acórdão de sunderland desaposentação

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EMENTA: PREVIDENCIÁRIO. RENÚNCIA DE APOSENTADORIA CONCEDIDA PARA OBTENÇÃO DE OUTRA MAIS VANTAJOSA (DESAPOSENTAÇÃO). PRECEDENTES DA TURMA RECURSAL DE SERGIPE. RECURSO PROVIDO. VOTO 1. RELATÓRIO: Trata-se de recurso inominado interposto pela parte autora contra a sentença na qual foi julgado improcedente o seu pedido de desaposentação. Nas razões do recurso, o recorrente sustenta, em síntese, que se desaposentação é um direito do segurado que retorna a atividade remunerada cujo objetivo é possibilitar a aquisição de benefício mais vantajoso, ele que se aposentou por tempo de contribuição em 20/02/1986 (anexo 8) e continuou a trabalhar após a concessão desse benefício. Por fim, defende que não há óbice legal à desaposentação, posto que se trata de renúncia à aposentadoria e não a sua revisão. Em complemento, alega que não é necessária a devolução das contribuições já percebidas, haja vista que não há afetação do equilíbrio financeiro e atuarial, pois somente agregará ao novo cálculo o tempo de contribuição efetivamente vertido sem a invalidação das contribuições passadas. 2. FUNDAMENTAÇÃO: A controvérsia estabelecida nos autos cinge-se em aferir a possibilidade de a parte autora renunciar à aposentadoria já concedida no Regime Geral da Previdência Social, seguida da imediata implantação de novo jubilamento, no mesmo regime, em que se considere, para fins de apuração do valor do novo benefício, também, além do tempo de serviço e contribuições que ensejaram a concessão do primeiro amparo, o tempo de serviço e contribuições vertidas à Previdência Social concomitantemente à percepção dos proventos do benefício que se pretende renunciar, sem necessidade de devolução dos proventos recebidos a esse título. Particularmente, filio-me ao entendimento no sentido de ser possível a desaposentação, sendo, porém, condição essencial a devolução dos valores percebidos por força do benefício renunciado. Nesse sentido, são os seguintes precedentes: PREVIDENCIÁRIO. PERMANÊNCIA EM ATIVIDADE PÓS APOSENTADORIA. PEDIDO DE "DESAPOSENTAÇÃO". INVIABILIDADE. - Afastada eventual

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Page 1: Acórdão de sunderland desaposentação

EMENTA: PREVIDENCIÁRIO. RENÚNCIA DE APOSENTADORIA JÁ

CONCEDIDA PARA OBTENÇÃO DE OUTRA MAIS VANTAJOSA

(DESAPOSENTAÇÃO). PRECEDENTES DA TURMA RECURSAL DE SERGIPE.

RECURSO PROVIDO.

VOTO

1. RELATÓRIO:

Trata-se de recurso inominado interposto pela parte autora contra a sentença na qual foi

julgado improcedente o seu pedido de desaposentação.

Nas razões do recurso, o recorrente sustenta, em síntese, que se desaposentação é um

direito do segurado que retorna a atividade remunerada cujo objetivo é possibilitar a

aquisição de benefício mais vantajoso, ele que se aposentou por tempo de contribuição

em 20/02/1986 (anexo 8) e continuou a trabalhar após a concessão desse benefício.

Por fim, defende que não há óbice legal à desaposentação, posto que se trata de renúncia

à aposentadoria e não a sua revisão. Em complemento, alega que não é necessária a

devolução das contribuições já percebidas, haja vista que não há afetação do equilíbrio

financeiro e atuarial, pois somente agregará ao novo cálculo o tempo de contribuição

efetivamente vertido sem a invalidação das contribuições passadas.

2. FUNDAMENTAÇÃO:

A controvérsia estabelecida nos autos cinge-se em aferir a possibilidade de a parte

autora renunciar à aposentadoria já concedida no Regime Geral da Previdência Social,

seguida da imediata implantação de novo jubilamento, no mesmo regime, em que se

considere, para fins de apuração do valor do novo benefício, também, além do tempo de

serviço e contribuições que ensejaram a concessão do primeiro amparo, o tempo de

serviço e contribuições vertidas à Previdência Social concomitantemente à percepção

dos proventos do benefício que se pretende renunciar, sem necessidade de devolução

dos proventos recebidos a esse título.

Particularmente, filio-me ao entendimento no sentido de ser possível a desaposentação,

sendo, porém, condição essencial a devolução dos valores percebidos por força do

benefício renunciado. Nesse sentido, são os seguintes precedentes:

PREVIDENCIÁRIO. PERMANÊNCIA EM ATIVIDADE PÓS APOSENTADORIA.

PEDIDO DE "DESAPOSENTAÇÃO". INVIABILIDADE. - Afastada eventual

Page 2: Acórdão de sunderland desaposentação

alegação de cerceamento de defesa, uma vez que desnecessária, no presente caso,

oportunidade para produção de provas. - A sentença do Juízo a quo respeitou as normas

do art. 285-A do Código de Processo Civil, mencionando decisão anteriormente

prolatada, com dados que a identificassem, além de comportar a devida formação de

lide, permitida por referido artigo. - A parte autora não deseja meramente desfazer-se de

seu benefício, sem implicação decorrente ("desaposentação"). Sua postulação é

condicional e consubstancia pseudo abandono de beneplácito, já que pretende a

continuidade de todos efeitos legais advindos da primígena aposentação, os quais serão

suportados pela Administração Pública. - O art. 18, § 2º, da Lei 8.213/91 obsta,

expressamente, ao aposentado que tornar à ativa, a concessão de outros favores que não

a reabilitação profissional e o salário-família (Lei 9.528/97. Ainda, art. 181-B, Decreto

3.048/99, incluído pelo Decreto 3.265/99). - Ad argumentandum, ainda que admitida a

viabilidade da desaposentação, condição sine qua non para validade da proposta seria a

devolução de tudo que se recebeu enquanto durou a aposentadoria. - Matéria preliminar

rejeitada .Apelação desprovida.

(AC 00039254520094036183, DESEMBARGADORA FEDERAL VERA

JUCOVSKY, TRF3 - OITAVA TURMA, e-DJF3DATA:04/05/2012.)

PREVIDENCIÁRIO. TEMPO DE SERVIÇO POSTERIOR À APOSENTADORIA.

UTILIZAÇÃO PARA REVISÃO DO BENEFÍCIO. DESAPOSENTAÇÃO, SEM

DEVOLUÇÃO DOS VALORES PERCEBIDOS. IMPOSSIBILIDADE. - Para

utilização do tempo de serviço e respectivas contribuições levadas a efeito após a

aposentadoria originária, impõe-se a desaposentação do segurado, em relação a esta, e a

devolução de todos os valores percebidos, sob pena de manifesto prejuízo ao sistema

previdenciário para, só então, ser concedido novo benefício com a totalidade do tempo

de contribuição. PRECENTE: AC 361709/PE; Primeira Turma; Desembargador Federal

EMILIANO ZAPATA LEITÃO (Substituto); Data Julgamento 12/03/2009. - Remessa

oficial provida.

(REO 00068993620104058100, Desembargador Federal Sérgio Murilo Wanderley

Queiroga, TRF5 - Segunda Turma, DJE - Data::09/06/2011 - Página::290.)

Contudo, este não é o entendimento consolidado no âmbito desta Turma Recursal, que

assim se posiciona, seguindo o entendimento do Superior Tribunal de Justiça - STJ:

“A hipótese de renúncia à aposentadoria anterior não encontra qualquer vedação no

ordenamento jurídico, quer de ordem constitucional quer legal, sendo legítima a

pretensão da parte autora ao pretender perceber, por conseguinte, benefício que lhe é

mais benéfico, inclusive, diante do caráter alimentar dos benefícios previdenciários.

Por outro lado, a renúncia à aposentadoria anterior possui natureza desconstitutiva,

gerando efeito ex nunc, sendo, portanto, descabida a devolução de parcelas recebidas a

esse título, inclusive, porque estas foram pagas de forma devida.

Acresça-se que não se reconhece aqui a percepção cumulativa de aposentadorias, nem a

hipótese de benefícios recebidos de forma concomitante, mas sim de modo sucessivo.

Por tal razão, não se vislumbra qualquer prejuízo para o INSS, já que a aposentadoria

Page 3: Acórdão de sunderland desaposentação

anterior foi concedida quando o segurado já reunia todos os requisitos para fruir daquele

direito.

Não há que se falar em violação ao ato jurídico perfeito que concedeu aposentadoria ao

autor, pois o art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal objetiva justamente resguardar

direitos, entre os quais o do segurado contra atos do Poder Público, não podendo servir

de pretexto para lesar direitos individuais.

Com efeito, a renúncia à aposentadoria, para fins de aproveitamento do tempo de

contribuição e concessão de novo benefício, seja no mesmo regime ou em regime

diverso, não importa em devolução dos valores percebidos, "pois enquanto perdurou a

aposentadoria pelo regime geral, os pagamentos, de natureza alimentar, eram

indiscutivelmente devidos" (REsp 692.628/DF, Sexta Turma, Relator o Ministro Nilson

Naves, DJU de 5.9.2005).

AGRAVO REGIMENTAL. PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA. DIREITO DE RENÚNCIA.

CABIMENTO. POSSIBILIDADE DE UTILIZAÇÃO DE CERTIDÃO DE TEMPO DE

CONTRIBUIÇÃO PARA NOVA APOSENTADORIA.

1. Não compete ao relator determinar o sobrestamento de recurso

especial em virtude do reconhecimento de repercussão geral da matéria

pelo Supremo Tribunal Federal, tratando-se de providência a ser

avaliada quando do exame de eventual recurso extraordinário a ser

interposto, nos termos previstos no artigo 543-B do Código de

Processo Civil.

2. O entendimento desta Corte Superior de Justiça é no sentido de se

admitir a renúncia à aposentadoria objetivando o aproveitamento do

tempo de contribuição e posterior concessão de novo benefício,

independentemente do regime previdenciário que se encontra o segurado.

3. Agravo regimental a que se nega provimento.

(STJ. AgRg no REsp 1196222/RJ. DJ 14/09/2010).

PREVIDENCIÁRIO. RENÚNCIA À APOSENTADORIA. DEVOLUÇÃO DE VALORES.

DESNECESSIDADE.

1. A renúncia à aposentadoria, para fins de aproveitamento do tempo

de contribuição e concessão de novo benefício, seja no mesmo regime ou

em regime diverso, não importa em devolução dos valores percebidos,

"pois enquanto perdurou a aposentadoria pelo regime geral, os

pagamentos, de natureza alimentar, eram indiscutivelmente devidos"

(REsp 692.628/DF, Sexta Turma, Relator o Ministro Nilson Naves, DJU de

5.9.2005). Precedentes de ambas as Turmas componentes da Terceira

2. Recurso especial provido.

(STJ. Ministro Jorge Mussi. Rel. 1113682 / SC. DJ 23/02/2010)

Para não ir de encontro ao entendimento da maioria dos componentes, portanto,

adoto o entendimento sedimentado na Turma Recursal, ressalvado o meu

entendimento pessoal acerca da matéria em apreço.

3. DISPOSITIVO:

Page 4: Acórdão de sunderland desaposentação

Ante todo o exposto, conheço do recurso e lhe DOU PROVIMENTO, condenando o

INSS a cancelar o benefício de aposentadoria por tempo de contribuição deferida em

20/02/1986 (carta de concessão) desde a data do ajuizamento desta ação, qual seja,

07/03/2012, concedendo ao autor, desde então, novo benefício de aposentadoria,

considerando, além do tempo de contribuição utilizado no benefício anteriormente

concedido, o período contributivo posterior à sua concessão, compreendendo o lapso de

01/07/1986 a 30/04/1991, 01/05/1991 a 31/08/1994, 01/02/1995 a 19/06/1996,

05/08/1996 a 03/11/1998, 03/12/1998 a 02/07/2001 e 02/08/2001 a 07/03/2012 (CTPS e

CNIS em anexos).

Eventuais diferenças a serem apuradas pelo setor de cálculos judiciais do juízo de

origem, nos termos do manual de cálculos da Justiça Federal, procedendo-se aos

descontos dos valores percebidos a título da aposentadoria que lhe antecedeu e

observado o valor de alçada dos JEF’s.

Sem custas. Condeno a parte recorrida, vencida, em honorários advocatícios no

percentual de 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação, observada os termos da

Súmula 111, do STJ.

É como voto.

GILTON BATISTA BRITO

Juiz Federal Relator

ACÓRDÃO

A Turma Recursal dos JEF´s da Seção Judiciária do Estado de Sergipe, por maioria,

deu provimento ao recurso.

Participaram da sessão os juízes Marcos Antonio Garapa de Carvalho (impedido),

Gilton Brito Batista e Edmilson da Silva Pimenta.