a técnica pontilista no impressionismo · o pontilismo é de paul signac mais que o impressionismo...

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a técnica pontilista no impressionismo ... Vart est trop spontané, trop mêlé cfinstinct, pour obéir à des systèmes... MAUCLAIRE O pontilismo é uma nota incidental na arte impressionista. E, na frondosa ár- vore genealógica do impressionismo, um gomo isolado, que mal chegou a florir e não deixou descendentes. Foi mais uma experiência que uma escola, muito embora lhe tenham chamado escola neo-impressionista. © O pontilismo é de Paul Signac mais que o impressionismo é de Claude Mo- net. Simplesmente, Monet creou por instinto uma técnica de arte que satis- fazia o espírito da arte, e Signac creou por dedução racional e científica, um processo técnico de que resultaram obras sem vida, ásperas e frias. Deu-se com o pontilismo um fenó- meno curioso: enquanto a teoria im- pressionista foi, por assim dizer, uma revelação da técnica de Monet, a técnica do pontilismo foi uma consequência da teoria impressionista Daí o seu cará- cter artificial, e a rigidez das suas obras. © A técnica pontilista resulta da apli- cação â pintura das leis da refracção, sob a influência das teorias científicas da óptica. Consiste em substituir as manchas de côr usadas na pintura impressionista, por pontos, por esferas diminutas, cuja regularidade obrigava a uma maior vi- bração, devendo actuar mais directa- mente, e mais intensamente, sobre os órgãos da visão. O princípio impressionista da disso- ciação das cores prevalece no ponti- lismo; a técnica, porém, mais científica, mais exacta, resulta por isso mesmo pouco sentida. © Tão falso como arte foi o pontilismo, que quási todos os seus cultores aca- baram por abandoná-la, mais tarde ou mais cedo. Pissarro e Lautrec, mal ten- taram a nova técnica; Maurice Denis, Pierre Bonnard, Edouard Vuillard, que um tempo seguiram o neo-impressionis- mo, também desertaram; o próprio Seu- rat, que é citado como um dos mais ta- lentosos pontilistas e dos que mais eficaz- mente o defenderam, também lhe fugiu. Só lhe ficaram fiéis Paul Signac, que o fundou, e Théo Van Rysselberghe. E o pontilismo morreu definitiva- mente. DIONÍSIO DE

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Page 1: a técnica pontilista no impressionismo · O pontilismo é de Paul Signac mais que o impressionismo é de Claude Mo net. Simplesmente, Monet creou por instinto uma técnica de arte

a técnica pontilista no impress ion ismo

... Vart est trop spontané, trop mêlé

cfinstinct, pour obéir à des systèmes...

MAUCLAIRE

O pontilismo é uma nota incidental na arte impressionista. E, na frondosa ár­vore genealógica do impressionismo, um gomo isolado, que mal chegou a florir e não deixou descendentes. Foi mais uma experiência que uma escola, muito embora lhe tenham chamado escola neo-impressionista.

© O pontilismo é de Paul Signac mais

que o impressionismo é de Claude Mo­net. Simplesmente, Monet creou por instinto uma técnica de arte que satis­fazia o espírito da arte, e Signac creou por dedução racional e científica, um processo técnico de que resultaram obras sem vida, ásperas e frias.

Deu-se com o pontilismo um fenó­meno curioso: enquanto a teoria im­pressionista foi, por assim dizer, uma revelação da técnica de Monet, a técnica do pontilismo foi uma consequência da teoria impressionista Daí o seu cará­cter artificial, e a rigidez das suas obras.

© A técnica pontilista resulta da apli­

cação â pintura das leis da refracção,

sob a influência das teorias científicas da óptica.

Consiste em substituir as manchas de côr usadas na pintura impressionista, por pontos, por esferas diminutas, cuja regularidade obrigava a uma maior vi­bração, devendo actuar mais directa­mente, e mais intensamente, sobre os órgãos da visão.

O princípio impressionista da disso­ciação das cores prevalece no ponti­lismo; a técnica, porém, mais científica, mais exacta, resulta por isso mesmo pouco sentida.

© Tão falso como arte foi o pontilismo,

que quási todos os seus cultores aca­baram por abandoná-la, mais tarde ou mais cedo. Pissarro e Lautrec, mal ten­taram a nova técnica; Maurice Denis, Pierre Bonnard, Edouard Vuillard, que um tempo seguiram o neo-impressionis-mo, também desertaram; o próprio Seu-rat, que é citado como um dos mais ta­lentosos pontilistas e dos que mais eficaz­mente o defenderam, também lhe fugiu.

Só lhe ficaram fiéis Paul Signac, que o fundou, e Théo Van Rysselberghe.

E o pontilismo morreu definitiva­mente.

D I O N Í S I O D E S Á