a terapia musica no candomble[1]

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  • 8/22/2019 A Terapia Musica No Candomble[1]

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    A terapia musical no candombl

    Rosa Maria Susanna BarbaraUSP/Ps Graduao em Sociologia

    Trabalho apresentado no seminrio temtico ST08 "Experincias religiosas e novas espiritualidades".VIII Jornadas sobre Alternativas Religiosas na Amrica Latina

    So Paulo, 22 a 25 de setembro de 1998

    st08-4.

    Possui verdadeira msica em si s aquele que compe uma sinfoniaafinando a harmonia do corpo com aquela da alma

    Plato, Timeo, IX, 591 d.

    Em vrios lugares do mundo a msica e a dana dominam todo o universo do ritual.

    Apesar de vrios estudos terem relatado o papel e a importncia da msica e da dana

    no ritual do candombl (Barbra, 1995; Behague, 1978, 1984; Cossard-Binon, 1967,

    1981; Lody, 1995; Luz, 1995; Lunhing, 1990; Martins, 1995; Omari, 1990; Segato,

    1995) falta uma anlise aprofundada sobre o tema.

    Um estudo que abordou a funo da dana e da msica no ritual e a ligao entre elas

    foi feito pelo antroplogo De Martino e o etnomusiclogo Carpitella, que no final dos

    anos 50 analisaram o tarantismo. O tarantismo foi um fenmeno observado at os anos

    60 no sul da Itlia, embora segundo pesquisas recentes ainda pode ser encontrado nos

    dias contemporneos (Di Lecce, 1997) em Puglia, uma regio da Itlia do sul. Segundo

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    a tradio, em momentos especficos do ano, uma tarntula (existem vrios tipos dela na

    regio) mordia os camponeses, na maioria as mulheres, mas tambm os homens,

    usualmente nas mos, nos ps ou no pbis. As pessoas mordidas caam em um estado

    catatnico, que encontrava soluo num ritual corutico1-musical que era organizado

    em poca preestabelecida na capela de So Paulo em Galatina. O ritual previa um longo

    mdulo corutico-musical com a presena de um simbolismo onde so enfatizados pelos

    participantes os movimentos e os comportamentos da tarantula, tendo tambm papel

    fundamental as cores. Procurando abordar a complexidade do fenomeno do tarantismo

    De Martino desenvolve uma analise que aborda varias dimenses: a historico-religiosa,

    a social, a psicologica e a psiquiatrica, conduzendo a pesquisa com uma equipe

    multidisciplinar. O ritual do tarantismo pode ser definido como teraputico2 na

    interpretao feita por De Martino. As concluses de De Martino oferecem hipoteses

    importantes para pensarmos a funo da msica e da dana em rituais pblicos, em

    particular na sua dimenso psicologica - terapeutica.

    Segundo ele, o modelo corutico-musical servia como uma tcnica protetora em um

    quadro magico-religioso, funcionando como meio de proteo contra as crises atravs

    do acionamento de modelos tradicionais de gestos, sons, figuras coruticas, ritmos emelodias. Alm disso funcionava como instrumento de evocao e de controle

    socialmente admitidos e operantes cada vez que percebia-se a crise do tarantismo.

    De Martino trabalha com a relao entre crise e som no ritual. Para ele a crise o

    momento em que a tarntula toma posse do corpo e deixa o indivduo em um estado

    descrito como catatnico ou de grande agitao. Para ser resolvido esse estado tem que

    ser inserido num contexto ritual onde a msica desenvolve o papel da organizadora da

    desordem e a dana expressa a ordem.Nesse estudo utilizamos algumas das suas observaes para a investigao da dimenso

    teraputica do candombl. Entendemos que no candombl pode-se pensar a crise

    enquanto chamado do orix que promove a suspenso da identidade cotidiana.

    Seguindo as indicaes da msica que prepara culturalmente o fiel a ser possudo, as

    1 A palavra coreutica vem do verbo grego, xopeuo= danar em circulo e d palavra texne= arte, tecnica.Quer dizer a arte de danar em circulo.2 Terapeutico no sentido que tem uma resoluo momento da crise, da chamada do orix.

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    iniciadas resolvem terapeuticamente a crise, deixando o orix danar no seu corpo ao

    longo do ritual. Durante o fenmeno do transe, o corpo da filha ou filhou-de-santo

    torna-se o prprio orix superando a dicotomia corpo/espirito, forma/contedo.

    Objetivo desse artigo mostrar a ligao que une a msica e a dana na resoluo da crise

    no contexto do ritual, oferecendo uma resoluo que prev a suspenso da identidade

    cotidiana para dar espao a uma nova, a identidade do orix. Essa ligao nos leva a

    considerar a experincia do corpo, fundamental na construo da nova identidade religiosa

    e na transformao da doena e do sofrimento em fundamento pessoal.

    QUANDO O CORPO FALAO candombl uma religio fundamentada sobre crenas em divindades chamadas orixs

    e sobre a procura do encontro com o sagrado via o fenmeno da possesso. O transe no

    candombl, como diz Prandi: "... pelos menos em suas primeiras etapas iniciticas,

    experincia religiosa intensa e profunda, pessoal e intransfervel. Como a dor e as paixes

    no-religiosas experimentadas, no pode ser mensurado nem descrito, a no ser

    metaforicamente e indiretamente" (Prandi, 1991: 171).

    Segundo a filosofia do candombl, o homem deve estar em contato contnuo eharmnico com a natureza, que fala aos mortais atravs de vrios tipos de mensagens e

    atravs das suas vibraes captadas pelo corpo. Os seus ritmos so acompanhados de

    uma experincia sensual contnua, fundamental para a aprendizagem esotrica, que

    comea desde os primeiros contatos com o terreiro e continua ao longo da vida toda.

    Tendo como base o contexto cultural holstico do candombl, o corpo est diretamente

    relacionado a uma divindade e, por extenso, a um dos elementos naturais primordiais

    e aos demais elementos a ele associados, como relatam Barros e Teixeira (1992: 43). Ocorpo percebido como uma das manifestaes das divindades e por isso sagrado e

    construdo segundo padres culturais ao longo do caminho religioso e da iniciao,

    quando necessria.

    Sendo, para a filosofia do candombl, o corpo humano uma cpia das formas e das

    energias do cosmo, os prprios elementos (ar, gua, terra, mata e fogo3) juntam-se

    3 O fogo no considerado uma substancia prima, mas uma conseqncia do ar em movimento.

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    segundo arqutipos4 diferentes. As palavras de Pelosini (1994:94) aplicam-se bem a

    essa concepo do corpo humano: ...o universo (macrocosmo) e o homem

    (microcosmo) so criaturas similares, que obedecem s mesmas leis como um tipo de

    fantstico e perfeito relgio csmico que marca com harmonia os ritmos universais".

    Assim cada parte do corpo tem um significado simblico: a parte frontal relacionada

    ao futuro e ao orix dono-da-cabea, enquanto a parte posterior relacionada ao

    passado. O lado direito ligado aos ancestrais masculinos enquanto o lado esquerdo

    aos ancestrais femininos. Cada parte est relacionada a um orix em particular e as

    aberturas do corpo a Exu5. As orelhas, por exemplo, sendo orifcios so defendidas com

    argolas pingentes que balanando produzem um barulho que afasta os influxos

    negativos. As palmas das mos e as solas dos ps so pontos em que pode-se perder

    energia e receb-la. Por isso na presena das divindades os fiis viram as palmas de

    frente para elas. Cada parte do corpo corresponde a uma divindade. A cabea

    fundamental porque a sede do or6 que contem o od, o destino pessoal.

    "Para os iorubs a cabea a parte mais vital do corpo humano: contem o crebro, a

    morada da sabedoria e da razo; os olhos, a luz que ilumina os passos do homem pelos

    labirintos da vida, o nariz que serve como uma espcie de ventilao da alma; osouvidos com os quais o homem escuta e reage aos sons, e a boca com a qual ele come e

    mantm o corpo e a alma juntos. " ( Babatunde Lawal, 1983: 46).

    De fato existe um dito iorub que diz: "Ori buruku, kossi orix" ou seja "cabea no

    equilibrada no d orix".

    Senhora da cabea, Iemanj que harmoniza as energias positivas e negativas e por isso

    numa das suas coreografias dana levando alternativamente as mos a frente e atrs da

    cabea. Iemanj executa a funo de orientar e de equilibrar seus filhos. Ela protegetambm os seios, por ser a Me por excelncia e por isso ocupa-se da nutrio dos seres

    4 A palavra arqutipo no usada como termo da psicologia junghiana, mas em um senso mais genrico.5 interessante relatar o fato que Exu junto com Ogum o guardio das entradas e das sadas comopode-se observar numa fotografia de Verger que mostra um assentamento de Ogum que evidencia entreos seus instrumentos uma chave. (1981:109). O corpo humano possui tambm entradas e saidas, lugaresonde entram as energias boas, como a comida e outros onde expelir-se os dejetos.6 Para os iorubanos, o ori tem status de divindade e recebe cultos complexos. No Brasil, o rito de darcomida cabea preservou-se como primeira etapa da iniciao e "O culto individualidade do homem, cabea, o que est dentro da cabea. O ritual de dar comida a cabea o bori" (Prandi, 1991: 124) .

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    humanos. Uma lenda conta da exuberncia do seu corpo e dos seus seios, dos quais um

    maior que o outro.

    O ventre, sede dos rgos sexuais, e o tero so protegidos por Oxum, por exemplo. As

    cadeiras tambm so uma rea sagrada do corpo humano: a bacia e as ndegas

    representam a fertilidade7.

    Ogum, o dono dos caminhos, o dono dos ps, do movimento, da vida que continua.

    A voz do orix o ke ou o il, um grito que emitido s ao longo do transe. Esse grito

    o smbolo da individualidade, a energia daquela pessoa; o som criador e individual

    que testemunha a identidade daquela filha ou filho.

    Os olhos so muito importantes, porque conforme as palavras de algumas mes-de-

    santo: "nos falam do orix daquela pessoa". Ao longo da pesquisa percebi o olhar

    diferente das mes-de-santo em varias ocasies: durante a adivinhao o olhar parece

    suspenso, enquanto ao longo do transe, os olhos esto fechados indicando que a ateno

    voltada para o interior do corpo, para uma outra dimenso, a do espirito, segundo a

    filosofia iorub e conforme a pesquisa de campo.

    O corpo no candombl o templo do sagrado por excelncia, sagrado porque vivo,

    vida expressa atravs da motricidade que experimenta o espao e o tempo e quecomunica aos outros, aos fiis, comunidade, expressando assim o conceito central da

    filosofia da existncia africana Eu sou porque voc , conceito que sublinha a

    importncia de cada um na comunidade e o encontro harmnico com o outro8. O corpo

    pode ser considerado um vaso que contem o orix, algo de muito precioso que "manda

    em nos", conforme as falas das entrevistadas. Eis o porque da forma das quartinhas que

    lembram o corpo das mulheres9 que segundo alguns informantes africanos teriam uma

    facilidade a ser possudas.

    7 O corpo das mulheres representado em vrias estatuetas encontradas na Nigeria, sentado, comoaquela de side, e simbolicamente um trono, onde a criana senta no colo da me ou o fiel senta no colodo orix. Iside era uma antiga divindade egipcia. Famosa maga era consagrada ao culto da lua, foi aesposa e a irm de Osiride.8 Ciclos de aulas sobre etnomusicologia africana ministradas na Ps-Graduao da USP por o Prof.Kasadi wa Mukuna. (So Paulo, 1997)9 Em rea mediterranea existem muitos vasos de bairro com uma forma idntica aquela do corpo dasmulheres, com vrios seios ou com olhos pintados. (Museo Pitr. Museo etnografico del popolo siciliano.Palazzina cinese, Palermo, Italia)

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    No momento da possesso a postura do corpo muda completamente, o rosto adquire

    uma expresso fechada, as vezes os lbios so empurrados para frente, os olhos so

    fechados, a figura humana tremendo, adquire para as iabs da gua10 uma postura

    mais redonda no sentido que os cotovelos so alargados a altura do busto que

    levemente dobrado para o baixo, e para os orixs guerreiros, Ogum e Xang mais reta;

    mais voltada para o cu para as divindades mais jovens, Ogum, Oxossi e Ians e mais

    dobrada para o cho para as divindades velhas, Nana e Obaluai.

    O TRANSE E A IDENTIDADE FEMININA

    Na viso do candombl, com a iniciao as mulheres11 recuperam uma identidade

    natural e social perdida por varias causas12 que o fundamento ou melhor a tradio

    religiosa e que estava presente desde o nascimento. Esta inscrita no corpo, construdo

    ritualmente atravs de longas etapas de aprendizagem e incorporao dos fundamentos

    da vida religiosa. A medida em que ofilho-de-santo vai avanando nos passos de sua

    iniciao, estar tambm ingressando numa ordem scio-cosmolgica, onde o corpo e

    suas sensaes ocupam lugar de destaque (Brito Polvora, 1995). O processo de

    construo de umfilho-de-santo se d basicamente pelos rituais nos quais o sujeito ter

    impressos os sinais desta iniciao no corpo (Barros e Teixeira, 1992), j que ser

    noe atravsdeste que se inscrevem tais rituais.

    Segundo os contos das novas iniciadas, o chamado do orix acontece em vrias formas:

    sonhos, sensaes, vises, doenas estranhas que no so confirmadas pela medicina

    tradicional e em geral um sofrimento psquico ou fsico que manifesta-se de um dia para

    10 As iabs da gua so os orixs femininos Oxum e Iemanj11 Neste artigo so mencionadas as mulheres em prevalncia, porque no terreiro onde foi desenvolvida apesquisa, o Il Ax Op Afonj fundado no 1910, a maioria dos fiis iniciados so mulheres, como foiinstitudo pela fundadora do terreiro, Me Aninha. Mas tambm nos outros terreiros ha uma grandeprevalncia de mulheres que participam da roda sagrada.12 A iniciao tem a funo de re-aprosimar a filha ao prprio orix. Por algum motivo a antiga ligaocom o duplo divino quebrou-se e a divindade pretende a cabea da sua filha. Simbolicamente com ainiciao a filha nasce novamente, no santo, forte no seu orix, dever assim reaprender a viver.Periodicamente receber o prprio orix nos rituais ou em qualquer momento o orix queira.

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    o outro sem uma explicao certa. Nas falas das mulheres percebe-se uma dicotomia

    na vivncia das emoes, existe um dentro do corpo e um fora do corpo. Um dentro

    rico e tumultuado e um fora neutro. De um lado as mulheres explicitam as suas

    emoes, mas s aquelas que so aceitas no cotidiano e na lgica do grupo; do outro,

    praticam ritos que lhe do a liberdade para abrir outras possibilidades expressivas sobre

    um mundo emotivo que, para poder ser expresso, tem que encontrar modalidades que

    fogem ao controle do tempo e do espao do cotidiano. As profundas emoes subjetivas

    so incorporadas e veiculadas no corpo e sobre o corpo. Na convivncia com as filhas-

    de-santo e nas longas conversas com elas percebe-se a profundidade e a ambigidade

    do mundo feminino cheio de desejos, de emoes quase sempre secretas e no

    atendidas, algo de incontrolvel.

    Segundo algumas mes-de-santo o corpo feminino um corpo mais acessvel as

    energias externas pela prpria caracterstica do ser mulher: um corpo "aberto" que

    deixa a mulher, mensalmente aberta, ao longo da menstruao e ao longo da gravidez.

    Essas experincias to femininas so momentos nos quais as mulheres so

    particularmente sensveis e tm seus corpos transformados, acompanhando

    obrigatoriamente os ritmos da natureza.

    Conforme a pesquisa, as iniciadas esperam o momento de ser recolhidas, momento

    nunca falado antecipadamente, com ar deprimido, tocando a cabea como para mostrar

    dor e se lamentando, ou deitadas na esteira, no podendo se levantar mais pelas

    vertigens. como se o mundo interior das emoes, que por muito tempo esteve

    fechado, sasse prepotentemente fora do seu lugar e conseguisse tomar conta do corpo

    sem limites. muito comum, de fato que as iniciadas devam abandonar o trabalho

    enquanto esperam a data da iniciao. Segundo a observao da vida no terreiro e as

    falas das filhas-de-santo percebe-se o corpo das mulheres como fragmentado. As

    experincias da vida, o casamento, os filhos, a falta de trabalho comprometem o fluir

    das emoes e o mundo interior pretende sair e se mostrar ao lado exterior, o mundo.

    De um lado as mulheres vivnciam esse corpo externo que no expressa as emoes e

    que vive o mundo rotineiramente, atuando numa gestualidade cotidiana; do outro se

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    encontram no terreiro e contam as sensaes do prprio corpo e as dores com metforas

    muitos fortes como: a cabea tomou fogo!" "Naquele momento senti uma corrente

    correr por baixo da pele!" "Estava ai esperando o nibus e a terra rodava, parecia de

    estar sobre um barco! uma sensao de arrepiar!.

    Nas entrevistas apareceu um mundo fantstico e em movimento que agita-se no corpo

    das mulheres e que com grande dificuldade pode ser expresso com palavras e ser

    entendido por aquele que no o experimentaram. Por isso as percepes vivenciadas

    separam, conforme as falas das entrevistadas, o mundo dos do candombl daquele de

    fora da seita, diviso muito forte para os fieis.

    A iniciao d um sentido a essas experincias e inscreve o corpo com uma prpria

    identidade subjetiva na ordem cosmolgica e social atravs da transformao dessas

    sensaes e atravs da inverso do espao e do tempo cotidiano.

    As sensaes da vida so experincias valorizadas que so transmitidas e so faladas

    num contexto ritual em que ao corpo e as suas percepes permitido um lugar de

    destaque na cerimnia religiosa.

    O ritual religioso repete um padro idntico: as foras, as energias penetram, do

    exterior, no corpo feminino; pode ser atravs da mordida da aranha, no caso do

    tarantismo, ou da energia do orix ou de uma outra divindade conduzindo a uma

    experincia existencial que d mulher um novo fundamento para a prpria histria

    pessoal e social. Muitas vezes ouvi, de fato, as iniciadas dizer: "Eu tinha que passar por

    isso, para aprender!".

    Com a iniciao d-se a transformao das experincias interiores, do sofrimento, da

    dor em paz ou pelo menos alivio e equilbrio atravs duma nova histria pessoal e

    social que todas as mulheres incorporam nos seus prprios corpos, como uma sorte de

    memria secreta que s aqueles que vivenciam a mesma coisa podem perceber.

    A iniciao que como relata Prandi: "consiste, pois, em etapas de aprendizado ritual, por

    parte da filha-de-santo e em estgios de adensamento da sacralidade do orix particular

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    desta iniciada"13 (1991: 171) e o desenvolvimento de uma nova identidade permite a

    experincia e a orientao de emoes subjetivas a ser orientadas no mundo exterior. O

    corpo aprende assim a lidar com essas emoes e a conduzi-las sempre mais at ser

    fechado, num sentido de no se deixar mais invadir e assim dirigir a prpria vida no

    mundo.

    A DOENA E O SOFRIMENTO NO CANDOMBL

    A noo de sade no candombl algo de muito complicado a ser entendido, tem a ver

    com o lado espiritual, fsico, psicolgico, cosmolgico e social, uma experincia

    holstica que o fiel chamado a vivenciar. Sendo os rituais voltados para a reconstruo

    da antiga ligao entre o ai, a terra e o orum, o mundo dos orixs, a doena fsica ou

    psquica na maioria das vezes, o sinal de uma falta de ligao, de uma desordem com

    o mundo espiritual, como por exemplo uma pessoa feita raramente deve deixar de tomar

    conta do seu orix, porque a divindade pode mandar um problema fsico especfico

    para sinalizar que a comunicao com ela foi interrompida.

    A chamada do orix e a seguinte entrada na religio pode acontecer por vrios motivos:

    por herana familiar, pelo sofrimento, pelo amor, como relatam as mes-de-santo.Na categoria do sofrimento esto as doena cujas causas podem ser:

    1) A doena como pedido da divindade que quer ser feita. As vezes aparecem doenasestranhas que a medicina oficial no sabe explicar e cuidar e que somem com o

    desenvolver das cerimonias, obrigaes. Os iniciados contam claramente que tem

    uma grande diferena entre o antes e o depois da iniciao.

    2) Vrios problemas de ordem econmica, afetiva ou de sade, etc. podem acontecercaso o iniciado se afaste do seu santo, no sentido de no cuidar mais dele. O santodeixa seu filho s e sem proteo.

    3) No caso de ser tido fixado na cabea do filho um santo errado.4) No caso do encosto de Egum, quer dizer que uma pessoa carregada da energia de

    um espirito de um morto.

    13 O respeito que se tem por um santo velho, feito h mais tempo, bem maior que aquele devido aum orix mais novo

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    5) No caso de estar com o corpo aberto, como durante a menstruao, causa quepermite uma perda de ax, energia, o que configura uma situao de

    vulnerabilidade.

    6) No caso do mal olhado: muitas vezes a inveja pode afetar atravs do olho grosso,uma capacidade, que poucas pessoas tem, de passar influncias negativas atravs

    do olhar.

    Ao mesmo tempo existem algumas doenas como aquelas de pele ou distrbios

    digestivos que so tratadas a nvel farmacolgico, com base em um profundo

    conhecimento de plantas medicinais, ministradas atravs de chs ou banhos de ervas.

    A IDENTIDADE SONORA INDIVIDUAL E A DO ORIX

    Segundo as lendas a divindade suprema d a vida ao homem atravs do sopro, em, por

    isso o candombl pode ser considerado uma religio pneumtica14, quer dizer que a

    criao originou-se pelo ritmo da respirao da divindade. Segundo a mitologia cada

    pessoa nasce com um dono-da-cabea, que vive no corpo atravs do seu ritmo

    individual, da sua respirao, do seu andar. Esse ritmo pessoal por vrias causas, pode

    ser esquecido ao longo da vida.15

    O ritmo interior ligado ao orix dono-da-cabea16

    aolongo da aproximao religio e mais exatamente na iniciao feito emergir e fixado

    definitivamente no corpo.

    A personalidade do orix inscrita no corpo da iniciada em rituais secretos que prevem

    como condio o uso do ritmo e do som. Nessa fase dramtica17 da vida da iniciada, a

    base rtmica do prprio dono-da-cabea, o toque especifico e a sua cantiga vai tornar-se

    um ritmo permanente que serve como pano de fundo para as atividades progressivas do

    14 A palavra pneumatica deriva do grego pneuma= hlito. Essa uma caracterstica encontrada em variasreligies, como no antigo testamento, na Genesi e no Hinduismo.15 Uma vez que o homem formado por vrias energias que o influenciam e podem atrapalh-lo ouconfundi-lo, obscurecendo o ritmo-respirao do dono-da-cabea, possivel que tal esquecimento estejarelacionado ou venha a conduzir a uma guerra de orixs, ou seja que o indivduo seja tomado poroutras energias alem daquelas do prprio dono-da-cabea.16 Cada indivduo pertence a um deus em particular, dono-da-cabea e da sua mente, do qual herdou ascaractersticas do fsico e da personalidade (Prandi, 1991:86).17 Uso o adjetivo dramtica, porque a iniciao algo de muito profundo e difcil a se falar. O iniciandomorre para nascer de novo e por isso passa atravs momentos de completa perda da velha identidade,aquela "oscilao da presena" que De Martino identificou tambm no tarantismo.

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    recm nascido. Assim todas as vezes que os alabs18 tocarem, a identidade sonora da

    filha-de-santo responder aos tambores cujo toque chamam o seu orix.

    Sendo a iniciao a representao do nascimento, o fiel nasce simbolicamente uma

    segunda vez, numa nova vida, e sendo o som, o ritmo, o movimento, elementos

    constantes da vida fetal, sero tambm os movimentos e os ritmos que as iniciadas

    aprendem no ronko que iro ocupar uma parte importante da sua memria originria

    e sero inscritos no seu corpo. Assim, no contexto holstico do candombl esses

    elementos so partes integrantes do ser e da sua identidade, no existindo a dicotomia

    cartesiana corpo/espirito. A identidade sonora (o toque do orix) pode ser equiparada a

    um fundamento da iniciada que ela manifestar nos rituais peridicos.

    Os toques to diferentes de Oi ou de Iemanj, por exemplo, atestam inequivocamente

    os traos da personalidade desses orixs, a primeira nervosa e livre, a segunda uma

    matrona calma e independente. De fato, cada orix tem seu toque que nico e original

    e que simbolicamente corresponde a sua voz, a sua personalidade, a seu movimento, as

    seus aspectos mitolgicos e aos elementos naturais dos quais composto. Essa

    identidade sonora do orix contm a identidade sonora do possudo. A msica a

    comunicao entre o filho e o orix, enquanto a dana a manifestao dessacomunicao. O possudo reconhece, a um nvel no consciente, os ritmos e os

    movimentos precedentemente inscritos no seu corpo e todas as vezes em que ouve a sua

    identidade sonora, ele responde. A comunicao acontece a a um nvel muito sutil: o

    som dos tambores propaga-se atravs de todos os sentidos, a msica envolve a pessoa

    como um todo e a obriga a comparticipar do som. Em geral com a passagem do tempo

    e aumentando os anos de iniciao o ritmo interior corresponder sempre mais ao ritmo

    exterior, numa progressiva unio e conhecimento com o orix do qual se filho.Segundo o povo do santo o orix que decide se a prpria filha tem que receb-lo e por

    quanto tempo e com qual intensidade.

    18 Os alabs so os sacerdotes-msicos, cuja formao tambm envolve um ritual que incluirecolhimento. Cabe aos alabs conhecer todo o repertrio das msicas rituais. O papel executado poreles to importante que em maio de 1998 nos dias 9-10 foi organizado um seminrio sobre os alabs eas suas funes rituais, chamado Alayand Sir no Il Ax Op Afonj.

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    AS CARACTERISTICAS DA MSICA E DA DANA

    Para entender a funo e o sentido simblico da dana e da msica no ritual preciso

    lembrar que o candombl apresenta algumas das caractersticas bsicas das religies

    africanas. Em primeiro lugar o fato de ser uma religio holistica. Cada aspecto da vida

    ligado a um outro numa corrente infinita onde cada parte existe em funo da outra, em

    uma eterna procura de harmonia e equilbrio. Existe de fato uma ligao indissolvel

    entre o cosmo, o ser, o divino que manifesta-se na existncia dos homens e, nessa

    ligao entre sensvel e supra-sensvel, a msica adquire uma importncia especial

    porque a vibrao do orix. Todo o ritual esfora-se por voltar ao tempo do mito, da

    origem e de recriar aquele tempo, aquela antiga harmonia. A msica e a dana so

    utilizadas nesse sentido. Possuem algumas caractersticas em comum que so

    fundamentais ao desenvolver do ritual. Tendo como base o princpio de que o som o

    resultado de uma interao dinmica entre as vibraes que propagam-se do tambor

    percutido por o alab, o sacerdote-musico. O som condutor de ax, poder de

    realizao que aparece em todo seu contedo simblico nos instrumentos musicais. Por

    isso os atabaques so instrumentos sagrados e recebem todos os anos rituais

    apropriados, assim como so tocados s por sacerdotes especiais.

    A msica no candombl caracterizada por uma ciclicidade da frase musical, ou seja o

    padro rtmico, o time-line repete-se ao infinito. A noo de tempo aqui expressa bem

    diferente da noo ocidental. No se trata, como nesta, de criar uma historia temporal,

    onde h um comeo e um fim. No candombl o padro rtmico repetido sem um

    comeo nem um final. No se trata de uma simples repetio19, mas da possibilidade

    de se criar todas as vezes a origem. Assim na festa de Iemanj, por exemplo, cria-se a

    prpria energia da gua do mar e esta re-originada atravs a repetio do time-line e

    do movimento da dana. Todos os fieis presentes tem que se concentrar e danando e

    cantando a mesma cantiga trs vezes origina-se a energia sagrada do orix. Por isso

    muito importante estar presente nos momentos rituais, porque s nestes pode-se criar

    19 Sobre o conceito na musica de repetio e reciclagem veda-se Nketia, (1986).

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    novamente o sagrado. Parece que existe quase uma tentativa de parar o tempo e o seu

    fluxo na busca de um centro nico, fixo e eterno.

    A caracterstica principal da msica de ser polirtmica, quer dizer que cada atabaque

    tem seu padro rtmico que se liga quele dos outros tambores num ensamble thematic

    cycle que harmoniza os vrios instrumentos.

    O atabaque maior, o rum, o nico que se permite variaes, ele toma conta da cabea

    que manda sobre o resto do corpo e dirige os ps atravs da coluna humana. O rum

    tocado com as mos20, corresponde ao fundamento religioso. O rumpi e o l so a

    base rtmica. O primeiro manda sobre os braos enquanto o segundo dirige o

    movimento dos ombros, que contnuo e o mais solto possvel; o lproduz um som

    seco, firme e penetrante. Toca-se com as varetas e, segundo o toque utilizado pelo

    alab, emite sons de diferentes alturas. Os sons mais acentuados, o stress, conduzem

    os movimentos do corpo todo da filha-de-santo na dana. Assim os dois tambores

    menores criam um fundo rtmico sobre o qual o rum manda e cria variaes. Existe um

    outro instrumento, o agog, uma campainha de metal que percutido com uma vareta.

    um metalofone que emite um som com um timbre agudo. No toque de Oi tocado

    com um ritmo fortemente sincopado.Pode-se entender melhor a funo da msica tomando outra vez Carpitella quando

    falando da msica da tarantela explica que: "....tem uma diviso entre a pulsao da

    seo rtmica (organeto, pandeiro e violo) e a pulsao de fora, o off-beat do violino

    (para o carter de improvisao da parte meldica)...forma-se assim uma sobreposio

    entre as pulsaes: um ritmo isomtrico21 puro acentuado e efeitos rtmicos atrasados,

    sncope, que junto do origem a uma estrutura polirtmica. (Carpitella in: De Martino,

    1994: 351)Existem dois aspectos expressos na msica que refletem dois momentos tpicos das

    tcnicas religiosas: a dilatao e a exasperao da crise que musicalmente elaborada

    com tcnicas expressivas particulares como os ritmos acentuados, sncope, efeitos

    instrumentais, vrios tipos de percusses dos tambores, gritos), e do controle e

    20 tocado com as mos a depender do toque e da nao.21 Isometrico significa de igual dimenso. Do grego isso=ugual.

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    conteno da crise que reflete-se sobretudo no obstinado ritmo isomtrico. Talvez

    enquanto a poliritmia atua em funo da dilatao e da exasperao da crise, o ritmo

    isometrico obstinado funciona como controlador e contendor da crise. Para entender a

    conexo estreita entre a msica e a dana e a experincia do fiel preciso ter em mente

    que so percebidas por todos os sentidos, no s atravs do ouvido e do olhar, mas

    tambm atravs da pele, envolvendo o fiel como um todo.

    A caracterstica polirtmica da msica existe tambm na dana. Cada parte do corpo

    segue um padro de movimento, como se correspondesse a um ritmo, a um "time-line"

    especfico. A base dos movimentos, a parte isomtrica, dada pelo movimento dos ps

    ligados cabea via coluna vertebral. Outra caracterstica da dana, em estreita

    conexo com os ritmos o policentrismo, ou seja o fato do que o movimento tem que

    sair do interior e propagar-se para o exterior. No corpo humano no existe um s centro

    de pulso energtica, mas muitos. Os principais so a bacia, os ps e um ponto no

    fundo do pescoo que manda nos movimentos dos ombros, segundo os informantes. A

    dana sagrada no puro deslocamento no espao, mas o corpo se movimentando,

    ocupa uma estrutura espacial, cria um espao pessoal. Asfilhas-de-santo movimentam-

    se em todas as direes, cada uma na sua estrutura espao-temporal, seguindo areciclagem da frase-musical.

    Outra caracterstica a forma do crculo. As danas desenvolvem-se em crculo e na

    direo anti-horria. O circulo sagrado lembra o tempo-espao do mito que segundo as

    lendas remete antiga divindade da terra.

    A repetio do movimento percebida como uma criao de algo de novo, cada

    movimento d origem a divindade e d a possibilidade de voltar no tempo e no espao

    da comeo.Nas danas do candombl os ps esto em contato contnuo com a terra para absorver as

    suas energias e, simbolicamente, percutindo-a ao longo da dana, o fiel obrigado ao

    encontro com esse mundo, aquele no qual vivemos e estamos presente no aqui e

    agora; no como na dana clssica onde a performance advm sobre as pontas do ps

    simbolizando a procura de um outro mundo e ou a rejeio deste.

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    O corpo em movimento assume um significado simblico, segundo os nveis de

    verticalidade, alto-mdio-baixo. O nvel alto relaciona a pessoa com o elemento ar; o

    nvel baixo relaciona o corpo com a energia da terra, que, segundo Oliveira (1994):

    tem que dar o apoio necessrio para sustentar-se; o nvel mdio inter-relaciona os

    outros dois. O corpo movimenta-se tambm na horizontal, ampliando os movimentos

    semelhante a uma bola hipottica, como nas danas de Iemanj, ou desenhando com os

    braos, uma forma redonda, como nas de afastamento de Oi-Ians. Assim as danas

    podem desenvolver-se tanto ampliando os movimentos, quanto subindo e descendo ao

    longo de uma linha imaginria, como na dana das ondas de Iemanj.

    Nas danas sagradas tudo tem um sentido e um significado. Assim, os orixs jovens

    pulam danando, e interrompem os movimentos com paradas repentinas e nervosas,

    como Oi-Ians ou Ogum, demonstrando mais energia, enquanto os orixs mais velhos

    danam com mais calma e com movimentos mais contnuos, como Oxal ou Nan

    Buruku. Os orixs guerreiros danam com uma postura mais ereta, com pulos nos

    momentos mais dramticos e alcanando com o corpo mais espao, seja na linha

    vertical seja na horizontal, enquanto as divindades velhas danam curvadas na direo

    do cho. o caso de Omolu ou de Nan Buruku, cuja gestualidade expressa sua ligao

    com os ancestrais e com o retorno terra, ai , ao orum, o no conhecvel.

    Em geral todas as danas dos orixs possuem as seguintes caractersticas:

    1) a importncia do grupo que fortifica a ligao entre os fiis e oferece a possibilidadede ver a prpria imagem refletida como num espelho, danando os mesmos passos

    com os irmos-de-santo e a possibilidade de individualizar-se no transe, danando

    por si e para os outros a prpria identidade rtmica;

    2) a relao com o elemento terra, a me terra que alimenta e que a base dos homens,sendo o lugar dos ancestrais;

    3) a importncia do ritmo que como explica Belinga (1994) o prprio verbo e temassim a funo de chamar e de organizar a desordem, o momento da crise seja a

    nvel macrocsmico, seja a nvel microcsmico;

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    4) a simplicidade dos movimentos que podem ser repetidos ciclicamente e que ajudamo fiel a si concentrar sobre si mesmo para permitir a descida da divindade e a sua

    fixao no corpo;

    5) a oferta de uma simbologia danada, cantada, tocada que permite iniciada dar umaresposta ao no-senso do sofrimento traduzindo a dor na linguagem do mito.

    No ritual, a dana no pode existir sem a msica e vice-versa, porque um para o outro

    um call and response a nvel energtico. O rum, o tambor mestre, na dana do transe,

    dialoga com o orix, a filha-de-santo possuida. O time-line no fixo, mas segue a

    dana e a dana segue os mandamentos do tambor.

    Na dana e na realizao da msica a idia fundamental de estar em harmonia consigo

    mesmo e com o resto do grupo, tendo a comunidade uma maior possibilidade de

    sobrevivncia quando todos os fiis participam. Sendo a msica to importante, assim

    so os sacerdotes-msicos, os alabs que aprendem o repertrio ao longo do tempo. So

    eles que podem chamar a comunidade e sobretudo os orixs a descer na festa, so eles

    que ajudam os fiis a cair no santo acelerando os ritmos, e que encerram a festa com

    um toque especial.

    A dana sobretudo na primeira parte do ritual, noxir, um tipo de meditao dinmicae por isso dana-se pequeneninho, com a funo de se concentrar. Os toques dos

    orixs poderiam ser comparados a um mantra que ajuda a se focalizar no prprio eixo.

    A percusso dos ps, a repetio dos mesmos movimentos sustentados pelos ritmos dos

    tambores, obriga o corpo a se centrar e a seguir o ritmo que do exterior liga-se ao

    interior, parando o fluxo do pensamento cotidiano e obrigando o fiel a se relacionar com

    o interior, por isso na dana os olhos esto fechados a simbolizar que o olhar voltado

    para o interior.Conforme j observado atravs da dana e da msica pretende-se parar o fluxo do

    tempo para poder voltar ao momento do mito, onde tudo comeou e onde pode-se agir

    com a ajuda da magia para poder reequilibrar as energias, como era no comeo e sempre

    ser. O ritual todo um esforo para voltar ao comeo.

    O tempo o tempo circular do mito que comea e acaba no mesmo ponto, ciclicamente

    e ritmicamente seguindo os ritmos da natureza, dia-noite, sol-lua, estaes, etc. O

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    tempo, nesse sentido movimento, a materializao do movimento, como diz Duplan

    (1987): "para marcar o tempo, temos que agir, batendo sobre um tambor com a mo ou

    sobre o cho com os ps. Criando o tempo, criamos o movimento."

    O espao sagrado o campo do culto, o lugar no qual o caos transforma-se em cosmo,

    tornando possvel a vida humana, por isso polissmico. Existem dois espaos, um

    interior, o prprio corpo da filha-de-santo, receptculo do sagrado, sagrado ele mesmo,

    e um externo o barraco. Esses dois lugares so o teatro da transformao ritual. Neles

    o fiel deixa o mundo cotidiano e alcana o encontro to assustador, mas to desejado,

    com o divino. s no espao sagrado continente que ele pode voltar totalidade e

    comunicar-se com a divindade.

    A dana desenha no s o percurso do corpo no espao para chegar ao divino, mas

    tambm percorre a planta arquitetnica do templo, desenhando o caminho para

    alcanar o sagrado. O espao sagrado, o barraco, durante a dana, preenchido com

    os corpos em movimento que expressam as vrias possibilidades no espao do divino e

    a liberdade do homem em se movimentar para todas as direes. A divindade e o

    homem podem utilizar uma estrada curvilnea ou um caminho que prev varias

    mudanas de direes.

    OS RITMOS SINCOPADOS

    A sncope, outra caracterstica tpica da msica africana e do candombl o efeito

    rtmico produzido pelo prolongamento ou deslocamento do acento do tempo fraco ao

    tempo forte.

    O prolongamento do acento faz com que no exista uma percusso na batida forte.

    Assim, produz-se uma quebra da expectativa por uma batida forte e por isso verifica-se

    um choque. Os ritmos sincopados quebram a ordem dos ritmos esperados e criam assim

    um novo padro de ordem. O nosso corpo, o corao, o nosso andar obedecem a um

    funcionamento rtmico iscrono. A falta desse ritmo provoca um choque, uma

    sensao de cada. Simbolicamente nos fala da possibilidade das coisas no acontecer

    sempre na mesma forma, e obriga o corpo ao movimento. O ritmo sincopado proposto

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    num modo obsessivo adquire, no contexto ritual, uma grandssima importncia porque

    altera a expectativa do padro rtmico, movimentando os acentos do tempo forte para o

    tempo fraco. Abre assim, talvez, a porta a outras dimenses, indicando metaforicamente

    outras vias de conhecimento; vias que requerem o corpo e no apenas a mente.

    Contribui, junto com outras componentes do rito a abrir as portas do orum, o

    inconhecivel.

    Esse movimento contnuo da sincope pode simbolizar o ritmo do universo e de todos os

    seres que o habitam: que movimentam-se entre os dois centros da vida e da morte,.....

    Essa polarizao indica o movimento contnuo e a circulao do ax, a energia vital, a

    qual a nica ...a dar um sentido msica e ao canto entoado pelas filhas ou filhos-de-

    santo. (Luz, 1995:571). Segundo Sodr, a sncope contribui a dar uma idia de um

    tempo homogneo capaz de voltar continuamente sobre ele mesmo, onde cada fim o

    comeo cclico de uma situao. (1979:21, cit de Luz, 1995: 567)

    A sncope produz simbolicamente uma ao cclica que liga-se ao conceito de

    reversibilidade do tempo e do espao no mito, que permite aos fieis voltar naquele

    tempo e, assim, se juntar a energia do orix. Essa volta no uma simples emoo,

    mas produz efeitos fsicos no organismo, na respirao, no movimento, muito maisfluido, enfim no corpo todo.

    CONCLUSO

    O conceito de doena algo de muito difcil a ser definido no candombl, porque em

    geral qualquer desordem ou modificao da normalidade tem a ver com o lado

    espiritual. Conforme observei, no candombl o orix pode chamar o fiel de vrias

    maneiras, muitas vezes atravs de uma doena ou de uma desordem psquica. Se adivindade exige ser feita, a filha-de-santo ser iniciada, obtendo em vrios casos a cura

    da doena e um maior equilbrio psicolgico. O tratamento em grande medida

    conduzido atravs da msica que pe em comunicao a terra, o ai com o mundo

    espiritual, o orum; o exterior e o interior.

    A cura da doena na teraputica do candombl representa um aspecto muito

    fascinante, e oposta teraputica oficial, onde o doente privado do prprio corpo

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    que na maioria das vezes fragmentado e sem uma prpria historia. No candombl, o

    sofrimento inscrito numa rede de relaes que consegue juntar a experincia pessoal,

    social e sobrenatural, oferecendo uma explicao e um tratamento mais abrangente da

    prpria dor.

    um tratamento que utiliza basicamente o elemento sonoro - musical22. A msica

    coloca o fiel em uma nova dimenso existencial, a da experincia religiosa, protegendo-

    o no contexto ritual.

    No momento em que existe uma harmonia entre a musica interior e aquela dos

    tambores, advm o conhecimento do outro, do divino e atravs do outro de si. Aparece

    assim o conceito do duplo divino; a filha-de-santo, deixando-se possuir, cria ela

    mesma o outro e nesse processo de criao-incorporao o experimenta intensamente

    dentro de si, at ela mesma possui-lo, at inscrev-lo no prprio corpo como uma nova

    identidade-rtmica interior a qual poder fazer referncia ao longo da sua vida.

    No candombl atravs do corpo que o homem comea o caminho da cura e do

    conhecimento religioso. no corpo que vivem as experincias e unem-se as vrias

    informaes simblicas sobre o mundo; no corpo que, vivendo as energias sagradas, o

    fiel pode comunicar com o divino. O corpo com a iniciao age primeiro no mundosagrado depois no mundo cotidiano atravs uma gestualidade e uma dana aprendidas

    ao longo da estadia no terreiro e interage dinamicamente com o espao e com o tempo

    aos quais d novos sentidos e novas direes.

    Na dana de possesso, o corpo possudo pelo orix, como relata Galimberti: habita o

    mundo. Um habitar que no conhecer, mas se sentir em casa (1993:69). O espao

    no um espao posicional (no qual o corpo posiciona-se como objeto frente a outros

    objetos), mas situacional (no sentido de ser vivido pelo corpo com todos os sentidos)porque se mede a partir da situao na qual o corpo se encontra. um espao que existe

    porque esse corpo existe, assim que o corpo no um gro de areia no espao, pois no

    existiria espao se ele no existisse. Desde o corpo possvel tomar todas as direes

    no espao. Esse espao corpreo (considerando o espao realmente vivido e conhecido

    22 A msica influencia especialmente a dimenso corprea e os processos psicocorpreos, conforme aspesquisas recentes em musicoterapia.

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    sensualmente) no tem um significado s terico, mas traz consigo os traos dos

    sentimentos pessoais, das necessidades sociais e dos elementos emotivos, como os de ter

    lugares conhecidos onde o corpo pode voltar.

    No espao cada objeto, cada planta, cada parte do corpo humano remetem

    simbolicamente a outras coisas. Assim como a coluna sagrada presente em vrios

    terreiros liga o ai, a terra ao orum, o mundo sobrenatural, a coluna vertebral liga a

    cabea, o ori com os ps, a ancestralidade, permitindo ao longo do transe de voltar ao

    tempo da origem quando no existia o corte entre o mundo dos homens e aquele das

    divindades.

    No candombl o corpo aprende a conhecer a prpria origem e a prpria essncia no s

    como mero conceito cognitivo, mas atravs da experincia direta e vivida das emoes

    que o formam.

    Cada homem possui o prprio duplo sonoro no orum que encontra no momento da

    possesso que aprende a conhecer e a expressar atravs da msica e da dana, aprendida

    em momentos especficos e num estado alterado de conscincia para dar a possibilidade

    de construir uma nova identidade. A musica dos atabaques conduz o fiel em uma

    viagem simblica que o transforma. A filha-de-santo possui, danando o prprio ritmo,o prprio tempo e o prprio espao.

    A percusso dos tambores, como sublinha Duplan23 a materializao do tempo e ter

    conscincia do tempo conhecer a historia da prpria famlia, saber de ser um anel

    numa corrente infinita que originou-se com o primeiro ancestral mtico do qual o

    homem uma parte.

    As danas ligadas estreitamente msica, permitem a presena viva, partcipe e

    consoladora da divindade entre os homens. Atravs das coreografias e atravs acontrao e a expanso dos movimentos o orix expressa a prpria qualidade

    energtica, percebvel s pelas iniciadas. A dana e a msica expressam a divindade

    numa nica imagem onde contedo e forma se interligam estreitamente. Esta unidade s

    alcanada em momentos especficos, construdos ritualmente, seguindo modelos

    23 Duplan danarino e formador na rea de danaterapia. Ele fundou uma prpria metodologia chamadaExpression Primitive. Os seus conceitos so tomados d Revista Arteterapia (1993).

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    culturais que repetem-se no tempo. transmitida atravs da experincia corporal e

    musical porque os contedos so to profundos que no poderiam ser comunicados s

    com palavras. Eis porque o uso da linguagem no-verbal nos ritos remete a imagens e

    sentimentos raramente expressos e por isso adquire um grande poder. Os gestos

    possuem um significado, um efeito restaurador que as simples palavras no podem

    oferecer.

    Vivendo o mito, danando-o e cantando-o, o fiel consegue assumir, canalizar e

    expressar os afetos e os prprios sentimentos; o ritmo das percusses que ressoa no

    interior do corpo obriga o fiel ao ser, presena e no fuga que o homem experimenta

    na frenesi do mundo contemporneo.

    A comunicao com o mundo invisvel atravs do transe permite de meter em ato e de

    dinamizar as experincias mitolgicas favorveis cura, com a mobilizao das

    identidades mticas que podem traduzir a doena e canaliz-la em novas experincias

    corporais no interior da estrutura continente do rito.

    A msica e a dana so teraputica num sentido que no atravs das palavras que

    advm a cura, mas atravs das experincias emocionais vividas pelo corpo at a

    construo de uma nova identidade mais profunda que ser a nova base daquele fiel.As percepes do corpo no so mais rejeitadas como algo de desconhecido, mas

    aceitadas e experienciadas como algo de precioso e de aconselhador. Creia-se assim

    novas possibilidades existenciais atravs de uma dialtica que liga o exterior e o

    interior.

    Esses rituais articulam e ordenam novas possibilidades existenciais, favorecendo

    assim uma nova organizao e uma nova harmonia interna. Novas possibilidades

    existenciais que so oferecidas do externo: das outras filhas j iniciadas e d Me-de-santo. As sacerdotisas falam iniciada agindo com ela, danam, cantam e

    transformam as velhas experincias em experincias preciosas.

    A iniciada recolhe essas novas informaes passadas a nvel no-verbal com as quais

    acorda, vive e canaliza as prprias emoes. As iniciadas aprendem a reconhecer o

    prprio ritmo sonoro e ao acolh-lo. Essa experincia no puramente auditiva mais

    envolve todos os sentidos. A possesso permite assim um jogo, uma ligao entre o

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    interior e o exterior. O fiel deixando-se possuir cria o outro e nesse processo de criao-

    incorporao o experimenta intensamente dentro de si at ele mesmo possui-lo. O

    tempo movimento e criando o tempo cria-se o movimento que vida, ax, energia de

    vida, por isso o candombl permite a presencia das divindades vivas, porque aclama a

    vida como algo de precioso e sagrado que deve ser vivido agora e aqui .

    A arte executa aqui a parte do leo criando formas que simbolizam os sentimentos

    humanos (Langer, 1980:40). O sofrimento e a desordem interna so acessveis s

    atravs da linguagem dos smbolos quer dizer atravs da comunicao no-verbal. O

    ritmo, a musica, a dana, as cores permitem uma comunicao bem mais profunda do

    simples comunicado explcito. O ritmo das palavras, o toque parecido a um mantra, a

    concentrao e a expanso do corpo, o nvel de verticalidade e de horizontalidade, o uso

    do espao, o uso do tempo, da msica e da dana oferecem filha-de-santo a

    possibilidade de construir e viver a prpria identidade-ritmo, atravs uma pluralidade de

    meios impregnados de emoo e no transmitidos mecanicamente.

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