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Ação civil pública proposta contra a Alcaplas, de Xanxerê, para impedir odores e o lançamento de efluentes irregularmente na rede pluvial.

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1. MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA EXCELENTSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO 2 VARA DA COMARCA DE XANXER1 2. MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINAO MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA, pelo Promotor de Justia titular da 2 Promotoria de Justia de Xanxer, com fundamento nos arts. 127, 129, III e 225 da Constituio da Repblica, e no art. 5 da Lei n 7.347/85, e no Inqurito Civil Pblico n 06.2013.00002617-3 prope AO CIVIL PBLICA (com pedido de liminar) em face de: ALCAPLAS INDSTRIA DE PLSTICOS LTDA., pessoa jurdica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o n 03.943.986/0001-21, localizada na Rodovia SC 480, Km 90, bairro Nossa Senhora de Lourdes, Xanxer, representada por seu scio-diretor, o senhor Alceu Lorenzon.1. Objetivo da ao Esta ao civil pblica tem por objetivo coibir poluio ambiental praticada pela empresa Alcaplas Indstria de Plsticos Ltda., praticada mediante o lanamento irregular de efluentes industriais diretamente na rede2 3. MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA pluvial do Municpio de Xanxer, o que provoca fortssimos odores na regio em que est instalada. Objetiva tambm obter provimento liminar que, diante da gravidade dos fatos e do desrespeito populao, proba a reiterao da prtica, sob pena de multa, determinando a imediata correo da irregularidade. Por fim, postula-se indenizao pelos danos extrapatrimoniais difusos e individuais homogneos sofridos pela populao afetada com a poluio.2. Sntese ftica A empresa Alcaplas Indstria de Plsticos Ltda. tem por atividade a fabricao de artigos de material plstico (resinas plsticas, bobinas tcnicas, embalagens ou reembalagens e sacos para lixo). O plstico (lixo reciclvel) passa por diversos processos industriais, sendo separado, modo, lavado, secado e granulado, at a formao do material desejado. Boa parte da origem do plstico provm de lixo reciclvel, que fica acumulado no ptio da empresa, a cu aberto, conforme demonstra o 3 4. MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA Relatrio de Pesquisa de Dados Geoespaciais de fls. 123 e seguintes. L se verifica que a rea ocupada por lixo, que j foi de 3327 m em 2004, foi reduzida para 1790 m em 2010, mas que agora voltou a crescer, estando, de acordo com a ltima imagem disponvel (2011), com 2054 m de lixo a cu aberto. Alm diso, a parte lquida da produo encaminhada ao sistema de tratamento de efluentes que, conforme se identificou no curso do inqurito civil pblico que acompanha a presente, deveria ser fechado, ou seja, os efluentes no poderiam ser lanados no meio ambiente, mesmo depois de tratados, e sim retornar linha de produo. Todavia, no dia 2 de fevereiro do corrente ano, em um sbado tarde, o subscritor foi contatado pela Polcia Militar de Xanxer, a fim de acompanhar uma guarnio policial no Bairro Nossa Senhora de Lourdes, para averiguar reclamao da comunidade de forte odor no local. Conforme Boletim de Ocorrncia Policial (fl. 2-10), constatou-se naquela vistoria que, na rua Vinte e Sete de Fevereiro, local em que est instalado o parque industrial da requerida, ocorreu "lanamentode4 5. MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA resduos na rede de escoamento de gua das ruas , o que, por consequncia, acabou atingindo/poluindo o curso da gua/sanga que corta o Bairro Nossa Senhora de Lourdes". [...]. [...] alm do mau cheiro, verificou-segrandequantidadedesubstnciadecorcinzacirculando pela tubulao . Segundo relato de moradores, os referidos resduos so lanados pela empresa Alcaplas, geralmente noite, finais de semana e feriado s, utilizando-se, para isso, de uma rede subterrnea ou de uma mangueira azul". Osubscritorestevepresente,acompanhoueconstatoupessoalmente os fatos, razo pela qual, na sequncia, instaurou o inqurito civil pblico anexo para investigar os fatos e, de imediato, requisitou Vigilncia Sanitria Municipal vistoria no local. A Vigilncia Sanitria Municipal confirmou a ocorrncia dos lanamentos de efluentes (fls. 12-16), limitando-se, todavia, a transcrever as explicaes da prpria empresa, que confessou a prtica: "[...] em relao ao odor que naquele dia estava alterado , a empresa esclarece que j vinha tomando providncias para amenizar e eliminar o mesmo, alm de salientar5 6. MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA que outras medidas esto sendo tomadas para elimin-lo de vez do processo. No dia primeiro at a manh daquele dia 2 em especfico, a empresa estava testando o uso do produto Hidrxido de Sdio para corrigir o pH da gua, a fim de que o efluente no fosse enviado rede pluvial com valores fora dos parmetros aceitveis. Este produto ocasionou a alterao no odor da gua devido ao excessivo calor daquela data, atravs de uma reao qumica com liberao de odor forte e caracterstico , porm inerte e no nocivo. Quanto ocorrncia de descarga de efluente no tratado na rede pluvial a empresa esclarece que, de fato o que aconteceu foi uma descarga de gua j tratada, porm, em volume acima do normal ". Lavrou auto de intimao em desfavor da requerida, por "lanamento de efluente lquido proveniente de estao de tratamento de efluente em rede pluvial com caractersticas inadequadas e mau cheiro" (fl. 1216). Tambm durante a instruo do inqurito civil pblico, oficiou-se Polcia Militar Ambiental e Fatma, dando conta dos fatos identificados, para que procedessem s autuaes cabveis.6 7. MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA A Polcia Militar Ambiental constatou que "a empresa est alterando o sistema de tratamento de efluentes, sendo atualmente tratamento aerbico atravs de circuito aberto por meio de lagoas com lanamento do efluente para a rede pluvial, para um Sistema de Tratamento Qumico com circuito fechado, do qual o efluente tratado no processo industrial est sendo reutilizado nos processos internos de produo da empresa" (fls. 49-96). Tendo em vista que citada alterao do sistema de tratamento de efluente estava ocorrendo semadevidaLicenaAmbientaldeInstalao, a Polcia Militar Ambiental lavrou auto de infrao ambiental (fl. 74). Da documentao que acompanhou a diligncia, constatou-se que a Licena Ambiental de Operao exige que o sistema seja fechado, com a recirculao para a planta dos efluentes: "Os efluentes industriais so tratados atravs dos seguintes equipamentos: peneira, flotadores, lagoa anaerbica, lagoa facultativa, lagoa de maturao, recirculao para a planta industrial" (fl. 76).7 8. MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA Conclui-se, assim, que a empresa requerida vem descumprindo a licena ambiental, j que, conforme informado pela Polcia Militar Ambiental, o tratamento de efluente feito atravs de circuito aberto por meio de lagoas com lanamento do efluente para a rede pluvial. Todavia, a licena ambiental obriga a empresa a utilizar sistema fechado , por meio do qual os efluentes industriais devem recircular para a planta industrial, jamais para a rede pluvial e muito menos nas condies em que tm sido lanados. A Fatma informou ao Ministrio Pblico ter lavrado auto de infrao ambiental, "pelo descumprimento de condicionante da Licena Ambiental de Operao LAO n 5486/2011, de 22/08/2011, mediante lanamento de efluente tratado em rede de drenagem pluvial, com base em relatrio protocolado pelo empreendedor na Vigilncia Sanitria de Xanxer, em 14/2/2013" (fl. 115). Note-se que o sistema deveria ser fechado e confessadamente informavam os documentos dos autos, apresentados pela prpria empresa, que o efluente, com forte odor, com colorao escura, com pH alterado, foi lanado na rede pluvial. E vale lembrar que tal lanamento ocorreu minutos8 9. MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA antes de cair forte chuva na cidade de Xanxer, confirmando claramente o dolo do responsvel pela empresa em despejar os efluentes instveis e irregulares na galeria pluvial para "livrar-se" do problema da forma mais fcil, sem qualquer respeito ou considerao para com os vizinhos e para com o meio ambiente. Por fim, buscando melhor identificar a aflio vivenciada pelos moradores vizinhos da empresa requerida, a 2 Promotoria de Justia ouviu diversos moradores na qualidade de testemunhas. Pede-se que neste momento Vossa Excelncia folheie os autos (fls. 112-114 e 119-120) e constate pelos depoimentos a gravidade da situao. L se ver que h aproximadamente dois anos os moradores sofrem com os odores provenientes do lanamento de efluente industrial na rede pluvial pela Alcaplas. Para uma das testemunhas, "o cheiro semelhante a um cheiro de produto qumico; [...] "no se pode nem almoar "; "a Alcapls aproveita as noites para lanar algum resduo da produo no curso d'gua, o que acaba desembocando no rio Xanxer; [...] nos dias de9 10. MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA chuva, ' certo' que a Alcapls despeja dejetos no curso d'gua [...]" (fl. 112). Para outra testemunha, "os odores so qumicos, aparentando chorume, como o cheiro de caminho de lixo"; "temdiasqueinsuportvel"; "tem que fechar a casa e ter pacincia "; "[...] o cheiro provm de um lquido preto, podre, que lanado pela empresa na tubulao pluvial " [...] "se fizer um churrasco na parte aberta da casa, no se consegue almoar de jeito nenhum [...]" (fl. 113). Noutro depoimento, registrou a testemunha que "[...] o cheiro ocorre pelo menos duas vezes por semana, noite, alm de finais de semana (quase todo) e tambm quando chove ; o cheiro "de podre, de lixo, de esgoto, de carnia "; [...] a situao constrangedora, j que, quando recebe visita em sua casa, "o pessoal que vem de fora j pede que cheiro este [...]" (fls. 114). E, por fim, outra testemunha afirma que "[...] h aproximadamente 1 ou 2 anos a empresa Alcapls comeou a lanar um lquido escuro, parecido com o lquido que sai do caminho de lixo (chorume) na boca de lobo10 11. MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA em frente Alcapls; este lanamento realizado pela Alcapls provoca odores muito fortes na regio, a ponto de "no aguentarmos ficar em casa" e "chegar a dar dor de cabea" ; o odor tanto que o declarante no aguentou mais e chamou a Polcia Militar na data dos fatos (2 de fevereiro de 2013); depois da vistoria o problema "amenizou", mas ainda assim continua; [...]" (fl. 119). Veja, Excelncia, que a empresa requerida, dolosamente, utilizase dos finais de semana e feriados e, nos dias teis, do perodo noturno, justamente quando os rgos ambientais trabalham em regime de planto ou sobreaviso, com efetivo reduzido, para lanar seus efluentes na rede pluvial, a fim de evitar que a populao tenha a quem recorrer diante do cheiro "de podre, de lixo, de esgoto, de carnia", proveniente do lanamento. Alm disso, a empresa, demonstrando total indiferena com o meio ambiente e com o bem-estar da populao, aproveita os dias de chuva para a descarga do efluente na rede pluvial, tudo para evitar que a sua conduta seja flagrada, j que a maior quantidade de gua rapidamente apaga as provas do dano ambiental.11 12. MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA Importa destacar tambm que h aproximadamente dois anos a comunidade vem sofrendo com o mau-cheiro, geralmente calada (muitos tm medo at mesmo de comparecer Promotoria de Justia), pois temem as consequncias advindas de eventual reclamao, j que a empresa requerida emprega grande parte dos moradores do bairro Nossa Senhora de Lourdes. As testemunhas foram unnimes ao afirmar que "muitos dos vizinhos trabalham na Alcaplas ou dela dependem e, por este motivo, no reclamam com mais frequncia" (fl. 112); "a populao vizinha no quer falar sobre o assunto porque a fbrica emprega muita gente e muitos outros tm parentes que dependem da empresa" (fl. 113); "diversos vizinhos se sentem prejudicados, mas por medo de represlias ou por terem parentes empregados na Alcaplas, nunca se manifestam e tm medo de comparecer Promotoria de Justia para prestar depoimento" (fl. 119); "a opinio unnime que h um certo receio porque a empresa grande e porque a empresa poderia fechar perdendo muitos empregados e muitos dos vizinhos so empregados na empresa; as pessoas tm medo de se confrontar com o dono da empresa, de que ele saiba que fizeram a denncia" (fl. 120).12 13. MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA Convm lembrar que o Ministrio Pblico no est aqui buscando tutelar apenas conforto. As ruas do bairro Nossa Senhora de Lourdes e as residncias so invadidas pelo odor a ponto de nos finais de semana ser impossvel at mesmo receber amigos na parte externa das casas, como narrou uma testemunha. Por fim, importa destacar que, mesmo aps a constatao dos fatos ora narrados, em fevereiro do corrente ano, o problema enfrentado pelos moradores continua; no ms de julho de 2013, quando foram ouvidas, as testemunhas informaram que o cheiro continua "terrvel". Nesta situao no h outra alternativa que no recorrer ao Poder Judicirio para requerer medidas urgentes para impedir novos danos ambientais e para minimizar o sofrimento das vtimas.3. Fundamentos jurdicos 3.1. Conceito de poluio. Lei, doutrina e jurisprudncia A Lei n 6.938/81 dispe sobre a Poltica Nacional do Meio Ambiente e trata do tema ditando definies bsicas que devem ser13 14. MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA observadas em todo o pas. Em seu artigo 3, lana os conceitos de meio ambiente, degradao da qualidade ambiental e de poluio, verbis: Art. 3 - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: [...] III poluio, a degradao da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente : a) prejudiquem a sade, a segurana e o bem-estar da populao; b) criem condies adversas s atividades sociais e econmicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condies estticas ou sanitrias do meio ambiente; e) lancem matrias ou energia em desacordo com os padres ambientais estabelecidos ; Veja-se, portanto, que no basta que o lanamento de matrias ou energia esteja de acordo com os padres ambientais estabelecidos. Esta adequao tcnica cumpre apenas o disposto no art. 3, III, e, da Lei n 6.938/81. preciso mais: que a atividade no cause prejuzo sade e ao bem-estar da populao e no crie condies adversas s atividades sociais (art. 3, III, a e b, da Lei n 6.938/81). 14 15. MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA No caso dos autos, o que se v que o sistema ineficiente de tratamento de efluentes, com a descarga de efluente industrial na rede pluvial pela empresa requerida, a um s tempo causa prejuzo sade e ao bem-estar da populao local, alm de criar condies adversas s atividades sociais . Os autos narram, como se viu, o caso de diversos moradores que tm o direito ao bem-estar negado, que vem suas casas invadidas pelo odor ftido a ponto de "no aguentarmos ficar em casa" e "chegar a dar dor de cabea" (fl. 119). Na verdade, toda a populao de um bairro vem experimentando terrvel sensao de mal-estar e, como visto, as atividades tradicionais da comunidade (fazer churrasco ao domingo, tomar chimarro na parte aberta da casa, dentre outras) so totalmente prejudicadas pelo odor emanado da descarga de efluente da empresa na rede pluvial. Alm da Lei n 6.938/81, diversos outros diplomas legais tratam do assunto da mesma forma: no basta a conformao a parmetros tcnicos se ocorre qualquer forma de prejuzo sade e ao bem-estar da populao.15 16. MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA O Decreto n 76.389/75, por exemplo, ao tratar das medidas de preveno e controle da poluio industrial prev:Art. 1 - Para as finalidades do presente Decreto considera-se poluio industrial quaisquer alteraes das propriedades fsicas, qumicas ou biolgicas do meio ambiente, causadas por qualquer forma de energia ou substncia slida, lquida ou gasosa, ou combinao de elementos despejados pelas indstrias, em nveis capazes, direta ou indiretamente de: I - prejudicar a sade, a segurana e o bem-estar da populao;O art. 3, do Decreto Estadual n 14.250/1981, estabelece que degradao da qualidade ambiental a alterao das propriedades fsicas, qumicas e biolgicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de energia ou substncias slidas, lquidas ou gasosas, ou a combinao de elementos produzidos por atividades humanas ou delas decorrentes, em nveis capazes de direta ou indiretamente: - prejudicar a sade, a segurana e o bem estar da populao .16 17. MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA Os documentos acostados aos autos demonstram claramente que a empresa requerida, durante o tratamento de efluentes, realiza descarga de efluentes na rede pluvial, contrariando a Licena Ambiental de Operao n 5.486/2011, que, conforme a Fatma, estabelece que o sistema de tratamento de efluente deve ser em "circuito fechado" (fl. 115), ou seja, o efluente no pode ser lanado, mesmo que tratado, na rede pluvial e deve ser redirecionado para a prpria linha de produo novamente.17 18. MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA De mais a mais, para a doutrina de Direito Ambiental123, unnime o entendimento de que possvel a responsabilizao do poluidor pelos danos ambientais mesmo que detenha todas as licenas ambientais, j que, como esclarecido, os incisos e alneas do art. 3 da Lei n 6.938/81 so1 "A existncia de licenciamento ambiental e a observao dos limites de emisso de poluentes, bem como de outras autorizaes administrativas, no tero o condo de excluir aresponsabilidade pela reparao" (Steigleder, Annelise Monteiro. Responsabilidade Civil ambiental: as dimenses do dano ambiental no Direito Brasileiro. Porto Alegre : Livraria do Advogado Editora, 2004, p. 209). 2 "O autor do dano no se exime do dever de reparar, ainda que possua autorizaoadministrativa. oportuno reafirmar que a responsabilidade subjetiva, por culpa, limita a aplicao do regime da responsabilidade civil por dano ambiental, considerando que boa parte das condutas lesivas ao meio ambiente no so contra legem, pois contam, muitas vezes, com a autorizao administrativa requerida, o que elimina a existncia de culpa" (LEITE, Jos Rubens Morato. Dano ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial. So Paulo : Revista dos Tribunais, 2000. p. 132-133). 3 "Os danos ambientais decorrentes do exerccio de atividade operante em conformidade com a licena ambiental obtida devero ser reparados, posto que a existncia de licena ambientale o exerccio em conformidade com ela no so excludentes de responsabilidade consoante o melhor entendimento, exceto se provado que os danos provenham de foras alheias e que a atividade no provoque riscos de danos ambientais. A responsabilizao pelos danos cometidos ao ambiente objetiva, neste sentido basta o nexo causal e o dano ou risco de dano" (HENKES, Silviana Lcia;SANTOS, Denise Borges dos. Da (im)possibilidade de responsabilizao civil pelo dano ambiental causado por empreendimento operante em conformidade com a licena ambiental obtida. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 813, 24 set. 2005. Disponvel em: . Acesso em: 07 jul. 2008).18 19. MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA independentes e autnomos entre si. No caso dos autos, com maior razo a responsabilizao necessria, j que a licena foi descumprida.3.2. Dano ambiental extrapatrimonial Registra dis Milar que o dano ambiental pode se manifestar sob duas facetas, isto , seus efeitos podem alcanar no apenas o homem, 4mas tambm o ambiente que o cerca . Por isso que, embora o dano dessa natureza incida diretamente sobre o meio ambiente, em certos casos pode refletir-se material ou moralmente , sobre o patrimnio, os interesses ou a sade de determinada pessoa ou de um grupo de pessoas determinadas ou 5determinveis . Quando, alm de atingir o meio ambiente e seus recursos, o dano recaia sobre a esfera patrimonial ou extrapatrimonial de determinada pessoa ou grupo de pessoas, tem-se o chamado dano ambiental individual, tambm conhecido como dano ricochete ou reflexo.4 Direito do Ambiente: a gesto ambiental em foco. 5 ed. So Paulo: RT, 2007, p. 812. 5 Op. cit., p. 812.19 20. MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA Tambm Paulo Affonso Leme Machado, citando Francisco Jos Marques Sampaio, ensina que "'No apenas a agresso natureza que deve ser objeto de reparao, mas a privao, imposta coletividade, do equilbrio ecolgico, do bem-estar e da qualidade de vida que aquele recurso ambiental proporciona, em conjunto com os demais. Desse modo, a reparao do dano ambiental deve compreender, tambm, o perodo em que a coletividade ficar privada daquele bem e dos efeitos benficos que ele produzia, por si mesmo e em decorrncia de sua interao (art. 3, I, da Lei 6.938/81). Se a recomposio integral do equilbrio ecolgico, com a reposio da situao anterior ao dano, depender, pelas leis da natureza, de lapso de tempo prolongado, a coletividade tem direito subjetivo a ser indenizada pelo perodo que mediar entre a ocorrncia do dano e a integral reposio da situao 6anterior'' . No caso dos autos, os documentos apresentados comprovam cabalmente um grave e inadmissvel dano extrapatrimonial populao afetada, que nos ltimos dois anos vem experimentando a sensao de6 Direito Ambiental Brasileiro. 11 ed., Malheiros, So Paulo: 2003, p. 341.20 21. MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA impotncia diante do poder econmico da Alcaplas. Alm de sofrer com o odor ftido pelas ruas do bairro, a populao v-se s voltas com o inadmissvel mau cheiro invadindo suas residncias e limitando as atividades mais corriqueiras. No h dvida de que os danos extrapatrimoniais sofridos pela populao meream ser reparados, individual e coletivamente, com no mnimo a compensao pecuniria pelo sofrimento de tantos anos. A jurisprudncia vem admitindo a indenizao por danos morais por dano ambiental causado vizinhana: RESPONSABILIDADE POLUIOCIVIL.AMBIENTAL.AO DEVERINDENIZATRIA. DEINDENIZARCONFIGURADO. Demonstrado nos autos que a empresa r, no exerccio de suas atividades, produzia resduos - p - e rudos excessivos que atingiam residncia da parte autora. Dano moral configurado. Precedentes desta Corte. Ausente sistema de tarifamento, a fixao do montante indenizatrio ao dano extrapatrimonial est adstrita ao prudente arbtrio do juiz. Valor mantido[R$16.350,00].NEGARAMPROVIMENTOAPELAO. UNNIME. (Apelao Cvel N 70049377823, Dcima Cmara Cvel, Tribunal de Justia do RS, Relator: Jorge Alberto Schreiner Pestana, Julgado em 18/07/2013). 21 22. MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINARESPONSABILIDADE CIVIL. VAZAMENTO DE TANQUE DE COMBUSTVEL. POLUIO DO AR E CONTAMINAO DAS GUAS SUBTERRNEAS. DANO VIZINHANA. PRESENA DOS PRESSUPOSTOS INDENIZATRIOS. ART. 927 NICO C/C ART. 937 AMBOS DO CDIGO CIVIL. CISO DO PROCESSO. 1. PRELIMINAR DE NULIDADE DA SENTENA. No caso dos autos, o julgamento antecipado do feito realmente causou parcial cerceamento de defesa da parte autora. Portanto, a sentena deve ser parcialmente desconstituda para que os autos retornem origem, seja reaberta a instruo, e se realize a percia de modo a verificar se a alegada desvalorizao imobiliria realmente ocorreu, cindindo-se o processo. 2. RESPONSABILIDADE CIVIL. A prova dos autos revelou que a r, empresa do setor de distribuio de combustveis, negligenciou nos cuidados objetivos de manuteno de tanque reservatrio. O resultado dessa conduta foi o vazamento de combustvel, a poluio do ar, a contaminao das guas e danos vizinhana. Na lide dos autos, em particular, o vazamento de combustvel causou danos morais autora porque exps sua sade ao contato com elementos txicos, causou mal cheiro e mal estar (sensao de sufocamento). 3. INDENIZAO. Indenizao por danos morais, majorada para melhor adequar-seaodanoprovocado . RECURSO DA RDESPROVIDO. RECURSO DA AUTORA PROVIDO. SENTENA DESCONSTITUDAEMPARTE.(ApelaoCvelN22 23. MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA 70051698249, Dcima Stima Cmara Cvel, Tribunal de Justia doRS,Relator:ElaineHarzheimMacedo,Julgadoem23/05/2013).O Superior Tribunal de Justia tambm vem reconhecendo a possibilidade de indenizao dos danos extrapatrimoniais por leso ambiental, inclusive sob o prisma coletivo:AMBIENTAL, ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AO CIVIL PBLICA. PROTEO E PRESERVAO DO MEIO AMBIENTE. COMPLEXO PARQUE DO SABI. OFENSA AO ART. 535, II, DO CPC NO CONFIGURADA. CUMULAO DE OBRIGAES DE FAZER COM INDENIZAO PECUNIRIA. ART. 3 DA LEI 7.347/1985. POSSIBILIDADE. DANOS MORAIS COLETIVOS. CABIMENTO. 1. No ocorre ofensa ao art. 535 do CPC, se o Tribunal de origem decide,fundamentadamente,asquestesessenciaisaojulgamento da lide. 2. Segundo a jurisprudncia do STJ, a logicidade hermenutica do art. 3 da Lei 7.347/1985 permite a cumulao das condenaes em obrigaes de fazer ou no fazer e indenizao pecuniria em sede de ao civil pblica, a fim de possibilitar a concreta e cabal reparao do dano ambiental pretrito, j consumado. Microssistema de tutela coletiva. 23 24. MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA 3. O dano ao meio ambiente, por ser bem pblico, gera repercusso geral, impondo conscientizao coletiva sua reparao, a fim de resguardar o direito das futuras geraes a um meio ambiente ecologicamente equilibrado. 4. O dano moral coletivo ambiental atinge direitos de personalidadedogrupomassificado,sendodesnecessria a demonstrao de que a coletividade sinta a dor, a repulsa, a indignao, tal qual fosse um indivduo isolado. 5. Recurso especial provido, para reconhecer, em tese, a possibilidade de cumulao de indenizao pecuniria com as obrigaes de fazer, bem como a condenao em danos morais coletivos, com a devoluo dos autos ao Tribunal de origem para que verifique se, no caso, h dano indenizvel e fixao do eventual quantum debeatur (REsp n126.949-4, MG, rel. Eliana Calmon, j. 24/9/2013).4. Necessidade de liminar A atividade da Alcaplas Indstria de Plsticos Ltda. vem gerando poluio ambiental em nveis atualmente insuportveis pela populao local. Apesar de alertado sobre o fato, em reunio realizada na 2 Promotoria de Justia, o responsvel no demonstrou at o momento interesse em adequar24 25. MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA de maneira eficiente o sistema de tratamento de efluente, tanto que as testemunhas registraram em seus depoimentos que o mau-cheiro persiste. Ao contrrio, nos ltimos anos tm apenas aumentado a rea de depsito de lixo a cu aberto de sua empresa, como demonstram as imagens de satlite de fls. 123 e seguintes. A rea atual, em que lixo depositado a cu aberto, j chega a 2054 m. Nessa situao, no se pode mais exigir pacincia ou tolerncia da populao afetada pela empresa. No se pode admitir, por outro lado, que a empresa continue emitindo odores desagradveis enquanto alega se adequar lentamente. preciso postura enrgica que a obrigue, de imediato, a adotar providncias para adequao completa. Por isso a liminar que proba o lanamento de efluentes industriais na rede pluvial medida importante e urgente. Como se observa do auto de constatao de fls. 50-52, elaborado pela Polcia Militar Ambiental, e da autuao da Fatma (fl. 117) a empresa tem a obrigao de transformar em sistema fechado o25 26. MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA sistema de tratamento de efluentes, justamente para que no ocorra lanamentos na rede pluvial. tambm importante liminar que comine multa em caso de constatao de mau cheiro proveniente da empresa, a ser identificado pelo oficial de justia plantonista em caso de reclamao da vizinhana. Tal metodologia especialmente necessria no caso dos autos, porque alia a imparcialidade do oficial de justia com a possibilidade de rpida atuao em finais de semana e no perodo noturno, quando ocorrem com mais frequncia os odores. A verossimilhana das alegaes est bem caracterizada nos documentos juntados, que comprovam saciedade o mau cheiro produzido pela empresa com o lanamento de efluentes na rede pluvial, alm dos danos causados vizinhana. Note-se que so mais de dois anos que os moradores vm suportando o odor ftido, calados, amedrontados pelo poder econmico da empresa requerida. A situao tornou-se inadmissvel e requer a pronta interveno do Poder Judicirio, sob pena de perdurarem os danos ambientais causados e26 27. MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA gerar mais sofrimento nas famlias que residem nas proximidades. Aqui est demonstrando, por sua vez, o periculum in mora. H que se recordar que em casos como o dos autos prepondera sempre o interesse pblico sobre o particular. Em caso semelhante, o Tribunal de Justia Catarinense j chegou inclusive a determinar a suspenso das atividades da indstria: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AO CIVIL PBLICA. DECISO LIMINAR QUE DETERMINOU A SUSPENSO IMEDIATA DAS ATIVIDADES DA RECORRENTE EM VIRTUDE DE PRTICA DE POLUIO SONORA E PELA FALTA DE LICENAS AMBIENTAL E DE LOCALIZAO. ADEQUAO. PRESENTES OS PRESSUPOSTOS DO FUMUS BONI IURIS E DO PERICULUM IN MORA EM FAVOR DA COLETIVIDADE. SUPREMACIADOINTERESSEPBLICOAOPARTICULAR. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. Agravo de instrumento n. 2004.001655-7, de Joinville. Relator: Des. Vanderlei Romer. Ademais, convm ressaltar que em decorrncia da supremacia do interesse pblico, a coletividade no pode esperar para ver garantido seu direito a um meio ambiente equilibrado (art. 225 da27 28. MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA Carta Magna) e continuar sofrendo as consequncias da incria do representante legal da requerida. V-se, pois, conforme j demonstrado nesta inicial, que tudo est a recomendar o deferimento da medida liminar como garantia, no somente da preservao da qualidade do meio ambiente, mas, sobretudo, da sade e do bem estar da populao residente no local e tambm da ordem pblica. Convm ressaltar que o Ministrio Pblico est atento tambm funo social da empresa e aos problemas decorrentes da suspenso das atividades da fbrica, razo pela qual no requer, desde logo, a suspenso de suas atividades, embora a jurisprudncia o recomende. A liminar para proibir lanamento de efluentes e o mau cheiro, com pesada multa cominatria, parece ser, diante da realidade da Alcaplas e da postura de seu scio-gerente (de desafiar as autoridades administrativas, como Polcia Militar, Polcia Ambiental, Vigilncia Sanitria Municipal e Fatma), a melhor alternativa para proteger de imediato o meio ambiente na regio.28 29. MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA5. Concluso e pedidos Ante o exposto, o MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA requer: a) o recebimento, registro e autuao da presente ao civil pblica, com a publicao do edital de que trata o art. 94 da Lei n 8.078/90, aplicvel por fora de art. 117 e do art. 21 da Lei da Ao Civil Pblica; b) a concesso de liminar para proibir a requerida AlcaplasIndstria de Plstico Ltda. de gerar mau cheiro ou de lanar efluentes industriais, direta ou indiretamente, na rede pluvial do Municpio de Xanxer, sob pena de multa por constatao de R$ 50.000,00 ou multa diria de R$ 5.000,00 (o que na prtica, dependendo da infrao, mostrar-se mais eficiente); c) a citao da requerida para, querendo, apresentar a defesa que entender pertinente; d) a produo de todos os meios de prova admitidos, notadamente a prova pericial, depoimento pessoal, prova documental e testemunhal, se for necessrio; 29 30. MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA e) ao final a confirmao da liminar para condenar a requerida a instalar definitivamente sistema eficiente de tratamento de efluentes e odores, com a cessao de lanamento de efluente, direta ou indiretamente, na rede pluvial do Municpio; f) a condenao da requerida ao pagamento de indenizao pelos danos extrapatrimoniais ao Fundo de Reconstituio de Bens Lesados, no valor de R$ 100.000,00, e ao pagamento de indenizao pelos danos individuais homogneos suportados pelos vizinhos que se habilitarem, no valor mnimo de R$ 5.000,00 por residncia, nos termos do art. 91 e seguintes da Lei n 8.078/90, aplicvel por fora do art. 21 da Lei da Ao Civil Pblica; g) a condenao da requerida em custas, despesas processuais e honorrios advocatcios (estes conforme art. 4 do Decreto Estadual n 2.666/04, em favor do Fundo de Recuperao de Bens Lesados do Estado de Santa Catarina). D-se causa o valor de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais). Xanxer, 9 de outubro de 201330 31. MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINAEduardo Sens dos Santos Promotor de Justia31