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1 A VISÃO DO HOMEM PANTANEIRO SOBRE O PANTANAL 1 ARNO RIEDER 2 , VERA LÚCIA DA ROCHA MAQUÊA 3 e SOLANGE KIMIE IKEDA CASTRILLON 4 RESUMO: O estudo reúne percepções do homem pantaneiro sobre o Pantanal. Foram efetuadas entrevistas com pessoas ligadas a atividades exercidas nesse ambiente, em agosto de 2000, em Cáceres, Mato Grosso, Brasil. O tema Pantanal tem repercussão internacional. É um assunto de interesse por razões diversas. Pontos de vista do próprio pantaneiro sobre o Pantanal veiculados são raros e poderiam ter valor importante na definição de políticas de desenvolvimento sustentado. No Brasil ainda há imposição externa, o que se reproduz dentro do próprio país entre regiões. Julgam-se no direito de definir os destinos e os procedimentos de outros sem levar em conta a opinião do homem local, pois este é parte integrante de seu ambiente, cabendo-lhe encaminhar alternativas ao desenvolvimento seu próprio futuro. Assim estão sucintos interessantes indicadores para viabilizar a continuidade da sustentação do homem pantaneiro. Os resultados desse estudo não pretendem ser definitivos, mas provocadores de investigações e discussões mais aprofundadas. 1 Trabalho desenvolvido com base em resultados de entrevistas efetuadas por alunos de Pós-graduação da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) no curso de Especialização em Educação Ambiental para a Conservação do Pantanal. 2 Prof. Dr. em Saúde e Ambiente, Departamento de Matemática e de Biologia, Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), Cáceres, Mato Grosso. Email: [email protected] 3 Profa. M.Sc. em Literatura Brasileira, Departamento de Letras, Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), Cáceres, Mato Grosso. Email: [email protected] 4 Profa. M.Sc. em Ecologia, Departamento de Biologia, Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), Cáceres, Mato Grosso. Email: [email protected]

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Page 1: A VISÃO DO HOMEM PANTANEIRO SOBRE O PANTANAL1€¦ · A VISÃO DO HOMEM PANTANEIRO SOBRE O PANTANAL1 ARNO RIEDER2, VERA LÚCIA DA ROCHA MAQUÊA3 e SOLANGE KIMIE IKEDA CASTRILLON4

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A VISÃO DO HOMEM PANTANEIRO SOBRE O PANTANAL1

ARNO RIEDER2, VERA LÚCIA DA ROCHA MAQUÊA3 e SOLANGE KIMIE

IKEDA CASTRILLON4

RESUMO: O estudo reúne percepções do homem pantaneiro sobre o Pantanal. Foram

efetuadas entrevistas com pessoas ligadas a atividades exercidas nesse ambiente, em

agosto de 2000, em Cáceres, Mato Grosso, Brasil. O tema Pantanal tem repercussão

internacional. É um assunto de interesse por razões diversas. Pontos de vista do próprio

pantaneiro sobre o Pantanal veiculados são raros e poderiam ter valor importante na

definição de políticas de desenvolvimento sustentado. No Brasil ainda há imposição

externa, o que se reproduz dentro do próprio país entre regiões. Julgam-se no direito de

definir os destinos e os procedimentos de outros sem levar em conta a opinião do

homem local, pois este é parte integrante de seu ambiente, cabendo-lhe encaminhar

alternativas ao desenvolvimento seu próprio futuro. Assim estão sucintos interessantes

indicadores para viabilizar a continuidade da sustentação do homem pantaneiro. Os

resultados desse estudo não pretendem ser definitivos, mas provocadores de

investigações e discussões mais aprofundadas.

1 Trabalho desenvolvido com base em resultados de entrevistas efetuadas por alunos de Pós-graduação daUniversidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) no curso de Especialização em Educação Ambientalpara a Conservação do Pantanal.2 Prof. Dr. em Saúde e Ambiente, Departamento de Matemática e de Biologia, Universidade do Estado deMato Grosso (UNEMAT), Cáceres, Mato Grosso. Email: [email protected] Profa. M.Sc. em Literatura Brasileira, Departamento de Letras, Universidade do Estado de Mato Grosso(UNEMAT), Cáceres, Mato Grosso. Email: [email protected] Profa. M.Sc. em Ecologia, Departamento de Biologia, Universidade do Estado de Mato Grosso(UNEMAT), Cáceres, Mato Grosso. Email: [email protected]

III Simpósio sobre Recursos Naturais e Sócio-econômicos do Pantanal Os Desafios do Novo Milênio De 27 a 30 de Novembro de 2000 - Corumbá-MS
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A VISÃO DO HOMEM PANTANEIRO SOBRE O PANTANAL (THE POINT OF

VIEW OF THE “PANTANEIRO” ABOUT THE PANTANAL)

ABSTRACTS: This study gathers information about how the “homem

pantaneiro”(person who lives in the Pantanal) perceives the Pantanal. People who

develop activities in the Pantanal environment were interviewed by post-graduation

students of the Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) from the

specialization course on Environmental Education for the Conservation of Pantanal, in

August 2000, in Cáceres, Mato Grosso, Brazil. The subject “Pantanal” brings out

international interest, for several reasons. Points of view of the “pantaneiro” about the

Pantanal broadcasted are rare and could have an important role in the definition of

policies for sustainable development. In Brazil, there are still external impositions what

are reproduced inside the country among regions. People from other regions believed

themselves to have the right to define others' destiny and procedures without taking into

consideration the opinion of the local population, who is an integrated part of their

environment, being their responsibility to carry out alternatives to the development of

their own future. Interesting indicators to ensure the continuity of the sustentation of the

"pantaneiro" were raised. The results of this study are not meant to be definitive but to

be provocative of further investigations and deeper discussions.

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“Na Grande Enciclopédia Delta Laraousse, vou buscar uma definição depantaneiro. ‘Diz-se de, ou aquele que trabalha pouco, passando o tempo a conversar’.

‘Passando o tempo a conversar’ pode ser que se ajuste a um lado da verdade; nãosendo inteira verdade. ‘Trabalha pouco’, vírgula!

Natureza do trabalho determina muito. Pois sendo a lida nossa de a cavalo, ésempre um destampo na boca. Sempre um desafiar. Um porfiar inerente. Como faz obacurau.

No conduzir de um gado, que é tarefa monótona, de horas inteiras, às vezes dedias inteiros, é no uso de canto e recontos que o pantaneiro encontra o seu ser. Na trocade prosa ou de montada, ele sonha por cima das cercas. É mesmo um trabalho na larga,onde o pantaneiro pode inventar, transcender, desorbitar pela imaginação.

Porque a maneira de reduzir o isolado que somos dentro de nós mesmos,rodeados de distâncias e lembranças, é botando enchimento nas palavras. É botandoapelidos, contando lorotas. É, enfim, através de vadias palavras, ir alargando os nossoslimites.

Certo é que o pantaneiro vence o seu estar isolado, e o seu pequeno mundo deconhecimentos, e o seu parco vocabulário, recorrendo às imagens e brincadeiras.

Assim o peão de culatra é bago-de- porco, porque vem por detrás. Pessoagrisalha é cabeça de paina. Cavalo corredor é estufador de blusa. Etc. Etc.

Sente-se pois, então, que árvores, bichos e pessoas têm natureza assumida igual.O homem no longe, alongado, quase, e suas referências vegetais, animais. Todos sefundem na mesma natureza intacta. Sem as químicas do civilizado. O velho quaseanimismo.

Mas na hora do pega-pra-capar, pantaneiro puxa na força, por igual. No lampinodo sol ou no zero do frio.

Erroso é pois incutir que pantaneiro pouco trabalha. Ocorre que enxertar a vaca agente não pode ainda. Esse lugar é difícil de se exercer pelo touro. Embora alguns otentem.

Vaca não aceita outro que não seja touro mesmo. O jeito é ficar reparando acobertura e contando mais um bezerro daquele ato.

Só por isso se diz que o boi cria o pantaneiro.”

Manoel de BarrosIn: O Pantanal por Manoel de Barros

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INTRODUÇÃO

Tem força de minadouro o

pantaneiro.

Vive em estado de árvore

E há de ser uma continuação das

aguas.*

O presente trabalho tem por objetivo apresentar a diversidade de percepções e

opiniões de pessoas estreitamente inseridas no ambiente pantaneiro sobre o Pantanal, a

interação do homem nesse ambiente e a preservação desse ecossistema. Os resultados

servirão de subsídios para orientar e motivar estudos mais aprofundados sobre vários

aspectos ocorrentes no Pantanal e de interesse à sua conservação. Nesta parte inicial

estão apresentadas algumas referências encontradas sobre o Pantanal.

De imediato, no início da História de um país inexistente5, Costa (1999) envolve

o leitor numa teia narrativa sedudora: “O espaço interior da bacia do Alto Rio Paraguai,

onde se localiza o Pantanal, foi concebido inicialmente como um lugar de sonhos, e

assim se insere na história ocidental”.

Araê Boock (Simpósio,1986), na apresentação dos anais do 1º Simpósio sobre

Recursos Naturais e Sócio-Econômicos do Pantanal, menciona que, na década de 1980,

o Pantanal já era destaque no cenário nacional tanto por suas belezas naturais como

pelas denúncias progressivas sobre a depredação de recursos naturais e de ameaças à

integridade do seu ecossistema. Algumas denúncias estavam viciadas de carácter

emocional, mas também formava-se uma consciência nacional da mais alta significação

política e social na história do Brasil: a da necessidade da preservação e uso racional

dos recursos naturais em geral.

* Todas as epígrafes seguintes são retiradas de: BARROS, M. O Pantanal por Manoel de Barros. CampoGrande, MS: Saber Editora, 1999.5 COSTA, M. de F. História de um país inexistente: o pantanal entre os séculos XVI e XVIII. São Paulo:Estação Liberdade Cosmos, 1999.

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De acordo com citações de Souza (1986), a conquista do Pantanal começou a

acontecer apenas em 1775. Um dos motivos do retardamento de ocupação do Pantanal

foi o impedimento e resistência dos indígenas Guaicurus, Paiaguás e Cadiuéus. Outros

fatores limitantes ao povoamento dos pantanais foram a agressividade de mosquitos

culicídios, o ataque de animais predadores, tais como felicídios. Contudo, em fins do

século passado o Pantanal tinha o maior rebanho de gado bovino do Brasil.

Conforme Eberhard (1986), o impacto da ação antrópica como um processo

acelerado de degradação ambiental do Pantanal já vinha sendo discutido em 1984.

Alertas sobre os danos derivados de agroindústrias situadas às bordas do Pantanal,

desmatamentos, erosão, biocidas e as conseqüências de garimpo, caça e pesca já

estavam sendo dadas naquela ocasião.

No 1º Simpósio sobre Recursos Naturais e Sócio-Econômicos do Pantanal,

realizado em Corumbá, MS, no ano de 1984, a preocupação básica e geral manifestada

foi em conciliar a produção e a proteção no ambiente pantaneiro (Simpósio, 1986).

O Pantanal é uma das mais importantes reservas ecológicas do mundo (Paiva,

1984) abrangendo três países (Brasil, Bolívia e Paraguai), com área de 168.000 km2 no

Brasil (Carvalho, 1984). Entretanto, pouco se sabe sobre o potencial e a estrutura de

funcionamento dos mecanismos naturais de defesa do ambiente existentes no Pantanal

e em sua área de influência, diante de eventuais lançamentos de poluentes químicos,

como no caso de pesticidas. O risco de acidentes ambientais pode aumentar com a

intensificação das atividades antrópicas a montante do Pantanal (Ab’Saber, 1988;

Resende et al., 1994). Diante do perigo, a desestimulação de atividades dependentes de

pesticidas à montante do Pantanal é sugerida (Resende et al., 1994).

Percepção e significados de elementos do ambiente para as pessoasPantaneiro aprendeu com a

natureza

Ele sabe que o ermo tem cantos

E que o silêncio tem cílios

Ele já foi arborizado pelos pássaros

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Qualquer proposta de educação ambiental só terá as melhores chances de

produzir os resultados almejados se a sua concepção estiver alicerçada num diagnóstico

prévio das percepções e significados para o pessoal-alvo a respeito do ambiente,

conforme também afirmam Wunder et al. (1998) e Mata et al. (1998).

Berdague e Gomes (1998) citam que a percepção é um processo mental de

interação do indivíduo com o meio ambiente, iniciada com a apreensão de estímulos por

meio dos sentidos, que são intermediários na relação com o mundo exterior. A mente é a

parte ativa na construção da realidade, selecionando as informações percebidas e

construindo um modelo personificado do mundo.

Longe da oralidade, da escrita, Educação Ambiental aprende-se praticando,

exercitando, conscientizando sobre a lida com os problemas cotidianos e desfazendo a

idéia de meio ambiente, basicamente, associado ao verde, à natureza, à preservação de

fauna e flora (Mata et al., 1998).

Em estudos realizados com duas categorias de grupos sociais - educadores e não-

diretamente educadores - Mata et al.(1998) concluíram que a percepção reinante de

meio ambiente ainda estava associada apenas a aspectos físicos e biológicos; a existência

de conflito conceitual entre ambientalismo e ecologismo; a prática, o fazer educação

ambiental, ainda bem tímido em relação à difusão da informação; distanciamento das

questões ambientais como vivência cotidiana. Sugerem uma proposta de ambientalismo

mais político, que vá além da visão preservacionista e docilizada, projetando as raízes

dos problemas às condições elementares de direitos e deveres, ao plano das conquistas

políticas de base pela educação, na luta incessante do bem-estar, visto não apenas na sua

face econômica, mas sobretudo na área da conquista política.

O imaginário das pessoas do lugar é construído com base em valores

sócioculturais, pela necessidade de afirmação e de busca do bem-estar ou de proteção

contra ameaças. Assim, pessoas que vivem no e do lugar terão uma percepção e

significados, pelo menos em parte, diferentes dos que não residem lá, como os que

apenas trabalham, transitam ou visitam como turistas o Pantanal. Desse modo, pessoas

que não são do lugar esboçarão percepção distinta dos que são do lugar.

Santos (1998), conceitua lugar como uma associação entre um espaço e

sentimento de pertinência a este (topofilia) onde os sujeitos representam elementos que o

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identificam, que trazem recordações, isto é, onde o sujeito guarda marcas da sua história,

sejam elas boas ou não. Outros autores, porém, observam que, além da existência de um

lugar, onde os sujeitos identificam-se e constituem redes sociais, existe o “não-lugar”,

espaço de passagem desprovido de qualquer afetividade e história relacionada com o

sujeito e comumente utilizado como um espaço de transição.

Com base em manifestações de pessoas residentes na malha urbana de duas

cidades, Camaçari e Dias D'Ávila-BA, Santos (1998) observou heterogeneidade de

sentimentos e representações acerca do espaço. Coexistem "lugares" e "não-lugares",

alimentados pelos temores, medos e expectativas dos sujeitos residentes – sustentados

pelos rumores e desinformação acerca da segurança, da tecnologia e da capacidade de

absorção de mão-de-obra pelo pólo empregador. Coexistem sentimentos misturados e

orquestrados pelas necessidades e percepções da população. Sentimento de devoção e

esperança enquanto o lugar representa fonte de trabalho, poder e “status”. Poder

ambíguo, que fixa o sujeito, por meio da consolidação das redes sociais e do papel que

passa a desempenhar no grupo social em que se insere. E a imagem negativa dos núcleos

urbanos enquanto ocorrer desemprego ou falta de novo emprego necessário, conduzindo

à migração.

No trabalho desenvolvido sobre a imagem mental (percepção e significados)

feita pelos usuários de espaços urbanos (bairros) em Viçosa-MG, Berdague e Gomes

(1998) concluem que o estudo permite identificar os problemas e apontar suas soluções,

legitimando, assim, as modificações que porventura se fizerem necessárias, posto que,

afinal, o homem não apenas modifica o meio como sofre impacto do mesmo, integrando

uma cadeia de complicadas relações e necessitando que o meio no qual vive lhe

possibilite efetuar, com qualidade, suas atividades.

Qualquer interpretação de manifestações de pessoas ou grupos sociais do “lugar”

ou do “não-lugar”, a respeito do meio, para fins de subsidiar um programa de educação

ambiental, por exemplo, para conservação do Pantanal, requer referenciais cuidadosos

de cenários, assim como do perfil e dos interesses de seus atores e interlocutores, de

espaço e de época de acontecimentos. Para interpretar e compreender melhor as versões

dos fatos e acontecimentos, é importante contrastar e verificar as relações entre o texto e

o contexto.

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Trabalhando com uma proposta de educação ambiental, organizada com a

comunidade do Arraial de São Francisco de Mombaça, BA, Nascimento et al. (1998), ao

resgatarem história de vida dos sujeitos da comunidade, colheram falas e escritos das

pessoas, produzindo-se o acervo pessoal e social da comunidade, cujos teores revelaram

preocupações com questões ambientais. O campo da leitura foi privilegiado permitindo

a percepção das relações entre o texto e o contexto. Os textos escritos pelas pessoas da

comunidade fazem lembrar o canto dos pássaros, as andorinhas que não mais

escutadas, as árvores que não mais existem, o caminho “sombreado” percorrido para a

fonte da bica. A memória é resgatada dos fragmentos trazidos pelas pessoas, ao tempo

em que se precisa saber: de que posição se está falando? a) do lugar das pessoas que

podem exercer a autoridade e modificar, ou não, as circunstâncias? b) do lugar do sujeito

da comunidade que, ao relembrar os tempos de prosperidade, sente saudade de uma

presença autoritária que organiza e determina as funções? c) ou do lugar dos que,

inquietos com a situação de degradação e descaso do meio ambiente, buscam uma saída,

interagindo com outras pessoas?

A partir desses questionamentos, pode-se verificar que a forma como o sujeito

percebe e experimenta esse ambiente pantaneiro é diferente dependendo da relação que

estabelece com ele, produzindo uma significação diversificada.

Nessa perspectiva, o extrativismo e a domesticação apresentam-se como

importantes aspectos na relação do homem com esse ambiente, de maneira que os

recursos naturais existentes no Pantanal desafiam a inteligência do homem em saber usá-

los sem exterminar ou degradar. Assim se tem elementos importantes biofísicos e

químicos. Recursos hídricos, do solo, da flora, da fauna, paisagísticos, entre outros,

constituem elementos à disposição e de interesse para o homem. A forma mais primitiva

de aproveitamento desses recursos pelo homem tem sido o extrativismo. Entretanto, há

uma corrente do pensamento atual que defende a idéia que os ambientes tropicais ainda

intactos devem voltar a ter a interação do homem pelo extrativismo racional ou

sustentado possível. Porém, a domesticação tanto de plantas, por meio de cultivos, como

de animais, por meio da criação, constitui um modo razoável de não deixar extinguir

espécies e ao mesmo tempo disponibilizar os produtos desses derivados e de interesse

da sociedade.

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Homma (1997), em artigo intitulado “Extrativismo vegetal e desenvolvimento na

Amazônia: conflitos e possibilidades”, menciona que:

Estabeleceu-se uma síndrome extrativa em nível mundial, em que há suposição falsa

considerando produtos madeireiros com sendo não sustentáveis.

Cita o autor que práticas de manejo ideal do ponto de vista biológico não apresentam, às vezes,

viabilidade econômica.

Observa que a lógica dos movimentos ambientalistas em valorizar o extrativismo vegetal está

em consignar a sua importância quanto aos benefícios indiretos para a sociedade e a suposição

quanto à sustentabilidade permanente.

Produtos extrativos em grandes estoques, para garantir extração prolongada e sua conservação

precisam ser extraídos de forma racional e sustentável possível.

A domesticação para muitos produtos extrativos pode significar a melhor conservação, dos

recursos naturais evitando-se a sua pressão de extração.

Considerar as atividades extrativas como opção para as áreas não-desmatadas revela-se

temerário devido ao fato de que a grande maioria da população rural não tem aspirações

pessoais para dedicar a sua vida somente às atividades extrativas.

O desmatamento ocorre como um processo de ocupação da terra e está relacionado com o ciclo

de vida familiar, sendo mais intenso nos primeiros anos de ocupação.

A faixa de bordadura, ou borda do Pantanal, é um trecho marginal externo às

terras normalmente inundáveis do Pantanal, embora seja difícil definir claramente seus

limites. Outros se referem à bordadura como zona de transição entre a planície e região

vizinha ou como regiões limítrofes do Pantanal, não-inundáveis (Brown, 1986), ou

ainda como região circundante ao Pantanal (Cunha et al., 1995). Pode ser ainda

entendida como uma faixa de retenção de material erodido e, portanto, de certa forma

funcionando como um cinturão de proteção ao Pantanal. Solos de áreas com vegetação

florestal ao longo de rios funcionam como uma faixa de proteção que retém os detritos e

os resíduos que chegam aos cursos de água, entre eles os pesticidas (Resende et al.

1994).

Aspectos biofísicos do Pantanal e em sua bordadura, portanto, são relevantes

para a análise desse contexto.

A expressão fitogeográfica mais abrangente do Pantanal é o cerrado, apesar da

ocorrência de alternâncias fisionômicas entre cerradão, cerrados, campos cerrados,

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campos, campos inundáveis e matas de galeria (Adámoli, 1986b). O fator de maior

limitação no desenvolvimento de floresta e originador de savana, no Pantanal norte, é o

excesso de água, resultante da oscilação do lençol freático e inundação prolongada

(Amaral Filho, 1986). Formações florísticas bastante diversificadas com mistura de

espécies e de tipos de outras regiões ocorrem no Pantanal (Conceição e Paula, 1986), o

que se corrobora com a teoria dos refúgios (Ab’Saber, 1988).

A cobertura de fitomassa, proporcionada pela vegetação original dos terrenos da

faixa de bordadura do Pantanal, pode funcionar como uma estrutura de defesa natural

contra a erosão do solo (Castro, 1987). Entretanto, quando da substituição da cobertura

original da superfície do solo pela incorporação agrícola dessas áreas, a fitomassa viva

de culturas, como de algodão herbáceo, tem se mostrado pouco eficaz contra processos

erosivos (Castro, 1987).

O Pantanal, inserido em terras planas e baixas da bacia do rio Paraguai,

constitui um ambiente extremamente dependente da dinâmica hídrica regional atuante.

O rio Paraguai tem uma declividade fraca ao longo de seu curso abaixo de

Cáceres, indo de 6,3 cm/km e decrescendo na confluência do rio Apa até 1 cm/km

(Carvalho, 1986). As cheias dos rios, na região de Cáceres, são crescentes entre janeiro

e março. Por ocasião das enchentes, o rio Paraguai comporta-se como uma larga faixa

de água que escoa, lentamente, rumo ao sul, demorando até seis meses para sair de

território brasileiro. Durante as cheias, as águas de inundação veiculam material

erodido, vindo, principalmente, das bacias agricultadas dos afluentes do norte, e

espalham sedimentos no Pantanal, incluindo grande quantidade de matéria orgânica.

O Pantanal está submetido a variabilidades climáticas interanual (alternância

de estações chuvosa e de seca, no período anual) e plurianual (alternância de ciclos de

anos muitos chuvosos ou relativamente secos) (Adámoli, 1986a).

No trecho de bordadura do Pantanal correspondente à área do presente estudo, o

tipo climático, baseado na classificação de Köppen, é o Awi (Savanas tropicais com

verão úmido e inverno seco), ou seja, clima tropical chuvoso, em que a temperatura

média do mês menos quente está acima de 18ºC (A), com índice pluviométrico anual

relativamente elevado, mas com uma nítida estação seca (w), entretanto, com oscilação

anual de temperatura inferior a 5ºC (i) (Pires Filho, 1982).

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O Pantanal é uma região relativamente plana (inclinação de leste para oeste de

25 cm/km e, menor ainda, de norte para sul, com quase 2 cm/km, perto do rio Paraguai),

de terras baixas que chegam a ter altitudes inferiores a 80 m, embora a parte alta da bacia

de formação tenha altitudes superiores a 200 m (Carvalho, 1986).

Em geral, as altitudes na faixa de bordadura do Pantanal situam-se entre 120 m

e 190 m (Pires Filho, 1982)

As atividades antrópicas no Pantanal e em sua bordadura variam de acordo com

a elevação das altitudes e diversificam-se na medida em que criam ações adequadas ao

seu desenvolvimento.

A planície pantaneira está formada por áreas de campos de pastagens naturais,

áreas ocupadas por invasoras e áreas florestadas, estas últimas, geralmente presentes em

posições livres da inundação anual (Cunha et al., 1995). A principal atividade na planície

inundável do Pantanal é a criação de bovinos alicerçada, predominantemente, em

pastagens naturais. A agricultura não prospera dentro da planície, embora algumas

tentativas de sua introdução já tenham sido realizadas. A atividade agropecuária, nos

moldes em que vem sendo desenvolvida dentro do Pantanal, provavelmente, seja pouco

impactante (Cunha et al., 1995) .

Na faixa de bordadura noroeste do Pantanal, nas décadas de 1980-1990, houve a

predominância de pastagem e atividades agrícolas (milho, feijão, arroz, mandioca,

quiabo e cana-de-açúcar) (Pires Filho, 1982). Em alguns trechos da bordadura do

Pantanal, como na área do presente estudo, a vegetação primária passou a ser removida

progressivamente nas últimas duas décadas (1970-1990), permanecendo, atualmente,

algo em torno dos 20% de reserva legal exigidos oficialmente. Entretanto, a pressão

sociopolítica dos movimentos para a reforma agrária aceleraram o desmatamento de

vegetação primária remanescente, adentrando em reservas legais, inclusive em áreas

situadas nas margens do Pantanal (Rieder, 1995).

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MATERIAL E MÉTODOS

Todas as coisas deste lugar

já estão comprometidas

com aves.

Os dados e informações deste trabalho foram coletados por pós-graduandos do

curso de Especialização em Educação Ambiental para conservação do Pantanal

oferecido pelo Departamento de Ciências Biológicas, Instituto de Ciências Naturais e

Tecnológicas da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), Campus de

Cáceres, MT. Cada aluno desse curso entrevistou uma pessoa da comunidade regional

que possuía alguma relação estreita com o Pantanal, e foram obtidos os seguintes tipos

de informantes: pantaneiros (fazendeiros do Pantanal), trabalhadores no Pantanal (peão-

boiadeiros, braçais, domésticas etc.), moradores ribeirinhos, guias turísticos, pilotos,

navegadores ou comandantes de barcos, pescadores. Ao total estão considerados nesse

trabalho 29 entrevistados.

As entrevistas foram com base num guia semi-aberto em que o informante

pudesse manifestar livremente seu ponto de vista sobre o Pantanal e preservação desse

ambiente.

Os dados e informações foram coletados no município de Cáceres referente à

sub-região do Alto Pantanal no mês de agosto e setembro de 2000. O conteúdo reunido

foi apresentado em relatório redigido por “por cada” aluno do curso referido. A partir

dos dados constantes nesses relatórios, foi efetuada a sistematização das informações,

categorizando-as por tipo de informante e por temática abordada. Assim, a estrutura do

trabalho está desenvolvida por temática abordada e destacada a visão de cada categoria

de entrevistado.

As categorias de entrevistados, para efeito de sua identificação no

desenvolvimento do texto, estão codificadas na(s) frase(s) por eles expressadas,

conforme seguem:

a) AFi: agrônomo e fazendeiro;

b) Boi: boiadeiro no Pantantal;

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c) Cei: capitão de embarcação;

d) ExPei: ex-pescador(a);

e) Gti: guia turístico;

f) MPi: moradora no Pantanal

g) Nai: navegador;

h) PA: presidente de Associação de Pescadores;

i) Pei: pescador(a)

j) Pi : pantaneiro(a);

l) Pii: piloto de embarcação;

m) Pisi: piscicultor;

n) Rii: morador ribeirinho;

o) Tpi: trabalhador no Pantanal;

p) Pi/Gti: pantaneiro e guia turístico (mesma pessoa);

q) Pi/Pisi/PA/Gti: pantaneiro, piscicultor, presidente da Associação de

Pescadores e guia turístico (mesma pessoa);

O trabalho apresenta significados e percepções de pessoas relacionadas com o

Pantanal sobre esse ambiente, orientando e subsidiando discussões, auxiliando

definições e redefinições de políticas de desenvolvimento sustentado dessa região e

estimulando estudos de aprofundamento.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No uso de cantos e recontos

o pantaneiro encontra o seu ser.

Aqui ele alcança a altura das manhãs

e os cinzentos do entardecer.

Os resultados deste estudo estão apresentados em subdivisão temática, em que

as opiniões e percepções estão indicadas por categorias de atores, a fim de que se possa

contrastá-las.

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Acesso ao Pantanal

Um pantaneiro (Pi) comenta sobre as estradas do Pantanal, expressando o que

segue: “Não existem estradas no Pantanal. O que se encontra são trilhas. Tanto no

período das secas como das chuvas o carro atola na areia ou na lama. Já consumiu-se

oito horas para percorrer cem quilômetros. Existem fazendas no Pantanal cujo acesso no

período chuvoso só é possível por avião”. Souza (1986) também faz menção a

estradas precárias e trilhas insípidas, afirmando que, na relação com o ambiente externo

ao Pantanal, os fluxos de transporte e movimentação só começaram a melhorar com o

terminal hidroferroviário de Ladário, MS. Em um simpósio sobre o Pantanal, está

recomendada a dotação da área pantaneira de um sistema rodoviário condizente com as

peculiaridades da região (Simpósio, 1986).

O meio biofísico do PantanalUma palmeira coberta de abandono

é como um homem

de escura solidão

As manifestações sobre o meio biofísico abordam vários aspectos, como: “A

parte alta do Pantanal está se alterando. Nesta parte, em áreas preservadas, encontram-se

árvores de valor comercial, tais como ipês (Tabebuia sp.), Loro Preto (Cordia sp.) e

Aroeira (Astronium urundeuva)”, (Tpi).

“Em outros tempos encontrava-se neste ambiente uma riqueza de madeiras como

mogno (Swietenia mahogoni )”, (Tpi). “Nos locais altos ou cordilheiras os animais se

abrigam no período das chuvas ou cheias. Na parte baixa há presença de grande número

de animais. É área do Pantanal que se mantém conservada, inundada nas cheias e,

abriga vegetação rasteira, tal como capim nativo”, (Tpi).

Com relação às cheias, há citação que: “o período está se antecipando e

encurtando (enchendo e esvaziando cada vez mais rápido)”, (Tpi). “As estiagens estão se

prolongando a cada ano e, assim os períodos chuvosos ficam cada vez mais escassos.

Além disso a distribuição das chuvas está se tornando cada vez mais irregular e, já não

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se sabe mais com precisão quando iniciam e terminam as estações do ano”, (AFi).

Entretanto, há relatos divergentes sobre essa dinâmica climático-hídrica, como: “desde

1974 observa-se que o volume das águas do rio Paraguai está aumentando a cada ano

que passa. Antes tinha-se quatro meses de chuvas e oito de estiagens. A tendência atual

sinaliza para a inversão esta distribuição”, (Pi).

Nos depoimentos desses diferentes atores, verifica-se a apresentação de pontos

de vista discordantes ou contraditórios quanto a suas observações ou leituras do meio

biofísico, em especial no que se refere aos aspectos hídricos atuantes nesta bacia nos

últimos anos. Vários autores tratam da dinâmica do clima (Tarifa, 1986 e Alfonsi e

Camargo, 1986) e de recursos hídricos do Pantanal (Carvalho, 1986 e Adámoli, 1986).

Os quais permitem concluir que o clima e a hidrologia funcionam como um processo

dinâmico no tempo e no espaço. Pode-se perceber que o homem que vive no Pantanal,

tanto quanto o estudioso desse ambiente, tem opiniões semelhantes apenas a respeito de

alguns aspectos dessa bacia. Entretanto, esses estudos e essas experiências de

observação ainda não foram suficientes para formular questões mais consistentes acerca

dessa temática referente ao Pantanal.

Valor do Pantanal

Ao Pantanal são atribuídos valores tanto para os componentes que dali se

extraem para atender as necessidades básicas do homem como também para os

constituintes paisagísticos e formadores da beleza cênica.

Os depoimentos são variados, como: “o rio Paraguai dá o sustento para a vida de

sua família. O rio representa tudo, a vida, a diversão, o sonho: é do rio que sobrevive

toda família”, (Pi e Pei).

Com relação à pecuária no Pantanal, “este ambiente permite ter uma pecuária a

custo pequeno e com animais sem peste, nem carrapato e berne. Assim gasta-se pouco

com medicamentos. Ainda há muito pasto nativo o que também contribui para haver

criação de gado sadio no Pantanal”, (Pi).

Já uma abordagem referenciando a beleza cênica e um certo grau de

romantismo valoriza o Pantanal como: “um paraíso para a vida, onde se dá a fusão ou se

confunde suor e lágrimas, labuta e prazer. Trata-se da veia aorta que alimenta o seu

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mundo. É uma mãe-natureza, um ecossistema transformador, local para econautas. É

vida. O Pantanal é para todos e para a eternidade”, (Pi). “O Pantanal é uma beleza

natural, mas precisam ser tomadas medidas urgentes para que isto não seja perdido”,

(Pi). Há os que declaram que: “amam a sua fazenda pois custou caro para tê-la, além

disso consideram o lugar lindo e que teriam nascido para cuidar desta terra”, (Pi).

O Pantanal também foi ou é considerado como um lugar para fixar residência e

para obter trabalho e renda. Assim, esse ambiente aparece descrito como: “ao ser

preservado significa ter moradia, trabalho, condições para se viver de maneira digna e

não ter que ir para a cidade e ficar lá desempregado”, (Tpi).

A essa região são atribuídos importantes efeitos socioeconômicos à população

influenciada no passado e, também, prováveis impactos futuros ao desenvolvimento

regional. Têm-se manifestações, neste sentido, como: “no passado o Pantanal jamais

permitiu miséria pelos alimentos que nele foram buscados. Foi a riqueza de Cáceres com

a criação de gado, extração de couro de animais silvestres e a pesca. Para o futuro vê o

impacto do turismo demarcando uma nova fase e tipo de desenvolvimento”, (Pi/Pis/PA/

Gti).

Há atribuição de valor ao Pantanal também com relação a riquezas naturais que

já foram extraídas, conforme segue: “no passado, o Pantanal era rico em mogno e outras

madeiras de lei, mas hoje resta quase nada devido a derrubadas, queimadas e comércio

de madeiras. É necessário maior fiscalização (por parte do governo) para evitar

continuidade destes problemas” (Tpi).

Em geral, as manifestações revelam que o Pantanal tem sentido para desenvolver

atividade econômica (pecuária, pesca, turismo), para ser apreciado como beleza natural e

para oferecer fixação e sustentação aos que lá vivem. Essa beleza também é destacada

por estudiosos como Souza (1986). Os entrevistados percebem, na rica variedade

faunística e florística e na combinação disso com o meio físico da região, um conceito

de beleza altamente vinculado à tranqüilidade para se viver.

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Metamorfose no Pantanal

As transformações no Pantanal são manifestadas sob vários aspectos, tais como a

tranqüilidade nas pescarias, o que pode ser verificado no seguinte relato: “sente-se

saudade da época em que o Pantanal era calmo. Conseguia-se pescar sem problemas,

barcos pequenos não perturbavam. Hoje há barcaças grandes e barcos velozes

circulando e perturbando bastante a vida dos pescadores”, (Pei).

Outros citam transformações derivadas da navegação, e descrevem que: “o rio

Paraguai está se acabando devido ao estrago provocado por grandes embarcações. Tais

danos são desbarrancamento, derrubada de árvores e eliminação de ilhas de vegetação”,

(Cei).

Pescador(Pei), navegador(Nai), piloto(Pii), capitão de embarcação(Cei),

pantaneiros(Pi), ribeirinho(Ri), guia turístico(Gti) observam que a quantidade de peixes

nos rios do Pantanal está diminuindo, o que está restringindo o volume de pescado.

Enumeram várias razões relacionadas com a degradação e poluição ambiental,

intensificação da ação do homem no Pantanal, principalmente pelo crescimento do fluxo

de pessoas externas e descomprometidas com o Pantanal, e falta de aplicação de medidas

adequadas e eficazes para manutenção de equilíbrio ou sustentabilidade desse

ecossistema.

Transformações em relação ao estoque de pescado em certos trechos dos rios

aparecem evidenciadas no seguinte relato: “hoje não é mais tão bom como antes (dez e

quinze). Antigamente era só descer o rio Paraguai e, em meia hora trazia-se bastante

peixe, uns cinco ou seis pacus grandes. Hoje coloca-se a isca no anzol, joga-se comida

para peixes (milho, soja etc.) e o peixe não aparece. Precisa-se de barco com motor para

descer, mais ou menos, por 5 horas, o rio para conseguir algum peixe”, (Pi).

Quanto a transformações sofridas pelos recursos faunísticos e florísticos, há um

relato a seguir, apontando perdas progressivas dessas riquezas naturais: “perto de casa

havia uma baía com uma área de mata. Quando alguém ficava doente, lá pegavam-se

ervas medicinais, pescava-se e, tinha bastante bichos (jacarés, capivaras e onças) e

árvores frutíferas para alimentar os peixes. Hoje acabou tudo. O trator passou na área,

eliminou tudo e cercaram o terreno com um muro. Isso hoje é perto da cidade.

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Atualmente, a noite, já por várias vezes lá alojam-se gangues mexendo com porcaria,

arriscando a vida da vizinhança”, (Pi).

Em geral os manifestantes apresentam predominância de menções de um

Pantanal do passado melhor do que o de hoje, e preocupados com o futuro. Por isso

sugerem medidas corretivas e preventivas para evitar a degradação progressiva desse

ambiente. A ameaça ao Pantanal também é enfaticamente apresentada e discutida por

Mittermeier et al., (s/d), que acreditam que caso não sejam estabelecidas políticas

públicas e realizado um intenso trabalho de conscientização do homem sobre o Pantanal,

essa extraordinária parte da terra - e das águas – está condenada à degradação

progressiva.

Desmatamento no Pantanal

Beleza e glória das coisas o

olho que põe.

Sabedoria pode ser que seja

estar uma árvore.

Embora a expansão agrícola no Centro-Oeste e Noroeste brasileiro, nas últimas

décadas, tenha se direcionada para desbravar terras altas, nos depoimentos há menção de

ocorrerem ainda desmatamentos no Pantanal, (Pi e Ex-Pei).

Com relação ao desmatamento nessa região, encontram-se as seguintes menções:

“alguns fazendeiros desmatam tudo. Removem a vegetação nativa para implantação de

pastagens artificiais, o que implicará em arrependimento futuro, tendo como uma

conseqüência a degradação das terras, pela insuficiência de proteção do solo. Pois a

pastagem artificial não protege o solo tão bem quanto a vegetação nativa”, (Boi).

“Devem ser evitadas as derrubadas da vegetação nativa como forma eficaz para

preservar o Pantanal”, (Tpi).

“Derrubadas contribuíram para reduzir a riqueza em mogno e outras madeiras no

Pantanal, devendo ocorrer maior fiscalização (por parte do governo) para evitar estas

remoções”, (Tpi).

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“O rio vem sofrendo assoreamento, o que é conseqüência da derrubada de matas

ciliares. Portanto, devem ser evitadas as derrubadas”,(Pi, Tpi).

“Em algumas áreas do Pantanal há a remoção da vegetação nativa para plantação

de pastagens, o que extingue ecossistemas”, (AFi).

“Também ocorre derrubada de árvores pela raspagem de barcaças nas margens

dos rios. Esse desbarrancamento aumenta as margens dos rios. Como medida a ser

aplicada para evitar os desmates, um pescador recomenda maior fiscalização aos

fazendeiros e proprietários de terras às margens de rios”, (2Pei).

Existe também uma denúncia que áreas estariam sendo desmatadas para

monoculturas, conforme segue: “agricultores com terras nas margens de rios estão

destruindo todo o Pantanal, de várias maneiras, entre as quais através do desmatamento

da mata ciliar destinando estas áreas para monocultivos”, (Pei). Essa afirmativa é

preocupante, precisa ser melhor investigada. Entretanto, é mais provável que deva ser

um problema mais localizado, e não tão abrangente como está dito.

Efeitos sobre a biodinâmica no Pantanal são associados aos desmates ocorridos.

Interpretações de entrevistados, neste sentido, têm-se como: “nos últimos anos estão

ocorrendo mudanças no Pantanal, como diminuição da densidade populacional de aves,

mamíferos e peixes, o que pode ser conseqüência também do desmatamento.

Recomenda a aplicação de medidas de conscientização e punitivas mais rígidas”, (Pei).

Observando a retirada da vegetação das margens de rios, um pantaneiro

recomenda, como medida: “a conscientização da população, mostrar a importância da

recomposição da mata ciliar”, (Pi).

Com relação a alterações induzidas na biodinâmica pela retirada de mata, há um

relato interessante, conforme segue: ”havia uma baía com uma área de mata, perto da

residência onde pescava-se bastante e lá havia várias espécies de animais (jacarés,

lontras, capivaras) e de árvores frutíferas que serviam de alimento para as pessoas e para

os peixes. Hoje isto não existe mais”, (Pi).

“Para intervir no processo de degradação do Pantanal, como extinção de suas

matas deve haver rigorosa fiscalização”, (Pi).

Entretanto, há relatos que não confirmam haver índices preocupantes de

desmatamento dentro do Pantanal. Assim, tem-se a seguinte menção: “No Pantanal

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quase não ocorre desmatamento, pois os fazendeiros utilizam áreas de pastagens

nativas, cujas gramíneas estão adaptadas às estações de cheias e das secas”,(Pi).

A conscientização tem sido apresentada como indicativo mais forte, pelos

manifestantes, para minimizar o problema do desmatamento. O assunto vem sendo

debatido desde o 1º Simpósio sobre Recursos Naturais e Sócio-Econômicos do Pantanal

(Simpósio, 1986) como por outros atores Mittermeier et al., (s/d), cujas principais

conclusões apontam para questões de ordem social e econômica que são muito mais

profundas do que em geral querem fazer crer as abordagens comumente veiculadas e

popularizadas, como é o caso do discurso da “conscientização”.

Assoreamento nos rios do PantanalAnhumas conduzem

presságios

nos seus cantos roucos.

Com relação ao assoreamento de rios que fluem para o Pantanal, entrevistados

efetuaram algumas considerações, tais como: “O rio Paraguai vem sofrendo progressivo

assoreamento, conseqüente da derrubada de matas ciliares. Medidas que evitem as

derrubadas de vegetação ciliar devem ser adotadas”, (Pi e Tpi). “De fato, o rio Paraguai

está sendo assoreado. O rio pede socorro, sendo necessário conscientização e punição

com mais rigidez para resolver a questão”, (Pei e ExPei).

A fragilização das margens ou das barrancas dos rios contribui para o processo

de assoreamento. Assim citam que: “as margens de rios estão sendo arrebentadas por

barcaças que transportam soja, e com isso o Pantanal está sendo destruído. O processo

de erosão e assoreamento pode ter concorrido (nos últimos anos) com mudanças no

Pantanal, tal como diminuição da população de aves, mamíferos e peixes”, (Pei).

“A queda de barrancos às margens de rios é provocada pelas ondas produzidas

pelos barcos. Assim o rio está ficando mais largo e raso, razão pela qual se posicionam

contra a implementação da hidrovia”, (Pei).

“Os desmatamentos das margens facilita o desbarrancamento e aumento das

margens dos rios”, (Pei). Assim, “o assoreamento dos rios é decorrente do desmatamento

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das margens dos rios, e especulam que este desmate pode também ser um dos motivos

do prolongamento do período das secas nos últimos anos”, (Tpi).

Recomendam “maior fiscalização aos fazendeiros e proprietários de terras

situadas às margens de rios”, (Pei).

Esse processo erosivo e o conseqüente assoreamento podem estar afetando os

peixes dos rios. Mencionam que “ rios do Pantanal e seus peixes vêm sofrendo

transtornos, pois a erosão fica facilitada pelas árvores derrubadas às margens dos rios

pelas grandes barcaças”(Pi).

Entre as causas do progressivo processo erosivo que conduz ao assoreamento dos

rios, é citado que: “a degradação das terras á acelerada pela insuficiência de proteção

do solo, quando efetuam substituição de pastos nativos por cultivados. Enquanto as

gramíneas nativas estão adaptadas ao ambiente do pantanal, protegendo-o melhor”,

(Boi).

O problema do assoreamento de rios também tem sido apresentado como uma

ameaça externa ao Pantanal por Mittermeier et al., (s/d). Seus estudos apontam a

intensificação da ação antrópica a montante das bordas do Pantanal como o principal

motivo provocador da incrementação do processo de assoreamento, por causa dos

desmatamentos e queimadas da floresta na Bacia, até nas nascentes dos rios que, depois,

alcançam o Pantanal.

Poluição no Pantanal

Com relação à poluição do Pantanal, os manifestantes demonstram preocupação,

esboçando vários enfoques, tais como:

“Há poluição no Pantanal. Esta tem se evidenciado nos últimos anos”, (Pei e

ExPei). “A diminuição de peixes pode estar também associada à poluição deste

ambiente”, (Pei). “Estes opinantes recomendam a conscientização e punição com maior

rigidez e, mencionam que o rio e outros recursos naturais pedem socorro”, (Pei e ExPei).

Indicam vários poluentes, inclusive “ cinzas das áreas de queimadas transferidas

para as águas do Pantanal”, (Pei). Alguns relacionam morte de peixes com tais cinzas

nas águas, mas um pescador “não acredita que o processo de eutrofização derivado das

cinzas possa causar morte de peixes”, (Pei).

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“Turistas contribuem com a poluição crescente o que pode ser causa de morte

de peixes no Pantanal”, (Pei).

“Pelo uso de agrotóxicos, o homem está destruindo todo o Pantanal também,

observa um pescador”, (Pei). Mas há os que acreditam que “o agricultor, por usar poucos

pesticidas, não polui o Pantanal. É afirmado, porém que os garimpeiros sim

contaminam o rio e matam peixes com o mercúrio usado” ,(Pei).

Há a menção que os peixes podem atuar como despoluentes dos rios, tal como:

“os peixes roem os resíduos não-plásticos jogados no rio, mas estes animais não

conseguem fazer o mesmo com os lixos de plásticos”, (Pei). Assim, “os peixes ajudam a

limpar o Pantanal da poluição”, (Pi).

Com relação à poluição por esgotos mencionam que: “a diminuição de aves,

mamíferos e peixes pode estar associada ao lançamento de esgoto no Pantanal”, (Pei).

Porque “há lançamento destes próximo ao frigorífico, cuja descarga contamina o rio”,

(Pi). “Sem nenhum tratamento prévio, um frigorífico lança no rio água podre, poluindo

as águas”, (Rii). Entretanto, há quem acredite que “os resíduos de esgoto também não

contaminam o ambiente pois isto desaparece na terra”, (Pei). Outros materiais poluentes

acrescentam-se ao esgoto, conforme citam: “Provocam também grande poluição no

Pantanal, o lançamento de esgotos, lixos, dejetos e outros materiais”, (Pei e ExPei). “As

grandes barcaças e os barcos a motor estão contaminando o rio Paraguai, lançando óleo

e lixos tais como garrafas, plásticos, latinhas e outros materiais”, (Pi).

Com referência ao lançamento de óleo no Pantanal, “um ribeirinho cita que a

diminuição de peixes pode também estar associada à poluição provocada por chalanas e

barcos que jogam muito óleo e espantam os peixes”,(Rii).

A poluição no Pantanal e o risco de aumento da mesma também vêm sendo

discutidos por vários autores (Rieder, 1999; Resende et al., 1994; Ab’Saber, 1988;

Simpósio, 1986; Mittermeier et al., s./d.) como algo que deva merecer atenção especial e

aplicação de medidas minimizadoras de sua ocorrência e efeitos. Segundo esses autores,

os principais efeitos são advindos dos componentes tóxicos presentes nos produtos

poluentes, ou dos derivados tóxicos resultantes dos processos de transformação,

metabolização ou decomposição desses produtos, inclusive a eutrofização e a

desoxigenação do ambiente aquático. Mais uma vez pode-se observar a confluência

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entre a constatação feita pelos moradores com os estudos realizados por pesquisadores

preocupados com o problema.

Manifestações sobre a hidrovia “rio Paraguai”

As menções que fazem referência à hidrovia abordam aspectos relacionados

com o alargamento do leito do rio, a profundidade das águas e os danos causados por

embarcações e por intervenções inadequadas no ambiente, tais como: “Existem

fazendeiros que agem apenas em benefício próprio ao represarem águas de afluentes do

rio Paraguai. Recomendo punição aos que represam águas de afluentes”, (Pi).

“Surgem boatos sobre estragos feitos pelas barcaças. Acho um absurdo isto

acontecer. O rio é muito raso de uns tempos para cá, para suportar uma hidrovia”, (Pi).

“ O rio vem sofrendo assoreamento devido a derrubada de matas ciliares, o que

deve ser evitado”, (Pi e Tpi).

“Os barcos muito potentes produzem ondas que fazem os barrancos das margens

dos rios caírem progressivamente”, (Pii).

“O rio está ficando mais largo e raso como conseqüência da queda de barrancos

provocada pelas ondas induzidas pelo movimento dos barcos”. Descreve que o rio

Paraguai é “estreito e as barcaças são enormes, batem nos barrancos, derrubam árvores

e, assim retiram mata ciliar”. Historiza que “no passado (20 anos) havia poucos barcos

em Cáceres. Mas hoje o porto está cheio de barcos com motores potentes”,(Pei).

No momento, um tema bastante discutido e polemizado, principalmente por

iniciativa de algumas Organizações não-governamentais (ONGs), está sendo a hidrovia

“Paraguai-Paraná”. Recentemente (setembro/outubro-2000), a representante do

Ministério Público de Cáceres convocou publicamente a UNEMAT e outras

instituições para se posicionarem diante da implantação do Porto de Morrinhos hidrovia.

Defendida como alavanca para o desenvolvimento do Estado, a hidrovia já teve

versões anteriores. Todas coincidem na particular visão de que Mato Grosso precisa

crescer e para tanto deve utilizar de todas as suas potências naturais para desenvolver sua

economia. O que preocupa os estudiosos da área, que têm sido um grão de areia de

resistência à empolgação das autoridades políticas, é a ausência de uma política mais

clara e sustentável para esse desenvolvimento. As discussões sobre impactos

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conseqüentes da reativação dessa hidrovia precisam considerar não apenas a faceta dos

riscos estimados diante de situações extremas, mas principalmente, identificar maneiras

de minimizar esses riscos sem prejudicar o desenvolvimento e da importância dessa via

para propiciar a melhoria das condições de vida regional. O desafio está para a

inteligência humana. O homem deve ser capaz de se integrar no ambiente de forma

sustentável. Portanto, ao utilizar um recurso deve saber fazê-lo de modo a não degradar

o meio. As discussões sobre impacto de vias utilizadas pelo homem devem estender-se

também a rodovias, aerovias, ferrovias etc. Recomendações resultantes de simpósios

sobre questões do Pantanal, já na década de 1980, recomendavam, como uma das

prioridades, a melhoria do sistema de transporte fluvial para o atendimento da zona

rural, evitando-se a rodovia sempre que possível (Simpósio, 1986).

Turismo no Pantanal

O turismo no Pantanal apresenta-se como uma alternativa que possa ajudar

substancialmente o desenvolvimento da população regional. Entretanto, é percebido e

acompanhado com algumas preocupações. As manifestações dos entrevistados

expressam este mesclado de otimismo com questões a resolver, tais como: “não existe

lugar turístico melhor que o Pantanal”, (Pi). “É uma beleza natural, mas medidas

urgentes precisam ser tomadas para não se perder esta riqueza” , (Pi).

Um pescador (Pei) afirma que os turistas vindos do Rio de Janeiro, Minas Gerais,

Goiás e Brasília, com os quais teve contato, não demonstraram preocupação com a

preservação do rio Paraguai; contribuíram para degradar o ambiente jogando no rio latas,

garrafas, papel, copos descartáveis. “Não dão lucro para a cidade e região, pois trazem

consigo linhadas, bebidas e todo material de pesca. Tudo é comprado fora, não juntam o

lixo deles e levam os peixes. Medidas eficazes precisam ser tomadas, tais como: a

fiscalização verificar a existência de armadilhas (covo); multar por atos

destrutivos/danosos ao Pantanal; obrigá-los a juntar o lixo e orientar para que o levem

para a cidade; assumir uma fiscalização mais coerente que verifique, inclusive nos

barcos e barracas, o uso obrigatório de sacos de lixo; implantar ou estimular a

implantação de vários ‘pesque e pague’ como solução. Com isto haveria certeza para o

turista encontrar peixes”,(Pei). Com tais observações, fica evidenciada a necessidade da

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implantação de uma política ambiental mais objetiva e eficaz, baseada em orientações,

fiscalização e multas.

“Está evidente o crescimento no número de turistas adentrando no Pantanal e

praticando a pesca de diversão sem se importarem com ele. Deixam latas vazias,

plásticos, papel e outros lixos jogados e que poluem o ambiente, o rio, o que também

podem matar os peixes”, (Pei).

“O turista não vem apenas para olhar ou ver o Pantanal mas para conhecê-lo.

Entretanto, alerta-se que o Pantanal está acabando. Isto acontece também devido aos

grandes empresários com suas majestosas pousadas fazendo do Pantanal o seu pão de

cada dia atraindo turistas. Assim os turistas passam a usufruir estas pousadas além de

conhecer o Pantanal”, (Pei).

“Não haverá turista em Cáceres se não houver peixe nos rios. Os turistas querem

levar bastante peixe para suas casas. Ao acompanhar (Pii e Gti), os turistas observa-se

que pescam mais de cem quilos e levam tudo, em cada vinda. Quando há mau tempo

cancelam vindas, pois desconfiam que não vão pegar grande quantidade de pescado

(como aconteceu na semana passada – relata o guia). Como medidas, recomenda-se:

devolver mais peixes ao rio seria a solução. Deveria a FEMA converter o dinheiro das

carteirinhas em alevinos devolvidos ao rio para repovoá-lo; e o turista ser obrigado a

pagar e soltar alevinos no rio”, (Pii e Gti).

A retirada de grande volume de peixes dos rios pelos turistas é ratificado por

outros entrevistados, tal como: “levam quilos e mais quilos de peixes. E os turistas,

ainda, por onde passam deixam seus vestígios, ou seja, muito lixo. Alguns turistas não

têm consciência da necessidade de preservação da vida no Pantanal. É necessária ação

conscientizadora”,(Cei).

Embora o turismo apareça fortemente citado pelos entrevistados, as

manifestações também evidenciam a sua insatisfação com a forma da prática turística,

seus objetivos e conseqüências negativas para o ambiente e economia regional. Em

Corumbá, MS, discussões sobre turismo ocorridas em 1984 foram mais no sentido de

indicá-lo como uma atividade potencial e não, propriamente, como um problema

instalado (Simpósio, 1986 e Mittermeier et al., s./d.)

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Reclames das autoridades

Os entrevistados expressam vários descontentamentos e cobram ações mais

eficazes das autoridades a respeito do Pantanal: “O Pantanal está muito abandonado”,

segundo uma moradora (MPi) nesse ambiente. Ela se declara analfabeta e cita que seu

marido foi peão na Fazenda Descalvados, onde passaram parte da vida criando os filhos.

Menciona que há descaso dos órgãos responsáveis (FEMA, IBAMA), os quais deveriam

ter mais cuidado com o Pantanal, pois têm como atribuição cuidar bem do meio

ambiente. Cita que hoje tem pouca gente trabalhando no Pantanal, por falta de trabalho

ou de emprego lá. “Quem trabalhava e morava lá teve que ir para a cidade. Hoje só se

observam turistas. Deveriam ser criadas novas oportunidades de trabalhar no Pantanal”,

(MPi).

“Lamenta-se que o governo não financia atividades alternativas no Pantanal”,

(Pi).

"A permissão por lei para a realização de festival de pesca no Pantanal é um dos

maiores meios oficiais para agressão aos peixes”,(Pei).

”Há um número insuficiente de guardas florestais para atuarem eficazmente nas

épocas de caça e pesca proibida. Esta deficiência contribui para a matança e extinção de

muitos animais. É necessário, então, aumentar o número de guardas florestais e proibir a

entrada de pessoas em época não recomendada para caça e pesca”, (Pi). “Tanto fala-se

em fiscalização mas quase nada acontece ou se altera na realidade”,(Pi). “Os agentes da

fiscalização só autuam os pobres e os barcos pequenos, enquanto os ricos ficam imunes

à fiscalização. Para haver preservação do Pantanal precisa haver um compromisso mais

sério das autoridades: mais fiscalização e mais imparcialidade”, (Pei). “O Pantanal

poderá sobreviver ou se transformar em ambiente estéril, sem vida. Isto depende das

autoridades serem sérias e responsáveis ou não, (Pei). “Há suspeita que agentes da

própria polícia florestal caçam no Pantanal”, (Tpi).Portanto, precisa-se preparar melhor

as autoridades que tratam da questão ambiental”, (Pei).

Entretanto, o Festival Internacional de Pesca em si não é devastador. Sua

interferência nessa natureza diz respeito à peculiar forma como o Pantanal é divulgado, a

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imagem que se vende dele e a associação desse ambiente a um lugar paradisíaco,

sagrado e primitivo.

Sobre essa visão romântica do ambiente pantaneiro, a lei não se pronuncia, mas

os estudiosos acreditam que as pessoas vêm atraídas pela promessa de paz que o

Pantanal abriga na sua longa extensão através da região central do Brasil.

Pecuária no Pantanal

Com referência à criação de gado no Pantanal, os manifestantes expressam,

predominantemente, a percepção de que se trata de uma atividade em equilíbrio com

aquele ambiente. Têm-se as declarações a seguir: “A pecuária extensiva está adaptada

ou compatível com as condições naturais do Pantanal. Por exemplo, a pisada da pata do

gado beneficia o solo. Utilizam-se e respeitam-se as espécies naturais, como pasto

nativo, pois este conjunto de espécies vegetais estão adaptado. Por isso, não se efetua

plantio de espécies de gramíneas exóticas. Mas, há perda de gado por ataque de onças, as

quais o fazem devido a diminuição de animais silvestres alvos das mesmas”, (Pi).

“Os fazendeiros do Pantanal fazem reforma agrária natural, pois ocorre um

processo continuado de divisão das terras entre os herdeiros. Vive-se como pobre e

morre-se como rico. Na televisão é anunciado como se o Pantanal fosse do mundo

inteiro mas, em contrapartida, não há incentivo para que os pantaneiros consigam ficar

no Pantanal. Apoio do governo só houve em época de grandes cheias. Não para retirar o

gado da parte alagada mas para comprar e levar para áreas de terras altas, o gado, por

preço menor que o de mercado. O fazendeiro do Pantanal precisa ter muita terra para

poder manejar (retirar) o gado nas cheias, levando-o para as cordilheiras. A pecuária no

Pantanal tem custo baixo pois não há peste, carrapato e berne. Isto evita gastos com

medicamentos. A criação também é sadia por ter bastante pasto nativo”, (Pi).

“No Pantanal, só dá certo a criação já adaptada. Por isso o gado exótico e a

pecuária intensiva não prosperam. Esta condição ajuda a preservar e recuperar o

Pantanal”, (Boi).

Um trabalhador do Pantanal (Tpi) observa que nos últimos anos as condições

ambientais locais mudaram prejudicando a criação. Cita (Tpi) as secas prolongadas que

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podem estar relacionadas com os desmatamentos das margens dos rios que, por sua vez,

propiciam o assoreamento dos rios.

Um pescador (Pei) menciona que a maioria dos fazendeiros (pecuaristas do

Pantanal) não se preocupa em preservar o Pantanal e o rio Paraguai.

Há divergências e acusações entre categorias sobre forma de interação do

homem no Pantanal com a atividade pecuária no que se refere ao processo de

degradação desse ambiente.

Trabalhos apresentados no 1º Simpósio sobre Recursos Naturais e Sócio-

Econômicos do Pantanal discutem o papel da pecuária nessa região, inclusive houve

recomendação, naquela ocasião, para que se desenvolvessem estudos que comprovem

as evidências do Pantanal ter como principal vocação a pecuária extensiva (Simpósio,

1986). É citado que a pecuária pantaneira, historicamente, adaptou-se à alternância de

inundações e secas e às demais peculiaridades daquele ambiente. No entanto, as grandes

cheias causam perdas nos rebanhos, que podem ser evitadas. É sugerido ainda o

desenvolvimento de maiores pesquisas que possibilitem a implementação e a

sobrevivência da pecuária pantaneira, integrando o boi e o homem ao ecossistema.

Peixes nas águas do PantanalAqui os peixes contêm os rumores

das folhas e

das águas dormidas.

As percepções (48,2% dos entrevistados) indicam uma tendência de redução do

estoque de peixes nas águas do Pantanal. As manifestações abordam vários aspectos e de

diferentes maneiras, tais como: “Esta diminuição se evidencia para peixes de espécies

nobres nos últimos anos. Isto está associado ao aumento do número de turistas, os quais

levam muitos peixes para fora do Estado e, recomenda que seja intensificada a

fiscalização dos mesmos”, (Pi).

“Atualmente não se consegue mais pescar o suficiente para sustentar a família,

embora no passado isto era possível”, (Pei).

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“O maior predador do Pantanal não é o pescador profissional mais sim os

próprios turistas”, (Pei). “Conhecemos as leis da natureza e sabemos que o Pantanal não

pode ser desrespeitado, pois estaríamos contribuindo para destruição de nossa própria

vida. As leis ambientais precisam ser cumpridas sem favorecer grandes empresas e, não

perseguir pescadores pois são os que menos danos causam ao Pantanal”, (Pei).

“Peixes morrerem devido ao processo da ‘decuada’ e relacionado a Usina Juba I

e II (no rio Sepotuba). O festival de pesca são eventos acobertados pela lei e que

constituem um dos maiores meios de agressão aos peixes. Peixe pego e solto não

sobrevive, em especial o pintado, pois há o deslocamento da coluna no momento que é

fisgado passando, após solto, a ser presa fácil de piranhas. Os barcos velozes causam

ondas que não deixam as canoas de madeira navegarem dificultando, assim, pegar

peixes”, (Pei). Outro pescador(Pei) também corrobora isto, afirmando que “há poucos

peixes por serem afugentados pelos motores potentes dos barcos os quais provocam

intensa movimentação da água”. O pescador anterior (Pei) ainda expressa que: “os ricos

praticam a pesca predatória e não respeitam as medidas permitidas, enquanto a

fiscalização só autua os pobres. As autoridades devem ser mais sérias, efetivando mais

fiscalização e serem imparciais. A predação de alevinos de peixes nobres se dá muito

pela piranha e corimba. O corimba bebe as ovas viajando atrás dos cardumes na época

da desova, enquanto as piranhas atacam os alevinos sobreviventes da ação predatória do

corimba. Por isso, a pesca de piranha e corimba deve ser liberada no período da

piracema”.

“A morte de peixes é decorrente da crescente ação de turistas os quais praticam

a pesca de diversão e poluem o rio com lixos”, (Pei).

“A extinção de peixes no Pantanal significa acabar com o próprio Pantanal.

Todos temos que reprimir a pesca desequilibrada”, (Pei).

Um morador ribeirinho (Rii) relata que: “antigamente pegava-se muito peixe.

Com uma linhada no rio Paraguai se pegava peixes. Hoje é necessário subir o rio

Paraguai por quatro horas até alcançar o rio Sepotuba para pegar alguns peixes. O rio

Paraguai e, conseqüentemente, o Pantanal estão morrendo. Isto pode estar associado à

destruição de vegetação próxima aos rios, como ocorre em chácaras que margeiam os

rios, pois os peixes passam a não ter o que comer. O frigorífico lança água podre sem

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nenhum tratamento anterior. Além disso, as barcaças-chatas desbarrancam as margens;

as chalanas e os barcos jogam muito óleo e espantam os peixes”, (Rii). “Córregos são

desviados para interesses de propriedades privadas”, (Rii e Pei).

Um navegador (Nai) relata que: “Antes da última década, havia muito peixe nos

rios do Pantanal. Pegava-se pintado até na baía dos Malheiros”. Alega que esta

diminuição está relacionada com o aumento da população de jacarés e das piranhas

verificada nos últimos anos e, também, ao excesso de retirada (pesca), inclusive pelos

turistas. Como medidas minimizadoras recomenda: abrir a caça aos jacarés no Pantanal

(pelo menos por dois anos); cobrar do turista a aquisição e soltura (no final do passeio e

pesca no Pantanal) de uma quantia significativa de alevinos ao invés de cobrar a taxa

pela carteirinha; estabelecer que cada proprietário de barco ou lancha de turismo, em

final de temporada, deve soltar uma quantia definida de alevinos no rio; permitir a pesca

de peixes abaixo das medidas atuais e, no caso do pintado, permitir a pesca das

dimensões de 20 a 60 cm de comprimento por dois anos, pelo menos e soltar os com

mais de 85 cm (que seriam as matrizes para a reprodução, pois precisam de mais de

cinco anos para atingir tal tamanho)”.

“Para inverter o quadro atual da redução do estoque anual de peixes vivos nas

águas do Pantanal deve ser prolongado o período de proibição da pesca (Piracema)”,

(Cei).

Entrevistados concordam que medidas eficazes devem ser aplicadas para

resolver a questão da diminuição gradativa de peixes nas águas do Pantanal, tais como:

devolver mais peixes ao rio; a FEMA deve assumir o compromisso de repovoar o rio e

converter o dinheiro das carteirinhas em alevinos devolvidos ao rio; obrigar o turista a

soltar alevinos no rio”, (Pii/Gti)..

“Atualmente, o pescado quase não existe, o que é conseqüência do tipo

inadequado de ação antrópica existente”, (Pi).

“Os pescadores atualmente não conseguem mais viver só dessta atividade. Assim

precisam de outra atividade para complementar a renda familiar necessária ao sustento

da mesma. O ganho do pescador é irrisório mesmo que fique pescando o dia inteiro e

todos os dias. E entre o que mais conseguem pescar encontram-se espécies de pouco

valor de mercado, pois os peixes nobres estão com sua população diminuída. É

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observado ainda que os peixes não crescem mais tanto e, por isso as leis da FEMA não

podem ser mais seguidas. Com este quadro difícil para os pescadores pode aumentar o

risco da classe de pescadores ficar comprometida. Sugere-se a revisão da legislação

pertinente e a mudança de política de governo para com a classe de pescadores,

objetivando valorizá-la mais, umas vez que exercem um papel importante na sociedade”,

(Pi/Pisi/PA/Gti).

“Na fase de piracema encontram-se pessoas pescando com rede, o que está

requerendo uma fiscalização muito mais rigorosa na área”, (Pi).

“Devido à rápida diminuição dos peixes, estima-se que em cinco anos poderá

não haver peixes de importância no Pantanal. Por outro lado, as vezes encontram-se

grupos de pescadores invadindo propriedades ou fazendas no Pantanal. Por isso, exige

uma atitude do governo à preservação do ecossistema local (deveria dar mais dureza a

quem leva nosso peixe)”, (Pi).

Entretanto, há quem acredita que o problema ainda não está tão grave e

manifesta-se a respeito, tal como: “Ainda há bastante peixe no rio Paraguai mas é

necessário preservar para evitar a diminuição do pescado”, (Pei).

“No último período chuvoso um tanque de tambaqui estourou (na Barra da

Cachoeira) adentrando no rio Paraguai. Verificou-se que os peixes reproduziram

normalmente e, até este momento, não foi observada qualquer conseqüência danosa”,

(Pei).

As várias categorias que se manifestam observam, de modo geral, a diminuição

progressiva da disponibilidade de peixes nas águas do Pantanal, comprometendo a

atividade pesqueira e, em conseqüência, o sustento das famílias.

A questão de peixes e o problema de pescado também são apresentados e

discutidos por Mittermeier et al., (s./d.) e Simpósio (1986). Seus estudos apresentam

dados preocupantes com relação aos peixes do Pantanal, e mesmo que alguns suspeitem

que a pesca artesanal e para sustentação dos ribeirinhos a população de peixes no

Pantanal não seja afetada, há indicações que essa ação pode também ser depredadora e

constituir uma ameaça ao ambiente pantaneiro.

Em um simpósio sobre o Pantanal, na década de 1980, já se recomendavam aos

organismos responsáveis, entre outras providências de equacionamento das questões

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relacionadas com peixes no Pantanal, as seguintes, (Simpósio, 1986): controlar a pesca

comercial e o uso de apetrechos predatórios, já classificados como tais pelo INAMB, até

a obtenção de dados que permitiriam avaliar os estoques pesqueiros pantaneiros e sua

capacidade de produção sustentada; incentivar a piscicultura como forma de diminuir a

pressão sobre os estoques naturais e produção para exportação.

Vida silvestre

“As onças estão atacando o gado devido à diminuição de animais silvestres”, (Pi).

Outro pantaneiro e guia turístico (Pi/Gti) confirma a constatação de diminuição

de animais silvestres a cada ano. Alega que essa redução está associada à restrição de

ambientes naturais conseqüente da expansão demográfica da população da sociedade

humana.

“A extinção de animais silvestres está relacionada com a caça e pesca em

épocas proibidas e também associado ao número insuficiente de guardas florestais

atuantes nessas áreas. Devendo ser suprida essa deficiência de agentes florestais e ser

proibida a entrada de pessoas no Pantanal em época não recomendada”, (Pi).

“A diminuição de animais silvestres pode também estar relacionada com a

existência de grandes fazendas nas margens dos rios e a intensa agitação nesta hidrovia”,

(Pei).

“Peixes e pássaros são afugentados com a movimentação de embarcações,

rebocadores e chatas. Este tipo de agressão ao Pantanal ameaça a riqueza natural deste

ambiente (pássaros, peixes e outras espécies) e, requer providências imediatas”, (Pei).

“Grandes mudanças com o passar dos anos ocorreram no Pantanal. Antes parava-

se o barco para tocar as capivaras nas curvas dos rios. Hoje é raro encontrá-las. Esses

animais estão espantados pela presença do homem e pelo ruído dos motores dos

barcos”, (Pii).

“A caça é uma prática muito prejudicial, mas é difícil a fiscalização inibitória

devido a grande extensão deste ambiente. Os próprios fazendeiros possuem dificuldade

para terem controle sobre as ações nefastas dentro de sua propriedade. Muitas vezes

agentes da própria polícia florestal caçam no Pantanal”, (Tpi).

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Um pantaneiro (Pi) menciona que proibiu a caça em sua propriedade como forma

de proteger a vida silvestre.

Tais manifestações apresentam em comum a preocupação com a ameaça à

depredação da vida selvagem, conseqüente de matanças e perturbação do ambiente.

Alho (1986) já defendia, na década de 1980 a difusão e implementação do

manejo biológico da fauna silvestre como forma de conservação da mesma, permitindo o

uso duradouro e sustentado do recurso renovável da natureza.

Preservação do Pantanal: alguns aspectosAs horas bíblicas deste recanto

invadem nossa infância

e enriquecem nossos poemas.

Um boiadeiro do Pantanal (Boi) observa o aumento da população de animais

silvestres de todas as espécies e destaca o caso de onças-pintadas e jacarés. Atribui isto

à desativação de fazendas e à diminuição e proibição da caça.

Para tratar da depredação no Pantanal aparece recomendando “ação de

conscientização, maior fiscalização (por parte de agentes governamentais) e aplicação de

multas. É necessário evitar: derrubadas de matas; queimadas e comércio de madeiras”,

(Tpi).

Um pescador profissional (Pei) afirma que sua atitude é contribuir para a

preservação do Pantanal (sem estar expresso de que modo contribui), porque é dali que

extrai seu sustento.

“Para preservar o Pantanal, é necessário comprometer usuários desse ambiente e

também as autoridades. As autoridades não podem se deixar subornar e nem sonegar

informações corretas à população que vive no Pantanal”, (Pei).

“Grandes fazendeiros são responsáveis pela agressão ao Pantanal. Ocorrem,

nestas fazendas, queimadas nas matas ciliares no período seco e por ocasião das chuvas

as cinzas são transportadas para as águas do Pantanal”, (Pei).

“Há impactos produzidos por grandes embarcações, rebocadores e chatas. Estas

estão destruindo margens, barrancos e canais de águas no Pantanal. Isto se resolve

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através da conscientização. Mas a preservação é negligenciada quando há só a busca do

resultado lucrativo”, (Pei).

“Hoje o Pantanal não é mais aquele de dez anos passados. As alterações são

conseqüência do tipo de estruturas de empreendimentos que estão sendo implantadas.

Nada está sendo feito para que volte a ser o que era antes. Temos que frear tudo isto

enquanto houver tempo (para que permaneça o que é chamado de Pantanal) ”, (Pei).

Um fazendeiro e agrônomo (FAi), para a indagação “o que fazer para não

degradar o Pantanal?”, manifesta-se como segue: a fiscalização deve ser mais atuante

diante dos desmatamentos, caça predatória e queimadas; o aumento exagerado da

pecuária deve ser inibido; deve ser formada uma consciência ecológica na população que

mora no Pantanal; devem-se conscientizar os pantaneiros e os que vivem no Pantanal a

usar de forma racional os recursos naturais renováveis e não-renováveis.

Um pantaneiro (Pi), com 38 anos de vivência no Pantanal, relata que a caça e

pesca só são utilizadas por eles para fins de alimentação, como a caça do porco-monteiro

(doméstico, criado sem o cuidado e trato do homem). Registra que o pantaneiro vive de

forma harmônica no Pantanal e, por isso, não causa impacto considerável. Afirma que

enquanto o homem conservar a flora e a fauna deste ambiente o Pantanal estará salvo.

Outro pantaneiro (Pi) também afirma que “pantaneiro” não degrada o seu

ambiente. Diz que: quem degrada são aqueles que não têm compromisso mínimo com

essa região. Diante das dificuldades impostas atualmente ao pantaneiro é revelado que

(Pi): “- consegue-se resistir como fazendeiro do Pantanal porque não gasta

desnecessariamente, veste-se sem luxo, não viaja e nunca abusa do dinheiro; justifica-se

não possuir uma fazenda em local seco (mas é um sonho) devido à insuficiência de

dinheiro para se efetuar a compra; as novas gerações (seus herdeiros) não mostram

interesse em serem pantaneiros (e darem continuidade à vida do pantaneiro). Finaliza

reconhecendo que ‘o pior bicho que tem é o bicho-homem’. Onde este está acabando

com tudo”.

“Para preservar o Pantanal é necessário: educar para tal; aplicar uma política de

defesa do meio ambiente, onde o pantaneiro seja a mola-mestre de um destino reservado

a ele mesmo; envolver todos os segmentos da sociedade (principalmente os econautas e

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vocês: referindo-se aos entrevistadores ‘professores e alunos do curso de especialização

em educação ambiental’)”, (Pi).

“A preservação do Pantanal depende de: mais rigor nas leis; fiscalização atuante

através de órgãos competentes; mais educação ambiental, principalmente atingindo a

população infanto-juvenil; mais incentivo à educação ambiental escolar, incluindo

disciplina obrigatória de educação ambiental; mais pesquisa para orientar o

desenvolvimento tecnológico à exploração sustentável; mais incentivo governamental

para desenvolvimento das atividades agroecológicas”,(Pi/Gti).

“Para preservar o Pantanal é necessário não deixar morrer os rios que o

formam”, (Rii).

“A preservação do trecho entre Cáceres e futuro Porto Morrinhos é possível,

pois quem mais transitará aí serão os cacerenses e, estes, na sua maioria, têm

consciência que é preciso contribuir para preservar o Pantanal”, (Cei).

Mittermeier et al., (s./d.) enfocam especialmente o problema da conservação do

Pantanal e a proposição de ações prioritárias para resolver a questão.

Observa-se que os atores (entrevistados) manifestam-se sobre a preservação do

Pantanal, de modo geral, concordando e indicando uma ação mais enérgica para impedir

a degradação desse ambiente. Atribuem principalmente ao Estado e suas agências esta

função. Há divergências e acusações entre categorias de atores sobre agressões

ambientais ou inserção e ação inadequada do homem no Pantanal. A preocupação forte

com a preservação do Pantanal já havia sido manifestada no 1º Simpósio sobre

Recursos Naturais e Sócio-Econômicos do Pantanal (Simpósio, 1986).

CONCLUSÕES

1. O homem estreitamente relacionado e inserido no ecossistema pantaneiro tem uma

visão de referência importante para subsidiar ações de educação ambiental para

conservação do Pantanal.

2. Há divergência de percepções e opiniões em vários aspectos entre atores de

diferentes categorias de entrevistados. Portanto, a visão de pessoas estreitamente

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relacionadas com o Pantanal pode variar conforme a função que exercem naquele

meio.

3. Atores de uma mesma categoria também podem divergir quanto aos seus enfoques

sobre alguns aspectos da relação homem-pantanal ou sobre o próprio Pantanal, mas

isso ocorre com menos evidência e freqüência que na abordagem entre categorias.

4. Existem situações em que uma categoria acusa a outra por agressões ambientais.

5. Há descontentamento dos entrevistados diante das posturas dos turistas com o

Pantanal.

AGRADECIMENTOS

Aos alunos do curso de pós-graduação em Educação Ambiental para conservação

do Pantanal PGEACP, pela permissão do uso das dados por eles coletados,

possibilitando assim, desenvolver o presente trabalho. São eles: Adriana Barros; Aguinel

Messias de Lima, Arlene J. de Oliveira Alcântara, Claumir César Muniz, Douglas A.

C.Castrillon, Edna de Laet F. Santos, Elaine Maria Loureiro, Elaine Souza Resende,

Eliane de Matos, Eliane Mari Catellan, Elisabete Segato Melo, Emília Nunes de

Alcântara, Givanildo de Souza Benevides, Gleide Dantas da Silva, João Sansão Maciel,

Kelly Angeli Cardoso Barbosa, Lucilene M. de Oliveira Galeano, Luiz Miguel Ribeiro

de Moura, Magno Ramos da Silva, Maria Aparecida da Cunha Cintra, Maria Ponciana

de S. A. Santos, Rosangela Barbosa de Moraes, Rosangela Maria Ferreira Aguiar;

Rosenei F. G. da Silva, Sandro Luiz Netto, Selenir P. de Souza, Sílvia Fernandes

Ferreira, Tereza Cristina V. D. Muniz e Valdete Mendes da Silva.

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