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A aplicação do modelo de saliência de stakeholders em gestores de bancos de varejo EDISON QUIRINO D`AMARIO Universidade de São Paulo [email protected] ROSSANA FILETTI SORANZ Universidade de São Paulo [email protected]

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A aplicação do modelo de saliência de stakeholders em gestoresde bancos de varejo

 

 

EDISON QUIRINO D`AMARIOUniversidade de São [email protected] ROSSANA FILETTI SORANZUniversidade de São [email protected] 

 

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A aplicação do modelo de saliência de stakeholders em gestores de bancos de varejo

RESUMO

O presente estudo tem como objetivo analisar a saliência de

stakeholders percebida por gestores e diretores de três bancos de varejo. Analisou-se a

semelhança na percepção entre gestores e diretores sobre priorização de stakeholders, e

também a semelhança entre os três bancos pesquisados. Utilizou-se um instrumento

quantitativo desenvolvido por Mitchell, Agle e Wood (1997) que analisa a priorização

de stakeholders por meio de três atributos: poder, legitimidade e urgência. A amostra foi

composta por 92 respondentes da alta gerência e diretoria da área comercial de três

bancos de varejo localizados na cidade de São Paulo. Cada respondente gestor é o

responsável por uma unidade bancária. Os métodos de análise de resultados foram testes

paramétricos quando a distribuição era normal e não paramétricos quando a distribuição

não era normal. Para tanto, utilizou-se o software IBM SPSS Statistics Versão 20 e o

Excell. Os resultados indicam que a percepção de saliência de stakeholders por gestores

e diretores, assim como entre os bancos analisados são semelhantes, o que sugere estar

de acordo com a teoria da lógica institucional que , de acordo com Jackall (1988), trata-

se um conjunto de regras contingenciais complicadas que homens e mulheres criam e

recriam em contextos particulares de forma que seus comportamentos sejam, de certa

forma, regularizados e esperados.

INTRODUÇÃO

Ao se considerar que as organizações têm relações com muitos grupos, a teoria

dos stakeholders argumenta que a organização pode gerar e manter o apoio desses

grupos considerando o balanceamento de seus interesses relevantes (JONES; WICKS,

1999). Mas como identificar quais grupos devem ser priorizados nas decisões

estratégicas da organização?

De acordo com Reynolds, Schultz e Hekman (2006), o equilíbrio de interesses

das partes interessadas é um processo de avaliação no qual se deve pesar e avaliar as

reivindicações daqueles que têm alguma participação nas ações da organização.

A teoria dos stakeholders apresentada por Mitchell, Agle e Wood (1997) oferece

um instrumento de avaliação de stakeholders baseado em três atributos: poder,

legitimidade e urgência, em que quanto mais atributos o stakeholder tiver, maior será

sua saliência. Na literatura, nomeia-se este modelo como MAW (Mitchell, Agle e

Wood).

Nesse modelo, os gestores exercem um papel fundamental na identificação dos

stakeholders e de sua saliência. Reynolds et al (2006) asseveram que a percepção dos

gestores com relação à sua saliência é formada a partir de seus valores, crenças e

atitudes.

Outros estudos empíricos também buscaram entender a priorização de

stakeholders, no entanto, alguns deles não se apoiaram na perspectiva dos gestores, mas

sim na perspectiva do nível de atendimento aos interesses dos stakeholders, como por

exemplo, o estudo de Boaventura (2012).

Este estudo tem como objetivo analisar se há semelhança na percepção de

saliência de stakeholders por gestores e diretores de três bancos de varejo, analisar se

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há semelhança na percepção de saliência de stakeholders entre os bancos pesquisados e

por fim, avaliar a priorização dos stakeholders dentro do modelo MAW.

Para atingir o objetivo deste estudo foi realizada uma pesquisa quantitativa com

92 respondentes válidos, entre eles, gestores e diretores de três bancos de varejo.

Ao analisar a percepção dos gestores e diretores de diferentes instituições

financeiras em relação a saliência dos stakeholders, acredita-se contribuir para a

literatura no sentido de oferecer argumentos para entender a homogenização ou

heterogenização dessas percepções. Nesse sentido, a teoria da lógica institucional pode

oferecer embasamento para um melhor entndimento sobre a priorização semelhante dos

stakeholders para organizações de uma mesma população.

A teoria da lógica institucional, conforme ressaltada por Friedland e Alford

(1991) argumenta que existem várias lógicas institucionais simultaneamente e que as

organizações diferem por fazerem parte e atenderem à lógicas diferentes. Nesse sentido,

Reynolds et al (2006) incorporam a lógica institucional a tipos específicos de

organizações para analisar a saliência de stakeholders.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Teoria da Firma e Teoria dos Stakeholders

A teoria da firma, abordada preferencialmente pela área de finanças, teve início

com Adam Smith e defende que a empresa deve possuir um único objetivo: o

desempenho econômico. Tem-se como desempenho econômico a maximização dos

lucros e por consequência, da riqueza dos acionistas.

Na literatura, o termo Stakeholders foi mencionado primeiramente por Freeman

(1984), onde o autor define como stakeholder um grupo que afeta ou é afetado pelo

atingimento dos objetivos da organização, sem necessidade de reciprocidade por parte

de um dos grupos. (FREEMAN, 1984).

Três sugestões foram dadas para o surgimento da preocupação e definição dos

stakeholders: primeiro, o Mercado Competitivo, fundamentado na Teoria de Adam

Smith, onde as forças competitivas colocariam um limite ao poder das corporações. As

empresas não precisavam ter “almas” enquanto não eram controladas pela competição

do mercado, pelos produtos, recursos e finanças; Segundo, as sanções legais , que

protegiam os contratos com fornecedores e controlavam os monopólios; a terceira e

última, a responsabilidade social da empresa, que levantou questões morais, que de

acordo com Clarkson (1995) não seriam considerados questões morais sem tornarem-se

parte da legislação ou regulamentação.

Pós Freeman (1984), vários autores surgiram com diferentes abordagens do

conceito de stakeholders, tornando-o vago e superficial, até o surgimento de conceitos

de Donaldson e Preston (1995), onde, segundo os autores, os aspectos envolvendo os

stakeholders podem ser usados de formas distintas pela empresas e reconhecem três

tipos de uso: descritivo, instrumental e normativo.

O aspecto descritivo ocorre quando a empresa utiliza o modelo para representar

e entender as suas relações e papéis nos ambientes externos e interno. O aspecto

instrumental é evidenciado quando o modelo é usado como uma ferramenta de gestão

para os administradores. Já o uso normativo surge quando a administração reconhece os

interesses de todos os stakeholders, conferindo a esses uma importância intrínseca.

Nota-se que as duas teorias, da firma e dos stakeholders, até então, de acordo

com as definições acima, são caminhos em vias distintas pelo conflito de interesses que

representam.

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Jensen (2001) sugeriu um caminho fora do conflito, entre a maximização de

valor e a teoria de stakeholder para aqueles interessados em melhorar a gestão, a

governança corporativa e performance. O autor menciona a fusão das teorias,

chamando-as de maximização do valor iluminado e teoria dos stakeholders iluminada.

A teoria dos stakeholders iluminada somente adiciona a simples especificação

de que a função objetiva da empresa é maximizar o valor de mercado à longo prazo. Em

suma, Jensen (2001) argumenta que ao maximizar o valor da empresa (e não apenas o

capital acionário), todos os públicos envolvidos seriam beneficiados (e não apenas os p

Mas como esse benefício deve acontecer? Há stakeholders que devem ser mais

beneficiados que outros? Como saber quais stakeholders são mais importantes? Com

esse intuito aborda-se a questão da saliência de stakeholders.

Saliência de Stakeholders

Desde os anos 1930 alguns autores identificavam os quatro maiores grupos de

interesse ou parte de qualquer negócio: acionistas, empregados, clientes, e público em

geral. Mas nos anos 1950, um autor de nome Sears, listou em ordem de importância:

Clientes, empregados, comunidade e acionistas.

Donaldson e Preston (1995) afirmam que há necessidade dos administradores

reconhecerem os diferentes grupos envolvidos com a organização e seus interesses

específicos e neste sentido a teoria dos stakeholders constitui-se uma importante

referência, uma vez que, permite verificar a influência de cada um dos grupos

envolvidos com a organizaçao, entendendo como esta influência acontece.

Segundo Freeman (1999) há stakeholders mais e menos importantes e que devem

receber distintos graus de atenção por parte dos gestores. Para o autor, se alguns

stakeholders são considerados mais importantes, então configura-se uma dominância de

stakeholders.

Para Agle, Mitchell e Sonnenfeld (1999), a necessidade imediata de atender as

necessidade de um grupo de stakeholder, determinado pelo gestor, coloca este grupo

num alto grau de priorização dentro do processo. Nesse sentido, Boaventura (2012)

aponta para a hierarquização dos stakeholders como a capacidade de um determinado

stakeholder obter recursos de uma empresa para ter suas demandas atendidas de uma

forma preferencial em relação a outros stakeholders.

Saliência de stakeholder é definida como o grau ao qual o gestor dá prioridade às

demandas dos stakeholders (AGLE et al, 1999).

O modelo de gestão de stakeholder empregado na teoria da firma é um contraste

entre stakeholders e gestores, onde os gestores tem a responsabilidade de conciliar os

interesses divergentes tomando decisões estratégicas e alocando recursos

estrategicamente, de forma consistente com as reivindicaçoes dos outros grupos de

stakeholders (MITCHELL et al,1997).

Embora acredita-se que os grupos de stakeholders possam ser identificados de

forma confiável baseado na posse de poder, legitimidade e urgência, o gestor é que vai

determinar quais stakeholders são salientes e quais deverão receber maior atenção da

administração. Em suma, o gestor pode ou não identificar ou perceber de forma correta

os atributos dos stakeholders.

Agle et al (1999) hipotetizaram e encontraram suporte para um modelo de

saliência na qual os atributos dos stakeholders e os valores gerenciais influenciam a

percepção dos gestores sobre a sua saliência. Pelo fato da saliência ocorrer nas mentes

dos gestores (MITCHELL et al, 1997), eles têm papéis chave na teoria. Assim, Mitchell

et al (2011), demonstram, através de pesquisas da psicologia cognitiva, como, tanto os

atributos gerenciais, tais como valores, crenças, atitudes, etc., e o contexto institucional,

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influenciam a percepção dos gestores e o processo de priorização com relação aos

stakeholders.

O estudo de Boesso e kumar (2009) encontrou diferenças nas percepções dos

gestores em relação à nacionalidade. Os autores estudaram percepção de saliência de

stakeholders com gestores dos Estados Unidos e da Itália e encontraram semelhanças

nos gestores do mesmo país.

Assim como apontado nos estudos da psicologia cognitava, os resultados da

pesquisa de Boesso e kumar (2009) indicam diferenças entre o contexto da

nacionalidade do negócio, já que os EUA e a Itália são paises economicamente

desenvolvidos, mas com notáveis diferenças em relação às demandas institucionais e as

expectativas da sociedade, o que influencia, de acordo com esses autores, na relação do

stakeholder com a empresa e a empresa, nas atividades dos stakeholders.

Tradicionalmente, a Itália é tida como uma sociedade que protege os interesses

do trabalhador, o oposto dos EUA, que colocam os empregados e seus empregadores

numa posição de maior conflito de interesses. Então, sugere-se que os gestores Italianos

serão mais inclinados à direcionar seus interesses no grupo de trabalhadores, o oposto

dos EUA. O mesmo acontece para o grupo de clientes. Historicamente, os EUA têm

direcionado mais esforços do que a Itália para atender os interesses dos clientes

(BOESSO; KUMAR, 2009)

A saliência dos stakeholders não defende que os gestores devem prestar atenção

para esta ou aquela classe de stakeholders. Argumenta-se que para atingir certos

objetivos, os gestores devem prestar atenção a certos tipos de stakeholders

(MITCHELL et al, 1997).

Assim, Mitchell et al (2011) argumentam que, tomados em conjunto, os

atributos dos stakeholders de poder, legitimidade e urgência, serão vistos e processados

pelas percepções dos valores gerenciais e das lógicas institucionais para criar um único

tipo de saliência em determinado contexto institucional. Adicionalmente Mitchell et al

(2011) sugerem que quando quer que duas ou mais organizações de um mesmo tipo

interagem nos negócios, a saliência dos stakeholders será moldada de uma forma que

reflitam as pressões concorrentes da lógica dessas instituições.

Magness (2008) aplicou o modelo de saliência em um estudo de caso e seus

achados reforçaram a proposição que o status dos stakeholders não é permanente e que

é determinado pela visão do tomador de decisão.

Nesse sentido, Mitchell et al (2011) desenvolvem um raciocínio em que, devido

a influência generalizada das instituições onde duas ou mais se cruzam em seus

objetivos, a saliência é moldada pela mistura da lógica de cada uma.

Com base nessas reflexões, levantam-se as seguintes hipóteses:

H0 – A percepção de importância dos stakeholders entre os gestores e diretores são

semelhantes.

H1 - A percepção de importância dos stakeholders entre os gestores e diretores não são

semelhantes.

O conceito de importância neste artigo, relaciona-se com o conceito de saliência

e hierarquização de stakeholders de Mitchell et al (1997), que é o o grau que os gestores

dão prioridade às reivindicações dos stakeholders.

Mitchell et al (1997) definiram um modelo, de natureza transitória, que permite

ao gestor um reconhecimento de poder, legitimidade e urgência dos stakeholders.

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Os atributos MAW – Mitchell, Agle e Wood (1997)

Mitchell et al (1997) apresentam um instrumento para avaliar stakeholders

baseado em três atributos: poder, legitimidade e urgência.

Poder

A definição de poder, é a probabilidade que um ator tem dentro de um

relacionamento social de estar numa posição de realizar sua própria vontade, apesar da

resistência. O poder pode ser coercitivo, representando as orças e fraquezas , utilitário,

provenientes de fontes mateirais e incentivos, ou normativo, que são as influências

simbólicas (ETZIONI,1964).

Legitimidade

O conceito de legitimidade vem sendo questionado na literatuda, ora como

sendo um construto socialmente construido, ora como uma declaração normativa. Neste

estudo, a definição de legitimidade adotada é a de que um stakeholder legítimo, é aquele

cujas ações são vistas como apropriadas, adequadas e legítimas dentro de um sistema

social constituído de normas, valores, opiniões e definições (SUCHMAN,1995).

Urgência

Além dos atributos de poder e letigimidade, os autores incluíram o atributo

urgência, que não foi foco de nenhuma teoria organizacional na literatura. A urgência é

baseada na sensibilidade e criticidade de tempo em relação às demandas do stakeholder

(JONES,1995). É o grau com o qual o staekholder pode reivindicar e ser imediatamente

atendido.

Embora as sensibilidades de tempo serem necessárias para identificar a urgência

em serem atendidas as reinvindicações de stakeholders, não são suficiente. O

stakeholder precisa ter a visão de que suas reinvindicações e seu relacionamento com a

firma são extremamente importante.

Tipologia de stakeholder

Mitchell et al (1997) criaram uma tipologia para classificar stakeholders quanto

a quantidade de atributos. Os stakeholders que possuem os atributos de poder,

legitimidade e urgência concomitantemente são chamados de stakeholders definitivos,

ou seja, que possuem alta saliência e merecem atenção e prioridade às suas

reinvindicações.

Há stakeholders que possuem dois dos três atributos. Esses são considerados

com saliência moderada. A classificação de stakeholders, de acordo com os atributos

que possuem, são apresentados no Quadro 1.

Quadro1: Classificação de Stakeholders

Poder Legitimidade Urgência Classificação

X X X Definitivo

X X Dominante

X X Perigoso

Stakeholder X X Dependente

X Dormente

X Discricionário

X Demandante

Fonte: Adaptado de Mitchell et al (1997)

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O stakeholder dominante possui um mecanismo formal na importância do seu

relacionamento com a empresa. O stakeholder perigoso não possui a legitimidade como

um atributo e por isso pode ser coercitivo e possivelmente violento. O stakeholder

dependente é aquele que depende de outros stakeholders ou do gestor para terem suas

reinvindicações atendidas. Os stakeholders dormente, discricionário e demandante são

considerados de baixa saliência, pois possuem somente um atributo (MITCHELL e al,

1997).

Teoria da Lógica institucional

Para entender o conceito de Lógica Institucional, faz-se necessário abordar o

conceito de Teoria Institucional. Os estudos organizacionais percorreram um logo

trajeto na história da análise organizacional. Nos anos 1970, Meyer e Rowan (1977)

ressaltaram o papel da cultura e da cognição na análise organizacional. Os autores

asseveraram o papel da modernização na racionalização das regras tidas como corretas,

culminando com o isomorfismo nas estruturas formais das organizações. Essas

organizações tinham que estar em conformidade aos requisitos do ambiente externo

para alcançarem a legitimidade.

DiMaggio e Powell (1983) ampliaram o foco do isomorfismo oferecido por

Meyer e Rowan (1977) do nível societário para o nível do campo organizacional. Os

autores enfatizaram o isomorfismo por meio de três mecanismos: coercitivo, normativo

e mimético. Nesse sentido, organizações de uma mesma população ao se tornarem

semelhantes eram entendidas como praticando algum dos três tipos de isomorfismo.

DiMaggio e Powell (1983) asseveram que os efeitos da cognição são entendidos

principalmente pelo isomorfismo mimético. Nesse sentido, o que autores nomearam de

“Neo Institucionalismo” o que ficou largamente identificado como uma rejeição à

racionalidade como uma explicação para a estrutura organizacional, e ênfase maior na

legitimidade do que na eficiência para explicar o sucesso e a sobrevivência

organizacional.

O ensaio seminal de Freidland e Alford (1991) juntamente com trabalho

empírico de Haverman e Rao (1997) criou uma nova abordagem para a análise

organizacional que postulou lógicas institucionais para definir o conteúdo e significado

das organizações.

Enquanto a abordagem da lógica institucional compartilha com Meyer e Rowan

(1977), e com DiMaggio e Powell (1983) a preocupação sobre como regras culturais e

formas de estruturas cognitivas moldam estruturas organizacionais, ela difere de várias

maneiras. O foco não está mais no isomorfismo, seja no sistema mundial, sociedade, ou

campos organizacionais, mas diante de efeitos das lógicas institucionais diferenciados

sobre os indivíduos e organizações em uma maior variedade de contextos, incluindo

mercados, indústrias, e populações de formas organizacionais.

Lógicas institucionais moldam comportamentos racionais conscientes, e os

atores organizacionais têm um papel na moldagem e mudança dessa lógica

(THORNTON, 2004). Freidland e Alford (1991) postulam que cada ordem institucional

tem uma lógica central que guia os princípios organizacionais e fornece aos atores

organizacionais um vocabulário comum de motivação e auto senso, isto é, de

identidade.

Nesse sentido, Jackall (1988) define a lógica institucional como um conjunto de

regras contingenciais complicadas que homens e mulheres criam e recriam em

contextos particulares de forma que seus comportamentos sejam, de certa forma,

regularizados e esperados.

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As várias definições de lógica institucional apontam para uma mesma meta-

teoria: entender o comportamento individual e organizacional; ele deve estar localizado

num contexto social e institucional, e estes contextos regularizam o comportamento e

oferecem oportunidade de agência e de mudança.

A sociedade é composta por vários tipos de instituições tais como, de negócio,

governo, de família, religiosas, etc. A teoria institucional sugere que cada tipo

institucional tem objetivos distintos, assim como um conjunto de pressupostos sobre

como a organização deve funcionar (POWELL; DIMAGGIO, 1983). Essas lógicas

organizacionais influenciam os sistemas de crenças, valores e os resultados dos

processos comportamentais de tal forma que eles funcionem como lógicas

institucionais: as crenças culturais e regras que moldam a cognição e o comportamento

dos atores envolvidos (FRIEDLAND; ALFORD, 1991).

Acredita-se que as lógicas institucionais tenham efeitos profundos e

idiossincráticos nas relações sociais (FRIEDLAND; ALFORD, 1991). Por exemplo, a

lógica institucional dos negócios tende a concentrar-se nas preocupações tais como

lucro, produtividade, serviços ao cliente, etc.; a lógica institucional do governo tende a

concentra-se na lei, considerações do bem-estar geral e poder; etc.

Assim, no contexto de valores, comportamentos e relações sociais, e onde a

saliência do stakeholder é definida como o grau em que os gestores dão prioridade as

demandas dos stakeholders, Mitchell, Agle, Chrisman e Spence (2011) consideram

razoável sugerir que as lógicas institucionais influenciam a maneira em que os gestores

percebem a saliência dos stakeholders. Esta observação é consistente com a literatura

empírica de stakeholders, e conduz ao argumento que, onde as instituições se cruzam,

eles interagem entre lógicas organizacionais, e a multiplicidade de atenção

provavelmente pode produzir a hibridização institucional. Portanto, neste estudo,

acredita-se que saliência percebida pelos gestores de várias instituições financeiras

tende a ser mais parecida, já que essas instituições possuem lógicas dominantes

semelhantes. Com base nesses argumentos, levantou-se as seguintes hipóteses:

H0 - A percepção de importância de stakeholders entre três bancos de varejo é

semelhante.

H1- A percepção de importância de stakeholders entre três de bancos de varejo não é

semelhante.

METODOLOGIA

Caracterização da Pesquisa

O presente estudo caracteriza-se, quanto a abordagem, como pesquisa

quantitativa, e quanto aos objetivos, como uma pesquisa descritiva que, de acordo com

Cervo e Bervian (2002) consiste na descrição das características, propriedades ou

relações existentes na comunidade, grupo ou realidade pesquisada.

Quanto aos procedimentos técnicos, entende-se o presente estudo como

levantamento, pois de acordo com Cervo e Bervian (2002), trata-se de uma pesquisa que

visa determinar informações sobre práticas ou opiniões atuais de uma população

específica.

Instrumento de Pesquisa e Amostra:

Foi utilizado um questionário criado por Agle et al (1999), que possui nove

questões, não diretas, para os três atributos de saliência: poder, legitimidade e urgência.

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Foram respondidas as nove questões para oito stakeholders: acionistas, clientes,

comunidade, mercado financeiro, funcionários, meio ambiente, mídia e concorrentes.

Para definir os stakeholders, foi levada em consideração a literatura. Magness

(2008) definiu como grupos de stakeholders primários aqueles com os quais a empresa

depende para sobreviver, sob a perspectiva econômica e legal: os funcionários,

acionistas, fornecedores e clientes.

Alguns autores definem como stakeholders primários a comunidade e o governo.

No estudo em questão, o governo foi representado pelo mercado financeiro, já que a

pesquisa foi feita em bancos e o mesmo presta serviços financeiros.Ainda, foram

considerados alguns stakeholders secundários, que apesar de não estarem engajados

diretamente com a organização, influenciam e são influenciados por suas atividades,

como a mídia, o meio ambiente e os concorrentes. Ainda que a organização não

dependa deles para sobreviver, os mesmos podem afetar a companhia mobilizando a

atenção e opinião do público e influenciando nas demandas dos stakeholder primários.

O isntrumento de pesquisa utilza-se de uma escala do tipo Likert de sete pontos,

sendo que 1 equivale à “discordo totalmente” até 7 “concordo totalmente”, sobre oito

stakeholders: acionistas, funcionários, comunidade, cliente, mercado financeiro, mídia,

meio ambiente e concorrentes.

A amostra foi composta por 92 respondentes da alta gerência e diretoria da área

comercial de três bancos de varejo localizados na cidade de São Paulo. Cada

respondente gestor é o responsável por uma unidade bancária, sendo que abaixo dele

estão todas as áreas relacionadas ao seu negócio, como área operacional, vendas,

seguros, câmbio, etc. Quanto aos diretores, esses são responsáveis por, em média, R$ 3

bilhões em ativos e R$ 1,3 bilhões em passivos financeiros. Cada diretoria possui, em

média, 100 mil clientes e de 400 a 500 empregados. Para preservar a identidade dos

bancos, optou-se por chamá-los de banco S, banco H e banco C. Os três bancos

pesquisados são de origem estrangeira.

Método de Análise de Resultados

Com o objetivo de verificar a existência de semelhança na saliência de

stakeholders entre gestores e seus diretores e entre os bancos, efetuou-se testes

paramétricos (teste t e ANOVA) quando se observou que as distribuições eram normais.

Quando as distribuições não eram normais, efetuou-se testes não paramétricos (Mann-

Whitney –U e Kruskal Wallis). Para tanto, utilizou-se o software IBM SPSS Statistics

Versão 20 e o Excell.

ANÁLISE DE RESULTADOS

Inicialmente, as variáveis com sentido negativo foram invertidas. A seguir fez-se

a análise fatorial pelo método dos componentes principais para cada um dos atributos de

Mitchell (poder, legitimidade e urgência) em cada um dos oito stakeholders

pesquisados.

Foram calculadas e analisadas as cargas fatoriais, o KMO, o total de variância

explicada, a comunalidade, o Alpha de Cronbach e a matriz anti imagem para cada

stakeholder, e de cada atributo. A variável de legitimidade invertida, foi excluída em

função de sua baixa comunalidade e de sua relação negativa com as demais variáveis do

fator.

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Os demais resultados foram satisfatórios para as ciências sociais (HAIR JR;

BABIN; MONEY; SAMOUEL, 2005) mostrando que o instrumento de pesquisa

explica a percepção de saliência em cada atributo.

Os fatores foram obtidos por meio de escala somada, ou seja, calculou-se a

média aritmética entre as variáveis que compõem o fator.

Para cada soma dos fatores de poder, legitimidade e urgência deu-se o nome de

saliência. Fez-se análise descritiva da saliência, calculando a média e o desvio padrão

de cada um dos oito stakeholders, para cada banco e para os cargos de diretores e

gestores.

Na Tabela 1 observa-se que os stakeholders acionistas, clientes e funcionários

obtiveram médias superiores à 5, que representa o “tende a concordar” no instrumento

de pesquisa, demonstrando que tanto a amostra total entre os bancos, como para os

cargos de gestores e diretores, esses stakeholders são considerados como salientes.

Tabela 1: Análise Descritiva

Saliência - poder, legitimidade e urgência

Banco S

Banco H

Banco C

DV bancos gestor diretor

DV cargo

Concorrente 3,92 4,19 3,91 1,16 3,96 4,25 1,16

Acionista 5,31 5,73 5,37 0,94 5,41 5,46 0,94

Cliente 5,36 5,36 5,08 0,75 5,33 5,42 0,75

Comunidade 4,41 4,16 4,27 0,77 4,37 3,85 0,77

Mercado Financeiro 4,92 5,01 4,93 0,84 4,93 5,12 0,84

Meio Ambiente 3,81 3,63 3,52 0,84 3,78 3,12 0,84

Midia 4,62 4,63 4,65 0,87 4,63 4,46 0,87

Funcionário 5,22 5,01 4,87 0,8 5,13 5,33 0,8

Testou-se a normalidade dos fatores obtidos por meio do teste Kolmogorov-

Smirnov. Os stakeholders que apresentaram uma distribuição normal, foram:

concorrente, meio ambiente, mídia, mercado financeiro e comunidade. Os que não

apresentaram distribuição normal foram os acionistas, clientes e funcionários.

Para verificar se existe diferença entre as percepções de gestores e diretores

quanto ao poder, legitimidade e urgência dos stakeholders concorrente, meio ambiente,

mídia, comunidade e mercado financeiro, aplicou-se o teste t, já que todos os fatores

foram considerados com distribuição normal.

Ainda, para verificar se há diferença entre os três bancos quanto a percepção de

seus gestores e diretores quanto ao poder, legitimidade e urgência dos stakeholders

cujos fatores possuem distribuição normal (concorrente, meio ambiente, mídia,

comunidade e mercado financeiro) utilizou-se o teste ANOVA, conforme apresentado

na Tabela 2, já que existem mais de duas categorias, ou mais de dois bancos a serem

analisados.

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Tabela 2: Teste t e ANOVA

Stakeholders Sig (2tailed) teste T - cargo ANOVA - bancos

fator poder fator leg fator urg fator poder fator leg Fator urg

Concurrente 0,916 0,768 0,184 0,205 0,806 0,597

Meio ambiente 0,719 0,191 0,43 0,795 0,711 0,573

Mídia 0,624 0,132 0,637 0,648 0,982 0,857

Comunidade 0,043 0,142 0,534 0,193 0,834 0,41

Mercado financeiro 0,665 0,804 0,497 0,825 0,63 0,94

Fonte: Dados da pesquisa

Com base nos resultados do test t, as percepções de gestores e diretores quanto

ao poder, legitimidade e urgência dos stakeholders concorrente, meio ambiente, mídia e

mercado financeiro são iguais, pois sig >0,05 em todos os casos.

No entanto, para o stakeholder comunidade, a percepção de gestores e diretores

difere no fator poder, mas é semelhante quanto à legitimidade e urgência.

Parent e Deephouse (2007) pesquisaram o tema de priorização de stakeholders e

constaram que o fator que mais influencia na saliência é o poder, seguido da urgência e

legitimidade.

Neste caso, podemos sugerir que, assim como Boesso e Kumar (2009)

identificaram diferenças nas percepções dos gestores de países diferentes, há o fato dos

bancos que fizeram parte desta amostra não serem da mesma origem estrangeira, o que

pode afetar o julgamento relativo ao papel da comunidade dentro das organizações.

Analisando os dados da ANOVA, quanto às percepções de poder, legitimidade e

urgência dos stakeholders concorrente, comunidade, mercado financeiro, mídia e meio

ambiente são iguais para os três bancos analisados, pois sig>0,05.

Para os três stakeholders que não tiveram seus fatores considerados de

distribuição normal, foram aplicados o teste não paramétrico de Manm-Whitney U para

verificar a diferença na percepção de gestores e diretores quanto ao poder, legitimidade

e urgência.

Para os três stakeholders: acionistas, clientes e funcionários, as percepções

quanto aos três atributos são iguais, já que sig>0,05. Ainda, para saber se há

similaridade na percepção dos atributos de poder, legitimidade e urgência entre os três

bancos pesquisados, como os fatores não tiveram distribuição normal, foram feitos os

testes de Kruskall Wallis. Novamente, para os stakeholders acionistas, clientes e

funcionários, não há diferenças nas percepções do poder, da legitimidade e da urgência

entre os três bancos analisados, já que sig>0,05 em todos os casos.

Tabela 3: Testes Mann-Whitney U e Kruskall Wallis

stakeholders sig Mann-Whitney –U - cargo sig Kruskall Wallis- bancos

fator poder fator leg fator urg fator poder fator leg fator urg

Acionistas 0,798 0,512 0,518 0,085 0,606 0,145

Clientes 0,593 0,434 0,793 0,479 0,957 0,367

Funcionários 0,93 0,762 0,756 0,33 0,775 0,301

Fonte: Dados da pesquisa

Com base nos resultados supracitados, ambas hipóteses nulas foram aceitas, ou

seja, a percepção de gestores e diretores em relação a saliência de stakeholders é

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semelhante, assim como a percepção de saliência de stakeholders entre os três bancos

analisados também é semelhante.

Análise do modelo de saliência MAW

A saliência percebida será a função de poder, legitimidade e urgência associadas

com um grupo de stakeholders.

Os três atributos juntos foram analisados pelo CV (coeficiente de variação) que é

igual ao desvio-padrao/media*100. Quando este coeficiente é baixo, o mesmo indica a

homogeneidade da variável.

Como todos os resultados, conforme apresentado na Tabela 4, foram abaixo de

30% as saliências são homogêneas, ou seja, os gestores e diretores da amostra possuem

percepção parecida.

O meio ambiente foi considerado como o stakeholder de menor saliência e os

acionistas foram considerados como o de maior saliência.

Num estudo sobre saliência e gestores foi demonstrado que os gestores são mais

propensos a serem mais sensíveis aos grupos de acionistas, ou seja, colocar os acionistas

como prioritários, mesmo havendo um conflito de interesses na gestão (PARTHIBAN;

BLOOM; HILLMAN, 2007).

Tabela 4: Saliência dos stakeholders estudados

N Minimum Maximum Mean Std. Deviation Cv

SaliênciaMA 92 1,56 5,44 3,7440 ,84583 23%

SaliênciaConc 92 1,67 6,33 3,9867 1,16881 29%

SaliênciaCom 92 2,11 5,78 4,3406 ,77241 18%

SaliênciaMid 92 2,56 6,11 4,6256 ,87236 19%

SaliênciaMF 92 2,33 6,78 4,9457 ,84081 17%

SaliênciaFun 92 3,00 6,78 5,1473 ,80497 16%

SaliênciaCli 92 3,56 7,00 5,3382 ,75159 14%

SaliênciaAci 92 1,78 7,00 5,4227 ,94844 17%

Fonte: Dados da pesquisa

Cada gestor pontuou, dentro da escala Likert, de 1 à 7, sendo que 1 equivale à

“discordo totalmente” até 7 “concordo totalmente”, sobre oito stakeholders: acionistas,

funcionários, comunidade, cliente, mercado financeiro, mídia, meio ambiente e

concorrentes.

Como parâmetro, foi considerado como o stakeholder que possui o atributo

poder e urgência aquele que obtiver acima de1380 pontos na soma das respostas, ou

seja, aquele que obtiver pelo menos a nota 5 , que refere-se à “tendo a concordar” na

respostas das três questões referentes ao atributo poder para os 92 respondentes válidos

(92 X 15 pontos = 1380), conforme demonstrado na Tabela 5.

Dentro dessa métrica, cinco stakeholders foram considerados com poder:

clientes, acionistas, mercado financeiro, mídia e funcionários.

Para o atributo urgência três stakeholders tiveram mais de 1380 pontos: clientes,

acionistas e funcionários.

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Para o atributo de legitimidade foi utilizado outro critério. A avaliação total foi

de 1196 pontos (92 respondentes vezes 13 e não 15 pontos).

O motivo da avaliação ter pontos inferiores dos demais atributos deve-se ao fato

de que uma das variáveis era invertida e a análise das somas foi feita pelo Excel, então,

para a alternativa 5 – “tende a concordar”, foi somado 3 pontos em vez de 5 pontos, por

isso a soma total das três variáveis de legitimidade é igual à 13.

Foram identificados quatro stakeholders como legítimos, dos oito pesquisados.

Sendo eles: clientes, acionistas, mercado financeiro e funcionários.

Tabela 5: Análise dos atributos de poder, legitimidade e urgência para cada stakeholder

stakeholders soma VP1+VP2+VP3

soma VL1+VL2+VL3

soma VU1+VU2+VU3

Concorrente 1272 1024 997

Acionistas 1593 1346 1581

Clientes 1572 1342 1530

Meio ambiente

1017 978 977

Funcionários 1400 1330 1564

Mídia 1467 1136 1207

Comunidade 1266 1122 1142

Mercado Financeiro

1509 1237 1351

Fonte: Dados da pesquisa

Com base nos dados apresentados, apresenta-se o modelo de saliência de

Mitchel aplicado empiricamente na Figura 1.

Na pesquisa, categorizou-se oito stakeholders: concorrentes, clientes, acionistas,

mercado financeiro, meio ambiente, midia, funcionários e comunidade.

De acordo com a teoria de saliência e utilizando o modelo de categorização de

Mitchel obteve-se, como stakeholders definitivos, ou seja, aqueles que merecem

atenção e prioridade às suas reinvindicações: acionistas, clientes e funcionários.

Na categoria “dominante”, que são os stakeholders que possuem dois dos três

atributos , sendo eles o poder e a legitimidade, considerados como stakeholders com

saliência moderada, está o mercado financeiro. A mídia foi o stakeholder que foi

categorizado somente com o atributo de poder.

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Figura 1: Tipologia de stakeholders

Fonte: adaptado de Mitchell et al (1997)

CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Um aspecto comum na literatura estudada, é que o conceito de priorização de

stakeholders ainda demanda estudos para se consolidar.

No presente estudo as hipóteses nulas foram aceitas, ou seja, as percepções de

saliência de stakeholders dos gestores e diretores, assim como entre os três bancos

pesquisados são semelhantes.

Mitchell et al (2011) consideram razoável sugerir que as lógicas institucionais

influenciam a maneira em que os gestores percebem a saliência dos stakeholders. Os

resultados, quanto a semelhança nessa percepção, podem refletir que lógicas

institucionais devam ser consideradas nos estudos de saliência de stakeholders, já que as

instituições de uma mesma população devem possuir lógicas dominantes semelhantes.

Esta observação é consistente com a literatura empírica de stakeholders, e

conduz ao argumento que, onde as instituições se cruzam, e interagem, entre lógicas

organizacionais, produzem uma hibridização institucional.

Assim como foi aceita a hipótese de semelhança nas perceções de gestores entre

os bancos analisados, a lógica institucional indica que o comportamento dos indivíduos

e das organizações são moldados diante de um contexto.

Quanto a saliência da amostra total, os acionistas foram considerados os

stakeholders mais importantes, enquanto que o meio ambiente foi considerado o menos

importante. Magness (2008) ressalta que além do status dos stakeholders não ser

permanente e ser determinado pelos tomadores de decisões, ou seja, os gestores, esses

tendem a priorizar o acionista já que deles depende sua posição.

Para os autores do instrumento de pesquisa, os atributos de poder, legitimidade e

urgência, são socialmente construídos e devem estar presentes, na perspectiva do gestor.

7. STAKEHOLDERS

DEFINITIVOS: Acionistas,

Cliente e Funcionários

1. PODER: mídia

(DORMENTE)

Midia

3. URGÊNCIA

Demanda

2. LEGITIMIDADE

(discrecionário)

4. Dominante:

mercado financeiro

7

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A saliência, é o resultado do poder, legitimidade e urgência, percebidos pelos gestores

no presente.

Nesse estudo, foram identificados como stakeholders definitivos os clientes,

funcionários e acionistas. Esse resultado condiz com as primeiras pesquisas sobre a

definição de stakeholders levadas em consideração na literatura, que definem como

grupo de stakeholders primários aqueles que a empresa depende para sobreviver na

questão econômica e legal, que são os acionistas, funcionários, fornecedores e clientes.

Vale ressaltar que, como a pesquisa foi realizada em bancos, que trata-se de

prestador de serviços, o stakeholder fornecedor não foi considerado.

O stakeholder mercado financeiro foi considerado como dominante dentro da

tipologia de Mitchell et al (1997), tendo os atributos de poder e legitimidade, mas não

de urgência. Acredita-se que este stakeholder não apresentou o atributo urgência pelo

contexto econômico atual se apresentar estável. Acredita-se que em contextos

econômicos turbulentos, o atributo urgência possa ser mais observado na percepção dos

gestores com relação ao mercado financeiro.

A mídia foi considerada como stakeholder dormente, possuindo apenas o

atributo poder. Pode-se sugerir que, de encontro com a literatura, esse modelo de

classificação seja transitório e depende do contexto, já que a mídia pode passar a ter

outro atributo, como a urgência e mudar de classificação. O stakeholder dormente não

tem nenhuma ou pouca interação com a firma, mas pelo potencial de adquirir outro

atributo é reconhecido pelos gestores.

Como limitações da pesquisa, aponta-se o construto da legitimidade que ainda é

deveras confuso na literatura, e por este motivo, acredita-se existir uma lacuna no

entendimento dos respondentes quanto ao conceito. Ainda, o questionário aplicado

possuia duas questões iguais no atributo de legitimidade, sendo uma delas invertida, o

que, normalmente pode levar à uma resposta equivocada dos respondentes.

Dos oito stakeholders pesquisados, foram elencados, de acordo com os

parâmetros estabelecidos neste estudo, apenas cinco stakeholders classificados dentro

da tipologia do modelo MAW. Dessa forma, sugere-se para pesquisa futuras, outros

parâmetros a serem estabelecidos.

Espera-se que este estudo possa contribuir para melhorar o entendimento das

pesquisas empíricas sobre o modelo de saliência, e que novas pesquisas possam utilizar

o conceito de lógicas institucionais em populações organizacionais diferentes para

verificar a percepção de saliência de stakeholders em outros contextos.

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