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ABIM 005 JV Ano XII - Nº 95 - Mar/18 A Cadeia de União

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ABIM 005 JV Ano XII - Nº 95 - Mar/18

A Cadeia de União

A Revista Arte Real é um periódico maçônico virtual, fundado em 24 de fevereiro de 2007, de periodicidade mensal, distribuído, gratuitamente, pela Internet, atualmente, para 27.874 e-mails de leitores cadastrados, no Brasil e no exterior, com registro na ABIM - Associação Brasileira de Imprensa Maçônica, sob o nº 005 JV, tendo como Editor Responsável o Irmão Francisco Feitosa da Fonseca, 33º - Jornalista MTb 19038/MG.

www.revistaartereal.com.br - [email protected] - Facebook RevistaArteReal - (35) 99198-7175 Whats App.

EditorialMais uma vez, aproveitamos o espaço

deste Editorial, para nos dirigirmos aos nossos diletos leitores, os quais, ao longo desses 11 anos de profícua trajetória de nossa Revista, têm nos prestigiado, carinhosamente, acolhendo-nos e nos brindando com sugestões, críticas, elogios e considerações, o que tem, em muito, nos ajudado em nossa infinita busca da excelência, deste altruístico trabalho em prol da cultura maçônica.

Para esta edição, escolhemos como temário, um tema de enorme importância da ritualística maçônica: “Cadeia de União”. Enveredamo-nos em pesquisas e conseguimos trazer algumas matérias de irmãos conceituados, buscadores da verdade, que irão nos elucidar em diversos aspectos sobre este tão misterioso tema.

A fim de dar uma abordagem mais eclética sobre o tema, socorremo-nos, também, a autores estrangeiros, como é o caso da matéria “A Corda de Nós e a Cadeia de União”, uma compilação do texto de autoria do Irmão americano William Steve Burkle KT, 32°, KCRBE, membro da Alpha Lodge n° 116, da Grand Lodge of New Jersey, originalmente intitulado como “A Corda de Nós na Tradição Esotérica Maçônica”, traduzido pelo Irmão José Filardo e publicado, em 2012, no site www.bibliot3ca.com.

Assim como a matéria “O Simbolismo da Cadeia de União”, de autoria do Irmão português Luís Conceição, Mestre Maçom, pertencente a Loja Maçônica Convergência nº 501, do Oriente de Lisboa, jurisdicionada ao Grande Oriente Lusitano, publicado no site www.maconaria.net, em 2003.

Autores brasileiros, como o irmão Cláudio Américo, da Loja Maçônica Vera Lux, do Oriente de Maringá-PR, da Grande Loja Maçônica do Paraná, também, contribuem, com a matéria “A Cadeia de União”, publicada em 2010, na Revista Universo

Maçônico, e o Irmão Antônio Carlos Gonçalves Fernandes, da Loja Maçônica Cavaleiros do Alto Tietê nº 439, jurisdicionada à Grande Loja Maçônica de São Paulo, autor de livros como “A Simbologia das Velas” e “A Magia Cerimonial na Maçonaria”, com a matéria “A Força Oculta da Cadeia de União”.

De nossa lavra, apresentamos a matéria “Cadeias de União”, dando uma visão geral da Cadeia de União, realizada por culturas diversas e com objetivos distintos, a fim de servir de matéria preliminar às supracitadas matérias, que tratam o tema por ângulos diversos.

Os textos publicados nesta edição não visam, em hipótese alguma, esgotar o tema, devido sua profundidade. Nosso objetivo é espalhar a semente da pesquisa, fazendo com que você seja mais um a explorar o assunto e dividir a sua verdade com os demais Irmãos. Com isso, todos estaremos aprendendo e engrandecendo, culturalmente, nossa excelsa Ordem.

Boa leitura para todos. Encontrar-nos-emos na próxima edição!

Revista Arte Real nº 95 - Mar/18 - Pg 03

Cadeias

de União Francisco Feitosa

O temário desta edição, criteriosamente escolhido, visa, além de elucidar o leitor para o aspecto histórico da criação da Cadeia de

União, muito especialmente, também, para os seus reais objetivos: o aspecto esotérico. Lembremos que quando do processo por que passou a nossa Ordem, da fase Operativa para a Especulativa, por volta do início do século XVII, quando ilustres personagens, que nada tinham a ver como o ofício de pedreiro, como John Boswell, Elias Ashmole, Nicholas Stone e Robert Morey, além de outros tantos, igualmente famosos, oriundos das mais diversas Escolas Iniciáticas da época, como o Hermetismo, Cabala, Rosacrucionismo e outras, proibidas de realizarem suas reuniões, por força da Igreja Católica Inquisitória, passaram a encontrar abrigo nas fileiras das Lojas Maçônicas. Com isso, nossa Ordem foi se reformatando com a absorção das influências dessas Escolas em nossa ritualística. A própria Iniciação, como conhecemos atualmente, na época, era chamada de “Aceitação”, e não possuía essa riqueza de detalhes, ornamentada de passagens em mistérios de Ordens do antigo Egito, Grécia, Roma, Índia, Pérsia, entre outras.

Embora os Maçons de hoje, lamentavelmente, cada vez mais, têm conscientemente ou não, transformado nossa Ordem em um clube de serviços, distanciando-a do seu princípio fim, que é o de ser uma Escola de Iniciação, cabe-nos o esforço de mantermos o compromisso de fazer Luz sobre esse assunto. Se o propósito iniciático maçônico não merecesse a importância que deve ter, por que ao ingressar na Maçonaria ter que passar por um

processo ritualístico, realizado em um Templo, que, necessariamente, tenha passado por uma cerimônia de sagração, dedicado ao GADU, onde em seus Trabalhos figura um Livro das Sagradas Escrituras, com evocações, etc.?

Voltando às influências oriundas de outras Escolas, culturas e civilizações, assim como outras tantas inseridas na ritualística desenvolvida em nossas Trabalhos, chega a nossa Ordem, em determinado momento, a realização da Cadeia de União. Não conseguimos, em nossas pesquisas, de fato, desvendar sua real origem, mas curiosamente a identificamos em outras culturas, como na dos povos gnósticos andinos, no Peru.

Para a cultura andina, quando da formação da Cadeia de União, os braços cruzados formam a “cruz de São André, onde cada um liga suas mãos com os que lhe são mostrados em ambos os lados, de tal forma que, em cada caso, a mão direita seja

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unida a mão esquerda da pessoa ao lado, a primeira cobertura e o segundo suporte, em clara alusão ao sinal de reconhecimento dos pitagóricos, que deve ser rastreado continuamente, como se fosse um vínculo deslizante que nos unisse em amor fraterno, atualizando o casamento do céu (que cobre) e a Terra (que apoia)”.

Ainda, segundo os gnósticos andinos, “o fato de entrecruzar os braços, alude à ideia de Justiça como resultado do equilíbrio entre o Rigor (coluna esquerda) e a Beleza (coluna direita), mas colocando o primeiro sobre o segundo”.

Fora do aspecto ritualístico, também, identificamos a realização da Cadeia de União, a exemplo de a comemoração da inauguração da “Casa de Cultura Sem Paredes”, por Jean-Jacques Thomas, prefeito de Hirson, presidente da Comunidade de Comunas dos Três Rios, presidente da Orquestra de Picardia, na França.

A Cadeia de União, também, é um aperto de mão coletivo tradicional da ASEAN – Associação das Nações do Sudeste Asiático, onde cada líder coloca a mão direita sobre a mão esquerda para agitar a mão da outra pessoa. Em visita oficial, em novembro de 2017, o Presidente americano Donald Trump, em Manilla, nas Felipinas, no final do evento aparece formando uma Cadeia de União com os demais participantes da reunião. Quando da presença do ex-presidente americano Barak Obama, na Ásia, em 2016, ao final da reunião, na foto tradicional com demais presidentes e autoridades, também, formaram a Cadeia de União.

Outra passagem interessante aconteceu em Cahors, uma cidade francesa, capital do departamento de Lot, situada nas margens do rio Lot, no sudoeste francês, cidade natal do Papa João XXII, encontramos, em 1939, através do site maçônico francês, uma foto de um grande grupo de seminaristas franceses, formando uma Cadeia de União.

Vale citar, quando da escolha da cidade de Paris, para sediar os Jogos Olímpicos de 2024,

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Emmanuel Macron, presidente francês e demais autoridades francesas presentes comporam a Cadeia de União, com o improviso de formar com as mãos a imagem da Torre Eiffel, o símbolo da cidade Luz.

Portanto, ao contrário do que muitos imaginam, a Cadeia de União não teve sua origem na Maçonaria, e sim foi absorvida de outras culturas em nossos Trabalhos. Seu uso não é reservado, apenas, aos Maçons. O seu propósito poderá ter um cunho tanto exotérico, como esotérico, ou até místico, dependendo de como for concebido.

Através das matérias que selecionamos e que complementam esta edição, estaremos tratando o tema com mais profundidade e esperamos poder elucidar outros aspectos deste importante momento da ritualística maçônica, que, em nosso caso, especificamente, deverá ser realizado com conhecimento de sua história e extrema consciência de seus reais objetivos, a fim de que possamos contribuir, de fato, para a realização da Grande Obra, em prol da evolução humana. Saúde, Sabedoria, Segurança! Que assim seja!

Anuncie conosco!A Revista Arte Real, distribuída para cerca de 29.000 leitores cadastrados, de todo o Brasil e exterior, além de difundida nas redes sociais e listas de discussão maçônicas, reserva um espaço para divulgar a sua empresa!

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A Cadeiade União

Cláudio Américo

A Cadeia de União é amplamente utilizada como recurso espiritual, não necessariamente por iniciados que, nesse caso, nem sempre estão atentos para a

dimensão e responsabilidade do seu uso. Em Maçonaria, a sua prática tem alto significado, pois condensa os mais sublimes pressupostos da nossa Ordem.

Os termos cadeia e prisão são sinônimos e, portanto, “Cadeia de União” quer dizer “prisioneiros de um amor fraterno universal”, lembrando que os maçons encontram- -se presos aos seus Irmãos na solidariedade do bem comum e do crescimento espiritual. Quando da formação da Cadeia de União, o contato mental é instantâneo, o que quer dizer: nenhum “elo” permanecerá isolado e fora do todo, tendo essa formação mental e a Palavra Semestral o dom mágico de unir elos esparsos. A palavra união encontra seu sentido no Salmo 133, onde se lê: “Oh! Quão bom e quão suave é que os Irmãos vivam em união”.

Numa perspectiva física, é notório que uma série de átomos ligados entre si formam uma cadeia. Dentro de nossa Ordem, a Maçonaria representa cada um desses átomos, e os maçons a cadeia de elementos, formando um só símbolo “O Homem Universal”. Os elos da Cadeia de União são os mesmos de uma cadeia mental comum, isto é, os elos interligados entre si, embora individualmente soltos, procedendo como os elementos do próprio átomo, que conservam sua individualidade e personalidade, mas, quando em cadeia, estão unidos sem estarem soldados entre si.

O Objetivo primário da Maçonaria é unir os Irmãos de tal forma que possam parecer um só corpo, uma só vontade, um só espírito, formando um Templo coeso, compacto, enfim, uma unidade formada por partes heterogêneas que, ao constituir um todo, resulta uma só instituição. Desse modo, não diminui nem absorve personalidades isoladas, como o Universo, que também subsiste como um todo, tem perfeitamente individualizado cada átomo, cada parte de que é composto. Os maçons,

portanto, quando estão unidos pela Cadeia de União, não estão absorvidos nem diluídos, mas ligados através da soma das forças físicas e mentais, existindo individualmente, porém vinculados ao todo.

O corpo humano, por meio de seu sistema nervoso, registra estímulos que vêm do mundo externo, e seus órgãos e músculos dão a esses estímulos as respostas apropriadas. Por isso tem o homem grande capacidade receptiva, e essa existe desde que ao seu lado exista em corpo doador; pois não existe receptividade sem que haja doação. A união dessas duas “forças” completa o ciclo da natureza durante a Cadeia de União, onde as trocas são realizadas pelos nervos periféricos, também, chamados de nervos sensitivos, que ao receberem os estímulos (mensagens), seja superficial, pelo toque, ou pelos órgãos dos sentidos, esses formam impulsos que são enviados para os demais órgãos do corpo.

É dessa forma que os Irmãos, quando unidos pelo corpo e espírito, em “Cadeia”, acham-se submetidos a uma constante troca de vibrações, provocadas pela sintonia mental, que as células nervosas têm condições de captar.

Como podemos ver, recepções e doações de energia não passam de simples permuta, havendo, após determinado lapso de tempo, perfeito equilíbrio, em que ninguém mais terá a dar ou receber. Haverá nesse instante uma só identidade, que denominamos de a “Vida em União”, que pode ser compreendida com exatidão na palavra do Divino Mestre: “Eu e o Pai somos um”. As permutas não são meramente psicológicas, mas de conteúdo físico, pois a “energia” que se desprende de um pode passar para o outro e vice-versa, como uma verdadeira corrente.

Vale considerar que, apesar da Cadeia de União ser admitida, apenas, para a transmissão da Palavra Semestral, seus efeitos devem se prolongar ao cotidiano da Loja, por meio da sintonia entre os Irmãos no transcorrer de seus trabalhos.

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A Corda de Nós

e a Cadeia de União

A corda de nós é um antigo símbolo maçônico, comumente, associado com à Borda de Franjas, que, em tempos modernos, é representado

por uma série de triângulos equiláteros contíguos, estendendo em torno do perímetro do piso da Loja. A história da transformação da Borda de Franjas de uma corda de nós ondulada, usada como uma moldura para o Painel da Loja, para a sua configuração moderna, como um ornamento para o Piso da Loja, parece estar envolta nas brumas do tempo e permanece muito mais como uma conjectura. No entanto, o simbolismo esotérico da corda de nós sobreviveu, mais ou menos, intacto e é muito mais interessante.

Falando sobre a Borda de Franjas, os franceses a chamam “la houppe dentelee”, que é, literalmente, a “franja dentada” e eles a descrevem como uma corda formando nós de verdadeiro-amor, que contorna o painel da loja. Já, os alemães a chamam “die Schnur von starken Faden” ou a “corda de fios fortes”, e a definem como uma borda ao redor do painel da loja de Aprendiz, consistindo em uma corda amarrada com nós do amor, com duas borlas presas às extremidades.

A ideia predominante na América e derivada de um equívoco do painel no Monitor de Cross, que a Borda de Franjas era uma parte decorada do Pavimento de Mosaico, não parece ser apoiada por essas definições. Elas todas indicam que a “Borda de Franjas” era uma corda.

Em representações da versão da corda de nós da Borda de Franjas, o “Nó do Amor Maçônico” ou “Nó infinito” é o tipo de nó empregado. Também, chamado do nó em “Oito”, exemplos desse nó eram encontrados em locais de enterro do Médio Império Egípcio incorporadas em pulseiras e tornozeleiras.

O Nó de Amor Maçônico, o Nó de Amor, Nó de Hércules, Nó Infinito ou Nó em Oito, é descrito como um nó contínuo, tendo a forma de um oito que se originou de um encanto de cura no antigo Egito. É bem conhecido por sua utilização em Roma e na Grécia antiga como um amuleto de proteção ou como um símbolo do casamento. Outras fontes identificam o Nó do Amor como uma adaptação de um dos oito símbolos budistas, tendo origem no Tibete. Vários nós

William Steve Burkle

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celtas emaranhados, também, têm uma semelhança impressionante com o Nó do Amor.

Os fios cruzados em um nó de amor são visualizados no folclore celta como retratos do significado espiritual da vida. O simbolismo do nó sobreviveu bem além de suas origens antigas e era um símbolo muito comum em amuletos de amor medievais e renascentistas.

Na Maçonaria há um paralelo muito forte entre o Nó do Amor e a “Cadeia de União”, de acordo com Irmão Carlo Martinez Jr., que diz: “Essa ‘Cadeia’, é na verdade uma corda, que contorna as paredes internas do Templo Maçônico, em sua parte superior. Sua localização elevada lhe dá uma conotação celestial, confirmada pelos doze nós que aparecem em intervalos ao longo da corda e que simbolizam os doze signos do zodíaco”.

O Irmão Martinez afirma, ainda: “Esse emblema é, na verdade, uma moldura celestial que limita, separa e protege o mundo da luz, do mundo das trevas; o sagrado do profano”.

A forma assumida durante a Cadeia de União, os braços cruzados e mãos dadas dos participantes, formam uma série de nós do amor interligados. O Irmão Shawn Eyer no seu trabalho sobre o Pavimento Mosaico, também, observa as associações

astrológicas da corda de nós no Rito de Emulação, que desenvolveu depois da União de 1813, das Grandes Lojas Inglesas, entre os Antigos e os Modernos: “A Borda de Franjas ou Borlada nos remete aos planetas, que, em suas diferentes revoluções formam uma bela borda ou bordado em torno deste grande luminar, o Sol, como o Outro realiza em torno de uma loja de maçons”.

O Irmão Albert Pike, também, fez alusão à Corda de Nós e seu paralelo com a Cadeia de União, quando ele escreveu: “o intelecto de um homem é tudo o que tem recebido direto de Deus, um feudo inalienável. Se o fluxo é, apenas, brilhante e forte, ele varrerá como uma maré de Primavera até o coração popular. Não, apenas, em palavras, mas em ato intelectual reside o fascínio. É a homenagem ao invisível. Esse poder, atado com amor é a corrente dourada deixada cai no poço da verdade, ou a Cadeia invisível que une as fileiras da humanidade”.

Nenhuma descrição de uma função esotérica fornecida pelo Nó do Amor Maçônico (exceto a associação astrológica mencionada) é encontrada na literatura maçônica, no entanto, a explicação exotérica é que os nós representam o vínculo de amor entre os irmãos. É a visão do autor, que o valor esotérico de Nós, como símbolos de unidade, força e amor infinito são evidentes.

Compilações do texto do autor intitulado “A Corda de Nós na

Tradição Esotérica Maçônica”, tradução do Irmão José Filardo.

Albert Pike

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A Força Oculta da

Cadeia de UniãoAntônio Carlos Fernandes

Inicialmente, para melhor compreensão do lado místico que está inserido numa “Cadeia de União”, convém lembrar aos irmãos da necessidade de se

despir, um pouco do seu lado racional (razão) e deixar fluir livremente, o seu lado emocional (coração).

A Cadeia de União, sob o ponto de vista ocultista/esotérico, pode ser encontrada na “Teoria do Ponto” ou, também, conhecido como “Sinal de Apoio”, conforme nos ensinou o escritor Marius Lépage, que em seu artigo na Revista “O Simbolismo”, de Fevereiro de 1936, dizia: “,O segredo da ‘cadeia mágica’ resume-se em criar um ponto fixo que sirva de apoio, nele desenvolver uma bateria psicodinâmica, a desse ponto eleito por centro, irradiar através do mundo a “Luz Astral”, excitada por uma vontade claramente definida”.

Ao mesmo tempo criadora-receptora, a Cadeia de União representa junto ao maçom, o duplo papel de escudo protetor e de aparelho receptor de influências benéficas, ou seja: aquilo que os irmãos estão transmitindo, estão inconscientemente (cada irmão), recebendo as mesmas vibrações que estão sendo emanadas pela Cadeia de União.

Toda a associação e/ ou coletividade tem a sua correspondência nos mundos invisíveis. O espírito de um agrupamento de pessoas é um ser vivo, mais poderoso que cada uma das pessoas que a compõe

(por isso, a necessidade da formação da Cadeia de União). Eram essas as ideias e argumentos que maçons ocultistas tinham, a respeito da formação e condução da Cadeia de União, já no final do século XIX.

Segundo, ainda, Marius Lépage, “É aqui que se manifesta em toda a sua força, o papel unificador do Venerável Mestre, daquele que dirige a Oficina, da qual é a emanação e a síntese”

Entre ele e os irmãos se estabelece uma dupla corrente, e suas forças são decuplicadas para, depois, serem usadas da melhor forma, segundo os interesses espirituais da Ordem, em geral, e dos membros da Loja, em particular!

Para entendermos um pouco melhor da “força” que dela emana, basta lembrar-nos de que “tudo é energia” e a matéria nada mais é do que transmutação energética. Albert Einstein já dizia que “as várias formas existentes de matéria no plano físico, são manifestações diferenciadas de energia no Universo”.

Da mais rudimentar pedra do Reino Mineral, até a forma mais elaborada do Reino Humano, que é o Homem, nada mais é que simples e meras manifestações diferenciadas de energias. O homem, como sabemos, possui dentro de si, em determinados pontos específicos do corpo humano, canais (chacras)

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em que circula a energia para a sobrevivência e manutenção primordial da existência do corpo físico!

Basta lembrarmos que no passado já se estudava no final do século XVIII a “Energia Vital”, também, conhecida como mesmerismo ou, ainda, há vários milênios atrás, a técnica de acupuntura, de origem chinesa, cujo objetivo maior era a de curar as doenças através de aplicações e/ou manipulações de agulhas introduzidas em pontos específicos do corpo humano, situados em canais nos quais circula a energia e sangue, “Yin e Yang”, verificando, dessa forma, as mais diferentes manifestações energéticas.

Outra forma energética, são as diferentes técnicas de telecinesia (movimento de objetos à distância, sem intervenção direta ou contato físico de alguém e, supostamente, devido ao poder paranormal), cientificamente comprovada, que através de “forma-pensamentos” (Plano Mental) corretamente concatenadas pelos neurônios, que fazem vibrar ondas eletromagnéticas, permitindo ao praticante interferir no (Plano Físico), através de manipulações e/ou deslocações de objetos físicos, bem como a telepatia, que através da transmissão de ideias e pensamentos, consegue deslocar e interferir, até mesmo em locais distantes, vibrações energéticas de ideias e pensamentos. E é nesse famoso corolário que a Maçonaria, mais uma vez, recorre as Ciências

Ocultas para utilizar dessa “energia” em seus trabalhos durante a Cadeia de União.

Infelizmente, por desconhecimento de alguns irmãos, em muitas Lojas, ocorre que ao fazê-la, na maioria das vezes, a energia oriunda dessa Cadeia de União (por ser muito volátil), é facilmente dissipada, motivada pelos mais diversos fatores, que no meu entendimento, pode-se destacar como causas principais, a desarmonia respiratória de cada “elo” (irmão) da corrente, ou ainda, a “forma-pensamentos” com intensidades diferenciadas, dificultando que o objetivo da mensagem a ser enviada e/ou vibrada oscile de irmão para irmão, não atingindo dessa forma, a mesma força vibracional ao chegar no seu destino final.

Ora, se aproveitarmos essa maravilhosa força energética que o GADU nos oferece, poderemos, com certeza, aproveitar melhor a potencialidade dessa energia, sem que a mesma se dissipe em seu caminho.

Para isso, poderemos recorrer a algumas técnicas ocultistas, como sua formação, preparação energética, mentalização e respiração, para melhorar o desempenho da Cadeia de União e, consequentemente, atingir os nossos objetivos, melhorando o sequenciamento “harmônico e respiratório”, elaborando dessa forma, com a mesma intensidade vibracional as forma-pensamentos de todos os “elos” (irmãos) da referida Cadeia de União.

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O Simbolismoda Cadeiade União

Há, em Magia, palavras de pronunciação perigosa; há, também, ritos maçônicos aos quais será melhor não nos associarmos

quando não temos plena consciência do seu poder oculto. O tema da “Cadeia de União” é um desses que, apesar da sua aparente simplicidade, encarna uma das figuras mais complexas do Ritual, no sentido em que implica “entrelaçamentos secretos”, que ultrapassam largamente a simples ideia de União no sentido simbólico. Do mesmo modo que, no plano físico, ao pretender estudar a qualidade de uma corrente metálica, o engenheiro terá que se preocupar com o número dos seus anéis, o seu encadeamento, o metal que os compõe, a sua seção e curvatura. Para se entrar no sentido profundo da nossa “Cadeia de União”, é necessária uma apropriação dos seus componentes, para os integrar numa síntese simbólica irrefutável.

Os principais elementos de que nos ocuparemos serão: o círculo que forma a Cadeia, obrigatoriamente fechado; a polaridade, posta em evidência pelo cruzamento dos braços. O terceiro, seria a mão, de que não me ocuparei aqui, e que detém um papel ativo na formação da Cadeia.

Mas antes de mais nada convém rememorar o fato de que o rito da “Cadeia de União” é a dinamização, a tomada de ação do princípio sugerido pela corda que serpenteia nos 3 lados da Loja, ligando a coluna J à coluna B, sem, contudo, as unir. Torna-se, assim, indispensável compreender, à partida, a mensagem muda dessa corda de nós abertos, em suas relações com o conceito arcaico de “laço”, de serpente protetora, do nó cerrado que se torna lasso e, enfim, de suas borlas terminais. Teremos, assim, sondado, em profundidade, o valor e a força de um “rito constrangedor, que envolve o indivíduo e a coletividade”. Dessa forma, se a simbólica da corda se assemelha ao da serpente que, fechada sobre si própria, com a cauda na boca, transmite a Luz e encarna o Sol; de corpo esticado e cabeça pendente, toma o papel do cetro mágico egípcio, arquétipo da iniciação libertadora - patente na simbólica da serpente do Éden. Os nós indicam um sentido evolutivo: a divindade ligante é vencida pelo Conhecimento; a coação dogmática não consegue já fechar a sua rede.

Mas o iniciado, promovido ao posto de herói, se for bom entendedor da Arte, aceitará e submeter-se-á, voluntariamente, às regras tradicionais da Ordem

Luís Conceição

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a que, de livre vontade, pediu adesão. Ele possui a liberdade do Maçom livre, numa Loja livre, mas conhece o relativismo da Liberdade. Sentirá honra em fazer respeitar os princípios adotados pela maioria, e, também, em os fazer cumprir, junto dos seus pares.

O laço do Amor é a imagem da Solidariedade. Essa imagem é espantosamente explicitada pelo nó Isíaco, análogo à “lemniscata de Bernoulli” do primeiro arcano do Tarot, signo expressivo do movimento contínuo, dos “circulus vitae”, da interação constante das radiações, do movimento perpétuo, tanto da matéria como das galáxias. A Matemática adotou-o como signo do infinito.

Na boa tradição do Rito Escocês, simbolizando, em parte, a separação do neófito, relativamente, à sua Mãe, em cujo útero se encontrou, previamente, em reflexão, e de onde saiu com uma corda ao pescoço - vestígios do seu cordão umbilical, agora, quebrado - o neófito é colocado no centro da Cadeia de União, que forma um círculo à sua volta - verdadeira Cadeia de defesa - porque de cada vez que, na magia e nas artes, encontra-se uma corda em torno de qualquer coisa, há uma intenção de defesa da coisa circunscrita e de a separar de todas as influências exteriores (e não deriva a palavra Templo do verbo grego “separar”?).

É a razão pela qual o rito da “Cadeia de União” consiste na formação de um anel completo, enquanto a sua homóloga - a corda denteada, que contorna, parcialmente, o Templo - não constitui um círculo fechado, quedando-se, de um lado, na coluna B, e do outro, na coluna J. De fato, as colunas não precisam de estar ligadas por uma corda para fechar o círculo.

O círculo é o Universo, o Infinito, como a Loja se estende a todas as direções, do Nascente ao Poente, do Norte ao Sul, do Zênite ao Nadir. Em seu trabalho sobre “o Deus ligante e a simbólica dos nós”, Mircea Eliade diz-nos que “o cosmos é em si mesmo concebido como um tecido, como uma enorme rede”.

É, também, significante a utilização de nós, cordéis e anéis nos rituais nupciais. Dentre os símbolos mais expressivos que se nos oferecem à meditação, figura o “Ouroboros”, a serpente que, ao morder a cauda, forma um círculo.

Ora a serpente leva-nos, imediatamente, a pensar na da Gênese, Shaton, que tentou Eva, sugerindo-lhe que comesse o fruto proibido. O primeiro casal vivia no Jardim do Éden, alimentando-se de

frutos que cresciam espontaneamente. Nesse casal não havia desejo. Foi, portanto, a serpente que o despertou, e com ele o Amor. A serpente foi o primeiro Iniciador e não o vil tentador astuto e desonesto que a exegese religiosa nos apresenta, maldito pelo Criador. Deveria assim ser glorificada pela Humanidade. A tentação de Eva não se deve à sua maior fragilidade, mas sobretudo à sua grande sensibilidade e receptividade; à sua imaginação intuitiva. Adão, cujo nome significa “terra ou barro vermelho”, era um sujeito mais racional, mais “pesado”, mais tímido, talvez. É porque a nossa “mãe” - Eva - escutou a serpente, que a Humanidade entrou na via do Conhecimento, encetou o seu processo de emancipação, de evolução. Nos templos gregos via-se frequentemente a figuração do Ouroboros. Simbolizava a vida em geral, no que ela tem de indestrutível e de eterno, pelo seu eterno recomeço. Nas procissões dos Mistérios de Eleusis, as cesteiras ligavam romãs (símbolo da solidariedade e da fraternidade), espigas de trigo (mito gregário da regeneração) e uma serpente, imagem da vida regenerada (sobre o mito da serpente, aconselha-se a leitura do conto esotérico “A Serpente Verde”, do nosso Ir∴ Goethe).

No Templo, como referido, a corda denteada contorna, apenas, em três lados o painel de Loja. Esta deve, de fato, manter-se em contato com o mundo exterior: não se abrem 3 janelas da câmara de Comp∴ - Mas, no quarto lado, o do Ocidente, nenhum ser, nenhum espírito se pode introduzir, porque a energia contida entre as duas colunas de polaridade contrária forma uma barreira intransponível para os não iniciados. Esses encontrariam aí, de qualquer modo, sob os seus passos, o Pavimento Mosaico, em que inadvertidamente tropeçariam.

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Na “Cadeia de União”, é um magnetismo dinâmico que se vai desenvolver, pelo fato de se constituir de seres vivos. Nas sessões brancas (adoção, reconhecimento conjugal, etc.), a cadeia forma-se segundo uma roda infantil, de mãos dadas, em que toda a ideia metafísica e esotérica é excluída: trata-se, apenas, de um testemunho de amizade e de união. Mas na cadeia ritual, em que os braços cruzados ligam a mão direita com a mão esquerda, desenvolve-se uma força magnética.

Em 1932, Jacqueline Chantereine e o Dr. Camille Savoire, detectaram no interior e em torno do organismo humano, movimentos turbilhônicos e ondulatórios. Esses últimos são produzidos, para além de causas patológicas, por energias radiantes provenientes de tudo o que nos envolve: ação cósmica, por um lado, essencialmente proveniente da energia solar, à qual se junta a da Lua e dos restantes astros. A resultante dessas ações energéticas traduz-se sob a forma de um turbilhão, que penetra pelo lóbulo anterior da hipófise, para terminar no dedo grande do pé direito.

Uma outra fonte, não menos importante, é a força energética, dita “telúrica”, que se manifesta sob a forma de uma corrente inversa da precedente, e,

portanto, ascendente, penetrando pelo dedo pequeno do pé esquerdo, para se escapar pelo topo do crânio, contornando a precedente para formar uma figura semelhante ao “Caduceu” (o Caduceu é uma vara de louro de oliveira, com duas serpentes enroladas em sentido inverso, que era atributo de Mercúrio, e símbolo da polaridade e da paz). Essas duas serpentes entrelaçadas, transformam-se nos “laços de Amor” da corda denteada. Daqui a analogia com a Cadeia de União, em que o braço direito, positivo, passa por cima do esquerdo, negativo, para contatar com a mão esquerda do vizinho, formando uma cadeia de “pilhas em tensão”, em que se reúne o eletrodo positivo de cada um dos elementos ao eletrodo negativo do seguinte, por forma a que a força eletromotriz resultante seja “n” vezes superior a de um só elemento. Isso não é uma imagem, é uma realidade, que desenvolverá ao máximo a agregação das forças psíquicas da Loja, dirigidas para um mesmo objetivo.

Individualmente, somos fracos, isolados e falíveis. Quando o Venerável Mestre, antes do encerramento dos trabalhos, evoca a união de todos os Maçons; quando as nossas mãos (nuas, sem luvas, para que a corrente circule) se juntam numa verdadeira Cadeia de União, parece que um sopro mágico se introduz no Templo. Logo que a Cadeia se forma, o movimento ascendente e descendente dos braços, três vezes repetido, lembra, simbolicamente, o ondular da serpente cósmica, de que a Cadeia é uma imagem energética. A quebra da Cadeia deverá ser lenta e suave, para que a força de cada um se estabilize no seu circuito fechado. A Cadeia de União é, assim, a simbólica solar posta em ação, na sua expressão mítica. Precedida por uma pequena invocação, proferida pelo Venerável Mestre, no sentido das preocupações e aspirações gerais e particulares da Loja, da Obediência e da Humanidade; a Cadeia de União é o corolário obrigatório das sessões de trabalho em Loja.