a valorização da arquitetura: conjunto rincão em são paulo, uma experiência para ser lembrada

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1 A valorização da arquitetura: conjunto Rincão em São Paulo, uma experiência para ser lembrada. The valuation of the architecture: Rincão set in Sâo Paulo, an experience to be remembered. MARIA CLÁUDIA DE OLIVEIRA [email protected] Arquiteta graduada pela Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, mestre em Tecnologia do Ambiente Construído pelo Programa de Pós - Graduação do Departamento de Arquitetura da Escola de Engenharia de São Carlos - da Universidade de São Paulo, professora de projeto do curso de Arquitetura da Universidade Paulista – UNIP, desde 1997. RESUMO Ao final da década de 90 vence as eleições em São Paulo uma legenda de esquerda cuja administração foi marcada por uma política e um programa de governos voltados fortemente ao atendimento das questões sociais. Neste contexto abre-se a oportunidade para a criação de uma política habitacional inovadora. Após vários anos de uma maciça e monótona produção habitacional promovida pelo BNH (Banco Nacional da Habitação), vê- se ocorrer em São Paulo uma experiência enriquecedora, tanto do ponto de vista das formas e oportunidades de atendimento às famílias com renda muito baixa, quanto à introdução do conceito de valorização do projeto arquitetônico para habitação social. Este artigo busca relatar esta experiência através da análise de um dos projetos de habitação de interesse social realizado naquela gestão (1989-1992): o Conjunto Habitacional do Rincão, dos arquitetos Hector Viglieca e Bruno Padovano. Palavras chave: habitação coletiva de interesse social, projeto de habitação e Rincão. ABSTRACT To the end of the decade of 90 win the elections in São Paulo a left legend whose administration was marked by a program of government directed strong to the attendance of the social matters. In this context it confides chance for the creation of one innovative housing politics. After some years of a bulk and monotonous housing production promoted by the BNH (National Housing Bank), it is seen to occur in São Paulo a richness experience, as much of the point of view of the forms and chances of attendance to the families with income very low, how much to the introduction of the concept of valuation of the architectural project for social housing. This article searchs to tell this experience, through the analysis of a social housing project in that management (1989-1992): the Rincão Housing, by the architects Hector Vigliecca and Bruno Padovano. Key words: collective housing of social interest, housing project and Rincão.

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Ao final da década de 90 vence as eleições em São Paulo uma legenda de esquerda cuja administração foi marcada por uma política e um programa de governos voltados fortemente ao atendimento das questões sociais. Neste contexto abre-se a oportunidade para a criação de uma política habitacional inovadora. Após vários anos de uma maciça e monótona produção habitacional promovida pelo BNH (Banco Nacional da Habitação), vê-se ocorrer em São Paulo uma experiência enriquecedora, tanto do ponto de vista das formas e oportunidades de atendimento às famílias com renda muito baixa, quanto à introdução do conceito de valorização do projeto arquitetônico para habitação social. Este artigo busca relatar esta experiência através da análise de um dos projetos de habitação de interesse social realizado naquela gestão (1989-1992): o Conjunto Habitacional do Rincão, dos arquitetos Hector Viglieca e Bruno Padovano.

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A valorização da arquitetura: conjunto Rincão em São Paulo, uma experiência para ser lembrada.

The valuation of the architecture: Rincão set in Sâo Paulo, an experience to be

remembered.

MARIA CLÁUDIA DE OLIVEIRA [email protected]

Arquiteta graduada pela Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, mestre em Tecnologia do Ambiente Construído pelo Programa de Pós - Graduação do Departamento de Arquitetura da Escola de Engenharia de São Carlos - da Universidade de São Paulo, professora de projeto do curso de Arquitetura da Universidade Paulista – UNIP, desde 1997. RESUMO Ao final da década de 90 vence as eleições em São Paulo uma legenda de esquerda cuja

administração foi marcada por uma política e um programa de governos voltados

fortemente ao atendimento das questões sociais. Neste contexto abre-se a oportunidade

para a criação de uma política habitacional inovadora. Após vários anos de uma maciça e

monótona produção habitacional promovida pelo BNH (Banco Nacional da Habitação), vê-

se ocorrer em São Paulo uma experiência enriquecedora, tanto do ponto de vista das

formas e oportunidades de atendimento às famílias com renda muito baixa, quanto à

introdução do conceito de valorização do projeto arquitetônico para habitação social. Este

artigo busca relatar esta experiência através da análise de um dos projetos de habitação

de interesse social realizado naquela gestão (1989-1992): o Conjunto Habitacional do

Rincão, dos arquitetos Hector Viglieca e Bruno Padovano.

Palavras chave: habitação coletiva de interesse social, projeto de habitação e Rincão.

ABSTRACT To the end of the decade of 90 win the elections in São Paulo a left legend whose

administration was marked by a program of government directed strong to the attendance

of the social matters. In this context it confides chance for the creation of one innovative

housing politics. After some years of a bulk and monotonous housing production promoted

by the BNH (National Housing Bank), it is seen to occur in São Paulo a richness

experience, as much of the point of view of the forms and chances of attendance to the

families with income very low, how much to the introduction of the concept of valuation of

the architectural project for social housing. This article searchs to tell this experience,

through the analysis of a social housing project in that management (1989-1992): the

Rincão Housing, by the architects Hector Vigliecca and Bruno Padovano.

Key words: collective housing of social interest, housing project and Rincão.

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A valorização da arquitetura: conjunto Rincão em São Paulo, uma experiência para ser lembrada.

Ao final da década de 90 vencem as eleições em São Paulo uma legenda de esquerda

cuja administração foi marcada por uma política e um programa de governo voltados

fortemente ao atendimento das questões sociais. Neste contexto abre-se a oportunidade

para a criação de uma política habitacional inovadora. Após vários anos de uma maciça e

monótona produção habitacional promovida pelo BNH (Banco Nacional da Habitação), vê-

se ocorrer em São Paulo uma experiência enriquecedora, tanto do ponto de vista das

formas e oportunidades de atendimento às famílias com renda muito baixa, quanto à

introdução do conceito de valorização do projeto arquitetônico para habitação social.

Idealizada e concretizada dentro da PMSP na gestão de Luiza Erundina (1898-1992) a

nova política habitacional do município teve como diretriz básica fortalecer a participação

da comunidade organizada em torno da questão habitacional.

A questão habitacional merecia uma atenção especial, dadas as condicionantes

características desta metrópole e sua evolução urbana resultantes das políticas que aqui

se operaram desde a sua formação e particularmente à profunda recessão econômica

vivida na década de 80.

Conforme dados do IBGE (censo demográfico, base 1996) São Paulo chega na década

de 90 a ter mais de 1.000.000 favelados (pessoas moradoras em aglomerados

subnormais) 1 e vários núcleos encortiçados espalhados por todo o território

metropolitano incidindo maiormente nas regiões centrais e somando 3.000.000 de

pessoas vivendo em condições de extrema precariedade.

O crescimento urbano voltado prioritariamente à acumulação da iniciativa privada, a

desvalorização do projeto de habitação social e a pauperização geral de grande parcela

da população paulistana foram determinantes para a penúria característica no plano

habitacional quando a referida administração assumiu a Prefeitura de São Paulo.

Palavras, argumentos, idéias e propostas são insuficientes para mudar posturas e

políticas firmemente estabelecidas no país. Por isso, desde o primeiro dia em que

assumimos a Superintendência de Habitação Popular (HABI) e o Fundo de

Atendimento à População Moradora em Habitação Subnormal (Funaps), estava clara a

necessidade de gerar resultados concretos – programas, projetos, obras, trabalho

social e mobilização popular – capazes de evidenciar a importância de desenvolver

1 Para o IBGE, aglomerados subnormais são grupos de 50 unidades habitacionais dispostas de modo desordenado e denso, sobre solo que pertence a terceiros, e carente de serviços públicos essenciais.

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novos conceitos em habitação popular, atenuando, dentro de nossas possibilidades, os

graves problemas de moradia da maior cidade da América do Sul e contribuindo para a

luta por uma nova política nacional de habitação. (BONDUKI, 2000: 107)

Neste depoimento concedido à revista Projeto 2 destacam-se também alguns dos

pressupostos da ação de HABI como o direito à terra, à arquitetura, à cidadania, à

participação popular nas formulações e implantações de programas e projetos, à

diversidade de intervenções, o reconhecimento da cidade real, à redução de custos sem

perda de qualidade, o estímulo à autogestão e o respeito pelo meio ambiente.

Vivia-se naquele momento um contexto de grandes reivindicações por habitação pelos

movimentos de moradia que já apresentavam um bom nível de organização política. Era

urgente iniciar a retomada da produção habitacional, porém de forma a evitar os

equívocos recorrentes do passado como a ausência do projeto, a criação de grandes

conjuntos habitacionais ou as formas de financiamento inacessíveis para a grande maioria

da população carente.

Desde a criação do BNH em 1964, o projeto arquitetônico e urbanístico passa a ser

uma etapa absolutamente desimportante da produção dos conjuntos habitacionais.

Habitação popular, como passou a ser chamada a moradia dos trabalhadores, tornou-

se sinônimo do que havia de mais deplorável em termos de arquitetura e urbanismo:

padronização dos projetos, conjuntos de grandes dimensões na franja periférica,

execução precária; ausência de participação do usuário; financiamento inacessível às

faixas de menor renda; casa própria como única alternativa para o acesso à moradia.

(BONDUKI, SCAGLIUSI, 1991: 59)

Com a extinção do BNH (1986) e de forma a alterar esta dinâmica perversa que muito

produziu e pouco beneficiou o usuário que realmente necessitava de subsídio 3 , procurou-

se trabalhar com financiamentos a fundo perdido para população com renda de até cinco

salários mínimos, incorporou-se a autoconstrução assistida e o mutirão como alternativas

à produção e redução de custos, incentivou-se a participação popular através do estímulo

à autogestão 4 e a cogestão, propuseram-se parcerias entre o poder público e as ONG´s

2 Trecho de artigo extraído de Habitar São Paulo – Reflexões Sobre a Gestão, mas publicado originalmente na Revista Projeto edição n. 147, Novembro de 1991. 3 Nesse modelo, é paradigmática a ação do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), por intermédio do Banco Nacional da Habitação (BNH), filhote urbano do regime militar, que possibilitou, do ponto de vista quantitativo, a mais importante intervenção governamental sobre as cidades em toda a história do país, tendo financiado a produção de 4.5 milhões de moradias. (BONDUKI, 2000: 20,21) 4 Autogestão: processo de gestão do empreendimento habitacional onde os futuros moradores organizados em associações ou cooperativas, administram a construção das UH em todos os seus

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(assessorias técnicas) e houve uma retomada da valorização do projeto habitacional com

a abertura de concursos públicos de habitação popular ampliando-se o mercado de

trabalho para os arquitetos.

Em 1989 a SEHAB 5 e a COHAB 6 promoveram através do IAB 7 e do SASP 8 o Concurso Público de Anteprojetos para Habitação Popular com a finalidade de incentivar a

reflexão sobre o projeto de habitação de interesse social. O concurso estimulou o estudo

de novas tipologias habitacionais, permitindo o uso de unidades diferenciadas num

mesmo edifício, a distribuição de equipamentos coletivos e a disposição de áreas

comerciais e de lazer. Também propôs o debate da questão das escalas e densidades

onde alguns estudos feitos na ocasião por técnicos de HABI demonstraram que, com

cerca de 300 unidades habitacionais já era possível organizar-se uma escala de produção

bem econômica, isso sem mencionar os ganhos em relação às novas e variadas formas

de sociabilização possíveis.

Escolheram-se duas áreas de estudo com características bastante distintas: a primeira

uma sobra urbana em área consolidada resultante da abertura e desapropriação de um

conjunto de quadras para construção da estação Brás do metrô (FIG. 1) e a outra uma

grande gleba no extremo da zona Leste, o Jardim São Francisco, setor 8. Dos quase 300

trabalhos inscritos inicialmente (sendo 176 para a área do Brás e 113 para a área do Jd.

São Francisco) apenas 80 participaram do processo de julgamento. Desta experiência

saíram alguns dos arquitetos que viriam a projetar vários dos conjuntos habitacionais

construídos naquele período. Curiosamente o projeto vencedor para a área do Brás

(equipe de Sylvio Podestá, de Belo Horizonte) nunca saiu do papel e algum tempo depois

o terreno foi ocupado parcialmente por edifícios institucionais.

aspectos, a partir de regras e diretrizes estabelecidas pelo poder público, quando este participa financiando o empreendimento. 5 Secretaria da Habitação e Desenvolvimento Urbano da Prefeitura do Município de São Paulo. 6 Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo. 7 Instituto de Arquitetos do Brasil. 8 Sindicato dos Arquitetos do Estado de São Paulo.

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Os arquitetos Hector Vigliecca e Bruno Padovano, sócios na época (Padovano Vigliecca

Arquitetos S/C Ltda), participaram do concurso e obtiveram uma menção honrosa por seu

projeto para a área do Brás (figs. 2 e 3). A proposta valorizava a rua como espaço vivencial e a tipologia da vila como partido.

Com a conjugação de três tipologias convencionais – casas geminadas contínuas,

casas nos fundos dos lotes e edifícios residenciais em bloco horizontal – pensou-se o

escalonamento das massas construídas, buscando, desse modo, uma escala humana

para o conjunto, identidade visual de cada unidade e a valorização da rua como espaço

vivencial. Quintais e espaços abertos privativos completam as unidades habitacionais.

(Revista Projeto no. 147)

A questão do uso misto como forma de promover um maior dinamismo e assegurar fluxos

e atividades distintas nas diversas horas do dia, assim como a variabilidade tipológica

também foram questionadas pelo projeto. Este apresenta espaços de uso comercial nas

esquinas voltadas para a rua de maior fluxo, além de prever unidades que variavam de 28

a 95 m2 aproximadamente. 9 A equipe demonstrou muita sensibilidade na criação de

espaços públicos qualificados pela escala e pelo uso.

Hector Vigliecca é uruguaio, mora no Brasil há mais de 30 anos, estudou na Universidade

da República em Montevideo e pós graduou-se em Roma. Recebeu forte influência da

arquitetura Brasileira através da obra de Afonso Reidy, Oscar Niemeyer e Lucio Costa 10

ainda quando estudante e vivenciou a experiência das cooperativas de habitação

uruguaias. Na época era sócio do arquiteto Bruno Padovano que nasceu em Milão, fez

seus estudou na FAU - USP, pós graduou-se em Desenho Urbano por Harvard e 9 Outros arquitetos propuseram cômodos de dimensões exíguas (18m2) utilizados como quartos de pensão, com apenas um espaço para instalação de cama, armário, lavatório e geladeira com banheiro coletivo no corredor. 10 Depoimento pessoal do arquiteto à autora no ano de 1997.

FIG. 1: Área do concurso do Brás. Proximidade com a estação de metrô e oferta de infra-estrutura. Dos 300 inscritos no concurso apenas 80 foram julgados. O projeto vencedor não foi construído e até hoje o terreno esta à espera de um uso que o qualifique.

Fonte: Googlemaps, 2007

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defendeu tese de Doutorado na FAU - USP em 1987. Ambos foram sócios de 1983 a

1993, período em que participaram de vários concursos inclusive do Concurso Nacional

de Idéias para Expansão do Núcleo Urbano de Campinas, onde foram finalistas.

FIG. 2 Corte AA, indicado em planta. Fonte: Revista Projeto n. 147.

FIG. 3 Planta pavimento térreo, s/ escala. Fonte: Revista Projeto n. 147.

Rua interna de caráter local. Lazer e convívio da comunidade.

Uso comercial. Nas esquinas de maior fluxo.

Combinação de tipologias e volumes variados. Construção da escala local.

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A menção honrosa no concurso do Brás aliada a estas experiências os qualificou para

receber a carta-convite para o desenvolvimento do Conjunto Habitacional do Rincão e da

Vila Mara / Rio das Pedras. Trataremos de analisar aqui a experiência do Rincão.

Política Municipal de habitação As diretrizes da Política Municipal de Habitação para a elaboração de projetos previam o

aproveitamento de terrenos públicos dominiais remanescentes de desapropriações, obras

públicas, loteamentos e da retificação do rio Tietê. Também se estabeleceu como critério

projetos de pequenas dimensões, mas com densidades elevadas (os terrenos variavam

de 2600 a 20.000 m2 para densidades entre 800 hab/ha a 1500 hab/ha). A diversidade de

soluções arquitetônicas e urbanísticas também era esperada, assim como a inovação

tipológica e a valorização e qualificação dos espaços de uso coletivo.

Foram realizadas mais de 200 intervenções habitacionais naquela gestão nas diversas

modalidades de atendimento. (fig. 4)

FIG. 4: Alguns dos conjuntos habitacionais realizados pela PMSP / 1989-1992.

Dentre as várias modalidades de intervenção da nova política como a regularização

fundiária e urbanização de favelas, o financiamento para construção através de mutirão

autogerido por associações comunitárias, o programa de lotes urbanizados, a intervenção

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em cortiços e a implantação de Infra-estrutura em gleba, o conjunto do Rincão faz parte

da produção de conjuntos habitacionais por empreitada com implantação de infra-

estrutura. Sua administração foi diretamente controlada por HABI e sua demanda

populacional era oriunda de favelas, cortiços e movimentos de moradia daquela região

(Vila Matilde) e também de outras regiões próximas. Esta comunidade não se conhecia e

o perfil dos moradores era bastante heterogêneo.

O projeto do Rincão foi elaborado durante o ano de 1990 pelos arquitetos Hector Vigliecca

e Bruno Padovano. Mas antes fora iniciado como estudo preliminar pela equipe do

arquiteto Francisco Scagliusi, 11 técnico de HABI.

O projeto do conjunto Rincão começou a ser esboçado dentro de HABI pela própria

equipe de projeto. Assessorados pelo arquiteto Francisco Scagliusi que, influenciado

por projeto de Álvaro Siza para O Porto, desenvolveu estudo preliminar para

implantação dos blocos do Rincão. (OLIVEIRA, 1999:116)

No conjunto do Porto projetado em 1973 pelo arquiteto Alvaro Siza (fig.5) não apenas a

situação de implantação era análoga ao Rincão, mas também o contexto de

movimentação política, pauperização e intensa participação popular. A experiência

portuguesa fora fruto de uma ação emergencial do SAAL – Serviço Ambulatorial de Apoio Local 12 estabelecido para recuperar as péssimas condições de habitação da

população carente imediatamente após a Revolução de 25 de Abril de 1974.

11 Francisco Scagliusi é arquiteto e foi diretor da Divisão de Projetos e Obras da Superintendência de Habitação Popular, da Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano (Habi/Sehab) no período de 1989-1992. (Revista AU n. 33:60) 12 Álvaro Siza trabalhou para o SAAL entre 1973 e 1977, quando este perdeu seu poder e atuação. (SiIZA, 1986: 72-86)

FIG. 5: Volumetria do conjunto de Bouças, 1973. Fonte: Siza, 1986: 72-86

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A proximidade com uma via férrea elevada junto ao terreno pressupunha a necessidade

de uma oposição a esta, muito próxima e ruidosa para implantação do casario adjacente.

Siza propõe a elaboração de um muro duplo como anteparo sonoro e como marcação de

uma via e rente a ela encosta as lâminas de habitação criando ruas e núcleos de

vizinhança individualizados. Nas lâminas, que comportam unidades habitacionais pouco

diferenciadas alterna as formas de circulação criando ora unidades abertas diretamente

para os pátios, ora acessadas por escadas e ora por corredores suspensos, que

qualificam e protegem as ruas internas gerando percursos diferenciados.

Implantação O projeto brasileiro situa-se num terreno de 12.878,43 m2 junto à Estação Vila Matilde do

Metrô na Zona Leste onde também se localiza uma estação da CBTU – Companhia

Brasileira de Trens Urbanos e o viaduto Vila Matilde.

FIG. 6 Situação do conjunto e proximidade com vias de transporte. Fonte: Googlemaps, 2007.

Foram projetadas 306 habitações com alguma variação tipológica, mas com área média

de 45m2. A intervenção ainda comporta 26 vagas de automóveis (fora do terreno) e

815.92 m2 de área comercial. Com características semelhantes, a implantação do Rincão

EEssttaaççããoo ddee MMeettrrôô VViillaa MMaattiillddee || 11998888

CCBBTTUU VViillaa MMaattiillddee

EEssttaaççããoo ddee MMeettrrôô PPeennhhaa || 11998888

PPiisscciinnããoo ddoo RRiinnccããoo

VVeettoorr ZZoonnaa LLeessttee

RRiinnccããoo

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segue um partido que remete de forma evidente à solução portuguesa, ainda que numa

escala volumétrica bem diferenciada (figs. 5 e 7).

Localizado estratégicamente em relação à oferta de transporte público e relativamente

próximo ao Centro (menos de 10 km até a Praça da Sé), o terreno já era de propriedade

do município, o que contribuiu para alavancar o processo de realização do

empreendimento.

A área, sobra urbana resultante da canalização do córrego do Rincão, era grande o

suficiente para abrigar um conjunto denso 13, mas ironicamente muito próxima a avenidas

expressas e grandes infra-estruturas de transporte público, além de ter um formato bem

irregular (FIG. 8). Oportunidade para os arquitetos, que procuraram relacionar-se de forma

plena a todas as características e situações peculiares encontradas na área de maneira a

não dissociar o objeto de seu entorno.

Para Vigliecca o projeto de habitação popular deve ser pensado levando-se em conta

além do sistema construtivo, da ótica social e da infra-estrutura local também o desenho

urbano entendido como a estrutura que garantirá as relações desses espaços de

habitação com o restante da cidade. Rejeita terminantemente soluções que sejam a

multiplicação de volumes num espaço aberto ou mesmo cercados, acreditando que

assim não será possível estabelecer áreas coletivas ou mesmo relacionar-se com a

cidade de maneira eficaz. (OLIVEIRA, 1999)

13 O conjunto Rincão tem densidade de 1052 habitantes por hectare.

FIG. 7 Vista aérea Conjunto Rincão, 1992. Fonte: ANDRADE, 1993:18

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FIG. 8: Situação do terreno e implantação x infra-estruturas viárias. Fonte: Googlemaps, 2007.

A forma e as características do terreno frente à malha urbana (fig. 8) condicionaram-no a

uma ocupação mais introspectiva, mas que não se absteve de estabelecer relações com a

cidade. A implantação do conjunto é cuidadosa com o espaço urbano que o cerca: a

canalização do córrego divide o terreno em duas parcelas, destinando a uma delas (ao

norte) uma área muito irregular e de poucas dimensões, mas destaca-o como elemento

articulador da paisagem, além de dar-lhe um sentido de referência (a rua do córrego).

As 306 unidades dividem-se em edifícios laminares praticamente idênticos (exceto pelo

comprimento, pois cada um tem uma dimensão longitudinal). A partir da Rua Alvinópolis

(ao sul, junto à avenida expressa) constrói-se um grande pórtico-cabeceira de onde

partem os edifícios laminares numa orientação praticamente leste-oeste. Ao todo são oito

lâminas de três pavimentos mais o térreo, que unidas pelos fundos (vide mancha verde na

fig. 9) duas a duas geram três pátios-corredor com acessos independentes pela rua

externa (vide mancha amarela na fig. 9). Os pátios são como vilas que abrigam um

número limitado de unidades valorizando as relações de vizinhança, cada pátio abriga um

conjunto de 90, 88 e 64 unidades habitacionais respectivamente 14. Sobre estes espaços é

14 As demais unidades se situam nos blocos externos (vide mancha vermelha na fig. 9), que são mistos e possuem salas comerciais no térreo junto às ruas de maior movimento e na parcela de terreno irregular do outro lado do córrego (edifícios de apenas dois pavimentos).

Avenida

Linha férrea e metrô.

Córrego

Viaduto Vila Matilde

Avenida

Viaduto Vila Matilde

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importante destacar a necessidade de caracterizá-los, dar a eles um significado para que

não se tornem meras sobras do espaço não edificado. Panerai discute este importante

aspecto na projetação da habitação, para ele o reconhecimento arquitetônico dos tecidos

urbanos e os valores de urbanidade que estes revelam quando a relação entre

parcelamento do solo e edificação configura espaços comuns bem definidos se opõe de

maneira positiva ao urbanismo funcionalista da cidade esquemática. (PANERAI, 1980).

Vigliecca também acredita ser fundamental para o projeto de habitação coletiva (seja ela

popular ou não) que primeiramente se qualifiquem as áreas comuns de uso público (fig. 9)

Outro aspecto importante defendido pelo arquiteto é o de que ao projetar não se pode

deixar a configuração do espaço coletivo para a parte mais frágil (no caso refere-se à

população atendida pelos programas de habitação social), pois este poderá ser

definido de maneira imprópria e poderá criar-se margem favorável à depreciação do

espaço. (OLIVEIRA, 1999:115)

FIG. 9 Croqui do arquiteto destacando as vilas-patios lugar de convívio, lazer e circulação do

conjunto. Fonte: Revista AU n. 33

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A estratégia de unir as lâminas pelos fundos possibilitou às unidades do pavimento térreo

uma opção de crescimento, tão necessária quando se trata de unidades habitacionais tão

exíguas 15 e de famílias muitas vezes numerosas. Outra vantagem seria a manutenção

dos espaços internos da vila que não sofrem modificações com o crescimento das

moradias. As unidades têm área média de 45m2. As unidades do térreo e da cobertura

diferenciam-se, assim como as unidades localizadas sobre as áreas comerciais junto às

ruas Evans (leste) e Viaduto Vila Matilde (oeste).

Na Rua Alvinópolis propunha-se três entradas destinadas aos três pátios-vila para que

estes tivessem a oportunidade do acesso independente e exclusivo. Verificou-se que,

entre outras opções, esta não se concretizou. Atualmente existe apenas um único acesso

ao conjunto localizado junto ao Viaduto. Uma entrada resguardada da rua por uma guarita

e uma cerca controla o acesso de todos os moradores e visitantes. Os pórticos continuam

demarcando a rua e anunciando a presença do edifício, mas atualmente só servem de

anteparo acústico e de mirante. É comum ver os moradores caminhando sobre eles a

contemplar a paisagem ou mesmo os trens que a toda hora passam por ali.

FIG. 10: Implantação s/ escala. Fonte: (ANDRADE, 1993:18).

15 Área média da UH 45m2, unidade térrea com quintal de 28m2 e possibilidade de 70% de ocupação (edícula de 20m2).

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FIG. 11 Rua Alvinópolis, acessos independentes aos núcleos de vizinhança. Fonte: Revista AU n. 33

Junto às ruas Evans e ao Viaduto estabeleceram-se as lâminas comerciais (mais baixas)

com habitações de um dormitório no 1º pavimento. Estas são as faces do conjunto que se

relacionam diretamente com a rua.

Circulação A circulação dos edifícios (fig. 13) é um item que merece destaque, pois ao mesmo tempo

em que é resolvida de forma simples e quase única para todo o conjunto, gera grande

dinamismo de fluxos no seu uso cotidiano. Com três pavimentos mais o térreo o conjunto

prescinde do uso de elevadores sendo todo acessado por ruas internas, escadas coletivas

e privadas (compartilhadas por duas famílias) e corredores abertos suspensos. A partir do

interior das vilas é possível acessar as unidades térreas e através de escadas,

compartilhadas por duas famílias, acessar as UH do 1º pavimento (unidade superior “A” –

2 dormitórios). Nas pontas das lâminas junto ao córrego e na cabeceira-pórtico (fig. 11)

situam-se os conjuntos de escadas coletivas que levam ao 2º pavimento onde se acessa

um longo corredor (tão longo quanto cada lâmina), para este corredor abrem-se unidades

habitacionais (unidade superior “B” – 2 dormitórios) e conjuntos de escadas

(compartilhadas por duas famílias) que acessam mais duas unidades no 3º pavimento

(unidade cobertura – 1 dormitório). Nas lâminas comerciais há escadas, que a partir da

rua, acessam duas unidades no 1º pavimento (unidade diferenciada – 1 dormitório). Nas

lâminas mais baixas existe apenas a escada para o 1º pavimento (unidade superior “A” –

2 dormitórios) e as unidades térreas que se abrem para a rua em frente ao córrego. Em

relação às áreas de uso comum percebe-se uma preocupação em minimizar aquelas que

poderiam vir a onerar a manutenção do conjunto (despesas de condomínio). É fácil

identificar como cada conjunto de escadas ou corredores é compartilhado: os corredores

VViillaa AA VViillaa BB VViillaa CCCCOOMMEERRCCIIOO

CCOOMMEERRCCIIOO

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servem sempre a um grupo de 8 a 14 famílias (que é a variação do número de UH nos

corredores do 2º pavimento) e as escadas servem sempre a duas famílias podendo, deste

modo, ser mais bem cuidadas por esta coletividade (assegurando a manutenção e a

segurança). Os pátios vila, a única área que poderia ser considerada de manutenção mais

complexa (e eventualmente mais onerosa) apresenta-se tão bem qualificada que a

maioria dos moradores sente-se possuidor deste espaço (fig.12). Desde a inauguração

(quando ainda não havia nenhuma árvore plantada) até o ano de 2001 já haviam sido

plantadas várias arvores e sido criados alguns jardins. As vilas são espaços agradáveis

para estar ou circular e muito utilizadas pela comunidade.

FIG. 12 Praça de convívio na cabeceira da vila junto à rua do córrego. Fonte: arquivo pessoal, 2001.

FIG. 14 Inauguração do Conjunto Rincão, 1992. Fonte: ANDRADE, 1993.

FIG. 13 Elevação do bloco interno destacando a circulação vertical do conjunto. Fonte: Revista AU n. 33

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FIG. 15 Corte esquemático do edifício laminar. S/ escala. Fonte: Revista AU n. 33

Unidades: As unidades habitacionais (fig. 16) são muito semelhantes e diferem apenas pelo tipo de

circulação que lhes dá acesso, pela pouca variação de área e em função de terem um ou

dois dormitórios. A unidade maior chega a 73m2 e a menor a 35m2. Todas são

moduladas por um vão máximo de 5.50m aproximadamente, o que confere a possibilidade

de dividi-las ao meio para a utilização de dois dormitórios iguais (UH do 1º e 2º

pavimentos) ou de dividi-las de forma irregular assegurando uma área social mais ampla e

uma área intima menor (UH do térreo). As unidades mostram-se muito bem resolvidas em

relação à construtibilidade e economia: foram construídas em alvenaria estrutural, não

necessitam de elevador, há um único fosso central de ventilação para cada conjunto de

banheiros (que são todos internos) e cada apartamento possui apenas duas janelas (a

unidade térrea possui três), sendo que em alguns casos a sala é iluminada pela porta da

entrada (de ferro e vidro). As áreas de serviço são ventiladas por elementos vazados o

que muito contribui para a efetivação da ventilação cruzada. Todos os dormitórios são

voltados para os fundos (na UH térrea há um dormitório voltado para a lateral da entrada)

minimizando os eventuais incômodos que pudessem surgir pelo uso intensivo das vilas-

patios.

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A localização das cozinhas e banheiros nas UH, excetuando-se às do térreo, obedecem

sempre ao critério da prumada hidráulica ocupando sempre a mesma posição. Um

aspecto negativo evidente é a restrita possibilidade de ocupação da sala com mobiliário,

servida por tantas aberturas (porta de acesso, porta do banheiro, portas dos dormitórios e

em algumas unidades a porta para o quintal) que, mais do que um espaço de estar e

convívio da família ela se torna um espaço de distribuição dos cômodos da unidade.

FIG. 16: Planta das unidades habitacionais. S/ escala. Fonte: Revista AU n. 33.

TT 22

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11

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Ocupação Após quase 10 anos de ocupação, num dia qualquer durante a semana foi possível

conhecer melhor a rotina desses felizes moradores do conjunto Rincão: há escolas

primárias e secundárias nas proximidades, o metrô e o trem os colocam em situação

muito favorável para o acesso aos demais bairros e ao centro da cidade. Há postos de

saúde e um pequeno hospital na redondeza. O comercio local é farto e dentro de uma

gestão administrativa ainda precária todos se cotizam para as despesas gerais de

manutenção. Há alguns anos haviam pintado os edifícios, alguns moradores tinham

planos de promover mudanças nos playgrounds, há aqueles que plantam árvores e

cuidam dos jardins. Há também quem prefira isolar-se e proteger-se do convívio local.

Alguns moradores instalaram grades, fecharam espaços, construíram mais do que o

permitido. Mas a percepção que se teve foi a de que vivem em harmonia num espaço do

qual gostam e onde se reconhecem como grupo. O edifício se misturou à paisagem e os

moradores se integraram à região.

FIG. 17 vilas-pátio: local de estar e circulação. Fonte: arquivo pessoal, 2001.

Ao comparar superficialmente esta experiência com alguns conjuntos habitacionais que

ainda hoje se vê serem erguidos nas periferias (e às vezes até em centros metropolitanos)

propõe-se a pergunta: porque não continuamos melhorando o processo de projeto da

habitação popular? Porque não evoluímos e amadurecemos com a experiência realizada?

Órgãos como a CDHU - Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado

de São Paulo - empresa do Governo Estadual, vinculada à Secretaria da Habitação 16

16 O maior agente promotor de moradia popular no Brasil. Tem por finalidade executar programas

habitacionais em todo o território do Estado, voltados para o atendimento exclusivo da população

de baixa renda - atende famílias com renda na faixa de 1 a 10 salários mínimos.

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reorientaram-se nos últimos anos através do programa municipal de habitação que gerou

esta experiência. E optaram seguir trabalhando com programas de desfavelamento, lotes

urbanizados, financiamentos mais abrangentes, construção por mutirão, autogestão e

intervenções em cortiços, mas parece patente que ainda restou um conceito a ser

incorporado: aquele que diz respeito à valorização da arquitetura e do projeto da cidade.

Com a mera finalidade de ilustrar tal comparação e escolhendo alguns exemplares

realizados por programa de habitação semelhante ao analisado (construção de UH por

empreiteira com infra-estrutura) destacam-se alguns conjuntos construídos nos últimos

três anos pela CDHU: Campo Limpo, Campinas (San Martin), Itaim Paulista e Cajamar

(fig. 18).

FIG. 18 Conjunto CDHU em Cajamar: monotonia, falta de urbanidade e pouca conexão com a

cidade. A moradia ainda resolvida como problema numérico. Fonte: www.cdhu.sp.gov

Em todos, é impossível não lamentar-se pela pouca valorização de nossa matéria.

Parecem a materialização do resultado de planilhas, cálculos e índices numéricos mas

mostram-se distantes de caracterizarem-se como espaços de sociabilização, de trocas, de

vivências e convivências. Parece óbvio, mas não basta que a tentativa de atenuar o

problema habitacional seja apenas numérico ou econômico, é preciso que seja

compreendido além disso. Por menor que possa ser o papel da arquitetura na alteração

de nossas sociedades, ela sempre trará em sua essência tal pressuposto e portanto

devemos continuar atribuindo-lhe esta capacidade por mínima que seja. Ao construirmos

moradias populares corretamente implantadas ao sitio, próximas às redes de infra-

estrutura básicas, com espaços de convivência privada e coletiva qualificados, levando em

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conta o projeto das áreas públicas de uso coletivo, enfim quando melhor compreendermos

o verdadeiro papel que a arquitetura pode desempenhar neste setor, esta poderá enfim

dinamizar as redes de sociabilização, evitar ampliar ainda mais as formas de exclusão, e

quem sabe contribuir para o crescimento e a evolução do que signifique a palavra

cidadania.

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BIBLIOGRAFIA Publicações ANDRADE, Carlos Roberto; BONDUKI, Nabil; ROSSETO, Rossella. Arquitetura e

Habitação Social em São Paulo 1989 - 1992. Catálogo da mostra de mesmo nome para a

II Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, Publicação EESC - USP, 1993.

BONDUKI, Nabil. Habitar São Paulo – Reflexões sobre a gestão urbana. São Paulo:

Estação Liberdade, 2000.

OLIVEIRA, M. Cláudia. A valorização da Arquitetura: Projetos de Habitação – a

experiência da PMSP (1989-1992). São Paulo: Dissertação de mestrado apresentada ao

Departamento de Arquitetura da EESC – USP, 1999.

PANERAI, Philippe, CASTEX, Jean, DEPAULE, Jean-Charles. Formas Urbanas: de la

manzana al bloque. Barcelona: Ed. GG, 1980.

SIZA, Álvaro. Poetic Profession. New York: Rizzoli, 1986.

Periódicos AU, São Paulo, Editora Pini, edição n. 33, Dez/Jan 1991.

AU, São Paulo, Editora Pini, edição n. 42, Jun/Jul 1992.

Projeto, São Paulo, Projeto Editores Associados Ltda., edição n. 134, Outubro de 1990.

Projeto, São Paulo, Projeto Editores Associados Ltda., edição n. 137, Janeiro de 1991.

Projeto, São Paulo, Projeto Editores Associados Ltda., edição n. 147, Novembro de 1991.

Sites consultados www.vigliecca.com.br visitado em Junho de 2007.

www.maps.google.com visitado em Junho de 2007

www.housingprototypes.org visitado em Junho de 2007.