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REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE TIMOR-LESTEMINISTÉRIO DA JUSTIÇA
PROPOSTA DE LEI Nº______/__________
De _______De ____________
PROPOSTA DE LEI SOBRE A ADOPÇÃO
O instituto da adopção consagra a responsabilidade do Estado na garantia do direito do menor
em situação de vulnerabilidade à integração numa família que lhe assegure um crescimento e
desenvolvimento saudáveis.
O Estado, respeitando os princípios reconhecidos constitucionalmente pela República
Democrática de TimorLeste e através da ratificação da Convenção sobre os Direitos da Criança, zela
pela protecção especial da criança por parte da família, da comunidade e do Estado contra todas as
formas de abandono e de outras situações que possam vir a ameaçar o seu futuro.
Quando a família biológica é ausente ou enfrenta circunstâncias que comprometem o
estabelecimento de uma relação afectiva e securizante com a criança, impõe a Constituição a
salvaguarda do superior interesse da criança, particularmente através da adopção.
O instituto da adopção, a ser oportunamente regulado no Código Civil, exige uma intervenção
urgente do Estado face à natureza particular do crescimento e desenvolvimento da criança que tem o
direito ao acolhimento e segurança de um vínculo familiar. Procedese, assim, à regulação dos aspectos
processuais e de outros complementares que sejam adequados à implementação imediata desta medida
de protecção de crianças.
O Estado timorense reconhece a família como elemento fundamental da sociedade e
consideraa essencial para a protecção e o desenvolvimento harmonioso da personalidade infantil. A
institucionalização das crianças em lares deve ser, tendencialmente, uma situação transitória.
Adicionalmente, configurase necessário um diploma que preveja não só a adopção nacional
mas também a adopção internacional, no âmbito da Convenção relativa à Protecção das Crianças e à
Cooperação em matéria de Adopção Internacional.
Assim,
O Governo apresenta ao Parlamento Nacional, ao abrigo da alínea c) do n.° 1 do artigo 97.° e
da alínea a) do n.° 2 do artigo 115.° da Constituição da República, com pedido de prioridade e
urgência, a seguinte proposta de lei:
CAPÍTULO I
Disposições gerais
Artigo 1.º
Objecto da lei
1 A presente lei estabelece o regime da adopção, o respectivo processo judicial, bem como a confiança
administrativa ou judicial do adoptando e a guarda provisória do menor.
2 A presente lei estabelece ainda as regras da adopção internacional devendo esta corresponder ao
interesse superior da criança e ocorrer apenas depois de ponderadas as possibilidades de colocação da
criança no seu Estado de origem.
Artigo 2.º
Princípios fundamentais
1 A adopção só pode ser decretada por sentença judicial e desde que se mostrem garantidos os
interesses do adoptando em todas as fases do processo.
2 A adopção tem de representar um real benefício para o menor, fundarse em motivos legítimos, não
envolver sacrifício injusto para os outros filhos do adoptante e ser razoável supor que entre adoptante e
adoptando se venha a estabelecer um vínculo semelhante ao da filiação.
Artigo 3.º
Período de avaliação
Antes de declarada a adopção, o adoptando deve permanecer confiado aos cuidados do adoptante por
período de tempo suficiente, tendo em conta as particularidades de cada caso, de forma que possa
avaliarse da conveniência da constituição do vínculo entre eles.
Artigo 4.º
Vantagens económicas
1 É absolutamente proibido e constitui fundamento de indeferimento da adopção a existência de
pagamentos ou recebimentos ou quaisquer outras vantagens económicas concedidas ou recebidas pelas
pessoas envolvidas na adopção.
2 Exceptuamse da proibição estipulada no número anterior, os custos ou gastos necessários e
comprovadamente efectuados com adopções internacionais.
Artigo 5.º
Adopção nacional e internacional
1 A constituição do vínculo de adopção relativamente a menores timorenses e residentes em Timor
Leste, deve efectuarse por meio do recurso à adopção nacional, sendo excepcional a colocação do
menor no estrangeiro.
2 Para efeitos da presente lei considerase adopção nacional os casos em que, sendo o adoptando
timorense e residente em TimorLeste, os adoptantes têm nacionalidade timorense ou, sendo
estrangeiros, residam em TimorLeste, de forma habitual e estável, há pelo menos cinco anos.
3 A adopção internacional apenas pode ser autorizada quando o menor não puder ser objecto de
medida de colocação numa família de acolhimento ou adoptiva em TimorLeste, ou se não puder ser
convenientemente educado no seu país de origem e de acordo com as normas procedimentais da
presente lei.
Artigo 6.º
Proibição de várias adopções do mesmo adoptando
Enquanto subsistir uma adopção não pode constituirse outra quanto ao mesmo adoptado, excepto se os
adoptantes forem casados um com o outro.
Artigo 7.º
Adopção pelo tutor ou administrador legal de bens
O tutor ou administrador legal de bens só pode adoptar o menor depois de aprovadas as contas da tutela
ou da administração de bens e saldada a sua responsabilidade.
Artigo 8.º
Confiança do menor com vista a futura adopção
1 O menor em condições de ser adoptado pode ser confiado administrativamente ou judicialmente a
casal, a pessoa singular ou a instituição.
2 É permitida a confiança administrativa do menor em condições de ser adoptado ao candidato a
adoptante, mediante a observância de certos requisitos descritos na presente lei, e devidamente
autorizada pelos serviços sociais.
3 Com vista a futura adopção, o tribunal pode atribuir a confiança judicial do menor a casal, a pessoa
singular ou a instituição em qualquer das situações previstas na presente lei.
Artigo 9.º
Exercício dos poderes e deveres dos pais
Quando o menor seja confiado a terceira pessoa ou a estabelecimento de educação ou assistência,
cabem a estes todos os poderes e deveres dos pais que forem exigidos pelo adequado desempenho das
suas funções.
Artigo 10.º
Confiança judicial
1 Com vista a futura adopção, o tribunal pode confiar o menor a casal, a pessoa singular ou,
excepcionalmente, a instituição, em qualquer das seguintes situações:
a) Se o menor for filho de pais incógnitos ou falecidos;
b) Se tiver havido consentimento prévio para a adopção;
c) Se os pais tiverem abandonado o menor;
d) Se os pais, por acção ou omissão, mesmo que por manifesta incapacidade devido a razões de
doença mental, puserem em perigo grave a segurança, a saúde, a formação moral, a educação
ou o desenvolvimento do menor;
e) Se os pais do menor acolhido por um particular ou por uma instituição tiverem revelado
manifesto desinteresse pelo filho, em termos de comprometer seriamente a qualidade e a
continuidade dos vínculos afectivos próprios da filiação, durante, pelo menos, os seis meses
precedentes ao pedido de confiança.
2 Na verificação das situações previstas no número anterior o tribunal deve atender prioritariamente
aos direitos e interesses do menor.
3 A confiança fundada nas situações previstas nas alíneas a) c), d) e e) do número um não pode ser
decidida se o menor se encontrar a viver com ascendente, colateral até ao 3º grau ou tutor e a seu cargo,
salvo se aqueles familiares ou o tutor puserem em perigo, de forma grave, a segurança, a saúde, a
formação moral ou a educação do menor ou se o tribunal concluir que a situação não é adequada a
assegurar suficientemente o interesse do menor.
4 Têm legitimidade para requerer a confiança judicial do menor o Ministério Público, os serviços
sociais, a pessoa a quem o menor tenha sido administrativamente confiado e o director do
estabelecimento público ou a direcção da instituição particular que o tenha acolhido.
5 Decretada a confiança judicial do menor ficam os pais inibidos do exercício do poder paternal.
Artigo 11.º
Confiança administrativa
Para além dos casos de confiança judicial, a confiança administrativa consiste na entrega do menor ao
candidato à adopção ou na confirmação da situação de permanência porventura já existente.
Artigo 12.º
Juiz singular
É da competência do juiz singular o processo de adopção bem como os respectivos incidentes e
preliminares.
CAPÍTULO II
Intervenção dos serviços sociais
Artigo 13.º
Competência dos serviços sociais
1 A coordenação e intervenção administrativa e social em todo o território timorense relativamente às
questões de adopção, conforme regulado nos artigos seguintes, é da competência dos serviços sociais
designados para o efeito.
2 O requerimento para a confiança administrativa de menor deve ser apresentado aos serviços sociais.
3 Os serviços sociais referidos no número anterior, mantêm um registo para TimorLeste dos
candidatos a adoptantes e a adoptandos de que tiverem conhecimento.
Artigo 14.º
Comunicação ao Ministério Público e aos serviços sociais
1 As instituições públicas ou privadas que tenham conhecimento de menores em alguma das situações
previstas no n.º 1 do artigo 10.º da presente lei ou em situação social, familiar ou outra de extrema
vulnerabilidade do menor, devem comunicar esse facto aos serviços sociais.
2 As instituições públicas ou privadas de solidariedade social devem comunicar o acolhimento de
menor, num prazo de cinco dias, às comissões de protecção de menores e, no caso de ainda não se
encontrarem instaladas, ao Ministério Público competente em matéria de família e menores da área de
acolhimento e aos serviços sociais.
3 Quem tiver menor a seu cargo em situação de poder vir a ser adoptado deve dar conhecimento da
situação aos serviços sociais da área da sua residência, que devem proceder à sua comunicação
imediata aos serviços sociais.
4 Recebidas as informações ou comunicações referidas nos números anteriores, os serviços sociais
devem informar o Ministério Público da área de residência do menor, iniciar de imediato o estudo do
caso com vista ao processo de adopção e tomar as providências adequadas.
5 Os serviços sociais devem comunicar ao Ministério Público competente, num prazo de 30 dias, um
relatório dos estudos realizados e das providências adoptadas relativamente a cada um dos menores.
6 É efectuado e mantido devidamente actualizado um registo das situações anteriormente
mencionadas.
Artigo 15.º
Estudo da situação do menor
1 O estudo da situação do menor deve incidir sobre a saúde, o desenvolvimento e a situação familiar e
jurídica do adoptando, realizandose, nomeadamente, um inquérito sobre a personalidade e a saúde do
adoptante e do adoptando, a idoneidade do adoptante para criar e educar o adoptando, a situação
familiar e económica do adoptante e as razões determinantes do pedido de adopção, entre outras
questões que se mostrem pertinentes.
2 O estudo deve ser realizado com a maior brevidade possível e deve ter em conta o interesse do
menor e as circunstâncias do caso.
3 Independentemente do disposto na alínea a) do n.º 1 do artigo 28.º, o adoptando, tendo em atenção a
sua idade e grau de maturidade, pode ser ouvido pelos serviços sociais.
Artigo 16.º
Confiança administrativa de menor
1 A decisão de confiança administrativa compete aos serviços sociais.
2 A confiança administrativa deve ter em conta sempre em primeiro lugar o interesse do menor.
3 Os serviços sociais devem:
a) Comunicar, em cinco dias, ao Ministério Público junto do tribunal competente da área onde o
menor se encontra a decisão relativa à confiança administrativa devidamente fundamentada;
b) Efectuar as comunicações necessárias à conservatória do registo civil onde estiver lavrado o
assento de nascimento do menor para efeitos de preservação do segredo de identidade previsto
no artigo 32.º da presente lei;
c) Emitir e entregar ao candidato a adoptante certificado da data em que o menor lhe foi
confiado.
4 Da decisão que não conceder a confiança administrativa cabe recurso para o tribunal competente nos
termos do que dispõe o artigo 22.º.
Artigo 17.º
Impedimentos à confiança administrativa
1 A confiança administrativa não pode ser decretada se houver oposição de quem exerça o poder
paternal, a tutela ou ainda, de quem detenha, de direito ou de facto, a guarda do menor.
2 Para os efeitos previstos no número anterior, considerase que tem a guarda de facto quem, sem
decisão judicial, vem assumindo com continuidade as funções essenciais próprias do poder paternal,
em especial nas situações previstas no artigo 10.º da presente lei ou no caso de inibição do exercício do
poder paternal.
3 A confiança administrativa não pode igualmente ser decidida enquanto a situação relativa ao menor
for objecto de processo instaurado em relação a matérias de direito de família ou de família e menores.
Artigo 18.º
Suprimento do poder paternal na confiança administrativa
1 O candidato a adoptante que, mediante confiança administrativa, haja tomado o menor a seu cargo
com vista a futura adopção pode requerer ao tribunal a sua designação como curador provisório do
menor até ser decretada a adopção ou ser instituída a tutela.
2 A curadoria provisória pode ser requerida pelo Ministério Público, o qual deve fazêlo nos 30 dias
subsequentes da decisão de confiança administrativa e no caso de não ter sido requerida nos termos do
número anterior.
3 O processo de tutela ou curatela é apensado aos autos do processo de confiança judicial ou de
adopção.
Artigo 19.º
Homologação judicial da confiança administrativa
Nos cinco dias imediatos à decisão de confiança administrativa, os serviços sociais remetem o processo
administrativo ao Ministério Público junto do tribunal da área de residência do menor para que seja
homologado judicialmente.
Artigo 20.º
Registo da confiança administrativa
1 Logo que requerida a confiança administrativa de menor, os serviços sociais procedem às
comunicações necessárias aos serviços de registo civil onde estiver lavrado o assento de nascimento
daquele, com o fim de preservar o segredo da identidade nos termos do número seguinte.
2 Salvo autorização expressa do adoptante, a sua identidade não pode ser revelada aos pais naturais do
adoptando e estes podem oporse, mediante declaração expressa, a que a sua identidade seja revelada
ao adoptante.
Artigo 21.º
Candidatura de adoptantes
1 Quem pretender adoptar, deve comunicar a sua intenção aos serviços sociais, que procedem ao seu
registo e iniciam o estudo da pretensão.
2 Os serviços sociais emitem e entregam ao candidato a adoptante certificado da comunicação e do
respectivo registo.
3 As diligências para o estudo da pretensão em causa devem compreender, entre outros assuntos, a
personalidade e a saúde, a idoneidade para criar e educar menores, a situação familiar e económica e as
razões determinantes do pedido.
4 No prazo de seis meses após a apresentação do pedido, os serviços sociais devem proferir uma
decisão e notificar o candidato.
Artigo 22.º
Impugnação
1 Da decisão que rejeite a candidatura, recuse a entrega do menor ou não confirme a permanência do
menor pode ser interposto recurso, no prazo de trinta dias, para o tribunal competente em razão, da área
de residência do menor ou da residência do candidato, no último caso.
2 O requerimento, acompanhado das respectivas alegações, é apresentado aos serviços sociais que
proferiram a decisão, os quais poderão reparála; não o fazendo, os serviços sociais remetem o
processo ao tribunal, no prazo de quinze dias, com as observações que entenderem convenientes.
3 O juiz pode proceder às diligências que considerar necessárias, findas as quais, deve proferir
decisão, não passível de recurso, excepto para esclarecimento sobre alguma contradição ou obscuridade
na redacção.
Artigo 23.º
Período de préadopção
1 Confiado o menor, judicial ou administrativamente, ao candidato a adoptante, devem os serviços
sociais proceder ao acompanhamento da situação, e obter todos os elementos indispensáveis à
elaboração do inquérito a que se refere o n.º 1 do artigo 15.º.
2 O período de préadopção nunca deve ser superior a um ano.
3 Tratandose de adopção de filho do cônjuge do adoptante o período de préadopção não é superior a
três meses.
4 Compete aos serviços sociais certificar a data em que o menor foi confiado ao adoptante.
5 Identificada, durante o período de préadopção, a verificação de alguma circunstância que ponha em
perigo grave a segurança, a saúde, a educação ou o desenvolvimento do menor, devem os serviços
sociais comunicála ao Ministério Público através de relatório, no prazo de cinco dias.
Artigo 24.º
Relatório de inquérito
1 Quando considerar verificadas as condições para ser requerida a adopção, ou tiver decorrido o
período de préadopção estipulado no artigo anterior, os serviços sociais elaboram oficiosamente, no
prazo de trinta dias, o relatório de inquérito.
2 Concluído o relatório os serviços sociais notificam o resultado ao candidato a adoptante.
3 A adopção só pode ser requerida após a elaboração do relatório de inquérito ou decorrido o prazo
para a sua elaboração.
4 Não sendo requerida a adopção no prazo de um ano, os serviços sociais devem reapreciar a situação,
excepto se se tratar de adopção de filho do cônjuge do adoptante.
Artigo 25.º
Pessoal qualificado
Os serviços sociais devem providenciar para que o pessoal encarregado de acompanhar as situações de
adopção seja constituído por uma equipe multidisciplinar e qualificada, em número suficiente para
cumprir os prazos fixados por esta lei.
CAPÍTULO III
Adopção
Artigo 26.º
Quem pode adoptar
1 Podem adoptar duas pessoas casadas há mais de quatro anos e não separadas judicialmente de
pessoas e bens ou de facto, se ambas tiverem mais de 25 anos.
2 Pode ainda adoptar quem tiver mais de 30 anos ou, se o adoptando for filho do cônjuge do
adoptante, mais de 25.
3 Só pode adoptar quem não tiver mais de 60 anos à data em que o menor lhe tenha sido confiado,
sendo que a partir dos 50 anos a diferença de idades entre o adoptante e o adoptado não pode ser
superior a 50 anos.
4 Pode, no entanto, a diferença de idades ser superior a 50 anos quando, a título excepcional, motivos
ponderosos o justifiquem, nomeadamente por se tratar de um conjunto de irmãos em que relativamente
apenas a algum ou alguns dos irmãos se verifique uma diferença de idades superior àquela.
5 O disposto no n.º 3 não se aplica quando o adoptando for filho do cônjuge do adoptante.
Artigo 27.º
Quem pode ser adoptado
1 Podem ser adoptados os filhos menores do cônjuge do adoptante e aqueles que tenham sido
confiados ao adoptante.
2 O adoptando deve ter menos de 15 anos à data da petição judicial de adopção; pode, no entanto, ser
adoptado quem, a essa data, tenha menos de 17 anos e não se encontre emancipado, desde que tenha
sido confiado aos adoptantes ou a um deles com idade não superior a 15 anos, ou quando for filho do
cônjuge do adoptante.
Artigo 28.º
Consentimento para a adopção
1 É necessário para a adopção o consentimento:
a) Do adoptando maior de doze anos, devendo ser expresso de forma livre e independente de
factores externos que possam coagir ou intimidar a sua manifestação da vontade;
b) Do cônjuge do adoptante não separado judicialmente de pessoas e bens;
c) Dos pais do adoptando, ainda que menores e mesmo que não exerçam o poder paternal, desde
que não tenha havido confiança judicial;
d) Do ascendente, do colateral até ao 3º grau ou do tutor, quando, tendo falecido os pais do
adoptando, tenha este a seu cargo e com ele viva.
2 No caso previsto no n.º 3 do artigo 10.º, tendo a confiança fundamento nas situações previstas nas
alíneas c), d) e e) do n.º1 do mesmo artigo, não é exigido o consentimento dos pais, mas é necessário o
do parente aí referido ou do tutor, desde que não tenha havido confiança judicial.
3 O tribunal pode dispensar o consentimento:
a) Das pessoas que o deveriam prestar nos termos dos números anteriores, se estiverem privadas
do uso das faculdades mentais ou se, por qualquer outra razão, houver grave dificuldade em as
ouvir;
b) Das pessoas referidas na alínea c) do n.º 1 e no n.º 2 quando se verificar alguma das situações
que, nos termos das alíneas c), d) e e) do n.º 1 e do n.º 3 do artigo 10.º, permitiriam a
confiança judicial;
c) Dos pais do adoptando inibidos do exercício do poder paternal, quando sobre o trânsito em
julgado de sentença que tenha decretado a inibição do poder parternal tenham decorrido 18 ou
6 meses e o Ministério Público ou aqueles, respectivamente, não tenham solicitado o
levantamento da inibição decretada pelo tribunal.
Artigo 29.º
Forma e tempo do consentimento
1 O consentimento reportase à adopção e é prestado perante o juiz, que deve esclarecer o declarante
sobre o significado e os efeitos do acto.
2 O consentimento dos pais pode ser prestado independentemente da instauração do processo de
adopção se o adoptando tiver sido acolhido por alguém que pretenda adoptálo ou em estabelecimento
público ou particular, não sendo necessária a identificação do futuro adoptante.
3 A mãe não pode dar o seu consentimento antes de decorridos três meses após o parto.
4 O consentimento deve ser precedido de uma audiência prévia com assistente social.
Artigo 30.º
Revogação e caducidade do consentimento
1 O consentimento para adopção pode ser revogado se até à data da manifestação da revogação o
processo de adopção não tiver sido iniciado.
2 O consentimento caduca se, no prazo de três anos, o menor não tiver sido adoptado nem confiado
com vista a futura adopção.
Artigo 31.º
Audição obrigatória
O juiz deve ouvir:
a) Os filhos do adoptante maiores de 12 anos;
b) Os ascendentes ou, na sua falta, os irmãos maiores do progenitor falecido, se o adoptando for
filho do cônjuge do adoptante e o seu consentimento não for necessário, salvo se estiverem
privados das faculdades mentais ou se, por qualquer outra razão, houver grave dificuldade em
os ouvir.
Artigo 32.º
Segredo da identidade
1 A identidade do adoptante não pode ser revelada aos pais naturais do adoptado, salvo se aquele
declarar expressamente que não se opõe a essa revelação.
2 Os pais naturais do adoptado podem oporse, mediante declaração expressa, a que a sua identidade
seja revelada ao adoptante.
Artigo 33.º
Efeitos
1 Pela adopção o adoptado adquire a situação de filho do adoptante e integrase com os seus
descendentes na família deste, extinguindose as relações familiares entre o adoptado e os seus
ascendentes e colaterais naturais, sem prejuízo do disposto quanto a impedimentos matrimoniais na lei
civil.
2 Se um dos cônjuges adopta o filho do outro mantêmse as relações entre o adoptado e o cônjuge do
adoptante e os respectivos parentes.
Artigo 34.º
Estabelecimento e prova da filiação natural
Depois de decretada a adopção não é possível estabelecer a filiação natural do adoptado nem fazer a
prova dessa filiação fora do processo preliminar de publicações.
Artigo 35.º
Nome próprio e apelidos do adoptado
1 O adoptado perde os seus apelidos de origem, sendo o seu novo nome constituído, com as
necessárias adaptações, nos termos legalmente previstos.
2 A pedido do adoptante, pode o tribunal, excepcionalmente, modificar o nome próprio do menor, se a
modificação salvaguardar o seu interesse, nomeadamente o direito à identidade pessoal, e favorecer a
integração na família.
Artigo 36.º
Irrevogabilidade da adopção
A adopção não é revogável nem sequer por acordo do adoptante e do adoptado.
Artigo 37.º
Revisão da sentença
1 A sentença que tiver decretado a adopção só é susceptível de revisão:
a) Se tiver faltado o consentimento do adoptante ou dos pais do adoptado, quando necessário e
não dispensado;
b) Se o consentimento dos pais do adoptado tiver sido indevidamente dispensado, por não se
verificarem as condições do n.º 3 do artigo 28.º;
c) Se o consentimento do adoptante tiver sido viciado por erro desculpável e essencial sobre a
pessoa do adoptado;
d) Se o consentimento do adoptante ou dos pais do adoptado tiver sido determinado por coacção
moral, contanto que seja grave o mal com que eles foram ilicitamente ameaçados e justificado
o receio da sua consumação;
e) Se tiver faltado o consentimento do adoptado, quando necessário.
2 O erro só se considera essencial quando for de presumir que o conhecimento da realidade excluiria
razoavelmente a vontade de adoptar.
3 A revisão não é, contudo, concedida quando os interesses do adoptado possam ser
consideravelmente afectados, salvo se razões invocadas pelo adoptante imperiosamente o exigirem.
Artigo 38.º
Legitimidade e prazo para a revisão
1 A revisão nos termos do n.º 1 do artigo anterior pode ser pedida:
a) No caso das alíneas a) e b), pelas pessoas cujo consentimento faltou, no prazo de seis meses a
contar da data em que tiveram conhecimento da adopção;
b) No caso das alíneas c) e d), pelas pessoas cujo consentimento foi viciado, dentro dos seis
meses subsequentes à cessação do vício;
c) No caso da alínea e), pelo adoptado, até seis meses a contar da data em que ele atingiu a
maioridade ou foi emancipado.
2 No caso das alíneas a) e b) do número anterior, o pedido de revisão não pode ser deduzido
decorridos três anos sobre a data do trânsito em julgado da sentença que tiver decretado a adopção.
CAPÍTULO IV
Processo judicial de adopção
Artigo 39.º
Petição inicial
1 O processo de adopção iniciase com a petição inicial em que devem alegarse os factos capazes de
demonstrar que a adopção apresenta reais vantagens para o adoptando, se funda em motivos legítimos,
não envolve sacrifício injusto para os outros filhos do adoptante e que é razoável supor que entre
adoptante e adoptado se estabelecerá um vínculo semelhante ao da filiação.
2 Sem prejuízo do disposto no n.º 2 do artigo 20.º os meios de prova, devem ser apresentados com a
petição inicial, nomeadamente certidões de cópia integral do registo de nascimento do adoptando e do
adoptante e certificado comprovativo das diligências relativas à intervenção dos serviços sociais.
3 A petição inicial é subscrita pelo Ministério Público, por defensor público ou por advogado,
consoante as circunstâncias.
Artigo 40.º
Inquérito
1 O inquérito referido no n.º 1 do artigo 15.º deve acompanhar a petição inicial ou, a pedido do
tribunal, ser remetido no prazo máximo de 30 dias após notificação efectuada aos serviços sociais.
2 Se o prazo fixado no número anterior não for cumprido, o tribunal pode solicitar a realização do
inquérito.
Artigo 41.º
Tramitação subsequente
1 Junto o inquérito, o juiz, com a participação do Ministério Público, ouve o adoptante e as pessoas
cujo consentimento ou audiência a lei exigir e ainda não o tenham prestado, ainda que o consentimento
possa ser dispensado nos termos do n.º 3 do artigo 28.º e de modo a salvaguardar o segredo de
identidade conforme o 32.º.
2 Independentemente do disposto na alínea a) do n.º 1 do artigo 28. º, o adoptando, tendo em atenção a
sua idade e grau de maturidade, deve ser ouvido pelo juiz.
3 A audição das pessoas referidas nos números anteriores é feita separadamente e por forma a
salvaguardar o segredo de identidade.
4 As pessoas referidas no número um devem ser devidamente esclarecidas pelo juiz sobre o
significado e efeitos do consentimento e da adopção.
Artigo 42.º
Outras diligências
Antes de proferir decisão o tribunal realiza oficiosamente as diligências que entender necessárias e as
que lhe forem requeridas desde que as considere essenciais à decisão.
Artigo 43.º
Sentença
1 Cumprido o que dispõem os artigos precedentes o tribunal, no prazo de quinze dias, decide quanto à
decretação da adopção ou indeferimento do pedido.
2 Na sentença o juiz considera outras decisões, ainda que provisórias, que afectem a situação do
menor, tendo em conta o interesse superior da criança.
Artigo 44.º
Indeferimento do pedido
1 Indeferido o pedido, ou rejeitado o recurso, o candidato não pode candidatarse a adopção do menor
sujeito da candidatura original por um período de pelo menos seis meses, a contar da data da decisão
mais recente do tribunal.
2 O menor sujeito da candidatura cujo pedido foi indeferido volta imediatamente a integrar o registo
dos candidatos a adoptandos referido no n.º 3 do artigo 13.º.
Artigo 45.º
Processo para a confiança judicial
1 O requerimento para a confiança judicial deve ser subscrito pelo Ministério Público, por defensor
público ou por advogado, consoante as circunstâncias.
2 Apresentado o requerimento para a confiança judicial do menor, são citados para contestar, no prazo
de 15 dias, os pais, salvo se tiverem prestado consentimento prévio, ou, sendo o caso, o tutor ou os
parentes referidos na alínea d) do n.º 1 do artigo 28.º e o Ministério Público, sempre que este não for o
requerente.
3 A citação é feita nos termos do previsto no artigo 195.º e seguintes do Código de Processo Civil.
4 No caso do citando se encontrar em lugar incerto, o processo deve seguir concluso ao juiz que
decide quanto a citação por edital, sem prejuízo das diligências prévias que o juiz julgar indispensáveis
ou necessárias.
5 A citação deve sempre salvaguardar o segredo de identidade previsto no artigo 32.º da presente lei.
6 Com a contestação devem ser indicados todos os meios de prova e requeridas as diligências que se
afigurem necessárias.
7 O processo de confiança judicial é apensado ao processo de adopção, caso este venha a ser
instaurado.
Artigo 46.º
Instrução e decisão no processo de confiança judicial
1 Findo o prazo para a apresentação da contestação o juiz realiza as diligências requeridas e outras que
considere necessárias à decisão, nomeadamente a audição dos serviços sociais.
2 No caso de não ser apresentada contestação ao pedido de confiança judicial, terminadas as
diligências referidas no número anterior, é proferida sentença no prazo de quinze dias.
3 No caso de apresentação de contestação ao pedido de confiança judicial e indicação de prova
testemunhal, o juiz designa para a data mais próxima a audiência de instrução e julgamento.
4 O tribunal comunica à conservatória do registo civil onde esteja lavrado o assento de nascimento do
menor cuja confiança judicial tenha sido requerida para que preserve o segredo de identidade previsto
no artigo 32.º.
Artigo 47.º
Registo da confiança judicial
À confiança judicial, é correspondentemente aplicável o disposto no artigo 20.º.
Artigo 48.º
Guarda provisória
1 Requerida a confiança judicial, ouvido o Ministério Público e os serviços sociais, o tribunal pode
atribuir a guarda provisória do menor ao candidato à adopção, desde que os elementos dos autos
apresentem fortes indícios da procedência da acção.
2 Antes de proferir a decisão quanto à guarda provisória, o tribunal ordena todas as diligências que
entender necessárias, em especial, a verificação de inexistência de processo de adopção pendente.
3 Ordenada a citação por edital, o juiz deve decidir pela guarda provisória, caso esta se justifique.
Artigo 49.º
Suprimento do exercício do poder paternal
1 Na sentença que decidir a confiança do menor, o tribunal nomeia um curador provisório para exercer
funções até ser decretada a adopção ou instituída a tutela.
2 O curador provisório é a pessoa a quem o menor tenha sido confiado, tendose em conta a
proximidade ou o contacto mais directo com o menor.
3 Se o menor for confiado a uma instituição, a curadoria provisória do menor pode, a requerimento
dos serviços sociais, ser transferida para o candidato a adoptante logo que selecionado.
Artigo 50.º
Consentimento prévio
1 Para efeitos do que dispõem os artigos 28.º e 29.º, pode ser requerido ao tribunal a prestação prévia
do consentimento.
2 A prestação do consentimento pode ser requerida pelas pessoas que o devam prestar, pelo Ministério
Público ou pelos serviços sociais.
3 Recebido o requerimento, o juiz designa imediatamente dia para prestação de consentimento no
mais curto prazo possível.
4 Deve ser elaborada acta da qual conste a prestação do consentimento.
5 Requerida a adopção, o incidente de consentimento prévio é apensado ao respectivo processo.
Artigo 51.º
Incidentes
1 No incidente de revisão e no recurso extraordinário de revisão, o menor é sempre representado pelo
Ministério Público.
2 Formulado o pedido relativo a algum incidente, são citados os requeridos e o Ministério Público, se
for o caso, para contestarem no prazo de quinze dias.
3 À tramitação do incidente aplicase com as devidas adaptações o disposto no artigo 41.º.
Artigo 52.º
Carácter secreto
1 O processo de adopção, os incidentes e os respectivos procedimentos preliminares, mesmo os de
natureza administrativa, têm carácter secreto.
2 Por motivos ponderosos e nas condições e com os limites a fixar na decisão, pode o tribunal,
autorizar a consulta do processo e a extracção de certidões.
3 Excepto se tal for contrário ao interesse do menor ou por exigências do direito à privacidade dos pais
biológicos, o tribunal pode dar a conhecer ao adoptado a verdade sobre a sua filiação biológica.
Artigo 53.º
Urgência
O processo de adopção e os respectivos incidentes têm carácter de urgência e correm durante as férias
judiciais.
Artigo 54.º
Efeitos da sentença
A sentença que decreta a adopção produz todos os efeitos legais a partir da data do pedido de confiança
judicial.
Artigo 55.º
Recursos
1 Os recursos interpostos de quaisquer decisões proferidas no âmbito do presente Capítulo têm efeito
meramente devolutivo.
2 Os recursos de agravo interpostos no decorrer do processo sobem com o recurso que se interpuser da
decisão final.
Artigo 56.º
Tribunal competente
1 É competente para a adopção o tribunal da área da residência da criança.
2 No caso de o menor ter sido confiado, judicial ou administrativamente ao candidato a adoptante, o
tribunal competente é o da área de residência do candidato.
Artigo 57.º
Subsidariedade
Nos casos não regulados especificamente no presente Capítulo relativo ao processo de adopção,
aplicamse, com as devidas adaptações, as disposições relativas ao processo comum de declaração.
CAPÍTULO V
Adopção internacional
Secção I
Aplicação subsidiária
Artigo 58.º
Aplicação subsidiária das normas da adopção nacional
Aos procedimentos previstos no presente capítulo aplicamse subsidiariamente as normas aplicáveis à
adopção nacional.
Secção II
Adopção internacional de menores residentes em TimorLeste
Artigo 59.º
Colocação no estrangeiro
1 A colocação no estrangeiro de menores residentes em TimorLeste para serem adoptados por
adoptantes com nacionalidade estrangeira ou timorense habitualmente residentes no estrangeiro,
depende de prévia decisão judicial de confiança do menor.
2 À decisão judicial prevista no número anterior aplicamse, com as necessárias adaptações, o disposto
relativamente à confiança judicial e respectivo processo.
3 Não é aplicável o disposto no número um se o menor for da nacionalidade do adoptante ou filho do
cônjuge deste.
Artigo 60.º
Requisitos para a colocação
O tribunal só autoriza a colocação do menor no estrangeiro quando estiverem cumulativamente
verificados os seguintes requisitos:
a) Se for prestado consentimento ou se verificarem as condições que justificam a sua dispensa,
nos termos da lei civil timorense;
b) Se os serviços competentes segundo a lei do Estado da residência dos candidatos a adoptantes
reconhecerem estes como idóneos e a adopção em causa como possível face à lei do
respectivo país;
c) Se estiver previsto o período de tempo referido no artigo 3.º;
d) Se for de supor que, no caso concreto, se encontra garantida a observância dos princípios
consagrados no artigo 2.º;
e) Se os serviços competentes do Estado onde o menor for colocado assegurarem o
repatriamento do mesmo no caso de a adopção não se concretizar;
f) Se a legislação sobre adopção em vigor no Estado de que os adoptantes são nacionais estiver
em conformidade com as normas da Convenção de Haia relativa à Protecção das Crianças e à
Cooperação em Matéria de Adopção Internacional.
Artigo 61.º
Manifestação e apreciação da vontade de adoptar
1 A manifestação da vontade de adoptar é dirigida directamente à autoridade central timorense pela
autoridade central ou outros serviços competentes do país de residência dos candidatos, ou ainda por
intermédio de outra entidade autorizada.
2 Recebida a pretensão de adoptar, a autoridade central procede à sua apreciação, no prazo de 30 dias,
aceitandoa, rejeitandoa ou convidando a completála ou aperfeiçoála, e comunica a decisão à
entidade que haja remetido a pretensão.
3 A pretensão é instruída com os documentos que forem necessários à demonstração de que os
candidatos reúnem os requisitos previstos no artigo anterior.
Artigo 62.º
Estudo da viabilidade
1 Na situação referida no n.º 3 do artigo 5.º, a viabilidade concreta da adopção pretendida é analisada
conjuntamente pela autoridade central timorense e pelos serviços sociais, levando em conta o perfil dos
candidatos e as características do menor.
2 Para os efeitos do disposto no número anterior, os serviços sociais elaboram estudo da situação do
menor, que deve incidir sobre a saúde, o desenvolvimento e a situação familiar e jurídica do adoptando,
realizandose, nomeadamente, um inquérito sobre a personalidade e a saúde do adoptando, e a
apreciação da possibilidade de adopção, bem como os demais elementos que considerem necessários,
designadamente os referidos no artigo 60.º.
3 O relatório sobre a viabilidade concreta da adopção é comunicado pela autoridade central timorense
à autoridade que apresentou a pretensão de adopção.
Artigo 63.º
Confiança judicial
1 Caso se conclua pela viabilidade da adopção, os serviços sociais requerem a atribuição ou
transferência da confiança judicial do menor ao candidato a adoptante ou aos candidatos a adoptantes.
2 Para efeitos do disposto no número anterior, as autoridades centrais dos dois Estados ou a autoridade
central e a entidade competente que apresenta a pretensão desenvolvem as medidas necessárias com
vista à obtenção de autorização de saída do Estado de origem e de entrada e permanência no Estado de
acolhimento.
Artigo 64.º
Acompanhamento e reapreciação da situação
1 Durante o período de préadopção, a autoridade central acompanha a evolução da situação, através
de contactos regulares com a autoridade central do país de residência dos candidatos ou com a entidade
competente para o efeito.
2 Caso não esteja previsto no país de acolhimento um período de préadopção, o candidato a adoptante
deve permanecer em TimorLeste durante um período de tempo suficiente para avaliar da conveniência
da constituição do vínculo.
3 Sempre que dos acompanhamentos referidos nos números anteriores se conclua que a situação não
corresponde ao interesse do menor, devem ser tomadas as medidas necessárias à protecção do menor,
pondose em prática um projecto de vida alternativo que salvaguarde o referido interesse do menor.
4 A autoridade central remete cópia das informações prestadas aos serviços sociais e ao tribunal que
tiver decidido a confiança judicial do menor.
Artigo 65.º
Colaboração internacional
1 O menor sujeito a adopção internacional goza das garantias e beneficia da aplicação das normas
relativas à adopção nacional consagradas nas leis timorenses, com as adaptações necessárias.
2 Os procedimentos adequados à preparação da decisão de adopção no estrangeiro, são efectuados
mediante colaboração entre as autoridades dos Estados envolvidos.
Artigo 66.º
Comunicação da decisão de adopção
Compete à autoridade central providenciar para que, decretada a adopção no estrangeiro, os serviços
competentes daquele país lhe remetam cópia da decisão que deve ser enviada ao tribunal timorense
competente.
Artigo 67.º
Revisão da decisão
1 Caso a adopção tenha sido decretada no estrangeiro, o Ministério Público tem legitimidade para
requerer a revisão da decisão de adopção, nos termos da lei timorense, devendo fazêlo sempre que esta
não tenha sido requerida pelos adoptantes, no prazo de três meses a contar da data do trânsito em
julgado.
2 Para os efeitos do número anterior, a autoridade central remete ao Ministério Público junto do
tribunal competente todos os elementos necessários à revisão.
3 O tribunal remete à autoridade central cópia da revisão da decisão estrangeira de adopção.
4 No processo de revisão de sentença estrangeira que haja decretado a adopção, deve ser preservado o
segredo de identidade, nos termos do artigo 32.º.
Secção III
Adopção por residentes em TimorLeste de menores residentes no estrangeiro
Artigo 68.º
Candidatura
1 Os cidadãos timorenses e os estrangeiros que residam de forma estável em TimorLeste há mais de
cinco anos podem apresentar a sua candidatura a adoptar menores residentes no estrangeiro, nos
serviços sociais.
2 À candidatura a adoptar e ao estudo da pretensão aplicase o disposto nos artigos 21.º e 22.º do
presente diploma.
3 Se for reconhecida a aptidão do candidato, a candidatura é transmitida à autoridade central timorense
que, por sua vez, a transmite à autoridade central ou outros serviços competentes do país de residência
do adoptando.
Artigo 69.º
Estudo de viabilidade
1 A autoridade central timorense analisa, juntamente com os serviços sociais, a viabilidade da adopção
pretendida, tendo em conta o perfil do candidato e o relatório sobre a situação do menor elaborado pela
autoridade central ou por outra entidade competente do país de residência do menor.
2 Caso se conclua pela viabilidade da adopção, a autoridade central comunica à autoridade central ou
à entidade competente do país de residência do menor, devendo ser assegurados os procedimentos
previstos no artigo 63.º.
Artigo 70.º
Acompanhamento do processo
1 Os serviços sociais comunicam ao Ministério Público o início do período de préadopção e
acompanham a situação do menor durante esse período, nos termos referidos no artigo 23.º, mantendo
informada a autoridade central sobre a respectiva evolução.
2 A autoridade central presta à entidade competente do país de residência do menor as informações
relativas ao acompanhamento da situação.
3 Nas fases ulteriores do processo é aplicável, com as necessárias adaptações, o disposto nos artigos
23.º, 24.º e 64.º do presente diploma.
Artigo 71.º
Revisão de decisão estrangeira
1 Caso a adopção tenha sido decretada no país de origem do menor, a autoridade central tem
legitimidade para requerer a revisão da decisão estrangeira, devendo fazêlo sempre que esta não tenha
sido requerida pelos adoptantes, no prazo de três meses a contar da data do trânsito em julgado.
2 Para os efeitos do número anterior, a autoridade central remete ao Ministério Público junto do
tribunal competente todos os elementos necessários à revisão.
3 O tribunal remete à autoridade central cópia da revisão da decisão estrangeira de adopção.
4 No processo de revisão de sentença estrangeira que haja decretado a adopção, deve ser preservado o
segredo de identidade, nos termos do artigo 32.º.
Artigo 72.º
Comunicação da decisão
Os serviços sociais enviam cópia autenticada da decisão de adopção à autoridade central, que, por sua
vez, a remete à autoridade central ou à entidade competente do país de residência do adoptando.
Secção IV
Autoridade central
Artigo 73.º
Atribuições da autoridade central
À autoridade central compete, nomeadamente:
a) Exercer as funções de autoridade central previstas em convenções Internacionais de que TimorLeste
seja parte;
b) Preparar acordos e protocolos em matéria de adopção internacional;
c) Acompanhar, prestar a colaboração necessária, avaliar e expedir os procedimentos respeitantes à
adopção internacional;
d) Proceder à recolha, tratamento e divulgação dos dados estatísticos relativos à adopção internacional;
e) Elaborar e publicar anualmente relatório de actividades, donde constem, designadamente,
informações e conclusões sobre as atribuições referidas nas alíneas anteriores;
f) Responder, nos limites estabelecidos na lei, aos pedidos de informação justificados, relativamente a
uma situação particular de adopção, formulados por outras autoridades centrais ou por autoridades
públicas.
Artigo 74.º
Entidades intervenientes
Para os efeitos do presente diploma entendese por:
a) Serviços sociais: a Direcção Nacional de Reinserção Social do Ministério da Solidariedade Social;
b) Autoridade central: a DirecçãoGeral de Direitos Humanos e Cidadania do Ministério da Justiça.
CAPÍTULO VI
Disposições finais e transitórias
Artigo 75.º
Taxas
O sistema de gestão e de cobrança de taxas devidas relativamente aos procedimentos de adopção bem
como os montantes aplicáveis são estabelecidos por diploma ministerial conjunto dos Ministros da
Justiça e da Solidariedade Social.
Artigo 76.º
Norma transitória
As disposições do presente diploma relativas à adopção internacional aplicamse a partir da ratificação
pela República Democrática de TimorLeste da Convenção relativa à Protecção das Crianças e à
Cooperação em matéria de Adopção Internacional.
Artigo 77.º
Norma revogatória
São revogadas todas as disposições legais ou regulamentares contrárias ao disposto na presente lei.
Artigo 78.º
Entrada em vigor
A presente lei entra em vigor no dia seguinte ao da sua publicação.
Aprovado em Conselho de Ministros, em XX de XXXXX de 2008
O PrimeiroMinistro, Kay Rala Xanana Gusmão
A Ministra da Justiça, Lúcia Lobato
A Ministra da Solidariedade Social, Maria Domingas Alves