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Abril de 2015 nº 2 OBJETIVOS ESTRATÉGICOS e detalhes sobre o seminário ENTREVISTAS com lideranças e histórias inspiradoras OFICINAS PARA O EMPODERAMENTO Audiência pública no Congresso Nacional AGENDA DE REIVINDICAÇÕES E COMPROMISSOS ESTRATÉGIAS PARA O Empoderamento de Meninas AÇÕES PARA 2015 União Europeia

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Abril de 2015nº 2

OBJETIVOS ESTRATÉGICOS e detalhes sobre o seminário

ENTREVISTAS com lideranças e histórias inspiradoras

OFICINAS PARA O EMPODERAMENTO Audiência pública no Congresso Nacional

AGENDA DE REIVINDICAÇÕES E COMPROMISSOS

ESTRATÉGIAS PARA O Empoderamento de Meninas

AÇÕES PARA 2015

União Europeia

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Ficha Técnica

Realização

Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF)

Gary StahlRepresentante do UNICEF no Brasil

Esperanza VivesRepresentante adjunta do UNICEF no Brasil

Mário VolpiCoordenador do Programa Cidadania dos Adolescentes

Gabriela Goulart MoraOficial do Programa Cidadania dos Adolescentes

Noemí PerezConsultora do Programa Cidadania dos Adolescentes

Daniel GrazianiAssistente do Programa Cidadania dos Adolescentes

Michelle BarronCoordenadora do Programa de Cooperação Sul-Sul

Niklas StephanOficial do Programa de Cooperação Sul-Sul

Adriana MaiaAssistente do Programa de Cooperação Sul-Sul Escritório do Representante do UNICEF no BrasilSEPN 510, Bloco A, 2º andarBrasília/DF - [email protected]

Produção Editorial

Edição: Gabriela Mora e Noemí Pérez VásquezTextos e reportagem: Ana Vilela e Viviane MarquesFotos: Rayssa CoeProjeto gráfico e diagramação: Virgínia Soares

Agradecimentos: União Europeia; Agencia Brasileira de Cooperação (ABC); Secretaria de Direitos Humanos (SDH/PR); Plan Internacional; Instituto Internacional de Desenvolvimento da Cidadania (IIDAC); Superintendência de Políticas para Mulheres de Salvador e Fundo Municipal para o Desenvolvimento Humano e Inclusão Educacional de Mulheres Afrodescendentes (FIEMA) da Secretaria Municipal da Educação (SMED) da Prefeitura de Salvador; deputado federal Eduardo Barbosa (PSDB/MG); subsecretário geral de Meio Ambiente, Energia, Ciência e Tecnologia do Ministério das Relações Exteriores, embaixador José Antônio Marcondes de Carvalho e secretário Mario Gustavo Mottin, da Coordenação Geral de Desenvolvimento Sustentável do Ministério das Relações Exteriores, Grupo de Trabalho Interministerial para a Agenda Pós-2015; Girls Rock Camp Brasil.

É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte.

Abril de 2015

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6 Contextualização 9 Objetivos estratégicos10 O seminário15 Histórias inspiradoras17 Oficinas e audiência pública19 Reivindicações e compromissos20 Dez conselhos para superar desafios21 Agenda de reivindicações24 Pelo direito! Meninas unidas!29 Estratégias para o empoderamento de meninas34 Ações para 201536 Perfil das meninas participantes38 Redes de Adolescentes e Jovens40 E como foi o seminário?

Sumário

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Grito de igualdade

Ei ei, você aí,você pode me ouvir?

Empoderamento de meninas sim!

Vamos nos fazer ouvir !

Meninas podem sim senhor !Meninas podem sim senhora!

Ei ei, você aí,Você pode me ouvir !

Empoderamento de meninas sim!

Mundo melhor pra você e pra mim!

Sim, meninas podem cantar o seu grito de igualdade, se unir em nome

de uma causa comum, se reunir para discutir propostas de empoderamento. Foi assim em Brasília, de 17 a 19 de novembro, durante o II Seminário Internacional de Empoderamento de Meninas, realizado no contexto das celebrações dos 25 anos da Convenção sobre os Direitos da Criança. Ao todo, 70 meninas, de 13 a 19 anos, do Brasil, Equador, Guatemala, Jamaica e México juntaram suas vozes durante o encontro organizado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), no Allia Gran Hotel Brasília Suítes, na capital da República.

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E qual o objetivo do evento?

A discriminação e as práticas culturais que prejudicam o desenvolvimento das meninas variam segundo o seu contexto. No caso do Brasil, a pesquisa Por Ser Menina: Crescendo entre Direitos e Violências, realizada pela Plan International em 2013, demonstrou que uma a cada cinco meninas conhece outra que já sofreu violência e que 70,7% das meninas “nunca ouviram falar” ou “ouviram falar, mas não leram” o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Assim, é fundamental que diferentes setores dos governos, das instituições, das organizações da sociedade civil e dos movimentos sociais se articulem para que as meninas exercitem o seu direito à participação e contribuam desde cedo para o fortalecimento da democracia. E para que essa oportunidade gere resultados, é fundamental investir em meninas líderes conhecedoras de seus direitos e formadas com valores importantes para o desenvolvimento de uma sociedade democrática, igualitária e que respeite a diversidade.

Nesse contexto, o prazo para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) até 2015 tem levado à necessidade de acelerar os esforços para empoderar meninas e promover a equidade de gênero. O tema também está presente no debate para a construção da Agenda de Desenvolvimento Pós-2015 e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Como parte dessa mobilização internacional, o UNICEF começa a implementar o Programa de Promoção de Equidade de Gênero – Meninas de Hoje, Mulheres de Amanhã, e um dos componentes desse programa é o II Seminário Internacional de Empoderamento de Meninas.

O evento foi realizado em parceria com a Secretaria de Direitos Humanos (SDH/PR), Plan Internacional, Instituto Internacional de Desenvolvimento da Cidadania (IIDAC), Superintendência de Políticas para Mulheres de Salvador e Fundo Municipal para o

Fomentar oportunidades de empoderamento das participantes; propiciar um lugar para

o exercício das jovens lideranças, um palco de discussão de propostas para a igualdade de gênero, participação, expressão da diversidade regional, aprendizado e exposição de ideias; dar lugar à voz das meninas e encorajá-las a trocar experiências, anseios, medos, expectativas, sonhos e desafios.

Desse ambiente de trocas, participaram adolescentes cujas histórias muitas vezes esbarram nas fronteiras do preconceito de gênero, racial, social e de orientação sexual, nas barreiras da pobreza ou mesmo geográficas. Também participaram mulheres líderes com histórias inspiradoras, gestores de políticas públicas e/ou projetos sociais no Brasil e nos países convidados, parlamentares e personalidades da política, do mundo artístico e do esporte.

Contextualização

As ações voltadas ao empoderamento de meninas são uma questão de justiça

social e de reconhecimento de seus direitos. Sustentam-se em tratados internacionais de direitos humanos de caráter juridicamente vinculante para os países signatários e em compromissos políticos como a Convenção sobre os Direitos das Crianças (CRC), Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (CEDAW) e Plataformas de Ação de Cairo e Beijing +5 e +10, Convenção de Belém do Pará, Convenção Ibero-americana dos Direitos dos Jovens (CIDJ), entre outras, as quais estabelecem pautas específicas para cumprir os compromissos firmados pelos Estados Partes. Por conseguinte, é obrigação dos Estados reconhecer e garantir que as meninas, como todos os seres humanos, possam gozar e exercer os seus direitos.

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"Me lembro que quando eu ia surfar não tinha meninas, só homens, e eu estava lá junto. Depois fui participar de um campeonato que tinha somente homens inscritos e só eu de mulher . Durante o campeonato muitos perguntavam o que eu estava fazendo ali.”

(Nicole Pacelli, 23 anos, a primeira mulher a vencer o Stand Up World Tour na categoria Wave, em La Torche, França)

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Desenvolvimento Humano e Inclusão Educacional de Mulheres Afrodescendentes (FIEMA) da Secretaria Municipal da Educação (SMED) da Prefeitura de Salvador. Estiveram presentes representantes dos ministérios da Saúde, Educação, Desenvolvimento Social, Itamaraty, Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) e Secretaria de Políticas de Promoção de Igualdade Racial (SEPPIR), além de representantes das embaixadas da Suécia, Jamaica, Equador, ONU Mulheres e UNAIDS.

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Objetivos estratégicos

O seminário teve os seguintes objetivos: criar uma agenda de empoderamento

de meninas elaborada pelas participantes, contemplando as suas reivindicações para promover a equidade de gênero em suas casas, comunidades, países e no âmbito internacional; definir estratégias para fortalecer o papel de liderança das meninas em espaços formais e informais de participação de adolescentes e jovens; promover o diálogo entre as participantes e os gestores públicos sobre programas e políticas capazes de fomentar o empoderamento de meninas; promover a troca de experiências entre gestores públicos do Brasil e dos países convidados e definir estratégias de parceria sobre equidade de gênero.

A primeira ação mais concreta do UNICEF e seus parceiros para promover o empoderamento de meninas aconteceu em abril de 2013, durante o I Seminário Internacional Brasil-EUA sobre o Empoderamento de Meninas, quando 80 meninas de 13 a 17 anos do Brasil, Chile, Estados Unidos, México e Uruguai reuniram-se no Rio de Janeiro para discutir estratégias para garantir os direitos de meninas por meio da

participação cidadã. Na ocasião, as participantes redigiram a Carta Manifesto do Rio, em que firmaram o compromisso de promover ações de empoderamento de meninas em seus municípios, por meio da educação e da mobilização entre pares. Também notificaram os governantes de seus países sobre as principais preocupações e reivindicações.

O segundo passo desse movimento foi o encontro de novembro de 2014, em Brasília. Na ocasião, foram levantadas as reivindicações das participantes, as quais compõem a agenda e são subsídio para a elaboração dos Planos de Ação para 2015. Os gestores públicos também assumiram compromissos para apoiar o empoderamento das meninas nas mais diversas áreas. Entre esses, destacam-se: identificar e trocar informações sobre boas práticas, agendar o tema da igualdade de gênero de forma intersetorial nas políticas públicas e engajar as meninas em espaços de diálogo, programas e ações institucionais. Outro resultado do encontro foi a definição de estratégias para garantir a sustentabilidade das ações que contribuem para o empoderamento de meninas e para a igualdade de gênero.

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O seminário

O engajamento das jovens lideranças foi fortalecido ainda antes do seminário. As

participantes receberam material de formação ao longo de um mês antes do evento, entre eles: uma versão em português da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW), impresso e distribuído pelo UNICEF, além da Declaração de Beijing e de outros materiais sobre questões de gênero. A formação gerou uma grande integração e profícuas trocas, energia que prosseguiu desde a organização até o evento de boas-vindas, perpassando as atividades de integração e a apresentação das participantes e dos objetivos do encontro, que tiveram foco no material de subsídio sobre a Declaração de Beijing e CEDAW.

No primeiro dia, pela manhã, as meninas e os gestores realizaram as oficinas preparatórias para o talk show, que aconteceu na parte da tarde, quando as participantes entrevistaram autoridades, celebridades e formadores de opinião sobre estratégias de empoderamento de meninas, em uma integração singular. As perguntas direcionadas aos participantes foram variadas, mas todas com um foco: o fim da

desigualdade de gênero e o empoderamento de meninas e de mulheres.

As participantes prepararam questões para entrevistar os seguintes convidados no talk show: Gary Stahl, representante do UNICEF no Brasil; Vera Soares, secretária de Articulação Institucional e Ações Temáticas, Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM); ministro Milton Rondó, coordenador geral de Ações Internacionais de Combate à Fome (CGFome), do Ministério das Relações Exteriores; Pilar Chuc Mellado, coordenadora da Unidade de Gênero e Povos Indígenas do Ministério do Desenvolvimento Social da Guatemala; Thereza de Lamare Franco Netto, coordenadora da Área de Saúde do Adolescente do Ministério da Saúde; Nicola Cousins, oficial técnico da Unidade de Ambiente Propício e Direitos Humanos, Ministério da Saúde da Jamaica; Maria Silvia Aguirre Lares, coordenadora da Unidade de Igualdade de Gênero, Ministério da Educação, Cultura e Esporte do México; e Rose Rozendo, gestora do Fundo Municipal para o Desenvolvimento Econômico e Inclusão Educacional de Mulheres Afrodescendentes

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"Nasci prematura, com deficiência visual. Frequentei com muitas dificuldades a escola.

Mesmo assim, consegui entrar na faculdade. Comecei a nadar com três anos e me tornei atleta profissional, participei de eventos, competições e paraolimpíadas. Ganhei alguns campeonatos mundiais e medalhas.”

(Fabiana Sugimori, 34 anos, nadadora)

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(FIEMA) da Secretaria Municipal da Educação (SMED) da Prefeitura de Salvador.

Entre os temas abordados no talk show, destacam-se os problemas que incitam todas as desigualdades de gênero no Brasil, a exemplo da vulnerabilidade das meninas e da própria forma como a sociedade brasileira as vê, além de especificidades como os grupos minoritários, aqueles que vivem na pobreza e os que detêm baixo empoderamento. Esses fatores se somam às várias formas de violência intra e extrafamiliar e ao fato de as mulheres ocuparem poucos espaços de poder.

A seguir, estão alguns exemplos de perguntas e respostas do talk show:

“Qual o papel da Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM) para o empoderamento de meninas?”

Vera Soares, secretária de Articulação Institucional e Ações Temáticas da SPM responde: articular e integrar as políticas do governo para que se atente para a desigualdade de gênero; elevar os direitos das meninas, crianças e adolescentes para uma situação de equidade; consolidar os canais de diálogo com a sociedade para que as formas de violência possam ser sanadas, criando um canal de vigilância da sociedade; e fortalecer a rede de meninas.

Na questão indígena, as perguntas foram direcionadas a Pilar Chuc Mellado, coordenadora da Unidade de Gênero e Povos Indígenas do Ministério do Desenvolvimento Social da Guatemala. Para ela, a discriminação entre os povos, e sobretudo a discriminação de gênero, é muito grande e um dos pontos mais difíceis para as mulheres indígenas nesse caso é o acesso à educação.

A Nicola Cousins, oficial técnica da Unidade de Criação de Oportunidades e Direitos Humanos,

do Ministério da Saúde da Jamaica, foram feitas perguntas referentes ao trabalho desenvolvido com as jovens com HIV. No país, as políticas não conseguem suprir as situações de exploração sexual. Superar essa dificuldade é a grande meta. Acesso a métodos contraceptivos, sem represálias, parcerias com o terceiro setor e a sociedade civil e a criação de lares para acolher crianças e jovens estão entre as constantes ações.

No México, o trabalho de empoderamento de meninas passa pela escola. Segundo Maria Silvia Aguirre Lares, coordenadora da Unidade de Igualdade de Gênero, Ministério da Educação, Cultura e Esporte do México, a política educacional com perspectiva de gênero no país teve início em meados dos anos 1990, quando foi instaurada a luta pela igualdade de gênero, com grande produção de trabalhos sobre o tema e incorporação de planos e programas voltados para essa perspectiva. Atualmente, o nível de escolaridade entre mulheres e homens tem uma igualdade significativa no país. Ainda assim, existe um espaço de insegurança e discriminação nas escolas contra as mulheres e maior vulnerabilidade ainda em caso de gravidez. No centro da luta está a revisão das relações de poder e a transformação cultural a caminho da igualdade de gênero.

Rose Rozendo, gestora do Fundo Municipal para o Desenvolvimento Econômico e Inclusão Educacional de Mulheres Afrodescendentes (FIEMA) da Secretaria Municipal da Educação (SMED) da Prefeitura de Salvador, apresentou a perspectiva local. Rozendo esclareceu que 53% da população analfabeta de Salvador é afrodescendente, por isso, o fundo foi criado com três eixos: autonomia econômica para as mulheres, enfrentamento à violência contra a mulher e formação de professores da rede municipal. Para ela, o grande desafio é ser mulher e ser mulher negra, daí a grande importância de empoderar as meninas em todas as esferas.

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“O que sempre me inspirou a seguir , independentemente do que acontecia fora de mim, foi que eu tinha a certeza de quem eu sou: eu sou a vida! Descubram quem vocês são! ”

(Joy Crawford, diretora de programas e capacitação da ONG Eve for Life, da Jamaica)

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Histórias inspiradoras

Terminado o talk show, foram ouvidos os depoimentos de meninas e de mulheres

líderes nas áreas de política, esporte, artes e movimentos sociais. Entre as mulheres que deram voz às suas histórias, encantando e emocionando, inspirando e ensinando, estão a ex-deputada federal Rita Camata, que chegou ao Congresso Nacional mesmo diante de todas as barreiras do machismo encontradas em seu caminho; Alisson Roofe, embaixadora da Jamaica, que alcançou uma posição de destaque na diplomacia de seu país; Joy Crawford, diretora de programas e capacitação da ONG Eve for Life, da Jamaica, que luta para que as meninas de seu país tenham um futuro digno; a nadadora paraolímpica Fabiana Sugimori, que fez de sua deficiência visual a escada para a superação; e a surfista Nicole Pacelli, que enfrentou os preconceitos contra a mulher no mundo do surf e se tornou uma campeã.

A cantora Negra Li falou de sua disciplina e perseverança, da luta para vencer na carreira artística enquanto uma mulher negra, nascida em uma favela, em meio à violência; a jornalista da Folha de S. Paulo Eliane Trindade, autora do livro Meninas da Esquina, trouxe à tona o tema da exploração sexual; Maryule Damas, adolescente do semiárido (ES), falou de sua luta contra o preconceito por ser deficiente visual; e a jovem Simone Nascimento, universitária ativista do movimento negro (SP), contou de sua garra e determinação, que a levaram à universidade. Histórias de força, de coragem, em que todas ultrapassaram obstáculos atualmente enfrentados por muitas das meninas que ali estavam, mostrando-lhes que, com força, disciplina e persistência, é possível vencer mesmo as piores adversidades.

A cantora Negra Li falou de sua disciplina e perseverança, da luta para

vencer na carreira artística enquanto uma mulher negra, nascida em uma

favela, em meio à violência

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“Um dos desafios que enfrentei foi o ingresso na universidade, que se configura como um espaço privilegiado de brancos e ricos.

Ingressei como bolsista do Prouni na PUC/SP. Ao chegar à universidade, me deparei com mais desafios, porque se manter em uma faculdade particular é muito difícil.”

(Simone Nascimento, universitária e ativista do movimento negro de SP)

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Oficinas e audiência pública

As oficinas foram realizadas na manhã do dia 18, com o objetivo de adquirir

conteúdo sobre o empoderamento de meninas e advogar pelo tema. As oficinas abordaram os temas: comunicação e gênero, identidade racial, sensibilização de gênero, gênero e políticas públicas, estereótipos e violência, HIV e direitos humanos. Enquanto as meninas se dividiam em grupos, os gestores, em outra sala, apresentavam políticas para promover os direitos das meninas a partir do empoderamento.

Na parte da tarde, as participantes se deslocaram até a Câmara dos Deputados para uma audiência pública na Comissão de Relações Exteriores, com o objetivo de avaliar os resultados brasileiros referentes aos ODM estabelecidos pelas Nações Unidas para o período de 2000 a 2015 e o delineamento de ações para o período pós-2015. As porta-vozes do seminário na audiência pública foram a jovem Rita dos Santos Silva, indígena potiguara, do município Baía da Traição (PB), e a adolescente guatemalteca Gilda Menchú Tzun, da etnia Maya K’ich’e, ambas integrantes de redes indígenas. Elas apresentaram as reivindicações e demandas das meninas e falaram sobre a

importância da participação política feminina e a necessidade de compartilhar boas práticas entre os estados para promover o empoderamento de meninas.

A sessão foi moderada pelo deputado federal Eduardo Barbosa (PSDB/MG). Também estiveram presentes o embaixador, subsecretário geral de Meio Ambiente, Energia, Ciência e Tecnologia do Ministério das Relações Exteriores, José Antônio Marcondes de Carvalho; o secretário Mario Gustavo Mottin, da Coordenação Geral de Desenvolvimento Sustentável do Ministério das Relações Exteriores, Grupo de Trabalho Interministerial para a Agenda Pós-2015; a coordenadora do Programa de Cooperação Sul-Sul do UNICEF no Brasil, Michelle Barron; e a coordenadora da Fundação João Pinheiro de Minas Gerais (MG), Maria Luiza de Aguiar Marques. Ao final, houve uma sessão de perguntas e respostas, durante a qual, entre vários participantes, a adolescente Juliana da Silva Lima, da rede JUVA, emocionou a todos com a maturidade de sua intervenção.

Depois do Congresso Nacional, passeio, jantar e festa.

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Reivindicações e compromissos

No dia 19, as meninas listaram reivindicações e estratégias, a partir das quais foi

construída a agenda. E os gestores debateram sobre compromissos e estratégias, sobre as possibilidades de parcerias e a respeito dos planos de continuidade para fazer a diferença na vida de meninas em todo o mundo. Ao final, ambos os grupos compartilharam os resultados de seus trabalhos, o que foi seguido de uma sessão de perguntas e respostas.

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Dez conselhos para superar desafios

Alisson Roofe, embaixadora da Jamaica, apresentou, em seu depoimento, dez

passos que considera importantes para que as meninas de hoje superem as dificuldades, tornando-se mulheres empoderadas:

1. Desenvolvam bons valores: ética, justiça, integridade e, principalmente, como jovens, façam com que a sociedade as veja como pessoas íntegras. 2. Tenham relações familiares boas e um sistema de apoio que estimule e influencie o seu crescimento. 3. Invistam no seu futuro agora. Educação é um investimento. Educação é fundamental. 4. Procurem objetivos realistas. Sonhem e vejam as possibilidades e estratégias para alcançar os seus objetivos.5. A espiritualidade é muito importante para deixar a pessoa centrada e faz acreditar na superação dos momentos difíceis. 6. Encontrem felicidade em coisas simples. 7. Encontrem a harmonia com a natureza. 8. Aprendam com os seus erros e busquem a capacidade de se levantar, apesar dos erros. O sucesso pode passar muito rápido se não tiver bases sólidas em conquistas e resiliência para superar dificuldades, principalmente para as mulheres.9. Procurem ser melhores no que quer que seja, mas sem se cobrar muito. Seja excelente naquilo que você ama. 10. Procurem uma pessoa mais velha para ser o (a) seu (sua) mentor (a). E aprendam com essa pessoa porque ela tem muito a lhe ensinar. Se assim fizer, vocês terão um futuro melhor e brilhante, e vocês podem.

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“Sin duda, Latinoamérica necesita de más mujeres en la política, es nuestro derecho. Sueño que cuando sea adulta y regrese a Brasil pueda hablar de nuevoen este foro y estemos mejores representadas.”

(Trecho do discurso de Gilda Paulina Menchú Tzun, 14 anos, guatemalteca, no Congreso Nacional)

Agenda de reivindicações

O seminário é uma porta de entrada, um elo de uma corrente muito maior de

realizações, de uma busca por conquistas. Por isso, o mais importante é agir, mas para uma ação são necessárias estratégias, pontos sobre os quais trabalhar, uma agenda de prioridades. Assim, para as meninas, é necessário fortalecer a presença delas nos espaços políticos e levar a pauta de direitos por elas levantada para conselhos, secretarias e outros fóruns de direitos.

Nesse contexto, também é fundamental, por exemplo, haver encontros de formação política para meninas, porque, afinal, lideranças formadas podem muito mais. Para elas, é essencial que existam espaços de participação de meninas adolescentes e até de crianças, onde possam refletir desde cedo sobre o papel das mulheres, inclusive nas várias políticas públicas nas áreas de educação, saúde, cultura, esporte etc., permitindo-lhes falar, expor suas ideias, atuar. Também refletiram sobre a importância da transmissão dos conhecimentos gerados em fóruns e espaços públicos; o estabelecimento de prazos para os resultados obtidos; o compartilhamento de perfis e de experiências para mobilizar mais meninas e meninos pelo empoderamento; a criação de uma ouvidoria para denunciar ou perguntar; o envio de mensagens de texto de celular para gerar perguntas e respostas feitas anonimamente; a divulgação nas rádios e TVs, mas sempre dando voz às meninas. Para as participantes, seria muito interessante se houvesse um edital para o empoderamento de meninas como forma de financiar as suas ações.

As meninas querem também que aqueles departamentos ligados às questões da mulher já existentes hoje sejam efetivados de vez e usados para garantir direitos. E também que as secretarias e delegacias da mulher nos municípios sejam fortalecidas e passem a tratar

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dos temas que dizem respeito a meninas. Elas pedem ainda um direito básico, porém não respeitado: igualdade no âmbito do trabalho.

Sobre o tema identidade racial e gênero, concluiu-se que é necessária uma construção social, cultural e política de valorização e reconhecimento da diversidade racial e que é primordial mostrar o valor da cultura afro-brasileira como forma de combater o preconceito e de reforçar a importância da identidade étnico-racial. E que é preciso ressaltar para as meninas o quanto é bom se aceitar e dar valor à sua raça, além de desconstruir algumas afirmações colocadas pela sociedade, que julga as mulheres pela roupa, comportamento, estilo. Na área da educação, foi ressaltada a necessidade de serem fortalecidas políticas públicas para a inclusão dos grupos étnicos nas universidades e a valorização da diversidade cultural e da cultura afro e indígena. As meninas discutiram também que as histórias da zona rural, da população negra, indígena e de mulheres líderes sejam disseminadas nas escolas de todo o Brasil, mostrando a riqueza cultural e étnica da nação e a força da mulher nos diversos momentos e movimentos da história do País e em contextos regionais.

Para a saúde, é de suma importância a realização de ações nas comunidades, escolas e postos de saúde para que informações sobre HIV/Aids e sobre os direitos da mulher sejam difundidas. O fim do preconceito contra pessoas com HIV/Aids é outra batalha a ser enfrentada. Também foi levantada a necessidade de levar formação sobre o tema às aldeias indígenas, possibilitando a prevenção em locais mais remotos. Também foi ressaltada a necessidade de apoiar processos de inclusão de meninas com deficiência nos diversos espaços, do educacional ao esportivo e político até espaços de lazer.

Outro tema levantado pelas participantes foi a exposição da mulher na mídia, portanto, da imagem criada pelos meios de comunicação

de massa. Por isso, está na agenda a criação e a regulamentação de um órgão que avalie o conteúdo midiático em relação à mulher, de forma que as imagens expostas na mídia realmente representem e valorizem a diversidade da mulher brasileira.

O assédio, seja ele qual for, esteve incluído nos debates e faz parte da agenda. Os principais pontos são o combate a todo tipo de assédio nas ruas, trabalho, casa, escola e a valorização de meninas e meninos no âmbito familiar de forma igualitária. Para isso, sugere-se encorajar as meninas para que ocupem espaços políticos, apoiar o exercício do direito sexual e reprodutivo das meninas e ampliar o acesso à informação, o que contribui para o combate a todo tipo de violência contra a mulher e à exploração sexual. Ao final, as meninas recomendaram mais eventos como o seminário para levar conhecimento para outras meninas e meninos. E, ainda, que sejam realizadas oficinas nas comunidades e nas escolas para disseminar os conhecimentos gerados durante o seminário. Sugere-se ainda que mães e pais também sejam informados, por meio das escolas, sobre o empoderamento de meninas.

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“Fui discriminada por ter deficiência visual. Hoje, eu avalio que consegui muita coisa. Eu faço o segundo ano do ensino médio, curso informática e pretendo seguir a carreira como técnica de informática. A mensagem que eu vou passar para vocês é que eu vou para onde o vento for ...”

(Maryule Damas, 16 anos, Núcleo de cidadania dos adolescentesno semiárido brasileiro)

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Pelo direito!De brincar de carrinho.

À opinião!

A uma saúde melhor .

De ter direitos.

De ser o que eu quiser ser !

À igualdade no esporte

e à igualdade de gênero.

De ser menina!

À comunicação!

De conviver na sociedade sem

sofrer qualquer tipo de

desigualdade de gênero.

De usar cueca.

De ser diferente!

De sexualidade, esporte,

liberdade de vestimenta

sem preconceito.

À livre expressão!

À participação.

De ser tratada com respeito.

De expressar a sua voz .

De usar a roupa que quiser .

À igualdade racial e à cultura

afro-brasileira.

À livre identidade.

De viver sem medo.

De opinar . Ao nosso corpo.

De dizer não!

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Meninas unidas!Pelo respeito ao ser humano.

Pelo combate à “gordofobia”.

Por uma sociedade mais inclusiva,

que respeite a mulher

adolescente e ativista.

Pela valorização das meninas e

pela equidade de género no esporte.

Pela igualdade no trabalho.

Pelo combate à xenofobia.

Pela valorização da diversidade de cultura

afro-brasileira e indígena.

Pela igualdade de meninos

e meninas no ambiente familiar .

Por uma juventude melhor .

Pelas minorias, negras, lésbicas,

mulheres de comunidade.

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“Boa tarde, senhores parlamentares,

Como menina que sou, luto pela causa indígena, pela minha raiz e minha cultura. De ontem até quarta-feira, estou participando do Seminário Internacional de Empoderamento de Meninas, no qual me deparei com 70 vozes ativas que defendem causas diferentes, mas com a mesma essência. Isso mostra que a minha situação não é diferente da delas e nem de outras milhares de meninas das mais diversas regiões brasileiras e de outros países que reivindicam suas bandeiras.

Temas como: o abuso e a exploração sexual, o trabalho infantil, principalmente no âmbito doméstico e rural, o abandono da escola, a gravidez, a discriminação pela orientação sexual, pela questão racial, por serem HIV positivas ou por terem alguma deficiência foram alguns assuntos levantados pelas participantes. Isso só para mostrar alguns exemplos de como a desigualdade de gênero afeta as meninas e as mulheres neste país, na América Latina e no Caribe.

Discurso de Rita dos Santos Silva, 19 anos, indígena potiguara, da Rede de Juventude Indígena (REJUIND) da Paraíba, no Congresso Nacional, um exemplo de liderança, não somente pela causa indígena, mas também de todas as meninas e mulheres do Brasil e do mundo. Com sua força e integridade, Rita ergueu aplausos em meio ao silêncio provocado por suas palavras.

Diante da realidade das meninas, eu e todas elas estamos reunidas para elaborar uma agenda de reivindicações. Gostaríamos de contar com o apoio, a sensibilidade e a participação de vocês para escutar nossas vozes. Queremos o fim da violência contra meninas e mulheres. Educação para todos e todas, independentemente da orientação sexual, classe social, cultura, raça e etnia. Queremos apoio nos casos de gravidez para que as meninas não abandonem a escola. Queremos que o direito ao esporte seja levado a sério e de forma igualitária.

Esse movimento pelos direitos das meninas não pode se restringir apenas ao sexo feminino. Homens e meninos precisam se engajar, pois toda a sociedade se beneficia com mais igualdade. Tiraram minhas folhas, cortaram meus galhos, cortaram até meu tronco, mas minhas raízes jamais arrancarão. Hoje somos sementes, amanhã seremos raízes. Hoje somos meninas, amanhã seremos mulheres.”

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“Hoje somos sementes, amanhã seremos raízes.”

(Rita dos Santos Silva, 19 anos, indígena potiguara, da Rede de Juventude Indígena - REJUIND, da Paraíba)

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“Eu nunca imaginei que aquela menina que era da roça, camponesa, conseguiria chegar a mandatos consecutivos como deputada. Acredito que uma das principais vias de transformação é a Educação. A educação é a base da mudança.”

(Rita Camata, ex-deputada federal e relatora do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA)

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Estratégias para o empoderamento de meninas

As participantes construíram a sua agenda pelo empoderamento de meninas,

juntamente com os gestores, e indicaram estratégias para que a agenda seja cumprida. Na área de políticas públicas, o objetivo é seguir trabalhando na promoção e na defesa dos direitos das adolescentes, facilitando espaços de diálogo entre elas e as instâncias de governo, além de ampliar as políticas contra a discriminação por gênero, orientação sexual, cor e raça. Na lista de ações constam, ainda, a divulgação e a busca de parceiros para garantir os direitos das meninas e mulheres, o fomento à construção de políticas de enfrentamento da violência, a criação de coordenadorias e de secretarias com foco nas questões de gênero e a produção de materiais disponíveis sobre direitos das meninas, com linguagem acessível a todos, a obtenção de recursos para implementar soluções apontadas pelas meninas, o engajamento de meninas em programas e ações institucionais e do governo e a criação de programas integrais para empoderar meninas.

Entre os compromissos assumidos pelos gestores, destacam-se: o intercâmbio de experiências entre as comunidades, o ensino e aprendizado sobre o funcionamento das políticas de direitos humanos e sobre orçamento participativo e a elaboração de projetos regionais e estaduais de empoderamento de meninas em fóruns e conferências. Também estão entre as metas a serem alcançadas: possibilitar a participação de adolescentes nos fóruns de debate sobre políticas públicas, criando grupos de trabalho de meninas dentro das redes e nos fóruns, fortalecendo os que já existem, usar a comunicação em geral para o empoderamento de meninas, fazer alianças e conhecer a realidade vivenciada pelas meninas.

As questões de gênero e de raça tiveram atenção especial, com objetivos de realizar ações específicas em favor das mulheres afro, além de um intercâmbio de trabalho com a experiência

de Salvador, e ajudar na implementação de políticas contra a discriminação de gênero. Sugere-se elaborar um manual de linguagem inclusiva e não sexista para as escolas e bibliotecas, formular políticas públicas tendo a questão das crianças e de gênero como centro, aumentar as possibilidades de as mulheres participarem mais dos espaços públicos, realizar campanhas sobre o impacto da divisão sexual do trabalho, ampliar os espaços de reflexão sobre o papel das mulheres junto a crianças e adolescentes nas várias políticas públicas nas áreas da educação, saúde, cultura, esporte etc. e ter uma agenda de gênero e igualdade nas políticas públicas. Uma vez que o preconceito quanto ao gênero quase sempre caminha de mãos dadas com a violência, outra meta é trabalhar com as procuradorias e centros de defesa no tema da violência, violência de gênero, empoderamento e masculinidade. Outra proposta é realizar campanhas nas praças públicas contra a “gordofobia” e a xenofobia.

Outro tema incluso na agenda final do seminário foi a gravidez na adolescência. Sobre o tema, sugere-se realizar ações que objetivem dar suporte às jovens mães para que elas continuem os estudos, possam ter uma profissão e uma vida melhor com a família. Há, ainda, o projeto de socializar pesquisas para que se tenha mais elementos para formular e acompanhar políticas públicas direcionadas para meninas, além de identificar, ampliar e/ou implementar serviços de atenção às meninas em situação de todos os tipos de discriminação e violência. E criar e/ou fortalecer uma rede de empoderamento de meninas e estimular o empoderamento e o protagonismo de meninas nas suas comunidades/localidades e/ou territórios para que tornem-se mulheres capazes de construir novas e outras histórias.

Na área de Cooperação Sul-Sul foram sugeridas as seguintes ações: criar programas de intercâmbio de boas práticas, com a troca de

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experiências como a da Guatemala (Proteção Social), a da Jamaica (Eve for Life) e a de São Paulo (Casa do Adolescente). Outras propostas visam abordar o tema da segurança, violência e adolescentes, romper a resistência de professores e educadores, ter formas de monitoramento de dados sobre políticas públicas para adolescentes e possibilitar formação continuada de educadores. Outras metas são: dar voz às meninas, publicando seus discursos (Eve for Life) e trabalhar a mudança de consciência social para protegê-las e impulsionar a incorporação da educação sexual integral no currículo escolar e diagnosticar problemas de gênero entre comunidades indígenas e migrantes agrícolas (México).

Em relação à forma como o seminário foi organizado, foram apontadas as seguintes sugestões de mudança: a inclusão de meninos nos encontros, mas continuando com espaços exclusivos para meninas, e a participação de mulheres dos grupos de minorias (LGBTI), ampliando e prosseguindo com a diversidade dos convidados. Também foi sugerida a renovação das equipes participantes, o que pode contribuir para que o grupo formado no tema seja maior e mais forte. Finalmente, sugere-se criar uma revista eletrônica para que sejam conhecidas as experiências apresentadas do evento e compartilhar as ações nas redes sociais, como forma de divulgar e de prestar contas.

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O evento foi encerrado com uma celebração ao engajamento de todas as participantes, ao empoderamento alcançado, às novas amizades e parcerias e à grande troca de informações e de experiências, a qual culminou com a elaboração de projetos e ações a serem desenvolvidos a partir de 2015. As despedidas encerraram apenas o encontro presencial, pois os compromissos firmados, os objetivos, os ensinamentos prosseguem e vão se multiplicar. O seminário contribuiu para o agendamento do tema de gênero nas redes de adolescentes e nas políticas públicas e levanta ações a serem monitoradas pelo UNICEF, em diálogo com o poder público e as redes de adolescentes.

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“…La loca se termina cuando la idea está concreta.”

(Gilda Paulina Menchú Tzun, de 14 anos, indígena da etnia Maya K’ich’e, guatemalteca)

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“Buenas tardes, excelentísimos diputados,

Quisiera decir, que represento en este seminario, en nombre de otras niñas que nos acompañan, que son de México, Ecuador y Jamaica. Vengo en representación también no solo de estas niñas y mujeres, sino de todas las que no se pueden hacer presente; por las niñas discriminadas, por las niñas víctimas de violencia y por todas las que sufren de algún problema.

Quisiera iniciar con uno de los problemas que más afecta nuestro mundo, la discriminación. Todos hemos sido discriminados alguna vez, de diversas formas, ya sea por preferencia sexual, por tener alguna deficiencia, por nuestra raza, cultura, lengua, vestimenta, e incluso por nuestro país de origen.

Otro punto que me gustaría resaltar es como aun en el siglo XXI, la mujer es vista como un objeto y no como un sujeto de derecho. Todavía en Latinoamérica, tenemos casos de padres y familiares que por falta de recursos económicos, venden y prostituyen a sus hijas a cambio de una recompensa económica. Muchas veces estas niñas quedan embarazadas a una temprana edad, y en muchas ocasiones son víctimas de alguna enfermedad de transmisión sexual tal como es el caso del VIH.

Excelentísimos diputados, otro asunto que nos afecta es el acoso escolar. Es uno de los factores que hoy en día no se ha podido resolver y que afecta la vida de niñas y niños

Em seu discurso para parlamentares na Câmara dos Deputados, a guatemalteca Gilda Paulina Menchú Tzun, de 14 anos, indígena da etnia Maya K’ich’e e integrante do parlamento guatemalteco para a infância e a adolescência, pediu ação, prática, no lugar de mais leis, lembrou que nenhum país está ilhado e que é necessária uma cooperação.

por igual. Las personas más vulnerables son objeto de burlas, agresiones físicas, verbales y psicológicas, trayendo como consecuencia la deserción escolar y problemas del desarrollo social.

Pedimos el apoyo de las autoridades de nuestros gobiernos para erradicar los distintos problemas que afectan nuestro diario vivir. No estamos pidiendo más leyes, sino poner esas palabras escritas en la práctica.

Brasil es un país muy grande y todos somos conscientes de que lo que se está viviendo en este país se está viviendo en toda América Latina. Ningún país puede estar aislado, por lo cual necesitamos que nuestros gobiernos fortalezcan sus lazos entre ellos y compartan las buenas políticas, las buenas prácticas.

Quiero terminar mi discurso, excelentísimos parlamentarios, expresando que desafortunadamente nos encontramos en su mayoría rodeados de hombres. Sin duda, Latinoamérica necesita de más mujeres en la política, es nuestro derecho. Sueño que cuando sea adulta y regrese a Brasil pueda hablar de nuevo en este foro y estemos mejores representadas.

Un último mensaje, me dicen loca por las ideas que tengo, pero yo les digo, que la loca se termina cuando la idea está concreta.

Muchas gracias.”

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Ações para 2015

O trabalho só começou. Ideias, compromissos e projetos no papel, é hora de agir. E

para as jovens participantes do II Seminário Internacional de Empoderamento de Meninas não há tempo a perder. Os planos de ação para pôr em prática a agenda traçada durante o evento já começaram a chegar e mostram toda a capacidade de realização que as meninas têm, além de muita força de vontade e do espírito de liderança. A seguir, estão resumos dos planos de ação traçados pelas integrantes das diversas redes de adolescentes que participaram do seminário. Outras redes continuam finalizando seu plano de ação.

Vamos começar pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA). Para colocar o tema da igualdade de gênero na pauta de todos os encontros, com o envolvimento de crianças e adolescentes, as meninas que representam o Conselho querem criar debates, plenárias e/ou dinâmicas pautadas em um

material informativo que pode ser fornecido pelo UNICEF, segundo a sugestão delas.

Entre as várias ideias levantadas pelas meninas do Parlamento Juvenil do Mercosul (PJM) está o uso do Estatuto da Juventude e de outras leis que tratem sobre equidade como forma de promover o conhecimento dos jovens estudantes do Ensino Médio sobre o que a legislação define a respeito da igualdade e como ela deve ocorrer, o que será aplicado por meio de cartazes, palestras e atividades dinâmicas. E ainda a inclusão de conteúdos sobre a desigualdade entre gêneros na grade curricular das disciplinas de Sociologia e Filosofia, além do estudo de pensadoras feministas na disciplina História. As ações englobam diversas áreas, desde a participação cidadã, direitos humanos, jovens e trabalho até ações que visem o empoderamento de meninas entre as integrantes da rede Parlamento Juvenil do Mercosul.

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O Fórum Nacional da Juventude Negra (FONAJUNE) propõe ampliar o contato com movimentos locais – de mulheres, indígenas, estudantil, LGBTI, entre outros – objetivando articular um espaço de reflexão e debate sobre questões relacionadas à educação, saúde, economia, política, direitos humanos, atuação de meninas e mulheres na sociedade brasileira e direito das meninas. As meninas também vão articular a criação de um conselho local de empoderamento de meninas via Secretaria de Direitos Humanos e criar um grupo de trabalho sobre direito e empoderamento de meninas no FONAJUNE, entre várias outras ações.

Já as meninas da Rede de Adolescentes e Jovens pelo Direito ao Esporte seguro e Inclusivo (REJUPE) tratarão a questão de gênero por meio de debates em diversos espaços, entre eles na Caravana Integrada de Esporte e Cidadania (CIEC), valorizando a mulher e seu papel na sociedade. Também vão realizar seminários que contem com a participação de mulheres de diversas faixas etárias as quais exponham os problemas enfrentados no caminho da autovalorização – em relação

ao preconceito, diversidade, aparência física, raça, desigualdade dentro das empresas etc. –, buscando soluções para a questão.

Com a proposta de ampliar os espaços de reflexões sobre o papel das mulheres na sociedade, a Rede Nacional de Jovens Comunicadores (RENAJOC) realizará um encontro de formação política para meninas. Para cumprir o objetivo do empoderamento, “Ser menina e viver sem medo de dar opinião”, serão formados grupos de meninas para a discussão do tema, levando as participantes a tomarem decisões e a enfrentarem seus medos.

A menina que representou o Instituto de Estudos Socieconômicos (INESC), incluirá o empoderamento de meninas no projeto 2015 que será realizado pelo INESC juntamente com a Casa das Redes. Mais especificamente, com a finalidade de conhecer os espaços das meninas dentro dos seus bairros, assuntos que foram abordados no seminário serão citados durante um projeto de pesquisa sobre estudantes de escolas públicas e violência nas cidades, incluindo a violência policial, racial, de gênero, sexual e entre outros.

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Perfil das meninas participantes

As meninas que compareceram ao II Seminário Internacional de Empoderamento de Meninas são lideranças e ativistas em

suas comunidades, integrantes dos seguintes grupos e redes de participação de adolescentes:

No Brasil:

• Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Comunicadores (RENAJOC), • Rede de Adolescentes e Jovens pelo Esporte Seguro e Inclusivo (REJUPE), • Rede de Juventude Indígena (REJUIND), • Educação do Campo, • Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/Aids (RNAJVHA),• Juventude Unida pela Vida na Amazônia (JUVA), • Fórum Nacional de Juventude Negra (FONAJUNE),• Projeto Teia Adolescente do Grupo de Mulheres Princesa Anastácia, da Bahia,• Núcleos de Cidadania dos Adolescentes (NUCAs) na Plataforma do UNICEF no semiárido brasileiro,• Plataformas dos Centros Urbanos do UNICEF,• Projetos da Plan International, • Projetos apoiados pelo Instituto Internacional de Desenvolvimento da Cidadania (IIDAC),• Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), • Projetos apoiados pela Secretaria Nacional da Juventude (SNJ), • Parlamento Juvenil do Mercosul (PJM),• Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC).

Nos países convidados:

São meninas lideranças em projetos sociais e ativistas que participam de programas apoiados pelo UNICEF no México, Guatemala, Equador e Jamaica, incluindo a Fundación de Indígenas Unidos por una Comunidade Mejor – FIUCM-AC (México); Parlamento Guatelmalteco para la Niñez y Adolescencia (Guatemala), Paz Joven (Guatemala), Escuela de Formación Política para Adolescentes Mujeres Afro ecuatorianas "Mi Abuelita me Decía" (Equador) e Eve for Life (Jamaica).

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Redes de Adolescentes e Jovens

CONANDA: adolescentes participando nas conferências do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, um órgão colegiado permanente de caráter deliberativo e composição paritária, com representantes do governo e da sociedade civil, previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Educação do campo: tem como desafio a formação política de adolescentes e jovens da zona rural que fazem parte de histórias de luta e de consciência social.

FONAJUNE: o Fórum Nacional da Juventude Negra tem o objetivo de contribuir para o empoderamento de adolescentes e jovens afrodescendentes e apoiá-los na defesa de suas demandas e no enfrentamento ao racismo.

INESC: o Instituto de Estudos Socioeconômicos é uma organização não governamental que tem por missão contribuir para o aprimoramento dos processos democráticos visando à garantia dos direitos humanos.

JUVA: a Juventude Unida pela Vida na Amazônia nasceu da necessidade de abordar a alta taxa de homicídios de jovens na região amazônica e propor políticas públicas para enfrentar este desafio.

PCU: a Plataforma dos Centros Urbanos (PCU), do UNICEF, busca um modelo de desenvolvimento inclusivo nas grandes cidades, reduzindo as desigualdades intraurbanas e garantindo maior e melhor acesso a direitos.

PJM: o Parlamento Juvenil do Mercosul é um projeto do Ministério da Educação nos seguintes países: Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela. O projeto envolve estudantes para que contribuam com a construção de um ensino médio de qualidade.

Plan Internacional: programas com o objetivo de capacitar e empoderar crianças, adolescentes e suas comunidades, para que

adquiram competências e habilidades que os ajudem a transformar a sua realidade.

Projeto Teia Adolescente do Grupo de Mulheres Princesa Anastácia: meninas participando de projetos de desenvolvimento apoiados pelo Fundo Municipal para o Desenvolvimento Humano e Inclusão Educacional de Mulheres Afrodescendentes (FIEMA) da Secretaria Municipal da Educação da Prefeitura de Salvador.

REJUIND: a Rede de Juventude Indígena discute regionalmente e nacionalmente uma agenda inclusiva, com temas como fatores culturais e os casos alarmantes de suicídio juvenil.

REJUPE: a Rede de Adolescentes e Jovens pelo Direito ao Esporte Seguro e Inclusivo tem presença em 12 cidades que foram sede da Copa do Mundo de 2014 e São Luís do Maranhão. A REJUPE tem como objetivo incidir politicamente pelo direito ao esporte.

RENAJOC: a Rede Nacional de Jovens Comunicadores está presente em 22 Estados produzindo ferramentas de comunicação para expressar sua opinião, mobilizar os seus pares e debater seus direitos em toda a mídia.

RNAJVHA: a Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/Aids atua na inclusão social, na participação e na promoção do fortalecimento biopsicossocial de jovens e adolescentes com sorologia positiva para o HIV.

Semiárido: os Núcleos de Cidadania dos Adolescentes (NUCAs) estão presentes nos municípios inscritos no Selo UNICEF Município Aprovado no Semiárido, onde mobilizam seus pares para melhorar a vida de crianças e adolescentes no Semiárido. SNJ: meninas integrando programas de participação social e liderança apoiados pela Secretaria Nacional da Juventude.

Representantes do Parlamento Juvenil do Mercosul (PJM)

Representantes da Rede de Adolescentes e Jovens pelo Esporte Seguro e Inclusivo (REJUPE)

Representantes do programa Educação do Campo (Movimento Sem Terra)

Representantes do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA)

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Representantes do Parlamento Juvenil do Mercosul (PJM)

Representantes da Rede de Adolescentes e Jovens pelo Esporte Seguro e Inclusivo (REJUPE)

Representantes do programa Educação do Campo (Movimento Sem Terra)

Representantes do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA)

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E como foi o seminário?

“Eu simplesmente amei e aproveitei cada momento. Eu realmente tenho mais energia para continuar, novas ideias, estratégias e esperanças. Me sinto diferente, mais segura em relação à minha militância e tenho um sentimento de que estou no caminho certo e que agora é só colocar a mão na massa.”

Tabita Abe Assunção, 19, Secretaria Nacional de Juventude – Projeto Promotoras Legais Populares de Cuiabá (MT)

“O processo de empoderamento que aconteceu no seminário foi muito rico. As oficinas e dinâmicas, tudo colaborou para que houvesse a soma de conhecimento para cada uma de nós. Me sinto grata e feliz pela oportunidade.”

Érica da Silva Oliveira, 16, Fórum Nacional de Juventude Negra (FONAJUNE), Manaus (AM)

“O seminário foi uma oportunidade que uniu tanto as alegrias profissionais quanto as pessoais. Foi a reafirmação de que juntos, homens e mulheres, podemos mudar o mundo para melhor.”

Tássia Alves, 18, Plataformas dos Centros Urbanos (PCU) do UNICEF/Juventude Unida pela Vida na Amazônia (JUVA), Belém (PA)

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“Aprendi no Empoderamento de Meninas que idioma nenhum nos impede a comunicação. Que as causas são diferentes, mas que as guerreiras lutam na mesma batalha. Aprendi também que temos culturas diferentes, mas os valores das mulheres são os mesmos.”

Jiovanna Maria Oliveira Tito, 18, Núcleo de Cidadania dos Adolescentes (NUCA) na Plataforma do UNICEF no semiárido brasileiro, Teresina (PI)

“Foi maravilhoso ver quanta diversidade em um espaço tão pequeno e ao mesmo tempo grande. Criamos um sentimento que o mundo precisa: o da solidariedade e da gentileza para com o próximo.”

Maria Thainá Monteiro Netto, 19, Plataformas dos Centros Urbanos (PCU), Rio de Janeiro (RJ)

“Maravilhoso e determinante, pois agora temos mais objetivos para cumprir na nossa sociedade.”

Suyanne Maroyse da Cruz, Núcleo de Cidadania dos Adolescentes (NUCA) na Plataforma do UNICEF no semiárido brasileiro, Parelhas (RN)

“O seminário ficará marcado na minha vida, pois foi um modo de nos reconhecermos e de nos conhecermos pessoalmente e profissionalmente. Uma oportunidade de tornarmos o nosso mundo melhor e de alcançarmos nossos objetivos enquanto meninas e mulheres perante a sociedade.”

Gessiele Azevedo de Souza, 17, Grupo de Mulheres Princesa Anastácia, Salvador (BA)

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União Europeia

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