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CALIXTO RAMOS CORRÊA NETO Desempenho zootécnico de juvenis de tambaqui (Colossoma macropomum) submetidos à restrição alimentar em sistemas de bioflocos (Biofloc Technology BTFs). Cuiabá MT 2018

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CALIXTO RAMOS CORRÊA NETO

Desempenho zootécnico de juvenis de tambaqui (Colossoma macropomum) submetidos à

restrição alimentar em sistemas de bioflocos (Biofloc Technology – BTFs).

Cuiabá – MT

2018

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CALIXTO RAMOS CORRÊA NETO

Desempenho zootécnico de juvenis de tambaqui (Colossoma macropomum) submetidos à

restrição alimentar em sistemas de bioflocos (Biofloc Technology – BTFs).

Dissertação apresentada ao Programa de Pós

Graduação em Ciência Animal da Universidade

Federal de Mato Grosso para a obtenção do título

de Mestre em Ciência Animal.

Área de Concentração: Produção Animal

Orientadora: Prof.ªDrª. Janessa Sampaio de

Abreu Ribeiro

Co-orientador: Prof. Dr. Márcio Aquio Hoshiba

Cuiabá – MT

2018

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AGRADECIMENTOS

A DEUS, pela vida e coragem pra seguir e não importar o quanto o tempo voa, a vida é

melhor preenchida aprendendo o máximo que puder sobre tudo, sempre.

Aos meus pais Bernardo e Léia e meus irmãos Nádia e Vicente pela presença, apoio e

amizade durante toda caminhada.

À minhas parceiras e companheiras Fabiana e Isabella, pelo amor, carinho e paciência

que tiveram ao longo desses dois anos de mestrado.

A Universidade Federal de Mato Grosso pela oportunidade de começar de novo, a

oportunidade de viver num sistema cultural muito particular, com um povo de relação direta

com os animais de produção;

Às pessoas que conheci na Instituição, nos trabalhos da fazenda, nos corredores ou nos

núcleos de estudos;

À CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) pela bolsa

concedida durante o mestrado;

Ao NEPES (Núcleo de Estudo em Pescado) em especial aos Professores Dr.º Edivaldo

Sampaio de Almeida Filho, Dr.º Willian Bertoloni e Luciana Kimie pelo aprendizado e

profissionalismo, e pelos grandes momentos de convivência no laboratório e no campo;

A minha orientadora e amiga Dra. Janessa Sampaio de Abreu pela orientação e pelo

incentivo que demonstrou durante todo processo do mestrado.

Ao meu Co-orientador e amigo Dr.º Márcio Aquio Hoshiba, por compartilhar das idéias

e aprendizado no dia a dia da pesquisa.

Aos professores e amigos: Dr.º Carlos Eduardo Cabral, Dr.º Daniel de Paula, Dr.º Felipe

G.Silva, Dr.º Ferdinando Filetto, Dr.º Heder D`Avila, Dr.ª Janaína Januário, Dr.º Joadil

Gonçalves de Abreu, Dr.º João Garcia Caramori Junior, Dr.ª Lisiane Pereira de Jesus, Dr.ª

Luciana Keiko, Dr.º Luciano Cabral, Dr.ª Maria Fernanda, Dr.º Nelcino de Paula, Dr.ª

Rosemary Laís Galati, Dr.ª Sânia Camargos, Dr.º Welton Cabral, Dr.º Joanis Tilemahos

Zervoudakis, e demais professores, que contribuíram para minha formação e pela visão refinada

da Ciência com a qual pude ter contato;

Aos meus amigos e amigas de pós-graduação, Fabian, Rodrigo, Thuani, Alessandra,

Josi, Ronyata, Ane Elise, Haryane, Luane, Marina e Letícia pela parceria e aprendizado ao

longo do caminho, e todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para minha

formação, fica aqui o meu muito obrigado.

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RESUMO

O Brasil é um país que possui condições favoráveis à criação de organismos aquático, tais como

abundância de recursos hídricos e clima tropical. A piscicultura é uma atividade do agronegócio

praticada em todos os Estados da Federação, diferenciando-se em relação às espécies, sistemas

de produção e volume produzidos, e tem mostrado um constante crescimento. O desafio da

pesquisa em piscicultura é melhorar a produtividade por área de cultivo, a confiança e

consistência dos dados de produção, e melhoria do retorno financeiro ao investimento através

do uso mais eficiente da água nos sistemas de produção. Desta forma, tecnologias que visem a

redução de utilização de água nos meios de produção aquícola se tornam atrativas, como a

tecnologia do cultivo em Bioflocos (BFT- “Biofloc Technology”). Esta técnica de cultivo

ecológica busca aumentar a produção e o lucro, produzindo com a mínima troca de água e é

baseada na produção de microorganismos in situ, que assimilam N amoniacal e transformam

em proteína microbiana que serão consumidas pelos peixes, reciclando nutrientes e mantendo

os níveis desejáveis da qualidade da água. Outros benefícios desse sistema é que o bioflocos

pode ser consumido e proporcionar uma fração significativa de proteínas demandadas pelo

animal, reduzindo custos com alimentação. O presente trabalho teve como objetivo avaliar os

indicadores zootécnicos de juvenis de tambaqui submetidos à restrição alimentar e cultivados

no sistema bioflocos (Biofloc Technology – BTFs).

Palavras chave: ciclagem de nitrogênio, piscicultura, qualidade de água, restrição alimentar,

taxas de alimentação.

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ABSTRACT

Brazil is a country that presents favorable conditions for the creation of aquatic organisms, such

as abundance of water resources and tropical climate. Fish farming is an agribusiness activity

practiced in all the states of the Federation, differing in relation to the species, production

systems and volume produced, and has shown a constant growth. The challenge of aquaculture

research is to improve productivity, confidence and consistency of production data, and

improved financial return on investment through more efficient use of water in production

systems. Thus, technologies aimed at reducing water use in aquaculture production means

become attractive, such as Biofloc Technology (BFT- "Biofloc Technology"). This ecological

farming technique aims to increase production and profit, producing with the minimum water

exchange and is based on the production of microorganisms in situ, which assimilate N

ammoniacal and transform into microbial protein that will be consumed by the fish, recycling

nutrients and maintaining the desirable levels of water quality. In addition, the bioflocs can be

consumed and provide a significant fraction of the protein required by the animal, reducing feed

costs. The present work evaluated the performance of tambaqui juvenile submitted to feed

restriction and cultivated in the biofloc system (Biofloc Technology - BTFs).

Key words: nitrogen cycling, fish farming, water quality, food restriction, feed rates.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

CAPÍTULO I

Figura 1- Representação esquemática da implementação do bioflocos em sistemas de

aquicultura. (A) integração de bioflocos dentro da unidade de cultivo. (B) Uso de um reator de

bioflocos separado. ________________________________________________________ 29

Figura 2 - Caixa d’água de polietileno (500 litros) usada como biorreator no sistema de

recirculação. ______________________________________________________________ 30

Figura 3 - Caixas experimentais em sistema de recirculação com bioflocos. ____________ 31

Figura 4 - Cone Imhoff, utilizado para medir a quantidade de Sólidos em Suspensão na coluna

d’água do bioflocos. ________________________________________________________ 32

Figura 5. Consumo de ração do tambaqui (Colossoma macropomum) cultivado em sistema de

bioflocos e alimentado com diferentes taxas de arraçoamento em relação ao peso vivo (P.V.).

Em cada tempo de amostragem, letras diferentes indicam diferenças significativas entre os

tratamentos pelo teste de Tukey (5%). __________________________________________ 35

Figura 6. Taxa de crescimento específico (%) do tambaqui (Colossoma macropomum)

cultivado em sistema de bioflocos e alimentado com diferentes taxas de arraçoamento em

relação ao peso vivo (P.V.). Em cada tempo de amostragem, letras diferentes indicam

diferenças pelo teste de Tukey (5%). ___________________________________________ 36

Figura 7. Ganho de peso (A) e ganho de peso diário (B) do tambaqui (Colossoma

macropomum) cultivado em sistema de bioflocos e alimentado com diferentes taxas de

arraçoamento em relação ao peso vivo (P.V.). Em cada tempo de amostragem, letras diferentes

indicam diferenças significativas entre tratamentos pelo teste de Tukey (5%). ___________ 38

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LISTA DE TABELAS

REVISÃO DE LITERATURA

Tabela 1- quantidade produzida e valor da produção de peixes nacional e dos quatro

maiores estados brasileiros em ordem decrescente de produção no ano de 2016. ........... 17

Tabela 2 - quantidade produzida e valor da produção das nove espécies ou grupo de

peixes mais produzidos no brasil no ano de 2016, em ordem decrescente de produção. . 17

CAPITULO I

Tabela. 1- Composição do probiótico comercial utilizado para inoculação de bactérias no

bioflocos. .......................................................................................................................... 30

Tabela. 2 - Parâmetros de qualidade de água durante cultivo de tambaqui (Colossoma

macropomum) em sistema de bioflocos e alimentação com diferentes taxas de

arraçoamento em relação ao peso vivo (p.v.). .................................................................. 34

Tabela. 3 - Peso, biomassa, conversão alimentar e fator de condição do cultivo de tambaqui

(Colossoma macropomum) em sistema de bioflocos e alimentação com diferentes taxas de

arraçoamento em relação ao peso vivo (p.v.). .................................................................. 36

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

B - BIOMASSA

BFTs – SISTEMA BIOFLOC TECNOLOGY

C – CARBONO

C:N – RELAÇÃO CARBONO:NITROGÊNIO

CAA – CONVERSÃO ALIMENTAR APARENTE

CP – COMPRIMENTO PADRÃO

CT – COMPRIMENTO TOTAL

DIC – DELINEAMENTO INTEIRAMENTE CASUALIZADO

GP – GANHO DE PESO

GPD – GANHO DE PESO DIÁRIO

PB – PROTEÍNA BRUTA

PV – PESO VIVO

S – TAXA DE SOBREVIVENCIA

TCE – TAXA DE CRESCIMENTO ESPECÍFICO

UFC – UNIDADE FORMADORA DE COLÔNIA

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 12

2. REVISÃO DE LITERATURA ......................................................................................... 14

2.1 Produção mundial de pescado ........................................................................................... 14

2.2 Piscicultura do tambaqui (Colossoma macropomum) ....................................................... 15

2.3. Cultivos em Bioflocos ....................................................................................................... 17

3. REFERÊCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 21

CAPÍTULO I ............................................................................................................................ 24

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 27

2. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................................. 28

3. RESULTADOS .................................................................................................................... 34

3.1. Parâmetros físicos e químicos da água ............................................................................ 34

3.2. Desempenho zootécnico .................................................................................................... 35

4. DISCUSSÃO ........................................................................................................................ 38

5. CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 41

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 42

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1. INTRODUÇÃO

A aquicultura está entre os setores de produção de alimento que mais cresceu nas últimas

décadas, com uma taxa média de crescimento anual de 6,6% até 2008, contribuindo com 46%

do pescado consumido no mundo. Com base na expectativa do aumento do consumo per capita

de pescado e na estagnação da produção por captura, a aquicultura deverá ser a responsável por

suprir a demanda de pescado nas próximas décadas (FAO, 2014a).

O Brasil é um país que apresenta condições favoráveis à criação de organismos

aquáticos, tais como abundância de recursos hídricos e clima tropical. A piscicultura é praticada

em todos os Estados da Federação, diferenciando-se em relação às espécies, sistemas de

produção e volume produzidos e tem mostrado um constante crescimento, com a produção

aumentando de 448.808 toneladas em 2015 para 507.122 toneladas em 2016, representando um

incremento de 4,4% nesse período (IBGE, 2016)

O desafio da pesquisa em aquicultura é melhorar a produtividade, confiança e

consistência dos dados de produção, melhoria do retorno financeiro ao investimento;

diminuição da distância entre oferta e demanda e uso mais eficientes da água nos sistemas de

produção.

A possibilidade de criação de organismos aquáticos em sistemas que disponibilize a

alimentação natural desponta como uma alternativa para otimizar sua produção em cativeiro,

como a tecnologia de criação em meio heterotrófico (bioflocos). Essa tecnologia (BTF-

“Biofloc Technology”), também definida por (YOGEV et al., 2017) como sistema “Zeah”

(“Zero Exchange, Aerobic, Heterotrophic”), consiste em um manejo diferenciado do sistema

de produção, em resposta à crescente demanda por produtos da aquicultura e a novas

regulamentações rigorosas sobre uso mínimo de água e descarga de nitrogênio.

Os sistemas de aquicultura de recirculação fechada (RAS) estão sendo desenvolvidos

como uma alternativa sustentável à aquicultura tradicional por causa do seu uso mínimo de água

e operação controlada. A alimentação dos peixes é virtualmente a única fonte de carbono e

nitrogênio para o sistema, onde os compostos nitrogenados presentes na água de criação são

convertidos em biomassa bacteriana, ou bioflocos, a partir da incorporação destes nutrientes

pelas bactérias heterotróficas do meio (LIU et al., 2014).

Os bioflocos podem ser definidos como as partículas na forma de material floculado,

colonizados por bactérias heterotróficas aderidasa microalgas, flagelados, ciliados, rotíferos

(DE SOUZA et al., 2014), mantidos em suspensão na coluna d`água. Nos bioflocos ocorrem os

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processos microbianos autotróficos e heterotróficos que atuam durante todo o tempo sobre a

qualidade da água (HARGREAVES, 2006).

A implantação do sistema de bioflocos ocorre a partir do favorecimento de uma alta

relação entre carbono e nitrogênio na água, frequentemente utilizando rações com baixo nível

de proteína bruta (AZIM; LITTLE; BRON, 2008) e fazendo a adição de uma fonte suplementar

de carbono orgânico na água(VINATEA et al., 2018). Esse sistema é totalmente dependente de

oxigênio, já que as bactérias heterotróficas são aeróbicas, e é necessário o revolvimento

constante da água para que os bioflocos se mantenham em suspensão na coluna d`água. O

princípio fundamental do sistema de bioflocos é a ciclagem de nutrientes por meio da

manutenção de uma alta relação carbono/nitrogênio (C/N) na água, a fim de estimular o

crescimento de bactérias heterotróficas que convertem amônia em biomassa microbiana

(AVNIMELECH, 1999)

A aplicação da tecnologia bioflocos (BFTs) na aquicultura, se destacou em cultivos de

camarão, onde vem sendo utilizada de forma comercial com muito sucesso. Recentemente,

ganhou grande atenção com a piscicultura, por oferecer uma solução prática com o controle

eficaz da qualidade da águaem sistemas de recirculação e com melhora do desempenho de

crescimento, assim, alcançando eficiência e aumentando a densidade de cultivo dos animais

(ZHAO et al., 2012; AVNIMELECH, 2015).

Atualmente, a piscicultura no Brasil é praticada com mais de 30 espécies de peixes, dos

mais variados hábitos alimentares e em sua maioria de clima tropical. Dentre as espécies nativas

cultivadas, a produção dos peixes “redondos” (espécies e híbridos do gênero Colossoma e

Piaractus) responde por 82%, sendo o tambaqui (Colossoma macropomum) o responsável por

grande parte desta produção (IBGE, 2016). No Estado de Mato Grosso, assim como em alguns

outros Estados, tem se buscado aumentar a produtividade desta espécie, devido à grande

importância dela para a piscicultura e aos promissores índices zootécnicos que apresenta.

Existem muitos trabalhos com avaliação do desempenho do tambaqui e dos seus híbridos,

mas, ainda são incipientes os que dizem respeito à aplicação de novas tecnologias de cultivo,

como os sistemas de bioflocos (Biofloc technology-BTFs). Desta forma, pesquisas que possam

aprimorar seu manejo e cultivo são fundamentais e podem permitir redução dos gastos com

alimentação e mão de obra, resultando em maior lucratividade.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Produção mundial de pescado

No mundo onde mais de 800 milhões de pessoas continuam sofrendo de má nutrição

crônica e onde a população mundial deverá crescer em mais de 2 bilhões de habitantes,

chegando a 9,6 bilhões de pessoas até o ano de 2050, é importante enfrentar o enorme desafio

de alimentar a população mantendo em equilíbrio e salvaguardando os recursos naturais para

as futuras gerações. Neste contexto, a aquicultura desempenha um papel fundamental na

eliminação da fome, na promoção da saúde e na redução da pobreza à essas gerações

(SGNAULIN et al., 2018).

O pescado é fonte de proteína de alto valor biológico, ácidos graxos insaturados e

vitaminas, bem como apresenta baixo teor de colesterol, constituindo uma opção de consumo

mais saudável do que as outras carnes (GONÇALVES, 2011). Atualmente, estima-se que o

pescado represente 16,7% de toda a proteína animal consumida por humanos no planeta e 6,5%

de toda proteína, considerando as duas origens, animal e vegetal. Estes valores são superiores

ao das carnes de suíno, frango, bovino, ovino e caprino as mais consumidas na sequência (FAO,

2014a; FAO,2014b).

A produção mundial de pescado tem tido um crescimento expressivo nas últimas

décadas, sendo que essa taxa média anual está em torno de 3,2% nos últimos 50 anos. Superou

o incremento populacional do mesmo período em 1,6%. Neste contexto o consumo per capita

aparentemente de pescado passou de 9,9 Kg por ano na década de 1960 para 19,2 Kg por ano

em 2012. Para se ter uma idéia desse volume em toneladas, no ano de 2012 foram

aproximadamente 66,6 milhões de toneladas produzidas pela aquicultura. Este cenário foi

influenciado por diversos fatores, como o crescimento demográfico, aumento da renda da

população e urbanização, surgimento de canais de distribuição mais eficientes e principalmente

pela significativa expansão da aquicultura (FAO, 2014b). Em contrapartida, a produção vinda

da pesca vem diminuindo seu crescimento, obtendo um acréscimo de menos de um milhão de

toneladas no mesmo período (FAO, 2014b).

O desenvolvimento do setor aquícola é crescente, sendo as perspectivas para aquicultura

promissoras, com um aumento esperado na produção de 52% acima do nível médio para 2012-

14 até 2024, impulsionado pelo aumento da demanda interna e pelas políticas nacionais que

apoiam o crescimento sustentável do setor (OECD/FAO,2015).

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2.2 Piscicultura do tambaqui (Colossoma macropomum)

Atualmente, a piscicultura no Brasil é praticada com mais de 30 espécies de peixes, dos

mais variados hábitos alimentares e em sua maioria de clima tropical. Dentre as espécies nativas

cultivadas, a produção dos peixes “redondos” (espécies e híbridos do gênero Colossoma e

Piaractus) responde por 82%, sendo o tambaqui (Colossoma macropomum) o responsável por

grande parte desta produção (IBGE, 2016).

O tambaqui Colossoma macropomum (Cuvier,1818) é uma espécie de peixe da classe

Osteichthyes, subclasse Actinopterygii, ordem Characiformes, Família Characidae e subfamília

Serrasalminae é originário da América do Sul, das bacias dos rios Amazonas e Orinoco.

Atualmente, com o crescimento e desenvolvimento das pisciculturas, o tambaqui é criado e

difundido em diversas regiões do Brasil e do continente Sul Americano (ARAÚJO-LIMA e

GOMES, 2005). É uma espécie tropical considerada por muitos autores como o segundo maior

peixe de escama de água doce da América do Sul, atrás apenas do pirarucu, Arapaima gigas

(RUFFINO, 2005).

Na Bolívia e no Equador, o tambaqui é conhecido como “pacu”; no Peru como

“gamitana”; na Colômbia e na Venezuela é chamado de “cachama”, mas no primeiro país, em

particular é designado de “cachama negra” e nos Estados Unidos, a espécie é denominada de

“black pacu”, podendo atingir mais de um metro de comprimento e pesar até 30Kg (DAIRIKI

e SILVA, 2011).

O tambaqui é um peixe de águas ricas em nutrientes, com temperaturas ntre 25ºC e 34ºC.

Além disso, é capaz de resistir a baixas concentrações de oxigênio dissolvido na água (≈ 1

mg/L). Em situações de hipóxia, o animal apresenta adaptação morfológica, que é o aumento

do lábio inferior, “prolapso labial”, chamado popularmente de “aiu”. Nessas condições costuma

nadar próximo à superfície para captar mais oxigênio (ARAUJO LIMA e GOMES, 2005).

Na natureza, a espécie é encontrada preferencialmente em águas de cor preta (pH 3,8 –

4,9) e cor branca ou barrenta (pH 6,2 – 7,2). Em águas claras (pH 4,5 -7,8) a ocorrência da

espécie é nula ou pequena. Em um experimento que avaliou o desempenho a sobrevivência de

juvenis de tambaqui sob diferentes fotoperíodos observou-se que animais mantidos sob total

escuridão (simulando a condição natural de baixa visibilidade dos rios e lagos) apresentaram

melhor desempenho do que os animais mantidos sob iluminação contínua, os quais

apresentaram sinais evidentes de estresse (ARIDE et al., 2006).

Outra característica da espécie é a alta resistência a mudanças abruptas de pH, sendo

que o melhor desempenho, constatado experimentalmente, foi inversamente proporcional ao

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aumento do pH da água. Animais mantidos em água ácida (4.0) apresentaram melhor

desempenho e nenhuma alteração fisiológica (ARIDE et al., 2007).

A criação de tambaqui é dividida basicamente em três fases: larvicultura, produção de

juvenis e engorda. Na larvicultura os peixes são criados da eclosão até o peso médio individual

(PMI) de 0,5 a 1,0 g durante 30 a 45 dias; a produção de juvenis, que é a próxima etapa, dura

cerca de 60 dias, e o (PMI) dos peixes fica entre 40g e 50 g. Por fim, na engorda, o tempo é

variável, pois depende do peso de abate (GOMES et al., 2006).

O tambaqui é a principal espécie nativa produzida em âmbito nacional, perdendo apenas

para a tilápia do Nilo, Oreochromis niloticus, espécie exótica, em escala de produção (IBGE,

2016). No ano de 2016, foram produzidas 136.991 toneladas de tambaqui, representando hoje,

27% do total de pescado proveniente da piscicultura continental (IBGE, 2016). O cultivo desta

espécie concentra-se principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país e

destaca-se entre as espécies nativas mais promissoras da aquicultura brasileira. No ano de 2016,

o estado de Mato Grosso foi responsável pela produção de 4.168 toneladas de tambaqui,

quantidade esta que deixa o estado na oitava posição no ranking nacional na produção desta

espécie, e o quarto maior na produção de peixes do país, com uma produção de 40,41 mil

toneladas e um decréscimo em relação a 2015 de 14,8% (Tabela 1).

O Estado de Rondônia é o principal produtor da espécie no Brasil e no Norte do País, e

respondeu por 50,8% do total da produção nacional e 63,7% da produção regional no ano. O

Município de Ariquemes (RO), seguido por Rio Preto da Eva (AM) foram os principais

produtores nacionais de tambaqui, com 10,37 e 7,28 mil toneladas despescadas,

respectivamente, em 2016. Os dados absolutos de produção nove espécies e seus híbridos mais

cultivados no Brasil no ano de 2016 são apresentados na Tabela 2.

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17

Tabela 1. Quantidade produzida e valor da produção de peixes nacional e dos quatro maiores

estados brasileiros em ordem decrescente de produção no ano de 2016.

Estados Brasileiros em

ordem decrescente da

produção

Quantidade produzida Valor da produção

Total

(Kg)

Percentual

(%)

Total

(1000 R$)

Percentual

(%)

Brasil 507.121.920 100,0 3.264.611 100,0

Rondônia 90.636.090 17,9 624.039 19,1

Paraná 76.064.997 15,0 389.922 11,9

São Paulo 48.346.627 9,5 248.842 7,6

Mato Grosso 40.411.720 8,0 323.142 9,9

Fonte: IBGE. Produção da pecuária municipal. v. 44, p. 1–51, 2016, com modificações.

Tabela 2. Quantidade produzida e valor da produção das nove espécies ou grupo de peixes mais

produzidos no Brasil no ano de 2016, em ordem decrescente de produção.

Espécies ou grupo de

peixes, em ordem

decrescente de produção

Quantidade produzida Valor da produção

Total

(Kg)

Percentual

(%)

Total

(R$)

Percentual

(%)

Total 507.121.920 100,0 3.264.611.462 100,0

Tilápia 239.090.927 47,1 1.335.024.158 40,9

Tambaqui 136.991.478 27,0 879.037.488 26,9

Tambacu e Tambatinga 44.948.272 8,9 328.151.919 10,1

Carpa 20.336.354 4,0 139.100.275 4,3

Pintado, Cachara,

Pintachara, Cachapira e

Surubim

15.860.113 3,1 167.036.559 5,1

Pacu e Patinga 13.065.144 2,6 101.474.150 3,1

Matrinxã 8.766.980 1,7 69.578.057 2,1

Pirarucu 8.637.473 1,7 91.034.450 2,8

FONTE: IBGE. Produção da pecuária municipal. v. 44, p. 1–51, 2016, com modificações.

2.3. Cultivos em Bioflocos

A tecnologia do cultivo em Bioflocos (BTF- “Biofloc Technology”) surgiu com este

propósito e é tida hoje como uma das mais promissoras no cultivo de organismos aquáticos.

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Através desta tecnologia busca-se aumentar a produção e lucratividade, produzindo com a

mínima troca de água. Intensificar a produção, diminuindo a renovação de água gera maior

consumo de oxigênio, assim como acúmulos de restos de ração e dos sólidos presentes na água

(AVNIMELECH, 1999).

Os materiais particulados acumulados na água juntamente com uma fonte de carbono

externo, servem de substrato para a promoção e o desenvolvimento dos microrganismos

conhecidos como “Bioflocos” (microalgas, zooplâncton, protozoários, e bactérias formando um

agregado microbiano) (AVNIMELECH, 1999). Com a redução das taxas de renovação de água,

há um aumento na concentração de substâncias tóxicas para os animais em cultivo, mas, na

tecnologia bioflocos, com o correto manejo microbiano, é possível degradar as excretas

metabólicas dentro do sistema de produção (AVNIMELECH, 2015).

Os primeiros estudos em cultivo sem renovação e sem recirculação de água iniciaram

nos anos 90 nos Estados Unidos, no centro de pesquisa Waddel Mariculture Center, com o

trabalho de (Steve Hopkins e colaboradores), e em Israel (AVNIMELECH, 2015). As pesquisas

culminaram com o trabalho de Avnimelech (1999), demonstrando que uma relação

carbono/nitrogênio (C/N) acima de 12, promovida pela adição de glicose na água juntamente

com suprimento de aeração, diminui a concentração dos compostos nitrogenados tóxicos e

permitem a renovação mínima de água do cultivo. Isto devido ao fato de que o aumento da

relação C/N, através da adição de carboidratos de moléculas simples e solúveis, favorece o

crescimento de bactérias heterotróficas que assimilam e imobilizam a amônia em biomassa

microbiana (EBELING et al., 2006).

A tecnologia Bioflocos é uma técnica de cultivo ecológico, baseado em produção de

microrganismos in situe se baseia em poucos princípios: Troca zero ou mínima de água;

subsequente desenvolvimento de densa população microbiana; gerenciamento da população

microbiana como uma parte do ecossistema do viveiro e ajuste da relação carbono: nitrogênio

(C:N) para cerca de 15 de modo a controlar a concentração de nitrogênio orgânico na água. As

bactérias, ao formarem bioflocos, assimilam a amônia para produzir proteínas microbianas que

são consumidas pelos peixes, reciclando, desta forma, as proteínas não utilizadas do alimento

(AVNIMELECH, 2015).

Os agregados (bioflocos) são uma rica fonte natural lipoproteica, de alimentos

disponíveis in situ 24 horas por dia devido a uma interação complexa entre matéria orgânica,

substrato físico e grande variedade de microrganismos. Esta produtividade natural desempenha

um papel importante reciclando nutrientes e mantendo a qualidade da água (SGNAULIN et al.,

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2018). O peixe é cultivado de forma intensiva (mínimo de 300 g de biomassa por metro

quadrado, com troca de água zero ou mínima de água). Além disso o movimento contínuo da

coluna d´água por inteiro se faz necessário para induzir a macro agregação ou a formação do

(bioflocos). A proporção de nutrientes na água (estabelecidanas proporções carbono: nitrogênio

de 12-20:1) contribuem para formação natural e estabilização de uma comunidade microbiana

heterotrófica (AVNIMELECH, 1999). Estudos com o bagre africano (Clarias gariepinus)

demonstraram que a razão C/N ótima ficou em torno de 15/1 com remoção de amônia (98,7%).

A otimização da relação C/N é específica para diferentes tipos de espécies aquáticas

selecionadas e é crucial reduzir eficazmente a concentração de nutrientes na água (ABU

BAKAR et al., 2015).

Entre as vantagens do sistema de produção em bioflocos, estão: o melhor manejo

alimentar, o aumento da densidade de estocagem, maior uniformidade do lote produzido e

melhor aproveitamento das estruturas de cultivo (LOPES et al., 2012). Outros benefícios desse

sistema é que além de utilizar menor quantidade de água na criação de organismos aquáticos,

possibilita taxas de conversão alimentar mais eficientes, uma vez que o bioflocos pode ser

consumido e proporcionar uma fração significativa de proteínas demandadas pelo animal

(BALLESTER et al., 2010; CRAB et al., 2010b; DE SOUZA et al., 2014). Desta forma, pode

ser utilizado para completar parte do déficit da ingestão de proteínas, com a utilização de uma

ração de menor nível proteico, reduzindo assim o custo dos alimentos para os animais e

melhorando a eficiência de produção. Além disso, pode reduzir o potencial de propagação de

bactérias patogênicas e conversão alimentar (CRAB et al., 2010a).

Em contrapartida, estudos demonstram que o excesso de bioflocos nos sistemas também

pode ser prejudicial à saúde dos peixes, causando desde obstrução das brânquias até a

diminuição no desempenho produtivo dos animais (CRAB et al., 2012). A quantidade

diminuída de flocos no sistema pode ser obtida com a utilização de técnicas de filtragem do

flocos em areia pressurizada, ou, eventualmente, pela redução do teor de proteína nas dietas dos

animais, ou ainda pela utilização de biofiltros com utilização de macrófitas aquáticas

(GONZAGA et al., 2008).

A aplicação da tecnologia bioflocos (BFTs) na aquicultura se destacou em cultivos de

camarão, onde vem sendo utilizada de forma comercial com muito sucesso. Alguns estudos

sugerem diminuição do uso da proteína na ração em sistemas de cultivo à base de bioflocos

com bons resultados de sobrevivência e maior desempenho do camarão cultivado (DE SOUZA

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et al., 2014). Para a piscicultura ainda são poucos os estudos com bioflocos, e a aplicação desta

tecnologia ainda é incipiente no estado de Mato Grosso.

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ARTIGO PRODUZIDO

CAPÍTULO I

Desempenho zootécnico de juvenis de tambaqui (Colossoma macropomum) submetidos à

restrição alimentar em sistemas de bioflocos (Biofloc Technology – BTFs).

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RESUMO

Corrêa Neto, C. R. Desempenho zootécnico de juvenis de tambaqui (Colossoma

macropomum) submetidos à restrição alimentar em sistemas de bioflocos (Biofloc

Technology – BTFs). Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Mato Grosso,

Faculdade de Agronomia e Zootecnia, Programa de Pós-Graduação em Ciencia Animal, Cuiabá

2018.

O presente trabalho avaliou indicadores zootécnicos de juvenis de tambaqui submetidos à

restrição alimentar durante cultivo em sistema bioflocos (Bioflocs Technology, BFTs). Por 48

dias, alevinos de tambaqui foram cultivados em caixas experimentais em sistema aberto (com

renovação constante de água), sem bioflocos e alimentados com taxa de arraçoamento de 8%

do peso vivo (P.V.) (Grupo Controle), e em sistema de recirculação (com Bioflocos), onde

foram alimentados com diferentes taxas de arraçoamento: 8% P.V. (Tratamento 2), 4% P.V.

(Tratamento 3) e 2% P.V. (Tratamento 4). Biometrias foram realizadas aos 21 e 48 dias de

experimentação para avaliação dos indicadores zootécnicos e os parâmetros de qualidade de

água foram monitorados durante todo o período experimental. O experimento foi conduzido

em delineamento inteiramente casualizado (DIC), sendo cada caixa uma repetição, e os

resultados foram comparados utilizando-se teste de Tukey (5%). O BFTs, por funcionar em

sistema fechado (recirculação), possibilitou grande economia no uso da água e se mostrou

eficiente na remoção de resíduos nitrogenados do sistema, mantendo a qualidade da água. Até

os 21 dias não houve diferença significativa no desempenho de alevinos de tambaqui cultivados

em sistema aberto (sem bioflocos) e em BFTs (com bioflocos), com taxas de arraçoamento de

8% P. V. Os peixes mantidos em bioflocos, mas, alimentados com baixas taxas de arraçoamento

(4% e 2% P.V.) apresentaram, após 48 dias de experimentação, menor peso final, ganho de

peso (no período e diário), biomassa final, ganho de biomassa e taxa de crescimento específico,

indicando que a retirada parcial do alimento artificial não foi devidamente compensada pelo

alimento natural disponível no bioflocos. Menor índice de conversão alimentar aparente foi

verificado nos peixes cultivados em bioflocos e alimentados com a menor taxa de arraçoamento

(2% P.V), sugerindo que a restrição alimentar aplicada levou estes peixes a aproveitarem de

forma mais eficiente o alimento fornecido para transformação em peso vivo.

Palavras chave: piscicultura, qualidade de água, restrição alimentar, taxas de alimentação.

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ABSTRACT

Corrêa Neto, C., R. Performance of tambaqui juveniles (Colossoma macropomum)

submitted to feed restriction in biofloc systems (Biofloc Technology - BTFs). Dissertação

(Mestrado) Universidade Federal de Mato Grosso, Faculdade de Agronomia e Zootecnia,

Programa de Pós-Graduação em Ciencia Animal, Cuiabá 2018.

.

The present work evaluated the performance of tambaqui juvenile submitted to feed restriction

and cultivated in the biofloc system (Biofloc Technology - BTFs). For 48 days, tambaqui

fingerlings were cultivated in experimental open boxes (with constant water renewal), without

bioflocs and fed at 8% of live weight (Control Group), and in a recirculation system (with

Bioflocos), where they were feed different rates of feed: 8% PV (Treatment 2), 4% P.V.

(Treatment 3) and 2% P.V. (Treatment 4). Biometrics were performed at 21 and 48 days of

experimentation to evaluate the zootechnical indicators and the parameters of water quality

were monitored during the whole experimental period. The experiment was conducted in a

completely randomized design (DIC), each box being one replicate, and the results were

compared using Tukey's test (5%). The BFTs, because they function in a closed system

(recirculation), allowed a great saving in the use of water and proved efficient in the removal

of nitrogenous residues from the system, maintaining water quality. Up to 21 days there was no

significant difference in the performance of tambaqui fingerlings grown in the open system

(without bioflocs) and in BFTs (with bioflocs), with feed rates of 8% PV Fish kept in bioflocos

but fed with low rates (4% and 2% PV) presented, after 48 days of experimentation, lower final

weight, weight gain (in the period and daily), final biomass, biomass gain and specific growth

rate, indicating that the partial Artificial food was not adequately compensated for by the natural

food available in the bioflocos. Lower apparent feed conversion rate was observed in the fish

cultured in bioflocs and fed with the lowest feed rate (2% PV), suggesting that the feed

restriction applied led these fish to more efficiently take advantage of the feed provided for

transformation into weight alive.

Key words: fish farming, water quality, feed deprivation, feeding rations.

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1. INTRODUÇÃO

A aquicultura está entre os setores de produção de alimento que mais cresceu nas últimas

décadas, contribuindo com 46% do pescado consumido no mundo. Com base na expectativa do

aumento do consumo per capita de pescado e na estagnação da produção por captura, a

aquicultura deverá ser a responsável por suprir a demanda de pescado nos próximos anos (FAO,

2014).

Ouso do Bioflocos (BFTs) no cultivo de organismos aquáticos recentemente ganhou

atenção como um método sustentável para controlar a qualidade da água, com o valor agregado

de produzir alimentos proteináceos (CRAB et al., 2012). A técnica é baseada na produção de

microrganismos que desempenham papéis importantes, como manutenção da qualidade da

água, pela absorção de compostos de nitrogênio gerando proteína microbiana in situ

(AVNIMELECH, 1999); nutrição, pois podem ser consumidos e proporcionar uma fração

significativa de proteínas demandadas pelo animal (AVNIMELECH, 2007; BALLESTER et

al., 2010; CRAB et al., 2010a) diminuindo os custos de alimentaçãoe controle do estado de

saúde dos animais, por reduzir o potencial de propagação de bactérias patogênicas (CRAB et

al., 2010b).

A aplicação da tecnologia bioflocos (BFTs) na aquicultura se destacou em cultivos de

camarão, onde vem sendo utilizada de forma comercial com muito sucesso. Na carcinicultura

já foi identificado que espécies de camarões podem consumir diretamente a biomassa

microbiana e alguns estudos mostram que é possível diminuir o uso da proteína na ração em

sistemas de cultivo à base de bioflocos com bons resultados de sobrevivência e maior

desempenho do camarão cultivado (WASIELESKY et al., 2006; BALLESTER et al, 2010;

MEGAHED, 2010), sendo viável também neste sistema reduzir a quantidade de alimento

ofertado, sem prejudicar o crescimento médio diário dos animais (ROTISKA e SUDARYONO,

2014).

Diversos estudos vêm demonstrando resultados positivos de peixes produzidos em

sistemas com bioflocos em relação aos tradicionais (AVNIMELECH, 2007; AZIM et al., 2008;

WIDANARNI et al., 2012; LONG et al., 2015). Contudo, A aplicação desta tecnologia ainda é

incipiente na piscicultura de espécies nativas e são poucos os estudos que avaliam o bioflocos

como uma fonte de alimentação suplementar para o peixe cultivado a fim de minimizar os

custos de produção (CUNHA, 2016, CAVALCANTE et al., 2017).

Dentre as espécies nativas cultivadas no Brasil, a produção de espécies e híbridos do

gênero Colossoma e Piaractus responde por 82%, sendo o tambaqui (Colossoma macropomum)

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o responsável por grande parte desta produção (IBGE, 2016). Existem muitos trabalhos com

avaliação do desempenho do tambaqui e dos seus híbridos, mas, ainda são incipientes os que

dizem respeito à aplicação de novas tecnologias de cultivo, como os sistemas de bioflocos

(Biofloc technology-BTFs).

Pesquisas que possam aprimorar seu manejo e cultivo são fundamentais e podem

permitir redução dos gastos com alimentação e mão de obra, resultando em maior lucratividade.

O objetivo deste trabalho foi avaliar indicadores zootécnicos de alevinos de tambaqui cultivados

em sistema bioflocos (Bioflocs Technology, BFTs) e investigar se o bioflocos pode ser utilizado

como fonte de alimento complementar em caso de redução nas taxas de alimentação durante o

cultivo.

2. MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi conduzida no setor de Piscicultura da Fazenda Experimental da

Faculdade de Agronomia e Zootecnia (FAAZ/UFMT) após, aprovação do protocolo

experimental no CEUA (Comitê de Ética em Uso de Animais/UFMT) (Processo nº

23108.186540/2016-44).

Foram utilizadas 16 caixas retangulares de PVC, com capacidade de 100 L e volume

útil de 80 L, instaladas dentro do laboratório de piscicultura em uma bancada experimental de

estrutura metálica e abastecidas com água oriunda de poço semi-artesiano. Das 16 caixas

experimentais, quatro delas foram escolhidas aleatoriamente para controle do experimento e

foram montadas em sistema aberto (com renovação), no qual a água circulava ininterruptamente

(fluxo contínuo de 4 L/minuto). As 12 caixas restantes foram montadas em sistema fechado (de

recirculação) para posterior instalação do sistema de bioflocos (BFTs). Neste caso, a água

destas unidades experimentais era conduzida por meio de uma calha coletora até uma caixa

d’água de polietileno de 500 L (Biorreator - local controlado onde ocorrem bioprocessos,

recipientes ou sistema utilizado para garantir o desenvolvimento

de culturas ou processos biológicos, enzimáticos ou químicos) e por bombeamento (bomba

submersa de 0,5CV) a água retornava do biorreator às caixas experimentais.

A implementação do bioflocos foi realizada conforme esquematizado na figura 1. As

águas residuais do tanque de cultivo são trazidas para o reator de bioflocos, onde é adicionada

uma fonte de carbono para estimular o crescimento dos flocos e um probiótico com

nitrobactérias. Os bioflocos consomem resíduos (N inorgânicos) junto com a fonte de carbono,

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produzindo assim biomassa microbiana que pode ser usada como alimento pelos animaisdentro

da unidade de cultivo.

Figura 1. Representação esquemática da implementação do bioflocos em sistemas de

aquicultura. (A) integração de bioflocos dentro da unidade de cultivo. (B) Uso de um reator de

bioflocos separado. Fonte: (CRAB et al., 2012), com modificações.

Para instalação do bioflocos, o sistema de recirculação foi abastecido com 1200 litros

de água e bactérias foram inoculadas no Biorreator (Figura 2) através da incorporação de

probiótico comercial (4 g/ L de água) cuja composição está apresentada na Tabela 1.

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Tabela 1. Composição do probiótico comercial utilizado para inoculação de bactérias no

bioflocos.

Níveis de garantia por Kg de produto

Bacillus cereus var. toyoi 4,0x10¹¹ UFC

Bacillus subtilis 4,0x10¹¹ UFC

Bifidobacterium bifidium 3,5x10¹¹ UFC

Enterococcus faecium 3,5x10¹¹ UFC

Lactobacillus acidophilus 3,5x10¹¹ UFC

Mananoligossacarídeo 10 g

Lisina 5.000 mg

Metionina 2.500 mg

Colina 2.000 mg

Vitamina C 10 g

Vitamina E 2500 UI

Dextrose 50 g

Fonte: http://www.imeve.com.br/azul/produtos_suple21.php

Figura 2. Caixa d’água de polietileno (500 litros) usada como biorreator no sistema de

recirculação.

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Ração para peixes onívoros (32% PB) moída e melaço em pó foram utilizados como

fonte de nitrogênio e de carbono, respectivamente, respeitando-se a relação Carbono e

Nitrogênio (20:1) de acordo com (SAMOCHA et al., 2007). A quantidade de melaço adicionado

foi calculada com base em EBELING et al.(2006) e AVNIMELECH (1999) que relatam que 6

gramas de carbono são necessárias para converter 1 grama de nitrogênio amoniacal total (total

ammonia nitrogen-TAN), gerado a partir da alimentação, em biomassa microbiana e que apenas

50% do nitrogênio na alimentação é convertido em amônia. Tomando isso como base e

considerando que o melaço utilizado tinha 24 % de carbono, e a ração 32% de proteína bruta

(PB) com 6,25%-N nas proteínas, foi necessário incorporar no sistema 49,22 gramas de melaço

para garantir os 15,36 gramas de carbono.

Todos esses produtos propiciaram na água uma melhora na eficiência inicial para a

colonização do sistema, reduzindo o pico de amônia total, pelo metabolismo das bactérias

heterotróficas, ciclando o nitrogênio inorgânico. Desta forma, em 40 dias, o sistema de

bioflocos estava implementado no reator, cuja água recirculava nas caixas experimentais

(Figura 3) e o volume de bioflocos por litro de água foi monitorado durante todo o período

experimental através de Cone Imhoff (Figura 4).

Figura 3. Caixas experimentais em sistema de recirculação com bioflocos.

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A B C

0 a 5 dias 15 a 20 dias 25 a 28 dias

Figura 4. Cone Imhoff, utilizado para medir a quantidade de Sólidos em Suspensão na coluna

d’água do bioflocos, a sequência de letras mostra o aumento da colonização das bactérias no

sistema heterotrófico.

Após implementação do bioflocos, um total de 192 alevinos de tambaqui (Colossoma

macropomum), obtidos por reprodução artificial, com um peso inicial de 9,91 ± 0.59g (média

± desvio padrão) foi alocado aleatoriamente nas 16 caixas experimentais. A aeração das caixas

foi realizada através de um compressor radial de 3,42 CV, trifásico (Beraqua®, Idaial/SC) de

forma que cada caixa recebia aeração individual por meio de mangueiras siliconadas conectadas

à pedras porosas que faziam a dispersão de ar pela caixa, evitando áreas mortas, ausentes de

homogeneização, para que não haja a formação de grumos.O fotoperíodo foi controlado através

de sistema de iluminação automático com 12 horas luz e 12 horas de escuridão, e as caixas

experimentais cobertas com telas para evitar escape dos animais.

Durante o período de aclimatação (10 dias) os peixes foram alimentados ad libitum com

ração comercial extrusada para peixe onívoro(pelletde 2 - 3 mm) (VB alimentos, Jaciara/MT),

com 32% de proteína bruta e 70g/kg de extrato etéreo. Terminada aclimatação (quando os

peixes estavam se alimentando normalmente), teve início o período experimental com duração

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de 48 dias, durante o qual os peixes foram submetidos aos seguintes tratamentos: cultivo em

sistema aberto (sem Bioflocos) + alimentação com ração comercial a uma taxa de arraçoamento

de 8% do peso vivo (PV) (Tratamento 1- controle) e cultivo em sistema de recirculação (com

Bioflocos) + alimentação com ração comercial a uma taxa de arraçoamento de 8% PV

(Tratamento 2), 4% PV (Tratamento 3) e 2% PV (Tratamento 4). Cada tratamento teve 4

repetições, totalizando 16 unidades experimentais (caixas plásticas), cada uma com 12 peixes.

A ração foi fornecida duas vezes ao dia(9 horas e 15 horas), com a mesma ração fornecida

durante o período de adaptação, mas seguindo a taxa de alimentação conforme os tratamentos.

Biometrias foram realizadas aos 21 e 48 dias de experimento, durante as quais todos os

animais de cada tratamento (n=48) foram capturados, anestesiados com eugenol diluído em

água (30 mg/L), pesados (balança AS 2000 C-Marte) e medidos com auxílio de um ictiômetro

para aferição do comprimento total (CT) e comprimento padrão (CP), que foram utilizados para

cálculo de fator de condição de Fulton (K), através da fórmula: K=peso/CP3.

Ao final do experimento, foram avaliadas as seguintes características de desempenho:

• Ganho de peso (g):

GP = Peso médio final − peso médio inicial

• Ganho de peso diário (g/d):

GPD = Peso médio final − peso médio inicial

Período em dias

• Biomassa (Kg):

B = Peso médio (g) x nº de indivíduos

1000

• Ganho de Biomassa (Kg):

GPD = Biomassa final − Biomassa inicial

• Taxa de crescimento especifico (%):

TCE = [Ln (peso médio final) − Ln (peso médio inicial)

Período em dias] ∗ 100

• Conversão alimentar aparente (CAA):

C. A. A =Consumo Ração (g)

Ganho de peso (g)

• Taxa de Sobrevivência (%):

S = [n° peixes inicial

n° peixes final] ∗ 100

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Durante todo o período experimental foram registradas semanalmente as

característicasde qualidade da água: temperatura, oxigênio dissolvido (oxímetro digital Yellow

Springs Instruments -YSI Pro 20), pH (pHmetro Tecnopon-MPA210), alcalinidade (a partir da

solução indicadora de metil laranja) e amônia não ionizada, calculada de acordo com Emerson

et al. (1975).

O experimento foi conduzido em delineamento inteiramente casualizado (DIC) sendo

cada caixa uma repetição. Na avaliação dos dados, os tratamentos foram analisados por

ANOVA e as médias comparadas utilizando-se o teste de Tukey com 5% de significância.

Todos os parâmetros analisados foram avaliados pelo pacote estatístico (SAS, 2008).

3. RESULTADOS

3.1. Parâmetros físicos e químicos da água

Temperatura e amônia tóxica não diferiram significativamente entre os tratamentos

(p>0,05). No entanto, pH e alcalinidade foram significativamente maiores no controle (sem

bioflocos + ração 8% do peso vivo) em relação aos tratamentos com bioflocos e o nível de

oxigênio dissolvido foi significativamente mais alto no tratamento cujos peixes eram cultivados

em bioflocos mas, alimentados com a menor taxa de arraçoamento (2%. P.V) (Tabela 2).

Tabela 2. Parâmetros de qualidade de água durante cultivo de tambaqui (Colossoma

macropomum) em sistema de bioflocos e alimentação com diferentes taxas de

arraçoamento em relação ao peso vivo (P.V.).

Bioflocos

Controle 8% P.V. 4% P. V. 2% P. V.

O2dissolvido (mg/L) 4,83 ± 0,05 C 6,67 ± 0,09 AB 6,60 ± 0,09 B 7,06 ± 0,16 A

Temperatura (°C) 28,62 ± 0,09 A 27,95 ± 0,07 A 27,91 ± 0,10 A 27,95 ± 0,10 A

pH 7,43 ± 0,01 B 8,40 ± 0,01 A 8,41 ± 0,01 A 8,38 ± 0,02 A

Alcalinidade

(mg CaCO3/L) 317,00 ± 5,40 B 390,00 ± 4,30 A 387,00 ± 5,00 A 382,00 ± 5,10 A

Amônia tóxica

(mg NH3/L) 0,011 ± 0,003 A 0,039 ± 0,006 A 0,031 ± 0,007 A 0,033 ± 0,006 A

Média ± Erro padrão. Letras diferentes na linha indicam diferenças significativas entre tratamentos pelo teste de

Tukey (5%).

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3.2. Desempenho zootécnico

Durante o período experimental não houve mortalidade. Após 48 dias de cultivo, os

peixes mantidos em sistema aberto (sem bioflocos) e alimentados com taxa 8% P. V foram os

que consumiram mais ração (Figura 5) e apresentaram maior taxa de crescimento específico

(Figura 6), obtendo maior peso, comprimento total e padrão (Tabela 4). A taxa de arraçoamento

afetou negativamente estes parâmetros que diminuíram significativamente a medida que

diminuía a taxa de arraçoamento (Tabela 3, Figuras 5 e 6). Já o fator de condição foi maior nos

peixes cultivados em bioflocos e alimentados com a maior taxa de arraçoamento (8%P.V)

(Tabela 4).

Figura 5. Consumo de ração do tambaqui (Colossoma macropomum) cultivado em sistema de

bioflocos e alimentado com diferentes taxas de arraçoamento em relação ao peso vivo (P.V.).

Em cada tempo de amostragem, letras diferentes indicam diferenças significativas entre os

tratamentos pelo teste de Tukey (5%).

0

100

200

300

400

500

600

21 dias 48 dias

Controle

Bioflocos + 8% P.V.

Bioflocos + 4% P. V.

Bioflocos + 2% P. V.

Con

sum

o d

e ra

ção (

g)

A

B

C

D

A

B

C

D

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Figura 6. Taxa de crescimento específico (%) do tambaqui (Colossoma macropomum)

cultivado em sistema de bioflocos e alimentado com diferentes taxas de arraçoamento em

relação ao peso vivo (P.V.). Em cada tempo de amostragem, letras diferentes indicam

diferenças pelo teste de Tukey (5%).

Em decorrência do maior peso final, fatores de produtividade como ganho de peso

(Figura 7A), ganho de peso diário (Figura 7B), biomassa e ganho de biomassa foram maiores

no controle (sem bioflocos) após 48 dias de cultivo (Tabela 3). No entanto, menor índice de

conversão alimentar aparente foi verificado nos peixes cultivados em bioflocos e alimentados

com a menor taxa de arraçoamento (2%. P.V) (Tabela 3).

Tabela 3. Peso, Biomassa, Conversão Alimentar e Fator de Condição do cultivo de tambaqui

(Colossoma macropomum) em sistema de bioflocos e alimentação com diferentes taxas de

arraçoamento em relação ao peso vivo (P.V.).

Peso (g)

21 dias 48 dias

Controle 26,67 ± 0,30 A 75,43 ± 1,91 A

Bioflocos + 8% P.V. 26,00 ± 0,48 A 60,81 ± 1,54 B

Bioflocos + 4% P. V. 19,14 ± 0,46 B 41,70 ± 1,55 C

Bioflocos + 2% P. V. 15,65 ± 0,20 C 27,44 ± 0,85 D

Biomassa (g)

21 dias 48 dias

Controle 322,65 ± 5,87 A 873,81 ± 27,21 A

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0

21 dias 48 dias

Controle

Bioflocos + 8% P.V.

Bioflocos + 4% P. V.

Bioflocos + 2% P. V.

Tax

a de

cres

cim

ento

esp

ecíf

ico (

%)

A

A

B

C

A

AB

B

C

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Bioflocos + 8% P.V. 312,01 ± 4,33 A 761,18 ± 20,94 B

Bioflocos + 4% P. V. 229,78 ± 5,68 B 500,49 ± 17,79 C

Bioflocos + 2% P. V. 187,84 ± 4,13 C 329,35 ± 4,49 D

Conversão Alimentar Aparente

21 dias 48 dias

Controle 0,88 ± 0,02 A 0,87 ± 0,04 AB

Bioflocos + 8% P.V. 0,91 ± 0,03 A 1,02 ± 0,04 A

Bioflocos + 4% P. V. 0,82 ± 0,04 A 0,81 ± 0,04 BC

Bioflocos + 2% P. V. 0,67 ± 0,04 B 0,68 ± 0,01 C

Fator de Condição

21 dias 48 dias

Controle 3,30 ± 0,05 B 3,30 ± 0,05 B

Bioflocos + 8% P.V. 3,50 ± 0,06 AB 3,50 ± 0,04 A

Bioflocos + 4% P. V. 3,40 ± 0,05 AB 3,40 ± 0,05 AB

Bioflocos + 2% P. V. 3,60 ± 0,05 A 3,30 ± 0,05 B

Média ± Erro padrão. Letras diferentes na coluna indicam diferenças significativas entre tratamentos pelo teste de

Tukey (5%).

0

10

20

30

40

50

60

21 dias 48 dias

Controle

Bioflocos + 8% P.V.

Bioflocos + 4% P. V.

Bioflocos + 2% P. V.

Gan

ho

de

pes

o(g

)

A

A

B

C

A

B

C

D

A

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Figura 7. Ganho de peso (A) e ganho de peso diário (B) do tambaqui (Colossoma

macropomum) cultivado em sistema de bioflocos e alimentado com diferentes taxas de

arraçoamento em relação ao peso vivo (P.V.). Em cada tempo de amostragem, letras diferentes

indicam diferenças significativas entre tratamentos pelo teste de Tukey (5%).

4. DISCUSSÃO

Tanto no tratamento sem bioflocos (controle) como no sistema com bioflocos (BFTs),

os parâmetros de qualidade de água apresentaram-se adequados ao cultivo de peixes, conforme

indica MORO et al. (2013).

No tratamento controle o sistema de abastecimento era aberto, ou seja, a água se

renovava constantemente e, considerando que a água de abastecimento era proveniente de poço

artesiano, menores concentrações de oxigênio dissolvido foram verificadas neste tratamento,

uma vez que águas subterrâneas possuem índices baixos de oxigênio dissolvido, por não estar

em contato com o ar atmosférico, como relatado por (TADEU e CRUZ, 2005). Ainda de acordo

com estes autores, maior depleção do oxigênio dissolvido ocorre em águas com maiores

quantidades de matéria orgânica e microrganismos presentes. No caso dos peixes alimentados

com a menor taxa de arraçoamento (2%P.V.) houve menor aporte de matéria orgânica na água

devido à quantidade reduzida de ração ofertada, o que explica a maior concentração de oxigênio

verificada neste tratamento.

A temperatura e amônia tóxica nos tratamentos controle e bioflocos não diferiram

significativamente, porém, é necessário destacar que no tratamento controle era esperado que

os níveis de amônia se mantivessem baixos devido à constante renovação de água no fluxo

contínuo. No entanto, no caso do bioflocos o sistema funcionava em circulação fechada, e os

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

2,0

21 dias 48 dias

Controle

Bioflocos + 8% P.V.

Bioflocos + 4% P. V.

Bioflocos + 2% P. V.

Gan

ho

de

pes

o d

iári

o (

g/d

ia)

A

A

B

C

A

B

C

D

B

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níveis de amônia tóxica não se elevaram neste sistema, devido à eficiência dos microrganismos

em captar o N-inorgânico e metabolizá-lo em proteína microbiana. Segundo AVNIMELECH

(1999), o processo de formação do bioflocos ocorre através da adição de uma fonte de carbono

orgânico na água dos sistemas de produção, que estimulará o crescimento de bactérias

heterotróficas capazes de absorver o nitrogênio em excesso no sistema transformando-o em

proteína microbiana, consequentemente, diminuindo os níveis de amônia presente na água dos

cultivos (HARGREAVES, 2006).

Alcalinidade da água e pH (potencial hidrogeniônico) diferiram significativamente entre

o tratamento controle e o sistema BFTs. A alcalinidade tem função principal na aquicultura de

exercer o “poder tampão”, que é a capacidade de um corpo d’água manter o pH estável ao longo

do dia (MORO et al., 2013). Neste trabalho, a alcalinidade variou de 317,00 a 390,00 mg de

CaCO3 e estes altos valores são devido à característica da fonte de água subterrânea da região,

rica em hidróxidos, carbonatos e bicarbonatos. Segundo EBELING et al., 2006), águas com

alcalinidade maior que 100 mg CaCO3/Lsão consideradas adequadas para o sistema de

bioflocos. O pH no sistema de bioflocos se manteve entre 8,3 e 8,4, dentro dos limites

considerados ideais para que ocorra os processos de nitrificação no sistema (ZHAO et al.,

2012). Alcalinidade e pH significativamente mais altos no sistema BFTs em relação ao controle

decorrem das fontes de carbono adicionadas ao sistema (melaço + fontes de cálcio usados na

formulação da ração), que contribuíram por elevar esses parâmetros.

A tecnologia BFTs se destaca por apresentar um sistema considerado eco sustentável,

de operação controlada de água, capaz de otimizar a utilização dos recursos hídricos. Em

relação ao uso de água, o sistema BFTs (recirculação) quando comparado ao controle (com

fluxo contínuo e renovação constante) possibilitou grande economia, uma vez que durante os

48 dias de experimentação, apenas 13,5% da água utilizada no controle foi utilizada no sistema

de bioflocos. Contudo, em sistemas fechados pode ocorrer acúmulo de resíduos nitrogenados e

o bioflocos se mostrou eficiente na remoção destes resíduos do sistema, podendo ser uma

técnica utilizada para melhorar a qualidade da água, como relata CRAB et al. (2012).

Após 48 dias de cultivo, os peixes cultivados em bioflocos, e alimentados com baixas

taxas de arraçoamento (4% e 2% P.V.) apresentaram menor desempenho zootécnico com

reduzido peso final, ganho de peso (no período e diário), biomassa final, ganho de biomassa e

taxa de crescimento específico. A quantidade reduzida de ração ofertada aos animais, em função

de menores taxas de arraçoamento em relação ao peso vivo praticadas nestes tratamentos, levou

a uma queda no desempenho e produtividade quando comparado aos peixes cultivados com e

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sem bioflocos, mas, alimentados com taxas de arraçoamento mais altas (8% P.V.). Por outro

lado, a melhor conversão alimentar aparente (CAA) foi encontrada nos peixes cultivados em

BFTs e alimentados com a menor taxa de arraçoamento (2%P.V.) (CAA: 0,68 ± 0,01),

sugerindo que a restrição alimentar aplicada levou estes peixes a aproveitarem de forma mais

eficiente o alimento fornecido para transformação em peso vivo.

Estudos relatam que o bioflocos pode ser consumido e proporcionar uma fração

significativa de proteínas demandadas pelo animal (AVNIMELECH, 2007; BALLESTER et

al., 2010; CRAB et al., 2010a). Na carcinicultura já foi identificado que espécies de camarões,

como o Litopenaeus vannamei, podem consumir diretamente a biomassa microbiana, reduzindo

os custos de produção. Rotiska e Sudaryono (2014) verificaram em sistema BFTs crescimento

médio diário de 0,31% para L. vannamei alimentados com 20% a menos de ração do que o

habitual.

Em piscicultura, são poucos os estudos com bioflocos envolvendo restrição alimentar.

Cunha (2016) em juvenis de guppys (Poecilia reticulata) verificou que animais produzidos nos

sistemas BFT e arraçoados com 1,5% do peso vivo obtiveram o mesmo desempenho daqueles

produzidos sem bioflocos com taxas de arraçoamento de 3% do peso vivo e relatou que o

bioflocos pode ter contribuído com 50% da taxa de alimentação, suprindo a diminuição da

oferta de ração. Já Cavalcante et al. (2017) em tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus)

cultivadas em sistemas BFTs e submetidas à restrição alimentar de 30% do alimento fornecido

apresentaram prejuízo no desempenho, com baixos resultados de peso corporal final, taxa de

crescimento específico e produtividade, semelhante às observações do presente estudo. Nossos

resultados indicam que a retirada parcial do alimento artificial não foi devidamente compensada

pelo alimento natural disponível no bioflocos, sugerindo que o nível de restrição de alimentação

aplicada (4% e 2% do P. V.) foi excessivo para suprir a exigência nutricional na fase de

desenvolvimento em que os peixes estavam (alevinos).

No que diz respeito ao desempenho, diversos estudos vêm demonstrando resultados

positivos de peixes produzidos em sistemas com bioflocos em relação aos tradicionais

(AVNIMELECH, 2007; AZIM et al., 2008; WIDANARNI et al., 2012; LONG et al., 2015;

CUNHA, 2016). No entanto, nossos resultados foram divergentes aos da literatura, uma vez

que até os 21 dias, o desempenho de alevinos de tambaqui cultivados em BFTs e alimentados

com 8% do P. V. não diferiu do dos peixes do grupo controle (sem bioflocos e submetidos à

mesma taxa de arraçoamento), com registro de queda no desempenho destes peixes no BFTs

aos 48 dias de cultivo.

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Apesar do menor desempenho observado, os peixes do BFTs arraçoados com 8% P.V.

apresentaram fator de condição significativamente maior (3,50 ± 0,04) em relação com controle

(3,30 ± 0,05). O fator de condição pode ser considerado um índice corporal que reflete as

interações entre os peixes e fatores bióticos e abióticos, sendo uma medida quantitativa do bem–

estar do animal (GOMIERO e BRAGA, 2003). A baixa transparência da água no sistema BFTs

pode ter contribuído para uma melhor ambiência dos animais, resultando em maior fator de

condição em relação ao controle, cuja água manteve-se clara pela ausência do bioflocos. Aride

et al. (2006) avaliaram o desempenho e sobrevivência de juvenis de tambaqui sob diferentes

fotoperíodos e observaram que animais mantidos sob total escuridão (simulando a condição

natural de baixa visibilidade de rios e lagos) apresentaram melhor desempenho do que aqueles

mantidos sob iluminação contínua, os quais apresentaram sinais evidentes de estresse.

Desta forma, no que diz respeito ao cultivo de alevinos de tambaqui em BFTs, a

tecnologia promoveu economia no uso de água, remoção de resíduos nitrogenados e melhor

ambiência aos peixes, que apresentaram melhor aparência visual do que os peixes do controle,

como nadadeiras íntegras, coloração translúcida e brilhante. Além disso, os tambaquis

cultivados em BFTs apresentaram uma coloração mais clara, tornando esta espécie mais atrativa

para o mercado consumidor.

5. CONCLUSÃO

A comunidade microbiana do bioflocos foi capaz de utilizar rapidamente o nitrogênio

dissolvido lixiviado das fezes dos peixes, além de resto de alimentos não consumidos, e

convertê-lo em proteína microbiana, mantendo a qualidade da água.

O alimento natural disponível no bioflocos não compensou o déficit de nutrientes

provocado pela retirada parcial da ração ofertada aos juvenis de tambaqui alimentados com as

taxas de arraçoamento de 4 e 2% do P.V. O sistema de bioflocos não promoveu benefícios que

levassem ao maior desempenho zootécnico dos peixes até 48 dias de experimentação.

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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