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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ LEANDRO BUDKEWITZ A RESPONSABILIDADE CIVIL DO FORNECEDOR POR VÍCIO DO PRODUTO E DO SERVIÇO Tijucas 2007

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

LEANDRO BUDKEWITZ

A RESPONSABILIDADE CIVIL DO FORNECEDOR POR VÍCIO DO PRODUTO E DO SERVIÇO

Tijucas 2007

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LEANDRO BUDKEWITZ

A RESPONSABILIDADE CIVIL DO FORNECEDOR POR VÍCIO DO PRODUTO E DO SERVIÇO

Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação Tijucas. Orientador: Prof. MSc. Marcos Alberto Carvalho de Freitas

Tijucas 2007

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LEANDRO BUDKEWITZ

A RESPONSABILIDADE CIVIL DO FORNECEDOR POR VICIO DO PRODUTO E DO SERVIÇO

Esta Monografia foi julgada adequada para obtenção do título de Bacharel em

Direito e aprovada pelo Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí, Centro

de Educação de Tijucas.

Área de Concentração: Direito Civil e Direito do Consumidor

Tijucas, 23 de novembro de 2007

Prof. MSc. Marcos Alberto Carvalho de Freitas UNIVALI – CE Tijucas

Orientador

Profª. MSc. Eunice Pelizzaro UNIVALI – CE Tijucas

Membro

Profº. Esp. Fábio Gil Beal UNIVALI – CE Tijucas

Membro

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de Direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte

ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí

– UNIVALI, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer

responsabilidade acerca do mesmo.

Tijucas (SC), 23 de novembro de 2007.

__________________________________

Leandro Budkewitz

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A meus pais, José Budkewitz e Edite Budkewitz,

pelo orgulho e força que em mim depositaram; por

acreditarem em meus sonhos e por sua constante luta

para que estes fossem realizados, pois, mesmo diante

das dificuldades, souberam dispender todos os seus

esforços para oferecer a seu filho educação e estudo.

Ao meu irmão Lucas Budkewitz, e a minha

namorada Laise Cristina Dalri, por me fazerem

compreender o significado das palavras amor e

companheirismo, enfim, por simplesmente existirem em

minha vida.

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AGRADECIMENTOS

Ao Professor Marcos Alberto Carvalho de Freitas, meu orientador, por seu

entusiasmo, dedicação e paciência, e, sobretudo, por acreditar em meu projeto e

propiciar que o mesmo se transformasse nessa obra.

A todos os professores, que fizeram parte da minha vida durante estes cinco

anos, que me deram os subsídios necessários para que hoje, eu possa seguir em

frente, e construir meu próprio caminho.

A todos os meus amigos formandos, que trouxeram à minha caminhada,

momentos de alegria que jamais serão esquecidos.

Aos meus familiares, por sempre acreditarem em mim.

Em especial, ao meu grande amigo Tiago Elias Dadam.

A todas as pessoas, que aqui não mencionei, mas que fizeram e fazem parte

da minha vida, que acreditam em mim, e, sobretudo, que acreditam que viver,

sonhar e realizar é possível, sempre.

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A raiz da liberdade é efetivamente a vontade, mas a causa da liberdade é a razão.

Tomás de Aquino

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ABREVIATURAS

Art. – Artigo

Arts. – Artigos

CDC – Código de Defesa do Consumidor

CRFB/1988 – Constituição da República Federativa do Brasil de 19881

EC – Emenda Constitucional

ed. – edição

Inc. – inciso

LC – Lei Complementar

nº - número

p. – página

Rec. – Recurso

RE – Recurso Extraordinário.

Rel. – Relator

STJ – Superior Tribunal de Justiça

STF – Supremo Tribunal Federal

§ – Parágrafo

1 Adiante também designada de: Constituição Federal, CF, CF/88, Carta Magna, Carta Política e Lei Maior.

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RESUMO

O cerne da presente pesquisa é o estudo da Responsabilidade Civil do Fornecedor por Vício do Produto e do Serviço. A Responsabilidade Civil, como categoria jurídica que é, tem por escopo a análise da obrigação de alguém reparar o dano que causou a outrem, com fundamento em normas de Direito Civil. Os alicerces jurídicos em que se sustenta à responsabilidade civil, para efeito de determinar a reparação do dano injustamente causado, são oriundos da velha máxima que ninguém deve lesar ninguém. O uso da expressão responsabilidade civil ganhou o mundo não só porque a diferencia da responsabilidade criminal, mas, também, em razão de ser apurada no juízo cível. É, portanto, na esfera do Direito Civil que se indaga, tramita, litiga e decide para que se exija a reparação civil, que vem a ser a sanção imposta ao agente ou responsável pelo dano. Assim, transgredida a norma, deve o infrator ressarcir o prejuízo, se o lesado pleitear, judicialmente a reparação. Palavras-chave: Responsabilidade Civil. Fornecedor. Direito do Consumidor.

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ABSTRACT

The duramen of the present researches, it is the study of the Lawyer's Civil Responsibility. The Civil Responsibility as juridical category that it is, has for mark the analysis of the obligation of somebody to repair the damage that caused to somebody else, with foundation in civil law norms. The juridical foundations in that the civil responsibility in sustained, goes effect of determining the repair of the damage wrongly caused, they it plows originating from of the old maxim that nobody should harm nobody. The use of the expression civil responsibility won the world, not only because it differentiates it of the criminal responsibility, but also in reason of being select in the civil judgement. It is, therefore, in the sphere of the civil law, that is investigated, it processes, it fights and she decides for the civil repair to be demanded, that comes to be the sanction imposed the agent or responsible for the damage. Like this, transgressed the norm, it owes the offender it to reimburse the damage if harmed to plead him, judicially the repair. Key-boards: Civil Responsibility, Supplier, the Consumer Right.

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ROL DE CATEGORIAS E CONCEITOS OPERACIONAIS

Rol das categorias2 estratégicas à pesquisa, juntamente com seus

respectivos conceitos operacionais3.

Ação

"Entende-se, pois, por conduta o comportamento humano voluntário que se

exterioriza através de uma ação ou omissão, produzindo conseqüências jurídicas".

(CAVALIERI FILHO, 2007, p.24)

Consumidor

“Consumidor é todo indivíduo que se faz destinatário da produção de bens, seja ele

ou não adquirente, e seja ou não, a seu turno, também produtor de outros bens”.

(FILOMENO, 2005, p.227)

Consumidor Coletividade

“As coletividades de pessoas indetermináveis, também protegidas pela lei, são

aqueles grupos de pessoas em relação aos quais não é possível identificar e

particularizar os riscos ou prejuízos a que cada um ficou exposto em razão da

imperfeição de produtos e serviços”. (LEITE, 2002, p.51)

Consumidor Pessoa Jurídica

“Nesta hipótese, age a pessoa jurídica exatamente como consumidor comum, ou

seja, fazendo-se ela, pessoa jurídica, destinatária final dos referidos bens ou

serviços”. (SENE apud THIERRY BOURGOIGNE, 2001, p.1) 2 "Categoria é a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia". (PASOLD, 2002, p. 40]). 3 "Conceito operacional [cop] é uma definição para uma palavra e/ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos." (PASOLD, 2002, p. 40).

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Dano

“O ato ilícito nunca será aquilo que os penalistas chamam de crime de mera

conduta; será sempre um delito material, com resultado de dano”. (CAVALIERI

FILHO, 2007, p.71)

Dano Material

“O dano patrimonial pode também ser chamado dano material, sendo aquele que

afeta o patrimônio do agente passivo, seja total ou parcialmente”. (CHAIB, 2005, p.2)

Direito do Consumidor

“As normas instituídas pelo código consumerista são de ordem pública e interesse

social, pois não podem ser derrogadas por vontade dos interessados nas relações

de consumo e visam a resgatar a imensa coletividade de consumidores da

marginalização em faze do poder econômico, bem como dotá-la de instrumentos

adequados para o acesso à justiça, dada a presunção de vulnerabilidade da parte

consumidora”. (RESENDE, 2001, p.3)

Fornecedor

“Fornecedor é derivado do francês founir, founisseur, é todo comerciante ou

estabelecimento que abastece, ou fornece, habitualmente uma casa ou em outro

estabelecimento dos gêneros e mercadorias a seu consumo”. (PLÀCIDO E SILVA,

2005, p.129)

Fornecedor Aparente

“[...] é aquele que, aos olhos do consumidor, responsabiliza-se pela qualidade do

produto, de tal forma que o consumidor adquire o produto porque imagina que tal

fornecedor participou do processo produtivo ou que infere, ao produto, a qualidade

desejada pelo consumidor. O fornecedor aparente não participa diretamente do

processo produtivo. Ele apenas participa como elemento fiscalizador, uma vez que

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são terceiras pessoas que desenvolvem a atividade direta da fabricação”.

(PEREIRA, 2003, p.39)

Fornecedor Presumido

“Fornecedor presumido é geralmente aquele que adquire produtos anônimos,

industrializados ou não, para vender ao mercado de consumo. Geralmente, são

importadores e comerciantes. A lei admite, por ficção, que assumam a condição de

fabricantes, para que em defesa do consumidor, possam-lhes ser imputada à

responsabilidade pelos acidentes de consumo.” (PEREIRA, 2003, p.40).

Fornecedor Real

[...] toda pessoa física ou jurídica que participa da realização e criação do produto

acabado ou de parte componente do mesmo, inclusive a matéria-prima, ou seja, é o

fornecedor final assim como o fornecedor intermediário, podendo ser, portanto o

fabricante, o produtor e o construtor. (PEREIRA, 2003, p.40)

Produto

“Produto, grosso modo, é tudo que seja passível de venda para fins de consumo,

que não possa ser confundido com o exclusivo emprego de habilidade”. (LUZ, 1999,

p.14)

Responsabilidade Civil

“Poder-se-á definir a responsabilidade civil como a aplicação de medidas que

obriguem alguém a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros em razão

de ato do próprio imputado, de pessoa por quem ele responde, ou de fato de coisa

ou de animal sob sua guarda (responsabilidade subjetiva), ou, ainda, de simples

imposição legal (responsabilidade objetiva)”. (DINIZ, 2003, p.36)

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Responsabilidade Contratual

“A responsabilidade contratual se origina da inexecução contratual. Pode ser de um

negócio jurídico bilateral ou unilateral. Resulta, portanto, de ilícito contratual, ou seja,

de falta de adimplemento ou da mora no cumprimento de qualquer obrigação. É uma

infração a um dever especial estabelecido pela vontade dos contratantes, por isso

decorre de relação obrigacional preexistente e pressupõe capacidade para contratar.

A responsabilidade contratual é o resultado da violação de uma obrigação anterior,

logo, para que exista é imprescindível a preexistência de uma obrigação”. (SILVA,

2002, p.1)

Responsabilidade Extracontratual

“A responsabilidade extracontratual é a oriunda da inobservância de previsão legal,

ou seja, da lesão de um direito subjetivo, ou melhor, dizendo, da inflação ao dever

jurídico geral de abstenção atinente aos direitos reais ou de personalidade, sem que

haja nenhum vínculo contratual entre o agente causador do dano e a vítima”. (DINIZ,

2003, p.120)

Responsabilidade Objetiva

“A lei impõe, entretanto, em determinadas situações, a obrigação de reparar o dano

independentemente de culpa. É a teoria dita objetiva ou do risco, que prescinde de

comprovação da culpa para a ocorrência do dano indenizável. Basta haver o dano e

o nexo de causalidade para justificar a responsabilidade civil do agente. Em alguns

casos presume-se a culpa (responsabilidade objetiva imprópria), noutros a prova da

culpa é totalmente prescindível (responsabilidade civil objetiva propriamente dita)”.

(BRITTO, 2003, p.1).

Responsabilidade Subjetiva

“Diz-se subjetiva a responsabilidade quando se baseia na culpa do agente, que deve

ser comprovada para gerar a obrigação indenizatória. A responsabilidade do

causador do dano, pois, somente se configura se ele agiu com dolo ou culpa. Trata-

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se da teoria clássica, também chamada teoria da culpa ou subjetiva, segundo a qual

a prova da culpa lato sensu (abrangendo o dolo) ou stricto sensu se constitui num

pressuposto do dano indenizável”. (BRITTO, 2003, p.1)

Serviço

“Serviço é um esforço de simplificação, exclusivamente a habilidade vendida para

consumo, que não esteja contida em eventuais relações de trabalho com vínculo

empregatício”. (LUZ, 1999, p.14)

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..................................................................................................... 18

2. A RESPONSABILIDADE CIVIL ......................................................................... 21

2.1 BREVE RETROSPECTO HISTÓRICO............................................................. 21

2.2 GENERALIDADES SOBRE A RESPONSABILIDADE CIVIL............................ 26

2.2.1 Conceito.......................................................................................................... 26

2.2.2 Pressupostos.................................................................................................. 29

2.3 TIPOS DE RESPONSABILIDADE CIVIL........................................................... 32

2.3.1 Responsabilidade Contratual e Extracontratual.............................................. 33

2.3.2 Responsabilidade Subjetiva e Objetiva.......................................................... 35

3. NOÇÕES ELEMENTARES SOBRE DIREITO DO CONSUMIDOR................. 40

3.1 O DIREITO DO CONSUMIDOR........................................................................ 40

3.1.1 Definição de Direito do Consumidor............................................................... 40

3.1.2 Autonomia do Direito do Consumidor............................................................. 40

3.1.3 Natureza Jurídica do Direito do Consumidor.................................................. 41

3.2 RELAÇÃO DE CONSUMO................................................................................ 43

3.3 SUJEITOS DA RELAÇÃO DE CONSUMO....................................................... 45

3.3.1 Conceito de Fornecedor................................................................................. 45

3.3.1.1 Fornecedor Real, Aparente ou Presumido.................................................. 47

3.3.1.2 Relação entre Fabricante, Produtor, Construtor e Importador..................... 48

3.3.2 Conceito de Consumidor................................................................................ 51

3.3.2.1 Consumidor Pessoa Jurídica....................................................................... 53

3.3.2.2 Consumidor Coletividade............................................................................. 54

3.4 PRODUTO E SERVIÇO.................................................................................... 54

3.4.1 Conceito de Produto....................................................................................... 54

3.4.2 Conceito de Serviço........................................................................................ 55

4 DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO FORNECEDOR POR VÍCIO DO

PRODUTO E SERVIÇO..........................................................................................

57

4.1 OS TIPOS DE VÍCIO......................................................................................... 57

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4.1.1 Os Vícios de Qualidade dos Produtos............................................................ 59

4.1.2 Os Vícios de Quantidade dos Produtos ......................................................... 61

4.1.3 Os Vícios de Qualidade dos Serviços............................................................. 63

4.2 DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO ...................................................................... 64

4.3 RESPONSABILIDADE CIVIL NO CÓDIGO DE DEFSA DO CONSUMIDOR

POR VÍICIO DO PRODUTO E SERVIÇO...............................................................

67

4.4 EXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE............................................................ 70

4.5 O POSICIONAMENTO JURISPRUDÊNCIAL ACERCA DA

RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR PELO VÍCIO DO PRODUTO E DO

PRODUTO E DO SERVIÇO....................................................................................

71

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 74

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 77

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1 INTRODUÇÃO

A presente monografia que tem como tema A Responsabilidade Civil do

Fornecedor pelo Vício do Produto e do Serviço, visa demonstrar a responsabilidade

do fornecedor no caso de qualquer tipo de vício tanto do produto, quanto do serviço.

A importância do estudo deste tema reside na necessidade de aprofundar os

estudos sobre Responsabilidade Civil do Fornecedor de acordo com o Código de

Defesa do Consumidor.

Assim, busca-se desenvolver da melhor forma possível a pesquisa, com base

em todos os materiais encontrados nas doutrinas, jurisprudência, legislação, entre

outros, que tratam do referido tema, tendo a finalidade de transmitir aos leitores

todos os conhecimentos adquiridos, aclarando as possibilidades de contratação de

serviços terceirizados.

A escolha do tema é fruto do interesse pessoal do pesquisador em descobrir

esta Responsabilidade.

O objetivo institucional da presente Monografia é a obtenção do Título de

Bacharel em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação

Tijucas.

Constitui-se como objetivo geral deste trabalho verificar a Responsabilidade

Civil do Fornecedor pelo Vício do Produto e do Serviço, bem como apresentar

entendimentos doutrinários e jurisprudenciais a respeito deste tema, para

demonstrar como este dano deve ser reparado ao Consumidor.

Para a confecção da presente monografia, foram abordados os seguintes

objetivos específicos:

a) estudar a responsabilidade civil;

b) estudar o conceito de fornecedor no Código de Defesa do Consumidor,

bem como Produto e Serviço;

c) verificar a responsabilidade civil do fornecedor pelo vício do produto de do

serviço.

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Não é propósito deste estudo adentrar em outras questões civis, o que se

deseja unicamente é verificar a quem a responsabilidade do fornecedor de acordo

com o Código de Defesa do Consumidor.

O relatório final da pesquisa foi dividido em três capítulos, podendo-se,

inclusive, delineá-los como três molduras distintas, mas conexas: a primeira, atinente

à Responsabilidade Civil, em um todo, seu conceito, pressupostos e tipos de

responsabilidade civil; a segunda consiste em uma análise no Código de Defesa do

Consumidor, conceituando direito do consumidor, consumidor, fornecedor, produto e

serviço; e, por último, um estudo da responsabilidade civil do fornecedor pelo vício

do produto e do serviço.

Quanto à metodologia empregada, registra-se que na fase de investigação foi

utilizado o Método4 Indutivo5, na fase de tratamento de dados o Método Cartesiano6,

e o relatório dos resultados expresso na presente monografia é composto na base

lógica Indutiva.

Nas diversas fases da pesquisa foram acionadas as técnicas do Referente7,

da Categoria8, dos Conceitos Operacionais9, da Pesquisa Bibliográfica10 e do

Fichamento11.

4 Conforme Pasold [2002, p. 104], “Método é a forma lógico-comportamental na qual se baseia o Pesquisador para investigar, tratar os dados colhidos e relatar os resultados”. 5 O Método Indutivo, segundo Pasold [2002, p. 103], consiste em “pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral”. 6 Segundo Pasold [2002, p. 237], Método Cartesiano é “base lógico-comportamental [...] que pode ser sintetizada em quatro regras: 1. duvidar; 2. decompor; 3. ordenar; 4. classificar ou revisar”. 7 “[...] explicação prévia do motivo, objeto e produto desejado, delimitado o alcance temático e de abordagem para uma atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa”. [PASOLD, 2002, p.241]. 8 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia”. [PASOLD, 2002, p. 229]. 9 “[...] definição estabelecida ou proposta para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias expostas”. [PASOLD, 2002, p. 229]. 10 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais”. [PASOLD, 2002, p 240]. 11 “Técnica que tem como principal utilidade otimizar a leitura na Pesquisa Científica, mediante a reunião de elementos selecionados pelo Pesquisador que registra e/ou resume e/ou reflete e/ou analisa de maneira sucinta, uma Obra, um Ensaio, uma Tese ou

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É conveniente ressaltar, enfim, que seguindo as diretrizes metodológicas do

Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí, as categorias fundamentais são

grafadas, sempre, com a letra inicial maiúscula e os acordos semânticos que

procuram resguardar a linha lógica do relatório da pesquisa e suas respectivas

categorias, por opção metodológica, são apresentados no rol de Categorias Básicas

e Conceitos Operacionais, no início do trabalho.

Ressalte-se que a estrutura metodológica e as técnicas aplicadas neste

relatório estão em conformidade com as propostas apresentadas na obra de Pasold

[Prática da pesquisa jurídica], Colzani [Guia para redação do trabalho científico] e no

Caderno de Ensino nº 4 [PROEn, formação continuada, Ano 2].

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as Considerações Finais,

nas quais são apresentados pontos conclusivos destacados, seguidos da

estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre a responsabilidade

civil do fornecedor pelo vício do produto e do serviço. Com este itinerário, espera-se

alcançar o intuito que ensejou a preferência por este estudo.

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2 A RESPONSABILIDADE CIVIL

2.1 BREVE RETROSPECTO HISTÓRICO

A evolução da Responsabilidade Civil partiu da própria necessidade da

sociedade, Responsabilidade tinha sentido expiatório, ou seja, para ser

Responsável, bastava estar no mundo. (GUSMÃO, 1999).

O surgimento da Responsabilidade Civil para Guimaro Júnior (2004, grifo do

autor, p.4) foi:

Antes de ingressar nos corpos legislativos das nações ocidentais, e da doutrina e jurisprudência dedicar a atenção que realmente lhe cabe, a questão da responsabilidade em decorrência do dano já permeava as mais primitivas relações humanas. Com o surgimento dos primeiros agrupamentos, a descoberta da agricultura e o desenvolvimento das atividades manufatureiras, a vida em sociedade passa a exigir uma interação verdadeiramente contratual. Abandonando o nomadismo e estabelecendo domicílio, o grupo social estratifica-se, distribui papéis aos que optam pela segurança social do mono, polis ou civita, e exige recíproco respeito à autoridade do governante e de seus pares.

Frizzo (2003, p.1) demonstra o início da Responsabilidade Civil antes do

Direito Romano:

Antes mesmo do Direito Romano, as mais antigas codificações mesopotâmicas já previam a noção de reparação de dano. O Código de Hamurabi punia o causador do dano com sofrimento igual. A civilização helênica instituiu o conceito de reparação do dano causado, com sentido objetivo, e independente da violação das normas predeterminadas.

Mas juridicamente, Britto (2003, p.1) diz que é na Pena do Talião, com a visão

do delito do Direito Romano, pois, que se encontra o berço da Responsabilidade

Civil, a qual evoluiu sensivelmente com o advento da Lei das XII Tábuas, que fixou o

valor da pena a ser paga pelo ofensor ao ofendido.

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Guimaro Júnior (2004 p.4) também fala do início da Responsabilidade Civil no

Direito Romano:

O espírito eminentemente jurídico da civilização romana, com suas contribuições que ainda hoje honram o Direito, demonstra uma importante atitude para que a noção de ressarcimento ganhasse seu verdadeiro e real espaço. Se, primitivamente, os habitantes do Lácio utilizavam em suas relações cotidianas o mesmo critério de aplicação de Justiça comuns aos babilônios, no período compreendido entre a ascensão da República, em 509 a.C., até a queda do Império Romano do Oriente, com a tomada de Constantinopla pelos otomanos em 1453, o mundo antigo testemunhou o nascimento e desenvolvimento de um sistema jurídico que, desvinculando-se do caráter divino da aplicação da Justiça, deixou, através da utilização do raciocínio lógico aplicado ao caso concreto, um legado que sustenta a grande família romano-germânica de Direito, à qual o Brasil se filia.

Chegou o tempo em que não podia mais se fazer justiça com as próprias

mãos, era necessário aceitar as decisões tomadas pelas autoridades, Frizzo (2003,

p.1) explica como funcionou este período:

No decorrer do tempo, com o uso da composição foram sendo fixadas as penas indenizatórias, de acordo com o dano causado. Surgiu a necessidade de separar os delitos em públicos dos privados; os primeiros eram ofensas mais graves, de caráter perturbador da ordem, e eram reprimidos pela autoridade; nos últimos, a autoridade apenas intervinha para fixar a composição, evitando conflitos.

Maria Helena Diniz (2003, p.10) cita a Lei Aquília como importante fato na

evolução de Roma:

No ano 572 da fundação de Roma, um tribuno do povo, chamado Lúcio Aquilo, propôs e obteve a aprovação e sanção de uma lei de ordem penal, conhecida como Lei Aquília, que possuía dois objetivos: o primeiro de assegurar o castigo à pessoa que causasse um dano a outrem, obrigando-a a ressarcir os prejuízos dele decorrentes; e o segundo punir o escravo que causasse algum dano ao cidadão, ou ao gado de outrem, fazendo-o reparar o mal causado.

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Britto (2003, p.1, grifo do autor) também acompanha a idéia de Diniz:

Maior evolução do instituto ocorreu, porém, com a Lex Aquilia, que deu origem à denominação da responsabilidade civil delitual ou extracontratual, ou seja, a chamada responsabilidade civil aquiliana, já referida. A concepção de pena foi, então, aos poucos, sendo substituída pela idéia de reparação do dano sofrido, finalmente incorporada ao Código Civil de Napoleão, que exerceu grande influência no Código Civil brasileiro de 1916.

Concordando com os demais autores, Correia (2002, p.1) traça um breve

histórico da Responsabilidade Civil:

Num estágio mais avançado, o Estado toma as rédeas, e proíbe a vítima de fazer justiça pelas próprias mãos, estabelecendo a obrigatoriedade da composição, a partir de uma indenização pecuniária. Durante esse período, cria-se uma espécie de tabela que estabelece o quantum equivalente a um membro amputado, à morte etc. No ano 572 da fundação de Roma, um tribuno do povo, chamado Lúcio Aquílio, propôs e obteve a aprovação e sanção de uma lei de ordem penal, que veio a ficar conhecida como Lei Aquília, que possuía dois objetivos: assegurar o castigo à pessoa que causasse um dano a outrem, obrigando-a a ressarcir os prejuízos dele decorrentes; punir o escravo que causasse algum dano ao cidadão, ou ao gado de outrem, fazendo-o reparar o mal causado. O Direito francês aperfeiçoou as idéias românicas e, a partir dele, foram estabelecidos certos princípios que exerceram sensível influência nos outros povos, tais como: direito à reparação, sempre que houvesse culpa, ainda que leve, separando-se a responsabilidade civil (perante a vítima) da responsabilidade penal (perante o Estado); a existência de uma culpa contratual (a das pessoas que descumprem as obrigações), e que não se liga nem a crime nem a delito, mas se origina da imperícia, negligência ou imprudência. Surge o Código de Napoleão, e com ele a distinção entre culpa delitual e contratual. A partir daí, a definição de que a responsabilidade civil se funda na culpa, propagou-se nas legislações de todo o mundo.

Para Santana (1997, p.32) Responsabilidade Civil surge da seguinte forma:

[...] ingressa na órbita jurídica após ultrapassada, entre os povos primitivos, a fase da reação imediata, inicialmente grupal, depois individual, passando pela sua institucionalização, com a pena do talião, fundada na idéia de devolução da injúria e na reparação do

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mal com mal igual, já que qualquer dano causado a outra pessoa era considerado contrário ao direito natural.

A partir desse período passou a distinguir-se Responsabilidade Civil de

Responsabilidade Penal. O Direito Romano abandonou a idéia de fazer justiça com

as próprias mãos e passou a adotar o sistema nulla poena sine lege.

Aos poucos a idéia de pena foi substituída pela idéia de reparação pelo dano

sofrido. Essa idéia foi incorporada pelo Código Civil de Napoleão.

Seguindo Souza (2001, p.1) vê-se a evolução da Responsabilidade Civil no

Direito Brasileiro:

No Brasil, nas Ordenações do Reino, o direito romano era mandado aplicar como subsidiário ao direito pátrio, ditado pelo artigo 2º da chamada Lei da Boa Razão (Lei de 18 agosto de 1769), que dizia “que o direito romano servisse de subsídio, nos casos omissos, não por autoridade própria, que não tinha, mas por serem muitas as suas disposições fundadas na boa razão”. Essa foi a primeira fase do direito positivo brasileiro no que tange à responsabilidade civil. A seguir com o Código Criminal de 1830, o início da segunda fase, começando a se delinear, com o instituto da “satisfação”, uma concepção do que seja ressarcimento. Uma próxima fase, a terceira, tem início pela genialidade de Teixeira de Freitas, o qual não concordava com que a responsabilidade civil estivesse ligada a responsabilidade criminal. Ele observava em seus escritos, que o ressarcimento do prejuízo ocasionado pelo delito passava a ser abordado como competência da legislação civil. Isso ocorria segundo ele, em conseqüência da Lei de 3 de dezembro de 1841 ter derrotado o Código Criminal, tendo revogado-lhe o art. 31 e o § 5º do art. 269 do Código de Processo. Nessa mesma época, portanto, o instituto da responsabilidade civil se consolida como independente da responsabilidade criminal, passando, também a se fundamentar no conceito de culpa, desenvolvendo-se a teoria da responsabilidade direta, sendo admitida a presunção de culpa no dano causado por coisas inanimadas.

No Brasil o Código Civil de 1916 que sofreu grandes influências do Código de

Napoleão tratou discretamente do assunto, mas a reparação de Dano Moral só foi

aceita pelo Supremo Tribunal Federal em 1966.

Atualmente o Código Civil Brasileiro reconhece expressamente a

Responsabilidade Civil, de acordo com os estudos de Orlando Gomes (2004, p.39):

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O Novo Código Civil, no título que figura em cima do seu artigo 927 (Parte Especial, Livro I, Título IX), categoriza o dever de indenizar como uma obrigação. Vale ressaltar, entre as modalidades de obrigações existentes (dar, fazer, não fazer), o Código inclui mais uma, a de indenizar. Qual seria a natureza dessa obrigação de indenizar? As obrigações podem repartir-se em voluntárias e legais. As voluntárias são criadas por negócios jurídicos, trata-se de um contrato ou não, respeitando o princípio da autonomia da vontade, obrigações que existem por vontades das partes. Já as obrigações legais são as impostas por lei, aqui a vontade das partes só intervém como impulso, e não como modeladora dos efeitos jurídicos estabelecidos em lei. Alguns autores sustentam que, excepcionalmente, haverá responsabilidade sem obrigação, como no caso da fiança e outras situações.

O ordenamento jurídico brasileiro reconhece, expressamente, tanto a

Responsabilidade Subjetiva (estribada na culpa), quanto a Responsabilidade

Objetiva (independente de culpa). (BRITTO, 2003).

Correia (2002, p.1) completa dizendo:

Sem abandonar a Teoria da Culpa, atualmente vem ganhando terreno a Teoria do Risco, que se baseia na idéia de que o exercício de atividade perigosa é fundamento da responsabilidade civil. Isto significa que a execução de atividade que ofereça perigo possui um risco, o qual deve ser assumido pelo agente, ressarcindo os danos causados a terceiros pelo exercício da atividade perigosa.

A Constituição da República Federativa do Brasil em seu art 37, § 6º

demonstra a obrigação da reparação do Dano também pelas empresas sejam elas

públicas ou privadas:

As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado ao direito de regresso contra os responsáveis no caso de dolo ou culpa.

O Código Civil brasileiro de 2002, conquanto repetindo, em grande parte,

ipsis litteris, alguns dispositivos do código de 1916, e corrigindo a redação de outros,

consagrou a Responsabilidade Civil Objetiva no parágrafo único do art. 927 e previu,

no art. 186, a reparação do Dano exclusivamente moral. (BRITTO, 2003).

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O artigo citado acima possui a seguinte redação:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral comete ato ilícito.

2.2 GENERALIDADES SOBRE A RESPONSABILIDADE CIVIL

2.2.1 Conceito

Toda manifestação da atividade humana traz em si o problema de

Responsabilidade. E talvez seja essa a maior dificuldade enfrentada pelos

doutrinadores que tentam conceituá-la. (FRIZZO, 2003).

Para conceituar Responsabilidade Civil é necessário inicialmente conceituar

estas duas palavras separadamente, Correia (2002, p.1, grifo do autor) mostra o

significado individual de Responsabilidade e Civil:

A palavra “responsabilidade”, segundo o vocabulário jurídico origina-se do vocábulo responsável, do verbo responder, do latim respondere, que tem o significado de responsabilizar-se, vir garantindo, assegurar, assumir o pagamento de que se obrigou, ou do ato que praticou. O termo “civil” refere-se ao cidadão, assim considerado nas suas relações com os demais membros da sociedade, das quais resultam direitos a exigir e obrigações a cumprir.

Stoco (1999, grifo do autor, p. 27) apresenta definição semelhante a esta ao

dizer que “no mundo jurídico a noção de responsabilidade está ligada intimamente a

própria origem da palavra, do latim respondere, que significa responder a alguma

coisa, ou seja, alguém é responsabilizado por seus atos".

Partindo deste ponto, pode-se conceituar Responsabilidade Civil de maneira

clara. O conceito mais comum de Responsabilidade Civil encontra-se no Código Civil

Brasileiro (2002) em seu artigo 927 que diz o terá Responsabilidade Civil “aquele

que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”.

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Verifica-se que a legislação brasileira atribui à Responsabilidade Civil àquele

que praticar atos por imprudência, imperícia ou negligência, obrigando-o a reparar o

Dano.

Rodrigues (2002, p.43) considera a que Responsabilidade Civil "como a

obrigação que pode incumbir uma pessoa a reparar o prejuízo causado a outra, por

fato próprio, ou por fato de pessoas ou coisas que dela dependam”.

Maria Helena Diniz (2003, p.36) conceitua Responsabilidade Civil da seguinte

forma:

Poder-se-á definir a responsabilidade civil como a aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros em razão de ato do próprio imputado, de pessoa por quem ele responde, ou de fato de coisa ou de animal sob sua guarda (responsabilidade subjetiva), ou, ainda, de simples imposição legal (responsabilidade objetiva).

Frizzo (2003, p.1) também conceitua Responsabilidade Civil, não de maneira

tão complexa, mas com as mesmas idéias:

A responsabilidade civil consiste na obrigação do agente causador do dano em reparar o prejuízo causado a outrem, por ato próprio ou por alguém que dele dependa. Assim a responsabilidade civil pode ser conceituada pela obrigação de fazer ou não-fazer ou ainda pelo pagamento de condenação em dinheiro.

Segundo De Plácido e Silva (2005, p.1119), "é a obrigação de reparar o dano

ou de ressarcir o dano, quando injustamente causado a outrem. Resulta da ofensa

ou da violação de direito, que redundam em dano ou prejuízo a outrem".

Ulderico Pires dos Santos (1987, p.33) acredita que:

[...] a melhor definição da responsabilidade é a que a concebe como causa determinante do dever de não violar o direito alheio, seja por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, isto é, seja lá através de que procedimento for.

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Schaefer (2003, p.39) apresenta uma distinção entre Responsabilidade Civil e

Penal:

A responsabilidade civil e penal são decorrentes do mesmo fundamento, qual seja, a culpa latu sensu (dolo, imprudência, negligência e imperícia) e, embora ontologicamente idênticas, diferenciam-se em seus efeitos. Enquanto do Direito Civil procura estabelecer o estado das coisas antes da ocorrência do fato, o Direito Penal busca a manutenção da ordem social, punindo o agente nos casos em lei expressamente previstos. A responsabilidade civil preocupa-se com o prejuízo patrimonial do ato ilícito; a penal, com a paz social. Na pena cominada deve ser proporcional à gravidade da infração e à responsabilidade do infrator. Na civil esta proporção se dá analisando-se a extensão do dano causado, embora a sentença do juiz criminal possa influenciar do juiz cível.

É possível caracterizar a Responsabilidade como a repercussão obrigacional

da atividade humana, sendo que todo ente capaz de adquirir direitos e exercê-los

por si mesmo diretamente, responderá pelos Danos causados por meio de sua

atuação no mundo jurídico. Assim, a Responsabilidade pode ser Civil ou Penal.

(FRIZZO, 2003).

De acordo com os conceitos demonstrados conclui-se que na

Responsabilidade Civil o devedor responde pelo Dano causado com o seu

patrimônio, jamais com prisão, pois esta não encontra-se nas hipóteses de prisão

civil apresentadas no artigo 5º inciso LVIII da Constituição Federal.

Para Xavier (2006, p.2):

No direito pátrio, existem várias modalidades de responsabilização, nas áreas civil, criminal, administrativa, comercial, trabalhista, funcional, dentre outras, logicamente seguindo normas legais específicas. A responsabilização civil e a criminal são independentes, conforme estabelece o Art. 935 do CC, verbis: “A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal”.

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2.2.2 Pressupostos

Para que seja caracterizada a Responsabilidade Civil é necessária a

presença de alguns pressupostos: Ação, Dano e Nexo de Causalidade entre o Dano

e a Ação.

Assentado o princípio, universalmente aceito, de que todo aquele que causar

Dano a outrem é obrigado a repará-lo, cabe-nos agora analisar, em linhas gerais, os

pressupostos ou elementos básicos da Responsabilidade Civil. (BRITTO, 2003)

Orlando Guimaro Júnior (2004, p.1) ressalva:

Estes são alicerces do que denominamos responsabilidade civil subjetiva, ou clássica, com o pressuposto culpa como elemento central. Autorizada doutrina, entretanto, com luz própria, e fundamento nas construções jurisprudenciais e sumulares de nossos egrégios tribunais, de longa data vislumbra e aceita a idéia de uma responsabilidade sem culpa, ou seja, desvinculada de um de seus mais importantes elementos, e que a cada dia angaria mais e mais adeptos, todos com fervorosos argumentos, o que pode ser comprovado pelo teor de alguns de nossos mais modernos instrumentos legislativos, como, por exemplo, o Código de Defesa do Consumidor.

Diniz (2003, p.39) diz que Ação “vem ser o ato humano comissivo ou

omissivo, ilícito ou lícito, voluntário e objetivamente imputável do próprio agente ou

de terceiro, ou de fato de animal ou coisa inanimada que cause dano a outrem

gerando o dever de satisfazer os direitos do lesado”.

Cavalieri Filho (2007, p.24) assim conceitua Ação: "Entende-se, pois, por

conduta o comportamento humano voluntário que se exterioriza através de uma

ação ou omissão, produzindo conseqüências jurídicas".

Para que a conduta humana acarrete a Responsabilidade Civil do agente, é

imprescindível a comprovação do Dano dela decorrente. Sem a prova do Dano,

ninguém pode ser responsabilizado. O Dano, ou prejuízo, é, pois, um dos

pressupostos da Responsabilidade Civil, Contratual ou Extracontratual, porquanto,

sem a sua ocorrência inexiste a indenização. (BRITTO, 2003)

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Chaib (2005, p.2) tece o seguinte comentário sobre o Dano:

Não é passível a noção de responsabilidade sem que haja um dano, afinal, o direito das obrigações preceitua o dever de reparar, sendo necessário, nesse contexto, que tenha ocorrido um dano e não apenas o simples interesse da vítima. O dano não é avaliado de maneira quantitativa, assim, cabe à justiça, qualificar a reparação de acordo com a lesão provocada ao interesse da vítima e não à sua extensão pecuniária. Nesse caso, de quantificação do dano, o interesse da vítima se torna peça fundamental.

Cavalieri Filho (2007, p.71) também explana sua idéia sobre o Dano:

A de que o ato ilícito nunca será aquilo que os penalistas chamam de crime de mera conduta; será sempre um delito material, com resultado de dano. Sem dano pode haver responsabilidade penal, mas não há responsabilidade civil.

Divergindo da idéia acima Caio Mário da Silva Pereira (2003, p.559) defende

a idéia de que o Dano pode ser tanto Moral, quanto Material, assim afirma: “O

fundamento da reparabilidade pelo dano moral está em que a par do patrimônio em

sentido técnico, o indivíduo é titular de direitos integrantes de sua personalidade,

não podendo conformar-se a ordem jurídica em que sejam impunemente atingidos”.

Xavier (2006, p.6) coloca que:

Quanto à natureza, o dano pode ser material, quando abranger coisas móveis ou imóveis; e imaterial ou pessoal, quando abalar a integridade física ou estética. Em sede de dano moral, este foi elevado a uma espécie de direito fundamental constitucional, como estabelece o Art. 5º, incisos V e X, como também a Súmula n°. 37 do Superior Tribunal de Justiça, informando este que “são cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato”. Trata-se de uma compensação ou equilíbrio pelo dano sofrido, que poderão ser atenuados com uma soma pecuniária, a ser aplicada em satisfações materiais ou ideais, sempre observando o caso concreto.

A grande problemática do ressarcimento do Dano Moral é discutida no

sentido de que, não se repara a dor, a honra, ou mesmo a integridade psicológica,

os quais, não podem ser medidos pecuniariamente. (CHAIB, 2005)

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O dano deve ser reparado completamente pelo agente que o causou a fim de

que o prejudicado possa retornar ao estatus quo ante, ou seja, antes do evento

danoso. Não desnecessário voltar a afirmar, que não há motivo para se falar de

responsabilidade sem que haja prejuízo, e não há motivo ou razão para recorrer ao

Estado-Juiz, se o dano e conseqüente prejuízo for ressarcido antes do ingresso em

juízo. É responsável no âmbito civil, o agente que atinge a esfera patrimonial,

quando resulta dano no patrimônio do prejudicado, ou moral, quando resulta dano à

moral, à honra, à reputação. Não esquecendo ainda, que o dano moral pode ensejar

dano patrimonial, dependendo do caso, este ressarcimento irá abranger tanto o

dano moral quanto o patrimonial. (MACHADO et all, 2000)

Britto (2003, p.1) cita que:

O dano moral é a lesão de interesses não patrimoniais de pessoa física ou jurídica. A Constituição Federal de 1988 fortaleceu, de maneira decisiva, a posição da pessoa humana, e de sua dignidade, no ordenamento jurídico, logrando a determinação do dever de reparar todos os prejuízos injustamente causados à pessoa humana.

Chaib (2005, p.2) também fala sobre o Dano Material:

O dano patrimonial pode também ser chamado dano material, sendo aquele que afeta o patrimônio do agente passivo, seja total ou parcialmente. Mas o dano patrimonial pode resultar da violação de bens personalíssimos, como o bom nome, a saúde, entre outros. Esta espécie de dano pode afetar tanto o patrimônio presente como o futuro, assim, ele abrange os danos emergentes e os lucros cessantes, encontrados no art. 402 do Novo Código Civil.

Seguindo a idéia acima, Britto (2003, p.1) acrescenta que:

O dano patrimonial, ou material, consiste na lesão concreta ao patrimônio da vítima, que acarreta na perda ou deterioração, total ou parcial, dos bens materiais que lhe pertencem, sendo suscetível de quantificação pecuniária e de indenização pelo responsável. O dano patrimonial abrange o dano emergente (o que efetivamente se perdeu) e o lucro cessante (o que se deixou de ganhar em razão do evento danoso).

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Dos pressupostos da Responsabilidade Civil, o Nexo de Causalidade é o de

mais difícil conceituação, devido a isso, se torna arriscado confundi-lo com a

imputabilidade.

O Nexo de Causalidade se relaciona a elementos externos, enquanto a

imputabilidade diz respeito à subjetividade, ou seja, a elementos internos. O que

pode acontecer é a ocorrência de imputabilidade sem Nexo Causal. (Cavalieri Filho,

2007).

Para Xavier (2006, p.6):

Não vigora, para o agente causador, o dever de indenizar determinado dano sem que entre este e a conduta desenvolvida observe-se a ocorrência de um nexo de causalidade. O exemplo tem quando o agente é acusado de locupletação ilícita, que será provado pelo nexo de causalidade da atitude do agente juntamente com o prejuízo pecuniário sofrido pela vítima. Caso a diminuição patrimonial da vítima não tenha sido ocasionada pelo agente, este se exime de qualquer responsabilização.

E o Nexo de Causalidade entre a Ação e o Dano é explicado por Britto (2003,

p.1):

A relação de causalidade entre a conduta humana (ação ou omissão do agente) e o dano verificado é a evidência pelo verbo “causar”, contido no artigo 186 do Código Civil. Sem o nexo causal, não existe obrigação de indenizar. A despeito da existência do dano, se sua causa não estiver relacionada com o comportamento do agente, não haverá que se falar em relação de causalidade e, via de conseqüência, em obrigação de indenizar. Nexo de causalidade é, é pois, o liame entre a conduta e o dano.

2.3 TIPOS DE RESPONSABILIDADE CIVIL

O Direito Civil moderno consagra o Princípio da Culpa como basilar da

Responsabilidade Extracontratual, abrindo, entretanto, exceções para a

Responsabilidade por Risco, criando-se, assim, um sistema misto de

Responsabilidade. (BRITTO, 2003)

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Segundo Diniz (2003, p.121), assim se divide a Responsabilidade Civil: a)

Quanto ao seu fato gerador: ela pode ser: contratual (partindo de um contrato), ou

extracontratual ou aquiliana (advinda da prática de um ato ilícito, seja por pessoa

capaz ou incapaz); b) Em relação ao seu fundamento: podendo ser objetiva (quando

se funda no risco), ou subjetiva (possuindo seu fundamento na culpa ou no dolo,

seja por ação ou omissão);

2.3.1 Responsabilidade Contratual e Extracontratual

Correia (2002, p.2) afirma que: “A Responsabilidade Civil contratual, como o

próprio nome já diz, é aquela oriunda do descumprimento de cláusula contratual”.

A diferença elementar entre a Responsabilidade Contratual e a

Extracontratual, é a de que o agente danoso pode ser responsável por uma conduta

descumpridora de uma disposição contratual, quando é infringida uma norma do

contrato entre as partes (agente – vítima) ou, então, de uma disposição legal,

quando se infringe um dever legal. A primeira caracteriza a Responsabilidade

Contratual, a segunda, a Extracontratual. (FRIZZO, 2003).

A Responsabilidade Civil Contratual, como o próprio nome já diz, é aquela

oriunda do descumprimento de cláusula contratual.

Silva (2002, p.1) dá a seguinte definição a ela:

A responsabilidade contratual se origina da inexecução contratual. Pode ser de um negócio jurídico bilateral ou unilateral. Resulta, portanto, de ilícito contratual, ou seja, de falta de adimplemento ou da mora no cumprimento de qualquer obrigação. É uma infração a um dever especial estabelecido pela vontade dos contratantes, por isso decorre de relação obrigacional preexistente e pressupõe capacidade para contratar. A responsabilidade contratual é o resultado da violação de uma obrigação anterior, logo, para que exista é imprescindível a preexistência de uma obrigação.

Para Muller (2003, p. 29) “Na responsabilidade contratual ao credor incube o

ônus da prova no que tange ao descumprimento da obrigação, cabendo ao devedor

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demonstrar em sua defesa que o fato se deu em decorrência de caso fortuito ou

força maior, ou ainda, por culpa exclusiva da vítima”.

O conceito de Xavier (2006, p.3) não diverge dos demais:

A responsabilidade contratual se dá quando uma pessoa causa dano pelo não cumprimento das cláusulas contratuais. Por exemplo: temos o caso corriqueiro de profissionais da advocacia que encaminham seus estagiários para lhe representar em audiência na defesa de seus clientes e são impedidos de realizar. Dano este causado na defesa da parte contratante.

Silva (2002, p.1) ainda conclui Responsabilidade Contratual da seguinte

forma:

Na responsabilidade contratual, não precisa o contratante provar a culpa do inadimplente, para obter reparação das perdas e danos, basta provar o inadimplemento. O ônus da prova, na responsabilidade contratual, competirá ao devedor, que deverá provar, ante o inadimplemento, a inexistência de sua culpa ou presença de qualquer excludente do dever de indenizar (Arts. 1056 CC). Para que o devedor não seja obrigado a indenizar, o mesmo deverá provar que o fato ocorreu devido a caso fortuito ou força maior (Art. 1058 CC).

Esclarece Diniz (2003, p.120) o que vem a ser a Responsabilidade

Extracontratual:

A responsabilidade extracontratual é a oriunda da inobservância de previsão legal, ou seja, da lesão de um direito subjetivo,ou melhor, dizendo, da inflação ao dever jurídico geral de abstenção atinente aos direitos reais ou de personalidade, sem que haja nenhum vínculo contratual entre o agente causador do dano e a vítima.

A definição de Silva (2002, p.1) sobre a Responsabilidade Extracontratual é:

A responsabilidade extracontratual, também chamada de aquiliana, se resulta do inadimplemento normativo, ou seja, da prática de um ato ilícito por pessoa capaz ou incapaz (Art. 156 CC), da violação de um dever fundado em algum princípio geral de direito (Art. 159 CC), visto que não há vínculo anterior entre as partes, por não estarem ligadas por uma relação obrigacional. A fonte desta inobservância é a lei. É a lesão a um direito sem que entre o ofensor e o ofendido

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preexista qualquer relação jurídica. Aqui, ao contrário da contratual, caberá à vítima provar a culpa do agente.

Frizzo (2003, p.1) conclui da seguinte maneira:

As responsabilidades são idênticas no que se refere aos seus pressupostos, exigindo a contrariedade ao direito, o dano e o nexo de causalidade entre ambos. A diferença entre elas está no ônus da prova, na origem da responsabilidade e no agente causador do dano.

2.3.2 Responsabilidade Subjetiva e Objetiva

O Direito é unânime em tratar a Responsabilidade Civil como fonte

obrigacional, o causador do Dano responde a reparação à pessoa ou aos bens da

vítima.

A teoria da Responsabilidade Subjetiva origina-se no Código Napoleônico, e

foi inserto no Direito Civil brasileiro pelo artigo 159 do Código de 1916.

Para Pereira (2003, p.562) “A essência da responsabilidade subjetiva vai se

assentar, fundamentalmente, na pesquisa ou indagação de como o comportamento

contribui para o prejuízo sofrido pela vítima”.

Para Britto (2003, p.1, grifo do autor) assegura que:

Diz-se subjetiva a responsabilidade quando se baseia na culpa do agente, que deve ser comprovada para gerar a obrigação indenizatória. A responsabilidade do causador do dano, pois, somente se configura se ele agiu com dolo ou culpa. Trata-se da teoria clássica, também chamada teoria da culpa ou subjetiva, segundo a qual a prova da culpa lato sensu (abrangendo o dolo) ou stricto sensu se constitui num pressuposto do dano indenizável.

Machado (et all, 2000, p.3) completa:

A responsabilidade subjetiva, dentro da doutrina de culpa, depende da comprovação pelo lesado, da vulneração de norma preexistente e nexo causal entre o dano e a antijuridicidade da conduta do agente. Verificamos, que nem sempre o lesado consegue provar esses elementos e em conseqüência, a vítima remanesce não indenizada, posto se admita que foi efetivamente lesada. A

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responsabilidade civil fundada na culpa tradicional não satisfaz e não dá resposta segura à solução de numerosos casos. A exigência da vítima de provar o erro de conduta do agente deixa o lesado sem reparação em grande número de casos. Com esta conotação, a responsabilidade, segundo a corrente objetivista, deve surgir exclusivamente do fato. É esta, atualmente, a conotação adotada.

A principal exigência da teoria subjetivista é a conduta culposa do agente, ou

apenas a sua culpa (culpa propriamente dita ou dolo), ficando a reparação do dano

ou a obrigação de indenizar, em segundo plano. (FRIZZO, 2003)

Xavier (2006, p.7) também comenta sobre este tipo de Responsabilidade:

A responsabilidade subjetiva toma como base a noção de culpa, devendo o sujeito passivo demonstrar o nexo de causalidade existente entre o dano e a ação ou omissão do agente. Entretanto, esta concepção se apresentou deveras injusta, pois nem sempre o paciente era capaz de evidenciar satisfatoriamente estes elementos, em virtude, especialmente, à desigualdade econômica entre as partes. Com a pouca satisfatividade e efetividade do entendimento acima exposto, os doutrinadores começaram a perceber que a responsabilidade civil fundada na culpa tradicional não detinha aplicabilidade para todos os casos.

Portanto, verifica-se a existência de quatro requisitos essenciais para a

apuração da Responsabilidade Civil subjetiva, senão vejamos: a) a Ação ou

Omissão; b) Culpa ou Dolo do agente; c) o Nexo de Causalidade; d) o Dano sofrido

pela vítima.

Soares (2005, p.1) apresenta o início da Responsabilidade Objetiva no

Código Civil de 2002:

O Novo Código Civil trouxe para a legislação geral algumas hipóteses de responsabilidade objetiva, mais especificamente a teoria do risco. O novo diploma legal procurou incluir no seu texto, muitas das conquistas evolutivas que estavam regulamentadas pela legislação especial.

Esta teoria encontra-se no artigo 927 do Código Civil:

Art. 927 Aquele que, por ato ilícito (art. 186 e 187), causar dano a outrem, é obrigado a repará-lo.

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Parágrafo único: Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano 0implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Machado (at all, 2000, p.2) acrescenta:

A corrente da responsabilidade objetiva é aquela que defende a responsabilidade civil como fundamento não apenas da culpa, mas também do risco, ou seja, quem desenvolve determinada atividade deve arcar com os riscos da atividade que podem, inclusive, criar riscos para terceiros. Temos, então, que a responsabilidade objetiva visa a estimulação do cuidado que as pessoas devem possuir com estados e condições adquiridas. Essa corrente tem caráter predominantemente social.

Com o objetivo de acabar com as injustiças provocadas pelas regras rígidas

da teoria da culpa, surgiu a teoria do risco. É a teoria da Responsabilidade Objetiva,

na qual o agente que, por intermédio de sua conduta, criou o risco de produzir dano,

tem o dever de repará-lo, mesmo que não haja a presença de culpa. (FRIZZO,

2003).

O conceito de Britto (2003, p.1) sobre esta teoria é o seguinte:

A lei impõe, entretanto, em determinadas situações, a obrigação de reparar o dano independentemente de culpa. É a teoria dita objetiva ou do risco, que prescinde de comprovação da culpa para a ocorrência do dano indenizável. Basta haver o dano e o nexo de causalidade para justificar a responsabilidade civil do agente. Em alguns casos presume-se a culpa (responsabilidade objetiva imprópria), noutros a prova da culpa é totalmente prescindível (responsabilidade civil objetiva propriamente dita).

Rui Stoco (1999, p.31), conceitua a teoria do risco, ou seja, a

Responsabilidade Objetiva:

É o que se fixa no fato de que, se alguém põe em funcionamento uma qualquer atividade, responde pelos eventos danosos que esta atividade gera para os indivíduos independente de determinar se em cada caso, isoladamente, o dano é devido à imprudência, à negligência, a um erro de conduta, e assim se configura a teoria do risco criado.

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Para esta teoria, toda pessoa que exerce alguma atividade cria risco de dano

para terceiros. E deve ser obrigada a repará-los, ainda que sua conduta seja isenta

de culpa. A responsabilidade civil desloca-se da noção de culpa para a idéia de

risco, ora encara como “risco-proveito”, que se funda no princípio segundo o qual é

reparável o dano causado a outrem em conseqüência de uma atividade realizada

em benefício do responsável (ubi emolumentum, ibi onus); ora mais genericamente

como “risco criado”, a que se subordina todo aquele que, sem indagação da culpa,

expuser alguém a suportá-lo. (XAVIER, 2006)

Conforme o ensinamento de Gonçalves (2007, p.24), no texto transcrito

adiante na qual não há que se fazer prova da Culpa, mas apenas do Nexo de

Causalidade e do Dano:

A lei impõe, entretanto, a certas pessoas, em determinadas situações, a reparação de um dano cometido sem culpa. Quando isto acontece, diz que a responsabilidade é legal ou ‘objetiva", porque prescinde da culpa esse satisfaz apenas com o dano e o nexo de causalidade. Esta teoria, dita objetiva, ou do risco, tem como postulado que todo o dano é indenizável, e deve ser reparado por quem a ele se liga por um nexo de causalidade, independentemente de culpa.

Pereira (2003, p. 563) comenta ainda que:

Caberá à jurisprudência, com a colaboração da doutrina, concretizar o que significa atividade que implique, por sua natureza, risco para os direitos de outrem, já que em princípio quase toda atividade humana gera risco para outra pessoa, o que levaria a crer que no atual sistema a responsabilidade objetiva é a regra e a subjetiva a exceção. Não parece ter a lei restringido as hipóteses para a atividade econômica, pois expressamente utilizou apenas o termo atividade. Isso significa, portanto, que dirigir um automóvel constitui atividade que põe em risco as direitos de outrem, sendo portanto a partir de agora a responsabilidade por acidentes de trânsito de natureza objetiva.

Dentro da teoria clássica da culpa, a vítima tem de demonstrar a existência

dos elementos fundamentais de sua pretensão, sobressaindo ao comportamento

culposo do demandado. Na culpa presumida ocorre uma inversão do onus probandi.

Em certas circunstâncias, presume-se o comportamento culposo do causador do

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dano, cabendo-lhe demonstrar a ausência de culpa, para se eximir do dever de

indenizar. Foi um modo de afirmar a responsabilidade civil, sem necessidade de

provar o lesado a conduta culposa do agente, mas sem repelir o pressuposto

subjetivo da doutrina tradicional. (MACHADO at all, 2000)

Conclui-se, assim, que a variação dos sistemas da obrigação indenizatória

civil se prende precipuamente, à questão da prova da culpa, ao problema da

distribuição do ônus probatório, sendo este o centro em que tem gravitado a

distinção entre a Responsabilidade Civil Subjetiva e a Responsabilidade Civil

Objetiva. (BRITTO, 2003)

Também devemos nos ater aos casos de irresponsabilidade do agente, que podem ser o “caso fortuito e a força maior, cláusulas de irresponsabilidade (cláusula de não indenizar), culpa exclusiva da vítima, erro, estado de necessidade, estrito cumprimento do dever legal, exercício regular de direito, fato de terceiro, legítima defesa, dentre outras”. As causas de exclusão de responsabilidade retiram da vítima qualquer possibilidade de reparação de danos. Acreditamos ser matéria de extrema relevância para a segurança jurídica, tanto na esfera cível quanto criminal. (Stoco, 1999, p.119)

Levantados os aspectos mais relevantes sobre a Responsabilidade Civil,

serão abordados no próximo capítulo, algumas noções sobre o Direito do

Consumidor.

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3 NOÇÕES ELEMENTARES SOBRE O DIREITO DO CONSUMIDOR

3.1 O DIREITO DO CONSUMIDOR

3.1.1 Definição de Direito do Consumidor

“Operar o direito do consumidor requer espírito revolucionário do direito

tradicional, considerando que a lei 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor),

estabelece conceitos e institutos próprios em seu ordenamento jurídico”. (Martins,

2001, p.1)

Com a criação do Código de Defesa do Consumidor passou a estudar-se

Direito do Consumidor, Leite (2002, p.62-63) demonstra o conceito desta disciplina:

“Direito do Consumidor é o ramo do Direito que estuda as relações jurídicas entre

fornecedor e consumidor final, em que este adquire produto daquele ou utiliza

serviços por ele prestados mediante remuneração e sem caráter trabalhista”.

O Direito do Consumidor surgiu como uma forma de proporcionar harmonia

entre Consumidor e Fornecedor em suas relações de consumo. (DELFINO, 2004)

3.1.2 Autonomia do Direito do Consumidor

O Direito do Consumidor só surge como disciplina autônoma do século XX,

com suas doutrinas e legislações próprias. Ele passou a abranger assuntos que

eram tratados no Direito das Obrigações, no Direito Comercial e no Direito

Financeiro. Delfino (2004, p.1) tece o seguinte comentário sobre a autonomia do

Direito do Consumidor:

A Lei das relações de consumo fez um corte horizontal em toda a extensão da ordem jurídica existente, permeando a sua disciplina por todos os ramos do direito – público e privado, contratual e extracontratual, material e processual. Estabeleceu uma disciplina

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única e uniforme para todas as relações de consumo, devendo ser aplicada em toda e qualquer área do Direito em que elas ocorrem.

Como cada nova disciplina jurídica necessita de um objeto, Leite (2002, p.64)

apresenta a relação de consumo como o objeto do Direito do Consumidor: “é

suficientemente relevante para justificar a criação de uma nova disciplina, já que

atinge grande parte dos atos da vida cotidiana de quase toda a população do

planeta”.

3.1.3 Natureza Jurídica do Direito do Consumidor

Paulo Neto (2003, p.4) coloca os pontos da Constituição que apresentam

preocupação com o Direito do Consumidor:

A preocupação do constituinte com os direitos do consumidor foi deveras ingente, o que se revelou pelo significativo destaque que a matéria mereceu, tendo sido, inclusive, situada a defesa do consumidor entre os direitos e garantias fundamentais, bem como entre os princípios da Ordem Econômica. Confiram-se os dispositivos constitucionais: Artigo 5º, inciso XXXII: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade nos seguintes termos: - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor” Artigo 24, inciso VIII: “Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico” Artigo 150, parágrafo 5º: “A lei determinará medidas para que os consumidores sejam esclarecidos acerca dos impostos que incidam sobre mercadorias e serviços”. Artigo 170, inciso V: “A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e a livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da Justiça Social, observados os seguintes princípios: - defesa do consumidor” Artigo 175, parágrafo único: “A lei disporá sobre: I - o regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua

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prorrogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão; II - os direitos dos usuários; III - política tarifária; IV - a obrigação de manter serviço adequado”. - Artigo 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias: “O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará código de defesa do consumidor”.

Delfino (2004, p.1) apresenta o início da do Direito do Consumidor no

universo jurídico:

A defesa do consumidor foi erigida pela atual Carta Magna a princípio constitucional da atividade econômica (art. 170, V); não bastasse isso, foi inserida no rol dos direitos e garantias individuais do citado Diploma legal (art. 5º, XXXII). A efetiva tutela do consumidor brasileiro, por sua vez, é realizada por intermédio de uma legislação – a Lei 8.078/90 – criada, outrossim, com base em um comando constitucional (art. 48 do ADTC).

Esta lei é o Código de Defesa do Consumidor, que em seu artigo 1º

estabelece o seguinte:

Art. 1º - O presente Código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos artigos 5º, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal, e artigo 48 de suas disposições transitórias.

Leite (2002, p.65) tece o seguinte comentário sobre o artigo descrito acima:

Dado serem de ordem pública e interesse social as normas de proteção e defesa do consumidor, os interesses por elas resguardados são irrenunciáveis. É irrelevante a vontade das partes, porque o interesse social está acima do individual. Essa irrenunciabilidade encontra seu fundamento no fato de que a lesão a um comum consumidor afetam um número indeterminado de outras pessoas e frustra o objetivo primordial da lei, que é o de reduzir os riscos de consumo por meio do desestímulo à repetição do erro pelo fornecedor.

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Luz (1999, p.5-6) também comenta o artigo em referência, destacando os

pensamentos predominantes sobre o assunto:

Predominou o pensamento de que o fato de consumir não determina o surgimento de uma classe homogênea por faltar-lhe objeto único e comum, cada categoria econômica, conservando características próprias de consumo. Haveria consumidores que se identificariam pelo nível sócio-econômico ou por hábitos de consumo, não existindo um critério para formação de um ente coletivo comum, salvo eventual associação criada para esse fim específico. Na decisão resultou ultrapassada, tendo em vista que o Código estendeu sua tutela a ambos os interesses, precisando apenas caracteriza-los.

3.2 RELAÇÕES DE CONSUMO

Manucci (2000, p.1) demonstra o aprimoramento das Relações de Consumo:

Com o implemento e a difusão do comércio, as relações de consumo experimentaram naturalmente ao longo dos tempos, um processo de aprimoramento e de desenvolvimento "pari passu" com o desenvolvimento das práticas comerciais, ganhando posteriormente importância, até atingir a forma contemporânea conhecida por nós, sendo devidamente regulamentada com o advento da lei 8078/90 (Código de Defesa do Consumidor), que passou a tutelar essa relação, revestindo-a de caráter público, afim de resguardar os interesses da coletividade.

Reconhecer a existência de uma Relação de Consumo é o passo inicial e

primordial para ser possível a aplicação das normas previstas pelo CDC. O não

reconhecimento desta relação nos remete à utilização de outros textos legais, os

quais serão competentes para reger relações comerciais, civis, etc. (SENE, 2002).

A relação jurídica é um vínculo que une duas ou mais pessoas caracterizando-se uma como o sujeito ativo e outra como passivo da relação. Este vínculo decorre da lei ou do contrato e, em conseqüência, o primeiro pode exigir do segundo o cumprimento de uma prestação do tipo dar, fazer ou não fazer. Se houver incidência do Código de Defesa do Consumidor na relação, isto é, se uma das partes se enquadrar no conceito de consumidor e a outra no de fornecedor e entre elas houver nexo de causalidade capaz de

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obrigar uma a entregar a outra uma prestação, estaremos diante de uma relação de consumo. (MARTINS, 2001, p.1)

Luiz Junior. (2005, p.1) mostra a origem das Relações de Consumo:

No decorrer da história da humanidade, verificou-se que o instinto de sobrevivência trouxe a idéia da permuta de mercadorias, momento em que o homem passou a compreender que haviam necessidades básicas a serem supridas e que, por si só, não conseguiria manter-se de forma digna. Surgiu, assim, a necessidade de busca de produtos que não dispunha, adquirindo-os mediante troca de mercadorias. Dessa forma, nasceram as relações de consumo e, desde então, passou-se a observar que as relações havidas entre fornecedor e consumidor eram dotadas de um desequilíbrio que foi acentuado ao longo do tempo.

As Relações de Consumo tem sua origem estritamente ligada às transações

de natureza comercial e ao comércio propriamente dito, surgindo naturalmente à luz

deste. (MANUCCI, 2000)

A Relação de Consumo é Relação Jurídica, pois se encontra regulamentada

pelo direito. Como visto anteriormente a Relação de Consumo é o objeto do Direito

do Consumidor.

Geralmente as Relações de Consumo surgem através de um negócio jurídico

compreendido entre duas ou mais pessoas, geradas através de princípios

contratuais básicos. (MANUCCI, 2000).

Segundo Leite (2002, p.54):

A relação de consumo é, por princípio, uma relação de cooperação, pois um cidadão entra com o bem ou serviço e o outro oferece em troca o pagamento do preço; ambos colaboram assim para o sucesso do objetivo comum, que é a transferência do domínio do bem ou a execução dos serviços.

Bonatto e Moraes (2003, p.68) também conceituam Relação de Consumo:

Relação jurídica de consumo é vínculo que se estabelece entre um consumidor, destinatário final, e entes a ele equiparados, e um fornecedor profissional, decorrente de um ato de consumo ou como

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reflexo de um acidente de consumo, a qual sofre a incidência da norma jurídica específica, com o objetivo de harmonizar as interações naturalmente desiguais da sociedade moderna de massa.

Filomeno (2005, p.233) entende que a "Relação de Consumo configura-se em

relação jurídica por excelência, pressupondo sempre três elementos, quais sejam

dois pólos de interesses (consumidor e fornecedor) e a coisa – objeto desses

interesses -, que representa o terceiro elemento e, consoante ao CDC, abrange

produtos e serviços".

3.3 SUJEITOS DA RELAÇÃO DE CONSUMO

No entanto, para aferir com precisão a existência de uma Relação de

Consumo, é indispensável ter conhecimento prévio de dois conceitos fundamentais,

necessários para se indentificar tal relação, quais sejam, Consumidor e Fornecedor.

(MANUCCI, 2000).

3.3.1 Conceito de Fornecedor

O conceito de Fornecedor é considerado pelos doutrinadores um conceito

amplo, e que geralmente é adotado o método de exclusão, ou seja, considerando

quem não é Fornecedor.

Para De Plácido e Silva (2005, p.129): “fornecedor é derivado do francês

founir, founisseur, é todo comerciante ou estabelecimento que abastece, ou fornece,

habitualmente uma casa ou em outro estabelecimento dos gêneros e mercadorias a

seu consumo”.

A definição legal de Fornecedor encontra-se no artigo 3º do Código de Defesa

do Consumidor:

Art. 3º - Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes

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despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

Dessa forma, observa-se também o conceito de Manucci (2000, p.2): “Por sua

vez, fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou

estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de

produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,

distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços (art. 4º da lei

8078/90)”.

Luz (1999, p.14) também conceitua Fornecedor como: “todo aquele que

produz ou comercializa produto ou serviço que se destina ao consumo final, seja

pessoa física, jurídica ou entes que tenham existência apenas fática”.

Na conceituação de fornecedor, com o elenco das diversas atividades

econômicas de provisão do mercado, o legislador adotou critério econômico e

objetivo. Com efeito, não há índole subjetivista, sendo relevante apenas, para a

configuração do fornecedor, que o ente, desenvolvendo atividade civil ou mercantil,

seja responsável pelo oferecimento, entrada ou intermediação de produtos ou

serviços no mercado, com profissionalidade. (PAULO NETO, 2003)

Já Grinover (2005, p.222) apresenta o seguinte conceito para Fornecedor:

Fornecedor é qualquer pessoa física, ou seja, qualquer um que, a título singular, mediante desempenho de atividade mercantil ou civil e de forma habitual, ofereça no mercado produtos ou serviços, e a jurídica, da mesma forma, mas em associação mercantil ou civil e de forma habitual.

Destacam-se dois elementos do conceito, a saber, o Elemento Subjetivo, ou

seja, a pessoa a quem se atribui o conceito, e o Elemento Objetivo, isto é, a

qualidade exterior que, associada ao sujeito, distingue-o e o faz classificado como

fornecedor. (ANDRADE NETO, 2000)

Almeida (2002, p.47) comenta que:

Praticamente, a definição legal esgotou todas as formas de atuação no mercado de consumo. Fornecedor é não apenas quem produz ou fabrica, industrial ou artesanalmente, em estabelecimentos

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industriais centralizados ou não, como também quem vende, ou seja, comercializa produtos nos milhares e milhões de pontos-de-venda espalhados por todo território.

Usando o método de exclusão explanado acima Leite (2002, p.44) demonstra

quem não se pode considerar Fornecedor:

Não se considera fornecedor o não-profissional que pratica ato de venda ocasional de objeto de sua propriedade, como, por exemplo, um veículo usado. Ao contrário, a professora que, não sendo comerciante profissional, adquire produtos de beleza para, nas horas vagas, revendê-los a terceiros, como forma de complementar seu orçamento doméstico, responde como fornecedora.

Muller (2003, p.23) diz que:

Tem-se assim que para a caracterização de fornecedor é necessário que haja remuneração, ou seja, um pagamento pelos serviços, salienta-se que remuneração não se refere somente ao pagamento efetuado diretamente entre consumidor e fornecedor, mas benefício comercial, ou seja, prestações de serviços que aparentemente ofereçam gratuitamente algum tipo de produto ou serviço.

Acerca das definições de Fornecedor, Manucci (2000, p.3) tece a seguinte

observação:

Uma pequena observação a ser feita com relação ao tema é de que o fornecedor não necessita ser necessariamente uma pessoa jurídica, já que o texto legal traz a figura dos entes despersonalizados, podendo se entender assim por uma interpretação "latu sensu", de que também figuram como fornecedores aqueles que praticam atividades definidas em lei como fornecedor, podendo ser definidos como tais as pessoas que atuam na economia informal, autônomos, etc...

3.3.1.1 Fornecedor Real, Aparente ou Presumido

A doutrina classifica Fornecedores da seguinte forma: a) Fornecedor Real; b)

Fornecedor Aparente; e c) Fornecedor Presumido.

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Pereira (2003, p.39) chama Fornecedor Real também de Fornecedor Mediato,

e conceitua da seguinte maneira:

[...] toda pessoa física ou jurídica que participa da realização e criação do produto acabado ou de parte componente do mesmo, inclusive a matéria-prima, ou seja, é o fornecedor final assim como o fornecedor intermediário, podendo ser, portanto o fabricante, o produtor e o construtor.

O Fornecedor Aparente, por sua vez, aparece como o Produtor ou

Consumidor, na medida em que, ao apor seu nome ao produto assume a sua

fabricação, bem como os riscos envolvidos. (CHAIB, 2005)

Pereira (2003, p.40) conceitua Fornecedor aparente de maneira mais ampla:

[...] é aquele que, aos olhos do consumidor, responsabiliza-se pela qualidade do produto, de tal forma que o consumidor adquire o produto porque imagina que tal fornecedor participou do processo produtivo ou que infere, ao produto, a qualidade desejada pelo consumidor. O fornecedor aparente não participa diretamente do processo produtivo. Ele apenas participa como elemento fiscalizador, uma vez que são terceiras pessoas que desenvolvem a atividade direta da fabricação.

Por fim, o Fornecedor Presumido é geralmente aquele que adquire produtos

anônimos, industrializados ou não, para vender ao mercado de consumo.

Geralmente, são importadores e comerciantes. A lei admite, por ficção, que

assumam a condição de fabricantes, para que em defesa do consumidor, possam-

lhes ser imputada à responsabilidade pelos acidentes de consumo. (PEREIRA,

2003).

3.3.1.2 Relação entre Fabricante, Produtor, Construtor e Importador

No art. 12 do Código de Defesa do Consumidor, temos que a

Responsabilidade dos Fornecedores, exceto o comerciante, é objetiva, respondendo

por danos causados independentemente de culpa, ressalvadas as hipóteses dos

incisos I a III do artigo:

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Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. § 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - sua apresentação; II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi colocado em circulação. § 2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado. § 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar: I - que não colocou o produto no mercado; II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Sobre este artigo Luz (1999, grifo do autor, p.32) esclarece que:

A presente norma estabelece a responsabilidade objetiva do fabricante (produtor em escala industrial) do produto em seu todo (incluídos aqui os montadores e indústrias químicas) ou de suas partes, elementos e componentes; do produtor da matéria-prima; do construtor (denominação mais usada para designar quem constrói edificações, e que também abrange o fabricante artesanal) nacional ou estrangeiro; e do importador (pelas naturais dificuldades do consumidor em identificar no exterior o responsável final, saber o regime de responsabilidade adotado pela legislação naquele local e suportar os custos de uma demanda), como fundamento para reparação de dano causado por defeito em seu produto aos consumidores, decorrente de acidente de consumo, originando em projeto, fórmula, fabricação, montagem, manipulação, apresentação, acondicionamento e em informações insuficientes inadequadas ou inexistentes sobre utilização e riscos.

O Fabricante, o Produtor, o Construtor e o Importador são espécies de

Fornecedores.

O Comerciante tem Responsabilidade Subsidiária nos acidentes de consumo,

pois os obrigados principais são os fabricantes, produtores, construtores e os

importadores, com a ressalva destes incisos acima citados. (SARAIVA, 2002)

O artigo 13 do mesmo código mostra a Responsabilidade do Comerciante:

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Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando: I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados; II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador; III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis. Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação na causação do evento danoso.

Luz (1999, p.35) explica sobre este artigo que:

A lei equilibradamente estabeleceu que a responsabilidade do comerciante por acidente de consumo, quando não decorra de ato seu, é subsidiária. Isto porque, via de regra, o comerciante, atacadista ou varejista, não manipula a mercadoria que compra para revender e, dependendo do gênero de comércio, muitas vezes plural, não tem sequer a possibilidade de conhecer a qualidade e as especificações técnicas de todos os produtos com os quais trabalha, como tampouco pode examiná-los um a um para verificar se estão sem defeitos. A prática é destrocá-los e solicitar ao fabricante/produtor/construtor/importador sua substituição.

Quando o Fabricante, o Construtor, o Produtor ou o Importador não puderem

ser identificados Nunes (2000, p.97) dá o seguinte exemplo:

É o caso do comerciante que vende produtos a granel, expostos em feiras e supermercados, que não teve como identificar qual dos produtores forneceu a ele o produto gerador de acidente de consumo. Frise-se que a norma permite a venda de produto sem identificação é exceção a regra geral do dever de informar no ato da oferta, conforme art. 31, CDC, que trata do dever de o fornecedor informar, entre outras especificações do produto, a sua origem.

O inciso II faz menção ao caso do Comerciante que tem condições de

identificar o Produtor, mas mesmo assim não o faz. Diferentemente do item anterior,

o Comerciante fere o art. 31 do CDC quando pratica tal ato. Aqui merece atenção às

conseqüências geradas pelos incisos I e II: no primeiro, nem a autoridade fiscal nem

a judiciária pode realizar a apreensão dos produtos sem identificação, diferente

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ocorre com segunda hipótese, já que o elemento essencial da informação foi

omitido. (NUNES 2000).

No caso do inciso II, novamente Nunes (2000, p.99) apresenta um exemplo:

Temos como exemplo clássico o comerciante que, no desejo de reduzir custos, desliga seus freezers durante a noite, colocando em risco a qualidade de produtos como carnes e laticínios. Neste caso, o comerciante terá responsabilidade direta, pela não conservação adequada de produtos. Há a exclusividade da culpa do comerciante no evento danoso. Como é intuitivo, o ônus da prova de culpa exclusiva do comerciante é dos fornecedores elencados naquele dispositivo. Não sendo os produtos perecíveis, a responsabilidade do comerciante é solidária, juntamente com a dos demais fornecedores do produto.

3.3.2 Conceito de Consumidor

Os doutrinadores afirmam não ser nada fácil conceituar Consumidor no

sentido jurídico. Pois Consumidor pode ser conceituado no ponto de vista econômico

e no ponto de vista jurídico.

Pelo lado econômico Filomeno (2005, p.227) apresenta seu conceito:

“Consumidor é todo indivíduo que se faz destinatário da produção de bens, seja ele

ou não adquirente, e seja ou não, a seu turno, também produtor de outros bens”.

Estes conceitos por serem mais antigos, hoje deixam um pouco a desejar,

são incompletos, já que com o Código de Defesa do Consumidor criado com a Lei

8.078 de 11/09/1990, em seu artigo 2º demonstra um conceito mais complexo de

Consumidor:

Art. 2º. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Parágrafo único - Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.

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Sobre o conceito acima, Paulo Neto (2003, p.6) comenta:

Trata-se de um conceito amplíssimo, que tem como única restrição o já analisado elemento teleológico das relações de consumo. Considera-se consumidor o destinatário final do produto ou serviço, ou seja, o usuário ou utente, isto é, aquele que faz uso do bem ou serviço, com destruição imediata ou, de forma permanente, sem destruição imediata. Observe-se que, para a caracterização do consumidor, faz-se mister que se verifique a finalidade consignada ao consumo. Como visto, se alguém adquiriu produto ou serviço e exerceu outra atividade onerosa sobre o mesmo, não é considerado consumidor, eis que o objeto da operação terá persistido no mercado, ou seja, terá havido apenas uma intermediação do bem ou serviço. Por outro lado, se, após a operação originária, houver operação não-onerosa com terceiro sobre o mesmo bem ou serviço, não será desvirtuado o caráter de consumidor do partícipe de ambas as operações em relação à primeira. Mas também, o terceiro merecerá a proteção do CDC, eis que também é destinatário final e, portanto, consumidor. Diante disso, pode-se asseverar, de forma simplista, que consumidor não é meramente quem adquire o produto ou serviço pagando o preço correspondente, mas também aquele que efetivamente o fruirá.

Dentro ainda da definição de consumidor destaca-se a expressão "adquire ou

utiliza produto ou serviço”. Analisando esta expressão contida no art.2º caput. do

CDC, observamos que o texto legal expressa o consumidor como sendo a pessoa

que adquire ou utiliza produto ou serviço para uso próprio. Ao nosso aviso, é errônea

a interpretação que a pessoa que venha a utilizar o produto seja considerada

consumidora. O certo é adquirir o produto e utilizar do serviço, nos termos

consignados na lei, e não estender o conceito de consumidor para a pessoa que

utiliza do produto, haja vista que a mesma não adquiriu, logo não é consumidora

padrão. (MARTINS, 2001)

Grinover (2005, p. 227) ensina que o conceito de Consumidor adotado pelo

Código de Defesa do Consumidor é do ponto de vista econômico:

O conceito de consumidor adotado pelo Código foi exclusivamente de caráter econômico, ou seja, levando-se em consideração tão-somente o personagem que no mercado de consumo adquire bens ou então contrata a prestação de serviços, como destinatário final, pressupondo-se que assim age com vistas ao atendimento de uma necessidade própria e não para o desenvolvimento de uma outra atividade negocial.

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Luz (1999, grifo do autor, p.11) conceitua Consumidor em stricto sensu e lato

sensu:

Consumidor é o destinatário final de produtos – consumidor stricto sensu – e serviços – usuário, consumidor lato sensu – público ou provado, seja pessoa física ou jurídica ou coletividade (sujeitos de diferentes grupos, porém com interesses homogêneos e objetivo comum), encontrando-se aqui a caracterização da proteção de interesses os mais variados: difusos, coletivos e individuais homogêneos. É quem adquire bens ou serviços para seu próprio consumo e não para transferi-lo a terceiro ou para impulsionar atividade econômica.

A característica cabal na conceituação de Consumidor está na perspectiva

que se deve adotar, ou seja, no sentido de o considerar como hipossuficiente ou

vulnerável, não sendo, por acaso, que o mencionado movimento consumerista

apareceu ao mesmo tempo que o sindicalista, principalmente a partir da segunda

metade do século XIX, em que se reivindicam melhores condições de trabalho e

melhoria da qualidade de vida, e, pois, em plena sintonia com o binômio poder

aquisitivo de mais e melhores bens e serviços. (FILOMENO, 2005)

3.3.2.1 Consumidor Pessoa Jurídica

Para o Código de Defesa do Consumidor são Consumidores não só as

pessoas jurídicas de direito privado, mas igualmente as de direito público interno e

externo.

A legislação brasileira contemplou, diferentemente de sistemas jurídicos

estrangeiros, a pessoa jurídica como destinatário das normas de proteção ao

consumidor. (SENE, 2002)

Thierry Bourgoignie (1988, apud Sene, 2002, p.1) afirma que, nesta hipótese,

age a pessoa jurídica exatamente como Consumidor comum, ou seja, fazendo-se

ela, pessoa jurídica, destinatária final dos referidos bens ou serviços.

3.3.2.2 Consumidor Coletividade

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O parágrafo único do art. 2º equipara o Consumidor a coletividade de

pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.

(LEITE, 2002).

Leite (2002, p.51) explica o que vem a ser esta coletividade de pessoas

indetermináveis:

As coletividades de pessoas indetermináveis, também protegidas pela lei, são aqueles grupos de pessoas em relação aos quais não é possível identificar e particularizar os riscos ou prejuízos a que cada um ficou exposto em razão da imperfeição de produtos e serviços.

3.4 PRODUTO E SERVIÇO

3.4.1 Conceito de Produto

O Código de Defesa do Consumidor em seu art. 3º, § 1º diz que: “Produto é

qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial”.

Luz (1999, p.14) ensina que: “produto, grosso modo, é tudo que seja passível

de venda para fins de consumo, que não possa ser confundido com o exclusivo

emprego de habilidade”.

A descrição de Produto engloba praticamente todos os bens comercializáveis,

tanto móveis, quanto imóveis. Não deixa dúvida quanto a aplicabilidade do Código

do Consumidor aos negócios imobiliários, já que existe referência aos bens imóveis

em seu artigo 3º. (LEITE, 2002).

Portanto fica claro que outros bens como o direito ao nome, estado civil, etc.,

não estão sob a tutela do CDC, porquanto não possuem apreciação econômica.

No campo jurídico bem é tudo aquilo que, servindo de utilidade aos homens,

pode estar sujeito ao seu poder e, por isso mesmo, ser objeto de direitos. Sendo

assim, bem é toda a coisa relevante para o direito, tendo valor econômico. Nesta

acepção, Produto é toda coisa que, por ter valor econômico, entra no campo jurídico,

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sendo objeto de cogitação, pelo homem, quando parte integrante da relação jurídica.

(ALMEIDA, 2002).

Saad (2002, p. 458) apresenta a divisão dos Produtos em Móveis ou Imóveis

e Materiais ou Imateriais:

São, portanto, empresas fornecedoras aquelas que têm por finalidade comprar e vender imóveis que são coisas que se não podem transportar sem destruição para outro lugar, compreendendo o solo, o que nele se incorpora permanentemente, os objetos usados na exploração industrial do imóvel, no seu aformoseamento, ou destinados a torná-los mais cômodo.

3.4.2 Conceito de Serviço

O Código de Defesa do Consumidor se refere a Serviços em seu artigo 3º, §

2º:

Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

Luz (1999, p.14) diz que “serviço é um esforço de simplificação,

exclusivamente a habilidade vendida para consumo, que não esteja contida em

eventuais relações de trabalho com vínculo empregatício”.

Praticamente todas as formas de Prestação de Serviços, estão sujeitas as

regras de Defesa do Consumidor. Existem apenas duas exceções: o serviço não

remunerado e o serviço prestado no âmbito do contrato de trabalho.

Saad (2002, p. 413) confirma esta afirmação dizendo "é, enfim, uma atividade

humana que, na ótica do CDC, exerce-se sem vínculo empregatício e, de

conseguinte, com autonomia, mas sempre remunerada, pois o serviço gratuito

escapa à regulamentação legal".

O Prestador de Serviço pode ser pessoa física ou jurídica, Sene (2002,

p. 1) demonstra como deve proceder a empresa ao contratar um serviço de pessoa

física, ou seja, o autônomo:

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Ocioso dizer que a empresa, quando aparece como consumidor de serviços autônomos, deve Ter a cautela de escolher profissional ou sociedade de profissionais que estejam em condições de responder por eventuais vícios ou defeitos do serviço prestado. Em se tratando de pessoa física, no caso, verificar se ela exerce a atividade como profissional e que não é um diletante que, de quando em vez, desempenha tal função.

Assim observa-se que o Código de Defesa do Consumidor considera

Fornecedor, somente quem exerce profissionalmente atividade de prestador de

serviço.

É importante frisar que o Serviço hipoteticamente gratuito, que na verdade

recebe uma remuneração indireta ou embutida em outros custos está submetido às

normas de proteção estabelecidas pelo CDC. Merecem destaque os Serviços

prestados ao público e em obediência a uma tarifa. Tais Serviços (energia elétrica,

água, esgoto, limpeza pública, operações portuárias, etc.) são prestados

diretamente pelo poder público ou por intermédio de concessionários. (SENE, 2002).

Estabelecidos os conceitos fundamentais da relação consumerista, passa-se

a abordagem do tema central do presente estudo, ou seja, a Responsabilidade Civil

do Fornecedor por Vício do Produto ou Serviço.

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4 DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO FORNECEDOR POR VÍCIO DO PRODUTO

E SERVIÇO

A Responsabilidade Civil na Relação de Consumo é dividida em

Responsabilidade pelo Vício do Produto ou do Serviço e em Responsabilidade pelo

Fato do Produto e do Serviço. Na presente monografia estudar-se-á somente

somente a Responsabilidade pelo Vício do Produto ou do Serviço.

O Código do Consumidor incluiu uma seção (arts. 18 a 25) intitulada «Da responsabilidade por vício do produto e do serviço» em um capítulo mais amplo, destinado a tratar da «qualidade de produtos e serviços, da reparação e da prevenção dos danos». Houve uma clara opção para enquadrar a matéria no âmbito da responsabilidade civil, da qual seria espécie, ao lado da responsabilidade por fato do produto. (LÔBO, 2005, p.1)

Ao criar estes artigos no CDC o legislador visou sem dúvida, garantir ao

consumidor o acesso a produtos e serviços de qualidade, adequados aos

respectivos padrões, inofensivos à saúde e segurança e fiéis às informações a

respeito deles veiculadas. Conclui-se dessa forma tendo em vista os dispositivos

traçados em relação à responsabilização em caso de descumprimento da norma.

(CINTRA, 2001)

4.1 OS TIPOS DE VÍCIOS

Inicialmente apresenta-se o conceito de Vício conforme os ensinamentos de

Leite (2002, p.139):

Os vícios são as imperfeições que tornam o produto (art. 18) ou o serviço (art. 20) impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam, diminuem-lhes o valor, ou, ainda, as que denotam disparidade com as indicações constantes do recipiente, embalagem, rotulagem ou da oferta ou mensagem publicitária.

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O art. 8º do CDC traz ao consumidor o princípio da segurança, que

estabelece o dever do fornecedor de não colocar no mercado de consumo produtos

ou serviços com defeito ou que coloquem em risco a saúde ou segurança do

consumidor. Assim, se o fizer nos vícios de insegurança responderá objetivamente

pelos danos causados ao consumidor e nos vícios de adequação (qualidade ou

quantidade do produto), responderá por culpa absolutamente presumida.

(QUEIROZ, 2000). O artigo citado acima possui a seguinte redação:

Art. 8º - Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito.

Queiroz (2000, p.1) acrescenta que: “para o CC as expressões "vício" e

"defeito" são equivalentes, enquanto que no sistema do CDC "defeito" é vício mais

dano à saúde ou segurança, estando associado, portanto aos fatos do produto ou

serviço e "vício" está associado à deficiência de qualidade ou quantidade do produto

ou serviço”.

O Código de Defesa do Consumidor em seu artigo 18, caput, comenta sobre

a Responsabilidade dos tipos de Vícios dos Produtos:

Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com as indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas.

Já os Vícios dos Serviços encontram-se elencados no artigo 20 do CDC:

Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:

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I – a reexecução dos serviços, sem custo adicional ou quando cabível; II – a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízos de eventuais perdas e danos; III – o abatimento proporcional do preço. § 1º A reexecução dos serviços poderá ser confiada a terceiros devidamente capacitados, por conta e risco do fornecedor. § 2º São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os fins que razoavelmente deles se esperam, bem como aqueles que não atendam as normas regulamentares de prestabilidade.

Lôbo (2005, p.1) coloca que:

O vício pode ocorrer em qualquer contrato comutativo de consumo, e não apenas no contrato de compra e venda, como já previra o Código Civil. O contrato há de ser oriundo de relação de consumo (fornecedor versus consumidor), como pressuposto da incidência do modelo legal.

Os vícios de qualidade ou quantidade dos produtos ou serviços contam com

mecanismos reparatórios muito mais amplos, não recorrendo a fatores extrínsecos,

que envolvem a apuração da culpa do fornecedor. (SALOMÃO, 2004)

4.1.1 Os Vícios de Qualidade dos Produtos

Há vício de qualidade quando um produto ou serviço não corresponde à

lídima expectativa do consumidor a respeito de sua utilização, ou seja, quando a

desconformidade do produto ou serviço compromete a sua prestabilidade.

(DESSIMONI, 2007)

Os Vícios de Qualidade dos Produtos apresentados no Código de Defesa do

Consumidor não se confundem com os Vícios Redibitórios do Código Civil, pois

estes últimos devem ser ocultos, ao revés, no sistema do CDC os vícios de

qualidade dos produtos podem ser ocultos ou aparentes - não importa - e contam

com mecanismos reparatórios muito mais amplos e abrangentes do que aqueles

previstos no Código Civil. (KITZBERGER e PEDRO, 2001)

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Luz (1999, p.42) comenta que:

Os vícios de qualidade, como geram apenas responsabilidade civil sem grande expressão econômica, devem ser prontamente solucionados pelo fornecedor direto que, via de regra, tem mercadoria da mesma espécie para proceder à substituição.

Marinoni (2000, p.2) acrescenta dizendo que:

Cabe lembrar, entretanto, que no caso de vício de qualidade do produto, o consumidor poderá requerer, de acordo com o art. 18 do CDC, não só a "substituição das partes viciadas" do bem ou a "substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso", mas também "a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; ou "o abatimento proporcional do preço". Portanto, saber se é melhor a substituição das partes viciadas, a substituição integral do bem, a restituição da quantia paga ou o abatimento no preço, dependerá do caso concreto e do desejo de cada um dos consumidores.

Vícios de Qualidade são aqueles que tornam o produto impróprio ou

inadequado ao seu uso ou fruição, conforme §6º do artigo 18 do CDC. (ANTUNES

JUNIOR, 2003)

No parágrafo referido acima consta que:

§ 6° São impróprios ao uso e consumo: I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos; II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação; III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam.

Estes Vícios de Qualidade são chamados por alguns doutrinadores de vício

de qualidade por inadequação, pois embora em tese os defeitos de que resultem a

diminuição do valor do produto e a disparidade com as indicações possam manter o

produto adequado ao consumo teoricamente. (LUZ, 1999)

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Antunes Júnior (2003, p.2) também dá uma diferente denominação aos Vícios

de Qualidade:

O Vício de Qualidade, também chamado de “vício exógeno”, é aquele que torna o produto impróprio para o consumo ou por encontrar-se fora dos padrões normais de consumo ou por ser comprovadamente nocivo ou perigoso, ou seja, sem qualidade mínima.

O doutrinador acima ainda acrescenta que estes tipos de vícios dividem-se

em:

Os vícios de qualidade podem ser ocultos, como por exemplo o defeito no ferro de passar roupa que aquece demasiadamente, ou o defeito no sistema de “air bag” de um veículo. Também podem ser aparentes, os vícios de qualidade, como ocorre com aqueles produtos com data de vencimento ultrapassada, ou que apresente alguma avaria aparente.

O fato do Fornecedor não saber sobre os Vícios de Qualidade dos produtos

não o exime desta responsabilidade, conforme artigo 23 do CDC. É proibida a

estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a obrigação

de indenizar. (DI TIZIO, 2006)

Vale frisar que os fornecedores não estão impedidos de colocar no mercado

de consumo, com abatimento do preço, produtos levemente viciados, desde que

forneçam informações claras, corretas e precisas a respeito. (ANTUNES JUNIOR,

2003)

4.1.2 Os Vícios de Quantidade dos Produtos

O Vício do Produto também pode ser de quantidade, quando é nele verificada

disparidade com indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou

mensagem publicitária. (DESSIMONI, 2007)

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Antunes Júnior (2003, p.2) comenta que:

Os vícios de quantidade, que estão regulados pelo artigo 19 do Código, são aqueles que possuem um defeito econômico que ocorre quando o produto encontra-se com o conteúdo ou com a medida inferior às indicações da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária.

O artigo 18 do CDC aborda sobre os Vícios de Quantidade dos Produtos, mas

estes só são regulados pelo artigo 19 do mesmo Código que possui a seguinte

redação:

Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de quantidade do produto sempre que, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior às indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I – o abatimento do preço; II – complementação do peso ou medida; III – substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem os aludidos vícios; IV – a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; §1º Aplica-se a este artigo o disposto no §4º do artigo anterior; §2º O fornecedor imediato será responsável quando fizer a pesagem ou a medição e o instrumento utilizado não estiver aferido segundo os padrões oficiais.

Antunes Júnior (2003, p.2) acrescenta que:

É de grande valia a ressalva do texto legal ao tratar das “variações decorrentes de sua natureza”, pois há produtos que podem apresentar durante seu processo distributivo sensível perda de conteúdo líquido. Neste caso, somente variações de quantidade expressivas e fora dos padrões normais serão objeto de responsabilidade civil por parte do fornecedor.

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4.1.3 Os Vícios de Qualidade dos Serviços

A Responsabilidade por Vício de Serviços está disciplinada pelos artigos 20 e

21 do Código de Defesa do Consumidor.

Antunes Júnior (2003, p.4) conceitua da seguinte maneira:

Entende-se por vício de serviço os vícios de qualidade que tornam o produto ou o serviço impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, ou ainda, aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, conforme disposto no artigo 20 do Cód. de Defesa do Consumidor.

Luz (1999, p.20) indica a quem cabe a responsabilidade pelo Vício de

Serviços:

O prestador de serviços responde sozinho pelos vícios de qualidade em sua prestação, que os tornem impróprios ao consumo, diminuam-lhes o valor ou apresentem disparidade relativamente às indicações contidas na propaganda e na oferta – exposição ao público para a venda.

Conforme dispõe o artigo 20 do CDC:

Os fornecedores de serviço são responsáveis pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária.

Ainda o parágrafo 2º do mesmo artigo citado dispõe que “são impróprios os

serviços que se mostrem inadequados para os fins que razoavelmente deles se

esperam, bem como que não atendam as normas regulamentares de prestabilidade,

ou seja, quando são impróprios para o consumo”.

Portanto, os dispositivos legais referente à vícios por inadequação de serviços

se assemelham aos vícios no fornecimento de produtos. (ANTUNES JUNIOR, 2003)

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4.2 DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO

Diz Cintra (2001, p.3): “Com vistas a estabelecer um clima de segurança e

harmonia, que não seria possível se, apesar dos anos e anos passados, ações

fossem propostas versando sobre direitos já de prova de constituição, inclusive, por

eles prejudicada, o tempo opera efeitos em relação aos direitos subjetivos”.

O momento da entrega da coisa (tradição) ou do serviço (conclusão) é

imprescindível para cômputo dos prazos preclusivos, quando o vício for aparente.

Mas também no caso do vício oculto, porque o dies a quo dele se desloca para o

instante em que é revelado ou conhecido, normatizando-se o que a construção

jurisprudencial já admitia. (LÔBO, 2005)

Sobre Decadência e Prescrição Globekner (2004, p.1) diz que:

O Direito caduca, a pretensão prescreve. No caso específico do CDC, a decadência atinge o direito de reclamar, a prescrição afeta a pretensão à reparação pelos danos causados pelo fato do produto ou do serviço. A decadência afeta o direito de reclamar, ante o fornecedor, quanto ao defeito do produto ou serviço, ao passo que a prescrição atinge a pretensão de deduzir em juízo o direito de ressarcir-se dos prejuízos oriundos do fato do produto ou do serviço. A decadência supõe um direito em potência, a prescrição requer um direito já exercido pelo titular, mas que tenha sofrido algum obstáculo, dando origem à violação daquele direito.

O artigo 26 do Código de Defesa do Consumidor disciplina a extinção do

direito de reclamar por vícios aparentes ou ocultos que tornam os bens ou serviços

impróprios ou inadequados ao consumo, ou seja, responsabilidade por vício de

inadequação. (ANTUNES JUNIOR, 2003)

Dias (2000, p.2) comenta sobre Prescrição e Decadência no CDC:

O Código do Consumidor, elaborado mais recentemente, não apresenta a mesma atecnia do atual Código Civil atual e de outras tantas legislações, em relação à distinção entre prescrição e decadência. Ao contrário, é visto como um diploma de vanguarda, não só por estar de acordo com as últimas conclusões, ao distinguir os institutos, mas também pelo tratamento inovador, dentro do Direito Positivo, dispensado à decadência e ao regime da prescrição, fato que provoca controvérsias entre os estudiosos do Direito, ao aplicá-lo. Para a análise desta Lei, a distinção dos prazos

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extintivos de direito aqui estudados necessita de um embasamento teórico aprofundado, apoiado muito mais na essência dos termos, já que a distinção clássica, pelos efeitos, deixa de valer diante de algumas modificações nas regras gerais de aplicação de cada uma.

O artigo 26 do CDC possui a seguinte redação:

Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em: I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviços e de produtos não-duráveis; II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviços e de produtos duráveis. § 1° Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou do término da execução dos serviços. § 2° Obstam a decadência: I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca; II - (Vetado). III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento. § 3° Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar evidenciado o defeito.

Sobre o §2º do artigo citado acima Dias (2000, p.3) indica:

Contrariando os estudos clássicos, que caracterizam a decadência como prazo fatal, insuscetível de impedimento, suspensão ou interrupção, o Código do Consumidor, em seu artigo 26, § 2º, prevê duas possibilidades que obstam a decadência: a reclamação do consumidor perante o fornecedor; e a instauração de inquérito civil. Utiliza-se do termo obstar, para diferenciá-lo das causas impeditivas, suspensivas ou interruptivas da prescrição, e a natureza jurídica e extensão de tais causas são controvertidas.

Tratando-se de Vícios Ocultos, a contagem destes mesmos prazos inicia-se

no momento em que ficar evidenciado o defeito do serviço, o Vício Oculto é aquele

pré-existente e de difícil constatação, razão pela qual o prazo decadencial começar

a ser contado da data de manifestação do vício. (ANTUNES JUNIOR, 2003)

Sobre os Vícios Ocultos e Aparentes Lôbo (2005, p.2) comenta:

A preexistência ou concomitância do vício, quando da entrega do objeto do contrato, não está explicitada no Código de Defesa do Consumidor (também o Código Civil não o faz), mas dele se infere,

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até porque é da natureza da garantia legal. O vício é oculto no momento da entrega; o que ocorre posteriormente é sua revelação. O vício é aparente também no momento da entrega, dela decorrendo o prazo para exercício das pretensões postas à disposição do comprador.

Luz (1999, p.51) tece o seguinte comentário a respeito do artigo citado acima:

Trata a norma de regular o prazo decadencial para a reclamação dos vícios aparentes de quantidade ou de qualidade por inadequação em produtos e serviços. Para facilitar a compreensão do Código, relativamente ao direito do consumidor, de reclamar, deve ser levada em consideração, primeiramente, a dupla condição sob as quais os vícios se apresentam, se aparentes ou ocultos, e, em segundo lugar, as duas espécies de produtos e serviços aqui instituídas e que distinguem aqueles que são duráveis dos que não são. O que determina essa classificação é a racionalidade das exigências específicas de cada uma. Os vícios aparentes são aqueles de fácil constatação, que podem ser percebidos imediatamente pelo consumidor não-especialista, seja no vício ou no produto ou no serviço, segundo sua natureza particular. Essa noção variará de pessoa para pessoa (v.g., para um consumidor cego, vício aparente, no que diz respeito à coisa física, será o que puder ser percebido pelo tato). Conquanto os vícios aparentes ocorram em ambas as espécies, são predominantes em não duráveis em razão da imediatidade de seu uso, fruição ou consumo.

Antunes Júnior (2003, p.5) comenta que:

O primeiro entendimento doutrinário é de que, independentemente do prazo de garantia, o fornecedor deverá respeitar os dispositivos legais do artigo 18 e do artigo 20, desde que o consumidor apresente sua reclamação dentro dos prazos de 30 duas para produtos ou serviços não duráveis e 90 dias para produtos e serviços duráveis. Outro entendimento da doutrina é de que se o vício se exteriorizar na fase após o término do termo contratual de garantia, o fornecedor não é obrigado a substituir o produto, restituir a quantia paga ou efetuar o abatimento proporcional do preço.

“A prescrição não pode ser reduzida ou aumentada por convenção das

partes, ou seja, nenhum prazo de direito material pode ser convencionado pelas

partes. Inclusive sendo nula a renúncia da prescrição devido ao caráter de norma de

ordem pública do CDC”. (SILVA, 2005)

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Globekner (2004, p.1) acrescenta dizendo que “a decadência supõe um

direito em potência, a prescrição requer um direito já exercido pelo titular, mas que

tenha sofrido algum obstáculo, dando origem à violação daquele direito. A prescrição

não fere o direito em si mesmo, mas sim a pretensão à reparação”.

As palavras-chave para entendermos tal divisão são vício, no artigo 26, e pretensão à reparação de danos, no artigo 27. No artigo 18 deste Código estão estabelecidas as regras de conduta em casos de vício do produto ou do serviço. A norma estabelece que o consumidor poderá exigir a substituição das partes viciadas ou, não sendo atendido em 30 dias, exigir, à sua escolha: (I) a substituição do produto por outro de mesma espécie, em perfeitas condições de uso; (II) a restituição da quantia paga; (III) o abatimento proporcional do preço. Evidencia-se um caso de direito potestativo do consumidor, mais facilmente notável no inciso II. A relação jurídica estabelecida pelo contrato de compra e venda é desfeita, independente de ação do fornecedor. Sendo assim, caso o consumidor busque seus direitos via judicial, utilizar-se-á de ação constitutiva negativa, sobre a qual incide prazo decadencial. (DIAS, 2000, p.4)

4.3 RESPONSABILIDADE CIVIL NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

POR VÍCIO DO PRODUTO E DO SERVIÇO

A Responsabilidade Civil, tal como tratada no CDC, traz algumas

peculiaridades em relação à regra geral do Código Civil; isso não quer dizer que não

se apliquem em uma as mesmas regras que se aplicam na outra a fim de se

configurar a existência da responsabilidade. Sempre estarão presentes os três

elementos da responsabilidade: dano, ação ou omissão antijurídica (aqui identificada

com a colocação no mercado de produto ou serviço viciado), e o nexo de

causalidade entre eles. A responsabilidade imposta pelo sistema do CDC é objetiva,

independe de culpa. Basta a demonstração da existência de nexo causal entre o

dano experimentado pelo consumidor e o vício ou defeito no serviço ou produto.

(CHAMONE, 2006).

Conforme foi visto no primeiro capítulo deste trabalho entende-se por

Responsabilidade Civil a obrigação que a pessoa causadora tem de indenizar os

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danos que venha alguém a sofrer. E que a Responsabilidade Civil pode ser subjetiva

e objetiva.

A Responsabilidade Civil pelo Vício do Produto e do Serviço é sempre

objetiva. A Responsabilidade objetiva acontece quando para se eximir da

responsabilidade, o fornecedor deve comprovar a culpa exclusiva do consumidor ou

que o produto não apresenta vício ou defeito. Neste tipo de responsabilidade não se

deve comprovar a intenção. Na responsabilidade dos produtos defeituosos, a vítima

deve comprovar o defeito, o dano e o nexo de causalidade. Entretanto, o defeito é

presumido existir desde a primeira comercialização no mercado. (LORENCINI, 2005)

Alexandre (2006, grifo do autor, p.1) apresenta sua opinião sobre esse

assunto:

Com relação a responsabilidade por vício do produto ou serviço, podemos observar que esse está relacionado com a qualidade e quantidade do próprio produto ou serviço, que, sem trazer qualquer risco à saúde ou à segurança do consumidor, torna-o impróprio ou inadequado ao consumo ou, ainda, lhe diminui o valor. A reclamação alcança além dos vícios aparentes e de fácil constatação, também, os vícios de difícil constatação (art.18 e 26) – esses dispositivos protegem efetivamente o consumidor que não é obrigado a constatar de logo o vício. Nesse caso todos serão solidariamente responsáveis e não somente o vendedor, o que aumenta a possibilidade do consumidor conseguir a reparação dos danos, possibilitando direito de regresso pela parte da cadeia produtiva.

Acrescentando o exposto, Dessimoni (2007, p.2) coloca que: “quando falamos

em vício do produto, a responsabilidade decorrente atinge todos os legalmente

classificados como fornecedores, solidariamente, não eximindo os fornecedores

diretos do produto, embora possam estes, em ação regressiva, se voltar contra o

efetivo responsável”.

Em alguns casos, necessário se faz a prova técnica quanto ao produto ou

serviço prestado, no intuito de comprovação quanto à ocorrência de mencionado

vício. Questão que ainda não se encontra consolidada perante o Judiciário, diz

respeito ao momento processual onde o juiz deve manifestar-se acerca da inversão

do ônus da prova. Uma das linhas adotadas pelo Poder Judiciário, diz que o

Magistrado irá, quando da confecção da sentença (final do processo, onde todas as

provas já foram produzidas) analisar se inverte ou não o ônus probatório,

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transferindo a empresa fornecedora o dever de provar certo fato que, até aquele

momento, era de obrigação da vítima/autor da ação. Pois bem, pode acontecer de o

juiz reconhecer a necessidade de se inverter o do ônus da prova, e, pelo fato de a

fornecedora não tê-la produzido demonstrando que o produto/serviço não tinha

qualquer vício, ou ainda, culpa exclusiva da vítima, condenando-a a indenizar o

autor da ação (devolução dos valores sacados da conta corrente do consumidor).

(CENCI, 2007)

Lôbo (2005, p.2) diz que a Responsabilidade pelo Vício do Produto ou do

Serviço passou por uma renovação:

A novidade vem por conta do vício aparente que revoluciona o regime de responsabilidade por vício, distanciando-se do modelo tradicional dos vícios redibitórios. Com efeito, um dos elementos distintivos deste com outros modelos dogmáticos (erro, inadimplemento) sempre residiu no fato de ser o vício oculto a quem adquiriu a coisa. No sentido da lei brasileira, encaminha-se a legislação estrangeira sobre consumidor, como a lei espanhola de 19 de julho de 1984, cujo artigo 11 não exige que os vícios sejam ocultos. Agora, mesmo que o vício seja aparente no momento da entrega do produto ou do serviço, cabe a responsabilidade do fornecedor. Muda apenas o termo inicial do prazo preclusivo para que o consumidor exerça sua pretensão contra o fornecedor: se aparente o vício, o do momento da entrega.

Concluindo, Dessimoni (2007, p.2) demonstra como evitar as demandas

judiciais:

Diante da eficácia e ampla aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor, é imprescindível que as empresas fornecedoras mantenham um serviço de atendimento ao cliente de qualidade, o que poderá minimizar sensivelmente as demandas judiciais decorrentes da falta de amparo ao consumidor prejudicado pelo vício ou defeito no produto ou serviço.

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4.4 EXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE

Chamone (2006, p.2) comenta que:

Assim, a presença do aspecto subjetivo no elemento "ato antijurídico" do tripé da responsabilidade civil (ato antijurídico + nexo de causalidade + dano), mostra-se desnecessária, e nem mesmo chega a ser investigada para fins de apuração da responsabilidade do agente. Ainda que ele tenha pautado sua atuação com diligência, não incorrendo em culpa em momento algum, poderá vir a ser responsável pelo vício do produto ou serviço, ou ainda pelo acidente de consumo causado pelo produto ou serviço.

O Código de Defesa do Consumidor abre uma única exceção à regra da livre

escolha do fornecedor, que responderá pelo vício. É o caso de fornecimento de

produtos “in natura” (art. 18, § 5º) quando não for possível a identificação do

produtor: responsável será o fornecedor imediato, cessando a solidariedade passiva

em face do consumidor. O fornecedor imediato, no entanto, não está impedido de

exercer a pretensão de regresso contra o fornecedor originário. (LÔBO, 2005)

A responsabilidade pelo vício do produto e do serviço é solidária: entre

fornecedores e comerciantes, exceto nos seguintes parágrafos:

Art.18: [...]

[...]

§ 5º. No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o consumidor o fornecedor imediato, exceto quando identificado claramente seu produtor. Art.19: § 5º. Quando da pesagem ou a medição for feita pelo fornecedor imediato, que passa a ser o responsável e o instrumento utilizado não estiver aferido segundo os padrões oficiais.

Alexandre (2006, p.1-2) esclarece que:

Ainda, é importante ressaltar que o Código de Defesa do Consumidor é omisso quanto à exclusão da responsabilidade por vício do produto ou serviço, entretanto a doutrina dominante entende que esse tipo de responsabilidade será excluída quando o fornecedor provar que não colocou o produto no mercado; quando provar que o defeito inexiste; e, ainda, quando ocorrer a decadência

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do direito no prazo determinado no Código de Defesa do Consumidor.

4.5 O POSICIONAMENTO JURISPRUDÊNCIAL ACERCA DA

RESPONSABILIDADE CIVIL DO FORNECEDOR PELO VÍCIO DO PRODUTO E DO

SERVIÇO

Verifica-se que as jurisprudências dos Tribunais de Justiça de diversos

Estados do Brasil acompanham a idéia exposta no decorrer da presente monografia.

Nas jurisprudências abaixo nota-se que o vendedor responde solidariamente

com o fabricante do produto com vício, independente deste produto ter sido

revendido para terceiro, pois a garantia é do produto e não pessoal:

ILEGITIMIDADE DE PARTE – PASSIVA – INOCORRÊNCIA – AÇÃO VISANDO SUBSTITUIÇÃO DE PRODUTO ADQUIRIDO CONTENDO DEFEITO – VENDEDOR QUE RESPONDE SOLIDIARIAMENTE COM O FABRICANTE PELOS VÍCIOS DE QUALIDADE – ART 18 DA LEI N. 8078/90 – RESPONSABILIDADE, ADEMAIS, NÃO SÓ PERANTE O ADQUIRENTE DO BEM COMO TAMBÉM PERANTE AO SEU SUCURSOR – RECURSO NÃO PROVIDO, SE O CONSUMIDOR PRIMITIVO ADQUIRE UM PRODUTO DE UM FORNECEDOR E O REVENDE ALGUM TEMPO APÓS, VINDO O CONSUMIDOR SUBSEQÜENTE A SER AFETADO POR UM VÍCIO DE QUALIDADE POR INADEQUAÇÃO, PODE ESTE FAZER USO DA GARANTIA CONTRA AQUELE FORNECEDOR RESPONSÁVEL. TAL SE DÁ PORQUE A GARANTIA NÃO É PESSOAL, MAS, MUITO AO CONTRÁRIO, ADERE AO BEM E COM ELE É TRANFERIDA, SENDO IMUNE À ALTERAÇÃO DA PROPRIEDADE. (TJSP – AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 238.874-1 – RELATOR: ORLANDO PISTORESI – CCIZ4 – 22.12.1994)

Código de Defesa do Consumidor. Compra de veículo novo com defeito. Incidência do art. 18 do Código de Defesa do Consumidor. Responsabilidade solidária do fabricante e do fornecedor. Indenização por danos materiais e morais. Precedentes da Corte. 1. Comprado veículo novo com defeito, aplica-se o art. 18 do Código de Defesa do Consumidor e não os artigos 12 e 13 do mesmo Código, na linha de precedentes da Corte. Em tal cenário, não há falar em ilegitimidade passiva do fornecedor. 2. Afastada a ilegitimidade passiva e considerando que as instâncias ordinárias reconheceram a existência dos danos, é possível passar ao julgamento do mérito, estando a causa madura.

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3. A indenização por danos materiais nos casos do art. 18 do Código de Defesa do Consumidor esgota-se nas modalidades do respectivo § 1º. 4. Se a descrição dos fatos para justificar o pedido de danos morais está no âmbito de dissabores, sem abalo à honra e ausente situação que produza no consumidor humilhação ou sofrimento na esfera de sua dignidade, o dano moral não é pertinente. 5. Recurso especial conhecido e provido, em parte. (STJ – RECURSO ESPECIAL 554.876 RJ – RELATOR MINISTRO CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO – TERCEIRA TURMA – V.U. – 03.05.2004)

As jurisprudências também comprovam a Responsabilidade Civil do

fornecedor tendo que ressarcir os danos causados ao consumidor:

CONTRATO – CURSO DE PROCESSAMENTO DE DADOS – DEVOLUÇÃO DE QUANTIAS PAGAS – INADIMPLEMENTO DA OBRIGAÇÃO – ADMISSIBILIDADE – CONTEÚDO DO CONTRATO QUE CONTRIBUI PARA O ENGANO DOS CANDIDATOS – CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR – DESLEALDADE POR PARTE DO PRESTADOR DE SERVIÇOS – QUANTIAS QUE DEVEM SER DEVOLVIDAS – RECURSO NÃO PROVIDO. (TJSP – APELAÇÃO CÍVEL N. 198.641-1 – RELATOR FONSECA TAVARES – 24.11.1993) CONTRATO DE COMPRA E VENDA. BEM MÓVEL. VÍCIO DA MERCADORIA. 2. CONTRATO DE COMPRA E VENDA. VEÍCULO. VÍCIO. AÇÃO DE COBRANÇA. - Ação de cobrança. Veículo. Implante de chassi. Vício existente a época da compra e venda. É descabida a alegação de necessária verificação de ser contemporânea do vício (implante de chassi) a celebração do negócio, eis que o Certificado de Propriedade contem a numeração correta, entretanto, presume-se, pela implantação, não pertencer ao veículo vistoriado. O adquirente não pode formalizar a transferência e dispor do veículo para uma futura transação. Razoabilidade da devolução do bem viciado com o recebimento da quantia paga. (TARS - APC 194.226.866 - 5ª CCiv. - Rel. Juiz Jasson Ayres Torres - J. 15.12.1994) VÍCIO REDIBITÓRIO - DUPLICATA - AÇÃO ANULATÓRIA. RENEGOCIAÇÃO DA DÍVIDA. - CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. - COMPRA E VENDA MERCANTIL.. PERDAS E DANOS. 2. VEÍCULO USADO. - AÇÃO DE ANULAÇÃO DE TÍTULO. DUPLICATA. Não se justifica a emissão de duplicata apenas com base em renegociação de dívida. ação de indenização. Código do consumidor. Venda de veículo usado. Fornecedor. Responsabilidade. Ônus da prova. Alegado pelo consumidor que o veículo apresenta vício oculto no motor, incumbia ao fornecedor e não ao adquirente demonstrar que por ocasião da alienação este inexistia. Apelo improvido. (TARS - APC 195.187.406 - 8ª CCiv. - Rel. Juiz Vicente Barroco de Vasconcelos - J. 13.03.1996)

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Pode-se também constatar que esta responsabilidade se estende até o ramo

da construção civil, como vemos na jurisprudência a seguir:

REPARAÇÃO DE DANOS POR DEFEITOS CONSTRUTIVOS. RESPONSABILIDADE CIVIL DO CONSTRUTOR E DO ENGENHEIRO. COMPROVADO QUE OS DEFEITOS NÃO RESULTARAM DE ALTERAÇÕES DO PROJETO OU DA MÁ CONSERVAÇÃO DO PRÉDIO, MAS DE PROBLEMAS EM SUA CONSTRUÇÃO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO CONSTRUTOR E DO ENGENHEIRO A QUEM CABIA O ACOMPANHAMENTO. INDENIZAÇÃO DEVIDA. APELOS IMPROVIDOS. (TJRS – APELAÇÃO CÍVIL 70001462027 – RELATOR DES. MARCO AURÉLIO DOS SANTOS CAMINHA – QUINTA CÂMARA CÍVIL – V.U. – 06.08.2001)

Em virtude da grande ocorrência destes vícios nas constantes relações de

consumo, busca-se estudar este assunto a fim de proteger o mais frágil da Relação

de Consumo, o Consumidor. Este, portanto, tem o direito de ter reparado em seu

favor o dano ou ameaça de prejuízo patrimonial sofrido, em face da existência de um

defeito intrínseco do produto ou do serviço. É importante destacar ainda, que os

mecanismos de reparação dos vícios de qualidade ou quantidade da legislação de

proteção do consumidor são mais abrangentes, amplos e satisfatórios do que

aqueles previstos no Código Civil, conforme foi visto no decorrer deste trabalho.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A vista do que se expôs quanto a Responsabilidade Civil do Fornecedor por

Vícios dos Produtos e Serviços, foi possível compreender a grandeza e a

complexidade de tal instituto. A Responsabilidade Civil do Fornecedor por Vícios dos

Produtos e Serviços precisa ser enfocada de forma diferente para que passe a ser

vista como instituição que efetivamente garante a proteção aos consumidores.

Entende-se por Responsabilidade Civil a obrigação que a pessoa causadora

tem de indenizar os danos que venha alguém a sofrer. E que a Responsabilidade

Civil pode ser subjetiva e objetiva. A Responsabilidade Civil, tal como tratada no

CDC, traz algumas peculiaridades em relação à regra geral do Código Civil; isso não

quer dizer que não se apliquem em uma as mesmas regras que se aplicam na outra

a fim de se configurar a existência da responsabilidade, assim, no primeiro capítulo

buscou-se destacar os principais conceitos acerca da Responsabilidade Civil para

dar sustentação ao tema em estudo.

No segundo capítulo foram abordadas as noções elementares sobre Direito

do Consumidor, iniciando-se pelo conceito geral de Direito do Consumidor, seguido

de sua autonomia e também a natureza jurídica. O Direito do Consumidor como

disciplina autônoma que surgiu no século XX, com doutrinas e legislações próprias,

assim como conceitos bastante complexos, desta forma, neste capítulo foram

abordados os conceitos de relação de consumo, pois reconhecer a existência de

uma Relação de Consumo é o passo inicial e primordial para ser possível a

aplicação das normas previstas pelo CDC. A Relação de Consumo é Relação

Jurídica, pois se encontra regulamentada pelo direito. Como visto anteriormente a

Relação de Consumo é o objeto do Direito do Consumidor.

Também se conceituou fornecedor que é “toda pessoa física ou jurídica,

pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados,

que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção,

transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos

ou prestação de serviços”, conforme prescreve o art. 4º da lei 8078/90. Na

conceituação de fornecedor, com o elenco das diversas atividades econômicas de

provisão do mercado, o legislador adotou critério econômico e objetivo.

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Para dar um curso lógico ao trabalho foi necessário trazer à baila o conceito

de consumidor, que conforme dispõe o art. 2º do já citado diploma legal “é toda

pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário

final, ou ainda, a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja

intervindo nas relações de consumo”.

Na abordagem dos conceitos de fornecedor e consumidor, devido a amplitude

do tema, foram necessários abordar as classificações das referidas categorias

jurídicas separadamente, e, finalmente fez-se à diferenciação entre produto e

serviço.

Vê-se que para caracterização da responsabilidade fornecedor é necessária a

existência dos três elementos, a saber: a) dano, b) ação ou omissão antijurídica

(aqui identificada com a colocação no mercado de produto ou serviço viciado), e o

nexo de causalidade entre eles. A responsabilidade imposta pelo sistema do CDC é

objetiva, ou seja, independe de culpa. Basta a demonstração da existência de nexo

causal entre o dano sofrido pelo consumidor e o vício ou defeito no serviço ou

produto.

Por derradeiro, explanou-se sobre a Responsabilidade do Fornecedor por

Vício do Produto e do Serviço, para tanto procedeu-se uma análise preliminar sobre

os tipos de vícios. A Responsabilidade Civil pelo Vício do Produto e do Serviço é

sempre objetiva. A Responsabilidade objetiva acontece quando para se eximir da

responsabilidade, o fornecedor deve comprovar a culpa exclusiva do consumidor ou

que o produto não apresenta vício ou defeito. Neste tipo de responsabilidade não se

deve comprovar a intenção. Na responsabilidade dos produtos defeituosos, a vítima

deve comprovar o defeito, o dano e o nexo de causalidade.

Constatou-se a necessidade de fazer menção à questão da prescrição e da

decadência, eis que o tempo opera seus efeitos ao direito subjetivo, ou seja, o

Direito não acolhe aquele que dorme, assim, não poderia ser diferente no âmbito do

Direito do Consumidor.

O CDC também traz a previsão de exclusão da responsabilidade do

fornecedor. Ressalta-se que o Brasil é um criador potencial normas, porém, nem

sempre é um bom aplicador das normas que cria, assim, foram destacados alguns

posicionamentos jurisprudenciais acerca da Responsabilidade do Fornecedor por

Vício do Produto e do Serviço.

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Cumpre dizer que o advento do CDC representou um grande avanço no

mundo jurídico. Sabe-se de toda luta e todos os passos que foram dados até se

chegar ao atual estágio da lei Consumerista.

Finalmente, urge salientar que o presente trabalho de pesquisa sobre a

Responsabilidade do Fornecedor por Vício do Produto e do Serviço, não se esgota

neste momento, há possibilidade de aprofundar a investigação científica do tema. A

dinâmica do entendimento da aplicação da Lei e da busca do seu exato sentido

transforma-se num estímulo para que a pesquisa seja permanente. Espera-se que

outros estudos possam dar continuidade nas investigações e estudos da matéria,

para aplicar a lei com justiça, manter a segurança jurídica e a paz social.

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