desaposentação 2

78
 UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA EDITE KULKAMP PEREIRA WARMLING A DESAPOSENTAÇÃO COMO DIREITO DO SEGURADO DO REGIME GERAL DA PREVIDÊNCIA SOCIAL. Tubarão 2010

Upload: antonio-zampoli

Post on 13-Oct-2015

22 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA EDITE KULKAMP PEREIRA WARMLING

    A DESAPOSENTAO COMO DIREITO DO SEGURADO DO REGIME GERAL DA PREVIDNCIA SOCIAL.

    Tubaro

    2010

  • EDITE KULKAMP PEREIRA WARMLING

    A DESAPOSENTAO COMO DIREITO DO SEGURADO DO REGIME GERAL DA PREVIDNCIA SOCIAL

    Monografia apresentada ao Curso de Graduao em Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial obteno do ttulo de Bacharel em Direito.

    Orientador: Prof. Helder Teixeira de Oliveira

    Tubaro

    2010

  • EDITE KULKAMP PEREIRA WARMLING

    A DESAPOSENTAO COMO DIREITO DO SEGURADO DO REGIME GERAL DA PREVIDNCIA SOCIAL

    Esta monografia foi julgada adequada obteno do ttulo de Bacharel em Direito e aprovada em sua forma final pelo Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina.

    Tubaro, 08 de junho de 2010.

    _____________________________________________

    Prof. e Orientador Helder Teixeira de Oliveira, Esp. Universidade do Sul de Santa Catarina

    _______________________________________

    Prof. Madilini Marih Klkamp Gurgacg, Esp. Universidade do Sul de Santa Catarina

    _______________________________________

    Prof. Erivelton Alexandre Mendona Fileti, Esp. Universidade do Sul de Santa Catarina

  • Dedico este trabalho ao meu esposo e

    companheiro, Jaison, por toda compreenso e

    amor que a mim dedicou e pela pacincia

    demonstrada, durante esta longa jornada, nas inmeras horas que estive ausente do lar.

    A minha me, Ins, que est sempre me

    guiando, que muita falta me faz nesta vida

    terrena, mas que a todo momento foi lembrada

    por mim, nos mais difceis, bem como, nos de

    vitria.

    A meu cunhado, Sandro, que me deu

    incentivos e sbios conselhos, na hora de optar

    pelo tema deste trabalho e durante seu

    desenvolvimento.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo aos meus pais, Joo Batista e Ins (in memria), pelo exemplo de vida e educao que sempre me foram passados, e que sempre esperaram, no s de mim, mais dos

    demais filhos, que segussemos seus conselhos para que um dia fssemos vitoriosos na vida, e

    tenho plena convico que hoje, j podem sentir orgulho desta filha que muito batalhou e jamais esqueceu suas origens e a educao que recebeu.

    Especialmente, a minha me, Ins, que mesmo ausente nesta vida terrena, pude

    sentir sua presena, sua fora, em cada momento de luta e vitria.

    Agradeo ao meu esposo, Jaison, que desde o incio desta batalha esteve ao meu

    lado, e acima de tudo, foi um grande amigo, companheiro, que sozinho teve que manter todos

    os encargos financeiros do lar. Sempre compreensivo nos inmeros momentos em que estive

    ausente, tendo que abdicar de sua companhia em prol dos estudos, bem como por todo amor

    dispensado a mim. Este agradecimento uma forma de pedir perdo pela ausncia e dizer a

    ele: que foi pensando em ns!

    Agradeo a minha irm, Hlia, e ao meu cunhado, Sandro, por terem me

    oportunizado praticar os conhecimentos adquiridos durante o curso de graduao, e que at

    hoje perdura, sendo que a cada dia o contato com a realidade prtica contribui cada vez mais na minha vida profissional.

    Agradeo, por fim, ao Prof. Helder Teixeira de Oliveira, por ter aceito o convite

    de me orientar na elaborao deste trabalho, mesmo com seu escasso tempo disponvel, muito

    contribuiu para que o objetivo desta monografia, fosse atingido.

  • RESUMO

    O presente trabalho monogrfico se props anlise das controvrsias existentes com relao

    a possibilidade de desaposentao no Regime Geral da Previdncia Social, onde se identificou

    quais os direitos dos segurados deste regime e quais procedimentos devero ser adotados para

    que possam obter uma aposentadoria mais vantajosa. Na elaborao da presente monografia foi utilizada a pesquisa bibliogrfica e empregado o mtodo de abordagem dedutivo, tendo em

    vista que, por meio de uma viso geral da universalidade de entendimentos doutrinrios e

    jurisprudenciais, que so as preposies, se buscou uma concluso especfica acerca do tema proposto com relao ao direito do segurado aposentado, renunciar sua aposentadoria, e

    requerer uma mais vantajosa. Quanto ao mtodo de procedimento, foi adotado o comparativo, ao analisar as controvrsias (elementos) existentes, os posicionamentos doutrinrios (dados, elementos), os precedentes jurisprudenciais (fatos, acontecimentos) sobre o instituto da desaposentao, e comparar os entendimentos contrrios e favorveis. Assim, a partir do

    desenvolvimento do tema, chegou-se concluso de que, muito embora, no possua, no

    momento, previso legal expressa, sendo que a desaposentao fruto de uma construo

    doutrinria e jurisprudencial e, considerando as vrias controvrsias existentes sobre o assunto, pode-se considerar a desaposentao como direito dos segurados do Regime Geral da

    Previdncia Social, inclusive, porque no h lei que proba. Porm, para que os segurados no

    tenham que devolver os valores at ento recebidos na antiga aposentadoria, tero que recorrer

    at o Superior Tribunal de Justia, tendo em vista que o INSS e os julgados de primeira instncia esto negando, reiteradamente, estes pedidos de desaposentao, e os de segunda

    instncia reconhecem o direito de renunciar a aposentaria para obter outra com renda mais

    vantajosa, desde que haja a devoluo dos valores. importante que o segurado apresente o clculo da renda do benefcio que ir requerer, para comprovar ser a nova aposentadoria mais

    vantajosa que a anterior.

    Palavras-chave: Previdncia Social. Aposentadoria. Renncia (Direito). Dignidade.

  • ABSTRACT

    The following monographic research proposes the analysis of the existing disagreements

    regarding the possibility of unretirement from the General Regime of the Social Security,

    where the rights of the people who are insured by this system and the procedures that shall be

    adopted, in order to guarantee a more advantageous retirement, were identified. During the

    elaboration of the present monographic, a bibliographical research was used and the deductive

    approach method was employed, taking into account that, by means of a general view of

    doctrinaire and jurisprudential understandings' universality, which are the prepositions, a specific conclusion about the proposed subject was pursued, regarding the right of the retired insured to abdicate his retirement and request a more advantageous one. As compared to the

    procedure method, the comparative was adopted by analyzing the existing controversies

    (elements), the doctrinaire positioning (data, elements), the jurisprudential precedents (facts, events) about the unretirement institution, and comparing the favorable and discordant understandings. That way, as of the development of the subject, a conclusion has been made that, notwithstanding, there is currently no expressed legal prevision. Being the unretirement a

    product of a doctrinaire and jurisprudential construction and considering the several existing discordances related to the subject, the unretirement of the General Regime of the Social Security for the insured person is possible, also because there is no law forbidding it.

    However, for the money previously received at the old retirement not to be returned, the

    insured person will have to appeal to the Superior Court of Justice, taking into account that

    INSS and the first instance are denying repeatedly these unretirement requests, and the ones at

    the second instance recognize the right to abdicate retirement in order to obtain another one

    with a more advantageous endowment, since the return of values happens. It is important that

    the insured person presents the benefit's endowment bill he will request, in order to prove if

    the new retirement is more advantageous than the previous one.

    Key-words: Social welfare. Retirement. Resignation (Right). Dignity.

  • LISTA DE SIGLAS

    CCJC Comisso de Constituio e Justia e de Cidadania

    CNIS cadastro Nacional de Informaes Sociais

    CSSF Comisso de Seguridade Social e Famlia

    DER Data da entrada do requerimento administrativo

    DIB Data inicial do benefcio

    FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Servio

    INSS Instituto Nacional do Seguro Social

    PBC Perodo Bsico Contributivo

    RGPS Regime Geral da Previdncia Social

    RMI - Renda Mensal Inicial

    RPCP Regime de Previdncia Complementar Privada

    RPM Regime de Previdncia Militar

    RPPS Regime Prprio da Previdncia Social

    STJ Superior Tribunal de Justia

  • SUMRIO

    1 INTRODUO..................................................................................................................10 2 SEGURIDADE SOCIAL E SEUS RAMOS....................................................................12 2.1ASSISTNCIA SOCIAL..................................................................................................13 2.2 SADE.............................................................................................................................13 2.3 PREVIDNCIA SOCIAL................................................................................................14 2.3.1 Princpios jurdicos relevantes ao tema.....................................................................15 2.3.1.1 Princpio da legalidade................................................................................................16

    2.3.1.2 Princpio da dignidade humana...................................................................................17

    2.3.1.3 Princpio da universalidade da cobertura e do atendimento.......................................18

    2.3.1.4 Princpio da filiao obrigatria.................................................................................19

    2.3.1.5 Princpio do carter contributivo................................................................................19

    2.3.1.6 Princpio do equilbrio financeiro e atuarial...............................................................20

    2.3.1.7 Princpio do carter alimentar dos benefcios previdencirios...................................21

    2.3.2 Regimes da Previdncia Social...................................................................................22 2.3.2.1 Regime Geral da Previdncia Social..........................................................................22

    2.3.3 Prestaes previdencirias..........................................................................................24 2.3.3.1 Servios em espcies..................................................................................................24

    2.3.3.2 Benefcios em espcies...............................................................................................25

    3 APOSENTAO...............................................................................................................26 3.1 ESPCIES DE APOSENTADORIA...............................................................................27 3.1.1 Aposentadoria por invalidez.......................................................................................27

    3.1.2 Aposentadoria por idade.............................................................................................28

    3.1.3 Aposentadoria por tempo de contribuio................................................................30

    3.1.4 Aposentadoria especial................................................................................................31

    3.2 CONCEITO DE RENNCIA .........................................................................................32 4 DESAPOSENTAO.......................................................................................................34 4.1 EFEITOS PRTICOS......................................................................................................37 4.2 ASPECTOS CONTROVERSOS......................................................................................40

    4.2.1 Argumentos doutrinrios e precedentes jurisprudenciais contrrios desaposentao....................................................................................................................42

  • 4.2.1.1 Aposentadoria direito irrenuncivel e indisponvel..................................................42

    4.2.1.2 Devoluo dos valores.................................................................................................44

    4.2.1.3 Efeitos ex tunc..............................................................................................................46

    4.2.1.4 Enriquecimento ilcito..................................................................................................47

    4.2.1.5 Falta de previso legal.................................................................................................48

    4.2.1.6 Necessidade de anuncia da Previdncia Social..........................................................49

    4.2.2 Argumentos doutrinrios e precedentes jurisprudenciais favorveis desaposentao....................................................................................................................50 4.2.2.1 Aposentadoria, direito renuncivel e disponvel..........................................................50

    4.2.2.2 No devoluo dos valores..........................................................................................53

    4.2.2.3 Efeito ex nunc..............................................................................................................55

    4.2.2.4 Afronta ao princpio da dignidade da pessoa humana.................................................57

    4.2.2.5 Respeito ao princpio da irrepetibilidade dos alimentos..............................................58

    4.2.2.6 Descaracterizao de enriquecimento ilcito...............................................................59

    4.2.2.7 Princpio da legalidade ...............................................................................................60

    4.2.2.8 Inexistncia de prejuzo a Previdncia Social ou a terceiros.......................................62 4.2.2.9 Inexistncia de cumulao de benefcios.....................................................................64

    4.3 POSIO DEFENDIDA COM RELAO DESAPOSENTAO COMO DIREITO DO SEGURADO DO REGIME GERAL DA PREVIDNCIA SOCIAL.............65 4.4 PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO E JUDICIAL..................................................68

    5 CONCLUSO.....................................................................................................................72 REFERNCIAS.....................................................................................................................74

  • 10

    1 INTRODUO

    Em consequncia das desigualdades sociais o pedido precoce da aposentadoria

    pelos segurados da Previdncia Social bastante comum, com o objetivo de obter um complemento sua renda, onde os leva a obter a concesso de um benefcio, muitas vezes,

    apenas no valor de um salrio mnimo, em virtude da pouca idade e a incidncia do fator

    previdencirio no clculo da renda. O segurado aposentado, nestas condies, ao se deparar

    com o valor irrisrio da aposentadoria concedida, se v obrigado a continuar no mercado de

    trabalho, e, na qualidade de segurado obrigatrio da Previdncia Social, no lhe resta

    alternativa a no ser continuar contribuindo, sem poder obter qualquer benefcio, alm de

    salrio famlia e da prestao de servio atravs da reabilitao profissional.

    Em decorrncia do problema acima citado, surge a possibilidade da

    desaposentao e, apesar de ainda no possuir previso legal expressa, por ser fruto de

    construo doutrinria e jurisprudencial, e, embora existam muitas controvrsias a respeito do tema, o que vem dividindo doutrinadores e magistrados, criando decises jurisprudenciais dspares, cada vez mais a desaposentao vem ganhando campo no Direito Previdencirio

    Brasileiro.

    Salienta-se que o tema a ser abordado nesta monografia est relacionado, apenas, a

    possibilidade de desaposentao no mesmo regime previdencirio, qual seja, no Regime Geral da Previdncia Social, apesar de tambm ser possvel em regimes diversos.

    Assim sendo, o presente trabalho de concluso de curso tem como objetivo principal analisar as controvrsias existentes com relao possibilidade de desaposentao

    no Regime Geral da Previdncia Social, para assim, identificar quais os direitos que possuem

    os segurados deste regime em relao a esta possibilidade e qual procedimento dever ser

    adotado para obterem uma aposentadoria mais vantajosa. Com este propsito, ser demonstrada a possibilidade do segurado aposentado

    renunciar seu benefcio, por outro mais vantajoso, computando o tempo de contribuio anterior e posterior aposentadoria; tambm ser demonstrado se negar ao segurado o direito

    a desaposentao infringe o princpio da dignidade humana, e ainda, se para que o tempo da

    aposentadoria renunciada possa ser reutilizado na nova aposentadoria, necessria a

    devoluo dos valores anteriormente recebidos e se esta devoluo infringe o princpio da

    irrepetibilidade dos alimentos, entre outras questes.

  • 11

    Para tanto, este trabalho monogrfico ser desenvolvido em trs captulos, por

    meio de pesquisa bibliogrfica e emprego do mtodo de abordagem dedutivo. A pesquisa foi

    realizada atravs de anlise e verificao de literaturas relativas ao tema, doutrinas de Direito

    Previdencirio, bem como, de artigos especializados, buscando coletar informaes tcnicas,

    apresentadas nos dois primeiros captulos, para que se possa refletir conscientemente acerca

    do tema proposto e dos posicionamentos apresentados ao final do trabalho.

    Espera-se, portanto, contribuir para o esclarecimento e amadurecimento do tema,

    no intuito de demonstrar que, no apenas o segurado do Regime Geral da Previdncia Social

    possa saber do direito que possui hoje, com relao a desaposentao, perante tanta controvrsia e pela falta de previso legal, mas ainda, para que os estudiosos e juristas tambm possam entender e se posicionar com relao ao tema.

    Inicialmente, no primeiro captulo, estudar-se- a Seguridade Social e seus ramos,

    bem como, alguns princpios jurdicos relevantes ao tema e, ainda, falar-se- a respeito do Regime Geral da Previdncia Social e das prestaes previdencirias.

    Posteriormente, no segundo captulo, sero vistas as espcies de aposentadorias

    existentes no Regime Geral da Previdncia Social e o conceito de renncia, com relao a

    estas aposentadorias.

    Por fim, o terceiro captulo, adentrar na seara da desaposentao, estudando seu

    conceito e quais seus efeitos prticos. Em seguida, sero analisadas as controvrsias existentes

    sobre a desaposentao, os posicionamentos doutrinrios e jurisprudenciais contrrios e favorveis em torno da questo, para ento, demonstrar ao segurado do Regime Geral da

    Previdncia Social qual o direito que possui, tendo em vista a falta de previso legal e tantas

    controvrsias a respeito do tema da desaposentao. Ser demonstrado, tambm, qual

    procedimento administrativo e judicial que deve ser adotado por estes segurados para obterem xito ao requererem a renncia de sua aposentadoria com o intuito de obter outra mais

    vantajosa. de se ressaltar, entretanto, que no constitui objetivo, deste trabalho, esgotar tais

    assuntos, mas proporcionar meios esclarecedores e contribuir para o amadurecimento do tema,

    no intuito de que, no apenas o segurado do Regime Geral da Previdncia Social possa saber

    do direito que possui hoje, com relao a possibilidade de desaposentao, tento em vista a falta de previso legal, como tambm, para que os estudiosos e juristas passem a entender, refletir e se posicionar com relao ao tema.

  • 12

    2 SEGURIDADE SOCIAL E SEUS RAMOS

    Os indivduos esto, queiram ou no, sempre sujeitos a riscos sociais, tais como um acidente do trabalho, a morte, doenas, velhice, entre outros.

    Dentre esses indivduos, segundo Castro e Lazzari, esto aqueles que se ocupam

    em alguma atividade laborativa remunerada. Por outro lado, existem aqueles que so carentes,

    que no possuem renda fixa, como os desempregados, os invlidos que nunca puderam

    trabalhar; os idosos que nunca contriburam para a Previdncia, talvez por desconhecimento,

    no possuindo direito aposentadoria, alm do benefcio do LOAS no caso de serem carentes.

    Existem tambm, aquelas pessoas que so, ou se encontram temporariamente doentes,

    necessitando de medicamentos ou da prestao de servios mdicos. 1

    A Seguridade Social financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta,

    nos termos do artigo 195 da Constituio Federal, mediante recursos provenientes da Unio,

    dos Estados e dos Municpios e de contribuies sociais. 2

    Conforme Martinez, a Seguridade Social tem como objetivo, ensejar os meios de subsistncia pessoa humana nas hipteses e nveis definidos na lei, como, oferecer garantias

    de sobrevivncia e, em outros casos, oferecer o mnimo de atendimento sade. 3

    Assim, a Seguridade Social foi criada para dar proteo a todos os indivduos que

    estejam em cada uma das situaes acima elencadas, sendo que foi dividida em trs ramos: Previdncia Social, Assistncia Social e Sade.

    Desta forma tem-se que Seguridade Social a denominao que se d a tendncia

    mundial de aglutinar, num s conceito, a Assistncia Social, a Sade e a Previdncia Social.4

    Os trs ramos (Assistncia Social, Sade e Previdncia Social) so custeados pelos aportes chamados de contribuies sociais, somados aos recursos oramentrios dos entes

    pblicos. 5

    1 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, Joo Batista. Manual de Direito Previdencirio. 5 ed.. So Paulo: LTR, 2004, p. 43-44.

    2 PAIXO, Floriceno, PAIXO Luiz Antnio C.A Previdncia Social em Perguntas e Respostas. 41. ed., So Paulo. IOB Thonson, 2005, p.17.

    3 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de Direito Previdencirio. Tomo I Noes de Direito Previdencirio. 2. ed. So Paulo: LTR, 2001. p.179.

    4 PAIXO; PAIXO, op. cit., p.15.

  • 13

    2.1 ASSISTNCIA SOCIAL

    A Assistncia Social protege as pessoas carentes, pessoas com necessidades

    bsicas de sobrevivncia humana, destinando-lhes benefcios, independentemente de

    contribuies.

    Assim dispe o artigo 203 da Constituio Federal de 1988: Art. 203 - A assistncia social ser prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuio seguridade social, e tem por objetivos: I - a proteo famlia, maternidade, infncia, adolescncia e velhice; II - o amparo s crianas e adolescentes carentes; III - a promoo da integrao ao mercado de trabalho; IV - a habilitao e reabilitao das pessoas portadoras de deficincia e a promoo de sua integrao vida comunitria; V - a garantia de um salrio mnimo de benefcio mensal pessoa portadora de deficincia e ao idoso que comprovem no possuir meios de prover prpria manuteno ou de t-la provida por sua famlia, conforme dispuser a lei.6

    Isto significa dizer que ter acesso Assistncia Social todo e qualquer indivduo

    que necessitar deste servio sem qualquer obrigao de contribuir com o sistema.

    Porm, segundo Martinez, depende da capacidade econmico-financeira do

    promotor, pois a Seguridade Social direcionada para as necessidades mnimas, atendendo

    pessoas idosas ou menores carentes. 7

    Logo, verifica-se que a Assistncia Social foi criada para atender as pessoas com

    maior carncia de estrutura social, independentemente de contribuio, com o intuito de

    proporciona-lhes melhores condies de sobrevivncia.

    2.2 SADE

    A Sade um direito de toda a populao, sem obrigatoriedade de contribuio

    direta, todavia, um dever do Estado, conforme dispe a Constituio Federal de 1988, em seu

    artigo 196, que assim esclarece: A sade direito de todos e dever do Estado, garantido

    5 CASTRO; LAZZARI, loc. cit.

    6 BRASIL. (Constituio 1988). Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988, 11. ed. So Paulo. Revistas dos Tribunais, 2006. p.116.

    7 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de Direito Previdencirio. Tomo II Previdncia Social. 2. ed. So Paulo: LTR, 2003. p.47.

  • 14

    mediante polticas sociais e econmicas que visem reduo do risco de doena e de outros

    agravos e ao acesso universal e igualitrio s aes e servios para sua promoo, proteo e

    recuperao. 8

    No mesmo sentido o entendimento de Castro e Lazzari que assim mencionam: A proteo a sade, por seu turno, tambm no objeto das polticas de previdncia social. Caracteriza-se pela concesso gratuita de servios e medicamentos a qualquer pessoa que deles necessite, ou seja, da mesma forma que ocorre com a assistncia social, se torna inexigvel a contribuio por boa parte dos beneficirios.9

    Segundo Velloso, Rocha e Baltazar Jnior, as aes e servios de sade no se

    limitam mera assistncia mdica, visando tambm adoo de medidas preventivas relativas

    ao bem estar destas populaes (tais como, sanitrias, nutricionais, educacionais e ambientais). 10

    Assim, tem-se que a ao governamental visando o controle e a fiscalizao da

    produo de medicamentos, alimentos ou mesmo a execuo de aes e saneamento bsico,

    tambm so formas de assistncia a sade, direito de todos e dever do Estado.

    2.3 PREVIDNCIA SOCIAL

    Conforme citado acima, a Assistncia Social destinada a pessoas carentes e a

    Sade um direito de toda a populao, e ambas independem de contribuio.

    Porm, a Previdncia Social, por sua vez, diferente da Assistncia Social e da

    Sade, possui carter contributivo e filiao obrigatria para aqueles indivduos que exeram

    atividade remunerada, para que o equilbrio financeiro e atuarial seja preservado.11 A Constituio Federal de 1988, em seu artigo 201 conceitua Previdncia Social da

    seguinte maneira: Art. 201 - A previdncia social ser organizada sob a forma de regime geral, de carter contributivo e de filiao obrigatria, observados critrios que preservem o equilbrio financeiro e atuarial, e atender, nos termos da lei, a: I - cobertura dos eventos de doena, invalidez, morte e idade avanada; II - proteo maternidade, especialmente gestante;

    8 BRASIL, 2006. p.112.

    9 CASTRO; LAZZARI, loc. cit.

    10 VELLOSO, Andrei Pitten; ROCHA, Daniel Machado da; BALTAZAR JNIOR, Jos Paulo; Comentrios Lei do Custeio da Seguridade Social. ed. 2005., So Paulo: Livraria do Advogado, 2005, p. 37.

    11 BRASIL, op. cit., p. 114.

  • 15

    III - proteo ao trabalhador em situao de desemprego involuntrio; IV - salrio-famlia e auxlio-recluso para os dependentes dos segurados de baixa renda; V - penso por morte do segurado, homem ou mulher, ao cnjuge ou companheiro e dependentes, observado o disposto no 2. 12

    Segundo a Lei 8.213/91, a Previdncia Social, mediante contribuio, tem por fim

    assegurar aos seus beneficirios meios indispensveis de manuteno, por motivo de

    incapacidade, desemprego involuntrio, idade avanada, tempo de servio, priso ou morte

    daqueles de quem dependiam economicamente. 13

    Por sua vez, Castro e Lazzari enfatizam que a Previdncia Social de carter

    contributivo, obrigatrio para aqueles indivduos que exeram atividade remunerada e,

    facultativo para aqueles que optem pelo pagamento. 14

    Ibrahim destaca que a Previdncia Social definida pela Carta Magna, como

    direito social, por estar ao lado da educao, da sade, moradia, segurana, proteo a

    maternidade. 15

    E acrescenta que: O Direito Social em geral visto como um conjunto de prerrogativas da sociedade no sentido de manter-se um nvel de vida adequado, com a

    participao do Estado em prol da coletividade, como previsto na prpria Constituio. 16

    Portanto, atravs dos conceitos citados, pode-se concluir que a Previdncia Social

    tem por objetivo estabelecer um sistema de proteo social para harmonizar meios imprescindveis de sustento ao segurado e a sua famlia, mantido com recursos dos

    trabalhadores e toda a sociedade, com base no princpio da solidariedade, nos casos em que o

    segurado for atingido pela contingncia social, ou seja, doena, desemprego, velhice, maternidade ou morte, onde a populao ativa deve sustentar a inativa.

    2.3.1 Princpios jurdicos relevantes ao tema

    12 BRASIL, 2006, loc. cit.

    13 PAIXO; PAIXO, 2005, p.16.

    14 CASTRO; LAZZARI, loc. cit.

    15 IBRAHIM, Fbio Zambitte. Desaposentao: O Caminho Para Uma Nova Aposentadoria. 3. ed. Niteri,RJ: Impetus, 2009. p.11.

    16 IBRAHIM, loc. cit.

  • 16

    Para dar efetividade Previdncia Social, preservando o bom funcionamento e

    organizao, existem princpios jurdicos que devem ser respeitados. No entendimento de Velloso, Rocha e Baltazar Jnior, princpios [...] so normas

    que orientam a realizao de algo da melhor maneira possvel, mas no com imposies

    definitivas, devendo considerar as possibilidades fticas e jurdicas. 17 Portanto, vale mencionar alguns princpios, no de maneira detalhada e extenuante,

    de forma a exaurir os princpios constitucionais da Seguridade Social, mas to somente

    aqueles de bastante relevncia ao tema, que so:

    2.3.1.1 Princpio da legalidade

    O princpio da legalidade com relao aos indivduos comuns vem expresso na

    Constituio Federal, em seu art. 5, II, que enuncia que "ningum ser obrigado a fazer ou

    deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei". 18

    J para a Administrao Pblica, este princpio esta esculpido no artigo 37 da

    Constituio Federal, que diz que a Administrao Pblica dever obedecer, entre outros, o

    princpio da legalidade19, o que vem sendo entendido que a Administrao somente poder

    fazer o que a lei expressamente dizer.

    Ocorre que geralmente a Administrao Pblica por desconhecer a correta

    aplicao do princpio da legalidade, apenas considera que a ela compete somente fazer o que

    a lei autoriza, ignorando que, por outro lado, ao administrado, no caso, ao segurado, tudo

    possvel, desde que no proibido pela lei.

    Esta prerrogativa da Administrao acaba tornando-se uma restrio, segundo

    Ibrahim, que assim refere-se: O Princpio da legalidade, na mesma medida em que consiste em uma prerrogativa do Poder Pblico, impondo os ditames legais aos administrados, igualmente traduz-se em evidente restrio, pois a Administrao Pblica somente poder impor as restries que estejam efetivamente previstas em lei.20

    17 VELLOSO; ROCHA; BALTAZAR JNIOR, 2005, p. 26.

    18 BRASIL, 2006.p.19.

    19 Ibid., p. 42.

    20 IBRAHIM, 2009, p.71.

  • 17

    Como bem entende Martinez [...] o Poder Legislativo deixa a critrio da Administrao a sua atribuio, da decretos comuns e regulamentadores extrapolarem a lei ou

    contraditarem-na. 21

    2.3.1.2 Princpio da dignidade humana

    Sobre o princpio da dignidade humana, a Constituio Federal em seu artigo 1,

    inciso III, traz como fundamento do Estado Democrtico de Direito22.

    Moraes conceitua este princpio dizendo que a dignidade da pessoa humana o

    direito vida, intimidade, honra, imagem, entre outros23 , ou seja, so os direitos inerentes personalidade, onde pode-se incluir, o direito a uma vida digna, percebendo uma

    aposentadoria relevante e vantajosa. A dignidade humana um valor mximo, supremo, de valor moral e tico. Otero

    afirma que o mesmo : Dotado de uma natureza sagrada e de direitos inalienveis, afirma-se

    como valor irrenuncivel e cimeiro de todo o modelo constitucional, servindo de fundamento

    do prprio sistema jurdico: O Homem e a sua dignidade so a razo de ser da sociedade, do Estado e do Direito.24

    Segundo Mello: Na interpretao dos direitos humanos o intrprete deve ter em mente, como bem maior a ser protegido, a dignidade do ser humano, de tal sorte que qualquer norma que viole ou colida com os preceitos fundamentais de respeito dignidade humana, deve ser afastada por incompatibilidade tico-jurdica com os elevados princpios esculpidos na Declarao dos Direitos Humanos, princpios estes recepcionados pela nossa Constituio Cidad de 1988. 25

    Logo, da dignidade da pessoa humana deflui o respeito pelas condies

    fundamentais de liberdade e igualdade.

    21 MARTINEZ, 2003, p.104.

    22 BRASIL, 2006, loc. cit.

    23 MORAES, Alexandre de. Constituio do Brasil interpretada e legislao constitucional. 6. ed. atual. So Paulo: Atlas, 2006. p. 129.

    24 OTERO, Paulo. Legalidade e administrao pblica. O Sentido da vinculao administrativa juridicidade. Lisboa: Almedina, 2003. p. 254.

    25 MELO, Nehemias Domingos de. O princpio da dignidade humana e a interpretao dos Direitos Humanos. Boletim Jurdico, Uberaba/MG, 2005.p.221.Disponvel em:

    < http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=1779 > Acesso em: 9 jan. 2010.

  • 18

    2.3.1.3 Princpio da universalidade da cobertura e do atendimento

    O princpio da universalidade tem por objetivo a cobertura e atendimento absolutos, ou seja, proteger toda a clientela, no somente aqueles que contribuem com a previdncia, mas a todos de que delas necessitem. 26

    Neste princpio so considerados todos aqueles que forem atingidos pela

    contingncia social que lhes retira a capacidade de trabalhar ou acarreta aumento de despesas,

    ocorrendo desequilbrio no oramento familiar, a fim de manter a subsistncia de todas as

    pessoas necessitadas de atendimento e proteo da previdncia.27

    Para Castro e Lazzari, a universalidade do atendimento significa: a entrega das

    aes, prestaes e servios de seguridade social a todos os que necessitem, tanto em termos

    de previdncia social (obedecido o princpio contributivo), como no caso da sade e da assistncia social.28

    Pode-se dizer que a universalidade dividida em duas tonalidades especificas: uma

    para aqueles que contribuem com a previdncia e outra que diz respeito a assistncia social e

    sade, para amparar aqueles que no possuem capacidade contributiva.

    Neste sentido o que esclarece Velloso, Rocha e Baltazar Jnior, ao citarem que,

    quando se cogita da Previdncia Social, espcie notoriamente contributiva do gnero

    seguridade social, no se prescinde da necessria participao econmica do segurado, sem a

    qual o sistema no seria vivel, razo pela qual estamos em frente de uma universalidade

    mitigada. 29

    E continuam desta vez, se referindo assistncia social, dizendo que: j no que diz respeito a assistncia social, como esta tcnica concebida para amparar aqueles que no

    tem capacidade contributiva, sua linha de atuao voltada, prioritariamente para as famlias

    que enfrentam o grau mximo de indigncia. 30

    26 CASTRO; LAZZARI, 2004, p. 86.

    27 CASTRO; LAZZARI, 2004, p. 86.

    28 Ibid, p. 87.

    29 VELLOSO; ROCHA; BALTAZAR JNIOR, 2005, p. 28.

    30 Ibid., p. 29.

  • 19

    Assim, este princpio possui abrangncia geral, todos os residentes no pas faro

    jus a seus benefcios, desde que respeitado os requisitos exigidos para cada benefcio, inclusive os estrangeiros e aqueles que no contribuem com a Previdncia Social.31

    2.3.1.4 Princpio da filiao obrigatria

    A filiao obrigatria para que haja o efeito desejado pelo Estado em garantir ao indivduo os eventos protegidos pela Previdncia.

    Segundo Castro e Lazzari: A filiao somente se aplica aos indivduos que exeram atividade vinculada ao regime geral previdencirio que lhes garanta a subsistncia, estando, a partir da insero na parcela da populao economicamente ativa, a salvo da perda ou reduo dos ganhos decorrentes da atividade laborativa, nas hipteses de eventos cobertos pela norma previdenciria. 32

    Para Martinez, a maioria das pessoas no est acostumada poupana, sendo que a

    obrigatoriedade das contribuies vai ao encontro a esta natureza. 33

    Portanto, a solidariedade no espontnea, o seguro social imposto, com exceo

    nos casos daquelas pessoas que no exercem atividade laborativa e resolvem contribuir

    espontaneamente, ou seja, facultativamente, para continuarem a pertencer clientela protegida e, desta forma, poder receber benefcios.

    2.3.1.5 Princpio do carter contributivo

    A Constituio Federal em seu artigo 201, diz que: A Previdncia Social ser

    organizada sob a forma de regime geral, de carter contributivo e de filiao obrigatria,

    observados critrios que preservem o equilbrio financeiro e atuarial, e atender, nos termos

    da lei. 34

    Isto significa que ser custeado, tambm, atravs de contribuies sociais.

    A legislao ordinria, Lei 8.213 de 91 estabelece em seu artigo 1. que:

    31 CASTRO; LAZZARI, 2004, p. 88.

    32 Ibid, p. 93.

    33 MARTINEZ, 2001, p.133.

    34 BRASIL, 2006, loc. cit.

  • 20

    Art. 1 A Previdncia Social, mediante contribuio, tem por fim assegurar aos seus beneficirios meios indispensveis de manuteno, por motivo de incapacidade, desemprego involuntrio, idade avanada, tempo de servio, encargos familiares e priso ou morte daqueles de quem dependiam economicamente.35

    Destarte, no h direito benefcio aquele que no contribuinte do regime, por

    ausncia de filiao.

    Castro e Lazzari assim se posicionam sobre o assunto: As prestaes previdencirias, todavia, guardam estreita relao com as contribuies que, uma vez no recolhidas, podem acarretar o indeferimento, pelo INSS, de requerimento de benefcios, quando a responsabilidade de realizar os recolhimentos caiba ao prprio segurado. 36

    Deste modo, quem no contribuir com a Previdncia em nmeros de contribuies

    exigidas para o benefcio requerido, certamente ter seu pedido indeferido pelo INSS.

    2.3.1.6 Princpio do equilbrio financeiro e atuarial

    Este princpio surgiu a partir da Emenda Constitucional 20/98, expresso no artigo

    201, caput da Constituio Federal de 1988 e segundo Castro e Lazzari, significa que: A previdncia Social dever, na execuo da poltica previdenciria, atentar sempre para a relao entre custeio e pagamento de benefcios, a fim de manter o sistema em condies superavitrias, e observar as oscilaes da mdia etria da populao, bem como, sua expectativa de vida, para a adequao dos benefcios a estas variveis. 37

    Castro e Lazzari, com base neste princpio citam que o legislador, atravs da Lei

    9.876/99 incluiu o fator previdencirio, resultante das variveis demogrficas e atuarias

    relativas expectativa de vida, comparada idade de jubilao. 38 Com o advento da Lei 9.876/99, alm da instituio do fator previdencirio, o

    clculo do valor dos benefcios, at ento feito pela mdia das 36 ltimas contribuies, foi

    substitudo pela mdia dos 80% maiores salrios de contribuio do segurado de todo o

    perodo contributivo, que multiplicado pelo fator previdencirio apenas nas aposentadorias

    por tempo de contribuio, sendo que nas aposentadorias por idade a aplicao do fator

    facultativa, sendo aplicado somente se for vantajoso ao segurado e nas aposentadorias

    35 PAIXO; PAIXO, 2005, p.205.

    36 CASTRO; LAZZARI, 2004, p. 94.

    37 CASTRO; LAZZARI, loc. cit.

    38 Ibid., p. 95.

  • 21

    especiais e por invalidez no h a aplicao do fator previdencirio. Assim a nova frmula

    com a aplicao do fator previdencirio:

    F = TC a ( 1 + Id + TC a ) = ES 100

    SB= MF RMI=SB Cf

    Onde:

    F = fator previdencirio

    Es = expectativa de sobrevida no momento da aposentadoria

    Tc = tempo de contribuio at o momento da aposentadoria

    Id = idade no momento da aposentadoria

    a = alquota de contribuio correspondente a 0,31 (20% da empresa+11% do segurado).

    SB= Salrio de benefcio

    RMI= Renda mensal inicial

    Cf= Coeficiente de clculo (para cada benefcio existe um percentual prprio). 39

    Esse novo critrio de clculo objetiva estimular as pessoas a se aposentarem mais tarde, instituindo por via transversa a idade mnima para a aposentadoria. 40

    Em verdade, a aplicao do fator previdencirio prejudica gravemente aqueles trabalhadores que entraram mais cedo para o mercado de trabalho e, consequentemente, tero

    direito aposentadoria mais cedo, possuindo menos idade e expectativa de vida maior.

    2.3.1.7 Princpio do carter alimentar dos benefcios previdencirios

    39 CASTRO; LAZZARI, 2004, p. 446.

    40 Ibid., p. 442.

  • 22

    Por fim, o princpio do carter alimentar dos benefcios previdencirios significa

    que o valor pago aos segurados atravs dos benefcios possui carter de natureza alimentar, o

    que determinante para a preservao da dignidade da pessoa humana.

    Para Rodrigues ao conceituar a natureza dos alimentos diz que alimentos toda

    prestao fornecida a uma pessoa, em dinheiro, ou em espcies, para que esta possa atender as

    necessidades da sua vida.41 Atravs deste conceito, tem-se que os valores que foram

    recebidos mensalmente pelo segurado quando aposentado, a ttulo de aposentadoria, so

    exclusivamente de natureza alimentar, visto que se destina a prover o sustento e subsistncia

    daquele. Por consequncia, visto que as prestaes recebidas da previdncia so de carter

    alimentar, so elas irrepetveis, ou seja, impossvel a devoluo de qualquer parcela recebida licitamente.

    Inquestionvel que os alimentos servem para garantir a subsistncia da pessoa que

    os recebe e, por tal razo, no podem ser devolvidos.

    2.3.2 Regimes da Previdncia Social

    Existem no modelo brasileiro, basicamente, 04 (quatro) regimes de Previdncia Social, quais sejam: Regime Geral da Previdncia Social (RGPS), Regime Prprio da Previdncia Social (RPPS), Regime de Previdncia Militar (RPM) e o Regime de Previdncia Complementar Privada (RPCP), sendo que este ltimo cuida de previdncia privada e facultativa, e os 03 (trs) primeiros so modalidades de Previdncia Pblica e obrigatria.

    Importante destacar que este presente trabalho se ocupar, exclusivamente, na

    abordagem do tema, do Regime Geral da Previdncia Social (RGPS), visto que o objetivo desta monografia envolve o direito do segurado frente s controvrsias existentes,

    relacionadas desaposentao, apenas, no mbito deste regime, que o maior de todos, por

    possuir grande alcance social e amplitude.

    2.3.2.1 Regime Geral da Previdncia Social

    41 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Direito de Famlia. 27. ed. So Paulo; Saraiva. 2002, p. 418.

  • 23

    O Regime Geral da Previdncia Social (RGPS) tem suporte constitucional a partir do artigo 201 da Constituio Brasileira e , o de maior grandeza e alcance social, uma vez

    que envolve todos os trabalhadores da iniciativa privada e ainda, os servidores pblicos

    ocupantes de cargo em comisso, sem vnculo efetivo com a Unio, Autarquias, e Fundaes

    Pblicas Federais.

    O RGPS o basilar Regime da Previdncia Social, conforme o doutrinador

    Tavares enfatiza: O Regime Geral um sistema previdencirio pblico, de filiao obrigatria para todos os trabalhadores da iniciativa privada, urbanos, rurais, para os servidores que no possuam vnculo efetivo com a administrao pblica, e de vinculao facultativa para demais pessoas que no exeram atividade laboral reconhecida por lei. 42

    Castro e Lazzari assim discorrem sobre o regime em questo: Principal regime previdencirio na ordem interna, o RGPS abrange obrigatoriamente todos os trabalhadores da iniciativa privada, ou seja, os trabalhadores que possuem relao de emprego regida pela Consolidao das Leis do Trabalho (empregados urbanos, mesmo os que estejam prestando servios a entidades paraestatais, os aprendizes e os temporrios), pela Lei n. 5.589/73 (empregados rurais) e pela Lei n. 5.859/72 (empregados domsticos); os trabalhadores autnomos, eventuais ou scios gestores e prestadores, titulares de firmas individuais ou scios gestores e prestadores de servio; trabalhadores avulsos; pequenos produtores rurais e pescadores artesanais trabalhando em regime de economia familiar; e outras categorias de trabalhadores [...]43

    Como visto, ampla a abrangncia do Regime Geral da Previdncia Social.

    Martinez conceitua este regime da seguinte forma: Compreende descrio da relao jurdica de filiao e de inscrio, alm de estabelecer o regime contributivo dos diferentes segurados obrigatrios ou facultativos e o das empresas sujeitas exao securitria, urbanas ou rurais. Abarca, como atividade-fim, o plano de prestaes, ou seja, benefcios e servios postos disposio dos destinatrios. 44

    Por decorrncia, pode-se dizer que a Previdncia resume-se como um direito

    social, mas to somente destinados queles que efetivamente contribuem para o sistema, aos

    demais, ainda que desfavorecidos, restam-lhes a assistncia social.45

    Logo, este regime destina-se a propiciar os meios indispensveis sobrevivncia

    da pessoa humana, especificamente o segurado da previdncia.

    42 TAVARES, Marcelo Leonardo. Previdncia e Assistncia Social. Rio de Janeiro: Lmen Jris, 2003, p.227.

    43 CASTRO; LAZZARI, 2004, p. 98-99.

    44 MARTINEZ, 2003, p. 54.

    45 MARTINEZ, loc. cit.

  • 24

    2.3.3 Prestaes previdencirias

    As prestaes do RGPS so protegidas constitucionalmente no art. 201, com o

    objetivo de atender s necessidades bsicas da populao.46 Martinez, com relao s prestaes, conclui que tem escopo definidor de sua

    natureza: propiciar os meios de subsistncia s pessoas previamente definidas em tese,

    contidas em clientela genericamente descrita na norma e quando de circunstncias

    deflagradoras da proteo. 47

    No que diz respeito aos benefcios e servios, Martinez entende que so obrigaes

    de dar e fazer, compromissos do rgo gestor e crdito exigvel do beneficirio, sendo que as

    de dar (benefcios) so representadas em dinheiro, protegidas pela ideia de valor, passvel de quantificar e as de fazer, atravs de servios, padronizada segundo a capacidade instalada no

    local de atendimento. 48

    Deste modo, tem-se que as prestaes so divididas em servios e benefcios em

    espcies, conforme ser exposto individualmente.

    2.3.3.1 Servios em espcies

    Segundo Castro e Lazzari, servios so prestaes previdencirias de natureza

    imaterial postas disposio dos segurados e dos dependentes do Regime Geral da

    Previdncia Social. Podem ser divididas em servio social, habilitao e reabilitao

    profissional. 49

    Servio Social so todas as informaes e esclarecimentos sobre os direitos sociais

    dos segurados, como efetuar a inscrio junto Previdncia Social, procedimentos com relao s percias mdicas, intervenes tcnicas no caso de tratamento social, ajuda material, bem como pesquisa social.50

    46 BRASIL, 2006, loc. cit.

    47 Ibid, p.619.

    48 MARTINEZ, loc. cit.

    49 CASTRO; LAZZARI, 2004, p. 593.

    50 CASTRO; LAZZARI, loc. cit.

  • 25

    Pela acepo de Castro e Lazzari, servio social um processo de soluo dos

    problemas que emergirem da sua relao com a Previdncia Social.51

    Por sua vez, a habilitao e reabilitao profissional, conforme o artigo 89 da Lei

    8.213 de 1991: Devero proporcionar ao beneficirio incapacitado parcial ou totalmente para o trabalho, e s pessoas portadoras de deficincia, os meios para a (re)educao e de (re)adaptao profissional e social indicados para participar do mercado de trabalho e do contexto em que vive.52

    A habilitao e reabilitao so espcies distintas, aquela prepara o inapto, pessoa

    que nunca exerceu atividade em decorrncia de sua incapacidade fsica ou deficincia

    hereditria, para que possa exerc-la; e esta, a pessoa que teve aptido em algum momento de

    sua vida e perdeu por motivo de enfermidade ou acidente, sendo que compreende o

    fornecimento de aparelho de prtese, rtese, instrumentos de auxlio de locomoo e at o

    transporte do acidentado do trabalho.53

    2.3.3.2 Benefcios em espcies

    Na concepo de Castro e Lazzari, os benefcios previstos pelo Regime Geral da

    Previdncia Social RGPS possuem caractersticas distintas e regras prprias de

    concesso.54

    Assim, benefcios so valores pagos em dinheiro aos segurados e dependentes,

    amparados constitucionalmente, no podendo ser inferior ao salrio mnimo, salvo aqueles

    que no substituem o rendimento do trabalho, como o auxlio-acidente (50% da RMI) e o salrio-famlia. 55

    Os benefcios se dividem em duas classes: benefcios para segurados e benefcios

    para dependentes do segurado. Os benefcios para os dependentes so: a penso por morte e

    auxlio-recluso; e para os segurados so: auxlio-doena, auxlio-acidente, salrio-

    maternidade e salrio-famlia, sendo que, quanto a estes benefcios no haver um maior

    aprofundamento, por no ser relevante ao tema.

    51 CASTRO; LAZZARI, loc. cit.

    52 PAIXO; PAIXO, 2005, p.233.

    53 Ibid, p.234

    54 CASTRO; LAZZARI, op.cit., p. 505.

    55 Ibid, p. 506.

  • 26

    Por fim, ainda com relao aos benefcios prestados pela previdncia aos

    segurados, inclui-se neste rol a aposentadoria, que a mais importante das prestaes, sendo

    que se dividem em 04 (quatro) espcies, quais sejam: por invalidez, por tempo de contribuio, por idade e aposentadoria especial, que sero abordadas detalhadamente no

    captulo seguinte, j que o tema deste presente trabalho concentra-se neste tipo de prestao.

  • 26

    3 APOSENTAO

    A aposentadoria uma das vrias prestaes previdencirias, podendo-se dizer que

    a principal delas, to almejada por todo trabalhador, por substituir em carter permanente, duradouro, os rendimentos do segurado, garantindo sua subsistncia e a dos seus

    dependentes.1

    A Constituio Federal garante, a todo trabalhador, o direito aposentadoria, em

    seu artigo 7, inciso XXIV. Vejamos: Art. 7 - So direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, alm de outros que visem melhoria de sua condio social: [...] XXIV aposentadoria 2

    Tavares define a aposentadoria, bem como, os demais benefcios da Previdncia

    Social como sendo: Prestaes pecunirias, devidas pelo Regime Geral de Previdncia Social aos segurados, destinadas a prover-lhes a subsistncia, nas eventualidades que os impossibilite de, por seu esforo, auferir recursos para isto, ou a reforar-lhes aos ganhos para enfrentar os encargos de famlia, ou amparar, em caso de morte ou priso, os que dele dependiam economicamente. 3

    Por sua vez, Martinez a conceitua da seguinte maneira: Considerada no universo das contingncias protegidas pelo seguro social-contribuio por certo tempo-cobertura do cio digno do idoso, benefcio do incapaz e indenizaes decorrentes da assuno dos riscos de doenas ocupacionais, na proteo social, a aposentadoria benefcio previdencirio.4

    A aposentadoria direito subjetivo do segurado, ou seja, desde que tenha preenchido os requisitos para sua concesso, depois de cumprir todas as exigncias, o

    segurado possui a faculdade de requer-la ou no, uma vez que esteve obrigado a contribuir,

    por imposio do Estado.5

    O segurado possui, tambm, aps se aposentar, a faculdade de viver no cio ou de

    retornar a atividade, com exceo da aposentadoria por invalidez.

    1 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, Joo Batista. Manual de Direito Previdencirio. 5 ed.. So Paulo: LTR, 2004, p. 505.

    2 BRASIL. (Constituio 1988). Constituio da Repblica Federativa do Brasil, 11. ed. So Paulo. Revistas dos Tribunais. 2006.p.27.

    3TAVARES, Marcelo Leonardo. Previdncia e Assistncia Social. Rio de Janeiro: Lmen Jris, 2003,p.87. 4 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de Direito Previdencirio. 3. ed. So Paulo: LTR, 2005. p.31.

    5 Ibid, p. 32.

  • 27

    Porm, se retornar atividade, obrigatoriamente, ter que voltar a contribuir com a

    Previdncia, e na qualidade de segurado obrigatrio, no lhe restar alternativa, a no ser

    continuar contribuindo, sem poder obter qualquer benefcio, alm de salrio-famlia e da

    prestao social atravs da reabilitao profissional, segundo o pargrafo 2 do art. 18 da lei

    8.213/91 (redao dada pela lei 9.528/97) que assim dispe: 2 O aposentado pelo Regime Geral de Previdncia SocialRGPS que permanecer em atividade sujeita a este Regime, ou a ele retornar, no far jus a prestao alguma da Previdncia Social em decorrncia do exerccio dessa atividade, exceto ao salrio-famlia e reabilitao profissional, quando empregado."6

    Assim, o segurado aposentado que voltar a atividade no possui a opo de

    contribuir ou no, obrigatrio, sem direitos outros que no reabilitao profissional e ao

    salrio-famlia.

    seguir ser explanado sobre as espcies de aposentadorias existentes no Regime Geral da Previdncia Social.

    3.1 ESPCIES DE APOSENTADORIA

    No mbito do RGPS h quatro tipos de aposentadorias: aposentadoria por

    invalidez, aposentadoria por idade, aposentadoria por tempo de contribuio e a aposentadoria

    especial, que esto todas previstas na Lei 8.213/91.

    3.1.1 Aposentadoria por invalidez

    A concesso da aposentadoria por invalidez depende da comprovao da condio

    de incapacidade do segurado, por meio de percia mdica a cargo do INSS, sendo que esta

    incapacidade poder ser temporria ou permanente e, ao ser constatado que o segurado est

    apto para o trabalho, o benefcio ser cessado. Nos termos do artigo 42 da lei 8.213/91:

    6 BRASIL. Lei n. 8.213 de 24 de julho de 1991. Dispe sobre os Planos de Benefcios da Previdncia Social e d outras providncias. Disponvel em: Acesso em 27 mar. 2010.

  • 28

    A aposentadoria por invalidez, uma vez cumprida a carncia exigida, ser devida ao segurado que, estando ou no em gozo de auxlio-doena, for considerado incapaz e insuscetvel de reabilitao para o exerccio de atividade que lhe garanta a subsistncia, e ser-lhe- paga enquanto permanecer nesta condio. 7

    Para a concesso desta aposentadoria, alm da condio de incapaz, tambm,

    exigido que o segurado tenha contribudo, no mnimo, com 12 (doze) contribuies mensais, com exceo da incapacidade por acidente de trabalho, a qual no se exige carncia.

    A Previdncia Social, com o intuito de verificar a continuidade da incapacidade,

    periodicamente realiza percias mdicas ou tentativas de reabilitao profissional, estando o

    segurado obrigado a submeter-se aos exames mdicos a cargo da previdncia, sob pena de

    suspenso do benefcio, com exceo de tratamento cirrgico e transfuso de sangue, sendo

    estes facultativos. 8

    A renda da aposentadoria por invalidez corresponde a 100% (cem por cento) do salrio-de-benefcio, sem a aplicao do fator previdencirio, no podendo ser inferior ao

    salrio mnimo, e ainda ter direito um acrscimo de 25% (vinte e cinco por cento) sobre o valor de seu benefcio o segurado que necessitar de assistncia permanente de outra pessoa.

    3.1.2 Aposentadoria por idade

    A aposentadoria por idade est prevista no artigo 201, 7. da Constituio Federal de 1988, bem como, prevista nos artigos 48 da Lei 8.213/91. Esta modalidade visa

    manter a sobrevivncia do segurado e seus dependentes, quando aquele, devido a idade

    avanada, no possui mais condies fsicas de continuar laborando.

    Para a concesso desta espcie de aposentadoria, o segurado deve ter na data da

    entrada do requerimento (DER) no mnimo 65 anos de idade, se homem, ou 60 anos, se mulher, diminuindo em 05 anos para ambos, se forem trabalhadores que exeram atividade

    em regime de economia familiar (produtor rural, garimpeiro, pescador rural, boia-fria). A carncia exigida de 180 contribuies mensais para os segurados filiados a

    previdncia aps a data de 24.07.91 (promulgao da Lei 8.213/91 que alterou o perodo de

    7 PAIXO, Floriceno, PAIXO Luiz Antnio C.A Previdncia Social em Perguntas e Respostas. 41. ed., So Paulo. IOB Thonson, 2005, p.222.

    8 PAIXO; PAIXO, loc. cit.

  • 29

    carncia), sendo que, para os segurados que, anteriormente a esta data, j eram filiados, seguiro a regra de transio constante no artigo 142 da lei do RGPS, que estipula um nmero

    de carncia dependendo do ano que o segurado preencheu os requisitos exigidos, (indo de 60 at o mximo de 180 contribuies), e no, do ano da entrada do requerimento administrativo, como erroneamente e reiteradamente tem considerado o INSS.

    A renda da aposentadoria por idade no corresponde a 100% (cem por cento) do salrio-de-benefcio, e sim, 70% (setenta por cento). Porm, a cada 12 prestaes contribudas com a previdncia, acrescentar 1% (um por cento) at o mximo de 30% (trinta por cento), o que poder chegar a 100% (sem por cento), e ainda, ser aplicado o fator previdencirio, somente se este for superior a 1,00 (um), pois, do contrrio, prejudicar o segurado, portanto, a aplicao do fator nesta espcie de aposentadoria facultativo.

    Tambm, tero direito a esta aposentadoria, os trabalhadores rurais, ou aqueles que

    exeram atividade em regime de economia familiar, sem jamais terem contribudo para a previdncia, bastando possuir a idade exigida (60 para homens e 55 para mulheres) e provar o labor no perodo imediatamente anterior ao requerimento do benefcio, em nmero de meses

    idntico carncia do referido benefcio, ou no perodo imediatamente anterior ao momento

    em que atingiu a idade legal.

    Salienta-se que, para a aposentadoria por idade urbana, no necessrio que as

    condies, carncia e idade, sejam implementadas ao mesmo tempo. O segurado pode ter completado a idade e s requerer o benefcio aps possuir a carncia exigida, ou vise-versa,

    inclusive, se j possuir a carncia, pode at ter perdido a qualidade de segurado, e, ao completar a idade, ter direito ao benefcio, conforme art. 3. 1 da Lei 10.666/2003, que assim dispe:

    Art. 3. A perda da qualidade de segurado no ser considerada para a concesso das aposentadorias por tempo de contribuio e especial. 1o Na hiptese de aposentadoria por idade, a perda da qualidade de segurado no ser considerada para a concesso desse benefcio, desde que o segurado conte com, no mnimo, o tempo de contribuio correspondente ao exigido para efeito de carncia na data do requerimento do benefcio.9

    Ressaltando que esta regra s vale para a aposentadoria por idade urbana, que

    contributiva; para a rural, o segurado deve estar trabalhando no perodo imediatamente

    9 BRASIL. Lei n. 10.666, de 08 de maio de 2003. Dispe sobre a concesso da aposentadoria especial ao cooperado de cooperativa de trabalho ou de produo e d outras providncias. Disponvel em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/2003/L10.666.htm> Acesso em 20 mar. 2010.

  • 30

    anterior ao requerimento ou no perodo imediatamente anterior ao momento em que atingiu a

    idade legal.

    3.1.3 Aposentadoria por tempo de contribuio

    A aposentadoria por tempo de contribuio aps a Emenda Constitucional 20/98,

    veio substituir a, at ento chamada, aposentadoria por tempo de servio.

    Os requisitos exigidos so como o prprio nome diz, o tempo de contribuio,

    quais sejam, 35 anos se homem e 30 anos se mulher, com reduo de 05 anos para aqueles que exeram efetiva atividade de professores.

    Segundo Ibrahim: Considera-se tempo de contribuio o perodo contado de data a data, do incio at a data do requerimento ou do desligamento de atividade abrangida pela previdncia social, sendo descontados os perodos legalmente estabelecidos, como de suspenso de contrato de trabalho, de interrupo de exerccio e de desligamento da atividade.10

    Alm do tempo de contribuio, o segurado ainda necessita possuir o tempo de

    carncia exigido, ou seja, 180 meses de contribuio, para aqueles segurados filiados a previdncia aps a data de 24.07.91, da mesma forma que para a aposentadoria por idade,

    respeitando ainda a regra de transio constante no artigo 142 da lei do RGPS, para aqueles

    segurados filiados antes de 24.07.91, conforme j mencionado. Um detalhe importante que, para esta modalidade de aposentadoria, se o

    segurado j possui tempo de servio, sendo 35 para homens e 30 para mulheres, no exigido a idade mnima, desde que preenchido, tambm, o requisito carncia, far jus a aposentadoria integral.

    Porm, se completou, apenas, o tempo para a proporcional, deve ser analisado,

    tambm, neste caso, se cumpriu o pedgio de 40%, e a idade mnima de 53 anos para homens

    e 48 para mulheres.

    Ao contrrio da aposentadoria por idade, nesta modalidade de aposentadoria a

    renda corresponde a 100% (cem por cento) do salrio-de-benefcio.

    10 IBRAHIM, Fbio Zambitte. Desaposentao: O Caminho Para Uma Nova Aposentadoria. 3. ed. Niteri,RJ: Impetus, 2009. p. 32.

  • 31

    No entanto, ser aplicado o fator previdencirio, o que poder prejudicar o clculo do benefcio se o segurado na data do requerimento administrativo possuir baixa idade, isto

    significa que, quanto mais tempo o segurado permanecer na ativa, maior ser o fator

    previdencirio e por consequncia, melhor ser a sua renda mensal.

    3.1.4 Aposentadoria especial

    A aposentadoria especial um benefcio que visa reparar o trabalhador sujeito s condies prejudiciais a sade ou a integridade fsica, sendo que est prevista no artigo 57 da Lei 8.213/91, que assim dispe:

    Art. 57. A aposentadoria especial ser devida, uma vez cumprida a carncia exigida nesta Lei, ao segurado que tiver trabalhado sujeito condies especiais que prejudiquem a sade ou a integridade fsica, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme dispuser a lei.11

    No entendimento de Castro e Lazzari, a aposentadoria especial uma modalidade

    de aposentadoria por tempo de contribuio com tempo reduzido, concedida em razo do

    exerccio de atividades consideradas prejudiciais a sade ou integridade fsica do trabalhador.12

    As atividades consideradas prejudiciais a sade ou integridade fsica do trabalhador so aquelas em que o segurado fica exposto, de modo habitual e permanente, a

    agentes fsicos, qumicos ou biolgicos, acima dos limites de tolerncia aceitos legalmente.

    Da mesma forma que na aposentadoria por idade e por tempo de contribuio,

    nesta espcie, tambm, necessrio o segurado possuir a carncia de 180 contribuies.

    Esta forma de aposentadoria, apesar de as condies de trabalho serem penosas e

    prejudiciais sade, do ponto de vista pecunirio, considerada uma das mais vantajosas, visto que, alm de exigir tempo reduzido para a inativao (15, 20 ou 25 anos), o segurado ter uma renda no valor de 100% (cem por cento) do salrio-de-benefcio, bem como, no incidir, no clculo, o fator previdencirio, o que ser bem mais lucrativo ao segurado.

    11 PAIXO; PAIXO, 2005, p.224.

    12 CASTRO; LAZZARI, 2004, p. 535.

  • 32

    Estudadas as espcies de aposentadorias, passa-se a analisar a possibilidade de o

    segurado aposentado renunciar aposentadoria que percebe, com o intuito de obter uma nova

    aposentadoria mais vantajosa.

    3.2 CONCEITO DE RENNCIA

    Assim como o segurado tem a faculdade de aposentar-se, possui, tambm, a

    faculdade de desaposentar-se, renunciando a aposentadoria outrora concedida, o que os

    doutrinadores, juristas e estudiosos vm chamando de desaposentao, tema deste presente trabalho.

    A desaposentao pode ser considerada como um ato de troca ou renncia do

    segurado sua aposentadoria, ou seja, a desaposentao s ser possvel se houver a renncia do benefcio anteriormente concedido.

    Embora o artigo 181-B do Decreto 3.048/99 dispor expressamente que as

    aposentadorias por idade, por tempo de servio e especial so irrenunciveis e indisponveis13,

    a Lei Ordinria, 8.213/91, jamais citou qualquer dispositivo que remetesse quelas condies, salientando-se que o decreto foi criado com o intuito de regulamentar a Lei 8.213/91.

    Desta forma, um decreto no pode prevalecer sobre uma lei ordinria. Neste

    sentido o entendimento de alguns Tribunais, conforme deciso exarada pelo Tribunal

    Regional Federal da 1. Regio. Vejamos:

    [...] Inexiste bice constitucional ou legal que vede a renncia aposentadoria, sendo inadmissvel que norma regulamentar da Previdncia Social estabelea a irreversibilidade e irrenunciabilidade do benefcio (art. 58, 2 do Decreto 2.172/97, art. 181-B do Decreto 3.048/99) (in, TRF1, Apelao Cvel n 2002.32.00.003819-7/AM).14

    Assim, importante esclarecer o conceito da renncia no Direito Previdencirio

    brasileiro.

    Cunha Filho conceitua o ato de renncia como sendo:

    13 BRASIL. Decreto n. 3.048 de 06 de maio de 1999a. Aprova o Regulamento da Previdncia Social, e d outras providncias. Disponvel em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil/decreto/D3048.htm> Acesso em 20 mar. 2010.

    14 RISTAU, Ktlin Sartor. A tese da desaposentao e o atual entendimento dos tribunais ptrios . Jus Navigandi, Teresina, ano 13, n. 2239, 18 ago. 2009. Disponvel em: . Acesso em: 20 jan. 2010.

  • 33

    O abandono ou a desistncia do direito que se tem sobre alguma coisa. Nesta razo, a renncia importa sempre num abandono ou numa desistncia voluntria pela qual o titular de um direito deixa de us-lo ou anuncia que no o utilizar.15

    Para Castro e Lazzari, a renncia tem por objetivo a obteno futura de benefcio mais vantajoso, sendo que o segurado abre mo dos proventos que vinha recebendo, mas no do tempo de contribuio que j havia averbado.16

    Silva conceitua renncia da seguinte forma: [...] renncia ato unilateral, no-receptcio (independe de concurso de outrem), atravs do qual o titular do direito expressamente o rejeita.17

    Neste conceito, entende-se que renncia um ato unilateral do segurado que

    independe do consentimento ou deferimento do agente, com o intuito de requerer a

    desaposentao.

    Porm, Silva entende que a renncia aposentadoria prescinde do consentimento

    de outrem, quando enuncia:

    A renncia prescinde de adeso, de cooperao de outra pessoa. Logo, a partir do momento em que o requerente submete a sua renncia apreciao da Administrao Pblica esvazia-se o conceito de renncia, com a retirada de sua principal caracterstica - a unilateralidade. Se h necessidade do deferimento do rgo pblico para que seja viabilizada a "renncia aposentadoria" porque estamos diante de uma impropriedade jurdica. Caso no o fosse, bastaria a declarao do interessado expressando sua vontade. 18

    Alguns doutrinadores entendem que ao segurado no permitido renunciar a

    aposentadoria, outros entendem que tal procedimento juridicamente possvel. a este respeito que ser dado nfase no prximo captulo deste trabalho, em que ser analisada a

    desaposentao propriamente dita, ou seja, o direito do segurado quanto a sua aplicabilidade e as controvrsias existentes sobre a questo.

    15 CUNHA FILHO, Roseval Rodrigues da. Desaposentao e Nova Aposentadoria. Revista de Previdncia Social, So Paulo, Ano 27, N. 274, Set 2003, p. 782/783.

    16 CASTRO; LAZZARI, 2004, p. 508.

    17 SILVA, Snia Maria Teixeira da. Renncia aposentadoria. Jus Navigandi, Teresina, ano 3, n. 34, ago. 1999. Disponvel em: . Acesso em: 07 set. 2009.

    18 SILVA, loc. cit.

  • 34

    4 DESAPOSENTAO

    As desigualdades sociais no Brasil so considerveis, e por tal motivo comum e,

    at mesmo conseqncia da situao, o pedido precoce da aposentadoria pelos segurados da

    Previdncia Social, com o fim de obter um complemento sua renda, que por sua vez no

    suporta at mesmo as despesas bsicas, onde os leva a obter a concesso de um benefcio,

    muitas vezes, apenas no valor de um salrio mnimo, em virtude da pouca idade e da

    incidncia do fator previdencirio no clculo da renda mensal.

    O pargrafo 2 do art. 18 da lei 8.213/91 (redao dada pela lei 9.528/97) estabelece que o aposentado pelo Regime Geral da Previdncia Social que permanecer em

    atividade sujeita a esse regime, ou a ela retornar, "no far jus a prestao alguma da Previdncia Social em decorrncia dessa atividade, exceto ao salrio-famlia, reabilitao

    profissional, quando empregado." 1

    Desta forma, o segurado aposentado, nestas condies, ao se deparar com o valor

    irrisrio da aposentadoria concedida, se v obrigado a continuar no mercado de trabalho, e na

    qualidade de segurado obrigatrio, no lhe resta alternativa a no ser continuar contribuindo

    com a Previdncia, sem poder obter qualquer benefcio, alm de reabilitao profissional e

    salrio-famlia.

    Feitas estas consideraes, adentra-se na seara da desaposentao, tema do

    presente trabalho, que apesar de soar estranho e no possuir, ainda, previso legal expressa no

    Direito Previdencirio Brasileiro, possui um significado preciso, qual seja: desaposentar-se abrir mo da condio de segurado aposentado, seja por aposentadoria por tempo de contribuio ou aposentadoria por idade, ou at mesmo a especial, e voltar ao mundo de

    trabalho, contribuindo com a Previdncia por mais tempo, ou, ainda, para aqueles que se

    aposentaram e nunca deixaram de contribuir, e desta maneira, em ambos os casos, poder

    garantir uma aposentadoria mais tranqila e mais vantajosa.2 Neste sentido o entendimento de Castro e Lazzari que citam:

    1 BRASIL. Lei n. 8.213 de 24 de julho de 1991. Dispe sobre os Planos de Benefcios da Previdncia Social e d outras providncias. Disponvel em: Acesso em 27 mar. 2010.

    2 KRAVCHYCHYN, Giseli Lemos. Desaposentao, fundamentos jurdicos, posio dos Tribunais e

    anlise das propostas legislativas. Florianpolis. 12 dez. 2007. Disponvel em: < http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=10741> Acesso em: 07 set. 2009.

  • 35

    A desaposentao o direito do segurado ao retorno atividade remunerada, com o desfazimento da aposentadoria por vontade do titular, para fins de aproveitamento do tempo de filiao em contagem para nova aposentadoria, no mesmo ou em outro regime previdencirio. 3

    Ibrahim conceitua a desaposentao da seguinte forma: [...] a desaposentao traduz-se na possibilidade do segurado renunciar aposentadoria com o propsito de obter

    benefcio mais vantajoso, no Regime Geral da Previdncia Social ou em regime prprio da previdncia, mediante a utilizao de seu tempo de contribuio. 4

    Coelho, citado por Kravchychyn, define desaposentao como: A contagem do

    tempo de servio vinculado antiga aposentadoria para fins de averbao em outra atividade

    profissional ou mesmo para dar suporte a uma nova e mais benfica jubilao5 Por sua vez, Martinez entende que:

    Desaposentao ato administrativo formal vinculado, provocado pelo interessado no desfazimento da manuteno das mensalidades da aposentadoria, que compreende a desistncia com relao oficial desconstitutiva. Desistncia corresponde a reviso jurdica do deferimento da aposentadoria anteriormente outorgada ao segurado. 6

    E acrescenta dizendo que [...] a desaposentao o inverso da aposentao, restabelecimento do cenrio pretrito, voltar ao estgio em que se encontrava quando da

    concesso do benefcio. 7

    E assim, atravs dos conceitos dos doutrinadores citados, entende-se que a

    desaposentao pode ser considerada como um ato de troca ou renncia do segurado sua

    aposentadoria, objetivando a concesso de um novo benefcio, mais vantajoso, que se aproxime ao mximo dos princpios da dignidade humana e do mnimo existencial, refletindo

    o bem-estar social. 8

    Neste pensar, o entendimento que vem sendo adotado por alguns tribunais.

    Colaciono alguns precedentes jurisprudenciais: No Superior Tribunal de Justia, a Ministra Laurita Vaz ao relatar recurso especial

    versando sobre a possibilidade de desaposentao, exps seu entendimento da seguinte forma:

    3 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, Joo Batista. Manual de Direito Previdencirio. 5 ed.. So Paulo: LTR, 2004, p.509.

    4 IBRAHIM, Fbio Zambitte. Desaposentao: O Caminho para uma melhor aposentadoria. 3 ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2009, p. 36.

    5COELHO, apud, KRAVCHYCHYN, loc. cit. 6 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Desaposentao. 2. R. Janeiro: LTR, 2009. p.32.

    7 Ibid., p.33.

    8 CARVALHO, Felipe Epaminondas de. Desaposentao: Uma Luz no Fim do Tnel. Disponvel: Acesso em 07 set. 2009.

  • 36

    PREVIDENCIRIO. RECURSO ESPECIAL. RENNCIA A BENEFCIO PREVIDENCIRIO. POSSIBILIDADE. DIREITO PATRIMONIAL DISPONVEL. ABDICAO DE APOSENTADORIA POR IDADE RURAL PARA CONCESSO DE APOSENTADORIA POR IDADE URBANA. 1. Tratando-se de direito patrimonial disponvel, cabvel a renncia aos benefcios previdencirios. Precedentes. 2. Faz jus o Autor renncia da aposentadoria que atualmente percebe aposentadoria por idade, na qualidade de rurcola para o recebimento de outra mais vantajosa aposentadoria por idade, de natureza urbana. 3. Recurso especial conhecido e provido. (Recurso especial - N. 310.884-RS 2001/0031053-2).9

    No caso citado, o segurado havia se aposentado por idade rural, com renda de

    apenas 01 (um) salrio mnimo e almejava renunciar aquela aposentadoria que vinha percebendo, para requerer uma nova, mais vantajosa, qual seja, aposentadoria por idade urbana, visto que havia contribudo por vrios anos aps a sua aposentao e perfazia todos os

    requisitos para sua concesso. A deciso do Superior Tribunal de Justia foi a seguinte: [...] a pretenso do Autor no a cumulao de benefcios previdencirios, mas sim, a renncia da aposentadoria que atualmente percebe (aposentadoria por idade, na qualidade de rurcola) para o recebimento de outra mais vantajosa (aposentadoria por idade, de natureza urbana), que, por sinal, segundo o juiz sentenciante, o segurado perfaz todos os requisitos para sua concesso.

    Dessa forma, merece reforma o aresto impugnado, porquanto no h falar em cmputo do "tempo de servio j utilizado para a concesso do primeiro" benefcio. Assevero que, no caso em apreo, no se trata da dupla contagem de tempo de servio j utilizado por um sistema, o que pressupe, necessariamente, a concomitncia de benefcios concedidos com base no mesmo perodo, o que vedado pela Lei de Benefcios.

    Trata-se, na verdade, de abdicao a um benefcio concedido no valor de um salrio mnimo aposentadoria por idade, de natureza rural , a fim de obter a concesso de um benefcio mais vantajoso aposentadoria por idade, como contribuinte autnomo , haja vista, segundo afirma o Autor, ter contribudo para Previdncia Social com um valor muito acima de um salrio mnimo.

    Ante o exposto, CONHEO E DOU PROVIMENTO ao recurso especial para, cassar o acrdo recorrido, restabelecendo a sentena monocrtica, com a observncia do enunciado n. 111 da Smula desta Corte. como voto. 10

    O Tribunal Regional da 5 Regio proferiu deciso nesse mesmo sentido:

    Previdencirio. Aposentadoria proporcional ao tempo de contribuio. Renncia a fim de obteno de benefcio mais vantajoso. Possibilidade. Aposentadoria por idade. Cumprimento dos requisitos para concesso. Reduo da verba honorria ante a singeleza da questo. 1. Possibilidade de renncia de benefcio previdencirio, por se cuidar de um direito patrimonial disponvel. Precedentes do STJ. (TRF5, Apelao Cvel n. 397248/RN, grifo nosso). 11

    9 BRASIL. Superior Tribunal de Justia. Recurso Especial n. 310.884 - RS (2001/0031053-2) do Rio Grande do Sul. Relator: Min. Laurita Vaz. Braslia, DF, 26 de setembro de 2005. Disponvel em acesso em 11 out. 2009.

    10 BRASIL, 2005, loc. cit.

    11 RISTAU, Ktlin Sartor. A tese da desaposentao e o atual entendimento dos tribunais ptrios . Jus Navigandi, Teresina, ano 13, n. 2239, 18 ago. 2009. Disponvel em: . Acesso em: 27 jan. 2010.

  • 37

    Este entendimento, de que a aposentadoria pode ser objeto de renncia, encontra-se corroborado por jurisprudncia emanada do Superior Tribunal de Justia, in verbis:

    firme a compreenso desta Corte de que a aposentadoria, direito patrimonial disponvel, pode ser objeto de renncia, revelando-se possvel, nesses casos, a contagem do respectivo tempo de servio para a obteno de nova aposentadoria, ainda que por outro regime de previdncia. (in, STJ, Recurso Especial n. 557.231RS, Rel. Min. Paulo Gallotti, Sexta Turma, Julgado em 1662008). 12

    Como visto, a jurisprudncia admite a desaposentao, objetivando outra aposentadoria mais vantajosa, desde que o segurado renuncie a primeira aposentadoria e preencha os requisitos legais.

    Mas qual seria o efeito prtico da desaposentao? Sobre isto, tratar-se- no tpico

    seguinte com detalhes, e poder-se- verificar que desaposentar-se nem sempre vantajoso.

    4.1 EFEITOS PRTICOS

    No que se refere a efetividade da desaposentao, possvel ressaltar que, tanto os

    doutrinadores como os juristas falam a todo o momento em aposentadoria mais vantajosa, mas qual seria esta vantagem!?

    Com relao desaposentao de aposentadoria especial - apesar de muitos

    entenderem que no possui relevante aplicabilidade, tendo em vista que, dificilmente um

    segurado ir renunciar sua aposentadoria especial, por ser esta mais vantajosa sob o ponto de vista da renda, pois o valor da renda mensal inicial (RMI) corresponde a 100% do salrio de benefcio, bem como por no ser aplicado o fator previdencirio e o segurado se aposenta com

    tempo de servio reduzido (15, 20 ou 25 anos) cita-se, pelo menos, uma situao que poder trazer uma renda mais vantajosa ao segurado: um segurado aps ter se aposentado com 35 anos de idade, pela espcie de aposentadoria especial aos 15 anos, continuou na ativa,

    contribuindo com a previdncia por mais 35 anos, em outra funo no insalubre, possuindo

    agora 70 anos de idade, ento, renuncia sua aposentadoria especial para requerer uma

    aposentadoria por tempo de contribuio, computando nesta nova aposentadoria, o tempo

    anterior a primeira aposentao mais o tempo posterior, convertendo o tempo especial (15 anos) para comum.

    12 RISTAU, loc. cit.

  • 38

    Neste caso, a renda mensal inicial ser bem mais vantajosa, uma vez que, alm do fator previdencirio restar acima de 1(um), por j possuir o segurado 70 anos de idade, ter ele aproximadamente 69 anos de tempo de servio.

    Com relao s aposentadorias por idade e por tempo de contribuio, a

    desaposentao possui um papel ainda mais destacado.

    Quanto aposentadoria por idade, pode-se trazer baila, situao bastante vantajosa, idntica ao caso anteriormente citado no recurso especial no qual a Ministra Laurita Vaz proferiu sua deciso de procedncia, qual seja: o segurado que se aposentou por idade rural (60 anos) apenas com uma renda de um salrio mnimo, visto que no verteu contribuies, passa a contribuir com um valor significante, facultativamente ou

    obrigatoriamente, por 15 anos, estaria, aps estes 15 anos, com 75 anos de idade, poderia

    renunciar aposentadoria por idade rural e requerer a aposentadoria por idade urbana. Por

    certo que teria uma RMI bem mais vantajosa, inclusive, no clculo do benefcio seria possvel a aplicao do fator previdencirio que, apesar de ser facultativo nesta espcie, como seria

    maior que 1(um), neste caso, mais vantajoso ao segurado, devendo ser aplicado. Ressaltando que apesar de existir projeto de lei em andamento para abolir o

    fator previdencirio, sua aplicao continua plenamente em vigor at a presente data. J para os casos em que o segurado se aposentou por tempo de contribuio,

    existe mais de uma situao em que a desaposentao resultar em renda mais vantajosa. Cita-se como exemplo, casos em que o segurado se aposenta proporcionalmente, continua

    laborando e contribuindo com a Previdncia por vrios anos, com um valor significante,

    superior quele que contribuiu com apenas 01 (um) salrio mnimo. E assim, aps um determinado tempo, renuncia sua atual aposentadoria por

    tempo de contribuio para requerer uma nova, podendo ser da mesma espcie, computando

    todo o tempo laborado, anterior e posterior a primeira aposentao. O que o levar a receber

    um benefcio na forma integral e com renda mais vantajosa. Porm, importante ressaltar que, nem sempre ser vantagem desaposentar-se.

    o que bem lembra Kravchychyn ao mencionar: [...] Atualmente, nem sempre um benefcio com mais tempo de contribuio resultar num valor de renda mensal maior. Assim, a anlise sobre o benefcio da desaposentao deve ser feita caso a caso, j que ainda que legalmente cabvel, pode ser mais vantajoso ao segurado permanecer aposentado pelas regras anteriores. 13

    13 KRAVCHYCHYN, loc. cit.

  • 39

    Pode haver situaes em que desaposentar ser desvantajoso, como no caso do segurado aposentado pelas regras anteriores, sem a incidncia do fator previdencirio, mesmo

    tendo contribudo por vrios anos aps sua aposentao. Se a sua ltima contribuio foi h 4

    anos ou mais, por exemplo, no ser vantajoso, pelo contrrio, poder vir a diminuir sua renda mensal. Isto porque, desaposentando-se e sendo concedida uma nova aposentadoria, esta

    reger-se- pelas regras atuais, ou seja, no caso de aposentadoria por tempo de contribuio, ser aplicado o fator previdencirio, bem como, ser considerado para o clculo as 80%

    (oitenta por cento) maiores contribuies de todo o perodo contributivo, de 07/94 at a data inicial do benefcio, para aqueles que j eram filiados Previdncia antes da vigncia da Lei 9.876/99.

    Porm, se o nmero de contribuies vertidas for inferior a 60% (sessenta por cento) de todo o perodo contributivo (07/94 at a DIB), neste caso, sero atualizadas estas contribuies e divididas pelo nmero de contribuies correspondentes a 60% (sessenta por cento) de todo o perodo contributivo (07/94 at a DIB), inclusive as menores, e no somente as 80% (oitenta por cento) maiores, tampouco, ser dividido apenas pelos nmeros de contribuies vertidas no perodo, conforme dispe o artigo 3. 2. da Lei 9.876/99. Veja:

    Art. 3 Para o segurado filiado Previdncia Social at o dia anterior data de publicao desta Lei, que vier a cumprir as condies exigidas para a concesso dos benefcios do Regime Geral de Previdncia Social, no clculo do salrio-de-benefcio ser considerada a mdia aritmtica simples dos maiores salrios-de-contribuio, correspondentes a, no mnimo, oitenta por cento de todo o perodo contributivo decorrido desde a competncia julho de 1994, observado o disposto nos incisos I e II do caput do art. 29 da Lei n 8.213, de 1991, com a redao dada por esta Lei. [...] 2 No caso das aposentadorias de que tratam as alneas b, c e d do inciso I do art. 18, o divisor considerado no clculo da mdia a que se refere o caput e o 1 no poder ser inferior a sessenta por cento do perodo decorrido da competncia julho de 1994 at a data de incio do benefcio, limitado a cem por cento de todo o perodo contributivo. 14

    Cita-se um exemplo, para que se torne mais fcil a compreenso do citado artigo,

    bem como, para que se compreenda que nem sempre desaposentar-se vantajoso: Um cidado que, no ms de abril de 2010, requereu aposentadoria por idade ou

    tempo de contribuio, e que j era segurado da Previdncia Social antes da vigncia da Lei

    14 BRASIL. Lei n 9.876 - de 26 de novembro de 1999b. Dispe sobre a contribuio previdenciria do contribuinte individual, o clculo do benefcio, altera dispositivos das Leis ns. 8.212 e 8.213, ambas de 24 de julho de 1991, e d outras providncias. Disponvel em: . Acesso em: 01 fev. 2010.