acção socialista n.º 1374

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www.ps.pt N. O 1374 DIRETOR MARCOS Sá DEZEMBRO 2012 ENTREVISTAS PALMIRA MACIEL PRESIDENTE MULHERES SOCIALISTAS DE BRAGA PáG. 10 ISILDA GOMES CANDIDATA à CâMARA DE PORTIMãO PáG. 12 IDáLIA SALVADOR SERRãO CANDIDATA à CâMARA DE SANTARéM PáG. 13 JORGE FERREIRA // PáGS. 8 E 9 BRUTO DA COSTA “A política económica é fundamental no combate à pobreza”

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Acção Socialista n.º 1374 e Europa n.º 85

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www.ps.pt

N.o 1374 diretor marcos sáDEZEMBRO 2012

EntREvistaspalmira maciel presidente mulheres socialistas de braga pág. 10

isilda gomes candidata à câmara de portimão pág. 12

idália salvador serrão candidata à câmara de santarém pág. 13

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// págs. 8 e 9

Bruto da Costa

“A política económica é fundamental no combate à pobreza”

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A eSCALdAroe 2013: fiscalização sucessiva, sim!

Em entrevista à antena 1, o líder do Ps, antónio José seguro, avisou que o tempo do Presidente da República já terminou sem que fizesse o necessário pedido de fiscalização preventiva do Orçamento de Estado para 2013. assim, adiantou, é agora o tempo dos deputados, admitindo mesmo, pela primeira vez, que alguns parlamentares do Ps vão avançar com o pedido de fiscalização sucessiva do documento junto do tribunal Constitucional.

QUeNtetAP: salva mas com sinal de apertar cintos “on”

Mais uma vez o Governo recuou. Desta feita para laudo de todos os que zelam pelos interesses de Portugal e após um processo carregado de erros e faltas de transparência que obrigaram o Executivo Passos/Portas a, desistir, para já, da privatização da transportadora aérea portuguesa.

Friorelvas explicará enigma rtP?

Mas a saga das privatizações dos ativos públicos ainda não tem fim à vista, com a dança do vai-não-vai do ministro Miguel Relvas ao Parlamento com a finalidade de explicar como é que a escandalosa pretensão do Governo de vender a televisão pública a uma empresa sediada no estrangeiro pode ser uma estratégia que beneficie Portugal.

GeLAdodívida externa: novo máximo histórico

a dívida soberana portuguesa atingiu já um novo máximo histórico de 120,5% do Produto interno Bruto (PiB), segundo dados divulgados pelo Banco de Portugal, evidenciando-se, assim, mais uma vez, o falhanço do Governo e da sua política de austeridade do “custe o que custar”. MArY rodriGUeS

secção

SiGA-NoS No tWitter @PsOCiaListaSiGA-NoS No tWitter @PsOCiaLista

aCÇÃo soCiaLista HÁ 30 aNos

16 dezembro de 1982PS veNCe AUtárQUiCAS

a vitória do Ps nas eleições autárquicas era a grande manchete do “acção socialista” de 16 de dezembro de 1982. “Magnífica vitória do Ps que é de novo o maior partido político nacional” e “signifi-cativa derrota da aD nas eleições autárquicas” eram os títulos de primeira página.

FederAção de ÉvorA debAte FUtUro do iNterior

A Federação de Évora do PS re-alizou um fórum sobre o papel dos jovens empreendedores no futuro do interior, em Vila Viço-sa, que contou com a presença do secretário-geral, António Jo-sé Seguro.Na iniciativa, que contou com os jovens Antónia Tobias, bolseira de investigação, Palmira Chavei-

ro, autarca, e Luís Simão, médi-co veterinário), foram apresen-tados três exemplos de projectos de vida protagonizados por jo-vens alentejanos qualificados que apostaram em construir a sua vi-da nas suas terras de origem.Na sua intervenção, o presiden-te da Federação de Évora do PS, Bravo Nico, teve oportunidade de

apresentar as razões que determi-naram a realização do fórum e, declamando o poema “Mais Alto” de Florbela Espanca (natural de Vila Viçosa), propôs aos partici-pantes no fórum a Declaração de Vila Viçosa, que foi aprovada por unanimidade e aclamação e que dizia apenas o seguinte: “O inte-rior não desiste!”.

SoCiALiStAS de PAriS debAterAM CoMUNidAde PortUGUeSA

Após vários meses de debate, a se-de nacional do Partido Socialista Francês foi palco do encontro da Secção do PS de Paris, “Auto-re-trato da comunidade portugue-sa”, no passado dia 1 de dezem-bro, com a presença do secretário nacional para as Comunidades, António Galamba, e do deputado à Assembleia da República, Pau-lo Pisco.A iniciativa, dinamizada pelo co-ordenador da Secção, Aurélio Pin-to, foi mais uma oportunidade pa-ra debater a participação cívica e política dos portugueses residen-tes em França, o ensino do por-tuguês e da promoção da cultura portuguesa e a situação dos cida-dãos mais idosos da comunidade. Na sua intervenção, o secretário nacional António Galamba subli-nhou que também nas comunida-

des a maioria PSD/CDS teve um discurso antes das eleições e agora tem uma atitude de desconside-ração e desinvestimento, apenas estando preocupada com o volu-me das remessas dos emigran-tes. “Portugal não está a aprovei-tar o potencial que as comunida-des portuguesas espalhadas por todo o mundo representam para o país.”, afirmou António Galamba. No encontro, a maioria das inter-venções foram marcadas por for-tes críticas ao desinvestimento do Estado Português nos serviços consulares, no ensino e na promo-ção da cultura, a par de uma gran-de preocupação com as dificulda-des associadas ao envelhecimento da comunidade portuguesa resi-dente em França. Os participantes sublinharam a importância do envolvimento dos

portugueses residentes em França na vida cívica e política do país co-mo meio para afirmar as perspec-tivas e os interesses da comunida-de, em especial, tendo presente as eleições autárquicas de 2014. De salientar ainda a participação de alguns autarcas eleitos como Hermano Sanches ou Nathalie de Oliveira e a presença dos deputa-dos à Assembleia Nacional, Pascal Cherki e do luso-descendente, Car-los da Silva, que em muito contri-buíram para a importância política do evento.Do encontro resultou o compro-misso de reforçar as iniciativas junto das comunidades, a neces-sidade de aprofundar os mecanis-mos de representação e a valoriza-ção da intervenção dos socialistas portugueses junto do Partido So-cialista Francês.

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“Parto convicto de que a política autárquica já não se fará de promessas balofas. Far-se-á de pensamento estratégico, com envolvimento das empresas, das universidades e da sociedade, com espírito de serviço público e determinação e energia para servir com excelência os nossos munícipes, a nossa terra e o nosso país”

marcos.sa.1213@marcossa5

EDitORiaL o Novo PArAdiGMA AUtárQUiCo É UM deSAFio NACioNAL

Marcos Sá

No quadro de dificuldades que vivemos, a mudança de paradig-ma na governança autárquica é uma inevitabilidade.

as pessoas não esperam mais promessas ou equipamentos su-pérfluos construídos para deslumbrar no momento e demasiadas vezes sem cumprir requisitos mínimos de sustentabilidade, eficá-cia e eficiência.

aos jovens importa dar oportunidades, estimulando a sua criativi-dade, o empreendedorismo e apostando na formação qualificada, facilitando o acesso à habitação e a sua desejada emancipação e oportunidade de constituir família. a todas as famílias cumpre atribuir melhores condições na utilização dos serviços públicos, estabelecendo uma importante relação de confiança, transparên-cia e cumplicidade, ouvindo e correspondendo às suas pequenas ou grandes necessidades, seja no usufruto dos espaços públicos, na habitação, na educação, nos equipamentos de saúde, de lazer e desporto ou na mobilidade e gestão do seu tempo de vida, sem nunca esquecer a solidariedade para com aqueles que verdadei-ramente precisam. Com as empresas devem ser criadas bases fortes de parceria e colaboração, percebendo-se as vantagens re-cíprocas na construção conjunta da competitividade do território.

E esta exigente ação do dia a dia não pode, ainda assim, toldar as autarquias de um pensamento estratégico sobre o futuro que antecipe as soluções para novos desafios que aí estão, apesar de altamente constrangidas pela urgência na racionalização da uti-lização dos escassos recursos públicos, como o preocupante en-velhecimento da população, as novas carências sociais, os novos modelos de gestão energética e ambiental ou a maximização do uso das novas tecnologias ao serviço dos cidadãos.

Parto convicto de que a política autárquica já não se fará de pro-messas balofas. Far-se-á de pensamento estratégico, com envol-vimento das empresas, das universidades e da sociedade, com espírito de serviço público e determinação e energia para servir com excelência os nossos munícipes, a nossa terra e o nosso país.

Os candidatos do Ps às autárquicas de 2013 têm, por tudo isto, um papel de extrema relevância para o sucesso do projeto do Ps para Portugal. Pois tiveram a coragem de se candidatar, numa altura sem precedentes e incontornavelmente difícil, para se en-tregarem de alma e coração à causa pública, quando muitos op-taram simplesmente por se esconder no El Dorado que advém do passado.

deputados do PS avançam com fiscalização sucessiva do oe 2013alguns deputados do Partido socialista vão apresentar um pedido para fiscalização da constitucionalidade do Orçamento de Estado (OE) para 2013. O anúncio foi feito pelo secretário-geral do Ps, antónio José seguro, na entrevista que concedeu à antena 1 no passado dia 20 de dezembro.

Na ocasião, o líder socialista deixou claro que “o tempo do Presidente acabou” quando Ca-vaco Silva deixou expirar o pra-zo legal para pedir a fiscaliza-ção preventiva do OE, tendo agora “começado o tempo dos deputados”.Por isso, disse, “haverá depu-tados do Partido Socialista que vão tomar a iniciativa” junto do Tribunal Constitucional, admi-tindo que a medida tem o seu acordo.Depois, esclareceu que o pedi-do de fiscalização em questão ainda está a ser analisado, mas que este será fundamentado em três aspetos essenciais: “Es-calões do IRS, pensões e equi-dade dos trabalhadores públi-cos e privados”.Seguro acrescentou ainda um “quarto aspeto” que, conside-rou, deverá ser analisado: “A sobretaxa do IRS”.E explicou que se trata de “um segundo imposto” que não se-rá cobrado de forma progressi-va aos rendimentos, mas sim de forma proporcional.Admitindo que teria gosta-do se o Presidente da Repúbli-ca tivesse enviado o Orçamen-to de Estado para o Tribunal Constitucional, o secretário-

-geral do PS referiu que a for-ma como os deputados socia-listas o farão também está a ser estudada.“As hipóteses estão em aber-to”, frisou, referindo-se à pos-sibilidade de a iniciativa ser to-mada apenas por socialistas ou em conjunto com as outras for-ças políticas de oposição.Recorde-se que no dia 20 de dezembro, à meia-noite, ter-minou o prazo para o chefe de Estado enviar o Orçamen-to de Estado para o Tribunal Constitucional a fim de pe-dir a fiscalização preventiva do documento.Cavaco Silva optou por não pe-dir, para já, a intervenção do Tribunal Constitucional, mas poderá fazê-lo depois de o OE entrar em vigor, a 1 de janeiro próximo.O Presidente pode ainda ve-tar ou promulgar o documento, decisão que terá de tomar até ao final deste ano.Numa entrevista em que cri-ticou o Governo por esperar passivamente sem tomar me-didas reais para ajudar Portu-gal a sair da crise e condenan-do Pedro Passos Coelho pela pressão exercida sobre o Pre-sidente da República em ma-

téria de Orçamento de Esta-do, António José Seguro subli-nhou a importância de pensar numa “revisão da lei de enqua-dramento orçamental que per-mita garantir que todos os ór-gãos de soberania possam assumir as suas responsabili-dades sem condicionalismos de prazos”.Questionado sobre a recen-te reunião entre o PS e o Blo-co de Esquerda, Seguro enfati-zou que não procurou diálogo pelo diálogo, mas sim pela con-vergência política em torno dos valores que são essenciais e co-muns à esquerda.Quanto a preservação da ins-tabilidade política, Seguro es-clareceu que o PS não apresen-ta moções de cesura por pre-textos, mas se e somente se o interesse nacional estiver em causa.Lamentou ainda que o diálogo social seja atualmente “inexis-tente” e que o primeiro-minis-tro insista em manter uma pos-tura isolada, sem ouvir o PS em questões fundamentais para o país como é, por exemplo, o ca-so das privatizações.“O país perde com a postura de falta de diálogo do primeiro-mi-nistro”, rematou Seguro. M.R.

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Na sua intervenção, o dirigen-te socialista fez uma defesa ve-emente do Estado Social, aler-tando, uma vez mais, para a agenda direita que tem por ob-jetivo, à boleia da crise, “priva-tizar tudo o que for possível – saúde, educação e Segurança Social”.Álvaro Beleza sustentou que “é preciso termos um Estado sustentável e eficaz e se gerir-mos melhor a saúde e o ensi-no podemos baixar os custos e garantir a mesma qualidade de serviços”, apontando, en-tre outros exemplos, o que se passa no Hospital da Luz, per-tencente a um grupo económi-co privado, “que funciona em mais de 50% com financiamen-to do Estado através da ADSE”. Uma situação que, disse, é pre-ciso inverter. Por outro lado, o secretário na-cional elogiou a criação do Clu-be Responsabilidade e Demo-cracia, que integra militan-tes e simpatizantes socialistas, acrescentando que na nossa so-ciedade “tem de haver mais par-

ticipação cívica”.Segundo Álvaro Beleza, “somos ainda muito acríticos em rela-ção a tudo o que vem dos che-fes”, uma característica que tem a ver ainda com a herança da ditadura do Estado Novo. “Há ainda na nossa sociedade ati-

tudes salazarentas, ou seja, há pouca rebeldia e pouco confron-to”., disse.O dirigente socialista disse ain-da que “simplicidade e modéstia são fundamentais num partido de esquerda como o PS: temos de ter uma postura mais natural,

mais próxima, mais humana”.O PS, acrescentou, “tem de mostrar ao país que há espe-rança e uma luz ao fundo do tú-nel”, num “país a empobrecer e a viver uma realidade dramática que a todos nos envergonha: há muita gente com fome. E não há homens livres com fome”.Mário Parra da Silva, presiden-te do Conselho Geral do Clube Responsabilidade e Democracia e da Associação Portuguesa de Ética Empresarial, abriu o de-bate com uma intervenção on-de defendeu que “é preciso fa-zer a globalização das pessoas”.E sustentou ainda que “o PS, co-mo partido de esquerda, tem de saber elaborar um modelo próprio de criação de riqueza que o diferencie claramente da direita”.Já João Ataíde, presidente da Câmara Municipal da Figuei-ra da Foz, outro dos oradores deste debate amplamente par-ticipado, disse que a direita es-tá a levar a cabo “uma catadupa de reformas sem participação e discussão que vai levar a uma

catadupa de inconstituciona-lidades”. E defendeu que, mais do que nunca, “é preciso discu-tir política na sua essência”.

ACoMPANHe-NoS No FACebooK sEDEnaCiOnaLPaRtiDOsOCiaListaACoMPANHe-NoS No FACebooK sEDEnaCiOnaLPaRtiDOsOCiaLista

secção

CLUBE RESPONSABILIDADE E DEMOCRACIA

É preciso pôr o cidadão no centro das políticas “O Estado tem de pôr o cidadão no centro das políticas”, afirmou no dia 5 o secretário nacional Álvaro Beleza, no primeiro debate promovido pelo recém-criado Clube Responsabilidade e Democracia, realizado na FaUL, onde reiterou que a receita ultraliberal da direita “vai levar o país ao abismo”. J. C. CASteLo brANCo

O Clube

responsabilidade

e democracia

assume-se como

protagonista de

soluções novas

e criativas, de

interesse nacional,

à luz do ideário

socialista

“nãO hÁ hOMEns LivREs COM FOME”Álvaro Beleza

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secção

Carris deve permanecer na esfera públicaO Governo tem de explicar como quer entregar a privados em 2013 a exploração da Carris, quando a Câmara Municipal de Lisboa tem a concessão da empresa até 2024.

A questão foi levantada por An-tónio Pereira, coordenador da Secção do PS/Carris, duran-te o jantar de Natal que reuniu mais de três centenas de mili-tantes trabalhadores da empre-sa, iniciativa que contou com a presença do secretário nacio-nal Eurico Dias, em represen-tação do secretário-geral, e ain-da de Marcos Perestrello, líder da FAUL, e Rui Paulo Figueire-do, deputado e líder da Conce-lhia do PS/ Lisboa.Perante uma sala a transbor-dar, Eurico Dias começou por afirmar que o PS é “uma gran-de força social”, razão pela qual, como salientou, terá de redo-brar a atenção às movimenta-ções do Governo, classificando mesmo o ano de 2013 tão im-portante e definitivo para Por-tugal como o foram os anos de 1975 ou 1986.Para Eurico Dias, os militantes e simpatizantes socialistas en-contram-se perante um cenário de escolha do modelo de socie-dade onde querem permanecer: se numa sociedade solidária, com saúde, ensino e seguran-ça social públicos, ou se prefe-

rem seguir as políticas defendi-das pelo Governo que apontam para o desmantelamento do Es-tado Social instaurado com o 25 de abril de 1974.Reconhecendo que a situação do país é difícil, sobretudo “gra-ças à ação do Governo”, Eurico Dias foi perentório, afirman-do não ter dúvida caber ao PS o principal papel para inver-ter o essencial das políticas do Executivo.Acusou depois o primeiro-mi-nistro de ser o principal e único

responsável pela enorme per-turbação social que reina no pa-ís, alertando de que não há pas-sado “que justifique nenhum aumento brutal de impostos ou cortes nas prestações sociais”.

Uma grande força política O líder da FAUL, Marcos Peres-trello, depois de louvar o “ex-celente trabalho do núcleo so-cialista na empresa”, atribuiu a enorme participação no jantar como uma demonstração clara da “força política que o PS tem

na Carris”. Tal sucede, como salien-tou, fruto da organização e da militância dos seus tra-balhadores, apesar do “cli-ma difícil” para o sindicalis-mo que se vive na empresa. Responsabilizou o Gover-no “pelos fortes ataques” aos direitos dos trabalhado-res, fórmula que encontrou, como defendeu, para as-sim “poder vender melhor a empresa”.Perestrello defendeu a ma-nutenção da Carris na es-fera pública, salientando que o ataque do Executi-

vo aos transportes públicos co-meçou com a “violência” do au-mento das tarifas e pelos cortes nos rendimentos dos trabalha-dores e pela aposta na redução da qualidade do serviço presta-do à população.Para o líder da FAUL, por cada passageiro retirado à Carris “é mais um automóvel que entra em Lisboa”, com todas as con-sequências que esta opção acar-reta, designadamente ao ní-vel do aumento do consumo de combustíveis.

o Governo está a destruir o paísPara o líder do PS/Lisboa, Rui Paulo Figueiredo “quanto mais depressa o Governo se for em-bora melhor”, acusando o Exe-cutivo do PSD/CDS de estar a “dar cabo dos direitos dos tra-balhadores” e de querer nos “próximos seis meses privati-zar tudo o que puder”.Deu os exemplos dos processos da TAP e da ANA, salientan-do tratar-se de negócios “sem qualquer rigor” que põem em causa os interesses estratégi-cos nacionais e que mais não são do que meios para “disfar-çar todos os disparates” que o Governo anda a fazer há ano e meio com os dinheiros públicos.Rui Paulo Figueiredo garantiu ainda não ter dúvidas de que a coligação de direita do PSD/CDS “anda a fazer negócios particulares com os interesses estratégicos de todos nós”, re-comendando aos militantes e simpatizantes socialistas uma redobrada vigilância com a “opacidade” dos negócios des-te Governo. R.S.A.

6 SiGA-NoS No tWitter @PsOCiaListaSiGA-NoS No tWitter @PsOCiaLista

“A rtP é um triste folhetim sem fim à vista”na azáfama de privatizar os ativos públicos, o Executivo de Passos Coelho e Paulo Portas mete os pés pelas mãos em relação à RtP. Para inês Medeiros, mais do que o triste caso com nuno santos, a maior ameaça passa pela assumida intenção do Governo de alienar, em parte ou na totalidade, o serviço público de televisão. rUi SoLANo de ALMeidA

O caso Nuno Santos ver-sus RTP configura, pelos da-dos conhecidos, sim ou não, mais um atentado à liberda-de de imprensa por parte des-te Governo?Eu não identificaria o caso da eventual cedência de imagens da RTP à PSP como sendo “o ca-so Nuno Santos”. A cedência de imagens, a presença da PSP nas instalações, o inquérito sumário e indiscutivelmente parcial que determina como único respon-sável pelo sucedido Nuno San-tos, sem no entanto provocar um processo disciplinar, que, por sua vez, só vem a ser instaurado após as declarações do ex-diretor de informação no Parlamento, e por fim a ordem de serviço que foi re-velada por ele durante essa audi-ência, tudo isto pode representar muito sérias ameaças à liberda-de de imprensa e liberdade de ex-pressão. Mas o mais importante é nunca esquecer que a maior de todas essas ameaças é a assumi-da intenção do Governo de alie-

nar em parte ou na totalidade o serviço público.

Pensa que a posição assumi-da por Miguel Relvas é con-vincente quando afirma tra-tar-se de uma questão inter-na da empresa?Estão em causa eventuais viola-ções de direitos constitucionais. A obrigação de um qualquer Go-verno é ser o garante dos valores constitucionais. Não faz por is-so o menor sentido dizer que se trata de uma questão interna da RTP. Ninguém pede que a tutela intervenha nem na gestão nem nas decisões editoriais, muito pe-lo contrário. Mas um ministro não pode fingir que não enten-de a gravidade do que está aqui em causa. Só que já todos perce-bemos que o Governo é avesso à Constituição e aos seus valores.

Não sendo este um caso iso-lado de atentado à liberdade de imprensa, aqueles que se opõem a Miguel Relvas aca-

bam por se tramar?A ação do ministro Miguel Rel-vas na Comunicação Social des-de que assumiu a pasta, de facto, não tem sido brilhante. Em rela-ção à sua grande bandeira que era a famosa alienação de um canal da RTP, ao que assistimos é es-te atabalhoado e triste folhetim sem fim à vista. Esperemos que não tenha um fim trágico para todos nós. Pois uma televisão pú-blica é uma televisão que perten-ce a todos os portugueses. Mas tem havido uma constante. To-dos os que se opuseram frontal-mente às intenções declaradas do ministro, o criticaram ou o puse-ram em situações mais delicadas, ficaram sem emprego. Foi o caso de Pedro Rosa Mendes, foi o caso da jornalista do Público (por ter tido a “ousadia” de formular per-guntas que lhe desagradaram, é bom não esquecer) e é agora o ca-so de Nuno Santos.

Nuno Santos pediu à presi-dente da AR para se prenun-

ciar sobre a proteção de que devem gozar os cidadãos quando depõem nas comis-sões parlamentares. Parece--lhe necessário este esclareci-mento por parte de Assunção Esteves?Este caso levanta várias questões. Se é verdade que só os deputados têm imunidade em relação a de-clarações proferidas durante o seu mandato, também é verdade que Nuno Santos não foi ouvido numa comissão de inquérito, que tem regras próprias. Dito isto, o que se espera é que todos os que são ouvidos em audição parlamentar digam a verdade e que se expres-sem em liberdade. Tanto quanto se sabe, Nuno Santos é acusado de falta de lealdade por ter revela-do uma ordem interna da empre-sa. Ordem essa que é em si mesma muito duvidosa. Ou seja, Nuno Santos, tanto mais por ser diretor de informação na empresa públi-ca RTP, não tinha também a obri-gação de denunciar esta ordem de serviço que legitima uma interfe-

rência inaceitável da administra-ção nas decisões editoriais da di-reção de informação? Tanto a Lei de Imprensa como a Lei da Tele-visão estabelecem a total autono-mia editorial das direções de in-formação, sejam elas públicas ou privadas.

Criticou o voto contra da maioria ao projeto de lei apresentado pelo PS sobre transparência de titularida-de dos órgãos de Comunica-ção Social. O argumento invo-cado pelo PSD e CDS parece--lhe ajustado?Os argumentos dos partidos da direita têm variado. É bom lem-brar que têm sistematicamen-te votado contra todas as pro-postas do PS de criar regras para uma maior transparência da pro-priedade dos órgãos de Comuni-cação Social. Os seus argumentos não foram nem sólidos nem con-vincentes. Só se pode combater a concentração se houver transpa-rência.

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Natal solidário nas autarquias socialistasDe norte a sul do país multiplicam-se as iniciativas de autarcas do Ps que, fazendo desta época natalícia um marco especial para o reforço dos princípios da solidariedade e fraternidade, não esquecem que as políticas públicas de coesão social se fazem todos os dias, evidenciando, porém, que as épocas de crise exigem um extra para quem é mais vulnerável.

Assim, para fazer sorrir as crianças arou-quenses, a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de Arouca (CPCJA), com o apoio da autarquia local, promo-veu um ciclo de oficinas de Natal, ao mes-mo tempo que convidou todos os arou-quenses a participarem numa campanha de angariação de brinquedos, para ofertar aos que mais precisam.A exemplo de anos anteriores e entre ou-tras iniciativas já levadas a efeito este ano de 2012, a Câmara Municipal de Lisboa, com o apoio da indústria conserveira na-cional, doou a instituições de solidarieda-de social 139 mil latas de conservas.Esta ação destinou-se a angariar alimen-tos para a Fundação do Gil, Banco Ali-mentar Contra a Fome e Casa dos Rapa-zes do Barreiro, tendo o presidente da autarquia, António Costa, salientado a importância deste tipo de iniciativas nu-ma altura, como referiu, “tão difícil para muitas famílias”.No âmbito da presente quadra festiva, a Câmara Municipal de Vila do Bispo ofere-ceu, como prenda de Natal, um livro a to-dos os alunos do pré-escolar e do 1º ciclo do Município.Assim, os 316 alunos receberam um

exemplar do livro “A Estrelinha Pálida” da autoria do escritor Pedro Seromenho, vi-sando desta forma proporcionar a todas as crianças da comunidade estudantil a oportunidade de ter um livro neste Natal, bem como estimular o gosto e criar hábi-tos de leitura nos mais pequenos.À semelhança dos anos anteriores, a Câ-mara Municipal de Odemira, por sua vez, declara-se mais solidária através dos alia-dos do Natal.Um total de 310 cabazes alimentares e cerca de mil brinquedos foram ofereci-dos a famílias carenciadas e a crianças do concelho com o objetivo de lhes propor-cionar um Natal mais feliz, com a ajuda dos “Aliados do Natal”, uma campanha de solidariedade promovida pela TAIPA – Organização Cooperativa para o De-senvolvimento Integrado do concelho de Odemira.Também em Évora uma entrega de ca-bazes de Natal a munícipes mais fragili-zados do concelho teve lugar na sede da Câmara.Tratou-se de uma iniciativa nacional di-namizada pela Fundação Delta e que te-ve a colaboração da autarquia alentejana.A equipa da Delta, prosseguindo a sua

senda na aplicação efetiva do que é a res-ponsabilidade social desta empresa e de quem a dirige, o comendador Rui Nabei-ro, entregou os cabazes de Natal a um total de 40 beneficiários, a maioria dos quais idosos.Em Condeixa, o cineteatro registou mais uma enchente. Desta vez o repto foi lan-çado pela Câmara Municipal e pela Rede Social do Concelho.Do programa do “sarau solidário” fizeram parte, maioritariamente, grupos conce-lhios, que levaram a cabo atuações de mú-sica, teatro e até magia.Para assistir aos espetáculos bastava levar um produto alimentar ou outro e colocá--lo na grande árvore de natal que estava montada no átrio do cineteatroTratou-se, pois, de uma forma diferente de ajudar os outros e que a autarquia se congratula por ter resultado num grande movimento de solidariedade.No total, a organização estima ter conse-guido angariar três toneladas de alimen-tos e outros bens, que foram distribuídos pela loja social do município.Às famílias carenciadas do concelho de Alenquer foram distribuídos perto de 500 bens alimentares, durante um jantar de

beneficência que ocorreu em Atalaia.E para alegrar a consoada das famílias da Trofa, a câmara municipal entregou 500 cabazes a outras tantas famílias, de todas as oito freguesias do município, cujos elementos se encontram em situa-ção precária, sem emprego e sem outras fontes de rendimento, pelo que este pro-jeto da autarquia trofense é, para a maio-ria destes agregados familiares, o úni-co recurso para que este Natal possa ser mais aprazível.Nos Açores, a campanha "Felicidade rima com solidariedade", promovida pela câ-mara municipal com o apoio do Agrupa-mento de Escuteiros 770 das Lajes do Pi-co e da ART, propôs-se angariar alimentos para um cabaz solidário a ofertar às famí-lias mais carenciadas do concelho.Por sua vez, a autarquia de Santa Cru-za da Graciosa decidiu aproveitar a qua-dra natalícia para fazer um presente ao ambiente.O município avançou com uma campa-nha de sensibilização para a reciclagem de papel e cartão que nesta época sofre um grande acréscimo de produção pa-ra o embrulho e embalagem das prendi-nhas… M.R.

Cm CoNdeixa

Cm trofa

Cm LisBoa

Cm évora

Cm évora

Cm CoNdeixa

Cm viLa do Bispo

8 ACoMPANHe-NoS No FACebooK sEDEnaCiOnaLPaRtiDOsOCiaListaACoMPANHe-NoS No FACebooK sEDEnaCiOnaLPaRtiDOsOCiaLista

brUto dA CoStA CoNseLHo CoordeNador do Lipp

“É uma política inculta aquela que não respeita a dignidade do trabalho, como estamos a assistir”

Não considera uma falácia a ideia muitas vezes repetida à exaustão que é preciso pri-meiro criar riqueza e só de-pois distribuir? Eu sou absolutamente contrário e, aliás, posso dizer que quando exerci durante vinte e tal anos a função de técnico de planeamen-to tentei contrariar essa teoria e tive apoios em documentos de muito valor, quer de organiza-ções internacionais quer de pres-tigiados autores. O problema que

se põe é o seguinte: a atividade económica na repartição primá-ria do rendimento cria uma cer-ta desigualdade excessiva e en-tão há as chamadas políticas so-ciais para atenuar esse grau de desigualdade. Ora o que eu veri-fico é que as políticas sociais ate-nuam, mas nunca reduzem subs-tancialmente a desigualdade ini-cial que não é só de rendimento é de rendimento, de riqueza e de poder. E, portanto, se nós não ti-vermos logo no princípio da polí-

tica económica a preocupação de criar um crescimento com a pre-ocupação da equidade nós nun-ca conseguimos combater a de-sigualdade para além de limites muito estreitos.Ou seja, a política económi-ca é fundamental no combate à pobreza. Então o Estado Social é fun-damental para atenuar as desigualdades, mas o padrão que está na origem dessas

desigualdades mantém-se se não houver políticas que me-xam na repartição primária do rendimento. É isso?O Estado Social contribui para uma atenuação considerável das desigualdades mas mesmo as-sim as desigualdades mantêm--se. E, sobretudo, o padrão da desigualdade da sociedade não se altera substancialmente.

Que comentário lhe merece o facto de no OE para 2013,

mais uma vez, as pessoas muito ricas não serem atin-gidas ou minimamente be-liscadas pelas medidas de austeridade na mesma pro-porção como os cidadãos de rendimento médio e médio baixo?Uma das defesas, não quero di-zer que seja intencional, dos grupos que têm muita riqueza e rendimento é que as estatís-ticas nunca são capazes de di-zer qual o valor dessa riqueza.

as questões estruturais que estão na origem da pobreza e da desigualdade dominaram a entrevista com alfredo Bruto da Costa, do conselho coordenador do LiPP, onde se insurge contra aquilo que classifica de “política inculta”, uma espécie de pragmatismo sem alma e sem valores. J. C. CASteLo brANCo

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brUto dA CoStA CoNseLHo CoordeNador do Lipp

“É uma política inculta aquela que não respeita a dignidade do trabalho, como estamos a assistir”

Por isso, a gente nunca sabe se esses grupos foram ou não ade-quadamente atingidos. Eu admi-to, e não posso fazer mais do que apenas admitir, que com as me-didas que estão neste OE alguns deles poderão ter sido afetados. Agora o que digo é que os cá de baixo são atingidos em dois sen-tidos: em primeiro lugar, per-dem rendimento, e, em segundo lugar, alguns deles perdem ren-dimento para baixo do limiar da pobreza. E isto é absolutamente intolerável.

Porque é que acha que as grandes fortunas conti-nuam incólumes aos sacri-fícios brutais que são im-

postos à generalidade dos portugueses? Em primeiro lugar, há um pro-blema cultural de se pensar que eles são donos daquilo, como uma família de rendimentos mé-dios é dona desses rendimentos. E não se põe a hipótese de que haja uma responsabilidade so-cial muito maior por parte dos mais ricos relativamente à di-mensão social da sua própria ri-queza. E isso constitui um blo-queio cultural. E, por outro la-do, há um segundo bloqueio, que é o poder político dos pode-res económicos. E o próprio po-der económico hoje está a ser mais dominado por instituições financeiras.

Acha que há uma certa reve-rência do poder, seja ele qual for, em relação aos ricos?Há reverência e, por outro lado, é um problema objetivo de o po-der económico ser hoje mais po-deroso que o poder político.

Acha que, na opinião públi-ca portuguesa, há uma efeti-va vontade para aceitar polí-ticas de verdadeiro combate à pobreza e exclusão?O povo português está muito aberto a isso desde que não vá bulir com umas tantas convic-ções que estão ligadas ao com-bate às verdadeiras causas da po-breza. Ou seja, nós vemos que até

economistas muitas vezes falam do combate à pobreza, limitando esse combate às chamadas políti-cas sociais. Ora, sem política eco-nómica adequada não podemos combater a pobreza para além de limites muito restritos.

E quais as áreas em que seria preciso atuar para esse com-bate à pobreza?Eu diria que são quatro. O pri-meiro é o sistema educativo que tem de ser a chave de todo o combate à pobreza, com espe-cial atenção às crianças das famí-lias pobres. O segundo ponto é o mercado de trabalho, que tem de ter empregos suficientemente remunerados. Ora nós sabemos que não é assim, já que entre 20 a 30% dos pobres em Portugal antes da crise eram pessoas em-pregadas. A terceira área é a Se-gurança Social, porque um terço dos pobres em Portugal são re-formados, que usufruem refor-mas magras, abaixo do limiar da pobreza. A quarta área tem a ver com o padrão da desigualda-de que apanha as estruturas da sociedade e esse padrão para ser alterado temos de mexer nas es-truturas da sociedade.

Com a atual crise há mais fa-tores geradores da pobreza e

exclusão?Depois da crise há mais dois no-vos fatores geradores de pobre-za: um é o peso do desemprego, que atinge níveis insuportáveis, e o outro é o das famílias endivi-dadas que não conseguem cum-prir as suas obrigações.

Como encara o facto de o Go-verno português estar a pre-parar a chamada refundação do Estado com os técnicos do FMI?Eu acho que o problema está mal posto, porque se entendo bem aquilo que o Governo quer não é a refundação do Estado So-cial, é pura e simplesmente pou-

par quatro mil milhões de euros. E quando o secretário-geral do PS se recusa a entrar num diálo-go sobre esta questão eu concor-do, porque o que o primeiro-mi-nistro quer fazer não é reformar o Estado Social, mas sim obter quatro mil milhões de euros.

Qual a importância da sua participação no LIPP, que tem como objetivo a constru-ção de propostas para o país?O LIPP assume uma grande im-portância. Eu já há uns anos que vinha estando muito preocupa-do ao verificar que a política em Portugal estava a tornar-se uma política inculta que não pensava nos grandes temas da política e da sociedade e estava domina-da por um pragmatismo muito fechado. De forma que quando

o António José Seguro me con-vidou para fazer parte do LI-PP aderi com grande entusias-mo, porque ia ao encontro de uma preocupação que eu tinha há muito tempo. Acresce que eu sou um amigo do PS, com o qual colaboro desde o tempo do An-tónio Guterres.

Portanto, vê o LIPP como um instrumento fundamen-tal para a construção de uma alternativa.Sim. Este movimento tem de ter um timing que sirva para a re-dação e elaboração da proposta eleitoral que o PS apresentar nas próximas eleições legislativas.

Falou há pouco de “po-lítica inculta”. Quer dar exemplos? Por exemplo, o Governo querer reformar o Estado Social para obter uma poupança de qua-tro mil milhões de euros. Isto quer dizer que não se vai pegar em nada do que é o Estado So-cial enquanto um valor civili-zacional da Europa que faz in-veja a muitos outros países. A isto eu chamo uma política in-culta. Mas também uma políti-ca que apenas se preocupe com o betão armado é uma política inculta, porque nem sabe para que fins servem algumas infra-estruturas construídas. É ain-da uma política inculta aque-la que não respeita a dignida-de do trabalho, como estamos a assistir.

“nós vEMOs qUE até ECOnOMistas MUitas vEZEs FaLaM DO COMBatE à POBREZa, LiMitanDO EssE COMBatE às ChaMaDas POLítiCas sOCiais. ORa, sEM POLítiCa ECOnóMiCa aDEqUaDa nãO PODEMOs COMBatER a POBREZa PaRa aLéM DE LiMitEs MUitO REstRitOs”

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10 SiGA-NoS No tWitter @PsOCiaListaSiGA-NoS No tWitter @PsOCiaLista

PALMIRA MACIEL PRESIDENTE DO DEPARTAMENTO DAS MULHERES SOCIALISTAS DE BRAGA

“A mulher é a primeira a sofrer os impactos da crise”

Porque é que faz senti-do a existência de um De-partamento das Mulheres Socialistas? Faz sempre sentido enquanto existirem desigualdades e, nes-ta altura, ainda mais. A crise po-de levar ao aumento da desigual-dade entre homens e mulheres e o departamento tem que es-tar sempre atento. Além disso, o trabalho feito reconhece a neces-sidade da sua existência.

Qual a iniciativa mais em-blemática que o departa-mento que lidera tem agen-dada para o próximo ano?O plano de atividade do depar-tamento constrói-se todos os dias conforme a situação. No entanto, temos planeado a atri-buição de distinções honorífi-cas, tendo em vista homena-gear publicamente militantes que se notabilizem pelos seus feitos, méritos, contributos ou actos.

De que modo a política do Governo da direita e a crise estão a contribuir para ha-ver um retrocesso na eman-cipação da mulher?O principal papel do Departa-mento deve ser esse não permi-tir o retrocesso no caminho pa-ra a igualdade e, na realidade, com os tempos de dificuldade como os de hoje, sabemos que a mulher é a primeira a sofrer os impactos dos problemas fa-miliares e sociais, desemprego, falta de apoio nas escolas e lares

de terceira idade, a mulher tem que passar a cuidar dos idosos e crianças, não podemos esque-cer que também as famílias mo-noparentais em que a mulher enfrenta grandes dificuldades e discriminação, em especial no acesso ao emprego.

Como classificaria a política do atual Governo em relação à promoção da igualdade de género?Sabemos que a direita se cara-teriza por uma visão conser-vadora da sociedade e que es-te Governo não dá seguimento às medidas alcançadas duran-te os governos socialistas, lo-go a classificação é negativa, sem inovação nem aumento de medidas e linhas de apoio para programas específicos.

Quais as políticas que, na sua opinião, poderiam contri-buir para promover a natali-dade e a conciliação da vida familiar com a profissional?Facilitar o acesso ao emprego, promover melhorias no código de trabalho no domínio da pa-rentalidade, continuação das medidas implementadas no Go-verno anterior na área da edu-cação, como o programa da ge-neralização das refeições e a Es-cola a Tempo inteiro que tanto ajudou as famílias na educação das crianças, permitindo a to-das as famílias terem onde dei-xar os filhos/as nos períodos lectivos. Promoção de incenti-vos à natalidade aumentando o

subsídio de maternidade e au-mentar o numero de respostas em creches para que todos pos-sam ter acesso sem igualdade de oportunidades.

As mulheres são já em maior número que os homens no ensino superior. No entan-to, continuam a ser pou-cas as mulheres que ocupam cargos de topo nas empre-

sas, designadamente as do PSI-20. Como se pode inver-ter esta situação?Estou convicta que este ainda é o reflexo da falta de estudos das mulheres e da desigualdade que havia entre mulheres e homens antes do 25 de abril. Hoje, com o empenho de todos, vamos a caminhar para que as mulhe-res tenham também lugares de topo nas hierarquias. A mulher tem também que se empenhar e ter vontade própria. Demons-trar interesse em ascender aos cargos e não mostrar desânimo porque apenas está a exigir um direito que lhe assiste. Reconheço que para isso tem que se empenhar em mudar as mentalidades das pessoas que lhe são familiares, nomeada-mente marido, pai e irmão, ou seja, os homens que influen-ciam a vida de uma mulher.

Que perceção tem, enquan-to vereadora da Câmara de Braga com o pelouro da Ação Social, da situação económi-ca e social no distrito, no-meadamente em relação às mulheres? É evidente que com a situação económica e social a agravar--se a mulher é cada vez mais prejudicada e tem a vida mais complicada. É arrepiante ver

mães que não conseguem dar aos filhos aquilo a que eles têm direito.

Que balanço faz da liderança de António José Seguro, de-signadamente no que concer-ne à participação das mulhe-res socialistas na vida e to-mada de decisões no partido? A liderança de António José Se-guro tem sido intransigente na defesa das políticas e legisla-ção implementada pelos ante-riores governos do Partido So-cialista. Além disso, é meritória a continuação do trabalho (ago-ra na oposição ao governo) pa-ra não haver retrocesso nessas políticas.

Qual é a personalidade ou personalidades nacionais que, na sua opinião, mere-cem um lugar de relevo na

história na luta pela eman-cipação da mulher?A palavra emancipação faz-me recuar muito no tempo e lem-brar nomes de personalidades que deram grandes impulsos para a igualdade de género, mas vou optar por falar das conquis-tas de abril em que, nesta fase, a mulher conseguiu alterações le-gislativas de grande importân-cia e o papel da mulher na socie-dade foi melhorando, mediante a concretização dos princípios e direitos consagrados na Cons-tituição da República. Mas não chega fazer ou aprovar as leis. É necessária a prática do quo-tidiano e romper com o passa-do e aqui há a salientar o papel de alguns autarcas, nomeada-mente Braga, porque se trata do meu caso. As listas à Câmara, Assem-bleias Municipais, às Fregue-sias, Administrações de Em-presas Municipais e outros car-gos fomentaram desde sempre a participação das mulheres nos executivos e em cargos de decisão. A participação feminina nas lis-tas aos órgãos nunca foi vista como exigência legal ou respon-dendo à Lei da Paridade, mas sim valorizar de igual modo as diferenças entre homens e mu-lheres e assim construir uma parceria com responsabilidades iguais e partilhadas em prol da resolução dos problemas, inde-pendente do género.Só assim se constrói uma socie-dade promotora de igualdade.

“é aRREPiantE vER MãEs qUE nãO COnsEGUEM DaR aOs FiLhOs aqUiLO a qUE têM DiREitO”

é preciso não permitir que haja um retrocesso no caminho para a igualdade de género, defende a camarada Palmira Maciel, presidente do Departamento Federativo das Mulheres socialistas de Braga, onde refere ser a Mulher a primeira a sofrer os impactos resultantes da crise”. J. C. CASteLo brANCo

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MOTA ANDRADE VICE-PRESIDENTE DO GP/PS

“extinção de freguesias vai causar graves danos às populações”a lei aprovada pela maioria de direita, feita a régua e esquadro e sem ouvir as populações, que prevê a extinção e fusão de mais de mil juntas de freguesias “não resolve problema nenhum e cria vários”, afirma o vice-presidente do GP/Ps, Mota andrade, apontando, entre outras malfeitorias, o aumento da desertificação do interior, das assimetrias e desigualdades sociais. E tudo isto, pasme-se, sem gerar qualquer tipo de poupança. J. C. CASteLo brANCo

Como classifica a lei de ex-tinção de freguesias aprova-da pela maioria de direita?É uma lei que não respeita a vontade das populações e a au-tonomia do poder local, que de-vem prevalecer na forma como se organiza administrativamen-te o país.

Quais as consequências, no-meadamente no interior do país, desta lei que prevê a extinção e fusão de mais de mil juntas de freguesia?Haverá grandes danos, nomea-damente no interior do país on-de a junta de freguesia já é mui-tas vezes a última presença do Estado. Iremos deixar popula-ções envelhecidas entregues à sua sorte.

Esta é a machadada final pa-ra a deserttificação do inte-rior e das zonas rurais?Sim, pois nas zonas rurais com praticamente todos os serviços

públicos extintos, as juntas de freguesia são enormes agentes de coesão social de desenvolvi-mento e eficiência.

Porque é que esta lei tem ge-rado um vasto consenso de repúdio, desde os partidos da oposição às populações locais, passando pelas ins-tituições de solidariedade e misericórdias e Anafre?Porque esta Lei foi feita sem ouvir ninguém. Não ouviram as populações, os autarcas ou suas organizações representa-tivas. Os critérios utilizados foram o da régua e esquadro e critérios numéricos. Não tive-ram em conta a diferença en-tre freguesias urbanas e fre-guesias rurais, entre freguesias com grande densidade popu-lacional e freguesias de baixa densidade populacional, entre freguesias situadas em planí-cie ou em montanha, entre fre-guesias de litoral ou interior.

Em suma, trataram por igual o que é desigual.

Afinal, segundo um estudo da Anafre esta medida geraria uma poupança de 6,5 milhões de euros. Esta aparente pou-

pança, que não tem em conta os prejuízos colaterais, justi-fica todos os danos e contes-tação que está a gerar?Não, deixe que lhe diga que o próprio Governo assumiu que não há poupança. Tenho mui-tas dúvidas que não exista um pequeno aumento de despesa,

pois o Governo assumiu um au-mento das verbas transferidas para as freguesias que se agre-garam de 15% e porque com a agregação irão existir mais fre-guesias com mais de 10 mil elei-tores, ficando pois com o presi-

dente da freguesia a tempo in-teiro, com todos os custos que tal acarreta.

Esta lei não é mais um exem-plo paradigmático de um Go-verno que vê as pessoas co-mo meros números e desco-nhece o país real?

Não tenho sobre isso qualquer dúvida. Não se tiveram em cau-sa os interesses das populações e penso que existe muita vaida-de em quem decide que talvez tenha pensado que poderia fi-car na História de Portugal. Em muitas zonas do país ficará pa-ra a história como o que não se deve fazer.

Esta lei resolve algum pro-blema ou, pelo contrário, vai agravar as vidas das popula-ções e aumentar as assime-trias e coesão social?Não resolve problema nenhum e cria vários. Não irá existir qualquer poupança, abando-na-se as populações e o terri-tório, aumentando-se assim as assimetrias e as desigualdades sociais. Não cumpre tão-pou-co, como penso que fica prova-do, o memorando da troika que exigia “reforço da prestação do serviço público, aumento de efi-ciência e redução de custos”.

“iREMOs DEixaR POPULaçõEs EnvELhECiDas EntREGUEs à sUa sORtE”

“nãO tivERaM EM COnta a DiFEREnça EntRE FREGUEsias URBanas E FREGUEsias RURais”

12 autárquicas 2013

O turismo é um dos sectores em que se notam um maior desfasamento entre o discurso e a prática deste Governo, afirma a candidata do Ps à Câmara Municipal de Portimão. Para isilda Gomes, o facto de o algarve ter sido considerada uma região rica, com os consequentes cortes no investimento público, acabou por transformar a região num imenso “mar” de problemas.

Tudo indica que o PS re-novará nas próximas au-tárquicas a liderança da Câmara de Portimão. Co-mo presidente o que tra-rá de novo para a gestão do município?Os tempos difíceis que vive-mos obrigam-nos a executar políticas de rigor e contenção. A minha prioridade será, num momento como este, centrar a ação da Câmara nos cidadãos e nas suas dificuldades, pro-curando as respostas adequa-das para minorar as situações mais dramáticas. Não deixarei de procurar formas de desen-volver a economia local e de cativar o investimento priva-do. Vou privilegiar uma políti-ca de proximidade permanen-te com a sociedade civil. Pensa que estará ao alcance do PS conquistar em Porti-mão a maioria absoluta não só na Câmara Municipal, mas igualmente na Assem-bleia Municipal e em todas as juntas de freguesia e as-sembleias de freguesia do concelho?A história do PS em Portimão nos últimos 36 anos confun-de-se com a história da cidade. Os nossos concidadãos conti-nuarão certamente a identifi-car-se com os nossos valores e, estou certa, manterão a con-

fiança no PS. Num momento de tão grandes desafios, é im-portante que haja condições para trabalharmos com humil-dade em prol da nossa terra com ou sem maioria.

Esteve à frente do Gover-no Civil de Faro e já foi eleita deputada para a AR. Que benefícios terá Porti-mão com a sua experiência política?Todos os cargos que ocupei, in-cluindo de vereadora desta Câ-mara, constituem uma mais--valia, não só pela experiência adquirida, mas também pelo profundo conhecimento dos problemas locais e regionais. Todos estes cargos deram-me um profundo conhecimento do modo de funcionamento das instituições e da forma como são tomadas as decisões.

A competitividade territo-rial tem mobilizado o PS não só de Portimão mas de todo o Algarve. O que tem a dizer sobre este assunto?O Algarve é por natureza uma região com enormes potencia-lidades, mas não tem sido ca-paz de implementar políticas de desenvolvimento regional que lhe permita ser competiti-vo. Isso reflete-se também em Portimão.Faltam vozes que façam eco

dos nossos problemas e exijam apoios e soluções ao poder cen-tral. O facto de o Algarve ter si-do considerado, para a atribui-ção de fundos estruturais, uma região rica, implicou cortes no investimento público, que aca-bou por transformar, de forma decisiva a região num imenso “mar” de problemas.

Falar em Portimão é refe-rir a importância do turis-mo. Com os cortes nas fi-nanças das autarquias que espaço existe para o desen-volvimento do sector?Considero que o turismo é um dos sectores em que se notam um maior desfasamento en-tre o discurso e a prática des-te Governo.O desinvestimento é um de-sastre e sendo esta a nossa ati-vidade- âncora, temo que me-didas como o aumento do IVA neste sector, a diminuição do

poder de compra dos cidadãos e outras representem a falên-cia de milhares de empresas que vivem hoje uma verdadei-ra luta pela sua sobrevivência.

Como reage à pretensão do Governo em extinguir mais de um milhar de freguesias no país?Esta decisão é mais uma medi-da demagógica, que represen-ta um retrocesso na proximi-dade entre o poder político e os cidadãos. É um desrespeito pelas populações que mais so-frem com o isolamento.Portimão vai manter as suas três freguesias, mas não dei-xo de me interrogar se quem toma tais decisões conhece de facto o país em que vive e os seus reais problemas. Portugal é muito mais que Lisboa e Por-to…e os problemas do país não se resolvem com meras medi-das de cosmética.

PerFiLProfessora de Matemáti-ca. Coordenadora Distrital do Projeto vida; delega-da regional do Programa vida-Emprego; vereadora e vice-presidente da Câma-ra Municipal de Portimão; delegada regional do iEFP; governadora civil do algar-ve; deputada; presidente da assembleia Municipal de Portimão; vice-presidente da assembleia Metropolita-na do algarve; presidente da Comissão Política Concelhia de Portimão, membro e pre-sidente da Mesa da Comis-são Política da Federação do algarve; membro da Co-missão nacional de Fisca-lização Económica e Finan-ceira; membro da Comissão nacional do Ps; membro da Comissão Política nacional.

ISILDA GOMES

“o desinves timento público é um desastre para o Algarve”

13autárquicas 2013

IDÁLIA SALVADOR SERRãO

“balanço da gestão do PSd em Santarém é uma realidade amarga”assumir a gestão de um concelho “sem rumo, credibilidade, estratégia ou liderança” é a aposta da candidata socialista à Câmara Municipal de santarém, idália salvador serrão. Uma gestão que passará, como garante, por valorizar o mérito e a capacidade individual e coletiva dos cidadãos e que reforce as parcerias com as diversas organizações. rUi SoLANo de ALMeidA

PerFiLFrequentou a Escola de Música do Conservatório nacional. Lecionou violino e Educação Musical. vio-linista profissional. tra-balhou numa instituição bancária. Manteve ativi-dade empresarial na pro-dução de conteúdos au-diovisuais. Presidente de Junta de Freguesia. vere-adora com competências delegadas. secretária de Estado nos xvii e xviii Governos Constitucionais. Deputada à assembleia da República. Deputada Municipal. Presidente da assembleia da Comuni-dade intermunicipal da Lezíria do tejo. a concluir a licenciatura em Ciências sociais-serviço social.

É a candidata socialista à Câmara de Santarém. Que importância atribui a esta escolha?É com honra e muito orgulho que sou candidata do PS à Câ-mara Municipal de Santarém. É o concelho onde vivo, a terra on-de tenho as minhas raízes. Onde fui presidente de Junta de Fre-guesia, vereadora e onde sou de-putada municipal desde 2005. É a Santarém que quero retribuir todos os afetos e todos os ensi-namentos. Por sentir que San-tarém e as suas gentes sempre me acarinharam, decidi dar es-te passo. Ter o claro apoio do PS apenas torna esta missão numa res-ponsabilidade ainda maior. Sou uma mulher de desafios e de lu-tas e poder vir a liderar os des-tinos do meu concelho será o maior desses desafios. Estou na luta para assumir responsabili-dades, ao lado do PS e de todos os escalabitanos.

Que balanço faz da gestão autárquica de Moita Flores e do PSD à frente do município de Santarém?O balanço da gestão do PSD em Santarém é uma realidade amar-ga. Santarém é hoje um concelho sem rumo e sem credibilidade. A Câmara Municipal tornou-se um entrave ao desenvolvimento so-cial e económico do concelho e o responsável por tanta estagna-ção tem um nome: PSD! É uma autarquia que não honra os seus compromissos, que a todos deve e que a todos faz promessas sem o mínimo de pudor! É um mu-nicípio sem liderança, sem es-perança e completamente afas-tado das pessoas, das associa-ções, das freguesias e dos seus fornecedores. Moita Flores vai candidatar--se nas próximas autárquicas em Oeiras. Trata-se de uma questão formal, devido à li-

mitação de mandatos, ou de uma fuga em frente?Moita Flores tomou uma decisão pessoal e política ao candidatar--se a Oeiras, onde terá um com-bate duro pela frente. Sei que o camarada Marcos Sá será um ex-celente presidente de Câmara. Por isso lhe desejo as maiores felicidadesContudo, e voltando a Santa-rém, com a saída do anterior presidente, o principal proble-ma do concelho não desapare-ceu. O PSD continua a gover-nar os destinos do município, sem estratégia e sem lideran-ça! A má gestão da autarquia

não foi obra de um homem só. O atual presidente da Câmara Municipal e também candida-to pelo PSD às próximas elei-ções autárquicas, sempre fez parte dos executivos de Moi-ta Flores. Nunca o vi votar con-tra qualquer proposta do Execu-tivo, quanto muito, “perder por falta de comparência” quando foram votadas e atribuídas as medalhas de ouro do município ao Presidente Cavaco Silva e ao primeiro-ministro, José Sócra-tes. Aliás, algumas das maiores debilidades do concelho, como o lixo permanentemente amon-toado nas nossas ruas e a liga-ção com as freguesias, sempre foram da responsabilidade de Ricardo Gonçalves. E nesse as-peto a responsabilidade do PSD

é inequívoca. Foi com o PSD que Santarém chegou a este es-tado de estagnação.

Que podem esperar os esca-labitanos de uma adminis-tração socialista e que priori-dades vai assumir?Estratégia, planeamento, res-ponsabilidade e liderança são os compromissos do PS para o con-celho de Santarém. Uma gover-nação com afeto e responsabili-dade. Que valorize o mérito e a capacidade individual e coletiva de empreender. Que reforce as parcerias com as organizações e com os cidadãos. Que respei-

te a identidade do concelho. Não irá haver espaço para ações sem planeamento, para irresponsa-bilidades ou para desperdícios. Santarém terá um rumo pauta-do pelo rigor, simultaneamente direcionado para todos os cida-dãos. Um cêntimo mal aplicado é um cêntimo que não se direcio-na para o desenvolvimento. Da-remos a conhecer oportunamen-te aos escalabitanos aqueles que são os nossos compromissos.

Que repercussão terá pa-ra o concelho de Santarém a anunciada redução de juntas de freguesia?Em Santarém, tal como no res-to do país, o PSD assumiu as ré-deas de um processo feito à pres-sa, não ouviu nem respeitou os

eleitos nas freguesias, nem a po-pulação. Foi o PSD, contra a res-tante oposição e a esmagadora maioria das assembleias de fre-guesia, que decidiu de uma for-ma autoritária e pouco demo-crática extinguir nove fregue-sias do concelho! Aliás, o PSD de Santarém foi “mais papista que o Papa”, pois achou por bem eliminar mais freguesias do que aquelas que a lei impunha. Em Santarém, o PSD risca do mapa freguesias com história, com pa-trimónio e com identidade.

Como pensa atuar peran-te a instabilidade criada pe-lo Governo com as transfe-rências financeiras para as autarquias?É verdade que este Governo tem feito um ataque vil ao poder lo-cal e às populações. No entanto, a instabilidade financeira que se vive em Santarém nem é da cul-pa exclusiva da “crise” nem do Governo. Resulta das más op-ções e da incapacidade de ges-tão demonstrada pelo PSD nos últimos anos. Quando assumir-mos a liderança do município bater-nos-emos por uma ne-gociação de meios e competên-cias que não maltrate Santarém e reforçaremos a posição da au-tarquia junto da ANMP. Quere-

mos que a Câmara de Santarém seja reconhecida pela asserti-vidade, credibilidade e capaci-dades de diálogo e negociação, contrariando a imagem que ho-je transmitem os responsáveis do PSD.

“EstOU na LUta POR santaRéM PaRa assUMiR REsPOnsaBiLiDaDEs aO LaDO DO Ps E DE tODOs Os EsCaLaBitanOs”

“a GEstãO DO PsD tEM siDO O PRinCiPaL EntRavE aO DEsEnvOLviMEntO sOCiaL E ECOnóMiCO DO COnCELhO E O REsPOnsÁvEL POR tanta EstaGnaçãO”

“santaRéM é hOJE UM COnCELhO sEM RUMO E sEM CREDiBiLiDaDE”

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UM LivRO POR sEMana

UM eNSAio Sobre A CoNSti-tUição dA eUroPAde Jürgen Habermas

Com prefácio do constitucionalista Jo-sé Joaquim Gomes Canotilho e editado pelo grupo Almedina, este livro do filósofo e sociólogo alemão tra-ta questões atuais e decisivas no sentido

de melhorar a Europa.Num quadro de crise política, económica e social, onde muitos já foram duramen-te atingidos, o que fazer? Como ultrapas-sar a política hipócrita da “normalida-de social”? Como ultrapassar o flagran-te fracasso europeu? Habermas sugere o caminho: pensar a pessoa, pensar a sua dignidade, pensar os povos!

CoMMoN WeALtH – UM Novo ModeLo PArA A eCoNoMiA MUNdiALde Jeffrey Sachs

Com base na sua ex-periência e conheci-mento inexcedíveis, Jeffrey Sachs escre-veu esta obra sobre o estado do mun-do com um enor-me e imediato valor prático. O conteú-do de “Common We-

alth - Um Novo Modelo para a Econo-mia Mundial” cumpre a promessa do respetivo título: trata-se de uma aná-lise clara, uma síntese, uma obra de re-ferência, um manual prático, um guia, uma previsão e um sumário executivo de recomendações fundamentais para o bem-estar humano, editado pela Ca-sa das Letras.

São PAULode teixeira de Pascoaes

Personagens bíblicos são sempre temas sensíveis, quando o objetivo é explo-rá-los literariamen-te. Pascoaes não te-ve receio de arriscar e eis uma biografia singular do arauto

do Cristianismo: São Paulo.Como afirmou António-Pedro Vascon-cellos, na sua apresentação da obra de Teixeira de Pascoaes, “São Paulo”, edi-tado pela Assírio e Alvim, “é um livro genial”. Nele se descreve admiravel-mente o percurso místico de Paulo, “di-vino poeta da vida e da loucura”, e epi-sódios como o martírio de Santo Es-têvão, a conversão, a evangelização, o retorno a Jerusalém, a prisão e o jul-gamento, a loucura de Nero e o incên-dio de Roma.

AS beNevo LeNteSde Jonathan Littell

A narrativa de “As Benevolentes”, es-crita pelo norte--americano Jona-than Littell, é a con-fissão fictícia, mas muito bem apura-da e escrita pelo au-tor, de um oficial

da Schutzstaffel, as SS, tropas de eli-te nazistas. Assistimos ao horror atra-vés dos seus olhos. Aue é um monstro moral, que transcreve trechos de Pla-tão, Sófocles e Goethe para esclarecer seus atos. O próprio título, citado no final após a derrocada sanguinária da Alemanha perante os Aliados, é uma referência eufêmica para as Fúrias gre-gas, vistas na tragédia de Ésquilo, per-seguindo e vingando os crimes dos ho-mens. Em Portugal, editado pela Dom Quixote. MARY RODRIGUES

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sUGEstõEs DE rAMoS Preto

Não se limitando ao diagnós-tico, Glória Rebelo comentava as medidas das organizações internacionais e do Governo português, explicava a evolu-ção de acontecimentos nem sempre previstos, apontando caminhos.Agora, neste segundo volume da obra “Trabalho e Emprego – Atualidade e Prospetiva”, as reflexões da professora reves-tem-se de uma atualidade ex-traordinária, demonstrando uma permanente preocupação em ligar o direito, a economia, a sociedade e a cultura.A crise económica e financeira cujos efeitos sentimos já mui-to duramente, obriga à consi-deração da complexidade e da perspetiva de que estamos ho-

je no limiar de um novo tempo em que os conceitos de coesão, sustentabilidade, confiança, reciprocidade e justiça ganham uma importância crescente.O tempo tem, pois, vindo a demonstrar que, em geral, a autora estava certa. Ela lem-brou, há muito, que a glo-balização molda a econo-mia e a sociedade, o que exi-ge que Portugal vença, em primeiro lugar, o seu gap em termos de produtividade/competitividade.Mas Glória Rebelo não dei-xa de frisar que a formação/qualificação é o caminho a se-guir no domínio das políticas de emprego que procuram res-ponder ao problema do de-semprego de longa duração.

No prefácio deste livro, apre-sentado em Lisboa, em no-vembro passado, Guilherme de Oliveira Martins considera que “a coesão económica, so-cial e territorial obriga a con-trapor a fragmentação e a in-diferença à procura de elos estáveis e duradouros que per-mitam garantir que os inte-resses vitais comunitários e o bem comum possam ser efi-cazmente respeitados”.Daí a necessidade de compre-ender que, por exemplo, a de-mocracia supranacional euro-peia não pode desenvolver-se sem se ancorar nas legitimi-dades dos Estados-nações e dos cidadãos, diz-nos Oliveira Martins na introdução desta obra a não perder. M.R.

trabalho e emprego2º Volumeglória rebelo

numa altura em que o debate sobre as políticas de emprego não tinha o impacto que deve ter no presente, já Glória Rebelo analisava regularmente o problema nas páginas de prestigiados órgãos de informação portugueses. Muito antes da crise financeira, económica e social que foi visível a partir de 2007, já a investigadora alertava para os riscos da perda de postos de trabalho.

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secção

O POEMa Da viDa DE... CeLeSte CorreiA

Nós somos os flagelados do vento-leste!

A nosso favornão houve campanhas de solidariedadenão se abriram os lares para nos abrigare não houve braços estendidos fraternalmente pa-ra nós

Somos os flagelados do vento-leste!

O mar transmitiu-nos a sua perseverançaAprendemos com o vento a bailar na desgraçaAs cabras ensinaram-nos a comer pedras para não perecermos

Somos os flagelados do vento-leste!

Morremos e ressuscitamos todos os anospara desespero dos que nos impedem a caminhadaTeimosamente continuamos de pénum desafio aos deuses e aos homens

E as estiagens já não nos metem medoporque descobrimos a origem das coisas(quando pudermos!...)

Somos os flagelados do vento-leste!Os homens esqueceram-se de nos chamar irmãosE as vozes solidárias que temos sempre escutadoSão apenasas vozes do marque nos salgou o sangueas vozes do ventoque nos entranhou o ritmo do equilíbrioe as vozes das nossas montanhasestranha e silenciosamente musicais

Nós somos os flagelados do vento-leste!

“É como uma catarse em rela-ção aos momentos difíceis” e “é uma libertação”, confidenciou o ex-tarrafalista e antigo dirigen-te do PS ao explicar a importân-cia que para si tem a publicação do terceiro volume de “Memó-rias – Um Combate pela Liber-dade”, onde aborda o período após o 25 de Abril.Perante a vasta assistência que lotou o anfiteatro do edifício novo do Parlamento, Edmundo Pedro fez uma breve interven-ção de voz embargada e cortada pela emoção. Em causa estava o conhecido processo que o le-vou à prisão durante seis meses sem culpa formada em Janeiro de 1978, quando, em Setúbal, num armazém de uma empresa a que estava ligado, a GNR en-controu armas.No livro, Edmundo Pedro rela-

ta os factos em que a sua prisão de seis meses poderia não ter durado mais de um mês, se Ea-nes tivesse autorizado o gene-ral Galvão de Figueiredo a tes-temunhar que ele estava a reco-lher as armas e a entregá-las.Com uma sala repleta de figu-ras do PS, como Almeida San-tos, Eduardo Pereira, João Cra-vinho, Fernando Pereira Mar-ques, Mário Lino, Raimundo Narciso e o coronel Vasco Lou-renço, o livro foi apresentado pelo vice-presidente da Assem-bleia da República, Guilherme Silva, pelo jornalista Luís Osó-rio e pela antiga deputada e fun-dadora do PS, Maria Barroso.De salientar que este terceiro e último volume das memórias de Edmundo Pedro foi um livro escrito um pouco à pressa, co-mo o próprio autor reconhece

quando diz: “Estou a chegar aos 94 anos. O tempo voa cada vez mais depressa. Quero, antes de morrer, acabar este livro.”Da trilogia, o primeiro volume, editado em 2007, é indispensá-vel para quem quiser estudar o que foi o tenebroso campo de concentração do Tarrafal, onde o então jovem militante comu-nista penou nove anos.O segundo volume cobriu o pe-ríodo entre o fim da II Guer-ra Mundial e a Revolução dos Cravos.Já este último abrange a época posterior ao 25 de abril. Mas só teoricamente, uma vez que aca-ba por se fixar no relato do fa-moso caso das armas forneci-das pelo Grupo nos Nove ao PS no dia 25 de novembro de 1975. As suas consequências foram nefastas para o autor. M.R.

Memórias – Um Combate pela Liberdade3º Volumeedmundo pedro

no seu mais recente volume de memórias, lançado em novembro passado, na assembleia da República, numa sessão que foi também uma homenagem aos seus 94 anos, o histórico resistente antifascista Edmundo Pedro relata em pormenor a sua prisão em 1978.

FLAGELADOS DO VENTO-LESTEOvídeo Martins

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fotografias Com HistÓria

ALMoço de NAtAL do PSPóvoa de santa iria, Dezembro de 2001

O restaurante Morgado Lusitano, na Póvoa de santa iria, foi palco, em 2001, do habitual almoço de natal dos funcionários e colaboradores do Ps. na foto o então secretário-geral e primeiro-ministro, camarada antónio Guterres, convive com alguns funcionários. Um almoço que mais uma vez decorreu num clima de grande fraternidade. J.C.C.b.

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diretor Marcos sá // conselho editorial Joel hasse Ferreira, Carlos Petronilho Oliveira, Paula Esteves, Paulo noguês // chefe de redação Paulo Ferreira // redação J.C. Castelo Branco, Mary Rodrigues, Rui solano de almeida // colunistas permanentes Maria de Belém presideNte do ps, Carlos César presideNte do ps açores, victor Freitas presideNte do ps madeira, Carlos Zorrinho presideNte do grupo parlameNtar do ps, Rui solheiro presideNte da aNa ps, Ferro Rodrigues deputado, Catarina Marcelino presideNte das mulheres socialistas, João Proença teNdêNcia siNdical socialista, Jamila Madeira secretariado NacioNal, Eurico Dias secretariado NacioNal, Álvaro Beleza secretariado NacioNal, João torres secretário-geral da juveNtude socialista // secretariado ana Maria santos // layout, paginação e edição internet Gabinete de Comunicação do Partido socialista - Francisco sandoval // redação, administração e expedição Partido socialista, Largo do Rato 2, 1269-143 Lisboa; telefone 21 382 20 00, Fax 21 382 20 33 // [email protected] // depósito legal 21339/88 // issn 0871-102ximpressão Grafedisport - impressão e artes Gráficas, sa

Os artigos de opinião são da inteira responsabilidade dos autores. O “Acção Socialista“ já adotou as normas do novo Acordo Ortográfico.

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MeNSAGeM de NAtAL “Estamos conscientes das dificuldades por que passam os portugueses e as suas famílias, mas quero reafirmar-vos a nossa determinação nas nossas ideias e na nossa capacidade coletiva de construirmos um futuro melhor.”

António José Seguroantonioseguro

Caras e Caros Camaradas,

O ano de 2012 fica marcado pelo empobrecimen-to dos portugueses e pelo brutal aumento do desemprego. O Governo é o principal responsável pela situa-ção do país, ao ter optado e insistido na sua polí-tica da austeridade do custe o que custar.O PS avisou no tempo certo. O Governo ignorou e impôs pesados sacrifícios aos portugueses.Os portugueses cumpriram, o Governo falhou e não corrigiu os erros. O desemprego, a exclusão e a pobreza estão aí para sublinhar a situação de pré-rutura social. Para o próximo ano perspetiva-se um cenário ain-da pior.Em 2013, vamos pagar pesados impostos para ta-par a incompetência da execução orçamental do Governo.O corte brutal de 4 mil milhões de euros em funções sociais do Estado vão agravar as desigualdades so-ciais e acentuam ainda mais os efeitos da recessão.A taxa de desemprego prevista, acima dos 16%, é

um drama perante o qual o Governo não revela a mínima preocupação. Estamos conscientes das dificuldades por que passam os portugueses e as suas famílias, mas quero reafirmar-vos a nossa determinação nas nossas ideias e na nossa capacidade coletiva de construirmos um futuro melhor.Sem ilusões e sem facilitismo, tendo sempre pre-sente o interesse nacional, conto com todos os socialistas para os desafios que o PS e o país têm em 2013. É fundamental a participação de todos os militantes. A vossa inteligência e a vossa militância são fun-damentais nos combates políticos face a um Go-verno cada vez mais apostado em desmantelar o Estado. A vossa mobilização é decisiva para afir-mar o PS como o maior partido do Poder Local.A todos um Feliz Natal e um Ano Novo com mui-ta saúde e a esperança num futuro melhor são os votos do

António José SeguroSecretário-Geral do PS

Nº 85 • dezembro de 2012Suplemento Informativo dos Deputados Socialistas no Parlamento Europeu

Vital Moreira 1. Quando as nego-ciações entre a UE e o Canadá para um

vasto acordo de comércio e investimento externo estão prestes a ser concluídas, eis que tudo aponta para a possibilidade de lançamento a curto prazo de negocia-ções para o mesmo efeito entre a UE e os Estados Unidos.Para completar o quadro importa referir que a UE tem com o México um dos tra-tados de comércio mais antigos e que re-centemente, após audiência com o novo Presidente daquele país, Peña Nieto, o comissário europeu do comércio externo, de Gucht, se pronunciou a favor de um “upgrade” do acordo existente, de modo a fazê-lo alinhar com o escopo mais ambi-cioso dos modernos acordos de comércio da União.2. Acontece que os referidos três países criaram entre si um mercado aberto, na base do NAFTA (North America Free Trade Agreement, concluído em 1994), o qual tem contribuído fortemente para o

dinamismo das referidas economias, sem excluir o México.Se a União Europeia conseguir levar a cabo os três projetos - concluir o acordo com o Canadá, iniciar e concluir um acordo com os Estados Unidos e modernizar e alargar o acordo com o México, o resultado será um gigantesco mercado transatlântico, desde o Canadá a Chipre, desde a Finlândia ao Mé-xico, compreendendo quase mil milhões de pessoas, bem como três das mais desenvol-vidas economias (UE, EUA e Canadá), mais uma economia emergente (México).3. O acordo comercial com o Canadá, pres-tes a ser concluído, será o mais ambicioso tratado comercial da União de sempre, ul-trapassando o tratado com a Coreia, quer no seu âmbito quer na profundidade de remoção das barreiras comerciais.Liberalização quase integral do comércio de bens e serviços, dos investimentos di-retos, do mercado das compras públicas (public procurement), incluindo o nível subfederal no Canadá, elevado nível de proteção dos direitos de propriedade inte-lectual - eis o que marca o acordo comer-cial com o Canadá. Nem sequer falta uma significativa abertura na área agrícola!...

Tendo em conta os enormes recursos do Canadá (energia, agricultura, etc.) e o crescimento da sua economia, este acor-do oferece boas oportunidades de cresci-mento e emprego para a UE.4. Mais difícil, mas também muito mais importante pode ser um acordo comercial com os Estados Unidos.Antes de mais, trata-se de duas econo-mias já muito integradas, baseado num enorme stock de investimentos nas duas direções. Basta dizer que a maior parte do comércio transatlântico são trocas “intra-corporate” ou seja dentro das empresas estabelecidas nos dois lados.Embora os direitos de importação recí-proco sejam em geral baixos, ressalvada a agricultura, já a remoção ou redução das “barreiras não tarifárias” (como as diferentes normas técnicas, as diferentes regras de segurança alimentar e os dife-rentes sistemas regulatórios) pode ser muito significativa.Por isso, o potencial de crescimento e de criação de emprego de um tal acordo é enorme. Mas também é aí que residem os maiores obstáculos, especialmente no que se refere ao setor agrícola e às nor-

mas europeias contra os OGM (organis-mos geneticamente modificados), as hor-monas de crescimento para animais, etc..Todavia, é de esperar que, sendo tão ele-vado o potencial do acordo, seja possível alcançar os trade-offs necessários para um compromisso global. 5. Caso venha a ser efetivamente toma-da, a decisão de encetar negociações com os EUA para uma grande parceria econó-mica e comercial culmina o redireciona-mento da política de comércio da União Europeia, depois do falhanço do “ciclo de Doha” na Organização Mundial do Comér-cio (OMC) para um acordo multilateral de liberalização comercial. Se já desde 2006 a União tinha decidido apostar em acordos bilaterais, privilegiando economias emer-gentes (Coreia, Índia, Mercosul), há agora uma clara investida em direção às econo-mias mais desenvolvidas, com as quais já temos fortes laços comerciais. Depois de há poucas semanas ter decidido avançar para negociações com o Japão, parece agora chegada a vez dos Estados Unidos.A UE não pode deixar por mãos alheias os seus créditos de maior potência comercial global.

Luís Paulo Alves Hoje discute-se na UE o próximo quadro

financeiro para 2014-2020. Depois da Co-missão Europeia e do Parlamento Europeu e da proposta da Presidência cipriota, com cortes elevados em todos os domínios políticos da UE, assistimos à inqualificá-vel proposta do presidente do Conselho, Van Rompuy, com reduções inaceitáveis na Política de Coesão (PC) e na Politica Agrícola, que reduziriam, se aprovadas, os fundos destes dois pilares essenciais da UE, face ao atual quadro, em cerca de 15% e 20%. Para Portugal, país altamente dependente destes fundos, sobretudo os da PC que representam 2/3 do envelope financeiro nacional, isso significaria uma machadada fatal na capacidade de inves-timento do país nos próximos anos, com consequências irreparáveis no estado de-pressivo da economia nacional.

Tem por isso o governo português a obri-gação de nesta matéria não desiludir como em tantas outras tem feito. Come-çou bem, acenando com a possibilidade de veto contra a irracionalidade das pro-postas de Rompuy. Obteve no “regateio” um primeiro compromisso provisório de melhoria, e não deve sucumbir à “voz” (neste caso do “Conselho dos Segredos”), como acabou de fazer no caso da revisão do programa de ajustamento Grego, onde a “voz” (neste caso alemã) o incumbiu de declarar exactamente o contrário (ima-gem degradante) que havia declarado sobre o benefício para Portugal das no-vas condições concedidas à Grécia. O go-verno deve prosseguir com determinação na defesa do País e das suas Regiões, até porque quatro das suas sete Regiões se encontram no objectivo Convergência. Estamos longe de um acordo final, mas não devemos deixar de nos inquietar com a lógica subjacente à desvalorização da PC ao longo de todo este processo.A PC tem sido uma das políticas mais

bem sucedidas da União, na melhoria da sua coesão social, económica e ter-ritorial. Atualmente, a percentagem dos investimentos públicos através de fun-dos estruturais e de coesão atingem os 50 por cento em 12 Estados-Membros, e ainda mais de 60 por cento em outros seis. Uma redução de fundos no domínio da PC afetará substancialmente o projeto europeu, sobretudo no contexto da crise económica atual. Se queremos encon-trar formas de reorientar as prioridades de investimento e o rumo económico da UE, alavancar o crescimento, criar empregos, alcançar a prosperidade nas regiões europeias, então precisamos do financiamento adequado. A PC não re-flete apenas a solidariedade entre os 27 Estados-membros, representa um pode-roso veículo para cumprir as metas de uma União inteligente, sustentável e in-clusiva, plasmadas na Estratégia 2020. A PC é portanto a nossa política de desen-volvimento, bem como um instrumento

essencial para sair desta crise. Os cortes nos fundos atribuídos à PC nas negocia-ções do orçamento não têm em conta qualquer destes aspectos positivos e baseiam-se nas lógicas nacionais de aus-teridade pura, extrapoladas sem nenhum sentido para o plano de um orçamento Comunitário, que não apresenta deficit, não gera divida e não é um orçamento de despesa mas é sobretudo um orçamento de investimento.E para o nosso país, face à escassez de meios financeiros, públicos e privados, onde se enquadram a fraca disponibili-dade da banca para o financiamento, as-sume uma importância decisiva para o fi-nanciamento das políticas-chave, não só no domínio da agricultura, das pescas, do ambiente, do turismo, mas também para o investimento nas PME, na produção de bens transaccionáveis, na inovação e na investigação, na qualificação de recursos humanos, na área energética (somos de-pendentes) e nas ligações e na acessibili-dade ao exterior (somos periféricos).

Um mercado transatlântico em construção?

Valorizar a Política de Coesão, a prioridade para Portugal

Ana Gomes Em 2012 assistimos a dois golpes de Esta-do na África Ocidental no espaço de 2 se-manas: um no Mali, no fim de Março, e ou-tro na Guiné-Bissau em Abril, instrumental para pôr o Estado guineense a servir ainda mais de base à narco-traficância com ori-gem na América Latina. Na região arrasta-se há décadas um con-flito entre Marrocos e a Argélia às custas do povo do Sahara Ocidental, impedido de exercer o legítimo direito à autodetermi-nação: um conflito que divide e paralisa a União Europeia (UE); e um conflito que fabrica jovens desesperados e recrutáveis pelas redes terroristas que se instalam na região. Mesmo ao lado, no vastíssimo território lí-bio de fronteiras porosas, onde um governo saído de primeiras eleições está a dar pri-meiros passos num país onde não existem instituições básicas de um Estado, como Forças Armadas ou de Polícia, existem autênticos supermercados de armamento à mão de semear: remeto para o relato da visita a um deles, em Zintan, na minha última estadia na Líbia, como relatora do PE (encontrável no meu site: http://www.anagomes.eu).Da AQMI (Al Qaeda no Magreb Islâmico) a atuar no Mali, à afiliada Boko Haram a operar na Nigéria, dos golpistas narco--traficantes na Guiné-Bissau aos grupos salafistas a combater na Síria, todos po-dem aproveitar para se abastecer nos vul-neráveis arsenais que o regime de Khadaffi deixou espalhados pela Líbia. E a Líbia fica apenas a meia hora de avião ou três horas de barco de Malta ou de Itália, territórios

da UE! Há mais de um ano que na UE se fala em apoiar as autorida-des líbias no controlo das frontei-ras e na reforma das forças de se-gurança, como elas vêem pedindo, mas nenhuma missão da Politica Comum de Segurança e Defesa se concretizou ainda. O que não impe-de alguns Estados Membros de o ir fazendo, sem qualquer coorde-nação ou enquadramento europeu, como acontecia na era Khadaffi...Ora é a própria segurança da Euro-pa que está aqui em causa. Por isso é preciso activar a Política Externa e de Segurança Comum para fazer face aos desafios e ameaças que se avolumam na vizinhança a sul. É o que pede a ONU, é o que pedem à UE os aliados americanos, é o que pedem à UE governos na região, é o que exige a segurança dos cidadãos europeus.Em julho passado o Conselho de Ministros da UE decidiu responder a um pedido ur-gente do governo do Mali para enviar uma missão militar para ajudar a reorganizar as suas forças armadas, incapazes de suster a rebelião tuaregue que hoje controla par-te do país, a meias com a AQMI. A missão deverá articular-se com outra pequena missão civil entretanto enviada para o Níger, também a pedido de um governo a braços com um estado frágil ameaçado por grupos armados retornados das forças de Khadaffi.Mas, apesar de urgente, a Missão PCSD Mali está enredada nas teias burocráticas e financeiras que em Bruxelas e nas capi-tais empatam a preparação das missões

PCSD e a geração de forças para as inte-grar, impedindo assim a reação atempada a uma situação que é, em termos de segu-rança humana e na dimensão humanitária, urgentíssima. Acresce que também na Eu-ropa se farão sentir as consequências do terrorismo, do narcotráfico, do tráfico de seres humanos, da fuga de populações da guerra e da miséria em África.Esperar-se-ia que a Primavera Árabe e os golpes de Estado e a criminalidade organi-zada na África Ocidental desencadeassem uma resposta articulada, abrangente e in-teligente por parte da UE, trabalhando em parceria com a ONU e organizações regio-nais, incluindo a CPLP. Mas há contradições debilitantes: como pode, por exemplo, a UE ver na CEDEAO o seu parceiro primordial para o Mali e para a segurança da África

Ocidental, quando esta organização pro-moveu os golpistas na Guiné-Bissau que agora integram um governo ilegítimo que não esconde sequer estar ao serviço das redes do narcotráfico? Mais, em Bissau, a UE (e a UE também é Portugal...) tem também particulares responsabilidades, pois em vez de reforçar a diminuta missão PCSD que lá tinha desde 2008 para ajudar a reformar as forças armadas guineenses, a retirou em 2010, a pretexto do assassi-nato de Nino Vieira e do Chefe das Forças Armadas Tagmé Na Waié, assim contri-buindo para cavar mais fundo o buraco institucional que criou as condições para o golpe de Estado deste ano.Para ser levada a sério como actor global de segurança, a UE tem de começar por arrumar a própria casa, tem de juntar, op-timizar e operacionalizar os recursos civis e militares que desbarata ou não usa. Em tempos de crise económica que arrasa orçamentos nacionais na Defesa e Segu-rança, mais premente é reunir e partilhar recursos a nível europeu, mais premente é facilitar contribuições dos Estados Mem-bros para missões comuns, sejam financei-ras ou em forças ou equipamentos.Não basta falar. É preciso que a Alta Re-presentante para a Política Externa e para a Política de Defesa e Segurança Comum faça valer os seus dois “chapéus” institu-cionais, do Conselho e da Comissão, para chamar governos e instituições à pedra. É preciso que utilize os instrumentos do Tra-tado de Lisboa a fim de agilizar processos e partilha de recursos para para pôr no terreno as missões de segurança e defe-sa que a UE tem interesse e obrigação em constituir.

Capoulas Santos O final de 2012 representa um marco impor-tante do exercício do meu presente mandato como Deputado Europeu, e o início de uma nova etapa muito importante da minha vida política. Provavelmente, do ponto de vista do esforço físico e mental, este será o segundo exercício mais exigente por que passei. Digo o segundo porque o primeiro jamais será destronado: a gestão da chamada “crise das vacas loucas”, um tema quase inenar-rável, que ocupará um capítulo considerável das minhas memórias, se alguma vez vier a escrevê-las.A etapa a que me refiro tem a ver com o meu trabalho como Relator do PE para a Reforma da PAC e que corresponde sensivelmente ao ano de 2012.Durante este ano percorri a Europa e desdo-brei-me em centenas de contactos a todos os níveis para auscultar opiniões e identificar caminhos e soluções suscetíveis de gerar um consenso mínimo sobre o futuro da agri-cultura europeia. E também para que o PE, agora investido de poderes reais de decisão

sobre esta matéria, possa dar um contributo relevante para uma PAC mais justa e mais verde, sem pôr em causa a competitividade de um sector em que a Europa é o maior ex-portador e o maior importador mundial.Foi um tempo em que, para além de ouvir, tive oportunidade de propor, com a apresentação dos meus Relatórios, em junho, e de negociar, a partir de então, as demais 4500 emendas de alteração que os restantes deputados apresentaram em alternativa às propos-tas da Comissão. Traduzir boa parte dessas emendas em compromissos não desvirtua-dores das minhas ideias e que garantam ao mesmo tempo a coerência e a responsabili-dade do PE na negociação com o Conselho e a Comissão, ao longo do primeiro semestre de 2013, não tem sido tarefa fácil, como pode imaginar-se.Contudo, essa tarefa está prestes a chegar ao fim. No momento em que escrevo estas linhas está fechada a negociação sobre o Regulamento do Desenvolvimento Rural, estando contempladas todas as prioridades que havia estabelecido para Portugal. A sa-ber, manter a chave de repartição atual do

orçamento deste Pilar, em que Portugal é o 5º Estado- membro mais beneficiado, con-seguir uma taxa de comparticipação finan-ceira comunitária de 100% para os fundos transferidos do primeiro pilar(a regra será entre 55% e 60%), e garantir a elegibilidade do cofinanciamento comunitário para novos regadios, que a Comissão pretendia limitar apenas aos novos Estados- membros. Resta saber agora se os Grupos Políticos vão honrar os compromissos assumidos por aque-les que negociaram em seu nome, na votação de 23 de janeiro na Comissão de Agricultura do PE, e em março no plenário de Estrasburgo.Quanto ao Regulamento dos Pagamentos Diretos, de conteúdo bastante mais difícil, a negociação está igualmente finalizada, em termos bastantes satisfatórios em todos os aspectos sensíveis para Portugal. Destaco o reforço do pagamento médio por hectare, neste caso 100% financiado pela UE, a cha-mada convergência interna, o novo regime para os pequenos agricultores, o reforço de apoios para os jovens, a desburocratização, e a flexibilização e alargamento das medidas de “greening”.

O primeiro semestre constituirá assim a próxima e decisiva batalha cujo sucesso ou insucesso estará fortemente dependente do desfecho da “ guerra” em curso sobre o Qua-dro Financeiro Plurianual da UE para 2014/20, que se antevê muito difícil para a agricultura.Para todos um sincero desejo de Boas Festas.

AtUALidAdeNº 85 | dezembro 2012 | 2

O fim de uma etapa

Segurança europeia em jogo no noroeste africano

AtUALidAde Nº 85 | dezembro 2012 | 3

Bancos: uma supervisão reforçada elisa Ferreira Numa resposta relativamente rápida às decisões tomadas pelos chefes de Esta-do e de Governo no fim de Junho (o cha-mado Relatório de Van Rompuy sobre o futuro da União Económica e Monetária), em Setembro a Comissão Europeia apre-sentou finalmente uma visão para o se-tor bancário europeu. Uma visão assente em três pilares – regras comuns, uma supervisão única e uma autoridade única para tratar de insolvências. Na sequên-cia, a Comissão Económica e Monetária (ECON) do Parlamento Europeu acaba de aprovar, por uma forte maioria, a sua posição sobre o tema.A grande novidade de todo o processo é o facto de o Banco Central Europeu pas-sar a ser o supervisor dos bancos da Zona Euro, acumulando estas novas funções com as que até agora lhe cabiam a nível macroeconómico. Não há dúvida de que, a nível europeu, parece não haver alterna-tiva ao BCE se se quiser garantir uma su-pervisão forte e efetiva dos bancos. Sendo que se tem falado muito de bancos dema-siado grandes para que se possam deixar falir (assim justificando a utilização do dinheiro dos contribuintes para os salvar), mas que talvez devamos acrescentar à

lista dos problemas os bancos demasia-do grandes para serem salvos (caso da Irlanda) e os demasiado próximos para serem adequadamente supervisionados pelas entidades nacionais (caso da gene-ralidade dos países, incluindo Portugal).Pessoalmente, pareceu-me importan-

te salvaguardar três objetivos: primeiro, que esta supervisão uniforme liderada pelo BCE não redunde na anulação total dos supervisores nacionais (subsistem impactos e interesses nacionais a acau-telar); depois, que essa cooperação com os supervisores nacionais não redunde

na criação de bancos de primeira classe (supervisionados a nível europeu) e ban-cos de segunda (supervisionados, mesmo que por delegação, a nível nacional); por último, que exista um mecanismo de apelo das decisões do supervisor.Na ECON, aqueles objetivos foram atin-gidos e o equilíbrio do texto foi garantido. No entanto, a ambivalência alemã – a Ale-manha exigiu uma supervisão única, “com dentes”, a nível europeu (aquando da dis-cussão do apoio aos bancos espanhóis), mas logo iniciou uma campanha para isen-tar os seus próprios bancos cooperativos e locais dessa supervisão potencialmente intrusiva... – pode vir a introduzir novos desequilíbrios a nível do Conselho. Este é um assunto que continuará a requerer um cuidadoso acompanhamento.Note-se que esta iniciativa só terá ver-dadeiramente interesse quando os de-pósitos dos europeus, pelo menos a nível da Zona Euro, forem garantidos a nível comunitário e quando a gestão de um processo de pré falência ou falência de um banco for liderada por uma entidade europeia e financiada por um fundo ali-mentado pelos próprios bancos e não pe-los contribuintes!Embora devagar, penso que estamos a ca-minhar na direção certa! Lá chegaremos...

Nova legislação sobre Proteção Civil edite estrela No final de outubro, a tempestade Sandy deixou um rasto de devastação e morte em alguns Estados norte-americanos. Milha-res de casa e de empresas foram afetadas. A cidade de Nova Iorque ficou paralizada durante dias. Os aeroportos fecharam, os transportes não funcionaram, faltou a água e a luz. Até a Bolsa e a sede da ONU encerraram as suas portas. E o presidente Obama interrompeu a campanha eleitoral para se dedicar a tempo inteiro à gestão da catástrofe.As catástrofes naturais têm tendência a reproduzir-se com uma frequência e inten-sidade cada vez mais elevadas. Fenómenos extremos que, outrora, não se verifica-vam mais do que uma vez por século, hoje reproduzem-se todos os dois ou quatro anos, com consequências cada vez mais trágicas. A frequência de catástrofes tem vindo a aumentar mundialmente, com prejuízos médios anuais a rondar os 0,25 % do PIB mundial. Calcula-se que nos últimos vinte anos, as catástrofes registadas na Europa tenham vitimado cerca de 90 000 pesso-as, afectado mais de 29 milhões e causa-do 211 mil milhões de euros em perdas económicas. Esta tendência deve-se, em grande parte, às alterações climáticas, à urbanização crescente e desordenada, bem como à degradação do ambiente. Daí a necessidade de dar prioridade a políticas de prevenção e de reforçar os mecanismos de gestão de catástrofes e de resposta in-tegrada por parte dos Estados-membros

da União Europeia.No final de novembro, na mesma semana em que começou em Doha (Qatar) a Con-ferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP18), a Comissão do Ambiente, da

Saúde Pública e da Segurança Alimentar do Parlamento Europeu aprovou a nova legislação comunitária no domínio da Pro-teção Civil. A nova legislação europeia visa melho-

rar a eficácia dos sistemas de prevenção, preparação e resposta a todos os tipos de catástrofes naturais ou de origem humana, dentro e fora do território da União. Prevê a criação de um Centro de Resposta de Emergência, operacional 24 horas por dia, sete dias por semana, e de uma Capacidade Europeia de Resposta de Emergência, sob a forma de uma reserva comum voluntária de capacidades dos Estados-membros. E propõe-se identificar e eliminar as lacunas, através do apoio ao desenvolvimento de capacidades complementares financiadas pela UE.Na minha qualidade de porta-voz do Grupo Socialista para as questões relacionadas com catástrofes naturais e Proteção Civil, apresentei várias propostas, aprovadas por larga maioria, em que defendo, de-signadamente, a elaboração de planos de gestão de riscos pelos Estados-membros até 2014 e o aumento para 40% dos custos elegíveis de manutenção da Capacidade Europeia de Resposta de Emergência. O aumento do financiamento europeu é posi-tivo mas não deve constituir um incentivo a que os Estados-membros reduzam os seus investimentos ao nível nacional. Não obstante as reservas de alguns Es-tados-membros, vai-se tentar um acordo em primeira leitura com o Conselho, indo ao encontro das expetativas da maio-ria dos cidadãos europeus que, segundo dados do Eurobarómetro, reconhecem a necessidade de uma política europeia de Proteção Civil e do reforço da cooperação entre os Estados-membros na resposta a catástrofes.

FICHATÉCNICA

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AtUALidAdeNº 85 | dezembro 2012 | 4

infraestruturas transeuropeias de energia: Um final feliz

António Correia de Campos No final de novembro de 2012, em repre-

sentação do Parlamento Europeu, liderei as longas e difíceis negociações que cul-minaram num importante acordo político com o Conselho, sobre o novo regulamen-to para as infra-estruturas energéticas trans-europeias. Este regulamento põe em prática um conjunto de medidas que visam alavan-car cerca de 200 mil milhões de Euros de investimentos em infra-estruturas de gás e electricidade, até 2020, em toda a Europa. O regulamento prevê um novo enquadramento legislativo para o proces-so de licenciamento de infra-estruturas, limitando-o a um prazo de cerca de 4 anos e meio, quando presentemente este ronda os 10-12 anos.O regulamento surge num contexto de forte dependência energé-tica da Europa de um conjunto reduzido

de países fornecedores, no quadro do iso-lamento geográfico de certas regiões no que diz respeito a interconexões energéti-cas, nomeadamente a Península Ibérica. Também em contexto de recessão eco-nómica que dificulta o investimento em infra-estruturas dispendiosas mas com elevado efeito multiplicador em emprego e crescimento económico.O novo regulamento é de importância--chave na construção de um mercado Europeu de energia, removendo barrei-ras e promovendo a construção de infra--estruturas essenciais para a interliga-ção entre estados membros. Promove a “alavancagem” do investimento privado, o crescimento e o emprego. Portugal tem interesse directo neste dossier e no pacote financeiro que lhe está associado (Connecting Europe Facility). Interessa a Portugal e Espanha garantir na Península um “hub” ibérico de gás natural, tirando partido das infra-estruturas de armaze-namento já existentes, com capacidade para proporcionar diversificação do abas-

tecimento de gás ao centro da Europa. Tal permitiria optimizar as infra-estruturas de recepção e armazenamento de Sines; apoiar a integração das energias renová-veis na interconexão com a Espanha, e desta com a França; permitiria, ainda, o acesso a instrumentos de apoio financeiro da União que se encontram presentemen-te em fase de decisão para entrada em vigor. No âmbito deste regulamento propus um dispositivo de “coordenação de ope-ração do sistema” que visa centralizar a nível Europeu a recolha de dados de flu-xos energéticos e a sua partilha entre os operadores do sistema de transmissão eléctrica. O dispositivo visa garantir a se-gurança da rede perante a possibilidade de cortes bruscos de grande dimensão, tornados cada vez mais prováveis pela complexidade crescente da rede. Disponi-biliza dados que permitem a optimização de utilização da infra-estrutura construí-da e facilita o planeamento futuro do de-senvolvimento eficiente da rede.

A aprovação do resultado das negocia-ções na Comissão da Indústria, Tecnolo-gia, Investigação e Energia (ITRE) terá lugar a 19 de dezembro e o regulamento subirá ao Plenário, em fevereiro de 2013, para aprovação final. Entretanto seguirá o seu caminho a legislação relativa ao dis-positivo financeiro Connecting Europe Fa-cility, a qual deverá ser aprovada em data próxima, mobilizando os meios financeiros que venham a ser aprovados no orçamen-to plurianual da União Europeia. Durante este período de gestação legislativa a Co-missão realizará os trabalhos preparató-rios de seleção de Projetos de Interesse Comum (PIC), dispondo já de mais de du-zentas candidaturas.Importa salientar que o signatário, como relator, obteve da representação oficial portuguesa em Bruxelas e do nosso Go-verno todo o apoio que permitiu alcançar um resultado altamente positivo. Em matéria de interesse nacional e de repre-sentação externa há sempre espaço para amplo consenso.