a sala de ensino regular
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A Sala de Ensino Regular e o Atendimento Educacional Especializado: políticas e práticas
na Rede Municipal de Educação de Imperatriz, MA
Rita Maria Gonçalves de Oliveira1
RESUMO
A Rede Municipal de Educação de Imperatriz (MA) é composta por 88 escolas na zona
urbana e apenas 21 salas de recursos para atender aos alunos com NEEs, matriculados nas
escolas de ensino regular. Os dados apresentados fazem parte da pesquisa Observatório
Nacional de Educação Especial (ONEESP), que envolve estudos locais nos municípios com
os professores das salas de recursos multifuncionais (SRMs) e tem como um de seus focos de
investigação “Organização do Ensino nas Salas de Recursos Multifuncionais e Classes
Comuns”. A temática foi discutida com 21 professores de SRMs divididos em dois grupos e
pesquisadores da Universidade Federal do Maranhão e se utilizou da metodologia da pesquisa
colaborativa realizada por meio de grupo focal. O principal objetivo atribuído pelos
professores das salas de recursos ao processo de escolarização dos ANEEs está relacionado à
aprendizagem e ao desenvolvimento dos alunos. Contudo, os professores afirmam que o
desenvolvimento do aluno depende não apenas de sua capacidade, mas das condições que lhes
são oferecidas. Constitui-se atribuição do professor das SRMs o atendimento educacional
especializado aos alunos público alvo da educação especial. Suas atribuições estendem,
também, ao professor da classe comum e a família dos alunos. Os professores afirmam
encontrar dificuldades para efetivação do que está previsto na legislação. Em suas atribuições,
priorizam o atendimento aos alunos com necessidades educacionais especiais, contudo,
prevalece o distanciamento entre os professores das salas de recursos e os professores das
salas comuns.
Palavras-chave: Inclusão. Alunos com Necessidades Educacionais Especiais. Salas de
Recursos Multifuncionais.
1 INTRODUÇÃO
A rede municipal de educação de Imperatriz, em consonância com as orientações
presentes nos documentos nacionais e internacionais, que objetivam garantir o direito de todos
à educação, tem buscado se organizar segundo os princípios da educação inclusiva. Segundo
Carvalho (2004), as recomendações de cunho internacional e as que se voltam para a América
Latina e Caribe, portanto que mais se aproximam da realidade do Brasil, definem que os eixos
prioritários das políticas educativas devem ser a aprendizagem de qualidade e a atenção à
diversidade. Nesta perspectiva, faz-se necessário a implementação de serviço para atender as
necessidades dos alunos, Público alvo da educação especial.
1 Mestre em Educação. Professora Assistente I do Curso de Pedagogia do Centro de Ciências Sociais, Saúde e
Tecnologia da Universidade Federal do Maranhão/ CCSST- UFMA de Imperatriz. Pesquisadora do ONEESP em
Imperatriz- MA. [email protected]
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Em Imperatriz, a rede municipal de educação é composta por 120 escolas ( 88 da
zona Urbana e 32 da zona Rural), de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Educação de
Jovens e Adultos (EJA.). Para atender a demanda dos alunos com necessidades educacionais
especiais, matriculados nas escolas de ensino regular, também faz parte desta rede, 21 salas de
recursos multifuncionais (SRMs).
A Política Nacional de Educação Especial, na Perspectiva da Educação Inclusiva
da SEESP, MEC (Brasil, 2008), busca oportunizar que o processo de escolarização dos alunos
que possuem deficiência ocorra nas escolas regulares em classes comuns, juntos com os
demais alunos. Esta tendência emergiu em meados da década de 1970, posteriormente, com a
Constituição Federal (Brasil, 1988) e a Lei de Diretrizes e Bases (Lei Nº 9.394/96) amplia-se
os pressupostos da educação inclusiva. Contudo, a efetivação do direito à educação dos
alunos com necessidades educacionais especiais (NEEs), só será garantida à medida que as
escolas responderem às necessidades educacionais especiais destes alunos.
A partir desse direcionamento a União, Estados e Municípios têm adotado
políticas públicas buscando garantir o direito à educação dos alunos público alvo da educação
especial. Contudo, segundo Carvalho (2004), as leis asseguram os direitos, mas são a partir
das ações que se colocam em prática os dispositivos legais presentes nas legislações. Diante
desta afirmação, constitui-se de fundamental importância avaliar os impactos das propostas da
educação inclusiva,2 levando em consideração a perspectiva assumida na legislação brasileira
referente ao processo de escolarização dos alunos com necessidades educacionais especiais.
Diante do atual contexto, pesquisadores brasileiros na área de Educação Especial
tem se mobilizado em torno de discutir: Como produzir conhecimento para avançar as
políticas e práticas de inclusão escolar no país? Como melhorar a articulação entre o
conhecimento que vem sendo produzido e as decisões nas políticas educacionais relacionadas
à perspectiva de inclusão escolar? A partir destes questionamentos cria-se uma rede nacional
de pesquisadores na área de educação especial, em diferentes estados, entre eles o estado do
Maranhão e se institui o Observatório Nacional de Educação Especial (ONEESP), tendo como
foco as políticas e práticas de inclusão escolar na realidade brasileira.
Os dados apresentados fazem parte da pesquisa ONEESP que envolve estudos
locais nos municípios com os professores das salas de recursos multifuncionais e tem como
foco a avaliação em âmbito nacional do Programa de Implantação das Salas de Recursos
Multifuncionais da Secretaria de Educação Especial/MEC (BRASIL, 2007). Para realização
2 Constitui-se como uma das orientações do Encontro Regional sobre Educação para Todos na America Latina,
ocorrido em Santiago do Chile (2002).
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da pesquisa se utilizou da metodologia da pesquisa colaborativa3 realizada por meio de grupo
focal com os 21 professores das salas de recursos multifuncionais, objetivando garantir o
anonimato da pesquisa os professores foram identificados por códigos.
2 PROCESSO DE INCLUSÃO ESCOLAR DO ALUNO COM NECESSIDADES
EDUCACIONAIS ESPECIAIS
A década de 1990, no Brasil, representa um marco para as políticas educacionais,
inspiradas por movimentos nacionais e internacionais4, ampliam-se as críticas na forma com
que a educação especial se consolidou ao longo de sua trajetória e o discurso pela construção
de uma educação inclusiva.
Segundo Oliveira (2000), a Conferência Mundial sobre Educação para Todos
(1990), representa um marco na formação de políticas governamentais para a educação nas
últimas décadas. Quando se discutem os documentos internacionais, deve-se considerar que o
Brasil vem se comprometendo com os princípios e metas definidos, que passaram a fazer
parte da legislação brasileira, estando presentes na Constituição Federal (BRASIL, 1988), no
Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (Lei Nº 8.069/1990), na Lei de Diretrizes e Bases
da Educação (Lei 9.394/1996) e no Plano Nacional de Educação (BRASIL, 2001).
O paradigma da inclusão legitima-se e difunde-se em nível mundial por meio das
políticas educacionais, em que a sociedade e os sistemas de ensino são convocados a se
reorganizarem conforme princípios democráticos para incluir a todos. Contudo, Ferreira
(2006), questiona a possibilidade de construir uma escola inclusiva, em uma sociedade
excludente e chama a atenção para as particularidades da realidade brasileira, em que ainda
não se encontrou soluções dignas para as carências da população pobre, e como parte, as
pessoas com deficiência. Neste contexto, o acesso à escola, depende da articulação de
políticas sociais de educação, saúde, renda, emprego para mudar uma realidade excludente.
A educação inclusiva propõe o acesso de todos às escolas de ensino regular, o que
expressa não apenas um avanço conceitual em relação à escola especial e à escola regular,
3 Segundo Ibiapina (2008, p. 31), pesquisa colaborativa é, no âmbito da educação, atividade de co-produção de
saberes, de formação, reflexão e desenvolvimento profissional, realizada interativamente por pesquisadores e
professores com objetivo de transformar determinada realidade educativa. 4 Declaração Mundial sobre Educação para Todos (1990), Declaração de Salamanca sobre Necessidades
Educativas Especiais: acesso e qualidade (1994), Declaração de Cochabanba, na Bolívia (2001) sobre Políticas
Educativas no início do século XXI. Os documentos originados destas Conferências alertam para a prioridade
que deve ser dada aos grupos mais desfavorecidos e vulneráveis seja pela condição de pobreza, aos analfabetos
maiores de 15 anos, às populações rurais, às minorias étnicas, religiosas e de migrantes, aos menores de seis
anos, aos alunos com dificuldades de aprendizagem e aos alunos com deficiência.
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mas também significa uma mudança de paradigmas na educação, à medida que se fundamenta
em diferentes referenciais teóricos que possibilitam uma reavaliação de valores e atitudes.
Para Oliveira (2000), problematizar os aspectos que não estão claros seja de
natureza política, social, econômica, cultural ou pedagógica, rumo à mudança necessária não
significa uma oposição as novas orientações que se pretende para a educação inclusiva, ao
contrário, significa conhecer a realidade para que as mudanças possam se concretizar.
A redefinição das responsabilidades com relação à Educação Básica entre a
União, Estados e Municípios e a necessidade de aprimorar os sistemas educacionais para
incluir a todos, independentemente de suas diferenças e dificuldades individuais, demanda
políticas públicas que assegurem os direitos sociais da população.
Nesta perspectiva, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9.394/1996) § 1º
regulamenta a educação especial como uma modalidade de educação escolar; também
estabelece que a educação dos alunos com necessidades educacionais especiais ocorra,
preferencialmente, na rede regular de educação (Capítulo V Art. 58). No esforço de
adequação das escolas para atender os alunos, público alvo da educação especial, a Lei prevê
a criação de serviços especializados na rede regular de ensino. (BRASIL, 2001a)
Diante do que afirma a legislação, busca-se investigar a articulação entre a sala de
aula e o Atendimento Educacional Especializado a partir dos seguintes questionamentos: Qual
é a função da escolarização para alunos com necessidades educacionais especiais? Qual a
função do atendimento educacional especializado oferecido em salas de recursos
multifuncionais? Que relação existe entre o ensino da sala de recursos multifuncional e as
classes comuns que o aluno NEE frequenta? O trabalho na sala de recursos multifuncional
permite algum tipo de atuação fora da sala, por exemplo, com os professores da sala comum e
com as famílias dos alunos?
Para responder aos questionamentos toma-se por base entrevistas realizadas por
meio de grupo focal com 21 professores de SRMs da rede municipal de educação de
Imperatriz, organizados em dois grupos e tem como um de seus focos de investigação
“organização do ensino nas salas de recursos multifuncionais e classes comuns”.
3 CONTEXTUALIZAÇÃO DA PESQUISA
Imperatriz é o segundo município mais populoso do estado do Maranhão, com
uma população de 251.468 habitantes (IBGE/2013).
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Segundo o Censo Demográfico de 2010, a população de crianças de 0 a 5 anos era
de aproximadamente 25 mil crianças, sendo que de 0 a 3 anos correspondiam a 16.313, e as
de 4 a 5 anos eram 8.456. De acordo com o Plano Municipal de Educação (2014-2023), o
município de Imperatriz possui 12.383 crianças matriculadas na Educação Infantil (Censo
escolar, 2013), rede municipal e privada. Do total, 8.760 crianças foram matriculadas na rede
municipal, Creches (3.821) e Pré-escolas (4.938). Os dados da população do município de 0 a
5 anos em comparação com o número de matrículas referente a esta faixa etária revelam que a
garantia da educação, persiste como um desafio para o município de Imperatriz.
A partir do Plano Municipal de Educação (2014-2023), a rede municipal atende o
maior número de matrículas do Ensino Fundamental (30.887), incluindo Anos Iniciais
(16.884) e Anos Finais (13.993). Contudo, quando se estabelece uma relação entre os dados
da população do município com esta faixa etária e o número de matrículas do Ensino
Fundamental, levando em consideração que a rede municipal é a que atende maior demanda,
os dados reafirmam a necessidade de se ampliar os esforços, no município de Imperatriz, para
a democratização do acesso à educação. De acordo com o que afirma Ferreira (2006, p. 110),
“Ao democratizar o acesso à escola pública, sob influência das políticas de inclusão, as redes
públicas assumem de modo mais efetivo o compromisso com a inserção de alunos com
necessidades especiais”.
A rede municipal de educação, em 2002, mobilizou-se em prol da elaboração do
Plano Decenal de Educação de Imperatriz ( SEMED, 2002-2012). Através deste documento, o
município redefine uma política educacional comprometida com a inclusão dos alunos com
deficiência. Neste mesmo período, cria-se um setor na Secretaria de Educação responsável
pelo acompanhamento de sua efetivação. Este setor, a partir de 2010 passa a chamar Setor de
Inclusão e Atenção a Diversidade (SIADI). O comprometimento da rede municipal de
educação com a inclusão dos alunos que possuem deficiência é reafirmado, também, pelo
novo Plano Municipal de Educação (2014-2023).
O município de Imperatriz, de acordo com o Censo escolar (2013), possui 42.582
estudantes, sendo que destes 1.133 possuem deficiência. A partir dos dados do Setor de
Inclusão e Atenção a Diversidade, na rede municipal de educação havia 713 alunos com
deficiência matriculados: Educação Infantil (35), Ensino Fundamental ( 621), Educação de
Jovens e Adultos (57). Do total de alunos com deficiência, 270 frequentaram o atendimento
educacional especializado (AEE).
A partir dos direcionamentos presentes na política de educação especial, em uma
perspectiva inclusiva, constata-se o aumento do número de matrículas dos alunos que
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possuem deficiência nas escolas de ensino regular. Tendência que se manifesta em nível de
Brasil, como também se evidencia na rede municipal de educação de Imperatriz.
No entanto, segundo as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na
Educação Básica (BRASIL, 2001b), a política de inclusão de alunos com NEEs, na rede
regular, não deve se limitar à inserção na rede regular, mas deve representar uma mudança de
paradigma, de forma que proporcione a todos desenvolverem seu potencial com respeito às
diferenças.
Tendo como objetivo fortalecer o processo de inclusão nas classes comuns de
ensino regular, a rede municipal de educação, em 2010, foi contemplada com 15 salas de
recursos multifuncionais, esse número expandiu para 21 em 2013. Para atender a demanda de
alunos, público alvo da educação especial, das diferentes escolas, as salas de recursos foram
organizadas por pólos.
De acordo com o Decreto 6.571 (BRASIL, 2008) § 1º que dispõe sobre o
atendimento educacional especializado:
Considera-se atendimento educacional especializado o conjunto de atividades,
recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados institucionalmente, prestado
de forma complementar ou suplementar à formação dos alunos no ensino regular.
Diante desta definição buscou-se investigar junto aos professores de salas de
recursos, como se estabelece a “organização do ensino nas salas de recursos multifuncionais e
classes comuns” sua compreensão sobre a função da escolarização para alunos com NEEs e a
função do atendimento educacional especializado oferecido em salas de recursos
multifuncionais.
4 VIVÊNCIAS E ANÁLISES DOS PROFESSORES DAS SRMs DE IMPERATRIZ
Quanto ao questionamento sobre a função da escolarização para os alunos com
necessidades educacionais especiais e a função do atendimento educacional especializado P-
47 diz: “Eu costumo dizer que a função da escola é de acolher”. A análise das entrevistas
permite identificar uma concepção de cunho humanista quando relaciona a função da escola
em acolher o aluno. Contudo, Carvalho (2004) alerta sobre a necessidade de se questionar a
natureza dos níveis de acolhimento que se estabelece à medida que os alunos com deficiência
podem ser apenas meros ocupantes de um espaço físico na escola sem estarem integrados no
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grupo.
Associado a função da escolarização, como possibilidade de socialização presente
em alguns depoimentos dos professores, atribuiu-se relevante significado a função da
escolarização, como possibilidade de aprendizagem e desenvolvimento dos alunos com NEEs,
o que expressa que os professores das salas de recursos acreditam no potencial de
desenvolvimento dos alunos, além de suas limitações, o que pode ser observado através do
depoimento da professora: P 46 – “[...] a função do AEE vem complementar e suplementar
essa formação da sala comum, oferecendo oportunidade desse aluno avançar, tanto na
escolarização como na vida cotidiana dele, ou seja, dentro da escola e fora da escola, na
sociedade”.
Contudo, uma das professoras acrescenta, outras reflexões à sua fala ao afirmar
que o desenvolvimento do aluno com NEE. depende não só de sua capacidade, mas também
das condições que lhes são oferecidas, “seu desenvolvimento será de acordo com as
possibilidades que foram ofertadas a ele, do olhar do educador, da escola onde ele está” (P57).
A professora ressalta “têm coisas que não depende só da vontade da gestão da escola e nem
do professor da sala de recursos e do professor da sala regular, porque dependem de ações que
vêm da Secretaria de Educação e que vêm de ações maiores”. Este depoimento vai ao
encontro do papel do Estado na definição de suas políticas educacionais, tendo como
perspectiva a inclusão, levando em consideração que sua efetivação não depende apenas das
escolas e dos professores.
Em relação à função do AEE oferecido em salas de recursos multifuncionais, as
respostas vão desde a definição da sala de recursos como um espaço de possibilidades, até
compreender o atendimento educacional especializado, como complementar ou suplementar a
formação da sala comum.
De acordo com o Decreto 6.571 (BRASIL, 2008) constitui-se objetivo do
atendimento educacional especializado “I - prover condições de acesso, participação e
aprendizagem no ensino regular aos alunos referidos no art. 1º”.
Tomando por base o entendimento de cidadania em que o papel da escola é
permitir a todos o acesso ao conhecimento, observa-se que, segundo Mazzotta (1998), a
tessitura da conquista da cidadania está representada, também, na experiência de conviver
com a diversidade, conviver com o outro, diferente de um ambiente educacional que utiliza
práticas de segregação.
Após investigar a função da escolarização para os alunos com NEEs e a função do
atendimento educacional especializado, outro questionamento que se considerou relevante
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investigar foi a relação que existe entre o ensino da sala de recursos multifuncional e das
classes comuns que o aluno com NEE frequenta.
De acordo com os depoimentos, os professores das salas de recursos afirmam a
importância de desenvolver um trabalho articulado com os professores das salas comuns o
que se evidencia através da resposta de P- 39:
[...] professor da sala de recursos não trabalha isoladamente, ele tem que trabalhar
em conjunto com o professor da sala de aula comum, visando o aprendizado daquele
aluno com necessidade especial, então, a partir do planejamento do professor da sala
de aula comum, o professor da sala de recursos cria meios de trabalhar com aquele
aluno de forma diferenciada [...].
A Resolução CNE/CEB nº 4/2009 que institui as Diretrizes Operacionais para o
Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica traz como uma das atribuições
do professor da SRM estabelecer esta parceria, como também especifica sua finalidade.
Segundo a Resolução ( CNE/CEB nº 4/2009) constitui-se como uma das atribuições do
professor do AEE (Art. 13): VIII- “estabelecer articulação com os professores da sala de aula
comum, visando à disponibilização dos serviços, dos recursos pedagógicos e de acessibilidade
e das estratégias que promovam a participação dos alunos nas atividades escolares”.
Nos depoimentos encontra-se presente, também, a afirmação que o planejamento
constitui-se como possibilidade para aproximação entre estes profissionais, como também,
possibilita acompanhar os conteúdos que serão trabalhados pelos professores das classes
comuns. De acordo com P- 37:
[..] o professor da sala de recursos tem que está participando do planejamento e a
partir dos conteúdos que são ministrados na sala, o professor [...] prepara material,
para suplementar ou complementar, aquilo que o professor da sala comum está
tentando passar para o aluno na sala de aula.
Contudo, entre os professores investigados, encontram-se relatos de desafios
encontrados na relação entre o ensino da sala de recursos e das classes comum, devido alguns
fatores, como: grande número de alunos em algumas salas de recursos, alunos com pouca
frequência, a inclusão restrita ao acesso do aluno nas escolas de ensino regular como explicita
a professora:
[...] eu tenho encontrado dificuldade sobre essa questão de trabalhar o assunto, que
o professor da sala comum está trabalhando devido à sala ter bastante aluno e o
aluno vem com pouca frequência à sala de recursos, então eu acredito que quando
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cada escola tiver a sua sala de recursos e o número de alunos por sala diminuir,
então, o trabalho vai melhorar. (P-43)
Os professores das salas de recursos afirmam que sua organização por pólos a fim
de atender a demanda de diferentes escolas, gera problemas como a distância entre a sala de
recursos e as escolas, como também maior número de alunos a ser atendido por sala.
Contudo, a possibilidade de ampliar o número das salas de recursos, na rede municipal de
educação, é destacada como alternativa para amenizar os problemas levantados pelos
professores.
Um desafio revelado pela pesquisa foi o fato do planejamento ser reconhecido
pelos professores das SRMs, como uma possibilidade para a efetivação de um trabalho em
parceria com o professor da sala regular. No entanto, o fato do planejamento ser realizado em
todas as escolas da rede municipal, em um mesmo dia, foi identificado nos depoimentos dos
professores das SRMs como um obstáculo, pois impossibilita que o professor da sala de
recursos participe dessa atividade nas diferentes escolas. Esta problemática encontra-se
presente no depoimento de P- 43 “a questão do planejamento que coincide com a mesma data
e não podemos estar em todos os momentos ao mesmo tempo, em todas as escolas”. P- 46
“eu atendo a minha escola e mais três, todas longe, porque se eu estou atendendo um aluno no
AEE, como eu vou dar assistência na sala regular?”
De certa forma, alguns professores das salas de recursos ao analisarem as suas
atribuições, de acordo com a Resolução CNE/CEB nº 4/2009, manifestaram considerar
amplas as atribuições do professor do atendimento educacional especializado, de acordo com
a realidade que vivenciam nas SRMs.
Dando continuidade, buscou-se conhecer se o trabalho desenvolvido pelos
professores das salas de recursos permite algum tipo de atuação, fora da sala, com os
professores da sala comum e com as famílias dos alunos.
Os depoimentos expressam que existem diferentes realidades vivenciadas pelos
professores das salas de recursos que interferem em sua atuação com os professores das
classes comuns e com as famílias dos alunos com NEEs.
Os professores das SRMs têm buscado diferentes formas de expandir seu trabalho
aos professores das classes comuns e a família dos alunos. A professora P- 39 cita: “tem as
datas comemorativas, então, eu faço questão de participar, eu acho uma forma muito
importante de está em interação com a escola e com todos os alunos”. A professora encontra
nos eventos das datas comemorativas, como possibilidade de se envolver nas atividades da
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escola, em interação com os demais professores e alunos. Outra alternativa foi encontrada por
P-47 “No início do ano eu visitei todas as famílias e as escolas também e quem tem telefone,
eu telefono e às vezes à noite ou meio-dia vou sempre às famílias”. O professor trabalha em
uma escola da zona Rural e para atuar junto às famílias dos alunos, o professor relata utilizar
momentos, como horário de almoço e após o trabalho, até mesmo o telefone tem sido
utilizado para este contato.
Contudo, encontra-se presente entre os depoimentos, professores que relatam suas
dificuldades para atuar junto às demais escolas com os professores das salas comuns e
familiares dos alunos que frequentam as salas de recursos, como destaca os professores a
seguir: “A gente, enquanto professor de sala de recursos não tem muito tempo de buscar essa
parceria. Na escola que funciona a sala de recursos, até que ainda dá, no dia que falta um
aluno, naquele horário, a gente busca ir à sala regular (P-46). Outro desafio identificado na
fala dos professores das SRMs se refere ao acompanhamento do aluno com NEE na sala
comum.
O professor do AEE tem que acompanhar o aluno na sala regular, é essa a
dificuldade maior de está presente na sala regular, porque com a família e até com o
professor a gente na medida do possível, como foi dito, todo mundo corre atrás.
Agora esse acompanhamento dentro da sala que é mais difícil, porque as escolas são
longe, a família mora longe, então, a gente faz na medida do possível [...]. P- 58
A organização das SRMs por pólos, maior número de alunos presentes em
algumas salas, são fatores que devem ser levados em consideração. A quantidade de alunos
atendidos por sala de recursos interfere na possibilidade do professor da sala de recursos
desenvolver o atendimento individualizado ao aluno que necessita.
Segundo os professores, retirando um dia da semana destinado a formação
continuada, os demais dias são utilizados para o atendimento aos alunos, em grupo e
individual, trabalho que tem sido priorizado pelos professores das SRMs, buscando atender as
necessidades dos alunos.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Discutir sobre a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais
requer uma compreensão da dimensão política da educação, diante da perspectiva assumida
pela legislação, relacionada à inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais,
nas escolas de ensino regular.
A rede municipal de educação adota um compromisso político com a inclusão dos
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alunos com necessidades educacionais especiais nas escolas de ensino regular. Diante da
perspectiva assumida, a rede municipal de educação tem buscado se reestruturar para atender
as necessidades que o processo de escolarização dos alunos com NEEs requer, objetivando a
garantia do direito de todos à educação.
A pesquisa junto aos professores das salas de recursos proporcionou conhecer que
o principal objetivo atribuído por eles ao processo de escolarização dos alunos com
necessidades educacionais especiais está relacionado à aprendizagem e ao desenvolvimento
dos alunos, o que demonstra uma atitude positiva relacionada à inclusão dos alunos com
NEEs nas escolas de ensino regular. Contudo, afirmam que o desenvolvimento dos alunos
com NEEs depende não apenas da capacidade dos alunos, mas das condições que lhes são
oferecidas.
As Salas de Recursos Multifuncionais, na rede municipal de educação, estão
organizadas por pólos, buscando atender a demanda de todas as escolas. Esta organização
apresenta aspectos positivos, mas também necessita serem considerados os aspectos negativos
para a efetivação das ações previstas na legislação que tem como perspectiva a inclusão dos
alunos que possuem deficiência.
Constitui-se atribuição do professor, das salas de recursos, o atendimento
educacional especializado aos alunos público alvo da educação especial, contudo suas
atribuições estendem também ao professor da classe comum e a família dos alunos. Embora,
os professores reconheçam a importância dessa relação, encontram dificuldades para a
efetivação do que está previsto na legislação. A distância das escolas, o número de alunos
presentes em algumas salas, maior que em outras, dificulta a realização deste trabalho.
Assim, os depoimentos revelam que o trabalho priorizado pelos professores das
SRMs é o atendimento aos alunos com necessidades educacionais especiais. No entanto,
prevalece o distanciamento entre os professores das salas de recursos e os professores das
salas comuns. Este distanciamento dificulta que os professores das salas de recursos
acompanhem o currículo trabalhado nas salas comuns, como também o desenvolvimento
apresentado pelos alunos com necessidades educacionais especiais nas salas comuns.
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