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AÇÃO AMBIENTAL NA EMEF DÉCIO MARTINS COSTA Laura Terezinha Pereira [email protected] Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre Porto Alegre - RS Resumo: A reativação do Laboratório de Ciências da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Décio Martins Costa e a pauta efetiva da questão ecológica na Escola, através do Laboratório de Inteligência do Ambiente Urbano (LIAU), são parcelas importantes na constituição dos laços do saber formal com a vivência cotidiana, ampliando as concepções de ambiente e de vida através da conscientização de que toda ação leva a uma reação. Este documento relata os fundamentos teóricos e o desenvolvimento destas ações que pretendem trazer a compreensão das Ciências da Natureza como elemento fundamental na análise e na transformação da qualidade de vida pessoal e comunitária. Palavras-chave: Ambiente, Vida, Ciências, Ecologia. 1 INTRODUÇÃO Ninguém escapa da educação, pois ela está presente em todos os momentos e lugares (BRANDÃO, 1995). Contudo, nossa sociedade está organizada com a formalização dos conhecimentos através da instituição Escola. Na Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre, conforme orientação do CADERNOS PEDAGÓGICOS DA SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO, o Ensino Fundamental tem duração de nove anos, está organizado em três ciclos (I ciclo - crianças de 6, 7 e 8 anos; II ciclo - pré-adolescentes de 9, 10 e 11 anos; III ciclo - adolescentes dos 12 aos 14 anos) e visa respeitar o ritmo, o tempo, as experiências e as características da faixa etária dos alunos, facilitando a continuidade de suas aprendizagens durante os três anos de cada ciclo. Desde 1999, vem sendo desenvolvido em parceria Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Prefeitura Municipal de Porto Alegre (PMPA) um programa de implantação do Laboratório de Inteligência do Ambiente Urbano (LIAU) a partir do Atlas Ambiental de Porto Alegre (MENEGAT et al, 1998). Cada escola, ao constituir seu projeto político pedagógico e seu regimento, opta por uma modalidade de ensino, que poderá ser: organização por complexo temático, tema gerador, projetos, entre outros. A EMEF Décio Martins Costa, localizada no Bairro Sarandi, zona norte de Porto Alegre, desenvolve temas (Tabela 1), definidos pelos professores, para ser o viés pedagógico ao longo de cada ano letivo.

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AÇÃO AMBIENTAL NA EMEF DÉCIO MARTINS COSTA

Laura Terezinha Pereira – [email protected] Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre Porto Alegre - RS Resumo: A reativação do Laboratório de Ciências da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Décio Martins Costa e a pauta efetiva da questão ecológica na Escola, através do Laboratório de Inteligência do Ambiente Urbano (LIAU), são parcelas importantes na constituição dos laços do saber formal com a vivência cotidiana, ampliando as concepções de ambiente e de vida através da conscientização de que toda ação leva a uma reação. Este documento relata os fundamentos teóricos e o desenvolvimento destas ações que pretendem trazer a compreensão das Ciências da Natureza como elemento fundamental na análise e na transformação da qualidade de vida pessoal e comunitária.

Palavras-chave: Ambiente, Vida, Ciências, Ecologia.

1 INTRODUÇÃO

Ninguém escapa da educação, pois ela está presente em todos os momentos e lugares (BRANDÃO, 1995). Contudo, nossa sociedade está organizada com a formalização dos conhecimentos através da instituição Escola.

Na Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre, conforme orientação do CADERNOS PEDAGÓGICOS DA SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO, o Ensino Fundamental tem duração de nove anos, está organizado em três ciclos (I ciclo - crianças de 6, 7 e 8 anos; II ciclo - pré-adolescentes de 9, 10 e 11 anos; III ciclo - adolescentes dos 12 aos 14 anos) e visa respeitar o ritmo, o tempo, as experiências e as características da faixa etária dos alunos, facilitando a continuidade de suas aprendizagens durante os três anos de cada ciclo. Desde 1999, vem sendo desenvolvido em parceria Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Prefeitura Municipal de Porto Alegre (PMPA) um programa de implantação do Laboratório de Inteligência do Ambiente Urbano (LIAU) a partir do Atlas Ambiental de Porto Alegre (MENEGAT et al, 1998). Cada escola, ao constituir seu projeto político pedagógico e seu regimento, opta por uma modalidade de ensino, que poderá ser: organização por complexo temático, tema gerador, projetos, entre outros. A EMEF Décio Martins Costa, localizada no Bairro Sarandi, zona norte de Porto Alegre, desenvolve temas (Tabela 1), definidos pelos professores, para ser o viés pedagógico ao longo de cada ano letivo.

Tabela 1 - Temas desenvolvidos pela EMEF Décio Martins Costa no período 2010-2012

Ano Tema

2010 Depende de nós

2011 Nenhum de nós é tão bom quanto todos nós juntos

2012 Viver é… ter histórias para contar.

Se, à educação cabe fornecer meios de orientação e compreensão da complexidade na

qual estamos inseridos, como sugere DELORS (2004), à apropriação do conhecimento científico as ferramentas para decodificar a realidade simbolizada, compete a Escola programar as intervenções pedagógicas propulsoras neste processo. Desta maneira, faz-se necessária a releitura dos apelos ambientais, ou não, intensamente presentes nos meios de comunicação de consumo.

Na escola, muitas vezes, a discussão ambiental fica restrita a reciclagem, a coleta seletiva, num círculo vicioso e ineficaz. Imortaliza-se a ação “curativa”, tomando distância, cada vez mais, da prevenção e da conscientização. Referenda-se o outro como responsável pela destruição do ambiente sem colocar-se como coadjuvantes deste processo, quando, por exemplo, luta pela preservação de biomas longínquos e sem fechar a torneira durante a escovação de dentes. (PEREIRA, 2010)

As experiências escolares, ricas em significado, e sua posterior sistematização, entram no contexto como consequência do processo de ensino-aprendizagem e das necessidades do grupo. O conhecimento científico, assim posto, desestabiliza as ideias preconcebidas, sendo um meio de constatação e de mudança.

A função do ensino científico é dupla: dar aos alunos chaves essenciais permitindo-lhes responder a questões científicas e técnicas em sua vida cotidiana, e ao mesmo tempo desenvolver neles atitudes, métodos de pensamento que se aproximem dos que as ciências lançam mão em seu laboratório. […] O conceito científico não designa um fato bruto mas uma relação que pode reaparecer em situações diversas. A consequência disto é que os conceitos científicos apresentam duas características inseparáveis: permitem explicar e prever. (ASTOLFI & DEVELAY, 1990, p. 26 e 31)

De acordo com o Projeto Político Pedagógico e o Regimento Escolar em vigor, os complementos curriculares que deverão ser previstas na organização curricular por Ciclos de Formação, pois buscam contribuir na igualdade de acesso ao ensino e na superação das dificuldades escolares. São atividades oferecidas para além da carga horária letiva dos alunos, que extrapolam as Bases Curriculares, tendo dimensões formativas, lúdicas, culturais, artísticas e tecnológicas.

... a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores que fundamentam a sociedade; a identificação das relações existentes entre conhecimento científico, produção de tecnologia e condições de vida na atualidade e em sua evolução o fortalecimento dos vínculos sociais e culturais, dos princípios de solidariedade humana, de respeito e valorização à diversidade. (Regimento Escolar, 2008)

2 LIAU

O LIAU- Laboratório de Inteligência do Ambiente Urbano - é uma das estratégias adotadas na Política de Educação Ambiental da Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre (RME), que procura trazer uma nova forma de olhar para a cidade no processo de aprendizagem. (SOLETTI et al, 2010)

Na EMEF Décio Martins Costa reativou-se o LIAU, como complemento curricular, a partir do ano letivo de 2012. Sendo um complemento curricular, oferecido no turno da manhã, foram ofertadas vagas para os alunos do 4º e 5º anos do turno da tarde.

Assim, propôs a qualificação do uso do Laboratório de Ciências, o reconhecimento da fauna e da flora locais, à análise os diferentes espaços (Escola e entorno imediato) para posteriores “intervenções ecológicas” e divulgação da questão ecológica à Comunidade Escolar. Para tanto, montou-se uma estratégia de ações, listadas na Tabela 2.

A primeira atividade foi reorganizar o Laboratório de Ciências a fim de viabilizar e qualificar o seu uso (Figura 1). Pois, anteriormente, este espaço era usado como sala de aula de projetos extraclasse.

Tabela 2 – Cronograma do LIAU na EMEF Décio Martins Costa para o ano letivo de 2012

Data Atividade

Março Reorganização do Laboratório de Ciências e estruturação dos grupos de trabalho.

Abril/maio Análise dos ambientes e levantamento de propostas de intervenção.

A partir de abril Reativação do uso do Laboratório de Ciências.

A partir de maio Intervenções no ambiente escolar.

Julho Avaliação e replanejamento 2° semestre.

Agosto a novembro Continuidade das atividades.

Figura 1 – Organização dos materiais e uso do Laboratório de Ciências

Em seguida iniciou o processo de formação dos grupos e as primeiras atividades de reconhecimento dos ambientes internos à Escola. A primeira análise apontou, entre outros aspectos, focos de lixo, canteiros abandonados e vegetação sem manejo (Figura 2).

Figura 2 – Reconhecimento do ambiente Os grupos começaram, após o reconhecimento dos territórios escolares (Figura 3), as

intervenções de limpeza e de reorganização destes espaços.

Figura 3 – Mapa esquemático da implantação da EMEF Décio Martins Costa

No pomar, com o auxílio do oficineiro do Projeto Escola Aberta, foi construída a composteira (Figura 4). As funcionárias da cozinha adicionam as cascas de alimentos e os grupos do LIAU fazem o manejo do composto, em parceria com os funcionários da limpeza, com a aeração e a adição de capim ou folhas secas. Esta ação diminui o volume de lixo orgânico descartado pela Escola na coleta domiciliar transformando esse rejeito material a ser usado na recuperação das áreas de solo degradado.

Figura 4 – Manejo da composteira Aproveitando a arquitetura natural da vegetação, organizou-se uma região própria para

as mudas e sementeiras, com luz indireta e proteção dos ventos e chuvas fortes (Figura 5).

Figura 5 – Recanto das mudas e sementeiras O pomar recebe materiais inadequadamente descartados pelos alunos (Figura 6). O

LIAU iniciou uma campanha, paralelamente a limpeza do espaço, junto às turmas com o intuito de conscientizá-las sobre a importância do correto destino do lixo (Figura 7).

Figura 6 – Lixo coletado no Pomar.

Figura 7 – Painel do LIAU As praças e o pátio foram trabalhados com podas da vegetação e constituição de

canteiros. Neles usa-se o mulch (Figura 8) como cobertura, pois, como aponta LEGAN (2007, p. 76), “Um solo descoberto é um solo danificado”.

Figura 8 – Mulch ou serrapilheira Definiu-se uma zona de conservação permanente (Figura 9) onde a proposta é

observar a sucessão natural ocorrendo. Nesta área foram plantadas as mudas de Sarandi ( ), árvore que deu nome ao bairro da Escola.

Figura 9 – Zona de conservação permanente Após dois meses de atividade observam-se algumas mudanças resultantes da ação

sistemática dos grupos do LIAU (Figura 10). Existem ainda problemas com o lixo e com o “pisotear” nos canteiros, contudo, a proposta do painel ilustrado na Figura 7 é de lançar o questionamento sobre estes entraves. Também com o intuito de envolver toda a Escola na questão ambiental, a Direção e a Coordenação Cultural pensaram em estruturar uma Gincana ambiental em parceria com o LIAU. As observações e identificações da fauna e da flora locais ocorrem em conjunto com as outras atividades.

Figura 10 – Algumas mudanças

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pelo cuidado não vemos a natureza e tudo que nela existe como objetos. A relação não é sujeito-objeto, mas sujeito-sujeito. Experimentamos os seres como sujeitos, como valores, como símbolos que remetem a uma Realidade fontal. A natureza não é muda. Fala e evoca. Emite mensagens de grandeza, beleza, perplexidade e força. (BOFF, 1999, p. 95)

Reativar o Laboratório de Ciências e pautar a questão ecológica efetivamente na

Escola, através do LIAU, dentro dos pressupostos anteriormente colocados, são parcelas importantes na constituição dos laços do saber formal com a vivência cotidiana, na ótica do cuidado.

Com estas ações, espera-se que a compreensão das Ciências da Natureza como elemento fundamental na análise da qualidade de vida; a ampliação das concepções apontadas pela mídia e pelo mercado para ambiente e vida e a conscientização de que toda ação leva a uma reação, traduzida pela ecologia como impacto ambiental. Será considerada, como indicador, a comparação entre os levantamentos de registros da análise dos ambientes e do resultado das intervenções feitas.

Estimular práticas sustentáveis, situando a necessidade destas ações e seus efeitos a curto, médio e longo prazo; pensar no futuro da existência humana na Terra requer movimentos individuais e coletivos, consciência das relações de interdependência e de que toda ação gera uma reação. Discutir ambiente é discutir vida. Na discussão exploram-se possibilidades e compreendem-se mais profundamente os conceitos em questão. (PEREIRA, 2010).

Agradecimentos Agradeço a Secretaria Municipal de Educação pela aprovação do Projeto LIAU e liberação de 10 horas para a execução do mesmo. Agradeço a Equipe Diretiva da EMEF Décio Martins Costa pelo apoio ao LIAU. Agradeço aos funcionários da Escola e oficineiros do Projeto Escola Aberta pela parceria na execução deste Projeto. Agradeço aos alunos do LIAU, pois sem eles o Projeto não existiria.

4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASTOLFI, J.; DEVELAY, M. A didática das ciências. Campinas: Papyrus. 1990. BOFF, L. Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra. Petrópolis: Vozes. 1999. BRANDÃO, C. R. B. O que é educação. São Paulo: Brasileense, 1995. CADERNOS PEDAGÓGICOS DA SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. n. 9. Porto Alegre: Secretaria Municipal de Educação. 2003. DELORS, J. Educação: um tesouro a descobrir. 9ª edição. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: MEC: UNESCO, 2004. LEGAN, L. A ESCOLA SUSTENTÁVEL: Ecoalfabetização pelo ambiente. 2ª edição. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo/Pirenópolis,GO: Ecocentro IPEC, 2007. MENEGAT, R., PORTO, M. L., CARRARO, C.C., FERNANDES, L. A. D. (COORDS.). Atlas Ambiental de Porto Alegre. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS. 1998. PEREIRA, L. T. Ambiente e Vida. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE ENSINO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA, 2. Ponta Grossa. Anais eletrônico. Ponta Grossa:UTFPR, 2010. artigo 187. ISBN: 2178-6135. Projeto Político Pedagógico da EMEF Décio Martins Costa. 2008. Regimento Escolar da EMEF Décio Martins Costa. 2008 SOLETTI, A.; FONTOURA ,A. E. S.; OSÓRIO A.; SILVA, C. de C.; CARVALHO, C. T.; M., E. V. G.; VELAZQUEZ, H. B. M.; ZANCANARO, L.; ROSADO, R. M.; MENEGAT, R.; ALVES, S. H.; OLIVEIRA, T. S. Laboratórios de Inteligência do Ambiente Urbano -LIAUs: o conhecimento do lugar fazendo a diferença na Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre. In: Encontro Nacional dos Geógrafos, 16. Anais XVI Encontro Nacional dos Geógrafos: Crise, práxis e autonomia: espaços de resistência e de esperanças - Espaço de Socialização de Coletivos. Porto Alegre. 2010. ISBN: 978-85-99907-02-3 ENVIRONMENTAL ACTION IN EMEF DÉCIO COSTA MARTINS

Abstract: The reactivation of the Laboratory of Sciences of the Municipal School of Fundamental Education (EMEF) Décio Martins Costa and effective agenda of ecological question in the school, through the Intelligence Laboratory of the Urban Environment (Liau), plots are important in the formation of ties with the formal knowledge the daily life, extending the concepts of environment and life through the realization that every action brings a reaction. This document describes the theoretical foundations and development of these actions that intend to bring an understanding of the natural sciences as a key element in analyzing and transforming the quality of personal and community life. Keywords: Environment, Life Sciences, Ecology.