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A VEZ DO MESTRE PÓS GRADUAÇÃO CURSO DE DIREITO AMBIENTAL TEMA: FAUNA DEGRADADA

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A VEZ DO MESTRE – PÓS GRADUAÇÃO

CURSO DE DIREITO AMBIENTAL

TEMA: FAUNA DEGRADADA

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES – CENTRO

A VEZ DO MESTRE – PÓS GRADUAÇÃO

CURSO DE DIREITO AMBIENTAL

PROFESSOR: FRANCISCO CARRERA

ALUNA: EDNA SOUZA CHAVES DUARTE DE

OLIVEIRA ( 52183)

TEMA: FAUNA DEGRADADA

A PRIMAZIA DAS LEIS PROTEGE NOSSA FAUNA

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FAUNA DEGRADADA

A PRIMAZIA DAS LEIS PROTEGE NOSSA FAUNA ?????? INTRODUÇÃO

O maior tesouro, a mais nobre riqueza, a fantástica FAUNA

BRASILEIRA. Será que a primazia da nossa legislação protege, como deveria, a

Fauna?

Este questionamento deveria ser formulado por todas as categorias

de trabalhadores e estudantes da nossa sociedade. Todos nós estamos engajados em

algum grupo tentando solucionar ou resolver um problema latente de nossa

sociedade, como por exemplo o analfabetismo ou a fome; o tráfico de drogas; o

desarmamento, a saúde pública, enfim qualquer problema que gere dor e sofrimento.

Entretanto, não se observa uma preocupação significativa da

população quanto à degradação da nossa sensível fauna. Testemunhamos biólogos,

conservacionistas e ambientalistas alertando e denunciando a violência contra a

nossa natureza. E o que efetivamente choca não é a situação fática do tráfico de

animais ou a caça e pesca predatória, mas sim, o que aterroriza profundamente é a

falta de sensibilidade da população quanto à crueldade contra os animais. Não há

compaixão. A população prefere não ver a fauna sendo mal tratada, e, em muitas

situações optam por não interferir nos maus tratos contra um animal porque não quer

se envolver, ou mais, prefere ter um momento de prazer mesmo que seja através do

sofrimento de um animal. Exemplos: os circos, os rodeios, as novilhadas, as brigas

de galo, gincanas com animais, passeios de cavalinhos na praça, zoológicos

decadentes e restaurantes sofisticados que oferecem animais “exóticos”, mas na

verdade são animais silvestres. Todas estas situações levam ao extermínio insano da

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4 tão delicada fauna. Tudo isso ocorre, sem qualquer obscuridade, dia a dia, e

insanamente em razão de uma triste retórica do bicho humano; “ a fauna é uma coisa

que não vai acabar, e ela existe para ser desfruta ao bel prazer de cada um.”

Este pensamento começa na população pobre, continua na classe

média e persiste como atitude dos indivíduos que deveriam ser vigilantes, como

delegados, promotores de justiça, advogados, desembargadores, policiais,

professores, políticos, senadores, engenheiros e até veterinários.

Esta realidade é sórdida. Evoluímos na tecnologia da

comunicação, da genética, do espaço, da astronomia, mas não conseguimos aprender

a nos comunicar com os animais, nossos pequenos irmãos como chamava

carinhosamente São Francisco de Assis há mais de 900 anos atrás. E isto não é

filosofia, nem utopia. Os grandes mestres da nossa história como Jesus Cristo, Buda,

Moisés, Ghandi, Leonardo da Vinci, Santa Teresa, Madre Teresa de Calcutá, São

Francisco de Assis e muitos outros já se preocupavam com o bem estar dos animais,

já os consideravam indivíduos e que tinham que ser respeitados.

Enquanto o bicho homem se vangloria de sua supremacia, por

entender que está no topo da cadeia alimentar, atrás desta cortina de arrogância o que

se visualiza é aterrorizante. Animais bem sociáveis e dóceis como o jabuti, o peixe

boi, a ararajuba, a preguiça, o tatu e muitos outros são conhecidos pelos

pesquisadores como indivíduos muito frágeis, portanto, presas fatais para caçadores.

Essa realidade é totalmente desconhecida por boa parte da população brasileira. E

lamentavelmente esta parte da população não está preocupada se estes belíssimos

indivíduos vão existir na sua próxima geração.

Pobre “Gaia”, nossa Mãe Terra, esta grande teia onde todos nós,

animais racionais e irracionais, flora e minerais estamos todos interligados num

único organismo, como foi referendada pelo autor James E. Lovelock na sua obra -

“Gaia – Um Novo Olhar Sobre A Vida Na Terra”-

Fazemos parte de um único organismo que mantém por si as

condições necessárias à sua sobrevivência, um sistema, que funciona porque tudo

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5 que está nele tem uma função, todos estão interligados e quando um elemento desse

sistema desaparece toda a cadeia é afetada e se vários elementos desaparecem este

sistema está condenado. Condenar uma espécie é condenar a nós todos.

Acredito que o artigo 225 da nossa Magna Carta (Constituição

Federal) seja um grande avanço para a preservação e conservação da Nossa “Gaia”

mas não é suficiente. O que vamos dizer para a nossa futura geração quando nos

perguntarem por que a ararinha-azul desapareceu se havia proteção legal e moral

para a continuação de sua existência?

Onde estava a força do Poder Judiciário e do Poder Executivo

quando esta espécie suplicava por socorro, através dos manifestos de alguns poucos

biólogos e algumas ONGs.

É notório ver no bairro de Copacabana (RJ) e no Centro do

Município de Niterói (RJ) , especificamente, no meio da calçada sem qualquer

restrição e a luz do dia, a venda de filhotes de jabuti-piranga, animal silvestre da

nossa fauna.

São animais muito pequenos, frágeis, que ainda não alcançaram a

calcificação óssea, necessária para a sua total formação e proteção.

Infelizmente, uma vez retirados de seu habitat estão condenados à

morte. Sua alimentação é bem variada, não se restringe a um único vegetal, a alface.

O que ocorre quando esses nossos irmãozinhos são vendidos é que os adquirentes os

alimentam com alface, tendo em vista que Eles são expostos para venda comendo

alface, e, na realidade a alface em nada os alimenta, conseqüentemente, sua carapaça

não calcifica, muito menos seus ossinhos, assim, morrem vagarosamente de

desnutrição, ou seja, de fome.

Mas cruel, ou mais rápido é a sua morte por esmagamento. Por

serem tão pequenos, as pessoas tendem a pisá- los ou arremessar portas contra eles,

também acabam sendo afogados nos vasos sanitários e banheiras pelas crianças, sem

contar por estraçalhamento na boca de cães.

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6 Essa venda apesar de clandestina é promovida na frente da polícia

militar, guardas municipais, fiscais de todos os gêneros, que nada fazem, nem

denúncia resolve. E é um crime que está previsto na Lei de Crimes Ambientais.

E a legislação sobre a pesca (Decreto- lei 221/1967) é mais

inusitada ainda, pois normatizou a pesca da baleia, ressaltando por ser a baleia um

cetáceo, lamentável entendimento, a baleia amamenta e defende seu filhote, namora ,

brinca, se comunica, descansa, tem vida familiar e é curiosa, Ela não pode ser

caçada, tampouco, pescada, é um assassinato matá- la sob qualquer circunstância.

O mais preocupante é que podemos observar claramente que o

objetivo dessa Lei é agradar às Grandes Empresas Pesqueiras em detrimento da

Fauna Marinha.

A seguir será abordado varias legislações pertinentes ao Direito do

Ambiente, porém, antes de tudo vamos falar um pouco sobre a Moral, a obediência

máxima de uma vontade que é suficiente para modificar o que é IMORAL. A

Sociedade deve seguir o princípio da autonomia da vontade. Esta era a grande

reflexão de Immanuel Kant. –“...se agora lançarmos um olhar retrospectivo sobre

todos os esforços, até agora realizados para descobrir o princípio da moralidade, não

ficaremos surpresos ao ver que todos eles tinham necessariamente de falhar. Via-se

o homem ligado a leis pelo seu dever, mas a ninguém ocorreu que ele estava sujeito

unicamente à sua própria legislação, embora essa legislação fosse universal, e que

ele estava obrigado a agir somente em conformidade com a sua própria vontade mas

que, segundo o fim natural, essa vontade era legisladora universal. Porque, se nos

limitávamos a conceber o homem como submetido a uma lei (qualquer que fosse

ela), essa lei devia ter em si qualquer interesse que o estimulasse ou o constrangesse,

uma vez que, sendo lei, ela não emanava de sua vontade, mas a vontade, isto sim, era

legalmente obrigada por qualquer outra coisa a agir de certo modo. Em virtude dessa

conseqüência inevitável, porém, todo o esforço para encontrar um princípio supremo

do dever se fazia irremediavelmente perdido; pois o que se obtinha não era jamais o

dever, e sim a necessidade da ação partindo de um determinado interesse – interesse

este que podia ser próprio ou alheio. Mas então o imperativo tinha sempre de

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7 resultar condicionado e não podia servir como mandamento moral. A esse

princípio Kant (Immanuel) chamou de princípio da autonomia da vontade, em

oposição a qualquer outro que, justamente por isso, foi classificado como

heteronomia por Kant (Immnanuel).

Este conceito segundo o qual todo o ser racional deve se

considerar, por todas as máximas de sua vontade, o legislador universal, para julgar a

si mesmo e às suas ações. É a autonomia da nossa vontade, o único princípio da

moral. É a nossa moral que nos faz conscientes, pensantes e vigilantes. Estando

atento para tudo, com autonomia de vontade nós transformamos, renovamos,

evoluímos, não para o egoísmo e para costumeiro ordinário, mas para a plenitude da

vida, para o a renovação da vida.”

Os atos morais acompanham a dinâmica da vida e com ética, longe

das tradições e dos repetidos atos já consagrados nós ficamos abertos a valores que

concernem a todos os humanos, como a preservação da casa comum, o nosso

esplendoroso planeta azul-branco. “ Valores de respeito à dignidade do corpo, da

defesa DA VIDA SOB TODAS AS SUAS FORMAS, do amor à verdade, da

compaixão para com os sofredores e os indefesos” (Leonardo Boff).

Estas reflexões foram necessárias para entendermos que a nossa

vontade de lutar pelo justo tem que ser mais forte do que as próprias leis, pois elas

existem para traçar paradigmas e controlar a Sociedade. Nós humanos pensantes,

inteligentes é que temos o dever moral e ético de modificar o que já não mais

defende a vida sob todas as suas formas, elaborar novas leis se for necessário,

sempre, e, mais, ficar atento, nunca ficar indiferente, se envolver e proteger nossos

irmãozinhos (os animais) e olhar para a grande GAIA e amá- la profundamente.

A seguir uma breve exposição de uma coletânea de legislação de

direito ambiental e sua ineficácia diante da cruel e extensa destruição da fauna e flora

do Brasil que está ocorrendo.

JUSTIFICATIVA

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Os movimentos que levaram à proteção dos animais iniciaram-se

em 1822, quando as primeiras normas contra a crueldade direcionada aos animais

foram apresentadas pela Inglaterra através do British Crueltry to Animal Act. Em

seguida a Alemanha editou normas gerais em 1838, e, em 1848, a Itália posicionou-

se com normas contra os maus-tratos. Em 1911, novamente foi a Inglaterra a pioneira

em introduzir a idéia de averiguar a proteção dos Animais contra os atos humanos e

instituiu o Protection Animal Act.

O Brasil aparece logo após, quando, em 1924 passa a vigorar a

Decreto 16.590 em defesa dos animais. Uma década depois, surge com total força de

lei o Decreto 24.645 de 1934, definindo trinta e uma figurar típicas de maus-tratos

aos animais, cuja evolução dessa proteção jurídica brasileira em favor dos animais

será logo mais analisada.

Em 1940 a União Pan-Americana celebra em Washington a

promulgação da Convenção Americana para Proteção da Flora e Fauna. Com isso, os

Estados Unidos da América do Norte editam o Welfare Animal Act, em 1966.

Mas apenas em 1978, foi apresentado o feito mais louvável em

proteção dos Direitos dos Animais: a Declaração Universal dos Direitos dos

Animais, da qual diversos países são signatários, inclusive o Brasil, muito

embora não a tenha ratificado até a presente data. Ainda que existam inúmeras

convenções internacionais e leis protecionistas, essa Declaração é a mais bela

obra existente em prol da vida e da integridade dos animais.

Mister enfatizar que a Declaração Universal dos Direitos dos

Animais, proclamada pela UNESCO em 27/10/1978 e apresentada em Bruxelas,

adotou uma nova filosofia de pensamento sobre os direitos dos animais,

reconhecendo o valor da vida de todos os seres vivos e propondo um estilo de

conduta humana condizente com a dignidade e o devidamente merecido respeito aos

animais. Dias avisa que “esse documento é um convite para o homem renunciar à sua

atual conduta de exploração dos animais e, progressivamente, ao seu modo de vida e

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9 ao antropocentrismo, para ir de encontro ao biocentrismo. Por essa razão,

representa uma etapa importante na história da evolução do homem”.

Para melhor compreensão em face da fragmentação das leis

protecionistas da fauna, nas linhas que seguem descreve-se a seqüência de algumas

das principais leis brasileiras, a par da norma constitucional.

Juridicamente, os animais foram protegidos pela primeira vez no

Brasil em 1924 através do Decreto 16.590 que proibiu as rinhas de galo e canário, as

corridas de touros, novilhos e garraios, ao dispor sobre o funcionamento dos

estabelecimentos de distração pública.

Em seguida aparece o Decreto 24645, de 1934, instituído na época

da ditadura civil da era do Presidente Getúlio Vargas, o qual permanece parcialmente

em vigor, pois ainda não foi totalmente revogado. Seu mérito consistiu em reforçar a

proteção jurídica dos animais por meio de vários dispositivos próprios, permitindo a

interpretação de um novo status quo dos animais como sujeitos de direito, em razão

da possibilidade de o Ministério Público assisti- lo em juízo na qualidade de

substituto legal. Esse Decreto apresentou um rol de condutas omissivas e ainda

contém algumas definições não expressas na Lei dos Crimes Ambientais em 1998.

Surge em 1941, a tipificação da conduta da prática de atos cruéis

contra os animais em razão do art. 64 do Decreto-Lei 3.688 ainda em vigência,

conhecido como Lei das Contravenções Penais, o qual não revogou o Decreto-Lei

24.654/34, mas sim o complementou com preceitos que visam a proteção dos

animais.

Em fevereiro do ano de 1967, o Decreto-Lei 221, tido como

Código de Pesca, tratou de cuidar dos animais aquáticos e de disciplinar a atividade

da pesca. No mesmo ano, editou-se a Lei Federal 5.197, de 03/01/1967, chamada de

Código de Caça, que considerou crimes as contravenções penais e restou alterada

pela Lei 7.653, de 12/02/1988, que, além de conceituar fauna silvestre como

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10 propriedade do Estado, aboliu a concessão de fiança nos crimes cometidos contra

os animais.

O artigo 19 da Lei Federal 4.591, de 1964, somado aos dispositivos

do Código Civil de 1916, ampara os animais que vivem em condomínio de

apartamentos, sobrepondo-se às convenções condominiais com cláusulas de

proibição de animais em apartamentos.

Em 1979 passa a vigorar a Lei 6.638, de 08/05/1979, abarcando

importantes disposições sobre a vivissecação de animais.

Com nova redação a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente,

Lei 6.938, de 31/09/1981, definiu a fauna como meio ambiente, disciplinou a ação

governamental e inseriu a responsabilidade civil e administrativa pelo dano

ambiental.

Em 1985, a Lei 7.347 protegeu os interesses difusos, e

conseqüentemente a fauna, ao instituir a ação civil pública por danos ocasionados ao

ambiente.

A pesca de toda espécie de cetáceos foi proibida pela Lei de

Proteção à Baleia – Lei 7.643, promulgada em 18/02/1987, e o Código de Pesca –

Decreto-Lei 221/67, restou alterado pela Lei 7.679, de 1988.

Novos dispositivos de grande valia surgiram com o advento da

Constituição Federal de 1988. Conforme o § 3º. do artigo 225, a Carta Magna deixou

claro o objetivo do auxílio do direito penal ambiental, qual seja, a efetividade das

sanções penais aplicadas aos infratores que praticam condutas lesivas ou ameaçam a

vida em todas as suas formas. A norma constitucional foi regulamentada com a

edição da Lei 9.605, de 12/02/1998, denominada Lei de Crimes Ambientais (LCA), a

qual está dividida em oito capítulos. O Capítulo V trata dos crimes contra o ambiente

e divide-se em cinco seções. A Seção I refere-se aos crimes contra a fauna.

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11 A Lei 9.605, de 1998, define os crimes ambientais, tutela

direitos básicos dos animais, independente do instituto da propriedade privada e

prevê, dentre os seus oitenta e dois artigos, nove artigos que constituem tipos

específicos de crimes contra a fauna. Dispõe sobre as sanções penais e

administrativas resultantes de atividades lesivas ao ambiente. As condutas

consideradas criminosas contra os direitos dos animais estão descritas nos artigos 29

ao 37, onde estão previstos os crimes dolosos bem como a modalidade culposa.

Permite inclusive, visualizar-se crime comissivo por omissão ou falsamente

omissivo. O novo diploma apresentou, também, a regra de co-autoria e participação

nos crimes contra os animais. Introduziu a responsabilidade penal da pessoa jurídica

por crime contra o ambiente, muito embora não tenha especificado as sanções

cabíveis nos tipos penais, o que comprometeu, de certa forma, a aplicabilidade da lei.

Essa Lei dos Crimes Ambientais englobou, em regra, outros

diplomas de proteção anteriormente mencionados, como o antigo Código de Caça,

Lei 5.197/67, alterado pela Lei 7.653, de 12/02/1988 e o Código de Pesca, Lei 7.643,

de 16/12/1987. Contudo, além da LCA, para a tutela da fauna, deve-se recorrer ao

Decreto 3.197, de 21/10/1999, que dispõe sobre a especificação das sanções

aplicáveis às condutas e atividades lesivas ao ambiente.

Em matéria de tráfico internacional de animais silvestres o Brasil é

signatário da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora e

Fauna Selvagem em Perigo de Extinção – CITES, elaborada em Washington no ano

de 1973. A convenção objetiva impedir o comércio ilegal e regular o comércio

internacional de animais que, infelizmente, ainda representa grave fator de ilicitudes,

impunidades e crueldades.

Como dito, o protecionismo aos animais fortaleceu-se com o teor

da Carta Magna, a qual elevou os bens ambientais à condição de bem público,

passando a receber uma especial atenção por parte do legislador através do artigo

225, § 1º., inciso VII, o qual, abrigando toda e qualquer classificação de animais,

obrigou o Poder Público a dedicar proteção à fauna.

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12 Aplaudida por ser considerada uma das Cartas mais adiantadas

em matéria ambiental, a Constituição Federal do Brasil de 1988 protege os animais e

regulamenta a pesca e a caça, mas acarreta várias interpretações sobre o significado

do termo fauna e influencia a divergência doutrinária que aparece com enorme vigor.

Afonso da Silva interpreta literalmente os dispositivos constitucionais, alegando que

a proteção dos animais recai especificamente aos silvestres e aos peixes. Outros

doutrinadores afirmam que a noção constitucional da expressão fauna silvestre deve

incluir todos os animais em sua mais completa classificação, ou seja, desde os

silvestres até os aquáticos, excluído o ser humano, bem como seria essa garantia

constitucional estendida aos animais da fauna brasileira ou não, que estejam em

território nacional.

De fato, o termo fauna tem sido alvo de grande discussão devido à

falta de unidade conceitual também entre as diversas leis. Repare-se que, além de

acepção constitucional, a Lei 5.197/97 em seu artigo 1º., definiu os animais silvestres

como “os animais de quaisquer espécies, em qualquer fase do seu desenvolvimento e

que vivem naturalmente fora de cativeiro”. Já o artigo 29, § 3º. da Lei 9.605/98

informa que “são espécies da fauna silvestre todos aqueles pertencentes às espécimes

nativas, migratórias e quaisquer outras aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou

parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentre dos limites do território brasileiro, ou

águas jurisdicionais brasileiras”. Válido lembrar que essa mesma lei prevê a

existência da categoria de animais “nocivos” quando são assim declarados por

autoridade administrativa competente.

Ademais, não obstante isso, os conceitos de fauna silvestre

brasileira, silvestre exótica e doméstica, são definidos pelo IBAMA, através da

Portaria 93, de 07/07/1998.

Desse modo, os animais são juridicamente protegidos mediante

certa classificação segundo suas características físicas de acordo com o explicitado

no Capítulo anterior, e qualificados em categorias de selvagens ou não, domésticos

ou domesticados, aquáticos, terrestres, migratórios ou não, exóticos ou não,

ameaçados ou em extinção.

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A bem da verdade, sob a égide jurídica os animais são protegidos

da seguinte forma: primeiro, os animais continuam sendo considerados coisas ou

semoventes, ou coisas sem dono conforme os dispositivos do Código Civil Brasileiro

e, nesse sentido, são protegidos mediante o caráter absoluto do Direito de

Propriedade, ou seja, como propriedade privada do homem e passíveis de

apropriação. Aqui se encontram os animais domésticos e domesticados, considerados

coisas, sem percepção e sensações.

Segundo, como patrimônio da União, sendo que a biodiversidade

terrestre pertence ao Direito Público e, portanto, devem ser protegidos como bens

socioambientais inseridos na categoria de bens difusos, o que, diga-se de passagem,

já foi uma grande evolução no âmbito protecionista dos direitos dos animais. Sob

essa proteção estão incluídos os animais silvestres em ambiente natural, e os

exóticos, os quais são originários de outros países.

Denota-se que, “com o advento da Constituição Federal, a fauna

passou a ser bem ambiental difuso”. Silva ensina que, “no tratamento da matéria

faunística, buscou-se proteger todas as espécies que integram a fauna brasileira,

independemente da sua função ecológica (silvestres, domésticos e domesticados), do

seu habitat (aquático ou terrestre) ou da sua nacionalidade (nacional, exótico ou

migratório), com exceção lógica do homem. Desse modo, a fauna terrestre e aquática

(silvestre, doméstica ou domesticada), consagrou-se como elemento do bem jurídico

ambiente e passou a ter natureza difusa”.

Com o mesmo entendimento, Sirvinskas expõe que “a fauna é um

bem ambiental e integra o meio ambiente ecologicamente equilibrado previsto no

artigo 225 da Constituição Federal. Trata-se de um bem difuso. Esse bem não é

público nem privado. É de uso comum do povo. A fauna pertence à coletividade. É

bem que deve ser protegido para as presentes e futuras gerações”.

É pacífico na doutrina e jurisprudência brasileira que o bem

socioambiental possui natureza difusa ou coletiva por não ser bem público e

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14 tampouco privado. Ninguém e nenhum ente federado pode ser proprietário dos

bens que possuem as características próprias de bem ambiental. Ou seja, o bem

socioambiental pertence a toda humanidade, recaindo sobre ela e sobre nos entes

federados a responsabilidade quanto a sua administração e preservação.

Para o ordenamento jurídico como ciência antropocêntrica, tanto os

animais como bens socioambientais, quanto coisas ou semoventes, são tidos tão

somente como objetos de direito.

Averigúem-se os artigos concernentes ao penhor pecuário do

Código Civil Brasileiro, Lei 10.406, de 10/01/2002, por exemplo, em que os animais

são objetos de penhor e alienação, além da compra e venda.

Então, séria problemática desponta ao levantar-se a questão do bio

e antrocentrismo. Sob a ótica biocêntrica, os animais devem ser protegidos pelo

Poder Público que é por eles responsável, trazendo à tona a deep ecology ou ecologia

profunda, a qual coloca todos os seres vivos no mesmo patamar. Divergindo dos

adeptos do biocentrismo, os que sustentam o antropocentrismo como Afonso da

Silva e Pacheco Fiorillo, vêem, categoricamente, a proteção da fauna visando tão-

somente o bem da humanidade, apoiando-se nos dispositivos constitucionais que

regulamentam as caças amadoras e científicas, as criações de criadouros, a

regulamentação de matadouros e de pesquisas científicas.

Colam-se os ensinamentos de Heron de Santana: “Em abril de

1989, quando a Declaração dos Direitos Humanos completava 200 anos, surge a

Proclamação dos Direitos dos Animais, que em um avançado texto de 17 artigos,

afirma, com fundamento em princípios não-antropocêntricos, os direitos

fundamentais dos animais, tais como, à proteção dos homens, à proibição de

classificações discriminatórias, a proibição do seu abate para consumo e a crueldade

na experimentação científica ou exibições em espetáculos públicos, dispondo ainda

que a concretização destes direitos deve ser considerada um objetivo nacional nas

constituições das Nações, e que os governos devem promover o seu cumprimento em

nível nacional e internacional, através da designação de pessoas as quais sejam

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15 conferidos mandatos e poderes legais para instaurar processos legais em sua

defesa. Não obstante isso, a Constituição Federal de 1988 não reconhece os

princípios não-antropocêntricos estabelecidos na Declaração Universal dos Direitos

dos Animais e na Proclamação dos Direitos dos Animais”.

Não se pode negar a falta da adequada e total proteção aos animais

pela lei pátria, pois, além do império do sistema financeiro de lucro a qualquer preço

e ao não reconhecimento de se verdadeiro status quo como sujeitos de direito, há

outros fatores preponderantes a serem analisados.

O primeiro fator está fundamentado nos dispositivos inseridos nas

próprias leis protetoras, evidentemente contrários aos Direitos dos Animais. Cita-se

como exemplo a Lei da Fauna, a qual faculta a prática da caça amadorista e estimula

a criação de animais silvestres para fins econômicos e científicos, bem como a

construção de criadouros.

Ou seja, a Lei de Proteção à Fauna expressamente proibiu a caça

profissional, porém regulamentou e incentivou a caça na modalidade esportiva, como

tiro ao vôo.

Ora, diante desta constatação, a incoerência é novamente provada,

pois as caçadas são consideradas esportes quando o animal capturado não serve de

alimento e nada mais repugnável: caçar para brincar, caçar para matar, caçar para

brincar de matar ! Ridiculamente na caça por esporte o que se procura é uma vitória

sem esforço !

Com a peculiar sensibilidade e prudência, Honorato Santos apregoa

em razão da legislação paranaense: “Nosso Estado editou a Lei 12.603/99, que

permite a caça e a instalação de fazendas de caça para animais criados em cativeiro

para tal fim, mediante licença do IBAMA. (...) É lamentável que, nos dias atuais,

ainda persista o espírito que orienta a caça, ou seja, o de provocar a morte violenta de

animais, pelo simples prazer de vê- los tombar. Trata-se de prática reprovável quando

o que se busca, hoje em dia, é um equilíbrio entre o homem e a natureza. Não é

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16 possível mais se admitirem práticas com esse conteúdo tão agressivo ao meio

ambiente, provocando um desequilíbrio ecológico em prejuízo de todos”.

Ainda sobre essa questão, Robson da Silva explica que o

extermínio da vida dos animais é aceita pelo sistema que prioriza os modelos

econômicos: “Uma legislação particularmente rigorosa contra práticas de caça,

perseguição e apanha é radicalmente liberal quando o confronto que se dá entre os

interesses econômicos dos homens e a necessidade de sobrevivência dos animais”.

Por outro lado, o segundo fator diz respeito a ser comum deparar-se

com normas infringidas em ausência de imposição de regras e de suas interpretações

autoritárias. Para uma maior eficácia da proteção ambiental, necessita-se de um

poder coercitivo soberano que imponha um sistema de penalidades como recurso

estabilizador contra a degradação ambiental, atuando em conjunto com a esfera civil

e administrativa.

O Código Penal Brasileiro é deficitário em normas que visem a

regulamentar e reprimir os abusos contra a natureza e os direitos dos animais, pois o

elemento central do direito penal constitucional é a prévia prescrição normativa,

conforme determina nossa Carta Magna. Há que se considerar, também, que, antes

da promulgação da Lei dos Crimes Ambientais em 1998, existia tremenda

dificuldade na imposição de sanções devido à existência de lacunas da lei, ou em

outras palavras, a ausência de lei para o caso concreto. Em 1996, Edis Milaré

assegurou: “Lamentavelmente, nossa legislação penal não contém previsões

normativas eficientes para uma defesa racional e contínua do meio ambiente”.

O direito penal moderno passou a proteger os animais na medida

em que se preocupou com a prevenção contra crimes, maus-tratos e crueldades, bem

como apresenta orientações sobre as conseqüências, a fim de sensibilizar a sociedade

objetivando o respeito merecido por esses seres vivos. Desta maneira, o direito penal

moderno não pôde renunciar à proteção dos animais em toda a sua classificação, pois

se assim o fizesse, não estaria protegendo os bens jurídicos universais e

conseqüentemente estaria desprotegendo a humanidade.

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Isso porque nos crimes contra a fauna considera-se, via de regra,

em primeiro plano o Estado e a humanidade como sujeitos passivos; como objeto

material, os animais. Os atentados contra a fauna são tutelados timidamente, de

forma mediata, quando inseridos nas modalidades de crime ecológico.

A intervenção penal na tutela dos animais foi autorizada como

meio de assegurar a integridade e traduzida pelo dano ou perigo das atividades e

condutas lesivas à fauna, cujo crime ofende a toda humanidade e justifica a

severidade do direito penal ambiental. Sob esse prisma, deduz o mestre Esteban

Righi: “De la structura de la norma se dedujo el concepto de “bien jurídico”,

entendido como todo valor em cuja preservación el derecho está interessado. La

misión del orden jurídico es proteger dicho interes frente a su lésion o puesta em

peligro”.

Vale ressalvar, também, a visão de Hassemer: “El derecho penal

deja de ser um instrumento de reacción frente a las lesiones graves de la libertat de

los ciudadanos, y se transforma em el instrumento de uma política de seguridad. Com

ello se pierde su posición en el conjunto del ordenamiento jurídico y se aproxima a

las funciones del derecho civil o administrativo (...) lo que actualmente interesa y

sirve a um sistema político funcional son conceptos como orientación a las

consecuencias, ponderación de intereses en juego, previsión y programas flexibles de

decisión”.

Depreende-se do texto acima, que o direito penal moderno rege-se

por um vínculo com o interesse funcional coletivo, orientado por um tipo de perigo

cujas infrações poderiam vir a serem reguladas por um direito de intervenção, ainda

não regulado. A fundamentação do direito penal deixou de centrar-se no princípio da

legalidade, pois o princípio da ultra ratio está diretamente atrelado ao princípio da

proporcionalidade. Assim, para a efetiva tutela do bem jurídico, o direito penal

ambiental passou a responder de forma diferente, aplicando o princípio da

proporcionalidade sempre que ocorrerem divergências entre interesses tuteláveis, em

determinado caso concreto, atuando sobre o processo cautelar e não mais sobre a

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18 pena privativa de liberdade. Destarte, somente devido a uma absoluta necessidade,

devidamente analisada e adequada à futura medida a ser aplicada, justificar-se- ia, por

exemplo, a existência da prisão cautelar.

Em se tratando de matéria penal, a Lei dos Crimes Ambientais

possui natureza penal-processual, pois apresentou alternativas à pena restritiva de

liberdade, possibilitando-se a não-aplicação da pena quando o infrator recupera o

dano ou paga seu crédito para com a sociedade. Isso quer dizer que nos crimes de

menor potencial ofensivo será aplicada a Lei 9.099/95, Lei dos Juizados Especiais

Cíveis e Criminais, sendo cabível a transação penal ou a suspensão condicional do

processo em casos qualificados. Levai bem expressa: “Apesar das boas intenções do

legislador, a maioria das nossas leis parece não intimidar aqueles que maltratam

animais. Com o advento da Lei 9.099/95 (Juizado Especial Criminal) a situação

piorou ainda mais. Isso porque toda e qualquer crueldade contra os bichos –

excluídas as hipóteses de aplicação da Lei de Proteção à Fauna – é agora considerada

infração de pequeno potencial ofensivo, punível quase sempre com irrisórios cinco

dias-multa. Uma vez satisfeita a pretensão pecuniária o contraventor, seja lá o que

tenha feito, continua primário e de bons antecedentes”.

Pondera Willian Freire: “Percebe-se no Brasil duas características:

a) leis que não são aplicadas; b) leis elaboradas ao sabor das campanhas restritas a

determinado objeto. Um país que sequer consegue encarcerar ladrões, assaltantes,

estupradores, seqüestradores e políticos corruptos, dificilmente conseguirá tornar

efetiva a sanção civil ambiental”.

Com efeito, as sanções previstas na legislação em comento são

notoriamente ínfimas, constituindo-se como inábeis à função de prevenir e/ou

impedir condutas ilicitamente tipificadas, pois a punibilidade sequer gera receio aos

infratores. De outra banda, maior parte das ilicitudes restaria sob a égide dos

Juizados Especiais Criminais, donde há, indene de dúvidas, uma maior viabilidade de

transação, o que, por si só, não serve de desestímulo à prática de atividades

predatórias aos animais.

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19 Antes mesmo da promulgação da Lei dos Crimes Ambientais,

Senise Ferreira, asseverava: “Maior relevo, porém, poderia ser dado à pena de multa

como sanção penal para os crimes ecológicos. Deveria ela significar realmente um

ônus, que desencoraje o agente e outros prováveis infratores à prática as condutas

proibidas; somente assim funcionaria como eficaz alternativa à pena de prisão,

podendo ser aplicada como pena única”.

Mesmo sendo a conduta predatória aos animais cada vez mais

reprovada e as condições para defesa da qualidade e equilíbrio do ambiente sejam

proporcionadas pela legislação infraconstitucional, nota-se que os crimes contra a

fauna continuam sendo amplamente cometidos independentemente do grau de

instrução dos infratores.

Destarte, não se pode furtar à constatação de que, mesmo com a

legislação em vigor, os crimes mais repulsivos cometidos contra os animais têm

lugar na sociedade. Na ausência de um controle moderador realmente eficaz, o gosto

pela matança e as crueldades são feitas aos animais poderão no futuro, quem sabe,

voltar-se contra os humanos.

Não obstante isso, mister lembrar a idéia utilitária dos animais ao

homem. Ilustre-se com o próprio nome da Convenção de Paris para a proteção das

aves “úteis à agricultura”, de 1911, ou ainda com a poluição do ambiente por

produtos químicos incapazes de decomposição introduzidos pelo homem na Natureza

mediante a tecnologia atual. Sobre isso, Baker expõe: “Para proteger suas colheitas e

alimentar seu número sempre crescente, o homem extermina os insetos com potentes

inseticidas que poluem rios e mares desde o Círculo Ártico à Antártida, envenenando

sua própria espécie e outras espécies animais cuja atuação contribuía para manter o

equilíbrio na natureza”.

Portanto, toda essa parafernália legislativa está sendo impotente

para proteger os direitos à vida, à liberdade e dignidade dos animais porque é tida

sob a ótica antropocêntrica do ordenamento jurídico, com a qual obviamente não se

compartilha.

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Contudo, a ecologia profunda parece não conquistar corações e

mentes humanas. Nesse diapasão, em sendo a visão antropocêntrica dominante no

mundo jurídico, transcreve-se a definição da palavra ‘antropocêntrico’ extraída do

Dicionário Aurélio: “1. Que considera o homem como o centro ou a medida do

universo. 2. Que concebe o universo em termos de experiências ou valores humanos.

3. Diz-se principalmente das ingênuas doutrinas finalísticas que admitem que todas

as coisas foram criadas por Deus para propiciar a vida humana”.

Para elucidar a questão do tratamento jurídico dado aos animais,

torna-se apropriado analisar, ainda que brevemente, a história da degradação

ambiental e como ocorreu o início de grande trabalho em prol do ambiente.

Inicie-se com o fato de que muito se relutou a encarar o terror de

que o planeta estaria sendo voluntária e conscientemente destruído.

Afora o mundo humanamente deficiente, a desigualdade e exclusão

social, a pobreza, o crescimento populacional, a devastação da natureza e o

esgotamento da fauna constituem fatores complexos e apresentam perspectivas

aterrorizadoras.

Os animais constituem recurso natural renovável e biótico, pois são

criados e renovados constantemente mediante processos de reprodução e

crescimento. Basicamente, há três tipos de recursos naturais: os renováveis, os não-

renováveis e os recursos livres. Os animais como recursos naturais, são reconhecidos

como garantia da sobrevivência das espécies.

Os recursos naturais disponíveis sempre foram manipulados pelo

homem. Inicialmente, em épocas pré-históricas, as situações e condições do ambiente

eram diferentes. Permitiu-se o desenvolvimento da vegetação que garantia a

alimentação de uma fauna majoritariamente herbívora. A matéria como a pedra e a

madeira eram modeladas e transformadas em utensílios pelo homem e os animais

caçados apenas como meio de subsistência, até fatal descoberta de sua utilidade não

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21 só para o transporte, alimento e companhia, mas também de seus componentes

físicos com destino à produção de roupas, uso farmacêutico e de cosméticos, assim

como utilitários para o mercado.

Muito embora o fenômeno de alteração de natureza seja

perfeitamente normal, o que se vê é a constante intervenção antrópica forçada em

que o homem constrói suas próprias condições de sobrevivência e prejudica todos os

seres vivos do planeta.

Em outras palavras; é perfeitamente normal o desaparecimento

biológico de uma espécie da Terra. Trata-se do processo de extinção por

transformação, em que novas espécies aparecem para substituir aquela que se

extinguiu. Essa forma de extinção é natural, e a mais célebre é a desaparição dos

dinossauros ocorrida a 65 milhões de anos. Sob esse prisma, a extinção pode ocorrer

devido a fatores diversos como climáticos, epidemias, catástrofes cósmicas, queda da

natalidade ou mesmo o ciclo de vida dos seres vivos.

Dawkins observa que “os especialistas em fósseis estimam que

mais de 90 por cento das espécies que já existiram estão extintas. Felizmente, a taxa

de extinção é, no longo prazo, mais ou menos equilibrada pela taxa com que novas

espécies são formadas pela divisão das existentes”. Em contrapartida, há a extinção

absoluta e não natural de espécies ocasionada através da atuação do homem.

Exemplo notório é o caso da matança desenfreada dos búfalos nos Estados Unidos da

América do Norte.

A extinção é a maior ofensa que o homem pode cometer dentre os

danos contra o futuro, pois corrompe a vida e aniquila com a geração atual, a impedir

oportunidades à geração futura. Portanto, a assertiva da normal extinção de certa

espécie não significa que cabe ao homem extingui- las quando bem entender. Mas o

que se vê é a flagrante responsabilidade do homem pela profunda extinção em massa

dos animais, ou seja, desaparecimento absoluto de toda uma espécie, e,

conseqüentemente, o desequilíbrio ecológico. Vale registrar que o Brasil é um dos

países com índice mais elevado de espécies ameaçadas de extinção.

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Ademais, o homem tem alterado constantemente o equilíbrio dos

ecossistemas. Com efeito, o ecossistema presente relaciona-se com o passado, assim

como o futuro ecossistema está relacionado com o do presente. Maack explica que a

mata ou floresta constitui formação posterior às estepes de gramíneas baixas e

arbustos. O avanço das matas foi impedido pela intervenção do homem na natureza,

o que ocasionou, devido às queimadas e roçadas, a formação vegetal primitiva.

Se, por um lado muitos animais desapareceram na medida em que

se desenvolveu a civilização, meso porque seria muito difícil não interromper o

progresso tecnológico sem intervir no habitat e no modo de vida dos animais; por

outro, ao introduzir espécies estranhas em ecossistemas naturais interferiu-se em

comunidades equilibradas, arriscando-se a prejudicar todas as relações simbióticas

entre os seres vivos. A mudança de habitat ocasiona uma multiplicação ou

diminuição de certas espécies, causando um enorme e desastroso desequilíbrio ao

ambiente.

A destruição e redução de seus hábitats, a devastação e exploração

econômica das florestas e cerrados, crescente ocupação humana, a caça e pesca

predatória sem leis adequadas que regulamentem sua permissão, o comércio e tráfico

nacional e internacional de animais silvestres são as principais causas da diminuição

das populações da fauna brasileira.

Cada espécie informa o tamanho mínimo que uma população tem

de atingir para evitar a extinção, a depender basicamente de sua capacidade

reprodutiva, da sua vulnerabilidade às influências do ambiente e da duração de seu

ciclo vital. Sem qualquer mistério, reconhece-se que a alteração do ambiente

ocasiona aos animais danos visíveis e, da mesma forma, danos indiretos ao homem.

Desta forma, não é preciso ser doutor em etologia, zoologia ou em biologia para

compreender o mal causado ao ambiente pelo homem, a afetar todos os seres vivos

da Terra.

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23 Dito de outra maneira, os danos que o homem causa ao planeta

são sofridos por outras espécies, de modo que suas atitudes podem prejudicar tanto a

humanidade quanto os animais. A qualidade de vida e o equilíbrio ecológico não

servem apenas aos interesses do homem, mas aos de todos os seres vivos que

compartilham os efeitos da depredação da natureza.

Há comprovação científica de que, se a redução da camada de

ozônio for superior a 50%, os danos à córnea iniciam devido ao aumento da radiação

ultravioleta a acarretar uma séria queimadura da vista, e os animais não poderão se

proteger com uso de óculos escuros, como é facultado ao homem. Jonatham Schell

ensina que: “um animal cego não sobrevive com facilidade na natureza. Danos

repetidos causam a cicatrização da córnea e isto faria com que, ao fim de algum

tempo, os animais se tornassem permanentemente cegos. (...) A perda da visão

lançaria o ambiente em completa desorganização, à medida que bilhões de animais,

insetos e aves cegas começassem a vagar através do mundo. A desorientação dos

insetos seria fatal não somente para eles mas para a vida das plantas, muitas das

quais dependem dos insetos para a polinização e outros processos essenciais à

sobrevivência”.

Flagrantemente óbvio, a interpretação na polis ou no cosmo gera o

caos. A neutralidade revela-se impossível, vez que a ordem social deve ser

legitimada ou contestada. Desta maneira, assumindo uma visão neokantiana, a qual

afirma que há caos no Universo e a ciência cria o cosmo, o sujeito cognoscente é o

responsável é o responsável pela organização do real. A ordem jurídica não é lógica,

e o papel de descrevê-la como tal é da ciência jurídica, admitindo-se uma certa

logicidade no direito. A ordem, mesmo dentro do caos, é necessária. A presente era é

de confronto abrangido pelo autoritarismo, o dogmatismo e o preconceito em que a

harmonia entre o homem e a natureza pressupõe a submissão desta.

Assim, repetindo, situações como o crescimento exponencial e o

urbano nas regiões agrícolas, o alto número de pessoas e taxa de consumo de

produtos, o aumento da pobreza e do desemprego, a devastação constante e contínua

dos recursos esgotáveis, aliada ao desperdício da matéria-prima, o progresso das

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24 ciências, o descaso da humanidade com a natureza e com os animais, entre tantos

outros fatores, servem para concluir que o planeta não sobreviverá por muito mais

tempo ao domínio do homem se continuar essa incorreta intervenção no ambiente.

Nesse compasso, será preciso recorrer a outros planetas para que, num futuro mais

próximo do que o imaginado, o ser humano possa continuar sobrevivendo. Só então

o homem começará a se preocupar com os animais.

OBJETIVO

MOSTRAR AS ÁREAS DEPREDADAS E DEVASTADAS

DO BRASIL, APESAR DAS LEIS DE PROTEÇÃO

MATA ATLÂNTICA

A MATA PEDE TRÉGUA

O PASSADO FOI DE GLÓRIA. Imagine 1.3 milhão de

quilômetros quadrados de massa verde, o equivalente a 15% do atual território

brasileiro, num faixa que atravessa o país. Paisagens alternavam-se de forma

surpreendente e contínua: manguezais intactos, árvores enormes enfeitadas com

bromélias e orquídeas, vegetação baixa no topo das serras, araucárias nas regiões

mais frias. Os primeiros europeus que a conheceram ficaram boquiabertos. A

muitos faltaram as palavras certas para descrevê- la. Era majestosa. Um pedacinho

do Éden. Abrigava uma diversidade incalculável de animais, insetos e plantas.

Durante os séculos iniciais da colonização portuguesa, ocupou o primeiríssimo lugar

nas paradas de sucesso da terra do pau-brasil.

Mas 500 anos se passaram e os áureos tempos ficaram para trás.

Aquela que era a segunda maior floresta brasileira, nos idos de 1500, conheceu o

purgatório. A duras penas sobreviveu aos ciclos econômicos que se sucederam – a

exploração do pau-brasil, as monoculturas da cana-de-açucar e do café – e ao

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25 estabelecimento de pólos industriais. Hoje, restam pouco mais de 7% de Mata

Atlântica – a exuberante cobertura verde descrita no parágrafo anterior. Mas não

pense que esses 7% se referem a uma mancha contínua de vegetação. São

fragmentos esparsos de floresta, ainda ameaçados pela caça ilegal, pela exploração

predatória de palmito e de madeira e pela especulação imobiliária.

“Apesar de bastante degradada, a Mata Atlântica continua sendo

uma das regiões mais ricas em biodiversidade do planeta”, diz o biólogo Luiz Paulo

Pinto, diretor de programa da ONG Conservation Internacional. Trata-se de um

hotspots, como dizem os ambientalistas – ou seja, de uma área com uma riqueza

biológica extraordinária, reduzida a 25% ou menos da sua cobertura original. E,

entre os 25 hotspots identificados na pesquisa realizada pela Conservation em 1999,

a Mata Atlântica está entre aqueles que merecem prioridade de ação. Para se

entender a dimensão do problema, só imaginando um campo de futebol como o

Maracanã. Segundo dados da ONG Fundação SOS Mata Atlântica, a cada quatro

minutos trechos de floresta do tamanho de um Maracanã são destruídos. E com eles,

espécimes da fauna e da flora, alguns deles ainda não catalogados.

“ Hoje, a grande ameaça à biodiversidade do bioma – o conjunto de

ecossistemas que forma a floresta atlântica – é a erosão genética”, diz o ambientalista

Mário Mantovani, diretor da SOS Mata Atlântica. Como a floresta está fragmentada,

as ilhotas de mata não têm ligação umas com as outras. Portanto, as espécies

animais – e mesmo as vegetais – passam a se reproduzir entre elas mesmas,

diminuindo progressivamente a diversidade de genes. Isso pode significar extinção,

num horizonte não muito distante. “As espécies que habitam os fragmentos já estão

condenadas”, afirma Mário. “As medidas precisam ser urgentes.”

Para amenizar o problema, numa iniciativa conjunta entre a

Conservation e a SOS Mata Atlântica foram traçadas estratégias para a criação de

“corredores de biodiversidade”, também chamados de “corredores ecológicos”. São

conexões, entre um fragmento e outro de floresta, formadas por uma rede de

unidades de conservação, reservas, superfícies menos degradadas e parques. Tais

áreas podem ser interligadas a partir de medidas simples, como a delimitação de

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26 novas reservas ou a expansão de uma zona de uso sustentável, a fim de que os

animais possam ir de uma ilha de mata a outra. “Desta maneira, conseguimos manter

o fluxo de espécies dentro de trechos da mata Atlântica, permitindo o intercâmbio

genético”, afirma a agrônoma Maria Cecília Wey de Brito, que coordena a parceria

entre as duas ONGs. “As áreas mais promissoras, no momento, para a criação de

corredores ecológicos são o sul da Bahia e a região de São Paulo, Rio de Janeiro e

norte do Paraná.”

A preocupação com a saúde do bioma se justifica, principalmente,

porque a Mata Atlântica apresenta altos índices de endemismo. Isso quer dizer que

muitas espécies só ocorrem nessa floresta e em nenhum outro lugar. Segundo dados

da Conservation, entre as 20.000 espécies de plantas que lá existem, 8.000 –

exclusivas do bioma. Somando mamíferos, aves, répteis e anfíbios são 389

espécies endêmicas, num total de 1.807. Os Campos Sulinos, bioma

independente que foi incorporado aos domínios de Mata Atlântica para fins de

inventário e conservação, apresentam também suas espécies exclusivas. Dados

preliminares de um estudo coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente

indicam que 17% das espécies de mamíferos que ocorrem no Brasil só aparecem

na floresta atlântica.

Espécies Exclusivas – Para entender por que o endemismo é tão

comum por lá, é necessário voltar no tempo, cerca de um milhão de anos atrás, na

época dos períodos glaciais que atingiram a Terra. A cada vez que as geleiras

avançavam, a floresta se retraía. Parte do território virava deserto e apenas algumas

manchas de mata permaneciam preservadas. Nos períodos quentes e úmidos, a

floresta voltava a se expandir, já um pouco diferente do que era anteriormente,

porque muitas espécies animais e vegetais não sobreviviam ao impacto das mudanças

climáticas. Nos bolsões de floresta que restavam, aqui e ali, a fauna e a flora

evoluíam separadamente. E as espécies que habitavam tais bolsões iam se

diferenciando geneticamente de suas irmãs. Por isso, existem bichos (nossos

irmãozinhos) e plantas que só aparecem em pontos determinados da mata

Atlântica – como o mico-leão-dourado, que só podemos encontrar em regiões do

Rio de Janeiro.

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“Ainda há quem diga: vocês são contra a construção de uma

estrada nesse trecho da floresta por causa de dois papagaios-de-cara-roxas?”, afirma

Mário Mantovani. Se forem os dois últimos, faz toda a diferença. “Justamente por

terem sua área de ocorrência limitada, as espécies endêmicas são mais vulneráveis e

merecem atenção especial”, diz Luiz Paulo Pinto. Segundo ele, entre os primatas

ameaçados de extinção, existem quase duas dezenas de espécies endêmicas. Se

desaparecerem, nossos netos e bisnetos só conhecerão o mico- leão-de-cara-dourada,

por exemplo, pelos livros, como uma lembrança remota de uma espécie que a

geração de seus avôs e bisavôs ajudou a extinguir. Triste, não?

Há outros dados incômodos. Acredite se quiser: das 208 espécies

animais sob o risco de extinção no Brasil, 171 vivem na Mata Atlântica. Mas a

devastação não é o único inimigo da flora e da fauna do bioma. O tráfico ilegal de

animais silvestres e de plantas ornamentais também vem contribuindo para aumentar

a lista dos ameaçados de extinção. “Os grandes alvos do traficante de animais

silvestres são os bichos (nossos irmãozinhos) raros”, afirma o zootécnico José Leland

Barroso, chefe do Departamento de Fiscalização do Instituto Brasileiro do Meio

Ambiente e Recursos Renováveis (IBAMA).

Conforme a lei de Crimes Ambientais, já mencionada,em vigor no

Brasil, a coleta de qualquer espécie vegetal ou animal é proibida em toda a mata

Atlântica. Mas, novamente, entra em cena aquela velha mentalidade de que a

natureza, se não é um obstáculo para o progresso, funciona como uma selva

inesgotável de recursos biológicos que podem ser extraídos ininterruptamente. O

pior de tudo é que há casos de extração predatória de palmito e caça de animais em

parques estaduais – que, teoricamente, deveriam ser as áreas mais protegidas.

Infelizmente muitos dos parques da Mata Atlântica estão abandonados, à mercê de

qualquer inescrupuloso invasor.

Estes “bárbaros invasores” exploram o palmito à exaustão,

transformando-o num recurso hoje praticamente escasso. Ou os caçadores de pacas,

capivaras e antas. A ocupação irregular também atinge áreas protegidas. A história

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28 da mata Atlântica é uma história de ocupação. Cerca de mais de 120 milhões de

habitantes, quase dois terços da população brasileira, vive em áreas anteriormente

ocupadas pela mata Atlântica – incluindo comunidades indígenas, caiçaras e

quilombolas.

MANGUEZAIS

Um dos ecossistemas agregados à Mata Atlântica que também

sofre com a especulação imobiliária são os manguezais. Com uma vegetação

peculiar, as áreas de mangues ocupam o trecho intermediário entre o mar e a serra.

Os mangues funcionam como um berçário para várias espécies de peixes, que lá

desovam. Além disso, devido à riqueza de nutrientes trazidos pelas marés, espécies

de outros ecossistemas costumam freqüentar a área para buscar alimentos.

Mesmo sendo uma área de preservação permanente, os Manguezais

têm sofrido com o crescimento exagerado do turismo em suas zonas de ocorrência,

como na região de Iguape, no Litoral sul de São Paulo.

O lixo e a depredação causam danos graves. Outra ameaça é a

exploração de camarão – uma espécie que não é típica do ecossistema –

principalmente em zonas de Mangues do Rio Grande do Norte. Como os

Manguezais formam uma espécie de reservatório, a criação do crustáceo fica mais

fácil. Mas há ganho econômico somente a curto prazo. No Equador, a indústria do

camarão explorou exaustivamente os Manguezais de parte do seu litoral. Depois de

alguns anos, a região tornou-se improdutiva e totalmente degradada.

DA MESMA FORMA OBSERVAMOS A DEGRADAÇÃO E A DEVASTAÇÃO

DO TERRITÓRIO MARINHO DO BRASIL

A VIDA MARINHA BRASILEIRA , TAMBÉM, PEDE TRÉGUA

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29 No caminho para o Nordeste, não é improvável que os tubarões-

azuis cruzem com baleias, golfinhos, peixes-boi e outras 34 espécies de mamíferos

marinhos – várias delas em perigo de extinção. Ou com as tartarugas marinhas, que

vêm à procura de praias para deixar seus ovos.

A diversidade da população marinha é completada por mais de 800

espécies de peixes que também perambulam pelo mar brasileiro. São eles os alvos

principais dos pesquisadores do Revizee. E, nessa frente, estão sendo reveladas

algumas gratas surpresas, como espetaculares concentrações de peixes- lanterna – os

maurolicus stehmanni – ao longo de toda a área estudada. É um peixe que você

jamais terá em seu prato. Mede cerca de 8 centímetros e até 1996 só se tinha

conhecimento de sua existência porque às vezes era achado no estômago de animais

maiores, como os atuns, quando eram abertos para estudos. Com as primeiras

pesquisas por radar de som, começou-se a notar grandes concentrações do lanterna,

sempre perto de atuns, bonitos e lulas gigantes. Logo se viu que não era um acaso.

“Eles são o principal alimento dos atuns”, conta o biólogo André Martins Vaz dos

Santos, da Universidade de Santa Cecília, de São Paulo, que trabalha em conjunto

com o pessoal do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP).

“Mapear a área do peixe- lanterna é mapear a comida do atum – e o próprio atum”,

explica Santos.

De acordo com os cálculos da equipe de Lauro Madureira, da

Fundação Universidade do Rio Grande (FURG), no Rio Grande do Sul, entre o Chuí

e o Cabo de São Roque há 1 milhão de toneladas do peixe- lanterna. Para ter idéia da

dimensão do número, ele pode ser comparado com o estoque de marluza, um dos

peixes mais encontrados nas costas do Uruguai e da Argentina, que alcança 39 mil

toneladas.

Não é por outra razão que as quatro espécies de atuns oceânicos

brasileiros (albacora-de-lage, albacora-branca, espadarte e bandolim) reproduzem nas

águas quentes do Nordeste e concentram-se no Sul para comer. Não que gostem de

água fria, mas, como explica um estudioso da espécie, o professor Jorge Castello, um

uruguaio que pesquisa na FURG, os atuns freqüentam os vórtices, as confluências de

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30 águas frias trazidas pela Corrente das Malvinas com as quentes da Corrente do

Brasil. Eles vivem na água quente, mas, como têm um sistema de controle interno de

temperatura, conseguem mergulhar um tempo na água gelada para comer. Satisfeitos,

voltam para fazer a digestão no calorzinho. É aí que são apanhados pelos pescadores,

numa captura indiscriminada que está ameaçando a espécie.

De acordo com as pesquisas, há dez anos o albacora-de- lage

alcançava 3 metros e pesava até 100 quilos. Hoje, os maiores exemplares não passam

de 2 metros e 50 quilos. “Se a pesca não for disciplinada e fiscalizada, eles acabarão

sumindo, como já aconteceu com outras espécies”, lamenta o professor Castello.

A pesca predatória também está ameaçando outros valiosos tipos

de habitantes dos mares brasileiros, de que provavelmente você nunca ouviu falar –

embora tenham lugar garantido nos mais finos restaurantes do exterior. É o caso do

peixe-sapo, também conhecido como tamboril ou rape, um gordo habitante de

profundezas de até 500 metros, que pode atingir até 15 quilos. “Eles são capturados

por barcos que lançam redes com quilômetros de comprimento, que varrem o fundo

do mar”, diz o professor Manoel Haimovici, especialista em peixes de fundo da

FURG, de Rio Grande. “Depois, são mandados principalmente para Espanha e

França, onde seu filé alto e macio é considerado uma iguaria”. Pescado intensamente

em 2001, o peixe-sapo começou a rarear e 2002, conforme pesquisas do Centro de

Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar (CTTMar), da Universidade do Vale do

Itajaí (Univali), de Santa Catarina. Sensibilizado, o governo federal acabou

decretando a proibição da pesca na Costa Sul entre os meses de outubro e dezembro,

com o objetivo de garantir sua reprodução.

Outras iguarias igualmente desconhecidas por aqui, mas que fazem

a alegria de gastrônomos do Primeiro Mundo, são o Red Crab e o Royal Creb, duas

espécies de caranguejos de mar profundo que chegam a pesar até 3 kg. Os menores,

de até 1,5 quilo, são encontrados principalmente entre o Rio Grande e o Chuí (RS).

Os maiores, entre Itajaí e Florianópolis (SC). Eles vivem no talude submarino, que é

a encosta da plataforma continental, em profundidades de até 600 metros. Sua

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31 captura é feita por navios- fábrica japoneses – arrendados por empresas brasileiras

-, que os pegam com armadilhas e os limpam, cortam e embalam a bordo.

O Professor Alessandro Augusto Athiê, do IOUSP, embarcou no

Kinpo Maru 5, que em 2001 fez quatro viagens e em cada uma arrebanhou nada

menos de 220 toneladas de caranguejos. “É impressionante”, conta o professor Athiê.

“Eles trabalham dia e noite, e chegam a processar nove tipos de produtos diferentes.

Quando chegam ao porto de Itajaí, embarcam tudo diretamente para os compradores

no exterior. Não fica nada por aqui”. A carga é negociada na Bolsa de Pescados de

Tóquio ao preço médio de 18 dólares o quilo. Nos Estados Unidos, a carne chega ao

consumidor final custando 38 dólares o quilo. E em restaurantes japoneses, um

caranguejo inteiro chega a custar 80 dólares. Assim, não é de admirar que chegam

cada vez mais navios-fábrica. No ano passado, já eram quatro. Por isso, os

pesquisadores da Univali já advertiram: a população de caranguejos também já está

diminuindo, e, a exemplo do que já aconteceu com o peixe-sapo, sua captura também

precisa ser regulamentada.

Foi lançado na Inglaterra o livro The End of the Line: How Over-

Fishing is Changing the World and What We Eat (em tradução livre, O Fim da

Linha: Como a Pesca Exagerada Está Mudando o Mundo e o Que Nós Comemos”).

O autor, Charles Clover, circulou pelos principais mercados do mundo e conheceu a

fundo as forças que movem a insaciável indústria da pesca – máfias de pescadores,

corporações, políticos, astros da cozinha internacional. A sempre sóbria revista The

Economist resenhou o livro e faz uma lista de substantivos para descrever o

panorama que encontra: “avareza, crime, crueldade, desperdício, insensatez,

destruição, hipocrisia, ignorância, pusilanimidade, engano”.

Nos comportamos como verdadeiros predadores do século 19 que

usam a tecnologia do século 21 para localizar, cercar e matar tudo o que se mova sob

a superfície marinha. Cada país costeiro devasta o que encontra em suas próprias

águas. Leis ambientais fracas, o poderoso lobby dos pescadores e os políticos em

busca de voto fácil garantem que a carnificina não vai ter fim. No topo da cadeia, as

três maiores potências pesqueiras do mundo: Japão, China e Espanha.

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32

Essa pesca não tem nada do romantismo de um livro de Ernest

Hemingway. São frotas poderosas, equipadas com sonares e redes que chegam a

125 quilômetros de comprimento. Apanham tudo o que aparece pela frente.

Com os peixes aparecem tartarugas, baleias, golfinhos, arraias, albatrozes.

Pescadores espanhóis chegam a jogar fora 85% do que matam.

O livro de Charles Clover mostra a estúpida crueldade do que

acontece com esses “restos”. Golfinhos devolvidos ao mar com o bico quebrado,

leões-marinhos afogados, arraias agonizando no convés. Rêdes de arrastão

destroem ecossistemas de corais, algas e crustáceos. Essa pesca sem limite corta

a barbatana dos tubarões vivos e os larga para morrer aos poucos.

Além de cruel, toda a situação é economicamente suicida. Isso

porque os “estoques” estão sendo dizimados sem controle pela pesca predatória.

Além disso, fazendas aquáticas são fontes de poluição e desastres biológicos.

A indústria da pesca está dando um tiro no próprio pé. E a pesca

artesanal, tradicional fonte de renda para comunidades pobres, está virando ma

lembrança nostálgica.

As “fazendas” aquáticas, que se espalham especialmente na China,

podem ser uma opção ainda mais desumana. Por que ? É só imaginar peixes como o

salmão e o atum, nascidos para atravessar oceanos, vivendo sua vida inteira numa

gaiola.

A HISTÓRIA DA OCUPAÇÃO DA AMAZÔNIA É UMA

DEVASTAÇÃO

A AMAZÔNIA QUE CHORA E TENTA REAGIR

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33 A Amazônia brasileira está sendo devorada pelas beiradas – e a

uma velocidade muito grande. Somando todos os buracos feitos na floresta nos

últimos 50 anos, uma área correspondente a 14% da sua cobertura original já

desapareceu. Pode não parecer tão assustador assim, mas se levarmos em conta que a

Amazônia tem cerca de 5 milhões de quilômetros quadrados, o resultado é que uma

equivalente à França foi consumida.

Os desmatamentos acontecem principalmente nos Estados de

Rondônia , Mato Grosso e Pará – servidos por estradas que ligam aos mercados do

sul do país. Juntos, eles são responsáveis por 80% das árvores derrubadas na região.

E nem toda a pressão que os ecologistas têm feito nos últimos anos serviu para

impedir o avanço das motosserras e queimadas. Ao contrário: a destruição da

Amazônia cresceu 15% em 2000, quando uma área de 17.000 quilômetros quadrados

foi destruída – área equivalente a Israel.

Se o ritmo da devastação não diminuir rapidamente, em apenas 30

anos o estrago feito na floresta vai dobrar.

Uma das causas desse aumento na velocidade da devastação está no

uso de tecnologia de ponta para cortar as árvores. Motosserras potentes, imensos

tratores e caminhões arrasam com hectares de florestas em poucos dias. Mas a causa

principal, segundo os ecologistas, está na falta de uma política de desenvolvimento

sustentável da Amazônia por parte do governo.

É verdade que vários parques nacionais e reservas indígenas foram

criadas na última década, mas isso não evita a destruição nas áreas que foram

legalmente protegidas.

O Brasil continua a cometer o erro grosseiro de desmatar para

extrair madeira ou formar pastagens, eliminando a riqueza de uma das maiores

biodiversidades de bichos e plantas que o planeta já reuniu num só lugar.

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34 O desmatamento da floresta traz consigo uma série de efeitos

perversos: extinção das espécies de bichos e plantas, destruição de áreas indígenas,

empobrecimento do solo e aumento da emissão de gás carbono na atmosfera,

contribuindo para o efeito estufa.

É uma tragédia de muitas faces.

Para acabar com ela, a primeira coisa a fazer é reformular a idéia de

que a Amazônia é um manancial inesgotável e sem dono, criado na década de 70

para estimular o povoamento da região. .

Depois de décadas de projetos errados formulados por tecnocratas,

hoje os brasileiros precisam admitir que muita coisa errada foi feita. E,

principalmente, precisam evitar que os mesmos erros sejam cometidos de novo. O

que acontece hoje, porém, indica que a lição não foi totalmente aprendida.

Responsável por 73 % da biodiversidade do planeta, a Amazônia é

o alvo principal da biopirataria. Insetos, serpentes, plantas, macacos, é quase

impossível deter o contrabando de espécies da fauna e da flora da região. De um

lado, fiscais em desvantagem numérica e tecnológica; de outro pesquisadores

financiados, na maioria das vezes por instituições estrangeiras, com capacidade

tecnológica e com amplas possibilidades de fuga pela região, A Amazônia Brasileira

tem 5.109.812 quilômetros quadrados, o que vale a cerca de 60% do território

nacional e a 70% da chamada Panamazônica ou Amazônia Continental, que inclui

áreas de Brasil, Colômbia, Equador, Peru, Suriname, Venezuela e República

Cooperativa da Guiana – uma faixa de fronteira da ordem de 12 mil quilômetros,

quase um Continente.

DADOS DO IBAMA

Há 360 fiscais na Amazônia, sendo que 90 saídos de outras regiões.

No início do ano, o IBAMA anunciou investimentos de R$ 13 milhões em

equipamentos. No Pará são apenas 18 fiscais, mais quatro agentes federais. Além da

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35 dificuldade da infra-estrutura, a geografia dificulta a fiscalização. Nos primeiros

meses do ano, com o período chuvoso, os biopiratas têm mais facilidade de agir.

Folhas molhadas na floresta dificultam o rastreamento de pegadas. Em muitos casos,

é preciso contar com a sorte, como na detenção de seis alemães ano passado numa

floresta no município de Almeirim. Os fiscais do IBAMA faziam uma incursão pela

mata quando viram uma barraca com equipamentos de laboratório. Esperaram nove

horas e flagraram os alemães tirando da floresta cobras, insetos, macacos e

escorpiões. Eles não iriam levar os animais vivos, mas retirar material biológico. E

não encontram dificuldades para embarcar nos aeroportos. Se a pessoa entra nas

Guianas, não há nada a fazer.

O avanço dos métodos dos biopiratas chama a atenção do IBAMA.

Em 17 de fevereiro de 2005, os alemães Tino Hummel, de 33 anos, e Dirk Helmut

Reineck, de 44 anos, foram presos no aeroporto de Manaus ao tentar embarcar com

peixes amazônicos de venda proibida. Eles usaram um tipo de alumínio inexistente

no Brasil para revestir as caixas de isopor em que transportavam peixes. Isso

impediu que a máquina de raios-X do aeroporto detectasse o material. A prisão só

ocorreu porque a Polícia Federal desconfiou da quantidade de itens da bagagem dos

alemães e abriu as caixas encontrando 280 peixes de 18 espécies. Algumas não eram

catalogadas ainda.

Quadrilhas internacionais de biopirataria usavam a Internet para

vender na Europa e nos EUA produtos retirados ilegalmente da Amazônia, como

essências de plantas medicinais, animais, insetos e até amostras de sangue de

indígenas.

As primeiras denúncias de venda de DNA do sangue surgiram em

1996. Um ano depois, a Câmara dos Deputados criou uma comissão para investigar

casos de biopirataria. Na época constatou-se que era possível adquirir pela Internet

amostras de sangue de índios de todas as idades. Sete anos depois, o sangue continua

à venda no site. No Pará a principal rota dos biopiratas é o município de Santarém,

considerado um dos melhores lugares do mundo para a coleta de insetos. Vender

uma aranha rende até cinco dólares. É comum encontrar pessoas nas praias á noite

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36 caçando insetos. Há pouco tempo, o IBAMA e a Polícia Federal detiveram um

francês que tentava embarcar no último vôo da noite para Calena com ovos de

camaleões e iguanas.

O Governo Federal prepara um projeto de lei destinado a frear a

sanha dos biopiratas que agem quase que sem punição nas florestas brasileiras. Um

dos principais objetivos é tipificar o crime de biopirataria, hoje inexistente nas leis do

país. Por causa do vácuo legal a prática vem sendo punida apenas com base na lei de

crimes ambientais, cujas penas são demasiadamente brandas. Resultados: são raros

os casos de biopiratas presos, o que funciona como incentivo à atividade. A falta de

uma lei que defina a biopirataria como crime dificulta o trabalho das autoridades

incumbidas de combatê- la. A lei de crimes ambientais prevê penas de seis meses a

um ano e meio de prisão somente, o que quase sempre dá ao acusado o direito de

responder ao processo em liberdade. No caso de biopiratas estrangeiros, na maioria

das vezes eles apenas assinam um termo circunstanciado e ficam livres para

deixarem o país e para voltarem depois.

TRÁFICO ILEGAL DE ANIMAIS

HISTÓRICO DO TRÁFICO PELA RENCTAS

A Fauna silvestre sempre foi um importante elemento cultural das

diversas tribos indígenas brasileiras. As mais variadas espécies eram utilizadas para a

alimentação, que incluía quase todos os mamíferos, aves répteis, anfíbios e insetos,

como também seus ovos. Os animais, principalmente as aves, eram essenciais para a

ornamentação indígena, que usava penas coloridas de qualquer espécie para enfeitar,

flecha , cocares e etc.

Muitas aves, como as araras e a harpia, eram capturadas e mantidas

nas aldeias como fornecedoras de penas para ornamentação.

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37 Os índios também amansavam espécies da fauna silvestre, sem

nenhuma função útil, mas unicamente para diversão doméstica, alegria e curiosidade

para s olhos. Esses animais eram mantidos nas aldeias como xerimbabos, que

significa “coisa muito querida”, nome dado aos animais silvestres mantidos como de

estimação, pelos índios brasileiros (Carvalho, 1951; Cascudo, 1973; Spix e Martius,

1981).

Grande número de xerimbabos, das mais diferentes espécies, era

encontrado nas aldeias indígenas, como araras, papagaios, periquitos, mutuns, bem-

te-vi, diversos primatas, quatis, veados, jibóias e muitos outros. Os índios eram

bastante apegados a esses animais, mas não se empenhavam em reproduzi- los.

Domesticavam os espécimes e não as espécies. Os animais eram mantidos por

motivos afetivos e circulavam livremente nas aldeias. Por terem perfeito

conhecimento do modo de vida das espécies, os índios se preocupavam em manter a

alimentação correta de cada animal (Nogueira Neto, 1973; Sick,1977b).

Ressalte-se que a utilização da fauna silvestre pelos índios era

realizada com critérios, sem ameaçar a sobrevivência das espécies, como, por

exemplo não abatiam fêmeas grávidas ou animais em idade reprodutiva. No entanto,

esses índios mudaram após o contato com os colonizadores e exploradores europeus.

Começaram a explorar os recursos naturais mais seletivamente e intensamente, e em

muitos casos eram usados como agentes depredadores desses recursos.

Começa aí a história da exploração comercial da fauna silvestre

brasileira, que pela sua diversidade gerava idéia de ser abundante e inesgotável.

O comércio de animais silvestres, oriundos da região amazônica, já

era realizado pelos Incas, no Peru, mas só atingiu proporções maiores depois da

chegada da exploração européia (Redford, 1992). Esse comércio se desenvolveu

paralelamente com o crescimento do interesse das pessoas por esses animais.

No século XVI, época da abertura do mundo, para a exploração

européia era motivo de orgulho, para os viajantes retornarem com animais

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38 desconhecidos, comprovando assim o encontro de novos continentes (Sick, 1997

a). Em 27 de abril de 1500, pelo menos duas araras e alguns papagaios, frutos de

escambo com os índios foram enviados ao rei de Portugal, juntamente com muitas

outras amostras de animais, plantas e minerais. A impressão que tais aves tais aves

causaram foi tanta, que por cerca de três anos o Brasil ficou conhecido como terra

dos Papagaios (Bueno, 1998 a). Em 1511, a nau Bertoa levou para Portugal 22

periquitos tuins e 15 papagaios (Santos, 1990). Em 1530 o navegador português

Cristóvão Pires levou 70 aves de penas coloridas (Polido e Oliveira, 1997). Esses

foram os primeiros registros de envio da fauna silvestre brasileira para a Europa.

Esses animais, que chegavam à Europa por meio de poucos

viajantes e exploradores, despertavam a curiosidade e interesse do povo europeu, e

logo começaram a ser expostos e comercializados nas ruas (Hagenbeck, 1910).

Passaram a ser cobiçados para estimação e no século XVI já eram encontrados

primatas sul-americanos nas residências inglesas, como também era comum

encontrar indígenas e animais brasileiros em residências pela França (Kavanagh,

1983; Bueno, 1998 b). Possuir animais silvestres sempre foi símbolo de riqueza,

poder e nobreza, conferindo um certo status ao seu dono perante a sociedade

(Kleiman et al., 1996).

A partir do momento que o comércio de animais foi notado como

uma atividade bastante lucrativa, se tornou um novo ramo de negócios, com viajantes

especializados em obter animais para depois vendê- los (Hagenbeck, 1910). A

comercialização da fauna silvestre ocidental, para a Europa, se sistematizou no final

d século XIX, e a partir de então se iniciou o processo de extermínio de várias

espécies de animais brasileiros para atender ao mercado estrangeiro.

Os beija-flores eram exportados aos milhares para abastecerem a

indústria de moda, embalsamados para ornamentação das salas européias (Paiva,

1945; Fitzgerald, 1989; Redford, 1992; Sick, 1997 a). As penas de garças e guarás

eram utilizadas como adornos de chapéus femininos na Europa e na América do

Norte, e o abate desses animais foi tão excessivo que, em 1895 e 1896, Emílio

Goeldi (na época diretor do Museu Paraense de História e Etnografia), encaminhou

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39 duas representações ao governo do Estado do Pará, protestando contra a matança

desses animais na Ilha de Marajó (Rocha, 1995; Polido e Oliveira, 1997). No ano de

1932, cerca de 25.000 (vinte e cinco mil) beija-flores foram mortos no Pará e suas

penas destinadas à Itália, onde eram utilizadas para enfeitar caixas de bombons. Em

1964, chegou-se ao absurdo de importar um canhão francês para se atirar nos bandos

de marrecas na Amazônia, sendo registrada a morte de 60.000 (sessenta mil)

marrecas em apenas uma fazenda do Amapá (Sick, 1997 a).

Não apenas a exportação, mas também o comércio interno no

Brasil foi evoluindo, abastecido pelos avanços dos meios de transporte,

comunicação, técnicas de captura dos animais, crescimento populacional e a

urbanização, permitindo o acesso a áreas que antes não eram acessíveis para

exploração da fauna (Fitzgerald, 1989; Musit, 1999). Na década de 60, esse

comércio se encontrava estabelecido e era comum encontrar animais silvestres e seus

produtos sendo vendidos em feiras livres por todo o Brasil e no mercado da Praça

Mauá, na cidade do rio de Janeiro, que sempre foi um pólo comercial de fauna

silvestre (Santos, 1990; Sick, 1997 a; Campello, 2000). A proporção era tão grande

que alguns locais de destacavam pelas suas enormes “feiras de passarinhos”. Esse

comércio se encontrava estabelecido no Brasil e era muito grande, sobretudo o de

aves. Era rara uma cidade brasileira que não possuísse uma feira ou loja que

realizasse esse comércio.

Até então não havia um controle por parte do governo sobre a caça,

a captura e a utilização de animais silvestres. No Brasil, a caça e o comércio

predatório e indiscriminado da fauna silvestre são práticas antigas, que passaram a

ser ilegais no ano de 1967, pois até então não havia legislação que proibisse essas

atividades. No ano de 1967, junto com a criação do Instituto Brasileiro de

Desenvolvimento Florestal – IBDF, foi baixada a lei Federal n. 5.197, a Lei de

Proteção à Fauna, declarando que todos os animais da fauna silvestre nacional e seus

produtos eram de propriedade do Estado e não poderiam mais ser caçados,

capturados, comercializados ou mantidos sob a posse de particulares. No entanto,

não foram dadas alternativas econômicas às pessoas que até então viviam desse

comércio e que da noite para o dia caíram na marginalidade. Como conseqüência

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40 surgiu um comércio clandestino. Começa a partir daí a história do tráfico da fauna

silvestre brasileira.

Apesar da ilegalidade, ainda é muito fácil encontrar animais, suas

partes e produtos sendo comercializados. Atualmente, só no estado do Rio de

Janeiro existem cerca de 100 feiras livres, onde também são comercializados animais

ilegalmente. A feira de Duque de Caxias (RJ) é considerada uma das maiores feiras

de comércio ilegal, pois demonstra impunidade a essa atividade, além de facilitar a

posse, também ilegal, de animais por parte da sociedade. Não só as feiras, mas

também algumas lojas e alguns criadouros legalizados e clandestinos, muitas vezes

participam dessa atividade ilegal.

A história do tráfico de animais silvestres não é apenas de

desrespeito ä lei, mas também de devastação e crueldade. O comércio de animais

silvestres capturados na natureza sempre foi uma atividade deletéria para a fauna,

independentemente de ser legal ou ilegal. O processo de comercialização, técnicas

de captura, transporte e manejo, de uma maneira geral, são os mesmos desde o início

até hoje, com agravantes por atualmente ser uma atividade ilegal. Os animais sempre

foram tratados de uma maneira desrespeitosa, vistos apenas como simples

mercadorias, utilizados como fonte de renda.

Do momento em que o comércio de fauna silvestre se estabeleceu

na Europa, surgiram comerciantes e viajantes especializados em obter e revender

esses animais. Os comerciantes faziam encomendas aos viajantes, que muitas vezes

utilizavam intermediários no país de origem dos animais, para a obtenção destes. Os

animais ao chegarem na Europa eram revendidos para zoológicos, colecionadores

particulares, além de shows e exibições circenses (Hagenbeck, 1910). Atualmente

esquemas especializados do tráfico ainda funcionam assim. O grande traficante,

geralmente europeu ou norte-americano, possui uma rede de vendedores no país

receptor e emprega coletores e contrabandistas no país exportador, que encaminham

os animais até ele (LeDuc, 1996).

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41 O transporte se dava por navios e trens e os animais eram

transportados amontoados de maneira que não dava para alimentá- los. Ficavam

estressados e para acalmá-los e facilitar o transporte, muitas vezes eram oferecidas

aos animais bebidas alcoólicas, como rum com açúcar (Hagenbeck, 1910).

Atualmente, apesar de existirem técnicas de manejo e transporte adequadas à

espécies, no comércio ilegal, os animais continuam sendo transportados confinados

em pouco espaço, sem água e alimento, presos em caixas superlotadas, onde se

estressam, brigam, se mutilam e se matam. Além da ingestão de bebidas alcoólicas,

muitas vezes os animais são submetidos a práticas cruéis que visam a amortecer suas

reações e fazê- los parecer mais mansos ao comprador e chamar menos atenção da

fiscalização. É comum dopar animais com calmantes, furar ou cegar os olhos das

aves, amarrar asas, arrancar dentes e garras, quebrar o osso esterno das aves, entre

muitas outras técnicas cruéis (Jupiara e Anderson, 1991; Lopes, 1991)

Os comerciantes e compradores não possuíam experiência e

conhecimento necessário sobre a biologia dos animais e de como tratá- los, o que

também acarretava uma elevada morte dos animais. Ainda hoje, apesar de todo

estudo e conhecimento de manejo, muitos compradores ignoram as necessidades

mínimas dos animais, nossos irmãozinhos.

Os comerciantes e compradores não possuíam experiência e

conhecimento necessário sobre a biologia dos animais e de como tratá- los, o que

também acarretava uma elevada morte dos animais. Ainda hoje, apesar de todo

estudo e conhecimento de manejo, muitos compradores ignoram as necessidades

mínimas dos animais.

Apesar de todos os problemas, legislações e restrições, o comércio

ilegal de fauna silvestre, suas partes e produtos vem aumentando, possuindo variadas

e novas técnicas de contrabando, porque o lucro obtido é gigantesco. Os principais

motivos pelos quais essa atividade cresce no Brasil e no mundo, segundo dados da

RENCTAS e Lê Duc (1996), são:

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42 1) o tráfico de drogas está cada vez mais arriscado e difícil devido aos

recursos empregados para combatê- lo. O tráfico de fauna silvestre possui menor

risco e quase igual lucro para o traficante, além de menor investimento em seu

combate. Os traficantes de animais são freqüentemente conhecidos, pela polícia,

por seu envolvimento nas atividades de armas, drogas, pedras preciosas e álcool;

2) uma parte das polícias, alfândegas e autoridades judiciais, ainda,

freqüentemente consideram que o comércio ilegal de fauna silvestre não é um

crime sério. O recurso destinado para combater esse comércio é muito pequeno e,

quando os violadores são pegos, não são punidos severamente;

3) nos últimos 50 anos, o comércio internacional (em que se inclui a

fauna) cresceu 14 vezes. Esse crescimento acarretou aumento no volume de

cargas nas alfândegas, o que implica em menos possibilidades de fiscalizar toda a

mercadoria que é movimentada (Ortiz-von Halle, 2001).

TIPOS DE TRÁFICO

No Brasil, o tráfico da fauna silvestre possui características

peculiares quanto às espécies traficadas e ao destino que elas têm ao chegar nos

mercados internacionais. Basicamente, são três as modalidades do comércio ilegal

(Giovanini, dt.ind.):

1- Animais para colecionadores particulares e zoológicos: Este talvez seja o mais

cruel dos tipos de tráfico da vida selvagem, pois ele prioriza principalmente as

espécies mais ameaçadas. Quanto mais raro for o animal, maior é o seu valor de

mercado. Os principais colecionadores particulares da fauna silvestre brasileira

situam-se na Europa (Alemanha, Portugal, Holanda, Bélgica, Itália, suíça, França,

Reino Unido e Espanha), Ásia (Singapura, Hong Kong, Japão e Filipinas) e América

do norte (EUA e Canadá).

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43 2- Animais para fins científicos (Biopirataria): Neste grupo encontram-se as

espécies que fornecem substâncias químicas, que servem como base para a pesquisa

e produção de medicamentos. É um grupo que, devido à intensa incursão de

pesquisadores ilegais no território brasileiro, em busca de novas espécies, aumenta a

cada dia. É importante ressaltar que nem todo o tráfico de animais e seus produtos

são biopirataria, mas toda biopirataria é trafico. Esta modalidade movimenta altos

valores. O veneno de aranhas-armadeiras, Phoneutria sp., está sendo estudado para

dar origem a um eficiente analgésico, e poderá valer US$4,000 o grama quando se

tornar um medicamento (Coutinho, 2001). Animais mais procurados: jararaca;

cascavel sapos amazônicos; aranha marrom, besouros e outros.

3- Animais para pet shop: É a modalidade que mais incentiva o tráfico de animais

silvestres no Brasil. Devido a grande procura, quase todas as espécies da fauna

brasileira estão incluídas nessa categoria. Os preços praticados dependem da espécie

e da quantidade encomendada.

4- produtos de Fauna: Os produtos de fauna silvestre são muito utilizados para

fabricar adornos e artesanatos. As espécies envolvidas variam ao longo dos tempos,

de acordo com os costumes e os mercados da moda. Normalmente, se

comercializam couros, peles, penas, garras, presas, além de diversos outros. Todos

esses produtos entram no mercado de moda e souvenir para turistas. No Brasil,

podemos destacar os psitacídeos como fornecedores de penas, os répteis e mamíferos

, como jibóia, lagarto teiú, jacarés, lontra; ariranha; onça pintada jaguatirica, como

principais fornecedores de peles.

ROTAS E MECANISMOS DE TRÁFICO

Os países em desenvolvimento são os principais fornecedores de

vida Sivestre, com parte de suas populações sobrevivendo dessa atividade (Hemley e

Fuller, 1994). Entre os principais países exportadores se encontram o Brasil, Peru,

Argentina, Guiana, Venezuela, Paraguai, Bolívia, Colômbia, África do Sul, Zaire,

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44 Tanzânia, Kenya, Senegal, Camarões, Madagascar, Índia, Vietnã, Malásia,

Indonésia, China e Rússia (Rocha, 1995).

Portugal, México, Arábia Saudita, Tailândia, Espanha, Grécia,

Itália, França e Bélgica são citados como principais países de trânsito comercial de

vida silvestre, onde geralmente é feita a legalização de vida silvestre contrabandeada

(Rocha, op.cit; RENCTAS, 1999).

Os principais países consumidores são: os EUA (maior consumidor

de vida silvestre do mundo), Alemanha, Holanda, Bélgica, França, Inglaterra, Suíça,

Grécia, Bulgária, Arábia Saudita e Japão (Hardie, 1987; Rocha, 1995; Lê Duc,

1996).

No Brasil, a maioria dos animais silvestres comercializados

ilegalmente é proveniente das regiões Norte, Nordeste e Centro – Oeste, sendo

escoada para as regiões Sul e Sudeste, pelas rodovias federais (Jupiara e Anderson,

1991; RENCTAS,1999). Nos estados nordestinos é comum a presença de pessoas,

nas margens das rodovias, comercializando esses animais. Os principais pontos de

destino desses animais são os estados do Rio de Janeiro e São Paulo, onde são

vendidos em feiras livres ou exportados por meio dos principais portos e aeroportos

dessas regiões. O destino internacional desses animais é a Europa, Ásia e América

do norte (RENCTAS, 1999).

Existem diversas redes montadas, que são realizadas nas rodovias d

aís, capazes de percorrer até cinco mil quilômetros de distância. Os mapas em anexo

demonstram as principais rodovias e cidades envolvidas no tráfico de animais

silvestres no Brasil. Algumas cidades brasileiras ganharam fama como fornecedoras

de fauna silvestre para o comércio ilegal, entre elas destacam-se: Milagres; Feira de

Santana, Vitória da Conquista, Curaçá, Cipó (todas no estado da Bahia), Belém (PA),

Cuiabá (MT), Recife (PE), Almenara (MG) e Santarém (PA), entre muitas outras.

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45 DADOS DO IBGE QUE DEMONSTRAM AS CONSEQÜÊNCIAS

DO TRÁFICO DE ANIMAIS SILVESTRES

O Brasil é considerado, atualmente, o País com maior

biodiversidade do planeta. E uma das expressões desta grande biodiversidade é a sua

fauna. Rica e exuberante, é constituída de mais de 100 mil espécies dentre

mamíferos, aves, anfíbios, peixes, répteis, insetos e outros invertebrados, os quais são

encontrados em florestas, manguezais, cerrados, campos, rios, lagoas, etc.

Mas se o presente revela riqueza e exuberância , o futuro da fauna

brasileira é incerto. Estima-se que, em poucas décadas, diversas espécies poderão

desaparecer por completo, sobretudo endêmicas, isto é, aquelas que só existem em

determinados ambientes aos quais estão bem adaptadas.

No Brasil, as causas da extinção são inúmeras, com destaque para o

desmatamento das florestas, exploração de madeiras, abertura de estradas, poluição

do ar e das águas, caça esportiva e predatória, comércio ilegal de animais, dentre

outras. Ações dessa natureza contribuem direta ou indiretamente para a destruição

dos hábitats naturais das espécies, colocando em risco a sua sobrevivência.

A publicação “Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção” apresenta

42 espécies que fazem parte da Lista Oficial de Espécies da Fauna Brasileira

Ameaçada de Extinção divulgada pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos

Recursos Naturais Renováveis – Ibama.

1) ARAPONGA-DO-NORDESTE – Procnias averano averano

A araponga-do-nordeste pode ser considerada como uma das espécies mais raras e

ameaçadas das matas litorâneas da região brasileira que lhe confere o nome

venacular. Devido ao exotismo da plumagem e comportamento, bem como pela

facilidade com que se adapta ao cativeiro, a araponga-do-nordeste é muito visada

pelo tráfico de animais silvestres. Nesse sentido, as aves são capturadas nas matas

remanescentes acima dos 600 m de altitude da Zona da Mata, assim como, em matas

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46 mais interioranas, na faixa de transição para o semi-árido. A célere expansão da

lavoura canavieira, que se processa em direção aos últimos e exíguos tratos

florestais, bem como, a captura de exemplares, é particular fonte de preocupação,

devendo levar á total extinção da araponga - do – nordeste dentro de poucas

décadas;

2) ARARA – AZUL – DE – LEAR - Anodorhynchus leari

É no Raso da Catarian, distante lugarejo do sertão baiano onde cerca de 50 araras-de-

lear ainda encontram ambiente favorável para repouso e reprodução no interior de

fendas dos paredões de um canyon. Tipicamente brasileira, esta arara executa

extensos vôos diários para alimentar-se dos cocos de licurizeiros, retornando ao

local de repouso ao final do dia. Esta espécie vem sofrendo forte pressão de

caçadores que acorrem ao local de reprodução da espécie em busca de adultos e

filhotes, os quais são também extremamente cotados no mercado internacional de

contrabando de aves;

3) ARARA-AZUL-GRANDE – Anodorhynchus hyacinthinus

A arara-azul-grande é o maior representante das quatro espécies de araras azuis

tipicamente sul-americanas, podendo atingir um metro no seu maior comprimento.

Esta notável espécie encontra no Pantanal Matogrossense seu ambiente de referência,

onde de fato se destaca dentre as demais espécies de aves devido ao seu chamativo

colorido e hábitos peculiares. Tais características também a tornaram alvo de

seculares investidas de caçadores que preferencialmente as exportam para países

diversos, onde cada indivíduo pode facilmente ser negociado por algumas dezenas de

milhares de dólares. No seu destino final, as araras-azuis-grande sobreviventes

passam a integrar plantéis de zoológicos, parques de diversão ou ainda coleções de

aves de particulares;

4) ARARAJUBA – Guaruba guarouba

A plumagem amarelo-ouro do corpo e cauda, em conjugação com o verde intenso

das asas desta extraordinária espécie, justificaram a eleição da guaruba como ave

símbolo do Brasil. De fato, tais atributos são exclusivos desta ararinha, ao que se

soma o fato de ser encontrada somente em matas densas e altas de regiões diversas

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47 da Amazônia brasileira. A guaruba alimenta-se de frutos silvestres, mas

preferencialmente baseia sua dieta alimentar nos frutos da Jussara, palmito

amazônico de que faz amplo uso. Muito comum em cativeiro, sua inquieta

docilidade, aliada à coloração ímpar e vistosa da plumagem, a tornam presa fácil da

atenção do grande público. Tais atributos são também fatores de motivação que vêm

justificando a crescente pressão movida pelo tráfico de animais silvestres que,

conjugado ao desmatamento de extensas proporções de mata amazônica e

sobreutilização dos estoques naturais de jussara, tem levado diversas populações da

espécie ao declínio numérico;

5) ARARINHA-AZUL – Cyanopsita spixii

Singular entre as araras devido ao porte reduzido (cerca de 55 cm de comprimento) e

coloração azul clara, a ararinha-azul representa um ícone dos esforços

conservacionistas no Brasil, pois muito foi engendrado no sentido de salvaguardar

da extinção o único exemplar ainda existente na natureza até recentemente.

Entretanto, infelizmente, acredita-se que, atualmente, a espécie, da nossa mais pura

riqueza, tenha sido definitivamente ELIMINADA de seu ambiente natural,

restando algumas poucas dezenas de indivíduos em coleções particulares e

zoológicos públicos espalhados pela América do Norte, Europa e Brasil. Tal

fato deveu-se aos mesmos motivos que ainda são responsáveis pela ameaça de

extinção de espécies diversas da fauna brasileira, ou seja, a destruição do seu

hábitat e perseguição contínua às populações com vistas ao fomento do tráfico

internacional de animais silvestres;

6) ARIRANHA – Pteronura brasiliensis

Mamíferos terrestres e aquáticos de médio porte. No passado eram muitos comuns

nos lagos e rios brasileiros. Ocorrem em todo o Brasil. Possuem bela pelagem de

cor escura (quando molhada) muito cobiçada por caçadores, o que tornou as

populações desta espécie muito vulneráveis e ameaçadas de extinção;

7) BALEIA-FRANCA – Eubalena australis

A baleia-franca é um dos maiores cetáceos que existe nos mares do mundo,

chegando a medir de 12 a 18 m de comprimento a atingir 90 toneladas de peso. Sua

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48 área de ocorrência está registrada no limite norte, especificamente no Arquipélago

de Abrolhos, no estado da Bahia. Aparecem com maior freqüência no litoral de

Santa Catarina. Em geral, andam em grupos de até 03 indivíduos. Costumam se

deslocar lentamente pela região costeira, onde são avistadas, razão pela qual estes

animais foram facilmente caçados;

8) BARBADO – Alouatta fusca

Esta espécie de macaco ocorre nos Estados da Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais,

Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A

destruição dos hábitats naturais da espécie, a fragmentação florestal e a caça a esses

animais são as principais causas do seu desaparecimento;

9) CACHORRO-DO-MATO-VINAGRE – Speothus vinaticus

Esta é uma espécie de canídeo, de pequeno porte, cujos indivíduos pesam cerca de

7kg e vivem em grupos reduzidos de 5 a 7, solitariamente ou em casais. Nos dias

atuais o cachorro-do-mato-vinagre é um animal extremamente raro. Figuram na lista

dos animais ameaçados de extinção em função dos desmatamentos que estão

provocando a eliminação de suas presas naturais;

10) CARIACU- Odocoileus virginianus

São cervídeos. No Brasil ocorre no norte da região Amazônica. Possuem grande

porte. A principal causa de sua extinção deve-se, não somente à destruição do

hábitat, como também à sua perseguição como alvo da caça esportiva;

11) CERVO DO PANTANAL – Blastocerus dichotomus

Trata-se do maior cervídeo que existe na América do Sul. Ocorre da Região Centro-

Oeste até o Sul do Brasil. A principal causa de seu desaparecimento foi a caça

intensiva em busca de seus chifres (galhadas), utilizadas como “troféu de caça”. A

destruição dos hábitats naturais também contribuiu, e muito, para a diminuição das

populações da espécie.

12) FLAMINGO – Phoenicopterus ruber

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49 O flamingo arrola-se entre as aves de maior beleza de nossa avifauna. Duas

maiores populações morfologicamente algo distintas são observadas em território

nacional. A forma meridional aparece no Rio Grande do Sul, enquanto que a

população setentrional ocorre no litoral dos Estados do Amapá e Pará. As fontes de

potencial ameaça às populações são expansão da lavoura de arroz nas áreas

paludosas, pela implantação de salinas junto ao litoral e pela coleta de ovos e caça

movida contra indivíduos adultos.

13) GAVIÃO-PRETO – Spizastur melanoleucus

Popularmente conhecido como gavião-preto ou gavião-pato ou apacaim-branco. Este

gavião vem sendo ameaçado de extinção em diversas áreas do Brasil setentrional e

este-meridional devido à eliminação das matas e áreas semi-abertas naturais.

Também, a caça movida contra a espécie pode ser considerada como sendo fator de

peso na eliminação de um grande número de indivíduos, o que motiva integrá- la ao

rol das espécies ameaçadas de extinção da fauna silvestre brasileira.

14) GAVIÃO-REAL – Harpia harpyja

O gavião-real ou uiraçu é por excelência uma das aves de rapina mais fortes do

mundo. Este gavião reinava soberana por quase toda a extensão do território

nacional, sobretudo em regiões onde vicejavam matas altas e mais extensas, desde os

Estados do Sul até a Região Amazônica. A principal área de ocorrência do gavião-

real limita-se hoje às áreas mais inacessíveis da floresta amazônica. Mãe de todos os

pássaros e um dos espíritos da floresta, conforme reza a tradição indígena, ao gavião-

real são reservados as mazelas do desmatamento e da caça movida contra os últimos

exemplares habitantes de um reino em extinção.

15) GUARÁ – Eudocimus ruber

O guará é a mais bela dentre todas as aves. Alguns grupos ocasionalmente sobem

pelos tributários do Rio Amazonas, atingindo localidades tão distantes como

Oriximiná, no Pará. A área de ocorrência original da espécie era ampla, abrangendo

praticamente todo o litoral, desde o Amapá até o Estado de Santa Catarina. Registros

desta notável espécie foram ainda feitos para a Baía da Guanabara na década de 50 e,

recentemente, no litoral de São Paulo, em Cubatão. Entretanto, a maior parte da

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50 população sul-americana do Guará concentra-se no litoral extremo norte da região

amazônica, onde ainda se reproduz. A destruição de seu hábitat em decorrência da

ocupação do litoral e devastação das áreas de mangues assinala no futuro pouco

promissor para a espécie no Território Nacional.

16) GUIGÓ - Callicebus personatus

Estes macacos são endêmicos da região da Mata Atlântica , isto é, são restritos a ela.

São monogâmicos. Ocorrem nos Estados da Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro,

Minas Gerais, São Paulo e Paraná, ocupando diferentes tipos de ambientes, desde

florestas pluviais, matas ciliares e caatingas arbóreas.

Esta espécie encontra-se ameaçada de extinção em função da destruição do seu

hábitat como também pela caça.

17) JACARÉ-AÇU – Melanosuchus niger

É o maior dos jacarés, podendo atingir 5 m de comprimento. É o único que oferece

algum perigo para o homem. Ocorre apenas na bacia Amazônica, onde cada vez é

mais raro, pois tem sido muito caçado para aproveitamento de seu couro.

18) JACARÉ-DE PAPO-AMARELO – Caiman latirostris

O jacaré-de-papo-amarelo é uma espécie que prefere as águas calmas de lagos,

banhados e brejos, podendo, entretanto, ser encontrado em águas dos rios, nas

desembocaduras e até mesmo em manguezais na zona litorânea. Normalmente são

vistos em grupos, descansando ao sol, á beira d’água. Entre as principais ameaças

que a espécie sofre, estão à caça esportiva e a caça predatória visando à exploração

de suas carne, à degradação ambiental e à poluição das águas.

19) JAÓ – Crypturellus noctivagus

Notável tinamídeo da ensolarada caatinga e matas do leste do Brasil, o jaó,

tradicionalmente conhecido como zabelê, apresenta uma plumagem parda e discreta,

a qual é algo mais pálida quando comparada às populações da região Amazônica,

que vivem em ambientes mais sombrios. Sua distribuição espacial é ampla e inclui

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51 os estados do Piauí, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, ao norte, e

do Rio de Janeiro ao rio Grande do Sul.

Muito comum na Região Sudeste até recentemente, o Zabeê vem desaparecendo em

extensas porções de suas área de ocorrência original, fato motivado principalmente

pela supressão das matas para fins diversos. A extinção da espécie em seu ambiente

natural é também fruto da caça seletiva que é movida contra os indivíduos que

habitam as reduzidas e fragmentadas manchas de matas do leste do Brasil.

20) JACUTINGA – Pipile jacutinga

Espécie de notável e singular beleza, a jacutinga tornou-se, ao extremo, raras nas

matas do litoral leste do Brasil, onde podia ser encontrada em grande número, desde

o sul da Bahia até o rio Grande do Sul. Atualmente, as matas, em melhor estado de

conservação, abrigam populações pequenas e rarefeitas, as quais, ainda assim,

encontram-se pressionadas pelas atividades antrópicas diversas como desmatamento,

caça e captura para coleções particulares.

21) JAGUATIRICA – Leopardus pardalis

As jaguatiricas são felinos de médio porte que vivem em florestas tropicais e,

geralmente, têm hábitos noturnos. Vivem, em geral, de forma solitária ou em casais,

refugiando-se durante o dia em ocos de árvores, grutas ou sobre troncos.

Distribuem-se por todo o Território Nacional. A destruição do hábitat e a caça

indiscriminada são os elementos causadores da sua condição de ameaçados de

extinção.

22) JUBARTE – Megaptera novaeangliae

Também chamada de baleia-corcunda, a jubarte é um cetáceo de grandes proporções:

machos e fêmeas têm em média de 13 a 14 m de comprimento. Chegam a pesar mais

de 40 toneladas. São, como a maioria das demais baleias, animais migratórios. Em

geral, são facilmente vistas isoladamente ou em pequenos de 3 a 4 indivíduos.

Costumam saltar acima da superfície da água e fazer movimentos acrobáticos.

Ocorrem em todos os oceanos, onde alimentam-se basicamente de peixes e

crustáceos migrando para áreas mais quentes, deslocando-se próximo ao litoral, no

período do frio, com finalidade reprodutiva. No Brasil, onde se avistam jubartes com

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52 certa freqüência, em todo o litoral nordestino, destaca-se o Arquipélago de

Abrolhos, no sul do Estado da Bahia. Espécie considerada vulnerável tendo em vista

sua captura, colisão com embarcações e poluição dos oceanos

23) LOBO-GUARÁ - Chrysocyon brachyurus

É considerado o maior canídeo da América do Sul. Ocorrem nas Regiões Centro-

Oeste, Sul, parte da caatinga do Nordeste e Sudeste, estendendo-se nesta região, até a

Zona da Mata. Habitam lugares de vegetação natural como o cerrado,

principalmente, e campos próximos a baixadas e matas arbustivas.

Apesar de a destruição dos seus hábitats e da espécie estar com suas populações em

franco declínio, há lugares onde as populações de lobo-guará ainda são consideradas

razoáveis, como por exemplo a região do Pantanal Matogrossense e do Chaco

Paraguaio.

24) LONTRA – lontra longicaudis

A lontra é um animal carnívero, pertencente à família dos Mustelídeos. Vivem nas

proximidades de rios e lagos onde alimentam-se de peixes, moluscos, anfíbios, aves e

etc. suas atividades são preferencialmente noturnas e andam aos pares ou solitários.

Assim como as ariranhas, também escavam tocas em barrancos de rios para refúgio e

reprodução. A principal causa do processo de extinção é a caça predatória que visa

ao comércio de peles.

25) MACACO-ARANHA – Ateles paniscus

Os macacos-aranha-preto são primatas frugívoros de médio porte. Ocorrem nos

Estados do Acre, Amazonas, Pará, Amapá, Roraima, Rondônia e Mato Grosso. As

populações destes macacos vêm decrescendo ultimamente em virtude da caça a que

estão sujeitos e também das perturbações em seu hábitat natural.

26) MACACO-BARRIGUDO – Lagotrix lagotricha

Essa espécie se destaca por possuir ventre bem proeminente, daí a sua denominação

popular ‘macaco-barrigudo’. Ocorrem nos Estados do Amazonas, Acre, Roraima,

Rondônia, Pará e Mato Grosso.O macaco-barrigudo tem sido alvo preferido de

caçadores engajados na comercialização de animais de estimação. Além disso, há

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53 registros de que também são caçados para a alimentação humana. A caça, aliada

aos processos de alteração e desaparecimento do hábitat, são os principais fatores que

vêm ameaçando a extinção da espécie.

27) MACUCO – Tinamus solitarius

Outrora habitante comum da Mata Atlântica, ocorrendo desde o Nordeste até os

estados da Região Sul, as populações do macuco sofreram declínio acentuado em

tempos recentes, o que se deve à rápida e incessante eliminação de seu ambiente

natural. Ademais, o macuco sempre foi cobiçado pelos caçadores tradicionais em

função dos atributos especiais de sua carne, que é alva, tenra e de delicado sabor.

Desse modo, as escassas populações remanescentes desta ave de aparência galinácea

parecem estar fadadas ao desaparecimento ao longo de sua maior área de ocorrência.

É de se esperar, nesse sentido, que as mesmas venham a lograr algum êxito na luta

pela sobrevivência, apenas, no interior de unidades de conservação, efetivamente,

protegidas ou em matas de maior extensão e melhor qualidade observáveis ao longo

da porção leste do Brasil.

28) MICO-LEÃO-DA-CARA-DOURADA – Leontopithecus chrysomela

Habitante da Mata Atlântica da porção sul do Estado da Bahia e extremo nordeste de

Minas Gerais, esta é, entre as espécies de mico-leões, a de ocorrência mais ao Norte.

As outras distribuem-se mais pelo Sudeste/Sul do Brasil.

Os processos de fragmentação florestal como conseqüência dos desmatamentos têm

contribuído para o isolamento das populações desses pequenos primatas, colocando a

espécie em perigo de extinção.

29) MURIQUI – Brachyteles aracnoides

Considerado o maior macaco do continente americano, esta espécie é típica de

formações florestais densas como a Mata Atlântica, onde restritamente ocorre, mais

precisamente na porção costeira do leste e sudeste do Brasil, incluindo os Estados da

Bahia, Espírito Santo, Rio de janeiro e São Paulo.

Esta espécie está bastante ameaçada de extinção, entretanto, por sorte, algumas

populações encontram-se restritas a lugares de altitude considerável, de difícil

acesso, em porções florestais das da Serra do Mar e da Mantiqueira. A caça seletiva,

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54 a destruição e a fragmentação do hábitat são os principais motivos que ameaçam a

sua extinção.

30) ONÇA-PINTADA – Panthera onca

É o maior dos felinos do continente americano, de ocorrência em todo o Território

Nacional. São animais de porte majestoso, elegante, de corpo robusto e musculoso,

com pernas e patas forte onde se inserem garras poderosas e afiadíssimas. Velozes e

ágeis, têm a capacidades de dar grandes saltos. São muito procurados por sua pele,

razão pela qual, além de vítimas do desmatamento que destroem seu hábitat natural,

estão ameaçados de extinção. Cada vez mais a onça pintada é encontrada com baixa

freqüência nos ecossistemas brasileiros. Estes felinos, por ocuparem o topo da cadeia

alimentar, sãos considerados bioindicadores, isto é, o registro de sua ocorrência

garante um ecossistema preservado.

31) PAPAGAIO-DA-CARA-ROXA – Amazona brasiliensis

A porção florestada do leste dos Estados de são Paulo e Paraná representam

atualmente em dos poucos espaços naturais onde o papagaio-de-cara-roxa pode ser

observado. De fato, as atividades antrópicas que se sucederam ao longo de décadas e

que terminaram por suprimir grandes áreas de matas nas regiões Sul e Sudeste foram

responsáveis pelo declínio numérico desta e de outras espécies de papagaios, tão

comuns naquelas paragens em passado não muito remoto. A prática de coletar

filhotes e adultos e mesmo ovos, com o intuito de alimentar o mercado interno e

externo de animais de estimação, pode ser arrolada como um dos principais fatores

de pressão sobre esta ave cuja docilidade e beleza da plumagem tornam-se fatores de

grande estima entre colecionadores particulares.

Assim como diversas outras espécies ameaçadas de extinção das matas do Sudeste

do Brasil, o papagaio-de-cara-roxa deverá manter suas populações com algum

sucesso somente no interior de áreas protegidas.

32) PÁSSARO-PRETO-DE-VESTE-AMARELA – Xanthopsar flavus

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55 Habitante preferencial dos brejais, existentes nas áreas campestres do Rio Grande

do Sul, este pássaro-preto é também observado nos locais destinados às plantações

irrigadas de arroz, onde se alimenta e por vezes se reproduz.

As populações deste pássaro são quase sempre rarefeitas, na maior parte da sua área

de ocorrência, fato que inspira cuidados especiais quando áreas campestres naturais

são substituídas por lavouras comerciais e plantações de grãos, nas quais grandes

quantidades de defensivos agrícolas são lançadas indiscriminadamente no meio

ambiente, comprometendo a existência desta e de diversas espécies de aves.

33) PEIXE-BOI – Tichechus inunguis

Trata-se do único mamífero herbívoro totalmente aquático que, nos dias atuais, se

encontram em rios e lagos apenas na bacia Amazônica. O hábitat natural desses

animais são as comunidades vegetais aquáticas, preferencialmente em remansos de

águas barrentas, com vegetação flutuante e gramíneas que crescem nas margens de

lagos, igarapés, enseadas de rios, onde se alimentam e se refugiam. São solitários,

dóceis e inofensivos, de hábitos diurnos e noturnos.

A espécie encontra-se ameaçada de extinção por ter sido extremamente explorada em

décadas atrás, visando à extração de gordura. Sabe-se que há registros científicos de

que sua distribuição geográfica incluía, no passado, além da bacia Amazônica, toda a

região costeira do Brasil oriental, atingindo os rios do Estado do Espírito Santo.

34) PINTOR-VERDADEIRO – Tangara fastuosa

Essa espécie está presente nas matas densas de regiões serranas até áreas litorâneas,

onde a vegetação nativa encontra-se extremamente alterada.

O desmatamento é fonte primária da redução numérica de diversas populações do

pintor-verdadeiro nos estados do extremo Nordeste do Brasil onde se faz presente,

mas a captura de exemplares para coleções particulares contribui em grande parte

para a eliminação da espécie na natureza.

35) SAUIM-DE-COLEIRA – Saguinus bicolor

O sagüi de duas cores é endêmico da Amazônia brasileira. A subespécie típica

(Sanguinus bicolor bicolor) encontra-se, nos dias atuais, restrita a algumas porções

de mata, nas vizinhanças da cidade de Manaus (Amazonas) e em pequenas partes do

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56 Estado do Pará, razão pela qual é considerada uma das mais ameaçadas de todas

as espécies de sagüis amazônicos. Em estudos recentes, realizados na região de

Manaus, foi possível observar que esses primatas constituem grupos de 6 a 10

indivíduos. Possuem hábitos diurnos e são arborícolas, onde exploram sua dieta

alimentar.

36) SURUCUCU-PICO-DE-JACA – Lachesis muta rhombeata

Habita matas costeiras, de Alagoas até o Rio de Janeiro, e região do rio Doce em

Minas Gerais. Encontra-se ameaçada de extinção devido à destruição de seu habitat,

perseguição, e por possuir área de distribuição restrita.

37) SUSSUARANA – Puma concolor

Felino de grande porte, a sussuarana ou onça-parda distribui-se por quase todo o

continente americano. No Brasil, ocorre em todo o Território Nacional. Habitam os

diversos ecossistemas, desde as matas de terra firme da Amazônia até os campos e

capoeiras do Rio Grande do Sul.

A caça, bem como, a destruição e fragmentação do seu hábitat sã as principais causas

do seu desaparecimento.

38) TAMANDUÁ–BANDEIRA – Mymercophaga tridactyla

São animais bastante representativos da fauna brasileira, típicos de áreas abertas,

como campos, campos cerrados e formações florestais não densas.

Ocorrem em todo o Território Nacional. Pertencem ao grupo de mamíferos que não

possuem dentes, são inofensivos e possuem movimentos lerdos, o que facilita sua

captura. Embora não possuam pele de valor econômico nem carne que possa ser

apreciada para a nutrição humana, estão ameaçados de extinção. Isso decorre do

desaparecimento de seu habitat além de serem contrabandeados, estupidamente, pelo

comércio de animais vivos para o mercado internacional.

39) TARTARUGA-VERDE – Chelonia mydas

Trata-se de uma das espécies de tartaruga marinha mais típicas encontradas no litoral

brasileiro.

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57 É conhecida como tartaruga-verde devido à cor de sua gordura localizada abaixo

de sua carapaça. É a maior das tartarugas marinhas de carapaça dura. Seu tamanho

varia de 71 cm a 150 cm e pesa de 40 kg a 160 kg, podendo pesar até 350 kg. É

amplamente distribuída nas águas tropicais e subtropicais, perto das costas

continentais e em torno de ilhas. É herbívora, alimentando-se de pastagens marinhas

que crescem em águas superficiais. Migra para se alimentar e se reproduzir.

Colocam entre duas a cinco ninhadas por gestação; a quantidade de ovos por ninho

varia de 38 a 195. É a espécie mais conhecida, em estado juvenil, no Brasil. Foi

terrivelmente e largamente utilizada para a fabricação de sopa de tartaruga.

Desovam nas praias do Nordeste e das ilhas oceânicas do Brasil, no período de

janeiro a março. Quando adultas, alimentam- se principalmente de algas. O

principal fator que vem colocando esta espécie em risco de extinção diz respeito aos

locais os quais as fêmeas vêm para desovar, quando é comum o seu abate e a

predação de ovos nos ninhos. Entretanto, os resultados do Projeto TAMAR, do

IBAMA, em muito vêm contribuindo para o restabelecimento das populações destas

fantásticas tartarugas.

40) UACARI-BRANCO – Cacajao calvus

Esses macacos, conhecidos vulgarmente como uacaris, são reconhecidos,

principalmente, pela ausência de pêlos na cara, que encontra-se revestida por pele de

tom rosado quase avermelhado. Habitam somente as formações vegetais do extremo

Oeste da Amazônia brasileira, tanto em florestas de terra firme como em florestas

inundadas. Utilizam-se de grandes áreas para sobrevivência, que podem somar mais

de 500 hectares. Por se tratar de animais raros e cobiçados são muito procurados por

caçadores, o que vêm contribuindo para o seu desaparecimento. Fora isso, a

destruição do habitat e os desmatamentos também concorrem para o caminho da

extinção dessa espécie.

41) UACARI-PRETO – Cacajao melanocephalus

A exemplo da outra espécie de uacari, antes referida, esta também possui cara

desprovida de pêlos, revestida por pele de coloração escura, negra. Vivem em

grandes grupos ocupando formações florestais periodicamente inundadas e as de

terra firme, no extremo Noroeste do Brasil (Amazonas e Roraima), que é a sua área

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58 de distribuição conhecida. São, igualmente, especializados no consumo de

sementes. Devido à forte pressão que a caça predatória exerce em sua área de

ocorrência, os uacaris-pretos encontram-se vulneráveis ao processo de extinção.

42) VEADO-CAMPEIRO – Ozotocerus bezoarticus

Esta espécie ocorre em todo o Território nacional. Habitam, basicamente, as áreas de

formações vegetais abertas, como capões de cerrado e campos, onde há domínio de

espécies graminóides. Apresentam estrutura social na bem definida, sendo possível

observar indivíduos solitários ou grupos com 10 a 15 animais. São, ainda, animais

de hábitos, predominantemente, noturnos e presas fáceis de grandes felinos.

A caça indiscriminada e as modificações no hábitat são fatores que justificam o

desaparecimento ou a diminuição das populações desses animais.

SOLUÇÕES

Projetos de amor e preservação da Fauna Brasileira que estão dando

certo e merecem total apoio.

PROJETO PEIXE-BOI

Projeto patrocinado pela PETROBRAS reintroduz na

natureza três peixes – bois marinhos, espécie no topo da lista dos animais

ameaçados.

Em um dos documentos mais gratificantes do Projeto Peixe-Boi,

patrocinado pela Petrobrás, foram reintroduzidos na natureza três exemplares desse

mamífero herbívoro, encontrado somente no Brasil, e um dos principais animais

ameaçados de desaparecer do planeta.

Estima-se que restam apenas 500 peixes-bois marinhos (Trichechus

manatus), vivendo ao longo da costa brasileira, entre Alagoas e o Amapá. Daí a

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59 importância desse projeto de preservação, executado pelo Centro Mamíferos

Aquáticos/Ibama (CMA) em co-gestão com a Fundação Mamíferos Aquáticos.

Os três peixes-bois soltos na Praia de Patacho, no município de

Porto de Pedras, litoral norte de Alagoas, litoral norte de Alagoas, receberam nomes

carinhosos da equipe que cuida par que a espécie não seja extinta: Tico, Tuca e Assu,

cada um com a sua história. Tico, hoje com 3 anos e oito meses, foi encontrado bem

jovem encalhado na Prainha do Canto Verde, no Ceará, em março de 2001. Tuca, de

três anos, foi resgatada depois de encalhar na Praia do Pipa, no Rio Grande do Norte,

em novembro de 2001. E Assu, o mais velho de todos, com quase cinco anos, estava

encalhado e Retiro Grande, no Ceará, quando foi localizado, em 2000. Levado para

Recife, sede do projeto, ele foi solto em 2003. Ficou apenas quatro meses em

liberdade e teve que ser recapturada, após se afastar demasiadamente da costa.

Quando foi resgatado, a 25 quilômetros do litoral (em geral, os peixes-bois se

distanciam apenas 1 quilômetro) havia perdido quase 70 quilos.

O Projeto Peixe-Boi foi criado em 1980 pelo Governo Federal,

numa tentativa de fazer uma avaliação da situação em que se encontra o peixe-boi

marinho no Brasil. Em 1990, o Projeto recebeu o status de Centro Nacional de

Conservação e Manejo de Sirênios, uma unidade descentralizada do IBAMA –

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Desde

então, conta com o apoio técnico-administrativo da Fundação Mamíferos Marinhos,

uma organização não governamental sem fins lucrativos que capta recursos para

investimentos no Projeto Peixe-Boi. Em 1998, o Centro foi promovido a Centro

Nacional de Pesquisa, Conservação e Manejo de Mamíferos Aquáticos, sempre

atuando em parceria com a Fundação Mamíferos Marinhos na execução do Projeto

Peixe-Boi. Há sete anos, a Petrobrás é a patrocinadora oficial do Projeto. O

programa de reintrodução dos peixes-bois marinhos no Brasil segue as diretrizes

estabelecidas pelo Grupo de Especialistas em Reintroduções da Comissão de

Espécies Sobreviventes da IUCN (sigla em inglês para União Internacional para

Conservação da Natureza).

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60 Desde 1994, o Programa Peixe-Boi já reintroduziu na natureza

com sucesso 13 exemplares da espécie. Os primeiros foram Astro e Lua, soltos em

dezembro daquele ano, na praia de Paripueiras, em Alagoas. Mas não basta os

animais se adaptarem ao novo lar, é preciso que a comunidade litorânea saiba como

viver em harmonia com eles. Com esta filosofia, o Programa realiza uma série de

campanhas de caráter educativo. Além de SOS Peixe-Boi, que visa a conscientizar a

população para que receba bem os animais reintroduzidos, há ainda a ¨ Não Mate o

Peixe-Boi¨ e ¨Encalhou?¨. As campanhas são feitas não só no litoral de Alagoas,

mas também em Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí,

totalizando mais de 1,600 quilômetros de praias.

A AMAZÔNIA QUE REAGE

UM BASTA NA DEVASTAÇÃO. AINDA HÁ TEMPO PARA

CONSTRUIR UM FINAL FELIZ.

Bancadas por verbas do governo, fundos internacionais, ONGs e

empresas privadas, cresce o número de projetos que tentam impedir o desmatamento

da floresta, criar e demarcar parques e reservas indígenas e explorar de maneira

sustentável os imensos recursos da região.

O que acontece quando motosserras e tratores invadem as terras

dos povos que são os mais antigos inquilinos da mata? O conflito é inevitável. A

população indígena existente na Amazônia brasileira atual gira em torno de 300.000

indivíduos, que vivem principalmente em 556 áreas reconhecidas pela FUNAI,

totalizando 16,4% da Amazônia Legal (cerca de 823 milhões de hectares) – sendo

que 25% desse total se encontra dentro do Estado do Amazonas.

Embora contando com uma população 20 vezes menor do que a

que habitava originalmente o Brasil na época do descobrimento, os povos indígenas

brasileiros começaram a registrar, a partir da década de 1990, um crescimento

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61 demográfico de 1,5% ao ano – ou seja, superior à média geral do país. Isso

significa que os índios, depois de cinco séculos de contínua queda da sua população,

hoje experimentam um leve aumento demográfico. A razão disso está nos

investimentos feitos na criação de reservas, inclusive com a participação ativa das

tribos indígenas, e no atendimento às tribos que contraíram doenças no contato com

os brancos. Os dados da Organização Panamericana de Saúde (OPAS) indicam que

o Brasil é um dos países mais avançados na questão da saúde indígena.

Segundo o sertanista Orlando Villas-Boas, um dos responsáveis

pela criação do Parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso, um dos mais bem -

sucedidos projetos do setor no país, esses números por si só não representarão uma

boa notícia se não forem acompanhados por uma revisão da política indigenista

brasileira. Para o sertanista, deve-se evitar ao máximo o contato indiscriminado com

os cerca de 60.000 índios que ainda vivem isolados na floresta. Nos casos em que a

culturação é um fato consumado, o índio precisa ter os mesmos direitos e deveres de

qualquer cidadão brasileiro. ¨ O índio tornou-se uma realidade incômoda, mas isso é

fruto de preconceito e ignorância. Há muito o que ser aprendido sobre o índio, mas

faltam pessoas capacitadas para fazer a ponte entre eles e o resto da sociedade¨,

afirma. Para preencher essa lacuna, Villas-Boas sugere mais investimentos na

pesquisa e na formação de etnólogos e sociólogos voltados para o estudo da questão

indígena.

FRONTEIRA AGROPECUÁRIA

Um dos resultados da política de derrubada da floresta para a

formação de pastagem foi à criação de imensas propriedades rurais com baixa

produtividade e geração de poucos empregos. De acordo com o último Censo

Agropecuário do IBGE, as propriedades com área maior que 2.000 hectares, nas

Amazônia, correspondem a apenas 1,6% do número total de estabelecimentos rurais

da região, mas abrangem 56% da área total ocupada. É uma concentração de terra

anacrônica, que vai contra tudo o que já se aprendeu sobre o valor social da terra e a

necessidade de aproveitar racionalmente os recursos naturais.

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62

A pequena propriedade, se bem administrada, dá mais lucro e gera

muito mais empregos. Um estudo feito por agrônomos da USP mostrou, por

exemplo que o extrativismo da castanha numa pequena área na região de Xapuri, no

Acre, gerou em 2000 uma remuneração de até 48 reais por dia para os trabalhadores,

muito superior aos 6 reais por dia obtidos com a produção de arroz, milho e feijão

em áreas desmatadas. E isso sem derrubar uma só árvore da floresta. Mais uma

prova de que a floresta vale muito mais em pé do que derrubada e queimada.

SUBSOLO VALIOSO

É uma ilusão imaginar que os imensos recursos minerais da região

ficarão intocados. O valor dos minérios já conhecidos no subsolo da floresta

ultrapassa os 7 trilhões de dólares – e os técnicos acreditam que isso corresponde a

apenas uma parte do que existe realmente. A região também é rica em petróleo. As

reservas já prospectadas valem algo em torno de 3,6 trilhões de dólares e,

novamente, há muito mais petróleo para ser descoberto. O grande desafio, no futuro,

será o de explorar essas riquezas sem precisar desmatar. Hoje, grandes mineradoras,

como a Companhia Vale do Rio Doce – que opera na maior mina de minério de ferro

do mundo, no complexo de Carajás, no Pará -, já reduziram o impacto da atividade,

além de tomar medidas compensatórias para as comunidades afetadas. A empresa

reconstituiu mais de 20.000 hectares de floresta depois de abrir imensas crateras na

mata. Ela repôs a terra extraída do buraco e replantou as mesmas espécies de árvores

que existiam na região antes do desmatamento. A reconstituição demora 20 anos,

custa caro, mas é possível e está sendo feita.

Graças a essa nova fase da mineração industrial, hoje o garimpeiro

artesanal passou a ser um problema maior que as grandes mineradoras. ¨ O

garimpeiro solitário age sem fiscalização e pautado pelo instinto de sobrevivência.

Na sua lógica, é ele ou a floresta. Por isso, usa elementos como o mercúrio para a

extração, poluindo os rios da região. Além disso, invade terras indígenas e

ribeirinhas, levando consigo prostituição, jogo, alcoolismo, drogas e o comércio

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63 ilegal de animais. Mais uma vez a solução pode estar na obrigatoriedade de

certificação do ouro que sai da floresta. Parece difícil, porque esse ouro pode ser

facilmente contrabandeado para países vizinhos, mas que precisa ser enfrentado

rapidamente.

Outra questão polêmica ligada à defesa da Amazônia é o Projeto

SIVAM (Sistema de Vigilância da Amazônia), que já está instalando sistemas de

radares e satélites.

Muitos o criticam por representar uma militarização da Amazônia.

No entanto, o deputado federal Fernando Gabeira, que está longe de ser um defensor

da militarização da região, acha que o SIVAM representa um avanço importante

porque inibe a presença de traficantes (de drogas e de animais), contrabandistas, e,

até guerrilheiros vindos de países fronteiriços. ¨ Além disso, os benefícios do sistema

ultrapassam a sua função de vigilância militar, pois vão gerar um fantástico acúmulo

de informações sobre a nossa flora, fauna e culturas indígenas que, no futuro, será

revertido em desenvolvimento¨, afirma ele.

FRUTOS DA MATA

O conhecimento dos pontos fracos e das potencialidades da floresta

é, certamente, a única maneira de explorá- la sem destruí- la. Isso fica claro quando se

analisa o potencial da biodiversidade da floresta. Estima-se que a Amazônia esconda

10.000 substâncias que no futuro, terão grande valor para as indústrias química e

farmacêutica. Segundo dados da Empresa Brasileira de Biotecnologia, bastaria o

Brasil assegurar a propriedade de 100 patentes para ganhar até 1 bilhão de dólares

por ano com a comercialização de produtos.

Além disso, ninguém mais defende que toda a presença do homem

branco precisa ser eliminada floresta, como se chegou a afirmar no passado. ¨A

antiga visão de ilhas de biodiversidade intocada evoluiu para o conceito de

corredores ecológicos com diversos graus de presença humana, de acordo com as

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64 características do lugar ¨, explica Mordeu Saragoussi, diretora da Fundação

Vitória Amazônica (FVA). A nova visão abriu várias linhas de pesquisa sobre como

explorar a floresta com a presença do homem civilizado. E uma opção mais evidente

é do ecoturismo – que cresce no mundo todo a uma taxa de 20% e movimenta 260

bilhões de dólares. Só na Amazônia, o ecoturismo pode render 13 bilhões de dólares

por ano se a floresta tiver a infra-estrutura necessária.

Os chamados ¨hotéis de selva¨, que hoje estão concentrados

principalmente às margens do rio Negro, nas proximidades de Manaus, atraem cada

vez mais turistas estrangeiros e são a maior prova de que o turismo pode ajudar o

desenvolvimento da floresta de forma sustentável, e assim conservar e proteger a sua

fauna, e, mais uma vez, provando que a floresta em pé vale muito mais do que no

chão.

EXEMPLO DE PROTEÇÃO DA FAUNA AMAZÔNICA

PARQUE DO MINDU – Centro de Manejo e Reabilitação:

Primeiro parque ecológico da área urbana de Manaus, o Parque do

Mindu é um bom exemplo das ações para preservação ambiental. Criado há 14 anos,

o espaço é resultado de uma iniciativa dos próprios moradores pela preservação do

último reduto do Sauim-de-Coleira, macaquinho ameaçado de extinção. Além

disso, o Parque do Mindu é uma opção de lazer para a cidade com espetáculos de

artistas locais e café da manhã regional nos finais de semana.

A implantação do Centro de Manejo e Reabilitação de Animais

Silvestres é um importante reforço na proteção de diversas espécies em Manaus,

inclusive as ameaçadas de extinção como é caso do Sauim-de-Coleira, macaquinho

que só existe na cidade e seus arredores.

Resultado de uma parceria entre Prefeitura e Petrobrás, o Centro de

Manejo é o primeiro em Manaus com infra-estrutura apropriada para receber, tratar e

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65 devolver à floresta animais apreendidos pelo IBAMA, Corpo de Bombeiros e

Exército. O Centro exerce, ainda, outra função importante. Buscar caminho para a

proteção das nascentes dos igarapés. Em Manaus, assim como em quase toda a

Amazônia, manter espécies silvestres, como animais de estimação, é um hábito

cultural. O Centro de manejo e Reabilitação será uma referência para as instituições

de pesquisa e proteção da fauna amazônica. O objetivo é reintegrar os animais aos

seus hábitats naturais e os que estiverem incapacitados de voltar à floresta serão

destinados a instituições cadastradas junto ao IBAMA, como zoológicos e

criadouros.

PROTEÇÃO E EDUCAÇÃO

O Sauim-de-Coleira está ganhando importantes aliados graças a um

programa de proteção lançado pela Prefeitura de Manaus que estimula os “donos” de

animais silvestres a entregá- los de volta ao seu habitat natural. Mais de 50

fragmentos florestais foram identificados por técnicos da Prefeitura e passaram a

receber proteção especial, principalmente contra invasões, problema bastante comum

nas grandes cidades. Como é muito pequeno, com peso às vezes inferior a um quilo,

o primata é presa fácil. Na maioria das vezes, o Sauim é capturado em correntes e

transformado em bicho de estimação. Eles vivem em média nove anos e em bandos

de cinco a sete animais. O próximo passo da Prefeitura é a realização de uma espécie

de censo para descobrir o número de Sauims e os locais onde eles existem em maior

quantidade. O risco de extinção deste gracioso macaquinho é tão grande que o

IBAMA criou um comitê internacional para estudar a proteção da espécie.

Dois projetos pioneiros tiveram uma repercussão que surpreendeu

até mesmo os coordenadores mais otimistas e atingem dois públicos diferentes:

crianças e adultos passaram a ser multiplicadores de informações e começam a

escrever uma nova história para a cidade. A Universidade Livre do Meio Ambiente

(UNIAMBIENTE), criada há quatro anos, é um pólo irradiador de conhecimento

ambiental. O curso é gratuito e já beneficiou mais de dez mil pessoas através de

cursos, palestras, oficinas e outras atividades de caráter informal. A

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66 UNIAMBIENTE oferece cursos nas áreas de gestão de recursos naturais,

educação ambiental, manejo da fauna, arborização e paisagismo, turismo,

agricultura, diagnóstico e controle ambiental e fundamentos da ecologia.

Para o público infanto-juvenil a Prefeitura criou a Escola Itinerante

do Meio Ambiente que, em dois anos, já atendeu a mais de 20 mil estudantes. Esse

projeto atende, ainda, líderes comunitários e grupos da terceira idade em viagens por

10 roteiros diferentes. O Projeto é apoiado pela Vara Especializada do Meio

Ambiente e Questões Agrárias (Vemaqa), pela promotoria do Meio Ambiente e

Patrimônio Histórico (Prodemaph) e Petrobrás.

PROJETO JUBARTE

Patrocinada pela Petrobras

Embora ainda ameaçadas, as gigantescas espécies de habitantes do

nosso mar – as baleias – emitem promissores sinais de regeneração. É o caso das

jubartes, que se alimentam nas águas frias da Antártica e nadam 7 mil quilômetros só

para virem namorar nas águas do Arquipélago de Abrolhos. Depois de cruzar, elas

retornam à Antártica, comem toneladas de krill, uma espécie de minúsculos

camarões, e mais uma vez voltam a Abrolhos, desta vez para dar à luz, após 11

meses de gestação. Quando foi proibida a ¨pesca¨ de baleias no Brasil, em 1985,

estima-se que havia 15 mil jubartes nos mares. Hoje, este número aumentou para 25

mil. Mais de mil delas escolhem Abrolhos para reproduzir-se. Cerca de 300 baleias

de outra espécie, as francas, também vêm reproduzir-se no Brasil, só que mais ao sul,

no litoral catarinense, à altura de Imbituba.

A HISTÓRIA DO TAMAR

UM PROJETO QUE DEU CERTO

Até o final da década de 70, não havia no Brasil qualquer trabalho de

preserva;ao dos animais no mar. As tartarugas marinhas foram incluídas em uma lista

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67 do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal – IBDF de espécies ameaçadas

de extinção. Mas estavam desaparecendo rapidamente, por causa da captura em

atividades de pesca, da matança das fêmeas e destruição dos ninhos nas praias. Houve

reação e denúncias, inclusive de repercussão internacional.

Iniciou-se então em 1980 um levantamento por toda a costa brasileira,

entrevistando pescadores, prefeituras, universidades, e moradores, o que permitiu um

retrato da situação das tartarugas marinhas. Identificou-se as espécies, os últimos locais

de concentração de desovas, períodos de reprodução e os principais problemas relativos

ä sobrevivência, como fábrica e bijuterias e comercialização de subprodutos.

Este levantamento, que caracterizou a primeira fase durou 02 anos,

quando então iniciou a implantação das primeiras bases de campo.

O trabalho começou na Bahia, Espírito Santo, Sergipe e estendeu-se

em seguida para outros estados do país. As primeiras bases de campo não possuíam

estrutura nenhuma, e contaram desde o início com apoio de moradores ou instituições

locais.

Todas as desovas eram transferidas para cercados protegidos nas

próprias áreas de desova e um intenso programa de educação, e, conscientização com as

comunidades locais começou a ser desenvolvido. Naquela época nem se falava em

Educação Ambiental ou conscientização ambiental.

Tudo era muito empírico e fruto do esforço da equipe que sabia da

situação crítica destas espécies. Gradativamente foi necessário aumentar a área

protegida pois os resultados das atividades de campo demonstraram que as tartarugas

distribuíam-se por áreas mais extensas. Em conseqüência, foi essencial também

estender o monitoramento e os trabalhos de educaçÃo ambiental.

Desde o início o Tamar precisou do apoio das pessoas que viviam nas

áreas onde as tartarugas desovam. Contratava os próprios pescadores que matavam as

tartarugas e coletavam os ovos, para protegê-las. Não pensem que foi fácil. Muita

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68 desconfiança e ameaças, até que perceberam a intenção das equipes e passaram a

participar, cada ano com maior intensidade e quantidade de pessoas.

Muito conhecimento foi adquirido nesta convivência, por ambas as

partes. O conhecimento empírico dos pescadores e a ciência dos pesquisadores

produziram os frutos que hoje se colhe. Milhares de filhotes liberados anualmente e as

fêmeas podendo cumprir seu ciclo reprodutivo sem serem molestadas.

O caçador de ontem tornou-se o protetor, defensor da vida.

Esta mudança é a vontade de querer cuidar.

Mas não era suficiente. Percebia-se que o projeto tinha que apontar

caminhos de desenvolvimento para estas comunidades, pois a situação social, a extrema

carência de algumas delas, não permitia que respondessem a demanda pela conservação

das tartarugas marinhas. É a lei da sobrevivência.

Para isso o Tamar passou a envolver cada vez mais os moradores das

comunidades na execução dos trabalhos de conservação. Depois, na recepção de

turistas e visitantes em geral, que procuravam conhecer as tartarugas marinhas.

Este envolvimento evoluiu para a produção e comercialização de

produtos que hoje é a fonte de sobrevivência de muitas famílias, e uma das principais

formas de arrecadação de recursos do TAMAR.

Prevalece o lema “ AS TARTARUGAS VALEM MAIS VIVAS

QUE MORTAS”.

EXEMPLO DA PRESERVAÇÃO DA FAUNA

“A defesa da vida sob todas as suas formas”

Assim nasceu o Projeto Tamar, hoje institucionalmente ligado ao

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis,

órgão vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, sendo a PETROBRAS seu principal

patrocinador.

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Dezenas de instituições, estaduais e municipais, governamentais e

não-governamentais, participam e apóiam, como parcerias, as atividades desenvolvidas

nos vários estados da costa brasileira.

Em 1988 o Tamar ganhou um aliado decisivo e definitivo: a

Fundação Pró-Tamar, entidade sem fins lucrativos; criada para apoiar, agilizar, e

possibilitar o desenvolvimento dos trabalhos de conservação das tartarugas marinhas. É

responsável pelas atividades nas áreas administrativa, técnica e científica, e na captação

de recursos financeiros. Gerencia mas de 60 por cento da operação do Projeto,

principalmente os recursos humanos.

Mas o principal apoio vem da sociedade brasileira como um todo, que

vem se conscientizando da necessidade de preservar estas espécies, e participa das mais

diversas formas. Ajudando diretamente na proteção dos ovos e fêmeas, conscientizando

pescadores e jovens, e financiando as atividades através da compra dos produtos

TAMAR, que mantém as atividades econômicas nas comunidades e permite a estas

participarem. Os lucros da venda de produtos, são integralmente reinvestido nas

atividades de conservação e educação ambiental.

CONCLUSÃO

O nosso futuro depende das grandes soluções, dos Projetos, das

Pesquisas das Organizações, enfim, de todo o esforço humanitário para a preservação

do Meio Ambiente.

Tivemos a oportunidade de analisar as varias formas de destruição da

nossa Fauna em contra partida observamos a luta de muitos em preservar nossos

irmãozinhos, os animais. E é isso que nos faz acreditar e ter esperanças. É na confiança

de Fundações como o Boticário e a Natura - Cosméticos, que tem objetivos genuínos

em defesa de um desenvolvimento sustentável, preocupados com o bem estar humano e

da fauna e da flora.

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70 Também fomos agraciados com o trabalho apaixonante de

Organizações não Governamentais – ONGs, como a SOS Mata Atlântica; o

GREENPEACE, pois jamais esqueceremos a imagem daquele bote tão corajoso

denunciando a caça predatória das baleias contra um absurdo navio baleeiro de

procedência japonesa, no meio do oceano; a RENCTAS – Rede Nacional Contra o

Tráfico de Animais Silvestres, trabalho de uma dimensão fabulosa, internacional e bem

respeitada; os Projetos de grande valor como o TAMAR; Peixe-Boi, Jubarte, Papagaio-

Da-Cara-Roxa; Atobas; Lobo-Guará e muitos outros.

Tudo isso só pode espelhar a necessidade de fazermos das nossas

escolas o grande incentivador de atitudes como estas. Acender esse carvão de amor pela

Fauna no coração dos pequenos seres humanos. Levar para as instituições de educação

santuários da vida selvagem em reabilitação, construir em cada região um pequeno

espaço de conservação natural para que as crianças, adolescente, universitários,

professores e profissionais liberais engajados em trabalho voluntário possam reabilitar

animais vítimas de maus tratos, em virtude do tráfico ilegal ou que não possam retornar

para seus hábitats. Ao mesmo tempo estaríamos proporcionado aos jovens e crianças a

oportunidade de conhecer nossa fauna e lutar pela sua sobrevivência.

ANEXOS:

Fotos impressas de aves silvestres (02) e quelônios (02);

Lista de 102 animais silvestres ameaçados;

Fotos impressas da venda de animais silvestres obtidas pela

RENCTAS constante do livro ANIMAIS À VENDA – 10 FOTOS;

MAPAS DO BRASIL CONTENDO ROTAS NACIONAIS DO

TRAFICO DE ANIMAIS, PRINCIPAIS ÁREAS DE CAPTURA E ÁREAS DE

AÇÃO DA BIOPIRATARIA;

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71 Gráfico do total de animais apreendidos na Região Sudeste de

1992 a 2000.

Mapas do Brasil apontando os principais aeroportos utilizados para

o tráfico de animais silvestres;

Mapas das principais rotas terrestres utilizadas para o tráfico de

animais silvestres – Região Norte; Nordeste; Centro oeste; Sudeste e Sul;

Reportagem sobre o tráfico de Animais publicada no periódico da

Folha de São Paulo datado de 03/11/1997.

Entrevistas com Sebastião Salgado, Fotógrafo, promovida pela JB-

Ecológico, publicada em 05/06/2004 – ANO 03, nº29;

Entrevista com o Fundador da Renctas, Denner Giovanini,

promovida pela JB-Ecológico, publicado em janeiro de 2005- NA O3, nº36.

Declaração Universal dos Direitos dos Animais.

BIBLIOGRAFIA

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Ano 12, nº 142, p. 59/62.

Revista Universo Animal, Editora Abril, Dezembro de 2004 -

Edição 03, p.28.

Revista JB-ECOLÓGICO/R.J. – Jornal do Brasil-/Ano 2/nº 25/06

de Fevereiro de 2004, p.20/21..

Revista JB-ECOLÓGICO/R.J. – Jornal do Brasil -/Ano 3/ nº 29/05

de Junho de 2004, p.12/15.

Revista JB-ECOLÓGICO/R.J.- Jornal do Brasil -/Ano 3 / no.

36/janeiro de 2005, p. 12/15.

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72 Revista Super Interessante Especial Ecologia, Editora Abril,

Dezembro de 2001, p. 09/17, 27/31, 51/59 e 69/72.

Guia de Animais Brasileiros, Editora On Line, Ano 1, no. 1, p. 61 e

71.

Animais Brasileiros, Luiz Roberto de Souza Queiroz, Editora

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Fauna Ameaçada de Extinção, IBGE, 2001, p. 5/91.

Animais Silvestres - Vida à Venda, RENCTAS, p. 35/38, 40, 42,

190/191.

Texto retirado da Internet: www.projetotamar.com.br

Artigo de Jornal: O Globo, Rio de Janeiro, 17/04/2005, página 3,

Seção País.

Kant, Immanuel, Fundamentação da Metafísica dos Costumes e

outros escritos, Editora Martin Claret, 2003, p. 70/71.

Boff, Leonardo, A Águia e a galinha, Editora Vozes, 41ª. Edição, p.

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Rodrigues, Danielle Tetü, O direito & os Animais – Uma

abordagem Ética, Filosófica e Normativa, Editora Juruá, 2003, p. 63/81.

Câmara, Ivsen de Gusmão, Megabiodiversidade, Brasil, Editora

Sextante Artes, 2001, (fotos).

24 anos de vida e trabalho na proteção e pesquisa d