acção socialista n.º 1378

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www.ps.pt N. O 1378 DIRETOR MARCOS Sá JUNHO 2013 LUíS CORREIA CANDIDATO à CM DE CASTELO BRANCO JOãO RIBEIRO CANDIDATO à CM DE SETúBAL // PáG. 14 // PáG. 15 AUTáRQUICAS 2013 ENTREVISTAS MANIFESTO ELEITORAL AUTáRQUICAS 2013 “UM NOVO CONTRATO SOCIAL DO GOVERNO LOCAL” // PáGS. 8 E 9 // PáGS. 4 A 7 Um poder local ao serviço das pessoas RAFAEL G. ANTUNES

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Europa n.º 91

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www.ps.pt

N.o 1378 diretor marcos sáJUNHO 2013

luís correia Candidato à CM de Castelo branCo

João ribeiroCandidato à CM de setúbal // PáG. 14 // PáG. 15

aUtárqUicas 2013 entrevistas

maNIFEsTo ELEIToraL aUTárQUIcas 2013

“UM novo Contrato soCiaL do Governo LoCaL” // PáGs. 8 E 9

// PáGs. 4 a 7

Um poder local ao serviço das pessoas

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a esCaLdardéfice atingiu 10,6%

Os últimos dados divulgados pelo instituto Nacio-nal de Estatística (iNE) revelaram que o défice orçamental das administrações públicas atingiu os 10,6% no primeiro trimestre do ano, o que compara-do com um valor nominal do défice de 7,9% registado no período homólogo de 2012 é mais uma evidência do “falhanço total” e do fim da política do Governo, pois é “muito superior” ao herdado em 2011.como disse, e bem, o deputado socialista Pedro Mar-ques, ao comentar, em primeira mão estes, números que não mentem: “estamos perante um falhanço rotundo de todas as metas, mesmo daquelas que foram revistas para o ano em curso”. quem explica melhor isto ao primeiro-ministro?

QUentesoberba, sr. primeiro-ministro?

E foi desta que estalou o verniz com Pedro Passos coelho a dar a machadada de graça num possível consenso entre Governo e o Partido socialista.No mais recente debate quinzenal na assembleia da república, o primeiro-ministro não só acusou o líder do Ps de alegada “soberba” por querer dar voz às preocupações e dramas dos portugueses, como continuou cego e surdo a todas as vozes discordan-tes, a apontar como certo o caminho para a tragédia social do qual não arreda pé, “custe o que custar”.

FrioContas adiadas

O Ps exige ao Executivo de coligação de direita que cumpra urgentemente as garantias dadas pelos se-cretários de Estado da cultura e dos assuntos Fis-cais no sentido de suspender a cobrança indevida de iVa ao setor da indústria fonográfica.E é que… apesar da questão da “cobrança indevida” de taxas de iVa a entidades de gestão coletiva de direitos de autor e direitos conexos ter sido parcial-mente resolvida no âmbito do Orçamento do Estado para 2013, ficou contudo por solucionar o problema das cobranças desde 2008!

GeLadoos filhos da oportunidade de emigrar

saberá o Governo quantas crianças e jovens aban-donaram a escola porque os pais se viram obrigados a emigrar? qual a rapidez e/ou constrangimentos no processamento de transferência das matrículas?Pois é, o primeiro-ministro apressa os passos dos portugueses que se vêm perdidos e acena-lhes com a oportunidade da emigração, mas fá-lo sem sequer olhar para as informações disponíveis que revelam que os níveis de escolaridade dos filhos dos novos emigran-tes são relativamente reduzidos, por vezes abaixo da média relativamente a outras comunidades estrangei-ras e que existe um acentuado abandono escolar… De volta ao ‘orgulhosamente sós’?! ^ MarY rodriGUes

siGa-nos no tWitter @PsOciaListasiGa-nos no tWitter @PsOciaLista

acÇÃo socIaLIsTa Há 30 aNos

21 junho de 1983bLoCo CentraL

O acordo político, parlamentar e de Governo celebrado entre o Ps e o PsD, assinado no Hotel altis entre Mário soares e Mota Pinto era a manchete da edição de 9 de junho do “acção socialista”. O órgão oficial publicava na íntegra os princípios gerais do acordo e da intervenção de Mário soares. Vinha aí o Governo do Bloco central. ^ jCCb

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Ps lisboa oriental

os jovens no Portugal da troika e do desemprego“Os jovens no Portugal da troika – emprego, formação e participação” foi o tema do debate promovido pela secção do Ps Lisboa Oriental, no clube Varejense, que contou com a presença dos camaradas Pedro Delgado alves, deputado à assembleia da república e ex-líder da Js, e João torres, secretário-geral da Js. j. C. CasteLo branCo

neste debate, moderado pe-lo camarada Manuel sarai-va, coordenador do Grupo de iniciativa Política da secção, os dois oradores convergiram na ideia de que é preciso res-postas ao nível do crescimen-to económico e da aposta na educação e formação pa-ra combater o flagelo do de-semprego jovem, que já atin-ge 40% em Portugal. este “número dramático”, disse Pedro delgado alves, “é fruto das políticas do atual Governo terem ido para além da troika”, acrescentando que

“só uma estratégia que aposte no crescimento e reforce o en-sino profissional e superior é eficaz” no combate ao desem-prego dos jovens. Já João torres defendeu o reforço das competências e meios da autoridade das Con-dições do trabalho para um combate mais eficaz aos fal-sos recibos verdes que afetam em especial os mais jovens. “os jovens são as maiores ví-timas da precariedade labo-ral”, disse.os dois oradores defenderam ainda que é preciso promover

políticas que fomentem a par-ticipação cívica dos jovens na política. “É importante realçar a im-portância da política como motor de transformação po-lítica”, afirmou João torres, “sublinhando que “há uma tensão crescente entre econo-mia de mercado e democracia, havendo a perceção de que os destinos do país são mais in-fluenciados pelos mercados do que pelos cidadãos que ele-gemos. o fundamentalismo do mercado tem efeitos de-vastadores”. ^

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marcos.sa.1213@marcossa5

EDitOriaL nas aUtarQUias as Pessoas taMbéM estão PriMeiro

Marcos Sá

quem ouve as pessoas nas nossas ruas e em todo lado sabe que no país e em cada um dos municípios reina a incerteza, o desnorte e a descrença no futuro.

E no país, assim como em cada um dos municípios não nos pode-mos conformar com esta rota de declínio e regressão severa a que nos querem condenar. É verdade que temos dificuldades fi-nanceiras, que não podemos desvalorizar ou esconder, mas é um imperativo de cidadania não ficarmos reféns disso.

Não devemos esperar por uma varinha mágica que resolve tudo, mas podemos certamente olhar para nós próprios, confiantes nas nossas capacidades, conscientes das nossas diferenças e recriar novas soluções, novas propostas, novas políticas à altura deste tempo singular em que vivemos.

Políticas que coloquem as pessoas como prioridade. sem subter-fúgios contabilísticos e financeiros. com transparência e realis-mo. sem interferências de interesses privados ilegítimos. sem despesismo inútil e supérfluo para alimentar vaidades. com cora-gem. com audácia. com sentido de futuro.

O investimento na economia passa por investir nas pessoas. a economia somos todos, não uma figura de estilo. Novos, mais ve-lhos, empregados, desempregados, reformados. E esse é o maior desafio para o nosso futuro coletivo. reconstruir a confiança dos portugueses na democracia e no seu país. Unir todos por um de-sígnio, por um país próspero, mais justo e fraterno.

Comecemos este novo ciclo já nas próximas eleições au-tárquicas. Como afirmou o nosso secretário-geral na Con-venção autárquica do Ps: “vocês [autarcas socialistas] vão primeiro, a seguir seremos nós”. e para isto se con-cretizar rapidamente temos que mobilizar os munícipes dos 308 concelhos para as nossas ideias e projetos, mas também lembrar os munícipes das políticas definidas por este Governo e das suas consequências trágicas para a nossa vida. ^

“Não devemos esperar por uma varinha mágica que resolve tudo, mas podemos certamente olhar para nós próprios, confiantes nas nossas capacidades, conscientes das nossas diferenças e recriar novas soluções, novas propostas, novas políticas à altura deste tempo singular em que vivemos”

Morreu osvaldo de Castro

Um político de fortes convicções progressistasa esquerda está de luto. Vítima de doença prolongada, faleceu no dia 20 o socialista Osvaldo de castro, antigo secretário de Estado do comércio no primeiro Governo de antónio Guterres e brilhante deputado durante várias legislaturas. contava 66 anos. j.C.CasteLo branCo

resistente antifascista, osval-do de Castro foi um homem de causas públicas e de profundas convicções progressistas.osvaldo de Castro, que foi agraciado em 1999 com a Grã Cruz da ordem da liberda-de pelo então Presidente da república Jorge sampaio, foi presidente da Comissão Par-lamentar Permanente de as-suntos Constitucionais, direi-tos liberdades e Garantias e vice-presidente do Grupo Par-lamentar do Ps.licenciado em direito, ex--membro da Comissão Polí-tica nacional do Ps e das Co-missões Políticas Concelhias e distritais de leiria, osval-do Castro, natural do Porto, foi um dos principais dirigen-tes estudantis em Coimbra, durante a crise académica de 1969. a sua luta valeu-lhe uma

prisão pelos esbirros da Pide.ex-militante do PCP, osval-do de Castro foi um entusias-ta da perestroika, sonhando com uma via que conciliasse li-berdade e igualdade, o que na-turalmente o levou a aderir ao Ps em 1995, onde se destacou desde sempre pela força tran-quila das suas convicções e o brilhantismo da sua ação polí-tica em várias frentes, em es-pecial no Parlamento.

Perda para o paísnuma reação à morte de os-valdo de Castro, o secretá-rio-geral do Ps, antónio Jo-sé seguro, considerou que o desaparecimento prematu-ro do antigo deputado so-cialista é uma “perda” para o país e destacou o contribu-to “fundamental” que deu ao Parlamento.

“Faleceu um dos socialistas portugueses e, sobretudo, uma pessoa muito querida, que deu um contributo mui-to grande ao Grupo Parlamen-tar do Ps e, fundamentalmen-te, ao Parlamento português”, disse.Já o deputado e presidente da Federação de leiria do Ps, João Paulo Pedrosa, afirmou que o falecimento de osvaldo de Castro “é uma grande per-da para a sua família e Portu-gal perde uma grande perso-nalidade pública e um cidadão de decisivas causas públicas”.e destacou ainda o seu “bri-lhante” trabalho enquanto de-putado, mas também enquan-to “autarca na sua terra de co-ração, a Marinha Grande”, na qual “granjeou o carinho, esti-ma e admiração de toda a sua população”. ^

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4 aCoMPanHe-nos no FaCebooK sEDENaciONaLPartiDOsOciaListaaCoMPanHe-nos no FaCebooK sEDENaciONaLPartiDOsOciaLista

secção

coNvENÇÃo NacIoNaL aUTárQUIca Do Ps

Um poder local forte ao serviço das pessoas“a maioria dos portugueses gostaria de ter nas eleições de 29 de setembro mais um boletim de voto para escolher um novo Governo”, afirmou antónio José seguro, no dia 22, no encerramento da convenção Nacional autárquica do Ps, no coliseu dos recreios, onde assegurou que um futuro Governo socialista revogará as leis mais gravosas contra o poder local da maioria de direita. j. C. CasteLo branCo

na sua intervenção, onde rea-firmou que as novas políticas autárquicas do Ps têm como principal prioridade as pessoas e a criação de emprego e consi-derou que as câmaras e juntas de freguesia “são atores fun-damentais” para tirar Portu-gal da crise, antónio José se-guro considerou que “o po-der local sem autonomia é um simulacro”.e, por isso, adiantou que um fu-turo Governo socialista revoga-rá a lei de reorganização de fre-guesias e a lei de compromis-sos, procedendo à revisão da lei de finanças locais para re-forçar as competências das au-tarquias. “são três compromis-sos que assumo perante vós e o país”, disse.“discordo da lei de reorganiza-

ção administrativa das fregue-sias e vou mudar a lei”, disse, explicando que uma coisa “era reorganizar as freguesias com critérios e com coerência, pro-movendo proximidade e melho-ria de eficiência dos serviços, mas outra completamente dife-rente é cortar a eito”.“reformar não é cortar, é mu-dar para servir melhor as popu-lações, como foi feito aqui em lisboa”, disse, apontando o que foi feito em lisboa por antónio Costa.o secretário-geral do Ps avan-çou também que pretende re-forçar a autonomia do po-der local, porque “sem autono-mia não é poder local, mas um simulacro”.seguro sublinhou que “o poder local faz melhor determinadas

funções do que o estado centra-lista que ainda existe no país. É preciso confiar nas pessoas que têm o mandato dos cida-dãos para gerir os seus municí-pios ou freguesias”, criticando o Governo por ter imposto às au-tarquias a lei de compromissos, que “cria condicionalismos dis-paratados a quem tem dinheiro, quer fazer e não pode”.o líder do Ps propôs também uma nova lei de finanças locais com “uma nova descentraliza-ção de competências, em parti-cular nas áreas da educação e da ação social”.e considerou que “se alguém que pode governar impondo aos outros um projeto, dispen-sando 308 atores fundamen-tais, está enganado. olho para as câmaras e para as milhares

de freguesias como atores para ajudarem Portugal a sair da cri-se e criar um desenvolvimento sustentável”.

nova forma de fazer políticana sua intervenção, seguro de-fendeu que nas eleições de 29 de setembro os candidatos so-cialistas têm a obrigação de contribuir para a “reconciliação dos cidadãos com a atividade política”, nomeadamente atra-vés de “uma nova forma de fa-zer política”, onde “os recursos públicos nas campanhas serão feitos com rigor e parcimónia”.e falou ainda de um princípio ético que deve nortear as cam-panhas dos candidatos socialis-tas. “não prometam nada que não tenham a certeza que pos-

sam cumprir”.e acrescentou: “sei que mui-tos de vós vão primeiro depois de obterem uma vitória a 29 de setembro. Mas nós iremos a se-guir se merecermos a confian-ça dos portugueses para fazer o que falta a Portugal”.seguro disse ainda que “os so-cialistas olham para o poder lo-cal como um instrumento ao serviço das pessoas” e que no Ps os autarcas que completa-ram três mandatos não se re-candidatam noutro município.“não saem por uma porta e en-tram por outra no concelho vi-zinho”, disse, acrescentando que “podemos perder três, qua-tro ou cinco câmaras, mas da-mos um contributo para a qua-lidade da democracia e para a renovação dos mandatos”. ^

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secção

MiGuel laranJeiro

“temos os melhores autarcas”com a aproximação das eleições autárquicas e perante o descalabro, também a nível local, a que este Governo tem conduzido o país, Miguel Laranjeiro disse não ter dúvidas que o Ps não só apresenta os melhores candidatos às câmaras e freguesias, como as melhores propostas políticas para “tirar o país do fuso económico e social” para onde a direita tem estado a mergulhar Portugal.

rui solheiro

“Foram dois anos perdidos”se analisarmos com a atenção necessária estes dois anos da política autárquica, “chegaremos à conclusão de que foram dois anos perdidos”.

antónio Costa

“somos a afirmação da vontade de mudança”“as eleições de 29 de setembro vão abrir um novo ciclo político em Portugal”, garantiu antónio costa, salientando tratar-se de “um momento de grande afirmação popular da vontade de mudança política”.

“temos, para estas eleições autárquicas”, disse ainda Mi-guel laranjeiro, os candida-tos que “melhor interpretam as necessidades das pessoas e que apresentam progra-mas de ação que se adequam aos anseios e espectativas das populações”.

Clara foi também a sua afirma-ção de que não haverá em Por-tugal qualquer hipótese de re-forma do estado “sem a parti-cipação ativa” das autarquias locais e dos seus eleitos, clas-sificando como uma enorme perca de tempo as vãs tentati-vas do executivo de direita ao

pretender avançar com uma re-forma desta dimensão e impor-tância, “sem ouvir as opiniões das populações e dos seus re-presentantes locais.laranjeiro lembrou ainda que tem sido o Poder local, “como nenhum outro” que tem con-tribuído de forma eficaz e sus-

tentada para o desenvolvimen-to do país e para a qualidade de vida das populações, recusan-do a acusação, que muitas ve-zes lhe é imputada, de serem os municípios os maiores respon-sáveis pelos atropelos à legali-dade democrática”.são, pelo contrário, como sa-

lientou, “o verdadeiro caminho da democracia”, razão porque o Ps, como salientou, se orgulha dos seus autarcas e do traba-lho que têm vindo a empreen-der em prol das populações e do desenvolvimento dos seus concelhos ao longo destas qua-se quatro décadas. ^ r.s.a.

Para o autarca de Melgaço e pre-sidente da ana/Ps, rui solhei-ro, se dúvidas houvesse, basta-ria olhar para a “trapalhada” da reforma autárquica avançada pe-lo Governo, ao pretender elimi-nar freguesias sem antes discu-tir e aprofundar os efeitos dessa iniciativa, recolhendo as opiniões quer dos eleitos locais, quer das populações.na opinião de solheiro, trata-se de um Governo que tem falhado todas as previsões, que despreza

as instituições democraticamen-te eleitas e que apenas vê nos cor-tes dos salários e no número de funcionários públicos a solução para todos os problemas do país.acusando o Governo de ter “co-mo nenhum outro” péssimas re-lações com as autarquias, ele-vando-as mesmo à categoria de “principais inimigas”, atitude que em sua opinião se tem traduzido no “estrangulamento económi-co” dos municípios, dando como exemplo o corte de cerca de 20%

nas transferências do estado pa-ra as regiões. solheiro garantiu não ter dúvidas que o país peran-te este cenário de cortes brutais e de uma assinalável falta de ideias e de políticas sérias para as autar-quias por parte deste Governo, só terá como alternativa votar de forma clara nos eleitos socialistas e nas suas políticas autárquicas.Criticou ainda a ideia avançada pelo Governo de criação de um gestor para as autarquias locais com poderes para vetar iniciati-

vas democraticamente aprovadas pelos executivos locais, uma me-dida que rui solheiro diz não ter dúvidas de que “cheira a antes do 25 de abril”.Com o Ps no Governo, defendeu, o país terá um poder local forte, autónomo e respeitado, recor-dando que a grande aposta dos socialistas, quer a nível nacional,

quer a nível local, está focada na criação de emprego, na requa-lificação das cidades, nas ener-gias alternativas e nas políticas sociais.Portugal disse, “precisa de um novo ciclo de vitórias do Ps”, por-que o que nos move “é ajudar a construir um país onde caibam todos”. ^ r.s.a.

Para o autarca e dirigente socia-lista, as próximas autárquicas vão ocorrer num momento “mui-to dramático para o país, para as famílias e para as empresas”, de-fendendo tratar-se de uma bata-lha pela alteração do statu quo político que terá também que de-senrolar-se a nível local. segundo o presidente da Câma-ra Municipal de lisboa, o Ps tem de devolver a confiança às pes-

soas, explicando “a todos e a ca-da um individualmente”, que a opção que fizerem nestas elei-ções terá reflexos “na escolha do seu futuro”.aconselhando o partido a apre-sentar ao eleitorado uma agen-da comum anticrise, “sem descu-rar a vertente do rigor, porque os recursos são escassos”, defendeu que a prioridade terá que passar por propostas sérias e sustenta-

das de criação de emprego.a atual lei das Finanças locais foi igualmente objeto de reflexão, classificando-a de “limitativa da ação dos municípios”, sobretudo, como referiu, “ao nível do inves-timento”. e defendeu que o novo quadro de financiamento euro-peu, Qren pode abrir novos ho-rizontes de progresso, exortan-do os autarcas socialistas a uma maior proatividade na procura de investimentos.

também a anunciada reforma do estado mereceu do recandidato à Câmara de lisboa uma reflexão, afirmando que sem uma efeti-va descentralização e reforço das competências das autarquias lo-cais “tudo não passará de um si-mulacro de reforma”, limitando--se, “como pretende a direita”, a uma corrida contrarrelógio para retirar subsídios de férias, fazer cortes nos vencimentos dos fun-cionários públicos, encerrar orga-

nismos a eito ou acabar a “régua e esquadro” com as freguesias.antónio Costa acusou ainda os candidatos do Psd de andarem a “esconder” os seus emblemas e as suas cores políticas nos vários cartazes que já se encontram afi-xados pelos diversos municípios do país, lembrando que mesmo que queiram não conseguem en-ganar ninguém. “são os candida-tos do Governo e desta política”, disse. ^ r.s.a.

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MarCos PerestreLLoPresidente Faul“os partidos à esquerda do Ps são hoje fatores de bloqueio de soluções alternativas de Governo”“os candidatos falsos independentes não podem merecer a nossa misericórdia”

antónio borGesPresidente da CM resende e coordenador do liPP para as autarquias“sempre que há um Governo de direita há sérios recuos na autonomia do poder local”“o Ps não abdica do poder local democrático”

josé ContenteCM Ponta delgada“o Ps tem de novo um projeto autárquico, também para os açores, que vai repor o poder local democrático”

antónio eUsébioCandidato CM s. brás de alportel“vamos ganhar as eleições mas vamos ganhar com proximidade”

joana LiMaPresidente CM trofa“as nossas políticas autárquicas são claras. ninguém pode duvidar das nossas propostas”

joão Maria CostaPresidente CM viana do Castelo“a grande motivação é estarmos ao serviço das pessoas”

edUardo vítorCandidato CM vila nova de Gaia“nós acreditamos numa sociedade coesa, que só será coesa com grandes autarcas”

ManUeL MaCHadoPresidente CM Coimbra“a nova utopia dos novos tempos é criar condições para a criação de emprego”“a primeira prioridade das políticas autárquicas em Portugal deve ser o combate ao desemprego”

PaULo nevesCandidato CM Faro“estes dois anos de Governo da direita mais pareceram 20 anos”

joaQUiM raPosoPresidente CM amadora“as políticas do Governo estão a ceifar a esperança dos portugueses que mais do que nunca têm hoje os olhos posto no Ps”

idaLina trindadeCandidata CM nisa“a marcha do progresso parou em nisa há 20 anos com a gestão da Cdu”

MarCo FerreiraPresidente associação nacional dos Jovens autarcas“o poder local é uma das grandes conquistas de abril”

edUardo CoeLHoCandidato CM aveiro “o meu município está parado há oito anos”

inês drUMMondPresidente da Junta de Freguesia de benfica“as freguesias podem e devem fazer mais pela mobilidade e acessibilidade nas cidades”

Pedro do CarMoPresidente CM ourique“ somos hoje a última esperança das populações. servir as pessoas é a matriz do Ps”

CarLos MiGUeLPresidente CM torres vedras“Para sermos muito felizes a 29 de setembro temos de trabalhar muito”

josé jUnQUeiroCandidato CM viseu“enquanto outros procuram envergonhadamente esconder o nome do primeiro-ministro, eu digo a todos, com orgulho, que o nosso secretário-geral do Ps é antónio José seguro e quero que ele seja o nosso primeiro-ministro”“estou para acrescentar valor e não para fazer críticas destrutivas, porque as pessoas querem respostas”

josé iGrejaCandidato CM Guarda“os governos da direita há anos que apostam no desenvolvimento do litoral esquecendo o interior. só os governos do Ps têm olhado para o interior”

andré rijoCandidato CM arruda dos vinhos“sou candidato porque não admito que em pleno século XXi haja populações sem saneamento basco”

idáLia serrãoCandidata CM santarém“santarém foi votada ao abandono e parou no tempo. Por isso, precisa de mudar, com uma estratégia de

desenvolvimento e criação de emprego”“vamos construir um concelho mais solidário, com vida, dinâmico e com orgulho dos seus”“atual executivo camarário é incapaz de olhar para as pessoas”

joão nUnesCandidato CM loures“em loures não nos batemos para ganhar, em loures batemo-nos sempre pela maioria absoluta”

FranCisCo assisCandidato aM Porto“o Governo já mostrou que é incapaz de encontrar as soluções adequadas para enfrentar os elevados índices de desemprego”“a direita está a levar o país para um beco sem saída”“o Governo coloca o dogmatismo e o fanatismo acima das preocupações das pessoas”

basíLio HortaCandidato CM sintra“há dois anos que nos deparamos com um Governo obediente às políticas erradas da união europeia”“temos um Governo desumano, que despreza as pessoas e a sua luta pelo emprego e pela dignidade”“não seremos dignos de ser autarcas enquanto houver gente com fome”

josé Pinto LeiteCandidato CM Portalegre“a nossa principal aposta é a reabilitação urbana, que deveria ser um desígnio nacional”

ManUeL MeLGãoPresidente CM Évora“Continuam a faltar políticas públicas de combate à desertificação do interior”

Maria aMéLia antUnesPresidente CM Montijo“este Governo Psd/Cds está a matar o estado de direito democrático”“temos de remar contra esta maré de desconfiança”

joão torressecretário-geral da Js“todos nós, jovens socialistas, temos orgulho nos candidatos autárquicos do Ps. não temos medo de assumir a nossa identidade”

ManUeL PizarroCandidato CM Porto“os candidatos da direita desistiram das

eleições autárquicas no Porto. escondem os seus símbolos e slogans porque têm vergonha da sua candidatura”“Quem for hoje às ruas da minha cidade do Porto, acha que não há nenhum candidato dos partidos do Governo”“as eleições autárquicas no Porto significam muito mais do que aquele concelho. Quem olha para o Porto olha para o norte e para o país” “o que se passa na política nacional é o contrário do eldourado que nos prometeram há dois anos”

joão ribeiroCandidato CM setúbal“os comunistas castram a liberdade política, são um exemplo de atavismo e de sectarismo”“a gestão autárquica do PCP no distrito de setúbal, e não só, caracteriza-se pelo atropelo aos mais elementares direitos civis e políticos”“os progressistas e homens livres já derrubaram muitos muros na história. não custa derrubar mais um muro”“o legado do PCP na Câmara de setúbal, como nas restantes autarquias que lidera no distrito, é o desemprego, a dívida galopante e a falta de qualidade democrática”“o PCP é um obstáculo ao progresso e ao investimento, é o campeão do quanto pior melhor”

isabeL CoUtinHoPresidente do dnMs“o país tem de perceber que tem que deixar trabalhar quem sabe. e quem sabe são os autarcas do Ps”“Portugal precisa de ter mais mulheres na política”

sUsana aMadorPresidente CM odivelas“não há vitórias antecipadas, há muito caminho para fazer”“a escola pública é a nossa jóia da coroa, que garante a igualdade de oportunidades”

Fernando rodriGUesPresidente CM Montalegre“as autarquias locais não podem ser o bode expiatório para a incompetência do Governo”

josé LUís CarneiroPresidente CM baião“não haverá reforma do estado sem a participação das autarquias locais”“somos o partido que mais valoriza o território e a qualificação das pessoas” ^

a ideia de que as pessoas estão no centro das políticas autárquicas, com o acento tónico em políticas de criação de emprego, foi a nota dominante das intervenções dos autarcas socialistas na convenção.

as pessoas e o emprego no centro das políticas autárquicas

siGa-nos no tWitter @PsOciaListasiGa-nos no tWitter @PsOciaLista

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se um candidato a primeiro-ministro pode dizer em campanha eleitoral que não vai cortar nos subsídios nem despedir fun-cionários públicos e depois faz o contrário, por que razão não

podem os candidatos autárquicos esconder os símbolos dos parti-dos do Governo? se um pode mentir porque não podem outros omi-tir? Este pensamento tomou conta das campanhas eleitorais dos candidatos do Governo às eleições autárquicas de 29 de setembro. a degradação do ambiente social, económico e político não pode ser maior. Um Governo que dois anos depois procura fazer-se passar por alguém amigo do investimento público, do crescimento econó-mico e do emprego, mas tem como registo mais de um milhão de desempregados.Um primeiro-ministro que diz não ter medo das eleições, que nin-guém pode ser piegas, mas permite que os seus candidatos se apre-sentem sem as cores e os símbolos do partido, numa espécie de medo da avaliação dos cidadãos por interposta pessoa.Um primeiro-ministro com uma estratégia que passa por descartar “as maçãs podres” do Governo para ensaiar uma nova fase, tam-bém aqui numa lógica de divisão do tempo e das pessoas, marcas da governação do PsD e do cDs ao longo de dois anos.Pedro Passos coelho é responsável pelo maior ataque da história da democracia portuguesa ao poder local, à sua autonomia (criação da figura do gestor financeiro com direito de veto), à sua proximida-de das populações (extinção das freguesias) e à sua capacidade de resposta (lei dos compromissos).Pedro Passos coelho é responsável uma voragem de encerramen-tos a régua e esquadro, sem olhar às necessidades das pessoas, ao validar a extinção das freguesias, o encerramento dos tribunais, o fecho de estações dos correios e a criação de mega-agrupamentos de escolas. Mais, enquanto os seus candidatos escondem os símbo-los, preparam mais encerramentos para depois do dia 29 de setem-bro. agora de repartições de finanças.E agora, depois de tantos cortes e sacrifícios sem resultados na re-dução do défice das contas públicas e da dívida, querem, enquanto cortam mais 4,7 mil milhões de euros na saúde, na educação e na proteção social dos portugueses, ensaiar um recomeço.O problema é que, como no reino animal, a cobra por mudar de pele não é um animal diferente. Numas eleições, com uma data à medida da maioria governamen-tal; com comentadores que se desdobram em apresentações par-tidárias que depois as comentarem; com o apuramento intermédio dos resultados a ser realizado pelos interessados e com um terri-tório em estabilização, por via da extinção das freguesias, só o Ps pode ser fator de esperança. Pelos candidatos, pelos programas e pelo compromisso do secretário-geral em alterar a lei de extinção das freguesias e a lei dos compromissos. Estes não são tempos para ficar em casa à espera. ^

“Um primeiro-ministro que diz não ter medo das eleições, que ninguém pode ser piegas, mas permite que os seus candidatos se apresentem sem as cores e os símbolos do partido, numa espécie de medo da avaliação dos cidadãos por interposta pessoa”

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síMboLos do Psd?

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Com um horizonte próximo muito marcado pelo proces-so de ajustamento, compete ao Partido socialista e aos seus autarcas construir políticas equilibradas que te-nham em atenção novas condições de funcionamento das instituições e os novos desafios.sempre que a direita assume responsabilidades no Go-verno de Portugal, assistimos a retrocessos significativos no processo de aprofundamento da autonomia do Poder local e na sua participação no desenvolvimento do país, desaproveitando o envolvimento e os contributos de tan-tos e tantos cidadãos que nas autarquias locais concreti-zam políticas de quem conhece o seu território, as suas gentes, a história, a cultura e as ambições firmadas num potencial de querer e de ir mais além.o Ps tem, por isso, a responsabilidade de encontrar al-ternativa a um conjunto de iniciativas recentes, que en-cerram uma ideia inaceitável de prescindir em boa parte do território de funções essenciais do estado, desestru-turando as comunidades e abandonando o seu governo de proximidade nos municípios e nas freguesias.sempre haverá uma fronteira para o Ps comprometido com o funcionamento do estado e das autarquias ao ser-viço de todos os cidadãos, com um papel imprescindível na promoção da qualidade do serviço público prestado e no envolvimento dos cidadãos no processo de elabora-ção, execução e avaliação das políticas públicas, da efi-ciência, na afectação de recursos, na garantia de equida-de e da igualdade de oportunidades, ou na procura de es-tabilização dos quadros de afirmação e desenvolvimento das comunidades locais.o momento é de fortes restrições orçamentais, de libera-lização dos mercados e de privatização dos serviços pú-blicos, o que cria maiores dificuldades ao contrato social com os cidadãos, à sua participação nas causas comuns e aos seus comprometimentos. É pois necessário encontrar novos instrumentos e abor-dagens, novas ferramentas e uma forma diferente de go-vernação local, afirmando novos compromissos com as oportunidades que se abrem no próximo quadro comu-nitário de apoio na construção de territórios inteligen-tes, sustentáveis e inclusivos, nos termos da estratégica europa 2020. importa por isso afirmar as seguintes linhas de com-promissos de todos os socialistas com o Poder local em Portugal:- a promoção da sustentabilidade económica e da em-

pregabilidade local;- o fomento das redes de conhecimento, da qualifica-

ção e da conetividade territoriais;- apostar nas novas tecnologias e na sociedade da

informação;- um pacto para comunidades solidárias e

empreendedoras;- a qualidade do governo local e a construção de novas

escalas de partilha de decisão. - a garantia dos serviços de proximidade a todos os

cidadãos.os autarcas são hoje cada vez mais a figura dos empresá-rios públicos no que isso quer dizer de procura de susten-tabilidade das suas organizações e territórios e na dina-mização de projetos que acrescentam valor. a escala é fator preponderante dos ganhos de eficiência, redução de custos e acréscimo de competitividade e os compromissos regionais e intermunicipais mais efetivos e mobilizadores.afirma-se o princípio do acesso igual, independente-mente da condição e do sítio onde se encontrem os cida-dãos, mesmo num tempo de recursos escassos e de me-nos meios – esse é um desígnio do Ps e dos seus autarcas!

importa promover o reforço da democracia participativa, envolvendo e comprometendo os cidadãos nas decisões que envolvam receita e despesa, que serão melhor acei-tes se forem participadas, reflectindo prioridades reais.o desenvolvimento de políticas municipais de proximi-dade que promovam o crescimento e desenvolvimento económico, o emprego e a coesão social, alicerçadas em princípios de responsabilidade social e ambiental, na sus-tentabilidade, são desafios e compromissos de todos os autarcas socialistas.

1. ProMoÇão de PrátiCas de sUstentabiLidade eConóMiCa e aMbientaL e da eMPreGabiLidade

LoCaLo maior envolvimento das autarquias na necessidade de atenuar o crescente desfasamento entre as ofertas educa-tivas e as necessidades do tecido económico local e regio-nal (empresas sem recursos qualificados e recursos qua-lificados sem emprego), e o empenho no sucesso escolar, é o caminho para o sucesso das políticas de proximidade.neste momento de emergência económica e social as au-tarquias podem e devem ter um papel activo em estan-car a espiral recessiva criada pelas políticas do Governo. nesse sentido, o Ps defende um amplo programa de rea-bilitação urbana que optimize fundos comunitários co-mo o Jessica, entre outros, e que permita criar empre-go, dar maior dinamismo aos centros das cidades e con-tribuir decisivamente para a eficiência energética. ainda na área da criação urgente de emprego, o Ps propôs e vai continuar a insistir para que se crie um programa que fi-nancie actividades locais e sociais através de programas europeus como a iniciativa emprego Jovem, cabendo às autarquias e às iPss`s um maior protagonismo. Por outro lado, a maior necessidade de criação de tecido económico e a utilização de soluções mais sustentáveis, e com origem nos próprios territórios, obriga a novas abor-dagens, como seja:1.1. Criação de plataformas de negócios para territó-

rios empresariais e empreendedores, com a parti-cipação central das autarquias enquanto dinamiza-doras da sua criação, na construção das parcerias com empresas e cooperativas, na lógica de fun-cionamento em fileira, incorporando objetivos de qualificação e certificação de produtos (criação de marcas locais e regionais), bem como a inovação e a orientação no sentido da internacionalização.

1.2. desenvolver Centros de excelência, visando dinâ-micas de inovação alicerçadas nas temáticas locais com carácter diferenciador viradas para o exterior e com capacidade para públicos diversificados.

1.3. apoiar os empresários ao nível da gestão e do in-cremento da inovação, criando quadros locais de incentivo.

1.4. Promoção dos objetivos do desenvolvimento com novas competências na produção e distribuição lo-cal de energias verdes.

1.5. racionalização dos consumos energéticos nas re-des de equipamentos públicos e coletivos com ado-ção de políticas de eficiência energética. adopção de programas locais de iluminação pública inteli-gente, com menores custos associados

1.6. Criação de balcões de apoio ao investidor, muito especialmente na área da reabilitação urbana, per-mitindo a eliminação de processos administrativos e o excesso de estruturas envolvidas no licencia-mento urbanístico.

1.7. reabilitação do património edificado, arqueológi-co, cultural numa lógica integrada, que passe, en-

tre outros aspectos, pela adopção de práticas de rentabilização do património em situação de aban-dono, permitindo a fixação de população e a atra-cão de novos investimentos.

1.8. um novo entendimento entre o público e o priva-do para a regeneração urbana, com incentivos à in-tervenção e a avaliação dos conceitos de regulação e da propriedade do edificado, numa lógica de pro-moção do investimento de proximidade e de ativa-ção do emprego nas comunidades locais.

1.9. Criação de bolsa municipal que cruze oferta forma-tiva com a procura de recursos humanos.

1.10. dinamizar a partir das autarquias a participação da comunidade no processo educativo/formativo.

1.11. Colaborar na transformação das escolas em comu-nidades de aprendizagem, incorporando o concei-to de incubação de empresas e promovendo local-mente o aparecimento de novas profissões ligadas à Web.

1.12. aposta na valorização sustentável das áreas natu-rais, nas suas múltiplas dimensões e valências, no-meadamente o seu potencial turístico, apoiando as populações que aí residem.

1.13. Promoção de redes de mobilidade suave, capazes de gerar menores consumos para as instituições e para os cidadãos e de tornar o espaço público mais seguro e humanizado.

1.14. Promoção de práticas de sustentabilidade ambien-tal, seja por via da adopção de auditorias ambien-tais e energéticas às estruturas administrativas au-tárquicas, da adopção de programas locais de efi-ciência energética, de compras públicas verdes, de acções de valorização dos produtos locais, do re-curso a energias limpas, seja através de redes de parceria com outras organizações e instituições, nomeadamente escolas e outros centros do saber e o tecido empresarial.

1.15. Prossecução de roteiros locais de baixo carbono, que transformem a administração local portugue-sa, no exemplo do funcionalismo público nacional amigo do ambiente.

1.16. equacionar o sector empresarial na área do am-biente – Água e resíduos (empresas Municipais, intermunicipais e Multimunicipais) – Com políti-cas tarifárias, transparentes, com um modelo de investimento sustentável e que assegure que, os municípios tenham abastecimento domiciliário garantido e de qualidade; redução de perdas na re-de e substituição de redes envelhecidas; ligação à rede de esgotos e tratamento eficiente e resíduos sólidos centrados na redução de resíduos na fonte.

2. FoMento das redes de ConHeCiMento, da QUaLiFiCaÇão e da ConeCtividade territoriais. aPostar nas novas teCnoLoGias e na soCiedade da inForMaÇão

os territórios têm de usufruir de toda a informação exis-tente, de modo a disponibiliza-la à inteligência coletiva, no sentido de a transformar em conhecimento que possa provocar alterações na qualidade de vida, no tecido eco-nómico, nas relações sociais, na aproximação de pessoas.o governo local tem de ter competências na área da ino-vação, da educação e da sociedade digital, exercendo-as em complementaridade com as que pertençam ao gover-no central e comunidades empresariais e académicas.há que permitir que as autoridades locais intervenham competentemente na definição de currículos escolares, mesmo de ensino superior, no estabelecimento de redes

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de inovação, em áreas do conhecimento que sejam frutí-feras no seu território, projetos de investigação edesen-volvimento, que continuem o projeto das cidades e re-giões digitais com uma lógica orientada para Web 3.0.importa, por isso: 2.1. a instalação em todos os territórios de “Centros de

interesses do Cidadão – front office da administra-ção pública no município”, numa lógica de coesão, racionalidade, economia e igualdade de acesso aos serviços públicos. num mesmo espaço físico, ajus-tado às necessidades e realidades de cada municí-pio, envolver o maior número de serviços da admi-nistração central e local possíveis, numa lógica de rentabilização e agregação de recursos e numa par-ceria ativa entre administração central e local.

2.2. os territórios digitais através de incentivos à cria-ção de clusters informais tiC, a facilitação da res-petiva instalação e da garantia da universalidade do acesso e a largura de banda internacionalmente competitiva, fazendo dos ambientes públicos e so-ciais ambientes de ligação.

2.3. as plataformas digitais e a sua banalização nas or-ganizações e na relação com o cidadão através do e-serviços (prestação de serviços, licenciamentos, balcão do munícipe), e-educação (dirigido à co-munidade educativa como a biblioteca online) ou o e-conhecimento (com as redes de informação e documental).

2.4. a definição e gestão do modelo educativo numa lógica de descentralização e aprofundamento de competências da rede educativa municipal.

2.5. transferir e cooperar no nível supramunicipal, nu-ma lógica de escala e eficácia, a gestão de redes, sejam de transportes, de carácter cultural, de in-fraestruturas e serviços básicos ou de competên-cias associadas ao desenvolvimento da Web 3.0. (inteligência.com no contexto da agenda 2020).

3. PaCto Para CoMUnidades soLidárias e eMPreendedoras

os problemas de exclusão e pobreza, a instabilidade e os quadros de incerteza, obrigam ao envolvimento e à pro-moção de novas formas de cidadania ativa, que as autar-quias devem ajudar a construir.3.1. as autarquias devem promover e catalisar compro-

missos com grupos mais vulneráveis da sociedade – idosos, portadores de deficiência, toxicodepen-dentes - estando presentes e incentivando a cons-tituição de redes de voluntariado locais, consoli-dando o trabalho já feito nas redes de apoio social, com relevância nos municípios e nas iPss, mas também através do corpo de voluntários locais.

3.2. Criação da central de emergência social, que re-cecione, detete, sinalize e encaminhe as situações mais vulneráveis.

3.3. Promover através da animação do mercado local municipal a criação de microempresas multitare-fas na lógica dos empreendedores sociais e das res-postas integradas.

3.4. intensificar a cooperação multilateral entre os go-vernos locais através da partilha de recursos e or-çamentos alinhados.

3.5. o aprofundamento das políticas de coesão territo-rial deve merecer uma profunda reflexão introdu-zindo no modelo de financiamento das autarquias princípios mais justos e objetivos como o princípio da tributação no território de origem ou o reforço da política de cidades com fatores de ponderação

que tenham em consideração os movimentos rela-cionados com a mobilidade dos cidadãos.

3.6. Consolidação da sustentabilidade financeira dos municípios a partir do reforço da administração dos bens dominiais – bens do domínio público – na esfera municipal.

3.7. um Governo do Ps procederá à alteração da lei dos Compromissos no sentido de transformá-la num instrumento ao serviço do rigor e da susten-tabilidade das contas públicas que não se constitua como um obstáculo, quase incontornável, à acção dos municípios na concretização de respostas para as populações.

3.8. Considerando o financiamento comunitário 2014-2020, ao nível sub-regional, área de intervenção das Comunidades intermunicipais/Áreas Metro-politanas, deverão ser generalizados os processos de contratualização de programas de acção de de-senvolvimento territorial com parcerias de base territorial ao nível de nuts iii, envolvendo a par-ticipação simultânea do poder local, do sistema cientifico e tecnológico e do sector empresarial .

4. a QUaLidade do Governo LoCaL e ConstrUÇão de novas esCaLas de PartiLHa de deCisão. a Garantia dos serviÇos de ProXiMidade a todos os Cidadãos

deverá intensificar-se a utilização dos recursos tecno-lógicos em prol da transformação dos governos locais, orientados do exercício de competências para a procura, para os resultados e para a participação mais fácil e ativa dos seus cidadãos.são desejáveis avanços numa melhor regulação das au-tarquias; para mais competências em áreas essenciais co-mo a educação, a saúde e no social; com novos conceitos como a solidariedade financeira recíproca, o princípio do utilizador pagador e o equilíbrio financeiro, com soluções centradas nas necessidades dos cidadãos.importa por isso melhorar métodos e procedimentos, ensaiar uma forte diminuição dos custos de funciona-mento e vincular os agentes políticos a comportamentos mais sóbrios e transparentes.num outro domínio e sem prejuízo do necessário planea-mento nacional e regional, deve ser repensada a partici-pação das autarquias nos processos e metodologia dos fundos comunitários no horizonte 2014-2020. Fracassa-da que aposta do Governo nas Comunidades intermuni-cipais, exige-se que desde o momento da preparação do acordo de Parceria haja uma clarificação das prioridades estratégicas do país e também das competências de ges-tão e execução dos fundos comunitários 4.1. transformar as instituições autárquicas em orga-

nização com uma cultura dos valores da equidade, da honestidade, da justiça social e da solidarieda-de. valorizar as pessoas e as suas competências as-sumindo a defesa dos valores éticos e do combate contra a corrupção, manifeste-se ela de que forma se manifestar.

4.2. Criação do índice de medida do estado da gover-nação autárquica, com indicadores objetivos dos graus de execução dos compromissos eleitorais.

4.3. uma nova organização do território com respei-to pelas comunidades locais; no combate à atomi-zação e à ausência de escala e massa crítica, avan-çando-se para um modelo de organização tenden-cialmente em três níveis de governo – o municipal, o regional e o central – legitimados democratica-mente, no pressuposto de que qualquer desses ní-

veis de decisão política só terá condições de desem-penho se detiver legitimidade, legitimação e força política equilibrada.

4.4. revisitar a reforma administrativa e o recente pro-cesso de agregação de freguesias que se centrou no que é menos importante e no que menos con-sequências tem na despesa pública, desbaratando as lógica de proximidade e de subsidiariedade. im-porta definir um novo estatuto para as freguesias, adequado ao seu papel de autarquias de maior pro-ximidade às populações, aprofundando a tradição municipalista e a sua manutenção enquanto uni-dades identitárias, de participação e representação política.um governo do Ps retomará a questão da reforma administrativa das freguesias, em diálogo com os eleitos locais e procederá a todas as correc-ções administrativas que o interesse das popula-ções o justifique.

4.5. no plano interno do governo local, adotando es-truturas matriciais, flexíveis e de desenho por pro-cessos, com novas metodologias de organização orientadas para os resultados, numa lógica de re-perfilamento do agente da administração, da mul-tidisciplinaridade e na integração de competências.

4.6. Generalização dos orçamentos participativos co-mo boa prática de cidadania ativa e de reforço da confiança entre a administração e os cidadãos, in-tegrando as necessidades reais das populações e que permitam a aferição contínua do cumprimen-to dos seus objetivos numa lógica de governação de “todos com todos”.

4.7. intensificação dos processos que visem a desmate-rialização integral dos procedimentos municipais.

4.8. a adoção intensiva de software aberto (open sour-ce) nos sistemas de gestão e informação da admi-nistração local. Para além de representar redu-ção de custos de funcionamento, significa impor-tar menos, gerar mais riqueza e emprego nacional, compromissos a que as autarquias têm que estar vinculadas.

4.9. o comprometimento com um clima fiscal amigo do munícipe e das empresas no espaço municipal, que passe pelo desagravamento fiscal.

4.10. num período de grandes dificuldades de sustenta-bilidade dos sistemas de segurança e protecção so-ciais, o poder local deve contribuir para a resolução deste problema, com a criação de mecanismos de incentivos locais à natalidade e apoio à fixação de cidadãos nos territórios. a promoção da igualdade de género, com impactos ao nível da melhoria das condições de conciliação das várias esferas de exis-tência, do ampliar sentido e utilização de direitos, deverá contribuir para este desígnio.

4.11. os autarcas socialistas devem unir todos os esfor-ços para defender o princípio da autonomia local, consagrado na Constituição da república e na Car-ta europeia de autonomia local.

4.12. uma gestão transparente exige a prestação de con-tas para uma cultura de responsabilidade.

em síntese, é urgente adotar uma nova abordagem no pressuposto de “uM novo Contrato de Gover-nanÇa loCal” com instrumentos e ferramentas atuais que permitam agir como braço das comunidades locais, não apenas numa lógica de prestação de serviços ou agente estratégico, mas para fornecer o palco para um diálogo permanente entre os cidadãos e o poder que exer-cem, contribuindo para o seu bem-estar e para o seu bem comum. ^

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“UM novo Contrato soCiaL do Governo LoCaL”

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10 siGa-nos no tWitter @PsOciaListasiGa-nos no tWitter @PsOciaLista

joÃo ProENÇa, sEcrETárIo NacIoNaL Do Ps

“Criação de emprego deve ser a prioridade das prioridades”João Proença encara o seu regresso ao secretariado Nacional do Ps, de onde saiu em 1995 para liderar a UGt, como um desafio face à situação difícil que o país atravessa. Em entrevista ao “acção socialista”, defende que um futuro Governo do Ps deve ter a criação de emprego como a prioridade das prioridades. j. C. CasteLo branCo

Que razão o levou a regres-sar, logo após a saída da li-derança da uGT, à vida ativa partidária?sempre exerci cargos partidá-rios, a nível nacional, por ine-rência de funções como secre-tário-geral da tendência sindi-cal socialista e a nível da minha secção e da assembleia Munici-pal de Cascais. respondi ao con-vite amigo e ao desafio do secre-tário-geral, antónio José segu-ro, com o maior prazer, após a realização do Congresso do Ps.

Quais os principais contribu-tos que esperar dar no secre-tariado do Ps e que mais-va-lias traz a este órgão?

regresso ao secretariado nacio-nal do Ps de onde saí em 1995, quando assumi as funções secre-tário-geral da uGt. espero dar um contributo positivo, face à experiência adquirida, aos co-nhecimentos na área económi-ca e social e à credibilidade ob-tida na vida sindical, em activi-dades que são políticas, mas não partidárias.

como encara este novo desafio?Como um grande desafio face à situação difícil que o país atra-vessa, ao desemprego, à pobreza e ao desespero com que se con-frontam a maioria das famílias portuguesas.

É fundamental reconquistar a esperança e a confiança para o futuro e neste momento só o Ps o poderá fazer, respondendo à necessidade de crescimento e emprego, de rigor orçamental e de preocupação com as pessoas, não ficando aprisionado, como o actual Governo, por políticas de ultra-austeridade.

Qual deve ser a postura do Ps enquanto principal par-tido da oposição ao atual Governo?a continuação da afirmação de uma alternativa de Governo cre-dível, partindo da real situação do país e das dificuldades de fi-nanciamento externo. o atual

caminho seguido pelo Gover-no apenas agrava a recessão, au-menta o desemprego e gera mais desigualdades e pobreza.o Ps deve continuar a apresen-tar propostas concretas a nível de política interna e externa, no quadro de uma política eco-nómica e financeira global, que aumente as receitas por via do crescimento e reduza as despe-sas por via de uma melhor utili-zação dos recursos disponíveis, particularmente a nível da ad-ministração Pública e da redu-ção do desemprego e da pobreza.

Quais os principais pecados capitais que apontaria a este Governo?

a incapacidade para promover o diálogo político, apostando no confronto; uma política de sem-pre mais e mais austeridade in-cidindo sobretudo sobre os tra-balhadores e os pensionistas; a opção por uma linha de total submissão à troika só agora li-geiramente alterada; a total in-sensibilidade social.o Governo, utilizando os escas-sos recursos disponíveis, não dá mostras de procurar abrir cami-nho ao crescimento e ao empre-go, optando antes por uma recu-sa total em responder aos apelos de todos os parceiros sociais.

Quais devem ser as princi-pais tarefas de um futuro Go-

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“A política fiscal é fundamental em termos redistributivos e de justiça social e por isso a taxação da riqueza imobiliária e mobiliária tem que ser um sinal de uma governação do PS”

“A europeização do subsídio de desemprego seria um bom exemplo de solidariedade e de políticas anticíclicas que combatam os efeitos negativos da moeda única”

“O atual caminho seguido pelo Governo apenas agrava a recessão, aumenta o desemprego e gera mais desigualdades e pobreza”

joÃo ProENÇa, sEcrETárIo NacIoNaL Do Ps

“Criação de emprego deve ser a prioridade das prioridades”

verno socialista após a po-lítica devastadora da atual maioria de direita?um futuro Governo socialista tem que dar a prioridade às pes-soas: com o emprego, como prio-ridade das prioridades; defen-dendo reformas do estado social que melhorem a gestão e a uti-lização dos recursos disponíveis; com uma regulação económi-ca, social e financeira, que com-bata privilégios e desigualdades; com um efectivo diálogo social na base de um Contrato social e da contratualização das relações sociais, por via da negociação co-lectiva; com uma administração Pública eficaz e mobilizada, com mobilidade, qualificação e res-peito por direitos e deveres.o actual desastre das finanças públicas, apesar do agravamen-to brutal da carga fiscal, exige um grande rigor nas Finanças mas estas não se podem sobre-

por ao desenvolvimento e coor-denação das políticas econó-micas e exigem uma utilização plena e rigorosa dos fundos co-munitários, virada para a com-petividade e a coesão económi-ca, social e territorial.

Defendeu no último congres-so do Ps, num firme ataque à direita, que é preciso ter credibilidade política. Quer especificar?a credibilidade política constrói--se através da credibilidade das propostas do Ps que, sem dema-gogia ou populismo, enfrentem os problemas das pessoas, das empresas e da sociedade.Constrói-se também pela credi-bilidade dos protagonistas, que não se resumem a um Governo, mas sim à capacidade para mobi-lizar os melhores e dialogar com as diferentes instituições da vi-da económica e social.

e aqui desempenha um papel fundamental a crescente afirma-ção do secretário-geral enquan-to futuro primeiro-ministro de Portugal. nas autarquias, co-mo no Governo, o voto traduz a confiança no partido, mas tam-bém naqueles que vão liderar os projectos.

Quais os motivos que o têm levado a afirmar que o Go-verno tem uma leitura dis-

torcida do conteúdo do me-morando da troika contra os trabalhadores?as sucessivas revisões do memo-rando da troika são sempre con-tra os trabalhadores e pensio-nistas, ignorando as suas conse-quências sociais.o exemplo das compensações por despedimento e a destrui-ção da negociação colectiva são exemplos claros de um Governo submetido aos ditames da troika.

Não acha que é altura da es-querda democrática ter um plano de taxação efetiva das grandes fortunas e dos ren-dimentos de capitais?a política fiscal é fundamental em termos redistributivos e de justiça social e por isso a taxação da riqueza imobiliária e mobiliá-ria tem que ser um sinal de uma governação do Ps, com conse-quente desagravamento do irs e

do irC, este em termos que favo-reçam o investimento produtivo, a capitalização das empresas e o reinvestimento dos lucros, ligan-do-os à criação de emprego.nesta matéria exige-se um míni-mo de harmonização fiscal euro-peia, particularmente a nível de empresas, evitando o dumping fiscal.

Não acha que na europa há um superavit de políti-

cas financeiras e um défi-ce de políticas de coesão e crescimento?Certamente que há um supera-vit de políticas financeiras e au-sência de uma verdadeira políti-ca de coesão.

o que acha da proposta avan-çada pelo líder do Ps de que exista uma mutualização eu-ropeia do pagamento dos subsídios de desemprego nos países em que a taxa de de-semprego ultrapasse a média europeia?a europeização do subsídio de desemprego seria um bom exemplo de solidariedade e de políticas anticíclicas que com-batam os efeitos negativos da moeda única.do mesmo modo seriam extre-mamente importantes políticas europeias viradas para o finan-ciamento da segurança social,

de modo a penalizar menos o factor trabalho, como acontece nos países nórdicos.

Que rumo a europa deve-ria seguir para combater e ultrapassar a grave cri-se institucional, económica e social em que se encontra mergulhada?a europa tem que mudar de po-líticas, pondo fim a uma austeri-dade cega e generalizada, que faz

com que a zona euro esteja hoje em recessão.uma política europeia de cres-cimento e emprego, a mutuali-zação de parte das dívidas so-beranas e uma nova actuação do banco Central europeu são exemplos das políticas que o Ps vem apontando e que os cida-dãos europeus esperam após as eleições alemãs. sem mudanças de políticas e uma europa mais federal o projecto europeu está em risco. a europa tem que re-tomar o projecto dos pais fun-dadores, com uma dimensão económica caminhando lado a lado com a dimensão social e uma maior democratização das instituições.o projecto de Contrato social para a europa, proposto pela Confederação europeia de sindi-catos é um bom exemplo do que deve ser a rediscussão do projec-to europeu. ^

Dr

Dr

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12 aCoMPanHe-nos no FaCebooK sEDENaciONaLPartiDOsOciaListaaCoMPanHe-nos no FaCebooK sEDENaciONaLPartiDOsOciaLista

jorNaDas ParLamENTarEs

Ps quer estado a apoiar a economiaO Ps apresentou no Parlamento, no passado dia 27 de junho, um pacote de dez medidas para estimular a atividade económica das empresas e de combate ao desemprego. Estas iniciativas foram anunciadas dias antes pelo secretário-geral do Ps, durante a sessão de encerramento das Jornadas Parlamentares que decorreram, nos dias 20 e 21 de junho, nos concelhos de Oeiras e sintra.

antónio José seguro defendeu tratar-se de medidas simples, que “não custam dinheiro”, sendo que alguma delas, como sublinhou, revelam apenas, por um lado, bom senso e, por outro, conheci-mento do terreno e do aparelho produtivo e uma noção exata das dificuldades por que passam os empresários portugueses.depois de classificar como som-bria a presente conjuntura eco-nómica e social de Portugal, após dois anos de Governo do Psd/Cds-PP, o líder do Ps lembrou que é responsabilidade dos so-cialistas, “mesmo na oposição”, apresentarem soluções e medi-das alternativas capazes de aju-darem a resolver o que classificou de “flagelo do desemprego”.Para seguro, trata-se de medidas que podem contribuir de forma sustentada não só para estimu-lar as empresas a preservarem os postos de trabalho, como a ajuda-rem a aumentar a capacidade de investimento tendo em vista, co-mo alertou, para necessidade de “criação de novas oportunidades de emprego”.de entre o pacote de dez medidas apresentadas na assembleia da república pelo Partido socialista, e anunciadas nas Jornadas Par-lamentares, destaque, entre ou-tras, para a criação de uma con-ta-corrente entre as empresas e o estado, permitindo que as em-

presas credoras do estado pos-sam fazer o encontro de contas no momento do pagamento dos impostos, a criação de um crédito fiscal ao nível dos suprimentos, no sentido da equiparação de ju-ros a financiamentos de capitais próprios com uma tributação di-ferente para os lucros reinvesti-dos, acabando com a situação em que há lucros reinvestidos numa empresas a serem tributados da mesma forma como se fossem distribuídos pelos sócios, ou a re-posição, há muito defendida pelo Ps, da taxa do iva da restauração para os 13%. outra das propostas apresenta-das pelos socialistas passa pe-la possibilidade das empresas a quem o estado comprovadamen-te deve dinheiro há mais de 90 dias, e munidas do respetivo títu-lo de crédito sobre o estado, diri-girem-se designadamente à Cai-xa Geral de depósitos e aí levan-tarem esse dinheiro, passando a não ser uma dívida do estado pa-ra com as empresas, mas uma dí-vida do estado a uma instituição pública, “ultrapassando-se assim as dificuldades para quem quer preservar emprego e criar novas oportunidades de trabalho”.

são precisas novas ideiasPortugal precisa de renovar o seu ciclo político com novos protago-nistas e novas ideias afastando os

“velhos políticos”.Falando na abertura dos traba-lhos das Jornadas Parlamenta-res, o líder da banca da socialista, Carlos Zorrinho, defendeu que é tempo de um novo ciclo, acusan-do os “velhos políticos” que pro-movem ou se “subjugam ao em-pobrecimento imposto ao povo português”, da situação de desca-labro económico e social a que o país chegou.não deixou contudo de especifi-car que se estava a referir ao pri-meiro-ministro, Pedro Passos Coelho, ao ministro de estado e das Finanças, vítor Gaspar, e ao ministro de estado e dos negó-cios estrangeiros e presidente do Cds, Paulo Portas, “e não a ou-tros velhos políticos de outros ci-clos políticos”.

Governo fora da validadePara Zorrinho, o país está mer-gulhado há dois anos num “mau Governo e num falhanço bru-tal das políticas do primeiro--ministro”, defendendo que Por-tugal se depara hoje com um executivo “fora da validade, ba-fiento, escondido, azedo e em risco de provocar um apodreci-mento institucional”.depois de dirigir duras críticas à Comissão europeia, pelo seu entusiasmo cego na defesa das políticas de austeridade do cus-te o que custar, Zorrinho acusou

Passos Coelho de ser, por um la-do, “cúmplice desta política de austeridade sem saída” e de que-rer ser uma cópia da chancelari-na Merkel, constatando-se con-tudo, como referiu, que “infeliz-mente apenas é uma miniatura, sem peso no plano europeu e abrasivo no plano nacional”.Críticas ao Governo que foram também corroboradas pelo can-didato do Ps à Câmara Muni-cipal de oeiras, Marcos sá, que defendeu que as eleições autár-quicas de 29 de setembro, deve-rão constituir um “referendo na-cional” ao executivo de Passos Coelho.Já o candidato socialista à Câ-mara Municipal de sintra, basí-lio horta, advertiu o Ps para a necessidade de combater o que designou de hipótese de a indig-nação ao Governo poder resvalar para a abstenção ou para o “voto inútil” nas eleições autárquicas.Para o deputado independen-te do Ps e candidato à autar-quia sintrense, é necessário que o eleitorado diga não a este Go-verno, aconselhando o Ps a ser a “voz política e tribunícia” dessa indignação.ratificando a tese defendida an-teriormente por Marcos sá, basí-lio horta defendeu que o resulta-do das autárquicas deve ser clara-mente um “voto de censura a este Governo”. ^ r.s.a.

antónio josé seGUro“são dez medidas simples que não custam dinheiro”“Os socialistas, mesmo na oposição, têm a responsabilidade de apresentar soluções para combater o flagelo do desemprego”

Caros zorrinHo“O país tem que se livrar deste Governo bafiento”“Vivemos dois anos de um falhanço total deste primeiro-ministro”

MarCos sá“as autárquicas deverão constituir um referendo nacional ao Governo”

basíLio Horta“temos que evitar que a indignação dos portugueses pelas políticas deste Governo possa resvalar para a abstenção ou para o voto inútil”

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10 MEDIDAS CONCRETAS PARA O APOIO ÀS EMPRESAS E À CRIAÇÃO DE EMPREGO

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FINANCIAMENTO

RENOVAÇÃO DE SEGUROS DE CRÉDITO À EXPORTAÇÃO

As empresas precisam de seguros de crédito para exportar e o Governo ainda não renovou em 2013 as linhas de seguros de crédito que são condicionante para sectores como o calçado, o têxtil, o vestuário, o mobiliário e os moldes

1PAGAMENTO DAS DÍVIDAS DO ESTADO A TEMPO E HORAS

As PME enfrentam atualmente graves dificuldades financeiras, agravadas pelo atraso do Estado no pagamento das dívidas às PME. Propomos que quando o Estado não paga as dívidas até aos 90 dias então terá que assumir a dívida e contratar com um banco o pagamento às empresas

FINANCIAMENTO COLABORATIVO

Quando os bancos não emprestam e o capital de risco é diminuto há que procurar alternativas. PS propõe que se enquadre em Portugal o financiamento colaborativo que é a possibilidade de propor na Internet diversos investimentos para recolher apoio financeiro de cidadãos que entendam que os projetos são válidos e atrativos

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CAPITALIZAÇÃO

REDUÇÃO DOS IMPOSTOS SOBRE LUCROS REINVESTIDOS

Os lucros reinvestidos na empresa não podem ser taxados da mesma forma que os lucros distribuídos pelos acionistas, pelo que defendemos benefício fiscal para quem reinveste

EQUIPARAÇÃO DOS JUROS A FINANCIAMENTO CAPITAIS PRÓPRIOS

Para incentivar que os sócios injetem capital, defendemos neutralidade entre capital próprio e financiamento bancário, considerando uma taxa de juro convencional do capital social

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ESTÍMULOS À ATIVIDADE

REDUÇÃO DO IVA DA RESTAURAÇÃO PARA 13%

A decisão do Governo de aumentar o para 23% no sector da restauração provocou uma cascata de insolvências e a destruição em massa de postos de trabalho. Impõe-se repor o IVA no sector da restauração nos 13%

PER (PROCESSO ESPECIAL DE REVITALIZAÇÃO)

Muitas vezes o plano de viabilidade das empresas não avança porque, apesar do acordo de todo os credores, o Estado/Fisco veta o processo. É essencial que a Lei Geral Tributária tenha em conta os Processos Especiais de Revitalização (PER) e que o Estado possa ser parceiro na viabilização de empresas economicamente saudáveis

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OBRIGAÇÕES FISCAIS

ATUALIZAÇÃO DE JUROS A PAGAR AO ESTADO

Não há justificação para que o fisco pague juros indemnizatórios à taxa de 4% ao ano e apenas mediante requerimento do sujeito passivo e o contribuinte tenha que pagar muito mais

AMPLIAÇÃO DO TIPO DE GARANTIAS

Para o reembolso do IVA devido às empresas o fisco exige caução ou fiança bancária quando a própria lei prevê a possibilidade de prestar outra garantia adequada. O Governo que cumpra a lei e deixe de penalizar as empresas

CRIAÇÃO DE SISTEMA DE CONTA-CORRENTE COM O FISCO

Com a criação de sistema de conta-corrente entre o Estado e as empresas o valor dos reembolsos deduz ao valor que a empresa tenha a pagar de outros impostos

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14 siGa-nos no tWitter @PsOciaListasiGa-nos no tWitter @PsOciaLista

João ribeiro, Candidato à PresidênCia da CâMara

“setúbal também vai vencer!”apostado num modelo de gestão progressista, moderno e aberto, o candidato socialista à liderança da autarquia sadina diz-se apostado na luta contra o desemprego e pelo desenvolvimento e reindustrialização do concelho. Em entrevista ao “acção socialista”, João ribeiro fala das suas preocupações e propostas e de como ambiciona fazer de setúbal a cidade Verde de Portugal. MarY rodriGUes

Porque aceitou o desafio de ser candidato do Ps a pre-sidente da autarquia de setúbal?a primeira coisa que fiz quando me colocaram este desafio foi ver as taxas de abstenção e de desemprego no concelho. Mais de metade dos cidadãos não vo-tou nas últimas autárquicas e o desemprego não para de su-bir. são batalhas estimulantes para quem, como eu, quer fa-zer política de maneira diferen-te: combater o afastamento dos cidadãos em relação à política e construir um projeto social e económico que crie emprego de qualidade.

Quais os principais pro-blemas que identifica no concelho?os problemas estão à vista de todos: uma baixa moribunda, a cidade de costas voltadas pa-ra troia e sem estratégia para aproveitar o investimento que vai acontecer em alcácer e em Grândola; o desemprego, a fal-ta de investimento, o envelhe-cimento acelerado da popula-ção e novos sinais de pobreza extrema.temos que nos mobilizar para decidir como queremos setú-bal em 2024, nos 50 anos do 25 de abril. temos que assinar um acordo de concertação estraté-gica nesse sentido, todos: par-tidos, empresários, trabalhado-res, comerciantes.

Mas quais pensa serem os problemas mais graves nes-

te momento?o desemprego. Por isso defi-ni que todas as propostas terão que ser pensadas em função da criação de emprego em setúbal.o segundo problema é muito grave e temo que já seja tarde para o resolver bem: não deci-dimos como gastar o próximo ciclo de dinheiros da europa entre 2014 e 2020. nas minhas reuniões com coletividades, empresas e associações tenho perguntado se foram consul-tados na definição dos proje-tos que serão apresentados pa-ra financiamento europeu, se existe algum plano estratégi-co, se foi decidido em que áreas e atividades esse dinheiro deve ser gasto. nada. Zero. É muito grave!assim que tomar posse criarei um gabinete para ouvir toda a gente em setúbal, apresentar ideias e trabalhar a tempo intei-ro nas candidaturas ao financia-mento comunitário. temos que ser dos primeiros a apresenta--las mal abram no segundo se-mestre de 2014.

e que concelho projeta para o futuro?a nossa proposta, para que a ci-dade a discuta, está centrada em quatro eixos: 1. "Motor da economia e emprego do sul", as-sente na manutenção da náuti-ca de recreio, no turismo focado na cultura, na arrábida, no es-tuário, na gastronomia, nas fes-tas populares e no enoturismo. uma aposta na reindustrializa-ção, começando pela indústria

conserveira. 2. "Comunidades solidárias", onde vamos refor-çar a cooperação e coordena-ção entre as instituições Parti-culares de solidariedade social. 3. "inovar e empreender", on-de fomentaremos o empreen-dedorismo social e económico, introduziremos a moeda social e o banco comunitário, promo-veremos uma revolução digi-tal e do conhecimento, apoia-remos as indústrias criativas e ligadas à criação cultural e fare-mos um combate sem tréguas à corrupção. 4. "regeneração ver-de" para que passemos a ser co-nhecidos como Cidade ecológi-ca. Quem tem a arrábida, este mar e este sado tem que ser a Cidade verde do país.

o que pensa das propostas para construção de marinas e de terminais de cruzeiros?Cada candidatura tem a sua li-nha de orientação. eu não pro-meto marinas nem cruzei-ros. o mundo mudou. todos evoluímos.vejo esses projetos de forma di-ferente. Comigo haverá uma ci-dade forte e pujante social e economicamente que, pela sua força, criará condições para que no período de dez anos se-jam os privados a querer cons-truir a marina e o terminal de cruzeiros.

a sua proposta de moeda so-cial é única em Portugal e é vista como arrojada. resulta em setúbal?lutarei contra quem diz que se-túbal é incapaz. uma cidade co-mo esta, com 120 mil habitan-tes, não pode ser diminuída nem subestimada. várias cida-des no mundo, e em Portugal, tiveram os mesmos problemas de depressão económica das suas baixas e dos seus centros históricos. e resolveram-nos. setúbal também vai vencer!

Que balanço faz da gestão camarária dos últimos anos?Prometi que faria uma campa-nha sobre setúbal pela positi-va. tenho cumprido. Mas cho-ca-me, no atual contexto social do país, que uma cidade que tem a baixa como tem, tenha inaugurado em menos de dois anos quatro equipamentos to-dos para a mesma atividade, a cultural, no espaço de um qui-lómetro. Compreendo que se-ja motivo de orgulho e que as pessoas gostem destes edifí-cios recuperados. eu teria si-do mais criterioso na distribui-ção do investimento por outras áreas e ao longo de mais tem-po. o problema é que as dívi-das ficam e são coisas que não criam emprego.

o que falhou, então, no mo-delo de gestão comunista?setúbal é gerida há 12 anos pe-la Cdu. se ganhassem, esta-riam lá 16 anos. Penso que é tempo a mais em democracia, pois gera dependências, corrup-ção, que não são boas para a ci-dade. e temo que os comunis-tas queiram fazer em setúbal o que defendem a nível nacional: rasgar contratos e não pagar as dívidas.

se for eleito, qual será a primeira medida a imple-mentar pela sua equipa executiva?reduzir o iMi já em 2014 e usar o que se recebeu a mais do iMi para pagar em primeiro lugar as dívidas aos pequenos credores da cidade. a segunda medida será atribuir a Chave da Cida-de à Maria das dores Meira pe-los serviços prestados à cidade e convidá-la para aceitar um pe-louro. esse é um sinal claro de convergência de esquerda. não são só palavras.

Já lhe perguntaram com cer-teza porque é candidato não sendo de setúbal…não sou, mas escolhi ser! esta é uma candidatura das forças progressistas e da modernida-de, da cidade aberta, sem bair-rismos nem barreiras. ^

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luís Correia, viCe-Presidente e Candidato à CâMara de Castelo branCo

“o desempenho deste Governo tem sido desastroso”Lamenta o desprezo da direita pelo interior do país. acusa-a de cortar a régua e esquadro sem olhar às especificidades das regiões. Luís correia lembra que tem sido a câmara Municipal o único motor de desenvolvimento em castelo Branco. rUi soLano de aLMeida

caso venha a ser eleito para liderar a câmara Municipal de castelo branco, quais as políticas e áreas que pensa privilegiar?Pretendemos apostar sobretu-do no desenvolvimento econó-mico e no emprego. em janei-ro deste ano disse que no fu-turo iríamos continuar a obra, mas sobretudo iremos desen-volver e potenciar tudo o que tem sido feito através de ações imateriais num reforço de po-líticas viradas para o desen-volvimento económico do concelho.

em sua opinião que utilida-de teve a conferência que o Ps realizou no passado mês de março na sua cidade so-bre o interior do país?a conferência sobre o interior foi mais uma das muitas ações que o Ps desenvolveu, que aju-daram a pensar sobre os pro-blemas do interior.somos o único partido que tem pensado e defendido o interior. não numa perspe-tiva de caridade para com es-tas regiões, mas porque temos consciência que todo o país fi-cará a ganhar com a coesão territorial.as regiões do interior necessi-tam de políticas de descrimi-nação positiva e as poucas que tínhamos foram tiradas pelo atual Governo.

o líder socialista acusa o Governo de ter virado as costas ao interior do país. o que pensa sobre esta matéria?Concordo plenamente com o secretário-geral do Ps. É uma realidade.Felizmente que temos um lí-der oriundo deste distrito e que quando for primeiro-mi-nistro terá outra consciência e

sensibilidade para regiões co-mo a nossa.

o Presidente da república classificou recentemente castelo branco como uma “lição de economia e de vi-são de futuro”. a que se es-tava a referir cavaco silva?Julgo que o Presidente da re-pública reconheceu que em Castelo branco concretizamos uma estratégia e um projeto que modernizou e desenvol-veu o concelho e que ao mesmo tempo soube garantir o futuro.em termos económicos apos-tamos no agroalimentar, que é hoje reconhecido como um sector de crescimento no nos-so país. Futuro este que fica também garantido porque consegui-mos manter a Camara Muni-cipal com uma situação finan-ceira positiva.

a forma como um muni-cípio projeta o seu futu-ro influencia os hábitos e a vida dos seus habitan-tes. Que importância dará ao urbanismo, à qualifica-ção dos espaços públicos e ao ambiente?a Câmara fez um trabalho enorme na requalificação ur-bana. das infraestruturas aos espaços verdes e de lazer tu-do foi feito. Mudámos a fa-ce do concelho e criámos as-sim todas as condições pa-ra que as populações possam sentir e viver o espaço público de uma forma dinâmica e fa-zer a partir daí a regeneração social necessária em qualquer sociedade.

e na políticas sociais, quais as prioridades em que irão assentar as suas iniciativas?Manteremos o apoio aos mais

necessitados como até aqui e continuaremos o trabalho de parceria que temos tido com as instituições de apoio social.Já fizemos muito trabalho no apoio aos mais idosos, prin-cipalmente no que respeita à construção de lares e cen-tros de dia. Pretendemos ago-ra humanizar mais este apoio e concretizar políticas que pro-movam a autonomia dos ido-sos, ajudando assim a retardar a sua ida para os lares de ter-ceira idade, medida que deve-rá ser encarada como a última solução.

Na apresentação da sua candidatura sublinhou que “é hora de potenciar a obra”. referia-se a quê?ao longo dos últimos anos concretizámos uma série de infraestruturas, em todas as áreas, e agora chegou a ho-ra de as colocar ao serviço do nosso desenvolvimento. tu-do foi planeado desta forma. agora vamos sobretudo de-senvolver e potenciar tudo o que tem sido feito através de ações imateriais num reforço de políticas viradas para o de-senvolvimento económico do concelho.

Defendeu a criação de um cluster de indústrias cria-tivas e de cultura. em que moldes e com que objetivos?de facto temos hoje condições ímpares para promover Caste-lo branco enquanto cidade das artes e dos artistas, fomen-tando desta forma o desenvol-vimento de um cluster de in-dústrias criativas e de cultura.Possuímos hoje património imaterial com grande poten-cial, mas também património material, equipamentos cul-turais, instituições educativas artísticas, programação e co-

municação do cineteatro, per-ceção externa positiva, e um novo Centro de Cultura Con-temporânea. Com isto, em ter-mos culturais, podemos pas-sar da aquisição cultural para a produção cultural, como for-ma de desenvolvimento.

um estudo recente afirma que cerca de 37% da popu-lação do seu município vi-ve com menos de 250 euros por mês. o que pode fazer a câmara Municipal para al-terar este cenário?aquilo que pretendemos fa-zer é um trabalho de apoio ao desenvolvimento económico, por forma a promovermos a criação de riqueza.temos consciência que a Ca-mara Municipal não pode criar empregos diretos, mas pode-rá incentivá-los e apoiar a sua criação. trabalharemos em parceira com os nossos empre-sários e saberemos criar estí-mulos à criação de empregos.

como qualifica o desempe-nho do Governo quer em re-lação à sua região, quer a nível nacional. o povo tem sempre razão ou também se engana?numa perspetiva regional, aquilo que podemos dizer é que tem sido desastroso. desinves-tiu no interior, não tem sen-sibilidade para estas regiões e nada fez por elas. Pelo contrá-rio, tem-nos prejudicado.ao nível nacional, no essen-

cial, esbanjou um capital enor-me de aceitação e colaboração do povo, que estava disposto a fazer sacrifícios para ultrapas-sarmos a crise.hoje poucas pessoas acredi-tam que o Governo tenha se-guido o melhor caminho e to-dos os dias vemos que os sacri-fícios vão perdurar por muito mais tempo do que o inicial-mente prometido. Mais uma vez concluímos que o povo tem razão. Geralmente o erro está nas expectativas criadas e nas explicações dadas. ^

“Mais uma vez concluímos que o povo tem razão. Geralmente o erro está nas expectativas criadas e nas explicações dadas”

“A conferência sobre o interior foi mais uma das muitas ações que o PS desenvolveu, que ajudaram a pensar sobre os problemas do interior”

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16 aCoMPanHe-nos no FaCebooK sEDENaciONaLPartiDOsOciaListaaCoMPanHe-nos no FaCebooK sEDENaciONaLPartiDOsOciaLista

FórUm Dos ProGrEssIsTas EUroPEUs

Criação de emprego deve ter objetivo comunitárioassim como a União Europeia tem um objetivo para o défice orçamental e a dívida pública dos seus Estados-membros, também deve ter uma meta para o emprego, defendeu antónio José seguro, em Paris, por ocasião da realização do Fórum dos Progressistas Europeus. MarY rodriGUes

dirigentes socialistas europeus reuniram-se recentemente na Cidade luz para discutir aque-les que serão os temas centrais das próximas eleições europeias: a crise, o crescimento económico e o emprego.na ocasião, ouviram-se várias propostas para fazer frente aos desafios que se perfilam no ho-rizonte comunitário, de entre as quais destacaram as apresenta-das pelo secretário-geral do Ps.Para seguro, “só com a criação de emprego combatemos a pobreza, a miséria e a exclusão social”.assim, propôs que a união euro-peiaestabeleça como objetivo pa-ra 2020 “que nenhum país possa ter uma taxa de desemprego su-perior a 11%”, isto é, igual à mé-dia atual comunitária.“e se a união tem sanções para quem não cumpra as regras do défice e da dívida, por que razão não há-de ter uma sanção caso o desemprego não se situe abaixo dos 11%?”, questionou o líder so-cialista português, para de segui-da advogar a um “forte incentivo ao combate ao desemprego” me-diante a “mutualização europeia do pagamento dos subsídios de desemprego superior a 7%, a par-

tir de 2021”.no caso dos estados-membros, com taxa de desemprego supe-rior a 11%, explicou seguro, o or-çamento nacional será responsá-vel pelo pagamento dos subsídios de desemprego até aos 11%. Já os restantes subsídios de desem-prego serão pagos pelo orçamen-to da união.Clarificando que o seu objetivo não é colocar a ue a subsidiar o desemprego, mas acordar os líde-res europeus para o investimen-to na economia europeia, para a melhora da competitividade e pa-ra encararem a criação do empre-go como meta prioritária, o se-cretário-geral do Ps, voltou a su-blinhar que, para os socialistas, “o equilíbrio das contas públicas alcança-se com mais economia e com mais emprego”.após apresentar oito propostas concretas (ver caixas) para criar condições amigas do crescimento e do emprego, seguro concluiu a sua intervenção lembrando que, para ter elevados níveis de coe-são social, o desemprego não po-de ser visto como mais um pro-blema entre muitos, mas como “uma preocupação de todos”.recorde-se que antónio José se-

guro esteve em Paris, no dia 15 de junho, para “articular” res-postas à crise no plano europeu e procurar “apoio” para a renego-ciação das condições do progra-ma de ajustamento português.durante esta deslocação, o líder socialista reuniu-se com os líde-res do Ps francês, harlem désir, do Psoe, alfredo rubalcabá, e do PasoK, evangelos venizelos, e participou no Fórum dos Pro-gressistas europeus.

articular respostas e defender interesseso secretário nacional para as re-lações internacionais e Coopera-ção do Ps, João ribeiro, declarou que a presença de seguro em Pa-ris visava, por um lado, “articu-lar”, no plano europeu, respostas à crise e, por outro, “defender os interesses de Portugal, alertan-do para a necessidade de renego-ciação das condições do progra-ma de ajustamento” e procuran-do apoio dos parceiros europeus nesse sentido.refira-se que o secretário-geral so-cialista participou num encontro com os líderes do PsF, do Psoe e do PasoK, em que também es-tiveram presentes o presidente

do Parlamento europeu, Martin schulz, e os economistas daniel Cohen e Jean Pisany-Ferry.“não é uma reunião isolada, é a continuidade do que tem vindo a ser feito”, afirmou João ribeiro, referindo que o encontro surgiu na sequência de um anterior, rea-lizado em lisboa, em abril, du-rante o qual antónio José segu-ro, alfredo rubalcabá e harlem désir se comprometeram a tra-balhar em conjunto para substi-tuir políticas de austeridade por iniciativas a favor do crescimen-to e do emprego.

também naquele dia, seguro participou no Fórum organiza-do pelo Ps francês e pelas funda-ções Jean Jaurès e européenne d'Études Progressistes.o secretário-geral do Ps foi um dos oradores de uma mesa-redon-da subordinada ao tema “reorien-tar a europa para o crescimento e o emprego”, na qual também par-ticiparam o presidente do PasoK, o líder parlamentar dos socialis-tas europeus, hannes swoboda, e a secretária-geral da Confederação europeia de sindicatos, bernadet-te ségol. ^

ProPostas^ Mutualização europeia da

parte superior a 60% das dívidas soberanas

^ separar a dívida dos bancos da divida dos respetivos estados

^ separar o rating das empresas do rating dos estado

^ Convergência fiscal para as empresas e para o capital.

Medidas^ Mais tempo para a

consolidação fiscal^ “Project bonds” em projetos

europeus^ bCe como credor de último

recurso/atribuir licença bancária ao MeeF

^ Criar um programa de apoio aos jovens que queiram transformar ideias em empresas ou negócios, financiado pelas receitas da taxa sobre transações financeiras

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“Em suma, liberalismo não é sinónimo de liberdade e democracia e, por maioria de razão, não é verdade que integre o ideário do socialismo democrático”

LiberaLisMo, deMoCraCia e soCiaLisMo

Joaquim Jorge veiguinha

recentemente, foi descoberta por alguns ‘uma geminação’ entre, por um lado, liberalismo e democracia, e, por outro lado, liberalismo e socialismo. antes de tudo, estes ignoram

que liberalismo não é sinónimo de ‘liberdade’. Historicamente, os precursores desta doutrina concebem a liberdade política como um privilégio que se circunscreve aos proprietários e que exclui os não proprietários, as mulheres e os povos das colónias europeias. Um clássico do liberalismo, John Locke, apesar de defender a li-berdade e autonomia dos proprietários, é um apologista da escra-vatura nas colónias norte-americanas, enquanto Kant distingue cidadãos ativos de cidadãos passivos: a propriedade confere aos primeiros um direito de voto, enquanto os segundos, desprovidos de autonomia e independência, não têm, como as mulheres, aces-so ao exercício da liberdade política. contrariamente, o movimen-to socialista e democrático no século XiX e princípios do século XX rompe com estas doutrinas, pois considera que a liberdade políti-ca não é um privilégio de alguns, mas um bem comum que inclui todos os sujeitos independentemente da riqueza e das diferenças de género e de etnia.a construção do modelo social europeu no pós-segunda Guerra Mundial nada teve a ver com o liberalismo. tacitamente, os par-tidos liberais em crise aceitaram, no contexto da Guerra Fria, um contrato social em que a preservação da propriedade privada e da organização do trabalho nas mãos dos gestores de topo era o preço a pagar pela aceitação de um conjunto de direitos sociais – direito à educação, à saúde e à segurança social – e de uma certa estabilidade laboral. No entanto, este acordo tácito foi rompido a partir dos anos 80 do século passado. Desde então, o liberalis-mo voltou à sua matriz originária, já que se tornou promotor do desmantelamento do Estado social, apologista da substituição do contrato coletivo de trabalho pelo contrato de empresa e defen-sor de uma nova forma de gestão, a ‘corporate finance’, caracteri-zada pela aumento das fusões e reestruturações financeiras, que fomentou a difusão dos contratos precários e a liberalização dos despedimentos.Em suma, liberalismo não é sinónimo de liberdade e democracia e, por maioria de razão, não é verdade que integre o ideário do socialismo democrático. ^

ConFerênCia neXt leFt

Fazer coincidir discurso e açãoO líder do Partido socialista acredita que, face aos problemas sérios que o país atravessa, é necessária e urgente uma “nova legitimidade democrática” e um contrato social inequívoco entre eleitores e agentes políticos. MarY rodriGUes

antónio José seguro discursa-va recentemente na reitoria da universidade de lisboa, pal-co da conferência “next left”, organizada pela Fundação res Publica, em parceria com a ri – renner institut e a FePs – Foundation For european Pro-gressive studies.de referir que a conferência “next left e os Movimentos sociais: Por um novo Contrato social”, sob a coordenação e di-namização da camarada Jami-la Madeira (liPP – Movimen-tos sociais), procurou projetar a voz de todas as cidadãs e ci-dadãos portugueses, simulta-neamente europeus, na adoção de um novo Contrato social, de forma a aprofundar a democra-cia e prosseguir com a justiça social, a inclusão económica, a erradicação da pobreza e o de-senvolvimento sustentado.ao abordar o tema central da conferência, seguro evidenciou que a distância e a tensão entre a democracia ideal e a democra-cia real tem vindo “indiscuti-velmente a aumentar”, alertan-do para as consequências nega-tivas desta tendência.“as pessoas olham para os ato-res do processo democrático e muitas vezes não se reveem nas suas atitudes, nos com-portamentos, quer em termos de políticas partidárias, quer em termos de governação, mas particularmente sentem que os seus problemas estão a aumen-tar e que não há uma resposta em termos políticos para resol-vê-los”, disse antónio José se-guro, para quem a desafetação dos cidadãos já é percetível na

sociedade portuguesa, assim como a desilusão, a desfiliação e a desagregação.“do meu ponto de vista, é mui-to importante corrigir esta si-tuação, não apenas através do discurso, pois isso é simples, mas através da prática, isto é, pelo exemplo”, advogou o se-cretário-geral do Ps perante uma numerosa assistência.e sublinhou que “é preciso que haja uma maior aproximação entre o discurso e a realidade, pois se tal não acontecer, a es-piral de desilusão e desconfian-ça continuará”.neste ponto, avisou ser pre-cisamente isto o que está a acontecer atualmente no nos-so país.

Mais desilusão e desconfiança“temos um Governo que pro-meteu exatamente o contrá-rio do que está a fazer” e que, “para além de colocar o proble-ma da legitimidade democrá-tica do mandato eleitoral, põe também o problema da desa-fetação, da desilusão e da des-confiança”, afirmou seguro, avisando de seguida que “quem governa ou aspira governar o país tem que ter noção de que não se pode prometer tudo a toda a gente, de que é necessá-rio falar verdade sem cortar a esperança às pessoas e simul-taneamente saber propor aqui-lo que deve ser feito para gerar confiança e sobretudo resolver os problemas das pessoas”.no que respeita ao papel da eu-ropa, seguro fala de uma nova tensão.

“a tensão que existe entre quem nós, cidadãos europeus, elegemos e pedimos contas, e quem nós não elegemos e que acaba, por via da arquitetura institucional europeia, por ter o poder suficiente para decidir a nossa vida e o nosso destino coletivo”.Por outras palavras, seguro afirmou que a estrutura inter-governamental da união e a eleição indireta dos verdadei-ros decisores políticos na eu-ropa comunitária são dois fa-tores que agravam a tensão, razão pela qual antónio José seguro reafirmou ser favorável a uma “solução do tipo federal” para resolver os problemas da europa.Por último, na relação entre os partidos políticos e os mo-vimentos sociais, o líder do Ps advogou uma maior proximi-dade e abertura mútua em prol de ideais, causas e valores.de referir que na Conferência “next left” participaram tam-bém antónio nóvoa, reitor da universidade e lisboa, João nogueira santos, Movimento 'Participa, vota e adere!', Car-los silva, secretário-geral da uGt, raquel Freire, ativista do Movimento '12 de Março!', rui teixeira, representante da Cen-tury Foundation, alfred Gusen-bauer, presidente da FePs, Ja-mila Madeira, do liPP Movi-mentos sociais, helena andré, membro do Conselho de admi-nistração da Fundação res Pu-blica, alfredo bruto da Costa, membro do Conselho Coorde-nador do liPP, e ania skrzypek, investigadora da FePs. ^

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LonGo CaMinHo Para a Liberdadenelson Mandela

nas suas memórias “longo Caminho Pa-ra a liberdade”, nelson Mandela, uma das grandes referências morais e políti-cas do mundo, narra na primeira pessoa a sua extraordinária história de vida.Mandela relata as suas andanças em ter-mos vividos e eloquentes a evolução da sua consciência política, o papel de rele-vo que desempenhou na fundação da li-ga da Juventude do anC, os anos dramá-ticos de vida na clandestinidade e o quar-to de século repleto de acontecimentos que viveu atrás das grades.recorda também em termos emotivos os momentos mais significativos que o le-varam ao triunfo nas primeiras eleições multirraciais de sempre na África do sul, em abril de 1994.

sobre a LiberdadeJohn stuart Mill

esta obra apresenta a defesa clássica da posição de que o estado deve evitar ao máximo interferir na vida das pessoas e foi muito influente tanto na filosofia política do século XX, como na própria política.o seu objetivo fundamental é asseve-rar o princípio do dano, de acordo com o qual o estado só está justificado em in-terferir na vida das pessoas para evitar que se cause dano a outras.“sobre a liberdade” apresenta também aquela que é provavelmente a mais po-derosa defesa alguma vez feita da liber-dade de expressão que pode ser aceite in-dependentemente de se aceitar ou não a posição geral de Mill.

MeMórias de adrianoMarguerite Yourcenar

trata-se de uma autobiografia sob a forma de carta do imperador romano adriano (sé-culo ii dC) ao seu sucessor Marco aurélio.Construída a partir de uma recolha de textos antigos ao longo de muitos anos, Marguerite Yourcenar deu corpo a este romance baseado em factos e ideias reais e documentadas, numa narrativa que combina as reflexões pessoais de adria-no com os factos cronológicos e públicos em torno da sua pessoa, que se transfor-ma numa leitura cativante pela sabedoria revelada ao longo da sua vida, no auge do melhor da civilização romana, combinan-do todos os ideais de ordem, progresso, justiça e liberdade com uma cultura visio-nária de um homem que teve uma fortís-sima formação académica na escola grega e foi sempre grande aficionado de todos os temas ligados à arte e à literatura.

o ano da Morte de riCardo reisJosé saramago

a reconstrução da identidade imagi-nária de um dos heterónimos do poeta Fernando Pessoa constitui o mote do li-vro "o ano da Morte de ricardo reis" (1984), um dos melhores romances de José saramago.ricardo reis, tal como o título o dei-xa prever, é a personagem central do li-vro, mas também Fernando Pessoa, o seu criador, ocupa um lugar preponde-rante na ação, que decorre nos anos 30, época de plena consolidação da ditadu-ra salazarista.Partindo das pistas biográficas de reis registadas pelo próprio Pessoa, sarama-go imagina a personagem no seu regres-so a Portugal em dezembro de 1935, des-crevendo o seu quotidiano nos nove me-ses anteriores à sua morte.

UM LiVrO POr sEMaNasUGEstõEs DE JOrGE LacÃO

siGa-nos no tWitter @PsOciaListasiGa-nos no tWitter @PsOciaLista

lanÇaMento

e agora?nas últimas décadas Portugal foi varrido por sucessivas on-das de loucura política. É es-te o diagnóstico feito por Pe-dro adão e silva no seu mais re-cente livro “e agora?”, lançado em lisboa, no passado dia 25 de junho.Com prefácio de Jorge sampaio, a obra foi apresentada por antó-nio Costa e nicolau santos, sen-do intitulada de um modo que desafia e interroga o futuro.em pouco mais de 200 pági-nas, o professor universitário e comentador político percorre a história política dos últimos anos, tenta explicar o falhanço do país e propõe caminhos de saída para a crise.segundo Pedro adão e silva, su-perar a crise será “um trabalho que só pode ser feito com uma nova liderança, novas figuras que representem e deem voz a um consenso alargado existen-te fora de são bento, de belém, e das atuais sedes partidárias”.

sobre o livro, diz Jorge sampaio no prefácio que adão e silva exa-mina as razões da crise, percor-re o denso e acidentado percur-so da nossa sociedade, das nos-sas insuficiências, para terminar com uma larga visão de um fu-turo de esperança e exigência.“trata-se de uma obra rigorosa e marcante, com a serenidade de quem sabe que um país como o nosso precisa de um sobressalto patriótico. temos suficientes re-servas de talentos e capacidade de luta para dar esperança a mi-lhões de portugueses”, afirma o antigo chefe de estado e notável socialista.em resumo, este livro oferece uma reflexão sobre a atual situa-ção do país. não tenhamos ilu-sões. Portugal só será capaz de encarar o futuro se as respostas políticas combinarem preocupa-ções financeiras e económicas com políticas públicas estáveis e planeadas.imprescindível ler! ^ M.r.

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O POEMa Da ViDa DE...

Creio que foi o sorriso,o sorriso foi quem abriu a porta.era um sorriso com muita luzlá dentro, apeteciaentrar nele, tirar a roupa, ficarnu dentro daquele sorriso.Correr, navegar, morrer naquele sorriso.

em O outro nome da terra de Eugénio de Andrade

O SorrisoEugénio de Andrade

“As autarquias pressupõem democracia local e envolvem um verdadeiro direito dos cidadãos à sua autarquia na terra onde residem, e a serem beneficiários da sua ação na prossecução dos respetivos interesses individuais”

os novos desaFios do Poder LoCaL

antónio ramos Preto

a constituição refere que a organização democrática do Es-tado compreende e implica a existência de autarquias lo-cais, as quais, através de órgãos representativos, visam a

prossecução dos interesses próprios das populações.Mais do que uma garantia institucional de existência de autar-quias locais, a constituição estabelece a garantia da prossecução dos interesses locais pelas autarquias locais e a necessidade de correspondência, embora não exclusiva, entre descentralização e poder local. assim, mais do que em descentralização administra-tiva, justifica falar-se em descentralização autárquica.as autarquias pressupõem democracia local e envolvem um ver-dadeiro direito dos cidadãos à sua autarquia na terra onde resi-dem, e a serem beneficiários da sua ação na prossecução dos res-petivos interesses individuais.Neste quadro, quais os grandes desafios que se colocam hoje às nossas cidades, vilas e aldeias? Em primeiro lugar, num mundo em enorme competição, esta tam-bém se verifica entre cidades e aldeias, pela atração de pessoas e de negócios. cada local tem de promover a sua identidade atrativa tendo em vista a fixação de cidadãos, negócios e visitantes. Neste enquadramento, o primeiro grande desafio é o da Economia social, a qual é já uma bandeira do Partido socialista, na medida em que cria empregos de elevada qualidade e promove a cidadania ativa, a solidariedade e um tipo de economia com valores demo-cráticos onde as pessoas estão em primeiro lugar.Um segundo desafio é o de apostar em transformar os municí-pios em municípios verdes, onde a mobilidade é mais suave, mais coletiva e menos poluente, e nos quais o consumo de bens é mais próximo da produção, dando particular cuidado e atenção às suas energias e fontes vitais, tais como o solo, a água e os alimentos. também a regeneração e a reabilitação urbanas são áreas estra-tégicas para promover o crescimento da economia e para incenti-var as atividades económicas associadas.Por último, a questão do ordenamento do território é determinan-te para a governação local. Portugal confronta-se hoje com cons-tantes apelos a favor de uma nova cultura de ordenamento do território, que aposte, essencialmente, na valorização das políti-cas públicas, que promovam a coordenação intersectorial de base territorial e que acentuem e valorizem a participação democrática das populações na definição coletiva do nosso futuro. ^

lanÇaMento

Memória de tortura e resistênciaa Fundação Mário soares foi o cenário escolhido para a ses-são de lançamento do livro “Memória de tortura e re-sistência”, da autoria de Joa-quim Monteiro Matias e com a chancela editorial temas e debates.a apresentação desta obra, que decorreu na tarde do dia 6 de junho, em lisboa, esteve a cargo da historiadora irene Pi-mentel, contando na assistên-cia com a presença do funda-dor do Partido socialista Má-rio soares.na ocasião, irene Pimentel saudou Monteiro Matias pe-lo trabalho realizado e pela co-ragem de partilhar memórias dolorosas “que tanto contri-buem para o reconhecimento do nosso passado recente e da nossa história”.recorde-se que o livro de Joa-quim Monteiro Matias faz pe-la primeira vez, e na primeira pessoa, o relato da tortura psí-

quica praticada pela Pide.ao longo das suas 240 pági-nas, o livro retrata a expe-riência de vida bastante rica de Monteiro Matias, advoga-do e defensor de presos polí-ticos e mais tarde, ele próprio também preso político; sendo prefaciado por irene Pimentel, também ela especialista nestes temas.no prefácio da obra, irene Pi-mentel afirma que livros como

este “são absolutamente pre-ciosos para os historiadores e todos os interessados em his-tória e no passado recente por-tuguês, memórias, testemu-nhos e relatos, não só porque lembram episódios e aconteci-mentos pretéritos, como por-que contribuem para poder-mos caracterizar um determi-nado regime político, neste caso o salazarista”. a não perder! ^ M.r.

idáLia serrão

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diretor Marcos sá // conselho editorial Joel Hasse Ferreira, Paula Esteves, Paulo Noguês // chefe de redação Paulo Ferreira // redação J.c. castelo Branco, Mary rodrigues, rui solano de almeida // colunistas permanentes Maria de Belém presideNte do ps, Vasco cordeiro presideNte do ps açores, Victor Freitas presideNte do ps madeira, carlos Zorrinho presideNte do grupo parlameNtar do ps, rui solheiro presideNte da aNa ps, Ferro rodrigues deputado, catarina Marcelino presideNte das mulheres socialistas, João Proença teNdêNcia siNdical socialista, Jamila Madeira secretariado NacioNal, Eurico Dias secretariado NacioNal, álvaro Beleza secretariado NacioNal, João torres secretário-geral da juveNtude socialista // secretariado ana Maria santos // layout, paginação e edição internet Gabinete de comunicação do Partido socialista - Francisco sandoval // redação, administração e expedição Partido socialista, Largo do rato 2, 1269-143 Lisboa; telefone 21 382 20 00, Fax 21 382 20 33 // [email protected] // depósito legal 21339/88 // issn 0871-102Ximpressão Grafedisport - impressão e artes Gráficas, sa

Os artigos de opinião são da inteira responsabilidade dos autores. O “Acção Socialista“ já adotou as normas do novo Acordo Ortográfico.

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aCoMPanHe-nos no FaCebooK sEDENaciONaLPartiDOsOciaListaaCoMPanHe-nos no FaCebooK sEDENaciONaLPartiDOsOciaLista

“O voto no PS tem uma dupla eficácia. Escolhe uma solução autárquica e contribui em simultâneo para que a mudança necessária no plano nacional fique mais próxima”

czorrinho

o desaFio aUtárQUiCo

Carlos Zorrinho

as eleições autárquicas não são eleições nacionais. No en-tanto, o contexto nacional não é indiferente ao resultado das eleições locais. Este contexto é também determinan-

te para definir a capacidade dos eleitos cumprirem os seus man-datos e os seus programas.Por todo o país o Ps apresenta candidaturas que têm uma forte relação com a dinâmica e a história de cada concelho e de cada freguesia. são candidaturas diferentes, mas que têm uma ma-triz comum de valores de proximidade e humanismo. são candi-daturas inspiradas por uma base comum de resposta que facilita a cooperação e aumenta as condições para enfrentar o tempo de crise que estamos a viver.Por este facto votar Ps no próximo dia 29 de setembro não é apenas uma escolha local, embora não possa deixar de ser local a razão mais importante da escolha.com o actual Governo esgotado e fora de validade na legitima-ção popular, qualquer política autárquica terá mais dificuldade em desabrochar. Por isso, o voto no Ps tem uma dupla eficácia. Escolhe uma solução autárquica e contribui em simultâneo para que a mudança necessária no plano nacional fique mais próxima. contêm em si mesmo uma mensagem forte de que não é pos-sível continuar a governar contra as pessoas, usando-as como variáveis de um ajustamento falhado. É um voto pelas pessoas e por um Governo que as saiba respeitar e mobilizar para um novo rumo. contribui também para uma gestão racional do território. O Ps compromete-se a revogar a Lei de Extinção das Freguesias e a concretizar uma nova organização integrada dos patamares central, regional e local do exercício do poder. compromete-se também a rever as leis de repartição de competências e de en-quadramento das finanças locais, assim como a lei dos compro-missos. Estas reformas são decisivas para que os bons projetos autárquicos possam ser aplicados na prática. Por tudo isto o desafio autárquico é um grande desafio. Ganhan-do o Ps ganham os portugueses. ^

FoToGraFIas com HIsTórIa

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rEs seCretariado

de ConstânCio29 DE JUNHO DE 1986

sob a liderança de Vítor constâncio, tinha lugar a 29 de junho de 1986 a primeira reunião do novo secretariado Nacional. Um órgão de excelência, onde, nomeadamente, estava um futuro Presidente da república, um ex-presidente da assembleia da república e um futuro primeiro-ministro.

Mais uma machadada no consensoO primeiro-ministro deu “mais uma machadada” num possível diálogo e consenso entre Governo e socialistas, acusou veementemente o secretário-geral do Ps, antónio José seguro, no debate quinzenal do dia 26 de junho, na assembleia da república.

“o senhor não pode andar às segundas, quartas e sextas-fei-ras a dizer que o país precisa do consenso do Ps e depois chega aqui, a um debate quinzenal, e trata o Ps da forma como tra-tou”, protestou seguro, afir-mando que “o desespero” já se apoderou de Pedro Passos Coe-lho e que este desconhece a rea-lidade do país.ao avisar Passos que pode ten-tar fugir às suas responsabili-dades, mas que os portugueses não o deixarão e exigirão que preste contas “por dois anos de desastre nacional”, o líder socia-lista considerou que o chefe do executivo de direita apresentou, nesse dia, no Parlamento, um estilo de intervenção deselegan-te e “dúplice” do ponto de vista político.Pela sua parte, seguro contra-pôs que manterá “o respeito e a elegância em todos os debates”,

numa fase do debate parlamen-tar em que reafirmou que os so-cialistas rejeitarão o corte de 4,7 mil milhões de euros proje-tado pelo Governo e em que cri-ticou o executivo por ainda não ter apresentado qualquer pro-posta de reforma do estado.após lembrar que socialistas e Governo não divergem sobre o combate ao défice, mas sobre o caminho para o reduzir, o secre-tário-geral do Ps apontou que o défice no primeiro trimestre de 2011 (ainda no executivo sócra-tes) foi de 7,7%, sendo no pri-meiro trimestre deste ano na or-dem dos 10%.“a dívida pública, nos dois últi-mos anos, cresceu mais 15 pon-tos percentuais. todas as previ-sões indicam que ultrapassará em breve os 130%. Contra fac-tos não há argumentos”, con-cluiu seguro, num debate cris-pado com Passos, a quem acu-

sou ainda de não ouvir ninguém num momento em que o país se encaminha para uma “tragédia social”.ainda no debate po-lítico, antónio José seguro referiu que naquele dia bruxelas tinha avisado que as projeções do orça-mento retificativo deste ano poderão não ser alcançadas,

num momento em que o minis-tro das Finanças [vítor Gaspar] já admitiu um défice de 10% no primeiro trimestre deste ano, com a dívida pública a ultrapas-sar os 127% e quando “os portu-gueses pagam mais impostos”.“e o que diz o primeiro-minis-tro? Que estamos na direção certa. o primeiro-ministro é o único a pensar dessa forma. se o primeiro-ministro ouvis-se personalidades da sociedade portuguesa, se ouvisse os tra-balhadores (que vão fazer quin-ta-feira greve geral pela segun-da vez consecutiva), se ouvis-se as confederações patronais, que se juntaram para lhe exigir que mude de rumo", Pedro Pas-sos Coelho "não diria isso", re-matou o líder socialista, antes de dirigir ao chefe do executivo a pergunta: “diga-me porque é que todos estão errados e só o senhor está certo?”. ^ M.r.

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Edite Estrela O Presidente da República (PR) foi ao Par-lamento Europeu (PE) dizer aos deputados o que pensa da atual situação europeia e da resposta à crise. A sua presença em Estras-burgo coincidiu com a data da assinatura do Tratado de Adesão de Portugal à então Co-munidade Económica Europeia (12 de junho de 1985). Foi há vinte e oito anos, que Por-tugal e Espanha assinaram, no mesmo dia, o seu compromisso europeu. Com a entrada dos dois países ibéricos, a Comunidade ficou com doze Estados-membros, o dobro do nú-cleo fundador.Cavaco Silva fez um discurso institucional ajustado às circunstâncias. Identificou os principais problemas que a União Europeia (UE) enfrenta, realçou as “fragilidades” que a crise veio revelar e sublinhou a interde-pendência entre a zona euro e cada Estado--membro. Disse que, durante “demasiado tempo, a atenção esteve concentrada na austeridade para a correção dos desequi-líbrios das contas públicas” e acrescentou que a crise exige uma resposta “social, cul-tural e política”, capaz de vencer a “crise de confiança” e de reforçar “a legitimida-

de democrática dos decisores europeus”. E não poupou o Conselho Europeu (onde o primeiro-ministro Passos Coelho tem as-sento e direito de voto) por não ter dado atenção aos alertas do PE e da Comissão e ter relegado para “um plano secundário o crescimento económico” e demorado a re-conhecer que “a crise da zona euro não se resolve apenas com a imposição de políticas de austeridade”. Em relação à situação do país, o PR alertou para a “dureza” da recessão económica, ao longo de dez trimestres sucessivos, e de-nunciou os níveis de desemprego “social-mente inaceitáveis”: taxa de desemprego de 17,7% e desemprego jovem de 42%. E não omitiu o “aumento do risco de pobreza” nem os “sacrifícios muito pesados” a que os por-tugueses estão sujeitos. O Presidente disse no PE o que nós, socialis-tas, há muito vimos afirmando na Europa e em Portugal. Lamentavelmente, o PR tem um discurso lá fora e outro, bem distinto, cá dentro. Não espero que o PR critique o go-verno no estrangeiro, mas espero que o faça em território nacional, interpretando o sen-timento popular. E não basta falar, é preciso retirar consequências políticas do que se

diz. Depois do que disse aos eurodeputados sobre a situação portuguesa e de se ter de-marcado das políticas de austeridade, Cava-co Silva, para ser consequente, deve respon-sabilizar o governo pelos maus resultados das suas políticas. Há responsabilidades europeias e há responsabilidades nacionais. A receita da troika é desajustada, mas os portugueses não esquecem que o governo ainda quis “ir além da troika”. Ao prolongar a vida deste governo, o PR vai contra a vonta-de da esmagadora maioria dos portugueses e não defende o interesse nacional. Vão ser necessários muitos anos para sairmos do abismo em que o governo nos lançou. Quan-to mais durar a situação, mais difícil será a recuperação. A prova mais cabal do desas-tre governativo é a atitude dos candidatos do PSD às autarquias locais que escondem a sua filiação partidária por recearem ser penalizados pelos eleitores.O Presidente da República não pode conti-nuar a dar cobertura a um governo incom-petente, sem sensibilidade social e que está a hipotecar o futuro do país, como fez no dis-curso de 10 de junho. Só quem está alheado da realidade pode dizer que não há “deses-truturação social” num país que, durante

anos e anos, esteva entre os três países da UE com mais baixa taxa de desemprego e que, de repente, passou a integrar o grupo dos três com mais desemprego. No tempo de Sócrates, Cavaco Silva excedeu-se na crítica e contribui para a queda do governo, sem se importar com as consequências. Agora, perante o isolamento do governo e a crescente contestação social, afirma que Portugal não aguenta uma “crise política”. Esta duplicidade de critérios retira-lhe cre-dibilidade. Portugal precisa de um Presiden-te que una os portugueses, promova o diá-logo entre o governo, os partidos políticos e os parceiros sociais. Um Presidente que seja árbitro e não cúmplice.

Elisa Ferreira Dizem os Tratados que a Comissão Euro-peia responde perante o Parlamento Euro-peu – mas o que fazer quando a resposta não serve e a dita Comissão não assume a responsabilidade?Relativamente a esse estranho animal cha-mado “Troika”, há duas perguntas fundamen-tais e que, apesar de insistentemente colo-cadas, continuam a aguardar resposta:- Quem assume a responsabilidade pelas de-cisões (e pelos erros) das “troikas”?- Quem controla as decisões dos três altos funcionários nas “troikas” e a quem prestam eles contas?Quanto à primeira questão, abundam infe-lizmente os exemplos de erros crassos, a começar pelos modelos económicos e eco-nométricos sobre os quais assentaram as recomendações impostas aos países “sob programa” e onde o prometido “ajustamento a favor do emprego e do crescimento” desen-cadeou uma espiral incontrolável de desem-prego e recessão. Os sucessivos “mea culpa” do FMI (culminando com uma autocrítica sobre o programa grego) vieram juntar-se ao

miserável “passa culpas” observado na ges-tão da crise cipriota ou no encerramento em ambiente revolucionário da televisão grega. Na verdade, e entre tantas instituições en-volvidas – dos governos nacionais ao Conse-lho Europeu, do Eurogrupo ao Banco Central Europeu (BCE), da Comissão Europeia (CE) ao Fundo Monetário Internacional (FMI) –, há alguém que verdadeiramente assuma a responsabilidade pelo que está a acontecer nos países da periferia da Europa?A segunda questão decorre imediatamente desta última. É sabido que, dentro da “Troi-ka”, a Administração do FMI age de acordo com o seu Conselho de Governadores (cada dia mais dominado pelo peso das potências emergentes) e o BCE beneficia de indepen-dência política e igualmente age de acordo com o seu Conselho de Governadores (go-vernadores dos bancos centrais nacionais). Enquanto isso, a CE – respondendo formal-mente perante o Parlamento Europeu – vive perdida e desresponsabilizada entre uma confusa participação na “Troika” e as pres-sões de “mercados”, “credores” e dos chefes de Estado e de Governo e respetivos minis-tros nacionais, os quais respondem, por sua

vez, perante os parlamentos e outras insti-tuições dos respetivos países.Em síntese: ninguém controla verdadeira-mente as receitas impostas pelas “troikas” nem avalia os seus resultados, exceto, mar-ginal e limitadamente, os parlamentos e ou-tras instituições dos países intervencionados (caso do Tribunal Constitucional português, p.e.), assumindo estas o risco de lhes virem a ser assacadas culpas pelo falhanço de pro-gramas mal elaborados.Alguns argumentarão que o alastramento da crise a países mais poderosos força-rá uma normalização de procedimentos. Pessoalmente, tenho as maiores dúvidas: enquanto a Espanha teve a inteligência de garantir o seu “PEC IV” e de usar o seu peso para matar à nascença a ideia de uma “troi-ka” espanhola, o presidente francês declara que “a Comissão não pode impor à França o que ela deve fazer... só a nós, e apenas a nós, caberá decidir qual o melhor caminho para atingir os objetivos”; já Berlusconi, no seu habitual estilo, vai recomendando ao governo italiano que diga a “esses senhores em Bruxelas... que esqueçam o limite dos 3%” porque “a Itália tem assuntos mais im-

portantes a tratar” e “eles não nos podem expulsar do Euro”.Por outro lado, sabe-se que os prazos dos ajustamentos foram adequadamente pro-longados e que, das 144 recomendações feitas aos países da União em 2012, apenas 7 tinham sido cumpridas no fim do ano... Sendo que, entretanto, as “troikas” da Gré-cia, Irlanda, Portugal e Chipre continuam em “roda livre”, a saltar de avaliação em avaliação e de recomendação em recomen-dação, munidas de um garrote numa mão e de uma ameaça de suspensão dos créditos na outra...Até quando? Até onde?

Nº 91 • JUNHO DE 2013Suplemento Informativo dos Deputados Socialistas no Parlamento Europeu

Um discurso fora e outro dentro

De troika também já basta...

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António Correia de Campos No momento em que se fala de uma nova

esquerda, aliada a movimentos sociais, ou a nível global se propõe uma Aliança Progressista, conviria deixarmos os rótu-los, os envelopes, o papel de embrulho de fantasia e olharmos aos conteúdos. O que é ser de esquerda, hoje? Qual o papel dos partidos de esquerda na sociedade? Por que está a esquerda dividida? Será pos-sível uma aliança progressista com a es-querda à nossa esquerda? Quais os movi-mentos sociais que devem ser concitados a aliarem-se na luta política e como lidar com aqueles que terão sempre uma agen-da própria, inconciliável com a nossa? Ao olharmos para os conteúdos teremos que refletir sobre as realidades passadas e presentes. Num momento em que o so-cialismo democrático oscila na Europa, entre o defluxo da condenação e o refluxo de protesto, no momento em que conquis-tas e realizações de décadas ou até de um século, como férias pagas, pensões garantidas, escola pública republicana, serviço nacional de saúde, cultura e arte abertas a todos, investimento no conheci-mento e inovação, ou seja, num momento em que cada bem público é questionado pelos que pensam ser substituível pelo mercado desregulado e de baixa qualida-de, temos que estudar as razões que nos levaram ao defluxo da social democracia.Não embarquemos em explicações deter-ministas dialécticas, nem em teses cons-pirativas de uma internacional do mal. A crise que hoje vivemos foi alimentada por todos os lados do espectro político. E tam-bém por nós. Pelas direitas, que sempre se consideraram donas do poder, ungidas por direito divino de herança, educação, fortuna acumulada, instaladas à mesa,

repartindo com os servidores apenas os restos do banquete. Pelas esquerdas, sim por nós, que namorámos vezes sem conta com a direita, deslumbrados pela companhia ocasional e condescendente de banqueiros e capitães de indústria, que adoptámos os seus modelos económicos sem grandes críticas, num novo riquismo de camponês promovido a pequeno bur-guês, sempre prontos a reconhecer erros do estado quando os outros tão relutan-tes se mostram em confessar erros de mercado. Certamente pelos extremos: a extrema direita, sempre tentada a aven-turas e a capitalizar o descontentamen-to em populismo, a extrema esquerda, transformando o protesto em projeto de vida, sacudindo responsabilidades de go-verno, ou sequer de coligação viabilizante.Deixámos destruir a indústria manufac-tureira pelas invasões do oriente e das ín-dias, desculpando a globalização consen-tida e o dumping ambiental e social com os ganhos em preço acessível de bens, impossíveis de alcançar no passado, pelas classes média e baixa. Em nome do sagra-do princípio da livre circulação de bens e serviços e com a desculpa social de es-tarmos a retirar milhões de trabalhadores dos novos países manufactureiros de uma existência de fome e de miséria, consenti-mos uma invasão pacífica que hoje nos es-trangula pela inatividade e desemprego.Entretanto construímos a Terceira Via. Um aparentemente sólido movimento de mo-dernização do pensamento de esquerda, indo buscar ao mercado o seu método de análise e de produção e ao socialismo re-publicano o respeito pela igualdade solidá-ria e o prazer na reconstrução de modelos de proteção social modernizados. Durante anos Blair e Clinton foram os nossos guias e Anthony Giddens o nosso guru. Parecia viável racionalizar o modelo europeu de proteção social, torná-lo mais dirigido a grupos em risco e menos tolerante à uni-

versalidade acrítica. Aceitámos cessar o investimento na habitação social pelas potenciais desigualdades e ineficiências que gera, dualizar as pensões, separando a pensão básica, em redistribuição, das pen-sões opcionais, em capitalização. Aceitá-mos que o ensino superior, tendo em conta o seu elevado efeito de persistente desi-gualdade, deixasse de ser todo pago pelos impostos, para ser comparticipado pelo estudante, com pagamento proporcional à condição de recursos e uma forte oferta de bolsas e isenções seletivas. Admitimos que o estado pudesse concessionar a cons-trução e a gestão de hospitais a grupos privados, com tempo limitado e respon-sabilidade pública definida, como forma de melhorar a gestão e procurar financia-mentos alternativos para o investimento. Sem o querermos, fomos deixando criar um forte sector privado nas áreas sociais que ganhando poder, procura influencia o poder. Os sistemas sociais sempre foram mistos, dir-se-á. Porém a mistura arriscou--se a ter mais carburante de mercado que de serviço público.A questão central das reformas de hoje reside em saber como vai evoluir esta hi-bridez, em contexto de forte restrição de dinheiros públicos. Receia-se, justificada-mente, que o social se restrinja aos mais pobres e o misto sirva os ricos e remedia-dos, acentuando a divisão da sociedade. Aumentar o financiamento público dos bens públicos sociais não parece possí-vel, dadas as restrições orçamentais que nos vão acompanhar durante pelo menos uma década. Privatizar progressiva ou abruptamente os serviços sociais (dizem ser a opção inicial da Espanha, na saúde) debate-se com vários problemas: a falta de atores de mercado interessados num sector de risco financeiro elevado, as fa-lhas de mercado que se acentuam na pri-vatização e fazem regredir a eficiência, o clamor da esquerda que verá ferido o seu

derradeiro baluarte social e sobretudo a impopularidade de tais medidas numa classe média em vias de emagrecimento, mas que continua com poderes de voto. A alternativa de manter tudo como está não serve ninguém: não serve a direita que se sente frustrada a meio caminho de refor-mas que ideologicamente considerava de valor elevado; não serve a esquerda que, mesmo detendo o poder, se encontrará paralisada pelas queixas da ultra-esquer-da, sem poder ampliar a natureza social das reformas, nem instilar-lhes eficiência para fazer mais com o pouco de que dis-põe. Serve sobretudo as corporações que se alimentam das indecisões do estado e, sob a capa da proteção de terceiros, mes-clada de garantia de qualidade, podem continuar a manter domínio transitório sobre os sistemas sociais.Reconhecer a incerteza é apenas um pri-meiro passo, não resolve qualquer proble-ma nem augura um futuro radioso. Mas permite afastar fantasmas, recuperando o que de positivo existia na Terceira Via. E permite regressar aos valores da solida-riedade que sempre foram um bom guia, atualizando-os criticamente. Permite so-bretudo, discutir com os jovens desem-pregados ou de precária ocupação, com os pensionistas despojados de pensões que julgavam patrimonialmente adquiridas e com os adultos em stress da falta de habilitações e formação profissional para novos empregos da sociedade da informa-ção ou das futuras manufacturas. Em vez de objetos de reformas, passar a conside-rá-los como sujeitos e atores da mudança. Eis por que se torna tão necessário dis-cutir os conteúdos do programa de uma nova Aliança Progressista como preten-dem fazer os socialistas europeus. Duran-te essa discussão vão saltar as perguntas do início deste texto. Talvez possamos, então, estar em melhor posição para lhes responder.

Capoulas Santos

O Tratado de Lisboa veio introduzir no direito primário da

União Europeia (UE) uma das reivindica-ções mais acerrimamente defendidas em prol da democracia e da representativi-dade dos cidadãos europeus: conceder mais poderes ao Parlamento Europeu (PE) para que a casa dos cidadãos da UE em Bruxelas passasse a estar em pé de igualdade com as outras instituições também envolvidas no processo decisó-rio europeu. No vocabulário europeu diz--se que o PE passou a ter poderes de co-decisão no processo legislativo, ou seja, passou a ter efetivo poder de decisão sobre um vasto conjunto de matérias em que anteriormente era apenas consulta-

do e não tinha voto na matéria. A prática tem demonstrado que esta nova configuração institucional exige al-guma aprendizagem e a aculturação das novas dinâmicas de poder. O Conselho de Ministros e a Comissão Europeia têm que se habituar a ter outro elemento no jogo da negociação o que implica combina-ções variáveis (e por vezes dificilmente previsíveis) das cumplicidades e, por ou-tro lado, o PE tem que estar à altura das suas responsabilidades e fazer valer os seus (recém) adquiridos direitos, já que da teoria à prática, há mais do que um mar de distância. Até aqui tudo bem, bu-siness as usual. Recentemente porém, na sequência das conclusões do Conselho Europeu do passado 8 de fevereiro sobre o Quadro Financeiro Plurianual, assis-timos a um cenário em que impera uma aterradora ausência do respeito pelo re-

lacionamento institucional. O Conselho Europeu, composto pelos chefes de Estado e de governo, pre-tendeu decidir sobre aspectos de de-terminadas matérias, entre as quais a agrícola, desautorizando assim os res-pectivos Ministros das suas competên-cias. Até aqui, eles que se entendam. O problema é que segundo dita a letra dos Tratados, o Conselho Europeu não tem poder legislativo, mas neste caso as suas decisões foram transformadas em texto legislativo ao nível dos Ministros das diferentes matérias. Estes sim, têm poder legislativo ao nível do Conselho de Ministros e limitaram-se a decalcar as decisões dos seus chefes de Estado so-bre aspectos específicos (e fundamen-tais) de algumas políticas. O problema é ainda maior quando, na plataforma de negociação europeia, os representantes

do Conselho de Ministros se recusam a discutir esses aspectos que foram deci-didos pelos chefes de Estado e governo o que põe em causa o exercício da co-decisão e do pleno exercício das compe-tências do Parlamento Europeu no pro-cesso negocial. Como negociador desta instituição para a reforma da Política Agrícola Comum já tive a oportunidade de afirmar e aqui o faço novamente que não aceito que o PE fique refém das decisões dos chefes de Estado e governo e privado do direito de se fazer ouvir. Reafirmo também que não subscreverei qualquer acordo sem que te-nha sido possível dialogar e chegar a um entendimento sobre todos os aspectos - e não apenas sobre alguns - que compõem os dossiers, incluindo aqueles que têm o precedente das conclusões do Conselho Europeu.

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Aliança progressista

Parlamento Europeu reafirma as suas competências nas negociações da PAC

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Fraude e Evasão Fiscal - inaceitável e imoral!

Da turquia ao Brasil, ouve-se democracia

luís Paulo Alves As perdas totais acu-muladas da União Eu-ropeia (UE) por via da

fraude e da evasão fiscais atingem 1 bi-lião de euros anualmente, o que equivale praticamente ao orçamento para os pró-ximos 7 anos da UE. Por isso, o Grupo So-cialista no Parlamento Europeu tem feito de tudo para que a União Europeia assu-ma este assunto como uma prioridade. “São 2 mil euros por ano por cada cida-dão da UE, ou 4 vezes o gasto per capita em educação” sublinha Martin Schultz, presidente socialista do Parlamento Europeu. O relatório sobre o assunto da eurodeputada socialista eslovena Mojca Kleva Keku refere que a economia pa-ralela não registada representa cerca de 20% do PIB da União. Estima-se que Portugal perde num ano mais de 12 mil milhões de euros, o que equivale a mais de uma vez e meia os gastos em saúde previstos para 2013.Trata-se de dinheiro “perdido”, sobretu-

do derivado de: ações fraudulentas, que privam os orçamentos públicos desse dinheiro; paraísos fiscais que facilitam a evasão, com o depósito de dinheiro em destinos offshore, recorrentemente não reportado e não taxado; “planeamento fiscal agressivo” por grandes empresas ou pessoas que exploram os limites da lei com o objetivo de pagar o mínimo de impostos (desde logo, não é justo que al-guns países tenham sistemas de impos-tos bastante mais atraentes para empre-sas, cuja sede acaba por se fixar nesses países).Mas hoje este cenário atinge uma nova dimensão. No atual quadro que impõe di-ficuldades extremas a milhares e milha-res de famílias, os Estados aumentam os impostos para fazer face às necessida-des de receitas e procedem a cortes nas despesas e nos investimentos que atiram milhões para o desemprego e para a po-breza. Hoje, podemos também dizer que é intolerável que existam Estados no seio da UE que, por se oporem à troca de in-formações financeiras, permitem a fuga e a evasão de milhares de milhões de

euros indispensáveis para aliviar o sofri-mento das pessoas.Esta pressão fez com que o Conselho Europeu reunisse em maio para se de-bruçar sobre esta matéria, comunicando o objetivo de reforçar os mecanismos de troca de informações e transparência en-tre si. Por isso, aprovou um conjunto de medidas relacionadas com o reforço do intercâmbio automático de informações, a tributação dos rendimentos da poupan-ça, a luta contra a fraude ao IVA, a res-posta ao planeamento fiscal agressivo e à transferência de lucros, a eliminação das práticas fiscais prejudiciais ou a luta contra o branqueamento de capitais. Os chefes de Estado e de governo aguardam agora a apresentação de um relatório de situação sobre estes dossiês até de-zembro de 2013. Mas espera-se que haja adiamentos e meias medidas aplicadas. E por isso continua a ser necessário agir rapidamente contra esta imoralidade inaceitável dentro da União Europeia.Desde logo, um exemplo paradigmático: o Presidente da Comissão Durão Barroso tem falado contra a fraude e a evasão fis-

cal, mas fica-se nas meias tintas porque não fala em pôr fim aos paraísos fiscais, que é absolutamente indispensável para atacar este assunto. Mais uma vez, esta Comissão Europeia conservadora não vai ao fundo da questão para resolver os problemas. Como se pode continuar a to-lerar que, por exemplo, nas Ilhas Virgens Britânicas existam 16 sociedades finan-ceiras por habitante (447 mil empresas, por 28 mil habitantes).As instituições e os líderes não podem ignorar a necessidade de agir. Qualquer avanço sério e firme nesta matéria terá implicações nas contas públicas dos Es-tados, na sua capacidade financeira para aplicar medidas de caráter social, de abrandamento da carga fiscal e de relan-çamento da economia.Só se a UE agir em conjunto, com cora-gem, trocando informações de forma automática para todas as formas de re-ceita, trará justiça, recuperará dinheiro e envolverá desejavelmente o resto do mundo nesta que é uma prioridade glo-bal. O que precisamos, na verdade, é de ação e não de mais declarações.

Ana Gomes Os protestos na Tur-quia e no Brasil fazem as manchetes e os telejornais no mundo

inteiro. Demonstram um grau de mobili-zação popular que a todos surpreende, a começar pelos respectivos governantes, suscitando-lhes reações bem diferentes e reveladoras de diferentes graus de compromisso democrático. Na Turquia, a polícia logo se encarregou, a mando do Primeiro-ministro Erdogan, de carregar sobre os manifestantes. No Brasil, Dil-ma Rousseff diz-se “orgulhosa” do povo que sai em massa para as ruas, exorta à não violência e diz que é preciso dar ouvidos aos protestos. E a reação a manifestações nas ruas de milhares de cidadãos é, precisamente, um dos critérios fundamentais que dis-tinguem as democracias das pseudo--democracias. Outro, interligado, é o efetivo exercício das liberdades de ex-pressão e de imprensa. Ora a Turquia é – já era antes destes protestos - um dos países com mais jornalistas na prisão por delito de opinião. Um dos factores que mais enraiveceu a população turca e engrossou os manifestantes contra a destruição do Parque Gezi, foi a amar-ga constatação de que a CNN e todas as televisões do mundo passavam ima-gens dos primeiros protestos na Praça Taksim, enquanto as rádios e televisão turcas silenciavam os acontecimentos. Muitos turcos, sobretudos jovens, urba-nos e educados, já perderam a paciência para o estilo autoritário de Tayyp Recep Erdogan. “Resistambul” tornou-se um símbolo da resistência popular a um

governo controlador e repressivo, que procura uniformizar num colete islami-zador a secular e diversa Turquia. Na reação incendiária, desproporcional e violenta aos protestos em Istambul e no resto do país, o Primeiro-Ministro afun-dou a sua credibilidade, legitimidade e liderança. O mais conciliador Presiden-te da Turquia, Abdullah Gul, ainda pro-curou moderar os ímpetos dos falcões do partido de ambos, o AKP, chamando a atenção para o facto de a “democracia não se esgotar em eleições”. Mas o esti-lo “L’État c’est moi” de Erdogan reforça--se a cada dia que passa, inclusive na reação despropositada a uma resolução aprovada pelo Parlamento Europeu en-tretanto, com ela justificando a recusa de receber uma delegação parlamentar à Turquia, que vinha sendo preparada há meses. Ao contrário, a Presidente Dilma Rous-sef dá uma lição democrática ao mun-do, ao assumir que tem de procurar entender qual a razão dos protestos que de São Paulo se estenderam a ou-tras cidades do Brasil - onde entretanto as tarifas dos transportes públicos já desceram, em resultado das manifes-tações populares. No Brasil, tal como na Turquia, a grande parte dos que se manifestam são jovens, urbanos, sem filiação partidária, que nunca tinham participado numa manifestação: sobre-tudo estudantes e desempregados, que responderam a apelos lançados nas re-des sociais. O impacto das redes sociais foi, em ambos os casos, decisivo e altera o modelo dos protestos. As democracias ocidentais (e as mais antigas) também vão ter de se habituar. Por isso mesmo convém que os governos ensaiem um

compasso de espera antes de reagir, para compreender a raiz do que descon-tenta quem os elegeu. Na Turquia, a impulsividade machista de Erdogan, como o próprio assumiu amea-çando com intervenção militar na Praça Taksim, vem no seguimento de um sem--número de decisões polémicas, como a limitação da venda e da publicidade ao álcool, a imposição do estudo do Corão no ensino primário, a construção de uma mesquita na praça Tasksim ou até a imposição de um código de vestuário às hospedeiras da Turkish Airlines. O pluralismo político, religioso e étnico, a liberdade de expressão, o direito à mani-festação e o direito à greve, são valores elementares e inalienáveis em qualquer democracia. Há lições e consequências a retirar do que se passa, e do que ainda se vai pas-sar, na Turquia: o povo turco está seden-to de verdadeira democracia para o seu país e muita gente está determinada a continuar na rua, mesmo em protesto silencioso, a exigir mudança. É funda-mental que a União Europeia seja exem-plarmente assertiva com Ancara, com quem está a negociar a adesão. A re-taliação incendiária de Erdogan contra os manifestantes viola grosseiramente os critérios de Copenhaga, que a Tur-quia assumiu querer cumprir e que são condição imprescindível para entrar na UE. Um posicionamento firme e sen-sato europeu tem de passar também pela consideração de que uma Turquia democrática, com governação respeita-dora do Estado de direito e dos direitos humanos, é importante para manter a parceria estratégica em tantos desafios que se jogam na vizinhança da Turquia

e da própria UE - pensemos na Síria, no Iraque, no Irão, em Israel, Palestina, na Jordânia, etc... A verdade é que as implicações desta crise política violenta na Turquia, não retira apenas robustez à relação entre a UE e Ancara em domí-nios como a segurança e estabilidade regionais, a segurança energética, a se-gurança marítima – da UE e não só. Pior do que isso, dão força e argumentos às vozes daqueles que, dentro da própria UE, já viam com maus olhos, por más razões, a possibilidade de adesão da Turquia à UE. As diferenças são substanciais no rela-cionamento com o Brasil e não apenas por causa da geografia. O Brasil, como potência global emergente, em tudo e por tudo tem de ter espaço nobre nas parcerias estratégicas da União Euro-peia, do plano bilateral à articulação nos fora multilaterais mundiais. O go-verno da Presidente Dilma Rousseff está a dar provas de que tem todos os instrumentos e a sabedoria para condu-zir o Brasil em direção a uma liderança global e à cooperação internacional em matérias tão determinantes como a re-gulação financeira e económica, a se-gurança e a resolução de conflitos, a reforma das instituições multilaterais de governaçao global. É preciso dizer que o forte sentido da cidadania do povo brasileiro ajuda: afinal de contas, no país do futebol e de Pélé, o povo saiu à rua a mostrar que não vai em estádios e circos, exige que o dinheiro dos con-tribuintes seja investido em sistemas públicos de educação e saúde. Bem que nós, portugueses, podíamos aprender. Bem que nós, socialistas portugueses, poderíamos tirar lições!

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FICHATÉCNICA

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A Assembleia da República como órgão da União Europeia

Vital Moreira 1. Durante muto tempo, os parlamentos

nacionais não tinham nenhum papel es-pecífico na atividade da União Europeia.

Podiam obviamente (e deviam) con-trolar as políticas dos respetivos go-vernos em relação à integração euro-peia, nos termos das constituições e das práticas parlamentares nacionais. Participavam naturalmente no pro-cesso de ratificação interna dos trata-dos de revisão dos Tratados fundado-res, bem como nos tratados de adesão de novos Estados-membros. Mas não intervinham nos processos de decisão das instituições da União. Nem sequer tinham direito a ser informados sobre eles.

2. O Tratado de Lisboa de 2007 veio al-terar substantivamente esta situação, fazendo intervir os parlamentos na-cionais nos processos de decisão da União Europeia e criando novas formas de cooperação interparlamentar entre eles e o Parlamento Europeu, como di-mensão da democracia participativa na União.

O novo art. 12º do Tratado da União, na redação do Tratado de Lisboa, enuncia as várias formas dessa participação parlamentar nacional, desde o direito a serem informados de todas as iniciati-vas legislativas da União até à coope-ração interparlamentar, passando pelo mecanismo de controlo do princípio da subsidiariedade, pelo controlo da ação da União no “espaço de liberdade, se-gurança e justiça”, pela intervenção no processo de revisão dos Tratados. Alguns destes instrumentos de partici-pação encontram-se desenvolvidos no Protocolo sobre o Papel dos Parlamen-tos Nacionais e pelo Protocolo sobre a Aplicação dos Princípios da Subsidiarie-dade e da Proporcionalidade.

3. Um dos mais originais instrumentos de participação parlamentar é segura-mente a possibilidade de os parlamen-tos nacionais impugnarem as iniciativas legislativas da União por infração do princípio da subsidiariedade, que vigora no âmbito das competências compar-tilhadas entre a União e os Estados--membros e segundo o qual a União só deve exercer a sua competência se se provar que os seus objetivos não são suficientemente alcançados pelos Es-tados-membros (TUE, art. 5 (3)).

Se um terço dos parlamentos nacionais impugnar uma iniciativa legislativa, a Comissão Europeia tem de reanalisar a iniciativa e, caso decida mantê-la, tem de justificar por que o faz. Também os legisladores da União (Parlamento e/ou Conselho) têm de reconsiderar a ques-tão tendo em conta os argumentos dos

parlamentos nacionais. Caso a iniciati-va seja mantida, os parlamentos nacio-nais podem ainda impugnar a iniciativa junto do Tribunal de Justiça da União.

No único caso em que se ocorreu o “cartão amarelo” dos parlamentos nacionais, a Comissão acabou por re-tirar a iniciativa, embora sem conce-der que havia violação do princípio da subsidiariedade.

4. Independentemente do controlo do princípio da subsidiariedade, os par-lamentos nacionais podem ainda co-mentar toda e qualquer iniciativa das instituições da União à luz do princípio da proporcionalidade ou à luz da sua oportunidade ou conveniência, sendo então as instituições europeias livres na sua apreciação.

Importa dizer que o número de parece-res dos parlamentos nacionais não tem cessado de aumentar de ano para ano e que a nossa Assembleia da República é de longe o parlamento campeão nessa atividade, o que revela a atenção e dedi-cação com que em especial a Comissão de Assuntos Europeus da AR acompa-nha a atividade da União Europeia.

5. Um das grandes inovações do Tratado de Lisboa foi o novo procedimento da revisão dos Tratados da União, consa-grando o “método da convenção” como procedimento ordinário de revisão.

Iniciado com a elaboração da Carta

de Direitos Fundamentais da União em 1999/2000, o método da convenção prevê a participação do Parlamento Europeu e dos parlamentos nacionais, bem como da Comissão Europeia e dos governos nacionais, na elaboração de uma recomendação sobre a revisão dos Tratados, a ser submetida à decisão final dos governos dos Estados-mem-bros. Os dois precedentes na utilização deste método (a referida CDFUE e o malogrado “Tratado Constitucional” de 2004) revelam que, embora a de-cisão final continue a pertencer aos Estados-membros, por unanimidade, a recomendação da convenção pode ser decisiva.

Isso quer dizer que tanto o Parlamento Europeu como os parlamentos nacio-nais passaram a participar no poder de “revisão constitucional” da União.

6. Como se viu atrás o TUE e o Protoco-lo anexo sobre o papel dos parlamen-tos nacionais constitucionalizaram a cooperação interparlamentar entre os parlamentos nacionais e o Parlamento Europeu, que já vinha de trás.

Além da conferência das comissões parlamentares permanentes sobre as-suntos europeus (COSAC), há também as conferências dos próprios presiden-tes dos parlamentos nacionais e do Parlamento europeu e as reuniões de comissões parlamentares especializa-

das (por exemplo, em matéria de polí-tica externa e de segurança).

Neste aspeto o chamado Pacto Orça-mental de 2012 veio prever expressa-mente a realização de conferências regulares das comissões parlamen-tares competentes para as questões orçamentais, para se pronunciarem sobre a execução daquele Tratado (art. 13º).

7. Decididamente, com o Tratado de Lis-boa os parlamentos nacionais foram erigidos em verdadeiros órgãos exter-nos de participação e controlo da ati-vidade da União Europeia, tornando-se uma fonte adicional da sua legitimação democrática.

Se o poder de decisão continua a per-tencer às instituições da União – como é próprio do sistema de “governo em dois níveis”, de tipo federal --, o novo pa-pel dos parlamentos nacionais constitui um relevante instrumento de controlo político descentralizado, de alargamen-to e de aprofundamento do debate polí-tico na União e de criação de um verda-deiro “espaço político europeu”.

Apraz registar neste contexto que a nossa Assembleia da República não tem deixado os seus créditos por mãos alheias, assumindo um papel liderante quando se trata de tomar posição sobre as iniciativas legislativas e equiparadas pendentes de decisão na União.