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A VISÃO DOS GRUPOS PRÉ-CERÂMICOS E AS NECESSIDADES DE PESQUISAS· I 'I'IU ' I PEDRa AUGUSTO MENTZ RIBEIRO·· Esta apresentação parte de dezenas de publicações de colegas. Porém, três foram os que elaboraram sínteses sobre as culturas pré-cerâmicas do sul do Brasil: Pedra Ignácio Schmitz, o autor do presente trabalho e, posteriormente, uma tese doutoral de Arno Alvarez Kern. A partir delas formamos a nossa visão, e por isso são as únicas constantes na bibliografia no final do trabalho. Nelas será encontrado praticamente tudo o que foi escrito sobre as culturas caçadoras-coletoras-pescadoras do Brasil meridional. A Arqueologia possui várias definições, mas seu objetivo básico é a reconstituição de culturas do passado, através dos vestígios materiais. Isso tem constituído a busca dos arqueólogos. Mas, como em qualquer ciência, existem etapas ou avanços. O que pretendemos apresentar é justamente até onde chegamos e quais as tarefas que nos esperam para os próximos anos. Ou, em outras palavras, para avançarmos no conhecimento do nosso passado, em particular o mais longínquo, o que devemos fazer em termos de pesquisa arqueológica? Também é conveniente frisar que esses avanços ou visão dos grupos pré-cerâmicos não são homogêneos. Existem áreas mais conhecidas do que outras. E, em nos referindo a áreas, a de que trataremos é o sul do Brasil: os Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Iniciaríamos esta exposição mostrando as pretensões da Arqueologia, teoricamente, e destas, quais as já alcançadas e quais aquelas a serem perseguidas. Trabalho apresentado na 6.' Reunião Regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - Estratégias de Mudança e Integração no Cone Sul. Universidade Federal de Santa Maria, RS - 16 a 19 de outubro de 1988. ** Coordenador do Laboratório de Estudos e Pesquisas Antropológicas, Departamento ~e Biblioteconomia e História; Prof. Titular das Disciplinas de Arqueologia e Pré-História do DBH- URG; Pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). BIBLas. Rio Grande. 7: 95-101. 95

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A VISÃO DOS GRUPOS PRÉ-CERÂMICOSE AS NECESSIDADES DE PESQUISAS·

I

'I'IU'I

PEDRa AUGUSTO MENTZ RIBEIRO··

Esta apresentação parte de dezenas de publicações de colegas.Porém, três foram os que elaboraram sínteses sobre as culturaspré-cerâmicas do sul do Brasil: Pedra Ignácio Schmitz, o autor do presentetrabalho e, posteriormente, uma tese doutoral de Arno Alvarez Kern. A partirdelas formamos a nossa visão, e por isso são as únicas constantes nabibliografia no final do trabalho. Nelas será encontrado praticamente tudo oque foi escrito sobre as culturas caçadoras-coletoras-pescadoras do Brasilmeridional.

A Arqueologia possui várias definições, mas seu objetivo básico éa reconstituição de culturas do passado, através dos vestígios materiais. Issotem constituído a busca dos arqueólogos. Mas, como em qualquer ciência,existem etapas ou avanços. O que pretendemos apresentar é justamente atéonde chegamos e quais as tarefas que nos esperam para os próximos anos.Ou, em outras palavras, para avançarmos no conhecimento do nossopassado, em particular o mais longínquo, o que devemos fazer em termos depesquisa arqueológica? Também é conveniente frisar que esses avanços ouvisão dos grupos pré-cerâmicos não são homogêneos. Existem áreas maisconhecidas do que outras. E, em nos referindo a áreas, a de que trataremosé o sul do Brasil: os Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande doSul.

Iniciaríamos esta exposição mostrando as pretensões daArqueologia, teoricamente, e destas, quais as já alcançadas e quais aquelasa serem perseguidas.

Trabalho apresentado na 6.' Reunião Regional da Sociedade Brasileira para oProgresso da Ciência - Estratégias de Mudança e Integração no Cone Sul. Universidade Federalde Santa Maria, RS - 16 a 19 de outubro de 1988.

** Coordenador do Laboratório de Estudos e Pesquisas Antropológicas, Departamento~e Biblioteconomia e História; Prof. Titular das Disciplinas de Arqueologia e Pré-História do DBH-URG; Pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

BIBLas. Rio Grande. 7: 95-101. 95

Determinação dos tipos de cultura de uma área e o espaço ocupado

Isso podemos dizer que conseguimos. Duas tradições ocuparam osul do Brasil: a Umbu e a Humaitá, com aproximadamente vinte fases(divisões tempo-espaciais), cada uma já determinada. A primeira ocupapraticamente toda a região, algumas áreas com maior ou menor intensidade.É encontrada, por excelência, na encosta do planalto com floresta subtropicalque bordeja o campo ao sul, e neste incluindo ainda o Uruguai e opampa-Patagônia da Argentina. O seu limite norte é o Estado do Paraná,inclusive. Já no Estado de São Paulo vamos encontrar outra tradição. Seuslimites são o Atlântico (leste) e o Paraguai (oeste). A concentração maior daHumaitá está nos patamares ou primeiros degraus do planalto no Rio Grandedo Sul e no alto vale dos rios UrUguai e Paraná. Seus limites são: para onorte, o extremo sul de São Paulo; na direção sul, a encosta do planalto noRio Grande do Sul é o seu avanço máximo. No sentido leste-oeste, possuiaproximadamente os mesmos limites da Umbu, ou seja, o Atlântico ao lestee o Paraguai ao oeste.

Os sambaquis, no litoral marinho, representam um problemadiscutível. Apresentam, na verdade, uma ergologia distinta. Raramenteencontramos neles instrumentos semelhantes aos dos sítios arqueológicosdo interior. No sambaqui "x" ou "y", estamos diante da Tradição Umbu,Humaitá ou "Sambaquiana"? Nós, particularmente, defendemos a idéia deque a cultura responsável pelos sambaquis é, sem contar as tradiçõesceramistas, a Umbu ou a Humaitá, com material adaptado ao ambienteúmido, lagunar, do litoral sul-brasileiro. Mas, concretamente, a questãoencontra-se vinculada aos problemas que faltam ser resolvidos. Não está,ainda, associada a este primeiro item.

Sucessão das culturas em um determinado lugar ou área

Foram raríssimos os locais em que isso foi comprovado, ou seja,que a cultura "x'' tenha sucedido a "y". Na encosta do planalto do Rio Grandedo Sul, temos um local onde a seqüência é Umbu e, após, Humaitá; em outraárea contígua, a ordem é inversa. As dezenas de datações, em toda a região,indicam as mais antigas para a Umbu (12770, 10400, 8585 anos AP.),enquanto a Humaitá atinge, no máximo, 6910 anos AP. (outras dataçõescom 6685 e 6620 AP.). Em traços gerais e através dos dados de quedispomos, não-definitivos, somos inclinados a dizer que os primeirospovoadores do sul do Brasil foram os caçadores da Tradição Umbu. Essequadro poderá ser alterado da mesma forma em pequenas áreas OU

microambientes.

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Origem e difusão da(s) cultura(s)

Em parte este problema está vinculado ao anterior, porque, parasaber de onde provém e para onde se expandiu determinada cultura,datações radiocarbõnicas e escavações estratigráficas são imprescindíveis,Através destas, dentro da região proposta, não haveria maior dificuldade emestabelecer uma origem e difusão da cultura. Aliam-se às datações osaspectos tecnológicos, onde os percentuais são fundamentais. Percentuaisde tipologia, técnicas de confecção (tecnotipológicas) e outros aspectosdevem ser levados em conta, observando-se sempre a relação com o meioambiente. Com base no que estamos dizendo, a origem da Tradição Umbuseria no sudoeste do Rio Grande do Sul, e daí para o oeste e norte,simultaneamente. Já a Humaitá surge no oeste do Paraná e após segue parao sul e leste. Através das diferenças de datações, a difusão desta última foimuito rápida, ao contrário do que se passou com a Umbu. Fora de nossaárea, qual a origem e difusão das duas tradições enfocadas? A Humaitá nãoé encontrada muito além dos limites do sul do Brasil. Já a Umbu é registradano Uruguai, nordeste da Argentina e até o extremo sul da América (períodoIV da seqüência do estreito de Magalhães). E voltamos a perguntar: Qual aorigem dentro da área de dispersão de cada uma das culturas _ e, antesdisso, qual a sua procedência e caminho tomado? E se foram evoluçõeslocais, a partir de que culturas antecedentes?

Relações entre as culturas no tempo e no espaço:migrações, guerras, aculturações, sObreposições, etc.

Com raríssimas exceções, quase nada disso foi constatado até opresente. Desconhecemos algum caso de comprovação de guerra eaculturação para os grupos pré-cerâmicos. Como migração poderíamos citaros sambaquis, provavelmente resultantes de movimentos estacionais degrupos do interior, principalmente os da Humaitá, pois implementos iguais(zoólitos, talhadores) são encontrados em ambas as áreas, apesar deraramente. Exemplo de sobreposição temos em apenas um local (Faxinal de~entro, Santa Cruz do Sul) onde a Umbu é seguida pela Humaitá. FaltajUstamente encontrar locais onde, através de escavações _e somente atravésdestas - conseguiremos constatar essas possíveis relações entre as duasCUlturasem debate. O material mesclado, localizado em sítios de superfície,~erturbados pelo arado ou erosão, não nos fornece condições de obtençãoe dados para estudo desse tipo. Pelo contrário, pode ser motivo de

COnclusões errõneas.

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Adaptação a um determinado meio ambiente

Nesta questão foram obtidos alguns resultados. Com respeito àTradição Umbu, temos o surgimento, nas áreas alagadiças do Rio Grande doSul e Uruguai, de aterros, que denominamos cerritos. Com idade estimadaem torno dos 4000 anos AP., a datação concreta mais antiga existentealcança 2435 anos AP. Continuam e se intensificam nos períodos ceramistasposteriores. Uma dúvida que persiste é se esses cerritos são naturais ouartificiais, e, neste último caso, se intencionais ou não. Quanto à primeiraquestão, a dúvida é quase inexistente, porque aqueles até agora escavados,pelas características de terreno, nos levam a trabalho humano. O que podepersistir no campo da indagação é a artificialidade parcial, ou seja, existir umapequena elevação que, uma vez ocupada, aumentaria de tamanho. Issotalvez possa ocorrer em alguns casos. Da mesma forma, como existemcerritos que o homem construiu, obtendo terra dos arredores, para melhorexplorar o meio ambiente, outros foram crescendo na medida direta da suaocupação. Esse último caso é o dos primeiros ocupantes dos sambaquis, noRio Grande do Sul, que também se aproveitavam das dunas existentes nolitoral.

Mas em que proporção ocorrem os vários tipos? Aquelespouquíssimos sítios onde foram realizados cortes experimentais oupequenas escavações, e que nos apresentaram os resultados acimaexpostos, algum deles não seriam exceção? Quantos cortes e quantoscerritos mais necessitaríamos escavar? Que percentual, no universo doscerritos, foi escavado? Os cerritos da área nuclear (Santa Vitória do Palmar,Rio Grande) darão as mesmas respostas daqueles registrados no interiordo Estado do Rio Grande do Sul (vale dos rios Pardo, Santa Maria,Vacacaí, por exemplo)?

As casas subterrâneas existentes no planalto sul-brasileiro, pelasdatações, são uma evolução da Tradição Humaitá, pertencendo à Taquara.Não haveria possibilidade de existirem casas subterrâneas pré-cerâmicas?Como foram realizadas poucas pesquisas, proporcionalmente ao número decasas existentes, não podemos ainda afastar essa hipótese.

Os materiais que inserimos nesse item são, para a Umbu, asbolas de boleadeira, e para a Humaitá, os grandes e pesados talhadoresbifaciais e raspadores. Também no conjunto, a ergologia da primeiratradição, composta de instrumentos relativamente pequenos, de umaindústria de lascas, aponta-nos para ambientes abertos, sem vegetaçãOdensa ou florestal. Já a Humaitá, com uma indústria basicamente denúcleos, indica um meio ambiente oposto. Existem casos, não muitoseguros, do surgimento de instrumentos adaptativos (talhadores) em sítioS

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da Umbu na encosta do planalto do Rio Grande do Sul. A Humaitá, porocupar a área de floresta, não possui pontas-de-projétil de pedra lascada;estas deveriam ser de osso ou madeira. A Umbu, ao contrário, dispondo dapedra com maior facilidade, quer através de afloramentos e/ou seixos,confeccionava-as com esse material.

Um outro aspecto interessante é a utilização de uma grandequantidade de abrigos sob rocha pela Tradição Umbu; o mesmo não ocorriacom a Humaitá, registrando-se raríssimos casos.

Evolução ou decadência das culturas

Aspecto também pouco evoluído. Raras foram as escavações queconseguiram trazer à luz essas mudanças. Poderíamos citar, na Umbu, noRio Grande do Sul, que, a partir de 6000 anos AP., as pontas-de-projétillanceoladas, apedunculadas e sem aletas, de calcedônia, evoluem paratriangulares pedunculadas, com aletas e de arenito metamorfizado; as basesde pedúnculo, antes convexas e retas, tornam-se côncavas e bifurcadas; asaletas, mal pronunciadas, passam para uma maior proeminência e entalhe.Isso mostra uma melhor preensão na flecha e fixação no objeto da caça, esignifica uma melhor adaptação ou domínio sobre a natureza, sinônimo deevolução cultural.

Em recentes pesquisas, surgiram dúvidas sobre esses resultados.Em dois abrigos na encosta do planalto do Rio Grande do Sul, foi descobertoum oertodo abaixo daquelas pontas lanceoladas, apedunculadas e semaletas, e que apresentam quase todas as características das encontradasacima. Inclusive a matéria-prima - inicialmente o arenito metamorfizado(períOdo I) - passa para a calcedônia (período li) e volta ao arenitometamorfizado (penedo 111).Estamos diante de uma outra tradição cultural?Caso contrário, por que essa modificação completamente distinta?

Sobre a Humaitá existe uma seqüência para o nordeste do RioGrande do Sul, de simples e toscos instrumentos para um pouco mais bemelaborados. Mas a pequena quantidade de sítios e material não nos permiteConclusões definitivas. Já no centro e noroeste do Estado, parece queaconteceu o contrário: talhadores retos e curvos, proporcionalmente menorese com um melhor acabamento, são mais antigos do que os tradicionais paraestas e outras áreas de ocorrência da tradição.

Algo é indiscutível: ambas, Umbu e Humaitá, evoluíram debuscadoras para produtoras de alimentos, ou de pré-ceramistas emteramistas, a primeira para Vieira e a segunda para Taquara. Esse fato,Porém, não atingiria toda a área de dispersão das duas tradições.

BIIlLOS, Rio Grande 7' 95-101,. .99

Conteúdo das culturas

As características gerais de cada tradição nós possuímos. A Umbuindica um grupo caçador-coletor-pescador, pré-ceramista, com o seguintematerial: lítico lascado (trabalho por percussão e pressão) - pontas-de-projétil,raspadores, furadores, lâminas bifaciais, pequenos bifaces, pedras comentalhes, pontas entre entalhes, lascas retocadas, lascas utilizadas, núcleos,etc.; lítico polido - bolas de boleadeira, boleadeira mamilar; lítico utilizado _pedra com depressão semi-esférica polida ("quebra-coco"), batedores,batedores-trituradores, percutores, polidores, etc.; matéria corante (hematilacom sinais de utilização); de osso - pontas, agulhas, retocadores, anzóis, etc.;de concha - contas-de-colar. Associada a essa cultura, temos com segurança,pelo menos no Rio Grande do Sul, a arte rupestre. Foram encontrados somentegravados ou petróglifos. Estes, registrados em abrigos sob rocha, blocos nahorizontal e vertical, são todos em rocha arenítica, com exceção de um. Emarte mobiliar, observaram-se apenas dois casos de pedra gravada e, como amaior parte da arte rupestre no Rio Grande do Sul, também foram encontradasna encosta do planalto. Os símbolos são abstratos lineares (geométricos),realizados com a técnica do alisamento ou picoteamento: tridáctilos, gradeados,paralelas, seqüência de pontos, etc.

A Tradição Umbu, num momento inicial, esteve associada à faunaextinta.

A Humaitá tem sido descrita como pertencente a um grupocaçador-coleto r-pescador, pré-ceramista e com o seguinte instrumental: ltticolascado (trabalho por percussão) - talhadores bifaciais (retos, em "S", curvos,em ângulo obtuso, etc.), grandes raspadores, picões, lascas utilizadas, etc.:zoólitos (sem segurança) - mãos-de-pilão, mão-de-mó, lâminas de machadopolidas e semipolidas; lítico utilizado - batedores, batedores-trituradores,percutores, pedra com depressão semi-esférica polida, polidores, etc.

Não temos descrição segura para tipos de sepultamento da Umbu(parece tratar-se de enterramentos flectidos e em decúbito lateral), e nenhumindício para a Humaitá.

Como esses grupos resolviam seus problemas alimentares? Haveriadeslocamentos sazonais, como, por exemplo, interior-litoral? Dentro de umaárea, haveria uma intensificação da caça, da pesca ou da coleta ao longo doano? E as possibilidades de comércio entre os dois grupos ou deles comáreas limítrofes? Qual a relação entre os vários tipos de sítios: habitação,acampamento, oficina, cerimonial, cemitério? Além de todos os problemas deaprofundamento no conhecimento das culturas pré-cerâmicas do sul doBrasil, existem outros relacionados aos estudos paralelos. Por exemplo: omeio ambiente, desde o final do pleistoceno até hoje, teria tido um mesmodesenvolvimento em toda a região? Não teríamos tido pequenos rnlcrocürnas

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OU microambientes? E as flutuações do mar no Paraná teriam tido a mesmainfluência que no Rio Grande do Sul, apresentando os dois paisagenslitorâneas diferentes?

Em torno de tantas interrogações, que certamente aumentarão apósa Reunião de que estamos participando, e com mais tempo dedicado aoestudo da problemática, o que propomos para resolvê-Ias? Quais aspesquisas mais urgentes?

Pensamos que devam ser realizadas escavações, não só no sul doBrasil, mas também em regiões limítrofes: Uruguai e nordeste da Argentina,particularmente. Não têm mais sentido outras atividades de campo emArqueologia, particularmente coletas superficiais sistemáticas, a não ser porduas razões: salvamento ou a esperança de encontrar mais sítios quecompensem escavações extensivas. Por que escavações? Porque será aúnica maneira de respondermos às interrogantes levantadas ao longo destanossa apresentação; o único modo da busca do aprofundamento doconhecimento das culturas caçadoras. O arqueólogo deverá cercar-se deespecialistas de várias ciências ou que façam estudos paralelos degeomorfologia, zoologia, malacologia, botânica, palinologia, etc. E um aspectomuito importante: que esses estudos se realizem em vários pontos da região,repetindo-se, em cada um deles, duas ou mais vezes. Exemplificando:escavar mais ou menos três cerritos na região de Rio Grande ou SantaVitória do Palmar, um no baixo Camaquã, um no vale do rio Pardo, um no doSanta Maria, etc. Ainda, para a primeira área, escavar um próximo a umalagoa, outro a uma sanga e outro afastado de curso d'água, a fim de verificaro comportamento espacial e temporal. O mesmo comportamento deveremoster com os sambaquis, os abrigos sob rocha da encosta do planalto no RioGrande do Sul e com sítios de campo aberto em toda a área. Isso contribuiránão só para a reconstituição da pré-história mas também a partir desta, paraa reconstituição do meio ambiente, na proporção da contribuição das outrasciências.

Concluindo, as necessidades de pesquisa são estudos na verticale em pequenas áreas ou determinado local. Neste momento será a únicaforma de avançarmos na visão dos grupos pré-cerâmicos.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

KERN, Arno Alvarez. Le précéramique du plateau sud-brésilien. Porto Alegre: Gabinete dePesquisa de História do Rio Grande do Sul, Inst. de Fil. e Ciências Humanas, UFRGS, 1982.427p. Publicações Avulsas, n." 1.

MENTZ RIBEIRO, Pedro Augusto. Indústrias liticas do sul do Brasil: tentativa de esquematização- Veritas, Porto Alegre, PUCRS, (96): 471-93, 1979.

SCHMITZ, Pedro Ignácio. Industrias liticas en el sur de Brasil. Pesquisas, Antropol., SãoLeopoldo, Inst. Anchietano de Pesquisas, (32): 107-30, 1981.

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