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Universidade Federal do Rio de Janeiro A UNIDADE INFORMACIONAL DE PARENTÉTICO NA FALA ESPONTÂNEA DO ESPANHOL Bruno Alberto de Oliveira Mota 2010

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Universidade Federal do Rio de Janeiro

A UNIDADE INFORMACIONAL DE PARENTÉTICO NA FALA ESPONTÂNEA DO ESPANHOL

Bruno Alberto de Oliveira Mota

2010

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A UNIDADE INFORMACIONAL DE PARENTÉTICO NA FALA ESPONTÂNEA NO ESPANHOL

Por

Bruno Alberto de Oliveira Mota

Dissertação de Mestrado Apresentada ao Progra-ma de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro como quesito para obtenção do Título de Mestre em Le-tras Neolatinas (Estudos Lingüísticos Neolatinos, opção: Língua Espanhola)

Orientador: Prof. Dr. João Antônio de MoraesCo-orientador: Prof. Dr. Tommaso Raso

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2010

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A UNIDADE INFORMACIONAL DE PARENTÉTICO NA FALA ESPONTÂNEA NO ESPANHOL

Bruno Alberto de Oliveira Mota

Orientador: João Antônio de MoraesCo-orientador: Tommaso Raso

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Lingüísticos Neolatinos, opção: Língua Espanhola).

Examinada por:

___________________________________________________Presidente, Prof. Dr. João Antônio de Moraes

___________________________________________________Prof. Dr. Tommaso Raso – UFMG, Suplente

___________________________________________________Profa. Dra. Leticia Rebollo Couto

___________________________________________________Profa. Dra. Myrian Azevedo de Freitas

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2010

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Mota, Bruno AlbertoA unidade informacional de parentético na fala espontânea no espanhol/Bruno

Alberto de Oliveira Mota. Rio de Janeiro: UFRJ/FL, 2010.xi, 77f.:il.; 31cm.Orientador: João Antônio de MoraesCo-orientador: Tommaso RasoDissertação (mestrado) – UFRJ/FL/Programa de Pós-graduação em Letras Ne-

olatinas (Língua Espanhola), 2009.Referências bibliográficas: f. 90-921. Prosódia. 2. Parentético etc. I. Moraes, João Antônio de. II. Universidade

Federal do Rio de Janeiro, Programa de Pós-graduação em Letras Neolatinas. III. Título

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Agradecimentos

Deus.

Pai, mãe, Marco, Kelly e João (devo TUDO a vocês).

Professora Marília Mattos (lo sai che sei tu la colpevole).

Professor Tommaso Raso.

Professora Heliana Mello.

Professor João Moraes.

Vital Lima.

Heloísa Vale (sem você meu mundo seria menos sorridente).

Equipe C-ORAL-BRASIL.

Professora Emanuela Cresti, Professor Massimo Moneglia e Professora Ida Tucci.

Bruna Maia, Maryualê Mittmann, André da Silva, Mariana Ruas, Ana Paula Menezes, Cíntia

França.

Júnia Mara, Yuri Amorim, Mariza Moura, Daniel Mazzaro.

Cléber Cabral, Estevão Batista, Isabel Andrade, Janayna Carvalho, Júlia Morena, Julieta Sueldo

Boedo, Paulo Schamber, Thaís Maia, Flávio Belloni, Jorge Luis Rocha, Manuela Colamarco,

Leandro Cristóvão, Waniston Celeri, Carmen Freire, Paulo Silveira.

Cíntia Ferreira, Aline Santos, Samara Santana.

Priscila Santos.

Evelyn Kosta, equipe Adelante Brasil.

Professores FALE/UFMG: José Olímpio de Magalhães, Maralice Neves, Patrizia Bastianetto,

Rui Rothe-Neves.

Professores de espanhol FALE/UFMG: Cristiano Barros, Elzimar Goettenauer, Elisa Amorim,

Ana Lúcia Esteves, Marcos Alexandre, Sara Rojo, Graciela Ravetti.

Professores FL/UFRJ: Marcus Maia, Mercedes Sebold, Leticia Rebollo, Consuelo Alfaro.

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SINOPSEAnálise exploratória, baseada na Teoria da Língua em Ato (Cres-ti 2000), das unidades informacionais de parentético, seus valores morfo-lexicais e sua respectiva função informacional, na fala es-pontânea, usando o macro-corpus C-ORAL-ROM para espanhol (região de Madri), nas modalidades diálogo e monólogo privados.

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Esta pesquisa foi desenvolvida com financiamento da CAPES (10/2008 – 02/2010)

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RESUMO

A UNIDADE INFORMACIONAL DE PARENTÉTICO NA FALA ESPONTÂNEA NO ESPANHOL

Bruno Alberto de Oliveira Mota

Orientador: João Antônio de MoraesCo-orientador: Tommaso Raso

Resumo da dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neo-latinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessá-rios para a obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Lingüísticos Neolatinos, opção: Língua Espanhola).

O presente trabalho é uma análise exploratória da unidade informacional de parentético na fala espontânea do espanhol segundo seu perfil entonacional, correlatos morfossintáticos, freqüên-cia de uso, tamanho e posição no enunciado. Através de variáveis entonacionais e ferramentas informáticas foi possível segmentar textos orais em unidades mínimas, os enunciados, e em unidades tonais/informacionais, à luz da Teoria da Língua em Ato. A unidade informacional aqui estudada foi descrita na língua italiana segundo seus parâmetros entonacionais, funcionais e distribucionais, a partir dos quais aqui se estuda a mesma unidade na língua espanhola. Com os programas Winpitch e Praat foi possível identificar os parentéticos segundo os parâmetros estabelecidos pela teoria, bem como fazer cálculos de F0 e velocidade de elocução, visando determinar os padrões prosódicos dos parentéticos encontrados. Foram ainda parâmetros de classificação para os parentéticos os correlatos morfossintáticos: posição no enunciado, tama-nho, violação do isomorfismo, nível e presença de verbo; e também a freqüência de uso, sem-pre comparando-se as duas naturezas textuais englobadas nesta dissertação – os diálogos e os monólogos. Os resultados indicam características que, se confirmadas em estudos futuros com um corpus mais extenso, validando-os estatisticamente, possibilitarão comparações interlin-güísticas cada vez mais ricas com as outras línguas já estudadas.

Palavras-chave: prosódia, pragmática, parentético

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2010

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LA UNIDAD INFORMATIVA DE PARENTÉTICO EN EL HABLA ESPONTÁNEA EN ESPAÑOL

Bruno Alberto Mota

Orientador: João Antônio de MoraesCo-orientador: Tommaso Raso

Resumo da dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neo-latinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessá-rios para a obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Lingüísticos Neolatinos, opção: Língua Espanhola).

Este trabajo es un análisis exploratorio de la unidad informativa de parentético en el habla espontánea del español según su perfil etonativo, correlatos morfosintácticos, frecuencia de uso, tamaño y posición en el enunciado. A través de variables entonacionales y herramientas informáticas ha sido posible segmentar textos orales en unidades mínimas, los enunciados, y en unidades tonales/informativas, según la Teoría de la Lengua en Acto. La unidad informativa que se estudia aquí se ha descrito en la lengua italiana según sus parámetros entonacionales, funcio-nales y distribucionales, a partir de los cuales se estudia, en este trabajo, la misma unidad en la lengua española. Con los programas Winpitch y Praat conseguimos identificar los parentéticos según los parámetros establecidos por la teoría, además de calcular F0 y velocidad de elocuci-ón, con el objetivo de determinar los patrones prosódicos de los parentéticos encontrados. Tam-bién se usaron correlatos morfosintácticos para clasificar los parentéticos: posición en el enun-ciado, tamaño, violación del isomorfismo, nivel y presencia de verbo; asimismo, la frecuencia de uso, comparándo los dos tipos textuales abarcados por esta disertación –los diálogos y los monólogos–. Los resultados muestran características que, si se confirman en futuros estudios, con un corpus más extenso, validándolos estadísticamente, harán posible hacer comparaciones interlingüísticas más ricas con las lenguas que ya se hayan estudiado.

Palabras clave: prosodia, pragmática, parentético

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2010

RESUMEN

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������12

1�1 Tema ������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������12

1�2 Problemas ����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������12

1.3 Justificativas ������������������������������������������������������������������������������������������������������������������12

1�4 Objetivos �����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������13

2� ENFOQUE METODOLÓGICO ���������������������������������������������������������������������������������������14

2�1 Corpus ���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������14

2�2 Procedimentos ���������������������������������������������������������������������������������������������������������������14

3 A TEORIA DA LÍNGUA EM ATO �������������������������������������������������������������������������������������16

3�1 O enunciado ������������������������������������������������������������������������������������������������������������������16

3�2 A força ilocucionária ����������������������������������������������������������������������������������������������������16

3�3 Fala e enunciado vs escrita e sentença ������������������������������������������������������������������������18

3�4 Enunciados simples e enunciados complexos ������������������������������������������������������������19

3�5 As unidades informacionais �����������������������������������������������������������������������������������������21

3�5�1 Unidades informacionais textuais �����������������������������������������������������������������������21

3�5�2 Unidades informacionais dialógicas ��������������������������������������������������������������������27

3.6 A perda do isomorfismo �����������������������������������������������������������������������������������������������32

3�6�1 Comentários Múltiplos (CMM) ���������������������������������������������������������������������������32

3�6�2 Discurso reportado �����������������������������������������������������������������������������������������������34

3�6�3 Estrofe ��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������34

3�6�4 Atos de Fala e Língua em Ato ������������������������������������������������������������������������������37

3�7 Modalidade e ilocução ��������������������������������������������������������������������������������������������������40

4 A UNIDADE DE PARENTÉTICO �������������������������������������������������������������������������������������42

4�1 Visão geral ���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������42

4�2 O Parentético na Teoria da Língua em Ato ����������������������������������������������������������������43

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4�2�1 Funções ������������������������������������������������������������������������������������������������������������������45

4�2�2 Distribuição �����������������������������������������������������������������������������������������������������������46

4�2�3 Características prosódicas �����������������������������������������������������������������������������������47

4�2�4 Características morfossintáticas e lexicais ���������������������������������������������������������48

4�2�5 Parentéticos e Estrofes �����������������������������������������������������������������������������������������50

4�2�6 Parentético e modalidade �������������������������������������������������������������������������������������51

5 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS �������������������������������������������������������������������������60

5�1 Enunciados analisados �������������������������������������������������������������������������������������������������60

5�1�1 Diálogos �����������������������������������������������������������������������������������������������������������������61

5�1�2 Monólogos �������������������������������������������������������������������������������������������������������������62

5�2 Características prosódicas �������������������������������������������������������������������������������������������66

5�2�1 Diálogos �����������������������������������������������������������������������������������������������������������������67

5�2�2 Monólogos �������������������������������������������������������������������������������������������������������������71

5�3 Aspectos morfossintáticos ��������������������������������������������������������������������������������������������82

5�3�1 Diálogos �����������������������������������������������������������������������������������������������������������������82

5�3�2 Monólogos �������������������������������������������������������������������������������������������������������������84

5�4 Freqüência de uso ���������������������������������������������������������������������������������������������������������86

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ����������������������������������������������������������������������������������������������88

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ����������������������������������������������������������������������������������90

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1 INTRODUÇÃO

1�1 Tema

Esta pesquisa exploratória se orienta para o estudo e análise das unidades informacionais de

Parentético do espanhol. Pretende-se verificar, à luz da Teoria da Língua em Ato (CRESTI,

2000), quais são os possíveis perfis entonacionais, tipologia e correlatos morfo-lexicais de tais

unidades na fala espontânea da língua em questão.

Trabalhamos com corpus oral e a transcrição dos mesmos, valendo-nos do C-ORAL-ROM,

macro-corpus de fala espontânea que contém quatro línguas românicas européias (espanhol,

francês, italiano e português) para o estudo do espanhol.

Para nosso propósito descritivo, adotamos critérios já expostos por estudiosos e valemo-nos da

aplicação da Teoria da Língua em Ato na língua estudada no presente trabalho.

1�2 Problemas

Esta dissertação pretende responder às seguintes questões:

1) Existem diferentes perfis entonacionais para a unidade informacional de parentético?

2) Sendo o parentético uma suspensão momentânea, em nível informativo, da progressão da

fala, podendo inclusive ser retirado do enunciado sem comprometer seu conteúdo proposicional,

por que razões aparece?

1.3 Justificativas

O presente trabalho é a continuação do projeto C-ORAL-BRASIL, iniciado em 2007 na UFMG

sob orientação do Professor Doutor Tommaso Raso.

O C-ORAL-BRASIL é um projeto de corpus da fala espontânea comparável ao C-ORAL-ROM

(Cresti-Moneglia 2005), corpora de português de Portugal, italiano, francês e espanhol. O cor-

pus tem cerca de 300.000 palavras, se divide em formal e informal, se concentra na diatopia de

Minas Gerais (mas não somente), busca gravações em condições de uso com a maior variação

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diafásica possível para gravar a maior variedade de ilocuções, de estruturações informacionais e

de características entonacionais, léxico-morfo-sintáticas e fonéticas. O corpus é segmentado em

enunciados e unidades tonais (CRESTI, 2000). Objeto principal de estudo do sub-projeto serão as

medidas da fala e as unidades informacionais definidas conforme a Teoria da Língua em Ato.

Durante a primeira fase do projeto, em 2007, os trabalhos foram concentrados nas gravações,

principalmente de diálogos e monólogos informais em âmbito familiar/privado. Atualmente, já

de posse de variadas e numerosas gravações, o grupo de pesquisa daquela universidade se dedica

à transcrição, segmentação em unidades tonais e etiquetagem dos textos.

O interesse pelo tema justifica-se pela necessidade de:

estimular pesquisas sobre a estrutura informacional e prosódia do espanhol, com o intuito 1.

de desenvolver trabalhos comparativos entre português e espanhol;

promover uma reflexão sobre as diferenças prosódicas nos parentéticos em espanhol;2.

dar continuidade aos trabalhos desenvolvidos sobre o parentético no italiano (TUCCI 2003; 3.

TUCCI 2009) para que se possa cada vez mais fazer comparações entre as línguas români-

cas.

1�4 Objetivos

Esta dissertação tem como objetivos:

Descrever a freqüência de parentéticos na fala espontânea no espanhol;•

Traçar os possíveis perfis entonacionais de parentético do espanhol;•

Verificar quais os correlatos lexicais e morfossintáticos do parentético no espanhol.•

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2� ENFOQUE METODOLÓGICO

Para descrever nosso objeto de estudo recorremos à Teoria da Língua em Ato. É uma pesquisa

exploratória em que usamos tal teoria para analisar os dados encontrados no corpus com a ajuda

de outros autores que pudessem ajudar na descrição dos parentéticos.

2�1 Corpus

A Teoria da Língua em Ato vem sendo aplicada ao macro-corpus de fala espontânea C-ORAL-

ROM (MONEGLIA, CRESTI, 2005) para quatro línguas românicas européias – espanhol,

francês, italiano e português –, havendo já estudos avançados principalmente no italiano. Es-

colhemos estudar a língua espanhola (variante madrilena) presente em tal macro-corpus, tendo

sido escolhidos dois textos dialógicos, cada um com aproximadamente 1500 palavras, e dois

textos monológicos, de aproximadamente 4500 palavras cada, para o estudo dos parentéticos

(ver capítulo 4). A escolha de dois diálogos e dois monólogos tem como justificativa uma breve

comparação do comportamento da unidade de parentético entre essas modalidades. A escolha

dos textos foi baseada na qualidade das gravações, para melhor análise acústica nos programas

de computador. A diferença no tamanho dos textos se deve ao fato de não haver, no corpus,

diálogos e monólogos que contenham a mesma quantidade de palavras.

2�2 Procedimentos

As análises de cada texto foram feitas seguindo os seguintes passos:

Identificação perceptual dos parentéticos, através do Winpitch: ouviram-se os textos acompa-

nhando-se a transcrição. Ao se identificar todos os parentéticos do texto analisado, usando-se

as especificações informacionais e prosódicas da unidade (ver subseção 3.5.1.4), fazia-se uma

conferência com dois especialistas na teoria e na identificação de unidades informacionais, sendo

eles o co-orientador desta dissertação e a professora Ida Tucci, estudiosa dos parentéticos no

italiano. Para cada parentético encontrado, fez-se uma captura de tela do Winpitch com a for-

ma de onda de todo o enunciado ou parte dele com o parentético destacado. Em seguida, cada

enunciado foi segmentado no Praat, seguindo a mesma segmentação proposta na transcrição

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original, para medidas de F0, da seguinte maneira: média no parentético e média no restante do

enunciado, com o intuito de se calcular qual a diferença de altura média de F0 do parentético

com relação ao restante do enunciado; e também cálculo de velocidade de fala do parentético

e do restante do enunciado, em sílabas fonológicas por segundo, para que se pudesse saber em

quanto foi o aumento ou diminuição da velocidade de elocução no parentético com relação ao

restante do enunciado. Escolhemos trabalhar com sílabas fonológicas pelo fato de essas darem

efetivamente ao ouvinte a percepção de fala lenta ou rápida – se uma palavra de quatro sílabas

fonológicas, por exemplo, é executada com apenas duas sílabas fonéticas, tem-se a percepção

de que o falante a produziu com mais velocidade, já que, ao invés de se medirem duas sílabas

em determinado intervalo de tempo, mediram-se quatro, no mesmo intervalo de tempo.

Alguns dos enunciados analisados foram revisados quanto à sua segmentação em unidades infor-

macionais. Como a análise é perceptual, nos pareceu que havia, em poucos casos na transcrição

proposta no C-ORAL-ROM, casos de (i) quebras não-terminais que tinham características de

terminais, (ii) quebras terminais com características de não-terminais ou até mesmo (iii) quebras

(terminais ou não-terminais) que pareciam não existir efetivamente.

A escolha de diferentes programas de computador se deve aos seguintes fatos:

O Winpitch lê os arquivos de áudio e já contém todos os textos devidamente transcritos e alinha-

dos. Assim sendo, ao se clicar no texto do enunciado transcrito a ser analisado, o programa toca

a porção de áudio correspondente ao mesmo e mostra, também, sua curva de F0 e intensidade.

E, apesar de tal programa ter maior capacidade de leitura de curva em porções de áudio em que

há ruído, é mais difícil e demorado marcar, neste programa, início e fim de unidade para poste-

rior análise, o que sujeita o pesquisador a marcações diferentes, além de ser um programa com

diversos problemas de compatibilidade e travamentos constantes.

O Praat, apesar de ter menos recursos que o Winpitch, se demonstrou mais fácil para lidar com

marcações de início e fim de unidade, com possibilidade de se anotar, na parte inferior da janela,

as medidas feitas, o que dá ao pesquisador a oportunidade de voltar a um enunciado coletado

anteriormente em caso de dúvida ou simples conferência de valores medidos.

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3 A TEORIA DA LÍNGUA EM ATO

3�1 O enunciado

A Teoria da Língua em Ato (CRESTI, 2000)1 se fundamenta na correspondência entre unidade

de ação e unidade lingüística através de parâmetros entonacionais2. Tal correspondência admite

a segmentação do discurso em unidades mínimas, os enunciados, capazes de veicular uma ilo-

cução. Nesse quadro teórico, o enunciado é tido como a “contraparte lingüística da ação”, do ato

ilocutório, e é interpretável pragmaticamente em autonomia. Isso significa, por exemplo, que um

enunciado não precisa necessariamente apresentar autonomia semântica ou sintática, podendo,

inclusive, ser composto simplesmente por uma interjeição, desde que entoado de maneira a cum-

prir uma ilocução, que é uma intencionalidade comunicativa interpretável pragmaticamente.

A identificação dos enunciados se realiza através de uma quebra entonacional percebida como

tendo valor terminal, conforme a perspectiva teórica da Fonética Perceptual (t’HART; COLLIER;

COHEN, 1990). A cada enunciado corresponde uma única ilocução, uma intenção do falante.

Disso decorre uma relação biunívoca entre enunciado e ilocução, com uma interface entona-

cional.

3�2 A força ilocucionária

O tipo de força ilocucionária não está subordinado ao conteúdo locutivo, uma vez que se pode ter

o mesmo conteúdo locutivo veiculando diferentes ilocuções, assim como pode haver diferentes

conteúdos locutivos realizados de maneira a veicular a mesma ilocução. Desse modo, a curva

entonacional, juntamente com parâmetros pragmáticos, cognitivos e semiológicos, é o que per-

mitirá ao interlocutor identificar a intenção em um determinado conteúdo locutivo. A realização

de ilocuções de maneiras diferentes, através de diversos padrões entonacionais, pode veicular

estruturas informacionais distintas, como mostram os exemplos, gravados em laboratório para

ilustrar três dos vários tipos possíveis de ilocução usando-se o mesmo material locutivo.1 Para um resumo da teoria e uma primeira aplicação ao português do Brasil, veja-se Raso et al. (2007), Ulisses (2008) e Alves de Deus (2008). Existem também trabalhos publicados ou em preparação, dentre os quais Maia Rocha, Raso e Andrade (2008); Raso e Goulart (no prelo); Raso e Mello (no prelo a, no prelo b) e Vale (em preparação).2 A entoação está relacionada à estrutura informacional do enunciado, desempenhando papel decisivo na organização da fala e complementando a mensagem, podendo veicular informação não indicada no conteúdo verbal.

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*XYZ: vai pra Roma //=COM=3

Figura 1: ilocução de pergunta (CD, exemplos\01.wav)

*XYZ: vai pra Roma //=COM=

Figura 2: ilocução de resposta (CD, exemplos\02.wav)

*XYZ: vai pra Roma //=COM=

Figura 3: ilocução de ordem (CD, exemplos\03.wav)

3 O asterisco (*) indica que o enunciado representado está em início de turno. A sigla logo após identifica o falante. As siglas entre sinais de igual, como =COM=, e a barra dupla (//) serão explicados ainda nesta seção. Todas as figuras apresentadas mostram a tela do programa Winpitch. As instruções para baixá-lo estão no CD em anexo.

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Através da entoação o interlocutor identifica a atitude do locutor por meio de um determinado

conteúdo locutivo, pois percebe determinado perfil entonacional ao qual atribui valor funcional.

Se o enunciado for executado em apenas uma unidade tonal, esta será a unidade de Comentário,

única unidade necessária e suficiente. Nos exemplos acima a mesma é referida através da sigla COM.

3�3 Fala e enunciado vs escrita e sentença

A Teoria da Língua em Ato estabelece três critérios para se distinguir enunciado e sentença:

variedade diamésica, interpretabilidade pragmática e completude semântica.

Quanto à variação diamésica, a sentença é entidade de referência do meio escrito, e possui au-

tonomia semântica e sintática. O princípio de sua organização é o lógico-sintático. A sentença

é um tipo de expressão interpretável sintática e semanticamente, independente de seu contexto,

e necessita de predicação.

Já o enunciado é a entidade de referência da diamesia falada, de organização pragmático-ilocu-

tória, e corresponde a um ato de fala. É um tipo de expressão interpretável pragmaticamente, de

realização entonacional, e é identificado prosodicamente através da percepção. O interlocutor,

além de identificar quebras terminais, que sinalizam a conclusão do enunciado, identifica também

outro tipo de variação melódica interna ao enunciado, a quebra não-terminal, que individualiza

as unidades informacionais dentro do enunciado.

Ao se considerar o enunciado como entidade de referência da diamesia falada, tornou-se possível

indentificar as ilocuções e detalhar os níveis de articulação informacional da fala espontânea de

maneira sistemática. No entanto, como se pode ver na abordagem que Cresti dá ao enunciado, a

Teoria da Língua em Ato não se baseia nas definições de enunciado que o tratam como seqüên-

cia entre duas pausas, mas é possível realizar seqüências de enunciados sem pausas e também

enunciados que contenham pausas internas, como nos exemplos abaixo4.

4 Todos exemplos apresentados em português foram extraídos do corpus C-ORAL-BRASIL.

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*PAU: <mas> eu nũ [/2]=SCA= eu nũ quero daquela altura //=COM= eu quero daquela altura

ali o’ //=COM=5

Figura 4: seqüência de enunciados sem pausa (CD, exemplos\04.wav)

Os enunciados são as seqüências circuladas. O ponto de contato entre as elipses mostra a fron-

teira entre o final do primeiro enunciado e o início do segundo, no que se percebe a ausência de

pausa entre os mesmos.

*PAU: também uma carreira de pedra chatinha /=TOP= tem que pôr //=COM=

Figura 5: enunciado realizado com pausa (CD, exemplos\05.wav)

A figura mostra um único enunciado, realizado com pausa interna.

3�4 Enunciados simples e enunciados complexos

O enunciado pode ser executado em apenas uma unidade tonal (enunciado simples) ou em duas

ou mais unidades tonais (enunciado complexo). Cada unidade tonal veicula uma unidade infor-

5 Os colchetes angulares (< >) indicam sobreposição de fala. Os colchetes com barra seguida de número ([/nº]) indicam retração ou falha da execução do enunciado e o número de palavras canceladas pelo falante na reto-mada do texto. A sigla SCA, bem como outras que aparecerão em outros exemplos, serão explicitadas ainda nesta seção. Os critérios de transcrição podem ser verificados em Vale (em preparação).

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macional, e o interlocutor consegue indentificar essas unidades através de quebras entonacionais

não-terminais (CRESTI, 2000).

As quebras terminais são aquelas que indicam o final do enunciado, ou seja, a conclusão de uma

ação, e são representadas, na transcrição, pela barra dupla (//), ao passo que as quebras não-

terminais demarcam unidades tonais (e informacionais) internas ao enunciado e são transcritas

como uma barra simples (/).

*MAI: o negócio é seguinte //=COM= no norte de Minas /=TOP= existia um [/1]=SCA= um &s

[/2]=EMP= um /=SCA= meio aparentado com a minha esposa //=COM=6

Figura 6: enunciado simples e enunciado complexo (CD, exemplos\06.wav)

Somente um tipo de unidade informacional é obrigatória, porque veicula a força ilocucionária, e

é denominada Comentário. As demais unidades informacionais são opcionais. Assim, os enun-

ciados simples são compostos unicamente pela unidade informacional de Comentário, enquanto

os complexos são constituídos, além da unidade de Comentário, de uma ou mais unidades, com

a função não de transmitir a força ilocucionária, mas de construir um padrão informacional que

auxilie a realização do Comentário.

O enunciado constituído de um padrão informacional simples tem a unidade tonal suficiente

para a constituição desse padrão definida como unidade nuclear (root), ou, informacionalmente,

unidade de Comentário. Quando se constitui de um padrão informacional complexo, ele possui,

além da unidade nuclear, outras unidades (prefix, suffix, etc.) dedicadas ao cumprimento de fun-

ções outras que não a de veicular a força ilocucionária. Tanto os enunciados simples quanto os

complexos podem ou não possuir verbo.

Vejamos o esquema proposto por t’Hart e Cresti:

6 A sigla EMP significa empty e se aplica a unidades tonais canceladas pelo falante por uma falha na execução do enunciado; “&” indica início de palavra interrompida.

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Prosodic Pattern Informational Patternroot ► Comment

(prefix) (suffix) ► (Topic) (Appendix)(parenthesis) ► (Parenthetical

(incipit) (phatic) ► (Incipit) (Phatic)

Quadro 1: Padrão prosódico vs. padrão informacional

As unidades informacionais são identificáveis no enunciado por meio de três critérios: o critério

funcional (função exercida pela unidade no enunciado), o critério entonacional (perfil entona-

cional característico de cada unidade) e o critério distribucional (posição da unidade no enun-

ciado). É a junção dos três critérios que possibilita a criação de um parâmetro de identificação

das unidades da fala.

A identificação dos diferentes perfis entonacionais é realizada através da análise dos movi-

mentos da curva de F0, e de cada configuração melódica desses movimentos resulta um perfil

característico ao qual é possível atribuir um valor funcional. As diferenças micromelódicas que

caracterizam cada movimento a partir dos aspectos segmentais não são suficientes para levar a

uma alteração do valor perceptivo da função de movimento que é determinado pelo núcleo.

3�5 As unidades informacionais

Conforme a Teoria da Língua em Ato, há dois tipos de unidades informacionais: textuais e

dialógicas. As primeiras são as que compõem o texto do enunciado propriamente dito. As dia-

lógicas não contribuem para a constituição semântica do enunciado, mas sim ao cumprimento

pragmático do mesmo.

3�5�1 Unidades informacionais textuais

3�5�1�1 Comentário

O Comentário (COM), como dito anteriormente, é a única unidade necessária e suficiente ao

enunciado, ao carregar a força ilocucionária e fornecer autonomia e interpretabilidade pragmáticas.

Tem a função de cumprir o ato de fala. É uma unidade prosódica de raiz, possuindo vários perfis,

com foco, e o perfil dessa unidade é que identifica o tipo de ilocução. Tem distribuição livre no

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enunciado, e as outras unidades são avaliadas distribucionalmente em relação a essa unidade.

*BAL: as recarregáveis tão aqui //=COM=

Figura 7: unidade de Comentário com valor ilocucionário de asserção (CD, exemplos\07.wav)

3�5�1�2 Tópico

O Tópico (TOP) se define funcionalmente como o âmbito de aplicação da força ilocucionária e

delimita semanticamente a ação do Comentário. Independe de qualquer configuração sintática,

mas deve indicar um domínio de identificação ao qual o Comentário se refere, ou seja, funcio-

nalmente especifica no texto do enunciado o domínio de relevância ao qual a força ilocucionária

se refere. É a unidade mais importante de um padrão informacional complexo e é a única, além

do Comentário, a possuir foco, sempre à direita da unidade, e esse recai sobre a última sílaba

tônica. É opcional e é subordinada melodicamente ao Comentário, não sendo interpretável au-

tonomamente. Estudos na língua italiana descrevem três formas entonacionais diferentes para

esta unidade (CRESTI; FIRENZUOLI, 2002): a mais freqüente (55%) é caracterizada por um

movimento ascendente-descente; uma segunda forma (24%) apresenta movimento nivelado-

ascendente; uma terceira forma (21%) possui movimento descendente-nivelado-ascendente.

Distribucionalmente, está sempre presente à esquerda do Comentário, mas não necessariamente

no início de um enunciado ou em posição adjacente ao Comentário.

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*BAL: as recarregáveis /=TOP= tão aqui //=COM=

Figura 8: Tópico seguido de Comentário de asserção (CD, exemplos\08.wav)

3�5�1�3 Apêndice

O Apêndice funciona como elemento de integração textual do Comentário (APC) ou do Tópi-

co (APT). Sua função é de compilação do texto. Seu perfil entonacional não tem foco, mas o

Apêndice de Tópico pode possuir movimento semelhante ao Tópico precedente, mas sem o foco

informacional. Já o Apêndice de Comentário pode possuir perfil nivelado ou descendente. Está

sempre em posição posterior à unidade da qual é apêndice (unidade de sufixo). Desse modo, se

o Apêndice estiver, no enunciado, à direita do Comentário, será Apêndice de Comentário; se

estiver à direita do Tópico, será Apêndice de Tópico.

*BAL: as recarregáveis /=COM= tão aqui //=APC=

Figura 9: Comentário seguido de Apêndice de Comentário (CD, exemplos\09.wav)

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*CAR: como eu sou uma pessoa muito [/1]=SCA= muito /=SCA= fervorosa /=TOP= acredito

muito em Deus /=APT= eu falei /=SCA= com Deus //=COM=

Figura 10: unidade de Tópico escansionada seguida por um Apêndice de Tópico e uma unidade de Comentário escansionada7 (CD, exemplos\10.wav)

São muito freqüentes enunciados constituídos por uma unidade de Comentário e uma outra uni-

dade tonal que não cumpre a função de delimitar o campo de aplicação da força ilocucionária,

nem a de integração textual. São as unidades descritas na seqüência.

3�5�1�4 Parentético

O Parentético (PAR) é uma unidade textual que tem como domínio o enunciado como um todo

ou parte dele, e funcionalmente tem um valor metalingüístico. Serve como instrução sobre como

interpretar o conteúdo proposicional e tem função modalizadora. Entonacionalmente possui um

perfil prosódico nivelado ou descendente, podendo às vezes apresentar uma cauda tonal ascendente

seguida de uma pausa, caracterizando-se também por um abaixamento ou, mais raramente, um

aumento de F0 e, freqüentemente, por um aumento da velocidade de elocução. Distribucional-

mente, pode ocorrer em todas as posições dentro do enunciado, exceto em seu início absoluto,

e até dentro de uma outra unidade, inclusive dentro de outro Parentético.

7 A unidade escansionada será abordada ainda nesta seção.

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*BEL: eles tavam num posto de gasolina /=COM= eu acho //=PAR=

Figura 11: Comentário seguido de Parentético (CD, exemplos\11.wav)

*CAR: e outra também /=COM= que /=TXC= quando nós fomos levar o papel do advogada

lá pra assinar /=TOP= que a advogada é que mexeu pra mim /=PAR= ela nũ queria assinar

//=COM=

Figura 12: Parentético interno ao enunciado (CD, exemplos\12.wav)

3�5�1�5 Introdutor Locutivo

O Introdutor Locutivo (INT) é uma unidade textual que sinaliza para o destinatário a suspensão

pragmática do enunciado. Tem valor metailocucionário, destacando-se das coordenadas hic et

nunc da enunciação e anunciando uma suspensão pragmática do enunciado em casos de exem-

plificações, elencos, comparações, instruções e discurso reportado. Entonacionalmente o perfil

dessa unidade informacional pode variar, mas sua F0 é quase sempre mais baixa do que a da

metailocução introduzida; importa o contraste entre a F0 do Introdutor Locutivo e a da ilocução

introduzida. A velocidade de elocução é mais alta. Ocorre antes da unidade de Comentário ou

de um enunciado que se quer introduzir (na maioria dos casos em uma estrita continuidade). É

comum sua ocorrência antes de discurso reportado ou de uma exemplificação, sinalizando que

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o que vem na seqüência não deve ser interpretado no mesmo plano pragmático da enunciação,

mas em outras coordenadas temporais, espaciais ou pessoais.

*CAR: eu falo /=INT= Mislaine //=COM_r=8

Figura 13: Introdutor Locutivo seguido de Comentário (CD, exemplos\13.wav)

3�5�1�6 Unidade de escansão

É a unidade que viola o princípio do isomorfismo unidade tonal-unidade informacional. A

unidade de Escansão (SCA) se distingue das outras por não possuir valor informacional, mas

apenas entonacional. Ocorre quando o falante não realiza a unidade informacional em uma única

unidade tonal por alguma dificuldade particular, por razões enfáticas, ou se o programa melódico

da unidade tonal é muito longo em número de sílabas, ocasiões em que o falante a segmenta em

duas ou mais unidades com uma entonação neutra e repete esse mecanismo até que a expressão

seja completada. A Escansão pode obedecer a alguma intenção expressiva. O perfil desejado do

ponto de vista funcional só é realizado pelo falante na parte final dessa enunciação. A unidade

tonal é sempre marcada por um perfil não-terminal.

8 Comentário reportado.

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*CAR: a única coisa que eu fiquei muito triste que eu nũ falo perto dela /=TOP= Mary /=ALL=

é que /=INT= quando fez oito dia que ela tava com a gente /=TOP= eu /=SCA= não falo perto

dela /=SCA= porque /=SCA= isso ela não sabe /=PAR= é que /=INT= &he /=TMP=9 a mãe

/=TOP= mandou buscar porque tinha vendido ela por seiscentos reais //=COM=

Figura 14: Parentético escansionado (CD, exemplos\arquivo 14)

As setas na imagem acima indicam as unidades de Escansão.

3�5�2 Unidades informacionais dialógicas

As unidades dialógicas são também conhecidas como Auxílios Dialógicos (FROSALI, 2008),

instrumentos para regular a interação. Possuem um perfil entonacional próprio, porém não têm

uma relação direta com o conteúdo locutivo do enunciado, mas com o interlocutor.

3�5�2�1 Incipitário

É uma unidade dialógica que sinaliza para o interlocutor o início de um enunciado com valor

contrastivo em relação ao enunciado anterior. Isso significa que os Incipitários (INP) explicitam

a vontade do falante em começar um turno ou prossegui-lo. Entonacionalmente apresentam

um perfil muito alto, intenso e curto (MAIA ROCHA; RASO; ANDRADE, 2008). Como fun-

cionalmente introduzem um ato de fala fazendo contraste com o anterior, distribucionalmente

sempre aparecem em início de enunciado. Não se correlaciona a nenhuma classe lexical especí-

fica, podendo ser constituída por advérbios, conjunções coordenadas e subordinadas, pronomes

pessoais e interjeições.

9 Hesitação ou tomada de tempo.

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*BAL: gente /=INP= mais <pilha recarregável> //=COM=

Figura 15: Incipitário seguido de Comentário (CD, exemplos\15.wav)

3�5�2�2 Conativo

O Conativo (CON), do ponto de vista funcional, visa a levar o interlocutor a fazer ou a deixar de

fazer algo. Entonacionalmente é uma unidade muito intensa e caracterizada por um movimento

descendente de F0. Distribucionalmente não ocupa uma posição fixa dentro do enunciado, embora

apareça de forma mais freqüente em posição final. Trata-se de uma unidade lexicalmente variada,

podendo ser constituída de nomes, verbos, expressões adverbiais, dentre outras, mas não possui

uma força diretiva capaz de possibilitar sua interpretação pragmática em isolamento.

*REN: é o mesmo daquele lá /=COM= o’ //=CON=

Figura 16: Comentário seguido de Conativo (CD, exemplos\16.wav)

3�5�2�3 Fático

O Fático (PHA) é uma unidade dialógica funcionalmente dedicada ao controle do bom funciona-

mento da comunicação, assegurando a manutenção do canal comunicativo. Entonacionalmente

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possui intensidade baixa e duração muito curta, com movimento descendente de F0 e baixa rele-

vância perceptual. Distribucionalmente ocorre em qualquer posição no enunciado. Lexicalmente

é constituída de formas verbais, verbos de percepção, adjetivos, advérbios e interjeições.

*REG: porque ninguém acreditava /=COM= né //=PHA=

Figura 17: Comentário seguido por Fático (CD, exemplos\17.wav)

3�5�2�4 Alocutivo

O Alocutivo (ALL), tradicionalmente classificado como vocativo, está funcionalmente relacio-

nado à ativação afetiva do canal comunicativo entre os interlocutores. Dirigido diretamente ao

interlocutor, controla a comunicação por meio de nomes próprios, títulos, pronomes pessoais,

adjetivos qualificativos afetuosos ou ofensivos, com função de distingui-lo de outros possíveis

interlocutores ou de marcar a coesão social. Em outras palavras, a unidade especifica a quem

a mensagem é dirigida por meio de seu nome ou de uma atribuição de epíteto. Através dela se

mantém a atenção do interlocutor, ao mesmo tempo em que se evidencia uma função coesiva e

enfática, trazendo-o a compartilhar do ponto de vista do enunciador. Entonacionalmente possui

um perfil pouco relevante, modulado e descendente. Distribucionalmente pode estar em qualquer

posição dentro do enunciado, mas preferencialmente no início. Segundo Raso e Goulart (no

prelo) e Raso e Almeida (em preparação), sua distribuição parece variar nas diferentes línguas e

culturas. A unidade de Alocutivo não pode ser interpretada de forma isolada. Difere completa-

mente da ilocução de chamamento, já que sua função informacional primordial está relacionada

à ativação afetiva no canal comunicativo entre interlocutores.

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*FLA: cê vai embora que dia /=COM= Rena //=ALL=

Figura 18: Comentário seguido de Alocutivo (CD, exemplos\18.wav)

Para ilustrar a diferença entre uma ilocução de chamamento de um Alocutivo, veja-se o exemplo

abaixo, com o mesmo material locutivo, e que possui autonomia pragmática.

*FLA: Rena //=COM=

Figura 19: Comentário com ilocução de chamamento (CD, exemplos\19.wav)

3�5�2�5 Expressivo

O Expressivo (EXP) busca a coesão social. Funcionalmente é um suporte emocional para o ato

ilocutório executado pelo Comentário. Enfatiza a atitude do falante, estimulando o interlocu-

tor a compartilhar determinado ponto de vista. Entonacionalmente apresenta um movimento

ascendente-descendente da F0, mas não como o Incipitário, que apresenta um perfil muito

alto, intenso e curto. Distribucionalmente pode ocupar qualquer posição dentro do enunciado,

bem como dentro de um discurso reportado, para representar um diálogo, diferenciando-se do

Incipitário também nesse aspecto, já que este, por apresentar valor de contraste em relação ao

enunciado anterior, tem ocorrência sempre em início de enunciado. As unidades de Expressivo,

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em sua maioria, são formadas por nomes (que denotam blasfêmia, juramento), interjeições e

advérbios, e são idiossincráticas culturalmente.

*HEL: Nossa / =EXP= vamo mudar pro verde //=COM=

Figura 20: Expressivo seguido de Comentário (CD, exemplos\20.wav)

3�5�2�6 Conector Textual

O Conector Textual (TXC), em termos funcionais, assinala para o ouvinte que o turno terá

continuidade, sem contudo fazê-lo através de um contraste (como ocorre com o Incipitário).

Entonacionalmente é marcado por um movimento modulado de F0, duração longa, intensidade

alta e velocidade baixa. Distribucionalmente ocorre no início do enunciado, garantindo o nexo

semântico entre os enunciados através de operadores do tipo coordenativo e/ou subordinativo

(conjunções, advérbios).

*FBA: mas /=TXC= foi bastante positivo //=COM=

Figura 21: Conector textual seguido de Comentário (CD, exemplos\21.wav)

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3.6 A perda do isomorfismo

Até agora se pontuou que um enunciado constitui-se sempre a partir da unidade de Comentário,

responsável por veicular uma ilocução. Logo, essa unidade estaria sempre em correspondência

com o enunciado: cada enunciado possuiria sempre uma e apenas uma unidade de Comentário.

O mesmo tipo de correspondência se estabeleceria entre unidade informacional e unidade tonal,

uma vez que cada unidade tonal corresponderia a um valor funcional. Todavia, esse princípio do

isomorfismo pode ser violado. Já foi visto, por exemplo, que as unidades de Escansão violam o

isomorfismo em nível informacional.

É possível pontuar para cada caso de violação ao princípio do isomorfismo os fatores que oca-

sionam a não-correspondência entre enunciado e uma única unidade de Comentário, bem como

entre uma unidade tonal e uma unidade informacional.

O isomorfismo é o fundamento de qualquer fala espontânea, mesmo em textos em que segmentos

produzidos apresentam uma perda dessa característica.

3�6�1 Comentários Múltiplos (CMM)

São ilocuções que, por sua natureza, constituem-se de mais de um Comentário. Nesse caso

perde-se somente a correspondência biunívoca entre um Comentário e um enunciado, mas não

a correspondência entre uma ilocução e um enunciado. É o tipo específico de ilocução que, para

ser realizada, requer mais de um Comentário.

Dentre as ilocuções, foram identificados cinco tipos que necessariamente se distribuem em mais

de uma unidade de Comentário. A saber:

1) a ilocução de elenco, em que cada elemento do elenco localiza-se em uma unidade de Co-

mentário diferente e somente o último apresenta uma quebra terminal;

2) a ilocução de comparação, em que cada elemento da comparação também se localiza em uma

unidade de Comentário diferente e somente o último apresenta uma quebra terminal;

3) a ilocução de hipótese ou relação de necessidade, em que dois Comentários possuem uma

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relação especialmente estreita e necessária, seja de natureza temporal ou de semelhança, e não

necessariamente de natureza lógica de causa-efeito como no período hipotético. Também aqui

há quebra terminal presente só no final;

4) a ilocução de reforço, em que dois Comentários se reforçam dentro do mesmo programa;

5) a ilocução de pedido de confirmação, cujo objetivo é solicitar do ouvinte a afirmação do que

fora mencionado anteriormente.

Os Comentários Múltiplos se distinguem de uma seqüência de enunciados simples porque cons-

tituem um padrão composicional de ilocução com uma estrutura rítmica e prosódica, enquanto

a seqüência de enunciados simples é totalmente independente.

*JOR: linha branca /=TOP= geladeira /=CMM= fogão /=CMM= ar condicionado /=CMM= mi-

croondas /=CMM= máquina de lavar /=CMM= lava-louça /=CMM= e linha marrom /=TOP= &he

/=TMP= televisores /=CMM= videocassete /=CMM= e outros equipamentos som [/1]=SCA= de

som automotivo /=SCA= tipo /=INT= devedê /=CMM= &he /=TMP= cedê /=CMM= etcetera

//=CMM=

Figura 22: Comentários múltiplos com ilocuções de elenco (CD, exemplos\22.wav)

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*JOR: viajar de avião /=CMM= em vez de tar viajando de ônibus //=CMM=

Figura 23: Comentários múltiplos com ilocuções de comparação (CD, exemplos\23.wav)

3�6�2 Discurso reportado10

Realiza-se através da suspensão pragmática da enunciação em que o falante abandona o hic et

nunc para realizar mimeticamente ilocuções pertencentes a outro tempo, outro espaço ou outro

falante. Equivale ao discurso direto da escrita e representa uma modalidade freqüente de realizar

a subordinação na fala.

Um Discurso Reportado pode ser constituído por um ou mais enunciados. Cada enunciado

pode ser realizado também com um padrão informacional complexo, e o falante pode chegar a

mimetizar um diálogo em vários turnos.

3�6�3 Estrofe

As Estrofes são unidades maiores que desenvolvem duas ou mais ilocuções antes da quebra pro-

sódica percebida como tendo valor terminal. Contrariamente aos Comentários Múltiplos, não são

unidades programadas, mas processuais; nelas o princípio ilocucionário se enfraquece em favor

de uma dimensão menos pragmática e mais textual: no caso dos Comentários Múltiplos, há um

programa que requer mais de um Comentário para ser realizado; no caso das Estrofes, à medida

em que ocorre a enunciação, vão-se acrescentando outros Comentários que o falante percebe

serem importantes naquele momento, sem que se tenha programado algo anteriormente.

10 Veja-se a figura 13 para um exemplo de discurso reportado.

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3�6�3�1 Características da Estrofe

O primeiro caráter identificador das Estrofes é seu valor ilocutivo fraco e difuso. A impressão

de difusão se justifica pelo fato de uma Estrofe ser composta de uma seqüência de Comentários

com força ilocutiva fraca, ligados dentro de uma entidade maior, ou seja, a percepção da quebra

terminal se dá somente depois da realização de várias ilocuções. Prosodicamente vai de uma

quebra terminal à próxima quebra terminal e prevê, no seu próprio interior, subpadrões prosódi-

cos sinalizados por quebras prosódicas às quais correspondem os diversos Comentários Ligados

ou outras unidades informacionais em um subpadrão com esses Comentários. As Estrofes não

apresentam toda a gama nem de articulação informativa nem de variação ilocutiva próprias dos

enunciados e são caracterizadas positivamente por ilocuções homogêneas por classe perlocu-

cionária e por freqüentes variações modais e peculiaridades sintáticas.

A Estrofe não tem programa informacional preconstituído, mas se constrói por acréscimo de

sucessivos Comentários Ligados, que gradualmente realizam um dos elementos que são desen-

volvidos na evolução de um pensamento, regido afetivamente em relação a um interlocutor.

Entretanto, uma Estrofe pode conter não só uma seqüência de Comentários, mas também porções

de articulação informacional. Em geral, estas são simples e consistem em i) um Tópico, com

freqüência de ocorrência mais baixa que a registrada nos enunciados complexos, mas em número

maior que as outras unidades informacionais de Parentético (com uma freqüência mais alta que

a registrada nos enunciados complexos) ii) em unidades informacionais específicas com função

de conector entre os diversos subpadrões da Estrofe. Assim sendo, a articulação da informação

das Estrofes é reduzida e diferenciada daquela do enunciado complexo.

O que é importante evidenciar é que também no caso da ocorrência de algumas unidades infor-

macionais em torno de um Comentário Ligado, sua função informacional diz respeito àquele

único Comentário e tem alcance local, ou seja, a Estrofe como um todo não é nem um padrão

informacional nem mesmo um super padrão, mas, sobretudo, uma seqüência de subpadrões

informacionais.

Há algumas Estrofes cujos Comentários Ligados são conectados através de expressões, em

geral conjunções ou advérbios realizados através de unidades tonais dedicadas. Os conectores

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se comportam como retomadas anafóricas de unidades informacionais precedentes, sinalizando

ao interlocutor que se deve esperar um novo Tópico ou um novo Comentário dentro da mesma

Estrofe. As conjunções e advérbios, que desenvolvem tais funções informacionais, alternam

entre uma função de subordinação sintática, no uso mais freqüente delas, mas não exclusivo na

língua escrita, à de retomada anafórica e junção entre os Comentários Ligados dentro de uma

Estrofe na fala.

Há um fenômeno que não diz respeito estritamente a uma unidade informacional específica ou à

articulação informacional da Estrofe: é a semântica de algumas unidades de Comentários Ligados

ou de Tópico. Acontece com freqüência que sejam repetidas expressões, não como meros ecos,

como às vezes é característico da fala não planejada, mas caracterizadas funcionalmente como

retomadas de partida para um novo subpadrão.

No que diz respeito às características prosódicas da Estrofe, devem ser notados alguns aspectos

além dos já indicados. Em particular pode-se adicionar uma notação relativa ao fenômeno da

escansão das unidades tonais, sobretudo de tipo root e prefix, relevante para a descrição prosódica

das Estrofes, dada a sua freqüência.

3�6�3�2 Comentários Ligados

Os Comentários Ligados são unidades de ilocuções diferentes marcadas por uma quebra terminal

e por um explícito sinal prosódico de continuidade. Obviamente nunca ocorrem em isolamento

e veiculam, sobretudo, valores ilocucionários fracos. Sua função informacional é a de construir

uma entidade textual do tipo Estrofe ou a de distribuir a força ilocucionária em mais unidades

escansionadas, ou seja, nos Comentários Ligados há mais de uma ilocução ocorrendo em um

mesmo enunciado, embora não haja programa, porque não há um padrão de ocorrência.

Assim, os Comentários Ligados são unidades processuais que o falante julga importante acres-

centar durante a produção do enunciado, sem prévia programação.

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*JOR: e assim eu fiquei dentro dessa outra multinacional por um período /=COB= trabalhando

com som automotivo /=COB= &he /=TMP= produtos automotivos /=COB= da rede de autopeça

/=COB= hhh e ferramentas elétrica //=COM=11

Figura 24: Comentários Ligados (CD, exemplos\24.wav)

Os Comentários Ligados são uma unidade do tipo raiz + raiz, marcados por um sinal de continui-

dade. Seu perfil entonacional varia de acordo com o valor ilocucionário da unidade de Comentário

e contêm foco. Possuem freqüência modal variada, e dentro de uma Estrofe, quando ocorrem,

desfrutam cada Comentário Ligado de modalidade independente um do outro.

Os Comentários Ligados, bem como os Comentários que dão origem a um enunciado, podem

ser formados por uma palavra, frase ou sentença, mas nunca por um morfema. No que diz res-

peito à sintaxe das relações estabelecidas, os Comentários Ligados parecem se comportar como

todas as unidades informacionais. No entanto, principalmente quando ocorrem em Estrofe são,

em geral, mais extensos que os outros Comentários e freqüentemente escansionados. Possuem,

portanto, uma maior complexidade sintática dentro de uma Estrofe.

3�6�4 Atos de Fala e Língua em Ato

Teoria da Língua em Ato se fundamenta na correspondência biunívoca entre uma entidade prag-

mática, também definida como unidade de ação (AUSTIN, 1962), e uma unidade lingüística, o

enunciado, sendo este visto como a unidade mínima autônoma e interpretável pragmaticamen-

te. No entanto, devem ser notadas diferenças significativas entre a Teoria dos Atos de Fala de

Austin e a Teoria da Língua em Ato proposta por Cresti, conforme se depreende dos esquemas

seguintes.11 O símbolo hhh indica comportamento paralingüístico (riso, choro, tosse, ruídos feitos com a boca).

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Segundo Austin, ato de fala é composto pela realização simultânea de três atos:

Ato locutório: “o ato de falar”.•

Ato ilocutório: “o que fazemos quando falamos”.•

Ato perlocutório: “o que queremos fazer; o que nos motiva; o efeito do que fazemos”.•

Já a hipótese de Cresti elege uma perspectiva diferente, partindo do ato perlocutório e da sua

definição como “impulso” para a ativação do ato de fala:

Ato perlocutório: “nossa atitude para com o interlocutor quando falamos”.•

Ato ilocutório: “a transformação de nossa atitude em comportamento social e definido con-•

vencionalmente”.

Ato locutório: “o ato de falar”.•

No nível do ato perlocutório, Cresti apresenta cinco classes atitudinais que se baseiam nas

características afetivas das ações humanas e nas relações dinâmicas entre os falantes: recusa,

asserção, direção, expressão e rito. O que se assume basicamente é que cada ativação do falante

é necessariamente baseada na afetividade que emerge com relação ao interlocutor. Tal aspecto é

inconsciente, completamente livre e não regulado por convenções – o falante reage a um input

relacional humano com um comportamento lingüístico.

As cinco classes atitudinais são caracterizadas por diferentes graus e níveis de ativação afetiva:

Recusa: uma disposição, atitude ou estado de espírito de liberdade e separação por parte do •

falante com relação ao parceiro da comunicação, que permite um confronto completo com

esse último.

Asserção: uma disposição, atitude ou estado de espírito de autoconfiança por parte do falante, •

com base nas próprias realizações de pensamento, que permite a manifestação de julgamentos,

descobertas, avaliações, representações, como novos objetos no mundo.

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Direção: uma disposição, atitude ou estado de espírito de tomar em consideração as habili-•

dades, possibilidades, disponibilidade do parceiro, enquanto se espera transformar o mundo

através de ações, informações, movimentos, ou que o parceiro transforme a si mesmo com

relação a seu horizonte de atenção, seu conhecimento, sua habilidade, seu ponto de vista.

Expressão: uma disposição, atitude ou estado de espírito de manifestação “estética” de es-•

tados mentais, sentimentos, emoções, crenças, esperando que o parceiro se torne consciente

disso e compartilhe disso.

Rito: um comportamento externo de execução de tarefas lingüísticas que têm valor e efeito •

legal e social, e que pode ser realizado com o mínimo de participação afetiva, apenas sufi-

ciente para a ativação fisiológica da fala.

A afetividade ativada no ato perlocutório torna-se um esquema acional específico socialmente

e convencionalmente codificado com uma força pragmática.

O conjunto dos atos ilocutórios não pode ser definido segundo princípios lógicos e lexicais, mas

deve ser buscado na língua em uso através de pesquisa empírica.

Segundo Cresti, portanto, um ato perlocutório é identificado como a base afetiva necessária para

a ativação do ato lingüístico como um todo, e a comunicação não se define apenas pela realização

de enunciados em que há a correspondência biunívoca entre uma unidade de ação e uma unidade

lingüística com o cumprimento de um ato ilocutório específico, pois há as referidas unidades mais

extensas denominadas Estrofes, cujo valor ilocutivo é enfraquecido e difuso. Assim, a Estrofe não

é um ato único de relação com o interlocutor como é o caso do enunciado, mas uma atividade

que visa à realização de um texto planejado, com mais ilocuções enfraquecidas.

Nessa perspectiva, a Teoria da Língua em Ato reconhece:

que de um ponto de vista informacional, qualquer enunciado é um padrão, ou seja, assume-se 1.

que a organização informacional de um enunciado é sistematicamente marcada pela prosódia

e centrada no valor ilocutivo (com uma forte tendência ao isomorfismo);

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que há sempre outro aspecto presente na realização de uma interação, em que, dependendo 2.

da tipologia interacional, exigências de natureza textual, e não pragmática e acional, enfra-

quecem o princípio ilocucionário de base. Esse fenômeno ocorre quando o texto perde a

interatividade típica da fala espontânea – principalmente dialógica – entre os interlocutores,

reduzindo-se exatamente o aspecto interativo e a motivação afetiva.

3�7 Modalidade e ilocução

Segundo a Teoria da Língua em Ato, a modalidade é um conceito semântico, pertence ao nível

da locução, do que é dito, e a ilocução, por sua vez, é um conceito pragmático, diz respeito à

intencionalidade do falante, isto é, ao ato ilocutório. A modalidade é, portanto, a atitude do falante

com relação ao conteúdo proposicional do enunciado, enquanto a locução é a atitude do falante

com relação ao interlocutor (CRESTI, 2002, 2005; TUCCI, 2005, 2008a, 2008b).

Nesse quadro teórico, um ponto central no que diz respeito à modalidade é o seu domínio de

pertinência. Em relação à lingua escrita, a tradição tende a considerar a frase como o domínio

da modalidade. Uma aproximação entre a linguagem oral e a escrita poderia fazer supor que o

domínio da modalidade na oralidade seria o enunciado. Entretanto, essa não é a visão proposta

pela Teoria da Língua em Ato, para a qual a modalidade pertence ao domínio da unidade infor-

macional e não ao do enunciado .

A distinção entre modalidade e ilocução na qual se baseia a Teoria da Língua em Ato contrasta

com a definição de Searle (1969), em que cada tipo de ato é caracterizado por uma força ilo-

cucionária específica, ou seja, uma relação distinta entre o estado de coisas que é o objeto do

conteúdo proposicional (o aspecto locutório) e o tipo de ação que o falante tem a intenção de

executar com ele (o conteúdo ilocutório).

Cresti, todavia, considera que a modalidade é a atitude do falante com relação ao conteúdo

proposicional expresso. É um feito puramente semântico. A ilocução do falante para com o

interlocutor é um fato pragmático, já que a ilocução é a ação socialmente codificada que realiza

uma perlocução.

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Segundo Searle, o ato perlocutório seria simplesmente o que realmente acontece a partir de uma

ilocução. Cresti, no entanto, considera a perlocução como a atitude afetivo-pulsional de um ato

ilocutório, que seria a ação socialmente convencionalizada dessa atitude. Julga impossível se

estabelecer uma relação de causa e efeito entre duas ilocuções humanas. Uma mesma ação pode

gerar em um determinado indivíduo uma ilocução, e em outro, outro tipo. E, ainda, uma mesma

ação pode, em diferentes momentos, desencadear ilocuções diferentes no mesmo indivíduo.

Seria portanto impossível estabelecer uma relação motivada entre ilocuções.

Uma ilocução é motivada unicamente por uma pulsão afetiva do seu autor, isto é, a motivação é

interna ao falante, e qualquer tentativa de estabelecer relações motivadas externamente é forçada.

A ilocução é algo que tem um impacto pragmático, e assim tem uma correspondência prosódica.

O falante, ao proferir um enunciado, espera despertar no interlocutor alguma reação diante do que

foi proferido naquela situação específica. Não se trata, pois, puramente de conteúdo locutivo ou

de tipologia das sentenças imperativas, exclamativas, interrogativas etc., mas do ato ilocutório,

da intencionalidade do falante. Dessa forma, a modalidade consiste na avaliação (Modus) do

falante em relação ao seu próprio conteúdo locutivo (Dictum), isto é, exprime a atitude do falante

com respeito ao proferimento de seu próprio enunciado. Já a ilocução é determinada pela atitude

do falante em relação ao interlocutor.

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4 A UNIDADE DE PARENTÉTICO

4�1 Visão geral

A literatura geralmente apresenta quatro níveis de análise dos Parentéticos (TUCCI, 2009):

Sintático: estrutura sintática desconexa, frasal ou sintagmática, não-linearizada, podendo ser 1.

eliminada sem comprometer a estrutura hospedeira (SERIANNI, 1989; BORGATO; SALVI,

1995; DARDANO; TRIFONE, 1997).

Retórico-textual: digressão, exemplificação ou comentário de vários gêneros em relação à 2.

argumentação que se desenvolve em um primeiro plano, sistematicamente indicado por sinais

de pontuação (parênteses, vírgulas e travessões) ao início e ao final da inserção.

Semântico-lexical: normalmente realizado através de lexemas modalizadores, verbos pa-3.

rentéticos etc.

Prosódico: caracterizado por um perfil entonacional mais baixo, “parentético”, em relação 4.

àquele do enunciado que o hospeda.

Jubran (1996a, 1996b) propõe que, para o reconhecimento e a delimitação dos Parentéticos,

funcionam como critérios algumas marcas formais advindas exatamente da natureza parentética:

pausas delimitadoras de Parentéticos, ou seja, antes e depois do encaixe; interrupção do enun-

ciado precedente ao Parentético e retomada do mesmo, sem ruptura sintática, após a inserção;

ausência de conectores do tipo lógico, que pudessem estabelecer relações lógico-semânticas

entre o Parentético e o enunciado no qual encaixa; mudanças prosódicas, como rebaixamento de

tessitura, particularizador de inserção, e alteração de velocidade de elocução da parte inserida,

em contraste com o contexto.

Ressalta ainda a autora que o conceito de Parentético não deve fazer supor um desvinculamento

da inserção em relação ao segmento do discurso que a abarca e a contextualiza, mas que, ao

contrário, os Parentéticos têm papel importante no estabelecimento da significação, de base

informacional, uma vez que promovem avaliações, esclarecimentos, ressalvas, atenuações, ad-

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vertências e comentários laterais sobre o que se está dizendo, e/ou sobre como se diz, e/ou sobre

a situação interativa. Desse modo, as inserções parentéticas não podem ser consideradas como

desvios do texto, sendo dele descartáveis, visto que orientam a sua compreensão, integrando-se

ao contexto, atuando sobre o conteúdo das proposições criadoras desse contexto e trazendo para

dentro do texto explicitações sobre a situação enunciativa que têm implicações sobre a signifi-

cação proposicional dos enunciados vizinhos.

Schneider (2007) desenvolve um interessante estudo sobre verbos parentéticos (Reduced Paren-

thetical Clauses – RPCs) a partir de corpora orais de três línguas românicas: francês, italiano

e espanhol. O autor sustenta que o escopo de uma estrutura parantética é amplamente predeter-

minado pela sua função pragmática e pela estrutura e significado da estrutura que a hospeda.

Sustenta ainda que a descrição prosódica e a descrição sintática da estrutura parentética não

necessariamente correspondem e que, em termos de prosódia, deve ser feita a diferenciação

entre expressões parentéticas que interrompem o contorno entonacional do enunciado e aquelas

que não o fazem.

Em outras abordagens teóricas, a unidade de Parentético apresenta características de marcadores

discursivos (BAZZANELLA, 2001).

4�2 O Parentético na Teoria da Língua em Ato

A descrição da unidade de Parentético desenvolvida nesta seção baseia-se em estudos realizados pelo

grupo LABLITA a partir do corpus italiano de fala espontânea integrante do C-ORAL-ROM1.

Do ponto de vista da Teoria da Língua em Ato, para se chegar a uma generalização teórica ade-

quada a respeito da unidade de Parentético, é necessário acrescentar aos níveis de análise elen-

cados na seção 4.1 o nível informacional-funcional, que provém do nível prosódico e a ele está

estreitamente correlacionado. Desse modo, não se pode deixar de levar em conta, para o estudo

da unidade, um corpus de fala espontânea representativo dos vários contextos comunicativos

em que é produzida (TUCCI, 2009).

1 O corpus de referência de tal pesquisa é constituído de 100 exemplos de fala espontânea extraídos da amostra do Laboratorio Linguistico del Dipartimento di Italianistica dell’Università di Firenze – LABLITA (http://lablita.dit.unifi.it/), 50 de voz masculina e 50 de voz feminina.

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Em relação ao nível sintático, Tucci estabelece que a não-integração sintática do Parentético é

um correlato da não-integração prosódica, tanto que, para associar à ordem não-linear o caráter

de “parenteticidade”, é necessário reproduzi-lo na leitura. É a natureza parentética da estrutura,

individualizada somente entonacionalmente, que a torna insubordinada, independente em relação

à estrutura que a hospeda. Sendo assim, a não-conexão sintática é um correlato positivo, embora

não definitório dos Parentéticos.

Em nível retórico-textual, tal autora ressalta que são muitas as potencialidades funcionais das

inserções parentéticas reconhecidas na literatura. Através dessas inserções passa-se da objetividade

à subjetividade da narração ou do ponto de vista. No entanto, assim como no nível sintático, a

unidade parentética é recuperada apenas por sinais de pontuação, que não assinalam a necessi-

dade de se ler o conteúdo parentético com uma entoação mais baixa.

Quanto ao nível semântico-lexical, Tucci destaca que a parenteticidade não é uma qualidade

semântica do elemento lexical – nem todos os verbos parentéticos e advérbios modalizadores

coincidem com unidades parentéticas.

O nível prosódico, segundo a Teoria da Língua em Ato, mostra-se como um traço fundamental

para a identificação do fenômeno da parenteticidade, sendo esta identificação com base entona-

cional a única que permite a leitura dos Parentéticos na complexidade de sua realização.

Segundo o arcabouço teórico da Língua em Ato, a unidade de Parentético (CRESTI, 2000; FI-

RENZUOLI; TUCCI, 2003; TUCCI, 2004) pode ser definida como uma unidade informacional

textual que tem como domínio o enunciado como um todo ou parte dele, sendo dele independente

sintática e prosodicamente. Funcionalmente tem um valor metalingüístico, permitindo ao falante

comentar o conteúdo da própria locução, separando-se sob o ponto de vista interno do enunciado

e não participando de sua composição textual, mas dele constituindo uma interpretação ou uma

instrução lingüística voltada ao interlocutor. O Parentético então não faz parte da progressão

comunicativa normal do enunciado, estando fora dele, e cria uma momentânea suspensão em

nível locutivo e informacional, podendo trazer novos elementos para o enunciado, sobretudo

em termos de juízo.

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Os Parentéticos são freqüentemente elementos modalizadores, permitindo uma explicitação

do juízo pessoal do falante sobre o próprio enunciado, a ponto de modificá-lo, reforçando ou

limitando sua ilocução primária.

4�2�1 Funções

Além de uma primária função metalingüística (de controle e correção sobre a linguagem), o

Parentético pode ter uma função referencial (voltada ao controle da proeminência informacional

ou à ampliação do seu conteúdo), de valoração modal (determinando uma modalidade anexa

àquela de base do enunciado), ou também de precisar, reforçar ou atenuar a ilocução que se

está realizando. Nesse diapasão, Tucci (2009) menciona três funções: meta-narrativa, modal e

metalingüística.

A função meta-narrativa se verifica quando se acrescentam informações úteis à orientação do

interlocutor a respeito do posicionamento do falante em relação ao conteúdo narrativo, ou seja,

através da unidade de Parentético o falante agrega ao enunciado informações de caráter generi-

camente narrativo que são úteis para explicitar o próprio ponto de vista sobre o que está dizendo.

Tais inserções são verdadeiras intervenções emotivas, feitas no plano da comunicação interpessoal,

diverso do plano pragmático, que é dedicado à realização do escopo comunicativo. Um estudo de

Moneglia (2008) sobre o reconhecimento das unidades para a expressão das emoções revela que

uma amostra significativa de falantes competentes concorda sobre o fato de que o modo como é

entoada a unidade parentética transmite informações sobre o posicionamento do falante, isto é,

comunica que o ponto de vista que expressa é positivo, negativo, atenuativo etc.

*GUI: perché all’epoca che ti parlo io /=TOP= parlo di circa vent’anni trent’anni fa /=PAR= non

c’erano i mezzi che abbiamo oggi //=COM=2

*BAL: a minha igreja [/3]=EMP= o [/1]=EMP= isso aquele Marcelo Crivella /=PAR= <aquele

bispo> lá /=PAR(1)= a minha igreja não aceita homossexuais //=COM_r=3

2 Exemplo extraído do C-ORAL-ROM italiano.3 O significado do número entre parênteses será explicitado na análise dos dados, seção 5.1.2.

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A função modal se evidencia quando se insere uma avaliação subjetiva em caráter modal sobre o

que é dito no enunciado. O Parentético em função modalizadora atua como um “segundo modus”

sobre o dictum do enunciado, valorando-o a partir de um outro ponto de vista ou evidenciando

o juízo modal principal. Nesse caso, o segundo modus veiculado pela unidade de Parentético

em função modalizadora está em relação complementar com o dictum do enunciado, sendo dele

independente (vide exemplos seguintes). Esta função modalizadora foi amplamente encontrada

no corpus italiano (TUCCI, 2007, no prelo a). É muito estreita a relação entre a unidade de

Parentético e a modalidade, tornando-se obrigatório abordar essa questão ao se estudarem os

parentéticos.

*BIA: però il potenziale /=i-COM= sicuramente /=PAR= si può migliorare //=COM=

*BEL: eles tavam num posto de gasolina /=COM= eu acho //=PAR=

A função metalingüística se revela quando o falante indica ao interlocutor uma escolha lexical

particular e subjetiva. Trata-se de uma formulação ou reformulação subjetiva de um conceito ou

de um termo, que demonstra ser o falante responsável pela validade de sua escolha.

*PRO: allora /=INP= questo è un fondo /=i-COM= per così dire /=PAR= flessibile //=COM=

Tucci (2009) propõe que a função informacional da unidade de Parentético do exemplo acima seja

equivalente a algo como “dizer mais do que a mensagem leva a cabo”. O falante “interrompe”

a verbalização em primeiro plano e insere sua avaliação pessoal, ou seja, agrega à verbalização

uma coordenada comunicativa de contato com o interlocutor, manifestando aspectos da com-

plexidade da intenção comunicativa. Esse mecanismo “força” o interlocutor a formar juízos de

relevância em relação à informação recebida, o que faz parte do jogo comunicativo, e não pode

simplesmente ser anulado sem perder um componente importante da comunicação.

4�2�2 Distribuição

A distribuição parentéticos é interna aos enunciados, podendo ocorrer inclusive no interior

de outras unidades (até mesmo de outro parentético) ou em fim de enunciado, e também após

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outro parentético. Não pode aparecer em início de enunciado porque não poderia desenvolver

sua função de comentário direto de um enunciado ainda não realizado. O escopo de atuação do

parentético pode ser parte do enunciado ou todo ele.

4�2�3 Características prosódicas

A partir do corpus italiano já foram individualizadas algumas características prosódicas que

identificam o Parentético de maneira macroscópica em relação às porções ou unidades tonais

que o precedem e/ou o sucedem: um movimento de F0 geralmente uniforme; média de F0 mais

baixa, ou mais raramente, mais alta; uma sensível variação da velocidade de elocução (normal-

mente, um aumento). A característica entonacional que distingue a unidade, como descrito por

Cresti (2000) e Cresti e Moneglia (2008), é a de um perfil de tipo assertivo fraco e conclusivo,

que não lhe confere autonomia; tanto que, se excluída, o restante do enunciado mantém uma

unidade prosódica.

A figura 25 mostra um enunciado composto de uma unidade de Comentário interrompida por

uma unidade de Parentético, retomada em seguida e concluída. Ainda que os valores de F0 no

exemplo sejam bastante baixos, por se tratar de uma voz masculina, a unidade de Parentético

emerge claramente como a parte desprovida de movimentos de F0, atestada pelos valores em

média mais baixos alcançados no enunciado.

Figura 25: insomma è / immagino /=PAR= un lavoro proprio allucinante //=COM=

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Figura 26: si / in Florida /=COM= mi sembra //=PAR=

Esta última figura mostra um exemplo de parentético em fim de enunciado, em posição contígua

ao comentário, mas não o interrompe. O perfil prosódico se mantém: valores de F0 (agora com

voz feminina), movimento de F0 e velocidade de elocução.

No interior do enunciado, o parentético pode ainda apresentar cauda tonal ascendente.

Figura 27: devo dire ho anche / son stata alla libreria /=PAR= ho anche un po’ largheggiato //=COM=

4�2�4 Características morfossintáticas e lexicais

Os Parentéticos podem ser realizados através de estruturas das mais variadas, como SN, SP, ad-

vérbios de juízo e modais, e também expressões contendo uma forma verbal. Assim, não parece

haver nenhuma estratégia de seleção lexical nem de seleção sintagmática. Muito freqüentemente o

Parentético é constituído de orações principais com ponto de vista externo ao do enunciado sobre

o qual intervém, por orações subordinadas de tipo explicativo, causal, limitativo, que explicam

justamente o sentido do Parentético, ou ainda por fórmulas que comentam metalingüisticamente

o material lingüístico da locução.

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Até o momento o corpus italiano revelou dois principais tipos morfossintáticos e lexicais da

unidade de Parentético: adverbiais e verbais. Nesse corpus, 46% dos Parentéticos são do primeiro

tipo e 54% do segundo, e essa porcentagem é paritária mesmo dentro das tipologias textuais

presentes no corpus. As duas subunidades compartilham algumas características (não todas), o

que gera a discussão sobre se se trata de uma única unidade ou de unidades distintas. Por isso é

mais adequado definir cada uma separadamente.

Os Parentéticos adverbiais (morfossintática ou funcionalmente), através de uma força ilocu-

cionária secundária de tipo assertivo, desempenham funções acessórias dentro dos enunciados

nos quais estão inseridos. A maior parte dos Parentéticos adverbiais é constituída por advérbios

modalizadores (de juízo, de modo, de dúvida etc.), que precisam, limitam ou reforçam a ilocução

primária.

*SIM: io credo sia un lavoro molto interessante / perché è un lavoro che [//] di ricerca / su di te

/=COM= fondamentalmente //=PAR=

*PM1: la storia è /=TOP= per definizione /=PAR= storia per / e di tutta l’umanità /=COM= anche

nei suoi segmenti minori //=APC=

*LAN: quella lì che s’andò a vedere /=TOP= Malaga e Granada /=PAR= si scese dalla nave //=COM=

*BEL: &he /=TMP= &e [/1]=EMP= quando eu fui minha mala tinha /=i-COM= tipo /=PAR=

quatorze quilos //=COM=

Os Parentéticos verbais são portadores de uma força ilocucionária secundária que se anexa

àquela primária do enunciado, dando lugar a uma espécie de enunciado encaixado em que há

uma subordinação de tipo modal, causal, comparativo, relativo etc. Geralmente mais longos que

os adverbiais, são freqüentemente organizados em mais de uma unidade tonal. Encontram-se

também afirmações que pertencem à esfera da metalinguagem.

*VES: volevo chiudere il collegamento chiedendo / adesso poi decidete voi chi risponde /=PAR=

se questa missione è più rischiosa //=COM=

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*BRE: e quindi credo che / conoscendo / e non avendo fatto obiezioni /=PAR= lo sosterrà

//=COM=

*CAR: e outra também /=COM= que /=TXC= quando nós fomos levar o papel do advogada

lá pra assinar /=TOP= que a advogada é que mexeu pra mim /=PAR= ela nũ queria assinar

//=COM=

4�2�5 Parentéticos e Estrofes

Um estudo de Cresti (2009) revela que nas Estrofes, entidades que não apresentam um programa

informacional pré-constituído mas que se constroem pela junção de sucessivos Comentários Liga-

dos, os Parentéticos aparecem com uma freqüência mais alta do que a verificada nos enunciados

complexos e em unidades informacionais específicas com função de conector entre os diversos

Comentários Ligados. Assim, os Parentéticos comparecem em quase todas as Estrofes.

*GIA: ma soprattutto /=TOP= e entro davvero / in [/] in uno dei punti che Paolo richiamava

/=PAR= io credo che /=TOP= abbia dimostrato / come in questo paese / si è creato / un blocco

sociale / mi verrebbe da dire /=PAR= corporativo /=COB= che ha / come dire /=PAR= forte

connotazione / anche geografiche /=COB= tutta l’Italia del nord /=TOP= diciamo del centro nord

/=PAR= è / compattamente schierata con la Casa della Libertà /=COB= così come / una larga

fetta del sud /=COB= ma aldilà di un elemento / di connotazione geografico territoriale /=TOP=

c’è proprio un elemento / come dire /=PAR= di carattere / sociale //=COM=

Observou-se, sempre no corpus italiano, a ocorrência da unidade parentética entre dois Comen-

tários Ligados, de modo a ser avaliada como se fosse no início de um hipotético novo enunciado,

com uma possibilidade de distribuição não registrada nos enunciados complexos. Enquanto

estes estabelecem um padrão informacional e prosódico dentro de um modelo, em torno de sua

valência ilocutória, a Estrofe se comporta de modo processual informacional e prosodicamente,

sem grandes vínculos formais e substancialmente fora de um modelo. Usa, no entanto, estra-

tégias peculiares como a contínua inserção de Parentéticos metalingüísticos, como se vê nos

exemplos seguintes:

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*COL: non per reati politici /=COB= perché ritengo che da molti anni / in Cina / non ci siano

condanne a morte / per reati politici /=PAR= ma per reati comuni /=COB= in particolare / per

la corruzione / e per i reati collettivi / contro la persona //=COM=

*CLA: documento che nasce / anche / dal dibattito della scorsa assemblea /=COB= che noi

abbiamo fatto la scorsa assemblea sempre qui a San Quirico /=PAR= ma direi più in generale

documento che nasce / dal tentativo di declinare su scala locale / quelli che sono i caratteri cos-

titutivi /=COM= del laboratorio per la democrazia //=APC=

4�2�6 Parentético e modalidade

Definido o Parentético como a unidade informacional na qual o falante “comenta de maneira

direta o conteúdo de seu próprio enunciado” (CRESTI, 2000: 143), há de se perguntar qual é a sua

relação com a categoria semântica denominada modalidade, que, nas palavras de Tucci (2007),

constitui justamente um julgamento subjetivo do enunciador sobre seu conteúdo proposicional. A

partir dessa breve conceituação, evidencia-se a congruência existente entre o escopo da unidade

informacional de Parentético e da modalidade. Entretanto, a complexidade evocada sobretudo

pelo último termo exige que o tema seja tratado de maneira mais aprofundada.

4�2�6�1 A modalidade na Teoria da Língua em Ato

Na Teoria da Língua em Ato (CRESTI, 2000), a modalidade é definida semanticamente como

“a atitude subjetiva do falante em relação ao próprio conteúdo proposicional”, ou seja, o Modus

com o qual o falante considera o Dictum. Essa definição encontra suas raízes na tradição ono-

masiológica de investigação do fenômeno, que o concebe como a expressão da subjetividade do

falante. Alinha-se, em particular, à concepção de Bally (apud TUCCI, 2007), para quem

a modalidade é a forma lingüística de um julgamento intelectual, de um julgamento afetivo ou de uma vontade que um sujeito pensante enuncia a propósito de uma percepção ou de uma representação de sua mente. (BALLY, 1942 apud TUCCI, 2007: 113)4

A Teoria da Língua em Ato trabalha com três categorias modais: alética, epistêmica e deôntica.

Tucci (2007) sustenta que essas categorias são suficientes para a descrição dos usos modais 4 “La modalité est la forme linguistique d’un jugement intellectuel, d’un jugement affectif ou d’une volonté qu’un sujet pensant énonce à propos d’une perception ou d’une représentation de son espirit.” (BALLY, 1942 apud TUCCI, 2007: 113)

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encontrados na linguagem oral, além de serem, em sua opinião, “mais relevantes do ponto de

vista lingüístico porque podem ser expressos com meios lingüísticos diferenciados” (2007: 67).

No entanto, como poderá ser observado adiante, o que a autora define como modalidade alética,

epistêmica e deôntica é a expressão de uma revisão conceitual realizada pela mesma, que “em

parte une e em parte separa as categorias até então descritas na literatura por razões de economia

metodológica” (2007: 67).

Sendo assim, tomando a modalidade como atitude subjetiva do falante em relação ao próprio

conteúdo proposicional, passa-se à conceituação de cada categoria modal tal qual proposto pela

autora (TUCCI, 2007: 67-72).

A modalidade alética diz respeito à atitude subjetiva do falante em relação à necessidade, pos-

sibilidade, impossibilidade do conteúdo de sua enunciação em todos os mundos possíveis. Tais

julgamentos podem ser feitos com bases factuais, lógicas ou perceptivas. Na Língua em Ato, esse

tipo de modalidade compreende também os casos de discurso reportado, levando-se em conta

que um falante, ao reportar ao interlocutor o discurso de um terceiro, atribui às palavras repor-

tadas um valor de verdade. Por “valor de verdade” entende-se a pressuposição de que o discurso

reportado pelo falante corresponde, de fato, àquele proferido originalmente. Cumpre notar que

isso não implica, por parte do enunciador, na aceitação das opiniões que está reportando.

Abaixo, algumas proposições de modalidade alética e exemplos extraídos do corpus analisado

por Tucci (2007: 68):

Pássaros podem ser macho ou fêmea.

Uma zebra deve ter listras pretas e brancas.

Um camaleão não pode respirar debaixo d’água.

*LIA: può darsi /=COM= che gliel’abbiano data /=APC= perché qui non c’è nulla //=PAR=

*GIM: però il <problema> è di chi non può spendere //=COM=

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Na modalidade epistêmica, a atitude do falante diz respeito ao grau e à natureza do comprome-

timento em relação à verdade de sua proposição, que podem variar em função de seus conheci-

mentos, opiniões e atitudes. Na teoria da Língua em Ato, o julgamento realizado pelo falante pode

ser probabilístico ou pode ocorrer em termos de juízo de valor. O comprometimento do falante

com um determinado estado de coisas implica a compatibilidade entre ele e seus conhecimentos

e crenças, e não a existência desse estado de coisas em todos os mundos possíveis e reais.

Carlos pode ter comido a maçã (porque ele me disse que queria fazê-lo). [menos provável]

Carlos deve ter comido a maçã (porque a maçã não está mais aqui). [mais provável]

Carlos comeu a maçã, eu acho.

*BEL: eles tavam num posto de gasolina /=COM= eu acho //=PAR=

*BEL: &he /=TMP= &e [/1]=EMP= quando eu fui minha mala tinha /=i-COM= tipo /=PAR=

quatorze quilos //=COM=

A modalidade deôntica é a expressão da subjetividade do falante em relação a obrigações morais e

sociais dos conteúdos de sua proposição. As avaliações são realizadas em termos de necessidade,

obrigação, permissão e proibição dos conteúdos presentes em sua proposição e se fundamentam

no que é tido como bem/mal, justo/injusto, certo/errado com base em regras sociais, morais,

religiosas etc. Para a Teoria da Língua em Ato, a modalidade deôntica é vista em sentido amplo,

englobando também os estados de coisas que pertencem ao âmbito do “desejar”, do “querer”.

Vocês não podem entrar de boné na igreja.

Nós queremos almoçar agora.

O Carlos não pode ficar com o dinheiro só para ele!

*PRI: perché dovendo lavorare dalla mattina alla sera /=TOP= e dovendo faticare molto /=TOP=

non avevano il tempo di andare / spesso alla sinagoga //=COM=

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Ainda a respeito da modalidade deôntica, Tucci (2007: 62) lembra que a atitude subjetiva do

falante pode ser vinculada não só a contextos do presente e do futuro, mas também a eventos

passados. No exemplo abaixo, o índice lexical “deveria” expressa um julgamento sobre a obri-

gatoriedade da presença do interlocutor em um evento passado (a festa). Tal julgamento não

implica que o interlocutor deva ir a uma festa que já ocorreu, mas descreve a obrigação que o

interlocutor tinha, no passado, de ir à festa.5

Você deveria ter ido à festa ontem.

Uma vez definida a categoria semântica da modalidade e os possíveis valores que ela pode assumir

na Teoria da Língua em Ato, cumpre esclarecer que, à semelhança de uma grande quantidade

de estudos sobre a modalidade, tal teoria trabalha com a noção de formas gramaticalizadas mo-

dalizadoras: os ditos índices lexicais de modalidade. Para o italiano, Tucci (no prelo b) faz uma

lista dos diferentes meios lingüísticos que podem exprimir a modalidade:6

advérbios modalizadores (1. probabilmente, realmente, per forza etc.)

predicados nominais com adjetivos avaliativos (2. è certo, è doveroso, è bene etc.)

verbos modais (3. potere, dovere, volere)

verbos de crença (4. sapere, credere, immaginare, ritenere etc.)

construções analíticas e perifrásticas (5. essere/avere da + infinitivo, andare + particípio pas-

sado etc.)

verbos de crença (6. sembrare e parere)

verbos de necessidade e desejo (7. bisognare, sperare, augurarsi etc.)

modos verbais (o Indicativo futuro e o Condicional)8.

5 Essa linha de argumentação, bem como o exemplo que se segue, remetem a Lyons (1977).6 Uma discussão aprofundada do tema pode ser encontrada em Tucci (2007: 136-204).

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Em relação aos índices lexicais de modalidade para o PB, este trabalho adota os critérios de

Neves (2006: 167-168)7, segundo a qual podem ser expressões modalizadoras:

a) um verbo

a.1) auxiliar modal:

Esse casarão deve ser ideal para o reumatismo de minha tia Margherita. (ACM)

a.2) de significação plena, indicador de opinião, crença ou saber:

Acho que por humilhação maior jamais passaram. (A)

b) advérbio, que ainda pode-se associar a um verbo modal:

Esse exame propicia a visualização de vários dados, que devem ser obrigatoriamente pesqui-

sados. (CLC)

c) adjetivo em posição predicativa:

Quem sabe se nada disso vai ser necessário? (FIG)

d) substantivo:

O homem não deve pensar muito, esta é a minha opinião. (OMT)

Cada folha sulfite dobrada em quatro dá possibilidade para oito páginas impressas. (LOP)

e) categorias gramaticais do verbo da predicação (tempo, aspecto, modo), que freqüentemente

estão associadas a advérbios modalizadores:

E a discussão ficaria nisso. (A)

Essa obra talvez tenha sido um dos livros mais importantes da época. (ATN)

Observada a polissemia dos índices lexicais de modalidade e a ausência de uma relação biunívo-

ca entre os mesmos e os tipos possíveis de modalidade (PALMER, 1986), Tucci entende que a

atribuição de um valor modal a um índice lexical de modalidade deve ser feita de caso em caso.

Assim, com o objetivo de avaliar qual dos valores modais é congruente a uma dada expressão

7 Além das possíveis formas de gramaticalização relacionadas pela autora e elencadas neste trabalho, Neves (2006) também aponta elementos sintáticos e prosódicos como possíveis modalizadores. Uma vez que a Teoria da Língua em Ato analisa a modalização somente enquanto expressão lexicalizada em uma língua (TUCCI, 2007: 73), esses elementos não serão incluídos na presente classificação.

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modal, deve-se levar em conta “o ‘sentido’ de toda a expressão em relação ao contexto comu-

nicativo e em relação à função informacional desempenhada”. Abaixo, um exemplo fornecido

pela autora (TUCCI, 2007: 244):

*GUI: perché io poi a un certo punto /=TOP= ieri / chiaramente /=PAR= sono andato via

//=COM=

Nesse enunciado, que é composto de uma unidade de Tópico e uma de Comentário (na qual se

insere uma unidade de Parentético), o índice modal é o advérbio chiaramente em posição de

Parentético. Tem-se, aqui, uma modalidade de valor epistêmico, uma vez que o falante julga

o evento como “correto”. Visto que a unidade informacional em que está inserido o índice de

modalidade tem como característica funcional adicionar uma modalidade à modalidade do

enunciado, a autora considerou que o valor epistêmico assumido pelo advérbio não pode ser

estendido a todo o enunciado, mas somente à sua unidade informacional.

Retomando as explanações teóricas a respeito do tratamento dado pela Teoria da Língua em Ato

ao fenômeno da modalidade, é de extrema importância notar que, para Cresti (2000), existe uma

diferença conceitual entre modalidade e ilocução. Essa posição não está de acordo com uma

grande gama de teorias da tradição lingüística, que tendem a aproximar as duas noções (TUCCI,

2007: 119). Para Cresti, o ato ilocutório constitui a expressão da subjetividade do falante em

relação a seu interlocutor, o que ocorre em termos de uma manifestação acional de uma pulsão

afetiva do primeiro sobre o último. Por outro lado, no caso da modalidade, a expressão da sub-

jetividade se dá em relação ao conteúdo proposicional do próprio falante, que pode considerá-lo

verdadeiro, falso, provável, improvável, necessário etc.

Em sua tese de doutorado, Tucci (2007: 283) aponta evidências empíricas para que esses concei-

tos não sejam amalgamados: operando um estudo com base no corpus C-ORAL-ROM italiano,

a autora analisou 24.119 enunciados informais e 14.622 enunciados formais, dos quais 5.498

apresentavam ao menos um índice lexical de modalidade. Nesse subcorpus, a autora revelou a

existência de índices de modalidade de todos os tipos (aléticos, deônticos e epistêmicos) inseridos

em enunciados de todas as classes ilocutivas (Assertivo, Diretivo, Expressivo, Recusa e Rito).

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Como conseqüência, pode-se dizer que nenhuma classe ilocutiva é determinante na seleção de

algum valor modal.

Por outro lado, a autora revela a existência de algumas relações preferenciais (mas não necessá-

rias) entre a escolha da ilocução e a escolha da modalidade: para asserções, 49,1% dos índices

modais são de valor epistêmico; para enunciados diretivos, 53,2% dos índices são deônticos;

em relação aos expressivos, 60,7% dos índices de modalidade são aléticos.

A autora evidencia o fato de que apenas 25% dos enunciados modalizados são enunciados

simples (constituídos de apenas uma unidade informacional). Os outros 75% são compostos.

Dentre os enunciados compostos, 62,4% apresentam mais de um índice lexical de modalidade

distribuídos em diferentes unidades informacionais. Além disso, 7,6% do total de unidades in-

formacionais modalizadas apresentam mais de um índice de modalidade (TUCCI, no prelo b).

Nesse contexto, há de se perguntar como se dá a interação dos diferentes índices modais em ao

menos dois casos:

quando há dois índices lexicais em uma mesma unidade informacional;1.

quando há mais de um índice lexical de modalidade distribuídos em mais de uma unidade 2.

informacional de um enunciado complexo.

Em relação ao primeiro caso, tem-se o exemplo a seguir:

*MAR: penso che posso fare un salto anche lunedì //=COM=

No enunciado em questão, atua o princípio de composicionalidade semântica e sintática dentro

da unidade informacional em que há os índices modais. Dessa forma, uma modalidade domina

a outra, estabelecendo-se assim uma modalidade composta. Nesse caso, o índice de valor alético

posso é dominado pelo epistêmico penso, gerando uma modalidade composicional epistêmica.

Por outro lado, a solução adotada anteriormente não pode ser automaticamente estendida a

enunciados complexos com mais de um índice lexical de modalidade distribuídos em mais de

uma unidade informacional, como é o caso de:

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*CLA: in realtà “Basilicata” /=TOP= dovrebbe significare la terra dei boschi //=COM=

Enquanto a teoria da Lingua em Ato prevê relações necessárias de composição sintática e se-

mântica no interior da unidade informacional, essas relações não são necessárias entre unidades

informacionais distintas (CRESTI, 2000: 176). Com o intuito de verificar se essas relações ocor-

rem no âmbito da modalidade (entendida como uma categoria semântica), procede-se à análise

do exemplo a seguir, que se trata de uma possível paráfrase do enunciado acima:

È nei fatti vero che io credo che il termine “Basilicata” significa “terra dei Boschi”.

Para Tucci (no prelo b), nessa suposta paráfrase “o falante adiciona no Comentário uma caracte-

rística modal epistêmica a uma premissa de tipo alético-factual feita no Tópico”. Isso, segundo a

autora, gera um enunciado com significação nitidamente diferente do original, em que se tem um

índice de modalidade alética no Tópico e um índice de modalidade epistêmica no Comentário.

Em meio a essas indagações, chama a atenção o fato de que, dentre todos os tipos de unidades

informacionais, somente quatro delas podem sofrer modalização: Tópico, Comentário, Parentético

e Introdutor Locutivo. Essa seleção contextual em função de unidades de informação também

constitui mais um argumento para se pensar que a modalidade diz respeito a elas mesmas e não

ao enunciado. A figura abaixo reporta a porcentagem de índices lexicais de modalidade para

cada uma das unidades informacionais que podem ser modalizadas:

Figura 28: percentual de índices lexicais de modalidade nas unidades informacionais modalizadas8

A partir dessas evidências é que se conclui que, sob a perspectiva da Teoria da Língua em Ato,

o domínio da modalidade é a unidade informacional e não o enunciado.

8 Reprodução da figura 3.1, de Tucci (no prelo b). A sigla INX é a antiga sigla do C-ORAL-ROM para parentético, bem como INL é a antiga sigla para Introdutor Locutivo.

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Se o Parentético é definido justamente como a unidade dedicada à expressão da modalidade, e

53,2% de sua totalidade apresentam índices lexicais voltados a tal fim, existem 46,8% de Paren-

téticos sem índices lexicais. Em face desses dados, pode-se pensar em ao menos duas possibili-

dades: i) todos os Parentéticos têm modalidade, mas ela não é necessariamente manifestada por

meio de um índice lexical; ii) alguns Parentéticos não são modalizados e, portanto, não cumprem

a função de fazer um comentário subjetivo sobre o conteúdo locutivo.

Tal questão relaciona-se a uma das discussões centrais que emergem do estudo da modalidade:

se todo e qualquer conteúdo proposicional é necessariamente modalizado ou se, ao contrário,

há proposições sem modalidade. A esse respeito, Tucci lembra que uma concepção mais ampla

de modalidade que a entende como “atitude do falante em relação à sua locução” pressupõe que

todo enunciado seja modalizado, uma vez que “não pode existir uma externalização de um pen-

samento que não seja primeiramente refletido e avaliado segundo o juízo ‘intelectual’ do falante”

(TUCCI, 2007: 128). Por outro lado, Cresti afirma não ser fácil distinguir entre o que deveria

constituir o conteúdo proposicional (ou seja, o Dictum) e o que deveria constituir a avaliação

do falante (o Modus). Sendo assim, os trabalhos realizados no âmbito da Teoria da Língua em

Ato optam pela escolha metodológica de analisar somente a modalidade expressa por meio de

índices lexicais explícitos.

A partir dessas informações, pode-se excluir a hipótese segundo a qual alguns Parentéticos não

seriam modalizados e, portanto, não cumpririam sua função informacional. Efetivamente, para

Cresti (2000), todos os Parentéticos delimitam, de uma forma ou de outra, o modo com que o

enunciado – ou uma parte do enunciado – deve ser interpretado.

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5 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

A amostra retirada do C-ORAL-ROM se compõe de dois textos dialógicos informais privados,

cada um com aproximadamente 1500 palavras, e de dois textos monológicos informais privados,

cada um com aproximadamente 4500 palavras. O estudo carece de valor estatístico pelo tamanho

reduzido da amostra e pela diferença no tamanho dos textos, embora não houvesse como fugir

dessa limitação, pois não havia textos dialógicos com número superior a 1500 palavras ou textos

monológicos com menor número que 4500 palavras, aproximadamente.

Com a ajuda do programa Winpitch, servimo-nos dos textos transcritos e alinhados com o áudio

para localizar os enunciados que continham parentéticos1. Ao ser encontrado um parentético, o

enunciado que o continha era individualizado: a porção de áudio referente ao mesmo era extra-

ída do arquivo de áudio original e salva em um novo arquivo através do programa Audacity®,

preservando suas características técnicas (todos com áudio mono, 24 bits PCM, taxa de amos-

tragem de 22050 Hz).

Fizemos análises acústicas para determinar as características prosódicas de cada parentético,

seguida de classificação quanto à sua tipologia e uma breve abordagem de suas características

morfossintáticas.

As siglas de cada texto mostram, segundo código estabelecido no C-ORAL-ROM, língua (e para

espanhol), âmbito (fam para privado), tipologia (dl para diálogo e mn para monólogo), seguido

do número seqüencial em que foram arquivados.

5�1 Enunciados analisados

Nesta subseção, apresentamos os enunciados analisados na presente dissertação. Todos os

enunciados aqui transcritos seguem o padrão utilizado no C-ORAL-ROM. Cada número entre

colchetes indica qual é o número do enunciado dentro do texto.

1 No CD em anexo se encontram todos os arquivos de áudio analisados no presente trabalho. Há um diretório para cada texto, dentro dos quais se encontram os enunciados individualizados, sendo o nome de cada arquivo o número do enunciado a que se refere.

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5�1�1 Diálogos

Efamdl03: dois amigos em casa, madrilenhos, sobre futebol e basquete, gravação não escondida,

pesquisador observador, 1603 palavras. Cabeçalho do texto transcrito2:

@Title: fútbol y baloncesto @File: efamdl03 @Participants: MIG, Miguel, (man, B, 2, taxi driver, participant, Madrid) PAC, Paco, (man, A, 2, air condition installer, participant, Madrid) @Date: 04/03/2001@Place: Madrid @Situation: chat between friends at home, not hidden, researcher observer@Topic: football and basketball @Source: C-ORAL-ROM @Class: informal, family/private, dialogue@Length: 7’ 08’’@Words: 1603 @Acoustic_quality: A @Transcriber: Guillermo @Revisor: Jesús; Manuel, Inma, Jesús, Ana and Guillermo (prosody); Guillermo

[136] pero luego / si hay partidos de esos finales y eso / son a cinco partidos / me parece /=PAR= no ?

[139] y hasta que llegas a semifinales / en copa / por ejemplo en liga europea /=PAR= es a tres partidos //

[147] entonces / dependiendo en el puesto / que hayas quedado en la liguilla / pues te toca /=i-COM= siempre se toca /=PAR= el último con el primero //=COM=

[170] la semifinal / es a cinco / partidos / me parece //=PAR=

Efamdl04: duas amigas em casa, madrilenhas, sobre família, filmes e o futuro emprego de um

de seus conhecidos, gravação não escondida, pesquisador observador, 1527 palavras. Cabeçalho

do texto transcrito:

@Title: Raquel @File: efamdl04 @Participants: PAT, Patricia, (woman, B, 2, hairdresser, participant, Madrid) ROS, Rosa, (woman, B, 3, English teacher, participant, Madrid) @Date: 10/03/2001@Place: Madrid @Situation: chat between friends at home, not hidden, researcher observer@Topic: friends, movies and future Use’s works @Source: C-ORAL-ROM @Class: informal, family/private, dialogue@Length: 7’ 58’’@Words: 1527 2 MONEGLIA (2007)

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@Acoustic_quality: A @Transcriber: Guillermo @Revisor: Manuel; Guillermo, Jesús and Manuel (prosody)

[6] yo / es que no hubiera ido / a lo mejor //=PAR=

[13] o sea / lo que me decía el otro día Nuria / es que / al fin y al cabo /=PAR= lo que ellos han llegado a la conclusión /=PAR= es / que ella tiene que llamar la atención sobre todo / la atención de Rubén //

[29] tú imagínate / que la deja / y que luego / busca una [/] otra [///] yo qué sé /=PAR= o encuentra otra chica / o la busca o / la encuentra //

[31] y va a pensar que es /=i-TOP= no sé /=PAR= que todas las chicas /=TOP= que no sean como ella …

[57] porque allí todo / más o menos /=PAR= para un español / <más o menos es barato> //

[68] no / lo que pasa que / pues fueron / yo creo que /=PAR= un poco en plan / pues conocer gente / hablar con gente / ver cómo vive la gente ...

[166] yo no la he visto esa / creo //=PAR=

[179] pero Leolo / o sea Leolo /=PAR= la de El bola / no está mal //

[201] pero el otro día estábamos hablando de la película / porque uno de mis alumnos fue a [/] al cine a verla /=COB= y me decía que [/1] que sí / que bueno / que [/] que [/] que trata ese tema / pero que si queríamos / ver / algo duro de [/] de tema de violencia doméstica /=COB= que nos fuéramos a una exposición que hay en / una galería ahí / en Serrano /=COB= que no me acuer-do exactamente dónde es /=PAR= que íbamos a ver unas fotos /=SCA= y unos documentales ...=COM=

5�1�2 Monólogos

Efammn03: monólogo no quarto da informante, madrilenha, sobre amigos, relacionamentos

e fofoca, gravação escondida, pesquisador não presente, 4657 palavras. Cabeçalho do texto

transcrito:

@Title: mis amigos son parejas @File: efammn03 @Participants: MON, Mónica, (woman, B, 2, nurse, participant, Madrid) @Date: 00/00/2003@Place: Madrid @Situation: monologue in Mónica’s room, hidden, researcher not present @Topic: friends, relationships and gossip @Source: C-ORAL-ROM @Class: informal, family/private, monologue@Length: 23’ 38’’@Words: 4657 @Acoustic_quality: A @Transcriber: Manuel @Revisor: Guillermo; Inma and Jesús (prosody); Manuel

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[5] sí / bueno //=PAR=

[8] y nada / entonces / me contó una historia / que yo de verdad /=PAR= es que no sé si tú sabes / que es que mi abuelo / es rico / entonces /=PAR= claro tiene haciendas y / una herencia que me va a dejar / cuando mi abuelo se muera /=PAR= pero claro / yo no quiero que se muera para nada / eh / porque yo le quiero un montón / y tal y cual //

[13] sí / porque mi abuelo / fue militar / dice fue un alto cargo / militar / no sé qué /=PAR= y entonces se / ha ido cosechando muchas riquezas / de tal / de / la [/] la guerra y tal y cual //

[36]entonces acababan de hacer el amor / y después / pues Raquel en cuanto / se [///] o sea / ya / acabaron y tal /=PAR= dijo / bueno voy [/] voy [/] voy a llamar a Jorge / pero tío una reacción / que te acuerdas de que es el cumpleaños de Jorge / pero sin ninguna mala intención //

[123] bueno / pues le ha dado tiempo / a casarse / a divorciarse / a tener un hijo / le ha dado tiempo a estudiar una &ingenie [/] una / &eh [///] Telecomunicaciones dos años / le ha dado tiempo / a irse / a Bosnia / de francotirador / le ha dado tiempo / bueno / a doscientas &co [///] historias que te cuento / que no te las crees ni tú / o sea / yo digo /=PAR= este chico / no tiene &dieci [///] veintidós años / este chico tiene / treinta y cinco / o cuarenta años //

[155] &mm / es más de [/] de [///] &e [/] él / como yo he dicho /=PAR= a Óscar le tiene un asco que no le puede ni ver //

[175] y Quique se mete con él [/] Quique se mete con él [/] se mete con él / que no sé para qué se mete / porque también te puedes meter tú con Quique //=PAR=

[180] es en la noche / Suso / es la noche / no sé qué //=PAR=

[205] o sea / por ejemplo /=PAR= Óscar cuenta un chiste / hhh / cuenta / sabes que Óscar está siempre de coña / pues cuenta un chiste / y el otro / pues no tiene gracia //

[217] y sabes que en [///] cuando / por ejemplo /=PAR= cuando jugamos al juego de la oca / que nos hacemos putadas entre / las parejas sobre todo / no ?

[229] si es que / es un encanto de mujer / no sé qué //=PAR=

[250] entonces pues / las bromas que siempre tenemos / que tú lo sabes / que siempre cuando vienes con nosotros que estemos siempre [/] siempre estamos de cachondeo //=PAR=

[254] hay palabras que igual no entiende que [/] que decimos / bromas que no las entiende / que / como estamos / todos / tan unidos / pues entre nosotros ya sí las entendemos /=PAR= pero gente que [/] que xxx / encima que está poco con nosotros / y cuando está / lo que sea porque estamos de fiesta / o de cachondeo / porque nunca está / igual un fin de semana / que estamos hablando aquí / seriamente / xxx o haciendo / lo [/] lo de siempre / Sergio / Ainhoa / Óscar / y yo / por ejemplo /=PAR= los cuatro xxx [/] que estamos casi siempre juntos /=PAR= no está en esas conversaciones a lo mejor tan serias / y siempre que viene / estamos todos de cachondeo //

[282] a mí / en serio /=PAR= Eva no me parece fea //

[325] hhh / ¡ah! / bueno / y Óscar / claro /=PAR= y Óscar //

[409]bueno / ve una [/] una torre / y yo con [/] con Ainhoa / que me contó / que vio una torre / un poco más alta de lo normal / como la [/] por ejemplo / la que está enfrente del Bernabeu / la Torre de España esta / no / la Torre Picasso /=PAR= bueno bueno bueno /=PAR= el rascacielos de Nueva York //

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Efammn04: monólogo no local de trabalho de um amigo do informante, madrilenho, amigos e

histórias de amor através do tempo, gravação não escondida, pesquisador não presente, 4579

palavras. Cabeçalho do texto transcrito:

@Title: love stories blues @File: efammn04 @Participants: HIS, Jorge, (man, A, 3, student, participant, Madrid) @Date: 00/00/2003@Place: Madrid @Situation: at a friend’s working place, not hidden, researcher not present @Topic: friends and love stories through time @Source: C-ORAL-ROM @Class: informal, family/private, monologue@Length: 23’ 03’’@Words: 4579 @Acoustic_quality: A @Transcriber: Manuel @Revisor: Ana; Ana and Guillermo (prosody); Manuel

[2] una canción triste / que empezó en mil novecientos / noventa y cuatro / hace ya casi siete años /=PAR= cuánto tiempo / cuánta gente ...

[7] con lo cual / pues /=PAR= no es que fuese un flechazo precisamente //

[22] en realidad yo quería hacerme a Arantxa / que era una chica con /=SCA= unos /=SCA= pechos prominentes /=PAR= y / Beatriz / debido a la edad / pues se quería hacer a [/] a [/] a Alfonso Piñeiro / que era el / típico chaval que toca la guitarrita / y entonces tenía a todas las niñas encandiladas / no ?

[25] pero bueno / el caso es que terminamos los dos ahí / dándonos paseos / contándonos nuestra vida / completamente borracho / nos vinimos andando desde / vamos /=PAR= toda la Castellana / con todo el grupo de teatro murmurando unos cuantos metros detrás nuestro / y [/] y nada / y al / día siguiente / yo estaba / pelín confuso //

[29] porque / digo /=PAR= considerando que es a mí al que le han dado calabazas / pues no entendía por qué tenía que estar yo consolándola a ella / no ?

[31] Beatriz / después de explicarme / de forma / muy clara / que ella de segundo plato / nada / pues me lo tuve que currar un poquitín /=PAR= pero al final Beatriz y yo terminamos juntos //

[32] y esas no fueron las únicas parejitas del grupo / por otro lado / estuvieron / Marta Méndez / y / Paco Rol / Marta Méndez a mí también más o menos me gustaba / pero bueno / a mí me gustaban todas /=PAR= Cristina era simplemente la que más destacaba //=PAR(1)=

[36] hhh es algo / que si nos lo hubieran dicho entonces hhh / hubiera sido francamente / no sé /=PAR= todo el mundo se lo hubiera tomado un poco a cachondeo / no ?

[64] y [/] y / bueno / la verdad es que era mi amor platónico / en el instituto / éramos / muy buenos amigos / pero ella se lió con Sacris / que era el típico / guaperas / cachillas / simpaticote / y / claro pues /=PAR= en el instituto yo era gafillas con chándal / que hacía teatro / pues / no [/] como que no había color / no ?

[66] y resulta que de pronto / cuatro años después / la mala leche que tiene el destino / o / yo

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qué sé /=PAR= nos encontramos //

[67] y / ella estaba liada con un chico / yo la verdad es que seguía enrollado con Beatriz /=PAR= porque esto fue en septiembre del noventa y seis /=PAR(1)= y cuando ya Beatriz deja de liarse conmigo / y / de pronto / pasa el tiempo / ya / se pone a salir con un chico / a partir de mayo / y ese mismo / puente / en el que se pone a salir / resulta / que / con el que estaba Susana / le deja tirado / pues quedamos ella y yo en / un café / llamado Yulis / donde ahí era [/] ahora / hay un BBV / donde curiosamente es donde empezó a trabajar Paco Rol //

[69] la cuestión es que Susana y yo / después de / poner / verde / ella a los tíos / y yo / a las tías / no por otra cosa / sino porque / claro /=PAR= estábamos muy quemados / por nuestras respec-tivas relaciones / nos liamos //

[75] más o menos / con Cristina y Quique habíamos perdido un poco el contacto / pero por ahí / seguían / pululando / Marta Méndez / hacía tiempo que se había liado con un chico al que todos llamábamos / el monaguillo / por / razones que / son evidentes / y de [//] bueno / esa sí que la dejamos de ver para siempre /=PAR= y Elena / pues / nada / después de dejarlo / Paco y ella / se lió con / el que / por aquel entonces era / casi uno de los / mejores amigos de Paco / diría yo / que era Xabi / teclista de ese famoso grupo / que es / La vaca guano / que / tanto gusta / a [/] a / bueno / pues a todo el mundo hhh //

[80] y / nada / entonces / bueno / llegó un momento que entre / yo con Susana / Paco por ahí / pelín despechado / aunque eso tampoco duraría demasiado / &eh / Maxi más o menos desapa-recido en combate / Paco Rol / muy quemado / muy quemado / muy quemado / porque después de Marta Méndez / bueno / su / trayectoria con las mujeres fue francamente terrible / y luego / hay dos nuevos miembros / que entraron en el grupo /=PAR= por así decirlo /=PAR= que fueron / Sergio / el hermano de Paco / y / Pablo Mármol //

[82] era el abuelo / era el que siempre hacía las / bromas más cachondas / el que / tenía la filosofía sobre la vida / que todos tratábamos de seguir / era / pues eso /=PAR= la fiesta / el desparrame / el jolgorio / tal y cual / hasta el / fatídico día / en el que Paco Limón / no se le ocurrió otra cosa hhh / que presentarle a Carla / la cual estaba loquita por Pablo //

[95] y nada / y / Begoña / pues le gustaba mucho a / Paco Rol / medio se liaron / &eh / Sergio / también le gustaba mucho Begoña / casi se la hizo / Paco Rol se lo tomó muy mal / luego lo dejaron / parece ser que es que / no sé qué movidas hubo /=PAR= algo de que / como Paco Rol tenía la manía de ir con un machete tipo Rambo por ahí / pues creo que ella no se lo tomó muy bien //

[96] y / nada / el caso es que lo dejaron / y después de eso / pues Paco Rol / estaba muy mal / muy / mal / muy deprimido / que las mujeres no le querían / luego tuvo / algunos problemas un poco serios / familiares / pero bueno /=SCA= pues tampoco viene a cuento ahora /=PAR= pero vamos que /=SCA= estaba un poco mal /=PAR= nosotros intentábamos apoyarle / pero bueno / hay veces que una persona / si no se levanta por sí misma / o / por otras cosas / pues / eso //

[102] Beatriz / que se / lió con Paco / Paco / en mayo del / noventa y siete / en un arranque / de amistad / aquí impresionante / pues / decidió + bueno / primero preguntó que si había terminado los exámenes / lo cual fue un detalle por su parte /=PAR= para no &descolocar [/] no descon-centrarme /=PAR(1)= y después me lo contó //

[105] discutimos / tal / dejamos de vernos una temporada / pero al final / pues yo qué sé /=PAR= entre Beatriz y yo hay una cosa muy rara / que todavía no la puedo explicar / porque / después de ser ex / y / todas las movidas que hubo / no sé que hay como una especie de / seguir juntos ahí / un vínculo / muy estrecho / una amistad / una hermandad / o lo que sea / nos llevamos fenomenal

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/ nos queremos muchísimo / hasta el punto de bueno / de haber [///] de que eso / de habernos dicho que / fuera de la familia / la persona que más le importa a cada uno / es la otra //

[128] o sea lo de Cristina y Quique / pues bueno /=PAR= tiene un pase / no ?

[146] fue un año / qué digo dos años //=PAR=

[154] más o menos / digo / porque / yo lo dejé con Susana / en / pues junio / del / noventa y nueve / ya estamos en el noventa y nueve /=PAR= no por nada / o sea Susana / pues era una persona / no sé / yo me lo pasaba fenomenal con ella / en todos los sentidos / o sea yo la quería muchísimo / y estábamos muy bien / pero / desgraciadamente a Susana / digamos /=PAR= que era de estas personas que sus películas favoritas debían ser / La viuda negra / Atracción fatal / y / Instinto básico / y cosas así / no sé / era un / pelín celosa / un pelín posesiva / no es que yo no le diera motivos a veces / yo reconozco / que a veces soy un / poco ligerito de cascos / y que / bueno / hubo algunas / cosas por ahí / algún pequeño / hhh / no escarceo / no pasó nada / lo más que pasó fue un verano / que ella estuvo trabajando fuera / era periodista / y / yo me [///] y había una chica / me gustaba / y estuve a punto de liarme con ella / pero al final no pasó nada //

[161] esto fue / pues eso /=PAR= junio del noventa y nueve //

[171] pero [/] pero / &eh / dio la casualidad / de que / Susana y Paco / estuvieron juntos / yo me cabreé mucho con Susana /=PAR= no por nada /=PAR(1)= estuvieron un par de meses / julio agosto / y [/] no / junio y julio / perdón / y después en / agosto / el día de su cumpleaños / pues nada / ella justo lo había dejado / era su cumpleaños / yo la invité a mi casa / pa<ra> tomar algo / y bueno digamos que / terminamos / tomando algo más que / la comida / y eso //

[189] no sé si se habrá terminado enamorando o no / porque la relación como empezó /=PAR= la verdad /=PAR(1)= me parece / francamente / patético / desde mi punto de vista /=PAR= lo siento mucho /=PAR= pero / considerando cuáles eran las motivaciones de Susana / y cómo lió a Paco Rol / pues / objetivamente no me parece bien //

[192] y seguramente felices lo son / porque cada uno busca en el otro lo que / quiere / el hecho de que dejase tirado / a los que habíamos sido sus amigos / desde / pues eso /=PAR= seis años atrás / no ?

[200] hhh / eso era lo único estable / en el grupo / hhh ciertamente //=PAR=

[209] no es el tipo de chico / del que yo sería amigo / pero reconozco que / por lo menos Bea [///] &eh / pues eso //=PAR=

5�2 Características prosódicas

Para cada parentético encontrado, foram feitas as seguintes medições: (i) F0 média do parentético,

(ii) F0 média do restante do enunciado, (iii) velocidade de fala no parentético e (iv) velocidade

de fala no restante do enunciado. Para tal, os arquivos de áudio dos enunciados que continham

parentéticos foram analisados com o programa Praat. Para obter as medidas (i) e (ii), selecio-

namos o trecho desejado e anotamos o valor médio de F0, que aparece no lado direito da janela

do Praat. Já para (iii) e (iv), dividimos o número de sílabas fonológicas do trecho pela duração

do mesmo, em segundos, que aparece na parte de cima da janela.

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Em alguns casos houve dificuldade de leitura da curva melódica, o que se deve a (i) intensidade

muito baixa, (ii) ruído e (iii) sobreposição de fala. Nesses casos não foi possível determinar o

perfil entonacional, mas foi possível fazer as medições de F0 em alguns deles ao se aproveitar

apenas a parte não comprometida.

Caso houvesse mais de um parentético no enunciado, independentemente se o mesmo apareceu

em posição não contígua ou contígua a outro parentético (independentes entre si), foi dado a eles

tratamento similar no que se refere às medidas e aos perfis entonacionais, ou seja, considerou-se

o parentético isoladamente, sempre com relação ao restante do enunciado. Nos casos de paren-

tético de parentético (o interno depende do externo, pois é uma intervenção sobre o mesmo), as

medidas foram comparadas não ao restante do enunciado, mas àquele parentético ao qual incide

o parentético de nível inferior.

5�2�1 Diálogos

As tabelas abaixo mostram os valores encontrados nas medições de F0 feitas no Praat. A primeira

se refere às medições de F0 média e a segunda mostra os valores de velocidade de elocução.

Texto Enunciado F0 média PAR (Hz)

F0 média restante (Hz)

F0 média do PAR em relação ao restante do enunciado

Efamdl03

136 122,3 130,7 6,4% mais baixa139 146 160,4 9,0% mais baixa147 156,7 169,5 7,6% mais baixa170 137,1 138,1 0,7% mais baixa

Efamdl04

6 181 197,4 8,3% mais baixa13 - 1º PAR 266,4 270,2 1,4% mais baixa13 - 2º PAR 241,8 270,2 10,5% mais baixa

29 229,5 231,2 0,7% mais baixa31 219,8 213,1 3,1% mais alta57 208,3 209,5 0,6% mais baixa68 236,4 219,3 7,8% mais alta

166 224,6 221,4 1,4% mais alta179 123,8 206,3 40,0% mais baixa201 202,1 221,2 8,6% mais baixa

Tabela 1: Medidas de F0 dos parentéticos e dos enunciados nos diálogos.

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Texto Enunciado Velocidade PAR (síl/s)

Velocidade restante (síl/s)

Velocidade do PAR em relação ao restante do enunciado

Efamdl03

136 10,75 8,22 30,8% mais alta139 14,19 5,94 138,8% mais alta147 7,52 6,70 12,2% mais alta170 7,01 4,86 44,2% mais alta

Efamdl04

6 7,46 10,03 25,6% mais baixa13 - 1º PAR 9,16 8,49 7,9% mais alta13 - 2º PAR 8,73 8,49 2,9% mais alta

29 9,15 5,79 58,0% mais alta31 3,99 4,30 7,2% mais baixa57 5,40 4,68 15,4% mais alta68 7,58 3,55 113,4% mais alta

166 8,20 4,80 70,6% mais alta179 7,85 4,64 69,4% mais alta201 10,12 5,49 84,3% mais alta

Tabela 2: Medidas de velocidade de elocução do parentético e dos enunciados nos diálogos.

Na tabela abaixo apresentamos os perfis entonacionais dos parentéticos encontrados nos diálogos.

Texto Enunciado Perfil

Efamdl03

136 Descendente com tônica e postônica finais 11 Hz mais altas que a pretônica imediatamente anterior.

139 Nivelado com tônica final 13 Hz mais alta que a pretônica ime-diadamente anterior.

147 Nivelado com descida de 35 Hz na tônica e postônica finais.170 Impossível determinar: intensidade baixa.

Efamdl04

6 Nivelado com subida de 27 Hz na tônica e postônica finais em relação à pretônica imediatamente anterior.

13 - 1º PAR Nivelado com descida de 60 Hz na tônica final.13 - 2º PAR Nivelado com tônica final 41 Hz mais alta.

29 Ascendente/descendente. A amplitude do movimento é de 49 Hz na subida e de 61 Hz na descida.

31Nivelado com movimento circunflexo na última sílaba, subindo 57 Hz em relação à sílaba imediatamente anterior e descendo 14 Hz.

57 Nivelado.68 Descendente.

166 Descendente.179 Descendente.

201 Nivelado com subida na tônica final de 70 Hz em relação à pretô-nica imediatamente anterior.

Tabela 3: Perfis entonacionais dos parentéticos nos diálogos.

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Destacamos alguns casos.

Parentético dentro de comentário – efamdl03, enunciado 147:

[147] entonces / dependiendo en el puesto / que hayas quedado en la liguilla / pues te toca /=i-

COM= siempre se toca /=PAR= el último con el primero //=COM=

Figura 29: Parentético dentro de Comentário

Parentéticos contíguos independentes – efamdl04, enunciado 13:

[13] o sea / lo que me decía el otro día Nuria / es que / al fin y al cabo /=PAR= lo que ellos han

llegado a la conclusión /=PAR= es / que ella tiene que llamar la atención sobre todo / la atención

de Rubén //

Figura 30: Parentéticos contíguos.

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Parentético dentro de tópico – efamdl04, enunciado 31:

[31] y va a pensar que es /=i-TOP= no sé /=PAR= que todas las chicas /=TOP= que no sean

como ella …

Figura 31: Parentético dentro de Tópico.

5�2�1�1 Síntese dos resultados

Em ambos os diálogos, os 14 parentéticos encontrados apresentaram as características prosódicas

descritas na Teoria da Língua em Ato. Na tabela abaixo vemos os dados relativos a F0 média e

velocidade de elocução:

Efamdl03 Efamdl04 DiálogosPAR com F0 mais baixa 4 100,0% 7 70,0% 11 78,6%PAR com F0 mais alta 0 0,0% 3 30,0% 3 21,4%PAR com velocidade mais alta 4 100,0% 8 80,0% 12 85,7%PAR com velocidade mais baixa 0 0,0% 2 20,0% 2 14,3%Totais 4 100% 10 100% 14 100%

Tabela 4: síntese das características prosódicas dos parentéticos nos diálogos.

Em sua maioria, a média de F0 esteve mais baixa que no restante do enunciado – 78,6% dos

casos, e essa média mais baixa foi, em média, de 8,0% –, assim como a velocidade de elocução

esteve mais alta – 85,7% dos casos, 54,6% de diferença em média.

Quanto aos perfis entonacionais, prevaleceram aqueles já descritos para o italiano: quase a to-

talidade deles foram nivelados ou descendentes (TUCCI, 2003), como se pode ver no Gráfico

1 abaixo:

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Gráfico 1: perfis entonacionais dos parentéticos nos diálogos

No entanto, houve diversas ocorrências de i) tônica e/ou postônica finais mais altas que a pre-

tônica imediatamente anterior, ii) subida na tônica e/ou postônica finais em relação à pretônica

imediatamente anterior e iii) movimento circunflexo (ênfase) nas sílabas finais. Essas modifica-

ções melódicas, que ocorrem no nível local, não chegam a comprometer a configuração básica

do perfil entonacional. Nos diálogos esse fenômeno ocorreu apenas nos parentéticos de perfil

nivelado, conforme ilustra o Gráfico 2:

Gráfico 2: estratificação de fenômenos ocorrentes nos perfis nivelados.

5�2�2 Monólogos

As tabelas abaixo mostram os valores encontrados nas medições de F0 feitas no Praat. A primeira

se refere às medições de F0 média e a segunda mostra os valores de velocidade de elocução.

7%

29%

57%

7%

Ascendente/descendente

Descendente

Nivelado

Impossível determinar

12%

38%

25%

25%

Nivelado

Nivelado com ênfase natônica final

Nivelado com tônica finalalta

Nivelado com tônica finaldescendente

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Texto Enunciado F0 média PAR (Hz)

F0 média restante (Hz)

F0 média do PAR em relação ao restante do enunciado

Efammn03

5 185,2 201,7 8,2% mais baixa8 - 1º PAR 249,8 206,0 21,3% mais alta8 - 2º PAR 191,7 206,0 6,9% mais baixa8 - 3º PAR 193,0 206,0 6,3% mais baixa

13 217,9 201,3 8,2% mais alta36 231,7 215,6 7,5% mais alta

123 236,5 239,7 1,3% mais baixa155 207,7 190,6 9,0% mais alta175 229,0 262,1 12,6% mais baixa180 219,0 233,1 6,0% mais baixa205 196,6 234,0 16,0% mais baixa217 193,4 207,2 6,7% mais baixa229 175,7 231,0 23,9% mais baixa250 180,3 211,2 14,6% mais baixa

254 - 1º PAR 186,0 202,9 8,3% mais baixa254 - 2º PAR 164,2 202,9 19,1% mais baixa254 - 3º PAR 179,0 202,9 11,8% mais baixa

282 206,0 221,3 6,9% mais baixa325 166,1 165,6 0,3% mais alta

409 - 1º PAR 198,5 211,2 6,0% mais baixa409 - 2º PAR 186,7 211,2 11,6% mais baixa

Efammn04

2 105,4 125,4 15,9% mais baixa7 78,9 87,6 9,9% mais baixa

22 88,7 116,5 23,9% mais baixa25 90,8 105,8 14,2% mais baixa29 88,4 108,0 18,2% mais baixa31 97,8 112,3 12,9% mais baixa

32 - 1º PAR 74,9 99,0 24,3% mais baixa32 - 2º PAR 89,0 74,9 18,8% mais alta

36 137,6 148,4 7,3% mais baixa64 74,6 88,4 15,6% mais baixa66 62,3 102,4 39,2% mais baixa

67 - 1º PAR 92,1 108,8 15,3% mais baixa67 - 2º PAR 96,5 92,1 4,8% mais alta

69 95,3 102,0 6,6% mais baixa75 100,1 106,5 6,0% mais baixa

80 - 1º PAR 119,3 117,9 1,2% mais alta80 - 2º PAR 126,1 117,9 7,0% mais alta

82 Não foi possível medir F0 devido à baixa intensidade.95 82,2 106,7 23,0% mais baixa

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Texto Enunciado F0 média PAR (Hz)

F0 média restante (Hz)

F0 média do PAR em relação ao restante do enunciado

Efammn04

96 - 1º PAR 75,1 90,1 16,6% mais baixa96 - 2º PAR 80,5 90,1 10,7% mais baixa

102 - 1º PAR 97,6 111,1 12,2% mais baixa102 - 2º PAR 93,0 97,6 4,7% mais baixa

105 98,9 101,3 2,3% mais baixa128 95,0 94,8 0,2% mais alta146 79,7 93,3 14,6% mais baixa

154 - 1º PAR 85,1 115,6 26,4% mais baixa154 - 2º PAR 123,1 115,6 6,5% mais alta

161 104,1 99,6 4,5% mais alta171 - 1º PAR 95,4 119,8 20,4% mais baixa171 - 2º PAR 117,3 119,8 2,1% mais baixa189 - 1º PAR 91,2 88,6 2,9% mais alta189 - 2º PAR 87,7 91,2 3,8% mais baixa189 - 3º PAR 91,5 88,6 3,3% mais alta189 - 4º PAR 83,4 91,5 8,9% mais baixa

192 77,6 81,1 4,3% mais baixa200 95,3 120,6 21,0% mais baixa209 84,3 103,0 18,2% mais baixa

Tabela 5: Medidas de F0 dos parentéticos e dos enunciados nos monólogos.

Texto Enunciado Velocidade PAR (síl/s)

Velocidade restante (síl/s)

Velocidade do PAR em relação ao restante do enunciado

Efammn03

5 6,71 2,46 173,2% mais alta8 - 1º PAR 8,22 6,34 29,7% mais alta8 - 2º PAR 6,40 6,34 0,9% mais alta8 - 3º PAR 8,80 6,34 38,7% mais alta

13 6,17 6,11 0,9% mais alta36 8,84 8,55 3,4% mais alta

123 8,55 6,76 26,3% mais alta155 12,74 5,97 113,5% mais alta175 8,08 4,33 86,8% mais alta180 7,16 5,96 20,1% mais alta205 9,59 6,66 44,1% mais alta217 17,09 11,02 55,1% mais alta229 7,21 9,04 20,2% mais baixa250 10,25 3,96 158,5% mais alta

254 - 1º PAR 9,40 5,76 63,3% mais alta254 - 2º PAR 7,56 5,76 31,3% mais alta254 - 3º PAR 7,12 5,76 23,7% mais alta

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Texto Enunciado Velocidade PAR (síl/s)

Velocidade restante (síl/s)

Velocidade do PAR em relação ao restante do enunciado

Efammn03

282 8,77 8,42 4,1% mais alta325 12,05 6,05 99,1% mais alta

409 - 1º PAR 9,46 3,78 150,5% mais alta409 - 2º PAR 7,59 3,78 101,1% mais alta

Efammn04

2 19,69 2,86 587,8% mais alta7 3,51 7,54 53,5% mais baixa

22 4,16 7,13 41,7% mais baixa25 6,47 5,87 10,3% mais alta29 10,47 10,22 2,5% mais alta31 6,25 5,43 15,1% mais alta

32 - 1º PAR 8,45 6,31 33,9% mais alta32 - 2º PAR 8,32 8,45 1,5% mais baixa

36 5,73 7,23 20,8% mais baixa64 6,07 6,55 7,3% mais baixa66 6,59 5,01 31,7% mais alta

67 - 1º PAR 9,81 5,80 69,2% mais alta67 - 2º PAR 6,32 9,81 35,6% mais baixa

69 9,95 6,09 63,3% mais alta75 8,35 5,62 48,6% mais alta

80 - 1º PAR 8,85 5,36 65,0% mais alta80 - 2º PAR 7,96 5,33 49,3% mais alta

82 7,09 5,10 39,1% mais alta95 7,27 6,13 18,5% mais alta

96 - 1º PAR 10,30 5,62 83,3% mais alta96 - 2º PAR 8,53 5,57 53,0% mais alta

102 - 1º PAR 8,19 4,53 80,9% mais alta102 - 2º PAR 6,26 8,20 23,6% mais baixa

105 5,96 6,73 11,5% mais baixa128 8,31 9,24 10,1% mais baixa146 7,70 8,53 9,7% mais baixa

154 - 1º PAR 7,32 5,97 22,5% mais alta154 - 2º PAR 4,28 5,86 26,9% mais baixa

161 7,06 7,42 4,9% mais baixa171 - 1º PAR 9,78 5,03 94,6% mais alta171 - 2º PAR 3,93 5,00 21,4% mais baixa189 - 1º PAR 9,08 5,25 73,0% mais alta189 - 2º PAR 9,97 9,08 9,7% mais alta189 - 3º PAR 9,83 5,10 92,6% mais alta189 - 4º PAR 6,75 9,83 31,3% mais baixa

192 9,55 7,13 34,0% mais alta

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75

Texto Enunciado Velocidade PAR (síl/s)

Velocidade restante (síl/s)

Velocidade do PAR em relação ao restante do enunciado

Efammn04200 4,35 7,06 38,4% mais baixa209 6,68 6,58 1,6% mais alta

Tabela 6: Medidas de velocidade de elocução do parentético e dos enunciados nos monólogos.

A tabela a seguir apresenta os perfis entonacionais encontrados nos monólogos.

Texto Enunciado Perfil

Efammn03

5 Descendente.8 - 1º PAR Ascendente.8 - 2º PAR Nivelado.

8 - 3º PARNivelado com ênfase final, com F0 subindo 100 Hz na tônica final, em relação à pretônica imediatamente anterior, e descendo 100 Hz.

13 Nivelado com tônica final 50 Hz mais alta que a pretônica ime-diatamente anterior.

36 Ascendente.123 Ascendente/descendente.155 Ascendente.

175Nivelado com ênfase na tônica final, com F0 subindo 250 Hz, em relação à pretônica imediatamente anterior, e descendo 275 Hz na postônica.

180 Nivelado com o início da tônica final 50 Hz mais alto, em relação à pretônica imediatamente anterior, e descendo 35 Hz.

205 Descendente com o início da tônica final 30 Hz mais alto, em re-lação à pretônica imediatamente anterior, e descendo 60 Hz.

217Descendente com movimento circunflexo na tônica final, subindo 40 Hz , em relação à pretônica imediatamente anterior, e descendo 35 Hz na postônica.

229 Nivelado com tônica final 50 Hz mais alta que a pretônica ime-diatamente anterior.

250 Nivelado com tônica e postônica finais 30 Hz mais altas que a pretônica imediatamente anterior.

254 - 1º PAR Ascendente/descendente com subida na tônica e na postônica final de 78 Hz em relação à pretônica imediatamente anterior.

254 - 2º PAR Ascendente/descendente.254 - 3º PAR Ascendente/descendente.

282 Nivelado com tônica final 40 Hz mais alta que a pretônica imedia-tamente anterior e descendo 30 Hz na postônica.

325 Nivelado.

409 - 1º PAR Basicamente nivelado mas não inteiramente confiável devido à baixa intensidade a partir da pretônica final.

409 - 2º PAR Descendente com ênfase (movimento circunflexo) em cada uma das três tônicas da unidade.

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Texto Enunciado Perfil

Efammn04

2 Nivelado com subida na tônica e postônica finais de 50 Hz, em relação à pretônica imediatamente anterior.

7 Descendente.22 Nivelado.25 Descendente.29 Nivelado.31 Ascendente.

32 - 1º PAR Nivelado.32 - 2º PAR Nivelado.

36 Nivelado com tônica final 40 Hz mais alta que a pretônica ime-diatamente anterior.

64 Impossível determinar: baixa intensidade.66 Impossível determinar: baixa intensidade.

67 - 1º PAR Descendente com tônica final 30 Hz mais alta que a pretônica imediatamente anterior.

67 - 2º PAR Nivelado com tônica final 24 Hz mais alta que a pretônica imedia-tamente anterior e descendo 25 Hz.

69 Nivelado

75 Nivelado com tônica e postônicas finais 30 Hz mais altas que a pretônica imediatamente anterior.

80 - 1º PAR Nivelado com tônica e postônica finais 128 Hz mais altas que a pretônica imediatamente anterior.

80 - 2º PAR Nivelado com tônica e postônica finais 92 Hz mais altas que a pretônica imediatamente anterior.

82 Impossível determinar: baixa intensidade.95 Nivelado.

96 - 1º PAR Nivelado com tônica e postônica finais 92 Hz mais altas que a pretônica imediatamente anterior.

96 - 2º PAR Nivelado com tônica final 25 Hz mais alta que a pretônica ime-diatamente anterior.

102 - 1º PAR Nivelado.102 - 2º PAR Nivelado.

105 Descendente, mas não é um traçado inteiramente confiável, por haver ruído.

128 Nivelado.146 Nivelado.

154 - 1º PAR Ascendente.154 - 2º PAR Nivelado.

161 Impossível determinar: baixa intensidade.

171 - 1º PAR Nivelado com tônica e postônica finais aproximadamente 25 hz mais altas que a pretônica imediatamente anterior.

171 - 2º PAR Descendente com tônica e postônica finais aproximadamente 24 hz mais altas que a pretônica imediatamente anterior.

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Texto Enunciado Perfil

Efammn04

189 - 1º PAR Nivelado com tônica final 15 Hz mais alta que a pretônica ime-diatamente anterior.

189 - 2º PAR Nivelado com tônica final 12 Hz mais alta que a pretônica ime-diatamente anterior.

189 - 3º PAR Nivelado.189 - 4º PAR Nivelado.

192 Nivelado.200 Nivelado.209 Impossível determinar: baixa intensidade.

Tabela 7: Perfis entonacionais dos parentéticos nos diálogos.

Destacamos alguns casos.

Parentéticos não-contíguos no mesmo enunciado – efammn03, enunciado 8:

[8] y nada / entonces / me contó una historia / que yo de verdad /=PAR= es que no sé si tú sabes

/ que es que mi abuelo / es rico / entonces /=PAR= claro tiene haciendas y / una herencia que

me va a dejar / cuando mi abuelo se muera /=PAR= pero claro / yo no quiero que se muera para

nada / eh / porque yo le quiero un montón / y tal y cual //

Figura 32: Parentéticos não contíguos

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Ênfase final em parentético longo – efammn03, enunciado 175:

[175] y Quique se mete con él [/] Quique se mete con él [/] se mete con él / que no sé para qué

se mete / porque también te puedes meter tú con Quique //=PAR=

Figura 33: Ênfase final em Parentético longo

Parentéticos escansionados – efammn04, enunciado 22:

[22] en realidad yo quería hacerme a Arantxa / que era una chica con /=SCA= unos /=SCA=

pechos prominentes /=PAR= y / Beatriz / debido a la edad / pues se quería hacer a [/] a [/] a

Alfonso Piñeiro / que era el / típico chaval que toca la guitarrita / y entonces tenía a todas las

niñas encandiladas / no ?

Figura 34: Parentético escansionado

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Parentético de parentético – efammn04, enunciado 32

[32] y esas no fueron las únicas parejitas del grupo / por otro lado / estuvieron / Marta Méndez

/ y / Paco Rol / Marta Méndez a mí también más o menos me gustaba / pero bueno / a mí me

gustaban todas /=PAR= Cristina era simplemente la que más destacaba //=PAR(1)=

Figura 35: parentético de parentético

Parentéticos escansionados contíguos – efammn04, enunciado 96:

[96] y / nada / el caso es que lo dejaron / y después de eso / pues Paco Rol / estaba muy mal /

muy / mal / muy deprimido / que las mujeres no le querían / luego tuvo / algunos problemas un

poco serios / familiares / pero bueno /=SCA= pues tampoco viene a cuento ahora /=PAR= pero

vamos que /=SCA= estaba un poco mal /=PAR= nosotros intentábamos apoyarle / pero bueno /

hay veces que una persona / si no se levanta por sí misma / o / por otras cosas / pues / eso //

Figura 36: parentéticos escansionados contíguos

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Parentético de parentético e parentéticos contíguos em um mesmo enunciado – efammn04,

enunciado 189:

[189] no sé si se habrá terminado enamorando o no / porque la relación como empezó /=PAR=

la verdad /=PAR(1)= me parece / francamente / patético / desde mi punto de vista /=PAR= lo

siento mucho /=PAR= pero / considerando cuáles eran las motivaciones de Susana / y cómo lió

a Paco Rol / pues / objetivamente no me parece bien //

Figura 37: parentético de parentético e parentéticos contíguos

5�2�2�1 Síntese dos resultados

Também nos monólogos, do 59 parentéticos encontrados, a maioria apresentou as características

prosódicas daqueles descritos no italiano. Na tabela abaixo3 vemos os dados relativos a F0 média

e velocidade de elocução:

efammn03 efammn04 monólogosPAR com F0 mais baixa 16 76,2% 28 75,7% 44 75,9%PAR com F0 mais alta 5 23,8% 9 24,3% 14 24,1%PAR com velocidade mais alta 20 95,2% 23 60,5% 43 72,9%PAR com velocidade mais baixa 1 4,8% 15 39,5% 16 27,1%Totais 21 100% 38 100% 59 100%

Tabela 8: síntese das características prosódicas dos parentéticos nos monólogos

A média de F0 esteve mais baixa que no restante do enunciado em 75,9% dos casos, e essa valor

foi de, em média, de 12,3%, assim como em 72,9% dos parentéticos a velocidade de elocução

esteve mais alta que no restante do enunciado, em média 68,7% mais alta.

3 O total de parentéticos no texto efammn04 é discrepante ao se somarem ocorrências de F0 mais baixa e de mais alta pelo fato de ter sido impossível fazer a medição em um dos parentéticos encontrados.

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Em relação a seus perfis entonacionais, prevaleceu também o estabelecido na Teoria da Língua em

ato: a maioria dos parentéticos apresentou perfil nivelado ou descendente. Vide o Gráfico 3:

Gráfico 3: perfis entonacionais dos parentéticos nos textos monológicos.

Assim como nos diálogos, houve i) tônica e/ou postônica finais mais altas que a pretônica ime-

diatamente anterior, ii) subida na tônica e/ou postônica finais em relação à pretônica imediata-

mente anterior e iii) movimento circunflexo (ênfase) nas sílabas finais, mas de diferentemente de

como ocorre nos diálogos, esses fenômenos apareceram em perfis nivelados e também em perfis

descendentes. Vejam-se as ocorrências desses fenômenos no Gráfico 4 para os perfis nivelados

e no Gráfico 5 para os perfis descendentes.

Gráfico 4: estratificação dos fenômenos ocorrentes nos perfis nivelados

9%

15%

7%

8%

61%

Ascendente

Descendente

Ascendente/descendente

Impossível determinar

Nivelado

50%

42%

3% 5%

Nivelado

Nivelado com tônica finalalta

Nivelado com subida natônica final

Nivelado com ênfase natônica final

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82

Gráfico 5: estratificação dos fenômenos ocorrentes nos perfis descendentes.

5�3 Aspectos morfossintáticos

Foi feita a classificação dos parentéticos encontrados de acordo com os seguintes critérios:

posição: em posição final do enunciado ou em seu interior;•

tamanho: parentéticos longos (metalingüísticos, que inserem comentários) ou curtos •

(modalizadores)4;

violação do isomorfismo: escansionados ou não escansionados;•

nível: encaixados (quando são parentéticos de parentéticos) ou não-encaixados;•

presença de verbo: verbais ou adverbiais (ausência de verbo como elemento definidor).•

5�3�1 Diálogos

Texto Enunciado Posição Tamanho Violação do iso-morfismo Nível Presença

de verbo

Efamdl03

136 Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Verbal139 Interno Longo Não-escansionado Não-encaixado Adverbial147 Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Verbal170 Final Curto Não-escansionado Não-encaixado Verbal

Efamdl04

6 Final Curto Não-escansionado Não-encaixado Adverbial13 - 1º PAR Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Adverbial13 - 2º PAR Interno Longo Não-escansionado Não-encaixado Verbal

29 Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Verbal31 Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Verbal

4 TUCCI (2007).

56% 33%

11%

Descendente

Descendente com tônicafinal alta

Descendente com ênfase natônica final

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83

Texto Enunciado Posição Tamanho Violação do iso-morfismo Nível Presença

de verbo

Efamdl04

57 Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Adverbial68 Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Verbal

166 Final Curto Não-escansionado Não-encaixado Verbal179 Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Adverbial201 Interno Longo Não-escansionado Não-encaixado Verbal

5�3�1�1 Síntese dos resultados

Nos diálogos houve maior incidência de parentéticos curtos, tanto adverbiais como verbais.

Veja-se a Tabela 1 abaixo:

Adverbiais Verbais TotalCurtos 4 7 11Finais 1 2 3

Internos 3 5 8Longos 1 2 3Finais 1 2 3

Internos 0 0 0Total 5 9 14

Tabela 9: classificação e distribuição dos parentéticos nos diálogos.

Entre os curtos, apareceram mais parentéticos internos ao enunciados do que aqueles que os

finalizam. Ainda entre os parentéticos curtos, independendemente de sua posição no enunciado,

houve maior número de parentéticos verbais.

Entre os parentéticos longos (apenas três ocorrências no total), não houve nenhum caso de pa-

rentético interno ao enunciado, todos eles ocorreram em posição final, sendo que dois deles são

do tipo verbal.

Em ambos os diálogos não apareceu nenhum parentético encaixado ou escansionado.

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5�3�2 Monólogos

Texto Enunciado Posição Tamanho Violação do iso-morfismo Nível Presença

de verbo

Efamdl03

5 Final Curto Não-escansionado Não-encaixado Adverbial8 - 1º PAR Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Adverbial8 - 2º PAR Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Adverbial8 - 3º PAR Interno Longo Não-escansionado Não-encaixado Verbal

13 Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Verbal36 Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Verbal

123 Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Verbal155 Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Verbal175 Final Longo Não-escansionado Não-encaixado Verbal180 Final Curto Não-escansionado Não-encaixado Verbal205 Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Adverbial217 Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Adverbial229 Final Curto Não-escansionado Não-encaixado Verbal250 Final Longo Não-escansionado Não-encaixado Verbal

254 - 1º PAR Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Adverbial254 - 2º PAR Interno Longo Não-escansionado Não-encaixado Verbal254 - 3º PAR Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Adverbial

282 Interno Longo Não-escansionado Não-encaixado Verbal325 Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Adverbial

409 - 1º PAR Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Adverbial409 - 2º PAR Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Adverbial

Efamdl04

2 Interno Longo Não-escansionado Não-encaixado Verbal7 Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Adverbial

22 Interno Longo Escansionado Não-encaixado Verbal25 Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Verbal29 Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Verbal31 Interno Longo Não-escansionado Não-encaixado Verbal

32 - 1º PAR Interno Longo Não-escansionado Não-encaixado Verbal32 - 2º PAR Interno Longo Não-escansionado Encaixado Verbal

36 Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Verbal64 Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Adverbial66 Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Verbal

67 - 1º PAR Interno Longo Não-escansionado Não-encaixado Verbal67 - 2º PAR Interno Longo Não-escansionado Encaixado Verbal

69 Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Adverbial75 Interno Longo Não-escansionado Não-encaixado Verbal

80 - 1º PAR Interno Longo Não-escansionado Não-encaixado Verbal80 - 2º PAR Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Verbal

82 Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Adverbial95 Interno Longo Não-escansionado Não-encaixado Verbal

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Texto Enunciado Posição Tamanho Violação do iso-morfismo Nível Presença

de verbo

Efamdl04

96 - 1º PAR Interno Longo Escansionado Não-encaixado Verbal96 - 2º PAR Interno Longo Escansionado Não-encaixado Verbal

102 - 1º PAR Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Verbal102 - 2º PAR Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Adverbial

105 Final Curto Não-escansionado Não-encaixado Verbal128 Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Adverbial146 Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Adverbial

154 - 1º PAR Final Curto Não-escansionado Não-encaixado Adverbial154 - 2º PAR Final Curto Não-escansionado Não-encaixado Adverbial

161 Interno Longo Não-escansionado Não-encaixado Verbal171 - 1º PAR Interno Longo Não-escansionado Encaixado Verbal171 - 2º PAR Interno Longo Não-escansionado Não-encaixado Verbal189 - 1º PAR Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Verbal189 - 2º PAR Interno Longo Não-escansionado Não-encaixado Verbal189 - 3º PAR Interno Curto Não-escansionado Encaixado Adverbial189 - 4º PAR Interno Longo Não-escansionado Não-encaixado Verbal

192 Interno Curto Não-escansionado Encaixado Adverbial200 Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Adverbial209 Interno Curto Não-escansionado Não-encaixado Adverbial

5�3�2�1 Síntese dos resultados

Do mesmo modo que nos diálogos, houve maior ocorrência de parentéticos verbais. No entanto,

estes tiveram um comportamento distribucional distinto nos monólogos, como se pode perceber

na Tabela 2 abaixo:

Adverbiais Verbais TotalCurtos 23 14 37Finais 3 3 6

Internos 20 11 31Longos 0 22 22Finais 0 2 2

Internos 0 20 20Total 23 36 59

Tabela 10: classificação e distribuição dos parentéticos nos monólogos.

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Houve maior número de parentéticos curtos adverbiais (23 ocorrências) que verbais (14 ocor-

rências). Quanto à sua posição no enunciado, não houve diferença de número de parentéticos

adverbiais e verbais em posição final de enunciado (três ocorrências de cada). No entanto, entre

os parentéticos internos, houve quase o dobro de ocorrências de adverbiais com relação aos

verbais (20 adverbiais e 11 verbais).

Entre os parentéticos longos, não apareceu nenhuma ocorrência do tipo adverbial. Quanto à

posição no enunciado, seguiram o mesmo comportamento dos parentéticos curtos, havendo

mais ocorrências de parentéticos internos (20 ocorrências) em relação àqueles em posição final

de enunciado (2 ocorrências).

5�4 Freqüência de uso

Levando-se em conta a pequena amostra estudada, esta análise teve como objetivo fazer uma breve

descrição do comportamento da freqüência de uso de parentéticos nas duas modalidades estudadas.

Segundo a Teoria da Língua em ato, o diálogo prototípico teria enunciados com menos unidades infor-

macionais em comparação com os monólogos. Para verificar se tal comportamento se aplica aos textos

estudados, dividimos o número de unidades tonais de cada texto pelo número de enunciados.

Como esperado, os textos dialógicos tiveram uma média de 2,2 unidades tonais por enunciado,

e os monólogos chegaram a 4,3. Com relação à duração média das unidades tonais, tanto em

segundos quanto em palavras, não houve diferença significativa entre os textos, como se pode

verificar na Tabela 3:

Texto PalavrasUnidades tonais por enunciado

Duração média da unidade

tonal (s)

Palavras por unidade tonal

Parentéticos a cada 100 enuciados

efamdl03 1603 2,2 0,8 3,1 1,7efamdl04 1527 2,3 1,1 3,4 5,1Diálogos 3130 2,2 0,9 3,2 3,2

efammn03 4694 3,4 1,0 3,2 4,8efammn04 4633 6,1 1,0 3,3 16,5Monólogos 9327 4,3 1,0 3,2 8,8

Tabela 11: síntese dos dados de duração e freqüência de uso dos parentéticos.

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No que diz respeito à freqüência de uso propriamente dita, com o intuito de compararmos amostras

de tamanhos diferentes – os diálogos estudados têm uma média de 1500 palavras, enquanto que

nos monólogos esse número chega a 4500 –, calculamos a freqüência relativa de parentéticos nos

textos. Para tal, dividimos o número de parentéticos de cada texto pelo número de enunciados

e multiplicamos o resultado por 100, visando a normalização dos dados. Dessa forma, conse-

guimos chegar a uma estimativa de quantos parentéticos cada texto tem a cada 100 enunciados,

podendo-se assim comparar os diálogos e os monólogos a partir de um mesmo parâmetro.

Nos diálogos houve uma média de 3,2 parentéticos a cada 100 enunciados. Já nos monólogos

essa média chegou a 8,8 parentéticos a cada 100 enunciados.

A própria natureza dos textos explica essa diferença: nos diálogos, há mais ação, o que pode levar

o falante a produzir menos inserções parentéticas, além do menor tamanho médio dos enunciados.

O comportamento oposto dos monólogos se deve justamente ao caráter menos acional, mais

elaborado, com baixa ativação emotiva, o que induz o falante a introduzir mais parentéticos.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo teve como objetivo fazer uma análise exploratória da unidade informacional

de parentético na fala espontânea da língua espanhola à luz da Teoria da Língua em Ato em uma

amostra extraída do macro-corpus C-ORAL-ROM.

O primeiro aspecto abordado no trabalho foram os possíveis perfis entonacionais dos parentéticos

encontrados nos textos.

A grande maioria dos parentéticos apresentou características prosódicas semelhantes àquelas

dos parentéticos em italiano estudados anteriormente, que são: perfil entonacional nivelado ou

descendente, média de F0 mais baixa que no restante do enunciado, velocidade de elocução mais

alta que no restante do enunciado, apesar de haver casos em que a média de F0 fosse mais alta

que no restante do enunciado e a velocidade de elocução mais baixa – fato também presente

nos estudos do italiano (TUCCI, 2003). Entre aqueles de perfil nivelado, identificamos várias

ocorrências de i) tônica e/ou postônica finais mais altas que a pretônica imediatamente anterior,

ii) subida na tônica e/ou postônica finais em relação à pretônica imediatamente anterior e iii)

movimento circunflexo (ênfase) nas sílabas finais. Quanto àqueles de perfil descendente, encon-

tramos os mesmos fenômenos descritos anteriormente apenas nos monólogos.

O segundo aspecto estudado foram os correlatos morfossintáticos de tais unidades.

Nos diálogos prevaleceram os parentéticos curtos, que têm função de modalizadores. Nessa

categoria, prevalecem expressões como me parece e o verbo creer, indicando juízo de proba-

bilidade, mas também aparecem modalizadores como más o menos, no sé, a lo mejor, etc., que

indicam menos comprometimento do falante em relação ao valor de verdade de seu enunciado.

Já os parentéticos longos se constituem de numerosas ilocuções distintas, mas sempre com

função metalingüística, seja ao comentar ilocuções, introduzir exemplos, dar explicações ou até

correções de enunciações anteriores.

Nos monólogos também surgem parentéticos curtos, embora em proporção bastante menor.

Levando-se em conta a maior extensão dos enunciados nos monólogos, especialmente no segundo

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analisado, supõe-se que tal fato aconteça justamente pela natureza dos monólogos, de caráter

menos acional, nos quais se fornecem mais detalhes e explicações sobre o que se está dizendo/

contando (o segundo monólogo em especial tem mais esse caráter narrativo, pelo próprio assunto

tratado). Tal característica também explica o fato de nos monólogos haver maior freqüência de

uso de parentéticos, chegando essa a quase o triplo da freqüência de uso nos diálogos.

Contrariamente ao italiano, língua em que os parentéticos já foram estudados com mais profun-

didade aplicando-se a Teoria da Língua em Ato, no espanhol há maior presença de parentéticos

adverbiais, pelo menos nos textos monológicos analisados, o que merece um estudo mais deta-

lhado, com corpus mais extenso, para verificação dessa tendência.

Por fim, outra particularidade encontrada nos parentéticos estudados foi a freqüente cauda final

ou tônica/postônica finais mais altas na unidade de parentético, o que acontece com menos fre-

qüência e menos intensidade no italiano e no português brasileiro (VALE, em preparação).

Não se pretende dizer em definitivo que sejam essas características da unidade de parentético em

espanhol, mas talvez se devam continuar os estudos sobre a estrutura informacional da língua

espanhola para se poder contrastar com os resultados já consolidados em italiano, abrindo-se

o leque de possibilidade de estudos prosódicos e pragmáticos interlingüísticos, especialmente

com as línguas contidas no macro-corpus C-ORAL-ROM e no corpus do português brasileiro

C-ORAL-BRASIL, ainda em desenvolvimento.

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