acção socialista n.º 1376

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www.ps.pt N. O 1376 DIRETOR MARCOS Sá MARÇO 2013 // PáGS. 2 E 3 AS PESSOAS ESTÃO PRIMEIRO PS AVANçA COM MOçÃO DE CENSURA DINIS ACáCIO CANDIDATO à CM DO CADAVAL ENTREVISTAS JOãO PROENçA SECRETáRIO-GERAL DA UGT FLORBELA FERNANDES PRESIDENTE MULHERES SOCIALISTAS DE éVORA VíTOR SOUSA CANDIDATO à CM DE BRAGA // PáGS. 8 E 9 // PáG. 10 // PáG. 12 // PáG. 13 // PáGS. 6 E 7 O PS apresentou uma moção de censura ao Governo na Assembleia da República. Uma iniciativa que pretende mostrar que há outro caminho face à dramática situação económica e social do país e que surge na sequência da deliberação unânime da Comissão Política

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Suplementos Moções XIX Congresso e Europa n.º 88

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www.ps.pt

N.o 1376 diretor marcos sáMARÇO 2013

// PáGs. 2 e 3

AS PeSSoAS eStÃo PriMeiro

PS AvAnçA coM MoçÃo de cenSurA

dinis acácio Candidato à CM do Cadaval

entreviStAS

João proença seCretário-geral da ugt

florbela fernandes Presidente Mulheres soCialistas de évora

vítor sousaCandidato à CM de braga

// PáGs. 8 e 9 // PáG. 10 // PáG. 12 // PáG. 13

// PáGs. 6 e 7

O PS apresentou uma moção de censura ao Governo na Assembleia da República. Uma iniciativa que pretende mostrar que há outro caminho face à dramática situação económica e social do país e que surge na sequência da deliberação unânime da Comissão Política

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A eScALdArcensurar coligação da instabilidade e do falhanço

A coligação de direita e a sua política de austeri-dade custe o que custar falhou rotundamente em todas as frentes. Por isso, o PS decidiu apresentar, no Parlamento, uma moção de censura ao Governo que será discutida na primeira semana de abril.A moção traduz o novo consenso político e social que há em Portugal de que este Executivo falhou e deve sair, de que esta coligação da instabilidade e do falhanço divorciou-se de um país com um milhão de desempregados.Agora o PS bate-se para que a consumação do divórcio seja nas urnas e por mandato dos portugueses.

QuenteA oportunidade de se demitir

Enquanto o PSD fala em estabilida-de, o seu parceiro de coligação pede uma remodela-ção governamental. Haverá maior instabilidade do que aquela que se evidencia quando uma maioria já não acredita no seu Governo?Mas o sintoma mais gritante de que o Governo acabou é o silêncio laranja relativamente às decla-rações feitas pelo porta-voz do CDS/PP sobre uma mexida urgente na equipa governamental.Será tempo de Pedro Passos Coelho aceitar a “oportunidade” de se demitir…

Frioex-espião do costume

O Governo determinou a criação de um posto de trabalho na Presidência do Conselho de Ministros para o “ex-espião” Silva Carvalho, envolvido no caso das secretas!O decreto assinado por Pedro Passos Coelho e Vítor Gaspar justifica que Silva Carvalho “preencheu os pressupostos de aquisição de vínculo definitivo ao Estado”.Anda uma larga maioria preocupada com os novos comentadores televisivos, mas valerá a pena lembrar que Jorge Silva Carvalho está acusado de acesso indevido a dados pessoais, abuso de poder e violação de segredo de Estado…

GeLAdode bestiais a bestas

Portugal baixou para o 17º lugar no ranking da União Europeia Innovation Union Scoreboard 2013, relativamente à inovação das economias europeias, devido às políticas de auste-ridade cega deste Governo, passando para o grupo dos países considerados com crescimento modera-do (moderate growers), por ter apresentado uma taxa de crescimento, entre 2008 e 2012, de 1,7%.De referir que em 2011, o nosso país tinha sido considerado um dos Innovation Growth Leaders (líder em inovação e crescimento, com uma taxa de crescimento superior a 5%.É caso para dizer: de bestiais a bestas!Fecham-se as portas para alguns passos…

SiGA-noS no tWitter @PSOCIALISTASiGA-noS no tWitter @PSOCIALISTA

ACÇÃO SOCIALISTA HÁ 30 ANOS

31 março de 1983PS APreSentA ceM MedidAS PArA ceM diAS

A manchete da edição de 31 de Março de 1983 do “AS” era “PS apre-senta cem medidas para cem dias”. Em conferência de Imprensa, Mário Soares elencava cem medidas que os socialistas se compro-metiam a implementar nos primeiros cem dias de governação, caso vencessem as legislativas. E que abrangiam cinco áreas: “Contra a corrupção no Estado e o crime nas ruas; “produzir mais para dever menos”; “Solidariedade na saúde, segurança social e habitação”; “Defender os direitos dos trabalhadores”; e “Mais estabilidade para os jovens na escola, no emprego e na vida”.

tempo de Passos chegou ao fimo Ps culpa Pedro Passos Coe-lho pela crise política e econó-mica que assola o país e de ter ignorado sistematicamente as propostas socialistas e de ter fechado a porta a um diálogo construtivo com o maior parti-do da oposição.antónio José seguro anunciou no último debate parlamentar com o primeiro-ministro que o Ps vai apresentar uma moção de censura ao governo.o país, justificou o secretário--geral socialista, precisa de ou-tro primeiro-ministro que “dê sentido aos sacrifícios dos por-tugueses” e que tenha voz na europa para afirmar Portugal.Chegou o momento, disse, de os “verdadeiros patriotas” di-zerem não a este governo e à sua estratégia, porque o país” não está na direção e no cami-nho certo”.insistir no erro de manter es-te governo em funções é pa-ra o líder do Ps não só uma ati-tude irresponsável, como aju-da a empurrar o país para o desastre. os portugueses, lembra se-guro, vivem momentos de um enorme dramatismo social e de um acentuado empobrecimen-to, um cenário que “está a con-duzir Portugal para uma situa-ção de um beco sem saída”. o tempo deste primeiro-ministro defendeu, chegou ao fim.Justificou por isso, a apresen-tação de uma moção de cen-sura porque é necessário “mu-dar de caminho e construir uma saída para a crise”, com disciplina e rigor orçamental, mas “colocando o emprego e o crescimento económico como prioridade”.ao longo dos últimos 21 meses de governação o Ps apresentou diversas propostas e medidas

alternativas, tendo demonstra-do sempre disponibilidade pa-ra colaborar com o governo. a única atitude que o Partido so-cialista recebeu por parte des-te primeiro-ministro, acentuou seguro, foi uma enorme hosti-lidade e uma rejeição sistemá-tica das suas propostas, quer nos debates orçamentais. “es-te primeiro-ministro esbanjou a oportunidade de um diálogo construtivo com o Ps”, disse.

Falharam em toda a linhao líder socialista acusou ainda o primeiro-ministro de ter fal-tado à palavra aos portugueses, por lhes ter pedido pesados sa-crifícios anunciando-lhes em troca um défice orçamental de 4,5% e uma dívida pública de 113% da riqueza nacional. terminado o ano de 2012 veri-fica-se que o défice foi de 6,6% e a dívida superior a 122%, o que veio provar, sublinhou o líder do Ps, que o gover-no esteve sempre longe de fa-zer a prometida consolidação orçamental.Para antónio José seguro, se

os resultados são maus, as con-sequências desta incompetên-cia governamental “são dra-máticas”, com mais de um mi-lhão de desempregados no final do ano, meio milhão dos quais sem qualquer apoio social, 40% dos jovens sem trabalho e um défice da administração Cen-tral e da segurança social que atingiu em fevereiro passado 246,9 milhões de euros. Por tudo isto, na opinião do se-cretário-geral do Ps, o país pre-cisa de outro primeiro-minis-tro, “disposto a renegociar o programa de ajustamento e a apresentar uma nova estraté-gia credível de consolidação das contas públicas”.Para seguro, esta moção de censura anuncia um rutura com a política do governo, e inicia, “sem pressas”, a cami-nhada até às próximas eleições legislativas “sejam ou não an-tecipadas”. uma moção que, tal como salientou, “constitui mais do que um ponto de che-gada um ponto de partida pa-ra uma alternativa que mobili-ze os portugueses”. r.s.a.

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Por considerar que é preciso uma nova política. de rigor mas também de ambição. Que tenha uma visão para o país e que mobilize os portugueses. e também por entender que o atual governo já não tem con-dições para se manter e que um novo governo deve assu-mir como prioridade a renego-ciação das condições de ajusta-mento que resulte num amplo consenso da sociedade portu-guesa, o Ps apresentou uma moção de censura., em conferência de impren-sa, no dia 24, domingo, na se-de nacional, o dirigente nacio-

nal João ribeiro já tinha adian-tado que o Ps iria apresentar uma moção de censura, por considerar que o governo “fa-lhou todos os objetivos a que se propôs” e “está divorciado de um país com um milhão de desempregados”.João ribeiro referiu que esta iniciativa traduz “o novo con-senso político e social” que há em Portugal de que “este gover-no “falhou todos os objetivos”. e adiantou que “seria uma ir-responsabilidade não apresen-tar esta moção que dá voz ao descontentamento que existe no país”.

instabilidade e falhançoJoão ribeiro considerou ain-da que o atual governo é a co-ligação da “instabilidade e do falhanço”.e acrescentou: “o Ps quer que esse governo saia e que haja um novo governo em Portu-gal, legitimado pelo voto dos portugueses”.o secretário nacional do Ps defendeu igualmente que o memorando assinado com a troika está “desajustado” e precisa de ser “redireciona-do” para que o país possa sair do labirinto em que se en-contra.

PS avança com moção de censuraO PS apresentou uma moção de censura ao Governo na Assembleia da República. Uma iniciativa que pretende mostrar que há outro caminho face à dramática situação económica e social do país e que surge na sequência da deliberação unânime da Comissão Política.

marcos.sa.1213@marcossa5

EDITORIAL cenSurA É nÃo AcertAr uMA!

Marcos Sá

o Governo falhou todos os objetivos a que se propôs. Censu-ra é não acertar uma! Este seria, por si só, motivo suficien-te para apresentarmos uma moção de censura ao atual

(des)governo, mas para além disso convém recordar que esta co-ligação jamais teve a humildade democrática de aceitar qualquer tipo de proposta alternativa apresentada pelo PS.

Infelizmente, a tragédia económica e social é hoje de tal forma significativa que até o representante do FMI para Portugal está surpreendido e chocado com o nível da recessão e do desemprego. Se nos tivessem ouvido e seguido o nosso caminho não estaríamos seguramente nesta tormenta. A aposta no crescimento económico e o combate sem tréguas ao desemprego tem que voltar a ser uma realidade! Os números do desemprego são um dos pontos em que as previsões do Governo têm vindo a falhar sucessivamente. Na sétima avaliação da troi-ka ao programa de ajustamento económico do país, os cenários revistos passaram a apontar para uma taxa de desemprego de 18,2% em 2013 e 18,5% em 2014. No Orçamento de Estado para este ano, a previsão era de 16,4%. Este Governo como ainda não está satisfeito com esta chaga social resolveu lançar um plano de “rescisões amigáveis” na Administração Pública! Para onde nos querem levar afinal!?

O nosso Congresso tem que ser a consolidação de uma alterna-tiva política que corresponda aos principais anseios dos nossos cidadãos. Não temos que prometer nada, mas teremos que ser capazes de desbravar novos caminhos que nos garantam a coesão social e o desenvolvimento equilibrado do nosso país.

“Infelizmente, a tragédia económica e social é hoje de tal forma significativa que até o representante do FMI para Portugal está surpreendido e chocado com o nível da recessão e do desemprego”

PS reSPeitA coMProMiSSoS MAS deFende outro cAMinho

o Ps respeita os compromissos assumidos pelo estado português, mas defende um ca-minho para os cumprir completamente dife-rente do que é seguido pelo governo “ultra-liberal” Psd/Cds-PP, afirmou o dirigente so-cialista Miguel laranjeiro.“uma coisa são os compromissos do estado português, e esses nós cumprimos, outro é o modo, a forma e o instrumento para lá che-gar”, defendeu Miguel laranjeiro. o dirigen-te do Partido socialista respondia assim às dúvidas manifestadas pelo secretário-geral do PCP sobre a importância de um partido com responsabilidades de governo honrar os com-promissos do estado português.segundo Miguel laranjeiro, “entendia-se que

o Psd tivesse esse tipo de atitude, porque há um desespero na coligação, mas ninguém compreende que secretário-geral do PCP o faça".o deputado referiu que “o Ps é muito claro” e “sempre disse e mantém que respeita todos os compromissos do estado português, porque é um partido responsável”."os compromissos são pagar a dívida, conso-lidar as contas públicas. a forma de lá chegar é que tem de ser diferente. o caminho que de-fendemos tem a ver com a renegociação das condições, dos prazos, dos juros, e também com a aplicação de uma agenda para o cres-cimento e emprego", concluiu Miguel laran-jeiro.

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4 AcoMPAnhe-noS no FAceBooK SEDENACIONALPARTIDOSOCIALISTAAcoMPAnhe-noS no FAceBooK SEDENACIONALPARTIDOSOCIALISTA

secção

o país está lançado numa tragédia Nunca a democracia portuguesa conheceu um Governo com tanta insensibilidade social e arrogância. Perante o flagelo do desemprego, da falência crescente de empresas e da maior quebra da economia de que há memória, o Governo responde empobrecendo o país e desmantelando o Estado Social.

o líder socialista, antónio Jo-sé seguro, não tem dúvidas de que o país está ser conduzido pa-ra “uma catástrofe económica e social”. acusa o primeiro-ministro de ter violado o compromisso eleitoral que o elegeu para o cargo e de ser o principal responsável por ter mergulhado Portugal num cená-rio de espiral recessiva.na opinião de seguro, é ao execu-tivo Psd/Cds-PP e à sua política cega de austeridade “custe o que custar”, que se deve assacar a res-ponsabilidade de o país se depa-rar hoje com um número recorde de desempregados, perto de um milhão, de 40% dos seus jovens mais qualificados estarem sem trabalho, da economia ter recua-do em 2012 perto de 3,2%, e do défice e da dívida estarem mui-to acima das sucessivas previsões do próprio governo.Críticas que estende a bruxelas pela catástrofe económica e so-cial que está a submergir Portu-gal, apontando o dedo acusador aos líderes europeus que acusa de serem “gente egoísta”. exige à união europeia um papel mais ativo na solução da crise e censu-ra os líderes europeus pela forma como estão a enfrentar a crise, reiterando que são necessárias medidas mais rápidas e robustas e uma atitude política completa-mente diferente daquela que nes-te momento existe. sustenta, por isso, a necessidade de soluções

comuns capazes de enfrentar os problemas com que o projeto eu-ropeu se depara. seguro lembra a este propósi-to que o Ps desde o Congresso de braga, há mais de ano e meio, que vem defendendo um cami-nho alternativo à política cega da austeridade a todo o preço, apon-tando o crescimento económico e as políticas ativas de emprego co-mo a solução adequada para tra-var a degradação social e o empo-brecimento, sustentando que um país que empobrece “não resol-ve um problema, só soma proble-mas aos que já existem”.a opção do Ps, recorda o secre-tário-geral, é a da mudança da política de austeridade do cus-te o que custar para uma política que alie o crescimento económi-co com a prioridade do emprego “e que o faça com disciplina e ri-gor orçamental”.

há alternativasContrariando a lengalenga dos partidos da maioria, o Ps lembra que tem vindo de forma sistemá-tica desde há mais de ano e meio, quer pela voz do seu secretário--geral, quer pela do líder parla-mentar e de outros dirigentes do partido, a defender uma conso-lidação sustentável e credível do programa de ajustamento sem contudo, e ao invés da prática do governo, “deixar nenhum portu-guês para trás”.entre um conjunto vasto de me-

didas defendidas pelos socialistas destaque para a necessária capta-ção de investimento estrangeiro, para o fomento das exportações e de um programa de substituição de importações por aumento da produção nacional de bens e ser-viços transacionáveis, para a cria-ção de um programa europeu de combate ao desemprego com um fundo de 100 mil milhões de eu-ros para acudir a todos os países,

criando na europa um limite ad-missível para a taxa de desem-prego, acima do qual os subsídios de desemprego sejam pagos pela união europeia.o Ps defende ainda o lançamen-to de um programa de reabilita-ção urbana que privilegie a efici-ência energética dos edifícios, e que, em virtude de existirem em Portugal muitas empresas com problemas de tesouraria e de pré financiamento para correspon-der às encomendas, que passe a ser possível a captação de em-

préstimos dos sócios para que as empresas possam beneficiar das mesmas condições oferecidas pe-los bancos, o que ajudaria, na sua perspetiva, ao reforço dos capi-tais próprios das empresas, e re-solver problemas de tesouraria mitigando as transferências de recursos da economia para o sec-tor financeiro. Medidas que o Ps tem a convic-ção que muito dificilmente po-

derão avançar enquanto à fren-te do governo português esti-ver um primeiro-ministro que “em vez de se voltar para a solu-ção dos problemas, prefere ir ao Parlamento defender a redução do salário mínimo nacional”, re-velando assim o que há muito já se sabia, de ser o primeiro-minis-tro “com menos sensibilidade so-cial”, desde o 25 de abril de 1974.

PS tinha razãoa estratégia escolhida por Pas-sos Coelho e vítor gaspar pa-

ra sair da crise falhou. um caná-rio para o qual o Ps vem alertan-do desde o primeiro dia em que o governo tomou posse. é agora necessário arrepiar caminho. Pa-ra o Ps é inadiável trocar a polí-tica de austeridade sem horizon-te por um caminho que concilie o crescimento económico com o rigor e disciplina orçamental. avançar com a redução do iva na restauração, aumentar o salá-rio mínimo nacional e as pensões mais baixas. Medidas, entre ou-tras, que necessariamente terão de estar enquadradas num acor-do mais amplo e não em “peque-nos ajustes” como mais um ano para a consolidação orçamental como acaba de ser aprovado pela troika, e que para o Ps é uma ini-ciativa “insuficiente para enfren-tar a grave situação do país”.o governo, lembra antónio José seguro, vai agora ter mais tempo, “não porque fez as coisas bem--feitas, mas porque falhou”, la-mentando a ausência de “sinais claros” de mudança do progra-ma de ajustamento português. se Portugal vai passar a benefi-ciar de mais tempo para cumprir as metas acordadas com os cre-dores internacionais “devia usar esse tempo para corrigir os seus próprios erros”, advertiu.seguro lembra que o governo e a troika têm todos os dados para concluir que é preciso mudar de ca-minho, pois todos os indicadores “estão em cima da mesa”. r.s.a.

“Este Governo mostra uma enorme insensibilidade social e uma arrogância política nunca vistas em Portugal”

“O PS há cerca de dois anos que vem defendendo um caminho alternativo à política cega de austeridade a todo o preço defendida por este Governo”

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secção

Propostas do PS para sair da criseO secretário-geral do Partido Socialista apresentou recentemente cinco novas propostas para parar com a “política de austeridade do custe o que custar”, que a maioria de direita PSD/CDS-PP, no Governo, está a levar ao limite do absurdo.

Medidas que, na perspetiva dos socialistas, serão capa-zes de estabilizar a economia, de criar mecanismos de apoio aos desempregados e de con-tribuir para a diminuição da dívida e do grave défice que assola o país e que muito po-deriam concorrer para ajudar Portugal a arrancar para uma estratégia realista de cresci-mento económico. Cinco novas propostas que para o Partido socialista e pa-ra o seu líder, antónio José seguro, permitiriam tornar sustentável o estado, desig-nadamente através do impul-so de políticas públicas, ga-rantindo em simultâneo mais economia e competitividade às empresas portuguesas.Com o objetivo de estabilizar a economia, o Ps propõe a re-dução do iva para a restaura-ção dos atuais 23 para 13%, o aumento do salário mínimo nacional e das pensões mais baixas, negociados na concer-tação social, e um plano de re-abilitação urbana que dê prio-ridade à eficiência energética, com aproveitamento dos fun-

dos comunitários.Quanto às medidas ligadas à consolidação orçamental, o Ps defende mais tempo pa-ra consolidar o défice e mais tempo para pagar a dívida, um diferimento para o paga-mento dos juros e juros mais baixos e, ainda, o reembolso dos lucros obtidos pelo bCe nas operações de compra de dívida soberana.Para o Ps, a política deste go-verno falhou e a austeridade a todo o preço, tão do agrado do primeiro-ministro e do mi-nistro das Finanças, “derru-bou-se a si própria”.o corte de quatro mil milhões de euros nas funções sociais do estado que na opinião do Ps iriam contribuir para au-mentar a recessão económi-ca e iriam gerar ainda mais desemprego não é, para o lí-der socialista, iniciativa acei-tável, desafiando Passos Coe-lho a aceitar as cinco propos-tas socialistas.

há outro caminhoCom o lema “há outro Cami-nho”, o Ps tem igualmente

vindo a apresentar ao país um conjunto de outras medidas no pressuposto de contribuí-rem para tirar o país do fos-so em que a maioria de direita colocou Portugal.- extensão do período de ca-rência de reembolso das li-nhas de crédito já contratadas- Criação de um fundo de ca-pitalização para as PMe com 3 mil milhões de euros- redução de 0,1% da taxa máxima de iMi dos imóveis até 250 mil euros, o que re-presenta uma redução de 25% no imposto a pagar relativo a estes imóveis- Criação de uma taxa de soli-dariedade sobre as PPP- eliminar a taxação em 5% dos subsídios de doença e 6% dos subsídios de desemprego-Criar um linha de crédito bei de 5 mil milhões de euros pa-ra financiamento das Peque-nas e Médias empresas- aumentar o tempo de subsí-dio social de desemprego por mais seis mesesredução das taxas moderadoras das consultas nos Centros de saúde para 3,80 euros. r.s.a.

Parar com a austeridadeAbandonar a intenção do Governo de cortar 4 mil milhões de euros nas funções sociais do Estado. O PS defende disciplina e rigor orçamental. Coisa diferente é um corte brutal nas funções sociais que aumentarão a recessão económica e gerarão ainda mais desemprego.

Implementar um programa de emergência para apoiar os desempregadosMobilizar fundos comunitários para criar um programa de quali�cação e formação pro�ssio-nal destinado aos desempregados que não têm qualquer proteção social.

Estabilizar a economiaAlgumas medidas:

i) Reduzir o IVA da restauração;ii) Aumentar o salário mínimo e as

pensões mais baixas, a par da estabilização do quadro �scal, em Concertação Social;

iii) Plano de reabilitação urbana, promovendo a e�ciência energética, com aproveitamento de fundos comunitários;

iv) Financiamento da economia e das PME, através do Banco de Fomento e da consideração �scal dos suprimentos como apoio à capitalização das empresas.

Agenda para o crescimento e o emprego i) Promover a captação de Investimento Direto Estrangeiro

a. Diminuição de custos de contexto;b. Tribunal para dirimir os con�itos de investimento

estruturante, incluindo o estrangeiro;c. Investimento no alargamento do Porto de Sines e

alargamento do parque logístico;d. Ligação ferroviária de mercadorias Sines-Madrid;e. Desenvolvimento e quali�cação das Áreas de

Acolhimento Empresarial.ii) Fomentar as exportações

a. Reembolsos do IVA atempados;b. Estímulos �scais à exportação com revisão do DL 250/2009;c. Utilização da recapitalização da banca para

�nanciamento de sectores transacionáveis;d. Reforço dos instrumentos de seguro de crédito à

exportação e de pré-�nanciamento das exportações.iii) Lançar um programa de substituição das importações

por aumento da produção nacionala. Desenvolvimento do Fundo Financeiro para o

Desenvolvimento de Recursos Endógenos (agro-alimentar, mar, �oresta e turismo);

b. Dinamização dos Pólos de Competitividade e dos Clusters;c. Desenvolvimento do perímetro de rega do Alqueva.

PROPOSTAS CONCRETAS PARA

SAIRMOS DA CRISE

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HÁ OUTRO CAMINHOAS PESSOAS ESTÃO PRIMEIRO

Adotar uma estratégia realista para diminuição

da dívida e do déficePrecisamos de mais tempo para fazer diferente e não para continuar a mesma política.Assumir uma estratégia realista e credível que possa gerar con�ança.

Renegociação:a) Das condições de ajustamento com metas

e prazos credíveis;b) Do alargamento dos prazos de pagamen-

to de parte da dívida pública;c) Do diferimento do pagamento de juros

dos empréstimos obtidos;d) Dos juros a pagar pelos empréstimos

obtidos;e) Reembolso dos lucros obtidos pelo Banco

Central Europeu pelas operações de compra de dívida soberana (Só para o corrente ano isto representa 3 mil milhões de euros para Portugal).

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as Pessoas estão PriMeiro

Seguro ouve os portugueses de norte a sul Fazer o levantamento dos graves problemas e preocupações dos portugueses e deixar uma mensagem de esperança de que há outro caminho às atuais políticas do Governo são o objetivo da iniciativa “As Pessoas Estão Primeiro”, que está a levar o secretário-geral do PS, António José Seguro, a um périplo pelo país. J.c.c.B.

neste roteiro pelos vários con-celhos do país, que termina a 12 de abril, o líder do Ps está a ouvir as preocupações e an-gústias de uma população que sofre com a política do custe o que custar da coligação de di-reita, desde os jovens, aos ido-sos, passando pelos autarcas, trabalhadores, agentes cultu-rais, empresas e instituições de solidariedade social. no âmbito do programa “as Pessoas estão Primeiro” o se-cretário-geral do Ps, depois de ter visitado diversas empresas em vários pontos do país, te-ve um encontro com empresá-rios, em Castelo branco.“estou aqui para ouvir e escu-tar os vossos anseios e debater convosco como colocar o país a crescer”, começou por afir-mar o líder do Ps, lembran-do que “o principal problema do país é o fraco crescimento económico”.Para seguro, “a forma saudá-vel de reduzir o défice é subs-tituir importações por aumen-to da produção”. e sublinhou que “vivemos um momento difícil, mas o ca-minho é criar riqueza, dando condições às empresas”. Por isso, defendeu, “precisamos de dinamizar a procura interna”.uma das empresas visitadas pelo líder do Ps foi a têxtil eu-rolex, em Carregal do sal, dis-trito de viseu. uma empresa com mais de 200 trabalhado-res, com um volume de negó-cios superior a oito milhões de euros por ano e de grande im-portância para a região, cuja totalidade da produção é para exportação para marcas inter-nacionais de renome. antónio José seguro referiu

que “não falta aos portugue-ses capacidade empresarial e de trabalho, mas tem de haver políticas públicas que estimu-lem ainda mais essa capacida-de, para o país sair da espiral recessiva em que se encontra”.Mais a sul, na amadora, num centro de convívio, seguro também quis ouvir as angús-tias e preocupações dos ido-sos, fustigados de forma par-ticularmente desumana pelas políticas ultraliberais do atual governo. relembrando, mais uma vez, que o “principal pro-blema” do país é o fraco cres-

cimento económico, o secre-tário-geral do Ps voltou a de-fender o aumento das pensões mais baixas por duas ordens de razão: “Para dar um pouco mais de rendimento às pesso-as e também por esta via di-namizar a nossa economia”. também a educação esteve na agenda do secretário-ge-ral, que teve a oportunidade de ouvir as preocupações e de-bater com professores e vários agentes do sistema educativo, numa reunião de trabalho, nu-ma escola da Marinha grande.na ocasião, seguro defendeu que “a escola tem que ser o ga-rante da igualdade, indepen-dentemente do local onde re-side ou dos rendimentos fa-miliares”, acrescentando que “todos os alunos têm que ter as mesmas oportunidades”. destaque também nesta ma-

ratona pelo país, para a deslo-cação do líder socialista a vila real, para verificar “in loco” o cenário desolador da obra pa-rada na autoestrada do Marão há quase 21 meses. “é derreter dinheiro públi-co”, disse, sublinhando que es-ta obra parada “reflete bem a imagem do país que o gover-no está a deixar ao país”.Para seguro, esta é uma obra importante para combater a desertificação, para promover o dinamismo económico e so-cial e para diminuir a sinistra-lidade que existe no iP4.

Portugal precisa de outro PMJá em aveiro, o líder do Ps defendeu que Portugal preci-sa de um outro primeiro-mi-nistro, disposto a renegociar o programa de ajustamento e a apresentar uma nova estra-tégia credível de consolidação das contas públicas.antónio José seguro afirmou que “o país vive à beira de uma rutura social”, sem que o pri-meiro-ministro seja capaz de reconhecer que a sua estraté-gia falhou.“durante os 21 meses de gover-nação, o primeiro-ministro pe-diu aos portugueses pesados sacrifícios e em troca compro-meteu-se a ter um défice orça-mental de 4,5% e uma dívida pública de 113% da riqueza na-cional. terminou 2012 e o défi-ce não foi de 6,6% e a dívida su-

“O país vive à beira da rutura social”

perior a 122%. a execução orça-mental, hoje revelada já quase à noitinha, demonstra que o go-verno não está a fazer a consoli-dação orçamental”, disse.Para antónio José seguro, se os resultados são maus, as con-sequências são dramáticas”, com um milhão de desempre-gados no final do ano, meio mi-lhão dos quais sem apoio social e 40% dos jovens sem trabalho.“este primeiro-ministro me-rece continuar em funções? é este o primeiro-ministro que o país precisa? num momen-to de tantas dificuldades, pre-cisamos de um outro primei-ro-ministro que mobilize, que inspire, que coloque horizon-tes, que dê sentido aos sacri-fícios e saiba conciliar o rigor e a disciplina orçamental, mas dando prioridade aquilo que é o principal problema dos por-

tugueses: o combate ao de-semprego”, declarou.o líder do Ps considerou que Passos Coelho devia reconhe-cer que a sua estratégia fa-lhou, de ter a humildade de pedir desculpa aos portugue-ses e de ter a capacidade para mudar de rumo”, conforme o Ps exigiu durante ano e meio.antónio José seguro salientou que o chefe de governo duran-te todo esse tempo ignorou as várias propostas do Ps, quer nos debates orçamentais, quer em matérias de opção estraté-gica para a consolidação das contas públicas.

Propostas do PS ignoradas“nunca o primeiro-ministro nos quis ouvir e mesmo quan-do, recentemente, o seu minis-tro dos negócios estrangeiros, Paulo Portas, manifestou dis-

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rtPdeSPediMentoS? nÃo, oBriGAdo

a defesa intransigente do serviço público de televisão, e res-petivos postos de trabalho, continua a ser uma das bandeiras do Ps, liderado por antónio José seguro, contra as investidas sucessivas de relvas e Passos contra a rtP. “existem todas as condições” para olhar para a televisão pública sem despedi-mentos, disse o líder socialista, acrescentando estar preocupa-do com a “diminuição da qualidade” do serviço prestado.“gosto de me pronunciar sobre os relatórios depois de os co-nhecer. defendo uma televisão pública em Portugal com qua-lidade e estou preocupado, pois vejo uma diminuição da qua-lidade da prestação do serviço da televisão pública”, disse, à margem de uma visita a uma empresa na Moita, no âmbito do roteiro que está a fazer pelo país sob o lema “Primeiro as Pessoas”.antónio José seguro defendeu ainda que é possível olhar para a televisão pública sem recorrer a despedimentos.“Preocupa-me tudo o que passa por rescisões e o aumento de desemprego no país. existem todas as condições para olhar pa-ra a televisão pública sem que seja necessário o despedimento das pessoas”, disse.

ProGrAMA “AS PeSSoAS eStÃo PriMeiro”

o roteiro de antónio José seguro pelo país foi criteriosamen-te escolhido em função dos graves problemas que afetam cada um dos concelhos visitados. as questões relacionadas com a exclusão social, a saúde, a educação e a indústria, as dificulda-des dos comerciantes e dos empresários, a agricultura, o am-biente e a cultura, constituem algumas das principais matérias em relação às quais o Ps pretende dar ainda maior atenção e, ao mesmo tempo, realçar as deficiências da política governati-va em relação a cada um destes sectores.

3 oBJetivoS

o roteiro do secretário-geral do Ps pelo país, sob o lema “as Pessoas estão Primeiro”, pretende cumprir três objetivos: fazer o levantamento dos graves problemas que afetam a vi-da dos cidadãos;deixar uma mensagem de confiança e esperança no pro-jeto político do Partido socialistadestacar a necessidade de um estudo antecipado de al-guns dos temas da atualidade considerados prioritários na ação de um futuro governo socialista.

ponibilidade para discutir algu-mas das propostas e das medi-das do Ps, cinco dias depois, o primeiro-ministro veio fechar a porta e recusá-las”, acusou.na sua intervenção, antó-nio José seguro justificou as-sim a moção de censura que anunciou, já que o primeiro--ministro “aplica uma receita que não cumpre nenhum ob-jetivo, que aumenta o desem-prego, baixa a economia, in-siste em mais austeridade e não aceita nenhuma propos-ta, que esbanja a oportunida-de de um diálogo político sério e construtivo com o principal partido da oposição e que re-duz aos mínimos o diálogo so-cial”, numa referência ao salá-rio mínimo.“nós neste momento precisa-mos de renegociar as nossas condições de ajustamento, de

ter mais tempo como sempre disse, de pagar menos juros, de diferir o pagamento dos juros da dívida pública. Precisamos de resolver a gestão da nossa dívida pública num contexto europeu e de ter uma nova es-tratégia credível de consolida-ção das contas públicas”, disse antónio José seguro.o líder do Ps salientou que o país já não depende de si pró-prio para sair da crise e preci-sa “que, no seio da união eu-ropeia, se tomem medidas que permitam aliviar a austerida-de e criar um ambiente amigo do crescimento e do desenvol-vimento económico”.“Precisamos de um outro pri-meiro-ministro que cuide de Portugal e das pessoas e que tenha voz na europa para afir-mar Portugal. Para isso é pre-ciso ter coragem e pensamen-

to, ter propostas, ter aliados e bater-se por elas”, disse.no arranque do seu périplo pelo país, o secretário-geral do Ps afirmou em braga que a europa está a ser liderada por “gente egoísta” e que é neces-sária uma “outra europa”, com “competência para resolver os problemas” que cada país não consegue resolver sozinho.no seu roteiro pelo país, se-guro insistiu que o Ps defende uma alternativa credível que devolva a esperança aos por-tugueses e que aposte no cres-cimento da economia portu-guesa, que sustentadamente reequilibre a balança de bens e serviços e reduza as neces-sidades de financiamento ex-terno do país, bem como crie novos postos de trabalho qua-lificados e devidamente remu-nerados. J.c.c.b.

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JoÃo ProençA SECRETÁRIO-GERAL DA UGT

“este Governo é ultraliberal e incompetente”João Proença faz um balanço positivo da sua liderança na UGT e arrasa as políticas do atual Governo, “ultraliberal e cada vez mais incompetente”, que geram desemprego, perda de salários e rendimentos e agravamento da pobreza e exclusão. O sindicalista sublinha ainda que “a matriz ideológica do PS passa pela defesa dos trabalhadores”. J. c. cASteLo BrAnco

Que balanço faz dos seus anos à frente da uGt? Quer destacar alguma grande con-quista para os trabalhado-res alcançada durante a sua liderança?uma liderança que consolidou e reforçou a ugt como central sindical independente dos go-vernos e dos partidos políticos, defensora de um sindicalista de proposição e ação, com base nu-ma politica de coesão e consen-so interno, assente na pluralida-de das opções dos seus membros e com reforço da representativi-dade da ugt.a ugt foi parte activa nas prin-cipais reformas estruturais que

têm sido feitas (segurança so-cial, formação profissional, re-lações de trabalho…), destacan-do a redução do tempo de traba-lho para as 40 horas em 1996 e o maior aumento de sempre do sa-lário mínimo, com base no acor-do tripartido de 2006. acha que este Governo tem apostado no diálogo so-cial como apregoa de vez em quando?o diálogo social está consagrado na Constituição e é parte estru-turante do regime democrático, que tem também que apostar na participação dos cidadãos.este governo tem destruído a

negociação coletiva e não tem ti-do uma aposta clara na concer-tação, a não ser nas matérias la-borais directamente ligadas ao cumprimento do memorando com a troika.

como classificaria este Go-verno em duas palavras?ultraliberal e cada vez mais incompetente.

Quais as principais condições que a uGt coloca para não romper o acordo de concerta-ção social que assinou?o Compromisso tripartido para a Competitividade, Crescimen-to e emprego foi assinado em

Janeiro de 2012, como o acor-do tripartido para a Competiti-vidade e o emprego foi assina-do com o anterior governo. em março de 2011.a denúncia de um acordo é feita quando há desrespeitos graves e existem vantagens claras com o fim do acordo para os trabalha-dores que representamos.

sabendo o que se passou a se-guir ao acordo de concerta-ção social com o Governo vol-taria a assiná-lo? o que se travou com a assinatura?Consideramos que o Compro-misso tripartido foi altamente vantajoso para os trabalhadores,

os empregadores e o país.Com a assinatura travou-se uma maior desregulação laboral, pa-rou-se o aumento do tempo de trabalho e a proposta nefasta da taxa social única; obrigou-se o governo e a troika a negociar matérias importantes do memo-rando; não se alterou, mas con-dicionou-se, a política ultralibe-ral do governo e a submissão à troika.

Qual a posição da uGt so-bre a intenção governamen-tal de reduzir ainda mais as indemnizações em caso de despedimento?infelizmente, é uma matéria

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constante do memorando com a troika de maio de 2011.Para a ugt, é inaceitável reduzir as indemnizações a 12 dias, co-mo rejeitamos totalmente a não simultaneidade com a criação dos Fundos de Compensação do trabalho.

como estão as relações da uGt com a cGtp? Há possibi-lidades de unidade na ação?a unidade na acção desenvolve--se todos os dias nos locais de trabalho, como está a acontecer na taP, em que os sindicatos da ugt têm uma posição relevante.a nível das centrais sindicais, houve duas greves gerais, com governos diferentes, em 2010 e 2011. a unidade futura pres-supõe diálogo e não a tentati-va de impor qualquer tipo de vanguardismo.

Que medidas tem proposto a uGt em sede de concertação social para o combate ao tra-balho precário e falsos reci-bos verdes?tem havido sucessivas propos-tas, sendo de destacar as nego-ciações com o governo socialista que levaram a medidas concre-tas de combate aos falsos reci-bos verdes, ao reforço da atua-ção da inspeção-geral do tra-balho contra as ilegalidades no trabalho temporário, ao direito à segurança social para os estagiá-rios e à regularização da situação dos bolseiros.esta é uma prioridade da actu-ação da ugt, incluindo a nível das políticas ativas de emprego.

Quais as principais malfei-torias que no seu entender o Governo tem feito na área social e laboral?desregulação laboral, destruição da negociação coletiva, perdas de salários e rendimentos, agra-vamento da pobreza e exclusão, num quadro de recessão e au-mento brutal do desemprego.há uma total insensibilidade so-cial, com a cegueira da austerida-de e a total ausência de coorde-nação económica.

não acha que portugal está à beira de uma tragédia so-cial com cerca de um milhão de desempregados e aumen-to das desigualdades?a tragédia já existe com mais de um milhão de desempregados e dois milhões de pobres.o país encontra-se à beira da im-plosão social, crescendo o deses-pero e a insegurança.se não houver responsabilida-de dos agentes políticos e so-ciais e uma mudança muito for-

te das políticas, os efeitos po-dem ser devastadores, com forte desagregação política e social, fenómenos que estão a ocorrer de modo crescente em vários países.

até que ponto está pronta para a luta a uGt quanto aos cortes anunciados nas fun-ções sociais do estado? a ugt tem-se batido fortemen-te na defesa de uma adminis-tração Pública de qualidade, efi-ciente e com a melhor utilização dos recursos disponíveis. bate-mo-nos na defesa do estado so-berano e social. Queremos a con-tinuação da reforma do estado iniciada há vários governos, que deverá assentar em bases que possam ter continuidade por via do diálogo político e social, mas reconhecendo diferentes opções partidárias sobre as Funções e a organização do estado.a ugt esteve e está na primeira linha da luta contra o corte dos quatro mil milhões de euros e re-cusa um pseudodebate condicio-nado por estes cortes.a ugt e os seus sindicatos ba-tem-se em defesa dos trabalha-

dores do sector e da criação de condições para um melhor fun-cionamento da administração.

porque é que esta política do Governo de fazer o ajusta-mento financeiro essencial-mente à custa do factor tra-balho está condenada?os resultados estão à vista, com mais recessão, aumento intole-rável do desemprego e ameaça da espiral recessiva.o governo já não tem credibili-dade no combate ao défice, obje-tivo quase único das suas políti-cas, associado a um ultralibera-lismo inaceitável.tem de haver um aumento de salários, em linha com a produ-

tividade e tendo em conta a in-flação, que provoque a melhoria do mercado interno e a criação de emprego.

a uGt está disponível para endurecer a luta no comba-te à política constante deste Governo de cortes nos salá-rios e rendimentos, de polí-ticas que aumenta exponen-cialmente o desemprego e cortes no estado social?a ugt está a endurecer a sua luta, o que não significa que passe para a irresponsabilidade da luta pela luta.respeitamos o estado demo-crático, que passa pelo voto do povo e pelo funcionamento das instituições no quadro consti-tucional, mas também é funda-mental que não exista um cres-cente e insustentável afasta-mento dos cidadãos face ao não respeito pelos compromissos eleitorais por parte do governo.

o Governo anunciou mais um despedimento coleti-vo de funcionários públi-cos. Qual vai ser a resposta da uGt?

totalmente contra esta medida, que é o início encapotado de um processo de despedimento co-lectivo. é um processo de des-credibilização e agressão aos trabalhadores da administra-ção Pública.as rescisões amigáveis em nada contribuem no curto prazo pa-ra a redução do défice e vão ter um efeito negativo no funciona-mento da administração Públi-ca, com efeito directo no aumen-to do desemprego. é inaceitável falar em trabalhadores a mais sem estudos sérios, incluindo nas áreas em que há trabalhado-res a menos. há escolas a funcio-nar mal por falta de pessoal ad-ministrativo e auxiliar, com sé-

rios riscos para as crianças.em 2012 o número de trabalha-dores da administração Pública decresceu de 4,6%, contra uma previsão de 2%. em 2013 va-mos no mesmo caminho, como o mostra o pedido de reformas entrados em dezembro passa-do. isto já está a causar sérios problemas na qualidade e efici-ência dos serviços públicos.

Quais os principais desafios que se colocam ao sindica-lismo nestes tempos difíceis marcados pela hegemonia do neoliberalismo e do pen-samento único?uma política a nível nacional, europeu e mundial, nos ter-mos que vêm sendo definidos pela Confederação europeia de sindicatos e pela Confederação sindical internacional, em que a ugt está filiada, e que defen-de mais europa, mais dimensão social e uma globalização justa.a nível nacional, os desafios passam por defender a demo-cracia política, credibilizar as instituições e os seus agentes, lutar por um país onde exista regulação económica e social,

justiça e solidariedade. Passam também pelo aumento da sindi-calização, sobretudo dos jovens e dos precários, reforçando as-sim a representatividade. exi-gem um movimento sindical ca-da vez mais atento aos desem-pregados, aos reformados e aos jovens.o movimento sindical deve ser parte integrante de um amplo movimento social que, com en-volvimento dos agentes políti-cos, económicos e sociais, mas sem tutelas partidárias, comba-ta um ultraliberalismo que de-fende os grandes interesses eco-nómicos e financeiros.

Que apreciação faz da ação

de antónio José seguro, no-meadamente na atenção que tem dedicado à defesa dos trabalhadores?uma ação muito positiva, num momento muito difícil para o País e também com uma con-juntura partidária marcada pe-la maior derrota eleitoral de sempre.o país precisa de uma alternati-va de governo e essa passa obri-gatoriamente pelo Ps, com uma política que se preocupe com os desempregados e os mais desfa-vorecidos, num quadro de de-senvolvimento económico e social.

não acha que um partido so-cialista deve sempre, sem rodeios, reclamar como seu adn a defesa dos trabalha-dores? não acha que isso co-meçou a ser um pouco posto em causa um pouco por to-da a europa desde os tem-pos do sr. blair e da sua ter-ceira via?a matriz ideológica do Ps passa pela defesa dos trabalhadores, sendo importantes as posições que vêm sendo assumidas na

procura de uma linha de actua-ção forte a nível da internacio-nal socialista e do Partido so-cialista europeu, na diversidade das situações nacionais.o falhanço de blair e da tercei-ra via traduz o falhanço de polí-ticas liberais, subordinadas aos mercados financeiros, que igno-ram o papel fundamental do di-álogo social e dos sindicatos.

Qual o seu futuro pós-uGt? política ativa?Continuar a trabalhar na defe-sa dos trabalhadores, não tendo qualquer cargo sindical.a política ativa é fortemente apelativa, neste momento difí-cil para os portugueses.

“Este Governo tem destruído a negociação coletiva”

“UGT está na primeira linha da luta contra a privatização da RTP”

“O país encontra-se à beira da implosão social”

“O falhanço de Blair e da Terceira Via traduz o falhanço da políticas liberais, subordinadas aos mercados financeiros, que ignoram o papel fundamental do diálogo social e dos sindicatos”

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10 AcoMPAnhe-noS no FAceBooK SEDENACIONALPARTIDOSOCIALISTAAcoMPAnhe-noS no FAceBooK SEDENACIONALPARTIDOSOCIALISTA

“esta política de terra queimada destrói sonhos e famílias”Socialista e feminista comprometida com o fim do feminismo, Florbela Fernandes critica veementemente o Executivo de direita pela exclusão das políticas de promoção da igualdade de género e da paridade da actividade governativa. Preocupada com o drama do desemprego e da falta de esperança, a presidente do Departamento Federativo de Mulheres de Évora acredita na vitória do PS nas próximas eleições autárquicas. MArY rodriGueS

promover a mudança foi o desafio que lançou aquan-do da apresentação da sua candidatura à presidência do departamento federati-vo. o que é que até agora foi possível mudar?Quando decidi candidatar-me, duas questões se me colocaram: para que serve o departamen-to? o que é que eu podia fazer para que o departamento pas-sasse a ter uma identidade e mais credibilidade e reconheci-mento, junto das e dos militan-tes do Ps-évora e da comunida-de em geral? a Moção “um pro-jeto de mudança participado”, com a qual eu e a minha equipa nos apresentámos às mulheres socialistas de évora, respondeu a essas questões. Muita coisa já conseguimos mudar. hoje, pos-so afirmar que temos em évora um departamento Federativo reconhecido por todos os órgãos do Partido socialista e pela gene-ralidade dos militantes. temos um departamento que reúne os seus órgãos regularmente, que promoveu a representatividade territorial na constituição dos órgãos e que sustentou e susten-ta as escolhas que fez e que faz, na competência, na diversidade técnica e profissional e na inte-gração de diferentes perspetivas políticas das mulheres socialis-tas de évora.

para a reputada escritora chilena isabel allende, “ser feminista continua a ser de-fender a maioria silencio-sa das mulheres, ajudá-las a se libertarem e a adquirir os seus direitos”. pode dizer-se que a florbela é feminista?sim, sem dúvida. se calhar to-das, ou quase todas, somos fe-ministas, porque ser feminista é ser justa, solidária e democrata.ser feminista fará sempre sen-

tido enquanto existir um local no mundo onde as mulheres não possam viver plenamente o exercício da cidadania e existam lutas a travar nos campos dos direitos humanos, democráti-cos e cívicos. se, no primeiro campo se combate a agressão, a violência, a opressão, a escravi-dão e tantos outros crimes he-diondos, onde se luta contra o medo que silencia; no segundo, temos a garantia de que não ha-verá democracia efetiva, nem avanços concretos na constru-ção da igualdade de direitos en-tre homens e mulheres enquan-to não for garantida a partici-pação das mulheres, de forma paritária, em todos os espaços e instâncias de poder. Já no ter-ceiro campo de batalha, a as-sunção plena e constante de di-reitos e deveres, de escolhas e recusas, de liberdades e garan-tias e de voz, por cada mulher, nada mais será do que a vitória da justiça social e, claro, o fim do feminismo!

de que forma tem contribuí-do este departamento fede-rativo para dar voz e força à maioria silenciosa de mulhe-res de Évora?através da promoção da capa-citação das mulheres socialis-tas, realizando formação polí-tica, motivando-as a intervir, a opinar, nos órgãos concelhios e federativos. Mas também pro-movendo a sua participação noutros fóruns nacionais, di-versificando oportunidades de participação e não centralizan-do. apostando também na es-colha pela competência e capa-cidade de cada uma, e, assim, concorrendo para a construção da confiança de todos em cada escolha, e da credibilização do departamento como estrutura útil e de valor acrescentado pa-

ra os restantes órgãos do parti-do. Mas não queremos ficar por aqui. também queremos levar outras mulheres a participar e, por isso, integrei um projeto conjunto com Patrícia gomes da silva e que não é mais do que um espaço para dar voz às mu-lheres. trata-se de um progra-ma de rádio – “Conversas Caro-linas” — em homenagem a Ca-rolina beatriz Ângelo, médica e feminista, a primeira mulher portuguesa a votar, ou seja, a opinar, a participar na “coisa pública”, no longínquo ano de 1911 — onde, todas as sema-nas, temos à conversa mulheres “Carolinas” sobre vários temas.

Quais os projetos de curto e médio prazos que estão a de-senvolver as mulheres socia-listas de Évora?neste momento estamos dema-siado envolvidas no projeto au-tárquico. estamos a preparar, juntamente com a federação li-derada pelo camarada bravo ni-co, um plano de formação polí-tica que visa disponibilizar in-formação técnica e jurídica aos novos candidatos autárquicos pelo Partido socialista, disponi-bilizando-lhes uma ferramenta de conhecimento que os capaci-tará, ainda mais, para o exercí-cio das suas funções de autarcas.naturalmente que também o atual contexto de eleições inter-nas para o departamento na-cional das Mulheres socialis-tas e para secretário-geral do Ps ocupam algum do nosso tempo.

o desemprego trouxe novas realidades para dentro das casas das famílias portugue-sas. o que a preocupa no ca-so particular de Évora?o milhão de portugueses de-sempregados que existem no nosso país é o pior flagelo social

com que nos defrontamos atu-almente e é, simultaneamente, o maior e mais sério desafio po-lítico que se coloca ao Partido socialista.no caso concreto de évora, preocupa-me o aumento do número de casais desempre-gados e a falta de esperança. ao contrário do que diz o pri-meiro-ministro, o desempre-go não é uma oportunidade porque ele não resulta de uma opção ou não está enquadra-do num contexto de esperança e de confiança, na procura de uma vida melhor. este desem-prego assusta, destrói e depri-me! Preocupa-me também a re-dução dos apoios sociais quan-do eles são mais necessários e a destruição da rede de qualifica-ção e de capacitação que esta-va montada, através dos Cno’s e dos cursos eFa’s, em troca de um rotundo “nada”.

estatísticas europeias reve-laram recentemente que a crise agrava a violência con-tra as mulheres e o tráfico de mulheres, bem como a pros-tituição. o que tem a dizer sobre isso?Que estes dados não me surpre-endem. as estatísticas podem não servir para nada, ou me-lhor, para resolver nada, mas para uma coisa elas servem: pa-ra demonstrar aos mais prag-máticos ou céticos aquilo que para os mais intuitivos são fac-tos. digo que não servem para nada como mera provocação, porque sou muito mais intuiti-va do que cética e porque as es-tatísticas, só por si, não obri-gam ninguém a agir! veja-se o atual governo! Contudo, reco-nheço que agitam consciências e que, quando alguém quer efe-tivamente agir, ajudam a fun-damentar essa ação.

como classifica a ação go-vernativa da direita no que diz respeito às questões de igualdade de género e paridade?não se consegue classificar o que não existe e estes são temas que não fazem parte da ativi-dade deste governo, para além do que são as obrigações comu-nitárias a que estamos sujei-tos enquanto estado-membro da união europeia. a igualda-de de género e a paridade não entram numa agenda políti-ca na sequência da qual se está a retroceder ao nível dos direi-tos basilares, que eram, até há bem pouco tempo, considera-dos pela generalidade dos por-tugueses como adquiridos, con-solidados e inalienáveis, numa sociedade democrática e jus-ta. direitos civilizacionais co-mo estes, que saíam da esfera do elementar, não existem no atual quadro governativo, onde estamos a retroceder no mais básico, o que nos deve preocu-par, e muito! estamos efetiva-mente a assistir a um retroces-so civilizacional!

com a proximidade do com-bate autárquico, espera ver reforçada a presença do ps no panorama alentejano?Claro que sim. luto por isso to-dos os dias. não tenho qualquer dúvida que o Ps é e será a prin-cipal força política no alentejo.no que respeita ao departa-mento Federativo das Mulhe-res socialistas, tudo estamos a fazer para que assim seja, con-versando com as estruturas lo-cais, com os candidatos já co-nhecidos, com a federação e com a Js, pois acreditamos que esse projeto só sairá vencedor se contar com a nossa partici-pação, na construção das me-lhores soluções.

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“Definir medidas pró-activas e positivas para combater as desigualdades de género é uma urgência, e a crise não pode servir de desculpa para se desinvestir na Igualdade”

diA internAcionAL dA MuLher

elza Pais

Na Assembleia da República este ano as comemorações do Dia Internacional da Mulher organizaram-se em torno de várias

iniciativas sob propostas da Subcomissão da Igualdade, à qual te-nho a honra de presidir.Além dos habituais discursos em plenário onde a palavra dos polí-ticos assumiu a expressão do muito que já foi feito, mas também dos obstáculos ainda a vencer para se garantir o princípio cons-titucional da igualdade entre mulheres homens, houve espaço momentos de poesia, discussão de filmes e exposição de obras de arte protagonizadas por mulheres: Ana Vidigal, Susana Ale-xandre, Carmo Pólvora e Fernanda Birrento estiverem connosco; discutiu-se o filme - “A costa dos murmúrios” realizado por Mar-garida Cardoso, com Irene Pimentel e Manuel Lisboa; São José Lapa disse poesia de Natália Correia; organizou-se uma visita à iconografia feminina do plenário e foi lançada a peça do mês pelo Museu da AR – busto de Natália Correia. Dar visibilidade ao trabalho artístico de mulheres foi o nosso ob-jectivo, também como forma de denunciar os tempos em que as mulheres assinavam com pseudónimo masculino para poderem ver publicados os seus livros e expostas as suas obras de arte.A desigualdade entre homens e mulheres não é uma fatalidade, pode ser combatida com mudanças de mentalidade e com medi-das de políticas que derrubem os desequilíbrios de género cultu-ralmente instalados. As mulheres não precisam de favores, nem de esmolas, precisam, sim, de ver garantido o direito constitucio-nal à igualdade e não discriminação.Aproveitámos o dia para denunciar ainda o terrível impacto da cri-se económica e financeira sobre todas as pessoas, mas ainda mais sobre as mulheres, uma vez que a feminização do desemprego e a precariedade laboral são uma realidade que tende a agravar-se todos os dias.Por tudo isto, definir medidas pró-activas e positivas para comba-ter as desigualdades de género é uma urgência, e a crise não pode servir de desculpa para se desinvestir na igualdade, porque pro-mover a igualdade é promover a justiça social, o desenvolvimento e a competitividade.O GP PS apresentou um projecto-lei para reforçar o papel das ONG na promoção da igualdade de género e não discriminação, uma vez que apostar na sociedade civil constituiu a possibilidade de se sair da crise através da cidadania, da proximidade e da co-esão social.As pessoas contam, e sem elas não há democracia que cumpra a esperança de homens e mulheres puderem ser felizes e ter uma vida com direitos, responsabilidade e dignidade.

união interParlaMentarrosa Albernaz defende fim da violência sobre as mulheresa deputada socialista rosa Ma-ria albernaz, representante de Portugal na uiP (união inter-parlamentar), esteve presente na 57.ª sessão das nações uni-das, que decorreu em nova ior-que, de 4 a 8 de Março.na agenda da sessão estiveram em debate os seguintes temas: estratégias parlamentares pa-ra combater a violência con-tra mulheres e povos; e evolu-ção das mulheres na política, as últimas tendências e parece-rias para combater a violência doméstica. na intervenção que efetuou nas nações unidas, a deputada rosa albernaz considerou que a violência doméstica percorre as sociedades como um todo. embora a violência domésti-ca afete principalmente e de forma mais aguda as mulhe-res, rosa albernaz referiu que existe também violência sobre crianças, jovens e idosos, pes-

soas com necessidades espe-ciais, bem como sobre os pró-prios homens. rosa albernaz debruçou-se também sobre a temática da agressão a crianças e jovens que foram obrigados a aban-donar os estudos prematura-mente, forçando-os a irem para o mercado de trabalho, e abor-dou os casamentos entre me-nores, combinados por pais e tutores, que obrigam aqueles a iniciarem prematuramente a

vida adulta, sem possibilidade real de escolha do seu futuro. a deputada socialista salien-tou ainda o esforço, que, na sua opinião, deve ser posto no cumprimento dos objectivos positivos “desenvolvimento do Milenium”, particularmen-te o da erradicação da pobre-za extrema e da fome, possibi-litando-se assim a construção da democracia com mais justi-ça, mais igualdade e sobretudo muito menos violência.

dia internaCional da Mulher

Paridade para além da criseo departamento nacional das Mulheres socialistas (dnMs) assinalou este ano o 8 de mar-ço com “uma mensagem de in-conformismo, resistência e in-dignação face à situação que o país atravessa”, na qual de-fende a prossecução de uma “agenda de progresso” e, no quadro da estratégia autárqui-ca, lança o repto de cumprir as regras da paridade para além das excepções legais.no texto da mensagem envia-da por correio electrónico no dia da Mulher, a presidente do dnMs, Catarina Marceli-no, sublinha que a atual con-juntura do país “leva a classe média para o limite dos limi-tes da sua subsistência” e au-menta “o descrédito na políti-ca e nos políticos”, retirando a igualdade da agenda política e mediática.após lembrar que o Partido socialista tem, nesta maté-ria, “um legado de que se de-ve orgulhar e que deve afirmar todos os dias” (lei da Parida-de, lei da violência domés-tica, despenalização do abor-to, casamento entre pessoas do mesmo sexo, novas regras na licença parental, lei do di-vórcio…), a líder das mulheres

socialistas reforça a convicção de que “a estratégia para aca-bar com a crise passa, intran-sigentemente, pela agenda do desenvolvimento, sendo que o progresso e os direitos huma-nos são sempre oportunos, in-dependentemente da conjun-tura económica dos países”.a agenda do progresso traduz--se, explica, “na agenda do re-forço de políticas públicas de apoio às famílias”.na mensagem, a presidente do dnMs considera essencial “a afirmação da nossa iden-tidade enquanto partido da igualdade e da liberdade, que honra os valores da sua ma-triz ideológica, que honra o seu legado histórico e políti-

co, que afirma a sua identida-de no séc. XXi”.segundo Catarina Marcelino, “esta agenda é também central na estratégia autárquica” pa-ra o próximo mês de outubro, “que tem de passar pela intro-dução da dimensão da igual-dade de género nos programas eleitorais”, mas, não menos importante, “tem que afirmar a paridade nas listas e cumprir as regras da paridade, mesmo nos concelhos e freguesias que a lei exceciona”.refira-se que no passado 8 de março muitas foram as inicia-tivas que assinalaram o dia da Mulher nos diferentes depar-tamentos federativos de mu-lheres socialistas. M.r.

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12 SiGA-noS no tWitter @PSOCIALISTASiGA-noS no tWitter @PSOCIALISTA

o que representa para si ser candidato à câmara de bra-ga rendendo um dos autar-cas-modelo do ps?ser candidato à Câmara Muni-cipal de braga representa, an-tes de mais nada, um enorme orgulho. representa, também, uma grande responsabilida-de que balizo a dois níveis. Pri-meiro, por tudo aquilo que sig-nifica, hoje gerir os destinos de uma cidade, de um concelho co-mo braga e corresponder atra-vés de políticas públicas aos an-seios e às necessidades dos bra-carenses. Por outro lado, tal como diz, pela necessidade de estar à altura do exemplo de boa gestão e de superior governação que Mesquita Machado foi ca-paz de protagonizar.

sendo o seu distrito dos mais penalizados pelo desempre-go, que medidas estão ao seu alcance, enquanto autarca, que sejam capazes de mini-mizar este fenómeno?o desemprego é a maior chaga social do nosso tempo e atingiu proporções dramáticas no dis-trito. neste quadro, é necessá-rio que o município assuma um papel de coordenação que in-tegre todas as instituições do concelho. só desta forma se-

rá possível alavancar projetos sustentáveis na área do empre-endedorismo social, valorizan-do e qualificando todos os ati-vos já existentes. Por sabermos que se trata de uma área central nas preocupações das pessoas esta temática será alvo de uma abordagem muito concreta no programa que iremos apresen-tar aos bracarenses.

numa entrevista a um jornal da sua região prometeu lu-tar contra a criação de novos mega agrupamentos escola-res. Quer explicar o que o le-va a assumir esta posição?no meu entender, a lógica dos mega agrupamentos escolares é errada. assenta os seus pressu-postos, apenas, na tendência de racionalização económica e de austeridade que o governo tem colocado em tudo e que nos tem trazido a este beco sem saída. tal facto é ainda mais grave por estarmos a falar da educação, o maior motor de progresso e de evolução de qualquer país ou comunidade. os mega agrupa-mentos não têm qualquer estu-do que sustentem a sua imple-mentação pelo que prejudicarão de forma transversal, a qualida-de da nossa escola pública. im-porta realçar que se prevê um

novo conjunto de transferên-cias de competências para as autarquias locais em matéria de educação, o que faria supor um quadro de diálogo do governo com as autarquias locais o que infelizmente não está a suceder.

braga é dos concelhos com maiores potencialidades tu-rísticas do país. o que pensa introduzir neste sector, ca-so seja eleito, que contribua para valorizar a sua cidade?braga tem, de facto, um enorme

potencial turístico. grande par-te desse potencial assenta, so-bretudo, numa enorme rique-za etnográfica, patrimonial, re-ligiosa e de costumes. no meu entender há áreas onde deve-mos apostar forte. assim, pa-rece-me importante incremen-tar a aposta no turismo religio-so, impulsionando a promoção material e imaterial de todas as nossas potencialidades de tra-dição religiosa com particular incidência no mercado da ga-liza. decisivo é, também, dina-mizar no mercado internacio-nal o turismo de negócios com a marca recentemente lançada do “braga Congresso” tirando partido do enquadramento geo-gráfico favorável do nosso con-celho, da proximidade de um

aeroporto internacional de re-ferência e das companhias low cost que com ele operam. além disso, dispormos de uma ofer-ta hoteleira e de restauração extremamente qualificada que pratica preços extremamente competitivos o que faz com que braga será, cada vez mais, um destino a ter em conta.

este Governo será porven-tura, desde o 25 de abril de 1974, o que mais tem fomen-tado a degradação económi-

ca e social no país. em sua opinião, as propostas do ps, nomeadamente em relação ao ajustamento económico, estão a chegar à população portuguesa?o atual governo tem-se revela-do um autêntico desastre. os re-sultados da sétima avaliação da troika puseram a nu, de uma vez por todas, aquilo que o Partido socialista vem dizendo há mais de um ano e meio. não é possível consolidar as contas públicas de um país e solver os nossos com-promissos sem crescimento eco-nómico. é, de todo, impossível. Qualquer aluno de economia na primavera dos seus estudos su-periores seria capaz de chegar a esta conclusão. infelizmente pa-ra Portugal e para os portugue-

ses o ministro das Finanças e o primeiro-ministro parecem não perceber e continuam a sua cru-zada pela austeridade que tem mergulhado o país num cená-rio de retrocesso social e huma-no indigno de uma democracia consolidada. Perante este cená-rio e tendo o Ps e o seu secretá-rio-geral alertado muitas vezes que este não poderia ser o cami-nho, que esta receita nos traria a este buraco sem fundo, serão cada vez mais, não tenho dúvi-das, os portugueses a percebe-rem a urgência de Portugal em-preender políticas viradas para o crescimento económico e para a criação de emprego e a aproxi-marem-se, por isso, da linha po-lítica que o Ps vem sistematica-mente defendendo e afirmando como alternativa ao atual go-verno.

vítor sousa Candidato à CÂMara de braga

“esta governação tem-se revelado um desastre”Candidato socialista à Câmara de Braga, Vítor Sousa não tem dúvidas que o país atravessa um dos piores períodos da sua história, quer do ponto de vista económico, quer social. Culpa o Governo pela enorme incapacidade para resolver os problemas dos portugueses, lembrando que não é possível, tal como o PS vem defendendo há ano e meio, consolidar as contas públicas de um país e solver os seus compromissos sem crescimento económico. rui SoLAno de ALMeidA

“O desemprego é a maior chaga social do nosso tempo, tendo atingido proporções dramáticas no distrito e no concelho de Braga”

PerFiLVíTOR DE SOUSA, vice--presidente da Câmara Mu-nicipal de Braga, é natural de Angola, Lunda Norte. Entre 1997 a 2009 exerceu o cargo de presidente do Conselho de Administração dos Transportes Urbanos de Braga. Foi diretor da rá-dio Antena Minho de 1989 a 2006 e presidente do Con-selho de Administração do jornal “Correio do Minho” entre 1983 a 1996. Exerceu ainda o cargo de presidente do Conselho de Administra-ção do Parque de Exposi-ções de Braga em 2009.

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a estrutura económica do cadaval baseia-se no sec-tor primário. Quando se fala tanto em exportações, que contributo dá o seu municí-pio para a venda de produtos agrícolas portugueses para o estrangeiro?o Cadaval já é um concelho que exporta uma parcela importan-te da sua produção agrícola, no-meadamente pera rocha e tam-bém algum vinho.sendo um dos principais pro-dutores de pera rocha e conti-nuando os nossos agricultores a apostar fortemente nesta pro-dução é previsível que esse con-tributo possa vir a aumentar nos próximos anos. o municí-pio pode e deve apoiar a divul-gação do produto nos mercados externos, assumindo o papel de parceiro das nossas organiza-ções de produtores.

um concelho que apoia a sua economia principalmente no sector primário não es-tará condenado a prazo à desertificação?não, se existir uma aposta for-te na estrutura de apoio à pro-dução agrícola que envolva os diversos agentes económicos e que lhes permita condições de criação e manutenção de emprego.

a esse nível o que me preocupa seriamente é a política do go-verno de encerramento cego de serviços públicos, essa sim potencialmente causadora de desertificação.

sendo o cadaval um municí-pio administrado pela direi-ta, que críticas tem a apon-tar à gestão do psd?uma gestão que se tem caracte-rizado pela ausência de planea-mento a todos os níveis que se traduziu, por exemplo, por in-tervenções em escolas que pou-co tempo depois encerraram, por construção de infraestru-turas desadequadas, pela di-mensão, às realidades do con-celho e cuja manutenção obriga agora a um esforço financeiro tremendo.tem-se caracterizado tam-bém pelo tratamento desigual prestado às diferentes fregue-sias, com evidente prejuízo das que são lideradas pelo Partido socialista.Foram gastos muitos milhares de euros em diversos estudos cujos resultados práticos nun-ca se fizeram sentir. o concelho não se desenvolveu como um todo, de forma sustentável.

como pensa inverter a po-lítica autárquica até aqui

seguida, caso seja eleito presidente?Com uma política de gestão in-tegrada em que o território se-rá encarado como um todo em que as pessoas estarão em pri-meiro lugar.a nossa intervenção será dire-cionada para a resolução dos problemas dos munícipes, com uma forte aposta na educação.iremos também apostar nas qualidades únicas da serra do Montejunto, promovendo a sua ‘utilização´ como forma de dar a conhecer o Cadaval e potenciar os benefícios que daí podem re-sultar para todos.adotaremos em relação às ques-tões sociais, uma atitude proac-tiva em lugar da atual atitude reativa.outra das nossas estratégias passa por uma melhor atenção e acesso de todos aos cuidados de saúde, seja pela construção do novo centro de saúde, pe-la criação de uma rede presta-dora de cuidados, seja pelo es-tabelecimento de parceiras com as instituições que garantem a prestação e o acesso aos cuida-dos médicos.Queremos que a nossa ação per-mita que a câmara contribua de forma decisiva para a valoriza-ção do concelho, criando condi-ções para que todos os cadava-

lenses continuem a sentir que vale a pena apostar neste espa-ço como local para a constru-ção de um projeto de vida de qualidade.

portugal estará à beira de uma catástrofe social, como todos os dados económicos apontam. esta máxima de-ve ser apenas encarada co-mo uma metáfora, ou ela é verdadeira?infelizmente é verdadeira e vai obrigar-nos a estar muito aten-tos no sentido de podermos assegurar, no seio das nossas competências, a dignidade ne-cessária e imprescindível à vida humana.

em pouco mais de ano e meio o executivo de passos coelho conduziu o país à maior re-cessão económica de que há memória. É ainda possível inverter este panorama com a atual maioria?não acredito que isso aconte-ça. a absoluta intolerância que este governo tem demonstra-

do o desrespeito pelas condi-ções de vida dos portugueses, a fixação ‘cega’ nos números, por mais sem resultados, não dei-xam margem para acreditamos em inversão da sua política e, sem ela, a atual situação não se inverterá.

dinis acácio Candidato à CÂMara do Cadaval

“Preocupa-meo encerramento cego de serviços públicos”Para o candidato do PS à Câmara do Cadaval, Dinis Acácio diz que um dos principais obstáculos com que o município se depara está diretamente ligado à política do Governo de encerramento cego de serviços públicos. Crítica que estende à liderança do PSD na autarquia, que acusa de desenvolver uma gestão que se caracteriza pela ausência de planeamento a todos os níveis, garantindo que com o PS haverá uma preocupação na valorização do concelho e na qualidade de vida dos seus habitantes. rui SoLAno de ALMeidA

PerFiLDINIS ACáCIO NOBRE DUARTE é licenciado em Economia pelo Instituto Su-perior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa, com especialização em planeamento regional e urbano. Foi técnico res-ponsável pela avaliação e acompanhamento do fi-nanciamento de projetos agroindustriais no IFADAP de Caldas da Rainha. Desde 2005 vereador, na oposição, da Câmara Municipal do Cadaval. É presidente da Comissão Politica Concelhia do Partido Socialista.

“A Câmara do Cadaval, gerida pela direita, tem-se caracterizado pela total ausência de planeamento a todos os níveis”

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Amor, Pobreza e GuerraChristopher Hichens

as melhores peças jor-nalísticas do polémico Chistopher hitchens das últimas duas dé-

cadas encontram-se compiladas neste li-vro inspirado num antigo provérbio segun-do o qual a vida de um homem não estará completa até conhecer o amor, a pobreza e a guerra.nesta obra de 2004, hitchens leva-nos, pois, do seu amor pela literatura, às suas viagens e encontros na américa profunda, e dali aos horrores da guerra no Médio oriente, até à queda das torres gémeas.Com a impaciência e clareza como mar-cas distintivas da sua escrita, o autor par-tilha com os leitores algumas reflexões e descobertas sobre o confuso mundo contemporâneo.

AcoMPAnhe-noS no FAceBooK SEDENACIONALPARTIDOSOCIALISTAAcoMPAnhe-noS no FAceBooK SEDENACIONALPARTIDOSOCIALISTA

UM LIVRO POR SEMANASUGESTõES DE iSABeL MoreirA

deputados socialistas preocupados com pescadores de arte xâvega

a exigência dos parlamenta-res do Ps surge na sequência das declarações do secretário de estado do Mar, Manuel Pin-to de abreu, a propósito da pes-ca e consumo de “jaquinzinhos” em Portugal, no quadro de uma campanha de pesca sustentável que o executivo de direita pre-tende lançar.Para os parlamentares socia-listas, as palavras de Pinto de abreu revelaram uma “enorme contradição política” que não cabe na anunciada intenção do governo de ajudar as campa-nhas de pescadores da arte xá-vega a preservar os seus postos de trabalho e a desconstruir al-guns falsos preconceitos asso-ciados a este tipo de pesca.segundo clarificou a deputa-da rosa albernaz, o executivo de direita “não pode ludibriar os pescadores com a criação de

uma comissão mista de acom-panhamento com vista a encon-trar soluções para os desafios deste tipo de pesca” e, ao mes-mo tempo, anunciar pela voz do secretário de estado uma “cam-panha de condicionamento da discussão” dessa mesma comis-são que “nunca reuniu até ao dia de hoje”.refira-se que os deputados do Ps entregaram recentemente um projeto de resolução na as-sembleia da república sobre esta matéria, no qual recomendam, entre outras questões, o desen-volvimento de uma ampla cam-panha de comunicação e sensi-bilização para a preservação e valorização da arte xávega, no-meadamente junto das autori-dades competentes para o licen-ciamento e fiscalização da comu-nidade piscatória e da população em geral.

este projeto, conforme adiantou rosa albernaz ao “acção socialis-ta”, baixou já à Comissão de agri-cultura e Mar, onde começará a ser discutido em breve com vista a alcançar-se um acordo para mo-dificar a regulamentação relativa

ao tamanho do pescado.a deputada lembrou ainda que a união europeia estabelece um regime excecional para técnicas de pesca específicas da noruega e Países baixos.assim, em Portugal temos que

pensar também nas muitas fa-mílias de pescadores que estão a ser afetadas por falsos precon-ceitos sobre a arte xâvega e em risco de perderem o seu meio de sustento. M.r.

história da união europeiaNuno Valério

esta é uma obra muito documentada e exaus-tiva, de grande atua-lidade, incontornável para compreender o es-

paço europeu e todos os aspetos da sua arti-culação e protagonismo mundial.no livro da autoria de nuno valério, o pro-cesso de integração europeia é analisado em grande profundidade desde longínquos an-tecedentes históricos até aos mais recentes, já no século XX, a partir do pós-guerra.as várias fases do processo de integração são aqui perspectivadas até à efectiva exis-tência da união europeia, com a entrada em vigor do tratado de Maastricht.a terceira parte do livro ocupa-se da evolu-ção mais recente e das perspectivas para o futuro da união europeia no século XXi.

A história da PideIrene Pimentel

ao longo de quase seis anos, a historiadora irene Pimentel inves-tigou detalhadamen-te os arquivos da Pide

depositados na torre do tombo. o resulta-do desse trabalho foi uma tese de doutora-mento, que surgiu depois editado em livro, com a chancela do Círculo de leitores e da temas e debates.tendo vivido o tempo da Pide, a autora procurou perceber melhor para ajudar a eli-minar os mitos e ver como funcionava es-ta organização, afirmando que o que mais a surpreendeu nesta investigação foi a quanti-dade de informadores com que a antiga polí-cia política podia contar.“a história da Pide” é, assim, um documen-to único e inédito que revela segredos, moti-vações e métodos de trabalho da polícia po-lítica do estado novo.

direitos SociaisJorge Reis Novais

este trabalho sobre os direitos sociais en-quanto direitos funda-mentais assinado por pelo professor univer-

sitário e doutorado em direito Jorge reis novais foi editado, em 2010, pela Coimbra editora, estando orientado, segundo subli-nha o próprio autor, para a construção de uma teoria jurídico-constitucional dos direi-tos sociais.Para reis novais, este livro “não é menos uma teoria de direitos fundamentais”, na medida em que o desenvolvimento de qual-quer das duas teses consideradas faz deste trabalho “um esforço de desenvolvimento de uma dogmática unitária e abrangente de direitos fundamentais”.no entanto, garante, o livro “atende devida-mente aos diversos factores de diferenciação que influenciam a sua realização prática."

Os deputados socialistas Rosa Maria Albernaz, eleita por Aveiro, João Paulo Pedrosa, eleito por Leiria, e Rui Duarte, eleito por Coimbra, membros da Comissão de Agricultura e Mar, exigem à ministra da Agricultura uma “explicação clara” sobre a posição do Governo em relação à pesca da arte xávega.

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O POEMA DA VIDA DE... iSABeL SAntoS

"vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces

estendendo-me os braços, e segurosde que seria bom que eu os ouvisseQuando me dizem: "vem por aqui!"eu olho-os com olhos lassos,(há, nos olhos meus, ironias e cansaços)e cruzo os braços,e nunca vou por ali...a minha glória é esta:Criar desumanidades!não acompanhar ninguém.— Que eu vivo com o mesmo sem-vontadeCom que rasguei o ventre à minha mãenão, não vou por aí! só vou por ondeMe levam meus próprios passos...se ao que busco saber nenhum de vós respondePor que me repetis: "vem por aqui!"?Prefiro escorregar nos becos lamacentos,redemoinhar aos ventos,Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,a ir por aí...se vim ao mundo, foisó para desflorar florestas virgens,e desenhar meus próprios pés na areia

inexplorada!o mais que faço não vale nada.Como, pois, sereis vós

Que me dareis impulsos, ferramentas e coragemPara eu derrubar os meus obstáculos?...Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,e vós amais o que é fácil!eu amo o longe e a Miragem,amo os abismos, as torrentes, os desertos...ide! tendes estradas,tendes jardins, tendes canteiros,tendes pátria, tendes tetos,e tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...eu tenho a minha loucura !levanto-a, como um facho, a arder na noite

escura,e sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...deus e o diabo é que guiam, mais ninguém!todos tiveram pai, todos tiveram mãe;Mas eu, que nunca principio nem acabo,nasci do amor que há entre deus e o diabo.ah, que ninguém me dê piedosas intenções,ninguém me peça definições!ninguém me diga: "vem por aqui"!a minha vida é um vendaval que se soltou,é uma onda que se alevantou,é um átomo a mais que se animou...não sei por onde vou,não sei para onde vousei que não vou por aí!

Cântico negroJosé Régio

“O desemprego jovem de longa duração é tanto ou mais grave do que a crise dos défices orçamentais e da dívida soberana”

[email protected]

GArAntiA JoveM

João Ferreira da Cruz

Há 7,5 milhões de jovens na Europa que não trabalham, não estudam, nem seguem qualquer formação. São jovens com

idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos. A taxa média de desemprego jovem na UE-27 atingiu 24%, em Janeiro último (Eurostat). O Eurofund estimou em mais de 150 mil milhões de euros por ano, ou seja, 1,2% do PIB da UE o custo económico do desemprego jovem.Em Portugal, a taxa de desemprego jovem representa 39%, o cor-respondente a 175 mil pessoas. As medidas do Governo, “Impulso Jovem” e “Passaporte Emprego”, não revelam impacto positivo, não contrariam a constante subida da taxa de desemprego jovem e a tendência para que este se torne estrutural. A saída é a fatal emigração, sejam ou não qualificados.Para evitar estes custos e contrariar o impacto severo no mer-cado de trabalho das políticas de austeridade e das medidas de consolidação orçamental, os ministros do Emprego e dos Assun-tos Sociais da UE aprovaram um pacote legislativo designado Ga-rantia Jovem. São seis mil milhões de euros, previstos no Quadro Financeiro Plurianual, 2014-2020, em negociação entre o Parla-mento Europeu, Conselho e Comissão, para financiar este pacote legislativo. O Fundo Social Europeu suportará três mil milhões no quadro dos investimentos previstos para as regiões do nível NUT 2, com registos de taxa de desemprego jovem igual ou superior a 25%; os restantes três mil milhões serão garantidos pelos fundos de Coesão Económica, Social e Territorial.O “Garantia Jovem” não teria sido possível sem o forte compro-misso dos chefes de Estado, dos primeiros-ministros e ministros socialistas, e do comissário europeu para os Assuntos Sociais, László Andor, que defenderam a proposta e garantiram a dotação financeira necessária à sua concretização. Competirá, agora, aos 27 Estados-membros desenhar propostas concretas à emprega-bilidade jovem, para assegurar, de imediato, a libertação destes fundos.O desemprego jovem de longa duração é tanto ou mais grave do que a crise dos défices orçamentais e da dívida soberana, com-batê-lo significa proporcionar aos jovens uma boa oferta de em-prego, educação contínua e oportunidades de aprendizagem ou estágios, após terem concluído a formação ou terem ficado no desemprego. É uma boa iniciativa que se espera que garanta aos jovens euro-peus a empregabilidade condigna, evitando que a indignação dos sem emprego cavalgue o quotidiano e mine a sociedade.

Seguro no Porto para falar de culturaapostar em políticas culturais que sejam estáveis e que se de-senvolvam para além e inde-pendente do ciclo político das legislativas foi uma das teses defendidas num encontro que levou o secretário-geral do Ps, antónio José seguro, ao Por-to, no âmbito do programa “as Pessoas estão Primeiro”.uma deslocação que serviu pa-ra debater com mais de duas centenas de agentes e de per-sonalidades ligadas à vida cul-tural desta cidade nortenha a problemática do sector, onde o líder socialista ouviu e debateu o estado da cultura na região aproveitando para enriquecer a perspetiva do Ps.das muitas matérias aborda-das neste encontro, os partici-pantes destacaram o que classi-ficaram de “absoluta necessida-de” de o país assumir políticas e linhas culturais bem defini-das, designadamente na área do ensino artístico profissio-nal e na formação nas escolas de agentes criadores de empre-go nas artes e na cultura. ou-tro dos assuntos que mere-ceram particular atenção por

parte das personalidades pre-sentes foi a lei do mecenato e o acesso a este instrumento de apoio à cultura, não deixando de referir igualmente o que de-signaram de “excessivo centra-lismo e burocracia do estado” que, em sua opinião, tem vindo a impedir a criação artística, o financiamento público nas ar-tes, a melhor aplicação dos fun-dos comunitários, para além de criar obstáculos à autonomia artística nos museus, nos tea-

tros nacionais e na descentrali-zação da cultura. os agentes culturais defen-deram ainda a necessidade de o país passar a olhar para a cultura, não como um sec-tor de importância relativa, mas antes como um vetor es-truturante para o seu desen-volvimento e como um inves-timento capaz de potenciar uma sociedade mais moderna e progressiva. r.s.a.

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diretor Marcos Sá // conselho editorial Joel Hasse Ferreira, Carlos Petronilho Oliveira, Paula Esteves, Paulo Noguês // chefe de redação Paulo Ferreira // redação J.C. Castelo Branco, Mary Rodrigues, Rui Solano de Almeida // colunistas permanentes Maria de Belém presideNte do ps, Vasco Cordeiro presideNte do ps açores, Victor Freitas presideNte do ps madeira, Carlos Zorrinho presideNte do grupo parlameNtar do ps, Rui Solheiro presideNte da aNa ps, Ferro Rodrigues deputado, Catarina Marcelino presideNte das mulheres socialistas, João Proença teNdêNcia siNdical socialista, Jamila Madeira secretariado NacioNal, Eurico Dias secretariado NacioNal, álvaro Beleza secretariado NacioNal, João Torres secretário-geral da juveNtude socialista // secretariado Ana Maria Santos // layout, paginação e edição internet Gabinete de Comunicação do Partido Socialista - Francisco Sandoval // redação, administração e expedição Partido Socialista, Largo do Rato 2, 1269-143 Lisboa; Telefone 21 382 20 00, Fax 21 382 20 33 // [email protected] // depósito legal 21339/88 // issn 0871-102Ximpressão Grafedisport - Impressão e Artes Gráficas, SA

Os artigos de opinião são da inteira responsabilidade dos autores. O “Acção Socialista“ já adotou as normas do novo Acordo Ortográfico.

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este jornal é impresso em papel cuja produção respeita a norma ambiental iSo 14001 e é 100% reciclável. depois de o ler colabore com o Ambiente, reciclando-o.

“A relação do PS com os movimentos sociais, organizados ou espontâneos, deve ser uma marca distintiva do nosso posicionamento de abertura e modernidade na sociedade portuguesa”

czorrinho

o PS e oS MoviMentoS SociAiS

Carlos Zorrinho

As notícias que dão por certa a morte dos partidos políticos são pela sua natureza muito exageradas, usando uma analogia

com a reação de Mark Twain ao anúncio antecipado da sua morte. Isto não significa que os partidos não tenham que se renovar pro-fundamente, integrar as novas dinâmicas de representação e dar uma resposta mais direta aos novos desafios políticos e sociais. Colocar “as pessoas primeiro” significa fazer política com as pes-soas e não apenas para as pessoas. A relação do PS com os movimentos sociais, organizados ou es-pontâneos, deve ser uma marca distintiva do nosso posicionamen-to de abertura e modernidade na sociedade portuguesa. Não nos compete substituir, anular ou controlar os movimentos sociais. Em contraponto, também não nos podemos deixar di-luir nesses movimentos, por mais atrativos que eles sejam, sob pena de enfraquecermos o nosso papel estrutural na democracia representativa.Vivemos um tempo de grande exigência política. Os militantes do PS têm participado ativamente na revolta e na indignação da so-ciedade portuguesa contra uma maioria de Governo que não cum-priu nenhuma das suas promessas eleitorais e tem vindo a aplicar de forma cega e insensível uma receita económica que conduziu o país à tragédia social e ao desespero económico.Essa participação é louvável e salutar. Não nos podemos esquecer no entanto que o nosso papel vai muito para além da indignação e do protesto. Somos a base da alternativa e essa alternativa tem que se fundamentar no convencimento dos eleitores para nos da-rem os votos necessários para fazer diferente. Temos um Governo sitiado, com medo da rua e incapaz de a es-cutar. Este facto aumenta a nossa responsabilidade em dar voz à cidadania e em traduzi-la em medidas concretas que possam ser aplicadas quando voltarmos ao governo. Não é tarefa fácil, mas “é quando a luta aquece que se vê a força do PS”.

FOTOGRAFIAS COm HISTÓRIA

SAMPAio Sucede A SoAreS

9 DE MARÇO DE 1996

Um dia histórico para a esquerda e para o país. Em cerimónia realizada no Parlamento, Jorge Sampaio toma posse como Presidente da República, sucedendo a Mário Soares. Um socialista rende outro socialista na mais alta magistratura do país. O país era dirigido em São Bento e em Belém pelos valores progressistas. J.c.c.B.

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Portugal em risco de nova estagnação em 2014Os dados do Banco de Portugal confirmam o agravamento da recessão este ano, afirmou o deputado do PS Pedro Marques, apontando que o primeiro-ministro nada percebe sobre o que se passa com a economia portuguesa.

verifica-se um “agravamento da recessão, quando ainda se está no primeiro trimestre do ano, ficando assim tão longe a queda de 1% do Pib (Produto interno bruto) estimada ini-cialmente pelo governo”, su-blinhou Pedro Marques, de-pois de o banco de Portugal ter revisto em baixa as projeções para o desempenho da econo-mia este ano, com uma desci-da de 2,3%.“estes números confirmam o contexto de forte queda da procura interna e confirmam que Pedro Passos Coelho não percebe nada do que se está a passar neste momento na eco-nomia portuguesa”, referiu o deputado, acrescentando que

“quando o primeiro-ministro diz que é um presente enve-nenado a possibilidade do au-mento do salário mínimo na-cional, tal é não perceber o que está a acontecer com a procu-ra interna”.

Pedro Marques contrapôs que a atual conjuntura económi-ca e financeira determinava a exigência de “outras políticas” e que, por exemplo, “o gover-no acompanhasse as negocia-ções com os parceiros sociais para o aumento do salário mí-nimo nacional”.ainda de acordo com o parla-mentar socialista, o banco de Portugal, nas suas projeções sobre a evolução da economia portuguesa, está advertir que, se o executivo de direita ado-tar medidas adicionais de aus-teridade (metade dos quatro mil milhões de euros em cor-tes), o país ficará novamente numa situação “praticamente de estagnação” em 2014.

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www.ps.pt

N.o 1376 diretor marcos sáMARÇO 2013

Suplemento moçõeS eleição secretário-geral

do partido socialistaeleição presidente das

mulheres socialistas

Suplemento moçõeS eleição secretário-geral

do partido socialistaeleição presidente das

mulheres socialistas

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MOÇÃO POLÍTICA DE ORIENTAÇÃO NACIONAL

refundar o PS Pelo futuro de PortugalPrimeiro subscritor

aireS Pedro

1. daS MotiVaÇÕeS e raZÕeS da noSSa Candidatura

em primeiro lugar, sou candidato a secre-tário-geral do ps, porquanto, tal como eu, muitos militantes do ps não querem ser um eco enfraquecido de uma liderança que pas-sou dois anos em complacência com a maio-ria das políticas do governo. o prejuízo das pessoas, as mesmas que o camarada antó-nio José seguro garantiu estarem primeiro, aquando da sua candidatura a secretário- geral, foi gritante;

em segundo lugar, sou candidato a secre-tário-geral do ps porque entendo e defen-do um partido plural, democrático e recep-tivo à participação activa e cívica de todos (as) militantes e simpatizantes. a partici-pação e pluralidade de ideias não podem ser entendidas com factor de “irresponsabilida-de” e “deslealdade”, antes pelo contrário! a construção de um partido mais sólido, co-eso e unido, depende do debate de ideias e de propostas concretas que contribuam para o aprofundamento democrático e pa-ra a construção de alternativas credíveis e coerentes;

em terceiro lugar, sou candidato a secre-tário-geral porque tenho vida profissional própria, autonomia pessoal e política para desenvolver uma actividade partidária ba-seada em princípios que não são compatí-veis com silêncios, medos e nem se inserem na defesa de qualquer “agenda pessoal”;

em quarto lugar, sou candidato a secretá-rio-geral porque considero que a credibilida-de da actividade política só é ganha se for-mos capazes de resistir a pressões, a ten-tações e a lógicas pouco transparentes. por isso mesmo, a nossa responsabilidade não é a fazer uma oposição apelidada de “res-ponsável”, mas antes responsabilizar a opo-sição. a nossa responsabilidade é procurar instrumentos e soluções que promovam o crescimento, o emprego, a solidariedade so-cial, bem como a defesa da qualidade dos serviços públicos e do estado social.

destarte, são estas as principais motiva-ções da nossa candidatura: mais indepen-dência e menos dependência, mais con-vicções em vez de clientelismos. por isso afirmo a importância inadiável de um pro-fundo debate sobre o funcionamento in-terno do nosso partido, o qual não dispen-sa o contributo de todos os nossos militan-tes e, por conseguinte, a pluralidade das suas ideias, sendo igualmente urgente pro-ceder-se a uma revisão do funcionamen-to das comissões regionais e Federativas de Jurisdição, e, com especial enfoque, a uma profunda reforma do funcionamento da comissão nacional de Jurisdição, como

garante do funcionamento democrático do nosso partido. permitir a todos os militan-tes o pleno e eficaz exercício dos seus di-reitos estatutários em plena conformidade com a lei orgânica dos partidos e respec-tivos direitos constitucionalmente consa-grados de participação na vida do nosso partido é o nosso objectivo.

o ps não pode nunca descurar a democra-ticidade e plena legalidade de atuação dos seus órgãos, sejam eles nacionais, regionais ou federativos. um partido que não garanta a sua democracia interna, dificilmente po-derá assegurar o funcionamento democrá-tico das nossas instituições públicas e por consequência, apresentar-se como garante do nosso estado de direito e da constitui-ção da república portuguesa.

2. introduÇÃo

Porquê refundar o PS?

o partido socialista operou, nas últimas décadas, transformações sociais e políti-cas que se encontram comprometidas por um governo contra-revolucionário. o ps é herdeiro de um compromisso histórico de defesa do sistema democrático e assume o seu passado de acção política como uma marca indelével na redução de atrasos es-truturais do nosso país. É sua obrigação de-nunciar o actual governo e a sua dissimu-lada desresponsabilização pela catástrofe social que, imperceptível aos dirigentes do país, é uma realidade e promoveu 200000 desempregados no ano transacto. o dever do ps para com os portugueses é o de pro-teger todos e cada um deles; distinguir uma governação com prioridades dife-rentes das nossas de uma governação que faz do ataque contra-revolucioná-rio à Constituição da República portu-guesa a sua maior arma.

a coligação governamental eleita em 2011 traiu cada uma das propostas que estabe-leceu em contrato eleitoral com portugue-ses. o sr. presidente da república pres-ta a mais descarada e promíscua assesso-ria política à incompetência deste governo. a troika é quem mais ordena em portu-gal e a união europeia é parte integrante do esvaziamento político, económico e so-cial do sul da europa. o governo orgulha--se de “ir para além” dos compromissos as-sinados no memorando de entendimento e não demonstra pudor em infligir sacrifí-cios aos portugueses em nome de uma dívi-da pública nunca explicada ou fundamenta-da. o partido socialista deve atentar na cri-se de representatividade destas instituições e criar condições para impor uma agenda política antagónica àquela preconizada pe-lo governo.

para mário soares, o ps “deve ser refunda-do de alguma maneira, tem de ser melhora-do, tem de discutir política a sério e tem de ter política a sério e grandes ideias para o fu-turo”. aquilo que propomos a sufrágio nes-tas eleições do partido socialista é, citando Francisco assis: “a refundação do partido em termos programáticos, para adequação a novas realidades e produção de uma dou-trina que responda a novas questões”, quer orgânicas ou de relação com a sociedade ci-vil. a matriz ideológica do partido socialista deve ser respeitada e, no cumprimento da sua declaração de princípios, jamais o pS se poderá expor a um Governo de Sal-vação nacional ou estar disponível pa-ra coligações com o ppD-pSD e CDS--pp, responsáveis máximos pelo esva-ziamento de soberania do nosso país. a agenda progressista do ps exige uma li-derança forte, imune a processos inter-nos de descredibilização de militantes, aci-ma de interesses instalados no partido, per-cursora de uma postura de respeito junto dos portugueses e munida de um discurso de reconhecimento dos erros e virtudes do passado.

o proclamado “documento de coimbra”, apresentado como tratado estabilizador das sensibilidades internas, mais não represen-ta do que uma falsa unidade em torno de propostas políticas que, algumas delas, es-ta direcção do ps não votou favoravelmen-te no parlamento. reportemo-nos, a título de exemplo, ao aumento do salário míni-mo nacional. também por este motivo rea-firmamos a urgência numa liderança capaz de respeitar uma linha de actuação política e que, coerentemente, se moralize junto dos portugueses.

há alternativas a este “estado de excepção”, quer do país, quer do partido socialista. pe-dimos a confiança a todos os militantes em nome de outra actuação do nosso partido e, sobretudo, em nome de uma alternativa po-lítica que retome a dignidade e as garantias dos portugueses e reforce a confiança dos cidadãos no partido socialista.

3. do funCionaMento do noSSo Partido

a democraticidade interna do nosso par-tido e, por conseguinte, a própria liberda-de de expressão e a crítica legítima dos nos-sos militantes parece de uma mera mira-gem. infelizmente, muitos são aqueles que consideram que a livre opinião dos militan-tes “deverá recuar” ou simplesmente ser “si-lenciada” em face da linha política definida “superiormente” pelos órgãos do partido. tal não é e nunca será aceitável num par-

tido que ajudou a estabelecer a democracia em portugal. aliás, quando o partido aban-dona internamente o livre exercício da opi-nião dos seus militantes, dificilmente pode-rá contribuir para o próprio reforço da de-mocracia em portugal.

os órgãos de jurisdição do nosso partido re-velam igualmente um quase desprezo pelas reclamações dos nossos militantes, permi-tindo que os respectivos processos de im-pugnação se arrastem por longos períodos de tempo, em nada privilegiando a respon-sabilidade daqueles que têm por função ze-lar pela legalidade e respeito pelos estatutos do ps, a verdadeira “constituição” do nos-so partido.

3.1. das Primárias para a escolha do candidato a 1.º Ministro, candidatos a deputados e candidatos a Presidentes de Câmaras Municipais pelo PS

por mera tradição do nosso partido, co-mo noutros, é candidato a 1.º ministro quem, em dado momento, desempenha o cargo de secretário-geral, por considerar--se que é aquele que em determinado mo-mento eleitoral aparece como o candidato “natural” a 1.º ministro. tal opção, como a escolha dos nossos candidatos a deputa-dos e candidatos a presidentes de câmaras municipais, sem qualquer consagração ju-rídica nos nossos estatutos, em nada fa-vorece a participação democrática, quer de militantes, quer por parte dos simpa-tizantes do nosso partido. na verdade, tal opção favorece os chamados “sindicatos” de voto, e em nada contribui para a pró-pria abertura do nosso partido à socieda-de civil.

propomos que no XiX congresso nacional do ps seja objeto de votação, conforme o preceituado nos art.º s 54, n.º 2 e 97, n.º 1 dos estatutos do ps, a seguinte proposta de alteração estatutária:

1. A escolha e respectiva eleição do candidato a 1.º ministro pelo pS, concretiza-se mediante o sistema de lista uninominal e sufrágio di-reto, considerando-se eleito o can-didato que obtenha a maioria dos votos expressos dos militantes e simpatizantes do partido socia-lista, não se considerando como tal os votos em branco e os votos nulos;

2. o mesmo procedimento será apli-cado à escolha e consequente elei-ção dos candidatos a deputados e candidatos a presidentes de Câ-mara do pS;

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3. os respectivos processos eleito-rais internos do pS deverão ocor-rer até 60 dias antes dos actos eleitorais a que digam respeito.

em nome da total democraticidade do funcionamento interno do partido socia-lista, e assim contribuindo para a igualda-de de candidaturas para a eleição do seu sg, só deverá ter direito de voto quem efetivamente seja eleito delegado aos res-pectivos congressos nacionais, não sen-do assim reconhecido o direito de voto por mera inerência do cargo que determi-nado militante venha exercendo dentro e fora do ps.

pelo que propomos que no XiX congresso nacional do ps seja objeto de votação, con-forme o preceituado nos art.º s 54, n.º 2 e 97, n.º 1 dos estatutos do ps, a seguinte proposta de alteração estatutária:

1. nos Congressos nacionais do pS só têm direito de voto os delega-dos que para tal, nos termos esta-tutários e regulamentares, sejam eleitos.

4. da aCtuaÇÃo do PS CoMo aCtual Partido da oPoSiÇÃo e da Sua VoCaÇÃo natural Para Ser goVerno

a direcção nacional do ps e, concretamen-te, o seu secretário-geral, fragilizaram o grupo parlamentar desde a “abstenção violenta” promovida na votação do orça-mento geral do estado para 2012. recor-demos: este orçamento, para além de mais tarde ter sido rectificado para disfarçar a execução orçamental do ano em questão, previa a alienação de um leque de direi-tos dos funcionários públicos, de que são exemplo os seus subsídios.

durante o ano de 2012, o ps votou ao la-do da maioria parlamentar a revisão do có-digo do trabalho. Verificamos hoje, com a devida distância, que a mesma promoveu dezenas de milhares de despedimentos, desprotegeu os trabalhadores e reforçou a agenda de empobrecimento generalizado que o governo defende para a saída da cri-se. esta cumplicidade no momento da decisão posicionou, aos olhos dos por-tugueses, o pS junto do Governo.

pelo reforço da prestação parlamentar do ps propomos que:

1. o pS assuma o actual Código do trabalho como um instrumen-to de ataque aos direitos labo-rais e lidere uma iniciativa legis-lativa que englobe centrais sindi-cais e movimentos de precários e desempregados;

2. o pS deve promover um compro-misso de acordos comuns com o Be e/ou pCp para áreas da gover-nação como a educação, Saúde, Segurança Social e economia;

3. na mediática “reforma do esta-do”, o pS não negoceie com base em propostas catastrofistas cujo objectivo é o desmantelamento das conquistas sociais das últimas décadas. o pS deve promover um debate interno alargado aos par-ceiros sociais, à sociedade civil e a outros partidos que se apresen-tem disponíveis para uma reforma noutros pressupostos contrários àqueles encetados pelo Governo.

acreditamos que estas propostas, no curto prazo, poderão restabelecer um laço de con-fiança entre o grupo parlamentar do ps e os seus eleitores. a responsabilidade do ps é fa-zer acordos com quem define prioridades idênticas às suas e nunca permitir o tea-tro de cumplicidades a que temos assis-tido. responsabilidade política, ao contrá-rio do que antónio José seguro tem afirma-do, é travar as iniciativas do actual governo; é definir linhas prioritárias de intransigên-cia; é, ao invés de amparar o ministro miguel relvas e a sua quartada liberdade de expres-são, defender os desempregados, os pensio-nistas e os jovens convidados a abandonar o país. a nossa prioridade, antes de institu-cionalmente assumirmos um papel contes-tatário e de protesto nas ruas, é de esgotar-mos todos os canais de iniciativa legislativa na assembleia da república. enquanto não o fizermos, não estamos em condições de, nas manifestações, convencermos os por-tugueses da ruptura total com o governo e da nossa disponibilidade para uma linha po-lítica diferente. a reforma do nosso estado é um imperativo nacional e, nesta matéria, a mensagem do partido Socialista pa-ra os portugueses só pode ser uma: es-tamos disponíveis para estudar todas as reformas necessárias, desde que as mesmas não constituam um ataque de-liberado à Constituição da República portuguesa.

4.1. dos desafios da denúncia do Memorando de entendimento

o memorando de entendimento cele-brado com a troika comprometeu o pa-ís com a sua própria destruição. para além do diagnóstico errado dos nossos pro-blemas estruturais, as soluções preconiza-das assentam na desvalorização salarial, no confisco de rendimentos e na alienação de património e activos públicos. hoje, e ape-sar dos montantes financeiros recebidos por portugal, verificamos a eminente ban-carrota e a possível insolvabilidade do país. perante este diagnóstico, propomos:

1. A reestruturação da dívida pública, isto é, outros prazos de pagamento dos montantes em dívida, suspen-são das amortizações e renegocia-ção dos juros do empréstimo;

2. A oposição ao processo de priva-tizações em curso e a necessida-de de nacionalizar activos públi-cos alienados até à presente data, para que no futuro o estado possa ser a vanguardista em investimen-to reprodutivo;

3. uma auditoria à dívida pública. Atentamos especialmente nes-te ponto pois o seu esclarecimen-to junto da sociedade é nulo. De-vemos assumir a necessidade de uma avaliação da dívida para co-nhecimento da sua origem e cau-sas, promover a sua transparência e questionar a sua legitimidade;

4.2. do Projecto europeu

uma agenda política alternativa para a união europeia é a principal reivindicação e expectativa das manifestações populares dos últimos meses. a incapacidade da ac-tual direcção da comissão europeia em an-tecipar-se aos problemas e prever as me-lhores soluções responsabiliza-a pela in-solubilidade dos mesmos. exemplo disso é a criação do Fundo europeu de estabili-zação Financeira que só surgiu na iminên-cia do pedido de ajuda externa da grécia e, reconheçamos, para além de não ser o ins-trumento ideal no seu molde e propósito, o atraso na sua implementação e o cres-cente dos juros da dívida soberana arra-saram completamente o país e arrastaram outros estados-membros para a uma situ-ação de semelhante ruptura económica e financeira.

a iniciativa para um tratado orçamental da união europeia com o objectivo de uma governação económica dotada de mais ins-trumentos de base federalista foi a solução apontada pelos diferentes governos como ideal. a ratificação de propostas como o li-mite do défice orçamental não irá contribuir para a estruturação financeira de nenhum estado-membro periférico. muito pelo con-trário, imporá uma regra de disciplina orça-mental que prejudicará países onde é neces-sário investimento, competitividade e de-senvolvimento relativamente ao norte e centro da Zona euro.

são nossas propostas:

1. Aprofundamento da regulação po-lítica do sector financeiro, o refor-ço dos poderes do Banco Central;

2. Revisão do artigo 123.º do tratado de lisboa, que impossibilita o Ban-co Central europeu de financiar as economias dos estados;

3. emissão de dívida pública de for-ma conjunta (eurobonds);

4. A harmonização dos regimes fiscais;

5. Reivindicação de investimento pú-blico reprodutivo como factor de crescimento económico;

6. Contestação da “regra de ouro” do tratado orçamental europeu que limita os défices dos diferentes pa-íses, impossibilitando-os de políti-cas expansionistas. nesta lógica, defender uma dívida transparente e sustentável, que permita ao país desenvolver-se.

4.3. da economia e do emprego

as actuais estimativas da comissão euro-peia para a taxa de desemprego em portu-gal apontam para que esta atinja os 17,3% em 2013. o desemprego é um flagelo social que se traduz em muito mais do que um nú-mero: representa rostos e famílias. É neces-sária a promoção de uma mudança de políti-cas de emprego promotoras de crescimento económico, a aposta na formação profissio-nal e o combate à precariedade laboral. para tal, entendemos que as políticas de empre-go devem ser formuladas em função da ne-cessidade de dar resposta a problemas com graus de profundidade e de complexidade diferenciados:

• Desempregojovemqualificado;

• Desempregodelongaduraçãoepoucoqualificado;

• Desempregoscommaisde55anos.

paralelamente, a definição de políticas de es-tímulo ao empreendedorismo, inovação e competitividade devem ser equacionadas en-quanto instrumento estratégicos na trans-formação estrutural da economia portugue-sa ao nível da produtividade, crescimento, emprego e coesão social. entendemos que o estímulo necessário deve dotar os portu-gueses de capacidade empreendedora, de-ve potenciar comportamentos favoráveis às economias verdes, criar dinâmicas de aper-feiçoamento contínuo e acelerar processos de dinâmicas de inovação, modernização e crescimento.

o empreendedorismo, inovação e competiti-vidade devem ser definidos como objectivos para uma economia de base tecnológica, in-dustrial e produtiva.

são nossas propostas:

1. Aumento dos incentivos fiscais para empresas que possam absorver de-sempregados com mais de 55 anos;

2. Redefinição dos apoios à criação do próprio negócio (microInvest e In-vest+), disponibilizando uma linha de crédito a juros controlados e, possivelmente, a fundo perdido;

3. Criação de um programa de está-gios na Administração pública que combata, em larga escala, a emigra-ção dos jovens licenciados.

4.4.da educação para todos

a educação é um dos pilares centrais da in-tervenção do estado, sendo a manutenção e aprofundamento da rede pública de edu-cação uma das suas maiores responsabilida-des. os desafios que portugal tem pela fren-te não se compadecem com uma estratégia de desinvestimento na educação pública, como aquela que é evidenciada pelo actual governo. uma rede pública de ensino deve ser baseada na oferta pública de qualidade com recursos humanos, técnicos e de equi-pamentos adequados a cada nível de ensino.

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desde há algumas décadas que o crescimen-to das funções assistenciais por parte to es-tado e a diminuição dos recursos disponí-veis para as financiar obrigam a repensar o modelo de gestão dos organismos e institui-ções públicas.

nesta lógica, defendemos que:

1. o estado deve continuar a ser o garante da escola pública, co-mo pilar fundamental para a cria-ção de uma sociedade de excelên-cia, necessária ao desenvolvimen-to do país e à afirmação da cultura portuguesa;

2. A escola pública tem o dever de de-nunciar e combater o abandono escolar através do desenvolvimen-to de acções de qualificação e de valorização dos cidadãos, assen-tes no conhecimento, no desenvol-vimento criativo e inovador como resposta à crescente globalização;

3. É preciso apostar na criatividade e no empreendedorismo como es-tratégias de valorização das comu-nidades locais, com interesse na-cional e supra nacional;

4. É preciso realizar uma verdadei-ra articulação entre a escola públi-ca e a Sociedade Civil, aproximan-do os seus intervenientes e desen-volvendo estratégias de promoção comuns;

5. Deve ser combatida a ideia da “aglomeração educativa” (os me-ga agrupamentos) que visa apenas alcançar uma economia de esca-la. É imperioso defender a educa-ção sobre o primado da economia, valorizando as realidades educati-vas ajustadas aos diferentes domí-nios sociais;

6. Defender uma verdadeira articu-lação curricular, combatendo a re-petição de saberes, através de uma trabalho cada vez mais cooperati-vo entre os docentes;

7. Valorizar a formação contínua de professores em áreas estratégicas para o desenvolvimento nacional;

8. Valorizar e apoiar o trabalho das unidades de gestão escolar, pro-movendo uma verdadeira articu-lação com o ministério da educa-ção e os seus respectivos serviços centrais, desburocratizando as re-lações entre estas entidades;

9. pensar e discutir uma nova lei de Bases do Sistema educativo ajus-tada às realidades actuais e aos interesses dos jovens, famílias e Sociedade.

o aumento do número de estudantes ins-critos em cursos superiores é assinalável nos últimos 15 anos – de 290 mil em 1995

para 396 mil em 2011. paralelamente, fo-ram reforçadas vagas em sectores com cla-ro défice de profissionais em portugal, co-mo é o caso das ciências da saúde – de 19 mil em 1995 para 64 mil em 2011. ao ní-vel da formação avançada, portugal tem aumentado os seus indicadores de núme-ro de doutoramentos e investigação pa-ra níveis próximos da média europeia: 18 mil estudantes de doutoramento em 2011 comparando com menos de 3 mil em 1998. a rápida expansão dos sistemas de ensino e investigação faz com que seja necessário aumentar a qualidade da formação inicial e avançada, permitindo a verdadeira diversi-ficação das missões das instituições de en-sino superior. contudo, os cortes anuncia-dos e elaborados pelo governo contrariam estes sinais e reflectem o abando desta prioridade nacional. assim, propomos:

1. o reforço da verba disponibilizada para acção social;

2. A interrupção dos aumentos anu-ais do valor das propinas.

4.5. do Serviço nacional de Saúde para todos

o serviço nacional de saúde é a maior con-quista social na era democrática do pa-ís. não podemos aceitar que, a pretexto de constrangimentos orçamentais, e sem uma profunda discussão sobre que tipo de sns queremos, se modifiquem radicalmente os pressupostos de base do seu financiamento ou do seu funcionamento.

afirmamos que o sns é um sector estra-tégico fundamental e que deve ser reforça-do no actual momento. os ataques do go-verno através do aumento das taxas mo-deradoras representam o recuo no acesso universal aos hospitais e centros de saú-de. neste sentido, propomos ao congres-so nacional que se realize um amplo deba-te acerca de:

1. A abolição das taxas moderadoras;

2. o modelo de financiamento do SnS;

3. A constitucionalidade das políti-cas adoptadas pelo Governo.

4.6. da Segurança Social para todos

as injecções na segurança social de outros sistemas de providência, nomeadamen-te corporativos, preocupam-nos. estamos perante uma injecção artificial de fundos que, a longo prazo, nada representarão na sustentabilidade do sistema de pensões. esta matéria é da maior importância e es-tudos recentes indicam que a solvabilida-de da segurança social está comprometi-da. o equilíbrio entre a receita fiscal e o pa-gamento de pensões não existe. assim, e após este diagnóstico alarmado, exigimos que o ps:

1. proceda a uma recolha de informa-ção fidedigna da actual situação da Segurança Social;

2. promova, através dos seus meca-nismos próprios de reflexão políti-ca, um estudo técnico de viabilida-de financeira do sistema e que, nos seus proponentes, se salvaguarde de quadros das universidades, do ministério e de personalidades in-ternacionais com provada compe-tência para tal.

4.7. da Justiça para todos

a Justiça portuguesa encontra-se hoje vota-da ao desprezo político. as reformas legisla-tivas feitas sobre “o joelho” não passam dis-so mesmo. as pendências processuais, fruto também, de alguma negligência dos magis-trados portugueses, e a consequente moro-sidade processual, não só violam outro im-portantíssimo direito constitucionalmen-te consagrado (direito de acesso à justiça e concretização da mesma em tempo útil) co-mo inquinam o necessário desenvolvimen-to económico de portugal.

sabemos bem que de acordo com recentes estudos económicos, a morosidade da jus-tiça portuguesa, várias vezes apontada pe-lo próprio tribunal europeu dos direitos do homem ( e as condenações que por este tem sido proferidas, tendo por destinatário por-tugal), tem um enorme impacto negativo na economia portuguesa, afastando o sempre desejável investimento estrangeiro

por isso, urge dar início às necessárias re-formas do nosso sistema judicial, tais como:

1. Implementação da lei do enrique-cimento ilícito sem inversão do ónus da prova em face do princí-pio constitucional da presunção de inocência do arguido;

2. Acabar com a fuga de informa-ções em processos judiciais que se encontrem sob segredo de jus-tiça; combate à corrupção (lei nº19/2008 de 21 de Abril);

3. Garantir uma efectiva responsabi-lização dos titulares de cargos po-líticos em caso de violação;

4. Garantir meios e especialização no combate ao crime económico;

5. Aplicar com eficácia as medidas de descongestionamento dos tribu-nais, nomeadamente no âmbito da pendência de acções executivas.

4.8. da autarquias locais e regiões autónomas

as autarquias, desprezadas pelo actual go-verno, são as responsáveis pela infra-estru-turação e povoação do país. os níveis de co-esão social e territorial demonstram que a autonomia local e regional promoveu as re-formas que o poder central nunca terá capa-cidade de operar. para esta candidatura, as linhas gerais que devem guiar o municipa-lismo em portugal são a valorização admi-nistrativa do território assente em institui-ções credíveis e ajustadas às necessidades

da população e o reconhecimento e forma-ção dos representantes dos estado, nas au-tarquias locais, possibilitando a resposta de excelências às exigências dos cidadãos.

as regiões autónomas com parte integran-te do território nacional, não podem ser ob-jecto de dupla insularidade. sem nunca es-quecer que o princípio da solidariedade na-cional deve ser recíproco, não pode todavia o estado central esquecer-se das especifici-dades e múltiplos constrangimentos econó-micos, próprios das nossas regiões autó-nomas, madeira e açores. defendemos um contínuo e sólido aprofundamento dos di-reitos e poderes autonómicos, com o ine-rente respeito pelos seus estatutos políticos e administrativos, nomeadamente, a valo-rização e respeito pela sua autonomia fiscal. a recente reforma da lei das Finanças re-gionais, traduz-se, tal como a igual reforma das Finanças locais, num tal aniquilamento da referida capacidade e autonomia fiscal, o qual deverá merecer uma forte oposição do ps, quer na ar quer junto do tc, aí reque-rendo a fiscalização sucessiva da constitu-cionalidade de tal reforma, por manifesta violação dos estatutos autonómicos.

são questões centrais para esta candidatura:

1. A promoção de um debate que per-mita constituir um modelo de Re-giões Administrativas para portu-gal Continental;

2. Contestar a actual lei de Compro-missos e devolver a gestão dos re-cursos aos órgãos autárquicos elei-tos. não é justificável que, para ac-tos de gestão corrente, qualquer autarca se tenha deslocar ao ter-reiro do paço para se justificar pe-rante o ministro das Finanças;

3. uma nova lei das Finanças lo-cais, ajustada aos novos desafio do estado.

4. ConCluSÃo

É objetivo desta moção de orientação re-posicionar o debate no interior do parti-do socialista. depois do ps decidir o cami-nho conceptual e programático, estará em condições de apresentar um projecto credí-vel aos portugueses. reforçamos que o ps não pode nem deve rejeitar in limine even-tuais convergências com os demais parti-dos de esquerda. e não as deve rejeitar, se para tanto, verificarem-se as necessárias condições políticas que permitam e justifi-quem compromissos do ps com restantes forças políticas em nome dos superiores interesses de portugal. seguramente que não esqueceremos o passado, em que du-as forças políticas de esquerda, num exer-cício político inédito em portugal, aliaram--se à direita para derrubar um governo so-cialista. no entanto, não podemos repelir in totum compromissos com tais restantes forças políticas de esquerda, se as necessi-dades do país assim reclamarem tais en-tendimentos políticos.

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secção

MOÇÃO POLÍTICA DE ORIENTAÇÃO NACIONAL

Portugal teM futuroPrimeiro Subscritor

antónio JoSé Seguro

1 - o MoMento que o PaíS ViVe

1.1. a situação atual

portugal vive um momento dramático. em violação dos seus compromissos elei-torais, o atual governo tem vindo a pros-seguir uma estratégia de empobrecimen-to do país, assente numa violenta políti-ca de austeridade do custe o que custar e numa agenda ideológica ultraliberal con-tra as funções sociais do estado. os re-sultados estão à vista de todos.

• Odesempregoatingevaloresnuncavistos. há 923 mil desempregados e todos os dias há mais portugueses que perdem o seu emprego;

• A economia está em recessão pro-funda (-3,2% do piB, em 2012);

• Adívidapúblicacontinuaaaumen-tar (em 2012, passou de 108% para 122,5% do piB; um aumento supe-rior a 20 mil milhões de euros)

• Odéficeorçamentalfalhasistemati-camente as metas previstas.

a situação é má e, se nada for feito, vai piorar.

as previsões já conhecidas apontam pa-ra mais desemprego (a caminho do mi-lhão de desempregados), menos econo-mia (o dobro da recessão prevista pelo governo), mais dívida pública e aumen-to do défice orçamental em relação ao es-tabelecido no memorando (mais de 3 mil milhões de euros de diferença, para o fi-nal deste ano).

a vida dos portugueses vai de mal a pior. e não tinha, nem tem que ser assim!

só é assim por opção e por responsabili-dade do governo psd/cds.

as principais vítimas desta política são os mais pobres e as classes médias, gra-vemente afectadas nas suas condições de vida, de igualdade de oportunidades e de mobilidade social; fortemente atin-gidas pelo desemprego e, em muitos ca-sos, confrontadas com um sério risco de pobreza.

enquanto isso, muitos milhares de jo-vens, incluindo os mais qualificados, são empurrados para a fatalidade da emigra-ção por um governo sem visão de futu-ro, que se mostra incapaz de lhes abrir um horizonte de esperança.

as famílias, por seu turno, enfrentam di-ficuldades cada vez maiores e as taxas de

natalidade caem para níveis alarmantes.

os pensionistas e os funcionários públi-cos foram particularmente atingidos pe-lo governo com os orçamentos de 2012 e 2013.

perante isto, em vez de arrepiar cami-nho, o governo - mais uma vez de forma unilateral, sem envolver a oposição e os parceiros sociais – acordou com a “troi-ka” (em setembro de 2012) uma nova re-dução do défice para 2,5% do piB já em 2014 (metade do valor acordado pela ir-landa para o mesmo ano!). consequen-temente, mesmo depois de ter decreta-do um enorme aumento de impostos em 2013, o governo propõe-se concretizar, em 2014, uma nova arremetida contra o estado social por via do corte de 4 mil milhões de euros na despesa, sobretu-do nas áreas da segurança social, da edu-cação e da saúde, com inevitáveis preju-ízos para os serviços públicos e para as transferências sociais de que depende o rendimento de muitas famílias, já grave-mente atingidas pelas políticas de auste-ridade. esta situação agrava as desigual-dades sociais do país, exclui milhares de portugueses do acesso a serviços públi-cos e atira cada vez mais pessoas para a situação de pobreza.

ao mesmo tempo, o governo coloca por-tugueses contra portugueses, seja atra-vés dos trabalhadores do setor privado contra os da função pública, ou dos jo-vens contra os idosos. as afrontas do governo aos portugueses sucedem-se, ora chamando-lhes de piegas, ora com-parando o desemprego a uma oportuni-dade, ora apontando a emigração como a oportunidade para os jovens que que-rem trabalhar.

a obsessão do governo pela austerida-de afere-se também pelo facto de um dos três objetivos do memorando, a “pro-moção do crescimento económico e cor-reção dos desequilíbrios macroeconó-micos” ser sistematicamente ignorado. estamos perante um governo que igno-ra os compromissos para o crescimen-to e o emprego que decorrem do acordo de concertação social e que na europa é sempre dos últimos a reclamar uma in-tervenção mais efetiva em prol da coesão e do crescimento.

a política do governo, além de inspira-da por uma ideologia desajustada das ne-cessidades do país e dos valores em que se funda o contrato social, consensual-mente estabelecido no portugal demo-crático, assenta numa errada compreen-são da natureza e das causas da crise que o país e a europa enfrentam.

1.2 a natureza da crise

o ps rejeita a narrativa simplista e mo-ralista da direita sobre a crise atual, ao ignorar o forte impacto da crise interna-cional na economia portuguesa e ao criar a ideia de que os portugueses viveram acima das suas possibilidades.

o ps rejeita a prática política ultralibe-ral do governo que aponta o empobreci-mento como solução para a crise.

o ps reafirma a sua alternativa, pela qual a crise pode e deve ser ultrapassada pela via do crescimento económico e do em-prego, conciliada com a necessária disci-plina orçamental.

o mundo vive há mais de cinco anos nu-ma sucessão de crises: depois do sub-pri-me, iniciámos 2008 com receio da escas-sez e da alta de preços de bens alimen-tares e de petróleo e terminámos esse ano com a falência de gigantes da finan-ça. dos estados unidos da américa pa-ra o mundo a crise desenvolveu-se à ve-locidade da globalização e dos movimen-tos financeiros.

nos últimos anos muito foi posto em causa e as vítimas foram-se suceden-do. primeiro, foi preciso apoiar os ban-cos para que o sistema financeiro não co-lapsasse e como ele a economia. Foi nes-se ponto que se começou a falar no risco sistémico. depois 2009, foi o ano em que forma mais aguda a crise financeira se transforma na crise económica que le-vou para o desemprego milhões de pes-soas e obrigou a repensar a estratégia das empresas. a braços com a maior cri-se desde a grande depressão dos anos 30 do século passado, fomos confronta-dos com a crise das dívidas soberanas e com um ataque sem precedentes ao eu-ro e talvez pela primeira vez na história com a incapacidade dos estados regula-rem a investida e domínio da especula-ção financeira.

no final de 2010, depois da crise gre-ga, portugal foi apanhado no turbilhão das dívidas soberanas. esta crise aconte-ceu quando portugal punha em execução uma política orçamental contracíclica para combater a crise económica decor-rente da crise do subprime americano. portugal seguiu as orientações da eu-ropa que começou por assumir que ha-via uma crise em alguns países, a come-çar pela grécia, e só muito tardiamente percebeu que também era uma crise do euro, que radicava na construção incom-pleta da união económica e monetária e que punha em causa a estabilidade de to-da a ue.

em maio de 2011, na sequência do chumbo do pec iV, foi assinado entre o governo português por um lado, e a co-missão europeia, o Banco central eu-ropeu e o Fundo monetário internacio-nal (troika) um programa de ajustamen-to economico-financeiro até Junho 2014 que exige o cumprimento de um conjun-to de medidas. o psd e o pp acompanha-ram as negociações comprometeram-se antecipadamente com o cumprimento do memorando.

a verdade é que a crise das dívidas sobe-ranas mais do que efeito necessário de políticas nacionais rejeitadas pelos mer-cados, é consequência de uma falha sis-témica na construção da união económi-ca e monetária, prontamente explorada pela especulação financeira. o factor de-cisivo para a subida dos juros dos “países periféricos” foi a ausência de um meca-nismo europeu capaz de suster a propa-gação da crise das dívidas soberanas na zona euro. É hoje mais evidente do que nunca a importância decisiva de uma resposta europeia à crise das dívidas so-beranas centrada no Bce. não foram os resultados das políticas nacionais de aus-teridade que devolveram aos mercados a confiança perdida. a confiança só come-çou a ser recuperada quando, finalmen-te, o Bce optou por uma intervenção de-cidida, por via de volumosas cedências de liquidez ao sistema financeiro e, so-bretudo, do anúncio de mario draghi de que “o Bce está disposto a fazer todo o necessário para preservar o euro. e acre-ditem em mim, será suficiente".

a crise internacional expôs inexoravel-mente as nossas fragilidades estruturais.

em portugal a debilidade das finanças públicas foi amplificada por:

i) Fraco crescimento económico;

ii) Forte dependência externa, com forte peso da componente energé-tica e alimentar;

iii) insuficientes reformas econó-micas de adaptação ao euro e a um mundo globalizado – falta de competitividade;

iv) desequilíbrio das finanças públi-cas há décadas

Querer assacar a qualquer governo a res-ponsabilidade pela crise não é sério. Jus-to será reconhecer que todos os gover-nos tiveram a sua responsabilidade na si-tuação do país.

o ps assume por inteiro todas as suas

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secção

responsabilidades passadas e presentes.

agora, a questão de fundo, para o ps, é continuar a enfrentar as causas pro-fundas e antigas das debilidades estru-turais da economia portuguesa, a que se somou o efeito cumulativo do triplo “choque” competitivo causado pela mo-eda única, pelo processo de alargamen-to da união europeia e pela afirmação das economias emergentes no comér-cio global.

perante tais desequilíbrios, cuja supera-ção é necessariamente difícil e demora-da, portugal precisa de prosseguir, com ambição e persistência o amplo movi-mento de reformas e de modernização do país, da economia e do estado, lança-do pelos governos socialistas, com fortes apostas na qualificação dos recursos hu-manos, na ciência, na modernização tec-nológica, na promoção das exportações e na redução da dependência energética. o desenvolvimento exige a qualificação e o pleno aproveitamento dos recursos do país, não o empobrecimento coletivo.

1.3 o governo falhou

este governo não compreendeu a natu-reza da crise e não está a cumprir as pro-messas eleitorais que fez aos portugue-ses. prometeu não baixar salários, nem despedir funcionários públicos. afirmou que retirar o subsídio de natal e de férias seria um disparate. prometeu mas não cumpriu.

É um Governo impreparado. acenou, na campanha eleitoral, com a descida da tsu como medida mágica para aumen-tar a competitividade das empresas mas rapidamente a transformou num au-mento da contribuição dos trabalhado-res, em 7 pontos percentuais, para finan-ciar as empresas.

comprometeu-se, voluntariamente, a “cortar” 4 mil milhões de euros nas fun-ções sociais do estado e a apresentar o respetivo plano até final de Fevereiro de 2013. tentou camuflar este corte. come-çou por lhe chamar refundação do me-morando e terminou a falar de poupan-ças, como se fosse possível enganar, uma vez mais, os portugueses. o governo fez juras de que Fevereiro seria o mês limi-te para apresentação do plano de cor-tes. chegámos ao final do dito mês, não se conhece uma proposta do governo e o prazo imperativo desapareceu num ápi-ce. não há memória de tamanha impre-paração, de que a estrutura orgânica do governo foi o primeiro sinal, com super-ministérios que dando a ilusão de pou-par recursos, apenas alcançam ineficiên-cia e atrasos nas decisões.

este Governo não acertou uma pre-visão e falhou todos os objetivos.

os portugueses cumpriram e fizeram to-dos os sacrifícios que lhe foram exigidos. o governo falhou no défice, na divida, no desemprego e na economia.

no início de 2012, o governo previa uma queda da economia de 2,8%. a economia caiu 3,2%!

em 2012, mais 126 mil pessoas perde-ram o seu emprego em relação às previ-sões do governo!

a dívida pública cresceu mais de 16 mil milhões de euros em relação ao previsto pelo governo.

e o défice orçamental real foi supe-rior em mais de 1,7 mil milhões de eu-ros em comparação com o previsto pelo governo!

numa jogada de antecipação às previ-sões da comissão europeia, o governo já foi obrigado a reconhecer que a recessão para este ano vai ser o dobro da prevista por si próprio! o dobro!

com o orçamento em vigor há menos de dois meses, o governo antecipou-se a uma humilhação e veio reconhecer o que já todos sabíamos: o orçamento des-te ano não é realista, e por tal, é impossí-vel de executar!

não há memória de uma revisão tão grosseira. apenas 51 dias após a entra-da em vigor do orçamento! isto diz mui-to sobre o grau de credibilidade e de con-sistência deste governo.

o Governo está de costas viradas pa-ra os portugueses, nega a realidade e sempre recusou as propostas do pS para sairmos da crise. o ps defende, desde outubro de 2011, que o país ne-cessita de mais tempo para consolidar as contas públicas, em particular a redução do défice orçamental e o pagamento da dívida pública. desde outubro de 2011 que o governo, e o primeiro-ministro em particular, dizem o contrário e recu-sam mais tempo para a consolidação das contas públicas. o governo acaba de dar o dito por não dito e diz que afinal é ne-cessário mais tempo, tal como o ps sem-pre defendeu. mas ao fazê-lo, o governo não reconhece o seu falhanço, os erros da sua política e que foi imprudente em não ter escutado o ps. Bem pelo contrário, o primeiro-ministro insiste que o país es-tá na direção correta e que, ao pedir mais tempo, não está a contrariar o que disse.

ao agir assim, ao não reconhecer que es-tá a fazer o contrário do que sempre dis-se, o primeiro ministro enfraquece a sua autoridade política, num momento em que o país mais precisa de acreditar nas suas instituições.

com este posicionamento, e o enfraque-cimento do diálogo social patente na ameaça de ruptura do acordo de concer-tação social, o governo aliena fortemen-te a sua capacidade para liderar a saída da crise.

esta postura desadequada e a política er-rada por parte do governo aumentam os receios dos portugueses. a incerteza e o

medo alastram. as pessoas temem o dia de amanhã. o governo é incapaz de ga-rantir uma confiança mínima no presen-te que permita aos portugueses olhar o horizonte com esperança.

1.4. desafios

este é um momento extraordinário na vida do país. Sair da crise é uma emer-gência. mas não podemos sair da crise de qualquer modo, muito menos a qual-quer preço. estamos a falar de pessoas, das suas vidas e dos seus empregos. es-tamos a falar do nosso futuro como po-vo e como país.

É em nome do futuro dos portugueses que o ps deve continuar a exercer uma oposição séria, firme e construtiva, colocando as pessoas primeiro.

Firme na defesa dos nossos valores es-senciais (liberdade, solidariedade e jus-tiça social); séria ao não prometer nada que não possa cumprir quando formos governo; e construtiva apresentando sempre propostas alternativas às políti-cas de que discorda.

o ps continuará a aperfeiçoar e a afirmar a sua alternativa política para devolver a esperança aos portugue-ses e mobilizar organizações, movimen-tos e pessoas que, não sendo militantes do ps, se reveem nos valores progressis-tas, no socialismo democrático e na so-cial democracia. o ps é o espaço natu-ral da esquerda democrática. o espaço onde cada vez mais portugueses deposi-tam a sua esperança. devemos dinami-za-lo de modo a torna-lo mais atractivo para todos quantos têm preocupações sociais e buscam soluções realistas para os problemas dos portugueses.

este é o nosso compromisso.

o compromisso que queremos firmar com os portugueses, através de um contrato de confiança assente numa forma diferente de exercer a política (respeitando os compromissos, honran-do as promessas eleitorais, separando a governação pública dos negócios priva-dos, transparência e exercendo a gover-nação em respeito e em diálogo com os portugueses) e numa alternativa políti-ca clara e credível (desenvolvimento do país, combate às desigualdades sociais e reformado o estado, incluindo os sis-temas eleitorais e a justiça), rejeitando o rotativismo que nada resolve e tudo agrava.

temos consciência que o caminho é muito difícil e exigente. ignorar a difícil situação que vivemos pode ser popular, pode até render muitos votos e tornar--se prática de outros partidos, mas é de uma enorme irresponsabilidade a que o ps não adere.

optamos pelo caminho da exigência e da ambição, por estarmos convictos que es-se é o melhor caminho que para portugal.

os desafios que se colocam ao ps são mui-to exigentes e fazem do próximo congres-so nacional e da eleição do novo secretá-rio geral dois momentos da maior impor-tância política para a vida do partido e do país.

em abril próximo, ao elegermos o novo secretário geral, escolhemos também o candidato do ps a primeiro ministro nas próximas eleições legislativas; e ao eleger-mos os delegados ao XiX congresso na-cional, optamos por uma determinada orientação estratégica para os próximos anos.

as responsabilidades do ps aumentam ca-da dia que passa. cada vez há mais portu-gueses a confiar no ps. a entrada de mais de 20 mil militantes nos últimos dois anos é um sinal da crescente mobilização dos portugueses em torno do ps. temos de continuar a merecer essa confiança e o de-ver de a honrar em todas as circunstâncias.

2 - alternatiVa forte e CredíVel

2.1 Vencer a crise

o ps não aceita o empobrecimento dos portugueses, rejeita mais medidas de aus-teridade e aposta no crescimento económi-co para a saída da crise.

o ps defende uma trajetória credível de ajustamento das nossas contas públicas. o ps quer que portugal cumpra as suas obri-gações externas e está empenhado na con-solidação orçamental como decorre, no-meadamente, do voto favorável ao trata-do Fiscal. mas para o fazer tem que adotar uma estratégia credível através, desig-nadamente, da:

a) Renegociação das condições de ajustamento com metas e prazos credíveis para a redução do défice orçamental e para o pagamento da divida pública, adequados à rea-lidade económica e social do país e ao desempenho da economia europeia e mundial;

b) Renegociação do alargamento dos prazos de pagamento de parte da divida pública;

c) Renegociação do diferimento do pagamento de juros dos emprés-timos obtidos;

d) Renegociação dos juros a pagar pelos empréstimos obtidos;

e) Reembolso dos lucros obtidos pe-lo Banco Central europeu (siste-ma europeu de bancos centrais) pelas operações de compra de dí-vida soberana.

ao mesmo tempo é necessário estabilizar a economia e dinamizar a procura interna através da:

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a) mobilização de fundos comu-nitários com a dimensão e flexi-bilidade de regulamentação neces-sárias para se constituir como um instrumento decisivo de recupe-ração económica e coesão territo-rial e promoção dos fatores de com-petitividade e do crescimento in-teligente, inclusivo e sustentável. assim, deverão assumir-se como prioridades o combate ao desem-prego jovem e à emigração qualifi-cada; a melhoria das qualificações, da capacidade científica e tecnoló-gica; a promoção da inovação e mo-dernização empresarial, a reabili-tação urbana e a redução do défice energético.

b) Financiamento da economia e de novos investimentos, atra-vés da criação de um Banco do Fomento e da promoção de instru-mentos de capitalização das empre-sas, nomeadamente das pme.

c) Adoção de medidas de política fiscal inteligente que promovam o investimento, a capitalização das empresas e a preservação de postos de trabalho (exemplo: levar a cus-tos parte dos empréstimos dos só-cios das empresas, tal como aconte-ce com os empréstimos bancários).

d) apresentação de projetos de in-vestimento reprodutivo e estru-turante (caso da ligação ferroviá-ria de mercadorias sines – madrid, potenciando o porto de sines) aos “project bonds”;

o ps defende um Acordo de Concer-tação estratégica. este acordo deve ter como objetivo travar o empobreci-mento, estabilizar as expectativas dos agentes económicos e promover a com-petitividade da economia. este acordo de confiança deve regular o seguinte:

1) estabilização de médio prazo do quadro fiscal e das prestações sociais;

2) evolução dos salários em torno dos ganhos de produtividade, da situação económica do país, da ta-xa de inflação e dos ganhos de com-petitividade relativa com outras economias;

3) Aumento do salário mínimo e das pensões mais reduzidas, co-mo forma de combate à pobreza e à apoio à recuperação da procura interna;

4) Reposição dos níveis de prote-ção social assegurados pelo com-plemento social para idosos e pelo rendimento social de inserção;

5) Valorização da contratação co-lectiva, como quadro adequado pa-ra a promoção da melhoria da pro-dutividade nos diferentes sectores.

6) mobilizar recursos, designadamen-te fundos comunitários, para apos-tar num programa massivo de for-mação e inserção profissional.

como o ps tem defendido, a saída da cri-se passa por uma resposta articulada e coerente ao nível nacional e ao nível eu-ropeu. no plano europeu, o ps defende:

a) Criação de um programa euro-peu de Combate ao Desempre-go Jovem, com ação prioritária em países com elevada taxa de desem-prego entre jovens, como é o caso de portugal. o financiamento deste programa será feito através de um Fundo com duas origens: receitas das taxas sobre as transações finan-ceiras a suportar pelos bancos e 40% dos fundos comunitários não utili-zados, do atual quadro comunitário de apoio (o total das receitas iniciais ronda os 100 000 milhões de euros);

b) uma política europeia de progres-siva mutualização dos sistemas de apoio ao emprego e de comba-te ao desemprego, em particular do subsídio de desemprego;

c) Reforço da ação do BCe junto dos mercados financeiros de mo-do a que diminuam os custos de fi-nanciamento dos estados em maio-res dificuldades;

d) mutualização de uma parte da divida dos estados, com a conse-quente partilha de soberania orça-mental de cada estado;

e) a criação da união Bancária completa com um sistema comum de garantia de depósito e um me-canismo de recapitalização com poderes para intervir junto dos bancos.

f) o mee deve poder emprestar di-nheiro aos bancos sem afetar a divida soberana dos estados;

g) a proposta defendida na alínea an-terior deve aplicar-se, ao abrigo do princípio de igual tratamento entre estados membros, aos países que estão ao abrigo da assistência finan-ceira (no caso português representa uma diminuição da divida públi-ca em cerca de 7 p.p.);

h) Convergência fiscal, pondo fim ao dumping fiscal e introduzindo um sã concorrência entre empresas e praças financeiras;

i) Gestão cambial conduzida de for-ma a não penalizar as economias do sul da europa;

j) o aprofundamento da união económica e monetária como res-posta afirmativa à crise do euro;

k) a correcção dos profundos efeitos

assimétricos resultantes da moeda única, das diferenças de competiti-vidade e da crise financeira, tendo em vista o cumprimento do objetivo fundador inscrito nos tratados de assegurar a convergência de desen-volvimento entre regiões e estados;

l) eliminação dos paraísos fiscais.

2.2 Construir um país moderno, justo e solidário

2.2.1 um país moderno e desenvolvido

rejeitamos a ideia de que para ser com-petitivo portugal tenha que empobrecer. o desafio é outro. a nossa prioridade é o reforço da centralidade do país em rela-ção aos mercados globais. por isso apos-taremos nas conexões ferroviárias, aére-as e digitais e optimizaremos as redes de conexões rodoviárias já existentes.

Valorizaremos o aproveitamento dos re-cursos endógenos. o vento, o sol, a água e o território são a base para o desenvol-vimento de actividades criadoras de em-prego, geradoras de riqueza, promoto-ras de exportações e de substituição de importações

as energias renováveis, o turismo, a exploração mineira e a agro-pecuária são a base dinamizadora duma econo-mia em que a inovação limpa, a indús-tria com acesso às modernas técnicas e tecnologias e os serviços de elevado va-lor acrescentado constituem fontes cen-trais de criação de riqueza e de emprego sustentável.

apostaremos num portugal posicionado na primeira linha da nova economia ver-de e inteligente.

Queremos estar na linha da frente da construção de um novo desenvolvimen-to económico, social e ambiental. não queremos apenas superar a actual crise económica – queremos uma nova eco-nomia, que afaste cenários de crises futuras.

pugnamos por uma economia mais ver-de, que não esteja viciada no consu-mo pelo consumo, no crescimento pe-lo crescimento, que não dependa dos combustíveis fósseis e da degradação da natureza.

defendemos uma economia em rumo sustentável, mais centrada na qualidade de vida das pessoas. temos bem claro co-mo uma política de ambiente exigente é um verdadeiro motor dessa nova econo-mia verde.

Queremos manter metas nacionais am-biciosas de redução de emissões de gases com efeito de estufa, e de menor intensi-dade carbónica da nossa economia.

o ps entende que se deve apostar na efi-ciência energética, como forma de ajudar

as famílias, as empresas e o estado a con-ter os seus custos energéticos.

Queremos ir mais além nas energias re-nováveis, abrindo caminho adicional ao potencial do sol e do mar como fontes de energia limpa.

Queremos trazer mais sustentabilidade aos transportes, com menos dependên-cia da rodovia e dos combustíveis fós-seis, e mais mobilidade eléctrica e trans-porte público.

defendemos uma política de ordena-mento do território, de cidades e de uso do solo orientada por critérios de sus-tentabilidade, de adaptação às alterações climáticas, e de manutenção e reforço do nosso capital natural.

pugnamos por práticas agrícolas, flores-tais e pesqueiras orientadas para poten-ciar e fomentar os serviços que os ecos-sistemas naturais e a biodiversidade nos prestam.

defendemos uma gestão pública da água que garanta a sua qualidade, o uso efi-ciente e o equilíbrio tarifário dos siste-mas de abastecimento e saneamento.

Queremos que a política de resíduos as-sente na prevenção da sua produção, na reciclagem, e na valorização material e energética dos resíduos e seus derivados.

o objectivo do ps é levar portugal a sair da actual crise económica através de uma opção clara por um rumo de desenvolvi-mento sustentável, criando uma econo-mia mais verde, de baixas emissões, ge-radora de emprego e bem-estar social, e com qualidade ambiental reforçada.

apostaremos num país rede que não aceita ser um protetorado, mas antes afirma o seu papel de ponte entre econo-mias, mercados e culturas para se colo-car na fronteira tecnológica e tirar parti-do da criatividade e da capacidade inova-dora do seu povo.

Fomentaremos e apoiaremos as redes competitivas e os clusters de especializa-ção para dar dimensão ao nosso poten-cial, facilitar a internacionalização das pequenas e médias empresas e fortalecer a dimensão global da nossa economia.

2.2.2 um país justo, coeso e qualificado

não nos resignaremos a continuar a ser um dos países desenvolvidos com maio-res coeficientes de desigualdade no aces-so aos rendimentos e às oportunidades. o acesso ao conhecimento é a mais po-derosa arma ao serviço da justiça so-cial e da capacidade competitividade das sociedades.

acreditamos nos portugueses. conhece-mos o seu valor e o seu potencial. Quere-mos qualificar cada vez mais as pessoas para a partir daí gerar comunidades mais

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preparadas para os desafios da moderni-dade, da solidariedade e da felicidade.

embora portugal, enquanto país sob apoio financeiro internacional esteja dis-pensado do cumprimento obrigatório do programa nacional de reformas no con-texto da estratégia europa 2020, conside-ramos que o seu desígnio mobilizador não deve ser abandonado e que nada justifica a desistência das metas nele estabeleci-das, no que se refere à aposta na investi-gação e na inovação, na criação de empre-go, na aposta nas energias renováveis e na eficiência energética, no reforço das quali-ficações e no combate á pobreza.

a nova geração de portugueses deve ter, no mínimo, acesso às condições médias da união europeia no que diz respeito aos indicadores de qualificação e justiça social no horizonte de 2020 constitui um compromisso mobilizador essencial e uma aposta em portugal e nos portugue-ses que contrasta fortemente com o bai-xar de braços e os sinais de desistência da maioria ultraliberal que nos governa.

2.2.3 uma agenda para o crescimento e emprego

uma alternativa credível que devolva a esperança aos portugueses tem que apostar no progressivo aumento do grau de abertura da economia portuguesa, que sustentadamente reequilibre a ba-lança de bens e serviços e reduza as ne-cessidades de financiamento externo do país, bem como crie novos postos de tra-balho, qualificados e com rendimentos do trabalho mais elevados. o incremento progressivo dos rendimentos do traba-lho de acordo com o aumento da produ-tividade deve ser um dos objetivos pro-gramáticos da política económica do ps.

o ps propõe uma agenda para o cres-cimento e o emprego com sete pilares fundamentais:

1. Qualificação das pessoas

utilizar os fundos comunitários, do Qren (no âmbito do poph), e em particular do novo Qca 2014-2020, para combate ao desemprego, pro-moção das qualificações e reforço da ligação ao terceiro sector.

2. Financiamento da economia e Capitalização das pmes

criar um Banco do Fomento e pro-mover instrumentos de financia-mento e capitalização das empresas, nomeadamente das pme, de modo a que haja investimento, fomento das exportações e desenvolvimen-to dos recursos endógenos da eco-nomia nacional, dando particular atenção às regiões que sofrem pro-cessos trágicos de desertificação ou que estão deprimidas, seja no terri-tório continental, seja nas regiões ultraperiféricas.

3. Redução dos Custos de Contexto do Desenvolvimento da Ativida-de económica

assumir a simplificação adminis-trativa, a luta contra a burocra-cia e um eficiente funcionamento do estado como factores essenciais de competitividade e atracção de investimento.

4. Apoio à I&D e Inovação nos pro-cessos e nos produtos

reforçar a ligação dos pólos de com-petitividade e dos clusters ao sis-tema científico e tecnológico e de-senvolver um programa de apoio ao empreendedorismo.

5. Incentivo e promoção da econo-mia Verde, das energias Renová-veis, da eficiência energética e da produção nacional

desenvolver um ‘programa de rea-bilitação urbana’, prosseguir o de-senvolvimento sustentável do clus-ter das energias renováveis, desen-volver a economia do mar, o sector agrícola e agro-alimentar, a floresta e o turismo.

6. promoção das exportações e à Internacionalização da econo-mia portuguesa

desenvolver um programa integra-do em que a inteligência económica, os instrumentos públicos de seguro de crédito à exportação, os meca-nismos fiscais e a diplomacia eco-nómica interajam para aumentar a quantidade e valor das exportações portuguesas.

7. Captação de Investimento Dire-to estrangeiro

assumir como estratégica a capta-ção de ide promovendo um ben-chmarking da competitividade do território e do tecido empresa-rial português e accionando ins-trumentos financeiros e fiscais adequados.

2.2.4 um estado transparente, forte e eficiente

a reforma do estado não pode ser fei-ta à pressa, nem nas costas dos portu-gueses. nem pode ser confundida com um corte de 4.000 milhões de euros, por opção do governo. a reforma do estado não começa do zero como se nada pa-ra trás existisse de bem feito, nem exis-tissem dinâmicas positivas que importa conhecer melhor e incentivar.

o pS deve liderar o debate sobre a re-forma do estado, em defesa dos valo-res de que é portador e na procura de so-luções que garantam a sustentabilidade, a modernização e a eficácia das políticas públicas e do estado.

a reforma do estado e da administra-ção pública, enquanto objectivo de mo-dernização da sociedade, deve direccio-nar-se na defesa e aprofundamento do estado social e da democracia, mediante:

1. a afirmação da escola pública co-mo espaço de oportunidades e di-reitos para todos, jovens e adul-tos, independentemente das situ-ações socioeconómicos de partida. porque o ps sabe que a igualdade de oportunidades se joga muito no campo das qualificações. É também por aqui que passa o maior desafio da necessária estabilização social, que deve articular-se com uma re-novada aposta no crescimento eco-nómico. nesse sentido, urge mo-bilizar recursos, designadamente fundos comunitários, para apostar num programa massivo de forma-ção e inserção profissional que pro-mova alguma estabilização de ren-dimentos das centenas de milhares de famílias afetadas pelo flagelo do desemprego.

2. no âmbito do Serviço nacional de Saúde - património maior do ps – importa continuar a garantir a uni-versalidade e a equidade no acesso, promover a diminuição da ineficiên-cia na prestação dos cuidados, refor-çando a centralidade nas pessoas, nos processos de cuidados, em arti-culação e em contínuo e promoven-do a evolução de um sistema cen-trado em cuidados agudos para um outro mais focado nas doenças de evolução prolongada, em concerta-ção permanente e envolvendo todos os actores.

defendemos uma separação entre os sectores público, privado e social, cabendo ao estado o papel estraté-gico no exercício do direito à protec-ção na saúde e na articulação trans-parente com os restantes sectores.

a excelência dos resultados em saú-de e de operacionalização dos cuida-dos que atingimos deverá ser usa-da como arma de afirmação identi-tária do país, não só sublinhando as nossas capacidades de realização co-mo o potencial de investigação ao mais elevado nível que, nelas está compreendido.

a saúde é um bem em si própria, construtora de coesão social, mas é também indutora da actividade eco-nómica. promove a produtividade, gera emprego de elevada qualida-de, incorpora investigação e inova-ção, encerrando um potencial eco-nómico e de internacionalização que deve ser incentivado e apoiado de acordo com pensamento estraté-gico próprio.

3. um sistema público de seguran-ça social que enfrenta os desa-fios estruturais, como o da evolu-

ção demográfica, que exige políti-cas sociais destinadas a contrariar a redução da natalidade, designa-damente medidas de apoio às fa-mílias, de apoio à parentalidade e de conciliação da vida profissional e familiar. Favorecer as condições de ingresso no mercado de trabalho, apoiar as transições, promover polí-ticas ativas de qualificação profissio-nal e manutenção da ligação dos tra-balhadores ao mercado de trabalho, estimular o envelhecimento activo - eis alguns dos desafios prioritários. por outro lado, depois do progresso alcançado com a redução da pobre-za dos idosos, importa concentrar recursos no combate à pobreza das crianças, em particular as inseridas em famílias numerosas e monopa-rentais com baixos rendimentos.

4. a reforma do sistema político, desde logo a lei eleitoral da assem-bleia da república, num quadro de respeito das regras da proporciona-lidade, governabilidade e aproxima-ção dos eleitos aos eleitores. um de-bate participado e partilhado que estamos empenhados em prosse-guir que refere à legitimidade e cre-dibilidade da democracia, o papel do parlamento nacional, a transparên-cia financeira, o aprofundamento da legitimidade do exercício político centrado na responsabilidade cívica, um claro sistema de controlos recí-procos e separação de poderes entre as autoridades públicas, a moderni-zação do sistema eleitoral autárqui-co, o alargamento dos mecanismos de participação dos cidadãos, o reco-nhecimento aprofundado do princí-pio da paridade, a valorização da igualdade como contrapartida na-tural da liberdade e da diferença e a adaptação aos novos desafios so-ciais e tecnológicos.

5. uma política fiscal mais equi-tativa, progressiva, transparente e inovadora. o princípio da equidade deve orientar a distribuição de sa-crifícios dos portugueses. cada pes-soa deve contribuir na medida da sua riqueza e dos seus rendimentos de modo justo e equilibrado, no res-peito pela constituição da repúbli-ca. Queremos aprofundar uma re-forma fiscal ambiental, que alivie a carga fiscal dos rendimentos do tra-balho, fazendo-a antes incidir no consumo de recursos e nas emissões poluentes.

esse é um caminho para gerar recei-ta de forma socialmente mais justa, e também para estimular a criação de emprego.

6. a aproximação dos cidadãos às instâncias de decisão adminis-trativa, promovendo a reforma descentralizadora da administra-ção central, a sua desconcentração e desburocratização, a regionalização

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do continente; aprofundando e res-ponsabilizando a componente re-gional autonómica do estado, racio-nalizando o sector empresarial do estado central, regional e local; me-lhorando a gestão pública; retoman-do o dinamismo perdido da moder-nização administrativa e do governo electrónico; e assegurando o efecti-vo funcionamento dos instrumen-tos de valorização do mérito na fun-ção pública. um estado forte exige uma capacidade reguladora sobre os mercados e a adoção de novas re-gras, a nível mundial, de regulação eficaz dos bancos, das companhias de seguros e dos fundos especulati-vos. um tal objetivo deve ser prosse-guido quer pelos estados, quer pelas instituições europeias. o ps defen-de ainda que, como medida de refor-ço concreto da defesa dos direitos dos consumidores, as associações representativas dos consumidores portugueses sejam envolvidas no controlo das entidades de regulação e de fiscalização da economia.

7. a transparência activa, como pro-cesso de melhoria da qualidade da democracia, implicando maior res-ponsabilização e um exercício mais ativo da atividade política como função nobre ao serviço de todos os cidadãos. a promoção de um princí-pio de transparência ativa como de-ver das entidades públicas permiti-rá garantir o acesso de todos à in-formação pública, em condições de plena acessibilidade e disponibilida-de, invertendo-se, assim, o modelo hoje consagrado. a transparência é o necessário corolário dessa mudan-ça. só assim poderá haver respon-sabilização dos agentes políticos. só assim será possível individuali-zar aqueles que, por força de um sis-tema opaco, contribuem para criar uma imagem de suspeição generali-zada sobre a vida pública, colocan-do os respectivos interesses indivi-duais à frente da causa pública.

o ps participará na busca de con-sensos alargados para a definição de regras de transparência, registo e âmbito da actividade de lóbis.

a separação de interesses entre o sector público e o sector privado de-ve ser clarificada; desde logo com a adoção de mecanismos severos de incompatibilidade, impedimentos e registos de interesses acessíveis.

a transparência é, a nosso ver, o ins-trumento idóneo para garantir a ideia de um compromisso ético no exercício das funções públicas.

8. o combate à corrupção - a cor-rupção é inimiga do estado de direi-to e está a enfraquecer o nosso re-gime democrático, apresentando-se como um fenómeno que ultrapassa em muito a esfera da actuação públi-

ca, sendo transversal a toda a socie-dade portuguesa e, por isso, consti-tuindo-se como uma séria ameaça para o desenvolvimento económico sustentável.

o exercício de atividades que visem dar cumprimento ao interesse pú-blico deve estar comprometido com padrões éticos exigentes não só para garantir a integridade da coisa pú-blica, como igualmente para dete-tar e reduzir ocasiões e circunstân-cias de risco de corrupção.

2.3 numa europa federal com voz própria

portugal tem um território de 92 090 Km2 e 10,5 milhões de habitantes. num forte contexto de globalização, a integra-ção política e económica numa região do mundo é condição necessária para a so-brevivência do país. portugal deve rea-firmar a sua opção europeia, quer como membro da união, quer como membro da zona euro.

reafirmar a opção europeia exige ter um pensamento claro quanto ao que deve ser a europa e que papel deve portugal desempenhar no seio da união.

ao contrário do governo que se compor-ta com um bom aluno, sem voz própria, aceitando e executando tudo o que a li-derança europeia lhe transmite, o ps en-tende que, mesmo num quadro de assis-tência financeira externa, portugal deve pugnar, de forma ativa, por uma união europeia das pessoas que seja capaz de responder aos seus problemas concretos, de que o desemprego é o mais urgente.

o somatório de políticas orçamentais nacionais, por mais coordenadas que se-jam, não origina uma política económi-ca europeia. muito menos envolto num clima de egoísmos nacionais e de discur-sos políticos de pendor nacionalista, ge-ralmente caraterizados por uma narrati-va de “punição moral”.

Basta de ambiguidades, em que a europa se entretém desde o início da década de noventa do século passado. É preciso fa-zer escolhas!

a europa dos governos deve dar lugar à europa das pessoas e dos estados. es-te objetivo deve ser alcançado através do princípio da igualdade, estruturante dos regimes federais. a partilha de sobera-nia e o seu exercício em conjunto é a ex-pressão inteligente de uma nova abor-dagem para a adequação do conceito de soberania, real e não formal, aos nossos tempos.

o ps defende a criação de um proces-so aberto, participado e transparente de revisão dos tratados europeus visan-do a aprovação de um novo tratado europeu.

este novo tratado europeu deve acolher,

sem ambiguidades, a governação política e económica europeia (instituições, com-petências e instrumentos) e mais demo-cracia (responsabilização política, atra-vés de eleição direta, dos principais deci-sores europeus).

um novo tratado para uma nova euro-pa exige também um orçamento euro-peu com dotação superior à existente (cerca de 1% do piB) através de receitas próprias, com base no federalismo fis-cal. um orçamento com mais recursos permite a adoção de políticas anti-cícli-cas (necessárias para a saída da crise), o desenvolvimento económico (através de investimento reprodutivo), elimina os vetos aos países em dificuldades e põe fim aos “folhetins confrangedores” para aprovação dos orçamentos da ue, como estamos, infelizmente, a assistir.

a integração política na ue não deve ex-cluir outras formas de cooperação mul-tilateral com outras regiões ou países do mundo. essa cooperação deve obe-decer a opções políticas claras e a prio-ridades muito bem definidas. o espa-ço da lusofonia, seja através da cplp ou de relações bilaterais com os países que a integram, deve constituir-se na primei-ra prioridade da ação política de portu-gal nos domínios da cooperação econó-mica, cultural e política.

3 – MobiliZar e reforÇar a ConfianÇa doS PortugueSeS no PS

3.1. um partido mais aberto e mais coeso

o ps foi fundado a 19 de abril de 1973. em abril próximo comemoramos 40 anos. a nossa história confunde-se com a história de portugal democrático e do portugal europeu.

a melhor maneira de comemorar o 40º aniversário do ps e recordar os seus fun-dadores é honrar os valores fundacio-nais, interpreta-los à luz dos nossos tem-pos e afirmar permanentemente a ur-gência do nosso projecto.

tal como no passado, o país precisa do ps. e o ps aqui está disponível para con-tinuar a servir portugal.

serviremos melhor o nosso país com me-lhores ideias, maior coesão e uma per-manente abertura às pessoas.

o debate de ideias deve ser cada vez mais a nossa marca. prosseguiremos com o plano nacional de formação, a reali-zação anual da universidade de Verão e com o laboratório de Ideias e pro-postas de portugal. o lipp, que subs-tituiu o gabinete de estudos, reúne mi-lhares de independentes e militantes em mais de 50 grupos de trabalho perma-nentes. o laboratório de ideias é o es-paço privilegiado para o encontro das

competências e das experiências dos mi-litantes e dos simpatizantes socialistas. do debate aberto e plural resultam con-tributos relevantes para a valorização da nossa alternativa política.

seremos ainda mais fortes quanto mais plurais formos no debate e unidos na ac-ção política. intensificaremos o debate político interno para esclarecimento de militantes e simpatizantes e para a pres-tação de contas dos dirigentes nacionais através de plenários de militantes e de reuniões estatutárias em todo o país.

continuaremos o esforço de comunica-ção e de troca de informação entre as di-ferentes estruturas do ps e entre estas e os militantes, através dos sítios do ps na internet e das redes sociais. a apos-ta do ps em novas plataformas de comu-nicação deve ser crescente pois é decisiva para a transmissão de informação políti-ca, para a consolidação do pluralismo no debate interno e para abrir o ps à socie-dade e às gerações mais novas. um par-tido político do século XXi exige comu-nicação permanente e militantes infor-mados e activos.

intensificaremos e melhoraremos for-mas de trabalhos com as federações, as concelhias e as secções do ps.

o ps é um espaço aberto à participação de todos e de todas.

portugal não pode continuar a prescin-dir do contributo dos jovens portugue-ses como resulta dos elevados níveis de desemprego jovem ou dos milhares de ci-dadãos que abandonam o país à procu-ra de oportunidades de realização pesso-al e profissional. com total respeito pe-la sua autonomia, o ps trabalhará com a Juventude Socialista para assegu-rar uma participação real, consequente e mobilizadora dos jovens portugueses na vida do país. o ps conta com o contribu-to dos jovens socialistas para um portu-gal com futuro.

com o contributo do Departamento nacional das mulheres Socialistas, o ps prosseguirá o caminho da igualda-de de género, de remoção dos obstáculos à participação das mulheres e de comba-te às situações de injustiça que persistem na sociedade portuguesa, nomeadamen-te a desigualdade salarial.

o ps continuará a aprofundar a relação com o mundo laboral, mantendo um di-álogo permanente com os sindicatos, no respeito pela sua independência, e reforçando o papel da tendência Sin-dical Socialista. o ps reconhece a im-portância crescente do movimento sin-dical e da concertação social na busca de soluções para sair da crise. o ps valori-za e respeita a diversidade da participa-ção sindical dos seus militantes, consti-tuindo ela própria um factor de aproxi-mação ao mundo laboral e à realidade social.

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o respeito pelo princípio das autono-mias regionais implica uma relação de solidariedade permanente perante os desafios nacionais, na região autónoma dos Açores e na região autónoma da madeira. agora que os socialistas aço-rianos renovaram a confiança para go-vernar de santa maria ao corvo, o ps açores continuará a contar com a solida-riedade do ps para os desafios da insula-ridade no quadro das especificidades da região. na região autónoma da madei-ra, onde os sinais de esgotamento da so-lução governativa são cada vez mais evi-dentes, os socialistas madeirenses conta-rão com a solidariedade empenhada do ps nacional na construção de uma alter-nativa política eficaz.

investiremos na relação com os grupos parlamentares socialistas na Assem-bleia da República e no parlamen-to europeu. a acção dos deputados (no parlamento português e no parlamento europeu), em articulação com os órgãos nacionais do ps é essencial para o reforço e visibilidade da nossa oposição ao go-verno e da nossa alternativa. estas duas frentes, nacional e europeia, são essen-ciais na estratégia política do ps.

o reforço da implantação do ps junto das Comunidades portuguesas é funda-mental. o ps aposta na valorização das comunidades portuguesas, no reconhe-cimento da diversidade dos cidadãos que as integram, na salvaguarda de uma rede base de representação do estado portu-guês, na defesa da identidade portugue-sa nas suas várias expressões e na altera-ção das mentalidades no relacionamento do país com estes cidadãos residentes fo-ra do território nacional. o ps aposta no aproveitamento integral das potenciali-dades das comunidades portuguesas pa-ra a afirmação de portugal.

um partido como o ps tem de ter a ambi-ção de incluir na sua relação com a socie-dade portuguesa espaços de participação e de diálogo com os movimentos sociais, nas suas diversas expressões e formas de organização. no respeito pela sua inde-pendência, o ps aprofundará as relações com os movimentos sociais por forma a promover o reforço e desenvolvimen-to da cidadania e do voluntariado. esta relação de parceria permitirá promover um debate permanente e aberto em prol dos desafios do país do qual surgirão ini-ciativas de reforço democrático que pre-tendem ser elementos geradores de soli-dez, confiança e evolução do nosso siste-ma político (dentro e fora dos partidos), bem como acções conjuntas com vista à promoção de melhores níveis de bem es-tar e de protecção social para todos os portugueses. o ps quer contar com estes cidadãos e movimentos sociais, no res-peito pela sua independência, para refor-

mar o sistema democrático e reconstruir a confiança num futuro melhor.

o ps continuará a valorizar o trabalho no âmbito do partido Socialista eu-ropeu, da Internacional Socialista e dos espaços de cooperação política da lusofonia. a solidariedade e o traba-lho em comum da família socialista é es-sencial para a afirmação de uma alterna-tiva política ao neoliberalismo europeu e à globalização sem regras. o ps conti-nuará a apostar no reforço da integração política da lusofonia apoiando a criação de uma plataforma de cooperação políti-ca entre as forças progressistas de língua portuguesa.

3.2 uma nova forma de fazer política

o ps é um partido que aspira a gover-nar portugal. o ps não é um partido de oposição. o ps está na oposição. um oposição firme e na defesa dos seus va-lores, responsável perante os compro-missos assumidos e agindo construtiva-mente, apresentando sempre alternati-va quando discorda de uma proposta do governo.

o ps fixou uma regra de ouro: não pro-meter nada na oposição que não possa cumprir quando for governo.

esta postura é condição de credibilidade da alternativa do ps.

a unidade no ps é uma condição referen-cial para o que mais importa fazer: unir os portugueses numa larga plataforma de entendimento em torno de soluções partilhadas para os problemas nacionais.

impõe-se que o ps em nenhum momen-to se deixe cair na tentação do isolacio-nismo. só em torno do ps é possível con-gregar disponibilidades e mobilizar ener-gias criativas. É com tal entendimento que o ps se declara firmemente empe-nhado em constituir-se como pólo agre-gador de concertação social.

a concertação social e o diálogo po-lítico estruturaram o modo de acção po-lítica do partido socialista, que se de-ve assumir como plataforma aberta ao entendimento e à participação. estrei-tar relações intensas com empreende-dores, associações sindicais e patronais, sem discriminações, instituições de so-lidariedade social, ong’s e outros movi-mentos informais significará fazer do ps um interlocutor constante dos protago-nistas sociais. assim, o ps deve mobili-zar o maior número de organizações e ci-dadãos para as tarefas que o país mais re-clama e de que carece.

a consequência natural desse empenha-

mento na concertação e no diálogo é o ps se assumir como interlocutor privilegia-do na busca de soluções de compromisso e entendimento com os demais partidos políticos. sem quebra da sua identidade e do seu ideário, sem hipotecar os seus valores e o rumo de uma estratégia con-sequente para o país, o ps deve empe-nhar-se em obter do eleitorado confian-ça que lhe permita uma maioria absolu-ta para governar mas deve, igualmente, deixar claro que, seja qual for a dimen-são dessa maioria, a sua disponibilidade para o diálogo e para o empenhamento na prossecução de soluções conjuntas, a todos os níveis da governação, deve ser uma constante e um compromisso fun-damental com todos os eleitores.

3.3 os objetivos eleitorais: um ciclo vitorioso

Vamos entrar num longo ciclo eleitoral. um ciclo decisivo para portugal e para o ps. os portugueses vão, em cada mo-mento eleitoral, ser chamados a envol-ver-se com a afirmação de um projecto para um portugal justo, moderno e so-lidário protagonizado pelo ps. este ci-clo eleitoral é particularmente relevante porque perante o empobrecimento dos portugueses e a pretensão de desman-telamento do estado social, os eleitos do ps, nos planos local, europeu e nacional, protagonizarão, com empenho, uma res-posta que concretize um portugal justo, moderno e solidário.

a afirmação de um ps unido, construtivo e com cultura de compromisso é condi-ção essencial para a apresentação de uma proposta mobilizadora para o país que se traduza em vitórias nas eleições autár-quicas, nas eleições europeias e nas elei-ções legislativas.

a recuperação da confiança dos portu-gueses materializada nesses sucessos eleitorais será sempre o resultado da unidade na ação política do ps e do am-plo debate em torno das bases comum de orientação estratégica que o partido co-lectiva e democraticamente aprovar.

as eleições autárquicas são uma das prioridades políticas do ps em 2013. a nossa meta é trabalhar para que o ps vol-te a ser primeiro partido autárquico. não será tarefa fácil, entre outras razões pelo facto de uma parte substancial dos atu-ais presidentes de câmara, autarcas de prestígio, não poderem recandidatar--se por força da lei e, independentemen-te da interpretação jurídica, pela exigên-cia política que colocámos a nós próprios de não recandidatarmos a nenhum ou-tro concelho presidentes de câmara com mais de três mandatos. o ps ao assu-mir esta orientação política tem consci-ência que poderá ser prejudicado eleito-

ralmente, mas o ps não abdica de contri-buir para a renovação dos protagonistas políticos.

no plano autárquico concorreremos em todo o país de forma autónoma afirman-do a nossa matriz e o nosso programa, em aliança com as populações e os seus movimentos cívicos de acordo com as di-nâmicas próprias de cada freguesia e de cada concelho, respeitando a vontade política das bases do partido.

o ps lutará para devolver a autonomia ao poder local que este governo tem vin-do a destruir, de que a lei dos compro-missos e a nova proposta de finanças lo-cais são exemplos elucidativos.

o abandono das populações à sua sorte com a extinção cega de freguesias refor-çou o papel absolutamente central dos autarcas como último elo de ligação dos cidadãos a instituições coletivas impres-cindíveis para a preservação da coesão social e territorial.

em articulação com a associação nacio-nal dos autarcas socialistas organizare-mos a Convenção nacional Autárqui-ca, antes das eleições de outono, on-de adoptaremos o núcleo essencial dos princípios e das políticas que são a nossa marca distintiva em relação a outras for-ças políticas.

as eleições europeias serão o momen-to por excelência de reafirmação do pro-jecto europeu e constituirão uma opor-tunidade para recuperar a confiança dos portugueses a partir de um debate lúcido e esclarecedor sobre as origens da crise, sobre a importância das respostas coor-denadas no plano europeu e sobre a ne-cessidade de uma visão federalista e de-mocrática da união europeia. no âmbi-to da agenda socialista europeia quanto ao que deve ser o futuro do projecto eu-ropeu, nunca como hoje foi tão determi-nante para o futuro do país a escolha de eurodeputados portugueses. este será um momento vital para a afirmação do caminho escolhido pelo partido socialis-ta para a saída da crise e para o cumpri-mento do seu projecto de alternativa. É, aliás, condição do seu sucesso, o que res-ponsabiliza excepcionalmente os candi-datos do ps.

as eleições legislativas serão o mo-mento determinante para a escolha dos portugueses entre duas propostas alter-nativas: uma proposta ultraliberal que deixa os portugueses à sua sorte ou uma opção progressista e solidária que não deixa ninguém para trás. É este o gran-de desígnio do ps neste ciclo eleitoral e para o qual o ps se apresenta com uma proposta política alternativa e ganhado-ra para governar portugal.

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MOÇÃO DE CANDIDATURA A PRESIDENTE DO DEPARTAMENTO NACIONAL DAS MULHERES SOCIALISTAS

tod@S diferenteS SoMoS iguaiSPrimeira subscritora

iSabel Coutinho

a igualdade entre mulheres e homens constitui um dos desafios mais impor-tantes na prossecução de uma socie-dade mais justa e inclusiva. o refor-ço da reflexão sobre a participação efetiva das mulheres na vida inter-na do ps terá de refletir, obrigato-riamente, o projeto de sociedade que preconizamos.

este projeto visa a consolidação de re-lações de género democráticas, nas quais o direito à igualdade e o res-peito pela diferença sejam efetivos. e pretende afirmar modelos de subje-tividade onde se inserem o feminino e o masculino, bem como defender a igualdade de oportunidades e o igual valor de todos.

a atual situação política e social do país leva-nos a abraçar um projeto de ação capaz de se constituir como al-ternativa construtiva, no sentido de apresentar soluções que contribuam para inverter o percurso de austerida-de e de desigualdade que tem sido im-posto às portuguesas e aos portugue-ses por este governo.

deste modelo de (des)governação, de-corre a necessidade de adotar medidas práticas que reforcem a solidariedade e a estabilidade, sendo, para nós, in-contornável manter, no primeiro pla-no da agenda, os problemas e as desi-gualdades sociais.

a crise dá-nos a oportunidade de re-tirar importantes lições e de decidir em conjunto sobre a forma que quere-mos dar às alterações prioritárias do atual contexto, a partir de um esforço coletivo, no qual mulheres e homens são chamados a intervir, com base num modelo de participação igualitá-ria. sabemos que esta não é a postu-ra que tem vindo a ser assumida pe-los atuais governantes. mas é a força desta moção: afirmar esta mensagem no seio do partido socialista, com re-percussões na sociedade civil, de for-ma a traduzir-se numa ação concerta-da nas medidas governativas. porque existem mulheres e homens, mas, an-tes de mais, pessoas diferentes, mui-

tas das quais unidas pelos valores do partido socialista, é fundamen-tal dar oportunidade à diferença que nos torna mais ricos na nossa mensa-gem e ação: “tod@s diferentes somos iguais”. sabemos que a afirmação da igualdade de oportunidades e de géne-ro tem a sua essência no respeito pela diferença. a partir da assunção deste direito fundamental, os processos de decisão e de atuação são valorizados. Quando mulheres e homens têm efe-tiva oportunidade de participação, to-dos ganhamos.

para implementarmos o que falta - das muitas propostas legislativas, planos de ação, pareceres, relatórios -, temos que obter feedback e avaliar os resul-tados. as decisões e políticas devem ser bem fundamentadas, exequíveis, eficientes e concertadas em igualda-de efetiva.

a este propósito, relembramos que o partido socialista tem sido pioneiro no contributo para a igualdade de gé-nero e para a não discriminação, no-meadamente através da lei da pari-dade, do reforço do conceito de pa-rentalidade, da despenalização da interrupção voluntária da gravidez, entre outros contributos.

a igualdade entre mulheres e homens faz parte dos valores comuns da união europeia (ue), constituindo um direi-to fundamental e um objetivo que de-ve ser promovido em todas as suas atividades.

o artigo 23.º da carta dos direitos Fundamentais da união europeia es-tabelece a obrigação de «garantir a igualdade entre homens e mulhe-res em todos os domínios, incluindo em matéria de emprego, trabalho e remuneração».

a atuação da ue no campo da igual-dade de género compreende múltiplas iniciativas políticas e diversos instru-mentos jurídicos e financeiros que têm gerado desenvolvimentos adicio-nais ao longo das últimas décadas nos estados-membros. reconhecidamen-

te, o direito europeu está na vanguar-da dos direitos das mulheres.

recentemente, a comissão europeia reforçou o seu empenho em relação à igualdade de género, com a adoção da carta das mulheres e da estratégia para a igualdade entre homens e mu-lheres (2010-2015), onde define cinco áreas prioritárias de ação: igualdade na independência económica; igualda-de na remuneração por trabalho igual ou por trabalho de igual valor; igual-dade na tomada de decisões; dignida-de, integridade e fim da violência com base na identidade sexual; e igualda-de entre homens e mulheres na ação externa.

em novembro último, apresentou uma proposta de diretiva, visando promover uma representação mais equilibrada dos géneros nos conse-lhos de administração das empresas europeias. o objetivo é combater a elevada e persistente sub-representa-ção das mulheres e as barreiras invisí-veis que continuam a condicionar for-temente o seu acesso a posições de to-po nas organizações.

o compromisso com a realização da igualdade de género é também assu-mido pelos estados-membros na for-ma de um pacto europeu para a igual-dade entre homens e mulheres para o período 2011-2020. reconhece-se que este é um princípio fundamental da união europeia e que se reveste ainda de extrema importância para o cresci-mento económico, para a prosperida-de e competitividade

as orientações para o emprego, ao abrigo da «estratégia europa 2020», afirmam ainda a necessidade de «in-tegrar de forma visível o princípio da igualdade de género em todos os domínios de ação pertinentes, pa-ra que todos os aspetos das orien-tações possam ser executados nos estados-membros».

importa referir também que a reso-lução de 2000 do conselho europeu de ministros do emprego e da políti-

ca social, relativa à participação equi-librada das mulheres e dos homens na atividade profissional e na vida fami-liar, continua a ser um dos documen-tos europeus mais progressistas no âmbito da igualdade entre homens e mulheres.

a resolução realça que é chegado o momento “para a concretização do no-vo contrato social em matéria de gé-nero, em que a igualdade, de facto, de mulheres e homens na esfera pública e na esfera privada seja socialmente as-sumida como condição de democracia, pressuposto de cidadania e garante da autonomia e da liberdade individual”.

partindo de uma orientação europeia, é necessário concretizar ações que vão desde a melhor representação política das mulheres, através do maior equilí-brio de género nos parlamentos nacio-nais (uma vez que, nos últimos tem-pos, a mesma não apresentou uma evolução linear) até à evidente neces-sidade de prestar atenção tanto às ta-xas de emprego como à igualdade das condições de trabalho e oportunida-des de carreira e salário. não esquece-mos que o tribunal de Justiça das co-munidades europeias já demonstrou a necessidade de dotar a legislação rela-tiva à igualdade de género de disposi-ções claras e inequívocas. em paralelo, o esforço deve centrar-se na sensibili-zação para a extinção de barreiras na licença parental, de modo a aumentar a taxa de utilização por parte dos ho-mens e apelar à afirmação do empre-endedorismo no feminino, mediante a criação de estruturas de formação e assessoria e o acesso ao financiamen-to público e privado.

a base estruturante deste projeto que apresentamos às mulheres socialistas centra-se na ideia de que a participa-ção equilibrada nas esferas pública e privada serve os interesses de homens e mulheres, apostando na natureza re-cíproca das relações de género.

Apesar dos avanços e progres-sos notáveis, os obstáculos a uma igualdade real continuam a exis-

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tir e têm tendência a agravar--se no atual contexto de crise. Além deste aspeto, é fundamen-tal ter atenção ao caminho polí-tico de austeridade definido pe-los atuais governantes, que não assume o crescimento económico e o emprego como objetivos fun-damentais de desenvolvimento, tendendo a aprofundar as desi-gualdades. este terreno é propí-cio a retrocessos conservadores que remetem, novamente, as mu-lheres para os papéis tradicional-mente a elas relegados, com per-das dramáticas ao nível dos di-reitos, muitos deles conquistados com o esforço de mulheres e ho-mens socialistas que fizeram des-ta causa um marco civilizacional.

É preocupante verificar que os cortes na saúde têm consequências negati-vas na prestação de cuidados dos ci-dadãos, designadamente ao nível da saúde materno-infantil, uma área na qual portugal conseguiu um avanço significativo e um lugar de destaque no mundo, mas onde o perigo de re-trocesso é evidente.

É preocupante verificar o aumento da pobreza infantil e os seus efeitos nas gerações vindouras.

É preocupante verificar que, não obs-tante a diversa legislação existente, os números revelam que as mulheres continuam a ser discriminadas em vá-rios domínios, como o do trabalho, e que constrangimentos sociais e pesso-ais insistem em condicionar as suas oportunidades e o exercício dos seus direitos.

a participação equilibrada nas esfe-ras pública e privada serve os inte-resses de homens e mulheres e apos-ta na natureza recíproca das relações de género. aspetos a ter em conta num portugal que vê aumentar o seu índice de envelhecimento demográfi-co e vê diminuir o índice de renovação geracional.

É com estes pressupostos que nos queremos comprometer e trabalhar para uma alternativa de esperança na igualdade.

tendo em atenção este enquadra-mento, a ação que propomos concre-tizar no seio do departamento nacio-nal das mulheres socialistas centra-se em várias esferas que apresentamos, de seguida.

Política

- reafirmar o papel do departamento nacional das mulheres socialistas, bem como dos vários departamen-tos Federativos, tornando efetiva a sua importância no contexto de to-dos os órgãos e estruturas do parti-do socialista.

- agendar reuniões abertas às militan-tes do partido socialista nos vários departamentos Federativos das mulheres socialistas, para ausculta-ção de problemáticas e definição de prioridades.

- promover e participar na discussão sobre a reforma do estado, apre-sentando contributos que salva-guardem intransigentemente a de-fesa da justiça e equidade sociais e a conciliação da vida profissional e familiar.

- monitorizar o efeito e o alcance das medidas legislativas em vigor, em estreita ligação com o observató-rio de género, dinamizado pela co-missão para a cidadania e a igualda-de de género, bem como com outros agentes/entidades que estudem es-tas matérias.

- redigir um relatório anual sobre os progressos realizados em matéria de igualdade entre homens e mu-lheres e de combate às desigualda-des em portugal, que permita elabo-rar um diagnóstico e definir as prio-ridades do plano de ação.

- implementar uma plataforma de di-álogo com as mulheres socialistas e com a sociedade civil, a realizar--se mensalmente na sede nacional e nas sedes Federativas, que permi-ta a partilha e troca de informação útil, no contexto de participação cí-vica e política.

- apoiar, estimular e dar visibilidade ao processo autárquico de 2013, no-meadamente através da edição de um panfleto biográfico que inclua todas as candidatas autárquicas.

- acompanhar e verificar os procedi-mentos administrativos conducen-tes ao processo autárquico de 2013.

- organizar um encontro nacional de mulheres autarcas, com o objetivo de partilhar experiências, refletir sobre problemáticas atuais do con-texto social e político e pensar cole-tivamente sobre soluções.

- sensibilizar as candidatas e os can-didatos autárquicos para a integra-ção da perspetiva de género na ação política, promovendo sessões de formação/informação.

- dinamizar formação sistemática so-bre matérias e desafios da gestão e trabalho autárquicos.

- continuar a apostar na formação nas áreas de capacitação política e ges-tão do discurso político.

- acompanhar a implementação dos planos municipais para a igualdade nas autarquias, em estreita articula-ção com a comissão para a cidada-

nia e igualdade de género.

- apoiar, de uma forma mais próxima, a atividade de várias instituições e organismos que têm sede no inte-rior, procurando, por um lado, dar a merecida visibilidade deste esfor-ço e, por outro, incentivar a melho-ria do trabalho no terreno e o surgi-mento de novos projetos.

- reforçar o trabalho conjunto sobre as políticas de igualdade de género com a Juventude socialista, prin-cipalmente nas áreas da educação/formação, emprego, desporto, saú-de e comportamentos de risco.

- reforçar o trabalho conjunto sobre as políticas de igualdade de géne-ro com as mulheres socialistas eu-ropeias, as deputadas ao parlamen-to europeu, as mulheres da inter-nacional socialista, bem como com a rede das mulheres socialistas da comunidade de países de língua portuguesa e outras organizações internacionais.

- acompanhar o processo das eleições europeias de 2014, sublinhando a inclusão, no programa do partido socialista, de políticas que garan-tam a defesa dos direitos e da igual-dade das mulheres.

- integrar, no departamento nacional das mulheres socialistas, grupos de trabalho temático em áreas co-mo a economia/finanças, educação, saúde, mundo laboral, entre ou-tras, abertos à sociedade civil, ten-do em vista um maior envolvimento de pessoas que possam contribuir com conhecimento mais aprofunda-do dos temas.

- publicar e divulgar os resultados dos grupos de trabalho temáticos.

- estabelecer uma comunicação céle-re, clara e eficiente com os órgãos de comunicação social locais, regio-nais e nacionais.

- divulgar, regularmente, a ação do departamento nacional das mulhe-res socialistas junto dos órgãos de comunicação social.

- agendar uma convenção anual de mulheres do partido socialista que constitua um momento de inter-venção e afirmação políticas.

emprego

- propor a discussão de um sistema de quotas nas comissões, conse-lhos de direção e conselhos de no-meação estatal, assim como nas universidades.

- promover encontros com parceiros sociais para sensibilizar e debater questões de equidade salarial e di-

reitos da mulher relativamente ao trabalho.

- sinalizar situações de desrespei-to pelos direitos que consagram a conciliação da vida pessoal, fami-liar e profissional, bem como situ-ações de discriminação laboral, re-portando-as à autoridade para as condições no trabalho e à comis-são para a igualdade no trabalho e no emprego.

- sensibilizar para o exercício de uma parentalidade verdadeiramente partilhada, reforçando que esta par-tilha é um direito da criança e que são concedidos à mãe e ao pai direi-tos laborais para o seu exercício.

- sensibilizar a direção e o grupo par-lamentar do partido socialista, as-sim como os agentes locais, para a importância de se continuar a ga-rantir a implementação de medidas conducentes ao apoio às famílias na prestação de cuidados a crianças, idosos e portadores de deficiência.

- promover o empreendedorismo fe-minino, em articulação com a re-de europeia para a promoção do empreendedorismo, ajudando as mulheres a aumentarem a sua vi-sibilidade e a expandirem os seus negócios.

- informar/formar as mulheres sobre recursos logísticos, jurídicos, for-mativos e financiadores da criação de negócio próprio.

- ajudar a promover, de uma forma mais ativa, a alteração de atitudes e práticas conducentes a mudança de mentalidades, tendo em vista a eli-minação de situações de discrimina-ção. a título de exemplo, podemos referir que os homens também de-vem ser vistos como “cuidadores“, beneficiando das mesmas condições asseguradas às mulheres.

educação e cidadania

- eleger a escola como tempo e espa-ço privilegiados de combate às desi-gualdades e à eliminação de estere-ótipos que impedem uma sociedade mais justa e igualitária.

- defender a inclusão da perspeti-va de género na formação inicial e contínua de educadores e professo-res, bem como nas orientações cur-riculares e no conteúdo dos manu-ais escolares.

- incentivar a inclusão da perspeti-va de género na educação e forma-ção de funcionários públicos e nas diretivas curriculares, com o objeti-vo de promover mudanças nas men-talidades e na atitude de reconhe-cimento da igualdade na esfera dos direitos civis e políticos, mas tam-

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bém na esfera dos direitos económi-cos e sociais.

- promover um concurso nacional, aberto a todas as escolas, nos vários níveis de ensino, que premeie tra-balhos/projetos onde a perspetiva de género seja abordada, desenvol-vida, aprofundada e trabalhada de uma forma transversal, com a devi-da divulgação dos resultados.

Violência doméstica e tráfico de seres humanos

- continuar o trabalho com as várias instituições a nível internacional, nacional e local, no sentido de se avaliarem os avanços e as lacunas no trabalho desenvolvido na área do tráfico de seres humanos e da vio-

lência doméstica, nomeadamente no que respeita à violência na con-jugalidade e relações de intimida-de, procurando adequar propostas e planos de ação.

- sensibilizar o governo para a criação de comissões de proteção do ido-so, a implementar nos municípios (com base no modelo já definido pa-ra o funcionamento das comissões de proteção de crianças e Jovens), numa lógica de trabalho de parce-ria em rede capaz de promover a se-gurança e os direitos da população sénior.

- sinalizar lacunas jurídico-legais na condenação dos agressores e na pro-teção das vítimas, sensibilizando as entidades competentes nestas áreas

para a importância da efetiva imple-mentação de medidas definidas pe-lo legislador.

- contribuir para o aperfeiçoamento da legislação específica na área da violência doméstica e tráfico de se-res humanos, reunindo o contribu-to dos cidadãos e das instituições com experiência no trabalho com vítimas e agressores.

- reforçar a necessidade de priorizar a prevenção da violência, nomeada-mente a violência no namoro e en-tre pares, através da integração des-tes temas no contexto educativo.

Cultura

promover encontros com mulheres li-

gadas à área da cultura, com o objeti-vo de incentivar a discussão sobre esta temática, bem como de apoiar a divul-gação de iniciativas desenvolvidas por novos talentos portugueses.

para nós, o mais importante são os avanços na afirmação da igualdade, porque é sabido que estas ideias, in-dependentemente de serem, ou não, inovadoras, não são uma realidade, quer na esfera pública quer no domí-nio privado.

o desafio que colocamos a cada mu-lher socialista é o de trazer para a agenda estes temas que farão a dife-rença quando se afirmarem. por is-so, marcar a diferença é o nosso ob-jetivo, porque na nossa diferença so-mos iguais.

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1. Porquê eSta Candidatura

liberdade, igualdade, fraternidade, são os valores fundacionais do partido socia-lista que, desde sempre, me nortearam na acção política e que, hoje, são a razão por que me candidato. estes são os valo-res pelos quais muitas mulheres lutaram e que têm que estar no centro da nossa luta política diária. estes são os nossos valores de sempre que têm que ser ple-namente assumidos pelas novas gera-ções, aquelas que estão, hoje, a construir o nosso futuro colectivo.

É neste encontro entre gerações que que-ro ajudar a construir o futuro do depar-tamento nacional de mulheres socia-listas e uma nova agenda política para a igualdade. hoje, mais do que nunca, esta-mos confrontadas com novas ameaças à democracia, à liberdade e à igualdade de direitos que temos que enfrentar com a mesma determinação e a mesma coragem com que, no passado, muitas mulheres lu-taram por essas mesmas conquistas. por isso, hoje, mais do que nunca, precisamos mobilizar todas as gerações de mulheres: as que lutaram pelos primeiros passos da nossa democracia e as que hoje, tantos sucessos depois, combatem pelo aprofun-damento dos nossos direitos sociais, cívi-cos e políticos. pela sempre inacabada lu-ta pela igualdade.

candidato-me porque quero contribuir para a abertura do partido. os tempos que vivemos constituem um verdadeiro desafio. a crise financeira, a gestão eu-ropeia da resposta à crise, as políticas de austeridade que são hoje impostas a muitos países da europa trazem consi-go um número de desempregados que há muito não se via na europa, o enfraque-cimento do papel do estado no apoio às cidadãs e aos cidadãos europeus, redu-ções salariais e recuos nos serviços pú-blicos de saúde, educação e segurança so-cial. todas estas mudanças estão a criar um clima de desesperança e de descon-fiança na democracia que devemos pro-curar compreender para que possamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcan-ce para evitar uma ruptura entre os par-tidos e os eleitores, entre os eleitos e os cidadãos.

candidato-me assim, consciente destes problemas e com o propósito de procu-rar activamente novas formas de relação do partido socialista com a sociedade, de potenciar a participação de simpatizan-tes do ps na vida do partido e de estimu-lar uma relação próxima com as institui-ções, associações e movimentos sociais. porque o ps sempre esteve e deve conti-nuar a estar na linha da frente das mu-danças nas práticas políticas, transfor-mando-as no sentido de estreitar as re-lações com a sociedade e de aumentar a transparência do funcionamento dos partidos.

candidato-me porque quero construir li-nhas de actuação política para a igualda-de fundadas nos valores que nos uniram no partido socialista, em sintonia com o país e com os tempos que vivemos. mas também porque não podemos ficar indi-ferentes às novas desigualdades e àque-las que, ainda hoje, subsistem na socie-dade portuguesa, como, por exemplo, em matéria salarial.

candidato-me porque acredito poder fa-zer a diferença, assumindo plenamente o trabalho das muitas mulheres que cons-truíram o departamento nacional de mulheres socialistas e que lutaram pela igualdade no nosso país.

não me candidato em nome de ninguém, nem contra alguém. candidato-me em meu nome e em nome dos valores e das causas que defendo e pelas propostas que irei apresentar para uma agenda po-lítica para a igualdade em portugal.

2. o que ProPoMoS a doiS anoS: uMa agenda PolítiCa Para a igualdade

a vocação fundamental do dnms é li-derar a elaboração de uma proposta pro-gressista e aberta à sociedade para a igualdade de direitos. este é o caminho que propomos.

Queremos construir uma agenda políti-ca para a igualdade com propostas con-cretas para problemas concretos das

mulheres. temos que ter respostas ade-quadas ao problema do desemprego, jo-vem e menos jovem, que afecta grave-mente as mulheres; para o aumento da pobreza, que tem uma preocupan-te expressão nas mulheres e nas famí-lias monoparentais lideradas por mu-lheres; para todas as formas de ameaça à dignidade e à integridade; para todas as discriminações em função de facto-res subjectivos, como a orientação se-xual, a nacionalidade e a etnia; para as desigualdades no mercado de trabalho, nomeadamente no plano salarial e de acesso a cargos de direcção; para os blo-queios, ainda persistentes, no exercício dos direitos de cidadania política.

a crise que, neste momento, atinge a europa e, de forma particularmente profunda, portugal traz consigo inúme-ros riscos e embora existam evidências de que durante a crise diminuem as de-sigualdades no emprego, no desempre-go, nos salários e na pobreza, isto não significa progresso na igualdade de gé-nero, já que a diminuição do diferencial assenta em menores taxas de emprego, maiores taxas de desemprego e redução de salários - tanto para mulheres como para homens.

por outro lado, e ainda consequência desta crise, a redução do investimen-to no estado-providência levada a cabo por este governo trará maior sobrecar-ga às mulheres, que já são responsáveis sobre a parte mais significativa das ta-refas de cuidado das crianças e dos ido-sos dependentes. o dnms deve, por is-so, ter um papel activo na oposição à coligação psd/cds e às políticas que constituem uma ameaça à igualdade e à melhoria das condições de construção dessa igualdade.

assumimos que não temos a resposta para todos os desafios que hoje se colo-cam à igualdade de direitos em portu-gal. não temos a solução para todos os problemas que as mulheres enfrentam em diferentes áreas, desde a economia à participação política. mas queremos construir a nova agenda política para a igualdade com a visão, o conhecimento e os contributos de todas as militantes

socialistas e de todas as mulheres sim-patizantes do partido socialista.

a agenda política para a igualdade que vamos propor para a próxima legislatu-ra será construída ao longo dos próxi-mos dois anos, com os contributos de todas e de todos os que queiram partici-par neste grande debate nacional.

Vamos realizar reuniões descentraliza-das por todo o país, ouvindo, debaten-do, reflectindo e recolhendo contribu-tos e propostas.

Vamos abrir novos canais de comuni-cação entre o dnm do partido socialis-ta e a sociedade, através das redes so-ciais e novos meios de comunicação di-gital, para que todas e todos possam contribuir.

Vamos, portanto, utilizar mecanismos de participação que promovam o envol-vimento activo das pessoas nesta causa que é de todas e de todos: a igualdade de direitos entre todos os cidadãos, mulhe-res e homens.

só assim, de forma aberta, participada e transparente será possível elaborarmos uma agenda política para a igualdade sintonizada com a sociedade e com as pessoas. e este é o nosso compromisso de mandato. construir esta nova agen-da política para a igualdade, que afirma-mos, desde já, queremos que seja assu-mida pelo partido socialista como a sua proposta para a próxima legislatura.

3. o que ProPoMoS Já

a defesa radical da igualdade é, em si, um factor de progresso das condições econó-micas, sociais e culturais que favorecem a eliminação das desigualdades e da dis-criminação. o dnms deve, assim, assu-mir um papel claro na defesa de propos-tas e medidas progressistas para a igual-dade de direitos de todas as mulheres e entre mulheres e homens.

desde já, assumimos que o dnms defen-derá 5 propostas muito concretas:

MOÇÃO DE CANDIDATURA A PRESIDENTE DO DEPARTAMENTO NACIONAL DAS MULHERES SOCIALISTAS

noVaS ideiaS Para a igualdade CoM aCÇÃoPrimeira Subscritora

graÇa fonSeCa

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1. pma para todas as mulheres - a alte-ração da legislação sobre procriação medicamente assistida, de forma a incluir todas as mulheres, eliminan-do a proibição de recurso à pma por mulheres solteiras à inseminação e a exigência da realização dos procedi-mentos apenas com finalidades te-rapêuticas de infertilidade;

2. adopção de crianças por casais do mesmo sexo - mais de três anos vol-vidos desde a aprovação do casa-mento entre pessoas do mesmo se-xo, deve assumir o compromisso de completar este caminho de promo-ção da igualdade e combate à discri-minação, preparando o seu progra-ma eleitoral de forma a garantir a possibilidade de adopção de crian-ças por casais do mesmo sexo, elimi-nando a impossibilidade legal que actualmente existe;

3. alargar o princípio da paridade - passados mais de 6 anos da lei da paridade é preciso ir mais longe no princípio da paridade na tomada de decisão. É preciso efectivar o prin-cípio da paridade não só garantin-do a aplicação desta regra aos cargos políticos executivos como exigindo que mulheres e homens apareçam intercalados nas listas e aumentan-do, progressivamente, a percenta-gem mínima de mulheres nas listas candidatas a eleições até alcançar a efectiva paridade entre mulheres e homens. tal como aconteceu com a lei actualmente em vigor, o ps de-ve ser precursor destas práticas na elaboração das suas listas e dina-mizador fundamental das altera-ções legislativas. mas a promoção da igualdade na decisão não se de-ve restringir à área política. tam-bém na arena empresarial há mui-

to a fazer em matéria de igualdade, nomeadamente, tirando pleno par-tido das qualificações, do mérito, do potencial e do talento de cada um(a) abrindo os conselhos de administra-ção das empresas (públicas e priva-das) às mulheres. para este propósi-to, devem ser consideradas as recen-tes propostas da comissão europeia de evoluir progressivamente para uma quota 40% dos membros não executivos dos conselhos de admi-nistração de grandes empresas.

4. mais igualdade na licença de paren-talidade - reconhecendo a impor-tância do avanço conseguido em 2009 com a possibilidade de bene-ficiar mais um mês de licença de pa-rentalidade desde que esse mês fos-se gozado pelo pai (passando de 582 licenças partilhadas, em 2008, para 16.719 (21% do total das licenças) em 2012), cumpre-se prosseguir es-te caminho. o dnms deve iniciar desde já o desenho de uma solu-ção alternativa de reforço da licen-ça obrigatória a gozar pelos pais, nu-ma lógica mais próxima do modelo nórdico de 1+1+1 (um período pa-ra a mãe, outro período para o pai e um terceiro período a gerir pelo ca-sal, todos de idêntica duração). este é um contributo essencial para neu-tralizar a eventualidade de uma prá-tica discriminatória do empregador no momento em que decide contra-tar uma mulher;

5. investir nos equipamentos sociais - uma das consequências da crise que neste momento atravessamos é o desinvestimento em políticas so-ciais e, nomeadamente, na rede de equipamentos sociais. a existência de uma rede de equipamentos so-ciais de qualidade, que exista em to-

do o território e com um funciona-mento que vá ao encontro das ne-cessidades das populações são um elemento fundamental de coesão social, por um lado, e de promoção da conciliação entre a vida pessoal e a vida profissional, em particular das mulheres, que persistem como mais sobrecarregadas pelas horas de trabalho não pago no apoio à famí-lia. o dnms e o ps devem exigir o regresso do investimento em equi-pamentos sociais que combata a ca-rência de equipamentos sociais, em particular das creches e os jardins de infância.

mas para o dnms conseguir uma maior abertura à sociedade e às pessoas e pa-ra trazer mais mulheres para a frente do combate política, é necessário também promover mudanças dentro do ps.

decorridos mais de 10 anos da consagra-ção da actual configuração do dnms, é chegado o momento de adoptar propos-tas inovadoras relativamente à forma co-mo está posicionado nos estatutos do partido socialista, na forma como se or-ganiza internamente e nos métodos de trabalho que utiliza.

assim, propomos:

1. A alteração da configuração esta-tutária do dnms, evoluindo pa-ra uma estrutura de natureza igual à da Juventude socialista, assu-mindo uma vocação propositiva e programática, de defesa radical da igualdade de direitos em todas as suas dimensões.

2. a criação de núcleos de trabalho do dnms para o desenvolvimento de actividades políticas em áreas es-tratégicas da agenda política para

a igualdade (a título de exemplo, o núcleo de assuntos económicos e laborais, núcleo de assuntos inter-nacionais, núcleo lgBt);

3. muito fruto do trabalho do dmns, o ps tem hoje uma rede de mulhe-res autarcas com uma enorme ex-periência e conhecimento dos de-safios que enfrentamos neste com-bate pela igualdade de direitos. o dnms deve dinamizar a constru-ção de uma rede nacional de mulhe-res autarcas socialistas que consti-tua um espaço de debate, de tra-balho em rede, de partilha de boas práticas e de definição de uma li-nha de acção política em matéria de igualdade de direitos e de parti-cipação política;

4. promoção de acções para a dinami-zação, reforço e capacitação da par-ticipação das militantes socialistas a nível nacional, nomeadamente atra-vés do reforço do apoio e trabalho em rede com os departamentos fe-derativos, da formação a nível na-cional acessível a todas as militan-tes, do trabalho com os parceiros e grupos sociais;

5. a paridade tem que começar nos órgãos internos do partido. o ps foi protagonista nas mudanças nas práticas e na alteração legislati-va que instituiu a paridade nas lis-tas de candidatura, mas o secreta-riado nacional é maioritariamen-te masculino e existe apenas uma presidente de federação mulher. o dnms deve liderar o trabalho in-terno no sentido de compreender as razões desta desigualdade no acesso a cargos eleitos e deve bater--se pela paridade no secretariado nacional.

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Atualização de dadosA Base de Dados de militantes do Partido Socialista é uma fonte de informação extremamente útil na ação política, em especial, com os desafios que se avizinham. A atividade do PS será tão mais eficaz, quanto mais atualizada estiver a informação dos nossos militantes. Assim, pedimos que preencha a informação, que tenha sido modificada desde o preenchimento da ficha de militante, nos espaços abaixo, enviando digitalizada para [email protected] ou para Departamento Nacional de Dados, Partido Socialista, Largo do Rato, nº 2, 1269-143 Lisboa - Portugal

Ficha de atualização de dados(Preencher apenas os dados que sofreram alteração)

NOME COMPLETO * Nº MILITANTE *

MORADA LOCALIDADE

CÓDIGO POSTAL

DISTRITO CONCELHO FREGUESIA

E-MAIL TELEFONE TELEMÓVEL

NATURALIDADE CONCELHO FREGUESIA

PROFISSÃO LOCAL DE TRABALHO

HABILITAÇÕES LITERÁRIAS

BI Nº NIF ESTADO CIVIL

(*) Preenchimento obrigatório

Atualização do Ficheiro PolíticoO Ficheiro Político do PS necessita de estar permanentemente atualizado. A importância das estruturas locais, distritais e regionais do Partido Socialista são a base da atividade partidária. Se é responsável por uma dessas estruturas e ainda não fez chegar essa informação à Sede Nacional, envie-nos o nome da es-trutura a que se refere a informação e os órgãos eleitos na mesma para [email protected].

Utilização do email institucionalDesde 2011 que a Sede Nacional do Partido Socialista criou emails institucionais com o domínio @ps.pt. Pa-ra estas caixas de correio digitais são enviadas todas as informações relativas à atividade da sua estrutu-ra, desde os movimentos no ficheiro de militantes, às listagens, cadernos eleitorais e etiquetagens pedi-das ao Departamento Nacional de Dados. Para receber esta informação, terá de utilizar este email da sua estrutura. Se ainda não acedeu ou não tem os dados de acesso ao mesmo entre em contacto com a Sede Nacional – Departamento de Informática, através de [email protected].

Regras de entradas de fichasO processo de adesão ao Partido Socialista sofreu alterações com a entrada em vigor dos novos estatutos (junho 2012) e regulamentos (outubro 2012), pelo que a partir dessa altura passou a ser necessário juntar à ficha de proposta de militante a seguinte informação:• Cópia de Bilhete de Identidade, Cartão Cidadão, passaporte ou título de residência• Comprovativo de residência (cópia de Carta de Condução, cópia de conta da água, luz, etc..) – no caso de inscrição pela residência• Comprovativo de órgão político – no caso de inscrição por órgão político• Comprovativo de local de trabalho – no caso de inscrição pelo local de trabalho

aS eStruturaS PriMeiroinformação aos militantes, responsáveis locais, distritais e regionais do PS

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Nº 88 • março DE 2013Suplemento Informativo dos Deputados Socialistas no Parlamento Europeu

Capoulas Santos No passado dia 13 de março, o Parlamento Europeu (PE) aprovou,

por larga maioria, o mandato de negocia-ção para a reforma da PAC que está ba-seado essencialmente nas propostas que apresentei enquanto Relator do PE para os principais regulamentos.No dia 20 de março coube a vez ao Conse-lho de Ministros da Agricultura da UE de concluir idêntica tarefa, definindo os pode-res de negociação do ministro irlandês da agricultura, que liderará a negociação em nome a presidência semestral do Conselho.O tiro de partida para as negociações do “Trilogo” – Parlamento, Conselho e Comis-são – será dado no dia 11 de abril. É esta a data prevista para a primeira das muitas reuniões previstas até ao fim de junho para se tentar estabelecer um acordo inter--institucional que, nos termos do Tratado de Lisboa, engloba pela primeira vez a PAC

com o Parlamento Europeu equiparado ao Conselho em termos de decisão.Sobre a questão central, o orçamento para a PAC e a sua repartição por Estados--membros, o Conselho Agrícola está, infe-lizmente, impossibilitado de se pronunciar face ao acordo estabelecido pelos chefes de Estado e de governo em 8 de fevereiro. Segundo o mesmo, Portugal perderá um valor que estimo em 1000 milhões de eu-ros face à sua situação atual, enquanto a proposta do PE representa um incremen-to em mais de 350 milhões. Espero, con-tudo, que a negociação consiga atenuar este mau resultado para nós, apesar das dificuldades que se anteveem e do grande afastamento de posições.Quanto ao conteúdo da reforma, o man-dato do Conselho reflete algumas posi-ções quanto a questões essenciais que se afastam muito do Parlamento. Destaco os critérios para repartição do orçamento da PAC por Estado-membro, o chamado “duplo pagamento”, segundo o qual um agricultor poderá receber 2 subsídios pela

mesma parcela, os apoios para os jovens agricultores que o Conselho pretende tor-nar voluntário para os Estados-membros ou o estabelecimento de um tecto máximo para os grandes agricultores a que preten-de aplicar o mesmo princípio.Por outro lado, apesar do mandato ser omisso em muitos aspectos, constato com satisfação que, nalgumas matérias, houve o cuidado de incluir posições próximas das propostas que apresentei tais como a ga-rantia de uma forte componente “verde” nos Pagamentos Diretos, com aplicação mais flexível e realista do que a Comissão propunha, o principio de que a convergên-cia dos apoios dentro de cada Estado--membro deve acautelar quebras bruscas nalguns sectores, a definição de “agricul-tor ativo” como condição de acesso para o recebimento de subsídios, os apoios para os “novos agricultores” ou a continuação do financiamento para novos regadios.Valorizo ainda como positivo que o Conse-lho tenha aderido ao princípio da transpa-rência, isto é, à defesa da publicação anual

da lista de beneficiários da PAC e respecti-vos montantes recebidos, que, no PE, opôs os conservadores aos socialistas, com vi-tória difícil destes últimos.Lamento, contudo, que, nesta matéria, o Conselho se comporte como Frei Tomás, recusando aplicar a si próprio o que defen-de que se aplique aos agricultores, uma vez que continua a não divulgar os montantes que, no seu acordo de 8 de fevereiro, deci-diu atribuir a cada país. Que razões impõem essa ocultação inédita que impede a com-paração entre o que cada Estado-membro recebeu face ao seu montante anterior?Enquanto negociador do PE, já tive opor-tunidade de declarar formalmente que recusarei participar na discussão sobre os critérios para repartição do orçamento, en-quanto estes dados não forem conhecidos.Desejo que as diferentes posições de cada uma das instituições e os constrangimen-tos referidos não inviabilizem um acordo até 30 junho, sem o qual não haverá, segu-ramente, uma nova PAC em vigor em 1 de janeiro de 2014.

Edite Estrela

Que se passa com a Europa? Ou antes, que se passa com os líde-

res europeus? Os problemas aumentam e eles não se movem. Ou, pelo menos, não se movem no sentido certo. Já se tinha percebido que eram surdos aos conselhos de reputados economistas que vêm dizen-do que com austeridade não se promove o crescimento nem se cria emprego. E não reconhecem que com as políticas de aus-teridade lançaram a Europa em recessão e cerca de trinta milhões de cidadãos no desemprego. Kenneth Rogoff é mais um economista a denunciar a lentidão da política europeia e a afirmar que os países periféricos têm de reestruturar as dívidas, obter juros mais baixos e levar os credores a assumir per-das. E lembra que, nos anos 30, os Esta-dos Unidos perdoaram dívidas a dezassete países europeus, correspondendo a 17% do PIB americano.Já se tinha concluído que Merkel, o Conse-lho e a Comissão eram surdos aos apelos desesperados de milhares e milhares de cidadãos em sofrimento que têm enchido as ruas de várias cidades europeias, ma-

nifestando um preocupante sentimento antieuropeu, antissistema e antipolíticos. E ficaram quedos e mudos perante os re-sultados eleitorais em Itália. Como é pos-sível não se terem preocupado com o facto de 8,7 milhões de italianos (25,5%) terem votado num comediante, Beppe Grillo, que recusou o debate com os adversários e se limitou a prometer uma subvenção men-sal de mil euros e a semana de trabalho de vinte horas? Como é possível que nada tenham a dizer quando Mário Monti, o can-didato deles, ficou em quarto lugar e foi penalizado por aplicar a cartilha europeia? Como é possível que façam de conta que nada se passou e permaneçam silenciosos perante uma Itália ingovernável? Os líde-res europeus não souberam ler os sinais de insatisfação dos cidadãos esmagados pela exagerada dose de austeridade e nada têm feito para preservar a coesão social. A situação é grave. E o que decidiram os senhores da Europa no Conselho da Pri-mavera? Que medidas concretas e ur-gentes foram tomadas para responder às necessidades e legítimas expetativas das pessoas? Perante o reconhecimento da “revolta social”, qual foi a decisão? Da austeridade e nada mais que austeridade, passaram para a “consolidação orçamen-tal amiga do crescimento”, uma formula-

ção suficientemente vaga para que tudo fique na mesma. Parece que perderam aquele resto de lucidez que antecede a loucura. E para que não restem dúvidas quanto ao seu estado de alienação, na última reunião do Eurogrupo, decidiram ajudar Chipre, ao fim de oito meses de negociações, impondo um original plano de resgate. A Alemanha, o BCE e o FMI encostaram as autoridades cipriotas à parede e impuseram um imposto extraor-dinário às poupanças dos cidadãos, pondo em causa a garantia europeia de proteção aos depósitos bancários até cem mil eu-ros. Há quem fale de “repressão financei-ra” e há quem justifique que se trata de uma medida “única” para uma “situação especial”. A Grécia também começou por ser um “caso único” que se multiplicou. Por isso, há quem invoque a gravidade do precedente e receie o efeito de contágio noutros países “periféricos” com sistemas bancários mais frágeis.Para além de tardias, as decisões têm-se revelado desajustadas. Os decisores não ouviram Albert Einstein e ainda não per-ceberam que “os problemas significativos com os quais nos deparamos não podem ser resolvidos no mesmo nível de pensa-mento em que estávamos quando foram criados”.

Como se não nos bastasse o desvario europeu, a nível nacional o quadro ainda é mais negro. O governo português não acerta uma única previsão. O ministro das Finanças, apesar do falhanço total das suas políticas, nem se demite nem altera o rumo. O Presidente da República fecha--se no palácio de Belém, faz prova de vida através das redes sociais e escreve prefácios.Longe vão os tempos em que, entusiasti-camente, os povos europeus se empenha-ram na construção de um projeto singular de liberdade, democracia, paz e progres-so. Longe vão os tempos em que os dese-quilíbrios económicos eram compensados com políticas de coesão e solidariedade. Assistimos hoje à proliferação e reforço dos partidos radicais, nacionalistas e xe-nófobos. Olhamos para a desagregação social em vários países e para a desunião entre o Norte e o Sul e perguntamos: Quo vadis, Europa? A prolongar-se esta situa-ção, receio que seja o fim do ideal europeu. Se os cidadãos não tiverem esperança no futuro e se os responsáveis europeus continuarem teimosamente a achar que está tudo bem no barco a afundar-se, os pilares da democracia e da paz podem soçobrar. Nessa altura, será tarde demais para agir.

A PAC na hora da codecisão

Quo Vadis, Europa?

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António Correia de Campos O que aconteceu no Conselho de Ministros das Finanças da Zona Euro,em 15 de mar-ço de 2013, deve ser recordado como um dos mais vergonhosos comportamentos das lideranças europeias face a um Estado Membro, pequeno país da periferia Sul, o Chipre. O Conselho aprovou um resgate a favor de Chipre, de cerca de dez milhares de milhões de euros, tendo como condição um ultrajante imposto aplicado aos depo-sitários na banca cipriota: os que detives-sem depósitos inferiores a 100 mil euros pagariam um imposto extraordinário de 6,9%; os que detivessem depósitos acima daquele valor pagariam 9,9% de imposto. A justificação desta extorsão inusitada resi-de na grande quantidade de fundos deposi-tados nos bancos cipriotas, várias vezes o seu PIB, e na suspeição de que muitos de-les seriam propriedade de cidadãos russos e engordados com lavagens de dinheiro e outras atividades ilegais. Assim tal e qual, sem uma prova sequer. Na segunda-feira seguinte, feriado nacio-nal em Chipre, os bancos estavam fecha-dos e as caixas distribuidoras de dinheiro inoperacionais. O Parlamento nacional reu-niria extraordinariamente na terça-feira para aprovar a aviltante medida, proposta por um governo de direita, recém-eleito. O que se passou é conhecido: as bolsas caí-ram em toda a Europa e o receio de contá-gio a outros países sob intervenção, como Portugal, Irlanda e outros como Espanha e Itália passou a dominar a segunda-feira. Uma corrida aos bancos estava no horizon-te, com todas as terríveis consequências em destruição da liquidez e da confiança.

Os ministros estiveram várias horas em conferência telemática e no final de uma longa reunião acabaram por desonerar Chipre da obrigação do imposto sobre os depósitos inferiores a 100 mil euros. Pelo meio surgiram as recriminações: primeiro contra Schauble, o ministro da Alemanha, considerado o fautor da iniciativa. Logo depois este defendia-se atacando Chipre com a informação que a proposta de san-gria dos depósitos teria surgido do próprio

governo cipriota. O “ping-pong” de acusa-ções continuou e alargou-se em total de-monstração de irresponsabilidade. O mais espantoso reside no facto de, quem se ti-ver dado ao trabalho de ler as conclusões do Conselho Europeu de 14 e 15 de março encontrar nele uma conspícua referência à necessidade de garantir depósitos bancá-rios através do mecanismo criado logo no início da crise financeira, para que qualquer depositante tivesse a certeza de que pelo menos 100 mil euros de depósito estariam sempre salvaguardados. Em menos de 24 horas, os 17 ministros das finanças da Zona Euro contradiziam o que os 27 haviam acabado de aprovar. Não se tratou de mera distração, nem de cansaço, mas de pura incompetência política. No momento difí-cil que atravessamos, nenhuma daquelas almas de eleição foi capaz de identificar a contradição e antever o incêndio que ale-gremente se preparavam para atear.Vale a pena ler as conclusões do Conselho Europeu da Primavera, o tal de 14 e 15 de março. Dificilmente se poderá encon-trar maior repositório de lugares comuns e medidas supostamente orientadas para o crescimento, mas na prática repetindo ideias já antigas e pescando dinheiros já várias vezes utilizados para fins comuni-cacionais. Como se não houvesse ninguém naquele importante órgão, a começar pelo seu medíocre e ridículo produtor de ideias comuns, especialista em cheques a entregar por debaixo da mesa, que é o Presidente Van Rompuy, atuando como um pai que deseduca os filhos entregando secretamente dinheiro e bens a cada um com o compromisso de silêncio, para que os outros não reclamem. Foi o que aconte-

ceu com os cheques e devoluções prome-tidos aos pequenos, médios e até grandes estados-membros.Não fica por aqui este fim de semana alu-cinante de insensatez. A dois meses do final do seu mandato renovado há meses, o irrelevante Presidente vem declarar que não se candidatará a terceiro mandato, por atingir nessa data a idade da reforma. Quando a Europa necessitava de um presi-dente de conselho que gerasse consenso e produzisse energia, eis que o ocupante do cargo anuncia precocemente que pretende afastar-se. Doravante, quem mais o respei-tará? Quem verá nele o condutor ou articu-lador de ideias e soluções que é suposto ser atributo do cargo. Tal como o presidente dos EUA no quarto ano do segundo manda-to, sabendo-se que não poderá ser reeleito, tende a ser considerado como uma pessoa sem relevância, um lame duck, patinho feio, na gíria política norte-americana, as-sim Van Rompuy, deprimido pelo completo falhanço do seu primeiro mandato, se con-fessa um desistente anunciado.Frente a tanta desgraça, o Parlamento Eu-ropeu ao bater o pé ao Conselho, rejeitando o orçamento plurianual para 2014-2020, tal como ele está, faz figura de herói. O Parlamento condicionou a sua aprovação à negociação dos atrasados para que não contaminem o novo ciclo orçamental, à fle-xibilização de transferências entre rubri-cas, à reversão de saldos anuais não utili-zados. Poderá não haver mais dinheiro que aquele que o Conselho está disposto a dar. Mas haverá certamente condições para ele ser usado de forma flexível sem embargos de uma burocracia pesada e tantas vezes intransparente.

Elisa Ferreira Na última sessão plenária do Parlamento Europeu, em Estrasburgo, o ambiente es-tava mudado. Olli Rehn, o vice-presidente da Comissão Europeia com responsabili-dades especiais no funcionamento da Zona Euro, teve dificuldade em fazer-se ouvir, tamanhos foram os apupos das bancadas extremas, a esquerda manifes-tando-se contra a austeridade, a direita provavelmente contra a dimensão de um discurso que lhe atrasava o almoço. A bancada dos socialistas não gritou nem ululou, mas a contundência das suas críticas foi uma verdadeira pedrada no charco.É do gabinete de Olli Rehn que partem as recomendações sobre política econó-mica para a Zona Euro e é aí que se de-terminam os calendários, o conteúdo e a dimensão da política de austeridade im-posta pelas “Troikas”. Ora, começa a ser absolutamente intolerável que os erros sistemáticos das projeções económicas e do impacto real (e não o previsto) de tal política não belisquem minimamente a convicção com que continuam a ser impostas. Trimestre após trimestre, ano após ano, a realidade destrói as previ-

sões, a espiral recessiva amplifica-se e torna-se contagiosa – o caminho tra-çado, esse, mantém-se inalterado… Até quando? Em outubro de 2011, a Comissão previa um crescimento de 0,6% para a Zona Euro; acabámos com -0,6%. Para 2013, a Comissão continua a assentar as suas iniciativas numa estimativa de cresci-mento moderado mas positivo, embora a realidade já evidencie uma recessão de, pelo menos, -0,3%. Pode a Zona Euro resistir quando o desemprego jovem é de 7% na Alemanha e na Holanda e de 40% na Grécia e na Itália? Será admis-sível que, tendo Portugal seguido cega e acriticamente todas as recomendações que lhe foram feitas, acabe sem conse-guir corrigir o seu défice, com a dívida agravada, com uma perda de riqueza próxima de 8% do PIB em três anos e com um desemprego que a Troika já an-tecipa poder atingir uns históricos 19% (sem incluir a emigração e os desisten-tes), sem que tal cause um sobressalto a nível europeu?Mas a Comissão Europeia persiste, im-pávida e serena, na sua recusa de rever os modelos de previsão ou de questionar a qualidade das suas recomendações,

uma atitude que caminha a passos largos para só encontrar justificação no campo da ideologia. Daí que, intervindo em nome do Presidente do Grupo dos Socialistas Europeus, o britânico Stephen Hughes tenha colocado a questão, pela primeira vez de forma explícita, a Durão Barroso: “Se o Senhor fosse primeiro-ministro e Olli Rehn o seu ministro das Finanças, e ele persistentemente errasse tanto, o Senhor devia demiti-lo para evitar mais estragos. Nós pensamos que é exata-mente isso que deve fazer, ou então que assuma o Senhor a responsabilidade pelo que está a acontecer.”Na semana passada, aquela em que isto ocorreu, ainda não era conhecida a ideia explosiva de taxar generalizadamente os depósitos bancários em Chipre. Sen-do que fragilizar, desta forma incompe-tente, a confiança dos depositantes na Zona Euro é gravíssimo, cabe perguntar: onde estava a Comissão Europeia quando os ministros das Finanças da Zona Euro imaginaram este absurdo?Concluo: se o copo da tolerância dos So-cialistas no Parlamento Europeu para com a Comissão ainda não transbordou desta vez, estará seguramente muito perto disso. E já se sente no ar...

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liderança Europeia desastrosa

Onde está a Comissão?

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Aprofundar a cidadania europeia Vital Moreira 1. O corrente ano de 2013 foi selecionado

pela União Europeia como “ano europeu dos cidadãos”, o que constitui um ex-celente incentivo para refletir sobre o significado e a importância da cidadania europeia. A noção de cidadania europeia foi criada pelo Tratado de Maastricht de 1992 e consubstancia um dos grandes avanços da integração política europeia. A partir daí a União Europeia deixou de ser so-mente uma união de Estados para pas-sar a ser também uma união de cidadãos.Na sua definição mais elementar, a no-ção de cidadania tem a ver com a qua-lidade de membro de uma comunidade política e com os direitos de participação no governo da comunidade. Por isso, a noção de cidadania europeia trazia im-plícita também a noção de uma coleti-vidade política europeia, constituída por sobre as coletividades políticas nacio-nais dos Estados-membros, bem como a titularidade e exercício de um conjunto de direitos políticos atinentes ao gover-no da União.O que havia de revolucionário na noção de cidadania europeia era a ideia de uma cidadania sem Estado ou para além do Estado. Historicamente, a noção de cidadania pressupunha a noção de na-cionalidade, ou seja, de um vínculo de pertença a um determinado Estado. Só podia ser cidadão num Estado quem fos-se nacional desse Estado. Em princípio, só os nacionais gozavam de direitos de cidadania, nomeadamente dos direitos políticos, que em regra estavam vedados aos estrangeiros.Não sendo a União Europeia um Estado, e não havendo por isso uma nacionalidade europeia, a cidadania Europeia é neces-sariamente uma cidadania sem Estado e sem um substrato de nacionalidade eu-ropeia. São automaticamente cidadãos europeus todos os que sejam nacionais de um dos Estados-membros da União. A cidadania europeia não depende da vontade das pessoas. Ninguém precisa de a requerer para a ter; ninguém pode renunciar a ela.A cidadania europeia não substitui nem suprime a cidadania nacional; acresce a ela.

2. A cidadania traduz-se por definição na faculdade de participação no governo da “cidade”, ou seja, no governo da coletivi-dade política em causa. O núcleo duro dos direitos de cidadania são os direitos políticos, designadamente os direitos eleitorais, ou seja, o direito de eleger e de ser eleito para os cargos políticos ele-tivos, a começar pelo parlamento.Assim sucede com a cidadania europeia. De facto, além da liberdade de circula-ção e de residência no espaço da União, o Tratado de Maastricht enunciou um con-junto de direitos políticos dos cidadãos europeus entre os quais avultam o direi-to de voto e de candidatura nas eleições europeias e nas eleições locais, indepen-dentemente do local de residência.O Tratado de Lisboa, de 2007, veio con-firmar e reforçar a noção de cidadania europeia. Em primeiro lugar, deu força vinculativa à Carta de Direitos Funda-mentais da União, que tinha sido adota-da no ano 2000 no Conselho Europeu e Nice, e que codifica os direitos de cida-dania reconhecidos em Maastricht. Por outro lado, instituiu a figura da “iniciati-

va de cidadania”, pela qual um milhão de cidadãos de um determinando número mínimo de Estados-membros pode re-querer à Comissão Europeia que tome uma determinada iniciativa legislativa, de acordo com a vontade dos requeren-tes, obrigando a Comissão a tomar uma posição sobre a matéria. Em terceiro lugar, o Parlamento Europeu deixou de ser qualificado como assembleia repre-sentativa dos povos dos Estados-mem-bros, para passar a ser qualificado como assembleia representativa dos próprios cidadãos europeus.

3. Tradicionalmente, fala-se no “défice de-mocrático” da integração europeia, que-rendo com isso designar-se em especial os escassos poderes do Parlamento Eu-ropeu e a concomitante “governamenta-lização” do poder politico na União.Na verdade, durante décadas, os pode-res políticos e legislativos cabiam em geral ao Conselho da União, composto pelos governos dos Estados-membros. Mesmo depois de ter passado a ser di-retamente eleito (1979), o Parlamento Europeu tinha em geral poderes pura-mente consultivos, não decisórios. Ou seja, por via da integração europeia, os poderes transferidos dos Estados para a União deixavam de ser exercidos pelos parlamentos nacionais, sem que o Parla-mento Europeu se substituísse aqueles. Desse modo, era infringido o princípio fundamental da democracia represen-tativa, que era o poder legislativo do parlamento.

4. O Tratado de Lisboa veio no fundamental colmatar essa insuficiência democráti-ca da União, ao conferir ao Parlamento Europeu vastos poderes de codecisão legislativa com a Conselho. Doravante, o poder legislativo da União passava a ser exercido conjuntamente pelo Conse-lho, como instituição representativa dos Estados-membros, e pelo Parlamento Europeu como instituição representativa dos cidadãos europeus.Todavia, continuam a existir alguns limi-tes significativos ao poder legislativo do Parlamento Europeu. Primeiro, a inicia-tiva legislativa pertence, em geral, ex-clusivamente à Comissão Europeia, não cabendo aos deputados nem aos grupos políticos representados no Parlamento.

Segundo, existem vários casos de “pro-cedimento legislativo especial”, em que a competência legislativa continua a caber exclusivamente ao Conselho, embora sob consulta prévia ao Parlamento Europeu.

5. No entanto, o principal “défice democrá-tico” da União Europeia continua a residir no facto de as eleições europeias não in-cluírem até agora a escolha do governo e das políticas da União, como sucede a nível nacional.Com efeito, nas eleições parlamentares nacionais, os eleitores não se limitam a eleger os deputados ao parlamento. Também escolhem, do mesmo passo, o partido ou a coligação que desejam para governar o país. Já não assim nas elei-ções europeias até agora, em que o voto servia para eleger os deputados mas não para eleger os governantes nem as op-ções políticas do governo.O Tratado de Lisboa veio abrir a possi-bilidade de alterar significativamente esta situação, ao estabelecer que o presidente da Comissão Europeia será escolhido pelo Conselho e eleito pelo Parlamento Europeu, tendo em conta os resultados eleitorais. Se devidamente explorada, essa disposição permite que os partidos políticos europeus designem os seus candidatos a presidente da Co-missão aquando das eleições europeias e se comprometam a nomear e a apoiar o candidato que tenha ganho as eleições ou que esteja em condição de reunir uma coligação maioritária no Parlamento.Como expliquei em anterior ocasião neste mesmo local, essa possibilidade permitiria “europeizar” as eleições euro-peias, tornando-as muito mais relevan-tes e assim aumentando a participação eleitoral, que tem baixado para níveis preocupantes de eleição para eleição, pondo em causa a própria legitimação democrática do Parlamento Europeu. Convergindo nesta direção, a Comissão Europeia aprovou recentemente uma recomendação aos partidos políticos europeus para que estes apresentem os seus candidatos ao cargo de presidente da Comissão Europeia nas próximas elei-ções. Se tal se concretizar, as eleições de 2014 podem bem ser o princípio da construção de uma genuína democracia parlamentar na União.

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Síria: 2 anos de guerra civil

Ana Gomes São dois anos de guer-ra civil, 70 mil mortos, um milhão de refu-giados, três milhões

de deslocados. A situação na Síria é de desastre humanitário e de uma calamida-de política que desenha o drama de mais um possível estado falhado, desta vez no Médio Oriente. A Síria torna-se espelho de uma primavera árabe que virou inverno. E que grita uma vergonhosa demissão por parte da comunidade internacional.António Guterres, Alto-Comissário da ONU para os Refugiados, já alertou para o risco de “explosão” do número de refugia-dos para o dobro ou o triplo até ao fim des-te ano. Falta-nos, é certo, um mandato das Nações Unidas, por obstrução da Rús-sia e da China no Conselho de Segurança. Mas podemos e devemos, ao menos, fazer mais por um esforço humanitário robusto, que leve assistência às zonas libertadas e que ajude mais os países vizinhos que estão a acolher os refugiados sírios, com riscos para a sua própria estabilidade (ca-sos do Líbano, Jordânia e Iraque). Hoje há relatos de que parte da ajuda humanitária europeia se concentra em Damasco e aca-ba por ir parar às mãos...de Assad. Que, pelo seu lado, nunca deixou de receber

armamento e apoio da Rússia e do Irão...Mas, sejamos honestos: não é a ajuda hu-manitária que vai resolver o conflito. O fim da guerra civil na Síria depende de uma solução política e para isso é preciso um esforço concertado internacionalmente, promovido nomeadamente por uma União Europeia com ambição e visão para a sua diplomacia. Uma União Europeia (UE) que hoje não parece termos, desgraçadamen-te, pois a incapacidade de extrincar a Eu-ropa da crise económica é, de facto, políti-ca, e tem graves repercussões na eficácia e na credibilidade da atuação europeia no plano externo. Para pôr fim à guerra na Síria seria fun-damental que, antes de mais, a UE se em-penhasse no diálogo com Moscovo e com Pequim, exigindo o fim do bloqueio político que ata as mãos do Conselho de Seguran-ça, se necessário mostrando que há um preço para a cooperação entre Bruxelas e aquelas duas capitais. Sem ingenuidades, é preciso reconhecer que a Europa tem aqui feito pouco e demasiado baixinho...Outro domínio, necessariamente difícil, mas onde, por isso mesmo a UE podia fazer mais do que tem feito, respeita à promoção do diálogo e organização de uma platafor-ma de convergência nacional e democrá-tica entre as principais forças políticas de oposição ao regime de Assad. Uma ne-

cessidade tão mais imperativa e complexa quanto é sabido que grupos fundamenta-listas e terroristas se aproveitam do arras-tamento do conflito para infiltrar as forças combatentes da oposição, entretanto ar-madas pelo Qatar e a Arábia Saudita.Na falta de respostas globais que partam da Alta Representante para a Politica Externa, é inevitável que alguns Estados--Membros tentem fazer sozinhos aquilo que não parece poder fazer-se a 27. E aqui reside outro perigo que subtrai capacida-de e eficácia à política externa da UE.França e Reino Unido, por coincidência, membros permanentes do Conselho Se-gurança, anunciam agora, seguindo a Ad-ministração Obama, querer também armar os rebeldes sírios, numa movimentação unilateral, sem base legal, em contradição com o embargo de armas à Síria decretado pela própria UE. Mais uma vez, é a Europa política e da segurança e defesa que sai debilitada de jogadas como esta, feita em nome duma alegada “responsabilidade”. Uma jogada que muito mal faz, também, ao essencial conceito da “responsabilidade de proteger”, que a UE deveria defender e promover. Mais uma vez, alguns governos tiram o tapete a uma ação coordenada a 27 e, num solavanco desajeitado, hipotecam a projeção da UE como ator político da segu-rança global.

O fornecimento de armas a quaisquer das partes em conflito na Síria não faz mais senão prolongar esta sangrenta guerra civil. Mais, a UE não poderá nunca saber exatamente quem, alguns dos seus Mem-bros, estarão a armar, no colo de quem essas armas vão cair, nem o que resultará de um expectável incremento da corrida ao armamento na região. O perigo é tanto maior quanto o conflito na Síria é facilmen-te contaminável aos países vizinhos, tem implicados grupos radicais e terroristas e tende a cristalizar a fractura religiosa suni-ta/chiita. Além disso, fornecer armas a re-beldes sírios equivalerá a dar carta branca a russos e iranianos para intensificarem o armamento aos fiéis de Al Assad. Em vez de armar os rebeldes, era preciso ver em ação a UE a falar com uma só voz, capaz de dizer o que se impõe e com as capitais europeias determinadamente ali-nhadas detrás de uma concertação políti-ca levada a todos os “fora” internacionais, e em especial ao Conselho de Segurança, onde Londres e Paris têm responsabilida-des particulares. Jogam-se vidas, um Estado e um povo com lastro civilizacional na História da Humanidade. E a Paz numa das regiões mais martirizadas do planeta, o Médio Oriente. A UE não pode dar-se ao luxo de se dividir e de se alhear!

um novo roteiro para a energia

luís Paulo Alves O Parlamento Euro-peu debateu e apro-vou orientações para

a política europeia no domínio energético até 2050. Fê-lo no seguimento da Co-municação da Comissão «Roteiro para a Energia 2050». A partir deste documento surgirão iniciativas legislativas e de outro tipo em matéria de política energética, com vista a desenvolver um quadro polí-tico para 2030, incluindo etapas cruciais e metas em matéria de eficiência energé-tica, energias renováveis e emissões de gases com efeito de estufa para a criação de um quadro regulamentar e legislativo simultaneamente ambicioso e estável.Desde logo, no domínio das alterações climáticas e da energia, de acordo com a Estratégia Europeia 2020, os Estados Membros (EM) da UE estão ligados ao ob-jetivos de, até 2020, reduzir as emissões de gases com efeito de estufa em 20% (ou em 30%, se forem reunidas as condições necessárias) relativamente aos níveis re-gistados em 1990; obter 20% da energia a partir de fontes renováveis e aumentar em 20% a eficiência energética.Atualmente, a União Europeia produz apenas 48% das suas necessidades ener-géticas, importando mais de 80% do pe-

tróleo que precisa. Tais factos impõem a urgência de uma estratégia para diminuir a dependência externa, a par da diminui-ção da dependência dos combustíveis fósseis. Portugal é dos países europeus onde a dependência energética é maior, ultrapassando os 77% de importação, en-quanto a Dinamarca é o único EM expor-tador de energia. No energy mix da UE, as renováveis ainda não são suficientemente relevantes. No mundo, apenas 13% de energia pro-duzida advém de fontes renováveis. 33% vem do petróleo, 28% do carvão, 21% do gás e 6% do nuclear. Assim, esta é uma matéria prioritária à escala global, de-vendo a União Europeia estar na primeira linha não só no sentido de melhorar a vida dos europeus, como de influenciar os pro-gressos no resto do mundo. Por outro lado, aquando do debate no Par-lamento, chamei à atenção do Plenário para a necessidade desta estratégia de longo prazo responder também adequa-damente aos desafios que se colocam aos sistemas energéticos das regiões mais isoladas, em especial nas ilhas mais pe-riféricas, onde a dependência de combus-tíveis é agravada pela distância e o isola-mento geográfico. A verdade é que esses constrangimentos permanentes têm efeitos no custo da pro-dução de energia que é frequentemente

superior ao custo da produção no conti-nente europeu. Neste sentido, sensibilizei o Parlamento e a Comissão Europeia para a necessidade de, nestes casos, se desenvol-verem abordagens mais específicas com Programas próprios do tipo POSEI, para encontrar as respostas apropriadas, não só para resolver os problemas particulares que as apresentam como, sobretudo, pode-rem expandir todo o potencial de energias renováveis, como no caso dos Açores, que já hoje se encontram em franco desenvol-vimento, ultrapassando mesmo as metas estabelecidas pela União para 2020.Nesse sentido, chamei a atenção ao Co-missário da Energia para o facto das re-giões ultraperiféricas se continuarem a confrontar com uma política energética demasiado padronizada, que ainda não lhes responde adequadamente, o que deve ser considerado neste road map energéti-co para 2050 em debate na UE.É que as regiões ultraperiféricas tam-bém têm características que as podem tornar uma referência na luta contra as alterações climáticas e adaptação aos seus efeitos. Pelas suas características geomorfológicas e localização geográ-fica, são regiões mais expostas a riscos naturais, o que também lhes permite ob-servar e acompanhar de forma privilegia-da os fenómenos naturais, constituindo um eixo de investigação de elevado valor

acrescentado e uma oportunidade indis-pensável para a cooperação tecnológica. Os Açores já exploram os seus recursos endógenos de modo a produzir energia ge-otérmica, do vento, solar, hídrica, biomas-sa e marinha. De uma maneira geral, importa sublinhar que neste domínio Portugal sofreu retro-cessos com o atual Governo da República. O impulso trazido pelos anteriores gover-nos socialistas foi impressionante, e em 2011 chegou para colocar Portugal no terceiro melhor país da UE a introduzir as energias renováveis no sistema eletropro-dutor - do total de energia elétrica consu-mida nesse ano, 45,3% já teve origem em fontes renováveis. Outras fontes, como a eólica e a fotovoltaica sofreram também um crescimento assinalável. Nessa altura Portugal fixou o 5° objetivo mais ambicio-so entre os países membros, para 2020. Lamentavelmente, no entanto, esta foi uma estratégia interrompida por este Go-verno, que pôs de lado todo um potencial económico, de emprego e ambiental, des-de logo “congelando” a atribuição de novas licenças para a produção de eletricidade em regime especial, afectando principal-mente a geração eólica e a cogeração.Há um novo paradigma a impor-se e é nosso dever desenvolvê-lo o mais cedo possível, pela sustentabilidade do nosso ambiente e das gerações futuras.