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O comentário político e a televisão Ana Isabel José Barros Manuel Almeida Uma abordagem ao “espaço de opinião” Disciplina de Sociologia da Comunicação LMPRP – 1º. Ano

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Page 1: O comentario politico e a televisão

O comentário político e a televisão

Ana Isabel José Barros Manuel Almeida

Uma abordagem ao “espaço de opinião”

Disciplina de Sociologia da Comunicação LMPRP – 1º. Ano

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2 O Comentário Político e a Televisão

Agenda

1 - Introdução 2 – Espaço de Opinião em Portugal 3 – Presença dos Políticos e dos comentadores políticos em Portugal 4 – Espaços onde ocorrem 5 – Meios utilizados e a sua caracterização 6 – O discurso político e a sua legitimação 7 – A “Agenda Setting” dos líderes de opinião 8 – Avaliação e impacto dos líderes de opinião- 3 casos de estudo

•“As Escolhas de Marcelo Rebelo de Sousa”•Vasco Pulido Valente – “Jornal Nacional”•“Quadratura do Círculo”

9 – Comentadores da TV Generalista e as preferências do público10 – Reflexão final

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3 O Comentário Político e a Televisão

•Compreender e relevar o motor essencial do espaço público: critérios de importância dos assuntos de actualidade, tratamento da qualificação do que se escreve, do que se diz e também avaliar a dificuldade em manter uma análise sobre um assunto quando ele sai da agenda mediática.

•A contaminação da opinião pela actualidade: opinião é publicada em órgãos de comunicação social, escrita nos jornais, dita na rádio ou na televisão e essa contaminação resultar do facto de cada vez mais se falar do presente, dos acontecimentos que estão a acontecer.

•A presença dos comentadores políticos na televisão, os espaços onde concorrem, quem são estes comentadores de televisão e como debatem a política nacional nas colunas de opinião, são aspectos também tratados.

Introdução

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4 O Comentário Político e a Televisão

•A evolução do campo dos media, a forma como os comentários são feitos sobre a politica nacional se se aproximam ou se distanciam da narrativa jornalística e o seu peso na agenda setting, marcas do discurso político e sua legitimação.

•Procuramos também aferir os princípios éticos e profissionais dos jornalistas e políticos quando vestem a pele de comentadores e se conseguiam distanciar o seu local de origem, a politica partidária e os interesses organizacionais a que se reportam.

•O corpus incidiu sobre a televisão e 2 comentadores (Marcelo Rebelo de Sousa, Vasco Pulido Valente) e um programa de debate/ opinião, “Quadratura do Círculo”. Num primeiro momento saber quem são estes comentadores, conhecer o seu perfil, onde foram recrutados.

Introdução

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5 O Comentário Político e a Televisão

Espaço de Opinião em Portugal•Campo de forças e campo de lutas, portanto local no qual existem conflitos, diferenças e competição. Isso significa dizer que, havendo diferenças de pretensões em relação às coisas de interesse comum, há a necessidade de fazer política.

•Nas sociedades democráticas, a política realiza-se essencialmente através do debate e da negociação argumentativa.

•Mudança na forma de fazer política, seja através do discurso ou de acções programadas, seja na perspectiva da relação do campo eleitoral e partidário, provocando deste modo, uma proximidade cada vez maior e integrada no sistema dos meios de comunicação.

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6 O Comentário Político e a Televisão

Espaço de Opinião em Portugal

•Ao longo de muitas décadas o plenário dos parlamentos constituía o centro da política.

•A componente parlamentar, representativa e deliberativa da política continua a ser fundamental mas a política já não se centra no plenário de um parlamento.

•Desde sempre que a política se fazia fora do hemiciclo parlamentar mas este constituía a manifestação pública da política.

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7 O Comentário Político e a Televisão

•Hoje, a política discute-se nos jornais, na televisão e, crescentemente, na Internet.

•O plenário parlamentar tem hoje sobretudo um carácter simbólico centrado nos grandes momentos políticos de controlo do executivo e na aprovação – mas não discussão – de legislação.

•Os parlamentos deixaram de ser um espaço de deliberação, tornando-se num espaço de legitimação da deliberação que tem lugar noutras arenas do processo político: na consulta e participação públicas, na actividade governativa, nas discussões nas comissões parlamentares, entre outras acções.

Espaço de Opinião em Portugal

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8 O Comentário Político e a Televisão

A actividade política é muito pensada em função das televisões.

O dia a dia das maiores organizações políticas é a preparação de eventos para obter uma reportagem de um a dois minutos nos telejornais.

Pierre Bourdieu afirma que “a televisão tem uma espécie de monopólio de facto sobre a formação dos cérebros de uma parte importante da população” e o seu poder de registo “torna-se instrumento de criação de realidade”.

Presença dos políticos e dos comentadores políticos de televisão

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9 O Comentário Político e a Televisão

A Televisão surge assim como um meio vital para a difusão da mensagem política. Há mesmo quem afirme que só a experiência pessoal é mais importante do que a TV na formação da opinião.

O que se passa no palco é organizado em função da cobertura das televisões, e se o slogan fizer parte dos títulos dos telejornais é a «cereja no bolo».

De todos os meios de comunicação, a televisão é o que exige uma mensagem menos racionalizada. A televisão não é para debater ideias. A televisão é espectáculo. Não é preciso imaginar, é desnecessário ler nas entrelinhas. O que está lá é tudo e o tudo é uma impressão.

Presença dos políticos e dos comentadores políticos de televisão

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10 O Comentário Político e a Televisão

Presença dos políticos e dos comentadores políticos de televisão

•Um comentário na televisão, um editorial ou um artigo de opinião chegam a atingir um impacto mais importante do que muitas acções pensadas e levadas a cabo através da mobilização de centenas de pessoas em muitas organizações por mais iniciativas que desencadeiem.

•Os opinion-makers “surgem como vedetas (possuidoras de um capital simbólico socialmente reconhecido) que ajudam na promoção dos meios de comunicação social onde colaboram. Por seu turno, esses mesmos meios de comunicação social promovem essas individualidades, contribuindo para a permanência da sua imagem no circuito mediático.”

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11 O Comentário Político e a Televisão

•Esta relação apresenta-se profícua para ambas as partes: sucesso mediático tende a significar capacidade técnica no domínio do discurso público; diversidade de opiniões tende a consolidar uma imagem de pluralismo e diversidade de opiniões, ou seja, tende a consolidar uma imagem de credibilidade dos meios de comunicação social”.

•Neste contexto, o tratamento editorial surge muitas vezes ligado ou influenciado por relações menos claras, do ponto de vista jornalístico, mas cuja ocorrência nos remete para áreas de interesses económicos de proximidade. Caso mediatizado ocorreu em Itália (o primeiro-ministro do pais é um poderoso empresário de meios de comunicação). Este facto leva a questionar se o sujeito da política actual está no campo político, económico ou no campo publicitário.

Presença dos políticos e dos comentadores políticos de televisão

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12 O Comentário Político e a Televisão

As Escolhas de Marcelo Rebelo de Sousa

•Conjunto de notícias, factos ocorridos durante uma semana para interpretação, análise e extrapolação.

•Os assuntos escolhidos para a agenda têm, normalmente, já um suporte escrito – pesquisa de notícia, texto de opinião - cuja audiência já foi testada através de alguma opinião pública.

Programa transmitido todos os domingos a seguir ao telejornal da RTP 1.Ao longo de 20 minutos, Marcelo Rebelo de Sousa comenta os temas escolhidos, em conversa com a jornalista Maria Flor Pedroso.

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As Escolhas de Marcelo Rebelo de Sousa

•É também de assinalar que não raras vezes os seus comentários se transformam em notícias noutros órgãos de comunicação social.

•A criação de «factos políticos», com alguma frequência, provoca mesmo reacções oficiais de organizações políticas e empresariais.

•É reconhecido que no caso de MRS os políticos reconhecem a forma como exerce a influência política, através dos “recados que envia e o papel “didáctico” desempenhado quando explica de forma simples os temas que trata e que são interpretadas de interesse comum.

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14 O Comentário Político e a Televisão

•MRB é considerado um ‘jornalista-pundit’ é alguém que o leitor de um jornal reconhece como uma autoridade em assuntos políticos. Ele transforma-se numa fonte que forma opinião, marca a agenda e a evolução de determinados temas. (…) Para alcançar este estatuto, o ‘pundit’ tem de ser aceite pela classe política, onde se move, obtém informação e estabelece julgamentos.» ([1])

•É o ‘comentador mix político&entretainer’, aquele que, por excelência, atrai o universo dos telespectadores portugueses, pelo seu estilo de abordagem generalista dos assuntos, mas num programa com forte cunho pessoal, por si auto-dirigido num misto de atitude didáctica e de entretenimento.

As Escolhas de Marcelo Rebelo de Sousa

([1]) Introduction to Political Communication; Brian McNair; Routledge; Londres; 2ª edição, 1999

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•Vasco Pulido Valente é o ‘comentador jornalistico-político’ que, no Jornal de Sexta-feira da TVI, percorre e comenta em diálogo directo conduzido por Manuela Moura Guedes, a pivô, os acontecimentos pré-agendados, assumindo um e outro o papel de comentadores das notícias, numa atitude quase sempre marcada por afrontamento às decisões governativas e às práticas conhecidas por membros do governo.

Vasco Pulido Valente – Jornal Nacional TVI

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•Contudo o Jornal Nacional da TVI assume características inéditas, no que se entende por programa de informação, boas práticas e ética jornalística.

•Provavelmente motivada pela conquista das audiências a sua pivô apresenta um jornal que funciona em função da sua opinião. A pivô comenta, senão todas, quase todas as notícias que são apresentadas como se estivesse a falar com a sua vizinha. O rigor e ética jornalística não lhe dizem rigorosamente nada, e gosta de exibir as suas opiniões que, quase sempre, ultrapassam de longe o básico e o ridículo.

Vasco Pulido Valente – Jornal Nacional TVI

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•Todo este quadro “noticioso” parece justificar-se pela luta das audiências, interesses políticos e partidarismos que em nada dignifica a própria estação de televisão.

•Também aqui os méritos do comentador deixam de ter impacto significativo, pelas questões muitas vezes reformuladas, em comparação com a relevância da sua escrita directa e incisiva sobre os assuntos da actualidade, demonstrando que a capacidade mediática e o poder de síntese é um atributo especial apenas de alguns comentadores.

Vasco Pulido Valente – Jornal Nacional TVI

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“Quadratura do Círculo”

Quadratura do Círculo é um programa de televisão que vai para o ar na Sic Notícias por voltas das 23 horas de quinta-feira, e que se dedica a comentar questões de carácter político, social e económico.

•Tem como moderador o jornalista Carlos Andrade e como comentadores o historiador, professor universitário e político José Pacheco Pereira, o Presidente da Câmara de Lisboa António Costa e o jurisconsulto, gestor e político António Lobo Xavier.

•A discussão à volta dos temas agendados no programa “Quadratura do Círculo” corresponde a uma tentativa impossível de gerar consenso mas cuja abordagem está sempre presente.

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“Quadratura do Círculo”

•O discurso político está em adequação à própria realidade social interpretada, isto é, depende da capacidade dos seus actores e dos objectivos a alcançar.

•O comentário político é adaptado à actualidade televisiva, porque adoptaram desde há muito o conceito da sociedade mediatizada através da qual a notícia é legitimada.

•Os comentadores do programa, surgem como “vedetas”, possuidores de um capital simbólico, socialmente reconhecido, pelos seus méritos profissionais ou governativos, ao mesmo tempo que assumem uma ligação afectiva com os seus grupos partidários mas tentando sempre pautar as suas intervenções pela racionalidade, pluralismo e critérios de exigência social.

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•É um modelo experimentado inicialmente na rádio, e que tem feito sucesso em televisão ao longos dos anos, especialmente pelo debate aberto, pelo contraditório e também pela diferença social e política de que os seus autores estão investidos.

•Fundamentalmente este círculo é estimulado para introduzir no debate político elevação, capacidade técnica do discurso público, diversidade de opiniões políticas, mas sempre tornando possível a concretização do seu principal objectivo: consolidar uma imagem de credibilidade dos próprios e do meio de comunicação social em que actuam.

“Quadratura do Círculo”

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•A importância do discurso político em televisão suplanta qualquer outro palco ou intervenção e requer nos dias de hoje especial atenção.

•A vida partidária está intimamente ligada aos meios de comunicação social e em especial à televisão.

•A força dos discursos depende da capacidade de atingir audiências e essa é a razão porque os agentes políticos “assaltam” a televisão, estudam o melhor padrão de comunicação, treinam os seus líderes no tele-ponto, tratam a imagem, a colocação de voz e o mais inocente dos gestos.

•O que se trata não é apenas comunicar, transmitir uma ideia mas, antes, disputar audiências.

Reflexão final

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Reflexão final

•A ideia de controlar a informação e a sua acção, deve-se à consciência que existe do poder dos media e do que a informação constitui para a compreensão da realidade e da vida em sociedade.

•Ao longo do tempo têm sido ensaiadas formas para regular as acções dos media. Regimes totalitários ou democracias sempre procuraram perpetuar um controle sobre os grupos de informação, os jornalistas, a televisão ou sectores da sociedade, grupos económicos, quando se sentiram ameaçados na sua posição de poder.

•Esta é a razão porque todos os governos, grupos de poder (político, económico ou social) sempre dedicam tanta atenção aos média.

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•Também os Opinion-makers, muitas vezes representando interesses inconfessáveis de grupos de poder ou interesses económicos ou ainda interesses próprios de ascensão política, fazem da “televisão um formidável instrumento de conservação da ordem simbólica”, mesmo quando procuram interpretar o sentimento da opinião pública, assumindo e sustentando credibilidade no papel de porta-vozes da comunidade.

•Sabemos que os Opinion –makers não precisam de ser neutros, mas precisam ou “devem ser homens livres, independentes, que não obedeçam a interesses particulares, além do seu próprio juízo”.

•Naturalmente que diferentes motivos presidem à escolha destes protagonistas, não sendo indiferentes os motivos para a pouca diversidade de opiniões. Desde logo pela pouca transparência no acesso à opinião, pela origem social e profissional dos comentadores e a própria estrutura de propriedade dos grupos económicos que detém as empresas.

Reflexão final

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•Raros são os casos em que se discutem as decisões estruturantes ou os modelos possíveis de estruturação da sociedade. Ao contrário é cada vez mais frequente perceber o mecanismo de actuação e oportunidade para abordar os pequenos detalhes, escondendo os problemas de fundo ou tomar iniciativas de agenda para defesa de interesses e vontades capazes de mudar o rumo dos acontecimentos.

•Contudo, o papel dos comentadores de televisão, tem vindo a impulsionar de forma significativa o debate político nos media (também nos blogs, na internet) e a centrar aspectos de governação e de pluralismo que a sociedade reclama. Não é por isso estranha a “adesão” dos políticos a comentadores e o facto de haver um recrutamento crescente de assessores de comunicação, não apenas ao nível dos governos, mas também dos partidos políticos e empresas/grupos económicos.

Reflexão final

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•Grande parte da opinião é marcada pelos acontecimentos da actualidade e que, em grande parte, já foram transmitidos pelos jornais, pela rádio ou pela televisão. Essa actualidade, contudo, é cada vez mais efémera face a velocidade da informação e aos próprios meios de que dispomos hoje: a internet, a televisão, a rádio, os blogs. Por isso cada vez mais a actualidade tende a ser mais efémera, comportando apenas a pequena memória, sendo ultrapassada pela importância da nova actualidade.

•O comentário político, sem incorporar a memória não permite qualificar o que se escreve ou o que se diz nem tão pouco manter uma análise objectiva sobre um assunto quando ele sai da agenda mediática. Tendemos cada vez mais a esquecer o que fizemos ontem, porque pensamos que o que podemos fazer amanhã terá mais validade.

Reflexão final

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•Outro aspecto revelado pelos comentadores é a predisposição latente para evidenciar sempre o aspecto negativo e crítico da acção governativa, sem excepção.

•A análise e o comentário incorporam o peso de relação de desconfiança entre o eleitor e o eleito, entre o povo e os seus representantes, mesmo entre o parlamento e o governo.

•A linguagem dos comentadores no espaço público divide-se entre a defesa cega dos seus representantes e o ataque implacável dos opositores. É essencialmente uma linguagem crítica negativa, não necessariamente analítica mas quase sempre impulsionada pelas emoções.

Reflexão final

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Reflexão final

A responsabilidade de opinião deve respeitar os factos e os seus protagonistas, com ética e verdade, enquadrando a opinião como um bem social e fazendo opinião como um lugar de exercício da democracia.

•Isto demonstra uma enorme fragilidade ou melhor a incapacidade de enunciar o positivo de apresentar soluções ou de reconhecer o que está bem. Os mecanismos sociais de desconfiança que, como se sabe tem crescido de forma significativa nas democracias ocidentais, são agravados por este tipo de opinião.