acordam no tribunal da relação do porto i. introdução · pte 18 541 159$00, ... permanente...

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______________________________________________________________________ PN 2450.03-51; Ap.: T. f./m. Matosinhos, 1º C. ( Ap.es: Ap.os: Os Ap.es ______________________________________________________________________ Acordam no Tribunal da Relação do Porto I. Introdução: (a) Ambas as partes não se conformam com a decisão de instância que arbitrou à A. uma indemnização no montante de € 92 495,90, correspondente a Pte 18 541 159$00, acrescidos de juros de mora desde a citação, pelos danos patrimoniais e não patr imoniais sofridos em consequência do acidente de viação do qual foi vítima, ocorrido em 93.04.13 em Matosinhos. (b) Da sentença recorrida: (1) Imp õe-se concluir que o acidente resultou da condução contravencional e negligente do condutor do veículo do Estado, o que significa deverem ser responsabilizados quer um quer outro pela remoção dos danos, patrimoniais e não patrimoniais determinados na vítima [e decorrentes do sinistro]; 1 Vistos: Des.). 2 Adv.: Dr. M.. 3 Adv.: Dr. 1

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______________________________________________________________________

PN 2450.03-51; Ap.: T. f./m. Matosinhos, 1º C. (

Ap.es:

Ap.os: Os Ap.es

______________________________________________________________________

Acordam no Tribunal da Relação do Porto

I. Introdução:

(a) Ambas as partes não se conformam com a decisão de 1ª instância que

arbitrou à A. uma indemnização no montante de € 92 495,90, correspondente a

Pte 18 541 159$00, acrescidos de juros de mora desde a citação, pelos danos

patrimoniais e não patr imoniais sofridos em consequência do acidente de

viação do qual foi vítima, ocorrido em 93.04.13 em Matosinhos.

(b) Da sentença recorrida:

(1) Imp õe-se concluir que o acidente resultou da condução contravencional

e negligente do condutor do veículo do Estado, o que significa deverem ser

responsabilizados quer um quer outro pela remoção dos danos, patrimoniais

e não patrimoniais determinados na vítima [e decorrentes do sinistro];

1 Vistos: Des.).

2 Adv.: Dr. M..

3 Adv.: Dr.

1

(2) No que diz respeito aos primeiros, ficou averiguado que a A. sofreu

ferimentos graves, cujas sequelas se traduziram numa incapacidade

permanente total para o trabalho específico de conserveira, ou qualquer

outro que exija esforço, sendo previsível que não venha a conseguir outra

actividade remunerada, ...[mas,] à data do acidente, a capacidade dela para

o exercício da sua profissão já se encontrava diminuída numa percentagem

nunca inferior a 20%;

(3) Tratando-se de um dano futuro, que tem por limite final o tempo útil de

actividade, deve ser fixado um capital que, durante esse período, produza um

rendimento equivalente àquele que a A. auferiria pelo trabalho durante todo

esse tempo, e esteja esgotado no respectivo termo: ...começa em 1999 e

prolongar-se-ia durante 24 anos até ser atingida a idade de reforma, 65

anos, computada entretanto a taxa de referência pela que corresponde à taxa

líquida do rendimento dos depósitos a p razo de 1 ano - 3%;

(4) Ora, tendo em consideração todos os apontados elementos, e a

remuneração auferida p ela A. em 1996, a indemnização correspondente à

sua incapacidade permanente e total para o exercício de qualquer actividade

remunerada deve ser fixada em Pte 15 348 958$00;

(5) Além disso, deixou de auferir os salários, prémios de assiduidade,

subsídios de alimentação e férias até 03.96, no montante global de Pte 1 103

510$00, e suportou despesas com tratamentos e viagens no montante de Pte

223 981$00;

(6) Quanto aos danos não patrimoniais, a A. entendeu que a respectiva

indemnização deve ser fixada em Pte 6 500 000$00, consideradas as dores

sofridas, a intranquilidade, transtornos e o enorme desgosto e angústia de

não mais poder trabalhar;

(7) Deste modo, tendo em consideração a condição social da A., e as regras

da experiência comum, e tendo em conta os elementos a que se refere o art.

496/3 CC, julga-se equilibrado aquele montante que aliás só peca por

defeito: ...vai sendo tempo de nos tornarmos europeus não só nos prémios

que pagamos, mas também nas indemnizações a pagar aos lesados;

2

(8) Constata-se, deste modo, que os danos patrimoniais e não patrimoniais

sofridos pela A. atingem o montante g lobal de Pte 23 176 449$00: ...a

obrigação [de indemnizar] dos RR deve porém ser limitada a 80%, ou seja,

Pte 18 541 159$00.

II. Matéria assente:

(1) Em 93.04.13, 07.35h, na Rua Padre Melo, Lavra, Matosinhos,

ocorreu um acidente de viação entre o veículo automóvel ligeiro (misto), OX-

, conduzido por dos , marido da A., sendo esta

passageira, e o veículo automóvel ligeiro (passageiros) 22-70-BR, atribuído à

carga d a GNR, conduzido por , sol. nº

, GRT4, BT/GNR, ao serviço e sob as ordens do Comando do

Batalhão sediado no Quartel do Carmo, Porto;

(2) O OX seguia no sentido Norte/Sul (Lavra/Leça da Palmeira), atrás de um

autocarro de passageiros;

(3) Nesse local, o autocarro reduziu a velocidade e estacionou junto a uma

paragem para meter passageiros: o condutor do OX travou e parou atrás dele;

(4) Na altura do acidente, o piso estava molhado, por chover;

(5) A estrada é recta, plana e o piso em betuminoso irregular;

(6) Com o choque, ambos os veículos ficaram bastante danificados;

(7) O BR após travagem, embateu com a frente esquerda na traseira direita

do OX;

(8) Após o embate, o OX ficou enviesado na faixa de rodagem a ocupar

parte dos dois sentidos e o BR no lado direito da faixa de rodagem (sentido

Lavra/Leça da Palmeira);

(9) O Estado, através do CG/GNR, pagou a reparação total do OX, bem

como os internamento s hospitalares, tratamentos médicos, exames de

diagnóstico, fisioterapia, medicamentos, despesas de transporte e salários da

A., tudo até 95.01.01;

3

(10) Em consequência directa do choque na traseira do OX, a A. sofreu

contusão cervical e fractura do corpo L1;

(11) Foi socorrida no HD Matosinhos, onde esteve internada dois ;

(12) Passou depois ao regime de consultas externas para vigilância e

tratamentos médicos, situação que ainda hoje de mantém nesse Hospital;

(13) foi-lhe inicialmente prescrita a utilização de colar cervical e repouso no

leito;

(14) Desde 1982, a A. apresentava queixas a nível lombar, as quais se

agudizaram após o acidente em causa, tendo surgido depois queixas também ao

nível cervical e do ombro esquerdo;

(15) A A. submeteu-se a vários ex ames de diagnóstico, v.g., radiografias,

TACs, ressonâncias, electromiografia e electroencefalografia;

(16) Tomou injecções e in filtrações na coluna, sobretudo para atenuar as

dores;

(17) Sujeitou-se a centenas de sessões de fisioterapia na clínica da Santa Casa

da Misericórdia V. Conde, desde 93.07.13 até 08.95;

(18) Em 05.95, a A. foi observada em neurocirurgia, tendo sido proposta

correcção cirúrgica a nível lombar;

(19) Só que, segundo opinião médica, se trata de cirurgia arriscada, podendo a

A. ficar numa cadeira de rodas;

(20) Continua em observações e análises;

(21) Dada a tipologia própria das lesões, os médicos proibiram-na de fazer até

pequenos esforços, mesmo domésticos;

(22) Por esse motivo não regressou ainda ao trabalho de manipuladora de

peixe ou conserveira na fábrica Conservas Portugal Norte, Lda, Matosinhos;

(23) A A. apr esenta as seguintes sequelas lesionais:

(a) no pescoço:

• mobilidade conservada mas limitada por do r nos movimentos de

estinção e rotação lateral;

(b) nos membros inferiores:

4

• lasségu e positivo à esquerda e duvidoso à dir eita (50%);

• diminuição da força muscular para grau 3+ em 5 sem alterações

da sensibilidade;

• referência a parestesias com início nos dedos do pé, face interior

da perna, face lateral do joelho, seguindo pela face posterior da coxa;

(c) sequelas de fracturas e de compressão radicular a este nível ( admitindo-

se neste caso agravamento da sintomatologia já registada em anotação

clínica de 1992) e ainda cervicobraquialgia com irradiação para a esquerda;

(24) As sequelas acabadas de referir traduzem uma incapacidade permanente

total (100%) para o trab alho específico de conserveira, ou para qualquer outra

actividade que exija esforço;

(25) As consequências do acidente acarretaram para a A. um agravamento da

IPP de que já pad ecia, esta nunca inferior a 20 %: apresenta actualmente uma

IPG – 35%;

(26) A A. apenas tem um grau de instrução primária;

(27) Conjugada a incapacidade laboral, o grau de instrução e o excedentário

do mercado de trabalho não qualificado, é previsível que a A. não venha a

conseguir outra actividade remunerada;

(28) À data do acidente, a A. ganhava o salário men sal de Pte 51 000$00,

acrescido de subsídio de férias, 13º mês, subsídio de alimentação e prémio de

assiduidade: global de Pte 57 660$00;

(29) A pedido da A., em 94.10.13, o R. [Estado] pagou:

• 1 recibo de ambulância;

• 5 viagens de táx i;

• 6 consultas, CS Modivas;

• 1 consulta de especialidade;

• 6 consultas HD Matosinhos;

• 420 sessões de fisioter apia;

• 9 receitas d e farmácia;

5

• 2 TACs;

• perdas salariais de 93.04.13/94.05.31;

• 200 títulos de viagem em autocar ro;

tudo no montante global de Pte 999 006$00;

(30) O R. [Estado] pagou, 95.04.27:

• os vencimentos de 07/12.94 = Pte 552 280$00;

• 120 sessões de fisioter apia;

• 7 receitas d e farmácia;

• 1 TAC. CS Boavista;

• 4 consultas HD Matosinhos;

• 1 consulta H. Vila do Conde;

• 2 consultas no CS Modivas;

• 1 recibo de táxi;

• 180 bilhetes de autocarro,

tudo no montante global de Pte 654 505$00, e somando estes e os anteriores

pagamentos à A. a quantia global de Pte 2 238 530 $50;

(31) Desde 95.01.01 até 03.96, a A. deixou de auferir os salários, prémios de

assiduidade, subsídios de alimentação e de férias no montante global de Pte 1

103 510$00;

(32) A A. suportou em sessões de fisioterapia na clínica de Santa Clara da

Misericórdia de Vila do Conde os montantes de Pte 26 406$00 e de Pte 107

100$00;

(33) A A. suportou em 7 viagens de táx i ao HD Matosinhos, CS Boavista e

Ordem do Carmo, o montante global de Pte 25 100$00;

(34) A A. gastou em outras 8 receitas de farmácia o montante global de Pte 23

751$00;

(35) E em 6 consultas no HD Matosinhos, o montante global de Pte 6 100$00;

6

(36) Em ais 6 consultas do posto médico de Modivas, o montante global de

1800$00;

(37) A A. gastou em 167 viagens de ida e volta de Labruge para Vila do

Conde em autocarros da empresa de viação Costa & Lino, Lda, o montante

global de Pte 28 340$00;

(38) E em 4 outros bilhetes da mesma camionagem, o montante somado de

Pte 340$00;

(39) À data da propositura da acção, o salário da A. era de Pte 64 720$00,

acrescido de prémio de assiduidade no montante de Pte 3 300$00/mês, férias,

subsídio de férias e 13º mês;

(40) A A. sofreu dores intensas no acidente e nos tratamentos a que se

submeteu, sendo o quantum doloris fixável no grau 4, numa escala de 1 a 7;

(41) Estas dores são tão fortes que tem de tomar injecções e infiltrações na

coluna;

(42) E acompanharão a A. até ao fim da vida;

(43) A A. sofreu e continuará a sofrer intranquilidade, transtornos na sua vida,

e incómodos decorrentes da sua do ença, com previsíveis internamentos

hospitalares, deslocações a consultas médicas e sessões de fisioterapia;

(44) Sofreu e sofre enorme desgosto e an gústia derivadas das sequ elas

permanentes, por não poder trabalhar e sentir-se ú til na sua idade;

(45) No piso da estrada onde ocorreu o acidente existiam resíduos de óleo

diluído na água da chuva;

(46) nasceu em 55.06.27.

III. Análise crítica da prova:

(a) A resposta positiva à matéria dos quesitos que se reportam ao modo

como o acidente ocorreu baseou-se no depoimento das testemunhas ouvidas na

audiência, tendo prepon derado , condutor do veículo onde seguia

a A. (apesar de marido, prestou depoimento isento e credível),

, motorista do autocarro que seguia na frente do OX (revelou ter

7

presenciado o acidente através do retrovisor, descrevendo-o, bem como o

modo de posicionamento das viaturas na faixa de rodagem após o sinistro,

também de forma isenta e credível), , amigo do marido da A. e

que acorreu ao local depois da ocorrência do acidente (descreveu os danos

das viaturas, de forma isenta e objectiva) e (idem,

idem),tb. , que passou pelo local do acidente já depois de este ter

ocorrido, tendo observado a posição dos dois veículos intervenientes e as

partes embatidas dos mesmos;

(b) A resposta restritiva a Q434, baseou-se aliás no depoimento desta última

testemunha em conjugação com os depoimentos de e

da , estes que são motoristas profissionais, condutores de

autocarros, e que revelaram unanimemente, de acordo com o marido da A.,

nunca se terem apercebido da existência de óleo no pavimento apesar de

efectuarem frequentemente o trajecto onde se situa o local do acidente;

(c) Porém, as testemunhas revelaram,

pelo contrário, a existência de óleo no pavimento, que estaria diluído com a

água da chuva, daí que a convicção do tribunal tivesse propendido para a

existência de óleo no pavimento, mas sem considerar que a mesma haja

concorrido para o sinistro, uma vez que nenhuma das testemunhas ouvidas

referiu qualquer derrapagem;

(d) Foi ainda tido em atenção, quanto às circunstâncias, o relatório e

croquis constantes dos autos;

(e) Relativamente às consequências do acidente na pessoa da A., e em

especial ao nível das lesões por ela sofridas, o tribunal teve em conta o

conjunto da prova documental constante dos autos, em particular os relatórios

e elementos clínicos, e em conjugação com o exame médico-legal, aditamento,

e os esclarecimentos prestados em julgamento pela Exma. perita médica;

(f) A convicção relativa à resposta a Q5 veio da documentação médica e do

exame médico-legal, a Q6 da documentação médica, a Q7 [idem], a Q8

8

[idem], a Q9 [idem] , a Q10 [idem], a Q12 [idem], a Q13 [idem], a Q14 [idem],

a Q17 [idem], a Q19 [idem], a Q20 [idem], a Q25 de documentação laboral, a

Q26 [idem], a Q28 de recibos, a Q30 [idem], a Q31 [idem], a Q32 [idem], a

Q33 [idem], a Q34 [idem], a Q36 e Q37 [idem], a Q38 da documentação

médica, Q39 a Q41 [idem] 5;

4 Q43. O acidente deu-se porque no piso apareceu inopinadamente óleo derramado que provocou a

derrapagem do veículo 20-70-GR? Provado apenas que no piso existiam resíduo s de óleo diluídos n a

água da chuva.

5 Questionário:

...............

Q5. Em consequência directa do choque na traseira do OX, a A. sofreu contusão cervical e fra ctura de

L1? Provado;

Q6. Foi socorrida no Hospital Distrital de Matosinhos, onde esteve internada dois ? Prova do;

Q7. Passando depois ao regime de consultas externas, para vigilância e tratamentos médicos, situação

que ainda hoje se mantém nesse Hospital? Provado;

Q8. Foi inicialmente prescrita a utilização de colar cervical e repouso no leito? Provado;

Q9. Entretanto, começou a sofrer de parestesias do membro superior e inferior esquerdo, com p erda de

força, dores na região lombar e ombro esqu erdo? Provado apenas que desde 1992 a A. apresentava

queixas a nível lombar, as quais se agudizaram após o a cidente... tendo surgido depois também queixas

ao nível cervical e do ombro esquerdo;

Q10. Submeteu-se a vários exames de diagnóstico, vg. radio grafia s, TACs, ressonâncias,

electromiagrafia e electro encefalografia, tendo sido detectada uma hérnia discal centra l em L5-S1?

Provado apenas que a A. se submeteu a vários exames de diagnóstico, vg. radio grafias, TACs,

ressonâncias, electromiagrafia e electro encefalografia; Q11. Tomou injecções e infiltrações na coluna, sobretudo para atenuar as dores? Provado;

Q12. Sujeitou-se a centenas de sessões de fisioterapia na clínica da Santa Casa da Misericó rdia de Vila

do Conde desde 97.07.13 até 08.95? Provado;

Q13. Em Maio de 1995, a A. foi observada por neu rocirurgia, tendo sido proposta correcção cirúrgica?

Provado apenas que em 05.95, a A. foi observada em neurocirurgia tendo sido proposta correcção

cirúrgica a nível lombar;

Q14. Só que, segundo opinião médica, se trata de cirurgia a rriscada, podendo a A. ficar numa cadeira

de rodas? Provado; Q 15. A A. continua em observações e análises, aguardando a correcção cirúrgica pelo Hospital de

Matosinhos? Provado apenas que A. continua em observações e análises;

Q16. Motivo pelo qual ainda nã o teve alta destes Hosppital? Não provado;

Q17. Dada a tipologia própria das lesões, os médicos proibiram a A. de fazer até pequenos esforços,

mesmo domésticos? Provado;

Q18, Por esse motivo não regresso u ainda ao trabalho... de conserveira...? Pro vado;

Q19. A A. mantém as seguintes sequelas permanentes:

(a) compressão medular;

(b) arrancamento da parte superior de L1;

(c) hérnia discal L5-S1;

(d) parestesias ao nível do membro superior esquerdo e membro inferior esquerdo com perda

de força muscular em ambos os membros;

(e) dores p ersistentes na zona lombar (lomba lgias) e ombro esquerdo? Provado apenas qu e A.

apresenta as seguintes sequelas lesionais:

(a) no pescoço:

• mobilidade conservada mas limitada por dor nos movimentos de estinção e rotação

lateral;

(b) nos membros inferiores:

9

• lasségu e p ositivo à esquerda e duvid oso à direita (50%);

• diminuição da força muscular para grau 3+ em 5 sem alterações da sensibilidade;

• referência a parestesias com início nos dedos do pé, face interior da perna, face lateral

do joelho, seguindo pela face posterior da coxa; (f) sequelas de fracturas e de comp ressã o radicu lar a este nível (admitindo-se neste caso

agravamen to da sintomatologia já registada em anotação clínica de 1992) e ainda

cervicobraquialgia com irradiação para a esquerda;

Q20. Tais sequelas traduzem uma incapacidade permanente total (100%) para o tra balho específico de

conserveira, ou para qualquer outro que exija esforço? Provado;

Q21. E traduzem ainda uma IPP nunca inferior a 50% para profissão compatível? Provado apenas que

As conseq uências do acidente acarretaram para a A. um agravamento da IPP de que já p adecia, esta

nunca inferior a 20%: apresenta actualmente uma IPG – 35 %;

...........................

Q25, Foram raras as faltas que a A. d eu ao traba lho... ao longo dos últimos 26 anos de serviço? Não

prova do;

Q26. À data do acid ente a A. ganhava o salário mensal de Pte 56 50 0$0 0, acrescido de férias, subsídio

de férias, 13 º mês, subsídio de alimentação e prémio de assiduidade, no montante global de Pte 64

860$oo/mêS? Provado apenas que a A. ganhava o salário mensal de Pte 51 000$00, acrescido de férias,

subsídio de férias, 13º mês, subsídio de alimentação e prémio de assiduidade, no mo ntante global de Pte

57 660$00;

....................

Q28. Também a p edido da A., o R, pag ou em 95.04 .26 os ven cimentos de Junho a Dezembro/94 = Pte

552 280$00, 120 sessões de fisioterap ia, 7 receitas de farmácia, 1 TAC na CS Boa vista, 4 consultas no H.

Matosinhos, 1 consulta no H. Vila do Conde, 2 consultas no CS Modivas, 1 recibo de táxi, 180 bilhetes de

autocarro, no montante global de Pte 654 505$00? Provado que O R. [Esta do] pagou, 95.04.27:

• os vencimentos d e 0 7/12.94 = Pte 552 280$00;

• 120 sessões de fisioterapia;

• 7 receitas de farmácia;

• 1 TAC. CS Boavista;

• 4 consultas HD Matosinhos;

• 1 consulta H. Vila d o Conde;

• 2 consultas no CS Modivas;

• 1 recibo de táxi;

• 180 bilhetes de autocarro,

tudo no montante global de Pte 654 505$00, e somando estes e os anteriores pagamentos à A. a quantia

global de Pte 2 2 38 530$50;

..................... Q30. A A. suportou em 240 sessões de fisioterapia na clínica da Santa casa da Misericórdia de Vila do

Conde o mon tante global de Pte 26 400$00? Provado que A. suportou em sessões de fisioterap ia na

clínica de Sa nta Clara da Misericórdia de Vila do Conde os montantes de Pte 26 406$00 e de Pte 107

100$00;

Q31. A A. suportou em 7 viagens de táxi ao H. Matosinhos, CS Boavista e Ordem do Carmo, o montante

global de Pte 25 100 $00 ? Provado;

Q32. A A. gastou em 8 receitas de farmácia, o montante g lobal de Pte 23 750$00? Provado;

Q33. E em 6 consultas no H. Matosinhos, o montante global de 6 100$00? Pro vado;

Q34. E em 6 consultas no p osto médico de Modivas, o montante global de Pte 1800$00? Provado;

Q35. A A. gastou em 167 viagens de ida e volta de Labruges para V. Con de, em autocarro da empresa de

viação Costa & Lino, Lda, o montante global de Pte 28 390$00? Provado;

Q36. E em 4 bilhetes da mesma camion agem, o montante global de 300$00? Provado;

Q37. O sa lário actual da A. é de Pte 64 720$00, acrescido de prémio de a ssiduidade no montante de Pte

3 3 00$ 00/mês, férias, subsídio de férias e 13º mês? Provado que à data da propositura da acção o

salário d a A. era de Pte 64 720$00, acrescido de prémio de assiduidade no montante de Pte 3

300$00/mês, férias, subsídio de férias e 13º mês;

10

(g) No âmbito da convicção do tribunal para a resposta explicativa e

restritiva a Q9, Q10 e Q136, foram tidos em conta além dos elementos clínicos

constantes dos autos, o relatório da perícia médico-legal e os esclarecimentos

da Exma. perita médica, de tudo tendo resultado que na fixação da IPG de

35% estão compreendidas lesões que a A. já tinha à data do acidente e ainda

aquelas que lhe advieram em consequência do mesmo;

(h) Porém, por falta de meios de diagnóstico adequados não foi possível

determinar o grau de incapacidade que a A. sofria à data do sinistro, pelo que,

com base no juízo de equidade autorizado no art. 1566/3 CPC, o tribunal

considerou como resultante do acidente uma IPG- 20%;

(i) Para uma tal conclusão relevaram ainda os depoimentos dos médicos

Dr. que revelaram ter

observado a A., no âmbito das suas funções, o primeiro depois do acidente, o

segundo, antes do mesmo, e identificaram nela patologias degenerativas da

coluna cervical, ao nível da coluna lombar, as quais poderão ter-se agravado

com o acidente, desconhecida contudo a medida em que tal possa ter ocorrido;

(j) De qualquer modo, afirmaram que a A. em consequência do acidente e

das lesões contraídas no mesmo viria sempre a sofrer uma IPP até 10%, na

pior das hipóteses, e utilizado critério da TNI – acidentes laborais, não

coincidente com o critério IML: foi por isso, até em face da falta de um critério

suficientemente seguro e universal, que o tribunal lançou mão do referido juízo

de equidade, como ferramenta adequada ao caso.

(k) Finalmente, no tocante à situação laboral e social da A., o tribunal

atendeu aos depoimentos das testemunhas ,

Q38. A A. sofreu dores intensas no acidente e nos tratamentos a que se vem submetendo? Provado que a

A. sofreu dores intensas no acidente e no tratamento a que se submeteu, sendo o quantum dolo ris fixável

no grau 4, numa escala de 1 a 7;

Q39. Estas dores são tã o fortes que tem de tomar injecções e infiltrações na coluna? Provado;

Q40. E acompanharão a A. até ao fim da sua vida? Provado;

Q41. A A. sofreu e continuará a sofrer intranq uilidade, transtornos na sua vida e incómodos decorrentes

da sua doença, com previsíveis internamen tos hospitalares, deslocações a consultas médicas e sessões de

fisioterapia? Provado;

................................

6 Vd. nota antecedente.

11

antigas colegas de trabalho, que a conheciam há muitos anos, sabendo do seus

sofrimento e desgosto após o acidente: continuaram a conviver com ela.

IV. CLs./Alegações (Estado):

(a) A resposta afirmativa a Q147, no qual se perguntava se a cirurgia aludida

em Q138 seria arriscada, segundo opinião médica, podendo a A. ficar numa

cadeira de rodas, é insustentável, com o sup orte expressamente invocado no

despacho de Motivação;

(b) Primeiro, porque a resposta acaba por ignorar completamente a

circunstância, bem relevante, de os problemas lombares da A. remontarem a

1992, apenas se tendo agudizado em consequência do acidente;

(c) E a haver risco que pudesse determinar o resultado de a A. ficar nu ma

cadeira de rodas, tal risco era-lhe parcialmente imputável, problema que a

resposta afirmativa simples a Q14 acaba por injustificadamente iludir;

(d) Entretanto o julgador acaba por ignorar o modo radicalmente limitado

como o problema foi tratado no relatório pericial do então IML9, no teor do

qual firmou a convicção;

(e) Com efeito, a resposta afirmativa ao quesito apresentado pela A. aos

peritos10, no qual perguntava se tal cirur gia era arriscada, podendo a paciente

7 Vd. nota 5.

8 Idem.

9 Instituto de Medicina Legal do Porto

Clínica Médico-legal

Exame 0001- acidente de viação

Nome:

.....................

Conclusões:

1. In capacidade temporária absoluta geral: entre a data do acidente e 93.06.02

2. In capacidade temporária parcial geral: entre 93.0 6.03 e 94.04.30

3. In capacidade temporária absoluta profissio nal: entre a data do acidente e 94.04.30

4. Quantum doloris: fixável n o grau 7 (1-7)

5. In capacidade permanente geral: fixável em 35%

6. In capacidade permanente profissional: incapaz para a profissão habitual

7. Coeficiente de dano: grau 2* (0-4 )

8. Dano estético: fixável no grau 1 (1-7)

* Dano corporal de gravidade média, com a necessidade de recurso a ajudas técnicas ou medicamento sas, ma s não a ajuda humana.

12

ficar numa cadeira de rodas, supunha, no s seus próprios termos, a

possibilidade de tal cirurgia correr mal;

(f) Contudo a resposta pericial nada disse quanto à maior ou à menor

probabilidade do inêxito de tal operação, quer em termos gerais, quer no caso

particular da A.11;

(g) Daí que com o fundamento exclusivo na aludida perícia médica, como

acabou por acontecer, não pudesse Q14 ter sido respondido afirmativamente,

como foi;

(h) Por outro lado, o tribunal, baseando-se apenas na perícia médica em

causa, não poderia ter respondido afirmativa e incondicionadamente a Q1712,

tal como sucedeu, pelo contrário;

10 Quesitos da A.:

............................

Q2. É possível que só a partir [do acidente] a A. tenha começado a sofrer de parestesias do membro

superior e inferior esquerdo com perda de força, dores na região lombar e ombro esquerdo? Já existe

registo clínico de queixas a nível lo mbar em 1992; no enta nto admite-se que essas queixas se tenham

agudizado após o acidente dos autos, assim como tenham surgido queixas a nível cervical e do ombro

esquerdo.

...........................

Q6. É possível que a A. tivesse sido observada em neurologia e lhe tivesse sido proposto correcção

cirúrgica? Sim, com referência a situação clínica a nível lombar;

Q7. Esta cirurgia é arriscada, podendo a A. ficar numa cadeira de rodas (a correr mal)? Todos os acto s

cirúrgicos são acompanhados de riscos técnicos, n omeadamente riscos anestésicos ou riscos

contabilizados esta tisticamente quanto à patologia que vai ser corrigida e a técnica que vai ser utilizada

nessa correcção cirúrgica.

Q8. Dada a tipologia própria das lesões, é possível que os médico s tivessem aconselhado a A. a não

fazer esforços, mesmo que domésticos? Sim.

Quesitos do R.: Q5. Face à sintomatologia que a. apresenta, será acon selhável correcção cirúrgica? Sim, a nível lombar;

Q6. Na afirmativa, a correcção cirúrgica justificar-se-ia independentemente do acidente? Não é possível

apresentar um racio cínio clínico nesse sentido, uma vez que a sintomatolo gia referida em 1992 a nível

lombar não foi estudada com exames complementares de diagnóstico além do exame radiológico (que

não é o exame de eleição para estudo de eventual pato logia herniária); sendo assim, não existe

diagnóstico definitivo quanto à situação anterior ao acidente, e como tal não é possível fazer conjectu ras

relativamente a even tuais tratamentos a considerar.

......................

Q11. Face ao acidente, sofreu a A. algum agravamento das lesões que tinha? Ad mite-se que sim a nível

lombar, conforme foi a trás explicado.

Q12. Na a firmativa, tal agravamento em que gra u de IPP se traduz? Na resposta a a Q6. os perito s

referiram desconhecer com exactidão o diagnóstico definitivo da situação clínica anterior ao acidente;

como tal, apenas podem referir que as queixas que a examinada refere actualmente, assim como o exame

físico efectuado, são mais graves do que as registadas no registo clínico datado de 1992. 11 Vd. nota antecedente.

12 Vd. nota 5..

13

(i) Na verdade, a resposta pericial de afirmativa simples, ao quesito 8º da

A.13, apenas permite concluir no sentido da admissibilidade da hipótese que

nele é figurada;

(j) Daí que a resposta a Q17, a ser afirmativa, mas em vista da sua

fundamentação, apenas o poderia ser no sentido da eventualidade de terem os

médicos proibido a A. de fazer até p equenos esforços domésticos;

(k) Nada de tão categórico como o que resulta da resposta, sendo manifesta a

contradição entre esta e os motivos;

(l) Ainda assim, não se aceita, por incompreensível, que tenha sido dado

como provado (resposta a Q2114) terem acarretado para a A. as consequ ências

do acidente um agravamento da incapacidade permanente geral (de q ue já

padecia), nunca inferior a 20%, num quadro onde a IPG é globalmente fixada

em 35%;

(m) E isto porque na Fund amentação, embora com recursos a juízos de

equidade, o tribunal acabou por considerar que do acidente adveio para a A.

uma IPG de 20%;

(n) Com efeito, a resposta ao quesito inculca que a IPG da A. era de 20%,

enquanto da Fundamentação resulta que seria imputável às sequelas do

acidente, e foi a este número que o tribunal atendeu no cálculo da

indemnização por danos patrimoniais;

(o) Por fim, a resposta a Q2315 não se mostra minimamente fundamentada;

(p) Apesar disso, a sentença acabou por acolhê-la em termos aliás bem

alargados;

(q) Com efeito, sem que se perceba qual o fundamento, aliás nem sequer

sugerido, sucedeu-se na sentença à tese sobre a mera previsibilidade da A. não

13 Vd. nota 10.

14 Vd. nota 5.

15 Questionário:

................

Q23. Conjug and o a su a incapacidade laboral, o seu grau de instrução e o excedentário mercado de

trabalho não qualificado, é previsível que a A. não venha a conseguir outra actividade remun erada, e

venha a ser reformad a a curto prazo pela Segurança Social, situação equivalente à IPT? Provado

apenas que co njugando a sua incapacidade laboral, o seu grau de instru ção e o excedentário mercado de trabalho não qualificado, é previsível que a A. não venha a conseguir outra actividade remunerad a.

14

vir a conseguir obter no futuro qualquer actividade remunerada, provinda da

decisão sobre a matéria de facto uma simples afirmação que seria assim

mesmo;

(r) Tal confusão é totalmente inaceitável, desde logo por falta absoluta de

fundamentação, além de que assenta numa imotivada avaliação evolutiva da

conjuntura económica e do emprego, bem como num juízo de prognose quanto

à evolução cultural e de qualificações da A., avaliação e prognose efectuadas

em termos necessariamente negativos;

(s) Ainda assim, sem discutir o critério assente no disposto no art. 562 CC, a

indemnização fixada a título de danos patrimoniais é inaceitável, nos termos

sentenciados;

(t) É que, não se tendo comprovado ter ficado a A., em razão do acidente,

incapacitada para o exercício de toda e qualquer profissão, a indemnização a

arbitrar-lhe, de acordo com a medida da diferença a que manda atend er o citado

artigo do Código Civil, deve apenas exprimir a perda da incapacidade de ganho

resultante da IPG – 35%;

(u) E, concretizada a tal diferença, deverá a decorrente indemnização ser

reduzida de acordo com a responsabilidade qu e v ier a ser imputada ao Estado,

tendo em conta que em caso algum deverá ser superior a 20% da r eferida IPG –

35%;

(v) Por outro lado, não se atendeu à circunstância de a vítima ter podido, e

poder ainda obstar à persistência do dano ou seu agravamento, realizando a

pertinente intervenção cirúrgica à coluna lombar: não se mostrou que seja

susceptível de a deixar numa cadeira de rodas;

(w) E nãos e verificando perda total da capacidade de ganho por parte da A.,

verificando-se que esta, com o seu comportamento omissivo e culposo,

concorreu e concorre para o agravamento do dano, a sentença acab a por

condenar o Estado em indemnização excessiva e por isso injusto, por

inadequada aplicação do já referido artigo 566/2 CC e pela não aplicação do

disposto no art. 570/1 do mesmo diploma legal;

15

(x) Ainda assim, a sentença, ao condenar o Estado na indemnização global

de Pte 6 500 000$00, pedida pela A. a título de danos não patrimoniais não

atendeu, como devia, e por imperativo do art. 496/3 CC, à situação económica

da vítima e às demais circunstâncias do caso: indemnização exagerada e por

isso injusta;

(y) Ora, para justificar tal excesso indemnizatório apenas se invoca na

sentença ir sendo tempo de nos tornarmos europeus nas indemnizações: é

insuficiente, sobretudo tendo em conta as demais distâncias que nos afastam da

média da União Europeia, designadamente no que tange aos salários dos

trabalhadores não qualificados;

(z) Acresce que a indemnização fix ada a este título, danos não patrimoniais,

se afasta claramente dos montantes que a jurisprudência maioritária vem

definindo para os danos não patrimoniais próprios dos lesados, designadamente

em caso de morte;

(aa) Por conseguinte, a indemnização atribuída à A. a título de d anos não

patrimoniais é também excessiva, resultando da incorrecta interpretação e

aplicação do art. 494, aplicável por força do art. 496/3, ambos do CC;

(bb) Em suma: devem ser consideradas negativas as respostas a Q14, Q17,

Q21 e Q23, face ao teor da perícia médica em que assenta a respectiva

fundamentação, ou à total ausência desta, ou, se assim melhor for entendido,

ordenada a baixa dos autos à 1ª instância para ampliação da matéria de facto;

(cc) Considerados no entanto procedentes as objecções de direito opostas à

sentença, será proferido acórdão baixando o montante da indemnização.

V. Contra-alegações: não houve.

VI. Cls./Alegações ():

(a) Se o lesado em acidente de viação, pese embora sofrer de uma patologia

genética correspondente a 20% da sua capacidade laboral, trabalhava antes de

sofrer um acidente, auferindo salário igual aos demais trabalhadores e se, por

16

efeito do acidente, ficou com IPA-tqt, quer por lesões novas, quer por

agravamento das anteriores, deve ser indemnizado como se tudo resultasse do

acidente, por analogia com os casos de acidentes de trabalho, previsto na Base

VIIIª/1.2, Lei 2127.65, à data em vigor (actualmente previsto no art. 9/1.2, Lei

100/97, 13.09);

(b) A igual conclusão chegamos por aplicação da teoria da diferença: se

antes do acidente trabalhava e auferia X do ordenado, e depois dele não pode

mais trabalhar, a indemnização deve compreender a diferença de rendimento

entre a anterior e a presente situação (outrossim poderia acontecer se o lesado

recebesse uma indemnização, p.ex. da Seg. Social, correspondente aos

indicados 20% - o que não é o caso – por forma a evitar o locupletamento à

custa alheia);

(c) Para cômputo dos danos futuros a jurisprudência vem assentando em

critérios matemáticos, objectivos, norteadores, temperados depois com a

equidade, conforme o recente estudo de Sousa Diniz16;

(d) Seguindo de perto o modus operandi daquele ilustre autor, em primeiro

lugar a indemnização deve representar um capital que se extinga no fim da

vida e seja susceptível de garantir, durante esta, as prestações periódicas

correspondentes à perda de ganho;

(e) Ora, sendo o rendimento anula da lesada, à data da propositura d a acção17

de Pte 68 020$00 x 14 meses = Pte 952 280$00, e a taxa de rendimento

bancário inferior a 3% ano, aplica-se a seguinte r egra de três simples:

100 ...... 3

X ......... Pte 952 280$00

95 280 000$00/3 = Pte 31 742 665$00 ou € 158 31,75

(f) Esta importância deverá sofrer uma redução de ¼, uma vez que a lesada

vai receber de uma só vez o que em princípio deveria receber em prestações

16 Aut. cit., CJ/STJ/20001/T1, pp. 5 ss, sobretudo 9.

17 Data mais recente... art. 566/2 CC.

17

anuais, e ainda a fim de evitar que no fim da vida mantenha intacto o capital

recebido (enriquecimento sem causa), o que dá: 31 742 665$00/4 = Pte 23 807

000$00 ou € 118 784,81 (e não o montante apurado na sentença recorrida de

Pte 15 348 958$00;

(g) Quanto mais baixa for a idade da lesada maior será a tendência para nos

aproximarmos da indicada quantia, opinando o citado autor que, na casa do s 30

anos (a lesada tinha 38), é de manter inalter ado o tal valor, atendendo que a

esperança média de vida activa é hoje comummente aceite de 74 anos para a

mulher18;

(h) Tendo a lesada, mulher de 38 anos, casada e com filhos, ficado com uma

IPA-tqt, e ainda com incapacidade p ara fazer até pequenos esfor ços mesmo

domésticos, deve relevar-se esta falta de rendimento ex tra-laboral, aumentando

o número a que se chegou numa das anteriores conclusões, i.é, € 118 748,81

em mais € 25 000 (o salário mínimo nacional de uma empregada doméstica é

hoje de € 341,2519);

(i) Para apurar o quantum indemnizatório da lesada deverá considerar-se

também a actualização salarial da A. ao longo da sua vida (só para dar uma

ideia: o salário mínimo nacional de uma emp regada doméstica em 1993 era de

Pte 41 000$00, e em 2002 é de € 341,23 ou Pte 68 410$00, i.é, 66% mais);

(j) Do mesmo jeito, devem considerar-se as despesas previsíveis da lesada

em consultas médicas, medicamentos, injecçõ es e infiltrações na coluna,

internamentos hospitalares, deslocações e consultas, sessões de fisioterapia que

vai ter de suportar ao longo da vida inteira20;

(k) Tendo a lesada, em 1996, comutado os danos não patrimoniais em Pte 6

500 000$00, e pecando por defeito, por a A. n ão ter tido em atenção a recente

valorização do dano moral, nem por isso está o julgador limitado no seu

veredicto, podendo socorrer-se do mais justo e actualizado critério

jurisprudencial, adentro do limite imposto pelo valor do pedido, Pte 25 000

000$00;

18 Vd. Ac. STJ 95.09.28, CJ/STJ/T3/36.

19 Vc. DL 325.01.

18

(l) Sendo louvável a valorização do dano moral nos últimos seis anos21, e

considerados aqui a IPA-tqt da A. até para pequenos serviços domésticos, a

profunda dor, angústia, transtornos que ela sofreu e vai sofrer até ao fim da

vida, julga-se mais justo o montante de Pte 10 000 000$00 ou € 50 0000 para

compensação dos danos desta espécie;

(m) Por conseguinte, a sentença reco rrida por omissão e er ro de aplicação

desrespeitou os arts. 562 e 564 CC;

(n) Deve ser revogad a e substituída por acórdão q ue condene os RR na

totalidade do pedido.

VII. Contra-alegações: não houve.

VIII. Recurso: pronto para julgamento.

IX. Sequência:

(a) O Estado, proprietário do veículo que deu causa ao acidente, levanta

algumas questões de crítica da matéria de facto dada como provada. Desde

logo não aceita as respostas a Q13, Q14 e Q17, que representam todas um

específico arco problemático (operação cirúrgica e impossibilidade funcional

desencadeada por n ão ser levada a efeito), o Digno Procurador da República

(Adjunto) fundamentando a discordância no resultado do exame levado a cabo

no IML e nas respostas dadas pelos Exmos. peritos aos quesitos formulados

pelas partes. Mas deixa para tr ás na minuta que foi expressamente convocado

na Motivação o sentido do depoimento de uma médica forense de entre eles,

depoimento não registado afinal de contas e que, por isso mesmo, não pode

contribuir sequer para a crítica das respostas, nomeadamente no âmbito e

alcance da estimativa do valor dos argumentos do Ap.e: não ficou nem está o

20 Vd. II.(12), (41) e (43).

21 Vd. recente Ac. RL da criança morta no Aqua Parque de Pte 60 000 000$00.

19

tribunal de recurso na disponibilidade de todos inputs à decisão... Terá de ser

acatada por obediência ao princípio da liberdade de julgar.

(b) De qualquer modo, o nó de onde parte, i.é, sugerir que uma eventual

recusa da operação cirúrgica cairia no ventre de um agravamento intoleráv el do

montante indemnizatório, havendo como que um dever de a vítima ser

submetida ao tratamento escolhido pelo responsável da lesão, parece de todo de

afastar. E na verdade não cabe aqui a hipótese do art. 570/1 CC: para além do

mais a A. não contribuiu com qualquer culpa para o sinistro, devendo, por

outro lado, ser livre nas decisões de se submeter aos tratamentos, e ser livre

justamente no sentido específico de não ter de acatar sequer uma simples

sugestão de quem esteve envolvido nos factos danosos, enfim interessado no

pagamento de uma indemnização menor, mas não autorizado pela lei a

comprimi-la contra o interesse legítimo da vítima (eximir-se a um risco ou

mesmo à mera angústia da cirurgia).

(c) Outra das questões de crítica da matéria de facto apresentad a pelo MP

refere-se à resposta a Q21, mas a crítica não é de modo algum procedente: o

tribunal limitou-se a afirmar que a IPP de que a A. já padecia ficou agravada

como sequela do sinistro e fixou a medida da incapacidade herdada em 20%. É

esta percentagem que depois vai ser tida como operador decrescente do

montante indemnizatório, mas a partir da matriz fornecida por outra

constatação de facto: a A. ficou totalmente incapaz (100%) para o trab alho

habitual (que para si elegeu, com base na energia física). Em suma, o tribunal

não quantificou o aumento da IPP a partir das lesões sofridas no acidente por

e, portanto, a objecção posta pelo reco rrente deixa de ter sentido

operacional.

(d) Ora, na mesma linha foi criticada a resposta a Q23, onde porventura não

se trata verdadeiramente senão de concluir sobre certos dados fornecidos no

enunciado do quesito. Por esta via mereceria crítica, mas não pela via encetada

pelo Estado discordante. Contudo, a inferência é legítima, de acordo com a

experiência comum e a racionalidade dos juízos que podem ser retirados

20

doutros factos assentes, tais foram enxertados no raciocínio. Por conseguinte,

também aqui não assiste razão ao Ap.e.

(e) Por fim: a crítica do cálculo do montante indemnizatório dos danos

futuros com base numa IPP 35% e não numa incapacidade total para a

profissão de conserveir a e/ou de energia física exigente esquece que esse

mesmo montante final está a ser deduzido a partir do vencimento como

operária e conserv eira! Acaso a vítima pudesse, pela sua formação académica

ou requalificação profissional aceder a uma modalidade profissional mais

exigente e por isso mais bem paga, seria sobre o novo ordenado que se deveria

calcular o débito, bem mais severo ainda.

Em suma, para o vencimento considerado terá necessariamente de ser levada

em linha de conta a impossibilidade profissional de 100% e não aquela de 35%,

assaz abstracta ou elemento a intervir na morigeração do resultado final,

desconto também dito de juízos de equidade: mais uma vez não tem razão o

Estado.

(f) Mas se o Estado não tem razão em todos os ita das conclusões da minuta

deste recurso, o mesmo já não acontece quanto à A., vítima do acidente e que

interpôs recurso subordinado. Não convence porém da estimativa do montante

indemnizatório por danos futuros quando critica a modalidade de cálculo usada

na sentença de 1ª instância, contrapondo-lhe uma outra muito mais

simplificada do que aquela que foi proposta pelo Ilustr e autor citado no texto

das Alegações: no limite, teria por elemento preferencial de referência todo o

tempo de vida restante e não toda a vida profissional da vítima.

Vale aqui argumento equivalente ao que foi usado contra o 1º Ap.e: é preciso

sublinhar que a base do cálculo repousa, antes d e mais, numa dada expressão

numérica da retribuição profissional: só estará presente até ser atingida a idade

da reforma.

21

(g) Convencerá a Ap.e, antes pelo contrário, no que se ref ere ao bom

argumento de não estar limitada pelo cálculo parcelar da p.i. a verba

indemnizatória por dano s não patrimoniais desde que o acréscimo possa caber

no pedido global. Assim é, pois na arquitectura da pretensão cad a uma dos

fragmentos discursivos se destinam, e só, a convencer e interagem, pois, no

interior da fórmula disp ositiva. Esta tange unicamente o pedido final: é esse

que não pode ser excedido pela condenação.

(h) Ora bem! Tendo em atenção a sintomatologia dolorosa comprovada, uma

vida sujeita à fisioterapia e à angústia de um q ualquer esforço físico menos

brusco seja, ao receio da actividade e do trabalho, improdutiva no plano dos

fazeres, não só a avaliação do dano na fasquia dos Pte 6 500 000$00 parece ser

uma base razoável quanto se justifica mesmo um incremento até a Pte 7 000

000$00, montante arredondado que pelo simples facto de ser introduzido nesta

lide levada a satisfação (compensatória da dor moral) trazida pelas

virtualidades do numerário, aferidas ao contexto social e económico da vítima.

Por conseguinte, fixar-se-á em mais € 2 493,99 a indemnização contad a na

sentença recorrida.

(i) Tudo visto, e o disposto no art. 496/3 CC, decidem alterar somente a

decisão de 1ª instância neste ponto: o débito indemnizatório que corre pelos RR

é de € 93 989,89.

X. Custas: pela A. na medida da sucumbência parcial.

22