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Vozeiro de Primeira Linha www.primeiralinha.org Ano XVII • Nº 63 • Segunda jeira • Janeiro, fevereiro e março de 2012 Jornal comunista de debate e formaçom ideológica para promover a Independência Nacional e a Revoluçom Socialista Galega Sumário Editorial 3 A degeneraçom das modernas organizaçons sindicais. Umha aproximaçom à colaboraçom obreiro-patronal (II) Daniel Lourenço Mirom 4-5 Perspetivas da crise do BNG Carlos Morais 5-6 A vigência do Manifesto Comunista e a greve geral Carlos Garcia Seoane 7 Chile: aspetos da situaçom política nacional e os principais desafios para os revolucionários Santiago Arcos Estava cantado. O novo governo do PP em Madrid, nesta ocasiom, nem res- peitou os 100 primeiros dias de cortesia que as regras nom escritas da política institucional burguesa concedem de margem a governos e oposiçom para implementar sem turbulências o seu programa. Deste jeito, Mariano Rajói -com o seu particular estilo caladinho, em menos de um trimestre incumpriu algumhas das linhas mestras do seu programa eleitoral, polo menos aquelas com maior impacto na perceçom popu- lar. Subiu os impostos, reduziu salários e aprovou umha nova reforma laboral que facilita e embaratece ainda mais o despedimento. Conseguiu, a partir de um conjunto de medidas que Soraya Saénz de San- tamaría de forma descarnada definiu como o “início do início”, quebrar o pou- co entusiasmo e motivaçom que pudes- se existir entre quem deu o apoio nas urnas ao PP, acreditando nas mágicas receitas para criar emprego e “endirei- tar a economia”. A justificaçom de medidas duras, mas imprescindíveis para corrigir a grave situaçom económica herdada dos governos do PSOE, é umha coartada que só convence umha parte da sua tradicio- nal base social. O shok entre os setores populares que, umha vez mais, acreditá- rom na necessidade da lógica da alter- náncia política para sair da crise, a ativa -embora ainda tímida e insuficiente opo- siçom obreira e popular às medidas im- plementadas, as mobilizaçons em curso contra privatizaçons do ensino e a sani- dade, a greve geral convocada na Galiza 29 de março... está provocando que um governo com umha maioria absoluta tam ampla semelhe contar com um pre- cário apoio parlamentar. A subjetivida- de é novamente um factor determinante para a lógica da luita de classes. A equipa de Mariano está à defen- siva. Sabe que, à margem das falsas promessas com que arranhou votos, ca- rece de margem suficiente e capacidade real para evitar que o Estado espanhol entre numha nova recessom económica e, portanto, poder paliar as graves con- seqüências da singular crise capitalista que padecemos –basicamente a altís- sima taxa de desemprego, derivada do insustentável modelo de fictícia econo- mia especulativa de tijolo e casino que caraterizava o milagre espanhol. O PP nom possui um programa so- cioeconómico alternativo ao que o PSOE aplicou na segunda legislatura de Zapa- tero. As suas receitas nom passam de ser a versom mais dura que demanda a burguesia para evitar umha queda na sua descomunal taxa de lucro, fazendo recair exclusivamente sobre a classe obreira e as camadas populares os cus- tos da sua crise. O PP está a aplicar a política de choque que a CEOE e a CEG exigem, submetendo-se obedientemente aos ditames dos organismos imperialistas internacionais e à ditadura que preten- de impor o eixo franco-alemám sobre a Uniom Europeia. O PP coincide no diagnóstico com patronato e grande capital. E nom vai ter problemas de consciência, nem escrúpulos para aplicar as reformas estruturais exigidas para salvar os inte- resses do Capital à custa do empobreci- mento acelerado e da perda de direitos sociais e laborais, de amplas setores do povo trabalhador, inclusive de algumhas das fraçons tradicionais da sua base eleitoral e social. A anunciada reforma da legislaçom de greve e a supressom ou endureci- mento das prestaçons por desemprego a quem nom aceite um “trabalho” nas condiçons e lugar que for, som os se- guintes passos na ofensiva em curso. A realidade contradi o ficçom do discurso do PP Deste modo, a demagogia empre- gada na campanha eleitoral nom foi capaz de agüentar o mais mínimo a pressom dos “mercados”, nem as di- retrizes da troika. Após as constantes mentiras e permanente maquilhagem aplicada à situaçom real da economia espanhola por parte dos governos de Zapatero, mas também as falácias so- bre as quais se sustentavam as alterna- tivas milagreiras que defendia Rajói, a maioria absoluta atingida polo PP em 20 de novembro constata que só represen- ta mais do mesmo no melhor dos casos. Tal como tinhamos prognosticado e justificado para nom participarmos nas eleiçons, promovendo a abstençom ati- va, o PP tam só ia realizar mais cortes em direitos e conquistas seguindo a es- tela aberta por Zapatero. O único mérito de Mariano é ter iniciado a sua legisla- tura recorrendo ao bisturi e à tesoura em tempo recorde. E como a política ul- traliberal hegemónica carece de analgé- sicos sociais, a crispaçom e o malestar social já começárom a se manifestar. Embora a conjuntura política cons- tate a volatilidade dos resultados eleito- rais na democracia burguesa, também exprime as enormes dificuldades para que o deslocamento na intençom de voto por parte das massas dê passos firmes e decididos na ruptura da lógica

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Abrente nº63

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Page 1: Abrente nº63

Vozeiro de Primeira Linha www.primeiralinha.org Ano XVII • Nº 63 • Segunda jeira • Janeiro, fevereiro e março de 2012

J o r n a l c o m u n i s t a d e d e b a t e e f o r m a ç o m i d e o l ó g i c a p a r a p r o m o v e r a I n d e p e n d ê n c i a N a c i o n a l e a R e v o l u ç o m S o c i a l i s t a G a l e g a

SumárioEditorial

3 A degeneraçom das modernas organizaçons sindicais. Umha aproximaçom

à colaboraçom obreiro-patronal (II)Daniel Lourenço Mirom

4-5 Perspetivas da crise do BNGCarlos Morais

5-6 A vigência do Manifesto Comunista e a greve geral

Carlos Garcia Seoane

7 Chile: aspetos da situaçom política nacional e os principais desafios para os revolucionários

Santiago Arcos

Estava cantado. O novo governo do PP em Madrid, nesta ocasiom, nem res-peitou os 100 primeiros dias de cortesia que as regras nom escritas da política institucional burguesa concedem de margem a governos e oposiçom para implementar sem turbulências o seu programa. Deste jeito, Mariano Rajói -com o seu particular estilo caladinho, em menos de um trimestre incumpriu algumhas das linhas mestras do seu programa eleitoral, polo menos aquelas com maior impacto na perceçom popu-lar. Subiu os impostos, reduziu salários e aprovou umha nova reforma laboral que facilita e embaratece ainda mais o despedimento.

Conseguiu, a partir de um conjunto de medidas que Soraya Saénz de San-tamaría de forma descarnada definiu como o “início do início”, quebrar o pou-co entusiasmo e motivaçom que pudes-se existir entre quem deu o apoio nas urnas ao PP, acreditando nas mágicas receitas para criar emprego e “endirei-tar a economia”.

A justificaçom de medidas duras, mas imprescindíveis para corrigir a grave situaçom económica herdada dos governos do PSOE, é umha coartada que só convence umha parte da sua tradicio-nal base social. O shok entre os setores populares que, umha vez mais, acreditá-rom na necessidade da lógica da alter-náncia política para sair da crise, a ativa -embora ainda tímida e insuficiente opo-siçom obreira e popular às medidas im-plementadas, as mobilizaçons em curso contra privatizaçons do ensino e a sani-dade, a greve geral convocada na Galiza 29 de março... está provocando que um governo com umha maioria absoluta tam ampla semelhe contar com um pre-

cário apoio parlamentar. A subjetivida-de é novamente um factor determinante para a lógica da luita de classes.

A equipa de Mariano está à defen-siva. Sabe que, à margem das falsas promessas com que arranhou votos, ca-rece de margem suficiente e capacidade real para evitar que o Estado espanhol entre numha nova recessom económica e, portanto, poder paliar as graves con-seqüências da singular crise capitalista que padecemos –basicamente a altís-sima taxa de desemprego, derivada do insustentável modelo de fictícia econo-mia especulativa de tijolo e casino que caraterizava o milagre espanhol.

O PP nom possui um programa so-cioeconómico alternativo ao que o PSOE aplicou na segunda legislatura de Zapa-tero. As suas receitas nom passam de ser a versom mais dura que demanda a burguesia para evitar umha queda na sua descomunal taxa de lucro, fazendo recair exclusivamente sobre a classe obreira e as camadas populares os cus-tos da sua crise.

O PP está a aplicar a política de choque que a CEOE e a CEG exigem, submetendo-se obedientemente aos ditames dos organismos imperialistas internacionais e à ditadura que preten-de impor o eixo franco-alemám sobre a Uniom Europeia.

O PP coincide no diagnóstico com patronato e grande capital. E nom vai ter problemas de consciência, nem escrúpulos para aplicar as reformas estruturais exigidas para salvar os inte-resses do Capital à custa do empobreci-mento acelerado e da perda de direitos sociais e laborais, de amplas setores do povo trabalhador, inclusive de algumhas das fraçons tradicionais da sua base

eleitoral e social.A anunciada reforma da legislaçom

de greve e a supressom ou endureci-mento das prestaçons por desemprego a quem nom aceite um “trabalho” nas condiçons e lugar que for, som os se-guintes passos na ofensiva em curso.

A realidade contradi o ficçom do discurso do PP

Deste modo, a demagogia empre-gada na campanha eleitoral nom foi capaz de agüentar o mais mínimo a pressom dos “mercados”, nem as di-retrizes da troika. Após as constantes mentiras e permanente maquilhagem aplicada à situaçom real da economia espanhola por parte dos governos de Zapatero, mas também as falácias so-bre as quais se sustentavam as alterna-tivas milagreiras que defendia Rajói, a maioria absoluta atingida polo PP em 20 de novembro constata que só represen-ta mais do mesmo no melhor dos casos.

Tal como tinhamos prognosticado e justificado para nom participarmos nas eleiçons, promovendo a abstençom ati-va, o PP tam só ia realizar mais cortes em direitos e conquistas seguindo a es-tela aberta por Zapatero. O único mérito de Mariano é ter iniciado a sua legisla-tura recorrendo ao bisturi e à tesoura em tempo recorde. E como a política ul-traliberal hegemónica carece de analgé-sicos sociais, a crispaçom e o malestar social já começárom a se manifestar.

Embora a conjuntura política cons-tate a volatilidade dos resultados eleito-rais na democracia burguesa, também exprime as enormes dificuldades para que o deslocamento na intençom de voto por parte das massas dê passos firmes e decididos na ruptura da lógica

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Nº 63 Janeiro, fevereiro e março de 20122

sistémica imposta durante décadas de imposiçom ide-ológica.

Porém, a finais do mês de março, o PP terá que dar mais um passo contra a imensa maioria social, com a aprovaçom de uns restritivos orçamentos ge-rais do Estado. A necessidade de aplicar multimilioná-rios cortes provocará inevitavelmente um incremento de oposiçom social.

Limites da luita de massas que se divisa no horizonte

Porém, a luita de massas estará condicionada basicamente por quatro factores que no curto e médo prazo facilitarám manter entre turbulências, mas ao fim e ao cabo manter, a estabilidade política e social que o PP necessita e demanda. Som o oxigénio com que conta a burguesia para poder realizar os duros reajustamentos.

A desvertebraçom organizativa estrutural do mo-vimento obreiro e popular dificultará que as luitas se dotem de umha direçom e de um roteiro estratégico. O hegemónico sindicalismo pactista e amarelo evitará a radicalizaçom da luita obreira e popular entre con-tradiçons permanentes entre a burocracia corrupta e as bases afetadas polas lesivas políticas da direita. O PSOE habilmente empregará a situaçom para se re-compor após a desfeita em que está imerso, mediante a sua participaçom progressiva nas luitas reivindica-tivas, afastando-as da mais mínima potencialidade revolucionária com o único objetivo oportunista de recuperar em oito anos o governo de Madrid.

O quarto vetor em jogo está ligado a inexistência de umha alternativa política e social revolucionária, de direçom e orientaçom comunista com projeçom de massas.

A ausência de umha oposiçom de esquerda anti-capitalista e a enorme debilidade do movimento obrei-ro e popular provoca que a principal tarefa das comu-nistas seja construir o partido da Revoluçom Galega com base na participaçom ativa nas luitas obreiras e populares, mediante umha açom teórico-prática con-seqüente e umha acertada direçom política que nos permita ganhar espaço, referencialidade e crescer articulando o bloco contra-hegemónico.

Os novos capítulos na prolongada crise em que está instalado o autonomismo galego, e o conjunto de movimentos oportunistas que se estám verificando no fragmentado espaço da esquerda soberanista para procurar convergências e participar em reformula-çons e refundaçons deve ser habilmente aproveitado pola esquerda revolucionária patriótica. Devemos es-clarecer posiçons que facilitem a nossa inserçom en-

Editorial

A greve geral convocada polo sindicalismo galego para 29 de março é um dos imediatos reptos que de-vemos superar e assim contribuirmos para a confor-maçom de um novo clima social e político que facilite abrir umha nova etapa que de forma paulatina supere a atonia social e o conformismo amórfico.

O desafio de quebrar a normalidade “democráti-ca” e paralisar os setores estratégicos da economia nacional é enorme. O Estado vai empregar todos os meios ao seu alcance para evitar que a jornada de greve seja um êxito. Nom duvidará em utilizar a vio-lência policial, a intimidaçom, as ameaças de despedi-mentos e represálias, a intoxicaçom mediática, a cri-minalizaçom dos mais conseqüentes métodos de luita obreira e popular, para evitar que o clamor popular se exprima em forma de greve geral.

Quatro décadas após a configuraçom do movi-mento obreiro galego emanado da específica expres-som nacional da vaga mundial revolucionária do 68, temos que ter presente como referente e fonte de inspiraçom as heroicas luitas de março e setembro de 1972 que -primeiro em Ferrol e depois em Vigo, permitírom recuperar e superar em poucos anos o terreno perdido pola traumática derrota estratégica de 1936.

Devemos converter 29 de março no início do início da reativaçom da luita obreira, nacional e feminista.

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tre o proletariado, juventude e mulheres como alter-nativa rupturista e radicalmente contrária a alimentar alternativas interclassistas e eleitoralistas.

Nom nos cansaremos de defender, contra vento e maré, que nom som horas de pactos nem de negocia-çons para construir mornas alternativas de esquerda renovadora baseadas em modelos mil vezes fracas-sados na Galiza e no resto do mundo. Som tempos de levantar sem complexos umha alternativa radicalmen-te anticapitalista, patriótica e feminista com um pro-grama de luita plausível e integrador que conecte com as demandas e anseios imediatos das massas, mas sempre sob um horizonte de construçom de umha so-ciedade socialista superadora do patriarcado numha Galiza soberana e independente.

Temos que dotar a classe obreira de um referente real de combate. Nom temos que construir umha alter-nativa eleitoral. Esse ciclo está esgotado, após mais de trinta e cinco anos de restauraçom bourbónica.

Devemos pois investir esforços na reorganizaçom e recomposiçom do movimento obreiro e popular. Em dotá-lo de ferramentas eficazes de luita e combate que permitam introduzir no seu seio a confiança na imensa força da nossa classe e na inesgotável capa-cidade para resistir, luitar e derrotar os insaciáveis planos da burguesia.

Há que ganhar povo trabalhador em batalhas e forjar partido comunista combatente em luita perma-nente e constante. Nom há outro caminho. Agir com visom estratégica e flexibilidade tática.

Nom há mais caminho que luitarA burguesia tem declarado guerra sem quartel

contra a classe obreira, a Pátria e as mulheres. Ou bem optamos por fazer frente ativamente ao desafio histórico a que estamos convocadas e convocados, ou entom optamos por evitar o confronto e portanto assumimos que estamos inevitavelmente condenados a perecer na obscuridade da restauraçom das condi-çons laborais e sociais decimonónicas, às quais nos querem conduzir. Nom há alternativa. Luitar ou su-cumbir sem batalhar. Eis a disjuntiva.

Poderám fraquejar as forças, poderám existir dúvidas sobre as possibilidades de êxito, poderám existir dificuldades para implementar o roteiro, cum-prir as fases e avançar na estratégia insurrecional, mas renunciar à luita ou optar pola comodidade e a claudicaçom só nos leva a umha Galiza escrava e sem futuro. O nosso insubornável compromisso com a emancipaçom e a libertaçom da classe obreira, a Pátria e as mulheres nom contempla mais opçom que luitar, luitar e luitar. Nom há outra!

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3Nº 63 Janeiro, fevereiro e março de 2012

É obrigatório assinalar que é nesta etapa da Res-tauraçom bourbónica, após o fracassso da experiência republicana em 1873, quando se configuram os traços que dominarám o panorama do associativismo obreiro até o golpe de Estado de 1936 e que, ademais, influirá a reconfiguraçom das relaçons laborais apartir da déca-da de 1950, na época aberturista do regime franquista. Tal fenómeno virá também determinado pola conjuntu-ra internacional, já que é nestes anos quando nasce a Organizaçom Internacional do Trabalho, a OIT, produ-to do Tratado de Versalles com que culmina a Guerra Mundial de 1914-18. A partir deste momento surge a chama internacionalizaçom do direito social que, se bem nom alcança a sua madurez até depois da Guerra Mundial de 1939-45, será um elemento de certa influ-ência nas legislaçons obreiras estatais.

A historiografia costuma dividir este período em três etapas bem diferenciadas, que viriam marcadas por acontecimentos traumáticos. Assim, estabelem umha primeira que transcorreria da queda da Iª Re-pública até o “desastre do 98” e deste à instauraçom do regime militar do Primo de Rivera, que acabaria na proclamaçom da IIª República. Atendendo ao desenvol-vimento sindical e à evoluçom do associativismo obrei-ro, simplificaremos este decissivo período histórico em duas etapas, abordando como fase diferenciada a ditadura primorriverista de todo o período anterior. É certo que nos anos que vam de 1874 ao 1880, do ponto de vista das organizaçons obreiras, assistimos a umha primeira etapa em que se mantivo umha repressom generalizada e outra, apartir da década de 1880, em que o Estado apostou em posturas aberturistas e, como veremos, de caráter intervencionista a respeito do con-flito social.

do sindicato à central. A conformaçom da UGT e a CNT na Galiza na Restauraçom bourbónica

Nesta etapa, além de sentar as base do Direito do Trabalho e Sindical, constituem-se as duas centrais que protagonizarám o panorama sindical nos seguintes anos tanto na Galiza como no resto do Estado espanhol, a UGT e a CNT. Ambas darám já bons sintomas do seu evoluir posterior, ao demonstrar a UGT a sua vocaçom reformista, ainda que a sua participaçom destacada na greve revolucionária de 1917 constate as contradiçons que latiam no seu interior, e umha CNT que represen-tava o sindicalismo revolucionário de perfil combativo e insurreto. O certo é que a Revoluçom bolchevique e a posterior criaçom do Komitern vai ter conseqüências em ambas organizaçons. Na primeira, no PSOE-UGT, porque vai provocar um debate interno e umha cisom das suas juventudes que posteriormente conformarám o Partido Comunista como plataforma de convergên-cia dos partidários da IIIª Internacional. A direçom do PSOE e UGT, na qual existia umha clara maioria de posiçons que rejeitavam o assalto violento ao poder e, apesar de saudarem os contributos revolucionários na Rússia, realmente vam manter umha surda hostilida-de1 e nunca vam perdoar a Lenine a ruptura com a IIª Internacional. A crise interna do socialismo vai alcan-çar umha inusitada virulência e multidom de choques entre partidários de ambas as tendências. Mostra do ambiente que se viveu nestes anos foi o XV Congresso do sindicato, que concluiu num tiroteio.

Mas nom vam ser o PSOE-UGT os únicos afetados polas conseqüências da Revoluçom bolchevique. Tam-bém na CNT vam existir os partidários da adesom ao Komitern. De facto, a organizaçom vai aderir no chama-do Congresso da Comédia, em 1919, ainda que retifica-rá na Conferência que decorre em Saragoça em 1922.

Além do mais, dous novos protagonistas irrompem durante este período. Por um lado, em 1921 nasce o Partido Comunista de Espanha, força política que, ainda que com umha influência menor da que vai desfrutar nos prolegómenos do golpe de Estado de 1936, ia jogar um papel de certa releváncia nestes anos e estava des-tinada a protagonizar a reconstruçom sindical durante o franquismo. Polo outro, nascem as primeiras entida-de do galeguismo pré-nacionalista, concretamente as Irmandades da Fala em 1916. Se bem esta última vai ter umha nula influência no associativismo obreiro nos seguintes anos pola sua composiçom eminentemente pequeno burguesa, o nacionalismo galego vai ser ele-mento decisivo do sindicalismo do nosso país a partir da década de 1970.

A ditadura de Primo de Rivera. A institucionalizaçom parcial do conflito

A combinaçom de repressom e medidas integra-doras utilizadas em fases históricas anteriores alcan-çará o seu paroxismo durante a ditadura de Primo de Rivera. Assim, será no regime que abarca de 1923 a 1930 quando assistiremos à primeira tentativa geral e sistemática de integrar as organizaçons obreiras na lógica do Estado.

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A degeneraçom das modernas organizaçons sindicais. Umha aproximaçom à colaboraçom obreiro-patronal (II)da

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O primeiro dos reais decretos era a pedra angular da conceçom colaboracionista e harmónica entre prole-tariado e burguesia desenhado polo regime primorrive-rista. Organizava as relaçons industriais7 sobre as bases de profissons, classificando-as em corpos especializa-dos, as chamadas Corporaçons, que eram de caráter obrigatório diferentemente da filiaçom sindical, que era livre. Os diferentes ofícios que os integravam constitui-riam os Comités Paritários respetivos, que eram o orga-nismo basilar de toda a organizaçom corporativa. Tais Comités8 eram formados por igual número de patrons e obreiros e encabeçados por um presidente e vice-pre-sidente eleitos diretamente polo Ministério de Trabalho.

As suas funçons eram mui variadas e, praticamente, o conjunto das relaçons industriais ficava nas suas maos. Umha das suas funçons principais era, evidentemente, a conciliaçom e arbitragem nos conflitos sociais, quer es-tando já em marcha, quer ainda antes de se produzirem. Mas nom ficava aí o seu papel. Os Comités tinham sobe-rania para adotar e fazer cumprir os seus acordos, sem-pre que nom infringissem a legislaçom vigorante, estabe-lecendo as bases dos contratos individuais de trabalho e toda umha bateria de regras de obrigado cumprimento relativo aos salários, horários, despedimentos.

Pola sua parte, o Código de Trabalho de 1926 é umha compilaçom9 de normas já vigentes e outras que estavam em processo. Dividido em quatro Livros, abor-da os contratos de trabalho, os acidentes laborais ou os Tribunais industriais.

Antes de findarmos com este período, há que recor-dar a importáncia do processo da internacionalizaçom das normas laborais e da criaçom de instituiçons para o seu impulso. A Organizaçom Internacional do Traba-lho, resultante do Tratado de Washington de 1919, do que o Estado espanhol é assinante, vai ser um elemen-to que goze de umha importante influência10, tanto no regime primorriverista como no binómio UGT-PSOE e, em parte, possibilitará o cenário de colaboraçom que acabamos de analisar. Na altura, tanto o diretor da OIT, Albert Thomas, como o delegado no Estado espa-nhol do organismo, Fabra Ribas, estavam claramente alinhados com as posiçons possibilistas do socialismo. Ambos, inimigos acérrimos da Revoluçom russa e das posiçons leninistas, teriam umha intervençom decisiva na adoçom da linha política que finalmente provocaria a ruptura do PSOE e UGT e a saída dos chamados “ter-ceiristas”, partidários da IIIª internacional.

1 GONZÁLEZ CALLEJA, Eduardo. El máuser y el sufragio. Orden público, subversión y vio-lencia política en la crisis de la Restauración (1917-1931). CSIC, Madrid 1999, pág 22.

2 PEREIRA, Dionísio. A CNT na Galiza (1922-1936). Edicións Laiovento, Compostela 1994, pág. 29.

3 GONZÁLEZ CALLEJA, Eduardo. op. cit., pág 34.4 GÓMEZ NAVARRO, José Luís. El régimen de Primo de Rivera. Ediciones Cátedra, Madrid

1991, pág. 392.5 Íbid., pág 394.6 DE LA VILLA, Luis Enrique. Materiales para el estudio del sindicato. Instituto de estudios

laborales y de la seguridad social, Madrid 1984, págs 109-114.7 O Real Decreto só afetava a indústria e o comércio, ficando excluídos setores como o

agrícola ou o trabalho a domicílio. 8 Estes Comités evoluiriam mediante a Lei do 27 de novembro de 1931 a Júris mistos e

tenhem os seus predecessores diretos nos Conselho Paritários, do Real Decreto de 15 de março de 1919, as Juntas reguladoras, do Real Decreto de 30 de Abril de 1919, e nos comités paritários para resolver confitos entre capital e trabalho, do Real Decreto de 5 de outubro de 1922.

9 PURCALLA BONILLA, Miguel Ángel e JORDÁ FERNÁNDEZ, Antoni. Las Relaciones Labo-rales en España hasta la Constitución de 1978. Editorial Dykinson, Madrid 2007, pags. 73-76.

10 GÓMEZ NAVARRO, José Luís, op. cit., pág 398.

Daniel Lourenço Mirom forma parte do Comité Central de Pri-

meira Linha

Tal tentativa tem uns efeitos práticos evidentes e determinou o evoluir sindical nos seguintes anos durante este período. Enquanto a CNT é ilegalizada e os comu-nistas perseguidos, a UGT é tolerada enquanto assume a participaçom nos órgaos de concertaçom laboral cria-dos pola ditadura. Isto provocará que durante a década escassa em que o general Primo permaneça no poder, a UGT conte com umha capacidade de manobra e pre-sença muito maior que os sindicatos anarquistas. A UGT mesmo chega a incrementar a sua filiaçom no período ditatorial, mas nom todo o sindicalismo legal vai confluir na UGT, pois ainda continuarám a existir sindicatos au-tónomos e mesmo algum sindicato anarquista aceitará participar dos tribunais paritários da ditadura, saltando a ortodoxia. De facto, em plena ilegalidade, a CNT funda a Confederaçom Regional Galaica. A criaçom de Regionais vai partir do Congresso da Comédia, de que já falamos quando analisávamos as conseqüências da Revoluçom bolchevique no movimento obreiro, e na realidade vai consistir na ratificaçom da decisom que já se adotara na Catalunha. Tratava-se da substituiçom dos velhos sindi-catos de ofício polos chamados únicos ou de indústria, que uniam todas as profissons num ramo de produçom, ou, em caso de vilas pequenas, toda a filiaçom. A Regio-nal galega vai nascer na cidade de Vigo em agosto de 1922, impulsionada polo grupo da Corunha, que com a realizaçom do seu Congresso num feudo socialista co-locava umha pica em Flandres2. Diferentemente de boa parte das Regionais, a CRG vai optar por se manter na le-galidade, o que demonstra que o anarco-sindicalismo na Galiza nom só nem estava morto, mas que aperfeiçoava a sua estrutura para a adequar à realidade.

Para além do sindicalismo socialista, anarquista e comunista, assim como da sobrevivência de um certo sindicalismo “autónomo” de caráter gremialista, nes-tes primeiros compassos do século XX veremos a apa-riçom de um fenómeno relativamente novo como é o do “amarelismo”. Isto é, de organizaçons operárias liga-das aos interesses patronais que atuavam negando a contradiçom de interesses entre o Capital e o Trabalho e favorecendo a conciliaçom de classe. Estes sindica-tos, agrupados alguns deles na Federaçom de Sindica-tos Livres em multidom de ocasions aparecem ligados à atividade social da Igreja católica e fôrom amplamente apoiados pola atuaçom estatal para assim restar influ-ência às organizaçons de classe.

Um modelo “incorporante” para atrair patronato e sindicatos

A natureza do novo regime é assimilável a outros que nesses anos se instalam em países europeus com o mesmo perfil militar e coorporativista que o primorri-verista, no meio de umha profunda crise política, social e económica. Os anos que transcorrem entre 1917 e 1923 som de umha grande conflitividade social e violên-cia política3 só conhecidas em períodos tais como o de 1848 e 1870. Tal conflitualidade vai provocar as reaçons dos setores mais conservadores, que vai derivar na ins-talaçom de regimes militares em estados com umha in-cipiente ou tardia industrializaçom, tal como acontecia no nosso caso.

Porém, o regime que se instala no Estado espanhol traz umha especificidades que o torna único, mais se

falamos do associativismo obreiro. Falamos do que em palavra de Gómez Navarro4 é o modelo “incoporante”, utilizado para tratar de integrar destacados setores da classe obreira no novo sistema político e económico. Esta incorporaçom, continuando com a tese de Gómez Navarro, obrigava “a levar à prática um certo reformis-mo social e a necessidade de tender pontes políticas para estes setores reformistas obreiros, ao mesmo que se rejeitava e reprimia os setores revolucionários”5. Para conseguir isso, o Estado passará a adotar um papel protagonista na desativaçom do conflito social e garante da estabilidade e do desenvolvimento económico.

O regime militar corporativo e de perfil “incorpo-rante” vai ser possível graças, além da predisposiçom estatal, à confluência de dous factores determinantes. Do primeiro já falamos umhas linhas mais acima, quan-do nos referimos à predisposiçom, à altura de 1923, do sindicalismo socialista, a UGT, para a colaboraçom com o Estado. O segundo di respeito à mudança de atitude do patronato, que mantinha umha posiçom mais favorá-vel a canalizar institucionalmente os conflitos laborais. Vejamos ambas um pouco mais polo miúdo.

A clara disponibilidade da UGT para colaborar ati-vamente com o regime é resultado de umha novíssima evoluçom, produto de vários factores. Por um lado, a ruptura que a Revoluçom bolchevique provoca no seu seio, entre revolucionários e reformistas. A criaçom da III Internacional e do Partido Comunista de Espanha em 1921 provocaria umha direitizaçom da organizaçom sindical e da sua organizaçom política de referência, o PSOE, cujas direçons serám hegemonizadas polos partidários de superar a exploraçom com base em mu-danças graduais que viriam da mao da educaçom das massas e de amplas maiorias organizadas, nom de re-voluçons sociais. Tal giro produz-se num momento de refluxo do movimento operário, após as importantes experiências revolucionárias de 1917 e 1919, que de-satárom umha dura repressom contra as organizaçons operárias e que acabárom de convencer parte da dire-çom de UGT da necessidade de adotar técnicas gradua-lista como as do trade-unionismo británico.

No outro lado do conflito, setores do patronato co-meçam a ser conscientes dos benefícios da instituciona-lizaçom do conflito e da intervençom no Estado na sua resoluçom. Tal e como assinala Navarro, também som vários os factores que intervenhem nesta mudança de atitude de quem até há pouco apostava na repressom como via única de encarar o facto sindical. O ascenso da influência das organizaçons obreiras no primeiro terço do século XX, a conversom do conflito social em algo estrutural nos centros de trabalho, a crise económica e política e o desenvolvimento da legislaçom obreira, acabárom de convencer cada vez mais amplos setores patronais para que apostassem, polo menos de forma momentánea, nas soluçom institucional dos conflitos.

Na construçom deste regime corporativo e no cam-po que nos ocupa, destacaremos o Código de Trabalho6 aprovado polo Real Decreto Lei de 23 de agosto de 1926; o Real Decreto Lei de 26 de novembro de 1926, que regula a Organizaçom Corporativa Nacional; e o Real Decreto Lei de 22 de março de 1929, de seguro obrigatório de maternidade, com assistência médica e subsídio económico.

Trabalhadores do estaleiro Vulcano, Vigo. Anos trinta do século XX.

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4 Nº 63 Janeiro, fevereiro e março de 2012análisE

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sA crise pola que atravessa o autonomismo galego nom é um fenómeno novo. A recente imagem de divisom e ruptura interna provocada pola saída do beirismo do BNG é tam só um capítulo mais de umha crise estrutural e prolongada, cuja génesse direta há que procurá-la nos adversos resultados eleitorais conseguidos nas autonó-micas de outubro de 2001. Com a mudança de século -após umha década de permanente expansom organiza-tiva, implantaçom social e acumulaçom eleitoral, o BNG atinge o seu teito dando início a um declínio e perda de referencialidade em todos os ámbitos.

Em menos de umha década, a reformulaçom orga-nizativa promovida pola UPG em Riazor, convertendo a velha AN-PG no BNG, colheitou avanços tangíveis. A imagem renovada e pluralista que proporcionava a prestigiosa e iconoclasta figura de Beiras foi um factor determinante.

O novo BNG emergia numha conjuntura social e po-lítica condicionada pola brutal reconversom industrial e agrícola imposta à Galiza polo governo de Felipe Gon-zález, seguindo as diretrizes que impunha a CEE para a incorporaçom do Estado espanhol. Umha etapa convul-sa, de grandes luitas obreiras e populares, onde a es-querda nacionalista mantivo um enorme protagonismo e capacidade de iniciativa. A INTG convocou três greves gerais em 1984 de caráter nacional, a primeira -14 de fevereiro, em solitário. O BNG cresceu na rua, ganhando um enorme espaço como único referente da “esquerda antissistémica” que superara o naufrágio da Transiçom.

Mas o regime pós-franquista tinha decidido conde-ná-lo ao ostracismo para forçar a sua rendiçom ou ag-giornamento. A tropelia jurídica que permitiu a expulsom dos três deputados da coligaçom da esquerda naciona-lista vertebrada pola UPG para participar no primeiro parlamentinho de cartom em 1981 foi o primeiro sinal da determinaçom de cortar o avanço experimentado.

O nascimento e articulaçom do BNG, em parte, res-ponde à urgente necessidade de se reinventar para su-perar umha situaçom complexa na que as contradiçons internas tinham adotado forma de ruptura.

A posterior decisom de acatar por imperativo legal a Constituiçom, já na segunda legislatura autonómica e com Beiras como único deputado, voltou a tensionar internamente o movimento nacionalista, provocando em 1986 umha das mais importantes cisons da UPG. Porém, foi a partir desse momento que o BNG, de forma gradu-al, mas constante, foi iniciando o longo percurso de in-corporaçom ao regime. Foi um processo lento, às vezes impercetível, mas a linha política plasmada na “Lei de Bases”, emanada da III Assembleia Nacional, realizada no Carvalhinho em 1987, marcou um ponto de inflexom. Priorizava aproximar-se dos setores intermédios (pe-quenos propietários), sobre a defesa das tradicionais camadas populares.

Todo este processo foi implementado polo tandem UPG-Beiras, entre tensons e negociaçons consubstan-cias a duas culturas e trajetórias políticas diferentes, mas ao fim e ao cabo entre ambas partes.

A meados dos noventa, a UPG já tinha quebrado o camilismo, a corrente mais moderada com que com-petira durante duas décadas pola hegemonia do espa-ço da esquerda nacionalista. O crescimento do BNG, seguindo a estratégia do Projeto Comum baseado no interclassismo, permite que a finais dessa década, no seu interior, convivam “harmonicamente” galeguistas liberais, social-democratas autonomistas, ex-militantes da esquerda radical estatal, com a UPG, o beirismo pre-cariamente vertebrado numha estrutura partidária e centenares de militantes nacionalistas sem adscriçom. Os resultados da fórmula, combinando a implementa-çom de um política pragmática e possibilista (após a recuperaçom da representaçom municipal nas cidades acordos estáveis de governo em aliança com o PSOE), com umha aparente firmeza nos princípios estratégicos (defesa da autodeterminaçom, do monolingüismo, opo-siçom à CEE, à NATO, ao Tratado de Maastricht), unido ao estilo rupturista de Beiras na intervençom parlamen-tar, permitírom que o BNG atingisse o sorpasso sobre o PSOE e representaçom na Uniom Europeia.

Concatenaçom de erros táticos de conseqüências estratégicas

Porém, o crescimento acelerado era proporcional às renúncias e concessons paulatinas que iam desfigu-rando o modelo frentista no plano tático e estratégico. Na alteraçom de preocupaçons e investimento de recur-sos, centrando-se no ámbito institucional-eleitoral em troca do abandono da intervençom e mobilizaçom social e da batalha de ideias.

Deste jeito, os estrategas da campanha eleitoral das autonómicas de 2001 –instalados no autismo e empoleirados na prepotência que desprezava os cada vez mais claros sintomas do divórcio entre aparelho, militáncia, base social e corpo eleitoral, consideravam factível superar os magníficos resultados de 1997, im-possibilitando assim que Fraga ratificasse a sua tercei-ra maioria absoluta. Mas a realidade desmentiu os seus prognósticos e erróneas perceçons. O BNG perdeu 50 mil votos, empatando tecnicamente com o PSOE e, por-tanto, sem a mais mínima possibilidade aritmética de governar.

O shock de um Beiras afetado polo revés eleitoral precipita-o a reconhecer a legitimidade democrática do ex-ministro franquista, normalizando subitamente a po-

superior às crises de 1976-77, 1981, 1986, 2009. Sem lugar a dúvidas, está renegociando com o pós-quinta-nismo a sua permanência no BNG e desta forma limitar ao mínimo os efeitos da iniciativa promovida por Beiras.

As razons que justificam a saída carecem de sufi-ciente legitimidade. A lucidez e honradez política do ar-tigo que Beiras publica no jornal decano da imprensa galega em novembro de 2003, afirmando sem rubor que o BNG tinha agido de “dique de contençom da enxurra-da de indignaçom popular” que “impediu assim que a impotência padecida por tantos e tantas galegos e ga-legas ao longo deste vinte anos nas suas necessidades e condiçons sociais de existência, desembocasse em violência social e mesmo em formas violentas de com-bate político” contrasta com a aparente comodidade e apoio que publicamente mantivo com a política e evo-luçom ideológica do BNG ao longo dos três quinquénios prévios. Beiras nom pode fazer tábua rasa das suas responsabilidades na direçom e orientaçom do BNG. O aggiornamento experimentado entre 1985-2003, por nos cingirmos exclusivamente à etapa em que exerceu de porta-voz e lider, foi sem lugar a discussom direta e/ou indiretamente obra sua. Nom foi umha imposiçom do aparelho. Beiras só começou a agir de dissidente pola esquerda quando foi substituído por Quintana.

Beiras perdeu pola mínima, mas perdeu, a XIII Assembleia Nacional, e nom esqueçamos que ia aliado com o setor mais direitoso do BNG. Centrou o grosso da crítica no modelo organizativo, nom na moderaçom polí-tica. De facto, o Encontro Irmandinho, paradoxalmente, na atualidade teria que estar mais cómodo no BNG ema-nado do recinto feiral de Ámio.

A atual situaçom que ameaça o futuro do naciona-lismo de prática autonomista é um fenómeno histórico e estrutural, nom é expresom conjuntural e tática. A UPG nom pode nem tem capacidade para que o BNG recupere a linha política e social, as formas de intervir e agir, que o caraterizou na década de oitenta, pois tanto pola com-posiçom de classe da sua militáncia como polos espaços de gestom que esta ocupa nom tem margem de manobra para converter em tangível o giro à esquerda e soberansi-ta ratificado nas teses da XIII Assembleia Nacional de ja-neiro de 2012. A UPG está tam acomodada e instalada no conformismo, tam desfigurada e adulterada, que já nom pode deixar de ser o que atualmente é sem se submeter a umha convulsom interna que ponha em perigo a aparente estabilidade, unidade e fortaleza que transmite.

A imprensa burguesa agita demagogicamente o fantasma da UPG marxista-leninista, sabendo perfeita-mente que o partido liderado por Paco Rodríguez já só é umha força patriótica e progressista que abandonou há décadas a estratégia rupturista. Beiras também o sabe, embora empregue idêntica “acusaçom” para de forma pouco honesta marcar posiçom.

O giro à esquerda do BNG é umha necessidade ineludível para superar os “traumas” do bipartido e principalmente para tentar conectar com os setores

Perspetivas da crise do BNG

lítica institucional da Comunidade Autónoma da Galiza. Contasse ou nom com a prévia luz verde da UPG para implementar o Dialógo institucional com o PP, os resul-tados do movimento estratégico fôrom catastróficos. A perplexidade instalou-se na base social mais firme e, à medida que a linha galeguista e social-democrata cada vez se diferenciava menos da sucursal do PSOE, o novo eleitorado de perfil mais centrista foi progressivamente realizando o caminho de retorno, seduzido polos fictícios ares de regeneraçom do zapaterismo.

A mais de dez anos destes acontecimentos, o BNG nom se recuperou. Perdeu musculatura social e um ter-ço do eleitorado atingido em 2001.

A errónea focagem que imprimiu na crise nacional provocada polo afundimento do Prestige e na morna e legalista orientaçom do fenómeno de massas vertebra-do mo movimento Nunca Mais foi útil para cortar os efei-tos imediatos da hemorragia eleitoral, mas reforçou as tendências conciliadoras e direitistas que, como umha metástase, fôrom devorando o melhor do projeto.

Previamente, o BNG nom tinha apoiado publicamen-te a greve geral de junho de 2001, na qual a CIG jogou um papel determinante.

Para alargar apoio eleitoral e crescer entre a fai-xa mais centrista, cometeu um conjunto de concessons apresentadas como meramente táticas, que nom dérom os resultados aguardados, mas que sim provocárom umha agudizaçom das contradiçons.

Esta conjuntura foi oportunamente utilizada polo partido da espiral para substituir de forma desajeitada e grosseira um Beiras perplexo e agravado por ser rele-vado sem o suficiente consenso por um oportunista que, num abrir e fechar de olhos, pretendeu saltar etapas na evoluçom “natural” do BNG, conduzindo-o sem comple-xos para o espaço do centrismo galeguista, e que tivo a “sorte” de contar com os ventos auxiliares de cogover-nar de forma subsidiária com o PSOE a Junta de Galiza.

A inesperada entrada no governo autonómico aprofunda a crise

No período 2005-2009, o BNG fracassou na sua ten-tativa de se converter na expressom política da pequena e mediana burguesia galega, pois nom ganhou adesons ou apoios significativos destas fraçons comodamente instaladas no papel de classe subsidiária e intermedi-ária do bloco oligárquico espanhol. Mas porque basica-mente provocou um afastamento e ruptura com amplos setores populares organizados ou ativos socialmente que até esse momento apoiavam criticamente o BNG.

O continuísmo do governo bipartido nos temas ful-crais da sua política a respeito do fraguismo permitiu umha expansom pola direita e umha perda pola esquer-da. Mas o balanço desta viagem é claramente negativo.

A frustraçom pola recuperaçom do governo auto-nómico polo PP, a perda de modestos mas destacados espaços de gestom institucional que moviam milhons de euros e tinham situado em status privilegiados centenas

de quadros e militantes, estala em forma de confronto aberto entre os diversos lobbies após a saída em falso da substituiçom “pactuada” do quintanismo e no tímido giro autocrítico à “esquerda” adotado na Assembleia Nacional extraordinária de maio de 2009, tam só dous meses depois de ter sido inviável revalidar um governo de coligaçom.

Os debates prévios da XII AN, realizada em dezem-bro de 2006, já tinham sido um claro aviso dos comple-xos e delicados equilíbrios da cada vez mais magmática correlaçom de forças e alianças de conveniência que competiam pola direçom de facto do BNG, e em nen-gum momento expressom de umha batalha política--ideológica entre projetos qualitativamente diferentes. O quintanismo, embora aliado com a UPG, pretendeu sem sucesso deslocá-la do leme do barco, e umha UPG alarmada tomou definitiva consciência do enorme peso atingido polo seu antigo “protegido” e a urgente neces-sidade de se desfazer dele. Era só questom de tempo e oportunidade política.

A tensom adotou formas novas, quebrando assim o tradicional hermetismo nos debates internos numha homologaçom mais com os partidos sistémicos que em-pregam os meios de comunicaçom como altifalantes das batalhas intestinas.

A cisom do beirismo e parte da ala direita versus giro à esquerda da UPG

No entanto, foi sem lugar a dúvidas a perda do po-der institucional das Conselharias de Sam Caetano o factor determinante do recrudescer da crise que pro-vocou, após anos de amagos e ameaças de abandono, a recente saída do Encontro Irmandinho e outros pe-quenos grupos e diversos cargos públicos num processo inacabado, mas que sem lugar a dúvidas nem provocará o efeito que a dissidência procura nem vai deixar indife-rentes as forças hegemónicas do BNG.

A saída de Beiras é como um tsunami. Os efeitos podem ser devastadores se nom se produz aviso pré-vio. Mas o inesperado abandono do Encontro Irmandi-nho -pois já quase ninguém acreditava nas constantes ameaças que Beiras vinha lançando de forma pendular como mecanismo de pressom interna e de reforçamento externo ocupando espaço mediático, se nom conta com o apoio da estrutura institucional do lobby de alcaides e cargos públicos nucleados à volta de +G, pode ser um pequeno movimento sísmico de efeitos mínimos.

A UPG, em quase meio século de andaina, tem de-monstrado enorme capacidade de adaptaçom e recupe-raçom às mais adversas situaçons. De cada crise a que se enfrentou saiu tam reforçada como direitizada. Por-que esta ocasiom vai ser diferente? Nom desconsidere-mos que esta crise tem umha diferença substancial com a imensa maioria das anteriores: nom afeta diretamente o núcleo militante e anéis periféricos da UPG. A sua es-trutura de poder e controlo interno fica intacta e, por conseguinte, a sua capacidade de readequaçom é mui

Francisco Jorquera, Montse Prado e Francisco Rodríguez

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5Nº 63 Janeiro, fevereiro e março de 2012 opiniom

quais nom resta outra opçom a nom ser se submeterem aos interesses da burguesia alemá, que com pulso firme comanda a nau do clube de estados capitalistas, a Uniom Europeia. Nom importa quem esteja à frente do governo estatal em questom, este deve aceitar sem desculpas os ditados que se lhe imponhem e, se nom vai ser eficaz na sua aplicaçom, reformulam-se totalmente os gover-nos, introduzindo tecnocratas do dinheiro que insuflem confiança nos mercados e que contentem às agências de qualificaçom, ainda que se passe por cima da própria legalidade do sistema, obviando qualquer trámite eleito-ral. A Grécia ou Itália som os perfeitos paradigmas da afirmaçom recolhida no Manifesto, “o governo do Esta-do moderno nom é mais do que um comité para gerir os negócios comuns de toda classe burguesa”. O capital manda, os governos lacaios de serviço obedecem e exe-cutam.

Proletários e comunistasA classe trabalhadora tem uns interesses opostos,

enfrentados, aos da burguesia. Enquanto a classe dos exploradores procura encontrar um novo caminho para recompor a acumulaçom de capital e assim continuar a satisfazer a sua sede de benefício, aplica duros planos de cortes sociais e estabelece duras condiçons de vida contra a maioria social explorada. Pretendem precarizar ainda mais as condiçons de trabalho e vida da massa de trabalhadores/as ativ@s e continuar privando de traba-lhar a quem pode, aumentando a massa de superpopu-laçom desempregada. Eis a lógica intrínseca ao próprio sistema capitalista, cada vez menos ricos com mais ri-queza e mais pobres com mais pobreza.

A partir da nossa concreta formaçom social, a Ga-liza de segunda década de século XXI, comprovamos o fracasso sem ambages deste injusto sistema económico e social. Dados objetivos som reveladores: 70% dos la-res galegos expressam dificuldades para chegar a final do mês e 60% tenhem rendimentos mensais inferiores à média, estabelecida em 2.000€; taxa de desemprego reconhecida polas próprias instituiçons do regime de 20%; umha economia submersa onde se experimentam as mais infames condiçons de trabalho e que o Estado permite; 72.000 famílias galegas tenhem todos os seus membros no desemprego; 14% de taxa social de pobre-za; umha juventude condenada ao desemprego ou aos contratos-lixo com retribuiçons que nom atingem o SMI que lhes impede realizar umha vida fora do leito fami-liar; e umha longa ladainha de questons humilhantes ao ver os grandes magnatas do dinheiro como Amáncio Ortega, Manuel Jove ou Fernandes Sousa continuam a experimentar lucros milionários com as suas façanhas empresariais.

@s comunistas dizemos que nunca as condiçons objetivas fôrom tam apropriadas para dar a ver a neces-sidade peremptória de mudança de sistema. Mas estas condiçons objetivas nom determinam por si mesmas as condiçons subjetivas do conjunto da classe trabalhadora, isto é, que compreenda a necessidade de transformar a sociedade e que tenha vontade para realizar nobre ta-refa.

A vigência do Manifesto Comunista e a greve geral

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Como acontece cada ano, a militáncia comunista galega aproveita o primeiro quartel do novo ano para relembrar a efeméride da publicaçom na cidade de Lon-dres dum dos textos políticos mais influentes na histó-ria da humanidade, o Manifesto Comunista que, no 24 de fevereiro do presente ano 2012, atingiu 164 anos de existência. Nom cumpria aguardar ao ano próximo para festejar o seu aniversário com um número redondo, pois a atualidade que despreendem cada umha das suas pá-ginas reclamam umha impostergável reflexom a respeito da dura realidade que @s explorad@s desta terra temos por diante.

Desde que a acumulaçom de capital entrou em crise de maneira evidente com a falência de grandes entida-des financeiras e companhias seguradoras em setembro de 2008, revelou-se que para finais desse mesmo ano a venda de exemplares do Manifesto crescera espeta-cularmente, em torno de 1.000% em relaçom ao ano anterior, com destaque para diversos países do centro capitalista mundial como Reino Unido ou a Alemanha. Até os meios de comunicaçom da burguesia reconheciam tal incremento e o jornal británico The Times definiu-no como “extraordinária ressurreiçom”.

Mas a motivaçom que me impulsou a escrever estas linhas nom foi a de contribuir para converter a figura e obra de Marx num fetiche, num objeto cuja adoraçom se poda quantificar em livros vendidos. O que realmente há que transmitir é a vigência do pensamento marxista, a singular análise materialista e dialética estabelecida no Manifesto, os seus prognósticos sobre o desenvolvimen-to capitalista, o papel revolucionário que o proletariado deve jogar na história da humanidade, etc. O aumento das vendas do Manifesto é mais um dado revelador de que cada vez há mais gente que quer conhecer e com-preender os fundamentos e límites deste sistema tam injusto que nos oprime. Porém, nom basta com conhecer e compreender a realidade, junto a Marx dizemos que há que transformá-la com a prática da luita revolucionária.

Para desenvolvermos essa praxe revolucionária, necessitamos prestar atençom permanente às mudan-ças que se produzem na complexa realidade que temos ante nós, porque varia constantemente em funçom do desenvolvimento da luita de classes entre explorado-res e explorad@s. Devemos esforçar-nos por atualizar o nosso pensamento, adaptá-lo às transformaçons que se sucedem na realidade imediata. Em 164 anos, torna evidente que mudárom multidom dos aspetos analisados por Marx e Engels naquele tempo, mas em essência, no fundamental, a exploraçom da mulher polo homem e do homem polo homem, permanece, e os quatro capítulos que dam entrada a cada umha das partes em que se es-trutura o Manifesto mantenhem-se incólumes.

Burgueses e proletários“A história de todas as sociedades que existírom até

os nossos dias tem sido a história da luita de classes”. A luita de classes nom se extinguiu com a queda do muro de Berlim, continua mais viva do que nunca. Nos últimos meses manifesta-se a validez desta afirmaçom e dá a ver quem detém realmente o poder político. Nom som os di-ferentes partidos políticos do sistema que se turnam à frente dos governos dos Estados capitalistas, pois quem realmente ostenta a capacidade decisória plena para de-terminar as relaçons materiais que se estabelecem entre os indivíduos que conformam a sociedade nom é outro senom o capital. Este nom é umha cousa que se poda tocar e perceber a simples vista, constitui umha relaçom social de produçom, umha força social que só pode ser posta em movimento polo esforço combinado de muitos membros da sociedade.

O capitalismo nom foi criado para satisfazer as necessidades básicas de existência do conjunto da po-pulaçom: alimentaçom, higiene, saúde, lazer, etc., pro-curando apenas insaciavelmente um objetivo, satisfazer a necessidade cega da acumulaçom de lucros. O capi-tal personifica-se enquanto há pessoas que assumem subjetivamente a necessidade objetiva da acumulaçom de ganho, essas pessoas estám adscritas socialmente a umha classe, a burguesia, que cria as suas próprias estruturas de dominaçom para que nom se veja afetado o ciclo de acumulaçom. O FMI, o Banco Central Europeu, a Comissom Europeia, som algumhas dessas estruturas tristemente popularizadas nos últimos tempos sob a de-nominaçom de troika para impor os ditados do capital ao povo trabalhador do velho continente com as doutrinas neoliberais mais selvagens que som aplicadas a ferro e fogo umha após outra, sem acougo, procurando um des-concerto generalizado que evite umha maior resistência para a sua assimilaçom.

Grécia, Portugal, Irlanda, Itália, ou o Reino da Es-panha, som os elos fracos do capitalismo europeu aos

Algumhas vezes temos manifestado que como co-munistas em tempos de maré capitalista nos movemos como peixes na água, porque é de suponher que o povo trabalhador vai ser mais permeável a um discurso ruptu-rista e revolucionário como o nosso. Isto nom nos deve levar a engano, a subjetividade geral para a mudança nom acompanha, por múltiplos fatores: medo a perder o posto de trabalho, resignaçom e interiorizaçom de que nom há umha saída à crise favorável aos interesses da maioria social, descrédito no sindicalismo maioritário de prática pactista que é incapaz de dar umha resposta firme ante os ataques do capital, o grande poder ador-mecedor dos meios de comunicaçom, etc. Mas também sabemos que a frustraçom e a sensaçom de desespero se vam acumulando, e em qualquer momento o factor da espontaneidade aparece em cena, como faísca que pren-de na pólvora. A nossa funçom como militantes da causa comunista será saber canalizar toda essa força vigorosa que esperta para fazer o maior dano que pudermos ao nosso inimigo de classe e assim ir desgastando-o com a maior rapidez possível.

Literatura socialista e comunista@s que doutrora adulavam as teorias económicas

de J.M. Keynes, agora abraçam sem preconceito algum aos paladinos do neoliberalismo mais selvagem que se encarregárom de promulgar na década de 1970 os F. Von Hayek, M. Friedman e companhia. Partidos adscritos à Internacional Socialista começárom a implementar há um par de anos em Portugal, no Reino da Espanha e na Grécia, duros ataques contra os direitos da classe traba-lhadora e cortes no gasto público, da mao de autoprocla-mados socialistas como Sócrates, Zapatero e Papandreu.

E nom há partido político que aplique mais desajei-tadamente as medidas económicas contrárias à maioria social que aquele que se considera de esquerda. Pola sua própria natureza, “@s socialistas” nom som quem de consolidar e combinar táticas de confrontaçom aber-ta com outras de consenso e transparência na gestom, como habilmente sim desenvolve o Partido Popular, que desde o primeiro momento, embora tenha renunciado a boa parte das suas promessas eleitorais de nom continu-ar com os cortes sociais, aplicou medidas de cara à pla-teia e vernizadas dum efetivo populismo de justiça social como limitar retribuiçons de altos cargos de empresas públicas ou estabelecer as maiores taxas impositivas para quem ganha por cima da média, questons que nom se atreveu a abordar o PSOE.

A debacle eleitoral experimentada polo PSOE no 20N foi analisada no seu 38º Congresso realizado a princípios de fevereiro no qual se propugérom recuperar o espaço perdido dando umha leve viragem à esquerda e volver à rua atrás de hipócritas faixas que dim defender aos/às mais maltratad@s pola crise. Resulta rechamante ver como Rubalcaba se ergue agora em defensor do sindica-lismo ante a forte campanha mediática de criminalizaçom das organizaçons de defesa d@s trabalhadores/as.

passa à página 6

Estátuas de Karl Marx e Friedrich Engels, no Forum Marx-Engels de Berlim

perdidos numha conjuntura de objetiva e subjetiva radicalizaçom social e política provocada polos contí-nuos retrocessos nas condiçons de vida e trabalho da imensa maioria social que a burguesia está aplicando sob a justificaçom da crise capitalista. O reformismo adapta com elasticidade o seu discurso para se con-solidar e nom sofrer retrocessos, mas nom significa que gire de facto e coerentemente à esquerda, mais que forma epidérmica e retórica.

Nem o PCE nem a UPG vam modificar a sua li-nha entreguista para se somar à luita revolucionária. Tenhem uns pactos de Estado assinados, uns com-promissos que nom podem quebrar alegremente sem padecer as suas conseqüências.

É umha ilusom, umha ingenuidade, acreditar na possibilidade de regeneraçom da esquerda reformis-ta, da sua readequaçom no espaço revolucionário. A história da luita de classes a escala nacional e in-ternacional constata que este fenómeno nom passa, no melhor dos casos, de meros liftings que tempo-rariamente servem para dar umha melhor imagem, mas que desaparecem com o inevitável passar do tempo, que volta a situar cada qual no su sítio. Ou é que o PSOE de Rubalcaba somando-se agora ao cla-mor popular contra a reforma laboral de Rajói, como antes fijo -em 2003, contra a intervençom espanhola na agressom imperialista no Iraque, também girou à esquerda? Nom, de nengumha maneira. É puro teatro para enganar incautos e ingénuos, para se recompor da grave situaçom de legitimidade que atravessa.

Som giros oportunistas realizados para assegu-rar a sua perpetuaçom. Se a linha aplicada no perío-do do bipartido tivesse logrado os seus objetivos de representaçom de umha fraçom da burguesia galega e o BNG ocupasse espaços de poder institucional de máximo nível, a atual crise estaria congelada e a UPG instalada no terreno da crítica cínica e hipócrita, mas beneficiando-se diretamente da ocupaçom do espaço de representaçom e, portanto, sem vontade algumha de mudar a linha nem girar à “esquerda”.

Tempos revoltos, ventos oportunistas, ideias velhas

Os velozes movimentos que se apreciam na es-querda soberanista, tendentes a umha desesperada aproximaçom do beirismo, oferecendo-se para par-ticipar na construçom de umha nova organizaçom política das caraterísticas de umha “frente ampla nacionalista, plural e com o centro de gravidade na esquerda” nom deixa de ser a mais clara expressom da errática evoluçom de quem perdeu o norte e care-ce de firmes princípios.

Sem lugar a dúvidas, o beirismo vai tentar arti-cular umha estrutura política que compita com o BNG no campo eleitoral-institucional. O problema é quem vai ser os parceiros adequados para participar neste processo em base à utilidade para o fim perseguido. Os grupos que se oferecêrom, por ativa ou por pas-siva -e alguns dos quais já estivérom presentes na assembleia do Encontro Irmandinho, pouco poder achegar nesse ámbito. Porém, dependerá da solidade do beirismo se a maioria de +G finalmente opta por permanecer no BNG que conte ou nom com eles. Mas umha caldeira nom admite todo.

Pretender refundar um BNG bis, edulcorado com o verniz do altermundismo e o glamour da inteletua-lidade falsamente acrítica, nom leva a mais nada que a plasmar a divisom do campo nacionalista galego, tal como existiu até 1994 com a definitiva integraçom dos restos do PSG-EG no BNG.

O resultado da operaçom está a médio prazo con-denada ao fracaso porque na prática nom pretende ocupar um espaço claramente diferenciado ao que hoje representa o BNG e porque sem o apoio medi-ático e económico do sistema carece da estrutura organizativa mínima que lhe permita desenvolver-se e consolidar-se.

As turbulências também favorecem o abrolhar de projetos recauchutados que pretendem novamente implementar no País modelos já experimentados nal-gumhas das sociedades mais desenvolvidas do capi-talismo europeio a inícios da década de oitenta. Com atraso e ideias velhas, mas apresentando-as com a falsa novidade do atrativo carimbo “verde” de que tanto gosta, a pequena burguesia pretende agir de revulsiva alternativa frente a suposta fosilizaçom da esquerda. Tal como constatou o Die Grünen alemám de Joschka Fischer, estas operaçons políticas nom passam de ser umha fraudulenta alternativa liberal.

A UPG nom vai promover no BNG um giro real à esquerda, nem o beirismo construir umha alternativa da esquerda anticapitalista com projeçom de massas, nem as modas verdes vam passar de meras opera-çons passageiras de marketing.

Sem lugar a dúvidas, estamos numha etapa con-vulsa, caraterizada por mudanças e reajustamentos, mas @s comunistas nom vamos participar em nen-gumha manobra de confusom. Temos que convergir com o proletariado, a juventude e as mulheres sob um projeto revolucionário integral e global de força política-movimento social. Eis as nossas tarefas. O tempo porá cada qual no seu lugar. Nós ao nosso!

Carlos Morais é secretário-geral de Primeira Linha

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Nº 63 Janeiro, fevereiro e março de 20126 opiniom

A vigência do Manifesto Comunista e a greve geral

Michael Heinrich¿Cómo leer El Capital de Marx? Indicaciones de lectura y comentario del comienzo de El Capital?Madrid, Escolar y Mayo Editores S.L., 2011, 295 páginas

Agora que o marxismo fica soterrado para o pen-sar dominante, para essa ideologia que nos invade e a que denominam senso comum (e mesmo acrescentam o de “justo e necessário”, que ecoa de modo incons-ciente preces da confissom hegemónica), talvez calhe bem maçar com Marx e corrigir interpretaçons como aquela que considera o dinheiro e o crédito como fenó-menos superficiais a partir de umha óptica “naturalis-ta”, que entende o valor como inerente à mercadoria e omite o papel que joga o devandito crédito na reprodu-çom do capital. E para isso há trabalhos de importáncia fulcral como os do autor que estamos a resenhar. Este politólogo e matemático ocupa-se da teoria monetária do valor e nom foge -algo pouco habitual, da teoria do dinheiro em Marx.

Umha análise filológica rigorosa e os debates, entre outros, com Wolfgang Fritz Haug e com a escola crítica do valor de orientaçom após-marxista nom ficárom nisso (em herme-nêutica rançosa!) e leva anos a se preocupar com ligar Marx com a análise do capitalismo globalizado de hoje. Considera que O Capital acaba de se ajustar, talvez de forma mais ótima, aos séculos XX e XXI, pois desenvolvimentos que se conheciam por conjeturas no século XIX, estám nesta época nítidos (lembre-se que a obra cimeira de Marx analisa as leis fundamentais do modo de produçom capitalista em que estamos ainda apanhados).

As críticas ao uso dos novos mercados financeiros nom vam quase que nunca além do “capitalismo de casino” e separam um capital produtivo supostamente “bom” dum capitalismo especulador e parasitário. Na linha anterior estám as propostas neoprou-dhonianas como as taxas “Robin Hood”.

Heinrich entende o capital como umha simbiose de produçom e circulaçom, como umha totalidade.

Convida-se, já que logo, a ler um livro que ensina a ler O Capital, que comenta o início do mesmo, que o apresenta como “crítica” da Economia Política, que explica polo miúdo o prólogo à primeira ediçom e o epílogo da segunda, que se ocupa do capítulo I sobre a mercadoria, assim mesmo do capítulo II arredor do processo de intercámbio. E conclui com quatro sumarentos anexos (a respeito dos escritos de crítica da Economia Política, a generalidade do trabalho e o seu caráter social, a forma paradoxal de exprimir o valor, a objetividade do valor como objetividade comum), um glossário e bibliografia. (Domingos Antom Garcia Fernandes)

Emilio Grandío Seoane (Ed)Vixiados. Represión, investigación e vixilancia na Galiza da guerra civil (1936-1939)Ames, Edicions Laiovento 2011, 271 páginas

Neste livro fica patente por toda a do-cumentaçom utilizada, o que mais, de ma-neira intuitiva já sabíamos: a Galiza foi um laboratório a seguir ao golpe de 20 de julho de 1936 para desenvolver um novo modelo político; toda a Galiza, galegos e galegas, “Vixiados”. O livro narra e logra explicar em grande parte, as origens, a criaçom e o desenvolvimento de toda umha rede de delaçom tecida como umha aranheira que atingia todos os novos e velhos estamen-tos do Nuevo Estado: a DOP, a Regiom Mi-litar, a Guarda Civil, a Falange, a Polícia, a Brigada Especial, os Governos Civis, os Governo Militares... a própria Igreja, e algumhas empresas como CAMPSA, acrescentando um modelo repressivo de grande magnitude; a sua sociedade ía integrando os no-vos delatores na sociedade única dos adventícios sempre suspeitos, com um só catecismo, o da utilizaçom sistemática da delaçom e as denúncias como factores da coesom de umha sociedade com a autoconsciência de fazer parte da nova engrenagem social, o que permitiu (permite!) o funcio-namento prolongado no tempo que explica implicitamente, que ainda hoje o franquismo sociológico funcione entendido polo continuísmo bourbónico como “normalidade democrática”; a assunçom da legalidade do poder como herdeiras e herdeiros daquele fim: “recompor a sociedade segundo um único modelo”.

Um sistema que mantivo, perversamente, no seu próprio e “natural” terreno de investigaçom e vigilância a repressom individualizada como a Falange, ou os Caballeros de Santiago, e com um sistema policial que já em 1938 colabora com a policia nazi , institucionalizando as estratégias de controlo absoluto da populaçom. Assinando um acordo secreto com a Alemanha nazi, mais interessada em controlar especificamente o setor naval peninsular e Gibraltar polo valor estratégico e a relaçom com Portu-gal. A contraprestaçom foi, evidentemente, a formaçom de quadros para a sistematizaçom dos ficheiros e controlo social da informaçom por parte dos grandes mestres nazis. (Xavier Moreda)

Aurora MarcoMulleres na guerrilla antifranquista galegaAmes, Edicions Laiovento, 2011, 530 páginas

Apresentamos desta volta um novo livro que recupera o testemunho da luita contra o fascismo espanhol na Galiza, da heroica luita guerrilheira contra o fran-quismo, mas que o fai do ponto de vista de género para tirar da escuridade o fulcral papel que desenvolvêrom centenas de mu-lheres galegas neste combate, papel que foi especialmente esquecido ou posto num lugar secundário por causa do androcen-trismo historiográfico.

Um androcentrismo historiográfico que ressaltou o papel masculino na luita guerrilheira, destacando determinadas fi-guras da guerrilha do monte (na qual certamente a maioria dos componentes eram homens, embora nom só) frente à guerrilha da chaira, a importante rede de apoios sem os quais a atividade militar sustentada pola guerrilha durante anos teria sido impossível.

Na guerrilha da chaira, como dizemos, a base do movimento guerrilhei-ro galego, a participaçom das mulheres foi muito importante. Mulheres que passárom a fazer parte da Federaçom de Guerrilhas Galiza-Leom e depois do Exército Guerrilheiro da Galiza, por cumplicidade política e ideológica e/ou por compromissos pessoais.

Estas mulheres, junto com os homens que figérom parte da guerrilha da chaira e as suas família e pessoas achegadas, pagárom um alto preço pola sua valentia e compromisso. A repressom contra ellas foi generalizada e em muitos casos brutal, pagando com perseguiçom, cárcere, torturas, exílio, desterro ou morte a sua implicaçom na luita antifascista.

Dando acobilho à guerrilha nas suas moradas, proporcionando todo tipo de elementos necessários para sustentar a estrutura clandestina, fazendo parte dos serviços de informaçom insurgentes, apoiando as presas e os pre-sos políticos, assumindo compromissos organizativos nas estruturas milita-res ou políticas ou empunhando as armas nos combates contra as forças da repressom espanhola, as mulheres galegas demonstrárom a sua rebeldia, o compromisso com o seu povo e a sua vontade de romper com os roles que o patriarcado pretendia impor-lhes. (Anjo Torres Cortiço)

LIVROS

www.nosgaliza.org

Coincidindo com o novo ano, NÓS-UP lan-çou a sua nova versom do site que já tinha na internet, iniciando umha nova etapa comuni-cativa e renovando o desenho da ferramenta.

Contodo, as novidades nom fôrom só es-téticas. Umha mais funcional organizaçom dos

conteúdos, um apoio mais decidido nas redes sociais, nomeadamente twitter e facebook, re-forçando assim a frente comunicativa na rede.

Por outra parte, esta nova fase está a caraterizar-se por umha maior atividade divul-gativa, consoante o maior trabalho realizado nas comarcas e em políticas de caráter mu-nicipal nos concelhos em que existem assem-

Se bem o trabalho na internet em nen-gum caso pode substituir a presença real nas ruas e centros de trabalho do País, umha correta política de comunicaçom é importante para fazer crescer a esquerda independentis-ta galega, daí que seja umha boa notícia esta nova etapa aberta por NÓS-UP após a VI As-sembleia Nacional.

As organizaçons sindicais espanholas maioritárias atuantes na Galiza, CCOO e UGT, fam parte desse socialismo deturpa-do e cooptado polo sistema, representam essa parte do movimento obreiro entre-gado ao poder do dinheiro e dirigidos por umha aristocracia sindical instalada na ló-gica da concertaçom e colaboraçom com o patronato porque -como afirmam sem pu-dor- “compartimos interesses comuns”. As cúpulas dirigentes de CCOO e UGT jogam um papel muito destacado na con-servaçom da paz social. “Nom queremos confrontar, queremos negociar”, espetou Cándido Méndez depois de conhecer os agressivos conteúdos da reforma laboral aprovada polo PP, a mesma pessoa que reconheceu como “umha renúncia” assi-nar com o patronato a congelamento sala-rial de facto para os próximos três anos no quadro da 2º Acordo Económico e Social.

@s comunistas galeg@s devemos combater o modelo de sindicalismo espa-nhol que CCOO e UGT praticam na Galiza porque, um, conduz para a domesticaçom de amplos setores da nossa classe im-buindo desánimo e incapacidade para sermos protagonistas da nossa própria história e, dous, nom contribui para aderir classe obreira para a causa nacional ga-lega, para o nosso projeto de libertaçom nacional, que é mais umha peça da nossa luita pola emancipaçom social.

A posiçom dos comunistas diante dos diferentes partidos da oposiçom

Na atual conjuntura nom só há que dar a batalha ideológica e política contra os meios de propaganda do sistema e o sindicalismo espanhol vendido. A militán-cia comunista galega deve intervir para

greve geral até deter as ánsias predado-ras do patronato mais agressivo e os seus servis governos títeres.

A greve nom pode ser considerada um fim por si mesmo e o seu êxito nom está garantido pola sua simples convoca-tória. A crise experimentada no seio do nacionalismo galego contribuiu para que as organizaçons que saírom vitoriosas da batalha realizada no Mercado de Ámio - UPG e MGS, no quadro da XIII Assem-bleia Nacional do BNG- experimentassem umha reorientaçom na sua linha de inter-vençom que se sintetiza em afiar mais o verbo e espelir a preguiça dalguns dos seus quadros para recuperar o protago-nismo de rua perdido. Todo o que suponha radicalizaçom, ainda que seja temporária, é bem-vinda, mas a militáncia comprome-tida com a causa revolucionária estará à espreita para defender a independência política da nossa classe.

O conjunto d@s comunistas galeg@s devemos falar claro, nom queremos mais capitalismo. Ainda que nos risquem de “messiánic@s”, “esquerdistas”, “orto-doxos”, e demais adjetivos sem sentido. Estamos ante umha realidade opressiva e exploradora brutal à qual só se pode oferecer umha resposta radical, onde a luita conseqüente nas ruas e nos cen-tros de trabalho tem de ser precedido da compreensom dum discurso rupturista e revolucionário. “Os comunistas nom se rebaixam a dissimular as suas opinions e os seus fins. Proclamam abertamente que seus objetivos só podem ser alcançados pola queda violenta de toda a ordem social existente. (...) Os proletários nada tenhem a perder a nom ser as suas cadeias. Te-nhem um mundo a ganhar”.

Carlos Garcia Seoane forma parte do Comité

Central de Primeira Linha

WEBbleias de NÓS-Unidade Popular.

A documentaçom da VI Assembleia Na-cional decorrida no passado mês de dezembro em Salvaterra está já disponível, junto a ou-tros conteúdos já presentes na versom ante-rior do site, como a ediçom digital da revista Voz Própria, os comunicados, material divul-gativo e textos políticos.

somar mais classe obreira às filas do sindicalismo nacional e de classe, a ferra-menta mais importante da que dispomos atualmente para a defesa dos nossos in-teresses como classe social explorada e oprimida. Somando mais setores do povo trabalhador a um modelo sindical neta-mente anticapitalista, de classe, combati-vo, nom pactista e democrático consegui-remos que o movimento obreiro e nacional galego abandeire a luita pola transforma-çom social face o socialismo.

@s comunistas de prática indepen-dentista apresentamos umha estratégia de confrontaçom aberta contra a burgue-sia e os seus aliados de classe com o úni-co fim de dar cabo da propriedade privada dos meios de produçom e restabelecer a sua propriedade coletiva. Para conseguir isto, há que delimitar táticas de caráter ofensivo que se guiem pola dialética entre fins e meios, que permitam caminhar face o nosso objetivo estatégico irrenunciável.

Um poderoso meio de pressom e de caráter ofensivo que ensina @s explorad@s desta terra que eles e elas som as únicas capazes de mover as engre-nagens do modo de produçom capitalista, é a greve geral. As greves desde a sua orientaçom economicista até as de marca-do caráter político -a política nom é mais que a continuaçom da guerra económica por outro meio- demonstram a vontade de ser dumha classe que é maioria social, e mais importante, que conhece ter a força suficiente para derrubar o estado de cou-sas vigente.

Neste sentido, a greve geral promovi-da na Galiza pola CIG deve ser considera-da como mais um instrumento de pressom enquadrado numha estratégia de confron-taçom direta contra o capital, e depois do 29 de março, @s comunistas galeg@s de-vemos continuar a reinvindicar mais umha

Vem da página 5

Capa da primeira ediçom do Manifesto Comunista, Londres, fevereiro de 1848.

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7Nº 63 Janeiro, fevereiro e março de 2012 intErnacional

Chile: aspetos da situaçom política nacional e os principais desafios para os revolucionários

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A eleiçom de Sebastián Piñera como Presidente encabeçando o conglomerado direitista “Alianza por Chile”, é a primeira vez que um representante da direita é elei-to democraticamente depois de mas de 50 anos. No entanto, em termos do caráter e conteúdo de seu governo, nom representa mais que um momento de continuidade e mudança relativamente às políticas neo-liberais aplicadas pola Concertación (pre-sidentes Aylwin, Frei, Lagos e Bachelet), sendo hoje dita fraçom burguesa liderada por Piñera a que à cabeça do Estado ex-pressa de melhor maneira a atual corre-laçom ou mudança de período no país, e que deve enfrentar umha situaçom que já constatávamos em meados do ano 2009; um momento de inflexom das contradiçons da institucionalidade preponderante. No económico, o Chile recebeu o impacto da crise internacional do capitalismo, vindo--se abaixo várias contas alegres dos go-vernantes. No social, o anterior significou um golpe ao sentido comum neoliberal de amplas massas, crescendo por momentos faixas que dentro da cada setor social (trabalhadores, povoadores e estudan-tes) assumiram que o único caminho é e será o da organizaçom e a luita, embora a sua debilidade e atomizaçom nom lhe permitam ser ainda umha força compacta e permanente.

Esta onda de mobilizaçom social re-presenta umha contradiçom importante para o bloco dominante; pois para que a burguesia monopólico-financeira possa preservar o modelo económico explora-dor, e em definitiva acrescentar suas ta-xas de ganho, precisa manter a estabilida-de do atual regime, o qual se lhe faz a cada vez mais difícil já que crescentes setores da sociedade estám a exigir mudanças po-líticas e económicas, que se nom se ado-tam crescerá a resistência e o fantasma da “ingovernabilidade” e a radicalizaçom da luita.

Portanto, para reconduzir, conter e manter a crescente mobilizaçom social den-tro dos enquadramentos de seu sistema, o regime (ou ao menos os seus estrategas mais lúcidos) está disposto a abrir a cer-tas reformas ao sistema político como no binominal, o voto no exterior, etc, e também reformas ao sistema tributário, tal como se fijo a começos do período dos governos civis. Nessa mesma linha estám as tenta-tivas do Governo de reeditar a política dos consensos, os apelos à “unidade nacional” e “grandes acordos de país”, tratando de imitar a experiência da transiçom dos 90 por parte do mesmo bloco dominante.

A tática mencionada nom será tam fá-cil para a atual administraçom de direita, nom só polas suas contradiçons internas entre setores “liberais” e conservado-res, mas também polo facto de que ainda tendo conseguido ganhar as eleiçons e estando no governo, nom conseguiu no entanto a subordinaçom social, política e ideológica do povo ao seu projeto de país, como sim o pudo fazer durante muitos anos a Concertación, que contava com legitimidade social herdada da época dita-torial, conseguindo cooptar o movimento popular, as suas organizaçons sindicais e populacionais principalmente, e a esquer-da reformista.

Quando a Concertación perde tal legitimidade social -e as eleiçons- polo desgaste de ser mera administradora, e beneficiada, do neoliberalismo e o seu regime político, e por sua vez a direita nom é capaz de criar sua própria forma de legitimaçom, produz-se umha crise de representaçom do bloco no poder, em que a populaçom (os “representados”) está a cada vez mas distanciada nom só do mo-delo económico que afeta a sua dignidade como trabalhadores e povo em geral, mas também e com igual força da denominada classe política, os “representantes” (no Congresso, o Governo, os Partidos) e as suas práticas, instituiçons, pugnas inter-nas por quotas de poder, onde a participa-

çom popular é reduzida ao sufrágio a cada certo tempo entre candidatos designados por pactos cupulares. E se só de eleiçons falarmos, umha investigaçom feita polo Centro de Estudos Jornalísticos (CIPER) cruzou as estatísticas populacionais do INE e o registo do Serviço Eleitoral para dimensionar a falta de representatividade do sistema político e de eleiçons no país. A análise concluiu que 5,5 milhons de pesso-as preferírom nom votar por um candidato nas últimas eleiçons de deputados, o que representa 45,68% dos chilenos maiores de 18 anos. Nos distritos mais populosos a percentagem que opta por nom eleger parlamentares cresce até 70%. Há depu-tados que só representam 7% ou 8% do total de maiores de idade que residem nos seus distritos.

Enxerga-se um processo ou tendência que poderíamos denominar de instabilida-de da hegemonia, organizaçom e repre-sentaçom do grupo dominante na nossa sociedade, nos mecanismos usados para manter o controlo sobre a classe subalter-na, controlo exercido mediante o consen-so (ideologia, cultura), que permite que a classe dominante integre outros setores ao seu sistema de valores ou crenças, que tendem a legitimar a ordem por eles estabelecida (tarefa na qual participam instáncias como imprensa, as Igrejas, e a educaçom). Quando o consenso já nom é suficiente, e os grupos subordinados pas-sam da passividade à atividade e à mobi-lizaçom social e política, ganham cada vez mais releváncia os meios materiais do controlo, a força da repressom, a crimina-lizaçom, etc.

Nesta situaçom, a Concertación, agora como “oposiçom”, tenta recuperar a legitimidade social, recompor as suas bases populacionais, sindicais e estudan-tis, e com esse suporte voltar a ocupar os espaços perdidos na institucionalidade, utilizando inclusive a pressom mediante o apoio à mobilizaçom social que antes tentavam refrear, todo com vistas às elei-çons vindouras (autárquicas e presiden-ciais). Tática na qual buscam incorporar o reformismo liderado polo PC, que está ansioso por acrescentar a sua inclusom no sistema, para o qual já lançou a proposta de constituir um referente que supere a Concertación pola via de se alargar à es-querda, umha “Nova Maioria” que concre-tizaria em termos organizativos e com um programa político comum, o que até agora foi um pacto eleitoral. Desta maneira, es-peram também impedir que a luita social siga um caminho que eles nom podam já conter, um caminho popular e revolucioná-rio que ameace a preservaçom do sistema no seu conjunto, tal como figérom (guar-dando todas as distáncias) entre 1986 e 1989.

Este ciclo de organizaçom e luita de diversos atores sociais, nom só significa que “se volta às ruas”, mas também aju-

da a que fique mais exposto o obstáculo político e ideológico que supom a “coli-som” entre as conduçons reformistas da esquerda e os partidos tradicionais, que coabitam em instáncias como a CUT, ANEF, Ordem de Professores, Confusam, Sindicatos de Codelco, e Federaçons estu-dantis (FECH-CONFECH) cuja tática foi me-diatizar ou “dosificar” a luita social para fins de pressom eleitoral ou pactos entre a Concertación e o reformismo.

Para o anterior, umha das principais estratégias é a demanda do plebiscito vinculativo e a Assembleia Constituinte, umha estratégia institucional (mudança da constituiçom) e “cidadanista” que se apresenta como soluçom às contradi-çons económico-sociais e de representa-tividade política próprios deste sistema. Neste desenho, os problemas inerentes e próprios do capitalismo diluem-se ou reduzem-se à contradiçom “neoliberalis-mo v/s democracia”. Assim, na medida que se aprofunda a democratizaçom do aparelho estatal, vai-se progressivamente debilitando o neoliberalismo.

Nom devem passar inadvertidas as implicaçons e alcances da mencionada ideia do “cidadanismo” que se quijo ins-talar nos movimentos e organizaçons sociais, como parte do bombardeio ideo-lógico e cultural que pretende erradicar a centralidade da classe trabalhadora como sujeito da história e as luitas sociais. O bloco dominante e parte da esquerda substituem o conceito do trabalhador ou do povo, polos de “cidadao”, “gente”, ou bem “setores vulneráveis”, etc, e adota--se, numha reproduçom da conceçom libe-ral ou burguesa da democracia, o “cida-dao” como o sujeito e “soberano” político nesta sociedade.

Esta estratégia baseia-se também na caraterizaçom do Estado como um ente neutro (“o Estado somos todos”, “os re-cursos de todos os chilenos”, etc.), no qual os interesses e a luita de classes, e o tema do poder, pode ser resolvido “democrati-camente”, passando por alto que o Estado é um aparelho que se constituiu historica-mente como umha ferramenta de opres-som para a classe dominante. Além disso, o protagonista em tal estratégia, a “Nova Maioria” expressa em rigor umha política de conciliaçom de classes, onde caberiam desde a “burguesia progressista nacio-nal” até as pessoas e os partidos políticos tradicionais, isto é, a democracia como umha atividade restrita aos enquadramen-tos institucionais do Estado burguês.

Mas também o Estado nom vacilou em utilizar cada vez com maior dureza a força material e judicial para tentar man-ter sob controlo os setores mobilizados; novas leis ou disposiçons para proteger a “ordem pública”, repressom indiscrimina-da, assassinatos impunes, campanhas do terror, montagens policiais ou mediáticas para criminalizar o protesto social, etc,

mostram o rosto real, a essência de como o sistema tenta ultrapassar os conflitos ou contradiçons de fundo que provoca, fei-çom fundamental a levar em conta desde já na construçom de um projeto e organi-zaçom com perspetiva revolucionária, já que quando alguns aludem às “condiçons” para impulsionar formas superiores de luita, para as descartar como perspetiva, assumindo umha posiçom passiva, como esperando que estas se deem em forma “natural” como o clima ou a pressom at-mosférica, esquecem ou querem fazer esquecer que boa parte dessas condiçons também estám relacionadas com a ativi-dade prática que desde já as organizaçons podem realizar na preparaçom e constru-çom das forças necessárias para enfren-tar o Estado opressor.

Mapuches e novo bloco de contrapoder popular

A política repressiva do Estado contra o povo mapuche tem duas grandes ares-tas que é necessário destacar porque an-tecipam as táticas que se utilizam com a cada vez maior freqüência contra o povo chileno em geral: em primeiro lugar umha parte importante desta estratégia foi a manipulaçom mediática, campanhas con-tra a causa mapuche por parte dos meios de comunicaçom da direita política e eco-nómica, que manipulam os factos para que a luita mapuche seja criminalizada, vista como atos de delinqüência ou “ter-roristas” (similar ao acontecido no “caso bombas”).

Por outro lado, observa-se as forças policiais que prestam proteçom direta aos interesses capitalistas na zona, principal-mente às empresas florestais, quer dizer, a militarizaçom das zonas em conflito, materializada na instalaçom de acam-pamentos ao interior de zonas florestais e a vigiláncia das lidas de produçom e transporte de madeira. A repressom di-reta inclui invasons e cerco policial às comunidades, assassinato, perseguiçom e encarceramento de militantes e diri-gentes mapuches, a presença de grupos que operam como verdadeiras guardas brancas resguardando os interesses dos latifundistas e empresas florestais, bem como um intenso afazer de inteligência e infiltraçom policial.

O rumo definitivo desta situaçom está em disputa, e depende da açom concreta das classes exploradas, apresentando aos setores revolucionários a oportunidade e o dever de avançar na modificaçom dos atuais relacionamentos de força mediante o contributo para a construçom de umha força popular que confronte a do bloco no poder, que seja capaz de levantar e opor à classe dominante e aos setores políticos subordinados a esta (o reformismo), a he-gemonia política e ideológica da classe tra-balhadora, o que também pressupom um forte trabalho político, ideológico e cultural

no seio desta, para construir umha consci-ência e organizaçons “de si e para si”. Isto é o que poderíamos denominar a constru-çom do contrapoder do povo, ou bem do po-der popular, entendido como um processo nom breve (também nom umha mera pala-vra de ordem para tingir o nosso discurso e propaganda agitativa), que começa com luitas como as atuais por reformas econó-micas ou reivindicaçons sociais, ou seja, os objetivos imediatos e corporativos que predominan nas organizaçons de hoje, mas que os superando será capaz em termos estratégicos de disputar em forma material o poder ao Estado burguês, sendo ainda a base da nova sociedade. Quando falamos de disputar o poder, nom nos referimos ao clássico conceito de “tomada” do Poder ou do Estado, mas da destruiçom do velho po-der e do Estado Burguês para a construçom do socialismo.

Achamos necessário resgatar os conceitos estratégicos do Poder Popu-lar, Contrapoder e Poder Dual, que som termos relacionados, mas por sobretodo construçons e acumulados históricos da luita revolucionária dos povos.Nom temos a pretensom de fazer “definiçons” esque-máticas e sim antes destacar que se trata de um poder participativo, instituído polo próprio povo, que é capaz de fazer contra-peso, resistir, e eventualmente destruir o poder dominante, opondo açons que sur-gem da sua própria açom e organizaçom independente (classista), que é capaz de ir criando e defendendo espaços livres do controlo e a subordinaçom ao poder esta-tal, mas nom para conviver eternamente com ele, mas para romper a dualidade e terminar com o Estado burguês e a sua maquinária de repressom; tendo claro por verdadeiro o imenso esforço e desafio que implica a construçom desta força material e ideológica para além das palavras e os escritos.

O nosso Projeto Político propom que o objetivo estratégico para o período é a construçom de Movimento Popular, con-ceito que se o desenvolvemos mais alude ou aponta precisamente para o anterior, a que o nosso dever como rodriguistas é sermos parte acompanhante e impulsio-nadora em dita construçom dos germes do poder popular, processo através do qual os territórios e locais de trabalho, estudo, etc., vam-se convertendo em trincheiras dos organismos ou células constituintes de um poder libertador, construído a partir da base, autónomo, classista e com proje-çom nacional, que vai ganhando posiçons e é capaz de modificar as relaçons de for-ça e poder existente.

Esses som alguns dos principais desa-fios e contradiçons que os setores popu-lares e revolucionários chilenos devemos enfrentar e resolver, e como FPMR assu-mimo-los também como parte da reflexom e debate no enquadramento do Segundo Congresso da organizaçom atualmente em desenvolvimento. A realizaçom do Con-gresso nom é umha soluçom mágica ou receita aos problemas da construçom; é mais um passo, mas que nos deve permitir ratificar, rectificar ou fortalecer a nossa tática e estratégia para levantar junto de muitos outros as forças sociais e militares que luitarám pola Revoluçom e o Socialis-mo em Chile e o Continente, esse é nosso horizonte, para isso realizamos este pro-cesso congressual, nom para fazer consig-nismo, agitaçom ou ostentaçom de curto prazo, acomodamentos nem caricaturas, mas para os grandes combates e batalhas vindouras polo futuro de umha humani-dade ameaçada pola barbárie capitalista em decadência, som tempos urgentes e ao mesmo tempo precursores, dignos de serem vividos e de participar com a ne-cessária dose de entusiasmo, seriedade, alegria e coragem.

Santiago Arcos forma parte da direçom da

Frente Patriótica Manuel Rodríguez (FPMR)

www.fpmr-chile.org

Manifestaçons e luitas populares desafiam governo de Piñera

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Edita: Primeira Linha. Redaçom: Rua Costa do Vedor 47, rés-do-chao. 15703 Compostela. Galiza. Telefone: 616 868 589 / www.primeiralinha.orgConselho de Redaçom: Comité Central de Primeira Linha. Fotografia: Arquivo Abrente. Correcçom lingüística: Galizaemgalego. Maqueta: ocumodeseño. Imprime: Litonor S.A.L. Encerramento da ediçom: 7 de marzo de 2012Correspondência: Rua Costa do Vedor 47, rés-do-chao. 15703 Compostela. Galiza. Correios electrónicos: [email protected] / [email protected] / Tiragem: 3.000 exemplares. Distribuiçom gratuíta.Permite-se a reproduçom total ou parcial dos artigos sempre que se citar a fonte. Abrente nom partilha necessariamente a opiniom dos artigos assinados.

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