o vício da televisão

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1--- \* \ O VÍCIo DA TELEVISÃo Robert Kubey e Mihaly Csinkszentrnihalyi * o aspecüo mais irônico da luta pela sobrevir,ência é, talvez, ate que ponto o organismp pode ser preiudiçado oelo que deseia. A ruta é caphrada pelo chamariz usado pelo pescador; o rato, pelo queijo. Mas essas criaturas têm uma desculpa: isca e queijo são comida, sustentam. Qli humanos dificihnente têm esse consolo. As tentacões oue nrrehranr s harnrnnia ãe cp,' anfiÁio-^ -3^ Ntnguem tem que tomar bebida alcoólica, por exemplo. Perceber quando uma distração passou do controle e um dos grandes desafios da vida. {estaca Pela ubiqüidade. É o enhetenimento mais popular do mundo: a telev4ão. A maioria dap hmam da..fábrica de asneiras,, g..dessa gente que não faz nada e Íica na fienle da televisão", e em seguida instalam,se no sofá e apoderam-se do confole reÍnoto. Os pais geralmsnte se quei>Ém da quantidade de horas que os Íilhos (quando não são eles mesmos) passam diante da TV. Ate memo pesquisadores que ganham a üda eshrdando a t,elevisõo se assombram como poder que esse veículo tem sobre eles. Percy Tannerbaum, da Universidade da Muitos cientistas r'êm estudando algrunas décadas o efeito da televisão, ,m ".oJru, para compror'ír se as cenas de violêncía que ela mosba tem relação com lomar-se violento na vida real. Pouca atenção tem sido dada ao poder de sedução da telinha - o meio em oposição à nlensflgem.

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Uso demasiado da Televisão

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Page 1: O Vício Da Televisão

1---

\*\

O VÍCIo DA TELEVISÃo

Robert Kubey e Mihaly Csinkszentrnihalyi *

o aspecüo mais irônico da luta pela sobrevir,ência é, talvez, ate que ponto o organismppode ser preiudiçado oelo que deseia. A ruta é caphrada pelo chamariz usado pelo pescador; o

rato, pelo queijo. Mas essas criaturas têm uma desculpa: isca e queijo são comida, sustentam. Qlihumanos dificihnente têm esse consolo. As tentacões oue nrrehranr s harnrnnia ãe cp,' anfiÁio-^ -3^

Ntnguem

tem que tomar bebida alcoólica, por exemplo. Perceber quando uma distração passou do controle e

um dos grandes desafios da vida.

{estaca Pela ubiqüidade. É o enhetenimento mais popular do mundo: a telev4ão. A maioria dap

hmam da..fábrica de asneiras,, g..dessa

gente que não faz nada e só Íica na fienle da televisão", e em seguida instalam,se no sofá eapoderam-se do confole reÍnoto.

Os pais geralmsnte se quei>Ém da quantidade de horas que os Íilhos (quando não são elesmesmos) passam diante da TV. Ate memo pesquisadores que ganham a üda eshrdando a t,elevisõo

se assombram como poder que esse veículo tem sobre eles. Percy Tannerbaum, da Universidade da

Muitos cientistas r'êm estudando há algrunas décadas o efeito da televisão, ,m ".oJru,para compror'ír se as cenas de violêncía que ela mosba tem relação com lomar-se violento na vida

real. Pouca atenção tem sido dada ao poder de sedução da telinha - o meio em oposição ànlensflgem.

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A expressão ''vício da televisão" é imprecisa e carregada de juízo de valor, mas apreende

muito bem a essência de um fenômeno bastante real. Psicólogos e psiquiatras definem fonnalmente

a dependência a substância química çomo disúrbio caracterizado pelo uso que se faz delas.

Exernplos: o uso continuo e prolongado de determinadas substâncias; freqiiência de uso acima do se

pretende. pensar em reduzir o uso ou fazer esforços repetrdos e malsucedidos nesse sentido;

renunciar a atividades importantes (Íamiliares, sociais ou referentes a terapia ocupacional) para

dedicar-se ao uso dessas substâncias; e sintomas de retraimento quando o uso é intenompido.

Todos esses critérios podem ser aplicados a quem assiste televisão demais. O que não

significa que assistir televisão, em si, seja um problema. A televisão pode ensinar, pode atingir

padrões esteticos elevados; possibilita distração e evasão tão necçssárias. A dificuldade surge

quando as pessoas têm o forte sentimento de que não devem assistir tanto quanúo o fazem e mesmo

assim se sentem esüaúamente incapazes de assistir menos. Um pouco de informação sobre como

esse veiculo exerse seu poder de ahação pode ajudar os telemaníacos a adqutir mais controle sobre

sua vida.

Um corpo em repouso tende a permsnecer em repouso

A quantidade de horas que as pessoas passam diank da televisão ç assombrosa. Emurédia, os indivíduos dos países industializados dedicam hês horas do dia a essa atividade:

exatanrente a metade de suas horas de lazer e mais do que o tempo que levam pwareahzar qualquer

outra atividade, exceto trabalho e sono. Nessa proporção. qualquer indivíduo que chegue até os 75

anos de idade Üerá pnssado nove anos em frentç à telinha.

Alguns comentam que essa devoção significa simplesmente uma opção conscients: as

pessoas assistem porque gostanÌ. Se for só isso, por que erúão tanta genúe lem ressalvas a propósitoda quantidade dc horas passadas na frente da TV ? Em pesquisas do Instituto Gallup feitas em 1992e 1999, dois entre cinco adultos e sete entre dez adolescentes admitiram passar muitas horas yendo

televisão' Otttras pesquisas têm mostrado de forma consistente quo cerça de l0 % dos adultoschama a si mesrno de viciados em televisão.

Nurn trabalho em equipe. conduzimos tcstes de laborntorios para estudar a reação das

pessoas diante da TV. Monitorarnos as ondas çerebrais (por meio de eletroencefalograma), a

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resistência da pele e o batimeato cardíaco de algumas pessoas que se submeteram à pesqgisa. para

detectar o comportanento e as emoções no curso normal da vida, em oposição às condiçõesartificiais do labsatorio, utilizamos o méüodo de amosFagem seletiva. Os participantes carregavamo um bipe, que nós acionávamos de seis a oito vezes por dia, a esmo, durante uma semana; cada vezque ouviarq o brpe tocar, eles anotavaÌn num cartão de registo o que estsvam fazendo naquelemomento e coüro se se,ntiam.

Como era de se espsrar, os participantes que estavam assistindo televisão quando forambipados disseram que se sentiam relaxados e passivos. Da mesma forma, os estudos poreletroencefalograma mosEarâm menos estimulo mental durante o período em frenüe à televisão doquem em períodos de leifura, conforme a aferição das ondas cerebrais alfa.

O que mais supreende é que a sensação de relaxarnento cessa quando o televisor edesligado, mas a sensação de passividade e de diminúção do estado alerta permaneçem.Participantes desse tipo de pesquisa comumente afirmam que, de uma Íbrma ou de ouha, a televisãoabsorveu, chupou-lhes a energia, deixando-os depauperados. Eles dizem ailda que tôm maisüficuldade em concentrar-se depois de ver televisão do antes. Em conhaste, raranenüe essipessoas indicanr essa dificuldade depois de ter lido. Muitos relaÍam melhora no h*mor depois depraticar esportes ou dedicar-se aos passatempos favoritos. Depois de assistir televisão, o humor daspessoas não altera ou fiça pior do que antes.

Poucos momsntos depois de sentar-se ou deitar-se e apertar o botão de ligar, osüelespeckdores dizem que se senúem mais relaxados. como a sensação de relaxamento oçorrerapidamente, as pessoas ficam condicionadas a assoçiar o ato de assistir televisão a repouso eausência de tensão. A associação é positivamente reforçada porque os telespectadores permanecemrelaxados durante todo o tempo em que assistern úelevisão e negativamente reforçada pelo eslresse eo mal-estar provocado pela ansiedade que se segue ao aúo de desrigar a TV.

Drogas que criam dependência funcionam de modo similar. Um hanqülizante cujo efeiüosobre o coqpo termina rapidanente tem mais probabilidade de causar dependência do que outro crgoefeit'o demora para passar. Isso aconúece justamente porque o usuiirio está mais ciente de que oseÍbiúos da droga estão diminuindo gradualmente. Da mesma forma, a vsga noção quo rsÍelespeckdores adquiriram de que se sentiram menos relaxados ao parar de assistir televisâo podeser um fato decisivo para não desligar o aparelho. Ver televisão provoca mais necessidade de vertelevisão.

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-

Eeaílempo a mais seia menos gratificante. Nossos estudos pelo metodo de amostragem seletiva

mostraram que quanlo mars tempo as pgssoas passam diante da televisâo menos satisfação elas

conseguem obter. Quando bipados, @ (aqueles que rotineiramente

assistem mais de quatro horas por dia) gqqlmgnrle_anqlqyam na folha de {q_sporstas quegoqtavaqr

uqenas d,e teievisâo do que os menos nertinazes (menos de duas horas por dia). Para algumas, uma

leve sensaçèo de mal-estar ou culpa por não estar fazendo Aks_l4qis produtivo pode conribuiÍ par4

çonprometer ou qstraqar o p

Pesqúsadores do Japão, do Reino Unido e dos Estados Unidos descobriram que esse sentimento de

culpa é mais freqüente nos telespectadores de classe média do que nos de classes menos aÍluçntes.

A atenção agarrada à força

O que é que a televisão tem que prende tanto a nossa atenção ? Ern parts, a atração pateie

derivar do nosso impulso biológico de resposta, os reflexos con<Íicionados. Eles Íbram descritos

pela prineira vez em Ig27 pelo fisiologista russo lvan Pavlov (1849-1936). $ão nossas reações

instintivas a qualquer estírndo súbito singular fazern parle de nossa herança evolutiva; e um tipo de

sensibilidade inata que é acionado por todo ser vivo quando percebe rnovimento ou se sente

ameaçado. Alguns exemplos clássicos de reflexos condicionados: dilatação de vasos sangtiineos

cerebrais, contração dos vasos sangüineos dos principaís gnrpos musculares, diminuição dos

batimentos cardiacos. As ondas alfas ficam bloqueadas por alguns segunclos antes de retomar ao

nivel habitual, o que e determinados pela quanúdade de estimulo ou aliciamçnto mental a que a

pessoa está %stumada. O cerebro concentra a atenção em recolher o maior números possível de

inlbrmações enquanto o resto do corpo perÍnanece em repouso.

Em 1986, By'ron Reeves, da Universidade de Stanford, Esther Thorson, da ljnil'ersidadedo Missouri, e vários de seus colegas começaram um estudo para estabelecer se os recursos visuais

e sonoros do veíeulo (cortÊs, edição, zoon, panorâmicas, efeitos sonoros) aüvam os reÍlexos e

conseqüentemente faziam com que a at,enção se dtscionasse auÍ,omaticamente para a tela. Aoúriâninar como as ondas cerebrais reagiam àqueles ou truques estilisticos os pesqúsadores

asslstem muito mais do am. ainda que o

ürvQlÌrntárias. Mais: a atencão ou o estado de alerta do cérebro na ocorrência desses efeitos sonoros

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.l

I

rs s80 de nossa

V, O retÌexo condicionado pode explicar em parte muitas obsen'ações que os telespectadores

cos&Elam t-azer, tais como "se a televisão está ligada eu sirnplesmente não consigo tirar os olhos

dela"- ou "eu nÃo queria assistir tanto assim, mas ttão consigo" ou ainda "su fico hipnoúzado

quando assisto televisão"

Desde a época em que Reeves e Thorson publicaram seu üabalho pioneiro' os

pesquisadores vôm se aprofundando ainda mais nesse assunto. Pesquisas t'eitas na Universidade de

Indiana sob nrpervisão de Annie Lang mCIstrararn que os batimentos cardíacos diminuem de 4 a 6

segundos depois de um estímulo condicionado. Em anúncios, seqüenciais de ação e vídeos

musicais, os Íeçursos visuais e sonoros da televisão chegam ao índice de um por segundo' ativando

continuamente o reflexo condicionado.

Lang e seus colegas tambem investigaram se os rectlrsos visuais e sonoros costumam

afetar a memória daquilo que telespectadores r,fuaut. Em trm desses estudos, os participantes

assistiram a um programa e preenchera$ uma folha de registro. Um grande nútmero de edições

(considçrados aqui como B mudança de urn angulo de câmara para outro, na mesma cena)

qggglg.-dg-cq$ (mudanças para novas cenas) ti4ha

núrmero dç cortçs fosse de dez em dois mnu o recoúecimento ou a msmoria caiam

e9ruptamente.

Produtores de emissoras educativas para crianças descobriram que os rectusos sonoros e

visuais podem ajudar no aprendizado. Mas o excesso dç cortes e edições acabam sobrecarregando o

cerçbro. Vídeos musicais e comerciais que utilizam cortes rápidos para cenas senr relação entÍe si

são çoucebídas com o propósilo de prender a atenção, muito mais do que veicular informação. As

pessoas teqclern a lembrar-se do nome do produto ou dp qrupo -mnsiqal- mas Qs detalles do

çomercial entÍattr por um ouvido e saem oqlo outro. E uma especie de excesso ds reflexos

çondicionados. Os cspectadores são

pratlcament€ os mesÌuos.

acb Assrm, segundo os pesquisadores, "não é so o conteúdo da televisão que e singular e irnico"

são deliberadamente oblí :oenredoécativan

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Il

conscientcmente do nome do pÍoduüo. Mesmo assim, os anunçiantes acreditam quç, se consçgrxÍam

atrair a atenção do telespectador. da próxima vez em que for a ÌIma loja se sentirá mais confortável

perante determinado produto: terá uma vaga lembrança de ter ouvido falar dele.

A atração natural que o som e a luz da televisão exercorn sobre as pessoas começa muito

cedo na vida. DaÍna Lemish, da Universidade de Tel Aviv, observou bebês de I a 2 meses de idade

que assistem televisão. Nos também observamos alprns bebês telespectadorçs pouca coisa mais

velhos. Eles fìcam deitados de costas no chão e giram o pescoço ate 180 gïaus para captar o qlte ÍÌ

luz que atravessa aquela caixa lá longe vai fazer aparecer . Esse ângulo sugere o quanto os reflexos

condicionados estão enraizado no ser humano.

*A TV é parte deles'

Dito tudo isso, precisamos tomar cuidado para não exagerar. Não há muitas evidêlcias de

que adultos e crianças deveriam parar de urna vez de assisür televisão. Os problemas decorrem do

exc€sso.

O rnetodo por amostragem seletiva pernritiu que observássenÌos de perüo os grandes

aspectos da vida cotidiana: trabalho, refeições, leitura. conversas com amigos, esportes e por aí

afora. A ideia era verificar até que ponto os telespectadores contunrazes tinham uma experiência de

vida diÍèrente do não-contunazes. Será que lhes desagrada mais a compaúia dos outros 'l

Aliçnam-se mais do trabalho do que a maioria das pessoas ? O que nós descobrimos quase nos fez

cair o queixo

que os não-contumazes em sitr4góes não-estruturadas" cemq pqr qtçmplo.{Ião.fazelnadô. Sgdur

acordado e esperar .em_.lElaé dil-çrença qurqgntâ quatdq ! tçlÈsrlgc.tador está sq;i!hp.

Um outÍo estudo. de Robert D. Mcllwraíh. da Universidade de Manitoba, Canadá,

analisou detalhadamente aqueles que, em pesquisas, se consideram viciados ern üelevisão. Pela

mçdida chamada lnventário de Curtos Processos lmaginativos, elc descobriu que, e* coropeqãç4q

So{n os rrão-l,iqlados, os autodenominados viciados se entediarn com mais facilidade, são mail

distraidos e tem mau coUlrolqLlaitguç4. O-s viciados 4islerqm gue usan a TV p?rg_plgenq!!{q

telrpo e fugir dos pensameníos desagradáveis. Outros estudos realizados ao longo dos alo!

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-t

comunitiínas e a não Drati Têm mais tendência a Íicar obesos do oue os

natr.ralmente é: onde conduz essa correl ?AS

nao-conlumazes ou os que nâo vêem televisão.

reconem è TYjor g.ausa 4o tg4io 9 da solidão 'Ì Ou o hábito da tv as toma mais suscetiveis ao tédioe à solidãq ? Nós e a maioria dos demais sustentamos ro caso é

Jerome L. e Dorothy Singer, da Universidade de

Yul.,

lirnitado uma diminúção do

gntraves normais da vida diána. Há mais de 25 anos, Tannis M. MacBeth Willians, da Universidadede Colúrnbia Britânica, Canadá,

t{_o tiúam televisão atq quando os cabos foram hnalmente I

onvincente enlre a TV e o vício das drogas

Quase 40 anos atriÍs, Gary A. Steinrr, da unìversidade de Chicago. compilou alguns relatosfascinantes de familias cuja televisão deixara de fiurcionar por algurn motivo * isto no tempo emque as fanÍlias tirrliarn gerahnente apenes um aparelho de TV: "A gente andava de um lado paraoutro, l'eito galinha degolada", "Foi terrível. Nos não fizemos nada - meu mando e eucomentávamos", "Etl vivia gritando. As crianças me irriavam, e os meus nerv.os ficaram emtiangalhos. Eu kntei fur.r.o*&piotorsssassem porjogos, mas foi impossível. A TV é parte deles,,.

Ëm alguns experimentos. r'árias fanÍlias aprssentaranl-se çomo voluntiíLrias para passarllma seiìÌana otÌ Llm mês sem ver TV' outras loram pagas. Muitas não conseguiram cornpletar operíodo de abstinência. Houve brigas, verbais e Íisicas. Viírios relatos engraçados de fanÍlias quetentaram "A Semana sem Televisão" Ìros Estados Unidos dão conta do mesmo tipo de sÍuação.

Se ruua farnília já está acostumada a passar a maior parte do tempo liwe dianüe da TV seránurito diÍicil para ela imaginar uüla nova gama do atividadss em substitrüção ao antigo hábito: Eclaro que isso não qtrer dizer que se trata de coisa impossivel ou que toda a familia vá implodir sefor privada do aparelho de TV.

adultos e crianças tom.aram-se menos criativos na resolucão de

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Charles Winick, da Universidade, de Nova Yorlç. chegou à seguinte conclusão depois do

analisar vários estudos sobre a supressão abnrpta do hábito da TV: "Os primeiros três ou quatros

dias são os piores para a maioria das pessoas, até mesmo nas residências onde esse hábito e mínimo

e onde existom ouftas atividades em andamento. Para mais da metade desses lares. os primeiros dias

de perda representam uma quebra da rotina familiar, os moradores trveram dúculdade em lidaÍ com

o tempo que sobrara, houve demonsüação de ansiçdade' agressões"' As pessoas que moravam

soziúas irritavarn-se facilmente ou ficavam entediadas... Já na segunda s€mana eram comum as

tentativas de adaptar-se à nova situação.

E uma pena que os pesqúsadores ainda não deram vida a essas historias; alguém ainda há

de aparecer para compilar sistçmaticamente as estatisticas sobre os sintomas decorrentes da

supressão abrupta do hábito de TV.

Embora o hábito anaigado da televisão possa ser perfeitamente caracterizado como

depen4ência - mesmo que aparentemflrte a TV não se enquaúe nos criterios pâr8 a dependência

quinrica - , nem todos os pesqúsadores iriam tão longe a ponto de consideráJo unl vício. Ern 1998,

Mcllwraith declarou: "A substituição de ouüas atividades pela televisão e significativa do ponto ile

vista social, mas está longe de preencher as reqúsitos clinicos para ser classificada como dishfbio."

EIe argumenta que essa nova categoria "o \,ício da TV" é desnecessária se o hábito

contumaz for srntoma de distgrbios tais como a depressão ou fobia social. Não obstante, qusr

diagpostiquemos ou não alguém como "depsudente da TV" ou "telemaniaco", milhões de pessoas

perceben que uão conseguem controlar com facilidade a quantidade de progranras de televisão que

assistem.

Escrnvos da tela do computador

Muito Ínenos pesquisas foram lìlitas para afbrir o uso do computador e a prática de

entâüto, Os mesmos princípios podeur ser aplicados. Qç-ioeos são uma forma devicÌeogames. No

drstr

tnterÍrtividad,

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dificrü-dade, em proporção düeta à .habilidadç_dg- ig&adq! Podenros levar meses até achar um

parceiro de tênis ou xadrez de habilidade comparável à nossa. mlìs os jogos programados

possfuilitam a combinação quase pert'eita de dificrúdade (do jogo) e desúeza (do jogador). Sçm

talar da sahsfação psicológica. E o que um dos eutores destc artigo (Mihaly Csirúrszentnúaly)

chana de flou' (vazão, trasbordarnçnto, flu-ro) - o estado de çonsciência de profunda e genúna

felicidade pela crescante capacidade de dondnar praticamente qualquer capacidade humana. Por

outro lado, a ativaçâo prolongada dos reflexos condrcionados tem o poder de exaurir o jogador.

Mútas crianças ficaur cansadas, zonzas e conr náusea depois de passar muitas hora entretidas corn

jogos de computador.

Em 1997, eln um caso extremo de patoÌogia provocada pela intensa exposição aos raios

catódicos da TV, 700 crianças japonesas forarn levadas às pressas para os hospitais. Muitas

apresentavam sintomas de "ataque epiletico por estimulação óptica". causado pelas luzes cintilantes

e iillçnrritetites de um videogame do Pokemon transmitidos pela televisão japonesa. Ataques e

outros efeitos irtconvenientes dos videogames são suÍìcientemente signilìcativos para que Bs

elllpresas de software e os fabricantes de sìstemas operacionais Íãçarn çonstar dos manuais de

operação dos produüos uma adveíôncia aos usuários. Muitos pais, por sinal, nos disseram que os

movimenÍos rápidos da tela, duranüe o jogo causaram distirbios motrores nos filhos adolescenües,

conì apenôs 15 minutos do jogo começado. Muitos jovens serìl autoconüole e experiência (e

principalmente sem supervisão) continuam a jogar apesff de todos esses sintonus.

Lang e Shyam Sundar, da Universidade do Estado da Pensilvânia. vem eshrdando colno as

pessoas reagem aos sites Web. Sundar moslrou as rnúltiplas l.ersões de una mesnta página da Web,

São idênricas. a não ser pelo número de linlçs. Os usuários aÍinlarn que o número elevado de linksconfere ao usuário uma aura de controle c comprometimento. Mas em algum momento o número de

lirús chegou ao ponto de saturação. Os usuários simplesmente perderam o interesse" Tal comoacont€ce conr os videogames, a habilidade dos sitss da Web em prender a aúepção do usuário resids

menos nas características fonnais do que na interatividade .

Para um erande niulero de a vida on-line muito mais

ue têm de da tel Exercer o

unediata

de televisão emoderno. murto mais hoi iamais o foi em nenhrma outra

Q-$ PIoP4os !ábit9-s relacionados com os veículos de comumcação g um dos desafios do mundo

90mPrr!Ê&res estão em toda parte. Mas nem- a teliúq da televisãojtçm a rçliúa d_a inteqlet tern

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l0

e relë<amenfo ç, egr 4oses limitadss, pode ser ats benófica. MaE quando intierfsre com a capacidadç

dc evolqir, aprender coisas novas e levar uma vida ativa, então ela vira dependência" ç isso é coisa

para w levar úuitp a sério.

* ROBERT KUBEIY é professor da Univsrsidade de Rutgers {Estado de Nova Jersey) e direüor do

Centro de Eshrdos de Mídia (çurv.mediasrudies.rutgers.e,Juì e MIHALY

CSINKSZENTMIHALYI de psicologia da Univenidade de Claremont. E rnembro da Academia de

Artes e Ciências

In Scientific American Brasil - Site: www.uol.corn.br/sciarn - 20/06 /2AA2