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ODO NA TA foto: Camila Aoki Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 192 193

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OdonataDiversidade de Odonata da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer BatistaMara Cristina Teixeira-Gamarra1, Camila Aoki2, Silvia Leitão Dutra3,Nelson Silva Pinto4 & Paulo De Marco Jr.5

1 Graduação em Ciências Biológicas, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.e-mail: [email protected] Programa de Pós Graduação em Ecologia e Conservação, Universidade Federalde Mato Grosso do Sul. e-mail: [email protected] Programa de Pós Graduação em Ecologia e Evolução,Universidade Federal de Goiás. e-mail: [email protected] Graduando em Ciências Biológicas, Laboratório de Ecologia Teórica e Sínteseda Universidade Federal de Goiás. e-mail: [email protected] Laboratório de Ecologia Teórica e Síntese, Departamento de Ecologia,Universidade Federal de Goiás. e-mail: [email protected]

ResumoOs representantes da ordem Odonata são insetos hemimetábolos

com adultos terrestres e larvas aquáticas, popularmente conhecidos como libélula, lava-bunda, cavalo-de-judeu, zig-zag e jacinta, entre outros. Na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista (RPPN EBB), através da metodologia de busca ativa com rede entomológica, foram coletados 224 indivíduos de Odonata, distribuídos em três famílias, 15 gêneros e 24 espécies. A família Libellulidae apresentou maior riqueza e abundância entre as famílias registradas na área de estudo. O gênero mais representativo foi Erythrodiplax, com cinco espécies registradas. O gênero Triacanthagyna e a espécie Micrathyria romani ainda não tinham sido registrados para Estado de Mato Grosso do Sul. Este trabalho figura como a primeira listagem de Odonata para a região da Serra do Amolar.

IntroduçãoOs representantes da ordem Odonata são insetos hemimetábolos

predadores, tanto na fase adulta terrestre alada como na fase de larva aquática. Popularmente são conhecidos como libélula, lava-bunda, cavalo-de-judeu, zig-zag e jacinta, entre outros (Souza et al., 2007); na

região da Serra do Amolar são conhecidos como papa-mosquito. Esses insetos vivem em uma grande variedade de habitats, são facilmente registrados e susceptíveis às mudanças do meio ambiente induzidas por atividades humanas (Lambeck, 1997). Sua abundância e riqueza são influenciadas tanto pela qualidade de recursos disponíveis como pelo tipo de habitats e disponibilidade de presas (Huryn & Wallace, 2000; Benke et al., 2001) quanto pelas características de sua estrutura corporal e comportamento.

Estima-se que a diversidade total de Odonata seja cerca de 6.000 espécies para o mundo todo (Kalkman et al., 2008). A ordem é dividida em três subordens: Anisozygoptera, com distribuição restrita ao Oriente; Anisoptera e Zygoptera, com distribuição Neotropical (Souza et al., 2007). Aproximadamente 48% do total das espécies da Região Neotropical, cerca de 800 espécies, são registradas no Brasil (Souza et al., 2007).

Para o Estado de Mato Grosso do Sul, a fauna conhecida de Odonata é cerca de 150 espécies (Longfield, 1929; Heckman, 2006; Souza & Costa, 2006; Pessacq & Costa, 2007). Costa et al. (1998) registraram 39 espécies de Odonata para região do Pantanal Sul-Mato-Grossense, havendo ainda um levantamento com 163 morfoespécies em área de Cerrado na região do Aporé Sucuriú (Souza & Costa, 2006).

A maior parte das informações disponíveis sobre o grupo refere-se ao Pantanal, embora haja grandes lacunas de conhecimento tanto nesta região quanto para o restante do Estado. Para a região da Serra do Amolar, onde situa-se a Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista (RPPN EEB), a Odonatofauna era até o momento totalmente desconhecida, sendo este o primeiro levantamento sistematizado na região.

MetodologiaLocais de Coleta

A RPPN EEB está localizada no estado de Mato Grosso do Sul, a noroeste do município de Corumbá (S 18°05’25” e O 57°28’27”), entre o Rio Paraguai e a Baía Mandioré. O limite oeste da RPPN EEB faz fronteira com a Bolívia.

As coletas foram realizadas entre os dias 27 de julho e 02 de agosto

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de 2010 (estação seca) e entre os dias 27 de março e 05 de abril de 2011 (estação chuvosa), na estrada Mandioré (S 18°05’42” e O 57°28’53”), nas trilhas Amolar (S 18°05’33” e O 57°28’36”) e Morrinhos (S 18°06’20” e O 57°29’30”), na sede da RPPN EEB (S 18°05’25” e O 57°28’27”) e na margem do Rio Paraguai, dentro dos limites da RPPN EEB (S 18°05’06” e O 57°28’38”).

Dados da 2a Expedição para o Plano de Manejo da RPPN EEB, realizada entre 19 e 24 de maio de 2007, foram incluídos à listagem e aparecem destacados na Tabela 1.

Métodos de coleta

Os indivíduos adultos de Odonata foram coletados com o auxílio de rede entomológica (puçá) (Figura 1), sendo realizadas sete horas diárias (7h – 11h e 14h – 17h) de busca ativa e coleta ao longo das trilhas. O material coletado foi tratado com acetona PA por 24 horas para manutenção das cores, acondicionado em envelopes entomológicos e conservado em recipientes contendo naftalina.

Figura 1. Busca ativa com auxílio de rede entomológica (puçá). Fotos: Bolivar Porto.

Identificação do material coletado

A identificação foi realizada com o auxílio de estereomicroscópio, chaves taxonômicas (Lencioni, 2005; Lencioni, 2006; Garrison et al., 2006; Heckman, 2006) e comparação com materiais previamente identificados por especialistas. Os indivíduos coletados foram depositados na Coleção Biológica Didática da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista (RPPN EEB) e na Coleção do Laboratório de Ecologia Teórica e Síntese da Universidade Federal de Goiás.

Análise de dadosPara calcular a diversidade dos pontos amostrais foram utilizados

os índices de diversidade de Shannon (H’, logaritmo base natural) e o estimador não-paramétrico Chao 1 para estimar a riqueza de espécies. Para determinação do esforço amostral, utilizamos curvas de acumulação de espécies pela aleatorização (com 1000 iterações) de diferentes tamanhos de amostras (número de indivíduos) usando o programa EcoSim 7 (Gotelli & Entsminger, 2001).

ResultadosForam coletados 224 indivíduos, distribuídos em três famílias,

15 gêneros e 24 espécies (Tabela 1), sendo 21 espécies pertencentes à subordem Anisoptera (famílias Aeshnidae e Libellulidae) e apenas três pertencentes à subordem Zygoptera (família Coenagrionidae).

Tabela 1. Espécies de Odonata registradas na Reserva Particular do Patrimônio Natural En-genheiro Eliezer Batista, Corumbá/MS.

Legenda: (S) Seca, (C) Chuvosa, (Am) Trilha Amolar, (Ma) Estrada Mandioré, (Mo) Trilha Morrinhos, (Ri) Margem do Rio Paraguai, (Se) Sede da RPPN EEB. *Espécies registradas na 2a Expedição para o Plano de Manejo da RPPN EEB / maio de 2007.

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O esforço amostral representado pela curva de acumulação de espécies indicou que a riqueza de Odonata está subamostrada, uma vez que a curva permaneceu abaixo da assíntota (Figura 2). A riqueza estimada foi de 36 espécies; desta forma, teriam sido amostradas cerca de 67% das espécies ocorrentes na área de estudo.

Figura 2. Curva de rarefação de espécies de Odonata na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, Corumbá/MS. As barras indicam o intervalo de confiança de 95%.

Quatorze espécies foram registradas na estação seca, 22 espécies naestação chuvosa e 12 espécies foram comuns às duas estações: Coryphaeschna adnexa, Homeoura nepos (Figura 3), Erythemis attala, E. peruviana, E. plebeja, E. vesiculosa, Erythrodiplax cf. latimaculata, Er. longitudinalis, Er. paraguayensis, Er. umbrata, Miathyria marcella e Micrathyria romani. Apenas duas espécies foram registradas somente na estação seca: Ischnura fluviatilis e Er. fusca. Dez espécies foram registradas somente na estação chuvosa: Triacanthagyna sp., Helveciagrion sp., Brachymesia herbida, Diastatops intensa, Micrathyria spuria, Orthemis discolor, Planiplax sp., Tramea calverti, T. cophysa e Tholymis citrina.

Figura 3. Homeoura nepos. Foto: Camila Aoki.

A família Libellulidae contribuiu com o maior número de espécies (19) e também apresentou as espécies mais abundantes na área de estudo (Tabela 1): Miathyria marcella (42 indivíduos, Figura 4), Erythrodiplax umbrata (24, Figura 5), Erythemis plebeja (21, Figura 6), Erythodiplax paraguayensis (20, Figura 7), Micrathyria romani (19), Erythemis vesiculosa (19, Figura 8) e E peruviana (16, Figura 9). Apesar das elevadas abundâncias, nenhuma espécie foi registrada em todos os pontos amostrados. O gênero mais representativo foi Erythrodiplax, com cinco espécies registradas.

Figura 4. Miathyria marcella.Foto: Bolivar Porto.

Figura 5. Erythrodiplax umbrata.Foto: Daniel de Granville.

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Figura 6. Erythemis plebeja.Foto: Camila Aoki.

Figura 8. Erythemis vesiculosa.Foto: Camila Aoki.

Figura 7. Erythrodiplax paraguayensis.Foto: Bolivar Porto.

Figura 9. Erythemis peruviana.Foto: Bolivar Porto.

A estrada Mandioré apresentou a maior riqueza de espécies (18) e índice de diversidade de 2,34 nats/ind., enquanto na margem do Rio Paraguai foram registradas 12 espécies e índice de diversidade de 2,18 nats/ind. As trilhas Amolar e Morrinhos apresentaram sete espécies e índice de diversidade de 1,61 nats/ind. e 1,83 nats/ind., respectivamente. A Sede da RPPN EEB apresentou a menor riqueza (6) e índice de diversidade calculado de 0,74 nats/ind. (Tabela 2).

A estrada Mandioré, a trilha Amolar e a margem do Rio Paraguai apresentaram espécies exclusivas destes locais (12 espécies no total). A estrada Mandioré apresentou sete espécies exclusivas (Ischnura fluviatilis, Erythemis attala, E. plebeja, Micrathyria spuria, Orthemis discolor, Tramea calverti e Tholymis citrina), na margem do Rio Paraguai foram registradas quatro espécies (Helveciagrion sp., Brachymesia herbida, Diastatops intensa e Planiplax sp.), e na trilha Amolar foi registrada apenas uma (Erythrodiplax fusca) (Tabelas 1 e 2).

Tabela 2. Riqueza específica por ponto de coleta e número de espécies exclusivas.

DiscussãoNo Brasil, ocorrem 14 famílias de Odonata, sendo dez de Zygoptera

(Amphipterygidae, Calopterygidae, Coenagrionidae, Dicteriadidae, Lestidae, Megapodagrionidae, Perilestidae, Protoneuridae, Polythoridae e Pseudostigmatidae). Na RPPN EEB, apenas a família Coenagrionidae foi registrada e quatro da subordem Anisoptera (Aeshnidae, Cordullidae, Gomphidae e Libellulidae) (Ferreira-Peruquetti, 2004), sendo que estiveram presentes na área de estudo as famílias Aeshnidae e Libellulidae.

A capacidade de vôo das libélulas é determinada por sua capacidade de controlar a temperatura do corpo (comportamento de termorregulação). Os representantes da subordem Zygoptera (Figura 3) possuem asas pequenas, estreitadas na base e capacidade de vôo mais limitada (Corbet, 1999; Corbet, 2001; Conrad et al., 2002). A maioria das espécies de Zygoptera em ambientes tropicais é associada a áreas sombreadas, pois apresentam uma alta razão entre a superfície e o volume corporal, ou seja, são mais delgadas, por isso, são mais vulneráveis aos raios solares (Paulson, 2006; Juen & De Marco, 2011).

Grande parte da subordem Anisoptera (Figuras 4 a 9) possui asas anteriores e posteriores largas e grande capacidade de voo. Este grupo também utiliza a exposição ao sol para termorregulação, mas tem o corpo mais robusto e por isso são menos dependentes da intensidade dos raios solares com menor perda de calor e água para o ambiente (May, 1976). São animais com menos restrições ambientais e mais generalistas com ocorrência preferencial em áreas abertas.

Na RPPN EEB, registramos as famílias Coenagrionidae (Zygoptera) representada por apenas três espécies, Aeshnidae e Libellulidae (Anisoptera) representadas por duas e 19 espécies, respectivamente. As áreas de coleta na reserva são caracterizadas por vegetação aberta e pouco

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sombreamento (para mais detalhes ver capítulo Introdução e Área de Estudo), o que explica o padrão de maior

representatividade de espécies de Anisoptera nas amostragens. A riqueza da área é ainda maior que a lista divulgada por este estudo, conforme demonstrado pela curva de acumulação de espécies.

A família Libellulidae apresentou as espécies mais abundantes e foi a família mais representativa neste estudo, assim como em outros levantamentos, como nos Estados de São Paulo (Costa et al., 2000) e Espírito Santo (Costa & Oldrini, 2005), nos quais cerca de 50% das espécies conhecidas pertencem a esta família.

Libellulidae é uma família cosmopolita, com algumas espécies bem adaptadas a ambientes temporários e com ciclo de vida muito curto (Carvalho & Calil, 2000; Costa et al., 2002; Watanabe, 2004). O gênero Erythrodiplax apresentou o maior número de espécies, a dominância desse gênero é comum em levantamentos (Costa et al., 2000; Costa & Oldrini, 2005; Souza & Costa, 2006), embora em algumas áreas ocorra maior riqueza do gênero Erythemis (Ferreira-Peruquetti & Fonseca-Gessner, 2003), que foi o segundo gênero mais representativo neste estudo, com quatro espécies registradas.

Coenagrionidae inclui as formas de menor tamanho e também as libélulas mais delicadas (Costa et al., 2000). Esta família é mais representativa dentre os Zygoptera e amplamente distribuída pelo Brasil, assim como a família Libellulidae, pertencente à subordem Anisoptera (Costa et al., 2000). Estas famílias são as mais representativas em termos de número de espécies no país – Libellulidae com 207 espécies e Coenagrionidae com 144 (De Marco & Vianna, 2005).

A família Aeshnidae inclui os anisópteros chamados de voadores, mais velozes e de maior porte (Costa et al., 2000; Costa & Oldrini, 2005) e figura como a quarta família com o maior número de espécies no Brasil (De Marco & Vianna, 2005).

A presença de várias espécies exclusivas nas áreas amostradas pode significar alta especificidade de habitat e forte relação com o biótopo, ou que as coletas não foram suficientes para amostrar a riqueza real de cada ponto amostral.

A diferença registrada entre as campanhas seca e chuvosa pode ser explicada pelo fato de que insetos como os Odonata apresentam um ou

mais períodos de emergência anual e indivíduos adultos de uma dada espécie, devido ao seu ciclo de vida, podem estar presentes no ambiente apenas em determinadas épocas do ano (Souza, 2003).

Costa et al. (1998) registraram 39 espécies de Odonata para a região do Pantanal Sul-Mato-Grossense. Destas, 19 espécies também foram registradas neste estudo: Coryphaeschna adnexa, Ischnura fluviatilis, Brachymesia herbida, Diastatops intensa, Erythemis attala, E. peruviana, E. plebeja, E. vesiculosa, Erythrodiplax fusca, Er. latimaculata, Er. longitudinalis, Er. paraguayensis, Er. umbrata, Miathyria marcella, Micrathyria spuria, Orthemis discolor, Tholymis citrina, Tramea calverti e T. cophysa.

Para o Mato Grosso do Sul, há ainda o levantamento realizado em área de Cerrado (região do Aporé Sucuriú), no qual Souza & Costa (2006) registraram 163 morfoespécies, com 111 espécies identificadas em 54 pontos de coleta. Destas, 15 espécies foram comuns ao presente trabalho, são elas: Homeoura nepos (não registrada para região do Pantanal), Ischnura fluviatilis, Diastatops intensa, Erythemis attala, E. vesiculosa, Erythrodiplax fusca, Er. latimaculata, Er. longitudinalis, Er. paraguayensis, Er. umbrata, Miathyria marcella, Micrathyria spuria, Orthemis discolor, Tramea calverti e T. cophysa.

O gênero Triacanthagyna e a espécie Micrathyria romani ainda não tinham registro para o Estado (Souza & Costa, 2006; Costa et al., 1998; Dalzochio et al., 2011), e o registro na RPPN EEB representa extensão da distribuição.

Considerações Finais

Com base no estudo dos 224 exemplares coletados, foi possível registrar a presença de 24 espécies de Odonata, pertencentes a 15 gêneros e três famílias, na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, Corumbá/MS. As coletas abrangeram as estações e seca e chuvosa, já que estes organismos apresentam um ou mais períodos de emergência anual e indivíduos adultos de uma dada espécie, devido ao seu ciclo de vida, podem estar presentes no ambiente apenas em determinadas épocas do ano.

A importância deste trabalho está pautada na inexistência de dados

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para a área, figurando assim como a primeira listagem de Odonata para esta região.

AgradecimentosAo grande mestre Luiz Onofre Irineu de Souza (In memorian), por

ter apresentado e ensinado a admirar esses fabulosos insetos. Ao Instituto Homem Pantaneiro, pelo apoio logístico. A Breno Franco Leonel, Daiene H. L. Souza, Valdilene Garcia, Antônio R. da Silva e Ramão Feitosa, pelo auxílio nas coletas. Ao CNPq, pela bolsa de Iniciação científica (no período de 2010 – 2011) de Nelson Silva Pinto.

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HeteropteraDiversidade de Percevejos (Hemiptera: Heteroptera)da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista: uma listagem preliminarHélcio R. Gil-Santana1, Camila Aoki2 & Luiz A. A. Costa3

1 Laboratório Nacional e Internacional de Referência em Taxonomia de Triatomíneos,Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro. e-mail: [email protected] Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, PPG Ecologia e Conservação.e-mail: [email protected] Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro,Departamento de Entomologia. e-mail: [email protected]

ResumoOs Heteroptera (“percevejos”) integram uma subordem da Ordem

Hemiptera, que ocorre em uma grande variedade de habitats. A maioria é fitófaga, incluindo também espécies predadoras e hematófagas, sendo, por estas razões, de relevante importância econômica e médico-veterinária. As coletas na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista ocorreram nas estações seca e chuvosa, de 2010 e 2011, respectivamente, utilizando metodologias diversas (armadilhas de queda, pitfalls, guarda-chuva entomológico, redes de varredura e armadilhas de interceptação de voo). Foram registradas 71 espécies de Heteroptera, distribuídas em 16 famílias, das quais Reduviidae, Tingidae e Coreidae foram as mais ricas. A fauna foi representada principalmente por espécies de ampla distribuição, mas cabe ressaltar o registro de uma espécie Stenopodainae (Rhyparoclopius sp.) com hemiélitros de dimensões reduzidas em ambos os sexos, o que a torna muito conspícua, sendo provavelmente uma nova espécie. Apesar de não terem sido registradas todas as espécies ocorrentes na área, o que é esperado considerando a alta diversidade encontrada nos trópicos, o curto período de amostragem e a não utilização de outras metodologias (como a de atração luminosa noturna), a relevância deste trabalho está pautada no fato de ser o primeiro levantamento de Heteroptera feito no Pantanal Sul-Mato-Grossense e um dos primeiros realizados no Estado.

IntroduçãoOs Heteroptera (“percevejos”, “true bugs”, em inglês) integram

uma subordem da Ordem Hemiptera. O status da outra subordem, “Homoptera”, tem sido atualmente questionada, já que nem todos os seus membros parecem derivar de um ancestral comum (Schaefer & Panizzi, 2000), motivo pelo qual autores modernos passaram a incluir seus membros em duas subordens: Sternorrhyncha (pulgões, cochonilhas, psilídeos) e Auchenorrhyncha (cigarras e cigarrinhas) (Gallo et al., 2002). Estudos filogenéticos, além de corroborar a parafilia de Homoptera, sugerem que a ordem Hemiptera compõe-se de quatro clados, representados pelas três subordens referidas mais Coleorrhyncha, com poucos representantes (Forero, 2008).

Estima-se que Heteroptera inclua 37.000 espécies descritas e outras 25.000 aguardando o reconhecimento (Schaefer & Panizzi, 2000). As espécies desta subordem ocorrem em uma grande variedade de habitats, muitas das quais de relevante importância econômica e médico-veterinária (Costa Lima, 1940; Schuh & Slater, 1995; Schaefer & Panizzi, 2000; Gallo et al., 2002). A maioria dos heterópteros é fitófaga, incluindo também espécies predadoras e hematófagas, como os percevejos de cama (Cimicidae) e “barbeiros” (Reduviidae, Triatominae), transmissores da Doença de Chagas (Hogue, 1993). Um fenômeno recorrente entre os heterópteros é o mimetismo com outros insetos, particularmente himenópteros (Hogue, 1993; Gil-Santana et al., 2003).

MetodologiaLocais de Coleta

A Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista (RPPN EEB) está localizada no estado de Mato Grosso do Sul, a noroeste do município de Corumbá, entre o Rio Paraguai e a Baía Mandioré. O limite oeste da RPPN EEB faz fronteira com a Bolívia.

As coletas foram realizadas entre os dias 27 de julho e 02 de agosto de 2010 (estação seca) e entre 27 de março e 05 de abril de 2011 (estação chuvosa), em três trilhas pré-existentes na área da RPPN EEB: estrada Mandioré (S 18°05’42”, O 57°28’53”) e trilhas Amolar (S 18°05’38”, O 57°28’36”) e Morrinhos (S 18°06’20”, O 57°29’30”). A estrada Mandioré

Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista210 211

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é caracterizada pelos tipos vegetacionais savana florestada e floresta estacional semidecidual, os quais estão presentes também na trilha Amolar, juntamente com savana gramíneo-lenhosa. A trilha Morrinhos apresenta savana gramíneo-lenhosa e savana florestada.

Métodos de coletaPara a coleta dos hemípteros foram utilizadas as seguintes

metodologias:(a) Armadilhas de queda formadas por recipientes plásticos de 12

cm de diâmetro e 9 cm de altura, com aproximadamente 200 mL de água e detergente, enterrados até o nível do solo e iscadas, intercaladamente, com banana e fígado em decomposição. Instalaram-se 60 armadilhas de queda na Estrada Mandioré e 60 na trilha Amolar, as quais permaneceram por 48 horas no campo.

(b) Armadilhas do tipo pitfall: Mesmas características das armadilhas de queda, mas não iscadas. Foram instaladas 180 armadilhas na estrada Mandioré e 180 na trilha Amolar, as quais permaneceram por 48 horas no campo.

(c) Guarda-chuva entomológico: Utilizou-se uma estrutura de madeira em cruz coberta por um pano branco (1 m2) para auxiliar na coleta em arbustos e galhos de árvores (a cor do pano visou a facilitar a visualização dos animais). Essa armação foi colocada sob os galhos das árvores ou sob pequenos arbustos, os quais foram batidos com auxílio de um pedaço de madeira, a fim de que os animais caíssem sobre o pano. Cada amostra correspondeu a 20 arbustos ou galhos de árvores explorados em uma caminhada ao longo das trilhas, perfazendo 40 amostras na estrada Mandioré, 40 na trilha Amolar e 30 na trilha Morrinhos.

(d) Rede de varredura: É parecida com a rede entomológica (puçá), mas a armação de metal é mais reforçada, assim como o tecido, para suportar o atrito da rede com a vegetação. O conjunto de 10 batidas na vegetação herbácea-arbustiva correspondeu a uma amostra, totalizando 40 amostras em cada trilha.

(e) Armadilhas de interceptação de voo: A armadilha consistiu de uma tela de 1 m de altura por 1,5 m de comprimento, com emprego de dois vergalhões para manter a armadilha aberta; recipientes plásticos foram colocados na parte inferior, com água e detergente para contenção

dos insetos. Foram instaladas três armadilhas de interceptação de voo na estrada Mandioré e três na trilha Amolar, as quais permaneceram 48 horas em campo.

(f) Coletas oportunísticas com auxílio de rede entomológica.A eficiência amostral foi representada por uma curva de acumulação

de espécies resultante da aleatorização de diferentes tamanhos de amostras (número de indivíduos) utilizando o programa EcoSim 7.72 (Gotelli & Entsminger, 2011).

ResultadosForam coletados 215 indivíduos de Heteroptera pertencentes

a 71 espécies, distribuídas em 16 famílias (Tabela 1). Reduviidae foi a família mais rica (18 spp.), seguida de Tingidae (12 spp.), Coreidae (10 spp.) e Pentatomidae (7 spp.). Cinco famílias contribuíram com apenas uma espécie: Blissidae, Cydnidae, Enicocephalidae, Pachynomidae e Pyrrhocoridae.

Mesmo com a queimada ocorrida em setembro de 2010, a maioria dos indivíduos (80%) foi coletada na campanha chuvosa, bem como a maioria das espécies (65%), sendo que 42 espécies foram registradas apenas nesta estação. Estes resultados demonstram a importância da realização de coletas em estações hídricas contrastantes, principalmente em ambientes tão dinâmicos como o Pantanal. Por outro lado, a diferença encontrada sugere sazonalidade da comunidade local, cuja avaliação demanda um estudo mais abrangente.

Contudo, o número de espécies registradas provavelmente ainda está muito abaixo do número real de espécies ocorrentes na RPPN EEB, como demonstrado pela curva de acúmulo de espécies (Figura 1). Entretanto, a impossibilidade de registro de todas as espécies ocorrentes em um ambiente, em um curto período de tempo, é uma realidade principalmente em locais com alta diversidade, como é o caso do Pantanal. Mas estes registros representam um primeiro passo no intuito de conhecer a fauna de Heteroptera da área.

Considerando as áreas amostradas, a estrada Mandioré foi a que obteve o maior número de registros, com 57,5% do total de espécies, das quais, 28 delas foram registradas apenas nesta área. Na trilha Amolar, apesar de encontrarmos as mesmas fitofisionomias (savana florestada

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e floresta estacional semidecidual) e terem sido utilizadas as mesmas metodologias de coleta, foram registradas 14% menos espécies que na Estrada Mandioré. Contudo, 18 espécies foram registradas apenas nesta área. Na trilha Morrinhos, foram registradas apenas 18,3% das espécies, reflexo da menor amostragem nesta área, mas 11 delas foram exclusivas deste ponto. Estes resultados demonstram elevada diversidade beta e a necessidade de se amostrar a maior diversidade de ambientes possível quando da realização de inventários.

A coleta com guarda-chuva entomológico e rede de varredura foram as metodologias responsáveis pelo maior número de capturas de espécies de Heteroptera, 27 (38%) e 24 (34%) respectivamente. As armadilhas de queda e pitfalls também foram importantes na amostragem dos percevejos, contribuindo respectivamente com 18 (25%) e 15 (21%) das espécies encontradas. A maioria das espécies (77%) foi registrada em apenas um método de captura, indicando que o emprego conjugado de metodologias diferentes atua de forma complementar e deve, sempre que possível, ser utilizado. Importante ressaltar que neste levantamento, sem o uso de armadilhas de atração luminosa noturna, uma porção considerável da fauna de Heteroptera não foi amostrada.

Tabela 1. Espécies de Heteroptera registradas na RPPN Engenheiro Eliezer Batista, com suas respectivas abundâncias por campanha, local de registro e metodologia.

Legenda: Metodologia: (AQ) Armadilha de queda, (AIV) Armadilha de interceptação de voo, (CO) Coleta Oportunística, (GC) Guarda-chuva entomológico, (P) Pitfall, (RV) Rede de varredura.

Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista214 215

Família Espécie Abundância Área de Coleta Metodologia Seca Chuvosa

Alydidae Neomegalotomus parvus (Westwood, 1842) 2 32 Est. Mandioré, Tr. Amolar GC, AQ, RV, P, CO Alydidae Trachelium sp. 0 1 Est. Mandioré AQ Blissidae Ischnodemus variegatus (Signoret, 1857) 3 0 Est. Mandioré, Tr. Amolar GC Coreidae Crinocerus sanctus (Fabricius, 1775) 0 3 Est. Mandioré, Tr. Amolar AQ, CO, RV Coreidae Hypselonotus fulvus (Degeer, 1773) 0 1 Est. Mandioré RV Coreidae Leptoglossus cinctus (Herrich-Schäffer, 1836) 0 1 Tr. Amolar AQ Coreidae Leptoglossus sp. (ninfa) 0 1 Tr. Amolar GC Coreidae Phthia picta (Drury, 1770) 0 1 Tr. Amolar GC Coreidae Scamurius sp. 0 1 Est. Mandioré RV Coreidae Zicca sp. 0 1 Tr. Morrinhos RV Coreidae Coreidae sp. 1 0 3 Est. Mandioré GC, AQ Coreidae Coreidae sp. 2 0 1 Tr. Morrinhos RV Coreidae Coreidae sp. 3 0 1 Tr. Amolar RV Cydnidae Cydnidae sp.1 0 1 Tr. Amolar AQ Enicocephalidae Enicocephalinae sp. 1 0 Tr. Amolar AIV Largidae Largus trochanterus Signoret, 1862 0 1 Est. Mandioré AQ Largidae Largus sp. 0 1 Tr. Amolar AQ Lygaeidae Oncopeltus sp. 1 0 Est. Mandioré GC Lygaeidae Rhyparochrominae sp. 0 8 Est. Mandioré, Tr. Amolar AQ, P Lygaeidae Lygaeidae sp. 1 0 Est. Mandioré AQ, P Lygaeidae Orsillinae sp. 0 8 Tr. Amolar RV Miridae Fulvius bisbistillatus (Stål,1860) 0 3 Est. Mandioré, Tr. Amolar P Miridae Taedia sp. 1 0 Est. Mandioré GC Miridae Miridae sp. 0 1 Sede AIV Pachynomidae Aphelonotus sp. 0 6 Est. Mandioré, Tr. Amolar, Sede AQ, P, CO Pentatomidae Dichelops melacanthus (Dallas, 1851) 0 3 Est. Mandioré P, RV Pentatomidae Edessa sp. 1 1 0 Est. Mandioré CO Pentatomidae Edessa sp. 2 1 0 Est. Mandioré CO Pentatomidae Edessa sp. 3 0 2 Est. Mandioré RV Pentatomidae Euschistus heros (Fabricius, 1798) 0 1 Est. Mandioré AQ Pentatomidae Mormidea rugosa Rolston, 1978 0 12 Est. Mandioré, Tr. Amolar, Tr. Morrinhos AQ, RV, GC Pentatomidae Oebalus ypsilongriseus (Degeer, 1773) 0 2 Est. Mandioré RV Pyrrhocoridae Dysdercus chaquensis Freiberg, 1948 2 0 Est. Mandioré CO Reduviidae Apiomerus lanipes (Fabricius, 1803) 0 1 Est. Mandioré CO Reduviidae Cosmoclopius cf. nigroannulatus (Stål, 1860) 0 1 Tr. Amolar RV Reduviidae Emesinae sp. (ninfa) 1 0 Est. Mandioré GC Reduviidae Harpactorinae sp. 1 (ninfa) 1 0 Tr. Morrinhos RV Reduviidae Harpactorinae sp. 2 (ninfa) 1 0 Tr. Morrinhos RV Reduviidae Harpactorinae sp. 3 (ninfa) 0 1 Tr. Morrinhos GC Reduviidae Harpactorinae sp. 4 (ninfa) 0 1 Tr. Morrinhos RV Reduviidae Melanolestes (?) lugens Coscarón & Carpintero, 1993 (ninfa) 1 0 Tr. Amolar AQ Reduviidae Notocyrtus sp. (ninfa) 1 0 Est. Mandioré GC Reduviidae Pessoaia maculata Wygodzinsky, 1943 0 3 Est. Mandioré, Tr. Amolar AQ, P Reduviidae Phymata sp. (ninfa) 0 1 Tr. Morrinhos RV Reduviidae Pothea sp. (ninfa) 0 1 Est. Mandioré P Reduviidae Repipta sp. 0 1 Tr. Amolar RV Reduviidae Rhyparoclopius sp. 2 1 Est. Mandioré, Tr. Amolar AQ, P Reduviidae Sindala sp. (ninfa) 1 0 Tr. Amolar RV Reduviidae Vescia minima Fracker & Bruner, 1924 1 1 Est. Mandioré, Tr. Amolar AQ, P Reduviidae Zelus sp. (ninfa) 1 2 Tr. Morrinhos GC, RV Reduviidae Reduviinae sp. 1 (ninfa) 0 1 Est. Mandioré P Rhopalidae Jadera aeola (Dallas, 1852) 0 1 Tr. Morrinhos GC Rhopalidae Jadera sp. 3 0 Est. Mandioré GC Scutelleridae Agonosoma sp. 0 1 Tr. Amolar GC Scutelleridae Scutelleridae sp. 1 0 1 Est. Mandioré GC Scutelleridae Scutelleridae sp. 2 (ninfa) 0 2 Est. Mandioré RV Scutelleridae Scutelleridae sp. 3 0 1 Est. Mandioré RV Tingidae Aepycysta undosa Drake & Bondar, 1932 1 0 Tr. Amolar RV Tingidae Gargaphia torresi Lima, 1922 2 0 Est. Mandioré GC Tingidae Liotingis aspidospermae Drake & Hambleton, 1935 1 0 Est. Mandioré GC Tingidae Liotingis sp. 1 0 Tr. Amolar GC Tingidae Planibyrsa elegantula (Drake, 1922) 0 23 Tr. Morrinhos GC Tingidae Teleonemia albomarginata Champion, 1898 1 0 Tr. Amolar P Tingidae Teleonemia sp. 1 6 0 Est. Mandioré, Tr. Amolar GC, RV Tingidae Teleonemia multimaculata Monte,1940 0 8 Tr. Morrinhos GC Tingidae Tigava anonae Drake & Hambleton, 1938 2 0 Est. Mandioré, Tr. Amolar GC Tingidae Tigava sp. 1 0 Est. Mandioré GC, P Tingidae Tingis sp. 0 1 Tr. Amolar GC Tingidae Vatiga sp. 1 0 Tr. Amolar GC Veliidae Veliidae sp. 1 0 Est. Mandioré P, AIV Veliidae Microveliinae sp. 0 23 Est. Mandioré, Tr. Amolar, Tr. Morrinhos AQ, GC, P

Abundância 43 172 Riqueza 29 46

Família Espécie Abundância Área de Coleta Metodologia Seca Chuvosa

Alydidae Neomegalotomus parvus (Westwood, 1842) 2 32 Est. Mandioré, Tr. Amolar GC, AQ, RV, P, CO Alydidae Trachelium sp. 0 1 Est. Mandioré AQ Blissidae Ischnodemus variegatus (Signoret, 1857) 3 0 Est. Mandioré, Tr. Amolar GC Coreidae Crinocerus sanctus (Fabricius, 1775) 0 3 Est. Mandioré, Tr. Amolar AQ, CO, RV Coreidae Hypselonotus fulvus (Degeer, 1773) 0 1 Est. Mandioré RV Coreidae Leptoglossus cinctus (Herrich-Schäffer, 1836) 0 1 Tr. Amolar AQ Coreidae Leptoglossus sp. (ninfa) 0 1 Tr. Amolar GC Coreidae Phthia picta (Drury, 1770) 0 1 Tr. Amolar GC Coreidae Scamurius sp. 0 1 Est. Mandioré RV Coreidae Zicca sp. 0 1 Tr. Morrinhos RV Coreidae Coreidae sp. 1 0 3 Est. Mandioré GC, AQ Coreidae Coreidae sp. 2 0 1 Tr. Morrinhos RV Coreidae Coreidae sp. 3 0 1 Tr. Amolar RV Cydnidae Cydnidae sp.1 0 1 Tr. Amolar AQ Enicocephalidae Enicocephalinae sp. 1 0 Tr. Amolar AIV Largidae Largus trochanterus Signoret, 1862 0 1 Est. Mandioré AQ Largidae Largus sp. 0 1 Tr. Amolar AQ Lygaeidae Oncopeltus sp. 1 0 Est. Mandioré GC Lygaeidae Rhyparochrominae sp. 0 8 Est. Mandioré, Tr. Amolar AQ, P Lygaeidae Lygaeidae sp. 1 0 Est. Mandioré AQ, P Lygaeidae Orsillinae sp. 0 8 Tr. Amolar RV Miridae Fulvius bisbistillatus (Stål,1860) 0 3 Est. Mandioré, Tr. Amolar P Miridae Taedia sp. 1 0 Est. Mandioré GC Miridae Miridae sp. 0 1 Sede AIV Pachynomidae Aphelonotus sp. 0 6 Est. Mandioré, Tr. Amolar, Sede AQ, P, CO Pentatomidae Dichelops melacanthus (Dallas, 1851) 0 3 Est. Mandioré P, RV Pentatomidae Edessa sp. 1 1 0 Est. Mandioré CO Pentatomidae Edessa sp. 2 1 0 Est. Mandioré CO Pentatomidae Edessa sp. 3 0 2 Est. Mandioré RV Pentatomidae Euschistus heros (Fabricius, 1798) 0 1 Est. Mandioré AQ Pentatomidae Mormidea rugosa Rolston, 1978 0 12 Est. Mandioré, Tr. Amolar, Tr. Morrinhos AQ, RV, GC Pentatomidae Oebalus ypsilongriseus (Degeer, 1773) 0 2 Est. Mandioré RV Pyrrhocoridae Dysdercus chaquensis Freiberg, 1948 2 0 Est. Mandioré CO Reduviidae Apiomerus lanipes (Fabricius, 1803) 0 1 Est. Mandioré CO Reduviidae Cosmoclopius cf. nigroannulatus (Stål, 1860) 0 1 Tr. Amolar RV Reduviidae Emesinae sp. (ninfa) 1 0 Est. Mandioré GC Reduviidae Harpactorinae sp. 1 (ninfa) 1 0 Tr. Morrinhos RV Reduviidae Harpactorinae sp. 2 (ninfa) 1 0 Tr. Morrinhos RV Reduviidae Harpactorinae sp. 3 (ninfa) 0 1 Tr. Morrinhos GC Reduviidae Harpactorinae sp. 4 (ninfa) 0 1 Tr. Morrinhos RV Reduviidae Melanolestes (?) lugens Coscarón & Carpintero, 1993 (ninfa) 1 0 Tr. Amolar AQ Reduviidae Notocyrtus sp. (ninfa) 1 0 Est. Mandioré GC Reduviidae Pessoaia maculata Wygodzinsky, 1943 0 3 Est. Mandioré, Tr. Amolar AQ, P Reduviidae Phymata sp. (ninfa) 0 1 Tr. Morrinhos RV Reduviidae Pothea sp. (ninfa) 0 1 Est. Mandioré P Reduviidae Repipta sp. 0 1 Tr. Amolar RV Reduviidae Rhyparoclopius sp. 2 1 Est. Mandioré, Tr. Amolar AQ, P Reduviidae Sindala sp. (ninfa) 1 0 Tr. Amolar RV Reduviidae Vescia minima Fracker & Bruner, 1924 1 1 Est. Mandioré, Tr. Amolar AQ, P Reduviidae Zelus sp. (ninfa) 1 2 Tr. Morrinhos GC, RV Reduviidae Reduviinae sp. 1 (ninfa) 0 1 Est. Mandioré P Rhopalidae Jadera aeola (Dallas, 1852) 0 1 Tr. Morrinhos GC Rhopalidae Jadera sp. 3 0 Est. Mandioré GC Scutelleridae Agonosoma sp. 0 1 Tr. Amolar GC Scutelleridae Scutelleridae sp. 1 0 1 Est. Mandioré GC Scutelleridae Scutelleridae sp. 2 (ninfa) 0 2 Est. Mandioré RV Scutelleridae Scutelleridae sp. 3 0 1 Est. Mandioré RV Tingidae Aepycysta undosa Drake & Bondar, 1932 1 0 Tr. Amolar RV Tingidae Gargaphia torresi Lima, 1922 2 0 Est. Mandioré GC Tingidae Liotingis aspidospermae Drake & Hambleton, 1935 1 0 Est. Mandioré GC Tingidae Liotingis sp. 1 0 Tr. Amolar GC Tingidae Planibyrsa elegantula (Drake, 1922) 0 23 Tr. Morrinhos GC Tingidae Teleonemia albomarginata Champion, 1898 1 0 Tr. Amolar P Tingidae Teleonemia sp. 1 6 0 Est. Mandioré, Tr. Amolar GC, RV Tingidae Teleonemia multimaculata Monte,1940 0 8 Tr. Morrinhos GC Tingidae Tigava anonae Drake & Hambleton, 1938 2 0 Est. Mandioré, Tr. Amolar GC Tingidae Tigava sp. 1 0 Est. Mandioré GC, P Tingidae Tingis sp. 0 1 Tr. Amolar GC Tingidae Vatiga sp. 1 0 Tr. Amolar GC Veliidae Veliidae sp. 1 0 Est. Mandioré P, AIV Veliidae Microveliinae sp. 0 23 Est. Mandioré, Tr. Amolar, Tr. Morrinhos AQ, GC, P

Abundância 43 172 Riqueza 29 46

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Lista Comentada de espécies de Heteroptera da RPPN EEBA identificação de muitos heterópteros não logrou o nível específico,

estando outras limitadas a níveis mais elevados da hierarquia (subfamília, família), pela ausência de dados na literatura para esse intento em muitos grupos. A fauna neotropical é muito rica em espécies e nota-se uma concentração de estudos voltados para aquelas de importância econômica (s. l.) ou dirigidos a raros grupos que, mesmo sem significado econômico, atraíram a atenção de taxônomos em particular. Também é de se notar a dificuldade de identificação de formas imaturas, quando encontradas isoladamente, em virtude da raridade de estudos descritivos sobre as mesmas. Refletindo tais dificuldades, discorremos abaixo sobre pequeno número de espécies.

AlydidaeNeomegalotomus parvus (Westwood, 1842)As formas jovens das espécies de Neomegalotomus Schaffner &

Schaefer, 1998 (anteriormente incluídas em Megalotomus Fieber, 1861, cf. Schaefer & Panizzi, 1998; Schaefer & Ahmad, 2008) mimetizam, de maneira admirável, formigas do gênero Camponotus Mayr, 1861, o que também ocorre com outros gêneros desta família (Costa Lima, 1940). Neomegalotomus parvus é comum no Brasil, já tendo sido registrado sobre várias culturas agrícolas, inclusive como praga da soja (Glycine Max (L.) Merr.) (Schaefer & Panizzi, 1998; Panizzi et al., 2000; Gallo et al.,2002).

BlissidaeIschnodemus variegatus (Signoret, 1857)Esta espécie tem ocorrência descrita para América do Sul, América

Central (Belize e Trinidad) e América do Norte (Florida) (Brambila & Santana, 2004).

Espécies deste gênero alimentam-se e se reproduzem em plantas monocotiledôneas e algumas mostram um notável grau de especificidade de hospedeiros, incluindo várias espécies especialistas em gramíneas de áreas úmidas (Slater, 1976; Dias et al., 2009). Ischnodemus variegatus é um inseto sugador comumente encontrado entre a bainha da folha e do caule, considerado um local mais adequado para alimentação devido à ausência de alguns elementos estruturais da planta que dificultam a alimentação

(Slater, 1976; Brambila & Santana, 2004).

CoreidaeCrinocerus sanctus (Fabricius, 1775)Encontrado no Brasil e Argentina, considerado praga em alguns

cultivos, já tendo sido encontrado em diversas plantas com importância econômica, incluindo Algodão, leguminosas, Citrus sp., Acerola, Goiabeira (Costa Lima, 1940; Silva et al., 1968; Michel, 1994; Mitchell, 2000). Phthia picta (Drury, 1770) (=Dallacoris pictus (Drury, 1770) – Figura 2

Embora a espécie tenha sido incluída no gênero Dallacoris Osuna, 1981, o nome Phthia picta continua em uso na literatura (Mitchell, 2000). Ocorre desde os EUA até a Argentina (Mitchell, 2000). Ataca as Solanáceas, com preferência para o tomateiro (Costa Lima, 1940), o que lhe rendeu o nome vulgar de “percevejo-do-tomate” (Gallo et al., 2002). Contudo, tem hábitos polífagos, com registro em diversas plantas (Silva et al., 1968; Mitchell, 2000), sendo frequente no algodoeiro (Michel, 1994). Os maiores danos são causados ao tomateiro, os quais decorrem não só do dano direto pelas picadas, mas também por tornar os frutos suscetíveis a fungos e ataques por outros insetos (Mitchell, 2000). Phthia picta foi também implicado como transmissor de Phytomonas serpens (Gibbs), um trypanosomatídeo parasito do tomateiro (Mitchell, 2000).

Figura 2.Percevejo-do-tomate (Phthia picta) registrado na RPPN EEB.Foto: Daniel De Granville/Photo in Natura.

Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista216 217

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LargidaeLargus trochanterus Signoret, 1862Esta espécie foi detalhadamente redescrita por Doesburg (1966)

como L. umbrosus Distant, 1901, táxon recentemente considerado sinônimo júnior de L. trochanterus por Dellapé et al. (2010).

PentatomidaeA família Pentatomidae é, em número de espécies, uma das maiores

de Heteroptera, sendo cosmopolita e com maior diversidade nos trópicos. Pentatomidae conta com aproximadamente 760 gêneros e 4.100 espécies (Schuh & Slater, 1995).

Dichelops melacanthus (Dallas, 1851)Ocorre em diversos países da América do Sul, atacando plantações

de Soja (Panizzi et al., 2000; Gallo et al., 2002).Edessa Fabricius, 1803Possui um grande número de espécies descritas e a serem descritas

(mais de 200) (Fernandes & van Doesburg, 2000), com várias delas associadas a cultivos agrícolas (Silva et al., 1968).

Euschistus heros (Fabricius, 1798)É praga da soja (Gallo et al., 2002), sendo a espécie predominante

nessa cultura em regiões dos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul. Também tem sido registrada em diversas outras plantas, incluindo leguminosas, solanáceas, Brassicaceae e compostas (Panizzi et al., 2000).

Oebalus ypsilongriseus (Degeer, 1773)Considerada como importante praga do arroz na América do Sul,

particularmente no Brasil (Panizzi et al., 2000), com registros em outras plantas, como algodoeiro, alpiste e capim (Silva et al., 1968; Michel, 1994).

PyrrhocoridaeDysdercus chaquensis Freiberg, 1948As espécies de Dysdercus Guérin Méneville, 1831 frequentemente

tornam-se sérias pragas do algodoeiro (Gossypium spp.), sendo conhecidos como “manchadores” (“cotton stainers”, em inglês) (van Doesburg Jr., 1968; Schaefer & Ahmad, 2000; Gallo et al., 2002). Dysdercus chaquensis (Figura 3) é encontrada em vários países da América do Sul (van Doesburg Jr., 1968) e foi considerada por Rizzo (1976) como a espécie do gênero mais difundida na Argentina.

Figura 3. Casal de Dysdercus chaquensis observado na RPPN EEB. Foto: Camila Aoki.

ReduviidaeCom exceção de Triatominae, cujas espécies são hematófagas,

todos os demais Reduviidae são predadores de outros artrópodes (Costa Lima, 1940; Schuh & Slater, 1995).

Subfamília HarpactorinaeApiomerus lanipes (Fabricius, 1803)Espécie que, embora tenha sido considerada útil para controle

biológico de pragas (Rizzo, 1976), foi também observada como predadora da abelha melífera, ocasionando significantes perdas em apiário (Marques et al., 2003).

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Cosmoclopius cf. nigroannulatus (Stål, 1860)C. nigroannulatus tem sido registrado como destacado predador de

insetos, incluindo pragas, em plantações de Fumo na Argentina e Brasil (Rizzo, 1976; Marques et al., 2006).

Notocyrtus sp. (ninfa)As espécies de Notocyrtus Burmeister, 1835 são consideradas

miméticas de abelhas sem ferrão (Hymenoptera: Apidae: Apinae: Meliponini), sem que se saiba se o mimetismo é agressivo ou protetor (Gil-Santana, 2008; Gil-Santana & Forero, 2009).

Subfamília StenopodainaeRhyparoclopius sp.Esta espécie foi representada por três espécimes, observando-se

que tanto o macho quanto a fêmea são braquípteros (Figura 4), podendo representar uma nova espécie ou variação morfológica extrema de uma das espécies do gênero, o que será objeto d e futuro trabalho.

Figura 4. Rhyparoclopius sp. registrado na RPPN EEB. Foto: Hélcio R. Gil-Santana.

RhopalidaeJadera sp.Algumas espécies deste gênero têm sido encontradas sobre

algodoeiro, sem maiores repercussões sobre o seu cultivo (Michel, 1994).

TingidaeGargaphia torresi Lima, 1922Tem sido registrada em várias culturas agrícolas (Silva et al., 1968),

sem ser uma grande praga, contudo (Michel, 1994; Neal & Schaefer, 2000).

DiscussãoO período curto de coleta, sem uso de maior diversidade de meios

de captura (como a atração luminosa noturna), provavelmente contribuiu para a parca representação de Heteroptera. No período seco, é notório que não foram encontrados adultos de muitas espécies (ver Tabela 1). Confirmando esse fato, notou-se uma significativa predominância de formas imaturas (ninfas) no material coletado, o que, inclusive, dificultou ou impediu identificações específicas de vários taxa.

Apesar disto, a relevância deste estudo está pautada no fato de ser o primeiro levantamento de Heteroptera feito no Pantanal Sul-Mato-Grossense e um dos primeiros realizados no Estado. Aoki & Sigrist (2006) registraram 34 espécies de Heteroptera visitando flores em estudo realizado no Complexo Aporé-Sucuriú, região nordeste do Estado.

Dentre as espécies registradas, cabe ressaltar o registro de uma espécie peculiar de Stenopodainae, pois embora as fêmeas possam ser braquípteras, os machos dessa subfamília são macrópteros (Schuh & Slater, 1995). Assim, a constatação da existência de braquipteria (hemiélitros de dimensões reduzidas) em ambos os sexos de Rhyparoclopius sp. (Figura 4), torna a espécie muito conspícua, podendo representar uma nova espécie ou variação morfológica extrema de uma das três espécies conhecidas do gênero.

Considerações finaisConsiderando a grande variedade de habitats e diversidade dos

heterópteros, os resultados obtidos refletem a necessidade de estudos mais abrangentes, realizados por períodos maiores, incluindo todas as

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estações anuais, com uso de variados meios de coleta para permitir um adequado inventário da entomofauna da região.

AgradecimentosAgradecemos ao Instituto Homem Pantaneiro pela iniciativa e

logística; a Viviane F. Moreira, Alessandra Bertassoni, Stephanie Leal, Mara C. Teixeira-Gamarra, Nilson L. Xavier Filho, Breno Franco Leonel, Daiene H. L. Sousa, Fernanda Rabelo, Valdilene Garcia, Antônio R. da Silva, Ramão Feitosa, Sebastião Rolon, Sabrina Clink e Rodney Ribeiro Junior pelo auxílio em campo e auxílio na triagem do material.

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VespasAculeata da Reserva Particular do PatrimônioNatural Engenheiro Eliezer BatistaTiago Henrique Auko1,3; Bhrenno Maykon Trad2,3; Rogério Silvestre1,2,3& Camila Aoki4

1 Programa de Pós Graduação em Entomologia e Conservação da Biodiversidade,Universidade Federal da Grande Dourados. e-mail: [email protected] Faculdade de Ciências Biológicas e Ambientais,Universidade Federal da Grande Dourados. e-mail: [email protected] Laboratório de Ecologia de Hymenoptera HECOLAB,Faculdade de Ciências Biológicas e Ambientais - UFGD. e-mail: [email protected] Universidade Federal de Mato Grosso do Sul,PPG Ecologia e Conservação. e-mail: [email protected]

ResumoAs vespas Aculeata são insetos cosmopolitas e amplamente diversos,

pertencentes aos grupos Chrysidoidea, Vespoidea (exceto formigas) e Apoidea (exceto abelhas). A maior riqueza do grupo é encontrada nos trópicos. Neste capítulo abordamos a fauna das vespas da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista (RPPN EEB), situada no Pantanal do Paraguai, em duas partes: I - composição faunística das vespas em um inventário rápido da diversidade realizado no período de 25 de março a 04 de abril de 2011, com a utilização de três técnicas de coleta (armadilha de Malaise, guarda-chuva entomológico e rede entomológica). Foram registradas neste levantamento 40 espécies de Hymenoptera Aculeata, distribuídas nas famílias Vespidae, Pompilidae, Mutillidae, Scoliidae, Crabronidae, Specidae e Chrysididae. II - estudo das vespas visitantes florais (vespas antófilas). Diferentemente das abelhas, as vespas são pouco estudadas em relação à sua capacidade antófila, e por muito tempo se acreditava que estes insetos não fossem polinizadores efetivos de Angiospermas. Estudos recentes sugerem que as vespas são polinizadoras de dezenas de famílias de plantas e que algumas espécies destes insetos possuem relações específicas com algumas espécies vegetais. O levantamento da comunidade de vespas visitantes florais foi realizado na RPPN EEB, em duas etapas, entre 19 e 24 de maio de 2007 e entre 27 de julho e 02 de agosto de 2010. As coletas foram realizadas

em flores, com auxílio de rede entomológica. Foram coletados 36 indivíduos pertencentes às três superfamílias de Hymenoptera Aculeata, totalizando 19 espécies de vespas. As vespas foram observadas visitando principalmente flores tubulares, pequenas (até 2 mm.), de cor branca ou alaranjada, incluídas na síndrome melitófila. As vespas amostradas nas duas partes deste inventário totalizam 50 espécies, 32 gêneros e sete famílias. Percebemos que para melhor inventariar a comunidade de vespas da RPPN EEB e amostrarmos outros grupos é necessária a realização de mais coletas e em épocas distintas do ano, principalmente levando em consideração a marcada sazonalidade encontrada no Pantanal.

Parte I - Composição FaunísticaIntrodução

A ordem Hymenoptera, com mais de 130.000 espécies conhecidas, é considerada a segunda maior ordem de insetos no mundo. Mesmo assim, muitos entomólogos acreditam que, quando forem incluídas as inúmeras espécies ainda não descritas, principalmente da micro-fauna parasitóide, esta pode ser a ordem de insetos mais diversa (Gordon, 2008). Esta ordem é caracterizada pela presença de dois pares de asas membranosas de tamanhos diferentes e a autapomorfia do grupo é a união destas asas por pequenos espinhos denominados “hâmulos” (Fernández & Sharkey, 2006).

Os Hymenoptera abrangem um vasto leque de estilos de vida e biologia, incluindo dois verdadeiramente notáveis dentro da classe Insecta (taxa eusociais e formas parasitárias) e de maior elaboração comportamental entre os insetos (Whitfield, 1998). Estes insetos são importantes no balanceamento e no funcionamento da maioria dos ecossistemas terrestres. As vespas sociais, em virtude de seu comportamento e abundância, têm um grande impacto em outros organismos por consumi-los diretamente (Richter, 2000).

Os himenópteros são tradicionalmente divididos em duas subordens, Symphyta e Apocrita. O que caracteriza a monofilia de Apocrita é a constrição entre o primeiro e segundo segmento abdominal (Wharton et al., 2004). Apocrita é um grupo monofilético comumente dividido em Aculeata e Parasítica, também conhecidos como Terebrantia.

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Aculeata apresenta quatro divisões informais: abelhas (Apoidea), vespas predadoras (Vespoidea e Apoidea), formigas (Vespoidea) e parasitóides aculeados (Chrysidoidea), sendo que vespas e formigas são geralmente predadoras e as abelhas são alimentadas por pólen e néctar quando larvas (Hanson & Gauld, 1995; Fernández & Sharkey, 2006; Sharkey, 2007).

O termo Aculeata refere-se às vespas que tiveram seus ovopositores modificados em forma de ferrão. Por isso estes insetos podem ser chamados de vespas caçadoras, com exceção de alguns grupos que possuem o comportamento das vespas parasíticas, como acontece com Chrysididae e Pompilidae. Uma diferença comportamental considerável entre as vespas caçadoras e as parasíticas deve-se ao fato de as caçadoras levarem suas presas até um ninho e também ao fato de suas larvas consumirem mais de uma presa (Fernández & Sharkey, 2006).

Apesar da elevada importância deste grupo, estudos no Pantanal são inexistentes, sendo esta a primeira tentativa de acessar parte da diversidade de vespas deste bioma/região.

MetodologiaA Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer

Batista (RPPN EEB) está localizada no estado de Mato Grosso do Sul, a noroeste do município de Corumbá, cerca de 180 km a montante da sede do município, entre o Rio Paraguai e a Baía Mandioré.

Foi realizado um inventário rápido entre os dias 25 de março a 04 de abril de 2011, na estrada Mandioré (S 18°05’42”, O 57°28’53”), nas trilhas Amolar (S 18°05’38”, O 57°28’36”) e Morrinhos (S 18°06’20”, O 57°29’30”), na sede da RPPN EEB (S 18°05’25”, O 57°28’27”) e na margem do Rio Paraguai (S 18°05’06”, O 57°28’38”).

Para o levantamento de vespas foram utilizadas três metodologias:Armadilha tipo Malaise: Estas armadilhas capturam os indivíduos

através da intercepção do voo e são bastante utilizadas para a coleta de insetos voadores. Uma armadilha foi instalada próxima à sede da RPPN EEB e outras três foram instaladas nas trilhas Amolar e Morrinhos e na estrada Mandioré. Elas Ficaram expostas pelo período de cinco dias, instaladas rentes ao chão, contendo álcool 96% para a fixação dos indivíduos.

Guarda-chuva entomológico: Uma estrutura de madeira em cruz coberta por um pano branco (1 m2) foi utilizada para auxiliar na coleta em arbustos e galhos de árvores (a cor do pano visou facilitar a visualização dos animais). Essa armação foi colocada sob os galhos das árvores ou sob pequenos arbustos. Estes foram batidos com o auxílio de um pedaço de madeira, a fim de que os animais caíssem sobre o pano. Cada amostra correspondeu a 20 arbustos ou galhos de árvores explorados em uma caminhada no interior do ponto de coleta. Foram realizadas 20 amostras na Estrada Mandioré, 20 na Trilha Amolar e seis na Trilha Morrinhos.

Busca ativa: A coleta ativa com a utilização das redes entomológicas ocorreu durante todo o trabalho de campo, com inicio às 7h30 e término às 17h. Observações foram feitas em flores durante o percurso das trilhas e na margem do Rio Paraguai e das baías.

A identificação das vespas foi realizada em estereomicroscópio, com consulta às chaves de identificação (Bohart & Menke, 1976; Menke & Fernández, 1996; Carpenter & Garcete-Barrett, 2002; Brothers, 2006a,b; Manson & Fernández, 2006). Material testemunho foi incorporado à coleção de Hymenoptera do Museu da Biodiversidade da Universidade Federal da Grande Dourados – MS (MUBIO) e na Coleção Biológica Didática da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista.

ResultadosDurante a amostragem rápida da fauna de vespas Aculeata da RPPN

EEB, foram amostrados 101 indivíduos, 28 gêneros e 40 espécies (tabela 1). A superfamília Vespoidea foi responsável por 90% da riqueza das espécies e por 95% da abundância dos indivíduos, sendo representada por quatro famílias.

Vespidae apresentou a maior riqueza, com 23 espécies em 16 gêneros; e também o maior número de indivíduos, 55 espécimes. Aqui foram amostradas as três subfamílias de Vespidae que ocorrem na região Neotropical. Eumeninae foi a subfamília com o maior número de espécies (14) e gêneros (nove) amostrados, Polistinae foi a subfamília mais abundante, com mais de 50% dos indivíduos amostrados (30), Polybia chrysothorax (Lichtenstein, 1976) (Figura 1a) foi a espécie mais

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abundante, com nove registros. Masarinae foi representada por apenas uma espécie (Trimeria rubra Hermes & Mello, 2006) (Figura 1b), com somente dois exemplares, sendo este o primeiro registro desta espécie para o Mato Grosso do Sul e para o Pantanal como um todo.

a b

Figura 1. Polybia chrysothorax (a) e Trimeria rubra (b), coletadas na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, Corumbá/MS. Foto: Camila Aoki e Tiago Auko.

As duas famílias de Spheciformes foram amostradas na RPPN EEB. Sphecidae foi representada por apenas uma espécie, Eremnophila binodis (Fabricius, 1728), com dois indivíduos machos. Crabronidae também teve somente dois exemplares registrados, Stictia sp. (Bembicinae), amostrado próximo à sede da RPPN EEB, e Liris sp. (Crabroninae), na trilha Morrinhos. Chrysidoidea, com dois representantes da família Chrysididae, teve apenas uma morfoespécie. Os exemplares foram amostrados na Estrada Mandioré e próximo à sede da RPPN EEB.

Em relação às técnicas de amostragem empregadas nesta expedição de coleta, a rede entomológica foi responsável pelo registro da maioria dos indivíduos, com exceção de um exemplar de Agelaia multipcta (Haliday, 1936) (Vespoidea: Vespidae), que foi amostrada em uma das armadilhas de Malaise, instalada na trilha Amolar, e um individuo de Mickelia sp. 1 (Vepoidea: Mutillidae), que foi capturado por meio do guarda-chuva entomológico, na trilha Morrinhos.

A trilha Morrinhos mostrou ser a mais diversa entre as três trilhas amostradas na RPPN EEB, com 38 indivíduos e 16 espécies coletados, seguida pela trilha Amolar, onde amostramos 32 indivíduos e 15 espécies de vespas Aculeata, e, por fim, a estrada Mandioré, com 28 indivíduos e oito espécies registradas. O restante foi amostrado nas proximidades da sede e na margem do rio Paraguai.

Tabela 1. Superfamílias, famílias, subfamílias e espécies de vespas Aculeata amostradas na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, no período chuvoso, em 2011.

Legenda: (Am) Trilha Amolar, (Ma) Estrada Mandioré,(Mo) Estrada Morrinhos,(Sd) Sede da RPPN EEB.

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Superfamília Família Subfamília Espécies Abundância Local de coleta VESPOIDEA Mutillidae Sphaeropthalminae Sphaeropthalmini sp. 1 6 Am

Sphaeropthalmini sp. 2 1 Ma

Sphaeropthalmini sp. 3 8 Mo

Hoplocrates sp. 1 Am

Mickelia sp. 1 1 Mo

Mickelia sp. 2 1 Am

Suareztilla sp 1 Am

Traumatomutilla graphica (Gerstaecker, 1874) 8 Ma

Traumatomutilla sp. 1 4 Mo

Traumatomutilla sp. 2 1 Sd

Pompilidae Pepsinae Ageniella sp 1 Mo

Pompilinae Anoplius sp 1 Mo

Scoliidae Campsomerinae Campsomeris sp 6 Am, Mo

Vespidae Eumeninae Ancistroceroides sp. 2 Am

Antezumia chalybea (Saussure, 1854) 1 Mo

Hypalastoroides sp. 1 1 Am

Hypalastoroides sp. 2 1 Mo

Omicron tuberculatum (Fox, 1899) 3 Mo

Omicron sp 1 Am

Pachodynerus sp 5 Mo

Pachyminixi sp 1 Am

Parancistrocerus sp 1 Ma

Stenodynerus sp 2 Am

Zethus sp. 1 2 Ma

Zethus sp. 2 1 Mo

Zethus sp. 3 1 Ma

Zethus sp. 4 1 Am

Masarinae Trimeria rubra Hermes & Mello 2006 2 Am

Polistinae Agelaia multipicta (Haliday, 1936) 4 Am

Brachygastra sp. 1 4 Am

Metapolybia sp 2 Mo

Polybia chrysothorax (Lichtenstein, 1796) 9 Ma

Polybia ignobilis (Haliday, 1836) 4 Mo

Polybia (gr. occidentalis) sp. 1 5 Ma Polistes cannadensis (Linnaeus, 1758.) 1 Mo

Synoeca sp. 1 Am CHRYSIDOIDEA Chrysididae Chrysididae sp. 2 Ma, Sd

APOIDEA Sphecidae Eremnophila binodis (Fabricius, 1798) 2 Mo

Crabronidae Stictia sp. 1 Sd

Liris sp. 1 Mo

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DiscussãoAs 40 espécies de vespas Aculeata amostradas na RPPN EEB

representam uma grande diversidade para este grupo de insetos, levando em consideração que estes dados são apenas de uma expedição de coleta, com duração de 10 dias, em um período logo posterior a um incêndio (setembro de 2010).

A grande diversidade de Vespoidea amostrada na RPPN EEB em relação aos outros grupos de Aculeata já era esperada, afinal este grupo é expressamente mais diverso que os Apoidea na região Neotropical e porque as técnicas de coleta empregadas não são as técnicas ideais para a coleta dos chrysidídeos, como por exemplo, a armadilha de Möericke (bandejas coloridas), que é a armadilha mais utilizada para a amostragem da fauna de micro-vespas (Fernández & Sharkey, 2006).

O número de espécies pertencentes aos Vespidae (23) foi muito superior aos mutillídeos (10) e aos pompilídeos (2). Esses números refletem a diversidade desses grupos na região Neotropical. Já a abundância dos vespídeos em relação às outras famílias amostradas aqui está relacionada ao fato de este grupo de vespas contar com espécies sociais, possibilitando a coleta de vários indivíduos da mesma colônia. Isto fica evidente quando comparamos a diversidade entre as duas subfamílias mais diversas de Vespidae representadas aqui, sendo uma delas composta por vespas de hábitos solitários (Eumeninae) e a outra caracterizada pelo comportamento social (Polistinae). Polistinae apresentou a maior abundância entre elas, mas foram os Eumeninae que apresentaram a maior riqueza.

A diversidade registrada na RPPN EEB em apenas uma expedição de coleta e as espécies de vespas amostradas, como por exemplo, Agelaia multipcta, indica que este local contempla uma área de grande riqueza para a fauna de vespas Aculeata e que esta área deve ser preservada com o intuito de conservação da biodiversidade.

Grupos como Crabronidae, Sphecidae, Mutillidae, Pompilidae e Scoliidae são pouco estudados no Mato Grosso do Sul. Com este levantamento, esperamos contribuir para o estudo biogeográfico destas vespas, com novos registros de distribuição, preenchendo lacunas de ocorrência das espécies. Grupos como Mutillidae e Pompilidae são

carentes de taxonomistas para a região Neotropical e foram apenas morfoespeciados neste estudo. Com a determinação de especialistas em um futuro próximo, poderemos ter novos registro de distribuição para a América do Sul (Sivestre et al., 2010), ou até mesmo descrição de novas espécies.

Parte II - Vespas AntófilasIntrodução

Plantas fornecem recursos alimentares, abrigo e locais de reprodução/nidificação para diversas espécies de insetos. Estes, por sua vez, podem contribuir para o sucesso reprodutivo das espécies vegetais, atuando como polinizadores. Entre estes insetos, destacam-se as abelhas, borboletas, mariposas, moscas e as vespas (Proctor et al., 1996).

Hunt (1991) identificou oito fontes alimentares para os himenópteros aculeados, mas o néctar é o alimento preferencial para os indivíduos adultos. A justaposição das partes bucais (mandíbula) dá exclusividade a essa dieta e reflete a fascinante evolução dos himenópteros, sugerindo que ela ocorreu junto à evolução das Angiospermas (Baker & Hurd, 1968). Vespas são visitantes comuns em flores, embora algumas espécies sejam atraídas pela oportunidade de predar outros visitantes (Faegri & van der Pijl, 1979; Corlett, 2004).

Com exceção das abelhas, trabalhos realizados com os himenópteros para verificar sua eficiência na polinização são raros (Heithaus, 1979 a,b,c; Proctor et al., 1996; Barros, 1998; Köhler, 2008). Segundo o Ministério do Meio Ambiente (2006), em publicação que traz levantamento detalhado da produção científica nacional sobre polinizadores no Brasil, menos de 5% investigam o papel das vespas na polinização. Para o Pantanal, estudos com as vespas antófilas são inexistentes.

Mechi (1996) realizou um extenso trabalho de fenologia de vespas capturadas em flores no cerrado do estado de São Paulo. Neste trabalho, na Reserva Jataí, foram coletadas 142 espécies de vespas em 69 espécies de plantas com flores, sendo que Didymopanax vinosum (Araliceae) e Styrax camporum (Styracaceae) foram as plantas mais visitadas. As espécies de vespas mais frequentes visitando o maior número de espécies de plantas nesta Reserva foram: Agelaia pallipes, Polybia paulista e

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Polybia ignobilis. Outras espécies, como Omicron tuberculatum e Polybia dimidiata, visitaram apenas dois tipos de plantas no cerrado, indicando especialização; contudo, a maioria das espécies foi generalista.

As vespas são agentes fundamentais na polinização de muitas famílias de plantas. A reprodução das espécies de Ficus, por exemplo, depende exclusivamente da polinização realizada por pequenas vespas da família Agaonidae, ao mesmo tempo em que as vespas necessitam de algumas flores da planta para desenvolverem suas proles, ocorrendo uma estreita interação mutualística (Pereira et al., 2000). No estudo de Granja e Barros (1998), os principais visitantes de três espécies de Erythroxylum foram himenópteros, sendo espécies dos gêneros Brachygastra, Polistes, Polybia e Pepsis, consideradas polinizadores efetivos.

MetodologiaAs coletas foram realizadas em duas etapas, entre 19 e 24 de maio

de 2007 (2ª Expedição para o Plano de Manejo) e entre 27 de julho e 02 de agosto de 2010, na estrada Mandioré (S 18°05’42”, O 57°28’53”), nas trilhas Amolar (S 18°05’38”, O 57°28’36”) e Morrinhos (S 18°06’20”, O 57°29’30”), na sede da RPPN EEB (S 18°05’25”, O 57°28’27”) e na margem do Rio Paraguai (S 18°05’06”, O 57°28’38”).

A coleta de vespas foi realizada em flores, com auxílio de rede entomológica. As espécies vegetais em floração foram observadas por 10 minutos, entre as 7h e 12h e entre as 14h e 17h. A maior parte das amostras foi obtida em plantas de porte herbáceo e (sub)arbustivo, bem como em espécies arbóreas que apresentaram ramos acessíveis.

A identificação das vespas foi realizada em estereomicroscópio com consulta a chaves de identificação (Manson & Fernández, 2006; Carpenter & Garcete-Barrett, 2002). As plantas visitadas foram identificadas e classificadas quanto à síndrome de polinização (conforme Faegri & Van der Pijl, 1979), medidas quanto ao máximo diâmetro e comprimento, sendo classificadas em pequenas (< 10 mm), médias (> 10 20 mm), grandes (> 20 30 mm) e muito grandes (> 30 mm) (Machado & Lopes 2004). As flores também foram classificadas em oito tipos florais (modificado de Faegri & van der Pijl, 1979): (1) inconspícua (< 4 mm); (2) prato; (3) campânula-funil; (4) tubo; (5) goela; (6) estandarte; (7) pincel;

(8) câmara. Sete categorias de cores foram consideradas de acordo com a cor principal: branca, esverdeada (incluindo bege e creme), amarela, alaranjada, rosa, violeta/lilás (incluindo azul) e vermelha (Machado & Lopes, 2004).

ResultadoEm um inventário rápido da estrutura da comunidade de vespas

antófilas da RPPN EEB, foram coletados 37 indivíduos pertencentes às três superfamílias de Hymenoptera Aculeata, totalizando 20 espécies de vespas e 15 gêneros (Tabela 2).

Vespoidea, o grupo mais abundante, foi representado apenas pela família Vespidae, com 11 gêneros e 17 espécies. A superfamília Chrysidoidea foi representada por um único exemplar da família Chrysididae (Figura 2a). Os Apoidea foram representados por dois indivíduos, um pertencente à família Crabronidae (Trachypus sp.) e o outro à família Sphecidae (Eremnophila sp., Figura 2b).

Figura 2. Chrysididae (a) e Eremnophila sp.(b) coletadas na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, Corumbá/MS. Fotos: Camila Aoki.

Entre os Vespidae, Eumeninae foi a subfamília mais rica (9 spp., 45%), seguida de Polistinae (8 spp., 40%). Polybia (gr. occidentalis) sp.1 e Synoeca sp. (Figura 3) foram as espécies que visitaram maior número de espécies vegetais (3 spp.). Brachygastra moulae e Polybia ignobilis (Figura 4) visitaram duas espécies de plantas, e as demais espécies de vespas visitaram flores de apenas uma espécie.

As vespas visitaram 13 espécies de plantas, representantes de sete famílias. Asteraceae foi a mais rica, com três espécies, Bidens gardneri,

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Eupatorium candolleanum e Mikania micrantha. As espécies que receberam maior número de visitas foram: Bidens gardneri (Figura 5a), visitada por Brachygastra sp. 1, B. moulae, P. ignobilis, P. (gr. occidentalis) sp. 1 e Synoeca sp., todas pertencentes à família Polistinae; e Polygonum acuminatum (Figura 5b), que recebeu visitas de P. chrysothorax, P. ignobilis, Omicron tegulare, Zeta argillaceum e Zethus schrottkyanus.

As vespas foram observadas visitando principalmente flores de síndrome melitófila (polinizadas por abelhas) ou “diversos pequenos insetos” (d.p.i conforme Bawa et al., 1985), que englobam flores polinizadas por pequenas abelhas, vespas, moscas e besouros. Houve predomínio de visitas a flores tubulares, pequenas (máximo 2mm de diâmetro e comprimento) e com coloração branca ou alaranjada (Tabela 2).

Tabela 2. Espécies de vespas registradas visitando flores na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, Corumbá/MS.

d.p.i: Polinização por diversos pequenos insetos.

Figura 3. Polybia ignobilis registrada na RPPN EEB, Corumbá/MS. Foto: Camila Aoki.

Figura 4. Synoeca sp. registrada na RPPN EEB, Corumbá/MS. Foto: Camila Aoki.

Figura 5.Espécies vegetais com maior número de visitas por vespas na RPPN EEB, Corumbá/MS.(a) Bidens gardneri e(b) Polygonum acuminatum.Fotos: Camila Aoki.

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DiscussãoA riqueza de espécies registrada neste estudo é baixa se comparada

ao observado por Aoki & Sigrist (2006) em áreas de cerrado, no nordeste do estado, com o registro de 113 espécies de vespas antófilas, com predomínio de Vespidae, como registrado no presente estudo. Vespidae está distribuído em todo o mundo, e os trópicos possuem a maior riqueza. Apenas três subfamílias são encontradas no Brasil, sendo elas Polistinae, Eumeninae e Masarinae (Carpenter & Sarmiento, 2006), das quais duas foram observadas no presente levantamento.

Eumeninae, subfamília mais rica neste levantamento, possui espécies predadoras de larvas que, quando adultas, visitam flores (Colomo & Berta, 2005a). Esta subfamília inclui mais de 3.200 espécies, sendo a mais rica entre os vespídeos (Carpenter & Garcete-Barrett, 2002).

Polistinae, que também teve destaque nesse levantamento, é composta por mais de 940 espécies sociais; são vespas predadoras de outros artrópodes e podem alimentar-se de néctar e pólen de flores (Colomo & Berta, 2005b). Neste estudo, o gênero Polybia foi o mais representativo em termos de riqueza, com cinco espécies: P. chrysothorax, P. ignobilis (Figura 3), P. (occidentalis) sp. 1, P. (occidentalis) sp. 2 e P. (occidentalis) sp. 3.

O reduzido número de espécies amostradas neste estudo provavelmente está relacionado ao curto tempo de coleta e em grande parte é reflexo da baixa ocorrência de espécies de plantas em floração na época de amostragem. Assim, para melhor inventariar a comunidade de vespas visitantes florais, é necessário realizar mais coletas e em épocas distintas do ano, principalmente levando em consideração a marcada sazonalidade encontrada no Pantanal. Táxons não amostrados na área, como, por exemplo, Tiphiidae e Scoliidae, que também visitam flores, além de um número maior de espécies, provavelmente seriam contemplados com o aumento do esforço amostral.

Mesmo não amostrando a riqueza total das vespas antófilas da RPPN EEB, este estudo mostra a importância de se incluir as flores como sítios amostrais deste grupo, tendo em vista que das espécies registradas, 18% foram registradas apenas por esta metodologia. Isto é corroborado por estudos realizados em outras regiões: Santos (2000) observou 13

espécies da família Vespidae polinizando 39 espécies diferentes de plantas na caatinga brasileira, no estado da Bahia; Hermes & Köhler (2006) registraram 25 espécies de Polistinae em 90 espécies de angiospermas e Sühs et al. (2009) registraram 12 espécies de vespas em flores de Schinus terebinthifolius, ambos realizados no sul do Brasil.

Asteraceae, como a família com maior número de espécies e visitas por vespas, também foi registrado por Hermes e Köhler (2006) e Aoki e Sigrist (2006). Esta família possui distribuição cosmopolita, sendo a mais rica entre as eudicotiledôneas, com aproximadamente 23.000 espécies, das quais 2.000 ocorrem no Brasil (Souza & Lorenzi, 2005).

Aoki & Sigrist (2006) também registraram maior número de espécies de vespas associadas a flores com sistemas de polinização d.p.i (49%) ou melitófilas (39%). Uma maior visita a flores de tubo curto, mais abertas, é esperada, uma vez que neste tipo floral os recursos ficam mais acessíveis aos visitantes.

Considerações finais

Vespas são organismos primordiais para os ambientes terrestres, atuam como polinizadoras de uma série de plantas e também são predadoras (fase larval) de vários invertebrados, como aranhas, lagartas, besouros, baratas, moscas, entre outros, contribuindo assim para o equilíbrio dos ecossistemas terrestres.

Esta é uma primeira tentativa de descrever a diversidade de vespas deste bioma/região, até então desconhecida. Para melhor inventariar a fauna da Serra do Amolar, novas amostragens são necessárias e devem englobar distintas épocas do ano. Contudo, uma boa representação foi obtida para a RPPN EEB, que demonstra ser uma área de grande importância para a conservação da biodiversidade de vespas.

AgradecimentosAo Professor Doutor Fernando B. Noll (UNESP – São José do Rio

Preto), aos pesquisadores Marcel Hermes e a Bolívar Rafael Garcete Barrett (Universidade Federal do Paraná – Curitiba).

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MamíferosMamíferos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer BatistaAlessandra Bertassoni¹, Nilson L. Xavier Filho¹,Fernanda Almeida Rabelo¹ & Grasiela Porfírio¹,²

¹ Setor de Meio Ambiente do Instituto Homem Pantaneiro – IHP - Corumbá – MS.Ladeira José Bonifácio, 171 – Porto Geral – CEP: 79.300-900 - Corumbá - MS, Brasil, e-mail:[email protected], [email protected], [email protected]² Departamento de Biologia e CESAM – Centro de Estudos do Ambiente e do Mar.Laboratório de Vida Selvagem. 3810-193. Campus de Santiago.Universidade de Aveiro, Portugal. E-mail: [email protected]

ResumoDo total de espécies com ocorrência em território nacional

(n=688), 174 são registradas para o Pantanal, incluindo os quirópteros e os pequenos mamíferos. A mastofauna pantaneira apresenta uma alta abundância e distribuição de espécies, contudo o conhecimento ainda é insatisfatório no que diz respeito à sua ocorrência. O presente estudo teve como objetivo complementar e incrementar a listagem de mamíferos que ocorrem na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista - RPPN EEB (S 18°05’25”, O 57°28’27”), região da Serra do Amolar no Pantanal sul-mato-grossense. O trabalho foi desenvolvido em duas campanhas, uma na seca de 2010 e outra na cheia de 2011, a partir do uso das metodologias de coleta de contramoldes de rastros, armadilhas fotográficas e observação direta de mamíferos. Foram verificadas 33 espécies de mamíferos pertencentes a 21 famílias. O lobinho (Cerdocyon thous), o veado mateiro (Mazama americana) e a onça parda (Puma concolor) foram os animais com maior número de registros fotográficos no período de estiagem. No período de cheia, as espécies com maior número de registros fotográficos foram a anta (Tapirus terrestris), o veado mateiro (Mazama americana), o veado catingueiro (Mazama gouazoubira) e o cateto (Pecari tajacu). No período de estiagem, o mês que contou com maior frequência de observações diretas de espécies foi junho (n=6). Durante o período de cheia, foi obtido um registro de cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus) através de rastros, e

uma observação direta de um casal de macaco da noite (Aotus azarae). Estima-se que na RPPN EEB ocorram aproximadamente 64 espécies de mamíferos. A região da Serra do Amolar é considerada uma das áreas de importância e prioridade extremamente alta para a conservação segundo o Ministério do Meio Ambiente, com recomendações de ações prioritárias em nível de inventários. Contudo, os estudos sobre sua fauna e flora ainda são consideradas insuficientes.

IntroduçãoEm todo o globo terrestre, estima-se que existam cerca de 5.400

espécies de mamíferos descritas (Wilson & Reeder, 2005). Destas, 688 estão presentes em território brasileiro (Reis et al., 2011). A grande diversidade de biomas e seus ecótones inseridos no Brasil contribuem para o alto nível de diversidade encontrado (Eisenberg & Redford, 1999). Do total de espécies com ocorrência em território nacional, 174 são registradas para o Pantanal (Alho, 2008; Alho et al., 2011), incluindo os quirópteros e os pequenos mamíferos. Contudo, o grau de coleta para a região é considerado “ruim”, apresentando lacunas substanciais de conhecimento (Rodrigues et al., 2002; Lewinsohn, 2005).

O Pantanal apresenta uma rica mastofauna com um número expressivo de mamíferos ameaçados. Entretanto, o desenvolvimento que está ocorrendo na região pode colocar em risco ainda várias espécies se medidas conservacionistas apropriadas não forem implantadas (Alho & Lacher, 1991). Tanto pesquisadores quanto conservacionistas estão preocupados em conhecer a mastofauna pantaneira, pois muitas espécies são consideradas indicadores biológicos, e esses dados podem auxiliar no desenvolvimento de estratégias para a conservação (Rodrigues et al., 2002).

A mastofauna pantaneira é caracterizada pela alta abundância de espécies (Trolle, 2003), todavia o conhecimento ainda é insatisfatório no que diz respeito à sua ocorrência (Rodrigues et al., 2002; Alho & Gonçalves, 2005). As informações apresentadas neste capítulo têm o intuito de complementar e incrementar a listagem de mamíferos que ocorrem na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista - RPPN EEB, situada na região da Serra do Amolar.

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MetodologiaLocais de coleta

O estudo foi conduzido na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista (RPPN EEB) (S 18°05’25”, O 57°28’27”), situada na região da Serra do Amolar, ao sul do Parque Nacional do Pantanal Mato-Grossense.

As coletas foram realizadas no período de 27 de julho a 02 de agosto de 2010, compreendendo o período de seca, e de 27 de março a 04 de abril de 2011, durante o período de cheia. Os locais amostrados dentro da RPPN EEB foram a estrada Mandioré (S 18°05’42”, O 57°28’53”), e as trilhas Amolar (S 18°05’38”, O 57°28’36”) e Morrinhos (S 18°06’20”, O 57°29’30”)

Métodos de coleta

Os rastros deixados pelos mamíferos foram utilizados como método para identificá-los a partir da coleta de seus contramoldes (Borges & Tomas, 2008; Oswaldo Jr. & Luz, 2008). A técnica é bastante simples e consiste no uso de seções circulares de material plástico (garrafas PETs ou tubos de PVC) cortadas transversalmente e que são colocadas na amplitude do rastro encontrado, onde em seguida despeja-se uma mistura de gesso e água. Após secagem, o contramolde é limpo para retirada do substrato. No campo também procuramos por evidências associadas aos rastros (fezes, tocas, vestígios de forrageamento; figura 1) para facilitar a identificação, que também se baseou na literatura e no conhecimento dos biólogos da equipe envolvida.

Paralelamente, foram utilizadas dez armadilhas fotográficas do modelo Tigrinus® convencional 4.0C. Em cada ponto de amostragem, duas armadilhas fotográficas foram instaladas a uma altura média de 45 cm do solo, uma de frente para a outra, com o intuito de fotografar os dois flancos dos animais. As armadilhas foram programadas para funcionar durante 24 horas e utilizamos um intervalo de cinco minutos entre os registros fotográficos. Iscas não foram utilizadas para atrair os animais e foi padronizada uma distância de cerca de mil metros entre as estações.

Durante o período de estiagem, foi realizada uma amostragem ao longo da estrada Mandioré, entre 21 de setembro e 17 de outubro de 2010, totalizando um esforço de 20 noites e 480 horas. No início do período

de cheia, entre outubro e novembro de 2010, foi realizada uma segunda amostragem, dessa vez na trilha Amolar, entre 03 de outubro a 17 de novembro de 2010, totalizando um esforço amostral de 44 dias e 1056 horas.

Encontros oportunísticos e observações diretas de mamíferos na RPPN EEB foram registrados no período de maio a setembro de 2010 e março e abril de 2011, enquanto os biólogos e técnicos percorriam as trilhas ou as margens do rio Paraguai e seus corpos d’água secundários. Quando possível, houve o registro fotográfico. Os dados foram tabulados indicando o local do avistamento, a data, o período do dia ou horário, bem como as possíveis observações.

Cabe ressaltar que as metodologias supracitadas estão direcionadas aos registros de mamíferos de médio e grande porte. Não foi utilizada metodologia específica para amostragem e identificação de mamíferos voadores e pequenos mamíferos, que permanecem pouco conhecidos na RPPN EEB.

Figura 1 – Observações indiretas associadas às espécies de mamíferos na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, Serra do Amolar, Corumbá/MS. (a e c) rastro de onça-pintada (Panthera onca); (b) fezes de felino de grande porte; (d) unha de cutia (Dasyprocta azarae) encontrada em fezes de felino de grande porte. Fotos Instituto Homem Pantaneiro.

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ResultadosAtravés dos métodos utilizados, foram identificadas 33 espécies de

mamíferos pertencentes a 21 famílias (Tabela 1). Levando em consideração as estações amostradas, 13 espécies foram identificadas durante a cheia e 21 durante a estiagem (Tabela 2).

Foram coletados 16 contramoldes de rastros. Desses, quatro eram de jaguatirica (Leopardus pardalis), dois de onça-pintada (Panthera onca), dois de lobinho (Cerdocyon thous), três de anta (Tapirus terrestris), dois de queixada (Tayassu pecari) e tatu-peba (Euphractus sexcintus), e um de cutia (Dasyprocta azarae).

Grupos taxonômicos diversos foram observados a partir do armadilhamento fotográfico, sendo 13 espécies e nove famílias. A espécie com maior registro de fotos no período de estiagem foi o lobinho (C. thous, n=13, figura 2h), seguido do veado mateiro (Mazama americana, figura 2a) e da onça-parda (Puma concolor, figura 1i), que obtiveram seis registros cada. Foram obtidos ainda cinco registros de anta (T. terrestris, figura 2c), quatro de jaguatirica (L. pardalis, figura 2j), dois de cateto (Pecari tajacu, figura 2d e 2k) e quati (Nasua nasua, figura 2g e 2l), um registro de cutia (D. azarae, figura 2e) e veado catingueiro (Mazama goazoubira, figura 2b).

Figura 1 – Observações indiretas associadas às espécies de mamíferos na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, Serra do Amolar, Corumbá/MS. (a e c) rastro de onça-pintada (Panthera onca); (b) fezes de felino de grande porte; (d) unha de cutia (Dasyprocta azarae) encontrada em fezes de felino de grande porte. Fotos Instituto Homem Pantaneiro.

C. thous foi fotografado principalmente no período noturno, contando com apenas duas fotos no período diurno e crepuscular. Já P. concolor, M. americana, T. terrestris, L. pardalis e M. goazoubira foram espécies observadas exclusivamente à noite. Por outro lado, N. nasua, D. azarae e P. tajacu foram registradas somente no período diurno.

Durante a estiagem, todas as observações diretas aconteceram no período matutino e vespertino, à exceção das espécies C. thous e Hydrochaeris hydrochaeris (capivara). De maio a setembro, o mês que contou com maior frequência de observação direta de espécies foi

junho (n=6), com um tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), um indivíduo macho de onça-pintada (P. onca), uma lontra (Lontra longicaudis), uma ariranha (Pteronura brasiliensis), três visualizações de C. thous e um grupo de três capivaras (H. hydrochaeris). No mês de setembro, foi visualizado, no período vespertino, um indivíduo de macaco-da-noite (Aotus azarae) próximo a formações de acuri (Attalea phalerata).

Durante a segunda campanha de armadilhagem fotográfica, realizada no período de cheia, as espécies com o maior número de registros foram a anta (T. terrestris), com 20 registros, e o veado-mateiro (M. americana), com 15 registros, seguidos por veado-catingueiro (M. goazoubira) e cateto (P. tajacu), com 11 registros cada. No mês de abril de 2011, foi visualizado por volta do meio dia um casal de macaco-da-noite, também em formação de acuris. Um rastro de cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus) foi visualizado em abril de 2011, na estrada Mandioré. Apesar de não utilizarmos metodologia apropriada para amostragem de pequenos mamíferos, um roedor (Thrichomys pachyurus; figura 2f) foi registrado através de armadilha fotográfica no período chuvoso.

Tabela 1. Espécies de mamíferos atualmente registrados para a Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, Serra do Amolar, Corumbá/MS.

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Fabiano,Verde graficoser da paleta.

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Legenda: Método: (Obs. Dir) Observação direta e (Arm. Fotog.) Armadilha fotográfica; * Espécies registradas somente na II Expedição para definições de prioridades da RPPN EEB, em maio de 2007. Status (IUCN): LC – Least Concern; NT- Near Thretened; EN- Endangered; DD- Data Deficient; VU- Vulnerable.

Tabela 2. Espécies de mamíferos registrados na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista durante o período de seca de 2010 e cheia de 2011, a partir dos métodos de observação direta, coleta de contramoldes e armadilhas fotográficas.

Figura 2 – Espécies de mamíferos registradas através de visualizações diretas na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, Serra do Amolar, Corumbá/MS. (a) Macaco-prego (Cebus cay, foto Alessandra Bertassoni); (b) Macaco-da-noite (Aotus azarae, foto Claudenice Faxina); (c) Bugio (Alouatta caraya, foto Nilson Lino Xavier Filho); (d) Sagui (Mico melanurus, foto André Brandão); (e) Sauía (Thrichomys pachyurus, foto Nilson Lino Xavier Filho); (f ) Capivara (Hydrochaeris hydrochaeris, foto Nilson Lino Xavier Filho); (g) Ariranha (Pteronura brasiliensis, foto Nilson Lino Xavier Filho); (h) Onça-pintada (Panthera onca, foto Nilson Lino Xavier Filho); (i) carcaça de cervídeo (foto Nilson Lino Xavier Filho).

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Fabiano,Verde graficoser da paleta.

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DiscussãoQuando existem espécies difíceis de capturar ou observar, uma

série de indícios pode ser utilizada para inferir a presença de um animal (Boitani & Fuller, 2000). O valor das observações indiretas não deve ser subestimado, pois muitas vezes é o método mais eficaz para aferir o contexto físico do animal e seu ambiente social (Grzimek, 2004). Ainda, deve-se considerar que a maioria dos mamíferos apresenta hábitos noturnos e vive em habitats de difícil acesso (i.e. tocas, dossel), e por isso raramente são vistos (Lewinsohn, 2005).

Figura 3 – Espécies de mamíferos registradas a partir do método de armadilhas fotográficas na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, Serra do Amolar, Corumbá/MS. (a) Veado catingueiro (Mazama gouazoubira); (b) Veado mateiro (Mazama americana); (c) Anta (Tapirus terrestris); (d e k) Cateto (Pecari tajacu); (e) Cutia (Dasyprocta azarae); (f ) Sauía (Thrichomys pachyurus); (g e l) Quati (Nasua nasua); (h) Lobinho (Cerdocyon thous); (i) Onça-parda (Puma concolor); (j) Jaguatirica (Leopardus pardalis). Fotos de armadilhas fotográficas Instituto Homem Pantaneiro – IHP.

O método de registro de rastros em períodos curtos é apontado como satisfatório para o levantamento das espécies de mamíferos terrestres de médio e grande porte (Pardini et al., 2003; Santos et al., 2004). Contudo, se o foco do estudo for maior e com questões diferentes do que simples levantamento de espécies, esse método deve ser associado a outros. Em um estudo realizado na Serra da Bodoquena/MS, 19 espécies foram registradas por rastros (Cáceres et al., 2007). Na Reserva Biológica Municipal Mário Viana, em Nova Xavantina/MT, 29 espécies foram registradas principalmente por rastros (Rocha & Dalponte, 2006). No presente estudo, registramos somente sete espécies. Esse número possivelmente está subestimado, uma vez que o período de coleta dos rastros foi muito curto, e a área de estudo encontrava-se sob influência de forte estiagem, o que pode ter diminuído o tempo em que os rastros ficaram visíveis na estrada e nas trilhas, devido ao solo seco, arenoso e pela presença dos ventos.

O método de armadilhamento fotográfico é uma alternativa para o estudo dos animais silvestres e tem sido utilizado em várias pesquisas (Alves & Andriolo, 2005), desde inventários de fauna (Trolle, 2003; Tobler et al., 2008) até projetos com delineamento amostral específico para estimativas de densidade (Maffei et al., 2005; Soisalo & Cavalcanti, 2006; Negrões et al., 2010), uso de habitats (Karanth, 1995; Santos-filho & Silva, 2002), padrões de atividade (Cuéllar et al., 2006; Oliveira-Santos et al., 2008; Romero-Muñoz et al., 2010) e conservação (Kinnaird et al., 2003).

Em um levantamento de mamíferos realizado na Fazenda Nhumirim, no Pantanal da Nhecolândia, foram encontradas 20 espécies. As espécies com as maiores frequências de observações foram N. nasua, C. thous, M. americana, o M. gouazoubira, Ozotocerus bezoarticus e Alouatta caraya (Alho et al., 1987). No presente estudo, com exceção de O. bezoarticus, todas as espécies estiveram presentes, sendo C. thous e M. americana os animais com maior número de registros fotográficos. No Pantanal do Rio Negro, a partir da metodologia de transectos, C. thous também esteve entre uma das espécies mais frequentes (Mamede & Alho, 2006). Talvez essa alta frequência ocorra por se tratar de uma espécie oportunista generalista, que ocorre em uma ampla variedade de habitats, além de possuir hábitos noturnos e crepusculares, porém com

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menos frequência é vista em atividade durante o dia (Cheida et al., 2006).Dentre as espécies listadas como Vulneráveis pela IUCN -

International Union for Conservation of Nature (2011), estão presentes na RPPN EEB a anta, o cervo-do-pantanal, o tatu-canastra e o tamanduá-bandeira. A anta (T. terrestris) é vulnerável à extinção local ao longo de toda sua área de ocorrência, como resultado da conversão contínua do habitat e da caça (Bodmer & Brooks, 1997). É possível que a espécie possa ser utilizada como recurso alimentar pelas comunidades locais, como ocorre no chaco boliviano (Brooks & Eisenberg, 1999). Rastros de antas são frequentemente avistados na RPPN, indicando que a área pode ser considerada um refúgio para a conservação da espécie. O tatu-canastra (Priodontes maximus) é considerado uma espécie rara (Rodrigues et al., 2002) e pouco estudada. Existem poucas informações a respeito de sua ecologia. Apesar de não termos registrado a espécie por meio das armadilhas fotográficas, tocas frescas foram encontradas nas regiões de vales da RPPN. Devido ao seu hábito noturno, a espécie é raramente avistada. Segundo o levantamento realizado na década de 1980 na antiga Fazenda Acurizal, a espécie era dada como praticamente extinta na propriedade (Schaller, 1983).

O cervo-do-pantanal (B. dichotomus) é o maior veado da América do Sul, ocorrendo no norte da Argentina, Paraguai, Bolívia, sul do Peru e Brasil (Alho & Gonçalves, 2005). É considerado especialista quanto ao uso do habitat, preferindo locais inundados, com cerca de 70 cm de profundidade (Mauro et al., 1995). Também é considerado seletivo nos itens de forrageiras que escolhe, preferindo cerca de 35 espécies de plantas, a maioria aquáticas (Alho & Gonçalves, 2005). Segundo Mourão et al. (2000), a espécie ocupa preferencialmente a porção noroeste do Pantanal. Apesar de rara em outros biomas, ainda é abundante no Pantanal (Alho & Gonçalves, 2005).

O tamanduá-bandeira (M. tridactyla), especialista na alimentação de formigas e cupins, ocorre desde o sul do Belize e Guatemala, até o norte da Argentina, ocupando uma ampla variedade de habitats, desde as florestas tropicais até o Chaco (Eisenberg & Redford, 1999). Em regiões de campo aberto, como no Pantanal da Nhecolândia, a espécie é facilmente visualizada. Para a região da RPPN EEB, existe apenas um registro de observação direta da espécie, assim como na antiga Fazenda Acurizal

(Schaller, 1983), onde se estimava que não houvesse mais de quatro indivíduos na propriedade. Devido aos seus poucos registros na área de estudo, é provável que a espécie já esteja com a viabilidade populacional comprometida na região da Serra do Amolar.

Do mesmo modo, a RPPN EEB também abriga populações de espécies quase ameaçadas (Near Threatened) (IUCN, 2010), dentre elas o queixada, a onça-pintada, o cachorro-do-mato vinagre e o tatu-bola. O queixada (T. pecari) é considerado uma das principais presas da onça-pintada (Chinchilla, 1997; Aranda & Sanchéz-Cordero, 1996). A espécie foi encontrada na região do entorno da RPPN. Possui um comportamento social bastante característico, formando os maiores bandos de forrageadores dentre todos os ungulados neotropicais, chegando a mais de 200 indivíduos (Peres, 1996). Uma das maiores causas do desaparecimento da espécie é a destruição do habitat e pressão de caça (March, 1993; Bodmer, 1994). No Pantanal, a caça de subsistência é culturalmente direcionada a algumas poucas espécies, especialmente ao porco-monteiro (Sus scrofa), o que diminui em grande proporção o impacto negativo sobre outras espécies (Silveira et al., 2006), dentre elas o queixada.

A onça-pintada é o maior felino das Américas (Seymour, 1989). Apesar de sua importância ecológica, atualmente, estima-se que a onça-pintada (P. onca) ocupe menos de 46% de sua área de distribuição original (Sanderson et al., 2002). O Pantanal, ao lado da floresta amazônica, é considerado um dos maiores e últimos refúgios para a espécie (Sanderson et al., 2002; Zimmermann et al., 2005). Entretanto, a principal ameaça à sua conservação é a crescente perda do habitat, em função do desmatamento, e a caça predatória, em resposta aos prejuízos causados pela predação dos rebanhos domésticos (Nowell & Jackson, 1996; Silver et al., 2004; Sollmann et al., 2008). Relatos de predação de rebanhos e criações por onças-pintadas e onças-pardas são frequentemente reportados pelos moradores locais da região de entorno da RPPN. A distribuição de onças-pintadas no Pantanal não é homogênea, havendo áreas de densidades mais altas (coincidentes com áreas florestadas) e áreas onde a espécie é praticamente ausente (Quigley & Crawshaw, 1992). Uma das áreas com alta densidade da espécie engloba o Parna Pantanal e a Serra do Amolar (Crawshaw, 2006).

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Embora o tatu-bola (Tolypeutes matacus) tenha sido registrado em outros inventários conduzidos no Pantanal (Schaller, 1983; Coutinho, 1997), a espécie foi detectada na RPPN EEB apenas por rastros. Nesse sentido, mais esforços são necessários a fim de obter informações mais precisas sobre a ecologia da espécie na região da Serra do Amolar. O cachorro-vinagre (Speothos venaticus) é uma espécie rara, mesmo em habitats não antropizados (DeMatteo, 2008; DeMatteo & Loiselle, 2008), mas com alguns pontos de ocorrência na região do Pantanal, tanto nas regiões altas da bacia do Paraguai como na planície (Rodrigues et al., 2002). Na RPPN, foi identificado por meio de rastros. A espécie é peculiar por viver principalmente em matas, e, devido à dificuldade de localizar os animais para estudos de campo, ainda é pouco estudado (Beisiegel, 1999).

A única espécie em perigo (Endangered) encontrada na RPPN é a ariranha. A ariranha (P. brasiliensis) é a maior de todas as espécies de lontras, com um comprimento corporal que tipicamente varia entre 1,5 a 1,8 metros, com peso variando entre 26 a 32 quilos (Duplaix, 1980). São endêmicas da América do Sul (Carter & Rosas, 1997). É categorizada como quase extinta em dois países de sua distribuição original (IUCN, 2011). Até a década de 70, a caça para retirada de peles dizimou muitas populações no Brasil (Carter & Rosas, 1997). Na antiga Fazenda Acurizal, a espécie foi considerada extinta durante a década de 1980 (Schaller, 1983). Com a proibição da caça, as populações têm se recuperado e alguns grupos já são observados ao longo do rio Paraguai, como na área da RPPN e entorno. No entanto, a espécie ainda é ameaçada pelo desenvolvimento urbano, pela mineração, poluição ambiental e construção de hidrelétricas (Carter & Rosas, 1997).

A lista vermelha das espécies ameaçadas da IUCN (2011) indica três espécies: o veado-mateiro, a cutia e a lontra, encontradas na RPPN EEB, constando na categoria Dados Deficientes. O veado-mateiro (M. americana) vive em áreas de vegetação densa e ecótones entre florestas e cerrados brasileiros. É uma espécie herbívora, que se alimenta de matéria vegetal, principalmente frutos e gramíneas. No Brasil, sua distribuição é simpátrica com M. gouazobira, o veado-catingueiro (Tiepolo & Tomas, 2006). No Pantanal sua distribuição é ampla, provavelmente devido à ausência de pressão de caça e em razão dos habitats apresentarem-se ainda bem conservados (Tiepolo & Tomas, 2006). Contudo, a IUCN

(2011) considera a espécie como data deficiente, por ainda ter a taxonomia incerta. Existe a possibilidade de a espécie ser sub-dividida em várias espécies, ou ainda que a espécie atual agrupe indivíduos de uma nova espécie de cervídeo. Dessa forma, é impossível avaliar a distribuição geográfica e o tamanho populacional do que hoje é conhecido como M. americana. As maiores ameaças são a caça e a redução das áreas florestadas, uma vez que não se sabe se a espécie é capaz de persistir em áreas não-florestadas (Durate & Barbanti, 2008).

A cutia (D. azarae), apesar de ser facilmente visualizada no Pantanal, é uma espécie com poucas informações disponíveis, sendo incerta a sua distribuição geográfica, o seu tamanho populacional e os elementos que a ameaçam. Atualmente, sua taxonomia está sob revisão de especialistas, com o intuito de definir a filogenia da espécie e dar luz às questões ecológicas e comportamentais. No entanto, sabe-se que regionalmente sua carne é muito apreciada, de modo a inferir que a espécie sofre com a pressão de caça (Oliveira & Bonvicino, 2006; Catzeflis et al., 2008).

A lontra (L. longicaudis) é um carnívoro da família Mustelidae que se alimenta preferencialmente de peixes, crustáceos e moluscos. Pode complementar sua dieta de forma oportunística com frutos e pequenos vertebrados. É uma das espécies de lontra menos conhecida no mundo (Quadros & Monteiro-Filho, 2002). A espécie é solitária, de hábitos crepusculares, semi-aquática e vive em tocas nos barrancos dos rios. Está distribuída do noroeste do México ao Uruguai e necessita de habitats com ampla vegetação ripária. As maiores causas para o declínio populacional são a diminuição das matas ciliares, a contaminação,o uso extenso dos cursos d’água e a caça ilegal. Está nesta categoria pela IUCN em razão das incertezas sobre os efeitos das ameaças antropogênicas no declínio populacional, existindo carência demasiada de estudos de tamanho e distribuição populacional, estudos ecológicos de campo e identificação de seus habitats chaves (Cheida et al., 2006; Waldemarin & Alvarez, 2008).

Segundo Eisenberg & Redford (1999), Aotus azarae apresenta ocorrência na planície da Bolívia, no sudeste do Peru, Paraguai e centro-norte da Argentina. Reis et al. (2006) diagnosticaram a espécie como ocorrente da Floresta Amazônica e para o Pantanal tem sido registrada em áreas restritas da planície, aparentemente confinada em áreas limítrofes

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a regiões montanhosas. Segundo Rodrigues et al. (2002), a espécie é comum na região de Corumbá e está distribuída em áreas florestadas de todo o Brasil, exceto no sudeste (Jacobs, 1997). Neste trabalho, houve observações diretas de A. azarae, assim como na I expedição para a confecção do Plano de Manejo da RPPN EEB, em novembro de 2006 (Instituto Homem Pantaneiro et al., no prelo). Por ser noturna, a observação direta se torna infrequente, no entanto, o registro feito para a espécie ocorreu no período vespertino.

Das 33 espécies de mamíferos de médio e grande porte não voadores registradas para a RPPN EEB, quatro não foram registradas por Schaller (1983) em seu estudo na área da RPPN Acurizal, também situada no Pantanal do Paraguai, sendo elas: M. americana, S. venaticus, Cuniculus paca (paca) e P. brasiliensis. O plano de manejo das RPPNs Acurizal, Penha e Dorochê verificou igualmente M. americana e P. brasiliensis, porém não registrou nem S. venaticus nem C. paca (ANA et al., 2003). Ainda nessas RPPNs foi registrada uma espécie de canídeo Dusicyon sp., a qual não foi observada para a RPPN EEB e, segundo ANA et al. (2003), essa informação pode ter sido mal amostrada e interpretada. O plano de manejo do Parque Nacional do Pantanal - PARNA registrou 20 espécies de mamíferos de médio e grande porte, sendo Coendou prehensillis (ouriço-caxeiro) a única espécie não registrada para a RPPN EEB. Ainda, para a RPPN EEB, há o registro de 11 espécies da ordem Carnivora e somente três para o PARNA. São elas: P. onca, P. concolor e P. brasiliensis (Rossi et al., 2003).

Ao excluir as espécies das ordens Chiroptera, Rodentia e Didelphimorpha, verificamos 29 espécies de seis ordens no trabalho de Schaller (1983), 32 de seis ordens para o plano de manejo das RPPNs Acurizal, Penha e Dorochê (ANA et al., 2003) e 17 espécies de cinco ordens para o PARNA Pantanal (Rossi et al., 2003). Com essa exclusão, foram inventariadas 28 espécies de seis ordens para a RPPN EEB. Essa variação nos registros das espécies da mastofauna para locais na mesma região do Pantanal pode estar diretamente relacionada aos métodos de coleta utilizados, pelo tempo amostrado, ou mesmo, pelo nível de especialização e conhecimento das competências envolvidas nas amostragens.

Contudo, a partir dos estudos de Schaller (1983) na RPPN Acurizal e de Rossi et al. (2003) no Parna Pantanal, RPPNs Acurizal e Penha,

estima-se que na RPPN EEB ocorram aproximadamente 64 espécies de mamíferos.

Considerações FinaisPara os dados relacionados à coleta dos rastros, acreditamos que

o número baixo de espécies registradas está relacionado com o curto período de amostragem e com a forte estiagem. Para alcançarmos um registro maior a partir deste método, se faz necessário um estudo prolongado e sistemático.

Em relação ao armadilhamento fotográfico, é necessário um período maior de amostragem, ocorrendo de forma continuada e em vários locais da RPPN EEB, para que haja um registro mais completo das espécies de mamíferos terrestres. Ainda, um maior número de equipamentos em campo poderia aprimorar esse monitoramento, como também possibilitar novos delineamentos amostrais, a fim de responder questões específicas de cunho biológico e ecológico.

Informações a respeito das Ordens Chiroptera, Didelphimorpha e Rodentia carecem de estudos específicos, e devem futuramente agregar informações a este compêndio.

Para que a amplitude de espécies de mamíferos da RPPN EEB seja diagnosticada, se fazem necessários estudos abrangentes, em longo prazo e nas diferentes estações (chuvosa e seca). A região da Serra do Amolar apresenta estudos insuficientes sobre sua fauna e flora, contudo configura com uma das áreas de importância e prioridade extremamente alta para o Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2007), com a recomendação de ações prioritárias em nível de inventários.

AgradecimentosAgradecemos a toda a equipe do setor de Meio Ambiente do

Instituto Homem Pantaneiro – Ângelo Rabelo, Viviane F. Moreira, Stephanie Leal, Valdilene Garcia, Marcos Cavalieri, Ramão Feitosa, Sebastião Rolon, André Wagner Amorim Brandão e Franciane Souza da Silva –, que acreditou nesta iniciativa. Aos estagiários e voluntários do setor, Sabrina Clink, Rodney Ribeiro Junior, Fernanda Sandim e Thianny Carrelo, agradecemos pelo auxílio na tabulação dos dados.

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Esta publicação nasceu da iniciativa de montar e estruturar uma coleção biológica didática que ilustrasse a fauna e a flora representativas da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista (RPPN EEB) e, por conseguinte, de parte da Serra do Amolar. A idealização desta coleção foi fundamentada, em primeira instância, no ensino e na aprendizagem ao longo dos anos por meio do material depositado e conservado. Em segundo lugar, como forma de aproximação com as comunidades ribeirinhas do entorno, uma vez que serve como uma forma de complementação visual educativa e de difusão da consciência ecológica e ambiental para as comunidades do Chané, Amolar e Barra do São Lourenço. Em terceiro lugar, a Coleção Biológica Didática da RPPN EEB tem potencial para operar como base de investigação e estudos de docentes e discentes de graduação e pós-graduação, principalmente das universidades de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, assim como para outros pesquisadores interessados.

Para a concretização da Coleção Biológica Didática RPPN EEB e desta publicação, alguns desafios foram lançados. O primeiro deles era o de coletar, através de métodos científicos e replicáveis, material biológico. Para isso houve a necessidade de definir o alinhamento da logística de transporte do pessoal, de equipamentos técnicos e de material de consumo à RPPN EEB. Esta etapa configurou-se como um grande desafio, visto que a RPPN EEB dista cerca de 180 quilômetros do centro urbano de Corumbá – MS, e o acesso a ela é feito somente por barco ou aeronave. Esse fato encarece todos os projetos ali desenvolvidos, requer um planejamento e uma programação precisa, além de haver a preocupação com a segurança das pessoas envolvidas nas atividades de campo.

O segundo desafio foi o de montar a coleção. Muitas pessoas estiveram envolvidas, desde o pessoal que iniciou a coleta a partir de

Conclusões e Ações Futurasna RPPN EEBViviane Fonseca Moreira1& Alessandra Bertassoni¹

¹ Setor de Meio Ambiente do Instituto Homem Pantaneiro (IHP). Ladeira Jose Bonifácio, 171, Porto Geral, Corumbá - MS, Brasil. CEP: 79.300-900. E-mail: [email protected], [email protected]

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delineamentos amostrais específicos e a triagem do material, ainda em campo, até os pesquisadores com conhecimento especializado para as devidas identificações taxonômicas. Todos os materiais coletados foram tratados com muito cuidado para a sua montagem, identificação e posterior retorno à RPPN para, enfim, serem depositados adequadamente na Coleção. O terceiro desafio foi o de publicar os resultados destas coletas em um livro sobre a RPPN EEB. O processo de análise dos dados, redação, revisão técnico-cientifica e gramatical e diagramação dos capítulos é árduo, e requer capacidades múltiplas, além de vários atores envolvidos.

No entanto, a ideia desta publicação foi recebida com entusiasmo por toda a equipe do setor de Meio Ambiente do Instituto Homem Pantaneiro (IHP). A precursora desta ideia foi a pesquisadora Camila Aoki, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, uma das pessoas contatadas para participar das coletas para montagem da coleção. Publicações internas de outras expedições à RPPN EEB existiam e somente uma dessas havia sido publicada externamente. A publicação do Plano de Manejo da RPPN EEB ainda está no prelo, com previsão de publicação em 2012. O plano de manejo de uma unidade de conservação é, basicamente, o documento técnico que estabelece o zoneamento e as normas para a área.

A ideia de uma publicação sobre a RPPN EEB vem ao encontro das metas descritas no seu plano de manejo, bem como dos anseios da instituição gestora da área, do IHP e de seus técnicos. Como exemplos das metas do plano de manejo estão: “possibilitar a realização de visitação científica e o desenvolvimento de intercâmbio acadêmico, divulgando a UC como área propícia ao desenvolvimento de atividades científicas em Biologia, Ecologia e Conservação”; e “propiciar atividades de pesquisa científica, de monitoramento ambiental e de investigação da diversidade biológica...”.

O conteúdo desta obra corrobora com a recomendação do Ministério do Meio Ambiente (MMA) para a Serra do Amolar, que sugere como ação prioritária a realização de inventários faunísticos e florísiticos. Essa região é classificada como de importância e prioridade extremamente altas para a conservação da biodiversidade (MMA, 2007). Ainda, desempenha um papel de extrema importância para a manutenção dos estoques pesqueiros do Pantanal e como refúgio para a fauna em épocas de inundação intensa

em razão do seu relevo (Unesco, 2010). O Plano de Manejo da RPPN EEB (Instituto Homem Pantaneiro, no prelo) ressalta a peculiaridade da RPPN e da Serra do Amolar, a qual se apresenta como uma série de morrarias de relevo residual, cuja presença é pouco frequente na planície pantaneira, e as possibilidades dessa região abrigar novas espécies, espécies endêmicas ou em risco de extinção.

Segundo Alho (2011), o desafio para a conservação da magnífica biodiversidade do Pantanal aumenta com o passar do tempo e, infelizmente, testemunha-se a perda de habitats e espécies, não como um resultado da seleção natural, mas por causa da perturbação humana. Neste sentido as unidades de conservação no Pantanal exercem um papel fundamental e de extrema importância para a conservação deste ecossistema. A conservação em terras privadas tem contribuído consistentemente para o fortalecimento das unidades de conservação no Brasil. Existem 942 RPPNs em território nacional. Destas, 36 estão no Estado do Mato Grosso do Sul e 28 estão inseridas na Bacia do Alto Paraguai (REPAMS, 2010). Uma delas é a RPPN EEB, criada através da Portaria nº 51 ICMBio, em 24 de julho de 2008 (Medeiros, 2008).

O primeiro passo para a conservação de um ambiente natural é o conhecimento dos elementos que ali se inserem. Partindo desta premissa, desde a criação da RPPN EEB até o momento foram realizados levantamentos de ambientes terrestres e aquáticos, em duas expedições em períodos sazonais distintos. A primeira expedição, entre os dias 19 e 27 de novembro de 2006, cobriu o período de baixos níveis de inundação, com temperaturas altas e chuvas abundantes. A segunda, entre 23 e 27 de maio de 2007, abarcou o período de altos níveis de inundação e clima ameno e seco. Essas avaliações ecológicas rápidas enfocaram aspectos vegetacionais, litológicos e de entomofauna, ictiofauna, mastofauna, herpetofauna e avifauna. Os resultados foram utilizados no diagnóstico da área e suas informações serviram de base para a confecção do Plano de Manejo. Após essas duas expedições, aconteceram as duas campanhas com foco específico para a coleta de material para a Coleção Didática e, assim, os dados botânicos, de mastofauna e de entomofauna, foram explorados mais a fundo. A importância de aprofundar os estudos deste último grupo de fauna justifica-se pelo fato de que o Pantanal, juntamente

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com a Caatinga, possui escasso número de inventários de invertebrados, figurando entre os biomas com entomofauna menos conhecida do Brasil (Lewinsohn & Prado, 2003).

Outras RPPNs no Pantanal também têm contribuído para a conservação do Pantanal, com o desenvolvimento de trabalhos técnico-científicos semelhantes aos desenvolvidos na RPPN EEB. Citam-se algumas delas:

- RPPN Fazenda Rio Negro: com sete mil hectares no Pantanal da Nhecolândia, possui um Centro de Pesquisas para Conservação e apóia projetos de pesquisa sobre a biodiversidade da área da RPPN e do Pantanal, tais como biogeografia da avifauna, distribuição de espécies arbóreas, diversidade de formigas, Projeto Papagaio-Verdadeiro, Projeto Arara Azul, entre outras (Machado et al., 2009).

- RPPN Fazenda Nhumirim: situada no Pantanal da Nhecolândia, pertencente à Embrapa Pantanal e com aproximadamente 680 hectares, teve em sua criação o objetivo científico. É a única unidade de conservação a proteger uma paisagem única no mundo: a das baías e salinas da Nhecolândia. Considerada como um laboratório natural para os pesquisadores da Embrapa e externos, segue algumas linhas de pesquisa há bastante tempo, tais quais Manejo de Animais Silvestres, Manejo de Recursos Vegetais, Manejo de Bovinos, Germoplasma Animal, além de disponibilizar espaço para Cursos e Treinamentos (Embrapa, 1997).

- RPPN Acurizal: de propriedade da Ecotrópica – Fundação de Apoio à Vida nos Trópicos, está localizada no entorno do Parque Nacional do Pantanal, na Serra do Amolar. Entre os objetivos da RPPN, estão a elaboração de inventários da biodiversidade e a obtenção de informações primárias sobre a flora e fauna em distintas unidades de paisagem da Serra do Amolar (ANA et al., 2003).

- RPPN SESC Pantanal: com os seus quase 88 mil hectares emBarão de Melgaço, tem um Programa de Pesquisa e Desenvolvimento

Sustentável da Reserva, e abre as portas para diversas frentes de pesquisa, como plantas potencialmente úteis na alimentação humana, monitoramento e telemetria de espécies de mamíferos, hidrogeologia do Rio Cuiabá, entre outras iniciativas (Brandão et al., 2011).

Apenas 2,5% da Bacia do Alto Paraguai estão oficialmente

protegidas sob a forma de unidades de conservação, sejam federais, estaduais ou privadas. Proprietários de terra protegem uma área ao redor de 2.618km² do Pantanal. A criação da Associação de Proprietários de Reservas Particulares do Patrimônio Natural de Mato Grosso do Sul (REPAMS) estimula o que tem sido visto como a mais importante ferramenta para a conservação da região, a implantação de novas reservas privadas. O engajamento do setor privado aliado às ações governamentais são medidas necessárias para assegurar a conservação e o uso econômico sustentável dos recursos no Pantanal (Harris et al., 2005).

A exemplo da colocação de Harris e seus colaboradores (2005), está a empresa MMX Corumbá Mineração Ltda, uma das companhias do grupo empresarial EBX. A MMX adquiriu, em 2006, a área hoje transformada na RPPN EEB. A iniciativa está fundamentada na premissa da responsabilidade ambiental empresarial e na sua política de sustentabilidade. No ano de 2008, a RPPN já estava sob o reconhecimento do ICMBio e gravada com perpetuidade para a conservação ambiental. Investimentos anuais da empresa são realizados na RPPN para sua manutenção, e parte disso é desdobrado nas ações de conservação e de pesquisa. O grupo empresarial reconhece que a RPPN trata-se de uma área de grande expressividade ambiental e valor inestimável para o Pantanal e assumiu o compromisso de conservá-la. Ainda, a ação social responsável é instrumento indispensável a uma empresa moderna (Batista, 2011).

Desde a concepção desse projeto até a finalização da publicação, foram 20 meses de trabalho e 20 dias de coleta do material. Na participação das campanhas na RPPN EEB, somaram-se 28 pessoas, onde participaram técnicos do setor de Meio Ambiente do IHP, auxiliares operacionais do mesmo setor, pesquisadores, estagiários, fotógrafos e pessoas que nos deram apoio nas atividades de campo. Para a análise, identificação do material coletado, montagem da coleção e descrição dos capítulos aqui apresentados, além da equipe técnica e de pesquisadores já mencionados, participaram mais 19 pesquisadores de dez instituições, incluindo o IHP. Ao todo, para que esta publicação se tornasse real, foram envolvidas diretamente 47 pessoas, sem contabilizar o apoio do setor financeiro e do setor de comunicação do IHP, onde poderíamos acrescer a este número mais cinco pessoas que contribuíram para a realização deste trabalho.

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Esta publicação tem o objetivo de fomentar a pesquisa científica dentro da área da Reserva, por meio de parcerias formalmente estabelecidas; proporcionar uma relação de respeito com a comunidade cientifica, bem como o uso e geração de informação científica, de modo a atrair recursos externos a partir de seus resultados; e, por fim, que estes resultados sejam reconhecidos pelos mercados financeiros e que seja valorizado o capital do proprietário, assim como para dar visibilidade às ações de conservação realizadas dentro da RPPN EEB.

Os dados apresentados aqui foram coletados em duas campanhas de 10 dias consecutivos. A primeira é representativa do período de seca (24 de julho a 04 de agosto de 2010 - Campanha I) e a segunda referente ao período de cheia (26 de março a 05 de abril de 2011 - Campanha II). Os autores dos capítulos concordam em afirmar que os resultados apresentados nesta publicação podem ser considerados como um passo inicial para a elaboração de listagem de espécies da área, a qual apresenta uma ampla variedade de habitats. Bem como refletem a necessidade de estudos mais abrangentes, que sejam realizados em períodos maiores e que incluam todas as estações do ano, bem como pontos de coleta diferenciados dentro da RPPN EEB. Quando aceitamos este desafio, sabíamos que ele iria descortinar uma infinidade de possibilidades de pesquisa para a RPPN EEB, e que apenas incursões pequenas a campo não corresponderiam aos nossos anseios. A necessidade de pesquisas e levantamentos, para todos os grupos biológicos e mesmo para as questões abióticas, tanto na RPPN EEB bem como em toda a região da Serra do Amolar, é uma realidade.

No ano de 2010, a RPPN EEB foi formalmente aberta à pesquisa para as universidades dos Estados de Mato Grosso do Sul e de Mato Grosso, e esta publicação também tem como finalidade estender esse convite a outras instituições e pesquisadores que tenham interesse em investigações no Pantanal. Como forma de incentivar os estudos na área, o IHP oferece aos pesquisadores interessados apoio logístico e estrutura física para o desenvolvimento dos projetos que interessem à instituição e sob algumas responsabilidades.

A carência de conhecimento que a região da Serra do Amolar sofre é consistente e a localidade necessita de estudos com todos os grupos biológicos, tanto aqueles com foco em levantamentos de espécies, como

sugere o MMA (2007), quanto os com delineamento amostral definido para responder questões mais específicas. Por exemplo, projetos com relações bióticas e abióticas com enfoque no gradiente de altitude, no estresse hídrico e funcionamento dos corpos hídricos internos.O Plano de Manejo RPPN EEB detectou nas duas expedições realizadas no ano de 2006 e 2007 os seguintes grupos não contemplados nesta pub-licação:

- AVIFAUNA:219 espécies, sendo 196 no período da seca e 159 no período das cheias. Destacaram-se como mais representativas as famílias Tyrannidae e Em-berizidae, com respectivamente 26 e 11 espécies.

- HERPETOFAUNA:45 espécies, sendo 36 no período seco e mais nove espécies acrescidas na cheia. A riqueza de espécies da herpetofauna encontrada na RPPN EEB foi considerada baixa. Estes totais incluíram também o registro do jacaré-paguá (Paleosuchus palpebrosus) e da serpente (Taeniophallus occipitalis).

- ICTIOFAUNA:33 espécies, com grande representatividade de espécies das ordens Sil-uriformes (17) e Characiformes (16).

Dentre os resultados mais expressivos dessa publicação, estão:

- ABELHAS:- Foram registradas 42 espécies de abelhas, distribuídas em 25 gêneros e quatro famílias; - O registro seguiu o padrão esperado para áreas de Cerrado: foram amostrados muitos gêneros com poucas espécies e poucos gêneros com muitas espécies;- Seis espécies figuram como novos registros para o Estado de Mato Gros-so do Sul. São elas: Ceratinamorrensis, Coelioxys (Acrocoelioxys) otom-ita, Hopliphora velutina, Thygater analis, Larocanthidium nigritulum e

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Trigona chanchamayoensis;- Apis mellifera foi a espécie mais abundante, provavelmente em razão do seu cultivo por parte dos ribeirinhos da região;- As abelhas constituem um dos principais grupos de polinizadores das plantas e de 26 espécies vegetais, em floração, que ocorrem na RPPN EEB receberam visitas;- Esse trabalho evidenciou a necessidade de levantamentos abrangentes, em longo prazo e nas diferentes estações, para tentar compreender o efei-to da sazonalidade na diversidade de abelhas nas diferentes formações vegetais do Pantanal.

- ARANHAS:- Foram coletadas 6388 aranhas, sendo mais de 5000 jovens (> 86%). As aranhas sexualmente maduras compuseram 82 espécies (ou morfoe-spécies) em 19 famílias na estação seca e 77 espécies em 22 famílias na estação chuvosa. - Foram identificadas pelo menos 10 espécies novas ainda não descritas para a ciência, sendo objeto de trabalho futuro;- As famílias registradas para a RPPN compuseram 11 guildas: predadores de espreita de solo, cursoriais de solo noturnos, de liteira, aéreos diurnos, de espreita aéreos noturnos, cursoriais aéreos noturnos, tecedoras de solo diurnas, de solo noturnas, orbiculares aéreas, de teias não orbiculares e sedentárias com teias em lençol;- A área com maior diversidade fitofisionômica (savana herbáceo-arbus-tiva, cerradão e floresta semidecidual) distinguiu-se das demais quanto às espécies de aranhas dominantes. - Os resultados do estudo contribuem para enriquecer as informações sobre a fauna araneológica do Pantanal.

- BORBOLETAS:- Foram registradas 62 espécies de borboletas na RPPN EEB, a partir do uso de armadilhas e de busca ativa com redes entomológicas;- 11 espécies constam como novo registro para o bioma Pantanal. São elas: Adelphaiphicleola, Aidesduma duma, Ascia monuste, Catoneph-ele sabrina, Fountainea glycerium cratias, Glutophrissa drusilla, Morpho helenor, Pyrisitia nise tenella, Stalachtis phlegia, Euptoieta hegesia e

Yphthimoides affinis;- A composição de espécies variou bastante entre as estações seca e chu-vosa, reflexo da forte sazonalidade do Pantanal e consequentemente da sazonalidade de recursos;- Os dados indicam subamostragem de espécies de borboletas na área, sendo necessária a continuidade do estudo, incluindo diversas épocas do ano e um longo período;- Esta é uma tentativa pioneira de acessar parte dos componentes da di-versidade de borboletas deste bioma/região, até então pouco conhecido.

- BOTÂNICA: - Uma coleção botânica de referência foi criada na RPPN EEB; - Foram coletados exemplares de 140 espécies botânicas. Algumas identi-ficadas apenas em nível taxonômico de gênero;- A área de estudo possui uma flora composta por espécies de Cerrado, de Floresta Estacional, da Floresta Amazônica, da Mata Atlântica e do Chaco, com uma forte predominância de espécies de Cerrado e de Floresta Estacional;- Em relação à flora, o Pantanal e, portanto, a Serra do Amolar, ainda carece de informações de cunho biogeográfico, principalmente em re-lação às morrarias residuais, que apresentam difícil acesso e localização remota, tornando-se, em alguns casos, verdadeiras ilhas na planície pan-taneira durante as inundações mais intensas;- São necessárias complementações do material botânico da RPPN EEB, a fim de que as espécies que estavam apenas com caracteres vegetativos no período de coleta sejam contempladas.

- COLEÓPTERA:- Foram coletadas 420 espécies e distribuídas em 45 famílias de Coleóptera (besouros) para a RPPN EEB;- A presença de várias espécies ocorrendo exclusivamente em locais re-stritos dentro da Reserva pode significar alta especificidade de habitat;- Foi observada forte sazonalidade na ocorrência de espécies na área de estudo, com menos de 3% das espécies observadas em ambas as estações (seca e chuvosa);

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- A riqueza de besouros da área não foi completamente amostrada devido ao curto período de coleta;- A listagem de Coleóptera, apesar de incompleta, é a mais extensa para o Pantanal sul-mato-grossense e a primeira para a sub-região do Paraguai.

- FORMIGAS:- Foram coletadas 120 espécies de formigas, distribuídas em 43 gêneros, na RPPN EEB;- Os gêneros mais ricos foram Pheidole (15), Camponotus (11) e Solenop-sis (6), que são amplamente disseminados no Neotrópico;- Gêneros pouco frequentes, como Amblyopone, Blepharidatta, Myce-tosoritis e Myrmicocrypta, foram amostrados;- Oito grupos funcionais foram identificados para a comunidade: Cul-tivadoras de fungos, Generalistas,Predadoras, Crípticas, Patrulheiras, Oportunistas, Coletoras de exudatos e Nômades;- As espécies Eciton hamatum e Blepharidatta conops foram registradas pela primeira vez para a região do Pantanal, ambas com o status de rele-vante raridade e notória importância em estudos evolutivos e biogeográ-ficos neotropicais;- Esse levantamento figura como a listagem mais extensa de formigas já apresentada para o Pantanal Sul, sendo a primeira para a sub-região do Paraguai.

- HETEROPTERA:- Foram registradas 71 espécies de Heteroptera (“percevejos”), distribuí-das em 16 famílias para a RPPN EEB;- Há a possibilidade de registro de uma nova espécie do gênero (Rhypa-roclopius sp.) ou uma variação morfológica extrema, sendo objeto de tra-balho futuro;- Considerando a grande variedade de habitats e diversidade dos het-erópteros, os resultados mostraram uma parca representação, refletindo a necessidade de estudos mais abrangentes, realizados por períodos maiores, incluindo todas as estações anuais e com uso de variados meios de coleta;- Este foi o primeiro levantamento de Heteroptera feito no Pantanal sul-mato-grossense e um dos primeiros realizados no Estado.

- MASTOFAUNA:- Foram verificadas 33 espécies pertencentes a 21 famílias de mamíferos de médio e grande porte, não voadores, na RPPN EEB;- Dentre as espécies registradas na RPPN EEB e listadas como Vul-neráveis pela IUCN - International Union for Conservation of Nature (2011), estão a anta (Tapirus terrestris), o cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus), o tatu-canastra (Priodontes maximus) e o tamanduá-ban-deira (Myrmecophaga tridactyla);- A RPPN EEB abriga populações de espécies consideradas como quase ameaçadas pela IUCN, dentre elas o queixada (Tayassu pecari), a onça-pintada (Panthera onça), o cachorro-do-mato vinagre (Speothos venati-cus) e o tatu-bola (Tolypeutes matacus);- A única espécie considerada em perigo pela IUCN (2011) e encontrada na RPPN é a ariranha (Pteronura brasiliensis);- Através de comparações com outros estudos realizados próximos à área, estima-se que ocorram aproximadamente 64 espécies de mamíferos na RPPN EEB;- Informações a respeito das Ordens Chiroptera, Didelphimorpha e Ro-dentia carecem de estudos específicos, e devem futuramente agregar in-formações à lista de mamíferos da RPPN EEB.

- ODONATA:- Foram registradas 24 espécies de Odonata (libélulas), distribuídas em 15 gêneros na RPPN EEB, a partir de busca ativa com rede entomológica;- A riqueza de Odonata está sub-amostrada. Estima-se que na RPPN EEB existam 36 espécies, desta forma, teriam sido amostradas cerca de 67% das espécies ocorrentes;- O gênero Triacanthagyna e a espécie Micrathyria romani ainda não tin-ham registro para o Estado do Mato Grosso do Sul;- Para a região da Serra do Amolar, a Odonatofauna era até o momento totalmente desconhecida, sendo este o primeiro levantamento sistema-tizado na região.

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- VESPAS:- Em relação à composição faunística das vespas da RPPN EEB, foram reg-istradas 40 espécies de Hymenoptera Aculeata, distribuídas nas famílias Vespidae, Pompilidae, Mutillidae, Scoliidae, Crabronidae, Specidae e Chrysididae;- Para o levantamento da comunidade de vespas visitantes florais, foram registradas na RPPN EEB 19 espécies, com o uso de rede entomológica;- As vespas amostradas nas duas partes deste inventário (composição faunística e comunidade de visitantes florais) totalizaram 50 espécies, 32 gêneros e sete famílias. - Para melhor inventariar a comunidade de vespas da RPPN EEB, é necessária a realização de mais coletas e em épocas distintas do ano, prin-cipalmente levando em consideração a marcada sazonalidade encontra-da no Pantanal.

Dentre os desafios para a RPPN EEB no ano de 2012, estão: a realização de cursos de campo para programas de graduação e pós-graduação nas áreas de biologia e afins; implementação do projeto de trilhas interpretativas, a partir dos dados botânicos obtidos e da definição da capacidade de carga das mesmas; aumento do esforço de campo para o projeto de armadil-hagem fotográfica, com enfoque em mastofauna; e efetivação de projetos científicos de pesquisadores externos.A RPPN EEB foi criada para fins de conservação, a pesquisa é a sua vo-cação. Esta publicação apenas vem demonstrar a necessidade do desen-volvimento de maiores investigações na área, nos seus mais diversos gru-pos.

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