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A TRAMA DAS PALAVRAS

Autor: Neri Emilio Dariva 1

Orientador: Dr. Alexandre Sebastião Ferrari Soares2

RESUMO

O objetivo deste artigo é analisar, com base na perspectiva teórica da Análise de

Discurso de linha francesa, charge, cartum, propaganda, notícia, poema, artigo de

opinião e letra de música, isto é, os discursos do cotidiano escolar. AD compreende

como os objetos simbólicos produzem sentidos; analisando, assim, os gestos de

interpretação que ela considera como atos no domínio simbólico, pois eles intervêm

no sentido; trabalha seus limites, seus mecanismos, como parte dos processos de

significação. O estudo é para que os alunos compreendam os discursos que os

cercam e possam ter condições de interagir com uma gama de textos com diferentes

funções sociais. Percebam, assim, que os discursos estão carregados de conteúdo

ideológico e servem de trama a todas as relações sociais. De acordo com as

Diretrizes Curriculares da Educação Básica (2008), “é importante ponderar a

pluralidade de leituras que alguns textos permitem; o que é diferente de afirmar que

qualquer leitura é aceitável.

Palavras-chave: análise do discurso; funções de linguagem; ideologias.

1 Pós-graduado em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. Colégio Estadual Alberto Santos Dumont. 2 Doutorado em Letras. Universidade Estadual do Paraná – UNIOESTE.

2

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo é resultado do estudo realizado durante o Programa de

Desenvolvimento Educacional (PDE), proporcionado para professores da rede

Estadual de Ensino. Está fundamentado no desenvolvimento da Sequência Didática

produzida nesse período. Ao organizar o ensino de língua portuguesa, usando a

sequência didática para trabalhar o discurso dentro do gênero textual escolhido, o

professor explora diversos exemplares desse gênero, estuda suas características

próprias e leva seus alunos a analisar os efeitos de sentido. Segundo os autores

Dolz, Schneuwly e Pietro (1998, p. 93), sequência didática é a “um conjunto de

módulos escolares organizadas sistematicamente em torno de uma atividade de

linguagem dentro de um projeto de classe”.

Para organizar o trabalho de Análise do Discurso de um gênero textual, em

sala de aula, sugerimos a seguinte sequência didática:

1. Apresentação da proposta;

2. Partir do conhecimento prévio dos alunos;

3. Contato inicial com o gênero textual em estudo;

4. Análise do discurso;

5. Organização e sistematização do conhecimento: estudar dos efeitos de sentido

produzidos e correlacioná-los com o estilo do sujeito enunciador e com o gênero

discursivo;

6. Estudo das funções de linguagem.

Todas as atividades humanas estão relacionadas com a utilização de

linguagens e essas não são apenas feitas de palavras, mas de cores, formas, gestos

etc. Para se tornarem linguagem, tais elementos necessitam obedecer a regras que

lhes permitam entrar no jogo da comunicação. Uma delas é que toda manifestação

da linguagem se dá por meio de textos, os quais surgem de acordo com as

diferentes atividades humanas e podem ser agrupados em gêneros textuais.

“texto é um conjunto de palavras, frases escritas, trecho ou fragmento da

obra de um autor”. (HOUAISS, 2004, p. 718).

O texto é a unidade que o analista tem diante de si e da qual ele parte. O que faz ele diante de um texto? Ele o remete imediatamente

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a um discurso que, por sua vez, se explicita imediatamente a um discurso que, por sua vez, se4 explicita em suas regularidades pela sua referência a uma ou outra formação discursiva que, por sua vez, ganha sentido porque deriva de um jogo definido pela formação ideológica dominante naquela conjuntura. (ORLANDI, 2001, p.63)

Na Sequência Didática elaborada para utilização durante o processo de

implementação do Projeto de Intervenção na escola, investigam-se os efeitos de

sentido de gêneros textuais; não é uma abordagem teórica. O intuito é analisar o

discurso. Ela é produto de um conjunto de aulas elaboradas com base na

perspectiva teórica da Análise de Discurso de linha francesa. As atividades são

planejadas para analisar discursos do cotidiano escolar.

São realizadas atividades que propiciam a investigação dos efeitos de

sentido, tendo em vista o gênero a ser lido: do conteúdo temático, da finalidade, dos

possíveis interlocutores, das vozes presentes no discurso e o papel social que elas

representam, das ideologias apresentadas no texto, da fonte, dos argumentos

elaborados, da intertextualidade.

As DCE afirmam que o professor tem o papel de promover o amadurecimento do domínio discursivo para que os estudantes compreendam e possam interferir nas relações de poder com seus próprios pontos de vista. Esse domínio das análises discursivas possibilitará que os alunos modifiquem, aprimorem, reelaborem sua visão de mundo e tenham voz na sociedade. Segundo (DCE 2008, p. 64) (grifos meus).

O trabalho com os discursos, na Sequência Didática, pressupõe um modo

próprio de se relacionar com a linguagem e com as DCE da Língua Portuguesa.

Exploraram-se os diversos discursos dentro do texto escolhido.

O objetivo é a compreensão de como um texto produz sentidos, como ele

está investido de significância para e por sujeitos. Compreender por que tem outros

sentidos e como se constituem.

No início da sequência didática, foram apresentados os textos a serem lidos,

ressaltando a importância de analisar os discursos presentes neles. Verificou-se se

os alunos sabiam em que situações sociais esses textos são produzidos, com que

finalidade, para que leitor, e em que suportes textuais são encontrados. Também

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foram apresentados o plano de análise do discurso, o objetivo da proposta e cada

uma das etapas de trabalho.

Ao iniciar o trabalho com “Poema”, os alunos encontraram a sala de aula

repleta de textos poéticos e, também, muitos livros de poemas para leituras. O texto

pode ser redigido sob a forma de verso, estrofes ou prosa. Para motivar o aluno à

leitura e à análise, conversamos sobre o efeito de sentido da leitura dos poemas:

“Ontem, eu chorei”, da autora Neiva Dariva e Rios sem discurso, de João de Melo

Neto.

Na sequência didática dois, sobre o gênero textual artigo de opinião,

foram analisados os discursos dos textos: “Estamos com fome de amor”, de Arnaldo

Jabor, e “Pulseirinhas do sexo”, de Pedro Cardoso da Costa.

Os artigos de opinião são importantes instrumentos para a formação do aluno.

Aprender a ler e a analisar esse gênero na escola contribui para a capacidade de

argumentar com propriedade nas discussões sobre questões polêmicas. O

articulista, ao escrever um artigo, parte de uma questão polêmica de relevância

social, criada em torno de um fato que foi notícia. Sem a polêmica não existe artigo.

Ele assume uma posição, defende-a e dialoga com diferentes pontos de vista.

É um texto jornalístico, em prosa, de caráter dissertativo-argumentativo que

apresenta o ponto de vista do autor ou autores a respeito de determinado assunto

considerado de interesse no momento.

Foram analisados os discursos de charge e de cartum, na sequência

didática três. Charge relata um fato ocorrido em uma época definida, dentro de um

determinado contexto cultural, econômico e social específico e que depende do

conhecimento desses fatores para ser entendida. É uma piada efêmera, com data

de validade, porque relata fatos de um momento específico. Fora desse contexto

ela perde sua força comunicativa, portanto é perecível. Já o cartum,ao contrário da

charge, relata um fato universal que não depende do contexto específico de uma

época ou cultura, sendo assim atemporal. É uma piada perene, porque se refere a

características e situações duradouras.

Os conceitos de texto e de leitura não se restringem à linguagem escrita; abrangem, além dos textos escritos e falados: a integração da linguagem verbal com as outras linguagens (DCE, 2006, p. 21). (... as charges.).

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O gênero musical foi abordado, na sequência didática quatro. Para

incentivar e promover o prazer da análise do discurso desse gênero textual, ouvimos

e analisamos as músicas: Comida (Titãs) e Cidadão (Zé Ramalho). Saber analisar

discurso é a chave para a efetivação da cidadania, pois é o falar e o ser entendido

que está em questão.

Não é adequado o professor, na sala de aula, adotar uma atitude de

preconceito ao gênero musical de seus alunos. Antes, deve tentar compreender o

porquê de tais escolhas e direcionar seus esforços para apresentar novos horizontes

ao alunado tão vazio, muitas vezes de conhecimentos de várias ordens, não se

apresentando nenhuma alternativa para uma escolha pensada mais logicamente.

Temos de ter em mente que as manifestações artísticas na mídia, por

exemplo, só existem ou têm cabimentos porque há pessoas “comprando” o que está

sendo produzido. Portanto, ainda que para nós algumas músicas sejam

inadequadas ou ilógicas, há motivos que lhes dão sentidos e, cabe a nós, entendê-

los. Alunos, por exemplo, moradores de comunidades mais desprovidas de recursos

fundamentais para a efetivação de uma vida cidadã, desenvolvem, na maioria das

vezes, preferências para músicas que retratam a sua realidade.

Se tais preferências musicais incentivam uma futura vida de marginalidade,

de promiscuidade, ou de uma vida em que o jovem não quer saber de lutar para

mudar a realidade que se apresenta, o professor poderá, com um trabalho bem

planejado, dar os devidos contornos, sabendo que o seu trabalho contribuirá para

um futuro de menos dissabores na vida destes jovens e daqueles que o cercam.

Analisamos, na sequência cinco, dois gêneros textuais. Notícia é um gênero

textual e seu objetivo é informar ao leitor fatos atuais; com simplicidade, concisão e

precisão. A linguagem desse texto é formal, clara e objetiva. Propaganda é um texto

de intenção persuasiva, cujo nível de linguagem deve estar de acordo com o público

que se pretende atingir, utilizando a variedade informal culta da língua.

Sempre que nos manifestamos linguisticamente, fazemo-nos por meio de

textos. E cada texto realiza sempre um gênero textual. Cada vez que nos

expressamos linguisticamente estamos fazendo algo social, estamos agindo,

estamos trabalhando. Cada produção textual, oral ou escrita, realiza um gênero

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porque é um trabalho social e discursivo. As práticas sociais é que determinam o

gênero adequado.

Sujeito é um eu pluralizado, pois se constitui na e pela interação verbal. “É múltiplo porque atravessa e é atravessado por vários discursos, por que não se relaciona mecanicamente com a ordem social da qual faz parte, por que representa vários papéis, etc.” (ORLANDI, 1988, p.11).

Oito encontros em contraturno, com alunos do Ensino Médio, foram

realizados para analisar, com base na perspectiva teórica da Análise do Discurso de

linha francesa, charge, cartum, propaganda, notícia, poema, artigo de opinião e letra

de música, tendo como auxílio, no reconhecimento dos discursos presentes nos

textos, as funções de linguagem.

A intenção da SD é verificar qual é o lugar das determinações ideológicas

neste complexo fenômeno que é a linguagem, analisar como a linguagem veicula a

ideologia, mostrar o que é que é ideologizado na linguagem e entender que o

discurso não é a expressão da consciência; mas a consciência é formada pelo

conjunto dos discursos interiorizados pelo indivíduo ao longo de sua vida. A

sequência enfatiza que o discurso pode ser manifestado por diferentes textos e

estes podem ser construídos com materiais de expressão diversos. Também deixa

claro que o homem aprende como ver o mundo pelos discursos que assimila e, na

maior parte das vezes, reproduz esses discursos em sua fala.

Sob essa intenção, precisamos atuar como mediador entre os estudantes e

os textos, para que os alunos ampliassem seu repertório e se aproximassem do

discurso analisado. Foi preciso ensinar a ler para além das linhas; desenvolver as

capacidades de compreensão, apreciação e reflexão sobre o sentido do texto.

2 DESENVOLVIMENTO

A implementação da intervenção pedagógica realizou-se no decorrer do

segundo semestre de 2011, numa turma de 2°ano do Ensino Médio, no contraturno,

na disciplina de Língua Portuguesa.

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A nossa experiência na execução da SD com a Análise do Discurso foi

decisiva para que houvesse qualidade de ensino, aprendizagem e conhecimento.

Todos os alunos eram jovens, com vontade de aprender, todavia com uma grande

diferença cultural e intelectual entre eles.

Nos encontros, realizamos leitura orientada, questionamentos, observação

sobre a data em que foi escrito o texto, indagações sobre o assunto, contexto,

hipóteses sobre o que levou o autor a escrever, comentários sobre o tema do texto,

questionamentos orais e depois escritos, construção de paráfrases.

No decorrer das aulas, houve espaço para exposição de opiniões, ideias e

dúvidas sobre as análises dos discursos. Abrimos espaço para a construção de um

conhecimento mais significativo, propondo uma reflexão sobre o que o texto diz e o

que ele quer dizer. Promovemos, assim, mudanças e transformações de conceitos

necessários à construção da própria cidadania.

Tudo isso foi direcionado ao longo das aulas, através de atividades orais e

exercícios de AD. Foi, realmente, desafiador trabalhar, ainda que, notadamente,

trabalhoso, construímos um ambiente para mostrar a importância de analisar o

discurso. Dessa experiência pedagógica e desafiadora brotaram, sobretudo,

oportunidade de inclusão ao mundo da aprendizagem, cultura e socialização.

As análises dos discursos:

Texto: Ontem, eu chorei de Neiva Dariva, o eu-poético (professora) pede

socorro, pois se depara com um marginal na prisão onde ministrou algumas aulas. O

detento buscava na incerteza da vida a certeza de nada encontrar. O olhar dele

também pedia socorro: havia ódio pela humanidade, pela vida, pela professora e por

ele mesmo.

Esse olhar frio feriu o coração do eu-poético, pois nada podia fazer. O pedido

de socorro do eu-poético mostra a realidade do sistema carcerário brasileiro. Não há

esperança de regeneração. O preso não tem um acompanhamento para melhorar a

sua índole.

O sistema brasileiro não tem uma política para que o humano possa rever

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seus erros e retornar à sociedade. Por isso o choro do eu-poético.

Texto: “Rios sem discurso, de João Cabral de Melo Neto.

Representam rios que não têm fluência, sem água, portanto não se

comunicam. A palavra voz representa água. A relação entre a sintaxe do rio e a

sintaxe, parte da gramática é que a do rio representa o elo, a comunicação que os

rios tinham antes com outros rios. Sintaxe, parte da gramática, é a ligação das

palavras na formação de um texto. A conotação da palavra discurso é água

abundante, fluente, barulhenta. Assim, a sentença-rio liga os poços até formar um

caminho único, acabando com a seca e, como num discurso, vincula a visão do

autor à sociedade em que vive.

A seca é a temática do texto, está atrelada ao comportamento humano. A

natureza se revolta com atitudes do ser humano e mostra sua força.

Texto: “Estamos com fome de amor,” de Arnaldo Jabor.

“Estamos é com carência de passear de mãos dadas, dar e receber carinho sem

necessariamente ter que depois mostrar qualidades de um atleta olímpico, fazer um

jantar pra quem você gosta e depois saber que vão apenas dormir abraçados.

Tornamo-nos máquinas e agora estamos desesperados por não saber como voltar a

sentir, só isso, algo tão simples que a cada dia fica tão distante de nós.

Existem milhões de solitários em meio a uma multidão de rostos cada vez mais

estranhos, insensíveis. Baladas recheadas de garotas lindas, com roupas cada vez

mais micros e transparentes, dança e poses em closes ginecológicos. Chegam

sozinhas e saem sozinhas. Empresários, advogados, engenheiros que estudaram,

trabalharam, alcançaram sucesso profissional e, sozinhos!

Tem mulher contratando homem para dançar com elas em bailes.

Vivemos cada vez mais tempo, retardamos o envelhecimento e estamos a cada dia

mais belos e mais sozinhos.

Sei que estou parecendo o solteirão infeliz, mas pelo contrário, para chegar a

escrever essas bobagens (mais que verdadeiras) é preciso encarar os fantasmas de

frente e aceitar essa verdade de cara limpa. Todo mundo quer ter alguém ao seu

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lado, mas hoje em dia é feio, brega, cafona, esquisito.

Alô gente! Felicidade, amor, todas essas emoções nos fazem parecer ridículos,

abobalhados, e daí?

Seja ridículo, não seja frustrado, “pague mico”, saia gritando e falando bobagens,

você vai descobrir mais cedo ou mais tarde que o tempo pra ser feliz é curto. Dá pra

ser um homem de negócios e tomar iogurte com dedo ou uma advogada de sucesso

que adora rir de si mesma por ser estabanada. Vamos ter bons e maus momentos e

uma hora ou outra, um dos dois ou quem sabe os dois, vão querer pular fora.

Mas seu eu não pedir que fique comigo tenho certeza de que vou me arrepender

pelo resto da vida.

Antes idiota, que infeliz!”

Podemos acreditar que tudo o que a vida nos oferecerá no futuro é repetir o

que fizemos ontem e hoje. Mas, se prestarmos atenção, vamos nos dar conta de

que nenhum dia é igual a outro. Cada manhã traz uma novidade.

Essa novidade está nos detalhes do cotidiano; é preciso viver cada minuto, pois ali

encontramos a saída de nossas confusões, a alegria de nossos bons momentos, a

pista correta à decisão que tomaremos.

Nunca podemos deixar que cada dia pareça igual ao anterior porque todos os dias

são diferentes, porque estamos em constante processo de mudança.

Pulseirinhas do sexo, Pedro Cardoso da Costa.

O projeto que proíbe a venda das pulseiras coloridas, conhecidas como

pulseiras do sexo, para menores de 18 anos, aprovado pela Câmara Municipal de

Curitiba é contrariado pelo autor do texto.

Ele diz que o projeto das pulseiras não complementa a legislação na

proteção ao menor de idade. Mantém uma postura contrária à proibição das

pulseiras, acredita que a proposta não soluciona o problema. “Isso é tapar o sol com

a peneira. Tem que buscar a origem do problema. A pessoa que usa a pulseira não

está agredindo ou fazendo a mal a ninguém. Precisamos de educação”. Aponta o

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sistema como culpado por não cumprir com obrigações necessárias à proteção dos

menores.

Charge e cartum: (charge 5 e cartum 3, ver referências)

Nesse conjunto, os diálogos presentes no cartum e na charge são utilizados

com a finalidade de denúncia e de críticas, não estão explícitas.

O cartum mostra a situação crítica em que se encontram os impostos no

Brasil. Há duas pessoas na cena. Um personagem fala “Governo aumenta impostos”

O outro personagem fica muito indignado e pergunta“ É um assalto?”. Mais

uma vez a persuasão do governo sobre as classes pobres. O sistema é uma grande

falsidade porque arrecada por ano bilhões de reais e o cenário no Brasil está cada

vez pior.

Com essa crítica irônica, o cartunista nos faz concluir que o dinheiro

arrecadado mais uma vez será investido nas contas milionárias dos políticos,

enquanto o povo continuará a sofrer com a falta de um atendimento médico digno,

comida, educação etc, pois acreditar em promessas do governo é ilusão.

A charge mostra o aspecto negativo e vergonhoso em que se encontra a

política brasileira. Critica e denuncia a situação de políticos. O objetivo é ironizar e

desmascarar os corruptos.

Há três personagens na cena: Um homem, representante da classe social

menos privilegiada, pede:”Esmolinha para um homem doente”... O político X

responde: “Pois não... um momentinho” e rouba dinheiro do bolso do terceiro

personagem que é um homem do povo.

Texto: “Comida”, de Arnaldo Antunes e Marcelo Fromer.

Essa letra traz uma crítica à campanha contra a fome, no Brasil, organizada

por Betinho, pois o ser humano necessita mais do que comida. Comida corresponde

a uma parte das necessidades do homem. As pessoas precisam sim de comida,

mas também precisam de diversão de lazer etc. O que sacia o homem é diversão,

arte, saída para qualquer parte, bebida, balé.

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O texto está dividido em duas partes: Metade apresenta o que é necessário,

mas não suficiente, para o ser humano ter uma vida digna. Nos primeiros versos, há

a presença das palavras água e pasto, as necessidades que são satisfeitas com

esses elementos são comuns tanto aos homens quanto aos animais. Por outro lado,

para que todas as necessidades humanas sejam satisfeitas é necessário que haja

comida, bebida, dinheiro, lazer, arte, prazer e felicidade.

Os autores da canção fazem um protesto diante do fato de que o homem,

em especial o trabalhador brasileiro, está sendo contemplado somente nas suas

necessidades básicas, materiais e fisiológicas. Com o tom de contestação, os

autores denunciam essa situação imposta à maioria dos brasileiros.

Texto: “Cidadão,” de Lúcio Barbosa e Zé Ramalho.

Essa letra aborda temas comuns na sociedade atual. Primeiro, a migração

dos nordestinos que fogem da seca e da vida dura do sertão, acreditando que na

cidade terão uma vida melhor. Porém, “após chegarem a um espaço novo,”

percebem que a vida também é muito sofrida, pois se deparam com problemas

como: a discriminação, a falta de emprego ou subemprego. Nesse novo contexto em

que estão inseridos, eles precisam enfrentar a humilhação constante que o mundo

capitalista impõe. A religião, então, é usada como meio de fugir da realidade de dor

e miséria em que vivem.

Textos: Notícia e Propaganda sobre a faculdade Unica.

“Possuir ensino superior, segundo o Cadastro Central de Empresas 2009

(Cempre), divulgado recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE), é o fator determinante que possibilita um salário melhor no Brasil.

Trabalhadores que cursaram uma faculdade têm salários até 225% maiores.” Na

atual sociedade em que vivemos, a melhor e mais correta maneira de alcançar

objetivos, segundo a notícia, é possuir o ensino superior. É fator determinante que

possibilita um salário melhor. Para o coordenador do curso de Administração da

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faculdade a solução é sem dúvidas os estudos, que proporcionam conhecimento e

capacitam os profissionais para o mercado de trabalho. Além desses argumentos

necessários para persuadir alunos para estudaram na faculdade, a notícia traz uma

foto de alunos a caminho de um “melhor salário”.

A propaganda da mesma faculdade traz a frase: Amplie seu currículo. Prove

que o futuro depende de você, sugerindo que o aluno faça Pós-graduação na

faculdade.

O lema completa a persuasão: “Unica mais perto de você”.

O discurso pode ser manifestado por diferentes textos. É o lugar das coerções

sociais, enquanto o texto é o espaço da “liberdade” individual. A formação ideológica

impõe o que pensar; uma formação discursiva determina o que dizer. A realidade

exprime-se pelos discursos e o homem está preso aos temas e às figuras das

formações discursivas existentes na formação social em que está inserido. Seu dizer

é a reprodução inconsciente do dizer de seu grupo social.

Discurso é uma construção social, não individual ele só pode ser analisado considerando seu contexto histórico-social, suas condições de produção; significa, ainda, que o discurso reflete uma visão de mundo determinada, necessariamente vinculada à sociedade ou a um autor. (ORLANDI, 2001)

Cabe à AD trabalhar o discurso, inscrevendo-o na relação da língua com a

história, buscando na materialidade linguística as marcas das contradições

ideológicas.

A análise de Discurso, como o próprio nome indica, não trata da língua, não trata da gramática, embora todas essas coisas lhe interessem. Ela trata do discurso. E a palavra discurso, etimologicamente, tem em si a idéia de curso, de percurso, de correr por, de movimento. O discurso é assim palavra em movimento, prática de linguagem: com o estudo do discurso observa-se o homem falando (ORLANDI, 2001, p.15)

O domínio das funções de linguagem é fundamental para percebermos as

diferenças entre os vários tipos de mensagem. Aplicando-as, nos discursos,

podemos planejar o que escrever ou expor oralmente, de modo a fortalecer a

clareza e a expressividade das mensagens.

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Challub (1986) ressalta que: “função da linguagem é a característica que as

palavras têm no texto e afirma que as mensagens mostram sua marca e traço no

efeito que provocam em seu modo de funcionamento”.

Na análise dessas funções, nas práticas discursivas, detectamos as

finalidades que orientam sua elaboração. Textos escritos ou lidos terão funções

diferentes para que o objetivo seja alcançado:

Para Challub (1986), as funções de linguagem são assim definidas:

Na Função Emotiva ou Expressiva, a linguagem é carregada por interjeições,

advérbios, adjetivos, pontuação; manifestações de emoção, sentimentos e opiniões.

Serve para revelar a personalidade do emissor. Está presente nos textos poéticos,

depoimentos, memórias, autobiografias. A subjetividade é constante.

Função Conativa ou Apelativa: é a linguagem que procura seduzir, persuadir,

influenciar alguém para mudar de ideia ou de comportamento. Usa verbos no

imperativo e os pronomes tu e você. É utilizada nos textos de publicidade, nas

propagandas, nos discursos políticos, nos sermões.

A Função Referencial ou Denotativa é exata, clara, transparente, responsável

por informar. Utilizada para produzir textos impessoais, objetivos: informes e

resenhas.

Função Poética: riqueza vocabular, ritmo, sonoridade, beleza, figuras de

linguagem e recursos estilísticos invadem o texto, deslumbrando o leitor. Aparece

nos textos literários, canções, poesia e prosa poética.

A Função Fática estabelece a comunicação, controla sua eficácia, prende a

atenção do receptor ou corta a comunicação. Está centrada no contato físico ou

psicológico. Frases curtas e expressões que manifestam desejo de contato

representam a função.

Por fim, a Metalinguagem, seu objeto é a própria linguagem e seu objetivo é

definir o sentido dos signos que dificultam a compreensão do leitor. Serve para dar

explicações. É a linguagem das aulas explicativas, da poesia que fala da poesia, dos

dicionários, do texto que fala sobre o ato de escrever.

Há muitas maneiras de se estudar a linguagem e é justamente por isso que

os estudiosos começaram a se interessar por ela de uma maneira particular que é a

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que deu origem à Análise de Discurso.

A análise de discurso não trata apenas de transmissão de informação, nem há linearidade na disposição dos elementos da comunicação, como se a mensagem resultasse de um processo serializado. Na realidade, a língua não é só um código entre outros, não há essa separação entre emissor e receptor, nem tampouco eles atuam numa sequência em que um fala e depois o outro decodifica etc. Eles estão realizando ao mesmo tempo o processo de significação e não estão separados de forma estanque, (ORLANDI, 2001, p.21).

Ela é uma prática e um campo da linguística e da comunicação especializada

em analisar construções ideológicas presentes em um texto. É muito utilizada, por

exemplo, para analisar textos da mídia e as ideologias que os engendram. A Análise

do Discurso é proposta a partir da filosofia materialista que põe em questão a prática

das ciências humanas e a divisão do trabalho intelectual, de forma reflexiva.

A análise do discurso visa fazer compreender como os objetos simbólicos

produzem sentidos, analisando assim os próprios gestos de interpretação que ela

considera como atos no domínio simbólico, pois eles intervêm no real do sentido. A

análise não estaciona na interpretação, trabalha seus limites, seus mecanismos,

como parte dos processos de significação. Não trabalha com a língua enquanto um

sistema abstrato, mas com a língua no mundo, com maneiras de significar, com

homens falando, considerando a produção de sentidos enquanto parte de suas

vidas. Em suma, a Análise do Discurso visa à compreensão de como um objeto

simbólico produz sentidos, como ele está investido de significância para e por

sujeitos. Compreender é saber como um objeto simbólico (enunciado, música, texto

etc) produz sentidos. É saber como as interpretações funcionam. A compreensão

procura a explicação dos processos de significação presentes no texto e permite que

se possam descobrir outros sentidos que ali estão compreendendo como eles se

constituem.

Todas as atividades humanas estão relacionadas com a utilização de

linguagens e essas não são apenas feitas de palavras, mas de cores, formas, gestos

etc. Para se tornarem linguagem, tais elementos necessitam obedecer a regras que

lhes permitam entrar no jogo da comunicação. Uma delas é que toda manifestação

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da linguagem se dá por meio de textos, os quais surgem de acordo com as

diferentes atividades humanas e podem ser agrupados em gêneros textuais.

Visando combater o ensino normativo a que o texto deve obedecer, é

importante ter claro que quando maior o contato com a linguagem, nas diferentes

esferas sociais, mais possibilidades se tem de entender o texto, seus sentidos, suas

intenções e visões de mundo. A ação pedagógica referente à linguagem, portanto,

precisa pautar-se na interlocução, em atividades planejadas que possibilitem ao

aluno a leitura e a produção oral e escrita, bem como a reflexão e o uso da

linguagem em diferentes situações. Desse modo, sugere as (DCEs) um trabalho

pedagógico que prioriza as práticas as sociais.

3 CONCLUSÃO

A Sequência Didática visa aprimorar os conhecimentos discursivos dos

alunos do 2º ano do Ensino Médio, para que eles possam compreender os discursos

que os cercam e tenham condições de interagir com esses discursos. Possibilita a

eles uma inserção social mais produtiva no sentido de poderem formular seu próprio

discurso e interferirem na sociedade em que estão inseridos. Coloca o controle de

aprendizagem nas mãos deles e auxilia o professor a compreender que a educação

não é somente transformação de conhecimento, mas um processo de construção da

autonomia dos educandos.

Prepará-los para a sociedade passa pela fundamentação da Produção

Didático-Pedagógica, desenvolvida durante o PDE, que visa analisar, com base na

perspectiva teórica da Análise de Discurso de linha francesa, os discursos do

cotidiano escolar.

Para o trabalho com SD são adotados, conforme suas esferas sociais de

circulação, textos. Ela divide-se em cinco etapas e o tempo de aplicação é de 4h

cada uma delas. Diz respeito à necessidade da escola oferecer aos educandos as

condições mínimas para a prática de análise do discurso.

Há uma preparação, um contato inicial com as ideias ou ideologias presentes

nos textos lidos e finalmente a análise do discurso para os alunos se tornarem seres

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agentes no meio em que vivem.

Um sujeito é fruto de seu tempo histórico, das relações sociais em que está

inserido, mas é, também, um ser singular, que atua no mundo a partir do modo

como o compreende e como dele lhe é possível participar. (DCEs, 2008, p.14)

A linguagem tem influência sobre os comportamentos do homem. O discurso

transmitido contém um sistema de valores, isto é, estereótipos dos comportamentos

humanos que são valorizados positiva ou negativamente. Ele veicula os tabus

comportamentais. É, ao mesmo tempo, prática social cristalizada de uma visão de

mundo. A Produção didático-pedagógica desenvolvida com os alunos é uma

sustentação forte para garantir que eles entendam o que é discurso.

A SD foi realizada através de levantamento de bibliografias para o

embasamento teórico. Teve como objetivo abordar a questão da importância e da

necessidade de trabalhar com a AD na formação de alunos, de forma a torná-los

mais conscientes e críticos de sua realidade. Assim, por meio da aplicação da

metodologia da SD, com base na perspectiva teórica da Análise de Discurso de linha

francesa, buscou-se mostrar, através da análise de textos, que o aluno da Escola

Pública é capaz de pensar, fundamentar, aprender e numa reflexão e análise

compreender a AD.

Nesse sentido, podemos afirmar que a implementação pedagógica,

propiciada pelo trabalho com o AD, contribuiu de maneira significativa para o

desenvolvimento das habilidades de análise dos alunos, bem como para com a

nossa compreensão sobre o trabalho com AD na sala de aula; propiciando, assim, a

participação social, a capacidade de atuação construtiva e transformadora.

Ao propor um projeto de implementação pedagógica com AD, o objetivo maior

foi investir na formação de alunos críticos, capazes de discutir, discernir, decidir e

transformar o meio em que vivem.

Desenvolver este trabalho em escola pública foi de grande valia, pois nosso

aluno lê pouco e tem dificuldades de expor ideias. Cabe a nós criarmos

oportunidades para que ele compreenda como um texto produz sentidos. Só assim

poderá ter a sua autonomia.

Com aplicação da sequência didática, penso ter dado ao aluno uma base

para que ele possa analisar os discursos do cotidiano escolar. A partir dessa base,

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ele poderá colocar-se na posição de analista e investir nos conhecimentos que

poderão expandir seu campo de compreensão.

Tendo em vista as análises feitas, podemos concluir que a Análise do

Discurso de Linha Francesa é uma teoria que centra o objeto de estudo não na fala

e sim no discurso. O objeto de estudo recai sobre as condições, sobre a situação,

sobre o momento de produção. A questão que prevalece é o porquê de determinado

indivíduo produzir determinado discurso. Neste sentido, a AD pode constituir-se

como um profícuo alicerce na análise de textos.

Assim, esperamos que este estudo possa contribuir para o aluno, posicionar-

se de forma mais crítica na leitura de textos.

Para desenvolver as reflexões teóricas, pautamo-nos, principalmente nas

concepções de leitura de Orlandi. Adotamos a metodologia da sequência didática

que consiste num conjunto de atividades escolares em torno de um gênero, com a

finalidade de auxiliar o aluno a ler, falar e escrever em diferentes situações de

comunicação. Dessa forma, o propósito deste artigo é apresentar resultados da

implementação pedagógica que desenvolvemos durante o PDE, nos anos de 2011 e

2012, socializando reflexões teóricas, proposições didáticas e encaminhamentos

práticos que desenvolvemos a partir do tema Análise do Discurso com alunos do 2º

ano do Ensino Médio, durante o período de julho a novembro de 2011.

Desenvolvemos, assim, um trabalho enfatizando a essência da análise do

discurso no contexto escolar e social, indicando a problemática da falta de leitura

crítica e suas consequências no processo de ensino e aprendizagem e seus reflexos

no comportamento dos alunos e melhoria da condição social e humana.

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REFERÊNCIAS

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CIDADÃO, Lúcio Barbosa, 1978/ Zé Ramalho acústico. Disponível em:

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ORLANDI, Eni Pulcinelli. Discurso e leitura. Campinas SP: Cortez/Editora da

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ, DIRETRIZES

CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA, LÍNGUA PORTUGUESA, PARANÁ

2006.

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ, DIRETRIZES

CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA, LÍNGUA PORTUGUESA, PARANÁ

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Notícia: Disponível em: http://www.faculdadeunica.edu.br/noticias/121-cursar-uma-

faculdade-e-o-principal-fator-para-melhores-salarios-diz-ibge.html. Acesso em 12 de

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Disponível em: http://www.flickr.com/photos/27216535@N02/2694025601/.

Acessado em: 10 de julho de 2011.