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A VERDADE SOBRE O CÂNCER AO ALCANCE DE TODOS A Verdade sobre o Câncer ao Alcance de Todos Heyder de Siqueira Gomes (médico no Distrito Federal) Rio de Janeiro 1959 HEYDER DE SIQUEIRA GOMES 1

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A VERDADE SOBRE O CÂNCER AO ALCANCE DE TODOS

A Verdade sobre o Câncer ao

Alcance de Todos

Heyder de Siqueira Gomes

(médico no Distrito Federal)

Rio de Janeiro 1959

HEYDER DE SIQUEIRA GOMES 1

A VERDADE SOBRE O CÂNCER AO ALCANCE DE TODOS

HOMENAGEM

“À direção do Jornal do Brasil, grande órgão de publicidade que honra e enobrece a imprensa brasileira - e internacional – hipotecamos nossos melhores agradecimentos pela generosa acolhida que deu, nas suas colunas, aos artigos que originaram este livro.

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A VERDADE SOBRE O CÂNCER AO ALCANCE DE TODOS

ÍNDICE

Este livroCap. I – A Enfermidade CancerosaCap. II – Principais Teorias EtiológicasCap. III – O Contágio do CâncerCap. IV – Um pouco de Física NuclearCap. V – TerapêuticasCap. VI – Câncer e DemagogiaCap. VII – A Indústria do CâncerCap. VIII – As Vítimas da Cancerologia ClássicaCap. IX – O Problema do Câncer no BrasilCap. X – PerspectivasConclusãoAdendoPequeno Glossário de EmergênciaResumo Bibliográfico

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A VERDADE SOBRE O CÂNCER AO ALCANCE DE TODOS

ESTE LIVRO...

cuja publicação foi retardada por circunstâncias (que hoje bendizemos...)de vária espécie, na maioria alheias à vontade do autor, não é nenhum tratado de cunho técnico, desses em que os cancerólogos costumam espraiar-se em alcandoradas elucubrações científicas...

Seria, portanto, inútil procurar através de suas páginas – contribuição de um modesto clínico para o público, em geral – altas indagações médicas, que não-raro vêm vazadas numa inacessível terminologia1

O que nele se verá registrado foi por nós escrito ao sabor das lembranças: ora concordando, prazeroso, aqui; ou impugando, contrafeito, ali; senão mesmo opinando, sem vaidade, acolá; porém jamais deixando de ceder honestamente a palavra aos verdadeiros Mestres, toda vez que a natureza do tema transcendia as possibilidades de nossa modesta cultura especializada.

Isso explica a frequência de abonações em que nos louvamos, com o escopo de documentar nossas afirmativas.

Assim, apenas reunimos num volume nótulas que vinhamos divulgando, sistematicamente, sobre o tormentoso problema do Câncer, muitas das quais apareceram numa série de artigos publicados no “Jornal do Brasil” desta Capital entre abril de 1956 e agosto de 57 obedecendo ao título A Verdade sobre o Câncer, e aqui figuram noutra distribuição e, por vezes, redação diferente; porém jamais discordantes da diretriz inicial: aclarar para a coletividade leiga essa turva questão, libertando-a – sempre que possível – das ortodoxias e tabus que restringem sua exata compreensão, obstáculos esses inteligentemente forjados pela chamada “Medicina Clássica do Câncer” a qual, na realidade, nada tem de clássica, e sim muito de arcaica...

Isso porque sua terapêutica era já praticada há seis mil anos no velho Egito e foi acoimada de letal pelo Clássico dos Clássicos da Medicina – Hipócrates – lá se vão quase vinte-e-quatro séculos, na Grécia antiga.

Faz cinco anos, circunstâncias especiais trouxeram-nos, como clínico, à esfera do Câncer, que apenas conhecíamos panoramicamente, visto ser a neoplasia malígna – então como hoje – considerada um mal eminentemente cirúrgico; conceito, aliás, generalizado entre o povo e acatado pela maioria absoluta dos médicos. Decorrência visível de um pernicioso dogmatismo escolástico, que vem monopolizando o Câncer, emprestando-lhe – por

1 Entretanto, embora sempre evitando incorrer no tecnicismo presunçoso ou estéril, não pudemos fugir à necessidade de consignar alguns termos científicos e expressões menos vulgares os quais – para maior comodidade do leitor – aparecem explicados num Pequeno Glossário de Emergência, apenso ao final deste livro.

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conveniências nem sempre louvadas – transcendental tabuidade (permitam-nos o neologismo...), a qual, em absoluto, ele não deve ter.

Posto que enfermidade das mais graves consequências, clinicamente é semelhante a muitas outras, bem comuns em Patologia Geral, das quais somente difere por ser ainda propositadamente controvertida sua etiologia. E hoje não comporta dúvida ser doença tipicamente clínica.

Estudamos e observamos atenta e cautelosamente a evolução patognomônica dessa trágica enfermidade e procuramos os necessários conhecimentos teóricos na literatura especializada, tanto na chamada “Medicina Clássica do Câncer”, quanto na dos Não-Conformistas (que buscam a solução fora dos lindes herméticos traçados por aquela), aferindo-os cuidadosamente com o que nos era dado perscrutar em nossos pacientes.e

Atendemos até agora (1958) cerca de seiscentos enfermos, dos quais somente cinco não haviam sido submetidos a terapêutica ortodoxa (Cirurgia e radiação).

E se mais não pudemos assistir foi porque, sem dúvida, a soi-disant “Cancerologia Clássica” houve por bem assestar bactérias contra os médicos que não iam beijar-lhe as mãos ungidas de vaidade e entrou a perseguir todos e quaisquer pesquisadores independentes, envolvendo uns e outros na mais monstruosa campanha difamatória, com o torpe objetivo de carrear para si – iludindo-a com seus aparatosos, mas ineficazes, consultórios – toda a pleiade imensa dos que sofrem dessa terrível enfermidade.

Era o açambarcamento universal do Câncer, cujos reflexos já se faziam sentir em terras brasileiras...

Pois bem. Nossos doentes, sem exceção, já traziam diagnóstico firmado, o que significa termos prestado assistência, na quase totalidade, em casos tidos por superados pela Cancerologia Clássica, a seres mutilados pela cirurgia radical, e já sofrendo os efeitos de progressiva e grave desintegração, pelo emprego abusivo das radiações nucleares (raios-X, Rádio, bomba de Cobalto) a que tinham sido expostos!

O que nos tem sido possível constatar nesses infelizes escapa a nossa capacidade descritiva e nos traumatiza a sensibilidade de homem. São restolhos humanos, arrastando míseros farrapos de vida, sob o guante da Dor. Esses trágicos espetáculos sempre repetidos – que superam aos imaginados por Dante para o seu Inferno – levaram-nos à convicção de que os processos terapêuticos empregados pela Medicina Clássica do Câncer constituem monstruosidade pseudocientífica, pois que, os analisando à luz da sã Patologia, verifica-se serem estruturados em premissas absolutamente falsas, aberrantes à lógica e à

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razão científica. Métodos inteiramente ineficazes e – pior que isso – altamente perniciosos para os enfermos a eles submetidos!

Nessa ordem de ideias, impõe-se a seguinte reflexão:A Eutanásia – sabem-no todos – é a morte suave, pela qual se procura

abreviar, sem dor ou sofrimento, a vida de um doente reconhecidamente incurável. Tem sido assaz discutida através dos tempos; ora louvada, ora combatida. Platão e Aristóteles preconizaram, para certos casos, tal providência. Foi também verificada entre os povos da Birmânia (Índia). Entretanto, sua prática repugna à sensibilidade cristã e aberra ao consenso médico.

Já a Distanásia tem significação oposta: é a morte dolorosa, entre prolongados sofrimentos. Somente foi praticada em suplícios, cujos relatos históricos ainda nos fazem estremecer de horror. Haja vista, entre outras, as torturas impostas pela Inquisição da Igreja Católica (tribunal de revoltante memória, criado lá pelo ano de 1.200, pelo papa Inocêncio III, sob o título hipócrita e paradoxal de “Santo Ofício”).

Entretanto, em última análise, o que hoje comete a Escola Clássica do Câncer, reiteradamente, é a Distanasia; razão por que nos impele o dever, médico e humano, de combate-la a todo transe e de alertar contra ela as coletividades em geral e, em particular, os médicos estranhos ao setor Câncer. Esse o escopo dos nossos artigos, que procuramos juntar neste volume.

Buscaremos, portanto, focalizar a Verdade, somente a Verdade, nada mais que a Verdade.

Parecerá, talvez, que nossa atitude importa em deselegância profissional, o que não ocorre. A ética de uma classe não se restringe a grupelhos estanques, vinculados por um inconfessável objetivo comum, nem assume compromissos com “igrejinhas” amém-dizentes, porém alça-se a elevados e sublimes postulados que, em se tratando da Medcina, são os sacrossantos interesses da Humanidade sofredora.

Defendemos doutrinas científicas que temos por certas e altruísticas; combatemos as que consideramos errôneas, tendenciosas ou deletérias. Não nos preocupam homens, senão ideias, juízos e fatos.

Daí levarmos ao extremo a parcimônia nas citações nominais. Mormente em relação aos nossos adversários de doutrina médica; só nos afastando dessa norma – por elementar dever de fidelidade ao texto – ao transcrever palavras de outrem; ou quando, de todo, o silêncio prejudicasse a compreensão dos fatos, ou os fizesse parecer menos verídicos...

O documentário que consolida nossa maneira de sentir é imenso. Vai a milhões o total de pacientes submetidos à terapia clássica do Câncer, em todo o

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planeta. Está sobejamente comprovado não se ter conhecimento, até hoje, de um só caso de cura rigorosamente “clássica”.

É bem verdade que a literatura médica mundial assinala restabelecimentos espontâneos da neoplasia maligna; como também pretende mencionar – pour épater le bourgeois – dois ou três casos em que a terapêutica ortodoxa haveria obtido um discutibilíssimo sucesso. Claro está que nos referimos ao Câncer, e não a tumores periféricos, cancróides basocelulares, facilmente curáveis por processos rudimentares... Mas isso é assunto a que ainda voltaremos.

Não nos pesa o julgamento daqueles que se encontram em campo contrário. Estamos convictos do nosso ponto-de-vista. Lutamos de viseira erguida, arremetendo contra princípios que nos parecem bárbaros, sem temer barreiras, nem consequências. Impulsionam-nos os quadros macabros a que temos assistido quase diariamente, tristes imagens esteriotipadas em nossa retentiva emocional. Procuraremos, nos modestos capítulos deste livro, focalizar a verdadeira situação do Câncer perante a Ciência Médica mundial. Exporemos sumariamente as principais teorias propostas, assinalando que a única premissa unanimemente aceita é ser a tumoração cancerosa um conglomerado tecidual grandemente desregrado pela reprodução anárquica de uma célula (o que, na verdade, constitui ainda bem pouco, tendo em conta que é um sintoma já bastante adiantado da moléstia).

Enfermidade embora das mais estudadas e pesquisadas em todos os países, continua o Câncer propositadamente insolúvel; e hoje, dado o aumento sempre crescente de sua incidência, vem desencadeando neuroses coletivas.

Tem havido e continua a se verificar, em torno desse tremendo flagelo, dispersão de valiosíssimos esforços criada pela ortodoxia escolástica e principalmente devida à intolerância da Cancerologia Clássica (que oficialmente domina, em todos os rincões, o dito setor), sempre aguerrida para combater quaisquer iniciativas divergentes dos seus herméticos postulados, ou meras opiniões que dissintam de suas esdrusculas premissas; enfim: que arranhem seu arrogante solipsismo.

E tal impermeabilidade à colaboração alheia explica-se por um motivo que nada tem de honroso; mormente tratando-se de uma classe de profissionais que, em se diplomando, assumiram para com os povos um compromisso de lhes zelar pela sanidade física.

É que no dia (oxalá não tardasse muito...) em que a Ciência extraclássica fosse permitido empregar qualquer remédio que realmente curasse o Câncer, a Humanidade por certo verificaria as contradições e os erros dessa escola que se intitula “clássica” ao mesmo tempo que ficariam a descoberto as

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monstruosidades de sua terapêutica dispendiosa, ineficaz e desumana, posto que altamente rendosa para os que a professam; porque lhes possibilita entendimentos lucrativos com os magnatas do instrumental cirúrgico e actinológico, e também com os responsáveis por toda uma terapia coadjuvante à base do ópio.

Não paira dúvida sobre que, resolvido o problema do Câncer, cairá de imediato – em mais de 90% - o consumo desses opiáceos, porquanto o fenômeno dor pode ser perfeitamente solucionado com o emprego dos produtos sintéticos (analgésicos e morfínicos).

Cumpre ressaltar que, segundo estimativa oficial, atualmente mais de dois e meio milhões – de cancerosos – em todo o mundo estão em uso permanente dos derivados do ópio (morfina, pantopon, trivalerina, sedol etc etc.)

Quando tal acontecer – repitamos – assinalará fatalmente a queda da indústria do Câncer!...

Não ignoramos que aos corações mais puros parecerá inverossímil essa torpe mercantilização de uma doença já por si mesma tão cruel; pois deveria ser pouco crível a ideia de que: a) grupos de médicos se mancomunem para explorar a desgraça alheia sob a égide dos figurões que vivem dessa indústria; b) que a Cancerologia Clássica se oponha irredutivelmente ao aparecimento de qualquer solução eficaz para o trágico problema que lhe é oficialmente afeto (porém não apenas a ela...).

No tocante ao primeiro item, cremos deixar – ao menos tacitamente – comprovado no decorrer deste trabalho, ou melhor: no capítulo VII.º.

Por agora, baste dizer que na França (não sabemos se ainda hoje é assim...) até a uns quatro anos, a homologação de qualquer produto farmacêutico dependia de uma Comissão e uma Subcomissão em que figuravam elementos das maiores firmas do ramo!

Isso numa terra onde – consoante ao depoimento de um ilustre biologista nativo:

“A Ordem dos Médicos é na realidade, o órgão executivo do truste das especialidades farmacêuticas, que é a mais poderosa empresa capitalista da França e talvez do mundo.” (C.V. D'Autrec – Les Charlatans de la Médecine, Paris, 1954, pág. 99).

Daí as palavras amargas de um cientista que em vida foi perseguido atrozmente pela Cancerologia Clássica, o eminente Grégoire Blanchard:

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“Quando se fala na cura do Câncer, torna-se o alvo de tudo que contém de hostil e vingativo o meio médico francês dito oficial.” (Apud. Jean Palaiseul - “Au de-là de la Médecine tous les Moyens de vous Guérir interdits aux Médecins” - tomo II, Paris, 1958, págs. 117-8).

Convém assinalar – de passagem – que, no Brasil, a repartição oficial do Ministério da Saúde incumbida de aprovar e licenciar medicamentos é o Serviço Nacional de Fiscalização da Medicina e Farmácia.

Entretanto, qualquer medicamento destinado à terapia do Câncer é dependente de parecer do Serviço Nacional do Câncer. Assim, o licenciamento de qualquer remédio para essa enfermidade está sob o guante direto e inapelável do estado-maior da Cancerologia Clássica.

Quanto à segunda afirmação nossa, daremos provas também oportunamente, no capítulo VIII.º

A verdade é que quem acompanha de perto os fatos relativos ao Câncer e se interessa por analisar a maneira como o assunto é tratado em nossa terra, não pode deixar de reconhecer a existência de certa mal disfarçada tática ortodoxa, cujos principais lances na farsa terapêutica são comumente os seguintes:

a) – “suspeita” da moléstia;b) – exames circunstanciais (raios-X, provas de laboratório etc.);c) – ordem de operar imediatamente;d) – envio do enfermo ao Radioterapêuta;e) – entorpecentesf) – morte do paciente...

Agora perguntamos:

Quanto custa um tratamento “clássico”? Uma operação que abre caminho para outras intervenções mutiladoras? A quanto montam as aplicações de raios-X? De Rádio? Da bomba de Cobalto? Finalmente: qual o resultado?...

Respondam aqueles que sofreram a desgraça de ter na família uma vítima desse mal inexorável que não poupa reis, nem presidentes, nem generais ou almirantes e tampouco os próprios membros da Cancerologia!…........................................................................................................................…........................................................................................................................…........................................................................................................................

Meditem sobre o que deixamos dito nesse preâmbulo as almas boas, os

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homens de bem de todas as classes sociais, ou hierarquias profissionais, os quais mercê de Deus, ainda existem pelo mundo afora...

Quanto a nós, prosseguiremos na luta, com a consciência de estarmos cumprindo um sagrado dever, dedicando-nos ao labor – quiçá inglório, mas sincero – de resumir e divulgar a revoltante história de um inominável crime do qual só as coletividades enfermas tem experimentado as terríveis consequências – o atentado da Cancerologia Clássica contra a Humanidade sofredora.

Ao fazê-lo, não nos constituimos advogado de ninguém, pois a tanto não estamos autorizado, nem possuimos a indispensável especialização jurídica. Assim – convém repetir – não nos interessam homens, porém ideias, juízos e fatos.

É também oportuno esclarecer que pugnamos pela liberdade de pesquisas, imparcialmente, sem levarmos em conta a quem possa ela beneficiar, ou estorvar porisso que não estamos diretamente vinculado por objetivos interesseiros aos tentames de quem quer que seja...

Com o presente trabalho, que submetemos ao julgamento sereno da posteridade, procuramos simplesmente revelar ao público – talvez culto, mas geralmente mal informado sobre o assunto – tanto quanto nos foi dado observar, apenas isto: A VERDADE SOBRE O CÂNCER!...

Rio, fevereiro de 1959.H.S.G.

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CAPÍTULO I

A ENFERMIDADE CANCEROSA

O corpo humano. - Saúde e doença. - Que é o Câncer? - Velhice das coisas novas... - O sexo e o Câncer. - A idade e o Câncer. - Os chamados órgãos eletivos do Câncer. - O Câncer e a hereditariedade.

O CORPO HUMANO

Nosso corpo é um admirável complexo de aparelhos e sistemas, cada um desses englobando órgãos que desempenham determinadas funções, formados de tecidos especiais. Esses, por sua vez, são constituidos de células próprias e devidamente caracterizadas, que se reproduzem por divisão da própria estrutura.

Aliás, tudo na vida orgânica é constituido de células: seja por uma única (como os protozoários), ou por bilhões delas (como os animais superiores), cada uma das quais medindo menos de um micro, que é a fração milésima do milímetro.

A célula tem uma parte central, chamada núcleo, que lhe regula as atividades, determinando seu caráter hereditário e experimenta uma complicada série de transformações, em intervalos periódicos e anteriores, mesmo à divisão celular. Ao conjunto dessas evoluções do núcleo dá-se o nome de mitose, ou cariocinese.

O corpo humano contém aproximadamente 30.000.000.000 de células, verificando-se em cada órgão uma ação citológica específica, que redunda em determinada função.

Daí ser a célula considerada simultaneamente como unidade anatômica e fisiológica, visto somente ela ter vida própria.

Noutras palavras: o que chamamos de vida é o conjunto de infinito número de pequenas vidas, porisso que mesmo terminada a existência animal, as células que formam o organismo continuam a viver, por algum tempo. E, em meio adequado, indefinidamente, como aconteceu ao fragmento de coração de galinha, de Carrel...

O grande Claude Bernard considerado o Pai da Fisiologia, preceituava:

“É somente a célula que vive; o resto não é senão acessório”

As células germinativas, masculina e feminina, se unem formando uma

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outra, da qual resultarão todas as demais que constituirão o novo ser.Esse admirável mecanismo biológico obedece a uma perfeita ação

sincronizada com as necessidades do “todo”, que é o organismo.O crescimento celular é controlado em parte pelas propensões inatas da

própria célula, e em parte pela influência da circulação hormonial. De modo que quando o tecido de um órgão em processo de desenvolvimento chega a um tamanho e forma característicos, o crescimento para automaticamente, só voltando a se verificar para suprir o desgaste normal das células, ou as perdas produzidas por causas diversas – como os ferimentos, contusões, fraturas, invasão de bactérios etc. - Mas se detém tão logo compense as necessidades orgânicas, e a reprodução não é feita ininterruptamente, mas de modo intermitente.

Quando, porém, qualquer célula começa a se reproduzir sem obedecer a controle biofisiológico, quebra-se-lhe a harmonia, passando a formar tecido anômalo, embora análogo ao de sua origem. É isso o Câncer.

Essa neoformação prolifera desordenadamente e, via de regra, não mais se detém. Desde logo, entra em conflitos metabólicos com os tecidos circunvizinhos.

A causa do desregramento celular é ainda controvertida porque existe elevado número de teorias e hipóteses que tentam explicá-la. Aceitamos a que nos parece mais razoável.

* * *

SAÚDE E DOENÇA

Quando se verifica uma completa harmonia funcional em todos os órgãos desse complicado mecanismo biológico que é o corpo humano, diz-se que o indivíduo está gozando de perfeita saúde, estado esse que lhe determina certa sensação de euforia, não-raro assinalada pela maior disposição para as lutas da vida e coadjuvada pela ausência de grandes e deprimentes preocupações.

Se, entretanto, esse bem estar é comprometido por qualquer manifestação irregular (cansaço, falta de apetite, insônia, febre, enjôo etc etc.), a pessoa trata de afastá-la, e para isso procura o médico. Costuma-se dar a esse tipo de sensação subjetiva o nome de sintoma de doença.

Há, porém transtornos no equilíbrio das funções orgânicas mais perceptíveis, propriamente, ao clínico do que mesmo ao doente (desproporção entre peso e estatura, palidez, aspecto congestionado, pulso irregular,

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batimentos cardíacos anormais, respiração arrítmica, qualquer reflexo alterado, inflamações etc etc.) Esses fenômenos são chamados sinais objetivos de enfermidade.

Os sintomas atuam como verdadeiras sentinelas do organismo, pois são eles os primeiros indícios de uma saúde desequilibrada; os sinais facilitam a caracterização da enfermidade.

Uns e outros se entrelaçam, permitindo ao médico estabelecer o diagnóstico; esse baseado sempre em determinados quadros clínicos que a experiência multimilenar selecionou e consagrou para cada moléstia.

* * *

O QUE É O CÂNCER?

Como já foi dito, o Câncer é um desregramento na reprodução celular, de causa ainda bastante controvertida, conforme mostraremos oportunamente.

Perde-se na noite escura dos tempos a aplicação do termo Câncer (que é como também dizem os Espanhois, Franceses e Ingleses) à doença mais terrível que a Humanidade já conheceu. Com essa palavra – empréstimo feito ao nominativo latino CÂNCER – é também usada em nossa terra a forma CANCRO (vigente no italiano e no português ultramarino), tomada ao acusativo CANCRU (M).

A autoria do batismo tanto pode ser de um médico grego dos áureos tempos, como remontar a um iluminado sacerdote assírio ou persa2. É, entretanto, voz corrente que quem o fez teve em mira associar a enfermidade ao crustáceo que conhecemos sob o nome de CARANGUEJO (diminutivo metaplástico de CANCRO).

Disse o saudoso filólogo Mario Barrêto (numa explicação, a nosso ver, pouco feliz):

2 Não deve ser esquecido que, na Medicina astrológica dos Assírios, já era conhecido o fato de que o sígno de Câncer confere ao indivíduo nascido sob ele uma constituição física pouco forte e um temperamento linfático-bilioso (nos climas quentes) ou linfático-nervoso (nas regiões frias), exercendo decidida influência sobre o tórax e a região epigástrica e provocando doenças no estômago e nos pulmões...

Por outro lado, a mitologia grega consagrou Câncer como certo crustáceo enviado por Juno contra Hércules, quando esse lutava com a terrível hidra de Lerna. Todavia, atingido num pé, o herói matou ao mortífero emissário, que foi então colocado por Juno entre os doze signos do Zodíaco...

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“CÂNCER e CANCRO, úlceras, assim se chamam, em sentido médico ou metafórico, porque roem as carnes como faria o caranguejo.” (De Gramática e de Linguagem – 2º tomo, Rio, 1922, cap. XXXV, pág. 146).

E adiante:

“A única restrição no emprego diferencial das duas palavras é a que decorre de manifestações venéreas e sifilíticas, em que não se usa o termo CÂNCER. Aliás, no ponto de vista rigorosamente científico, nenhum desses dois vocábulos tem valor. Nas classificações clínicas, anatomopatológicas, patogênicas e etiológicas, de maior valia, eles são moeda sem valia...” Nenhum sabedor os emprega, são termos de generalização ilimitada.” (Idem, página 147).

Outros – abonados na rigorosa dissemia que o termo apresenta em certas línguas (exs.: alemão Krebs; em russo – aqui transliterado – rak, tupi cunuru etc), em que significa simultaneamente o crustáceo e a moléstia, ou melhor: a tumoração – aproximam essa daquele devido a sua massa neoplásica central e menos volumosa emitir expansões que se esgalham para os tecidos circundantes; ou porque a dor produzida no período de malignidade se assemelha à causada pelo fechar das pinças do crustáceo [?].

É, todavia, de notar que, em nossa língua, essa denominação tem alternado com outras, como “ferida maligna”, “chaga cancerosa” (que ainda aparece no conhecido soneto Mal Secreto, de RAIMUNDO CORREIA) etc, usadas indiferentemente a partir do século XVII, para os diversos tipos de neoplasmas.

No interséculo XVIII-XIX, surgiu a terminologia mais culta, de caráter distintivo, e já vemos os nossos “físicos” (assim eram chamados os médicos da época) discernirem entre um “sarcoma” e um “carcinoma”, por exemplo.

Na centúria passada, empregavam-se já expressões como: “tumor”, “afecção cancerosa”, “neoplasia”, “formação acidental” etc, e a nomenclatura enriquecia-se, registrando: “cirros”, “epiteliomas”, “lipomas” etc. Persistia, porém, a preferência tópica: “cancro do útero”, “tumor dos seios maxilares”, “câncer dos seios” etc etc. Sempre – como se ve – encarando a enfermidade como afecção local, conforme ainda fazem hoje.

Aliás, erroneamente, pois, o Câncer é, em essência, uma disfunção no metabolismo celular, manifestada objetivamente pela oncose.

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Tornou-se, por sinal, a doença3 mais estudada e discutida do mundo inteiro, o que há seis anos levou o especialista israelita Dr, Isac Berenblum a garantir:

“...cabe afirmar serenamente que, na atualidade, se sabe mais sobre o Câncer do que sobre qualquer outra enfermidade tão complexa.” (El Hombre contra el Cancer – trad. esp. Asher Mibashan, Buenos Aires, Prefácio, página 8).

Inúmeros pesquisadores, num sem conta de laboratórios e clínicas, buscam-lhe ansiosamente a solução, e somas astronômicas são invertidas em seu crédito, por parte dos órgãos oficiais de todas as nações.

Folhetos alarmantes e campanhas chamadas “preventivas” - que se sucedem num rítmo sistemático – fazem dele, no momento atual, o problema absorvente de todas energias, nas diversas camadas sociais, arrastadas, em verdadeira guerra de nervos, às raias do pavor coletivo.

Apesar disso – melhor diríamos: graças a isso... - continua o Câncer a ser apresentado pelos Ortodoxos como um grande enígma (que ele absolutamente já não é) e a desafiar a argúcia dos sábios, em cujas mãos trêmulas, frustradas deixa apenas isto, como conteúdo palpável: um conjunto de tecidos altamente desregrados pela proliferação anárquica de uma célula.

Eis tudo quanto, em definitivo, é aceito pela Ciência Médica. O mais são teorias, hipótese, ou meras suposições infundadas: todas extremamente controvertidas (o que, de certo modo, tem servido para derrastrear a verdadeira causa da moléstia)...

O Câncer pode originar-se em todos os tecidos, havendo, porém, maior incidência nuns do que noutros. São da pele os mais frequentes, de fácil diagnóstico e os únicos capazes de ser realmente curados pelos processos da

3 O preclaro e inesquecível Mestre Miguel Couto, em suas “Lições de Clínica Médica” (2ª ed., Rio, 1916, págs 337-8), estabeleceu a seguinte distinção nomenclatural:“Doença - Termo genérico significando qualquer desvio do estado normal.Moléstia - Conjunto de fenômenos que evoluem sob a influência da mesma causa.Afecção - Conjunto de fenômenos na dependência da mesma lesão.

Enfermidade – Desarranjo na disposição material do corpo.”E o eminente Prof. Pedro A. Pinto adverte: “Não há porque confundamos doença ou enfermidade com moléstia.” Dicionário de Termos Médicos, 6ª ed., Rio, 1954, s.v. Doença).Todavia, apesar de sábia especificação de ambos ilustres médicos e primorosos vernaculistas – e para evitar a monotonia das repetições –, em se tratando do Câncer (que, flagelo que é, reúne em si todos os quatro conceitos mencionados), aqui usaremos quase indiferentemente esses termos, que também alternam com morbo.

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Medicina Clássica atual. Queremos, com isso, referir-nos aos basocelulares, por serem quase isentos de metástases.

Entretanto, conhecemos, por exemplo, melanomas malignos extremamente agressivos que, embora possam evoluir lentamente, durante anos (oito a dez), tornam-se violentamente exacerbados pelo ato cirúrgico, acarretando a morte dos pacientes, o que aliás não impede continuem a ser “magistralmente” operados...

A metástase – segundo a doutrina firmada pela Medicina Clássica (e da qual discordamos) – consistiria na migração de células cancerosas através das correntes sanguíneas e linfáticas. Ocorre perto ou distante do neoplasma inicial, mas conserva, geralmente, as características citológicas de origem. Por exemplo: a metástase pulmonar de um Câncer de útero. Suas células mantém perfeita identidade com as uterinas.

A neoplasia cancerosa primitiva pode ser de grandes proporções e pesar quilos; ou pequena, com apenas fração do grama, o que não influi substancialmente no processo metastático, em sua ação invasora. Os tumores originários são formados por aglomerados compactos de células desregradas, como já foi dito. O mesmo se dá com as metástases. Essas últimas são produzidas pela progressão do morbo e exacerbadas pelos traumas; ou – o que ocorre comumente – pelas intervenções cirúrgicas. Devem ser consideradas, à luz dos fatos, como inicio do desfecho letal do processo canceroso.

Não é o Câncer enfermidade exclusiva da espécie humana. Tem ocorrido em grande número de animais domésticos e selvagens (de grande porte, como o elefante, e de pequeno, qual o camundongo), nas aves, peixes, batráquios etc. Existe até quem pense ser a pérola um Câncer da ostra. Também os vegetais dele são passíveis.

É a única moléstia, que saibamos, que agride os dois principais reinos da Natureza – animal e vegetal.

Sua ação patológica é sempre a mesma: destruição...

* * *

VELHICE DAS COISAS NOVAS...

O Câncer é uma doença antiquíssima.Embora as mais longínquas informações que dele possuímos acometendo

a espécie humana já pertençam a uma fase bem adiantada dos dias históricos, não seria ilícito admitir sua existência na aurora da Humanidade, naqueles

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brumosos tempos pré-históricos; senão antes, mesmo: há muitos milhares de anos.

Garrison assinalou:

“um hemangioma no osso de um dinossauro mesozóico – provavelmente o primeiro tumor registrado. Há provas evidentes da existência de tais lesões nos restos do terciário e do quaternário.” (Apud Arturo Castiglioni – História da Medicina, trad. R. Laclette – 1º vol., São Paulo, 1947, pág. 15)

Ora, se as neoplasias – embora do tipo benigno – já existiam na Pré-história, não nos parece absurdo supor que também as houvesse malignas.

O que é certo, porém, é que papiros do velho Egito – que distam de nós quatro milênios – falam nessa enfermidade e no seu tratamento (tal como hoje, em fase já adiantada): extirpação do tumor e cauterização com metal candente; sem dúvida o bronze, pois o ferro (que apenas surgiria ali pelo ano de 1600 a.c.) ainda não era conhecido. Múmias daquela época, necropsiadas, ou radiografadas, apresentam estigmas de sarcoma ósseo.

Também crônicas assírias, persas e hindus fazem referências a neoplasias malignas.

E na Helade imortal, há mais de 2300 anos, Hipócrates atribuía caráter distinto a essa doença, embora reconhecendo tipos clínicos diversos da mesma, que descreveu e para os quais apontou procedimentos terapêuticos bastante razoáveis para o seu tempo, se levarmos em conta que até hoje – apesar dos inúmeros recursos que a Cancerologia oficializada alardeia possuir – seus figurões continuam subindo num verdadeiro “pau-de-sebo”, em busca da almejada cura.

Eis a lição do iluminado Grego:

“Existem dois tipos de tumores: o primeiro se desenvolve e cresce, permanecendo, porém, sempre localizado onde esteve no início; o segundo dissemina-se pelo organismo. O primeiro é curável.”

Há que meditar, entretanto, nas judiciosas palavras do Dr. George Gricoureff, em sua contribuição apresentada ao 6º Congresso Internacional da especialidade (reunido em São Paulo, 1954):

“Na tentativa de determinar o limite entre tumor benigno e maligno, o estudo

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de certos tumores conduz à conclusão de que essa linha divisória, necessária na prática, é artificial. A malignidade é uma noção puramente prática e relativa, que não corresponde a um critério biológico absoluto.”

A Cancerologia hodierna tampouco alterou o prognóstico. Essa neoformação maligna – o Câncer – prolifera desordenadamente e não mais se detém. Noutro lugar, preceituava o Pai da Medicina:

“O Câncer oculto não deve ser tocado, porque mata mais depressa.”

E Cornélio Celso, da Roma antiga, também advertia, no 1º século da nossa era:

“O Câncer da mama só deve ser operado no início; depois apressa a morte.”

(E embora não desconheçamos que esse autor preconizava a cauterização – por ferro em brasa – no tratamento das mordeduras por cães danados, não nos consta que adotasse o mesmo procedimento no combate às neoplasias malignas).

…...................................................................................................................…...................................................................................................................

Estavam perfeitamente certos os Mestres daquele distante passado.Até mesmo ao assinalarem o que a Medicina atual chama de trauma, cuja

ação manifesta na aceleração do rítmo dos processos cancerosos está cabalmente comprovada, embora seu mecanismo fisiológico ainda não esteja suficientemente explicado. Há os físicos, fisiológicos, morais, psíquicos, etc., todos eles nocivos a um grande número de afecções, mas de maior intensidade no Câncer.

Um Congresso Mundial de especialistas, reunido em São Paulo (1954) firmou a premissa de que uma biópsia mal conduzida pode determinar a exacerbação da neoplasia maligna. Essa conclusão, ora oficializada, fora de há muito provada e aceita pela Medicina moderna. (A biópsia é pequena intervenção cirúrgica para a retirada de fragmento de tecido – alguns milímetros – destinado a exame anatomo-patológico.

Verificamos em seis casos de nossa clínica, agravamento espetacular de cânceres, determinado pela extração de dentes em número superior a três,

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simultaneamente.Se choques tão pequenos, insignificantes mesmo, são responsáveis pelo

agravamento, às vezes catastrófico, dos neoplasmas, que dizer dos efeitos das grandes intervenções cirúrgicas, sempre longas e mutiladoras?

As estatísticas honestas poderão responder.Mas o que ressalta inegável é que bem restrita é a contribuição da

Medicina atual, nesse setor. Principalmente a colaboração da chamada “Cancerologia Clássica”, de procedimento – conforme acabamos de ver – já condenado desde a fase arcaica...

* * *

O SEXO E O CÂNCER

Estudada a evolução dessa doença e entrevista sua transmissibilidade, passemos à relação existente entre a enfermidade e o sexo, notando, de início, dois aspectos a considerar: o biológico e o demográfico.

Esse último é, por sinal, decorrente não apenas de uma condição tecidual mais delicada, senão também de variações geográficas no aumento das populações, que decidem sobre o gênero a ser mais atingido pelo flagelo; lugares em que predomina o elemento feminino (subentenda-se: depois de certa idade) apresentam maior número de cancerosas do que de cancerosos, e vice-versa.

Note-se, porém, que nos referimos à incidência eletiva de uma enfermidade cujos domínios tem-se dilatado assustadoramente nos últimos tempos; e não ao seu índice de mortalidade, que também aumentou em proporção terrivelmente soberba! Essa é apenas uma consequência da inoperância da chamada Cancerologia Clássica, que a despeito de toda fanfarronice com que procura exibir-se ao mundo, tem-se mostrado incapaz de debelar o mal...

Das alternâncias locais no predomínio do sexo (a que não são estranhas as contingências bélicas, que de tempos em tempos dizimam a população masculina) resulta a mobilidade estatística. No início deste século, o Câncer era mais frequente nos homens; hoje o é nas mulheres, entre as quais a enfermidade se manifesta em dobro.

Quanto ao argumento biológico, propriamente dito, tem-se observado ultimamente que nas filhas de Eva, os pontos mais atingidos são a pele, os seios, e o aparelho gênito-urinário; ao passo que no sexo “feio e fraco” as vias

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preferenciais de invasão maciça costumam ser a boca e os órgãos respiratórios.Essa estranha diferença de reações, entre seres da mesma espécie, nos

convida a seguinte ponderação.Tornou-se pacífico em Cancerologia que os traumas – ainda que de uma

simples biópsia – podem, não propriamente “causar” o Câncer (que – como vimos há pouco – não tem origem física), mas favorecer as condições de exacerbamento da moléstia.

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A IDADE E O CÂNCER

Há, incontestavelmente, em todo o mundo, aumento potencial da incidência das moléstias cancerosas; a tal ponto que essa terrível enfermidade é tida como o Mal do Século, pois nos anteriores era menos frequente.

Dois argumentos são invocados para explicá-lo. 1) Erros possíveis no passado, quando não se dispunha dos recursos para diagnósticos exatos – como dizem atualmente acontecer – isto é, o Câncer seria confundido com outras moléstias, o que levaria a falsas estimativas. 2) Que dado o aumento de longevidade que ora se verifica, e sendo o Câncer doença, via de regra, da idade avançada, a morte sobreviria antes de atingida a época propícia à eclosão do morbo. Ambas hipóteses não satisfazem.

A primeira porque, se de início as moléstias cancerosas podem ser confundidas com outras – no final apresentam-se perfeitamente delineadas – sua sintomatologia é gritante, não permitindo dúvidas, salvo raríssimas exceções. Quanto à segunda – convém lembrar o que disse Pawlowski:

“Nos selvagens da Austrália, aos 42 anos, verificaram-se as mesmas modificações orgânicas que no europeu de 60 a 62 anos”.

Bashford é categórico, quando afirma que os tumores são biologicamente função da senectude, mas, essa não está em relação direta com o número de anos vividos – (citação do Prof. João Andrea: Câncer, flagelo da Humanidade, pág. 36).

E não faz muito tempo – lemos em publicação idônea desta Capital – houve um caso, ímpar na Medicina, de certo menino inglês (cujo nome agora não nos ocorre) que morrera aos sete anos de idade, com todos os sinais de envelhecimento precoce: pele enrugada, cabelos totalmente brancos, e até

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redução da estatura!Verdadeiramente, pois, a idade é fator indicativo dos anos vividos, e não

do consumo orgânico. Verifica-se facilmente que há indivíduos de 40 anos que apresentam maiores desgastes fisiológicos que outros de 60 e mais. A incidência do Câncer deve estar ligada à economia orgânica, e não à contagem numérica do período vital.

Há contrastes marcantes em sua evolução: de zero aos quarenta anos, a malignidade é rápida e avassaladora, sendo na primeira e segunda infância quase sempre letal; e muito grave até os 35 ou 40 anos; depois parece que se atenua.

Tal anomalia, porém, pode ser explicada pela falta de poder defensivo. O indivíduo tem imunidades totais ou parciais para determinados agentes infecciosos, como também possui receptividade maior ou menor para outros agentes.

Desse assunto trataremos no capítulo seguinte, quando focalizarmos as teorias (Infecciosa e Genética) propostas para explicar a etiologia do Câncer.

* * *

OS CHAMADOS ÓRGÃOS ELETIVOS DO CÂNCER

Assim como a incidência do Câncer relativamente ao sexo é passível de variar – e o tem feito – com o tempo e as condições sociais, o mesmo pode acontecer quanto aos chamados órgãos eletivos dessa moléstia. E estamos certo, mesmo, de que faceta outra não existe mais discutível do que essa, no campo das neoplasias malignas.

Temos consultado inúmeras estatísticas, e chegamos à conclusão de que não existe essa suposta preferência – padrão por tal ou qual órgão. Tudo depende das circunstâncias predisponentes à enfermidade.

Entretanto – e mercê desses fatores extrínsecos a lógica nos convida a admitir que, como dissemos, nas mulheres, a parte do organismo mais visada tem sido o aparelho genital (devido à sua extrema sensibilidade aos estímulos externos), enquanto que no homem o tem sido as vias respiratórias e digestivas.

Daí, porém, não se pode inferir nenhuma conclusão que nos habilite a falar dogmaticamente em órgãos preferenciais do Câncer.

* * *

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O CÂNCER E A HEREDITARIEDADE

Costumam os serviços oficiais do Câncer assoalhar, sumariamente, que esse terrível morbo “não é hereditário”, como também o fazem, divulgando que ele “não é contagioso”; afirmação essa última francamente gratuita, como veremos no IIIº capítulo (que versa especialmente sobre o assunto). Neste pequeno tópico, mostraremos simplesmente a relação que existe entre essa cruel enfermidade e a herança.

De modo geral, é lícito dizer que três são as maneiras pelas quais se pode contrair uma doença: pela herança, quando se verifica a transmissão de características inatas; pela aquisição, que vai da forma simples do contágio até o caso mais complexo de introdução do agente responsável, quando passa de pais a filhos; e finalmente por afinidade, que é o maior ou menor grau de receptividade coletiva ao mesmo elemento causal (nesse caso, ou a enfermidade é adquirida, ou a predisposição é herdada). O Câncer parece enquadrar-se nesse terceiro grupo.

É bem verdade que a chamada corrente “clássica” tem-se esforçado por provar que essa doença não é hereditária; mas o faz perdendo-se num tortuoso cipoal de contradições que traz a questão inibida num desconcertante círculo vicioso.

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CAPÍTULO II

PRINCIPAIS TEORIAS ETIOLÓGICAS

Qual a causa do Câncer? - Teoria embrionária. - Teorias irritativas. - Alimentos considerados cancerígenos. - O câncer e os hormônios sexuais. - Os antihormônios – Medicina deformante e aniquiladora. - O oxigênio e o Câncer. - Pretensas causas físicas do Câncer. - Teoria infecciosa. - A obra de Pasteur. - Os agentes infecciosos na etiologia do Câncer. - Micróbios, vírus, e bactérios. - Viro e Câncer. - Esquecida uma valiosa contribuição brasileira. - Teoria genética. - Teoria humoral-virúlica.

QUAL A CAUSA DO CÂNCER?

Até bem pouco tempo, ainda se ignorava a causa do Câncer. Cremos poder dizer assim – no pretérito – porque compartilhamos sinceramente das esperanças que cercam aos trabalhos de um ilustre cientista patrício, obra de transcendental importância, de que falaremos no antepenúltimo e penúltimo tópicos deste Capítulo.

Entrementes, procuraremos expor – embora sucintamente – as principais teorias por que se tem procurado explicar a etiologia desse terrível mal.

Dentre as muitas que foram propostas, sobressaem seis principais: a embrionária, a bioquímica, a biofísica, a dos agentes infecciosos, a genética e a humoral. A segunda e a terceira podem grupar-se sob o título geral de Teorias Irritativas, dada sua tese comum. A última, por se cruzar, em parte com a infecciosa, preferimos chamar humoral-virúlica.

* * *

TEORIA EMBRIONÁRIA

Foi apresentada em 1877 por Cohnheim e é geralmente denominada Teoria das Inclusões Fetais. Sua explicação lemos acessível em João Andrea:

“Os tecidos e os órgãos tem suas origens nos três folhetos embrionários: ectodermo, endodermo e, mais tarde, mesodermo. Na formação e evolução desses tecidos e órgãos, comumente há uma produção excessiva de elementos celulares, além do necessário ao esboço e à constituição de uma determinada

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região orgânica. As células, assim, produzidas em demasia, ficam sem função imediata, quiescentes, em vida latente. Dormem um longo sono, às vezes, até o fim da vida de todo o conjunto do organismo; mas, outras vezes, sob a ação de uma causa qualquer inflamatória ou traumática, transformam-se num verdadeiro pesadelo, desde que guardam, também, em latência, todo o poder embrionário de multiplicação. Os fatores que são capazes de desencadear a divisão desordenada dos elementos celulares estão, para o Autor da teoria, sob a ação coincidente de uma diminuição da resistência fisiológica local ou tecidual.

Os restos embrionários, todavia, quase sempre evolvem para um processo neoplásico benigno, quando adquirem a propriedade de multiplicação.” (Ob. cit., pág. 199)

Por outro lado – dizem Regato e Ackerman (Câncer – México, 1951):

“A teoria não dá nenhuma luz acerca da natureza das transformações de tais células em neoplásicas.” (Pág. 39)

Esse ponto de vista – que expusemos resumido, apenas com intenção informativa – já está, de longa data, superado.

* * *

TEORIAS IRRITATIVAS

As teses bioquímica e biofísica baseiam-se nas irritações crônicas provocadas por agentes químicos e físicos na estrutura celular. Seus adeptos vem lutando encarniçadamente para comprová-la à luz dos fatos, e ela tem uma história que vem de longe, cujo epílogo ainda não foi escrito, e talvez nem o seja, por já desnecessário.

Em 1775 – exatamente a cento-e-oitenta-e-três anos – Percival Pott observou e focalizou a frequencia do Câncer de escrotos entre os limpadores de chaminés, profissão muito comum na época, quando o aquecimento no inverno era feito pelas lareiras, que queimavam carvão ou lenha. A fumaça expelida acumulava fuligem, que devia ser periodicamente removida. Sendo as chaminés geralmente estreitas, para limpá-las era preciso penetrar no seu interior; daí tal trabalho ser confiado a crianças, pela necessidade de ter o limpador pequeno porte.

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Pott ligou a incidência do Câncer nesses profissionais a irritações permanentes, demoradas, produzidas, como dissemos, pela fuligem; não devendo ser também estranha ao caso a falta de cuidados higiênicos, pricipalmente banhos com água e sabão abundantes, pouco usados naquele tempo.

Provavelmente foi ai que se baseou a teoria irritativa para a etiologia dos cânceres, proposta por Virchow, incontestavelmente o estruturador da Histopatologia como importante setor da Ciência Médica, nos meados do século passado4.

Com o advento de Pasteur – da Microbiologia, portanto – passou a tese de Virchow a plano secundário.

A do agente infeccioso tomou-lhe definitivamente o lugar, e ainda hoje é perfilhada por grande número de cientistas, conforme veremos adiante.

Mas tornemos à concepção irritativa que ainda arrebatava no século passado alguns pesquisadores de valor, e na qual – paradoxalmente – se estrutura a Cancerologia Clássica...

Foi assim que Volkman (1875) apontou como agentes cancerígenos o alcatrão e a parafina; Hesse (-79) viu uma neoplasia maligna específica no pulmão dos mineiros; Rehn (-95) responsabilizou a anilina etc etc.

Em 1915, dois médicos japoneses, Yamajiwa e Ytchikawa, conseguiram provocar o Câncer em orelhas de coelhos, pincelando-as com alcatrão, experiência que teve enorme repercussão no mundo médico, quando confirmada por ensaios semelhantes, em outros países. Anteriormente, empregando-se o raio-X, já havia sido conseguida a neoplasia artificial – pelos cientistas franceses Marie Clunet e Raulot-Lepointe, que publicaram suas observações em 1910.

Todavia, a descoberta dos pesquisadores nipônicos foi mais objetiva, com campo de ação muito mais vasto para deduções, dado ser o alcatrão substância química comum e muito empregada em diversas indústrias, podendo, portanto, explicar a etiologia dos cânceres por irritação da intimidade celular por agentes químicos (o que significaria ser o Câncer pura e simplesmente um tumor local); portanto a terapêutica indicada era a sua destruição. Entretanto, como de há muito se sabia que tal exérese não curava o morbo, por ele se reproduzir tempos depois num ou em muitos locais do organismo, foi aventada a hipótese de isso ocorrer porque a ação destruidora não atingira todas as células desregradas e as que escaparam terem ido, arrastadas pelas correntes circulatórias ou linfáticas,

4 Nota do divulgador: isto é, século XIX, pois este livro foi escrito no século XX.

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fixar-se noutros pontos do organismo, formando, assim, novas tumorações (a que se deu o nome de metástases). Invocaram, para justificar essa suposição, o fato de as células dos tumores subsequentes apresentarem semelhanças morfológicas com as do neoplasma inicial.

Generalizou-se pelo mundo médico ocidental a teoria irritativa e a terapêutica de destruição tumoral ampliou-se paralelamente; a Cirurgia integral, que destruisse não somente o tumor, mas também os tecidos circunvizinhos; a princípio pelo termocautério, depois pela fulguração elétrica (bisturi elétrico) e radiações nucleares (raios-X, Rádio etc.), porém, os insucessos continuaram ininteruptos e as pesquisas para os explicar também prosseguiram, estruturadas nas mesmas premissas.

Como nem todos os tipos de alcatrão geravam a neoplasia, foi analisada sua estrutura química e posteriormente dele foram isolados hidrocarbonetos que produziram o Câncer artificial, sendo os mais importantes o dibenzotraceno e o benzopireno (trabalhos de Kennaway e Cook, na Inglaterra).

É na teoria da irritação celular que estrutura sua terapêutica a Medicina Clássica do Câncer – que postula – A Terapêutica do Câncer é a Cirurgia Radical, complementada pelas radiações nucleares.

As pesquisas da química foram além: ao determinarem-se as fórmulas desses hidrocarbonetos, verificou-se serem elas estruturalmente semelhantes às de algumas substâncias orgânicas de elevada função fisiológica, como a Colesterina, ácidos biliares, hormônios (masculino e feminino) etc. Porcurou-se então, por analogia, explicar a causa do Câncer interno pela ação dessas substâncias biológicas, originando-se, assim, os predisponentes ao Câncer pela ação de tais elementos. Atualmente, são apontadas centenas de substâncias com esse terrível poder.

Por exemplo: o professor argentino Angel Roffo (que esteve no Brasil em 1945), cientista de grande merecimento, propôs a tese da ação cancerígena da Colesterina, e para prová-la, fez exaustivas pesquisas no terreno objetivo, chegando a conclusões sem dúvida interessantes.

A Colesterina (ou Colesterol) é parte integrante de todos os tecidos, de todos os líquidos e humores orgânicos: no protoplasma da célula viva tem papel essencial, relacionado com sua nutrição e permeabilidade.

Advém, para a economia orgânica, de duas fontes: exógena e endógena. No primeiro caso, provém dos alimentos gordos; no segundo, ela é formada por síntese, no próprio organismo.

O notável pesquisador portenho fez suas provas experimentais em ratos. Há, desde logo, que fazer uma advertência: os ratos são roedores; sua

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alimentação predominante é de origem vegetal; acidentalmente, apenas, comem gordura. A distância biológica entre esses pequenos animais e o homem é substancial, mesmo extrema. Portanto, as conclusões de Roffo merecem severas reservas.

Ele procura justificar sua tese – em algumas formas de Câncer humano – pelo excesso do índice de Colesterina no organismo, causado pelo uso imoderado de substâncias gordas na alimentação. Noutras palavras – atribui às gorduras ação predisponente à neoplasia humana, doutrina essa que, a seguir procuraremos enquadrar nas devidas proporções.

* * *

ALIMENTOS CONSIDERADOS CANCERÍGENOS

É ponto alto na opinião de inúmeros observadores a ação alimentar na predisponência ao Câncer, embora a dividam e subdividam, quanto à natureza dos alimentos.

As carnes e seus derivados são desde logo arguidos; defendendo essa opinião se enfileiram nomes de incontestavel valor.

Diz o Prof. João Andréa, em seu trabalho já por nós citado:

“Desde os trabalhos de Lebanc, em 1854 e os de Trasbot, citados por Ménétrier, julga-se o regime carnívoro como o responsável, uma vez que são os indivíduos desse tipo alimentar os mais atingidos pelas tumorações malignas.

Posteriormente, Verneuil, Bertillon e Roux também ligaram ao uso da carne um poder cancerígeno intenso, mormente da carne de porco, mas não se devem esquecer dois fatores essenciais:

a) O número de indivíduos que se alimentam de carne é muitíssimo maior do que o dos indivíduos estritamente vegetarianos donde a maior frequência do Câncer entre os primeiros do que entre os segundos.

b) O consumo, na Alemanha, de carne de porco era muito grande antes da ascenção de Hitler ao poder (quereis manteiga ou quereis canhões?), uso de salsichas, presuntos, etc., e a média de cancerosos entretanto, não se mostrara maior no período anterior ou posterior ao predomínio dos nazistas.” (Ps 68-9).

Tem razão o professor baïano: não é possível atribuir essencialmente à

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alimentação carnívora a predisposição ao Câncer, pois os vegetarianos5 também a ele estão sujeitos.

Hendley, citado pelo mesmo Autor, na Índia, aponta em 102 casos operados de Câncer, 41 em indivíduos de regime alimentar misto – e 61 em indivíduos estritamente vegetalívoros.

Outros pesquisadores indicam com igual ação o álcool, o chá, o café, e ainda o sal (esse último, sob o argumento de que nos selvagens, que não o empregam como tempero, não tem sido constatada a incidência de Câncer. É o pão branco branco também acoimado por alguns de ter a terrível ação, visto ser rico em glute (ácido glutânico) e pobre em amido e sais minerais, etc, etc.

Dado que alguém quisesse abster-se, heroicamente, de todos alimentos apontados pelas diversas correntes como causadores do Câncer, morreria provavelmente de inanição, por não ter de que se nutrir.

Mencionaremos a seguir os que tem sido indicados como possuindo ação cancerígena, e os nomes dos autores que assim pensam:

Carne e seus derivados: Roger William, Bulkley, Leriche, Lecoq, Haubold.

Arroz: Carlos Mayo, S. Young.Vegetais em geral: Hendley, Behla, Metchnikoff, Kojeouckoff,Moluscos: Bosc, Lemière.Sal (comum): Braithwaite, Van der Corput, Zierhelle.Pão de trigo branco: Carracido, Packard.Leite: Rokhline.Ovos: Roffo.Aveia: Stahr, Secher.Gorduras: Wacker, Jaffé, Eliassow, Maisin, François e, sobretudo, Roffo.A subalimentação é também apontada por Suguira e Benedict, embora já

tenha sido preconizada anteriormente como coadjuvante no tratamento do Câncer.

A superalimentação também o é: Leon Hébert.Ao escrevermos estas linha, cai-nos sob os olhos a notícia de que um

médico chinês que vive nos Estados Unidos – Dr. Ximan Chang, professor de Harvard – acaba de responsabilizar pelo Câncer humano a ausência de glicose, após experiências em que utilizou dois tipos de células vivas como terreno de

5 Mantemos aqui a diferença estabelecida pelo renomado dietólogo francês Dr. Paul Carton, entre vegetalismo (do port. vegetal + ismo, alimentação em que se usam exclusivamente vegetais) e vegetarismo (do lat. vegetu: “forte”, “vigoroso” + sufixo, regime que compreende todos os alimentos sustanciosos, principalmente carne, ovo, leite e derivados etc.).

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cultura: um da membrana mucosa do olho e outro de Câncer uterino de u'a mulher que morrera havia muito tempo.

“Algumas das células assim conservadas acrescenta o comunicado – só reviveram com a ausência total de glicose e adquiriram novas características, que lhe permitem converter em glicose as substâncias com que sejam alimentadas. Observou o cientista que, depois de várias semanas, as células privadas de glicose, além de sobreviverem, multiplicavam-se com maior frequência.”

Entrechocam-se, como se vê, as opiniões das diversas correntes científicas, embora todas “oficialmente” baseadas em observações e experiências concretas.

Franco regime do “pode ser; pode não ser”, que deixa o infeliz canceroso preso por ter cão, preso por não o ter...

Os dois seguintes exemplos ilustram essa disparidade. Roffo atribui a grande ocorrência do Câncer entre Bascos e Irlandeses à riqueza de lipóides e à colesterina dos ovos, que predominam em sua alimentação, pelo que preconiza rigorosa restrição de gorduras.

Entretanto, estatísticas realizadas na Groenlândia, onde a alimentação é quase exclusivamente de carne de baleia e foca (ambas altamente ricas em gorduras) demonstram número reduzido de cancerosos.

O Prof. João Andréa preceitua:

“A ação cancerígena mais importante dos alimentos deve ser estudada nas modificações metabólicas, porventura ocorridas, quer na fase assimiladora ou anabólica, quer na fase dissimiladora ou catabólica”. (Ob. cit., página 67).

Cremos, nós outros, estar na bioquímica celular, não a causa do Câncer, mas a ação estimuladora de sua evolução e intimamente ligada aos fenômenos de fermentações internas, a que se refere Pasteur.

Concepção essa que provavelmente norteou os estudos sobre oxidação celular do fisiologista alemão prof. Otto Warburg, e do sábio brasileiro Osório de Almeida, tema esse a que mais tarde volveremos.

Não acreditamos que qualquer alimento seja – como dissemos – fator predisponente à formação do Câncer. Parece evidente, porém, que determinadas substâncias (de fácil fermentação), a alimentação desordenada, etc., contribuem para a exacerbação da moléstia.

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* * *

O CÂNCER E OS HORMÔNIOS SEXUAIS

Baseados no mesmo princípio da semelhança de estruturas químicas entre determinadas substâncias orgânicas e as dos hidrocarbonetos agentes do Câncer cultivado em roedores (ratos, coelhos, etc.), os hormônios sexuais, tal como acontece com a colesterina, de que já tratamos, são também imputados como possíveis geradores de cânceres na genitália do homem e da mulher, sendo que a neoplasia das mamas da mulher, também lhes era de certo modo atribuída. Os hormônios masculinos são secretados pelos testículos; os femininos pelos ovários, sendo ambos responsáveis pela reprodução da espécie.

Tal hipótese é discutível, dado ser o Câncer geralmente moléstia peculiar às idades avançadas (depois de 45 anos), quando a função reprodutora já está em declínio, o que diminui sensivelmente a quantidade desses hormônios.

Por outro lado, não deve ser esquecido que a ação das chamadas substâncias cancerígenas é irritativa: portanto, maior a quantidade de hormônios, maior seria seu poder excitante. É estranho que seja exatamente na fase da descensão gradativa, ou após sua completa anulação, que venham a se tornar maléficos ao organismo. A ocorrência do Câncer na mulher (está perfeitamente provado pelas estatísticas) é maior após a menopause, isto é, quando se anula a função ovariana e consequentemente, sua capacidade genital.

No homem, a fase viril geralmente vai além dos 60 anos e a incidência da moléstia principia muito tarde, sendo “oficialmente” considerada 50% (cinquenta por cento) menos frequente que na mulher.

Ora, se levarmos em conta que – conforme acontece entre todos os representantes superiores da escala zoológica – o macho tem sempre uma atividade sexual maior que a da fêmea, o que lhe assegura, a ele, maior secreção hormossexual, chegaremos a um impasse: não podem os hormônios desse tipo ser responsabilizados pela produção do Câncer humano (que – repetimos – segundo as publicações “clássicas”, atinge em dobro as mulheres, que os secretam menos intensamente)...

Já tentaram os Ortodoxos explicar essa discordância, atribuindo-a a modificação da química hormonal no período crítico, ou próximo dele; mas as pesquisas realizadas desautorizam tal hipótese. Por outro lado, a mulher estéril é, comprovadamente, mais sujeita ao Câncer; e a esterilidade está intimamente ligada à deficiência hormonial, desde que não se prenda a defeitos de natureza

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anatômica.

* * *

OS ANTIHORMÔNIOS

Já que falamos em hormônios, cremos cabíbvel aqui – a título de ilustração – uma pequena referência aos antihormônios, que se sabe – desde 1935, com Tales Martins – serem reações do tipo unitário, contra as proteinas que acompanham os extratos, arrastando secundariamente os hormônios.

* * *

MEDICINA DEFORMANTE E ANIQUILADORA

Já vimos que Roffo, responsabilizando a colesterina pelo Câncer humano, pede severa dieta de gorduras.

Mas os partidários da ação cancerígena dos hormônios sexuais exigem muito mais que um cauteloso regime dietético: perpetram a eliminação total dos ditos hormônios, criando, para tal, uma “especialíssima” terapêutica que começa – como é preceitual – pela fase cirúrgica e termina na humoral, destinando-a ao tratamento de neoplasmas do aparelho gênito-urinário dos dois sexos (e na mulher também, ao das mamas). Consiste o singular tratamento na ablação das glândulas sexuais (castração: orquiectomia no homem, coforectomia na mulher): e em casos de metástases, excisão das glândulas correlacionadas, (suprarrenais e hipófise) dado poderem elas também secretar homônios sexuais!

Os seguintes exemplos poderão esclarecer melhor. Comecemos pelo Câncer da próstata.

A conduta inicial é a prostatectomia e, em caso de metástase, orquiectomia, seguida da extração das glândulas suprarrenais e hipófise!

Quanto ao Câncer de seio, a “salvação clássica” não é nada menos que a ablação radical da mama doente, bem como da rede linfática e ganglionar circunvizinha.

Havendo – ou sobrevindo – metástase, ablação dos ovários ou esterilização radioterápica.

Como coadjuvantes de tratamento, para ambos os sexos: radioterapia e hormoterapia cruzada (que consiste na aplicação de hormônios femininos para o

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homem e masculinos para a mulher), o que constitui verdadeiro paradoxo terapêutico, porque de início visa, por sucessivas mutilações a eliminar as fontes secretoras de hormônios sexuais, para depois utilizar-se deles, como coadjuvantes. Eis como procede a corrente Ortodoxa...

Afinal, tem a Humanidade o direito de perguntar a esses “magos” da terapia século-XX: Quando os hormônios são cancerígenos? Quando são produzidos pelas glândulas, ou quando são introduzidos no paciente pelos “precoces” facultativos “clássicos”, como um éternel souvenir... do sexo oposto?

E cumpre não esquecer que semelhantes trocas tem sobre o organismo efeitos marcantes e palpáveis.

No homem castrado, o hormônio feminino acentua os sintomas característicos do eunucoidismo, como afinamento da voz, queda de pelos, diminuição da vontade e do poder mental, transformando-o em “ser neutro” e sem capacidade reprodutora6, exornado por atitudes feminis, em espaço bem curto de tempo.

Na mulher, os fenômenos são diametralmente opostos: masculiniza-se, a voz engrossa, tornando-se roufenha, aparecem pelos e até barba, obliterando-se a feminilidade. Ocorre, sempre, também um singular fenômeno: exacerbação do estro sexual, que vai até o delírio erótico.

Entre muitas senhora tratadas por esse processo uma, que tivemos ocasião de assistir (Câncer do seio, 65 anos, viúva) nos declarou:

“Quando tomei hormônios masculinos, pensei que fosse enlouquecer, pelo estado de superexcitação sexual em que vivia. Vezes houve em que tive ímpetos de agredir homens desconhecidos”!

Certamente se justificaria o emprego dessa terapêutica heróica se ela oferecesse vantagens concretas. Mas as probabilidades de sobrevida são estimadas em 6 (seis) meses apenas, e os doentes que fazem extirpação das glândulas suprarrenais ficam obrigados ao uso permanente e indefinido de Cortisona, ou de seus derivados.

Certo relatório do “Sloan-Kettering”, um dos maiores centros de cultura dos Estados Unidos e talvez do mundo, há tempos, informava ter a hormoterapia cruzada manifestação terapêutica sobre o adenoma da próstata; mas nenhuma sobre o Câncer desse órgão. E mais: que na mulher a

6 Entretanto, a Medicina moderna tem registrado interessantes casos em contrário, que capitulou sob a epígrafe geral de eunucoidismo fértil

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hormoterapia é paliativa, paralisando temporariamente os cânceres da mama (de três a seis meses), e parece atenuar as dores e retardar a descalcificação das metástases ósseas.

Convém ressalvar que as glândulas sexuais masculinas secretam também, normalmente, hormônios femininos, e vice-versa.

Seriam altamente demagógicos e ortodoxos comentários, se não devidamente testados no campo clínico, por observações concretas e insofismáveis, razão por que mencionaremos dois, dentre muitos outros casos do nosso arquivo, que justificam cabalmente o ponto de vista por nós defendido.

1º caso: Homem de 46 anos (engenheiro construtor). Diagnóstico: Câncer da próstata, confirmado pela biópsia.

Terapêutica empregada: prostatectomia.Primeira ocorrência – metástase do ilíaco. Nova biopsia, radioterapia.Segunda ocorrência – dores lancinantes ininterruptas.Terceira ocorrência – viagem do paciente aos Estados Unidos, onde foi

desde logo, orquiectomizado (castrado) havendo exacerbação das dores: foi-lhe feita secção dos nervos intercostais.

Quarta ocorrência – volta ao Rio de Janeiro, e também às dores.Quinta ocorrência – extirpação incompleta das glândulas suprarrenais e

hormoterapia (feminina) pelo Stibestrol (hormônio sexual sintético) e Cortisona (hormônio da córtice suprarrenal).

Vimos esse doente, já no final de seu calvário, uma única vez, quando usava uma ampola de entorpecente (Pantopom-morfina) por hora. Faleceu dias depois de nossa visita.

2º caso: Homem de 61 anos (magistrado). Diagnóstico: Câncer da próstata (biópsia da próstata e, logo a seguir, do ilíaco, onde se constatou metástase).

Tratamento: orquiectomia, seguida de hormoterapia (feminina), que provocou desde o início forte reação alérgica (urticária). Emagrecimento alarmante. Generalização do processo neoplásico maligno. Operação em fevereiro; falecimento em maio. Trauma moral e psíquico tremendo, pois, apesar da idade, era comprovadamente viril. Acresce que a vítima era também diabética, embora o índice glicêmico (açúcar no sangue) se aproximasse do normal, quando se deu a intervenção cirúrgica.

Ambos pacientes foram operados pelo mesmo urologista.Disse-nos um dos assistentes desse cirurgião ser a estatística do seu ilustre

Chefe, referente ao processo cirúrgico-hormonial para os cânceres da próstata,

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muito elevada (perto de seiscentos casos, muitos dos quais com mais de seis anos de sobrevida), informação essa que se choca frontalmente com o comunicado do “Memorial Hospital”, já referido, e com o depoimento de grandes tratadistas (inclusive Regato e Ackerman), o que leva a crer que pelo menos um dos maiores centros de cultura mundial terá de se curvar ante a “clínica privada” desse cirurgião patrício.

Sem comentários!...

* * *

O OXIGÊNIO E O CÂNCER

Ao iniciarmos este tópico sobre as relações entre o oxigênio e o Câncer, apraz-nos ceder a palavra ao Prof. Ernest Ayre, Diretor do Instituto de Câncer, de Miami, (E.U.A.), quando de sua visita ao Brasil, em 1956.

O renomado cientista, em declaração à imprensa, focalizou tema sumamente interessante, ao dizer que “já se tem um ponto de partida para combater o Câncer”, e salientou estar definitivamente comprovado por pesquisadores americanos que as células normais, em meio carente de oxigênio, se transformam em cancerosas; portanto,

“que o oxigênio será, certamente, o ponto central de processos a serem descobertos para a cura do Câncer, em qualquer estágio em que a doença se apresente”.

Reporta-se, provavelmente, o Professor Ayre às experiências realizadas no Instituto Charles-Huggins, de Chicago, as quais nos referiremos pouco adiante.

Não é nova, também, a premissa que a ciência americana acaba de aprofundar. Está intimamente ligada à centenária teoria celular, sobre a qual pontificaram luminares do passado.

Em 1839, Schwann enunciou-a. Em -58, dizia Leydig:

“Cada célula à sua célula”,

o que – mutatis mutandis – foi repetido por Virchow, considerado o Pai da Anatomopatologia.

François Magendie, professor do grande Claude Bernard, afirmava: “os fenômenos patológicos são os fisiológicos modificados”. E seu ilustre Discípulo

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exarava:

“É somente a célula que vive; o resto não é senão acessório.”

Brounhial postulava:

“O estudo da respiração deveria preceder e dominar a toda Fisiologia, toda Patologia e toda Higiene, pois é ela o princípio movente da vida.”

Pasteur ensinava:

“As células cancerosas, mantidas num meio pobre de oxigênio, se reproduzem em multiplicações sucessivas, chegando a decompor o protoplasma, para dele retirar o oxigênio de sua constituição. As células cancerosas se comportam como um fermento, e não como células normais.”

São do Prof. Otto Warburg, diretor do Instituto de Fisiologia Celular Maxplanck, de Berlim (prêmio Nobel em 1931) as seguintes conclusões:

“Qualquer interferência no processo respiratório no período de desenvolvimento celular constitui, do ponto-de-vista de fisiologia do metabolismo, a causa dos tumores. Se a respiração de uma célula em crescimento foi perturbada, a célula morre. Se não morrer, o resultado será um tumor. Isso não é teoria, mas um sumário compreensível da reunião de todas as observações postas ao nosso alcance, até o presente”.

Segundo ainda Warburg,

“uma vez estabelecida a perturbação respiratória, a anomalia seria hereditariamente transmitida a todas as gerações de células sucessivas”.

O injustiçado Prof. Raoul Estripeant (da Escola de Antropologia de Paris e da Escola Superior de Antropo-biologia) também afirma:

“A eclosão e a evolução do Câncer são favorecidas pela carência de oxigênio no processo metabólico celular”.

Alinhamos essas opiniões altamente valiosas, oriundas de grandes

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expoentes da Ciência, para reforçar o alvissareiro depoimento que o Prof. Ayre trouxe, há dois anos, referindo-se certamente a um fato de transcendental importância, ocorrido há pouco em seu País.

É que, até então, não fora possível conseguir, em cultura artificial de tecido celular, transformar em cancerosas, as células normais. Pois isso está hoje definitiva e insofismavelmente comprovado, graças aos trabalhos dos cientistas e pesquisadores Henry Gladblat e Gladys Cameron, do Instituto Charles Huggins, de Chicago, que o fizeram pela carência do oxigênio, e mais: enxertando tecidos cancerosos em animais obtiveram a formação de tumores malignos enquanto as células que serviram de prova, em meio rico de oxigênio, continuaram normais. Ora, isso é a confirmação das ideias do eminente Warburg...

Essa experimentação tem cunho revolucionário, pois fez ruir as diversas teorias que vinham procurando explicar a etiologia do Câncer e abre novos horizontes à sua terapêutica.

Confirma, ainda, a opinião dos “Não-Conformistas” de ter o neoplasma caráter geral, e não local, como quer a corrente Ortodoxa. No Brasil, o inolvidável Mestre Álvaro Osório de Almeida, um dos nossos maiores fisiologistas, esposava a premissa de oxigenação celular e fez exaustivas experiências em busca de uma terapêutica estruturada nesse princípio.

O grande Ehrlich, que descobriu o 606 (Salvarsan) e depois o 914 (Neo-Salvarsan) procurou em vão a “bala mágica” como dizia, que pudesse agir diretamente sobre o metabolismo das células desregradas, sem afetar as normais, apresentando provavelmente os seguintes requisitos básicos: a) agente que, dadas suas mínimas proporções, lograsse circular livremente através de todas estruturas celulares; b) com grande poder absortivo para o oxigênio; c) com tropismo seletivo pelas células neoplásicas ;d) rápida e fácil eliminação; e) atoxidez.

E há mais de um ano (22-11-1957) chegava-nos de Nova Iorque a notícia de que um cientista soviético, o Dr. G. F. Gaud, do Instituto de Antibióticos da Academia de Ciências de Moscou, sustentava que a diferença entre as células normais e as cancerosas é que as primeiras obtém o oxigênio por oxidação, e as outras por fermentação.

Nesse setor (de oxigenação celular) devemos por em justo relevo os trabalhos notáveis – infelizmente inacabados – do nosso grande fisiologista Alvaro Osório de Almeida.

Isso nos leva a concluir que se impõe no terreno bravio do Câncer um reajustamento equitativo, em que a ortodoxia oficial sem estrutura racional e

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científica visível – ceda lugar a pesquisas honestas (sejam ou não feitas por médicos), em nome dos mais comezinhos princípios de humanidade.

O erro básico, criminoso mesmo, é a dispersão de esforços que existe no setor dessa moléstia.

Avalia-se em alguns milhares o número de cientistas de incontestável valor que pesquisam oficialmente o problema do Câncer, em todo o mundo; que buscam afanosamente solução para o terrível mal; fazen-no, porém, circunscritos a postulados próprios, vendo-o pelos mais diversos primas, enclausurados em sua Torre de Marfim, convictos de serem os detentores da vera Ciência.

Se se unissem todos, sem ortodoxias inoperantes, num esforço comum, o fantasma do Câncer ruiria como um castelo de cartas de jogar.

Razão tem o Prof. Niehans quando diz:

“Há ainda muita coisa por fazer. Se cada um de nós completasse o seu acervo com o conhecimento dos outros, em lugar de brigarmos uns contra outros, nós dominaríamos o Câncer”.

* * *

PRETENSAS CAUSAS FÍSICAS DO CÂNCER

Retornemos aqui aos comentários que anteriormente vínhamos fazendo. Procura-se, como já foi dito, em todo o mundo, explicar a incidência do Câncer na civilização atual, num crescendo assustador.

Sobe a centenas o número de substâncias consideradas cancerígenas, baseadas no princípio – ação irritativa; muitas com vastas abonações laboratoriais e estatísticas.

Dentre as mais acoimadas nestes últimos tempos, está a poluição do ar que se respira nas cidades, devida à queima dos derivados do petróleo, nos motores de combustão interna (automóveis, ônibus, etc.). Que contém hidrocarbonetos cancerígenos.

Ininterruptas experimentações vem sendo feitas por toda parte e minuciosas estimativas são levantadas; todas ao que parece, procurando corroborar a mesma conclusão: ser a corrupção da atmosfera a causadora, pelo menos, dos cânceres pulmonares, o que leva à tremenda expectativa de que dentro de limitado tempo, as populações das grandes cidades terão os pulmões cancerizados, pois é praticamente impossível evitar, ou mesmo diminuir a

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conspurcação da atmosfera pelos resíduos do petróleo em suspensão etc.Há sempre, e infelizmente, tendência inata em todas escolásticas para a

generalização de suas premissas e para procurar impô-las arbitrariamente. Dessa conjuntura não escapou a poluição da atmosfera como fator cancerígeno. Porquanto, se assim fosse, de há muito a Humanidade teria sido extinta, vitimada pelo Câncer. Isso, se levarmos em conta que, através dos tempos, até o advento da eletricidade, a iluminação era feita à base da queima de resinas e substâncias oleaginosas; depois, por gás de iluminação e petróleo, todos eles ricos em hidrocarbonetos que se desprendiam pela queima, dispersando-se não-raro, em ambientes restritos. Atualmente, ainda a iluminação das classes pobres de vastas zonas do interior brasileiro é primitiva, onde se constata que uma lamparina das de torcida, queimando petróleo, para iluminar um pequeno dormitório, desprende tanta fuligem que os que nele dormem, ao amanhecer, tem as fossas nasais enegrecidas, o que evidencia a ação direta e constante dos gases emanados do ouro negro.7

Entretanto, as estatísticas demonstram ser a incidência do Câncer muito menor no passado que o é atualmente; bem como menor é no interior que nas grandes cidades iluminadas a eletricidade; a ponto de ser ele denominado Mal da Civilização.

Pelas mesmas razões não aceitamos o fumo como produtor do Câncer, embora ultimamente se sucedam as opiniões em favor dessa asserção. Fala-se até em estatísticas comprobatórias, bem como em testes realizados por máquinas de fumar etc..

Admitimos, entretanto seja o tabagismo fator exacerbativo onde já haja lesões iniciais.

É a controvérsia que se eterniza do incógnito Câncer ou grande enigma, como o classificam seus atuais “donatários”, entre nós.

* * *

TEORIA INFECCIOSA

Promana essa teoria dos geniais trabalhos de Louis Pasteur e preceitua ser a neoplasia maligna causada por um germe (oficialmente ainda não reconhecido); enfermidade de caráter geral, apresentando evolução lenta e sinuosa e sendo a tumoração fase já avançada do processo morboso.

7 Não deve ser confundida: Substância Cancerógena – que dizem capaz de produzir Câncer – com a que pode exacerbar a eclosão desse morbo.

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Seu tratamento deve ser procurado no arsenal quimioterápico8, ou mesmo bioquimioterápico...

* * *

A OBRA DE PASTEUR

Verdadeiramente, não se pode falar a obra de Pasteur sem fazer a justiça de a vincular à descoberta do microscópio, pelo holandes Zacarias Janssen, em 1590.

Ali por 1675, outro nerlandes, Leeuwenhock assinalava a existência de seres infinitamente pequenos, visíveis somente com o auxílio desse prestantíssimo instrumento, que se veio aperfeiçoando através dos tempos.

Kircher, Spallanzani e outros ligaram aos micro-organismos as causas das moléstias. Mas só em 1762 foi que Plenciz afirmou em caráter oficial que havia uma semente para a enfermidade. Durante quase um centenário, a ideia do micróbio como responsável por doenças flutuou no ar das cogitações científicas, pois somente nos meados do século passado tomou forma definitiva, graças aos trabalhos de Louis Pasteur.

O nome desse genial francês agiganta-se e projeta-se através de todo o mundo, abrindo para a Medicina novos horizontes e redimindo a Humanidade dos pesados e terríveis tributos que vinha pagando periodicamente com as milhares de vidas ceifadas, pelas mais diversas enfermidades. Sua obra é uma epopéia magnífica, resultante de porfiada luta que teve de enfrentar contra os postulados ortodoxos da Ciência do seu tempo, derrubando princípios oriundos de muitas centúrias (Hipócrates, Galeno e tantos outros), que suas teorias contraditavam e modificavam radicalmente, dando nova contextura e apontando outros rumos à Medicina mundial.

Venceu gloriosamente Louis Pasteur, recebendo em vida, quando já velho e alquebrado, a consagração universal a que fizera jus. Foi homenageado por quase todas nações, inclusive o Brasil.

Entretanto, dois fatos nossos podem dar ideia de incompreensão que rondava os trabalhos do grande Mestre.

Contava-nos o velho e inesquecível Professor, Egas Moniz Barrêto de Aragão (Pition de Vilar), que lecionava Parasitologia, na Escola de Medicina da Bahia (Farmácia) que certo catedrático daquela faculdade, no início da era

8 Nota do divulgador: na época da publicação desse livro, ainda não havia a quimioterapia para o Câncer, mas essa quimioterapia que a cancerologia ortodoxa nos propõe, no século XXI, não resolve o problema da moléstia cancerosa.

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microbiana, para negar-lhe a realidade, costumava dizer em aula:

– “Só acreditarei em micróbios, quando pegar um pelo rabo”.

Outro titular, esse da faculdade de medicina do Rio de Janeiro (Cirurgia) afirmava em livro didático, ter visto – sem auxílio de microscópio – espécimes do hematozoário de Laveran (micróbio responsável pela Malária) em abundância, em abcesso dessa moléstia!...

A gigantesca obra de Pasteur continuou e fez prosélitos em todo o mundo, dando início, por toda parte onde se cultivava a Ciência Médica, a um surto febril de estudos e pesquisas. A causa de muitas moléstias foi identificada, bem como novos tratamentos e meios profiláticos foram postos em evidência. É grande o número de discípulos (ou continuadores) do sábio francês. Citaremos os principais.

Em 1875 Hansen descobre o bacilo da Lepra; em -79 Neisser isola o da Blenorragia; em -80 Eberth evidencia o do Tifo e Laveran menciona o da Malária; em -82 Koch revela o da Tuberculose e pela mesma época Gessard identifica o do Puz Azul; em -83 Klebs e Loeffler patenteiam o da Difteria e Fehleisen encontra o da Erisipela; em -84 Nicolaier dá a conhecer o do Tétano; em -87 Weichsenbaum denuncia o da Meningite; em -89 Ducrey divulga o do Cancro mole; em -92 Nocard aponta o da Psitacose - “Em -94 Yersin e Kitasato deparam o da Peste; em -97 Xiga e Kruse topam com o da Disenteria; em 1905 Schaudinn e Hoffmann mostram mostram ao mundo a verdadeira causa da Sífile; no ano seguinte Bordet e Gengou indicam o agente responsável pela Coqueluche; em -23 Dochen registra o da Escarlatina etc. etc..

Quanto à Imunologia, ensaiou seus primeiros passos nos trabalhos de Roux e Yersin (1888), Buchner (-89) e Behring-Kitasato (-90).

No Brasil tivemos as magníficas realizações de: Osvaldo Cruz, Carlos Chagas, Cardoso Fontes, Adolfo Lutz, Vital Brasil, Henrique Aragão, - para citar somente os mortos – todas elas orientadas pelo rastro luminoso de Pasteur.

Mas, por outro lado, fugiríamos ao cunho informativo que vimos dando ao presente trabalho, se calássemos que, ultimamente, a doutrina do genial pesquisador francês tem sofrido sérios impactos.

No estado atual da Biologia já não se afirma categoricamente que a invasão microbiana parte sempre do exterior; porém que

“os micróbios patogênicos podem perfeitamente ser endógenos e resultar naturalmente de um organismo viciado.” (D'Autrec, ob. cit., pág. 182).

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Talvez pressentindo isso, dizia nos últimos dias de sua vida o próprio Pasteur a um professor amigo seu:

– “Renon, Claude Bernard é que tinha razão: o germe não é nada; o terreno é tudo!...”

* * *

OS AGENTES INFECCIOSOS NA ETIOLOGIA DO CÂNCER

No setor do Câncer, inúmeras pesquisas para identificar o agente infeccioso tem sido e continuam a ser feitas, desde Pasteur, que pessoalmente o investigou.

As indagações continuam em todo mundo. Periodicamente, de um ponto qualquer, vem a notícia da descoberta do elemento etiológico do Câncer.

Sobem a milhares, talvez, os homens de laboratório que julgam ter encontrado esse desconhecido e cobiçadíssimo agente, mas a comprovação científica ainda não foi feita oficialmente.

A nosso ver é a teoria infecciosa, para a causa da referida moléstia, a mais sedutora, dentre as até agora apresentadas; e, pelo menos, a mais lógica, a que mais se presta a uma interpretação racional, possibilitando explicar todas as outras no seu próprio âmbito de ação.

O Dr. Arturo Guzmán, no Prólogo do livro “El Câncer”, (Buenos Aires, 1946) de John Hett, chama a atenção para os seguintes fatos:

“a) Que o Câncer se apresenta em todos os vertebrados;b) Que é uma condição tipicamente específica, que aparece, desenvolve-

se e termina – tempos depois – exatamente do mesmo modo em todos os casos;c) Que em qualquer parte do corpo onde ocorra, apresenta as mesmas

características na sintomatologia e microscopia, quando situado inicialmente em tecidos idênticos do corpo; e meditando sobre a), b) e c), chega-se facilmente a

d) Que a mesma causa está presente em cada caso, sem exceção; ee) Que a causa única de aplicação universal é um micro-organismo. Não

é possível chegar a outra conclusão, o que se confirma se se tem presente o fato perfeitamente estabelecido de que o Câncer nunca se desenvolve num corpo se prévio infecto-contágio dos viros-germes desse morbo. É, pois,

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necessário que o corpo hospede anteriormente os viros-germes dessa enfermidade e se torne vulnerável à ação desses agentes externos, para que reaja defensivamente, criando o tumor canceroso, para tratar de destruir tanto os vírus como suas toxinas.” (Págs.17-8).

* * *

MICRÓBIOS, VIROS E BACTÉRIOS

Cremos aqui oportunas algumas palavras para o público leigo, em geral, sobre: Micróbios, Viros e Bactérios.

Os micróbios são seres infinitamente pequenos, somente visíveis através do microscópio, como já foi dito. Seu tamanho varia: há maiores, menores e muitíssimo pequenos. Podem ser medidos pela unidade que se criou em microscopia, micro, que é a milésima parte do milímetro.

Tem origens diferentes. Uns, são animais, os protozoários, como as amebas, responsáveis pela Disenteria amebiana, o treponema pálido (Sífile), os hematozoários, (Malária, etc.). Outros são vegetais, os bactérios, como o bacilo de Koch (Tuberculose), o bacilo Eberth (do Tifo), o pneumococo (Pneumonia), o gonococo (Blenorragia) etc.. Existem também fitozoários, considerados como pontos-de-ligação entre os reinos animal e vegetal, pois se comportam como pertencendo a ambos (como os mixomicetes, por exemplo).

Os muito menores são os vírus, de origem desconhecida, como também o é em parte sua biologia. Até a descoberta do microscópio eletrônico, eram eles somente suspeitados, aceitos teoricamente, dado serem invisíveis ao microscópio comum, e chamados, por isso, ultramicroscópicos; ou filtráveis, por atravessarem os poros de filtros. O microscópio eletrônico possibilitou vê-los e fotografá-los, graças ao seu aumento (os mais modernos alcançam até 100.000 vezes), enquanto o do comum é de 1.200 vezes, o que vem favorecendo ao estudo ao estudo dos vírus em escala crescente. A esses é, de há muito, atribuída a causa de todas as moléstias infecto-contagiosas, cujos agentes são desconhecidos, como a Varíola, o Sarampo, a Gripe, a Raiva, a Poliomielite, etc..9

De algumas já se tem anunciado a identificação do ser vivo responsável, principalmente da Pólio; o da Gripe é ainda objeto de discussão.

A questão do viro é bastante curiosa. Discutia-se, até bem pouco tempo, se ele tinha ou não vida própria, mas está provado que os vírus se multiplicam,

9 Nota do divulgador: lembrem que este livro foi publicado em 1959.

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e a reprodução é atributo de vida. Stanley, nos Estados Unidos, conseguiu-os em forma de cristais impuros, e Bawdon e Pirie, na Inglaterra, os obtiveram em cristais puros, o que tornou o assunto transcendental, pois a cristalização era, até a época, tida como inerente às substâncias inanimadas, ao passo que os vírus são cristalizáveis e vivem.

As opiniões se dividem: uns julgam serem eles entidades viventes, autônomas em relação às outras formas superiores de vida; outros crêem-nos a mais primitiva forma de vida existente na Terra; outros, ainda, opinam serem o “elo perdido” ou melhor, “desconhecido”, isto é,: o traço-de-união entre a matéria animada e a inanimada. De acordo com essa teoria, os vírus seriam os antecessores das gênias na vida geral, e não, como querem outros, os remanescentes degenerados de gênias preexistentes.

Os bacteriologistas vacilam em aceitá-los como bactérios em miniatura (dez a cinquenta vezes menores), muito embora os vírus cristalinos, vivam como aqueles e os corpúsculos riquetsianos, sendo menores que os bactérios (ainda que visíveis ao microscópio comum), sob certos aspectos, se comportem como vírus e possuam também forma de vida perfeitamente organizada.

Às futuras investigações caberá o esclarecimento desse intrincado e complexo problema, pois, até aqui, continua em suspenso.

* * *

VIRO E CÂNCER

Não tendo sido possível até agora comprovar perante a Medicina Oficial o agente infeccioso responsável pelo Câncer humano, os partidários dessa teoria também o atribuem a um ou alguns vírus.

O contágio por inoculação já foi obtido e sobejamente provado.10

No período 1910-14, Peyton Rous11, no Instituto Rockfeller, de Nova

10 Nota do divulgador: O ex-presidente da Venezuela, Hugo Chaves, que desafiou o poderio do governo dos Estados Unidos morreu de um câncer que, segundo ele mesmo, teria lhe sido provocado. Ora, nesse texto vemos que o câncer pode ser inoculado, o que está de acordo. Há uma guerra silenciosa – a guerra biológica – em que opositores políticos são contaminados sem que os verdadeiros culpados sejam responsabilizados. Eu mesmo contraí herpes sem que haja uma explicação médica plausível. De fato, os poderosos tentam me por fora de combate há quase dez anos, por me considerarem perigoso para o poder constituído, já que estou denunciano o governo federal brasileiro por tentarem me matar, bem como o sistema religioso. Uma das formas que eles tem para me silenciar é me contaminando, a fim de justifucarem meu desaparecimento.

11 Principalmente por se tratar de cientistas que viveram mais-ou-menos na mesma

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Iorque, conseguiu transmitir a neoplasia maligna em galinhas, por injeção de filtrados ativos de tecido canceroso (isento de células, por terem essas ficado retidas nos filtros). Verificou que essa contaminação podia ser repetida num grande número daquelas aves, cuja tumoração apresentava as mesmas características. Mas, se o filtrado fosse aquecido a 60º (sessenta graus) ou tratado por substância antissética, não transmitia a moléstia, o que demonstrava ser o Câncer da galinha produzido por agente infeccioso. Shope em 1933, chegou aos mesmos resultados, em coelhos; e depois Lucke, em rãs.

Tais pesquisas tiveram estrondosa repercussão em todo o mundo científico que se interessa pelo Câncer, pois ratificaram a natureza infecciosa da neoplasia, em determinados animais.

As experiências de Bittne e de Andervont provaram também que o leite da mama da camundonga cancerosa transmite a moléstia a outro camundongo, se ingerido por via gástrica ou injetado dentro de um período de oito a dez meses.

No tratado “Câncer” de Ackerman e Regato, lê-se:

“Por conseguinte, não há dúvida de que pelo menos três variedades de neoplasmas, tanto em mamíferos como em aves são produzidas por entidades submicroscópicas que se perpetuam, por si próprias e cujas atividades se relacionam com um complexo de nucleoproteinas. Por outro lado, é interessante perguntar se todos os neoplasmas são causados por vírus; ou se esses não são meros originadores de reação neoplásica e se tem, ou não, participação mais direta na cancerização das células.” (Pág. 31)

Não há, portanto, dúvida, de que o Câncer das galinhas, dos coelhos, das rãs e outros animais é produzido por vírus, isto é: tem origem infecciosa e apresenta o mesmo mecanismo (desregramento celular) que o do homem. Cumpre assinalar que já se conhece uma boa dezena-e-meia de classes diversas desses micro-organismos.

Assim, porque não admitir ser também o Câncer humano de caráter infeccioso?

As explicações dadas por aqueles Mestres da Medicina Clássica – não ter sido identificado o agente causador desse último, ou não haver sido feita comprovação científica – são vagas e elásticas, senão tendenciosas.

época (e se dedicaram ao mesmo assunto), cumpre não confundir esse médico norteamericano – Francis Peyton Rous – com o higienista e bacteriólogo francês Pierre-Paul Émile Roux, que deixamos citado neste mesmo capítulo, ao tratarmos dos primórdios da Imunologia.

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Muitos são os seres microbianos encontrados em lesões cancerosas: protozoários, bactérios, cogumelos e vírus, mas a prova da responsabilidade deles é extremamente difícil, visto ser o processo mórbido, via-de-regra, lento, sinuoso e depender de experimentos entre homens, o que se nos afigura criminoso e desumano. Necessário se fazia encontrar o animal recipiendário do Câncer humano, como aconteceu na Poliomielite, para a qual apareceu um macaco salvador.

Foi exatamente o que descobriu o cientista brasileiro Dr. Paulo de Castro Bueno, de cuja obra falaremos oportunamente.

A Dra. Alice Moore, vem experimentando em doentes voluntários determinados vírus, no Hospital James Ewing – que faz parte da cadeia nosocomial dirigida pelo ilustre Professor Rhoads. Provavelmente, nesses casos, não há impiedade, embora, ao que se sabe, tal terapêutica não seja isenta de perigos. Mas lá é o General Staff...

Estrutura-se o trabalho da Dra. Moore, na possibilidade que tem determinados vírus de destruir tumores cancerosos de camundongos, embora lhes causem uma infecção que os leva à morte. Esse o problema que vem procurando solucionar a distinta médica americana, a qual, segundo, informa, dispõe atualmente de um plantel de virus tipo “coxakie”, com elevado poder aniquilador sobre várias formas de Câncer humano.

* * *

ESQUECIDA UMA VALIOSA CONTRIBUIÇÃO BRASILEIRA

As experiências com vírus, da Dra. Alice Moore, fazem-nos recordar algo semelhante, com relação à Tuberculose, intentado por ilustre médico brasileiro.

O Dr. Fontes Magarão, sabendo que os bacilos sutis tem o poder de “lisar” os dessa doença em curto período, procurou estudar a fundo a questão, com a honestidade e proficiência que lhe são peculiares.

Muito conseguiu nesse setor, tanto assim que seus trabalhos tiveram repercussão internacional.

Verificou, também que os filtrados dos bacilos sutis, quando aplicados, produziam fortíssima reação e alarmante elevação de temperatura, o que punha em risco a vida do paciente. Descobriu o antibiótico chamado Sutilina.

Esses estudos parece terem sido abandonados, sob a pressão das eternas dificuldades impostas aos pesquisadores nacionais.

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* * *

TEORIA GENÉTICA

Resumidas que foram três das principais concepções etiológicas do Câncer – a Embrionária, a Irritativa (bioquímica e biofísica) e a Infecciosa, passemos agora a dizer algo sobre a Teoria Genética.

Seus seguidores ligam o Câncer a fatores hereditários.Dentre as inúmeras tentativas feitas no sentido de provar esse ponto-de-

vista, principalmente nos Estados Unidos, merecem ressaltados os trabalhos da Dra. Maud Slye, de Chicago, que dedicou uma vida inteira a estudos e experiências com ratos.

Não obstante, todos os seus esforços, apesar da dedicação com que a Pesquisadora os cercou, resultaram inúteis, pois embora tivesse ela criado grande número – milhares – desses roedores, anotando o “pedigree” de cada um e fazendo cuidadosas necropsias, seus espécimes não eram geneticamente puros, o que a levou a resultados contraditórios e interpretações difíceis, quando não inaceitáveis.

Mais tarde, porém, verificou-se que nos ratos de linhagem pura (o que é conseguido pelo cruzamento entre irmãos, durante muitas – mais de trinta – gerações), noutras palavras: onde havia manifesta consanguinidade, foi obtida a transmissão hereditária do Câncer em 80% (oitenta por cento) dos tentames.

Todavia, acasalando-se esse plantel com ratos comuns, a incidência do mal diminuía sensivelmente, ou desaparecia por completo.

Ora, em se tratando de seres humanos, semelhante pesquisa torna-se impraticável, pois falta o fator primordial – consanguinidade –, por óbvias razões morais, jurídicas e religiosas.

Tal não impede, porém, que, dentro das normas sociais vigentes, haja famílias em que a presença do Câncer é patente (citamos, por exemplo, a de Napoleão Bonaparte), ocorrência essa explicável pelos vínculos hereditários de sensibilidade, favorecidos pela predisposição individual, ou por um coeficiente baixo ou nulo de defesa orgânica contra a enfermidade.

Daí admitirem a existência de um índice genético para explicar a etiologia do Câncer, isto é: que sua causa também esteja ligada a fatores hereditários.

* * *

TEORIA HUMORAL-VIRÚLICA

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Cabe a vez, agora, à Teoria Humoral-Virúlica que, conforme o nome indica, é um misto da velha concepção hipocrática dos humores – em franca revivescência nos últimos tempos – com a doutrina que aponta o vírus como responsável pelo Câncer.

Mais propriamente, é um entrosamento de ambas, que vê a origem remota da moléstia numa anomalia do metabolismo celular e a causa secundária na atuação, posterior, do virus malignizante.

É costume estudar-se o corpo humano encarando-o sob três aspectos: o celular, o vascular (isto é: dos seus condutos sanguineos e linfáticos) e o das conexões nervosas.

Existe, porém, um grupo de especialistas que acrescenta uma outra faceta ao assunto: a do fluido intercelular, no qual as células estão – pode-se dizer – mergulhadas e cuja composição química (relativamente ao sódio, potássio, cálcio, magnésio etc.) é muito semelhante à da água do mar, bem como os seus movimentos de fluxo e refluxo na intimidade do sangue. Daí a expressão de alguns autores, segundo a qual “as células vivem banhadas em água marinha”.

Para mostrar a importância de tal elemento, baste dizer que esse líquido ocupa um volume quase oito vezes maior que o total do sangue em nosso organismo. Não deve, entretanto, ser confundido com o fluido intracelular (cujo volume orça pela metade de todos os líquidos orgânicos), nem com a linfa, que circula no interior dos canais que dela receberam o nome.

A estrutura desse meio humoral é muito constante, a despeito de alguns fatores externos; mas de certo modo, ele comporta-se como a água ionizada, cujo grau de ionização vai-se modificando progressivamente, com o perpassar dos tempos; graças à interação com as cargas eletrolíticas sobre as moléculas do protoplasma celular com que ele mantém contato.

É na maior ou menor constância estrutural dos líquidos orgânicos (em especial do intercelular, que depende primordialmente dos alimentos sólidos e líquidos ingeridos) que assenta a estabilidade da saúde.

….......................................................................................................................

Encarado o problema do Câncer sob esse aspecto – isto é: situando suas origens remotas numa anomalia do líquido intercelular – podem-se distinguir três fases, da doença:

a) prodrômica, ou precancerosa;

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b) da moléstia declarada (formação do tumor);c) de malignidade (crescimento e desenvolvimento da oncose).

Vejamos o que ocorre em cada uma dessas etapas.

a) Fase prodrômica, ou precancerosa:

Entre os elementos que contribuem para a formação de um estado patológico precanceroso do líquido intercelular, tem sido apontados: intoxicações crônicas de vária espécie; disturbios intestinais; superalimentação; perturbações endócrinas; infecções diversas etc., além de outros, mais-ou-menos difusos (traumas, conformação constitucional, hereditariedade, psiquismo, meio ambiente etc. etc.) e até qualquer fator que aumente a energia do crescimento periodicamente.

b) Fase da moléstia declarada:

Tanto a harmonia funcional da célula (essa última hoje colocada em primeiro plano nas investigações do Câncer) quanto a da atividade do líquido intercelular são elementos primordiais na manutenção da saúde. Sua existência é interdependente.

Essa interação recíproca resulta do seguinte fato: as substâncias alimentícias que passam pela parede epitelial, atravessam os espaços intercelulares, em busca das células, que as devem recolher e assimilar; essas, por seu turno, lançam os produtos de sua atividade ao mesmo líquido intercelular. Qualquer anomalia num desses dois meios – intra e extracelular – acarreta distúrbios no outro. Eis porque ensina O. Cameron Gruner:

“O Câncer é, precisamente, uma das formas de atividade mórbida das células, que surge de uma troca anômala do estado humoral.” (El Contagio del Cancer, trad. Dr. Arturo Guzmán – Buenos Aires, 1948, pág. 62)

E adiante, mais explícito:

“O Câncer é uma desordem metabólica da qual surge um neoplasma visível (Buchler, Roffo, dos Santos etc.). O distúrbio pode ter existido durante anos (O. C. Gruner, Diagnostico Exacto del Cancer, VTVT, pág. FC), ainda que pareça haver surgido inopinadamente numa pessoa até então considerada

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como completamente sã (Murphy, 1936; Dyes, 1933 etc.)”. (Pág. 63).

c) Fase de malignidade:

Entretanto, a tumoração assim formada ainda não é – na acepção clássica do termo - “maligna”. É o que ocorre nos nódulos, nos tumores verrucosos etc., antes de entrarem no período de crescimento e degeneração maligniforme.

Como, porém, se dá isso?Eis a resposta:

“Pelo desenvolvimento de um vírus. Esse tanto pode ser formado por sua vez (de novo) nas células cancerosas (caso em que seria chamado um fermento, ou enzima), ou também pode provir do exterior – presumivelmente de outra pessoa (direta ou indiretamente, como na Malária) -. Em ambos os casos, começam de aparecer depósitos secundários, o que devemos atribuir mais propriamente à presença do vírus do que às células cancerosas.

Sob esse ponto de vista, o tumor canceroso é o lugar em que o vírus está incubado. A estase linfática local dá o tempo necessário a que o próprio agente se estabeleça. Em seguida, o “germe” liberado das células nos líquidos intercelulares penetra nas raízes linfáticas e finalmente se estende pelo organismo (Handley). A manipulação cirúrgica inadequada, tanto antes como durante uma operação, facilita essa liberação do vírus; além disso, conforme assinalou Percy, toda vez que a técnica operatória não inclui uma drenagem perfeita após a intervenção através de uma ferida aberta, a formação de metástases é inevitável” (Gruner, ob. Cit., págs. 68-9).

São essas consoante à lição de um grande especialista e notável pesquisador – as fases evolutivas da moléstia cancerosa. Cumpre ressaltar que, sem um meio favorável, o germe não pode se instalar e tornar-se perigoso.

Outro ponto que convém esclarecer é que, conquanto a célula cancerosa provenha de uma normal, seu crescimento subsequente se processa por divisões sucessivas das células morbosas existentes, e não – como seria convidativo supor – pela conversão das células sãs, circunvizinhas, em cancerosas.

Do exposto, conclui-se que o câncer-tumor não se forma senão depois que – vencidas as defesas biológicas – o nosso organismo é atingido pelo Câncer-doença (se nos permitem a sutil distinção ortográfica)...

Eis por que o perseguido Dr. Joseph Issels preceitua:

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“A ação de um agente específico do Câncer exige, ela também, a presença de um meio, que falta nos indivíduos de boa saúde e não se forma a não ser sob o efeito de certos desregramentos do organismo. Pode-se, então, dizer que tal agente, se na realidade existe, não será senão um fenômeno secundário; jamais a causa...” (Apud Jean Palaiseul, “Tous les Moyens de Vous Guérir Interdits aux Médecins – 2º tomo, Paris, 1958, pág. 30).

E a essa esplêndida lição podemos acrescentar – arrematando o presente capítulo – esta outra, que se segue, também de uma não menos ilustre vítima da Cancerologia Oficial, o Dr. Grégoire Blanchard, já falecido:

“É com toda a minha fé, toda minha sinceridade, toda consciência que vos brado: nem o Rádio, nem o bisturi, nem os raios-X podem suprimir o terreno.” (Apud Palaiseul, idem, idem, pág. 119).

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CAPÍTULO III

O CONTÁGIO DO CÂNCER

A transmissão do Câncer. - Opinião de ilustre médico patrício. - Casas, Quarteirões, Ruas e Famílias de Câncer! - Conclusões da Ciência estrangeira.

A TRANSMISSÃO DO CÂNCER

O assunto que focalizaremos neste capítulo é dos mais complexos e controvertidos no setor Câncer, e se vem tornando eterno, apesar de sua tremenda periculosidade para as massas humanas: O Câncer não é contagioso, dizem os pajés da Cancerologia Oficial.

Tal asserção audaciosa, inconsequente e aberrante, mesmo – tendo em vista os tremendos prejuizos que acarreta, possibilitando a disseminação aterradora da moléstia – é em tudo semelhante às que faziam os opositores de Pasteur sobre o contágio infectuoso, a que teimosamente opunham a balela da geração espontânea (em que dogmatizaram principalmente Pouchet e Joly), numa época em que a mortalidade das puérperas assumia proporções catastróficas.

Tanto mais quanto sua estrutura se baseia na premissa – falsa e já insubsistente, bem como toda a sua filosofia – de ser o neoplasma canceroso uma doença estritamente tumoral.

Argumentam ainda não haver sido comprovada a existência do agente responsável pelo morbo, bem assim a transmissibilidade desse, entre homens, ideia essa monstruosa, porque impossível de posta em prática; a não ser num ambiente como o famigerado laboratório que vitimou milhares de cobaias humanas em Nurembergue, nos turvos dias do nazismo. Também cientificamente improvável, visto ser a evolução do Câncer lenta e sinuosa, o que demanda longo tempo para a devida comprovação. Acresce a agravante de se tratar – como opinam muitos – de doença incurável... (doutrina, essa última, com a qual não concordamos, em absoluto).

Ora, não deixa de ser interessante compararmos, por exemplo, todo esse esdrúxulo raciocílio “clássico” com aquele outro que orientou as pesquisas sobre a Poliomielite, que sempre foi considerada contagiosa; mesmo na fase experimental, quando era transplantada somente de homens a macacos... …........................................................................................................................

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Sabe-se que, na camundonga, o carcinoma mamário é produzido por um agente filtrável, transmitido, pelo leite das fêmeas lactantes. Já foram, mesmo, observadas ao microscópio eletrônico partículas infinitesimais, de 20 a 200 milimicros de diâmetro, em amostras de leite dessas roedoras, cancerosas.

Em Nova Iorque, há alguns anos, Gross, Mc Carthy e Gessler pesquisaram na espécie humana, sendo que as amostras de leite foram selecionadas de acordo com os três seguintes grupos de doadoras:

a) – com casos de carcinoma mamário na família (isto é: em irmãs, mãe ou avó);b) – com casos de câncer em qualquer membro da família, por ambos os lados;c) – consideradas sem qualquer caso de neoplasia maligna na família.

Pois bem. Depois de convenientemente tratadas e preparadas para a microscopia eletrônica, as amostras revelaram os seguintes resultados, que passamos a resumir: nos grupos a e b (principalmente no primeiro), foram evidenciadas inúmeras partículas esféricas de 20 a 200 milimicros de diâmetro, em tudo semelhantes às observadas no leite das camundoongas cancerosas; no grupo c tais partículas foram menos frequentes e até em algumas amostras não foram encontradas.

…......................................................................................................................Posto que não comporte dúvidas o contágio do Câncer, ainda permanece

no terreno hipotético o mecanismo de tal transmissão, (da mesma forma que o da Lepra, o da Poliomielite e outras doenças). Tudo leva a crer, entretanto que ocorra pelo contato direto, pelo ar, pelos exsudatos tumorais etc..

Convém, entretanto, lembrar que nas lesões neoplásicas tem sido observada a presença dos mais variados micro-organismos (bactérios, protozoários, cogumelos etc), a muitos dos quais tem sido atribuída a etiopatogenia do Câncer; bem como vermes e seus ovos; principalmente das classes Cestóides, Nematóides e Trematóides.

Os vermes representam papel secundário na etiologia do Câncer, sobre isso não há a menor dúvida: são apenas agentes vetores, seja como transmissores do responsável específico, ou como provocadores de lesões traumáticas no organismo, abrindo campo à proliferação germínea; ou finalmente pela debilitação que determinam nas defesas orgânicas, se não quisermos admitir que eles respondem pelo conjunto de todos esses disturbios.

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Quanto à literatura médica desse assunto, diz João Andréa12 no trabalho já por nós citado:

…. “Diversas publicações foram feitas com os resultados das pesquisas de vários autores, de que as mais importantes podem ser enquadradas na relação abaixo:

1) Bacillus epidermitis, Bizzozero;2) Plasmodóphora brassicae, de Woroni, secundado por Behla;3) Coccídio, de Neisser;4) Mcrosporídeo, de Pfeiffer;5) Coccídio cutâneo intracelular, de Darier Malassez, Wisser e

Pluinner;6) Neo-espirilo, de Duroux;7) Proteus mirábilis, de Hauser;8) Blastomyces vitro símile degenerans, de Roncali;9) Mixosporídeo, de Theolohan, Henneguy e Gardini;10) Bacillus tumefáciens, de Blumental;11) Oscillococus, de Roy, descrito em 1925;12) Esporozoário, de Schuller;13) Microorganismo, de Koubasoff.”

(Págs. 193-4).

Ainda falam altíssono a favor da transmissibilidade do Câncer as experiências de Peyton Rous, de Shope, de Bittne e Andervont – de que tratamos no capítulo anterior.

Em fevereiro de 1957, o Dr. Chester Southam do Sloan-Kettering Institute de Nova Iorque, injetou células cancerosas em detentos da Penitenciária de Ohio, que voluntariamente se ofereceram para a terrível prova. Dos resultados obtidos trataremos no último capítulo.

Horripila imaginar um teste de tal natureza e o lento suplício desses desgraçados, em que a Medicina Oficial inoculou doença havida por irremediável, condenando-os a aguardar passivamente u'a morte muitas vezes pior do que a que teriam clausurados perpetuamente numa cela, ou mesmo na cadeira elétrica!

Até porque ninguém pode prever se, mais dia, menos dia, aqueles infelizes, não receberiam o perdão da Justiça, voltando sãos e salvos ao

12 Devemos, entretanto, ressalvar que esse Autor não aceita a transmissibilidade do Câncer...

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aconchego do lar... ….......................................................................................................................

Entretanto, em animais, as experiências de transmissão do Câncer tem oferecido resultados insofismáveis, entre aves, ratos, coelhos. E até em vegetais. Não obstante, elas tem sido impugnadas pela mentalidade “clássica”, sob a alegação de ser a neoplasia maligna dos irracionais diferente da que acomete a espécie humana. Isso apesar de, tanto numa quanto na outra, a característica ser a mesma: tumoração formada por células de proliferação desregrada. E de haver pelo menos quinze classes de vírus que produzem tal paralelismo.

OPINIÃO DE ILUSTRE MÉDICO PATRÍCIO

Existem provas circusntâncias que confirmam exuberantemente o contágio do Câncer e vasta é a documentação na literatura médica mundial. Antes, porém, de entrarmos no âmago da questão, desejaríamos ceder a palavra ao inolvidável Prof. Miguel Couto, figura ímpar na Medicina brasileira.

A opinião desse ilustre Mestre é sobremaneira valiosa; não só pela incontestável capacidade científica que todos lhe reconhecemos, como porque é notório a rigorosa norma em que se pautava, de somente emitir conceitos pessoais quando tinha certeza inabalável; cônscio de que na Ciência de Hipócrates não existe o Absoluto; que o certo de hoje poderá ser errado amanhã...

Não obstante esse critério salutar, expôs bem claro suas convicções de sábio sobre a transmissibilidade do Câncer.

Transcreveremos trechos de uma das inesquecíveis aulas enfeixadas no seu livro sob o título: “Lições de Clínica Médica” (2ª ed., Rio, 1916):

Fala o Mestre, começando com a fidalguia de atitudes que sempre o identificou:

“Meus Senhores. Eu não sou capaz de abusar da posição que ocupo para vos inculcar as minhas crenças não fundadas em inconcussos dados científicos; sobre o problema etiológico do cânce, só estou autorizado a vos dizer que ele ainda espera a solução definitiva”. (Pág. 78)

Logo depois:

“As teorias sobre a sua patogenia não se numeram mais. Umas,

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patrocinadas pela escola alemã, escola de anatomopatologistas agarrados irredutivelemente à célula, são teorias celulares; a teoria da indiferença celular de Virchow, ou, ao contrário, da especificidade celular de Bard, a da heterocronia de Connheim, a da anaplasia de Hanselmann, a curiosa teoria patogênica de Critzmann. Outras são teorias parasitárias, parasitos de toda sorte: bacilos e cocos, gregarianas, coccídios, mixosporídios, sarcosporídios, microsporídios, blastomicetes, ascomicetes, vírus filtráveis e invisíveis.

Ora, em medicina, abundância é sinônimo de penúria, e uma tal profusão de micro-organismos inculcados ao cancro significa bem certo que nenhum é o germe do cancro. Este, porém, indubitavelmente existe. As objeções opostas à teoria infectuosa são as mesmas levantadas outrora contra a da Tuberculose e da Lepra antes do advento de Koch e Hansen, e eu estou certo de que não tarda o dia da sua queda por motivo idêntico.

O ano passado, na reunião do “Comité Central Alemão para o Estudo do Cancro”, uma das maiores autoridades nesta matéria, o Prof. Georg Klemperer, diretor do Institut für Krebsforchung der Koning. Charité, externava a mesma esperança nos seguintes termos: 'A ineficácia das pesquisas não deve desalentar os trabalhadores. Eu confio sempre num sucesso feliz e definitivo. Anima-me muito esta circusntância, que hoje conhecemos verdadeiros tumores indiscutivelmente produzidos por microorganismos. Muitas gomas luéticas não se distinguem, no campo do microscópio, dos sarcomas e o mesmo se deve dizer de certos tumores linfomatosos e leucêmicos, cujo germe ainda não foi reconhecido, mas cuja existência é, no mais alto grau, provável.'

Continua o Mestre brasileiro (pág. 80).

“A crença na natureza infectuosa do cancro se baseia em muitos fatos. 1º) O número de casos tem aumentado consideravelmente nesses últimos anos, e em certos lugares a moléstia pode ser considerada endêmica: um cirurgião americano, o Prof. Park, chegou a dizer: “se a mesma progressão da mortalidade se mantiver durante dez anos, haverá no Estado de Nova Iorque mais mortos por cancro que por Tuberculose, Sífile e Febre Tifóide reunidas.”

Seguem-se dados estatísticos comprobatórios da incidência do Câncer em diversos países, durante anos:

Lê-se a pags. 81-4:

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2º) “O desenvolvimento do morbo às vezes é tal que se chega a pronunciar a palavra epidemia”. Em 1892, Fessinger descreveu uma epidemia de cancro que acompanhou em Olonax; na comuna de São Silvestre, com 400 almas, houve de 1880 a 1887 – 74 falecimentos dos quais 11 isto é, 15%, de cancro. Alexandre Lambrior assinalou em Jassi uma casa que se denominaria a Casa do Cancro – dez mortes em menos de 21 anos.

Trasi relata uma epidemia, em Parma (1905), Priwing em Salsburgo (1902), Wilbur em Michigan (1902), Frief em Breslau (105).

3º) Não há clínico que não registre casos mais que suspeitos de contágio, dado o desconto da longa incubação da moléstia. Uma senhora que eu conheci como enfermeira de uma doente de cancro ulcerado da mama e do dorso, falecia, no fim de dois anos, de cancro do pâncreas. Um homem acompanhou dedicadamente o pai, atacado de cancro da língua, e dois anos depois apresentava também um cancro da língua. Dentro de um ano faleceram ultimamente na mesma casa em Botafogo um homem, de cancro da língua, sua mãe, de cancro no cólon e do fígado, e seu tio por afinidade de cancro do fígado. Na casa de um antigo professor desta escola morreram de cancro em poucos anos duas irmãs e um cunhado.

Delbert refere a observações de uma criança de peito acometida de cancro, ao mesmo tempo que a mãe que a amamentava. Lucas-Championnière viu um homem sucumbir de cancro da língua e dois anos depois, sua mulher, de cancro no seio.

Von Leyden conta que um doente que bebeu por engano o líquido da lavagem do estômago de um canceroso, falecia dois anos depois de cancro do estômago.

4º) Neste sentido são muito demonstrativas as chamadas caixas de cancro, tão conhecidas nos laboratórios e sobre as quais fez Gaylord, do New-York State Cancer Laboratory, em Búfalo, uma interessante comunicação ao Congresso de Toronto de 1906. Loeb tinha em algumas caixas na Policlínica de Chicago vários ratos brancos; em janeiro de 1900 foi encontrado em um deles um sarcoma cístico da tireóide, inoculável; em agosto de 1901 outro caso de sarcoma cístico da tireóide, inoculável, na mesma caixa; e no outono de 1913 outro caso com os mesmos caracteres histológicos. Em 1902 Loeb foi a convite de Gaylord a Búfalo levando alguns ratos doentes e seguiu depois para Montreal, com os seus ratos, deixando duas caixas com alguns inoculados, nos quais, entretanto, não veio a se desenvolver a moléstia. Seis meses depois, quando foram recolhidos às duas grandes caixas não esterilizadas sete ratos: em um se apresentou um fibro-sarcoma abdominal, e logo depois dois outros

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apareceram com tumores da mesma natureza.Na obra de Contamin, encontram-se inúmeros exemplos semelhantes.Poder-se-á objetar a esses fatos com Wassermann que Mausekrebs ist

kein Menschenkrebs, mas Klemperer já aparou a contradita asseverando que a diferença entre os tumores humanos e o dos animais não é maior do que a que se verifica com outras moléstias, cuja natureza parasitária foi estabelecida pela experimentação. Basta lembrar os efeitos no homem e nos animais do bacilo difitérico do pneutericomococo, do bacilo de Eberth, do treponema pálido.

5º) Existem formas agudas do cancro perfeitamente idênticas às das moléstias infectuosas: assim os sarcomas epifisários, os carcinomas ganglionares, os neoplasmas agudos do seio de marcha flegmonosa, que já induziram a erros cirurgiões do valor de Beuroth e Terrillon. Este ano o ilustrado assistente desta cadeira, Dr. Osvaldo de Oliveira chegou a tempo de impedir a operação de um abcesso do pescoço, que não era mais do que um carcinoma agudo da tireóide.

6º) A febre quase sempre do tipo intermitente, a generalização por via linfática, a propagação por contiguidade, são outras tantas circunstâncias que só se coadunam com a etiologia parasitária e repelem as outras interpretações.

“De quanto vos venho dizendo destes estudos ontológicos, meus Senhores, pode-se concluir que se o cancro não é uma toxinfecção é pelo menos, uma toxiafecção.” (Pág. 85).

…........................................................................................................................O que tomamos a liberdade de transcrever do inolvidável Miguel Couto,

pelo qual guardamos imperecível admiração, confirma em seu todo, pontos-de-vista defendidos através dos nossos tópicos anteriores: O câncer é enfermidade de caráter geral e não local, como pretende a Cancerologia Clássica atual. É doença eminentemente clínica e não cirúrgica ou radioterápica, como fazem crer. E é transmissível.

Os conceitos do Mestre brasileiro tem sido frequentemente reforçados, em todos os países, por cientistas de renome mundial. Observe-se a antiguidade cronológica, ao mesmo tempo que a atualidade científica das lições do grande médico patrício...

E durante esse tempo – que viu nascer uma geração notável pelo fecundo labor científico – que fez a Cancerologia Clássica?

Limitou-se a negar sem provas a transmissibilidade do Câncer; numa teimosa contraposição de palavras a fatos!

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A VERDADE SOBRE O CÂNCER AO ALCANCE DE TODOS

Então, pessoas que tem vida (inclusive sexual) comum contraem a moléstia cancerosa por simples... coincidência? Pode-se lá admitir algum efeito sem causa?

E as chamadas teorias irritativas, tão prazerosamente afagadas pela Cancerologia Clássica, se coadunam com tais... eventualidades?

Claro que não! Suponhamos – como base de raciocínio e para não magoar, de-pronto, os Ortodoxos – que um marido se vitimasse de Câncer pelo hábito inveterado de fumar, ou por mostrar acentuada preferência por certo tipo de alimentação.

Sua esposa – que não fumou exatamente os mesmos cigarros, ou não ingeriu precisamente os mesmos alimentos – adoeceu da mesma enfermidade. Seria simples acaso?

Não e não! Admitir que dois ou mais indivíduos sofram – do ponto-de-vista patológico – o mesmo impacto, sem pensar em transmissibilidade é pura estultice, incompatível com a mentalidade de profissionais detentores de um curso superior.

Apelar para o mero “acaso”, em se tratando de evidente contágio, é desvirtuar propositadamente a quase centenária Ciência de Pasteur, pondo em risco a saúde e a vida de toda uma imensa legião de sofredores...

* * *

CASAS, QUARTEIRÕES, RUAS E FAMÍLIAS DE CÂNCER

É costume dizer-se que “santo de casa não faz milagres”, fórmula simplista com que algumas pessoas evitam reconhecer o valor dos seus semelhantes mais chegados.

Por isso, para corroborar o nosso ponto de vista da transmissibilidade do Câncer – e embora conhecendo a incidência do mal em famílias brasileiras – preferimos louvar-nos no depoimento de um autor estrangeiro, de notória idoneidade profissional e científica.

O Prof. Joseph Leriche, em seu tratado “Cancerologie” (Págs. 135-43), cita um número elevado de casos de Câncer, onde é evidente o contágio: falando das Casas, Quarteirões e até Ruas de Câncer (dada a frequencia dessa enfermidade em caráter endêmico), de Famílias de Câncer, etc.; apresentando, inclusive, estatística a respeito. Procura o eminente francês associar tal incidência a circunstâncias especiais do ambiente: qualidade do solo, umidade, lençois-d'água, ventilação, insolação e também aos raios relúricos (embora

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ignoremos toda a natureza desses raios, seu mecanismo e seus efeitos sobre o ritmo dos fenômenos vitais). (Pág. 145-9)

O fator meio, a que se refere o Autor não invalida a possibilidade de contágio, pois as condições de ambiência por ele mencionadas são elementos predisponentes à eclosão da morbidade.

Falando sobre o caráter contagioso do Câncer, Leriche refugia-se no conceito da Escola Inglesa sobre epidemia (o qual amplia e liga a doenças causadas por ambientes deletérios e propensores, capazes de por si sós as determinar); enquanto a Escola Francesa considera epidêmicas somente as doenças provocadas por agentes infecciosos e transmissíveis.

O Prof. Afrânio Peixoto, autoridade brasileira inconteste em matéria de Higiene, talvez a maior nas últimas gerações – até aqui não superado – diz textualmente, em sua obra “Higiene”, vol. II:

“Para que haja epidemia é necessária a existência do agente contaminável”. (Pág. 37)

O Prof. John Hett, em “El Câncer” (pags. 227-37) cita número vultoso de casos de contágio dessa enfermidade...

Há um pequeno livro, sob o título “El Contágio del Câncer”, de autoria do Dr. O. Cameron Gruner, ex-assistente do renomado Prof. Moynthan, da Inglaterra, que foi agraciado com o título de SIR – o médico do Rei.

Os trabalhos de Cameron Gruner foram iniciados em Leeds (Inglaterra) e continuados em Montreal (Canadá).

Desde 1908, tem ele publicado obras científicas naqueles dois países; entre as quais, algumas confirmando a descoberta do Prof. Thomas J. Glover, a que nos referiremos mais detidamente no VIIIº capítulo.

Pois bem. Num desses livros, precisamente no Prólogo do que acabamos de citar, escrito por Dr. Arturo Guzman – pode-se ler:

“Birchard combinou as entrevistas pelo telefone; levou-me ao laboratório de Gruner e depois esse me conduziu ao do doutor Pritchard, que nos esperava.

Depois de feita a apresentação, sentou-se, apoiou os cotovelos sobre a mesa de trabalho e nos disse:

- Os senhores vieram numa péssima ocasião, para mim, que se repete em cada duas semanas e me deixa doente e sem poder dormir por três ou quatro dias.

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A VERDADE SOBRE O CÂNCER AO ALCANCE DE TODOS

Perguntou-lhe Gruner:– Porque acontece tal coisa?– Pelos envios de plasma para o front.Ambos se entenderam com o olhar, e eu também os compreendi, porque

sabia que um ajudante de Pritchard o havia sido antes de Gruner e com esse cultivara os vírus-germes da malignidade. Intervim, dizendo a Pritchards:

– Acabe com esses maus momentos, não remetendo mais plasma.– É impossível, porque o pedem para os rapazes do front. Castigar-nos-

iam se não o enviássemos, e teriam o direito de nos enforcar, se dissessemos que com o plasma infectamos de Câncer a todos que o recebem. Essa é a tragédia que me põe doente.

Isso ocorreu em novembro de 1944. Pritchard fez todo o possível para discutir na Sociedade Médica de Montreal o trabalho de Glover; mas não o conseguiu.” (El Contagio del Cancer – Prólogo, pags 13-15).…..........................................................................................................................

Ora, diante das irreputáveis provas mencionadas, porque não atribuir ao contágio o aumento alarmante e indiscutível da incidência mundial do Câncer?

Há, bem sabemos, cientistas que defendem o não contágio dessa moléstia e continuam a atribuí-la à irritação celular; todos, porém, integrantes das hóstes Clássicas, argumentando baseados em premissas sobremodo discutíveis e evanescentes, capazes antes de explicar, e até provar, a origem infecto-contagiosa do morbo.

Como exemplo, temos a poluição atmosférica (a que mais atribuem a causa irritativa do Câncer). Entretanto, essa mesma contaminação do ar serve de reforço à tese da natureza infecciosa-produzindo a queda de defesas, e, consequentemente, a evolução do agente infectante; ou ainda: sugere a ação irritativa preparando a cabeça-de-ponte para a invasão...

* * *

CONCLUSÕES DA CIÊNCIA ESTRANGEIRA

O assunto é bastante vasto para tratado num simples tópico destinado à divulgação leiga;contentamo-nos, porém, com registrá-lo panoramicamente e transcrever algumas das conclusões a que chegou a Comissão para a Investigação de Remédios para o Câncer, do governo de Ontário (Canadá), sobre os trabalhos de Glover; presidida e dirigida pelo Dr. R. P. Vivian, Ministro da Saúde Pública:

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A VERDADE SOBRE O CÂNCER AO ALCANCE DE TODOS

a) que o Câncer é causado por um micro-organismo polifórmico, o qual, em seu ciclo de vida, passa através de muitas etapas e formas;

b) que esse organismo pode ser obtido de um tecido canceroso, ou encontrado na quase totalidade dos casos de Câncer humano, por meio do cultivo de sangue;

c) que um antessôro, utilizável no tratamento do Câncer, pode ser produzido por inoculação desses organismos em cavalos;

d) que o tratamento por meio desse soro influi favoravelmente no curso do Câncer nos animais e no homem. (Págs. 11-12 do Prólogo de “El Contagio del Câncer”, feito pelo tradutor, Dr. Arturo Guzmán).

E mais recentemente, o Prof. Wendell Stanley (Prêmio Nobel, considerado uma das maiores, senão a maior autoridade mundial em Virologia), acaba de enumerar – em relatório apresentado à Sociedade Médica dos Estados Unidos – as seguintes novas descobertas a respeito do Câncer (in Jornal do Comércio, Rio, 26-6-[1958]):

1) O homem tem em circulação em seu organismo muitos vírus desconhecidos até poucos anos atrás. Muitos deles constituem mistérios, pois não se sabe o que fazem.

2) Os vírus podem manter-se no corpo em que se alojaram, durante gerações; tanto em forma infecciosa quanto inócua.

3) Os vírus podem transformar-se de forma a produzir novos estados provocadores dos sintomas de diferentes moléstias; quer dizer, mudam sua “personalidade química”.

4) Os vírus podem ter efeitos diferentes, conforme a idade, a genética, o estado de nutrição e o equilíbrio hormonal do organismo em que se alojam;

5) Os vírus e os genes (que determinam a hereditariedade nas células) estão estreitamente relacionados entre si. Tanto assim, que os vírus às vezes tem sido qualificados de “genes nus”, e podem viajar como “passageiros” dentro das células nas quais se alojam.

Também constatamos, em nossa clínica, diversos casos em que só o contágio oferece explicação aceitável.

Três senhoras vítimas de Câncer (duas, no útero; uma na mama), cujos maridos haviam falecido da mesma doença (dois na próstata; um no rim).

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Dois homens, portadores de neoplasias malignas (um, no reto; outro na próstata), cujas esposas tinham morrido pela mesma causa (uma, na bexiga; outra, no útero) etc. etc..

E acrescentou que semelhante conflito causaria, também, danos aos sobreviventes, estigma esse que passaria de uma a outra geração no futuro...

Eis algumas das razões que julgamos temerário o médico verdadeiramente cônscio de suas responsabilidades negar o contágio do Câncer, no estado atual do que se conhece sobre o assunto.

Outras existem, de cunho puramente estatístico, mas evitamo-las aqui para não fastidiarmos demasiado o paciente Leitor...

De qualquer forma, ao encerrarmos o presente capítulo, cumpre não percamos de vista o salutar aviso de Guzmán:

“É necessário expungir da profissão médica e do público o erro contumaz da não-contagiosidade do Câncer, o erro da crença de que se ignora sua causa, o erro de que não há meios de conseguir que um canceroso se liberte dos sintomas clínicos produzidos pela presença ou atuação de um tumor maligno e dos sintomas das enfermidades conexas ou aliadas ao Câncer (malignidade não-tumoral), muitas das quais consideradas incuráveis; ou dos sintomas das infecções secundárias ao infecto-contágio canceroso latente, que quase sempre se tornam incuráveis e fatais.” (Prólogo de “El Contagio del Cancer”, de Gruner, pág. 17)

E na página seguinte:

“O caminho errado que permitiu aumentar – de forma cada vez mais alarmante e em pessoas cada vez mais jovens – a frequencia do Câncer conduz a Humanidade, passo a passo, e infalivelmente, ao inferno da cancerização. Sendo essa realidade, até quando, se vai deixar que se neguem e não se divulguem os meios de libertação do Câncer e suas enfermidades conexas, creados por William F. Koch, John E. Hett, Thomas J. Glover?”

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CAPÍTULO IV

UM POUCO DE FÍSICA NUCLEAR

O átomo. - As radiações. - Ligeiro histórico dos raios-X. - Os aparelhos de raios-X. - O pioneiro da Roentgenodiagnose no continente americano. - A abreugrafia. - Breve histórico do Rádio. - O Rádio. - Radioatividade. - O Cobalto.

As notas que aqui registraremos constituem simples prenoções de Física Nuclear, apresentadas com o só objetivo de servirem de base a u'a melhor compreensão do que no capítulo seguinte diremos sobre os efeitos das radiações (raios-X, Rádio, Cobalto-60 etc.) na espécie humana.

* * *

O ÁTOMO

As mais remotas notícias sobre a concepção da matéria nos são fornecidas pela velha Índia, onde algumas escolas budistas consideravam os elementos formados de partes extremamente pequenas, infinitésimas, dotadas de qualidades sensíveis; não mencionam o conceito de vácuo.

Meio melênio antes de nascer a fé cristã, já o filósofo grego Leucipo sustentava que o Universo era composto de uma infinidade de partículas incindíveis, increadas e imperecíveis, animadas de um movimento eterno no vácuo – átomos (palavra que significa, mesmo, “indivisíveis”).

Posteriormente, Demócrito (também heleno, que viveu no interséculo V-IV a.C.), retomou a doutrina, que consubstanciou nos seguintes princípios, coligidos por Tyndall, notável físico inglês do século passado:

“1 – Nada provém do nada. Nada que existe pode ser destruído. Todas as trocas são devidas a combinação ou separação de moléculas.

2 – Nada ocorre por acaso. Todo fato tem sua causa, da qual necessariamente ele procede.

3 – As únicas coisas que existem são os átomos e o espaço vazio; tudo mais é mera hipótese.

4 – Os átomos são infinitos em número e infinitamente variados na forma; eles atuam juntos e os movimentos laterais e rotações que dessa

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maneira se originam são os princípios dos mundos.5 – As variedades de todas as coisas dependem, acima de tudo, da

diversiade dos seus átomos em número, grandeza e agregação.6 – A alma consiste em átomos belos, uniformes e redondos, como esses

[constam] de fogo. Esse é o mais móvel de todos. Eles interpenetram todo o corpo e dos seus movimentos surgem os fenômenos da vida.” (Apud. Robert A. Millikan - “Electrons (+ and -) Protons, Photons, Neutrons, Mesotrons and Cosmic Rays – Chicago, 1947, pág 9).

Depois dele, Epicuro (sécs. IV-III a.C.) - também na Hélade imortal – professou a doutrina atomista que, no entanto, modificou, atribuindo aos elementos certo desvio espontâneo no movimento vertical, a fim de explicar o encontro dos átomos (e, portanto, a origem das coisas) e a liberdade da vontade humana, posto que considerasse os átomos também insetíveis e formados de corpos física e matematicamente mínimos.

A concepção epicurista sofreu sérios impactos, mormente por parte da escola idealística que seguia a Platão (sécs V-IV a.C.) e Aristóteles (séc. IV a.C.), para renascer em Roma, com Lucrécio (cerca de meia centúria antes de Cristo).

Consoante ao depoimento de Santo Agostinho (que viveu no interséculo IV-V da nossa era), essas ideias não ultrapassaram a terceira centúria cristã.

Durante toda a Idade-Média, tal doutrina entrou em eclipse, mormente graças ao pensamento árabe; mas depois reconquistou adeptos, principalmente na segunda metade do século XVIII, quando nos meios científicos europeus já havia uma base sólida para discussões, alicerçada e enriquecidas pelas notáveis contribuições dos franceses Lavoisier (1743-79), Proust (1754-1826), Gay-Lussac (1778-1850), do alemão Richter (1762-1807), do inglês Dalton (1766-1844) e outros.

….......................................................................................................................Em dias não mui distantes de nós, ao tempo em que ainda se supunha ser

o átomo a menor porção (e, por isso, impartível) da matéria, falava-se num fenômeno físico chamado “energia atômica” e estavam muito em voga as ditas “radiações atômicas”.

Com o evoluir da Ciência especulativa, transferiu-se toda relevância do “átomo” para uma (precisamente a mais importante) de suas frações então reconhecida – o núcleo. Daí a supremacia da expressão energia nuclear, que conduziu ao reconhecimento das reações mais propriamente denominadas nucleares, de vez que o núcleo é muito mais significativo que todo o resto do

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átomo.Na verdade, essa minúscula parte da matéria, infinitamente pequena (pois

suas dimensões orçam pelo 10-8cm (isto é: 1 centimilionésimo do cm) é constituída de duas partes: o já citado núcleo, situado ao centro e contendo cargas positivas; e os eletrontes periféricos, de diâmetro 100.000 vezes menor que o do átomo (ou seja: 1 decitrilionésimo do cm!), portadores de cargas negativas, e por sua vez distribuídos em três órbitas, que são por eles percorridas numa velocidade espantosa!...13

* * *

AS RADIAÇÕES

Desde que o Homem surgiu sobre a face da Terra – há algumas centenas de milênios – tem vivido continuamente exposto às radiações, embora nem sempre possa acusar-lhe a presença, recorrendo à imperfeição dos sentidos orgânicos.

Para explicar de modo acessível a um público talvez culto, mas não técnico, o que vem a ser as radiações nucleares, não saberíamos fazê-lo melhor do que pela palavra de um eminente especialista patrício, o engenheiro Dr. Fernando Juarez Pitanga Tóvora:

“Assim como no caso de um navio em tempestade, em que se tente encontrar uma forma mais favoravel de equilíbrio, pelo fato de sua tripulação jogar ao mar parte de sua carga... de uma forma semelhante agem os núcleos radioativos, sejam eles naturais ou artificialmente obtidos; tais núcleos estão contínua e espontaneamente se desintegrando ao lançar no espaço porções de seu conjunto.” (A Era Atômica e o Perigo das Radiações Nucleares – São Paulo, 1957, pág. 10).

13 Para que o leitor possa ter uma ideia aproximada das infinitésimas dimensões do átomo, aqui fica uma comparação material, à guisa de subsídio.

A “cabeça” de um palito de fósforo (de fabricação nacional) tem, em média, 3 milímetros de diâmetro (isto é: de largura). Pois bem. Se quiséssemos cobrir essa mesma distância com átomos dispostos lado a lado, precisaríamos de nada menos que 30 milhões deles!

E se fôssemos empregar, em vez de átomos, bolas de bilhar (cujo diâmetro oficial é de 6 centímetros), a extensão demarcada com igual número delas seria de 1800 quilômetros, ou seja: 30 vezes o comprimento da rodovia que liga a nossa capital com a aprazível cidade fluminense de Petrópolis!...

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De acordo com a origem, as radiações são grupadas em duas classes: naturais, quando o átomo é encontrado na Natureza em equilíbrio instável – emitindo-as, pois, continuamente, conforme dissemos – como acontece com os corpos chamados radioativos: (Urânio, Tório, Polônio, Rádio etc.); e artificiais, se provocadas pelo Homem, através de pesquisas técnicas bastante complexas e com o auxílio de aparelhos igualmente complicados (quais o Ciclotrônio, de Lawrence e o Betatrônio, de Kerst), fato esse que aqui não cabe esmiuçar.

Em estado normal, os raios naturais (hertzianos, infravermelhos, solares etc.) não tem nenhum efeito danoso; exceto alguns que, se absorvidos em grande doses, se tornam cáusticos.

De modo geral, podem-se admitir quatro situações em que o Homem é passível de receber essas emissões naturais, com que resultado?: -

I) Pelas radiações ambientais, encontradas no ar, na água e no solo, como acontece em algumas regiões da Terra (Escócia, Escandinávia etc.), cujas formações geológicas – como o granito, por-exemplo – afloram à superfície, acarretando uma radioatividade natural sensivelmente mais elevada que noutros lugares, embora de densidade relativamente fraca.

II) Em virtude da maior ou menor proximidade de áreas geográficas onde tenham sido provocadas explosões nucleares. A periculosidade de tais reações provocadas (cujo número já ultrapassa as quatro dezenas) é a seguinte, tendo em conta o raio (semidiâmetro) da superfície atingida:

até 1km de raio: 100% de mortalidade; entre 1000 e 1250m: 50% de mortalidade; de 1250 a 1500m: lesões graves e risco onipresente de mortalidade; de 1500 a 2000m: lesões menos graves, com a sobrevivência habitual.

Compreende-se facilmente que os indivíduos que estejam num raio maior que 1 quilômetro, embora escapando à morte imediata, apresentarão a síndrome dos irradiados, o que vale dizer: morrerão aos poucos...

Deve-se, também, incluir nessa contingência a possibilidade da ingestão de alimentos – animais ou vegetais – secundariamente radioativos (como pode ocorrer, por exemplo, com os peixes que cruzem águas sobre as quais tenham

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sido desencadeadas explosões nucleares.14

III) Por efeito dos raios cósmicos, extremamente penetrantes (sua energia seria milhões de vezes maior que a das fissões nucleares), posto que ainda mal conhecidos: sabe-se apenas tratar-se de uma chuva de partículas provenientes dos espaços celestes. Alguns pontos da superfície do globo (como o platô tibetano, por exemplo) possuem elevada densidade dessa radiação cósmica.

IV) Pelos processos de tratamento médico (Roentgenterapia, Curieterapia, cobaltoterapia etc.) de ação comprovadamente deletéria sobre o nosso organismo – conforme veremos no capítulo seguinte – por serem radiações voluntariamente dirigidas contra setores mais-ou-menos exíguos do corpo humano.

* * *

LIGEIRO HISTÓRICO DOS RAIOS-X

Em 1879, William Crookes, (notável físico e químico inglês) demonstrou que a passagem da corrente elétrica de alta voltagem através de um tubo de vidro onde se faz o vácuo determina descargas de raios fluorescentes.

Coube depois, em 1895, ao Prof. Alemão Wilhelm Konrad Roentgen, em continuação a uma descoberta, conseguir projetar os ditos raios fora do tubo de vidro, colocando um alvo metálico em ângulo com eles, que revelaram aptidão para atravessar, embora invisíveis, corpos opacos; e apresentaram o poder de destruir tecidos celulares.

Em 1901 era o sábio alemão distinguido com o Prêmio Nobel de Física.

* * *

OS APARELHOS DE RAIOS X

Os aparelhos de raios X baseiam-se no poder de penetração – através dos

14 Atualmente está sendo imposto a dezenas de países o famigerado Codex Alimentarius – um código de leis alimentares que permitirá o emprego de irradiações para matar as bactérias e demais micróbios que estejam nos alimentos. Está sendo feita uma campanha midiática para que as pessoas aceitem a irradiação de alimentos, a despeito de ela ter sido considerada perigosa por vários trabalhos científicos. A irradiação dos alimentos poderá levar as pessoas a sofrerem de várias doenças, inclusive o Câncer. O povo deve dizer NÃO ao Codex Alimentarius.

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corpos que tem os raios emitidos; no homem, por entre os diversos tecidos orgânicos.

Produzem três espécies de raios: Alfa, de pequena penetração, podendo ser interceptado por uma folha de papel; Beta, de invasão pouco maior, mas que pode ser obstado por uma delgada lâmina de alumínio, e Gama, de grande travessia, que somente as lâminas grossas de Chumbo podem sustar. Variam esses raios de acordo com o potencial de voltagem atuando no aparelho. Duas são as aplicações dos raios-X em Medicina – radiagnóstico (ou radiodiagnóstico) e radioterapia.

Os contínuos progressos na moderna técnica eletrônica vem conseguindo, dia após dia, novos aperfeiçoamentos, que são postos à disposição desses dois setores médicos. Lembraremos aqui apenas as três mais recentes conquistas: dois aparelhos para fins diagnósticos e um para radioterapia.

Dos primeiros:Um – construido na Alemanha, em fevereiro último – é capaz de

apresentar imagens mil vezes mais brilhantes que as comumente obtidas, sendo que o seu funcionamento não requer escuridão. Custa aproximadamente de 15.000 a 20.000 marcos, ou seja: em média 400.000 cruzeiros.

O outro – lançado agora na terra de Tio Sam – é um tipo móvel, para diagnóstico, que transporta para junto do leito do enfermo um serviço completo de raios-X; pode também, parar o movimento, a fim de que o médico reduza o tempo da exposição (e, pois, evitar que a imagem radiográfica fique turva); e até funcionar, ao mesmo tempo, com outro aparelho, em ângulo diferente, para confronto de imagens.

Finalmente, o terceiro, também “Made in U.S.A.”, - destinado à radioterapia – é um gigantesco aparelho, com capacidade para 70 milhões de eletrovóltios, destinado principalmente aos casos de cânceres profundos.

E termina o comunicado, de onde extraímos a notícia:

“O Dr. Cornelius P. Rhoads, diretor do Instituto, afirma que nos próximos 10 anos será descoberto o tratamento definitivo para o Câncer.” (Correio da Manhã, Rio, 24-2-1957).

O conhecido cancerologista esqueceu-se, todavia, de esclarecer de que maneira se chegará a esse feliz e almejado sucesso: se através de campanhas contra o fumo (como a que S.S.ª preconizou no recente Congresso de Londres, e da qual voltaremos a falar), ou com esse gigantesco aparelho de radioterapia cujos efeitos, a nosso ver, devem de ser semelhantes aos da famigerada cadeira-

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elétrica; porém produzidos “em câmara lenta”...

* * *

O PIONEIRO DA ROENTGENODIAGNOSE NO CONTINENTE AMERICANO

Tão logo os raios-X foram revelados ao mundo, o Brasil deles tomou conhecimento, passando à sua imediata aplicação, graças a um grande, renomado e inesquecível cientista, patrício nosso.

Em janeiro de 1896, foram apresentados em Paris os primeiros aparelhos de raios-X e, no ano seguinte, o Prof. Alfredo Brito, da Faculdade de Medicina da Bahia, mandava instalar um deles, em seu Serviço, sendo, portanto, o primeiro a funcionar no Continente Americano.

Aconteceu que naquele ano se travava no território baiano a luta de Canudos, entre forças do Exército e os fanáticos de Antônio Conselheiro, Alfredo Brito, desde logo, pôs seu aparelho à disposição do Serviço Sanitário do Exército. O primeiro a ser radiografado foi o soldado (ferido em campanha), Manoel Barbosa dos Santos do 5º Batalhão da Polícia da Bahia, em 9 de agosto de 1897, e cujo exame revelou projétil encravado no primeiro espaço intercostal esquerdo. Fato também significativo é o de ter sido na capital baiana que os raios-X foram primeiramente (no mundo inteiro) utilizados na Cirurgia de guerra.

A obra do nosso eminente patrício poderá ser melhor avaliada se considerarmos que, na Inglaterra, a respeitável “Pall Mall Gazette” manifestava por aquela época a seguinte opinião sobre os raios-X.

“Já estamos fartos de tanto ouvir falar de raios Roentgen. De maneira que qualquer pessoa poderá ver, a olho nu, os ossos das outras...

“Não é preciso acentuar quão revoltante e imoral é essa história...”

Mas, Brito, das alturas em que se encontrava – sábio que era, teve a imediata visão do verdadeiro significado e alcance que a descoberta representava, bem ao contrário do que sucedia nos centros mais adiantados deste Orbe.

Não perdeu tempo. Não aceitou raciocínio estranho. Agiu por conta própria, e prontamente. Foi o pioneiro da Roentgenodiagnose no continente americano.

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E não deixa de ser bem expressivo e (porque não dizê-lo?) altamente lisonjeiro para a cultura nacional o fato de, no ano imediato, outro baiano – esse não médico – o sempre bem informado Rui Barbosa, haver escrito:

“... como à visão radiográfica não escapam, hoje, os corpos opacos”. (Artigo “A Difamação”, publicado em “A Imprensa”, de 13-12-1898).

Claro está que pretendemos realçar aqui apenas a tradicional receptividade que encontram em nossa terra as novidades científicas vindas do extrangeiro. Compreendemos o justo entusiasmo dos divulgadores brasileiros, numa época, em que era cedo demais para se conhecerem as desvantagens do invento...

* * *

A ABREUGRAFIA

Anos mais tarde, coube a outro brasileiro – entusiasta e profundo conhecedor da genial descoberta do sábio alemão – dar um gigantesco passo no terreno radiográfico.

Foi o cientista bandeirante, Dr. Manoel de Abreu que, em 1936, construiu um aparelho que permite obter o cadastro torácico de coletividades, fixando – pela redução fotográfica – a imagem projetada no écran do aparelho de raios-X.

A esse processo – que foi no Brasil (e em grande parte do mundo) um fator decisivo na profilaxia da tuberculose – seu Autor chamou fluorografia; mas a classe médica lhe fez justiça, consagrando-o com o nome de abreugrafia, em homenagem ao ilustre inventor.

O homem – A vida! Nefelibatismos incongruentes pelos contrastes... Do sonho à realidade!... haverá mesmo, epaço equidistantes?... Eis a interrogação que nos sugerem a vida e a obra de Manoel de Abreu. Poeta, muito poeta. Cientista, ainda poeta. Realizador, também poeta.

Oscilando entre Baudelaire e Darwin, de Poe a Nietzsche, eis o homem que, aos vinte anos encontrou a si mesmo em Paris, doutor em Medicina e rico, tipo acentuadamente oriental, lembrando Krixnamurti – o indiano criado para ser Deus, por Annie Besant, mas que preferiu ser simplesmente filósofo...

A vida de Manuel de Abreu se nos afigura uma epopéia simplificada por ele mesmo, mas onde há grandeza e humanitarismo. Dá-nos a impressão de que ele paira e ondula num planeta longínquo desses que distamos muitos anos-luz.

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Vibrátil, sensível, emocional, mas sempre encapsulado em aparente egocentrismo..

Fala o poeta:

“Então, percorrendo os boulevards de Paris, cheguei à conclusão de que estava perdido numa floresta abstrata, na qual o nevoiero apaga o contorno das ideias; só havia uma salvação, a ciência, a pesquisa científica. Era bem pouco, quase nada, para quem pretendia, resolver o enigma do primeiro princípio; era também uma posição humilde e paciente, para quem tinha o frenesi indomável da mocidade e não podia esperar.” (Manoel de Abreu, Notas sobre a Origem da Fluorografia em Massa, pág. 4).

Agora, o médico e o encadeamento das circunstâncias que o levaram a uma rota luminosa:

“Foi quando, no Nouvel Hopital de la Pitié, conheci Gaston Lion, homenzinho seco, triste, meio só, que me convidou de repente a fazer o quimismo gástrico no laboratório do seu serviço; aceitei para não dizer não, para não perder a esperança; logo depois me incumbiu de fazer a fotografia das peças anatômicas, que resultavam de resseções procedidas por Pauchet; para uniformizar a superfície faiscante, tive a ideia de mergulhar as peças na água, o que deu resultado. E o estudo da fotografia me levou a construir em 1915 um minúsculo aparelho que eu introduzia no estômago e com o qual fazia 20 a 30 fotografias sucessivas da mucosa gástrica. Era um começo de pesquisa, talvez uma tentativa inútil, pois o meu pensamento estava voltado para a poesia abstrata, em que eu procurava o elixir da verdade sob a forma da volúpia do inexistente. Foi essa a origem do meu livro Não Ser, publicado alguns anos mais tarde.” (ob. cit. Pág. 5).

Finalmente o realizador:

“Em 1936, os engenheiros da Casa Löhner, embora céticos, construiram para mim o primeiro aparelho, o qual tinha a máquina Contax fixa na pequena base do tronco de pirâmide, depois construiram um segundo, mais aperfeiçoado, que deveria ser instalado num determinado dispensário; a este caberia a tarefa memorável de fazer o primeiro exame de tipo coletivo pela fluorografia.

Apresentei uma nota prévia à Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio, em julho de 1936 e fiz uma conferência na Associação Paulista de Medicina sobre a fluorografia em massa na profilaxia da Tuberculose, em setembro do

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mesmo ano. ….........................................................................................................................

Não houve nenhuma objeção: mais uma utopia ou menos uma utopia não viria modificar perigosamente o curso da organização sanitária do país. Foi escolhido um lôbrego desvão, entre duas largas paredes de estilo barroco no dispensário nº 3, situado na rua do Resende nº 128, onde eu deveria instalar a minha máquina. Achei o local bonito; naquele espaço estreito e sombrio eu via uma planície verde e nela o meu caminho, o caminho das multidões, o qual se perdia na luz do horizonte!

Instalado rapidamente o aparelho, o primeiro posto de cadastro torácico foi inaugurado em maio de 1937; comecei a trabalhar sozinho; logo depois tive ao meu lado Aloísio de Paula, Francisco Beneditti, Paulo Côrtes e Mário Greco; éramos apenas cinco; hoje, quase vinte anos mais tarde, somos uma legião espalhada em todos os recantos do mundo. Ao ver, deslumbrado, a situação atual da fluorografia em massa na luta contra as afecções torácicas, posso também medir o que se está fazendo, movimento unânime, gigantesco, inspirado no sentimento de fraternidade humana. Fui compensado moralmente, além, muito além do que merecia.” (ob. cit. Págs 19-BJ).

….......................................................................................................................O Poeta, como Cientista, honra ao Brasil e à Humanidade...

* * *

BREVE HISTÓRICO DO RÁDIO (9)

No cenário da Ciência francesa do século passado, quatro gerações de sábios eminentes tiveram consagração mundial: Os Becquerels.

Antoine César (pai), Alexandre Edmond (filho), Antoine Henri (neto), Jean (bisneto).

Acontecimento raro na História, esse de gerações sucessivas da mesma estirpe se notabilizarem no mesmo setor de conhecimentos! Todos os Becquerels foram físicos ilustres pelos seus estudos e pesquisas.

O que mais se projetou no mundo científico foi Antoine Henri, o casual descobridor da radioatividade do Urânio, em 1896, passo inicial da Era Atômica, que agora engatinha.

Estudava ele os corpos luminescentes, (isto é: os que emitem luz sem elevação de temperatura), quando Roentgen descobriu os raios-X, em 1895,

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como dissemos.Desde logo iniciou pesquisas para verificar se esses corpos também

emanavam radiações, como no caso dos raios-X e descobriu que o Urânio impressionava chapas fotográficas e que o nitrato de Urânio (que não é luminescente) também o fazia; portanto, projetavam raios, que passaram a ser conhecidos como “raios de Becquerel”.

Dessa descoberta partiram as pesquisas de um casal de cientistas, cuja grandeza espanta e fascina, pelo saber e tenacidade que posteriormente demonstrariam um e outro.

Pierre Curie, francês, supervisor dos trabalhos da Escola de Física e Química da Cidade de Paris – físico já notável – por haver, de colaboração com seu irmão Jacques, descoberto o fenômeno da pieseletricidade e o quarço pieselétrico, para medir quantidade fraca de eletricidade, aparelho esse que, posteriormente, muito auxiliaria à Senhora Curie, nas pesquisas da radioatividade. Pierre sozinho, inventou a balança ultrassensível que tem o seu nome etc.. Marie Sklodowska, polonesa, estudante muito pobre de Física e Matemática, na Sorbona.

Casaram-se em 1895. Esse enlace feliz, proporcionou à ciência mundial um advento cujas possibilidades ainda hoje são imprevisíveis.

Em junho de -98 identificaram uma nova substância radioativa, a que deram o nome de Polônio, e em 26 de dezembro do mesmo ano, comunicaram a descoberta de outra, que denominaram Rádio e demonstraram seu enorme poder radioativo; mas somente em 1903 conseguiram obter 2 decigramas do metal puro!

A significação da descoberta é transcendental, por inverter de golpe todas as teorias sobre a inércia das substâncias minerais; e provou haver, nesses últimos, transformação contínua e ininterrupta.

“Eis as únicas verdadeiras teorias de transformação dos corpos, simples, mas não como o compreendiam os alquimistas. A matéria evoluíra necessariamente através das idades e segundo leis imutáveis.” (Pierre Curie).

Rememorar sua obra genial é sentir o empolgamento do Maravilhoso!Os Curies tiraram de quase nada um todo, não aceitando desse todo –

nada!E concretizaram uma das mais rutilantes epopéias da Ciência de todos os

tempos, onde o fanatismo pesquisador se irmana com a honestidade de propósitos, caracterizada pelo desprendimento individual. Ele morreu cedo,

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atropelado por uma carroça, quando ainda se iniciava o seu merecido triunfo – em 19 de abril de 1906.

“A roda esquerda de trás encontra um pequeno obstáculo e esmaga-o: uma cabeça humana – a de Pierre. O crânio rebenta, espirrando matéria vermelha e grossa para todos os lados, na lama: os miolos de Pierre Curie”. (Eve Curie “Madame Curie”, trad. Monteiro Lobato, São Paulo, 1949, pág. 209).

Aquele cérebro privilegiado esparrama-se na rua Dauphine, em Paris! Ironia da vida: o cérebro de um sábio mistura-se com a lama da via pública!

Aliás, dois anos antes do sinistro – segundo essa mesma fonte fidedigna – Pierre caíra doente, prêsa de dores violentas, (que os médicos – à falta de melhor diagnóstico – classificaram de “reumáticas”...) Gemia a noite inteira, deixando aterrorizada sua extremosa esposa.

Por essa mesma época (1904), Marie teve um aborto, ao que parece, sem causa justificavel. Seria já consequencia das emanações radioativas?...

A ação acumulativa das radiações, na época, era praticamente desconhecida, portanto, é lícito atribuir-lhe a verdadeira causa letal, nos dois casos. Tanto mais que a dermite fora produzida pelos efeitos deletérios das emanações do Rádio.

A cientista Marie Curie amava ao marido: tinha carinhos quase maternais para seu companheiro de todos os momentos, pai de duas filhas. O choque foi brutal e aniquilador: ela, porém, jura a si mesma prosseguir no colossal empreendimento, já vitorioso; e o faz.

Era uma criatura pequena, e franzina, mas de resistência moral titânica!Nenhum cientista até hoje recebeu tantas homenagens como a Sra. Curie.Essas glórias lhe eram constragedoras e opressivas. Retraída por

temperamento, o triunfo a desnorteava.Todos os países do mundo civilizado a homenagearam. Convidada

insistentemente, visitou inúmeros deles; em todos, sua recepção foi apoteótica.No Brasil – diz ainda sua filha Eve (ob. cit., página 286):

“Quatro semanas no Rio de Janeiro, para onde foi com Irene fazer conferências, constituiram-lhe um descanso agradável. Cada manhã – sempre incógnita – nada na baía; à tarde, excursões a pé, em auto e até em hidroavião...”.

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Isso em 1926; Irene era sua filha mais velha.Jamais desejou glórias, e, sim, liberdade de estudar, pesquisar, produzir,

viver em seu “cantinho”, tranquila e ignorada, pois compreendia quão fugazes são as clarinadas da fama. Nenh'ua mulher foi mais modesta, e mais gigantesca, pelo saber e genialidade.

Em 1934 perdeu a Ciência mundial a grande Senhora Curie, uma das mulheres mais notáveis da Humanidade, em todos os tempos.

Vitimou-a o próprio Rádio que descobrira. O Dr. Tobé, seu médico assistente, diz:

“Madame Curie faleceu em Sancellemoz, a 4 de julho de 1934, de anemia perniciosa de marcha rápida, febril. A medula óssea não reagiu, provavelmente por estar alterada por um longo acúmulo de radiações.” (Ibidem, página 325).

* * *

O RÁDIO

O Rádio é um metal branco, raro, pertencente ao grupo do Bário, que se altera facilmente à luz e ao ar, e cuja atividade emissora diminui com o perpassar dos séculos.

No caso do Rádio, essa perda de atividade consome entre 1580 e 1691 anos para atingir a metade, emitindo em todo esse tempo raios-Gama de valor energético igual a 0,19 mev, transformando-se depois no material chamado Radônio, que é uma emanação gasosa daquele, e cujo período é de 3,825 dias.

O Rádio é considerado, em definitivo, como transformação dos minerais radioativos; transmuda-se em Polônio e esse em Chumbo, que é, pois, o “cadáver do Rádio”.

De acordo com a teoria de Rutherford, emite o Rádio três tipos de raios: Alfa, que constituem 92%, Beta – 3,2% e Gama – 4,8% (que são propriamente as radiações, na verdadeira acepção do termo).

Os raios Alfa são de natureza corpuscular, isto é: formado de partículas minúsculas do mesmo nome, todas animadas da mesma velocidade e seguindo a mesma trajetória em linha reta. Percorrem de 15.000 a 20.000 km por segundo. Seu poder de insinuação é de alguns milímetros no ar e alguns decimilímetros nos metais.

As emissões Beta são, também, corpusculares, constituidas de partículas

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homônimas, de velocidade variável (algumas atingem aproximadamente a da luz, que é de 300.000 km por segundo) e de trajeto irregular. Sua capacidade invasora é de alguns metros no ar e alguns milímetros nos metais.

As radiações Gama – ao contrário das duas precedentes – não são corpusculares, e sim de natureza eletromagnética. São bastante análogas à luz, propagando-se com a mesma velocidade dessa. Sua grande força de penetração se exerce no ar em muitas centenas de metros e no chumbo em muitos centímetros!

* * *

RADIOATIVIDADE

É a propriedade que tem certos elementos (Urânio, Tório, Polônio, Rádio etc.), e todos os seus compostos, de emitirem espontaneamente radiações invisíveis, capazes de produzir efeitos físicos, ou fisiológicos, tais como: impressionar chapas fotográficas, ionizar gases, ozonizar o oxigênio, excitar a fluorescência e a fosforescência de certas matérias etc..

Em sua forma natural foi descoberta, como dissemos, ao acaso, por Antoine Henri Becquerel, em 1896, e depois confirmada por Pierre Curie; a modalidade artificial é contribuição de Frédéric e Irene Joliot – Curie 1933, que lhes valeria o prêmio Nobel, dois anos depois.

Eis a explicação do transcendental fenômeno através da palavra de um abalizado especialista:

“Se bombardearmos uma placa de Alumínio ( Al) com partículas Alfa de Hélio (He), forma-se um núcleo composto, motivado pela incorporação de dois protontes e um só neutronte da partícula Alfa. Esse núcleo composto é instável. Emite no mesmo instante um eletronte positivo (positonte). Sabemos que esse último corresponde à transformação nuclear de um protente em neutronte; o novo corpo formado possui assim 16 neutrontes e 14 protontes. Esse novo corpo é o Silício e se representa Si. O corpo intermediário formado é o Fósforo radioativo, ou radiofósforo [Ph*],15, corpo radioativo artificialmente obtido, cujo período é de três minutos.” (Ramioul, ob. cit., pág. 52).

Nas reações de bombardeio nuclear são usados diversos agentes: a

15 “O asterisco que aparece à direita e ao alto do símbolo de um elemento é uma notação convencional para indicar que esse elemento é radioativo.” (Nota do Autor mencionado)

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partícula Alfa, o protonte, o neutronte, o deuteronte, e o eletronte, já que as emissões de radioatividade natural são – de si mesmas – relativamente fracas para culminarem numa desintegração nuclear. Daí recorrerem os especialistas à aceleração dessas partículas deficientes, utilizando aparelhos especiais, como aqueles a que incidentalmente nos referimos no segundo tópico deste capítulo, ao tratarmos das radiações.….........................................................................................................................

Às substâncias que apresentam propriedades semelhantes às de outras (mesmo número de protontes nucleares e mesma quantidade de eletrontes periféricos), porém massa atômica diversa, dá-se o nome de isótopos.

O COBALTO

Outro coadjuvante na terapêutica clássica do Câncer, do qual pouco teremos a dizer que interessa ao presente trabalho, é o Cobalto.

Esse elemento químico descoberto em 1735 pelo Sueco Brandt, é um metal esbranquiçado, dútil e duro, muito semelhante ao níquel.

Sob a ação de bombardeio nuclear, transforma-se num isótopo radioativo, cuja ação energética é de 1,33 mev (portanto, sete vezes maior que a do Rádio, que já vimos ser de 0,19 mev). Seu período de atividade é de 4 a 5 anos.

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CAPÍTULO V

TERAPÊUTICAS...

Dicotomia na conceituação e terapêutica do câncer. - A chamada “Cancerologia Clássica”. - Os Não-Conformistas. - Situações desiguais... - A Cirurgia geral. - A Cirurgia no Câncer. - Ràdiagnóstico e Ràdioterapia. - Ação lesiva dos raios-X. - O Rádio no tratamento do Câncer. - A Cobaltoterapia. - Efeitos das radiações no Homem. - Radiologia, especialidade médica perigosa. - Sombrio futuro da espécie humana. - A hormoterapia (sexual) cruzada. - Ópio e seus derivados. - Ação maléfica da chamada “Terapêutica Clássica do Câncer”. - A Ciência independente reage.

DICOTOMIA NA CONCEITUAÇÃO E TERAPÊUTICA DO CÂNCER

Duas principais escolas médicas atualmente se defrontam na conceituação e terapêutica do Câncer. Uma intransigentemente ortodoxa que, graças a certa apresentação aparatosa e por se prestar a entendimentos diversos com os trustes internacionais que operam no setor médico, vem merecendo, em todos os países, o irrestrito favoritismo oficial e arrebatando a preferência das massas sofredoras, geralmente mal informadas e com acentuado tropismo (não-obstante nem sempre preparadas economicamente) para os tratamentos espalhafatosos com que lhes acenam hábeis camelôs.

Outra, que procura ver o Câncer sob prisma não menos científico e ainda com a vantagem de ser incontestavelmente mais médico e humano.

A primeira empresta a si mesma o qualificativo de “Clássica”;quanto a segunda, é conhecida como a dos Não-Conformistas.

Praza a Deus que, do entrechoque dessas duas correntes gigantescas saia vitoriosa... uma terceira – a coletividade padecente que, aterrada, curtindo dores, assiste a distância o formidavel duelo, qual uma imensa e infeliz grei de mirões...

* * *

A CHAMADA “CANCEROLOGIA CLÁSSICA”

De um lado a Medicina Clássica, que oficialmente governa o setor

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Câncer; encastelada na teoria da irritação celular como etiologia da moléstia, define-a como doença local, tendo por fase total a tumoração, que se dissemina, pela migração de células desregradas através dos sistemas sanguíneo e linfático. Adotando, por consequência, como terapêutica a excisão do tumor e da rede linfática circunvizinha, ou radiações, como a Curieterapia e a Roentgenoterapia.

Mera coincidência... O mesmo tratamento, mutátis mutandis, era utilizado pelos Egípcios, que extirpavam o tumor e cauterizavam com metal em brasa os tecidos circunjacentes. Isso lá se vão quatro-mil anos... Posteriormente, entre os gregos, transmitiu-se, de geração a geração, a máxima – vigente por longo tempo – segundo a qual, aquilo que a faca não consegue remediar pode ser curado pelo fogo...

E se hoje déssemos um salto retrospectivo de quase meio milênio, ainda iríamos encontrar os nossos selvagens, no seu primitivismo ingênuo, usando também um curioso processo de cauterização, em que aqueciam no fogo, ao máximo suportável, um punhado de barro bem amassado, com o qual circundavam as ramificações do tumor, até o corpo central do neoplasma desprender-se e cair.

Cabe acrescentar que os postulados em que se baseia a corrente “clássica” são absolutamente cerebrinos e arbitrários, sem o menor apoio em Patologia, onde toda tumoração é consequência de distúrbios biológicos de caráter geral; portanto, sinal físico.

* * *

OS NÃO-CONFORMISTAS

Contrários aos Clássicos estão os Não-Conformistas, que preceituam ser o Câncer moléstia de caráter geral (isto é: panclínica), produzida por causa também geral; e situam a tumoração maligna – que encaram como sinal físico – numa fase tardia do morbo, ficando assim a enfermidade condicionada ao emprego de remédios capazes de estimular as reações bioquímicas das defesas orgânicas.

* * *

SITUAÇÕES DESIGUAIS...

Ao contrário do que talvez se possa imaginar, essas duas correntes, se

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arrostam em desigualdade absoluta de condições. Conforme dissemos, a primeira é oficial, detentora do controle de todos os serviços especializados em Câncer, de cada país. A segunda é marginal, embora enfileirem-se em suas hostes muitos cientistas de grande valor.

Uma, tem por si os favores dos poderes constituídos, que não apenas lhe facilitam todas e quaisquer realizações, como ainda lhe dão força para exercer tenaz perseguição, não somente contra os pesquisadores estranhos à Medicina, como também os que ilustram esse ramo do saber humano; sempre que uns e outros não se comportem qual um abúlico rebanho amendizente, como carneiros de Panurgo...

* * *

A CIRURGIA GERAL

Incontestavelmente, nos últimos tempos vem a Cirurgia sendo o setor médico que mais evolui, graças, sem dúvida, à solução cabal conseguida nos dois setores que constituiam no passado obstáculos predominantes: o da dor e o das infecções.

Em época mais ou menos remota, utilizavam-se para atenuar o fenômeno dor expedientes quase sempre precários.

Deixando de lado certos recursos arcaicos, tais como: para a primeira nepente da Antiguidade Clássica, o cânhamo dos Chineses e Citas, a poção de Dioscórides, a beladona, a esponja soporífera, preconizada pela escola médica, de Salerno, a mandrágore, de Hugo de Lucca, o mesmerismo (que agora se procura reintroduzir), a narcose pela ingestão de bebidas fortemente alcoólicas etc.; e para a outra a urina, o vinagre, o vinho etc. etc., podemos dizer que os pacientes só muito mais tarde – no século passado – puderam libertar-se daqueles dois angustiantes problemas, respectivamente com o advento da anestesia e da antissepsia.

A anestesia – termo proposto por O. W. Holmes – despontou cientificamente com Humphry Davy quando, por volta de 1800, tratando da propriedade narcótica do protóxido de Azôto, preconizou “seu uso com vantagem nas operações cirúrgicas”. Esse elemento – abandonado a seguir, por falta de aparelhagem adequada – voltou a ser empregado, como é hoje, após vencido tal obstáculo.

Em 1818, o inglês Faraday demonstrou o valor analgésico do éter sulfúrico, no que foi seguido pelos americanos Godman (-22), Jackson (-33), e

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Wood e Bache (-34). Na Cirurgia, esse elemento fez sua estréia na terra de tio Sam, em 1842, graças a Crowford Long. Hoje é empregado em associação com o Oxigênio.

Quanto ao clorofórmio, foi descoberto em 1831, pelo alemão Liebig, e pela primeira vez usado como anestésico pelo escocês Simpson, em -47. Foi a narcose preferida pela Cirurgia durante muito tempo; hoje, porém, está praticamente em desuso nos grandes centros médicos, dados os efeitos secundários que produz.

Atualmente, predominam na anestesia geral os gases (Etileno, protóxido de Azôto e Ciclopropano) por inalação; os barbitúricos, por via intravenosa; e os curarizantes.

No campo do combate às infecções, o pioneiro foi o médico italiano Enrico Bottini, que em 1863 fez as primeiras experiências utilizando o ácido fênico, e três anos depois dava a lume os resultados. Não-obstante essa prioridade cronológica, o nome geralmente apontado é o do inglês Joseph Lister, cujos primeiros ensaios datam de 1865 e que, entretanto, só em -67 publicaria um relato dos seus tentames.

Essa questão, aliás, está hoje cabalmente resolvida, graças ao reforço trazido pelos antibióticos, o que se deve aos trabalhos do escocês Alexander Fleming e Wakesman etc.

A batalha da antissepsia foi toda ela inspirada nos estudos e pesquisas do grande Pasteur. Tanto ela quanto a que anteriormente sumariamos trouxeram solução cabal e definitiva para os dois mais importantes problemas da Cirurgia, a dor e a infecção.

Estava, pois, em sua fase terminal o deslocamento progressivo das grandes escolas de cultura médica, bem como de suas tendências filosóficas.

Da francesa, notoriamente clínica, passou-se à germânica, mais laboratorial; dessa, em ritmo acelerado, para a norteamericana, eminentemente cirúrgica.

* * *

A CIRURGIA NO CÂNCER

A Cirurgia é, no Câncer, sempre mutiladora, brutal, devastadora, pois sua finalidade é exatamente esta: destruir a tumoração e todos os tecidos circunjacentes que lhe seja possível. Um êxito operatório é tudo; a consequência, quase nada!...

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Praticar a ablação tumoral com técnica perfeita é o seu objetivo máximo, não cabendo ao cirurgião a responsabilidade de não curar o Câncer!

Talvez pareça audacioso o que acabamos de afirmar, mas desgraçadamente é a Verdade; aliás aceita até mesmo pelos que emprestam algum valor a esse recurso terapêutico, como o já citado especialista de Israel, Dr. Berenblum, que chega a reconhecer, posto que não sendo inconveniente em tal prática:

“o método de tratamento cirúrgico implica sempre o sacrifício de certa quantidade de tecido normal circundante ao crescimento...” (Ob. cit., pág 97).

É a Cirurgia o ramo da Medicina que mais progrediu nos últimos cinquenta anos, atingindo a culminâncias nunca dantes sonhadas, porque encontrou ambiente propício a época mecanizada em que vivemos, dado ser ela, em última análise, uma forma de artesanato. Talvez sublime, mas artesanato...

Seu progresso é maravilhoso, inegavelmente; ela em menos de meio século evoluiu mais do que nos milênios que antecederam à civilização atual. Mas, daí a oferecer ao paciente uma restitutio ad integrum, a distância é muito grande, em se tratando do Câncer...

Encontrou seu habitat nos Estados Unidos onde, sem dúvida, predomina a mentalidade da técnica que em verdade é a estrutura basilar dessa colossal nação. A Cirurgia ianque é sobremaneira artesã; visa, acima de tudo, ao ato cirúrgico procurando, cercá-lo de garantias e escudando-o com todos os recursos que o possam reforçar.

É realmente prodigioso o que vem realizando, desbravando setores até então havidos por inexpugnáveis.

Convém, todavia, lembrar que ela atua somente no setor anatômico; corrige, modela, repara minúcias de filigrana; mas sua eficiência é limitada ao restabelecimento das funções orgânicas perturbadas por fatores de ordem anatômica. A Medicina, porém, não se restringe a esse setor; existem muitos problemas na Patologia humana que não podem ser resolvidos a golpes certos de bisturi, ou com pesquisas laboratoriais, como é a tendência científica da América do Norte...

A Cirurgia – conforme dissemos – é artesanato (repousa na habilidade manual e técnica...); a Clínica é uma profunda filosofia médico-científica.

E além disso, inúmeras são as enfermidades que fogem radicalmente à esfera cirúrgica (por-exemplo: as cardiovasculares, cujo índice de mortalidade atinge, em quase todo o mundo, 80% do obituário geral).

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Entre as não cirúrgicas inclui-se o Câncer, o que está sobejamente comprovado pelos absolutos insucessos até hoje verificados. Tanto assim, que enfermidades que apresentam também tumorações (como a Sífile, a Lepra, a Malária etc.) jamais foram tratadas pela extirpação tumoral – mesmo ao tempo em que suas causas eram ainda ignotas...

Isso porque a excisão neoplásica, além de perigosa, é uma verdadeira aventura médica, fato esse reconhecido até mesmo entre as hostes da Cancerologia Clássica. Eis o que, em 1952, dizia o já aqui mencionado Dr. Berenblum:

“...se 99% das células cancerosas forem extraídas ou destruídas pelo cirurgião, o um porcento restante, na maioria dos casos, matará ao paciente, se não for também extraído ou destruído a tempo.” (Ob. cit., pág. 92).

E adiante:

“Quando um câncer se localiza num dos órgãos vitais, do corpo, a quantidade permitida de manipulações cirúrgicas é, evidentemente, limitada e as possibilidades de uma cura radical são menos favoráveis ( O termo vital é usado aqui num sentido especial. Nessa acepção, o estômago é menos vital que o fígado, porque é mais facilmente operável que esse último. O cérebro, por certo vital, permite a extração bem sucedida de tumores).” (Ibidem, pág. 95).

….......................................................................................................................

Provando o que acabamos de dizer está o fato de a Cirurgia – que absorveu o problema do Câncer e vem lutando bravamente para resolvê-lo – até agora ainda não ter conseguido debelar o morbo, que alastra em proporções alarmantes.

Fato semelhante vinha ocorrendo com a Tuberculose, em que a Cirurgia especializada somente proporcionava mesquinhos e discutíveis resultados; entretanto está praticamente resolvida pela terapêutica adequada, que fez cair em poucos anos 80% do índice letal dessa cruel enfermidade.

A Cirurgia, na Tuberculose, age em nossos dias como expediente reparador de lesões irreversíveis, isto é: prossegue adstrita a seus verdadeiros limites. O mesmo acontecerá, certamente, no futuro, com o Câncer quando, depois da cura clínica, ela irá cooperar na retirada de tumorações já inertes.

Opõem-se os Clássicos a reconhecer a evidência dos fatos, com a mesma

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teimosia dos opositores de Pasteur, razão por que infelizmente ressurgem no cenário mundial as competições doutrinárias estéreis, em detrimento da Humanidade sofredora. Puro academicismo filosofante, como no século XVIII...

Os Ortodoxos, fortemente entrincheirados no poderio oficial e escudados pelo potencial econômico (representado por muitos milhões de dólares) dos trustes a eles enlaçados, negam-se a permitir a comprovação de qualquer recurso terapêutico destinado ao Câncer, que não se entrose com os seus obsoletos postulados. Não aceitam, nem sequer examinam; recusam simples e terminantemente.

Ilustre cancerólogo e abalizado cirurgião, em aula oficial do Serviço Nacional do Câncer, afirmou:

“A terapêutica do Câncer é a cirúrgica”.

E noutra oportunidade:

“A Cirurgia do Câncer é técnica, e não médica, porque a médica visa a recuperação total; a do Câncer é somente protelatória”.

Essa é, infelizmente, a Verdade. Nada, porém, se pode incriminar aos cancerologistas ortodoxos por usarem e abusarem do único meio ao seu alcance; a não ser a obstinação em que se emparedam, infensos a todos os outros recursos e primando em os desconhecer. Uns, por convicção; outros por interesses inconfessáveis, embora, saibam todos que a Ortodoxia em Medicina é absurdo imcompreensível, dadas as grandes lacunas existentes em todos os setores da Ciência de Hipócrates.

* * *

RADIAGNÓSTICO E RADIOTERAPIA

Os aparelhos de raios-X para diagnose apresentam voltagem relativamente baixa; e os raios-Gama por eles emitidos (nessa especialidade chamados moles) são dotados de um poder invasivo inferior aos seus congêneres usados na radioterapia (onde, por isso mesmo, são denominados duros).

Sua penetração, aliás, varia de acordo com os tecidos a serem

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atravessados: os de contextura branda (músculos, vísceras, vasos sanguíneos, tendões e nervos) são facilmente transpassados; os dos órgãos também o são, conforme sua densidade; os de estrutura mais compacta (como os dos ossos) tornam-se mais dificilmente perpassáveis. É nessa maior ou menor penetrabilidade dos tecidos que se baseia a radiografia, pela tonalidade das imagens.

Em se tratando do Câncer, interessa-nos principalmente a radioterapia; e dessa, as radiações Gama emitidas, porquanto é no seu poder destrutivo sobre o tecido celular que se estrutura sua ação pseudoterapêutica.

* * *

AÇÃO LESIVA DOS RAIOS-X

Desde o início deste século, ainda nos primeiros anos da novel descoberta, conhecem-se os efeitos deletérios dos raios-X. Lamentavelmente até agora a situação não mudou.

* * *

São palavras de um notável especialista argentino – Dr. Domingo Pescuma – no interessante livro “Tecnicas de la Curie y Roentgenterapía” (Buenos Aires, 1945):

“As radiações podem atuar sobre o sangue de duas maneiras distintas: influenciando os elementos do sangue circulante, ou atacando diretamente os órgãos hematopoéticos (baço, fígado, medula óssea etc.).

É evidente que, dos elementos constitutivos do mesmo, os que apresentam maior grau de sensibilidade à ação dos raios são os glóbulos brancos, cujo número diminui, de maneira considerável, chegando – quando a irradiação foi demasiada – a provocar uma Leucopenia progressiva, que acarreta a morte”.

…......................................................................................................................“Contrariamente ao que ocorre com os leucócitos, os glóbulos vermelhos

são menos sensíveis aos raios Roentgen, razão pela qual durante algum tempo chegou-se a crer que não eram afetados em absoluto pelos mesmos. Sem embargo, com as radiações maciças como as praticadas por Seitz e Wintz, origina-se uma séria destruição das hemácias, que nem sempre pode reparar-se, e costuma ser causa de anemias mais ou menos profundas, de acordo com

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a duração e intensidade das radiações. Observa-se ainda que, à medida que a quantidade de glóbulos vermelhos diminui, é também menor a riqueza em hemoglobina.” (Páginas 175-6).

…......................................................................................................................Sobre as células, seus efeitos não são menos deletérios: desaparecem as

mitoses e cariocinese celular e aparecem células atípicas ou degeneradas. ….......................................................................................................................

“Astenia, hipotensão, vertigens, náuseas, taquicardia, sintomas em si mesmos observados pelo autor, acompanhados de uma acentuada modificação na fórmula sanguínea, confirmam uma vez mais o que temos dito a respeito da influência maléfica que as radiações exercem sobre o organismo.” (Idem, Ibidem, págs. 177-8).

….......................................................................................................................Pode-se ler também, noutra não menos agradável obra, intitulada “O

Átomo”, do Dr. Fritz Kahn (trad. Huberto Rohden e Francisco José Buecken; 2ªed., Rio. s. d.):

“Os raios-Gama são fatais aos seres vivos, porque o seu comprimento de onda é exatamente 1/1000 do diâmetro dos átomos dos tecidos vivos, com isso provocando fortes oscilações nos átomos e estes, por sua vez, emitem como irradiação secundária, ondas térmicas de efeito escaldante. Este calor local de origem secundária, uma espécie de calor de frenação, faz com que os tecidos do interior do corpo fervam e coagulem, à semelhança do ovo que coagula na água fervente.” (Págs. 68-9).

“Quando fazemos estudos de substância fortemente radioativa, escreve Marie, temos de tomar precauções especiais para conseguir medições rigorosas. Os diversos objetos empregados nos laboratórios não tardam a tornar-se também radioativos. O ar do recinto faz-se condutor. No mesmo laboratório, o fenômeno chega a tal grau que não conseguimos ter um aparelho imune.” (Eva Curie, ob. cit., pág.167).

Essa impregnação ocorre também no organismo humano, com duração variável, sendo que no esqueleto persiste por mais tempo.

Como os raios-Gama penetram todas as espécies de átomos, sem perda de energia, eles praticamente não conhecem obstáculos.

Partindo dos laboratórios, propagam-se pelo teto aos andares superiores do edifícil, bem como através das paredes e, embora de intensidade reduzida,

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ainda podem ser comprovados a 100 e a 500 metros de distância do ponto de emissão, destruindo qualquer vida.

Os jornais publicaram, há tempos o seguinte e significativo telegrama:18-8-[19]56. O tratamento pelo raio-X provoca o Câncer. Estolcomo, 18

(APP).

“O tratamento pelo raio-X aumentaria os riscos de Câncer no sangue, segundo tese defendida ontem, no transcurso da primeira jornada do Congresso Internacional de Radiologia, que se realiza nesta Capital, pelos professores Farber, de Copenague e C. W. Brow, de Londres.

Os trabalhos que levaram os dois professores a essa conclusão referem-se a 13.500 casos de pessoas tratadas de diversas doenças do dorso por meio de raios-X. Vinte e oito desses doentes morreram de Leucemia, quando, de acordo com a porcentagem habitual com referência a um semelhante número de indivíduos, somente três casos de Leucemia deveriam ter sido registrados”.

É contra essa absurda terapêutica que nos erguemos, revoltados, em todo o mundo, os Não-Conformistas, para depor e protestar contra a Medicina Oficial do Câncer, em nome da Humanidade!

Tanto mais que é uma terapêutica sem estrutura de base, pois “destruir não é tratar; é agravar”. Acresce ser a radioterapia uma, ou talvez a mais difícil, dentre todas as especializações médicas. Dada sua complexidade, requerer conhecimentos básicos de muitas outras, quais Biologia, Bioquímica, Física (eletromagnética e nuclear), Anatomopatologia etc.

“O exercício da Radioterapia exige conhecimentos fundamentais de eletricidade e das propriedades físicas das radiações, de radioatividade, da produção de raios Roentgen e da ação recíproca entre as radiações e a matéria. Além disso, a aplicação inteligente das irradiações à Terapêutica requer o conhecimento dos efeitos que produzem nas células vivas, e nos diferentes tecidos; em suma: o conhecimento da Radiobiologia”. (Regato e Ackerman, ob. cit. Pág. 84).

Acontece que, para ser radioterapeuta, no Brasil, somente a credencial exigida é ser médico e dispor da custosa aparelhagem, montada de acordo com as exigências dos Serviços de Engenharia das Prefeituras Municipais.

É verdade que temos o Instituto Nacional de Ciências e Técnicas Nucleares, criado a dois anos (junho de 1956), em cujas atividades está incluído

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um curso de Radiologia, que tem por objetivo tratar,

“de uma parte, das ações biológicas das irradiações ionizantes emitidas pelos reatores atômicos, dos aceleradores de partículas ou radioelementos e também do método dos indicadores nucleares”.

Tal entidade, porém – que saibamos – ainda não começou a frutificar. Pelo menos no setor do Câncer...

O que nos tem sido dado verificar (e temos comprovantes em nosso poder) em doentes oriundos de Serviços de Radioterapia é de enternecer, ou revoltar! (*)Lista hoje muito em evidência, 250 aplicações de Radioterapia, num período de seis meses! Era esse cliente um cirurgião-dentista, que vendera a casa de residência e depois o consultório para custear seu tratamento, e quando em fase final, retirou-se do Rio para ir morrer segundo disse – longe e ignorado!

Não estranhe o cândido Leitor essa nossa expressão haver pago, onde seria de esperar “fez”, ou “sofreu” etc. É que, na verdade as duas-e-meia centenas de radiações não foram praticadas no enfermo, porém, simuladas. Aliás, não fora isso, ele teria morrido antes de terminar o tratamento, pois segundo o Comitê Americano de Proteção contra as Radiações, a dose-padrão oficialmente havida como fatal para o ser humano é de 400r. Ora, em média, cada exposição desfere sobre o doente 300r.; isso multiplicado por 250 iria perfazer um total de 75.000 roentgens!

Daí a prática... “humanitária” de certos radioterapeutas que frequentissimamente (consoante estamos informado, muito mais do que à primeira vista possa parecer) obturam o aparelho emissor e, livrando o cliente de u'a morte certa, interceptam radiações que só foram prescritas para efeito de pagamento!

Alguns outros pacientes fizeram mais de cem: um, a que atendemos em certo edifício da Presidência da República, sofrera cento e trinta e cinco exposições na região maxilar!

Nesses doentes, a radiodermite substituíra ao tumor canceroso – destruindo todo tecido circunvizinho.

* * *

O RÁDIO NO TRATAMENTO DO CÂNCER

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Em geral, o Rádio é aplicado nos pacientes de Câncer – de acordo com a região a ser tratada – por meio de agulhas, tubos, placas etc., contendo miligramas de um sal desse metal, em razão do seu alto custo.

Tais aplicações são sempre cercadas de cuidadosas precauções e de dispositivos especiais para controlar a dosagem; afora outros artifícios, destinados a fixar a fonte radiadora sobre a área de atuação.

* * *

A COBALTOTERAPIA

O emprego do Cobalto na terapêutica do Câncer baseia-se no elevado poder energético que passa a ter esse metal quando radioativo (como já dissemos, sete vezes maior que o do próprio Rádio).

A chamada bomba de Cobalto-60 – que vem sendo utilizada há quatro anos para cá – é um aparelho contendo o isótopo que produz as radiações.

Quase desnecessário acrescentar que da alta capacidade energética desse perigoso engenho decorre sua terrível ação ionizante sobre os tecidos humanos.

Além disso, mesmo do ponto-de-vista econômico, torna-se ainda menos desejável essa inovação puramente mercantil, pois a duração desse isótopo é de apenas cinco anos, o que significa a necessidade de ser ele periodicamente readquirido...

* * *

EFEITOS DAS RADIAÇÕES NO HOMEM

Com a descoberta do Rádio surgiram as mesmas esperanças que com os raios-X. De sua ação terapêutica contra o Câncer, a própria Sra. Curie estava plenamente convicta. Acontece, porém, que o efeito do Rádio é semelhante aos dos raios-X; portanto, agressivo aos tecidos. Seus protomártires foram o próprio casal Curie, como já dissemos.

Generalizou-se, portanto, a crença – ainda hoje vigente – de que os tumores malignos são compostos de células mais suscetíveis à destruição, ou inativação do que as células normais.

Mas – como bem observa o eminente engenheiro Dr. Fernando Távora – cumpre não se perca de vista

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“A tremenda energia de penetração das radiações que atravessariam não só as partes doentes, indo também atingir as sãs e ao lado disso o seu efeito de tabela, ou rebatimento que faz com que se desviem para uma direção inteiramente diversa da inicial (recorde-se, como ilustração, a colisão de duas bolas de bilhar).” (Ob. cit., pág. VF).

Já vimos, no capítulo anterior, a natureza e os tipos de radiações, bem como o seu poder de penetração no ar e nos metais. Vamos agora observar – embora panoramicamente – os efeitos de tais emissões na espécie humana.

De início, diremos que os raios são absorvidos pela matéria viva na seguinte escala de penetração dos tecidos:

raios Alfa – alguns decimilímetros,raios Beta – alguns milímetros,raios Gama ou raio-Xneutrontes –

Convencionou-se dar o nome de semivida biológica (ou eficaz) de uma substância radioativa num tecido à velocidade com que ela é eliminada do mesmo, além da razão de desintegração radioativa.

Tratando-se da espécie humana, os órgãos são atingidos na seguinte escala decrescente de radiossensibilidade; consoante a lição do Dr. Ramioul (a quem já nos referimos):

“órgãos sanguiformadores,timo,ovário,testículo,papilas dos pelos,mucosas (exemplos: as paredes de revestimento da cavidade: bucal,

estomacal, intestinal etc.),glândulas sudoríparas e sebáceas,epiderme,serosas (membranas que envolvem as vísceras, como o peritônio, por-

exemplo),rins e cápsulas suprarrenais (pequenas glândulas que secretam um

hormônio defensivo muito importante),fígado,

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pâncreastireóide,músculos,tecido conjuntivo (ou de sustentação),vasos sanguineos,tecido venoso,tecido nervoso.” (Ob. cit., pág. 105).

…........................................................................................................................O emprego das radiações no combate às neoplasias malignas do ser

humano deve-se provavelmente aos princípios formulados por Bergonié e Tribondeau, em 1904, sobre a radiossensibilidade dos tecidos (após experiências feitas in anima vile):

a) O efeito das radiações é tanto mais agressivo quanto maior é a atividade reprodutora dos tecidos.

b) A ação das radiações torna-se cada vez mais acentuada, à medida que uma célula dista de atingir sua fase terminal de formação.

c) O efeito das radiações é tanto mais intenso quanto a morfologia e as funções celulares são menos definitivamente fixadas.

O primeiro preceito nos mostra porque a mitose é o período da célula mais sensível às radiações: os embriões, cujas células estão em constante atividade reprodutora são muito mais tangíveis que os organismos de mais idade. Daí ser o Câncer – de proliferação desordenada e rápida – particularmente sensível às radiações.

O segundo nos alerta para um curioso fato biológico. Em seu processo de desenvolvimento, antes de atingir a maturidade (obtida graças ao mecanismo preciso das funções de células que tem, por sua vez, destinos mais-ou-menos especializados a cumprir na formação do todo), os tecidos passam por uma série de transformações regulares.

São células novas, a princípio, que amadurecem progressivamente, antes de alcançar o estágio definitivo.

Quanto ao terceiro princípio daqueles dois eminentes especialistas franceses, há que observar o seguinte. No corpo humano, alguns tecidos são altamente especializados (como o tecido nervoso), ao passo que outros existem de função menos diferenciada (como o conjuntivo). O espermatozoide adulto, por exemplo, tem missão biológica já terminada; não evolui mais, sendo por

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isso insensível aos raios-X. Por outro lado, as células da medula óssea, que são apenas o primeiro estágio na formação dos elementos do sangue – e ainda não tem, pois, função realizada – são hiperestésicas às radiações.

É bem verdade que as especialistas na arte de carbonizar sintomas, procurando canhestramente justificar sua obstinada participação na suposta e lucrativa “cura” do Câncer, escudam-se em tabelas oscilantes de tolerância teórica do corpo humano às radiações. Tais estimativas, apresentadas em valores aproximados, são – no estado atual da Medicina – as seguintes:

Dose máxima, recebida de uma só vez – até 200r (ou seja: a que apresenta 10% de mortalidade).

Até os 23 anos – 25r.Doses padrão máximas de raios Beta, -X e – Gama:

– Gama:diária – 0,1r (geral)semanal – 0,3r (geral) e 1,5r (local)16

No caso de um possível exame médico de raios-X – 1r. (ou, aproximadamente, o teor de 10 chapas radiográficas).

Por esse último exemplo, conclui-se que um técnico atômico que tivesse de submeter-se a tal terapia, por precaução, deveria abster-se do seu mister pelo prazo de uma semana.

Releva notar que as cifras acima, apresentadas nos Estados-Unidos pela Comissão Nacional de Proteção contra a Radiação, representa17 – consoante declarou em fevereiro do ano passado o diretor da dita organização, Dr. Laurinston Taylor, - uma redução à terça parte, dos índices fixados em 1946.

Como se vê, a tendência entre os próprios especialistas é a [de] reduzir, cada vez mais, a dosagem das aplicações...

Por outro lado, cumpre também não se perca de vista o efeito cumulativo das radiações, o que vale dizer: tanto faz o indivíduo receber os 200r (dose máxima permissível) de uma só vez, como a eles se expor em aplicações semanais de 0,3r durante quase 13 anos, que o resultado será funestamente o mesmo: haverá sido bombardeado com duas vezes e meia a emissão necessária para lhe causar radiomutações genéticas de consequências verdadeiramente imprevisíveis...

….......................................................................................................................

16 No último Congresso Internacional de Radiologia, reunido no México (1957) foi proposta a redução da dose geral de tolerância por semana à metade, isto é: 0,15r

17 Nota do divulgador: no texto original está escrito “representada”, em vez de “representa”, o que não parece fazer muito sentido.

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E pensar que – como lemos algures – ali por volta de 1950, os pobres clientes de certo médico de Nova Iorque, portadores de Câncer na18 laringe, eram submetidos a radiações fracionadas de aproximadamente 6.500 a 8.000r em campos reduzidos, num período de 30 a 40 dias!...

E mais. Que hoje, num hospital de São Francisco (Califórnia), assesta-se contra aquele mesmo delicado órgão humano

“um pequeno desintegrador atômico” de 6 milhões de vóltios!... (Vj. “Life”, em espanhol, 2-6-[19]58, pág. 37).….........................................................................................................................

Quanto às chamadas “doses inofensivas”, declarou outro eminente especialista. Dr. James Crow, Professor de Genética na Universidade na Universidade de Wisconsin, não existem,

“pois até uma pequena exposição a ela pode causar u'a mutação, ou alteração permanente que determinam a natureza da próxima geração.” (apud Fernando Távora, ob cit. Pág.28).

A primeira prova da ação lesiva das radiações sobre os tecidos celulares deu-a espontaneamente Pierre Curie, expondo o braço à emanação do Rádio.

“A pele tornou-se vermelha numa área de seis centímetros quadrados, com aparência de queimaduras e levemente dolorosa. Ao fim de algum tempo, a vermelhidão, sem espalhar-se, cresceu de intensidade; no vigésimo dia formaram-se crostas, e depois uma chaga, que foi pensada;” (Eve Curie, ob. cit., pág. 168).

Diz o grande radioterapeuta portenho Dr. Pescuma, já por nós mencionado;

“A ionização produzida pelas radiações perturba profundamente o metabolismo protoplasmático das células, alterando a carga elétrica dos colóides e modificando a adsorção e tensão superficial dos mesmos.

Trocas químicas: coagulação da globulina; destruição do colesterol e da lecitina; inativação dos fermentos orgânicos (pepsina, tripsina, invertase etc.); desidratação do protoplasma; eletrólise da água dos tecidos; oxidação dos

18 No original está escrito “no” em vez de “na”

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metais; transformação do fósforo granco em vermelho; transformação da hemoglobina em metemoglobina; diminuição do PH do protoplasma, aumentando sua reação ácida.” (Ob. cit., pág. 68).

É justamente nesse poder destruidor, que tem as radiações nucleares, que se baseia o seu emprego na terapêutica do Câncer, com o objetivo de destruir a neoplasia maligna. Mas desgraçadamente é quase impossível limitar sua ação maléfica à tumoração interna: ela se estende pelos tecidos circunvizinhos e por todo o organismo, lesando-o implacavelmente!

Por esse motivo, consideramos a radioterapia do Câncer a mais desumana e monstruosa forma de tratamento empregada em todos os tempos!...

Está demonstrado, de maneira evidente, que o Rádio tem atuação mais perniciosa em determinados setores da economia orgânica. Sobre os elementos figurados do sangue – órgãos hematopoéticos a medula óssea se congestiona e apresenta a coloração vermelha e, às vezes, se liquefaz. O baço se reduz de tamanho, modificando-se-lhe a contextura pela diminuição gradativa das células e verifica-se a formação de núcleos hemorrágicos esparsos.

As glândulas mais sensíveis são as gônadas, a masculina sofre degeneração dos condutos seminíferos, acabando por desaparecer o esperma. A feminina experimenta atrofia dos folículos de Graaf, permanecendo íntegro o corpo lúteo. O fluxo mesntrual se interrompe. Causa a esterilidade nos dois sexos, quando não intervém de maneira distorsiva nos processos de evolução genética da espécie, conforme veremos dois tópicos adiante.

É bem verdade que se se cogita de realizar – ainda neste ano de [19]58 – uma Conferência Internacional de Humanistas, a qual caberia determinar a forma de por à disposição da Humanidade as conquistas da Ciência atômica, de vez que cientistas e políticos ainda não chegaram a um acordo sobre o assunto.

Oxalá possam os humanistas ser menos desumanos e ortodoxos do que os famanazes da Cancerologia Clássica!...

Ora, há quase duas décadas (1939), escrevia na Inglaterra o eminente fisiologista Sir Leonard Hill:

“Grandes doses (de raios-Gama e raios-X “duros”) produzem a destruição dos tecidos normais, como a medula, o tecido adenóide, os leucócitos e os revestimentos epiteliais, penso resultando19 a morte... A nação estaria, penso eu, em menor perigo se todo o Rádio do país [fossem] agora enterrado em profundas covas para segurança contra bombardeio ficasse no

19 No texto fonte está escrito “sultando” no lugar de “resultando”

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mesmo lugar”. (In “Cold Cancer Facts”).

Surpreende, portanto, que hoje, numa época de apreensões generalizadas pelas consequências das emanações da energia nuclear – até agora incontrolável – ainda se utilizem em Medicina (principalmente como terapêutica do Câncer) os mesmos princípios da desagregação atômica: raios-X e Rádio!

Dizia-nos há já alguns anos, renomado professor da nossa Escola de Medicina (catedrático da Cirurgia) que o problema do Câncer não era possível ser resolvido pela Cirurgia e com aparelhos de eletrocoagulação, como se pretendia fazer.

O Rádio, somente ele, poderia resolvê-lo. E o Brasil não tinha dinheiro para adquirir esse preciosos (acrescentemos: e perigoso) metal, cujo preço era já elevadíssimo.

Temos (ou pelo menos o Governo já adquiriu) Rádio, e o eminente Mestre afirma atualmente que o problema do Câncer aumenta continuamente em nosso País...!

E faz ostensiva propaganda do artifício industrial, que é a bomba de Cobalto-60, de tremendo poder energético.

Entretanto, o ilustre Leriche (há meses falecido), especialista mundialmente famoso, que publicou, somente sobre Câncer, vinte tratados científicos aceitos internacionalmente em sua magnífica e completa obra: “Cancerologia, Etiologia” (Patogenia – Diagnóstico – Tratamento médico) de 1948 – dizia textualmente:

“Os numerosos documentos à nossa disposição na hora atual e uma experiência muito grande permitem concluir que nem o Rádio, nem os raios-X, mesmo associando suas ações são meios de tratamento científico do Câncer”. (Conclusões, págs. 238-9).

Para não fatigarmos demasiadamente o Leitor, vamos resumir aqui os principais efeitos das radiações nucleares sobre o corpo humano, discriminação essa talvez possibilitada graças a colaboração heróica e forçada de hiroximanos e nagasaquinos sacrificados pelo genocídio atômico de agosto de 1945.

I – queimaduras (energia das radiações absorvidas pelo corpo humano sob a forma de calor);

II – distúrbios vários (vômitos, hemorragias etc.);III – Leucopenia;

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IV – perda de cabelos;V – esterilidade;VI – mutações;VII – Câncer e Leucemia;VIII – necrose

(“... geralmente causada pela ingetão ou inspiração de emissores de radiações, notadamente Alfa. Tais partículas, devido ao seu alto índice de ionização, tem poder de penetração negligível relativamente aos raios-X e Gama; dessa forma pouco perigo oferecem externamente ao corpo humano. Mas, se colocados no interior, de um organismo biológico, aí seu poder de destruição e malefício torna-se simplesmente 10 vezes maior que no caso dos raios Gama” (apud Fernando Távora, ob. cit., págs. 24-5).

Agora, imagine o Leitor a apreensão e a revolta que nos assaltaram, ao lermos a notícia aqui registrada páginas atrás – euforicamente divulgada divulgada nos meios científicos – segundo a qual o infeliz doente já tem ao seu dispor, um novo aparelho (chama-se “Móbile 200”) que lhe permite ser bombardeado simultaneamente por duas, ou talvez mais, dessas engenhocas mortíferas!!...

* * *

RADIOLOGIA, ESPECIALIDADE MÉDICA PERIGOSA

Da existência inegável (porque já mundialmente comprovada) de toda essa congérie macabra de perigos e horrores que acabamos de citar, resulta que o radiologista – muito mais do que o próprio paciente – é o indivíduo que a eles mais se expõe, pelo trato constante das radiações e pelas emanações ambientais decorrentes de uma longa permanência no seu recinte de trabalho.

Henschaw e Hawlsins afirmam que a Leucemia, incide 8 a 10 vezes mais sobre esses profissionais do que nos demais especialistas de outros setores médicos.

Observando a estatística obtuária de 82441 facultativos, no sesquidecênio 1930-45, Warren verificou – expondo em trabalho publicado em 1956 – que os radiologistas morrem em média, 5,2 anos mais cedo que seus colegas de outros ramos; bem assim os não-radiologistas que se expõem a radiações também sofrem um encurtamento de vida.

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E para que apressadamente não nos tachem de alarmista eis aqui um pequeno elenco dessa perigosa especialidade que vai ceifando vida pelo mundo afora...

Foi assim que nela encontraram a morte: na Alemanha – H. E. Albers-Schoenberg; na Áustria – G. Holzknecht; na França – J. A. Bergonier20; na Inglaterra – Spence, Blackhall, J. T. Hall-Edwards; nos Estados Unidos – Clarence M. Dally, Elizabeth F. Ascheim; L. A. Weigel, W. C. Fuchs, W. C. Egelhoff, F. H. Baetjer, R. D. Carman, R. V. Wagner, T. L. Wagner, M. K. Kassabian, B. F. Thomas, L. M. Early, C. L. Leonard, B. E. Baker, H. Green, J. Baner, W. J. Dodd, S. C. Glidden, E. W. Caldwell, J. T. Morehouse, H. Robarts, T. Eims, R. H. Machlett, F. H. Swett, L. B. Morrison, J. T. Pittin, F. Le Roy Satterlee, W. Krauss, G. F. Parker etc. etc.. No Brasil, não merece esquecido o nome de Álvaro Alvin. Como se vê, a terra de Tio San pagou um tributo bem pesado às radiações. Aliás, em 1936, o Prof. Percy Brown, da American Roentgen Ray Socirty publicou um livro sob o título “American Martyrs to Science through the Roentgen Rays”, no qual figuram quase todos os nomes aqui citados.

Da enorme periculosidade da Radiologia resulta a prática seguida em certos países, de proteger a integridade física desses especialistas; seja pela criação de normas e Serviços para esse fim; ou providenciando verbas adicionais, que lhes causem a ilusão de tornar menos árdua a tarefa espinhosa de lidar com as forças da Natureza.

No Brasil, como ainda não dispomos de um órgão nacional de Proteção contra as Radiações, o governo do General Dutra adotou, faz uma década, o segundo expediente, instituindo – pelo Decreto nº 43186 – a taxa de 40% (quarenta por cento), para os riscos a que estão sujeitos os médicos quando trabalham com raios-X ou substâncias radioativas; e também dois períodos anuais de férias. Dois anos depois (1950) eram esses benefícios estendidos aos demais funcionários desse perigoso setor médico.

* * *

SOMBRIO FUTURO DA ESPÉCIE HUMANA

Praticamente, só muito depois das explosões que em 1945 negrejaram os céus de Hiroxima e Nagasaque foi que os cientistas voltaram sua atenção para

20 Jean-Alban Bergonié faleceu em 1925, tendo legado seu corpo à Faculdade de Medicina, para que nele fossem estudados os efeitos das radiações que o vitimaram.

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as consequências genéticas das radiações sobre a espécie humana. A Organização Mundial de Saúde, reunida em Copenague (1955) recomendou aos especialistas que se dedicassem com afinco aos estudos dos efeitos dos raios-X, Gama, Cósmicos e das bombas atômicas sobre a Humanidade.

Em nossa terra, o geneticista mineiro Newton Freire Maia, seguindo o rastro luminoso de André Dreyfus e Crodovaldo Pavan, lançou-se à análise dos problemas da evolução.

Posto que antes de sua série de investigações – cronologicamente a terceira no mundo – duas outras já se houvessem realizado, uma das quais, feita nos Estados Unidos (revelou um excesso de anomalias nos descendentes de médicos expostos às radiações...) - como era de esperar – foi recebida com muitas reservas pelos meios científicos oficiais, certamente desejosos de permanecer nas boas graças dos magnatas do instrumental nuclear.

Assim, os trabablhos dos irmãos (Newton e Ademar) Freire Maia, em colaboração com Antônio Quelce Salgado podem, com justiça, ser considerados os primeiros exitosos, relativamente à espécie humana.

Ora, já é pacífico, em Genética, que as radiações nucleares favorecem o nascimento de criaturas anormais; desconhece-se, entretanto, de que modo elas atuam sobre o organismo humano, ocasionando essas mutações.

Há mais de ano – em setembro de [19]57 – Freire Maia iniciou suas investigações no Laboratório de Genética da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade do Paraná, num campo de observações que comprendia quase um milheiro de radiologistas e tisiólogos.

Dentre uma congérie de assustadores resultados, verificaram-se, entre os descendentes de médicos profissionalmente expostos às radiações, as seguintes anomalias: abortos, natimortos, mortalidade neonatal, prematuros, malformações hereditárias, além de aberrações teratológicas diversas.

Os três pesquisadores procederam a um amplo e rigoroso inquérito de caráter confidencial, abrangendo milhares de perguntas dirigidas aos profissionais das radiações.

Há tempos, ainda na expectativa da comprovação cabal e insofismável de suas pesquisas, declarou Freire Maia à imprensa:

“O próprio cientista James V. Neel, lidando com material vivo irradiado pelos incêncios nucleares de Hiroxima e Nagasaque, não pode fixar os efeitos genéticos que certamente ocorreram. Já estão ocorrendo mutações genéticas nos processos da vida.”

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Segundo o entrevistado, ter-se-ia mesmo registrado, no cenário da evolução humana, aquilo que biologicamente se convencionaou chamar um pequeno excesso de anormalidade.

“Pequeno – prossegue o geneticista mineiro se comparado à população mundial de 3 e meio bilhões de almas; mas transformado em cifras, em vidas que sofrem e anseiam, representa centenas de milhares de seres vexados pelas deformações. Monstros, enfim.”

Em oito famílias, totalizando 61 membros, 21 indivíduos (quase 30%!) eram anômalos. E arremata o Cientista:

“Esta é a face que o aumento das radiações apresenta ao homem: monstruosidades deste e de todos os tipos são previstas, como a colheita da revolução física e biológica que o Homem desencadeou. O que foi lançado levará milhões de anos para que se dissipe, e enquanto isso, pela multiplicação das anormais tomba sobre o mundo nova carga de angústias e sofrimentos.” (in “Diário de São Paulo”, 19-7-[19]58).

Para finalizar o presente tópico, em que se patenteiam tão sombrias perspectivas para aqueles que, voluntária ou involuntariamente, ficam expostos às radiações, cremos de direito ceder a palavra – mais uma vez – ao eminente radiologista belga, Dr. Ramioul, que após tratar minuciosamente do assunto, conclui:

“Logo, compreendemos bem que um homem ou u'a mulher irradiado nos órgãos genitais, ou ficará estéril (em geral temporariamente), ou continuará fecundo, mas arrisca-se a ter em suas células sexuais (espermatozóides ou óvulos) uma gênia radiomutada, que pode não se exteriorizar senão depois de muitas gerações, por motivo do seu caráter recessivo.

Quando um embrião é irradiado (radiação sobre o abdome de u'a mulher grávida, por exemplo), ou o feto morre (destruição rápida e fácil dos tecidos embrionários, que proliferam mui facilmente), ou a criança apresentará ao nascer um grave distúrbio de conformação (deformidades, ausência de certos órgãos, cegueira, debilidade etc.)” (Ob. cit., pág. 108).

Como se vê, turvo destino aguarda as gerações vindouras!...

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* * *

A HORMOTERAPIA (SEXUAL) CRUZADA

Quanto ao emprego do hormônio (ovárico ou testicular) predominante no sexo oposto, é tratamento inoperante, além de monstruoso; pois na opinião abalizada do Prof. Werner Zabel, eles

“não produzem cura. O método é contrário à natureza. O organismo procura reagir somente por algum tempo; depois surgem metástases generalizadas. Não devíamos nos iludir com melhoras passageiras, especialemente quando conseguidas à custa do sacrifício da personalidade do paciente.”

Nada mais precisamos acrescentar!...

ÓPIO E SEUS DERIVADOS

Outro valioso coadjuvante no tratamento “clássico” do Câncer é o ópio (já conhecido pelos Egípcios), com todo a seu cortejo de derivados...

É ele um suco resinoso, extraído das capsulas da papoula, contendo grande número de alcaloide (Morfina, Papaverina, Codeína, Narcotina, etc.), todos de ação narcótica e antidiarrêica.

Na Ásia Oriental, não obstante a severidade das leis, fuma-se o ópio em larga escala, o que constitui um entorpecente perigosíssimo, que alguns cientistas consideram responsável pelo declínio da vivacidade mental daquelas populações.

Quanto ao fenômeno dor, em geral (menos no Câncer), vem sendo hoje solucionado perfeitamente pelos analgésicos sintéticos; e nos casos mais violentos, pelo emprego dos produtos de efeito morfínico que, embora não isentos de levar a toxicomania, são bem menos perigosos.

A esse respeito, eis o que na pág. 134 do seu interessante livro (já por nós citado algumas vezes) diz o biologista D'Autrec.

“Os calmantes e os hipnóticos são os medicamentos mais nocivos da farmacopéia.

A dor é uma advertência da Natureza e é perigoso suprimi-la sem atingir as causas que a motivaram. Demais, a narcose não é obtida senão pelo emprego de venenos extremamente tóxicos, como a morfina e a cocaína.

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A primeira, como todos os alcalóides retirados do ópio (a codeína, a papaverina etc.), possui uma ação eletiva sobre os centros nervosos, que paralisa.

Seu emprego está regulamentado. Todavia, ela entra na composição de numerosas especialidades de venda corrente. Tais produtos são tanto mais perigosos quanto causam ao doente uma sensação de bem-estar, de euforia, para chegar, finalmente, a desordens profundas no organismo.

O mesmo se dá com a cocaína, extraída da coca. É um anestésico e analgésico fabricado e vendido pelos laboratórios sob diversos nomes e formas várias. Seu uso prolongado causa graves distúrbios: taquicardia, alucinação, delírio, demência, desaparecimento do senso moral, ideias de suicídio e homicídio.” ….........................................................................................................................

Sobre o assunto, também Dr. Roberval Cordeiro de Faria, autoridade inconteste na especialidade, digno presidente da Comissão Nacional de Fiscalização de Entorpecentes, escreveu, em artigo publicado na revista “Laboratório Clínico” (nº 239, 3º trimestre de 1955, pág. 145), alguns tópicos que, data vênia, transcrevemos:

“Com a obtenção dos sintéticos do efeito morfínico houve, de início, a esperança de que eles pudessem ocupar cabalmente o lugar dos alcalóides do ópio, sem as suas desvantagens, como agentes toxicomanógenos.

Infelizmente, com o correr dos tempos verificou-se que aquelas substâncias, a despeito de reais vantagens apresentadas, não eram destituidas do perigo de provocar toxicomanias, sendo mesmo algumas delas dotadas de alto poder toxicomanógeno, equivalente ao da Heroína, como ocorre com a Cetobemidona, a ponto de a Comissão de Peritos em Drogas, suscetíveis de engendrar toxicomanias, chegar a solicitar a supressão de seu emprego”.

Como se vê, ainda uma vez, fica demonstrado que a terapêutica “clássica” apresenta sérios inconvenientes; até mesmo nos mais íntimos detalhes, como a aplicação [de] entorpecentes toxicomanógenos...

* * *

AÇÃO MALÉFICA DA CHAMADA “TERAPÊUTICA CLÁSSICA DO CÂNCER”

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A VERDADE SOBRE O CÂNCER AO ALCANCE DE TODOS

Temos mencionado continuamente, noutros lugares, que no mundo inteiro erguem-se médicos e cientistas contra a Medicina Clássica do Câncer: os Não Conformistas, como são geralmente conhecidos. São os desiludidos, os que comprovaram de maneira evidente que a Medicina oficial, com todo seu poderio econômico, não deu um passo a frente, no setor das moléstias cancerosas.

“20 anos de esforços e milhões de libras esterlinas gastas não avançaram de um centímetro as pesquisas no terreno do Câncer”,

declara o professor Murray, presidente da British Foundation of Cancer Research.

Contam-se por milhares esses inconformados, que clamam por uma revisão geral na terapêutica dessa moléstia, em benefício da Humanidade sofredora.

Os Clássicos, fortemente entrincheirados no poderio oficial sob seu controle, mantém-se infensos a todas ideias que não tenham estrutura semelhante aos seus postulados.

Teimam renitentemente em fazer para o Câncer uma patologia especial, embora isso aberre contra a lógica e o senso comum, pois a Patologia tem como princípio fixo serem as moléstias resultantes de maiores ou menores desequilíbrios orgânicos, como já dissemos.

“No organismo não existem fenômenos fisiológicos isolados e independentes, nem estados patológicos locais; todas as funções biológicas são gerais, abrangendo toda sua organização”, ensina Le Chatelier.

Portanto, toda ação terapêutica deve ser baseada no estímulo ou reforço das defesas orgânicas, para que essas restabeleçam o equilíbrio funcional; porque somente elas o podem fazer. Essa a finalidade precípua, em última análise, da Medicina, fora do que torna-se utopia ou miragem qualquer atitude de intenção repressiva.

Não será pois, mutilando ou carbonizando sintomas – como são as tumorações – que se conseguirá reerguer defesas. Tanto mais que os choques cirúrgicos, são sempre deletérios máximè tratando-se do Câncer, onde tem efeitos, imprevisíveis e de alta transcendência, (o que é de há muito ponto pacífico em Medicina, mesmo para a clássica) inclusive os traumas das

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biopsias.Necessário se faz, portanto:

1º) Pesquisar, cuidadosa e detalhadamente, terapêuticas que se ajustem aos princípios teóricos existentes.

2º) Revisar, ampla e honestamente, os diversos medicamentos já indicados para o tratamento das neoplasias malignas.

3º) Fazer experimentações sem preconceitos apriorísticas ou ortodoxos e selecionar os remédios que apresentem verdadeiras possibilidades combativas.

4º) Substituir a mentalidade esdrúxula e eminentemente agressiva de que a terapêutica do Câncer deva ser baseada na destruição pura e simples da tumoração; e, sobretudo, considerar essa doença como de caráter geral, estruturando o tratamento no reerguimento das defesas orgânicas (tal como vem sendo feito, com absoluto sucesso, na luta contra a Tuberculose etc.). Jamais destruindo um estado patológico – o tumor – que não é senão um sinal tardio e, não-raro, irremediável da moléstia.

Vejamos:

“Há, ainda, muitas coisas por fazer. Se cada um de nós completar o seu conhecimento com o dos outros, em lugar de brigarmos uns contra os outros, conquistaremos o domínio do Câncer” (Dr. Niehans).

“Os aspectos do Câncer são tão sérios, que todos os esforços para combatê-lo são justificados” (Dr. Leik).

“Os clássicos tratamentos físicos e químicos contra o Câncer prejudicam o organismo mais que o próprio agente responsável pela moléstia” (Prof. Gunther Enderlin).

“A operação do Câncer parece acelerar seu curso.” (Dr. Brodie).“A operação do Câncer é muito aleatória.” (Dr. Delbet)“A operação do Câncer não é senão uma quimera.” (Dr. W Cooke).“Há um ponto em que todos os sábios estão atualmente de acordo. O

Câncer não é mais u'a moléstia local, como se acreditava e, sim, geral: uma enfermidade do organismo inteiro, que se manifesta segundo os casos em tal ou qual ponto do corpo. A doença existe no organismo antes de o câncer (tumoração) propriamente aparecer nos tecidos” (Dr. Mac Olivier).

“O Câncer é u'a moléstia geral e, como tal, deve ser encarado e tratado. A Cirurgia pode aliviar o paciente de um sintoma, removendo o tumor. Mas o doente permanece não menos canceroso. O Câncer deve ser atacado por todos os lados de uma só vez. Requer tratamento global” (Dr. Joseph Issels).

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“Qualquer operação cirúrgica [no Câncer] faz mais mal do que bem” (Dr. Frederich Hey).

“As operações [cirúrgicas] do Câncer não paralisam sua marcha; pelo contrário: a aceleram” (Prof. Marlane).

O Professor Adam Adamkiewicz é autor de um livro sob o título “A operação [cirúrgica] do Câncer é um crime”.

“Intervenções cirúrgicas, mesmo as biopsias, possibilitam a transformação de um tumor benigno em maligno.”; “Muitas intervenções aumentam o perigo das metástases. Provado por experiências em ratos. Dos operados, 75% tiveram metástases; dos não-operados, 8%.” (Prof. G. Domagk – Prêmio Nobel; descobridor das Sulfas).

“O Câncer não é moléstia cirúrgica. Nem a quirotécnica, nem os raios-X, ou o Rádio, modificaram de qualquer maneira a mortalidade progressiva, pelo Câncer, nos últimos 40 anos.” (Dr. L. Duncan Bulkley).

“Bem poderíamos admitir o fato de que ainda sabemos pouco sobre a causa do Câncer. O Rádio foi um fracasso.” (Dr. Warren H. Lewis).

“Cegamente temos combatido o Câncer em estágio adiantado com o recurso cirúrgico, para somente encontrarmos sua imediata reaparição depois da extirpação.” (Dr. C. Everett Field).

“Na prática clínica de quase 45 anos – ainda estou por ver um único caso de Câncer (salvo alguns semimalignos epiteliomas) curado por cirurgia, raio-X ou Rádio” (Dr. W. A. Dewey, ex-Prof. de Medicina da Universidade de Michigan).21

“O Câncer não é uma doença, mas o conjunto de milhares de doenças” (Dr. James Ewing).

“Até aqui, na maioria dos países nada foi feito em benefício dos sofredores de Câncer, exceto aplicações de Radioterapia e Cirurgia. A maioria dos médicos ignora outras formas terapêuticas. Nós, clínicos, deveríamos dar mais atenção aos pesquisadores independentes e tirar conclusões de suas descobertas” (Prof. Werner Zabel).

“A atitude da Medicina Oficial, parece-me constituir o principal obstáculo à luta contra o Câncer. Deveria ser tomado em consideração que seria já um considerável progresso o encontro de um medicamento que pudesse aliviar as dores e prolongar a existência da vítima; afinal de contas, temos que

21 Nota do divulgador: Nesse ponto o texto faz referência a uma nota de rodapé inexistente.

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começar por algum ponto, e não esperar que caia a solução do céu, já em forma perfeita” (Dr. Adolph Gascher).

“A Cirurgia do Câncer não é nem cura e, tampouco, prolongamento de vida” (Prof. Walsh).

“A intervenção cirúrgica no Câncer não traz benefício algum ao paciente” (Prof. Kortenweg).

“No interesse da humanidade e por honestidade à Cirurgia, deveria ser preferível abandonar completamente as operações do Câncer”, (Prof. Smyne).

“Os únicos tratamentos que tenho experimentado [contra o Câncer] são os raios-X e o Rádio, porém ambos parecem muito insatisfatórios.” (Dr. D. C. Mac Farlane).

“Estudos recentes tem provado que o emprego simultâneo de raios-X e Rádio pode estimular o aumento da malignidade [do Câncer].” (Dr. Ch. P. Bryant).

“Enquanto existem alguns que ainda acreditam na eficácia das radiações como cura, meu ceticismo em relação ao valor delas vai se tornando progressivamente fundamental.” (Dr. William S. Baimbridge).

“Os raios-X e o Rádio são nocivos, tanto para as células sãns quanto às doentes; e um dos maiores problemas que desafiam aos radioterapeutas tem sido produzir o máximo efeito sobre as células cancerosas e o mínimo sobre as normais.” (Dr. Lester Grant).

“A produção do Câncer em áreas irradiadas constitui um dos maiores perigos da radiação.

Casos de Câncer tem sido frequentemente constatados na região do pescoço, depois do tratamento da tireóide por intermédio de raios-X.” (Dr. Ralph Stacy).

“Radioterapia é malefícia no Câncer do tubo digestivo, bexiga, fígado, rins, pâncreas, pulmões e peritôneo.” (Dr. K. H. Baner).

“O Rádio não cura Câncer. Somente destrói o tecido canceroso dentro de um certo raio [de ação], porém não retira a enfermidade do organismo” (Prof. F. C. Wood).

…........................................................................................................................…........................................................................................................................…........................................................................................................................

Mencionando essas opiniões, procuramos documentar o nosso ponto-de-vista sobre o magno problema.

São colegas ilustres, renomados e devidamente credenciados, que se

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A VERDADE SOBRE O CÂNCER AO ALCANCE DE TODOS

manifestam desassombradamente, em todo o mundo.Os clássicos consideram como terapêutica do Câncer a Cirurgias a as

radiações: essas como expediente complementar daquela. Na prática, entre nós, tais processos se entrelaçam intimamente.

Noutro local já vimos os efeitos da falsa “cura” pelas radiações, tremendamente deletérias, o que nos tem sido dado constatar em número elevado de pacientes, máxime devido ao exagero nescio ou criminoso com que são feitas as aplicações.

Contentamo-nos aqui com transcrever, data vênia, a opinião de um cientista francês, Dr. Ropars:

“A Medicina Oficial Cultiva o Câncer – (e subtítulo): Raio-X e Rádio: O maior crime do século.”

“O emprego dos raios-X e do Rádio como meio de tratamento do Câncer, constitui o erro terapêutico mais monstruoso do século XX. Está ampla e clamorosamente demonstrado que os Raios-X e o Rádio jamais venceram um só caso de Câncer; os “oficiais” o reconheceram, embora implicitamente, uma vez que, no mundo inteiro, os seus laboratórios trabalham sem sucesso, mas febrilmente e durante anos – à procura do remédio para o Câncer. Mas não encontrarão, jamais, esse remédio, porque partem de bases absolutamente falsas. Só a rotina, associada a certos interesses puramente comerciais, permitiu a continuação do emprego generalizado de processos tão nocivos e tão anticientíficos, como os raios-X, como os raios-X e o Rádio. É um crime contra a humanidade continuar a empregá-los, e os governos tem a obrigação de interditá-los. As “semanas do Câncer” e os “congressos do Câncer” jamais deram uma solução válida ao problema do Câncer, porque só os oficiais tem o direito de participar desses conclaves, dissimulando, cavilosamente, pela conspiração do silêncio, os trabalhos originais dos pesquisadores isolados e dos veros precursores. E, enquanto o erro se propaga e multiplica, a verdade é considerada erro, porque ninguém a vê. Não devemos perder de vista que, em Medicina, só há um critério da Verdade: é a pesquisa.”

Eis porque, há tempos (salvo erro, em 1956), sugeriu o médico ianque Dr. I. Frohman, de Washington, no artigo sob o título (traduzido) “O Papel do Médico na Era Atômica” (publicado no Journal of The American Medical Association).

“Inaugure-se um programa educacional de âmbito nacional, relativo a

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um mais judicioso emprego da radiação e à necessidade, para melhor se observar e registrar seus efeitos em pessoas submetidas às radiações provindas de todas as fontes...” (In Fernando Távora, ob. cit., pág. 22).

…........................................................................................................................

É do Prof. Frederico Lenne o seguinte conceito:

“O público deveria ser mantido informado sobre o Câncer, pois é algo muito importante para cada um de nós”.

Assim, também, o julgamos. Deve conhecer o público a Verdade inteira sobre esse tremendo flagelo, para que se possa defender, em tempo, contra a ortodoxia cômoda de alguns e os interesses mesquinhos e criminosos de outros.

Por isso, aqui deixamos registrada com alguns grifos atuais mais um eminente cancerólogo o depoimento do Dr. Charles Oberling; ao tratar de afecções produzidas pelos raios-X:

“A angustiante dor que acompanha o desenvolvimento de todas essas lesões, a implacável natureza do Câncer roentgen, refratário a qualquer tratamento e mesmo às sucessivas amputações, tornam-no uma das mais horríveis de todas as doenças...”.

E pouco adiante:“Existe um período latente que pode variar de 4 a 15 anos intercalado

entre o tempo da exposição ao perigoso agente [radioativo] e a aparição do Câncer...” (in Fernando Távora, ob. cit., pág. 25).

* * *

A CIÊNCIA INDEPENDENTE REAGE

O Prof. Jorge Saldanha Bandeira de Mello é cientista cujos títulos e honrarias encheriam páginas, mas dos quais nos limitamos a mencionar os seguintes: duas vezes Doutor: em Medicina e em Farmácia, quatro vezes docente da Universidade do Brasil e da Universidade de São Paulo, duas vezes Diretor da Faculdade de Ciências Médicas e da Faculdade de Clínica Industrial, duas vezes laureado pela Academia Nacional de Medicina, Ex-Secretário Geral de Saúde e Assistência etc. etc. Esse ilustre facultativo – dizíamos – num trecho

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A VERDADE SOBRE O CÂNCER AO ALCANCE DE TODOS

do seu discurso de posse como membro titular da Academia Nacional de Medicina – que, data vênia, transcrevemos – diz:

“Um melhor conhecimento da fisiologia levou também clínicos e cirurgiões a um maior respeito pela integridade física das pessoas, restringindo cada vez mais as indicações cirúrgicas, que se tornaram menos necessárias, donde algumas especialidades, como aquela que cultua e pratica o Professor Rolando Monteiro, apresentarem nítida tendência de passarem do departamento cirúrgico para o departamento de Medicina interna. O ginecologista há de medir-se pelo menor número de operações que ele faz e dentro em pouco, em vez de empunhar o bisturi, veremos os ginecologistas escreverem no quadro os esqueletos químicos dos hormônios genitais, nos quais irão dependurando os diferentes radicais que os transformarão uns nos outros. E serão esses hormônios os seus exclusivos instrumentos de trabalho. Alias a tendência geral de muitas doenças cirúrgicas e de se transformarem em doenças clínicas. Lê-se às páginas 145 do livro “Epidemiology of Health”: medicine is moving from surgery toward internal medicine”. Ousaria dizer que, quando a terapêutica de uma doença progride, ela se liberta da Cirurgia. A do Câncer chegará lá.

A vitória da Medicina Preventiva se é um sucesso indiscutível, não é ainda a etapa final dos anseios do médico por uma Medicina melhor. Superior à Medicina Preventiva há a Medicina Construtiva, expressão criada por Roberto Page. A Medicina Construtiva implica como já tenho escrito, numa “inversão dessa ordem milenar que fazia com que o médico esperasse pelo doente, adotando, assim, atitude passífica e passiva, para constatar muitas vezes, avançados estados e desesperadores casos, que não o seriam se um diagnóstico mais precoce [fosse]22 feito.” (Págs. 34-5).

Na sequencia desse memorável discurso, em que plenamente justifica seus elevados pontos-de-vista científicos, noutra passagem, apontando os novos rumos a23 seguir, preceitua:

“Finalmente, o completo retorno da Medicina psico-somática com a eliminação dos especialistas e das especialidades, ao menos nos estudos da investigação da doença que é sempre geral ou com repercussão geral sobre o organismo. Nunca o critério hipocrático se manifestou tão evidente. O

22 Nota do divulgador: no original não há essa palavra entre colchetes23 Nota do divulgador: no original está escrito “o” no lugar de “a”

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A VERDADE SOBRE O CÂNCER AO ALCANCE DE TODOS

indivíduo é mesmo o indivisível, na Fisiologia como na Patologia.Há de ensinar-se ao médico, portanto, a Medicina integral com que fará

o diagnóstico, o prognóstico e orientará a terapêutica. Em Medicina o especialista só se justifica pela natural tendência da divisão do trabalho. São especialistas os médicos que adquirem certa perícia técnica em determinadas atividades médicas. Todos, porém, são médicos completos e no período de suas24 funções aprenderam que a Medicina psico-somática de hoje é a mesma Medicina hipocrática de suas origens.

Nota-se, nesses últimos e cada vez mais, nítida tendência para o retorno hipocrático, na concepção psico-somática25 das doenças, nela se baseando o diagnóstico, o prognóstico e o tratamento.” (Pág. 45).

Notabiliza-se o trabalho de Bandeira de Melo pela magistral síntese da Ciência Médica atual, bem como por suas tendências, nitidamente esboçadas no mundo inteiro. É a ligação da Escola hipocrática à de Pasteur, envolvendo em seu bojo o vilipendiado Paracelso, da Idade Média, ao qual, porém, não faltou centelha de genialidade, ao ver o organismo biológico como um todo, intimamente entrosado com o setor ambiental, que sincroniza o social, o moral, o emocional, psíquico etc.; enfim: o psicossomaticismo26.

(Nos, há pouco, um colega ilustre, que27

São audaciosas e até certo ponto revolucionárias as premissas expostas no discurso de posse que vínhamos focalizando. Entretanto, são estruturadas nos mais límpidos princípios científicos, porquanto a Ciência Médica, que conta com tão grandes expoentes, vem vivendo acorrentada a intangíveis postulados e enclausurada em tabus e ortodoxias convencionais.

Ora, no caso do Câncer, o que não se pode negar é que, confrontadas ambas terapêuticas – a clássica e a independente – essa última é a única humanitária, porisso que não expõe o paciente aos inúmeros perigos que vimos assinalando.

Ao contrário da outra, ela busca ansiosamente o remédio capaz de debelar o mal, preocupando-se em não agravar mais os sofrimentos da vítima. E vai usando – mesmo à revelia das sanções oficiais, mas com toda cautela que

24 Nota do divulgador: no original está escrito “sua” no lugar de “suas”25 Nota do divulgador: na fonte está escrito “psícos-somática” no lugar de “psico-

somática”26 Nota do divulgador: na fonte está escrito “psícosomaticismo” no lugar de

“psicossomaticismo”27 Nota do divulgador: este trecho aparece na fonte do jeito que está aí, desconectado

do resto do texto.

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A VERDADE SOBRE O CÂNCER AO ALCANCE DE TODOS

caracteriza o exercício consciente de um verdadeiro sacerdócio – os medicamentos que sábios e bem intencionados cultores da Ciência especulativa põem ao seu alcance.

Por isso, enquanto a Cancerologia Clássica, ensimesmada em obsolescentes teorias e acastelada no favoritismo oficial não pudesse oferecer aos doentes mais do que – entre dores cruciantes – amplas retalhações, gravíssimas queimaduras ou desumanas esterilizações (para não falarmos numa incipiente toxicomania...), cremos que as autoridades governamentais – por comezinho imperativo de solidariedade humana e piedade cristã – deveriam propiciar aos pesquisadores extraoficiais todos os meios de combater o mal.

E não – como vem levianamente fazendo – acumpliciar-se com os beneficiários que lhe vivem à sombra, nesse monstruoso genocídio que ainda uma vez salpicará de remorsos as páginas da História da Medicina.

Esse o ponto de vista que esposamos, os médicos Não-Conformistas de todo o mundo.

E não estamos sós, pois a gravidade do problema do Câncer é de tal magnitude que já transpôs as fronteiras da Medicina.

Foi assim que o Papa Pio XII, cuja personalidade transcendeu ao alto posto espiritual de que esteve investido, e que foi sem dúvida, uma figura marcante na História Contemporânea, há quase dois anos (dezembro de 1956) opinou:

“O tratamento químico, antes que a Cirurgia ou a Radioterapia, se constituirá na arma decisiva contra o mal.”

Essa afirmação, aparentemente esdrúxula, por promanar de um leigo em Cancerologia, tem realidade objetiva e alta expressividade, seja sob o aspecto científico (Sua Santidade vivia cercado de verdadeiros expoentes da Medicina), ou pelo conteúdo místico-religioso, dada a auréola de grandeza que envolve a individualidade do seu patrono, há pouco falecido.….........................................................................................................................

Bem sabemos estar clamando inútil, frente à aridez asfixiante de um deserto. Por mais de uma vez já nos dirigimos às supremas autoridades do País – inclusive a S. Exa., o Sr. Presidente da República – procurando mostrar esse deplorável estado de coisas, sem que a nossa débil voz merecesse a honra de ser ouvida.

Interpostos, haveriam de estar, na costumeira algazarra, os Dartagnans do bisturi elétrico, os Torquemadas das radiações nucleares, os Neoboschistas das

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A VERDADE SOBRE O CÂNCER AO ALCANCE DE TODOS

exposições infrutíferas e os Sarrasânis das “campanhas contra”...

* * *Ninguém, que imparcialmente estude e28 observe a evolução da moléstia

cancerosa, deixará de verificar ser ela de caráter geral o que é fácil de comprovar, bastando às vezes uma anamnese bem feita para positivar um estado de doença, caracterizado pelos pródromos das infecções latentes, precedendo meses, ou anos, ao aparecimento da tumoração. Fizemos essa verificação detida e desapaixonadamente, em cerca de 600 enfermos.

Quem examina e pressiona uma tumoração maligna, volumosa, recebe automaticamente, a sensação de que há necessidade de logo retirá-la, para ver de perto de que é formada, o que contém. Foi certamente essa impressão objetiva que impeliu os médicos clínicos pouco avisados, do período de transição da Medicina, a enquadrarem essa afecção no âmbito cirúrgico, esquecidos do aforismo hipocrático de que

“o Câncer oculto não deve ser tocado...”

A Cirurgia o extirpava, mas sobrevinha, de regra, a neoplasia disseminativa; nova excisão, outra metástase e consequentemente a morte. O advento da Anatomopatologia trouxe explicação para a tumoração cancerosa inicial e metastática, quando precisou ser a mesma um desregramento celular. Ligando-se os fatos, aventou-se a hipótese simplista de serem as metástases produzidas por células que , no decorrer do ato cirúrgico, escapando da massa tumoral, iam – através das correntes sanguinea e linfática – fixar-se noutros tecidos, onde continuavam sua proliferação desordenada. Alvitrou-se, daí o emprego de técnicas acessórias para completar a destruição tumoral, tais como: o metal candente (na Alta Antiguidade), o termocautério, a fulguração elétrica e, finalmente, as radiações nucleares da época atual. Todavia as metástases continuam...

A Cancerologia Clássica vive hoje de espetaculosa publicidade, com a qual procura (agora inultilmente) soterrar a Verdade. Dentre as premissas de que se serve essa influente organização oficializada para sua ostensiva propaganda, destaca-se a do “Diagnóstico Precoce”; falsa e capciosa, visto não dispor de elementos para tal, conforme veremos oportunamente, no capítulo seguinte.

O que seus corifeus assim titulam nada mais é, em última análise, que a

28 Nota do divulgador: na fonte está escrito “a” no lugar de “e”

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A VERDADE SOBRE O CÂNCER AO ALCANCE DE TODOS

palpação temporã e solerte da neoplasia maligna, vale dizer: quando muito, a prevenção do sintoma objetivo, que assinala uma fase já avançada do morbo. Assim mesmo, possível em alguns casos, absolutamente inviável na grande maioria deles.

Quanto à Cirurgia, no Câncer, temos por admissível apenas em casos de emergência, para restabelecer funções fisiológicas impedidas pela tumoração; nunca, porém, como tratamento formal e sistemático, panacéia milagreira em todos os aspectos da doença...

Aliás, há vinte anos, numa conferência realizada perante os radiologistas alemães, já o grande cirurgião germânico Dr. Sauerbruck confessava lealmente.

“Nós não podemos senão proceder a uma ablação anatômica grosseira, sem influenciar, desse modo, a doença, propriamente dita.”

No tocante às radiações nucleares, adotadas como coadjuvantes de tratamento, reputamos outra monstruosidade médica. Nem de outra forma poderíamos encarar uma terapêutica que – na menos pior hipótese – queima os tecidos sãos; e quando não esteriliza o paciente (como também o faz a Cirurgia), torna-o um provável gerador de degenececias humanas, como já dissemos...29

29 Nota do divulgador: sobre o diagnóstico precoce do Câncer: pode tratar-se de um expediente da medicina oficial que tem a finalidade de provocar o Câncer através do alegado “tratamento” proposto – que na verdade causa e fortalece o Câncer. O mesmo ocorre no caso do hipotireoidismo (com a prescrição do hormônio T4) e no caso da esquizofrenia (com a prescrição de antipsicóticos).

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CAPÍTULO VI

CÂNCER E DEMAGOGIA

A Humanidade e o sofrimento físico. - O Câncer como fator de motivação demagógica. - As indefectíveis “campanhas contra...”. - O Câncer e as “exposições”... - Os “sinais reveladores”. - “Diagnóstico precoce”, gasto bordão contraditório. - Cadeira de “Palpitologia”. - O Chamado “diagnóstico precoce”. - Renomado expoente da Cancerologia Clássica visita o Brasil. - Uma tese assaz discutível. - “Classicismo” e mortalidade. - A chamada “sobrevida”. - O “despistamento”. - A fanfarra... da derrota. - Megalomania humilhante...

A HUMANIDADE E O SOFRIMENTO FÍSICO

Desde tempos imemoriais, o Homem acreditou serem os seus males e defeitos físicos um inexorável estigma a ele imposto por algum Ser sobrenatural, encolerizado por qualquer motivo, que lhe escapava ao rude entendimento pre-histórico (a noção de “pecado ancestral”, como a temos hoje, só mais tarde viria)...

Depois, as primeiras civilizações passaram a responsabilizar os astros, os agentes climáticos e até o poder de uma praga ou algum feitiço, crença essa que as grandes navegações do século XV ainda foram encontrar nas chamadas “populações inferiores.”

Desse modo – reportando-nos ao pré-histórico – apenas lhe cabia sofrer com resignação, ou condenar o seu semelhante que caísse enfermo a morrer completamente segregado do convívio tribal, porisso que nada podia nem “devia” ((pensava ele) fazer contra a Suprema Vontade, para mitigar os padecimentos de outrem.

Tal crença, aliás, parece ter-se robustecido com a divulgação das Sagradas Escrituras, onde podemos encontrá-la – ao menos parcialmente – insinuada.

Assim, por exemplo, está no Velho Testamento:

“Eu sou o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que castigo a iniquidade dos pais sobre os filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem.” - (Deuteronômio, V-9).

E no evangelho cristão, vemos o seu sublime Inspirador, depois de haver

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A VERDADE SOBRE O CÂNCER AO ALCANCE DE TODOS

curado um paralítico, encontrando-o no templo, adverti-lo:

“Olha; já estás são, não peques mais, para que te não suceda coisa pior.” - (São João, V-14).

E adiante:

“Jesus, ao passar, viu um homem cego de nascença. Perguntaram-lhe seus discípulos: “Mestre, quem pecou, para que este homem nascesse cego: ele ou seus pais?” Respoudeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais, mas isto se deu para que as obras de Deus nele sejam manifestadas.” (Idem, IX-1,2 e 3).30

“Poderá parecer estranho – diz F. Sherwood Taylor – lembramos que não faz um século que se levantavam objeções de ordem moral quanto o emprego de anestésicos nos partos, cuja dor era considerada parte integrante da maldição de Eva.” (Pequena História da Ciência, tr. Milton da Silva Rodrigues – 2ª ed. São Paulo, 1944, pág. 274).

Ora, assim habilmente tecido de modo a trazer sempre presente no espírito dos habitantes deste infeliz Planeta a ideia de expiação, esse indelével substrato místico-religioso explica o horror que a Humanidade tem ao padecimento físico, condição, aliás, mui propícia a explorações demagógicas por parte de certos magnatas do sofrimento universal, que aproveitam o clima de pavor onipresente, para assestar bactérias, desencadeando uma ação simultânea e eminentemente lesiva à sanidade psíquica, ao bem-estar físico e... ao equilíbrio econômico das coletividades sobressaltadas.

Ora, colocada, por imposição da Medicina Clássica, entre o horror de um quadro dantesco de sofrimentos e o frio desencanto de espalhafatosas promessas irrealizadas de cura, não é de admirar certo desejo – que não-raro se surpreende na família de um canceroso – de ver abreviados os dias do enfermo...

De nossa parte, somos dos que pensam e sentem que ligar a ideia de dor a Deus é negar-Lhe grandeza. O Onipotente – embora o seja – não castiga nunca; perdoa sempre. Ele é a própria Redenção.

E se assim não fosse, ao tempo do Nazareno – filho de Deus feito Homem – as dignas mulheres de Jerusalém não procurariam lenir (como se sabe que

30 A título de curiosidade, lembraremos que palavras, por exemplo, como dor e sofrer não são raras na Bíblia. Sem contarmos os vocábulos cognatos, a primeira ocorre 34 vezes (30 no V.T. e 4 no N.T.) e a segunda 17 (5 no V.T. E 12 no N.T.).

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A VERDADE SOBRE O CÂNCER AO ALCANCE DE TODOS

faziam) o sofrimento dos que morriam na cruz, oferecendo-lhes vinho misturado com um pouco de incenso (ou também mirra)...

Aliás, essa questão tem sido constantemente debatida, sendo que sobre ela já se manifestou o pranteado Papa Pio XII, desautorizando a tese da procedência divina do fenômeno.

* * *

O CÂNCER COMO FATOR DE MOTIVAÇÃO DEMAGÓGICA

Se doença existe que – com toda propriedade – se possa arguir de “cúmplice” ideal para explorações demagógicas, é, sem dúvida, o Câncer.

Sua natureza por muito tempo ignota, as manifestações materiais que o caracterizam num quadro clínico dos mais dolorosos, e chocantes; o inexpugnável tabu em que por conveniência, o clausuram seus espertos donatários (hermetismo esse apenas rompido pela algazarra das famosas “campanhas preventivas”); a estratégia alarmista com que o apresentam ao público; a implacável perseguição movida contra os pesquisadores independentes que – no só desejo de minorar o sofrimento humano – transpõem a “cortina de granito” arriscando-se aos mais desprimorosos julgamentos; tudo isso, afinal, favorece as maquinações criminosamente interesseiras dos responsáveis (oficiais e oficiosos) que deveriam ser, realmente, os primeiros adversários do mal, e não seus mais inconsequentes aliados e beneficiários. Senão, vejamos:

* * *

AS INDEFECTÍVEIS “CAMPANHAS CONTRA...”

Neste Brasil de grandezas e misérias, em todas as camadas sociais, fala-se mais de Câncer do que no custo de vida, que cresce vertiginosamente. Dir-se-ia que a volumosidade da tumoração (essa imagem mental da doença, habilmente incutida no entendimento popular) faz esquecer a magreza da bolsa...

Dizem os que dirigem a campanha contra o tremendo flagelo que visam, através de larga publicidade, a educar, esclarecer e alertar a população, sobretudo no sentido de cada um se precaver contra os sintomas preliminares que possam denunciar o Câncer – em tempo útil – sugerindo como cooperação ideal o exame periódico em consultórios especializados. Mas fazem-no

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desastradamente, pois omitem – ou pior ainda: negam – o ponto principal de um verdadeiro programa alertivo, qual seja o contágio da doença, pondo em risco toda uma coletividade que lhes paga para ter protegida a saúde.

E mais. Esquecem que o trauma psicológico do Câncer incipiente está sobejamente comprovado, e que, além disso, sua sintomatologia não-raro se emaranha com a de outras moléstias; sobretudo com as toxinfecciosas, no período inicial.

Aflora-nos, de-imediato, a seguinte consideração: inúmeros cientistas, médicos, especialistas em Câncer (portanto possuidores de mentalidade altamente arejada) tem sido vitimados por essa cruel moléstia.

Ora, se esses homens de saber não conseguem defender-se31 do tremendo abantesma, como o poderiam as nossas populações, em que predomina uma avantajada porcentagem de analfabetos e outra grande parcela de poucos letrados?

Que efeito salutar podem ter essas aberrantes cruzadas nos nossos municípios, em muitos dos quais não existe um só médico? Entretanto, essa mórbida divulgação alcança, através da radiofonia, todos os recantos do Brasil, onde derrama o pavor e a angústia.

A Verdade é bem outra, desgraçadamente. Objetivam essas chamadas campanhas contra o Câncer, em sã realidade, duas metas: 1.ª) interessar os poderes constituídos (legislativo e executivo) por esse cruciante problema, a fim de continuamente obter progressivos aumentos de verbas; 2.ª) carrear para os consultórios dos expoentes da Cancerologia Clássica uma grei imensa de carcinopatas, ou pseudo enfermo uns e outros sugestionados pela aterradora campanha. Mas, praticamente todos sabemos que isso é o mesmo que mandar bois ao matadouro...

É aqui oportuno incluir o depoimento de uma das mais expressivas inteligências da presente geração médica dos Estados Unidos, que estudou profundamente o problema do Câncer no seu país: Dr. George Crile:

“Todos os esforços dos últimos vinte anos fracassaram na tentativa de conseguir reduzir a mortalidade pelo Câncer. De nada adiantaram os bilhões consumidos nas construções de monumentais clínicas. Não deveríamos viver de sonhos, pois do contrário estaremos agindo tal qual nossos antepassados primitivos, levantando templos à nossa própria ignorância e oferecendo sacrifícios aos deuses do pavor. Nunca a arma do pânico foi usada mais ativamente do que nas campanhas contra o Câncer, embora jamais uma

31 Nota do Divulgador: na fonte está escrito “defenderse” em vez de “defender-se”

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filosofia útil tenha sido edificada com base no medo. Não estará esse pavor desviando os esforços e nos afastando das pesquisas básicas?

Tempo é chegado de separar a parte construtiva de um programa do Câncer, dessa afirmativa cínica levantada à custa do pavor”.

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O CÂNCER E AS “EXPOSIÇÕES”...

Hábil encenação que é, a chamada “campanha educativa” do S.N.C. não poderia passar sem o infalível recurso publicitário das exposições. Por isso, ainda em princípios de maio do ano findo, o povo carioca teve ocasião de assistir a uma, que se instalou no Edifício Darke, na Avenida 13 de Maio.

Fiel à diretriz temerária, mas sincera, de relatar A Verdade Sobre o Câncer, não podemos fugir ao dever de ressaltar o lado negativo dos prováveis efeitos psicológicos de tal empreendimento, deixando, porém, ao Leitor, a liberdade dedutiva.

Para não sermos mal interpretado, abstemo-nos de qualquer comentário pessoal, limitando-nos a transcrever as impressões de um jornalista (cuja identidade, aliás, desconhecemos), publicadas no “Correio da Manhã” (8-5-957), sob o título “Câncer em Exposição”, das quais pedimos vênia para destacar cinco parágrafos:

…........................................................................................................................

Atraído pelo fantasma que persiste em desafiar a moderna medicina, o visitante desce a escada. No patamar, encontra dois bonecos, um homem e uma mulher, eriçados de vetores apontando os pontos do corpo mais atacados pela doença, segundo observações feitas em grupo de mil doentes.

As mulheres espantam-se ao verificar que a incidência da moléstia é duas vezes maior no sexo feminino que no masculino.

A Sala da Esperança

A exposição é mal feita. Os cartazes de um sem-graça lamentável, mais parecendo mostra de trabalhos manuais de curso primário. Da barafunda de tabiques, fotografias mostrando chagas abertas, dísticos, salta uma advertência: procurem o médico ao primeiro sinal de perigo. A sala é da esperança, cheia de casos de cura. Os panfletos distribuidos pelo Serviço

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Nacional do Câncer asseguram que quatro de cinco casos tratados em período inicial são debelados. A ciência, se ainda não descobriu remédio infalível, ensaia vitoriosamente algumas armas. Bombas de cobalto, aparelhos de raio-X, rádium, toda uma aparelhagem complicadíssima que, algumas vezes, estabelecem ordem nas malucas células cancerosas.”

…........................................................................................................................

Adiante, prossegue o articulista, com leve e faceta ironia:

“As duas salas da exposição gritam pelas paredes os sete principais sinais de alarma contra o câncer. Feridas que não cicatrizam, caroços e zonas endurecidas, hemorragias inexplicáveis pelos orifícios naturais (pelos não naturias não deve ter importância maior) anemias inexplicadas acompanhadas de aumento de volume dos glânglios, rouquidão permanente, tosse sem motivo, anormalidades no sistema digestivo. A última advertência é para os verruguentos: alteração de cor, número e tamanho de verrugas, pintas e sinais podem ser caminho aberto para o câncer.”

E conclui, chistoso:

“Quem tiver bolotas pelo corpo que trate de comprar um espelho, examiná-las sistematicamente, à cata de fantasias tecnicoloridas.”

…........................................................................................................................

Agora, cabe ao Leitor a tarefa de imaginar as consequências psicológicas de campanhas que tais, sobre coletividades já potencialmente nevrosadas pelas atribulações da vida moderna nas grandes cidades, onde a Cancerologia Clássica, para fingir livrá-las da ação humanitária dos médicos Não-Conformistas – criminosamente comparados a mecânicos de viela, carregando granadas de mão – ela, a importadora e portadora de Bombas... de Cobalto-60, só lhes pode prometer a morte, seja pela desastrada retalhação anatômica, ou mercê de queimaduras pelas radiações nucleares, para não falarmos numa sádica esterilização por ambas!...

Mas felizmente, ao que parece, tais exposições não gozam de muita simpatia popular. Assim é que a deste ano de [19]58 confinou-se num clube recreativo de certo subúrbio carioca, não tendo sido, mesmo, precedida pela habitual propaganda...…..........................................................................................................................

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…..........................................................................................................................…..........................................................................................................................

Variação desse mesmo tema, talvez mais sutil e astuciosa (não fôra ela criação feminina!...) do que a anterior e, sem dúvida, com a incontestável vantagem de, pelo menos, não ser desagradável à vista, ou traumatizante à alma humana, é a “exposição” de trajes, de tempos em tempos realizada para o “combate ao Câncer”.

Queremos referir-nos a certas reuniões mundanas, muito ao gosto da sociedade frívola dos nossos dias, nas quais algumas damas elegantes se encontram, quiçá menos com o pensamento voltado para a situação realmente trágica dos cancerosos, do que pelo simples desejo de se porem a par dos mais recentes caprichos da indumentária feminina, senão mesmo de exibir os próprios...

Essa miraculosa maneira de aproximar, entre sorrisos, duas eternas rivais – a graça e a desgraça – para com a primeira dar combate a outra, em geral assume as formas de chás de caridade, coquetéis, desfiles de modas e até mesmo espetáculos de gala. Ao que parece, o costume existe onde haja, pelo menos, duas mulheres...

Não desejamos, propriamente, censurar tais iniciativas que, pelo menos, não tem o demérito de acenar aos infelizes com promessas insinceras de recuperação. Queremos apenas registrar o fato, acrescentando, porém, que cremos difícil em ambientes assim festivos – onde sobeja a preocupação da elegância, ressaltada pela beleza inquestionável da mulher brasileira, aliada às vibrações da musica moderna e ao ritmo buliçoso das novas danças – haja oportunidade e convicção bastantes para alguém dedicar a atenção devida a um problema de tal magnitude.

Assim, se por um lado – conforme dissemos – essas reuniões sociais não apresentam o mau-gosto e a insinceridade das nossas “exposições” oficiais do Câncer, por outro não se lhes pode negar o pecadilho de geralmente servirem de mero pretexto para “exposições” pelo Câncer, apesar dele, e até mesmo a favor dele...

Pois a Verdade é que essas senhoras – posto que animadas dos mais altruísticos propósitos de solidariedade humana – estão longe de avaliar os perigos que o seu nobre gesto acarreta, não só favorecendo aos aproveitadores da Indústria do Câncer, como também estimulando psicoses coletivas, quiçá no seu próprio ambiente social...

Embora o que acabamos de dizer pareça exagero, não o é, pois ilustre colega psiquiatro – que nos honra com sua amizade – afirmou-nos, faz algum

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tempo, que essa propaganda ostensiva sobre o Câncer exacerba neuroses muitas vezes latentes (ou as provoca); fato esse perfeitamente comporovado em sua clínica, assim particular como oficial...

* * *

OS “SINAIS REVELADORES”

Outro aspecto da campanha publicitária movida pela Cancerologia Clássica é o dos “sinais reveladores”, absolutamente supérfluos – a nosso ver – tratando-se de povo que dispõe (segundo a trombeta oficial) de um Serviço especializado tão moderna quão aparatosamente equipado, a fim de combater o Câncer, e onde pontificam clarividentes profetas, capazes até – como anunciam – de lavrar o diagnóstico antecipado desse terrível flagelo.

Assim, havendo possibilidades de prenunciar o mal, porque esperar pelos “sinais reveladores”?

Talvez por haver notado essa incoerência, é que o S. N. C. Procura remediar o lapso, quando num de seus panfletos, ressalva, em tom paternal:

“Enfim, é sempre aconselhável um exame médico de tempo em tempo, mesmo na ausência de qualquer sintoma, para descoberta de possíveis lesões iniciais.”

Noutras palavras: sinta, ou não, o doente, ou pseudo enfermo qualquer dos dez sinais ali enumerados (que nos abstemos de repetir), deverá procurar o “precoce” facultativo clássico, para que esse lhe trace o diagnóstico e decida que o cliente terá o corpo magistralmente lacerado pela mais invejável técnica cirúrgica, ou insidiosamente queimado pela luxuosa radioterapia coadjuvante; senão confortavelmente esterilizado por ambas...

Para que, então, falar em “sinais reveladores”?...

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“DIAGNÓSTICO PRECOCE, GASTO BORDÃO CONTRADITÓRIO

Cremos já ter dito – mas nunca será demais repetir – que o chamado “diagnóstico precoce” do Câncer nada mais é do que o reconhecimento da tumoração, a qual representa uma fase já avançada do morbo. É, portanto, mais

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um “slogan”, desses que servem de chamariz, para atrair os leigos.E a própria expressão é visivelmente suspeita, porque formada de termos

contraditórios:Diagnóstico (que transcrevemos do gr. Diagnóstikós) é o conhecimento

ou determinação de uma doença pela observação dos seus sintomas e sinais. (Aliás, o prefixo dia – significa, mesmo, “através de”);

Precoce (do lat. praecoce) quer dizer: antecipado.Ora, das duas uma: ou bem o facultativo exara um verdadeiro diagnóstico

(parecer baseado na observação de sintomas e sinais), ou bem sua opinião é prematura – é um prognóstico, senão desastrada pronéia...

Mas não se pode falar em apriorismo, numa enfermidade que apresenta pelo menos, dez alarmantes “sinais reveladores”. Onde, pois, a “precocidade”?...

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CADEIRA DE “PALPITOLOGIA”

A esta altura, perguntará, confuso, o Leitor:- Mas, afinal, pode, mesmo, alguém afirmar que um paciente seja, ou não,

portador dessa doença, antes que se manifestem os sintomas específicos da mesma? E, nesse caso, pode prometer “cura” para um mal ainda não identificado? Não será isso charlatanismo”? Ou o charlatão já não é mais aquele que engana, que promete coisas falaciosas, facilmente identificável às pessoas “desonestas ou loucas”, de que nos fala o eminentíssimo Dr. Rhoads?

Ao que perece, a opinião do Dr. Emanuel M. Josephson, de Nova Iorque, esclarece o assunto:

“Eles dizem que o Rádio e a Cirurgia são as únicas “curas” para o Câncer. Desde que esses charlatães fossem desprovidos desse meio de vida por qualquer outra arma que pudesse evitar o Câncer, é natural que se oponham a qualquer novo método que possa ser descoberto”.

Então, ter-se-á o S.N.C. transformado numa plíade de ilustres puçanguaras? Mas não é a própria entidade oficial desse setor médico em nossa terra que nos adverte – em sua evidente “campanha contra...” - :

“Não confie em charlatões...”?

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… Se é uma nova forma do “conto do vigário”, a quem devemos queixar-nos?-Nada disso! Apenas uma novel especialidade da Cancerologia Clássica,

ramo a que bem se pode chamar “Palpitologia”.Tão comovedor é o estro divinatório desses líderes que – palavra – se

fôssemos influente nas esferas governamentais, até intercederíamos, no sentido de se criar a dita cátedra, para homenagear os eminentes pagés do S.N.C..

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O CHAMADO “DIAGNÓSTICO PRECOCE”

Já vimos que diagnóstico é a interpretação de um conjunto de sinais sintomas para identificar qualquer enfermidade.

Em geral, as moléstias apresentam três fases distintas: invasão, evolução (ou disseminação) e estágio.

Diagnóstico precoce é aquele que identifica a doença no período invasivo.Estrutura a Cancerologia Clássica o diagnóstico precoce das neoplasias

malignas em exames citológicos e histológicos; portanto, quando já presente a tumoração, que indica estado adiantado do morbo. Eis porque consideramos inadequada a expressão, que é antes um “slogan” publicitário.

Tanto assim que o ilustre Prof. Werner Zabel assevera categoricamente:

“O que os médicos geralmente querem dizer com sintomas precoces” é um erro. O que eles pretendem dizer à Primeiros Sintomas, que comumente indicam um tumor já adiantado, em fase de disseminação.”

Para o diagnóstico do Câncer existem reações sorológicas do sangue, praticamente abandonadas, graças à descrença em que as tem os Clássicos.

Não possuímos experiência pessoal sobre o exato valor diagnóstico de tais processos. Entretanto, o emérito Prof. Leriche, em sua excelente “Cancerologie” lhes dá relevo, apresentando o quadro seguinte (pags. 320-1):

É a do Dr. Carlos Botelho Júnior, cujos trabalhos remontam a umas quatro décadas, realizadas no Hotel Dieu, de Paris.

Foi ela intensamente praticada entre nós, até por volta de 1935 – quando os proprietários do Câncer houveram por bem eleger um esdrúxulo diagnóstico feito a golpes de bisturi, alegando que as reações sorológicas não haviam oferecido resultados suficientes.

Omitiram os deslembrados que, idênticos métodos de pesquisa, levados a

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efeito em outras doenças, também são passíveis de falhas; inclusive a classicíssima reação de Wassermann, para a Sífile, que entretanto continua ininterruptamente utilizada na rotina.

Lembra-nos agora que, um dos nossos Mestres (com M-maiúsculo...) disse a título de “blague”, numa de suas magníficas e inesquecíveis aulas.

- “Quando examinarem um doente, pensem sifiliticamente. A única reação para a Sífile, em que confio, é a da água oxigenada.”

E explicou:

- “Junta-se ao sangue do paciente protóxido de Hidrogênio; se houver efervescência, é porque se trata de Sífile...”

Mas voltemos à reação de Botelho.Não-obstante a entronização do bisturi, a porcentagem de êxitos,

oferecida por esse método já constava nos anais médicos, para desmascarar o proposital descaso.

Principalmente após algumas modificações introduzidas por Itchikawa, quando a eficiência da dita reação atingiu 95%, segundo o depoimento de Gomes da Costa, referido por Leriche (ob. cit., pág. 323).

Devemos também mencionar o processo do O. Cameron Gruner, para o diagnóstico (em qualquer fase) da moléstia cancerosa, baseado no quadro hemático da neoplasia. Ao que nos conste, esse método ainda não foi experimentado entre nós, embora publicado há tempos, no Canadá, na obra “The Blood in Cancer”, do Autor.

Em 1936, o Dr. Papanicolaou apresentou um processo por ele descoberto para o mesmo fim, pelo exame citológico dos exsudatos orgânicos (inicialmente do muco vaginal, para o neolplasma uterino). Tal expediente foi desde logo chamado “diagnóstico precoce” pela Cancerologia Clássica, apesar de nada possuir de prematuro. Apenas oferece possibilidade de revelar, ou fazer supor a presença de tumorações já existentes, pois se estrutura na pesquisa de células suspeitas, da secreção examinada.

No domínio da técnica, Papanicolaou aperfeiçoou os meios de coloração das células, usados por Masson.

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RENOMADO EXPOENTE DA CANCEROLOGIA CLÁSSICA VISITA O BRASIL

Recebeu, há tempos, nossa terra a honrosa visita do Prof. Ernest Ayre, Diretor do Instituto de Câncer em Miami (E.U.A.), notável homem de ciência e autoridade de projeção internacional.

Foi convidado especialemente pela Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia do Brasil, em cuja sede assistimos a uma de suas notáveis conferências sobre o diagnóstico precoce do Câncer genital feminino, pelo exame citológico de exsudato ùtero-vaginal.

O cientista, posto que extremamente modesto, é brilhante; sua palestra foi, sobretudo, objetiva. Afirmou ele ser possível o reconhecimento prévio do Câncer na genitália feminina, até sete anos antes de aparecerem os sintomas perceptíveis da tumoração. Fez exibir um filme, em que procurou documentar a sistematização de um processo, para as coletividades, a exemplo do que já fizera em Miami.

O método é, porém, o mesmo de Papanicolaou, executado em fases distintas, que começam pelo exame citológico do muco vaginal; sendo encontradas células suspeitas, procede-se à biopsia do tecido uterino.

Tal expediente poderá ter incontestável valor, quando for empregado o tratamento eficiente para as doenças cancerosas, pois é um precioso indício. Antes, porém carece recebido com reservas, pelas razões que exporemos adiante.

O Prof. Ayre alertou, de passagem, para a possibilidade de vir seu método a servir de entrosagem à Indústria do Câncer, hipótese nada absurda para quem, como nós, já tratou de doente que – conforme dissemos – pagara 250 aplicações de radioterapia!...

Para evitar, provavelmente, esse perigo, indicou o Prof. Americano a necessidade da atuação do “Médico de Família”, devidamente instruido para esse fim.

Notável é a sugestão do ilustre cientista, procurando reabilitar o “Médico de Família”, que se torna, com o perpassar do tempo, conhecedor de minúcias da história clínica, das reações psíquicas e emocionais de cada membro da família!

Assim, ao mesmo tempo que os pacientes se livrariam da exploração por parte dos magnatas do sofrimento universal, ficaria restaurda uma louvável tradição da Medicina do passado – o Médico da Família – esse personagem que vem sendo soterrado pela prática mecanizada ora predominante.

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Tanto mais quanto a tentativa de reabilitação parte de uma autoridade norteamericana, sabido com é que foi nos Estados Unidos que mais se desenvolveu a atividade médica em especialidades estanques.

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UMA TESE ASSAZ DISCUTÍVEL

Lamentavelmente, não podemos compartilhar do sadio otimismo do Dr. Ayre, ao menos pelos sete principais motivos que passamos a expor.

Primeiro, porque somos daqueles que não acreditam na possibilidade do diagnóstico precoce do Câncer pelo processo indicado. Admitimos que ele nos leve a suspeitar da existência de uma tumoração incipiente (imperceptível aos exames ginecológicos comuns), pela eliminação de células desregradas, como já foi dito. A análise do exsudato vaginal denuncia, pois, nesse caso, a presença de um tumor que – como se sabe – é manifestação palpável e tardia (nunca “precoce”) do Câncer. É lesão patente de uma enfermidade em curso.

Segundo, porque é sabido (e internacionalmente confirmado, mesmo pela Cancerologia Clássica) que a simples biopsia é capaz de produzir a exacerbação do processo morboso se já existente, o que torna sua prática eivada de periculosidade. Eis porque pensamos – com o Prof. Brauchle – que ela deveria ser:

“proibida, a fim de evitar uma irritação suscetível de aumentar a virulência do Câncer.”

Outro tanto dizemos em relação ao tratamento pelas radiações nucleares, de cuja agressividade manifesta já cuidamos no capítulo anterior.

“Intervenções cirúrgicas, mesmo as biopsias, e radioterapia possibilitam a transformação de um tumor benigno em maligno”, assevera Domagk.

Terceiro, porque estamos convencido de que o evento não concorreria – com os recursos da terapêutica clássica atual – para conceder qualquer “sobrevida”, além do limite fatal que os enfermos teriam, sem tratamento.

Quarto, porque, a despeito de todas as boas intenções do Conferencista, temos como absolutamente improvável a Cancerologia Clássica recorrer à colaboração do Médico da Família, concessão essa que iria ferir frontalmente os

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interesses mesquinhos daqueles que se mancomunam com os Industriais do Câncer32...

Quinto, porque não há no campo da Medicina – sabem-no todos – setor mais confuso para as estatísticas do que esse, não apenas pela sua complexidade, senão também – e principalmente – porque seu mundo médico se acha cindido em dois grupos antagônicos (conforme dissemos nas primeiras linhas do capítulo anterior), e até a presente data, inconciliáveis, o que torna impossível uma visão de conjunto, ou qualquer realização sinérgica e centrípeta.

Sexto, porque vezes há em que os próprios patologistas tem dúvida sobre se determinado tecido é canceroso ou não. Sua Ciência é biológica; portanto, de exatidão condicionada a fatores diversos. Compete a esses especialistas predizer, partindo de um fragmento morto de tecido, qual seria o comportamento da célula viva. Por isso, sua interpretação nem sempre reflete um fato, porém simples opinião; sendo, pois, temerário, estabelecer uma linha adequada de coduta a seguir.

Sétimo, e último, porque a marcha de uma neoplasia é imprevisível. Há variedades que se desenvolvem tão vagarosamente, que não chegam a constituir ameaça. Outras, pelo contrário, tem uma eclosão fulminante.

Entretanto, o ponto ainda mais vulnerável da tese defendida pelo eminente Dr. Ayre é aquele em que S. S.ª afirma ser possível, pelo exame citológico que preconiza, antever o aparecimento da tumoração neoplásica até sete anos de antecedência asserto esse que aberra à lógica e à razão.

Ora, ou a enfermidade existe – e o exame de suas manifestações objetivas a desmascara -, ou não existe – e a previsão do seu aparecimento descamba pelo terreno adivinatório.

Continuamos, pois desconhecendo o que teria levado o Mestre norteamericano a assertiva tão audaciosa quão absurda.

Não obstante, vem ela servindo de “slogan” fartamente apregoado nos círculos médicos brasileiros, pelos defensores do método taumatúrgico...

Talvez o nosso ilustre e dileto amigo, Artur Campos da Paz Filho – maior entusiasta do processo entre nós -, com sua venerável figura búdica, já tenha conseguido penetrar os arcanos do Incognoscível e, por isso, esteja habilitado a fazer profecias. Aliás, o número sete é, mesmo, cabalístico...

Agora, para reforçar nosso ponto-de-vista, apresentaremos a opinião do eminente Dr. William S. Baimbridge, figura das mais conceituadas da Medicina americana, depoimento esse tanto mais insuspeito quanto partido de um antigo

32 Nota do divulgador: na fonte está escrito “Cânced” em vez de “Câncer”

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A VERDADE SOBRE O CÂNCER AO ALCANCE DE TODOS

cirurgião do New York Skin and Cancer Hospital:

“Um neoplasma jamais deveria sofrer incisão para fins diagnósticos, pois não se pode precisar em que fração de tempo as células cancerosas possam se disseminar e o paciente ser condenado.”

…........................................................................................................................“Deve ficar entendido que, mesmo que o Câncer não possa propagar-se

entre seres humanos, pode ser transplantado no mesmo hospedeiro.”

* * *

“CLASSICISMO” E MORTALIDADE

Um trabalho consciencioso foi realizado pelo Prof. Seymour Farber, da Universidade Médica da Califórnia, e publicado num interessantíssimo livro intitulado “Lung Cancer” (1954) com a cooperação de várias universidades. Vai reproduzido um quadro estatístico sobre o Câncer do pulmão:

Os doentes foram divididos em categorias. Total: 241.Grupo I. Clinicamente inoperáveis. Total: 117 pacientes.Faleceram dentro de 12 semanas, 114.Faleceram dentro de 91 semanas, 3.Grupo II. Submetidos apenas a laparotomia exploradora (sem nenhuma

extirpação do órgão). Total. 50 pacientes.Faleceram dentro de 24 semanas, 49.Faleceu, dentro de 61 semanas, 1.Grupo III. Submetidos a intervenção cirúrgica, com extirpação do órgão.

Total: 74 pacientes.Faleceram dentro de 38 semanas, 64.Faleceram dentro de 96 semanas, 10.Como se ve por essa pequena mostra estatística, esses infelizes portadores

do Câncer pumonar não tiveram muita sorte com a terapia “clássica”...Dir-se-ia um estranho conluio, em que se irmanassem a técnica e o

conforto de um tratamento despendioso com a implacável realidade da morte...

* * *

A CHAMADA “SOBREVIDA”

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Convencionou-se chamar de cura clínica no Câncer uma “sobrevida”, para cuja duração mínima se estabeleceu o período de 5 (cinco) anos. O American College of Surgeons pretende que 2% (dois por cento) do número de sobreviventes sejam o módulo de consagração da terapêutica atual, conforme temos dito.

Todavia, pela estimativa do Prof. Farber – que acabamos de citar – a situação é ainda mais deplorável, tratando-se da neoplasia maligna pulmonar, onde o malogro da terapia clássica foi total e absoluto.

É esse, também, mais um dos motivos pelos quais não acreditamos possa qualquer diagnóstico influenciar no curso inexorável dos acontecimentos.

* * *

O “DESPISTAMENTO”

Como último registro dos principais bordões de que se serve a Cancerologia Clássica numa insincera e ridícula autopropaganda, mencionaremos o “despistamento”, pregão, ao que tudo faz crer, de recente importação. Foi assim que lemos, entre as declarações de um expoente famanaz da entidade em nossa terra, a seguinte:

“O Instituto conta também com treinada equipe de cancerologistas, em condições de não só despistar a doença em várias fases, como ainda de combatê-la com as quatro armas clássicas, que são: cirurgia, radioterapia, curieterapia e quimioterapia”. (Grifo nosso).

Ora, ou muito nos enganamos, ou S. Sa. colheu esse “despistar” em algum tratado francês, onde a forma dépister responde principalmente a “descobrir a pista”, “seguir o rastro”, “rastrear”, (portanto, só por extensão equivale ao nosso “despistar”, “desorientar”, “desencaminhar”) Se é que não o apanhou, mesmo na prataria “de casa”, logo nas primeiras linhas do interessante trabalho de João Andréa (já citado por nós), onde, aliás, aparece mais este salutar preceito do ilustre Autor baiano:

“O estudo da Cancerologia não se pode confinar, apenas, nos importantes aspectos de intensa campanha e de luta sociais. Não é somente questão de empreender movimentos altruísticos na descoberta do canceroso e

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no despistamento do Câncer.” (Ob. cit., pág. 5)

Mas em português, o sentido próprio é bem outro, como se pode ver em qualquer dicionário: “fazer perder a pista”; “iludir, desfazendo as suspeitas”, “ludibriar”, (“tepear”, como diz o Zé Povinho...).

Eis porque continuamos ignorando o que tenha querido expressar o ilustre Facultativo, com esse curioso termo.

“Despistar” o que, ou quem? O Câncer? Ou os pacientes? Terá sido mero engano de tradução, ou uma interferência traiçoeira do subconsciente?...

Para que melhor nos compreenda o paciente Leitor, aqui vai um exemplo do que verdadeiramente, consideramos despistamento.

Costumam os propagandistas da Ciência e da Tecnologia norteamericanas gritar para todos os quadrantes do mundo que a elas se deve o aumento de longevidade atual do povo de Tio Sam.

Todavia, em se tratando do Câncer, não se pode menos de lamentar que – a despeito de todos os esforços apregoados – o fracasso tenha sido total. Baste dizer que, segundo a informação de uma revista sempre bem informada (que temos sob os olhos),

“700000 pacientes padecem dessa enfermidade nos EE.UU.. A mortalidade por essa causa se dulicou desde 1900, principalmente pela maior longevidade.” (“Life”, em espanhol, 2-6-[19]58, pág. 31)

Diz ainda a citada publicação que, desses enfermos, 250000 estão condenados ao desenlace. E adiante acrescenta:

“Todo ano, 75000 pacientes morrem sem necessidade, nos EE.UU., por não irem ao médico, ou não darem importância aos sinais abaixo indicados.” (Pág. 33).

De fato, no lugar mencionado estão sete dos dez conhecidíssimos “sinais reveladores”, que aqui nos abstemos de repetir. Mas o que é interessante é que essas elevadas cifras de criaturas anualmente imoladas ao Câncer – bem como a explicação apresentada (negligência de muitas...) vem comprovar nossa tese da descrença do público nos métodos clássicos e a impopularidade das chamadas “campanhas educativas”...

Mas voltemos ao motivo do presente comentário.Os serviços oficiais costumam assoalhar que o espantoso aumento de

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incidência das neoplasias malignas é devido à maior longevidade atual, pois sabe-se que elas geralmente só atingem o Homem depois dos quarenta anos.

Aceitamos essa óbvia razão para o aumento do número de pessoas acometidas pela terrível enfermidade o que não admitimos é que tal extensão do numerário humano possa justificar o inegável e paralelo incremento da mortalidade por essa doença. Então, que tem feito os serviços oficiais tão regiamente averbados para combatê-la?

A Verdade é, portanto, esta: a quantidade de pessoas que anualmente morrem em todo mundo – seja ela, ou não, extranumerária relativamente aos períodos anteriores – é consequência da ineficácia dos monstruosos e desumanos métodos clássicos, entronizados como terapia oficial nos diversos países.

Pretender camuflar esse fato, responsabilizando o aumento de densidade demográfica é pretender tapar o sol com uma peneira; é, isso sim, recorrer ao despistamento...

* * *

A FANFARRA... DA DERROTA

Através dos tempos, sempre foram as fanfarras arautos apoteóticos de retumbantes vitórias, entretanto, parece que já não o são mais.

É o que se depreende do espetaculoso programa organizado e cumprido para abertura do 7.º Congresso Internacional do Câncer, reunido em Londres, de 7 a 12 de julho último, no qual tomaram parte quase 3000 membros, representando mais de 60 países. Senão, vejamos:

Às doze horas, fanfarra de trombetas, entrada em procissão dos componentes da mesa. Hinos nacionais foram tocados em órgão. Entrega das credenciais do Presidente do Congresso, Sir Stanford Cade, pelo Presidente da União Internacional contra o Câncer, Prof. J. H. Maisin, que falou em francês. Abertura oficial do Congresso, pelo Duque de Gloucester, em nome de Sua Majestade Elizabeth II. Discurso do Presidente do Congresso. Agradecimento, em nome dos Congressistas, pelo Prof. Antônio Prudente Fanfarra de trombetas, saída da plataforma, em Procissão.

Pois foi com essa ostentosa programação, de que se revestiu o festival londrino do Câncer, que a chamada “escola clássica” comemorou, não o seu

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triunfo sobre a terrível enfermidade, porém, seu absoluto fracasso. Mais uma vez, tripudiou sobre os muito milhões de mortos pela prática de seus monstruosos processos terapêuticos: Cirurgia mutilante e radiações carbonizadoras!

Enquanto no elegante Royal Festival Hall soaram agudamente as trombetas da fanfarra, em todo o mundo, milhões de desgraçados continuaram gemendo dolorosamente, vítimas da inoperosidade entronizada!

…........................................................................................................................Dominado pela emoção, íamos esquecendo um detalhe importante. Fez-se

representar o Brasil nesse conclave por numerosa e luzida delegação, da qual foi figura proeminente um dos magnatas da Cancerologia Clássica patrícia, que, aliás, foi o orador oficial do Congresso.

S. S.ª provavelmente disse – com euforia contagiante e lágrimas na voz – que a capital brasileira possui o MAIOR hospital da América do Sul, para o Câncer, dotado da mais moderna e requintada aparelhagem para fins cirúrgicos, bomba de Cobalto-60 etc. etc.

E mais. Que apesar de dispor o Brasil de importantes centros de pesquisas (como o Instituto Osvaldo Cruz, o Instituto Paulista de Biologia etc.), todos de renome mundial, acaba de ser criado pelo Serviço Nacional do Câncer, um laboratório especializado, para a investigação das neoplasias malignas, no qual trabalharão técnicos no ridículo e inacreditável número de doze!

Mas não poderia ter escondido os verdadeiros resultados práticos de tudo isso!...

É curioso – e ao mesmo tempo assustador – verificar o quanto nossa gente vem assimilando, há uns tempos para cá, certa exótica mentalidade imediatista.

Já não se pensa, aqui, em realizar o melhor, mas apenas o MAIOR, copiando, assim – como em muitos outros pontos – servilmente o figurino estrangeiro, e espadanando-se numa reação típica de povo que tudo julga pela quantidade, por ser incapaz de interpretar qualidades...

E tudo isso, para que?

“O progresso da Medicina – como diz o iluminado Alexis Carrel – jamais virá da construção de hospitais melhores e maiores, de melhores e maiores fábricas de produtos farmacêuticos. Ele depende do advento de alguns sábios dotados de imaginação, de sua meditação no silêncio dos laboratórios, da descoberta – fora do procênio das estruturas químicas – dos mistérios organísmicos e mentais.”

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* * *

MEGALOMANIA HUMILHANTE...

Do que acabamos de expor neste capítulo, é lícito reconhecer a seguinte e melancólica Verdade: a “Cancerologia Clássica”, no labor ímprobo de monopolizar esse importante setor que lhe é – porém não somente a ela – afeto, vem entravando, de longa data, a cura do terrível mal.

Em seu desvairado furor demagógico, ela não suaviza, nem deixa mitigar, os sofrimentos daqueles que lhe estendem as mãos súplices.

Preocupam-na mais os fundos e a propaganda de suas infrutíferas campanhas do que o próprio movimento “preventivo”, em si; mais a espetacular publicidade dos seus quase cinquenta nosocômios, do que o verdadeiro estado em que atualmente se encontrem os doentes de algum deles egressos (se os houve...); mais a vaidade de anunciar ao mundo a aquisição de custosas bombas de Cobalto-60 do que a verificação de sua provável periculosidade: mais as aplicações despendiosas de radiações do que estudos honestos, dos quais resultasse algum medicamento capaz de neutralizar radiodermites, e as intoxicações radiolágicas.

E é bem possível não tarde o dia em que vejamos, aqui na Capital da República, abrir festivamente os seus salões o C.C.C. - “Clube dos Curados do Câncer” -, à semelhança do congênere novaiorquino, fundado há vinte anos, “cuja finalidade é mostrar aos descrentes o valor da Medicina de hoje” (sic!)... (Vj. A Resenha... do S.N.C., pág 381).

Enquanto isso – num contraste chocante e macabro – continuará crescendo o numerário estatístico de mortalidade pelas neoplasias malígnas, em todas as classes sociais. Estrondosa festa no palácio da Cancerologia Clássica, luto confrangedor nos lares, dos mais luxuosos aos mais humildes...

Enfim, é forçoso convir em que a Cancerologia Clássica – ela própria – vem apresentando sintomas alarmantes de uma neurose de consequencias imprevisíveis – a Megalomania.

Megalomania humilhante para a Humanidade, como se vê...

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CAPÍTULO VII

A INDÚSTRIA DO CÂNCER

Porque escrevemos este capítulo. - A intolerância da Medicina Ortodoxa através dos tempos. - A indústria do Câncer. - Reação mundial aos trustes do Câncer.

PORQUE ESCREVEMOS ESTE CAPÍTULO

Dois fatores concorreram para que déssemos forma capitular a este desagradável assunto – que bem desejaríamos inexistente -: o lado mercantil do Câncer.

O primeiro foi um artigo publicado, há tempos, no conhecido matutino “Correio da Manhã” (1-7-[19]56) desta Capital, intitulado “Câncer e Civilização”, da autoria de ilustre colega, a quem pedimos vênia para destacar o seguinte trecho:

“Vale fazer um parêntese em relação aos novos remédios” que 'curam' o Câncer. Raro é o mês que se passa sem trazer notícia de 'descoberta' dessa ordem. Todos os países do mundo estão de posse de pelo menos, meia dúzia desses 'remédios' e o Brasil não foge à regra, a não ser com uma diferença. Enquanto que por aí afora os 'descobridores' se ocultam com medo da polícia, no Brasil, berram aos quatro ventos que 'descobriram' a cura do Câncer. Dão entrevistas a todos os jornais e revistas e dizem-se perseguidos pelos poderes públicos e pelas instituições oficiais. Propalam, inclusive, que há um 'trust' médico, com sede nos Estados Unidos, interessado em que não se descubra a cura do Cãncer. Seria esse 'trust' imaginário, as raizes universais (o grifo é nosso), e dele partiriam ainda todas as dificuldades criadas para cercear-lhes a atividade. Dizem isso à boca pequena e encontram defensores de boa fé”.

Ora, acontece que das injustiças e perseguições sofridas – aqui e alhures – pelos cientistas que laboram à margem (e apesar...) das esferas oficiais, já a esta altura do nosso trabalho o Leitor inteligente, por certo, haverá suspeitado. Logo, só nos cabe apresentar as provas, que constituirão objeto do capítulo seguinte.

No que se refere à existência de uma verdadeira “Indústria do Câncer”, na qual se acompadram gordos magnatas que negociam com o instrumental cirúrgico e radioterápico com os (cientificamente) irredutíveis figurões da

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Cancerologia Ortodoxa – que vivem da sua lucrativa utilização – quanto a isso, demonstraremos oportunamente, citando fatos lamentáveis, antes os quais a História da Medicina não poderá fechar os olhos... Comprovaremos a esse abalizado clínico que a Verdade é bem outra, o que provavelmente desvanecerá o seu “doce e ledo engano...”

Só um obstáculo nos embaraça: compreender como pode alguém “propalar” algo “à boca pequena”...

O segundo motivo foi uma crônica, assinada pelo Dr. Walter C. Alvarez, da Clínica Mayo (E.U.A.), também acolhida pelo vespertino “O Globo” (13-6-[19]56), onde aparece sob a epígrafe “O que Você Deve Saber de Medicina – (e subtítulo): Nenhuma cura para o Câncer generalizado”.

Num dos tópicos, exara S.S.ª (que por-sinal é colaborador efetivo daquele jornal carioca) um ponto de vista com o qual absolutamente não podemos concordar, porisso que – lamentamos dizê-lo – não corresponde à realidade apreciável nos fatos cotidianos. Ei-lo, textualmente:

“Muitos alimentam a ideia absurda de que se alguma cura, para o Câncer generalizado fosse encontrada por um leigo, nós, os médicos, não só deixaríamos de empregá-la, por ciúme e estupidez, como também não investigaríamos; ficaríamos sem conhecer suas maravilhas e, pior, ainda, através do suposto poder da nossa sociedade médica nacional, impediríamos o seu uso em todo o país e no mundo. Não posso conceber maior sandice, porque no dia seguinte ao em que fosse descoberta a cura do Câncer generalizado, o mundo inteiro dela tomaria conhecimento e, dentro de algumas semanas, os médicos de todos os quadrantes do mundo civilizado a estariam empregando”.

Ora, de-imediato aflora-nos o seguinte comentário: não seria de admirar que os expoentes da Cancerologia Ortodoxa se propusessem a abrir o coração magnânimo a qualquer cura do... Câncer generalizado. Exatamente por ser essa impossível.

É claro que a debelação dessa moléstia mui provavelmente jamais ocorrerá, bem como a de qualquer enfermidade generalizada, pois seria miraculosa, e o milagre é um apanágio exclusivo de Deus, que está fora e acima da Ciência de Hipócrates.

Porém, a descoberta de uma terapêutica para o Câncer, mesmo na fase evolutiva, de forma alguma conseguiria a divulgação rápida que o otimismo do ilustre médico do norte pretende assoalhar. Teria, infalivelmente, de vencer a intolerância do academicismo vaidoso, que sempre existiu – como em breve

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A VERDADE SOBRE O CÂNCER AO ALCANCE DE TODOS

iremos ver – em todos os setores da Medicina...….........................................................................................................................

Antes, porém, queremos focalizar um fato que poderá orientar melhor o Leitor, quanto aos reais propósitos da Cancerologia Clássica. Ocorreu no estado-maior do combate ao Câncer – o conhecido grupo hospitalar Sloan-Kettering de Nova Iorque, importantíssima organização dirigida pelo Dr. Cornelius Rhoads, que está incumbido de chefiar todas as pesquisas em universidades, laboratórios, etc., dispondo, pois, de um verdadeiro exército de especialistas selecionados entre os de maior projeção nos respectivos setores.

Pois bem. S.S.ª, numa entrevista que há tempos concedeu a um órgão local de publicidade – o “U.S. News & Word Report” e ao “Correio da Manhã” desta Capital, quando perguntado sobre as possibilidades de experimentar os novos medicamentos em casos avançados ou fatais de Câncer, para firmar uma estatística relativa ao valor dos remédios surgentes, assim se externou, numa opinião já por nós parcialmente citada, noutro capítulo:

“Diz-se que isso será feito sob os auspícios da Saúde Pública Americana. Será uma experiência interessante.

Um estudo desse gênero é imensamente complicado e difícil. Muitos pacientes estão gravemente doentes, com intermináveis complicações, sendo impossível um estudo.

Usá-los em experiência é impiedoso.Os métodos para se conhecer do resultado dos produtos químicos em

pacientes ainda não são bons. Além disso, a história natural de um Câncer não tratado é extremamente confusa e pouco compreendida. Daí termos sempre notícias errôneas e infundadas de remédios contra o Cãncer anunciados por pessoas ingênuas que não tem muita experiência, ou que são desonestas ou loucas.”

Esse confuso e capcioso depoimento revela, de modo insofismável, as intenções do Dr. Rhoads, de manter submissa ao jugo dogmático a atual estrutura terapêutica do Câncer.

Serve igualmente para mascarar a intransigência dos que se consideram árbitros permanentes, quanto à oportunidade a ser dada a alguém “de fora”, para testar qualquer nova descoberta.

Não deixa de ser interessante compararmos aqui as palavras de S.S.ª “pessoas desonestas ou loucas” com certa maquiavélica sentença telepsiquiátrica de um seu colega brasileiro – hospício ou cadeia – desferida

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contra um brilhante pesquisador patrício e com o triste fim a que os medalhões da Obstetrícia européia condenaram Semmelweis, no século passado, (ainda aqui. E até hoje citaremos neste capítulo) existe quem não creia em Darwin!...

Tão estranha atitude do famoso33 ianque é comparável à do bombeiro que, vendo incendiar-se um prédio, e frente à desolação reinante, se recusasse a tomar a iniciativa de combater as chamas, apenas por desconhecer a causa do sinistro; ou sonegasse uma escada aos desesperados moradores do edifício só porque esse utensílio, fosse novo e o seu fabricante ainda não o tivesse registrado no competente departamento burocrático!

Ocorre, porém, que o mesmo Dr. Rhoads, nas “Great Adventures in Medicine” (pág. 750), declara adotar como norma profissional o conceito enunciado por Francis Bacon, no século XVII, (1620):

“Primeiro, foram encontrados os remédios e realizadas as curas; somente depois se procurou descobrir os motivos e as causas, isto é: não se procuraram primeiro as causas, para depois, à sua luz, se descobrirem os remédios.”

É – como se vê – o Dr. Rhoads se opondo ao próprio Dr. Rhoads numa demonstração eloquente de que, do ponto de vista doutrinário, a Cancerologia Clássica procede às tontas, sem rumo certo nem pensamento definido, quando comprometedoramente, se acompadra com os industriais do Câncer...

Aliás, são palavras de um dos seus mais representativos expoentes, o ilustre biólogo norteamericano, Dr. I. Phillips Frohman, reportando-se não só aos seus colegas do campo médico, mas a todos os técnicos atômicos dos Estados-Unidos.

“... A maior parte de nós é como crianças perdidas na floresta, no que se refere aos problemas concernentes aos resultados potenciais da exposição às radiações nucleares...”

…........................................................................................................................

* * *

A INTOLERÂNCIA DA MEDICINA ORTODOXA ATRAVÉS DOS TEMPOS

A história do combate ao sofrimento humano é pródiga em exemplos de

33 Nota do divulgador: na fonte está escrito “famozo” em vez de “famoso”

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A VERDADE SOBRE O CÂNCER AO ALCANCE DE TODOS

injustiças e perseguições inomináveis movidas contra os pesquisadores independentes, por parte daqueles que dirigem as organizações oficiais e oficiosas, nos diversos setores da atividade médica, em todos os países. Senão, vejamos.

Como “aperitivo”, aqui vai um saboroso exemplo nacional. Durante muito tempo, o nosso grande Osvaldo Cruz se esforçou por convencer a Medicina Oficial de ser a Febre Amarela transmitida por um mosquito e não – conforme assoalhavam os sabichosos da época – produzida pelos miasmas.

Em carta datada de 5 de maio de 1903 dizia o ilustre sanitarista ao seu colega Emílio Ribas (que, em São Paulo comungava da mesma opinião):

“A despeito da campanha que contra nós é aqui levantada, prosseguimos com atividade e de acordo com as nossas ideias. Vamos iniciar o serviço de inverno, destruindo por toda cidade os lugares de produção dos stegomias.”

Somente depois que veio da França uma Comissão de entendidos estudar o assunto e dizer a palavra final foi que as autoridades se convenceram de que o grande pesquisador patrício estava, mesmo com a razão...34

O Escorbuto que dizimava as tripulações dos navios ingleses, tinha sua causa conhecida – já fazia mais de um século – na deficiência alimentar, pela carência de ácido ascórbico, quando, em 1752, James Lind tornou obrigatório o sumo de frutas como preventivo. Dali por diante os médicos militares britânicos resolveram abandonar sua intransigência. Prontamente desapareceu o mal, que é uma avitaminose C.

Em situação idêntica esteve o Beribéri (carência de vitaminas B1 e B4), até o advento dos trabalhos de Eijkman, Funk e Cooper, no princípio deste século.

O papel do pâncreas, no Diabete, foi estabelecido em 1889, por Mering e Minkowski; porém só o acaso permitiu a Banting e Best tornarem vitorioso o emprego da Insulina em 1922.

Foram necessários dois séculos, a partir de Redi (1668), para que (1867) pudesse ser oficialmente ouvido e compreendido, ao relacionar a infecção das feridas com a putrefação – sem dúvida inspirado nos estudos de Pasteur (1861), sobre os bactérios – a fim de que a antissepsia fosse reconhecida; e 25 anos entre o Salvarsan, de Paul Erlich (1910) e a Sulfanilamida, de Domagk (1935). Aliás, esse último composto já se encontrava à mão, em impressos esquecidos

34 Nota do divulgador: confrontar com Mateus 13:57 e com João 4:44 – Santo de casa não faz milagre.

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A VERDADE SOBRE O CÂNCER AO ALCANCE DE TODOS

nas prateleiras, havia dezesseis anos (Heidelberg e Jacobs, 1919), baseados nas experiências de Gelmo (1908).

Os fundamentos dos antibióticos foram comprovados por Pasteur e Joubert em 1887. Não obstante, 56 anos decorreram até o ucrainado Wakesman (1943).

O que Fleming observou possível em 1928, com a penicilina, só conseguiu o beneplácito oficial 12 anos mais tarde, e isso mesmo graças às contingências do segundo grande conflito mundial.

Em meiados do século passado [isto é, do século XIX] Semmelweis procurava convencer seus colegas de Budapeste e Viena de que eram eles que propagavam a infecção puerperal. Insistiu demais para que sempre lavassem as mãos também antes (e não apenas depois) de examinarem as parturientes. A reação foi tremenda. A perseguição que lhe moveram os figurões da Obstetrícia só terminou quando, destroçado, seguiu para um Asilo de Alienados, em Viena, onde morreu, em 1865.

Quando em 1895 Roentgen descobriu os raios-X, encontrou resistência dentro da própria Alemanha, pelo que se dirigiu à França (onde o alcance de sua descoberta foi imediatamente realçado). Todavia, a respeitável “Pal Mall Gazette” que era, na época, o jornal de maior prestígio na Inglaterra, refletindo o espírito da intransigência da classe médica britânica, assim se manifestava a respeito:

“...É preciso que se façam imediatas e severas restrições legislativas ao seu comércio... O melhor seria, talvez, que todas as nações civilizadas do mundo entrassem em acordo para, reunidas, queimarem todas as obras sobre raios Roentgen, fuzilarem todos os descobridores e atirarem em meio do oceano toda a quantidade de contraste que pudessem reunir na face da Terra...”

….......................................................................................................................Por volta de 1921, o Dr. Marbais descobriu uma vacina contra a

Tuberculose, com a qual obteve excelentes resultados. Após inúmeras peripécias, sempre maltratado e denegrido pela Medicina Oficial de sua terra, (França), um dia chegou a realizar uma experiência no próprio corpo, injetando-se 2 (dois) miligramas do seu remédio, a fim de mostrar aos doutoraços a inocuidade da descoberta.

Geralmente mal recebido por todos os mestraços a quem recorrera, certa vez, havendo encontrado cortesia da parte de um funcionário do Ministério da Instrução Pública, resolveu recompensar, com um presente, a gentileza com que

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A VERDADE SOBRE O CÂNCER AO ALCANCE DE TODOS

fora tratado. Eis, em poucas palavras, o que lhe aconteceu, resumido em duas frases suas, que retiramos do citado livro de D'Autrec.

“Não me inscreveram [no quadro da Ordem do Médicos] em 1946, em consequência de um crime que eu haveria de cometer em 1947, pois, o caso da corrupção do funcionário é de 1947.”

E adiante:

“Então, Piédelièvre, por sua vez, apresentou queixa contra mim por exercício ilegal da Medicina em 1947, porque eu não fora inscrito no quadro da Ordem em 1946. Eis quais são os juízes.” (Pág. 254).

….........................................................................................................................Ali por 1946, após dez anos de haver obtido o primeiro êxito em trocar o

sexo do embrião humano no ventre materno, modificando “por meios muito simples e puramente físicos a polaridade da oosfera”, o insigne biologista francês C.V.D'Autrec (já por nós citado algumas vezes) fez o relato de suas experiências perante uma trintena de médicos. O resultado foi este, narrado pelo próprio cientista:

“Essa exposição foi recebida com um ceticismo geral, chacotas mesmo. As perguntas que me dirigiram foram tão pueris e, por vezes, tão absurdas, que me convenci de que nenhum daqueles trinta médicos havia estudado verdadeiramente Biologia, nem o Eletromagnetismo e que eles ignoravam tudo sobre a formação dos sexos. Nem um só – ouçam – nenhum sequer teve a coragem de me dizer: - Não compreendemos nada de suas teorias; mas em Biologia, como em Medicina, só o resultado vale, vamos nomear uma Comissão, o senhor fará suas experiências e nós aí verificaremos o resultado.” (Ob. cit., pág.26).

…........................................................................................................................Cremos não ser necessário acrescentar muito mais, relativamente ao que,

a esse respeito, ocorre na França. Para encerrar, baste dizer que lá – informa D'Autrec – a camarilha médica chega ao cúmulo de pleitear não somente a aplicação de severas penas contra os chamados “charlatães” e os médicos ditos “ilegais” (uns e outros – na maioria das vezes – homens de grande saber, que não soletram pela cartilha dos doutoraços...), como também

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A VERDADE SOBRE O CÂNCER AO ALCANCE DE TODOS

“a supressão da publicidade dos debates, isto é: a cassação da liberdade de imprensa.” (Ob. cit., Introdução, pág. 9)

O' Liberté! Égalité! Fraternité!... …........................................................................................................................

Agora, reportemo-nos ao segundo motivo desse capítulo – o fósmeo artigo do Dr. Walter Alvarez.

Diante dos fatos que acabamos de narrar (apenas alguns, dentre muitíssimos e – note-se bem – nenhum sobre o Câncer, que os a ele relacionados constarão do capítulo seguinte), cremos não ser “idéia absurda” - como qualificou S.S.ª – descremos na boa receptividade dispensável pela corrente ortodoxa a qualquer meio de curar o Câncer, que partisse de um elemento não-oficial.

“Sandice” (termo textual do agressivo articulista) cometeria quem acreditasse sem reservas, em que “no dia seguinte ao em que fosse descoberta a cura do Câncer generalizado, o mundo inteiro dela tomaria conhecimento e, dentro de algumas semanas, os médicos de todos os quadrantes do mundo civilizado a estariam empregando”.

É obvio que assim seria – como tem ocorrido até hoje – se a terapêutica aparecesse em “todos os quadrantes do mundo civilizado” exibindo a etiqueta “Made in USA”. Talvez bastassem, mesmo, algumas semanas”...

Não é, por sinal, novidade que na Terra de Tio Sam se acha sediado o truste farmacêutico. Há precisamente uma vintena, lá entrou em vigor a Federal Food Drug and Cosmect Act. Pois já no ano atrasado (1956), haviam sido requeridas 10000 (dez mil) licenças para novos preparados, o que perfaz um total de mais de metade dos produtos hoje conhecidos. Ou, por outras palavras: a outra quase metade restante saiu, mesmo, nesse último biênio...

(Conforme veremos oportunamente certo médico grego radicado na França, Dr. Solomidès, chega a se referir a produtos que apresentam “o insigne privilégio de vir da América!”).

E pensar que aqui, na América do Sul, os burgomestres da filiar brasílica – num gesto de inconcebível vassalagem – exigem de um eminente cientista patrício o prazo mínimo de cinco anos, para testar suas evidentes descobertas; quando não ameaçam com o dilema: hospício ou cadeia, como fizeram a outro...

A quanto obriga a servidão humana!...

* * *

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A VERDADE SOBRE O CÂNCER AO ALCANCE DE TODOS

A INDÚSTRIA DO CÂNCER

Existe, sem a menor dúvida, em todos os grandes países, uma verdadeira Indústria do Câncer, habilmente organizada e adestrada.

Dir-se-á ser essa afirmação produto de apressada, talvez leviana, dedução nossa; mas é facil comprová-la, recorrendo a fatos documentados, como passamos a fazer.

Já vimos a incidência flageliforme desse terrível mal sobre a Humanidade. Assim, o problema se torna hoje, mais do que nunca, de caráter social. Portanto, a verdadeira terapêutica – enquanto não se reconhece oficialmente um preventivo – só pode ser aquela que, além de eficiente, se torne acessível a toda coletividade e, sobretudo, às classes menos favorecidas.

Entretanto, não é isso que a Cancerologia Clássca oferece às populações sofredoras: ao contrário, impõe-lhe uma terapia espetacularmente dispendiosa.

Baste dizer que o custo médio de cada tratamento nos Estados Unidos era – não faz muito tempo – de 7500 (sete mil e quinhentos) dólares, quantia que, em moeda brasileira, ao câmbio atual, gira em torno de 1125000 (um milhão, cento e vinte e cinco mil) cruzeiros!35

Ora, os casos novos, somente naquele país, estão surgindo na razão de meio milhão por ano36, o que significa, como tributo a soma, astronômica de 3,5 (três e meio) bilhões de dólares (mais de quatrocentos bilhões de cruzeiros) anuais37.

Como se vê, é o Câncer não apenas uma doença da civilização, como também – e acima de tudo – uma calamidade assaz rendosa...

Eis porque, há tempos, falando à imprensa carioca sobre o combate ao Câncer (acrescentemos: em que a Medicina Oficial jamais triunfou...), dizia com a maior franqueza um especialista portorriquenho, o Dr. Martinez:

35ND: Uma simples divisão nos mostra que o câmbio referido pelo autor pagaria 150 (cento e cinquenta) cruzeiros por 1 (um) dólar.

36É bem verdade que a cifra apresentada ao recente Congresso Internacional – de julho último – era de 450000 (quatrocentos e cinquenta mil). Mas a revista “Life”, sempre tão bem informada das coisas americanas, pouco antes (2-junho-[19]58, pág. 31), falava em 700000 (setecentos mil). Assim, se tirarmos a média – tendo em conta a fidedignidade de ambas as fontes – ainda encontraremos um número superior ao aqui consignado...

37ND: Conforme o câmbio pelo autor considerado (150 cruzeiros = 1 dólar), e multiplicando o gasto médio referido de 7500 dólares pelo referido número de novos casos anuais (500 mil), chegamos a um custo superior a meio trilhão (isto é, 500 bilhões) de cruzeiros gastos somente nos EUA com o tratamento do Câncer.

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A VERDADE SOBRE O CÂNCER AO ALCANCE DE TODOS

“...Para ganhar a batalha são necessárias 3 coisas: dinheiro, dinheiro e mais dinheiro; cabe ao Governo e aos milionários providenciá-lo.” (“A Noite”, junho de 1945, in “Resenha da Luta contra o Câncer no Brasil”, pág 430).

Abriram-se os cofres e a “cura” não veio...Ora, de todo esse gasto colossal, cabe à Cirurgia a maior parcela. Eis

porque, há tempos, ilustre cirurgião patrício nosso, em entrevista a um dos maiores vespertinos cariocas, ligava – e com toda razão – o desenvolvimento da sua especialidade, nos Estados Unidos, ao elevado potencial dessa nação.

A moderna Cirurgia mundial é padronizada pela americana, somente por ser praticada com muito dinheiro, pela necessidade – cada vez maior – de custosa aparelhagem, o que por outro lado exige constantes renovações, paralelas aos progressos da técnica.

Mas qual o resultado clínico de tamanha evolução?Infelizmente, o que se pode verificar por este mundo afora é o total

desrespeito à judiciosa ponderação de um eminente francês, Professor Leriche:

“O cirurgião não é um Senhor Corta-Corta; ele deve, antes de tudo, levar em conta a Fisiologia e medir as consequências operatórias.”

Todavia – como bem observou o atilado D'Autrec -

“o Mestre esqueceu, no seu arrazoado, a deformação profissional e o mercantilismo cirúrgico que conduzem à ablação de órgãos indispensáveis, sem razões admissíveis e sem que seja observada nenhuma das condições imperiosas que justificam a intervenção.”38 (Ob. cit., pág. 214).

Para dar uma pálida ideia sobre o assunto, vamos relatar um fato que nos foi confiado por ilustre Colega, de cuja honorabilidade não podemos duvidar.

Um agente de publicidade de grande organização jornalística, tendo um filho acometido de sarcoma ósseo na coxa, levou-o a operar por um cirurgião (não-especialista), havendo gasto com o tratamento do jovem – que viria a falecer oito dias depois – a importância de 400000 (quatrocentos mil) cruzeiros, o que o obrigou a se desfazer até da própria residência!

Qual! Muita razão teve certo escritor, quando pôs na boca de um de seus personagens:

38ND: Lembrar do caso de mastectomia dupla de Angelina Julie, atriz norteamericana.

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A VERDADE SOBRE O CÂNCER AO ALCANCE DE TODOS

-”Não existe operação inútil. Se ela não é útil ao operado, o é para o operador...”

Agora imagine o Leitor se fôssemos trazer em conta bombas de Cobalto-60 – de que os serviços oficiais possuem a 52000 (cinquenta e dois mil) dólares cada – e “Campanhas contra...” a 1000000 (um milhão) de cruzeiros por ano, Congressos inúteis e dispendiosos, “Metros de Caridade” e arrecadações outras; enfim: tudo isso que, direta ou indiretamente, é custeado pelo povo... Aliás, a esse respeito, seria interessante fazermos um ligeiro comentário.

Quando, em 1943, o Serviço Nacional do Câncer, adquiriu uma partícula de Rádio nos Estados Unidos, seu dinâmico intermediário considerou “perpétua” aquela compra, a que chamou

“patrimônio introduzido no país, para uso das gerações sofredoras, enquanto a Ciência não descobrir outro meio de tratar o Câncer.” (Resenha da Luta contra o Câncer no Brasil, página 328).

Ora, como se sabe, até hoje, a Ciência Especulativa Oficial ainda não atinou com a maneira de curar a neoplasia maligna; mas a Ciência Especuladora Industrial, realmente, descobriu “outro meio de tratar o Câncer.”

E que “meio”! Nada menos que o Cobalto que – conforme dissemos no capítulo IV – além de ter uma capacidade energética (isto é: periculosidade) sete vezes maior que a do Rádio, ainda apresenta o inconveniente de durar esse(pois o seu processo de desagregação não ultrapassa um lustro, ao passo que o do Radio vai a quase 3500 (três mil e quinhentos) anos). Talvez sua grande virtude terapêutica seja, mesmo, a vendabilidade periódica, pois outra razão não vemos para se preterir um agente terapêutico “perpétuo” e menos perigoso, por outro quinquenal e mais deletério...

…........................................................................................................................No capítulo I deste singelo trabalho fizemos referência à via crúcis

imposta pela Medicina Ortodoxa ao enfermo canceroso: primeiro, o “precoce” facultativo “suspeita” da moléstia; depois, vem os infalíveis e despendiosos exames (raios-X, testes de laboratório etc); em seguida, recebe ele a ordem perentória de operar imediatamente, que cumpre sem hesitar, apavorado; não-raro sobrevém uma decepção (“Não era Câncer!...”, ou mesmo o clássico e desanimador: “Nada mais se pode fazer!...”), pelo que a incisão é rapidamente

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fechada [e] costurada; nessa altura, o hábil cirurgião aconselha paternalmente resignação e remete a “vítima” ao “compadre” Radioterapeuta, que se encarrega de lhe abreviar os dias... “Simplesmente” a carbonizando.

É chegada a hora dos entorpecentes.….....................................................................................................................

Pois muito bem. Como se não bastasse esse entrosamento solerte, outros meios ainda ocorrem à Cancerologia Clássica para mercantilizar a inexorável enfermidade (que oficialmente lhe cabe combater e aniquilar), como no fato que passaremos a resumir.

* * *

Está bem vivo na memória da população brasileira – e assim deve continuar o drama vivido pelo médico paraibano Dr. Laureano.

Atacado de Leucemia, e sabendo-se irremediavelmente condenado à morte (o que foi confirmado pelo Cancerologista) resolveu dedicar os dias que ainda lhe restavam a uma campanha em prol das vítimas do Câncer, visando principalmente a ampliar a assistênca que lhes era dispensada.

Esse gesto nobre e generoso repercutiu em todo o País e o nome do médico, em pouco, tornou-se um símbolo magnífico de grandeza altruística.

Sabendo do desamparo em que viviam os enfermos de Câncer, concentrou seu objetivo na criação de um nosocômio na Capital de seu Estado natal.

Esse exemplo magnânimo frutificou e, pouco depois, era seguido por uma humilde professora de Currais Novos, no Rio Grande do Norte – Bernadete Xavier Gomes.

Vitimada desse terrível morbo e desenganada procurou também dedicar o resto da vida angariando fundo para a criação de um hospital para Câncer, em Recife (Pernambuco). Eis, um pouco mais detalhada, sua história triste.

Uma queda sobre o braço direito resultou em tumoração óssea. Foi operada, mas pouco antes de um ano a oncose reapareceu. Novamente operada, e feito o exame histológico, foi contatado tratar-se de “Blastoma com diferenciação para malignidade” (informação do Diretor do Serviço Nacional do Câncer, ao “Jornal do Brasil”, 5-2-[19]58 (dia 05 de feveriero de 1958). Radiografado seu pulmão, foram verificadas das[?] sombras suspeitas de metástase local.

As primeiras operações e os exames foram procedidos em serviço especializado de Recife, onde lhe foi comunicada a gravidade da moléstia; e ela iniciou sua generosa cruzada em prol da criação de um Hospital para o Câncer,

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naquela cidade. Em face da natureza do morbo, e visto serem ainda escassos os meios técnicos na capital pernambucana, veio ao Rio de Janeiro; não somente em busca de maiores recursos especializados, mas também para apelar para a generosidade dos cariocas, em favor da campanha que encetara. Reexaminada no Serviço Nacional do Câncer, foi verificada a cancerização em ambos os pulmões (informação prestada pelo Chefe de Serviço do Instituto Nacional do Câncer a “A Notícia” de 6-2-58 [dia 06 de fevereiro de 1958]. Foi-lhe proposta uma intervenção cirúrgica, a que recusou submeter-se. (Isso ocorreu, não em 1954 como afirmou o informante... mas em -55 [1955]). Essa recusa da inditosa professorinha se justifica plenamente; porquanto, se tinha os pulmões já cancerizados, nenhum recurso cirúrgico cabia; a não ser para lhe precipitar a morte. Seria verdadeiro assassinato técnico.

Enquanto permaneceu nesta Capital, dedicou-se a intenso trabalho em prol do seu desiderato, - no que obteve ampla cobertura publicitária e amável acolhimento da gente do Distrito Federal.

Voltou a Pernambuco, onde foi buscar, com generosos oferecimentos, um membro credenciado no Hospital Central A. C. Camargo, da Associação Paulista de Combate ao Câncer.

Essa atitude “generosa” do sindicato bandeirante do Câncer teve, na época, enorme divulgação como “magnífico exemplo de solidariedade humana”, pois tudo fazia crer que Bernadete seria beneficiada com as mais recentes conquistas para o tratamento de sua enfermidade.

Na capital paulista encontrou ela um vasto programa adrede organizado para divulgar os seus altruísticos propósitos; porquanto o seu nome vinha já sendo, havia muito, focalizado, numa hábil preparação psico-demagógica, feita com o objetivo de estimular a tradicional generosidade do povo paulista.

Quanto ao tratamento, mesmo, parece que somente lhe foram aplicadas injeções de “mostarda nitrogenada”, recurso terapêutico esse que – como é sabido – poder-lhe-ia ter sido ministrado em qualquer outra organização do gênero.

Encontramo-nos com Bernadete Xavier Gomes na fazenda de um amigo comum, onde tivemos oportunidade de conversar detalhadamente. Estava com ela, como sempre, sua irmão e companheira inseparável. Ouvimos da professorinha a revelação mais estupefaciente que já nos foi dado ouvir, por sua sordidez quase inacreditável; inverossímil, até! Revelou-nos Bernadete (e foi confirmado por sua irmã Severina que assistia a nosso conversa) que das contribuições generosamente doadas pela população paulistana para auxiliar a Construção do Hospital para Câncer, em Pernambuco, isto é: das esmolas

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recebidas para os cancerosos pernambucanos o Dr. Presidente do Hospital Central do Câncer A. C. Camargo, de São Paulo, exigira a comissão ou “barato” de 50% (cinquenta-por-cento!!...)

Simplesmente repugnante!...Mas terminemos a história.Bernadete Xavier Gomes a professorinha heróica de Currais Novos,

faleceu em Paris, em fevereiro de 1958, quatro anos depois de haver sido firmado seu diagnóstico: metástase em ambos os pulmões.

Os médicos que na França a assistiram na fase final (um, brasileiro, nosso colega de turma, Dr. Leopoldo Lima e Silva; outro, renomado cancerólogo francês Dr. Verne) levantaram dúvidas sobre o diagnóstico firmado no Brasil.

Transcrevemos, data venia, as declarações de Lima e Silva, - publicadas no vespertino “O Globo”, desta capital, em 6-2-58 [dia 06 de fevereiro de 1958]:

DÚVIDA

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