejuízo;- utilizam indicadores desfasados (que traduzem uma informação tardia).logicamente que estes aspectos não proporcionam que sejam to-madas as decisões adequadas, no momento certo.os gestores podem reagir, em dife-rentes momentos, de acordo com a leitura e a interpretação dos factos. Por vezes, reagem apenas…: - Quando as vendas diminuem;- Quando o resulta do de exploração diminui;- Quando a tesouraria se degrada.- …Mas reagir nestas circunstâncias é reagir tarde demais. não basta, pois, que uma orga-nização seja efi ciente em termos operacionais. É, pois de extrema importância para a sobrevivência e para o crescimento duma orga-nização que esta esteja consciente do que está a acontecer à sua volta e de como se pode adap tar a um ambiente em mudança, mantendo ao mesmo tempo uma forte coesão da sua equipa, rumo a um destino concreto, a um objectivo estraté-gico, gerindo da melhor forma os recursos á sua disposição. se a equipa tem uma visão, e acredita nela, o seu desempenho irá melhorar. se você possui uma visão organizacional, utilize-a na construção da visão da sua equi-pa. ainda que não exista visão organiza cional, terá de edifi car a visão da sua equipa. Por vezes, o trabalho do dia-a-dia absorve a maior parte do tempo disponível. o processo de comuni-cação da visão empresarial requer tempo. Caso contrário, corremos o risco de ter os nossos colaboradores absorvidos pelas tarefas diárias, mas sem uma perspectiva que os conduza para além do curto prazo.

não é dessa forma que se cons-troem equipas verdadeiramente motivadas e comprometidas para atingir objectivos estratégicos. Para que tal seja conseguido, temos que garantir que a visão estraté-gica da empresa (a 3 ou a 5 anos) seja perfeitamente entendida, e traduzida em objectivos.

Por que é que devemos estabelecer objectivos estratégicos?

o estabelecimento de objectivos é importante para dar moti vação e mensurabilidade. o ideal será que os mesmos sejam claros e fi quem escritos. Quando temos objectivos clara-mente defi nidos, a concentração de energias pelas equipas, para alcançá-los, permitem trazer para o campo das possibilidades, o que no passado parecia impossível.

Mas então por que razãoas pessoas parecemtão relutantes em estabelecer objectivos específi cos?

algumas das razões vulgarmente apresentadas poderão ser sinteti-zadas em expressões que a seguir mencionamos:1. nunca tivemos necessidade de estabelecer objectivos por escrito, e mesmo assim as coisas funcio-nam.2. sabemos o que queremos. são esses os nossos objectivos. Passá-los a escrito para quê?3. estabelecer objectivos por escrito é perda de tempo. as coisas não funcionam melhor por isso.4. …a inexistência de objectivos claros, escritos e perfeitamente compre-endidos por toda a equipa, é um aspecto negativo capaz de condi-cionar a existência duma liderança

agostinHo Costa

Contabilidade & Empresas - Janeiro 2009 - 13

traduzir essa visão da empresa em objectivos que sejam, pois, a forma quantifi cada de traduzir a referida imagem da nossa instituição no futuro. em seguida, calendarizar ao longo do tempo estes objectivos e assegu-rar-se que os mesmos não entram de forma alguma em confl ito uns com os outros. uma vez criado um conjunto coe-rente de objectivos, deveremos rever cada um dos deles, através dum conjunto de questões, sobre o impac-to emocional, que o alcance de tais objectivos provocará na equipa. de acordo com a resposta obtida, é que saberei a importância de tais objectivos, na motivação, no empe-nhamento, no contributo para um alto rendimento da equipa que o estabelecimento de tais objectivos poderá ter.a título de exemplo, apresentamos aqui algumas dessas hipotéticas questões. a lista poderá e deverá ser logicamente desenvolvida e adequada a cada caso concreto.

Exemplo de questõespara avaliar o impacto emocional que o alcancede tais objectivosprovocará na equipa

1. Por que razão queremos alcançar este objectivo?2. Quais os benefícios que o mesmo nos irá proporcionar?3. É um objectivo realista?4. Como nos vamos organizar, para que seja possível alcançá-lo?5. Por que razão nunca o tentámos fazer anteriormente?6. Que dificuldades poderemos encontrar no percurso?7. Que preço a minha equipa está disposta a “pagar” para alcançá-lo?8. Qual a motivação, o entusiasmo que encontro na equipa para dar início à “caminhada”?9. o que precisamos fazer para que o capital de motivação e entusias-mo seja sufi ciente para a viagem?10. ...

AGOST INHO COSTA

efi caz, que sistematicamente possa relembrar ao grupo o propósito a alcançar num determinado perí-odo, o evitar desvios de percurso, e, dessa forma, a não desperdiçar tempo, energia e recursos, que em nada contribuam para a construção da visão que o líder deseja para a sua organização. dessa forma, cada membro da equi-pa vai contribuir para a construção dessa visão empresarial. isso é motivador.o estabelecimento de objectivos é, pois, uma com ponente vital para definir que estratégia seguir. a estratégia é o caminho a percorrer. o objectivo é o destino do nosso percurso. as diferentes estratégias são, pois diferentes caminhos. Há, pois, que escolher a mais adequa-da, mas só depois de os objectivos estratégicos estarem perfeitamente defi nidos.

Como poderemos desenvolver um processo de criação de objectivos estratégicos capaz de aglutinar fortes motivações duma equipa?

vejamos então os princípios a se-guir para criar tais objectivos e não uma multiplicidade de objectivos dispersos, para diferentes áreas, mas que por vezes não contribuem para uma convergência, para um foco comum, contribuindo dessa forma para inefi ciências na em-presa.

Criar objectivos estratégicos

o primeiro passo para estabelecer de forma efi caz tais objectivos é criar o pensamento Blue-Sky, como lhe chamam alan Hooper e John Potter. Criar em imagens o tipo de empresa ideal. É a visualização do que vai ser a nossa empresa.nesta fase não deveremos pôr quaisquer limites à visão que de-sejamos. só assim seremos capazes de esculpir (criar) essa imagem (empresa), ou algo parecido. numa segunda fase, deveremos (Continua no próximo número)

Algumas ideiaspara o estabelecimentode objectivos estratégicos

esses objectivos…:1. enquadram-se na visão preten-dida da empresa?2. são mensuráveis?3. são realizáveis?4. estão calendarizados 5. são claros?6. são motivadores?7. …

Será que os objectivosque estipuloupara a sua empresatêm estas características?

se não for o caso, veja o que pode ser feito para melhorá-los. É, pois, fundamental compreender que há vários níveis de processo envolvidos: - defi nir objectivos estratégicos, en-quadrados na visão da empresa;- Criar impacto na equipa, em ter-mos de atitudes, comportamento, entusiasmo;- Criar a direcção estratégica;- implementar a estratégia;- Criar mecanismos de acompanha-mento, que não são exclusivamente mecanismos fi nanceiros.É fundamental que as empresas tenham em consideração uma estratégia clara. não podem ser desperdiçados recursos (humanos, materiais e fi nanceiros) em acti-vidades não estratégicas para a empresa, ou, dito de outra forma, em actividades que não contribuam para alcançar os objectivos estraté-gicos da organização. tudo isto implica a necessidade de promover uma mudança cultural na empresa. e o pri-meiro passo é defi nir a visão e os valores que a nova cultura vai adoptar.

Análise

14 - Contabilidade & Empresas - Janeiro 2009

SEGURANÇA

Informáticana Contabilidade

Recessão mundial é uma oportunidade para o cibercrime

Os cibercriminosos lucram com a baixa confi ançados consumidores e comos governos “distraídos”.

a Mcafee anunciou os resul-tados do seu estudo anual sobre ciber-segurança, no

qual especialistas alertam para o facto de a actual recessão mundial se estar a tornar num “viveiro” para actividades fraudulentas, à medida que os cibercriminosos lucram sobre um clima de receio e ansiedade por parte dos consumidores. o abrandamento económico está a desviar a atenção política à escala mundial, e a ciber-segurança não é sufi cientemente tida como uma prioridade para alcançar progressos reais contra os autores dos crimes “online”.os especialistas advertem também que, a menos que se registe um compromisso para um esforço in-ternacional no sentido de combater as actividades maliciosas “online”, existe o risco de o cibercrime ter um impacto na confi ança dos con-sumidores, difi cultando ainda mais a velocidade de recuperação da economia mundial.o estudo anual “Mcafee virtual Criminology report” analisa as tendências globais emergentes da segurança cibernética, a partir da opinião de líderes académicos, ad-vogados criminais, autoridades po-liciais e especialistas em segurança de todo o mundo. o relatório deste ano identifi cou vários desafi os. o primeiro prende-se com o “crunch” do cibercrédito. os cibercriminosos estão a aproveitar a ansiedade dos consumidores para lucrar através de esquemas do tipo “fique rico rapidamente”. as pessoas estão a registar-se para adicionar código malicioso a websites, seduzidas

pela promessa de dinheiro fácil. ao mesmo tempo, aqueles que procuram desesperadamente um emprego são recrutados como “mulas de dinheiro” para branquear os ganhos dos ciber-criminosos sob a aparência de “repre-sentantes de vendas internacionais” ou “gestores de encomendas”. Com o abrandamento económico a levar cada vez mais pessoas para a Web em busca de melhores negócios, as oportunidades de ataque por parte dos cibercriminosos aumentam à medida que as pessoas fi cam mais envolvidas.depois, o relatório fala ainda na “distracção dos governos”. Com os governos cada vez mais focados na recessão económica, a luta contra a cibercrime passa para segundo plano, criando uma oportunidade para uma escalada forte da ciber-criminalidade.depois, a escassez de ciberpolícias. as forças policiais da linha da frente carecem muitas vezes de conheci-mentos especializados para lutar efectivamente contra o cibercrime. a ausência de formação específi ca e contínua, de uma remuneração sufi ciente ou de uma clara defi ni-ção da carreira profi ssional está a arrastar estes profi ssionais para o sector privado ou a atraí-los para economias paralelas.a criminalidade escondida é outro dos problemas salientados neste relatório. a rússia e a China tor-

naram-se paraísos seguros para o cibercrime. o Brasil tornou-se num dos países “bode expiatório” com o mais rápido crescimento ao nível da cibercriminalidade onde o tráfego é muitas vezes reencaminhado como uma armadilha para confundir a origem dos ataques.os silos de informações são tam-bém referenciados. a aplicação da lei está limitada às respectivas fronteiras nacionais, enquanto os ci-bercriminosos operam rapidamente através das fronteiras. a comunica-ção entre países continua inconsis-tente e limitada. as temáticas e as prioridades locais têm precedência sobre os esforços globais, enquanto as leis internacionais estão a ser implementadas com variações re-gionais que impedem a capacidade de negociar jurisdições e extradições entre países.dave deWalt, presidente e Ceo da Mcafee, explica em comunicado que “os cibercriminosos estão a explorar a recessão global atraindo vítimas susceptíveis com a promessa de dinheiro fácil. enquanto a atenção dos governos e das entidades judi-ciais é desviada pela actual crise económica, a porta fi ca aberta para os cibercriminosos continuarem a atacar os saldos bancários em todo o mundo e a causar potenciais danos à confi ança dos consumidores, tão necessária para a recuperação da economia.” e conclui, “os governos necessitam de se comprometer com a consolidação dos recursos neces-sários ao combate ao cibercrime, optimização dos esforços para a apli-cação da lei e coordenação policial no limite das suas fronteiras. todos devem desempenhar o seu papel na batalha global contra o cibercrime, que apenas começou e que vai con-tinuar em 2009 e no futuro se não

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Informáticana Contabilidade

EMPRESAS

Tecnologias da informaçãogarantem avaliação correcta

dos indicadores de performanceas tecnologias da informa-

ção têm uma importância fundamental na avaliação

do desempenho nas empresas. são as ti que garantem precisa-mente a avaliação correcta dos diferentes indicadores que medem a performance de uma empresa, permitindo passar à informação de qualidade em tempo e forma que possibilita não só medir o estado da empresa mas também operacio-nalizar as tomadas de decisões com impacto directo na nossa conta de resultados.Mas Julio agredano, director-geral da Meta4 Portugal, alerta que para que este cenário seja uma realidade há que prestar atenção a duas im-portantes variáveis: cultura e pro-cesso. Primeiro, para a necessidade de uma cultura empresarial base-ada na excelência, o que signifi ca, efectivamente, cultura empresarial baseada na medição do desempe-nho, em áreas, departamentos, em-pregados, directivos, entre outros. “sem uma cultura realmente focada na procura da excelência torna-se impossível realizar avaliações reais da performance da empresa”, diz Mas Julio agredano.em segundo lugar, chama a aten-ção para a implementação dos processos adequados para defi nir, comunicar, seguir, medir, avaliar e redefi nir os objectivos empresa-riais. “sem a defi nição certa destes processos e a execução metódica dos mesmos, podemos ter uma cultura orientada para a excelência mas sem as ferramentas adequa-das o resultado será ‘fracasso”. Para Julio agredano, com cultura e processo, as ti são o veículo ne-cessário para o sucesso.

não há empresa hoje que no seu plano de investimentos para os próximos anos não tenham incluído um orçamento signifi cativo para as ti, diz o director-geral da Meta4 Portugal. “as empresas têm cons-ciência que a melhoria na efi cácia e efi ciência das suas organizações passa por dois investimentos estra-tégicos: tecnologias de informação e capital humano.”Já para Jorge santos Carneiro, Ceo da sage em Portugal, mais do que para avaliar a performan-ce, as tecnologias da informação têm sim uma efectiva importância no alcançar de uma determinada performance. sendo certo que as ti também ajudam efectivamen-te na avaliação e nas conclusões relativamente à performance de uma empresa. “a adequada implementação dos sistemas de informação numa determinada organização poderá mesmo ser determinante para a avaliação da sua performance quer em termos absolutos quer em termos relati-vos”, disse santos Carneiro em

declarações à “Contabilidade & empresas”.e para que essa avaliação seja uma realidade, o gestor assume que a principal medida deverá ser a de sa-ber exactamente o que é que quere-mos medir, o que, parecendo óbvio, nem sempre é uma realidade.a verdade é que, para o Ceo da sage Portugal, as ti ocupam hoje um espaço natural na organização de uma empresa. “Já muito poucas empresas conseguirão hoje desen-volver-se sem um sistema de infor-mação devidamente implementado e capaz de proporcionar a informa-ção desejada no momento certo.”e apesar de poder haver casos (empresas, áreas de negócio) em que as ti podem ter um papel mais relevante do que noutros, sendo que, em quaisquer dos casos, “a performance de uma empresa e, em particular, a melhoria da sua performance está intimamente re-lacionada com o nível de implemen-tação de um sistema de informação de gestão.”

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Informáticana Contabilidade

PRODUTOS

Logiciel lança solução out-of-the-box para pequenas empresas

Apresentando-se como uma solução pronta a utilizar, o Logiciel Gestão Comercial 2009 é uma aplicação completa e intuitiva que pretende responder efi cazmente às necessidades de gestão das pequenas empresas.

a logiciel, fabricante nacional de sistemas de gestão com 30 anos de experiência no

mercado português, apresentou o pacote logiciel gestão Comercial 2009, que incluiu aplicações de ges-tão de clientes, de fornecedores, de vendedores, de compras, de vendas e de stocks. a empresa avança que a solução está pronta a utilizar, não necessita de apoio de instalação e parametrização de terceiros, e é ideal para pequenas empresas, que têm assim acesso a uma ferramen-ta de gestão completa, “até agora só ao alcance de médias e grandes companhias”, dizem os responsá-veis pela logiciel.este software out-of-the-box permi-te gerir de forma “simples e efi caz” todo o processo de gestão comercial de uma pequena empresa, propor-cionando um ambiente centraliza-do de gestão administrativa. “as empresas conseguem agora, de uma forma muito fácil e intuitiva, emitir encomendas a fornecedores, actualizar e gerir os stocks em múl-tiplos armazéns e emitir facturas, vendas a dinheiro, notas de crédito, notas de débito e gerir os créditos de cada cliente”.a solução logigestão gestão Co-mercial 2009 caracteriza-se essen-cialmente em quatro pontos-chave, nomeadamente pelo facto de incluir funções de multiutilizador (com controlo de acessos por utiliza-dor), de multiempresa (permite a

criação de empresas distintas), de multiposto e por ter capacidade de criação do fi cheiro saFt-Pt. “Baseando-se num interface bas-tante intuitivo e fácil de utilizar, o cliente não necessita de formação para tirar total partido de todas as capacidades da aplicação, con-seguindo melhorar rapidamente a performance e controlo da sua empresa”. o novo pacote da logi-ciel irá estar disponível em versão monoposto/multiempresa, podendo ser só manuseada por um utiliza-dor, e em versão multiposto/mul-tiempresa, que inclui licença para cinco postos em simultâneo.segundo rui Beirão, director-geral da logiciel, este pacote “foi desen-volvido a pensar nas pequenas empresas, para que consigam ter acesso a soluções e práticas de gestão identicas às existentes nas

médias e grandes instituições”. o mesmo responsável sublinha ainda que através deste software as em-presas “passam a usufruir de uma melhor organização e planeamento a nível interno, com uma capaci-dade de resposta efi caz perante as especifi cidades de um processo de gestão comercial”, concluiu.

Preço e disponibilidade

o novo pacote logiciel gestão Co-mercial 2009 estará disponível a partir de Janeiro de 2009 através da logiciel e da rede de parceiros autorizada da empresa. o preço da gestão Comercial + Pos (licença Monoposto) é de 295 euros. Já a gestão Comercial + Pos (licença Multiposto-Multiempresa com licença até 5 postos) vai custar 460 euros.

Contabilidade & Empresas - Janeiro 2009 - 17

Contabilidade

NIC

As normas internacionais de contabilidade e de relato fi nanceiro, tal como adoptadas na União Europeia, deveriam ser aplicadas integralmente em Portugal, não só pelas sociedades que já são obrigadas a fazê-lo como também pelas restantes entidades de interesse público e por todas as sociedades, cooperativas e outras entidades que estejam sujeitas à certifi cação legal das contas. Esta a posição adoptada pela Associação Portuguesa de Peritos Contabilistas (APPC), no âmbito do Sistema de Normalização Contabilística (SNC). Considera ainda a associação que o diploma esteve um tempo demasiado escasso para consulta,facto que não é compreensível, tendo em conta a sua importância e o impacto que vai decorrer das novas regras.

a aPPC considera que, estan-do as empresas nacionais com valores mobiliários ad-

mitidos à negociação num mercado regulamentado já obrigadas a apli-carem as ditas normas, tal como adoptadas na união europeia, a grande questão que se coloca é a de saber que referencial contabilístico deve ser adoptado pelas mais de 97% das empresas que têm um volume de negócios inferior a um dos indicadores a partir do qual a lei obriga que as sociedades por quotas tenham as suas demonstra-ções fi nanceiras certifi cadas por um revisor ofi cial de contas.

daí a necessidade, como defende a associação, de estender as normas a outras entidades. no entanto, é feito um alerta para as empresas de menor dimensão, as quais re-presentam a maioria, muitas delas não passando de microempresas. defende a este propósito a aPPC: “o referencial contabilístico que se lhes deve aplicar deveria ser substancialmente mais simplifi ca-do do que aquele que a Comissão de normalização Contabilística (CnC) aprovou com a designação de norma Contabilística e de relato Financeiro para Pequenas entidades.Por outro lado, a associação repre-sentativa dos peritos contabilistas, assumindo que Portugal não pode-ria fi car de fora deste processo, con-sidera que não faz qualquer sentido aplicar as novas normas sem adop-tar, em simultâneo, a estrutura Conceptual para a apresentação de demonstrações Financeiras iasB. “a não ser assim, era como se fosse possível começar a construir um edifício pelo telhado.”

Análise foi curta faceà importância do documento

a associação lamenta o que se passou relativamente à consulta do snC, no nosso país. “Considerando os procedimentos seguidos inter-

nacionalmente para a aprovação das normas, com um processo de consulta que permite a melhor adequação possível à realidade do normativo produzido, a apreciação do diploma foi condicionada pelo curto período fi xado para a audição pública. não pode este ser conside-rado o documento que a análise do snC merecia e exigia.”a associação Portuguesa dos Peri-tos Contabilistas foca outros dois aspectos não menos importantes. na sua óptica, coloca-se a necessi-dade de uma única estrutura con-ceptual que suporte a normalização de entidades com ou sem fi ns lucra-tivos. o segundo aspecto prende-se com a necessidade de haver, em Portugal, uma única entidade de normalização contabilística.lembra ainda aquela entidade que o processo de normalização contabi-lística internacional se desenvolve fundamentalmente com o fi nancia-mento das grandes empresas de au-ditoria e ao serviço quase exclusivo dos mercados fi nanceiros. no entan-to, é um facto que a Contabilidade tem evoluído no sentido de responder às necessidades de informação bem mais vastas do que as envolvidas nesses mercados.referem os profissionais a este propósito: “não pode aceitar-se que a Contabilidade apenas procure servir interesses limitados, cuja importância resulta do empolamen-to dado pelos meios políticos, pela comunicação de massas e por uma certa maneira de estar em termos universitários e económicos. subor-dinar todo um sistema de informa-ção fi nanceira apenas à perspectiva de um determinado tipo de agente, seja ele económico, social ou político, é limitado e limitador.”

De acordo com a Associação Portuguesa de Peritos Contabilistas

Adopção do SNC deveria estender-sea um universo mais vasto

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Contabilidade

JUSTO VALOR

Com a adopção das normas internacionais de contabilidade e das normas de relato fi nanceiro, bem como das respectivas interpretações e a implentação do futuro Sistema de Normalização Contabilística, ganha nova dimensão e importância a discussão em torno do conceito de Justo Valor, na medida em que essas normas alargam a sua aplicação. Joaquim da Cunha Guimarães, revisor ofi cial de contas e docente universitário, considera, no entanto, que a sua aplicação tem sido muito reduzida ao nível das PME nacionais. Trata-se de um conceito susceptível de criar muita discussão, como faz notar aquele profi ssional.

a aplicação do Justo valor nos grandes grupos económicos, no âmbito de pressupostos

de subjectividade, ao ter provocado a crise fi nanceira nessas empresas e na aeconomia, acaba, por arrastamento, por se repercutir negativamente na situação económico-fi nanceira das PMe, essencialmente pelas maiores difi culdades que estas têm no aces-so ao crédito bancário. verifi ca-se, portanto, um efeito indirecto da aplicação do conceito nas PMe.Para Joaquim da Cunha guima-rães, não restam quaisquer dúvidas que a problemática do valor ou da valorimetria (medição, mensuração) em Contabilidade sempre foi – e continuará a ser – um dos principais aspectos conceptuais da mesma. Perante este cenário, não há dú-vidas que a questão está intima-

mente relacionada com o exercício profi ssional do técnico ofi cial de contas, nomeadamente quanto à sua responsabilidade pela regularidade técnica nas áreas contabilísti-ca e fiscal, no âmbito do estatuto da CtoC. “na verdade, é ao órgão de gestão que compete salvaguardar a valorimetria em termos de Justo valor, ao passo que ao toC apenas incumbe a sua relevação contabilística.”a realidade é que esta questão pode trazer problemas acrescidos ao toC na assunção da referida responsabilidade, já que o valor é um dos principais componentes dos assentos contabilísticos. trata-se de saber qual o âmbito da expressão “regularidade técnica nas áreas contabilística e fiscal”, tendo em conta que, de acordo com o estatuto da CtoC, o profi ssional valida as demonstrações fi nanceiras, por via da sua assinatura, em conjunto com o representante legal da entidade. “este é um problema estrutural do estatuto que, até à data, não foi devidamente equacionado e escla-recido.”

Profi ssionaisdevem estar atentos

um outro problema profi ssional que se coloca tem a ver com a auditoria/revisão do balanço e das demons-trações dos resultados e anexo ao balanço e à demonstração dos resul-tados do Justo valor, no âmbito dos revisores ofi ciais de contas, para as empresas sujeitas a revisão legal, estatutária ou contratual.“atenta a tal realidade, a ordem dos roC emitiu a directriz de revi-são/auditoria 545, sob a designação

“auditoria das mensu-rações e divulgações ao justo valor”, em que se destaca a afi rmação que a gerência é a responsá-vel pelas mensurações e divulgações incluídas nas demonstrações fi-nanceiras. ao roC in-cumbe compreender os seus procedimentos e

obter prova de auditoria acerca dos objectivos, intenções e planos da ge-rência”, adianta Joaquim da Cunha guimarães. além disso, o roC deverá ter em consideração um con-junto de normas de revisão/auditoria signifi cativas e complementares à dra 545.Chama também a atenção para a necessidade da assunção clara e objectiva que a mensuração e a divulgação do Justo valor apre-sentam difi culdades, incertezas e expectativas que comportam riscos de auditoria, os quais devem ser ti-dos em consideração pelos revisores ofi ciais de contas. implica também a necessidade do roC compreender bem o negócio e o sistema de contro-lo interno da entidade.existe, de facto, um conjunto signi-fi cativo de procedimentos de audito-ria/revisão que o profi ssional deve ter em consideração aquando da emissão dos seus relatórios, com es-pecial destaque para a certifi cação legal das contas. em conclusão, “os revisores e os técnicos ofi ciais de contas deverão acompanhar com muita atenção os desenvolvimen-tos desta importante temática, de forma a que a auditoria/revisão de contas e a contabilidade aumentem a sua credibilidade e utilidade, em torno do princípio da imagem ver-dadeira e apropriada”.

Joaquim da Cunha Guimarães avisa

Justo Valor implica novas responsabilidades para técnicos e revisores de contas

Contabilidade & Empresas - Janeiro 2009 - 19

Coluna do Técnico de Contas

istoO homem é um animal de hábitos. Não sei quem foi que

disse, mas é das coisas mais reais e chãs que constata-mos pela experiência, essa madre renascentista de todas

as coisas. Assim, o homem vive na maior abastança e sobrevive na maior pobreza; se tiver as carnes do lombo, caviar e vinhos sofisticados, tanto melhor, mas se tiver de se lavar com a água

do rio, fica apenas mais apto e rude para os invernos da vida; vive com energia nuclear e com moinhos de vento; vive, celebrando o ambiente, e não morre mesmo injectado pelos transgénicos da produção em série. Em resumo, suba ou desça a espe-rança de vida, a iliteracia, a higiene e segurança, o homem, mesmo mor-rendo, está cá para o que der e vier e para se adaptar às boas ou más condições que é capaz de construir, renascendo todos os dias.Ora nós já andamos nisto há um tempito, nascemos no Deus, Pátria e Família de Oliveira Salazar, fugi-mos à manifestação na Rocha do Conde de Óbidos ao “Santa Maria está entre nós!” – lembram-se? – fomos à procissão nocturna do retorno dos restos mortais de S.

Francisco Xavier apalpando umas miúdas e uns largos anos depois, ala para Moçambique, mesmo a tempo de, no regresso, ouvirmos Marcello Caetano dizer nas suas Conversas em Família que “o tempo das vacas gordas já lá vai”…Veio o 25 de Abril a cores, veio 75 a preto e branco, 76, 77 e 78 do mal com os homens por amor de el-rei, mal com el-rei por amor dos homens, os 80’s dos governos épicos de Mário Soares, o novo paradigma da União Europeia, o nunca me engano e raramente tenho dúvidas de Cavaco, as dúvidas das dúvidas de Guterres em ritmo de valsa, a “fuga europeia” de Durão Barroso, até chegarmos a isto.E como o homem é um animal de hábitos e já viajámos por tantos e tantos paradigmas, só temos de nos habituar a isto.E afinal o que é isto?A escada por onde se desce é infindável e este é apenas mais um degrau. Isto, portanto, não é nada de grave se comparado com ontem. Mas a chatice é que temos memória e como temos memória devemos começar já por lembrar que nós, portugue-ses, desde 1986, não vivemos no mundo bruto e real em que as coisas valem o que valem e muitas vezes a vida humana desgraçadamente não vale nada, mas vivemos sim num aquário de águas tépidas e mansas onde vive, opulenta, dez por cento da humanidade.Antes de falarmos em isto, temos de lembrar portanto este pequeno pressuposto, para o qual isto nada concorreu, nem concorre, bem pelo contrário.Isto que se vive hoje é apenas mais um paradigma, é verdade, mas feito de tantos embustes e faz de conta que é tempo de alguém, mesmo pequenino e desimportante como eu, dizer: BASTA! E este BASTA!, eu sei, não vai parar o comboio da economia, e muito menos das finanças, pois ele só pode ser mais ou menos controlado ou mais ou menos desviado em Bruxelas. E como isto aqui, desde 2005, é apenas um mundo posto de cócoras perante Bruxelas, nada mais posso fazer senão acreditar em Bruxelas, já que o paradigma do federalismo, hoje por hoje, me vem mesmo a matar. Mas este meu basta! é para ao menos tentar desmascarar isto. Porque não há magalhães que cheguem para apagar a emigração em massa, o desemprego sempre a subir, o fecho de empresas galopante. E porquê? Porque temos memória, lembremos que

Manuel Benavente rodrigues

[email protected]

tudo isso foi feito em nome da redução do défice público de 6,8% para pouco mais de 2% em apenas três anos! sim três anos! Isto nada tem a ver com a crise internacional; isto apenas tem a ver com planos egocêntricos, autárcicos, em que cidadãos e as suas aspirações pessoais estão apenas no fim da cadeia, o que vale por dizer que, sem estarmos em economia planificada, cumprimos alguns dos objectivos que apenas têm a ver com poder pessoal e que também se podem realizar formalmente em democracia, bastando para tal ter uma maioria absoluta.Lembremos, em termos de défice, que, há dois, três anos atrás, países muito mais poderosos do que nós, mandaram para as calendas gregas de 2012 a sua resolução. Ponto final. BASTA pois à insensibilidade de tudo isto! E BASTA também à propaganda de isto!, pois estamos cansados de uma utilização intensiva dos meios de comunicação para o anúncio de medidas agradáveis, ficando no limbo, o manancial de medidas desagradáveis. Querem exemplos?Como somos pessoas de fiscalidades, lembremos a medida tomada no Orçamento de Estado para 2009, reduzindo a taxa de IRC em 50% para matérias colectáveis abaixo de 12 mil e 500 euros. Mas não foi dito que essa medida só se repercute no ano de 2010. Não falemos no pagamento especial por conta que agora, com a luz verde de Bruxelas, isto parece ter reduzido para mil euros, uma fartura para isto tudo.Falemos por exemplo na Lei 64/2008 e no aumento de cem por cento! – de 5% para 10% e de 10% para 20% –, na taxa de tributações autónomas para despesas de representação e com os veículos ligeiros de passageiros, a gasolina igual ou a mais dos 120 g/km, ou a gasóleo igual ou a mais de 90 g/km e exceptuando os movidos a energia eléctrica (ah! ah! ah!). Porém, como se diz no circo, quando um funâmbulo ou um mágico se prepara para concretizar algo de impensável, direi, ainda mais difícil! Esta lei é para vigorar já a partir de 1 de Janeiro de 2008! Sim, 1 de Janeiro de 2008 e a lei tem a data de 5 de Dezembro de 2008…As habilidades são tantas, desde fiscais a sintácticas e até ambientais, mas tão parolo e saloio… e ficamos todos tão mal no retrato com isto…E o mais grave: ninguém dá a cara por estas medidas e muitas outras escondidas e desagradáveis, “vis a vis” com os cidadãos. Que saudades da ética dos tempos de bolsos rotos de Mário Soares e Mota Pinto, quando o Ministro das Finanças, João Salgueiro, ia anunciar à televisão um imposto extraordinário sobre os lucros das empresas de 10%… Porque se estas ou outras medidas desagradáveis, são neces-sárias, por favor, falem com os cidadãos e expliquem olhos nos olhos o que pensam fazer e porquê.Isto, portanto, quanto a falta de ética, diálogo e respeito, estamos conversados.Porém, é perceptível também uma cobertura científica para isto. Por exemplo, nalguns países da Europa, há institutos do Estado que se preocupam em fazer coincidir as políticas públicas com os desejos dos cidadãos, sendo extremamente tentador mani-pulá-los, para os aproximar mais das políticas que as políticas deles. Isto em Portugal ainda não está a esse nível, mas, pelo andar da carruagem, estamos no bom caminho, pois somos tão eficazes que conseguimos os objectivos sem ter meios. Mas que já há um verdadeiro sacerdócio epistemológico em volta de isto, sem dúvida. Dirão alguns, porventura, “para quem é, bacalhau basta”, mas isto não vai ficar assim. Porque, quero crer, as pessoas têm me-mória e 2009 está ali já ao virar da esquina. E nem o homem ser um animal de hábitos nem vivermos no tal aquário nos pode fazer esquecer isto. Nem a teoria do mal menor; portanto, força oposição, oponham-se mesmo a isto.BASTA!

20 - Contabilidade & Empresas - Janeiro 2009

“Consultório” é um espaço onde se procura dar resposta, de forma clara e sucinta, às questões jurídico-fi scais que mais frequente-mente são colocadas pelos nossos leitores. Assim, os leitores poderão colocar questões do foro jurídico-fi scal que, pelo seu interesse e oportunidade, queiram ver esclarecidas nesta rubrica, as quais deverão ser dirigidas à “Contabilidade & Empresas”.

Existem novos esclarecimentos da administração Fiscal sobre o Planeamento Fiscal?

a administração Fiscal considera que os esquemas e actuações de planeamento fi scal apresentados ao abrigo do novo regime do dever de comunicação têm-se mostrado bastante incompletos.a administração Fiscal veio divulgar que os ele-mentos colhidos sobre as comunicações recebidas respeitantes a esquemas ou actuações de plane-amento fi scal efectuadas ao abrigo deste regime (aprovado pelo decreto-lei n.º 29/2008, de 25 de Fevereiro) comportam bastantes insufi ciências e in-consistências, relembrando que no regime aprovado se exige uma descrição pormenorizada do esquema ou actuação de planeamento fi scal.nesta conformidade, o fi sco revelou que estão em curso os procedimentos necessários para solicita-ção aos promotores dos esclarecimentos reputados necessários para habilitar, de modo concludente, uma decisão quanto à qualifi cação ou não como abusivos de certos esquemas, bem como sobre a necessidade de promoção de acções específi cas de inspecção tributária.de acordo com o novo regime, um esquema de planea-mento fi scal tem de ser comunicado quando satisfaça, cumulativamente, as seguintes condições: • determine, ou se espere que determine, a obtenção de uma vantagem fi scal por sujeito passivo de impos-to, considerando-se como vantagem fi scal a redução, eliminação ou diferimento temporal de imposto ou a obtenção de benefício fi scal, que não se alcançaria, no todo ou em parte, sem a utilização do esquema ou a actuação [artigo 1.º, n.º 1 do artigo 2.º e alíneas a) e d) do artigo 3.º]; • a vantagem fi scal constitui a fi nalidade, exclusiva ou predominante, do esquema [artigo 1.º e alínea a) do artigo 3.º].as informações a comunicar compreendem os seguin-tes elementos:• descrição pormenorizada do esquema ou da actua-ção de planeamento fi scal, incluindo designadamente a indicação e caracterização dos tipos negociais, das estruturas societárias e das operações ou transacções propostas ou utilizadas, bem como da espécie e confi -guração da vantagem fi scal pretendida;• indicação da base legal relativamente à qual se afere, se repercute ou respeita a vantagem fi scal pretendida;• nome ou denominação, endereço e número de iden-tifi cação fi scal do promotor.destas informações a prestar apenas estão exclu-ídas as matérias referentes a aconselhamento ou avaliação da situação jurídica de um cliente por

parte de advogado ou solicitador ou por sociedade de advogados ou de solicitadores no âmbito da con-sulta jurídica, no exercício da sua missão de defesa ou representação do cliente num processo judicial, ou a respeito de um processo judicial, incluindo o aconselhamento relativo à maneira de propor ou evitar um processo.Porém, e caso não estejamos perante tais situações, as entidade que não efectuem as comunicações ao director-geral dos impostos podem ser punidas com coimas.o cumprimento destes deveres de informação é efec-tuado pela «declaração de planeamento fi scal», cujo modelo foi aprovado pela Portaria n.º 364-a/2008, de 14 de Maio.

Qual o entendimento da administração Fiscal relativamente às ajudas de custo atribuídas a

trabalhadores temporários?

o local de trabalho de uma pessoa contratada ao abrigo de um contrato de trabalho temporário é sempre o da empresa contratante, nomeadamente para efeitos de pagamento de ajudas de custo por deslocações.têm surgido diversas dúvidas e situações de não aceitação de determinadas despesas relacionadas com ajudas de custo relativamente a contratos de trabalho temporário.tendo sido pedidos esclarecimentos à administração fi scal por via de informação vinculativa (informação vinculativa com o processo nº 3993/2002), foi divul-gado o seguinte:o contrato de trabalho temporário é meramente instrumental de um contrato de utilização, ou seja, a empresa de trabalho temporário celebra os contratos de trabalho quando tem a perspectiva de celebração de um contrato de utilização.ora, neste contrato de utilização tem de ser identifi -cado o local de trabalho.deste modo, e ainda que os trabalhadores não te-nham qualquer vínculo contratual com o utilizador, é o local em que este pretende que seja cumprido o contrato de utilização que constitui o seu local de trabalho. assim, apenas quando a entidade empregadora envia ocasionalmente um trabalhador para ou-tro local é que este deve suportar encargos que a sua remuneração não tem em conta e terá que ser ressarcido a título de ajudas de custo por tais encargos.no entanto, esta deslocação deve ser determina-da a partir do local da prestação do trabalho e já

xistem novos esclarecimentos da administração Fiscal sobre o Planeamento Fiscal?

parte de advogado ou solicitador ou por sociedade de advogados ou de solicitadores no âmbito da con-

Consultório Consultório

Contabilidade & Empresas - Janeiro 2009 - 21

Consultório Consultório

não da sede da empresa de trabalho temporário, uma vez que, se assim acontecesse, levaria a que se considerasse que quase todos os trabalhadores contratados pelas empresas de trabalho temporá-rio teriam direito a ajudas de custo, acabando por receber parte da contrapartida pelo seu trabalho sob aquela designação.a deslocação entre a empresa de trabalho temporário e a empresa contratante do trabalhador nunca pode ser considerada para efeitos de ajudas de custo. a retribuição do trabalhador deve ser acordada em função das despesas adicionais que o mesmo vai ter de suportar, nomeadamente, se o local de trabalho for em país diverso.deste modo, a remuneração, assim determinada, é considerada retribuição e, como tal, está sujeita a tri-butação como rendimento da categoria a do irs.

Quais as regras de atribuição do subsídio de natal?

os trabalhadores por conta de outrem, incluindo os trabalhadores rurais, a bordo e de serviço domés-tico, têm direito a subsídio de natal de valor igual a um mês de retribuição, devendo ser pago até 15 de dezembro.no caso de trabalhadores abrangidos por instrumentos de regulamentação colectiva de trabalho que prevejam a concessão do subsídio de natal de valor inferior a um mês de retribuição, têm sempre direito a receber um montante correspondente a um mês de retribuição.o montante do subsídio de natal é proporcional ao tempo de serviço prestado no ano civil, nas seguintes situações:- no ano de admissão do trabalhador;- no ano da cessação do contrato de trabalho;- em caso de suspensão do contrato de trabalho por facto respeitante ao trabalhador (ex. doença).

Cálculos dos proporcionais do subsídio de Natal

os proporcionais do subsídio de natal poderão ser calculados recorrendo à regra de três simples, da seguinte forma:exemplos:• ano de admissão do trabalhador:• trabalhador que aufi ra de retribuição mensal 1000 euros, e tenha sido admitido em 1.6.2008, ou seja, que tenha trabalhado nesse ano 214 dias, o cálculo do subsídio de natal deverá ser efectuado da seguinte forma:• se pelo ano completo (366 dias) o trabalhador rece-beria 1000 euros de subsídio de natal, por 214 dias terá direito: 1000 euros : 366 x 214 = 584,22 euros• ano da cessação do contrato de trabalho:• trabalhador que aufi ra de retribuição mensal 1200

euros, e o respectivo contrato tenha cessado em 20.11.2008, ou seja, que tenha trabalhado nesse ano 325 dias, o cálculo do subsídio de natal deverá ser efectuado da seguinte forma:• se pelo ano completo (366 dias) o trabalhador rece-beria 1200 euros de subsídio de natal, por 325 dias terá direito: 1200 euros : 366 x 325 = 1066 euros• suspensão do contrato de trabalho por impedimento prolongado:• trabalhador que aufi ra de retribuição mensal 800 eu-ros, e tenha apenas trabalhado até 15.5.2008, ou seja, trabalhou nesse ano 136 dias devido a impedimento prolongado por motivo de doença, o cálculo do subsídio de natal deverá ser efectuado da seguinte forma:• se pelo ano completo (366 dias) o trabalhador rece-beria 800 euros de subsídio de natal, por 136 dias terá direito: 800 euros : 366 x 136 = 297,84 euros

Retenção na fonte de IRSsobre o subsídio de Natal

a retenção de irs é efectuada sobre as remunera-ções mensalmente pagas ou colocadas à disposição dos seus titulares, mediante a aplicação das taxas que lhe correspondam.o subsídio de natal é sempre objecto de retenção autónoma, não podendo, para o cálculo do imposto a reter, ser adicionado à remuneração do mês em que é pago ou colocado à disposição.se o referido subsídio for pago fraccionadamente, será retida, em cada pagamento, a parte proporcio-nal do imposto total a reter.

Contribuições para a Segurança Social respeitantes ao subsídio de Natal

o montante do subsídio de natal está sujeito a descontos para a segurança social, sendo aplicável, no regime geral, a taxa de 11% ao trabalhador e 23,75% à entidade empregadora.

22 - Contabilidade & Empresas - Janeiro 2009

Comissão publica texto consolidadodas normas contabilísticas

a Comissão europeia publicou o texto consolidado de todas as normas internacionais de contabilidade. a nova ver-são consolidada reúne todas as normas iFrs aprovadas até agora, incluindo as últi-mas alterações de meados de outubro. Permite às partes interessadas consultar e fazer referência a um único texto júrido.de acordo com a Comissão, tra-ta-se de uma etapa importante

Breves

CtoC deixa de investir em fundode pensões

do programa de simplifi cação para reduzir o encargo admi-nistrativo das empresas da união europeia. entretanto, foram realizadas emendas às ias 39 e iFrs 7, com a aprova-ção unânime de todos os países. estas emendas às normas contabilísticas têm como objec-tivo reduzir as consequências da turbulência dos mercados fi nanceiros, sendo que não se encontram incluídas no texto consolidado atrás referido.

a Câmara dos técnicos ofi ciais de Contas (CtoC) decidiu dotar o fundo de pensões dos profi ssionais com uma verba de um milhão de euros, em 2008. valor que foi acrescido por via da renda mensal recebida por via do arrendamento da sua antiga sede. trata-se de um fundo aberto, de risco médio. garante a direcção da câmara que a sua rentabilidade foi sempre seguida, tendo-se, entretanto, constatado que o fundo tinha deixado de ser positivo, pas-sando a rentabilidade negati-va. Perante esta situação, foi tomada a decisão de não proce-der a mais entregas até se veri-fi car a estabilização do referido fundo. a CtoC decidiu manter a verba destinada ao fundo, no

entanto, em vez de a entregar, foi feito um depósito a prazo. o montante será transferido para o fundo, quando as condi-ções de mercado se revelarem mais propícias.

Finanças disponibilizam balcão únicopara regularização de dívidas

o balcão único do Ministério das Finanças – que garante a regularização das dívidas do estado a fornecedores – ini-ciou a sua actividade. Podem aceder ao balcão, para efeitos do processo de regularização extraordinária de dívidas, os credores privados dos serviços e organismos da administração central do estado, excluindo aqueles inseridos no sns.o acesso é efectuado através de requerimento de pagamento de dívidas apresentado pelos credores, por via electrónica (em www.sgmf.pt/rede). o

prazo termina no fi nal deste mês. o pagamento das dívidas associadas aos requerimentos recebidos no balcão único será efectuado ao longo dos próxi-mos quatro meses, pelo que o processo deverá estar concluído em meados de abril.o recurso a este mecanismo diz respeito apenas a dívidas de natureza comercial, certas, líquidas e exigíveis que se en-contrem suportadas por factu-ra ou documento equivalente, cuja data limite de pagamento não ultrapasse o dia 31 de dezembro de 2008.

Livros

O MOVIMENTO DA QUALIDADEEM PORTUGAL

o grupo editorial vida económica apresentou a obra “o Movimento da Qualidade em Portugal”, da autoria de rui Fazenda Branco. Pretende-se dar o necessário contributo da gestão da qualidade para a gestão global das organizações, ao longo das suas 472 páginas.o livro retrata alguns dos assuntos relacionados com o tema, inclui opiniões das principais partes interessadas e apresenta os resul-tados de um inquérito sobre os prós e os contras do desenvolvimento de programas de melhoria. Como testemunho do contributo da ges-tão da qualidade para a gestão global apresenta uma selecção de “case studies” de organizações de variados sectores de actividade, que acabam por refl ectir um resumo dos benefícios obtidos.Mais do que uma obra de carácter técnico e teó-rico, “o Movimento da Qualidade em Portugal” pretende ser prático e útil para quem desempenha funções relacionadas com a gestão da qualidade e, sobretudo, com a gestão no seu sentido mais lato. o autor é licenciado em Química aplicada e exer-ce a actividade de consultoria na área da gestão da qualidade há quase duas décadas. o preço de venda ao público é de 33 euros.

INOVAÇÃO EMPRESARIALNO SÉCULO XXI

esta obra, da responsabilidade editorial do grupo vida económica e da autoria de Praveen gupta, faz uma abordagem abrangente dos processos re-lacionados com a inovação e um enquadramento da inovação, este sustentável na geração da internet e na era do conhecimento.o livro cria um enquadramento que permite dar resposta a algumas questões sobre inovação. de forma a institucionalizar a inovação, são referidos vários aspectos sobre a inovação, desde a sua história às estratégias de implementação. Quando se compreende o proces-so de inovação e se percebem as capacidades e as viabilidades da inovação, pode-se proceder à sua aceleração. no entanto, torna-se necessária uma abordagem multidisciplinar para que o processo possa ser desenvolvido. a obra está dividida em três partes. a primeira incide so-bre o desenvolvimento da inovação. a segunda prende-se com a sua compreensão e a última tem a ver com a institucionalização da inovação. as considerações fi nais respeitam à inteligência da inovação.

uma abordagem multidisciplinar para que o

que acabam por refl ectir um resumo dos benefícios

Este livro pretende regressar à origem clássica do termo, e quer destacar que quando se compram produtos ou serviços a uma empresa, é porque os seus clientes encontraram nestes “algo diferente” do que a concorrência oferece, estando esta diferença na origem de um maior valor percebido.

Os autores tentam contribuir para os empreendedores, directores e profissionais com uma visão organizada de diferentes estratégias, todas elas aplicáveis à pequena, média e grande empresa.

Combinando a teoria sobre estratégias empresariais com exemplos da prática habitual, retirados das notícias publicadas na imprensa económica especializada e, inclusive, na imprensa diária gen-eralista, demonstram a aplicação real das teorias expostas.

Ilustrado com dezenas de casos de empresas portuguesas.

Autores: Carlos López NavarraCarlos López Navarra, Ángel Martin Soteras, António Nogueira da CostaAntónio Nogueira da CostaFormato: 15.5 x 23 cmPágs.: 382P.V.P.: A 18

ESTRATÉGIAS EMPRESARIAIS

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