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A RELEVÂNCIA DO PAPEL DO PEDAGOGO NA ORGANIZAÇÃO E MEDIAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO PARA O PROCESSO DE

PROMOÇÃO AUTOMÁTICA

Laura Godoy dos Santos1

Adrian Alvarez Estrada2

RESUMO: O fenômeno educativo apresenta-se como expressão de interesses sociais em conflito na sociedade e que exigem do pedagogo uma direção explícita da ação educativa, ou seja, um posicionamento político. A educação é o conjunto de ações, processos e influências que intervenham no desenvolvimento humano de indivíduos e grupos na sua relação ativa com o meio natural e social, num determinado contexto de relações entre grupos e classes sociais. Existe uma relação intrínseca entre o papel do pedagogo e o processo de ensino-aprendizagem da escola, visto que ele responde pela mediação, organização, integração e articulação do trabalho pedagógico. Neste trabalho, procurou-se analisar a relevância do papel do pedagogo para a organização do trabalho pedagógico no processo de progressão automática. Entre outras coisas, analisou-se como se dá o processo de articulação da práxis pedagógica na escola e como o pedagogo faz a mediação entre os sujeitos do processo escolar: professor – aluno – família – comunidade. À luz de uma concepção de educação transformadora, o pedagogo tem uma função de extrema relevância, agindo em todos os espaços de contradição para a transformação da prática escolar e a democratização do ensino: função social da escola.

Palavras chave: Pedagogo; Progressão Automática; Práxis Pedagógica.

ABSTRACT: The educational phenomenon presents itself as an expression of social conflict in society and which require the explicit direction of a teacher education action, or a political position. Education is the set of actions, processes and influences involved in human development of individuals and groups in their active relationship with the natural and social environment in a given context of relations between social groups and classes. There is an intrinsic relationship between the role of teacher and teaching-learning school, since he is responsible for the mediation, organization, integration and articulation of the pedagogical work. In this work, we tried to analyze the relevance of the role of educator for the organization of educational work in the process of automatic progression. Among other things, we analyzed how is the process of articulating pedagogical practice at school and how the teacher mediates between the subjects of the school: teacher - student - family - community. In the light of a conception of transformative education, the teacher has an extremely important function, acting in all areas of contradiction to the

1 Pedagoga da Rede Pública Estadual de Educação do Paraná, Núcleo Regional de Educação de

Cascavel – PR, Professora do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE da Secretaria de Estado da Educação do Paraná – SEED. 2 Doutor/Mestre em Educação pela Universidade de São Paulo (2004), Professor Orientador pela

Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, na cidade de Cascavel - PR.

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transformation of school practice and the democratization of education: the social function of school. Keywords: Pedagogue; Automatic Progression; Pedagogical Praxis.

Compreender a escola como mediação significa entender o conhecimento

como fonte para efetivação de um processo de emancipação humana e, por

conseguinte, de transformação social. Para tanto, é fundamental perceber o papel

político da escola atrelado ao seu papel pedagógico e, mais, dimensionar a prática

pedagógica, em todas as suas características e determinantes com intencionalidade

e coerência. Ao assumir este compromisso político os educadores buscam garantir

que o processo de ensino e aprendizagem esteja a serviço da mudança necessária

a transformação da realidade social e, efetivamente, democratizam os saberes

científicos acumulados historicamente pela humanidade – função social da escola

pública.

De acordo com o Caderno Temático Organização do Trabalho Pedagógico

(PARANÁ, 2010, p. 26), a escola, como instituição social, que tem como função a

democratização dos conhecimentos produzidos historicamente pela humanidade, é

um espaço de mediação entre sujeito e sociedade. Deste modo, é possível afirmar

que o pedagogo escolar é o profissional que trabalha diretamente na organização do

trabalho escolar e que faz a mediação entre os sujeitos do processo escolar:

professor – aluno – família – comunidade.

Neste sentido, pode-se afirmar que existe uma relação intrínseca entre o

papel do pedagogo e o processo de ensino-aprendizagem da escola, pois o

pedagogo responde pela mediação, organização, integração e articulação do

trabalho pedagógico. Portanto, sugere a própria compreensão de que ser pedagogo

significa ter o domínio sistemático e intencional das formas (métodos) por meio dos

quais se deve realizar o processo de formação cultural. (SAVIANI, 1985).

Em sua atuação, o pedagogo também media situações conflituosas da

prática pedagógica que se tornam fundamentais para a compreensão da realidade e

do educando, bem como para a contextualização dos conteúdos a serem ensinados

pela escola, de modo que estes possam tornar-se transmissíveis e assimiláveis ao

educando.

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É necessário considerar ainda que, a educação como instrumento básico

social possibilita ao indivíduo a transposição da marginalidade para a materialidade

da vida em sociedade, para os desafios cotidianos do trabalho e também da

cidadania. Estar na escola é ter a possibilidade de adquirir conhecimentos

fundamentais para a atuação consciente na vida em sociedade.

Contudo, escola não é somente uma instituição social, um lugar de

neutralidade científica ou política. A escola é dialeticamente um lugar de alienação e

de libertação, pois, ao mesmo tempo em que ela pode ser um local onde a educação

contribua para o reforço e a manutenção do status quo, ela pode efetivar uma

educação em que o aluno construa instrumentos para intervir e transformar a

realidade social.

De acordo com LIBÂNEO (2002, p. 26), as transformações contemporâneas

contribuíram para consolidar o entendimento da educação como fenômeno

plurifacetado, ocorrendo em muitos lugares, institucionalizados ou não, sob várias

modalidades. Assim, percebe-se que a educação é um processo que acontece não

apenas na família ou na escola, mas também nos meios de comunicação, nos

movimentos sociais e outros grupos humanos organizados, em instituições não

escolares.

Contudo, quando se trata de conhecimento formal, sistematizado, planejado

e organizado para fins de aprendizagem científica, é na escola que intencionalmente

se promove situações de aprendizagem, de aquisição do conhecimento científico e

histórico. Assim, por mais que se reconheçam formas e métodos para transmissão

de informações sobre os mais diversos assuntos a população, é na escola o espaço

privilegiado para a prática educativa em nossa sociedade. A escola diz respeito ao

conhecimento elaborado e não ao conhecimento espontâneo; ao saber

sistematizado e não ao saber fragmentado; à cultura erudita e não à cultura popular.

(SAVIANI, 1992, p. 14)

Nessa via de raciocínio, a educação escolar pode contribuir

significativamente para a compreensão da realidade, na medida em que os alunos

se apropriem dos conhecimentos adquiridos e percebam-se como sujeitos da própria

história e agentes de transformação da realidade. Os objetivos da escolarização,

também não se esgotam na difusão dos conhecimentos sistematizados, mas exigem

a vinculação com a prática social. E assim a aprendizagem é:

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O processo pelo qual o indivíduo adquire informações, habilidades, atitudes, valores, etc. a partir de seu contato com a realidade, o meio ambiente, as outras pessoas. É um processo que se diferencia dos fatores inatos e dos processos de maturação do organismo, independentes da informação do ambiente. (OLIVEIRA, 1995, p. 57)

É preciso considerar que a Pedagogia é a ciência da educação. Isso porque

através do trabalho do pedagogo há a reflexão, ordenação, sistematização e a

crítica do próprio processo pedagógico, do processo educacional e do processo

educativo. De acordo com LIBÂNEO (2002, p. 29):

A Pedagogia ocupa-se, de fato, dos processos educativos, métodos, maneiras de ensinar, mas, antes disso ela tem um significado bem mais amplo, bem mais globalizante. Ela é um campo de conhecimentos sobre a problemática educativa na sua totalidade e historicidade e, ao mesmo tempo, uma diretriz orientadora da ação educativa. O pedagógico refere-se a finalidades da ação educativa, implicando objetivos sociopolíticos a partir dos quais se estabelecem formas organizativas e metodológicas da ação educativa.

Neste sentido, o fenômeno educativo apresenta-se como expressão de

interesses sociais em conflito na sociedade e que exigem do pedagogo uma direção

explícita da ação educativa, uma atividade transformadora da realidade educativa.

Cabe ao pedagogo compreender que a educação é o conjunto de ações, processos

e influências que intervenham no desenvolvimento humano de indivíduos e grupos

na sua relação ativa com o meio natural e social, num determinado contexto de

relações entre grupos e classes sociais.

Portanto, a educação formal é uma prática social que atua na configuração

da existência humana, de modo que o indivíduo, mesmo integrado a uma sociedade

antagônica e cheia de relações de exploração e de poder, possa construir um

caráter de emancipação e de transformação de relações e da realidade social.

Segundo LIBÂNEO (2002, p. 32-33),

A Pedagogia investiga a realidade educacional em transformação, para explicitar objetivos e processos de intervenção metodológica e organizativa referentes à transmissão/assimilação de saberes e modos de ação. (...) A Pedagogia ocupa-se da educação intencional, investiga os fatores que contribuem para a construção do ser humano como membro de uma determinada sociedade e os processos e meios dessa formação.

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Assim, o pedagogo é o profissional que atua em várias instâncias da prática

educativa, direta ou indiretamente ligadas à organização e aos processos de

transmissão e assimilação de saberes e modos de ação, tendo em vista objetivos de

formação humana previamente definidos em sua contextualização histórica.

Para LIBÂNEO (2002, p. 34), é o caráter pedagógico que introduz o

elemento diferencial nos processos educativos que se manifestam em situações

históricas e sociais concretas. No seio de relações entre grupos e classes sociais é

que se ressalta a mediação pedagógica para determinar finalidades sociopolíticas e

formas de intervenção organizativa e metodológica do ato educativo.

Além disso, o espaço escolar sempre se constituiu como o espaço

privilegiado, por excelência, do acesso ao conhecimento. A escola sempre foi vista

como o lugar do saber. Mudanças de concepções e entendimentos levaram os

teóricos a pensar na educação como o processo de formação que podem ocorrer

em todos os lugares, além da escola. Isso, no entanto, não fez com que a escola

fosse diminuída em sua função, ao contrário, ela se consolida exatamente em sua

função maior que é fazer com que o homem adquira, domine e modifique

criticamente seus saberes.

Neste contexto, é necessário saber quais saberes são elencados e por que

são escolhidos, ou seja, qual escola temos e qual queremos. Nesta mesma via de

raciocínio Gadotti aponta que:

A escola que temos: elitista, vazia, controladora, discriminatória, insegura, desvalorizada, fechada ao diálogo, vítima da interferência político-partidária e indefinida. A escola que queremos: participativa, crítica, integrada à realidade, sem interferência, democrática, com recursos, preocupada com o desenvolvimento sócio-político e cultural do aluno, com classe de alfabetização e sem turno intermediário, digna e competente (GADOTTI, 1990, p. 40)

Para a construção do importante papel de democratização do saber pela

escola, o pedagogo desempenha um papel fundamental. É ele o mediador e

articulador das relações entre o professor e o educando, entre os educandos, entre

a escola e a família, entre a escola e a sociedade, entre a realidade existente e a

transformação desta realidade.

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O PAPEL DO PEDAGOGO NA ATUALIDADE DA ESCOLA PÚBLICA

Vive-se um momento de transformações rápidas em todos os setores da

sociedade. Mudanças que dinamizam as relações do homem com o conhecimento,

do homem com o meio, do homem com o próprio homem. Importantes avanços

científicos e tecnológicos ocorridos principalmente no final da década de 1990

acarretaram mudanças na legislação e na própria relação com o conhecimento,

fazendo com que as pessoas tivessem mais acesso a informações, principalmente

mediadas pelas tecnologias de mídia e de informática.

Contudo, o acesso cada vez maior e mais rápido as informações não

significou o acesso ao conhecimento sistematizado, nem tampouco a

democratização do ensino e do conhecimento escolar. E, neste sentido, a escola

ainda ocupa lugar de relevância quando se trata de ações planejadas e específicas

para a garantia de aquisição do conhecimento científico e para o processo de

humanização do sujeito social.

Além disso, a escola ao absorver este novo perfil de educando, cada vez

mais “plugado”, dinâmico e ativo, teve que incorporar as suas metodologias de

ensino o uso da informática e de novas tecnologias, transformando com isso a

linguagem e as formas como os educandos estabelecem relação entre o

conhecimento científico e a realidade social.

Atualmente a função do pedagogo na escola é descaracterizada por

atividades que imputam a ele a exigência de ações imediatas e não planejadas. A

necessidade de intervenções em situações conflituosas ocorridas na escola, por

vezes geradas por contradições oriundas da própria realidade social da qual a

escola está inserida, fazem com que o pedagogo acabe por desvincular a prática do

seu trabalho com o papel formador da escola. Em outras palavras, por mais que a

escola coloque em seu Projeto Político Pedagógico a pretensão de formar um aluno

crítico da realidade social, quando a crítica é ao trabalho do professor ou da escola,

muitas vezes o pedagogo torna-se um repressor à criticidade e a criatividade do

educando.

Neste sentido, o trabalho do pedagogo, que deveria ser de articulador do

trabalho pedagógico, relação professor-aluno, da relação ensino-aprendizagem,

muitas vezes se configura em “apagar incêndios”, em tomar ações arbitrárias,

alienadas, contraditórias a intencionalidade educativa da própria escola.

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Por outro lado, as mudanças científico-tecnológicas, econômicas, sociais,

políticas e culturais ocorridas no mundo contemporâneo influenciaram direta e

indiretamente a organização da sociedade e, por consequência, da própria escola.

Essas mudanças provocaram uma reorganização da própria escola que passou a

considerar no processo ensino-aprendizagem a influência de questões históricas,

sociais e econômicas, bem como a participação coletiva na gestão pedagógica e

administrativa.

Assim, a Gestão Democrática passa a ser vista sob o ponto da organização

coletiva da escola em função dos seus sujeitos. Organizar-se coletivamente exige

rigor teórico-prático de quem organiza, decide, dirige, debate, discute a organização

escolar. Significa permitir o trabalho específico e ao mesmo tempo, orgânico dos

sujeitos em função das necessidades histórico-sociais dos seus alunos. Assim, é

fundamental o trabalho do pedagogo, na tentativa de entender seu papel como

mediador da intencionalidade educativa da escola, pela via dos diferentes

segmentos que a compõe.

Vale salientar que a escola, como instituição social, que tem como função

a democratização dos conhecimentos produzidos historicamente pela humanidade,

é um espaço de mediação entre sujeito e sociedade. Compreender a escola como

mediação significa entender o conhecimento como fonte para efetivação de um

processo de emancipação humana e, logo, de transformação social. O que implica

em ver o papel político da escola atrelado ao seu papel pedagógico e, mais,

dimensionar a prática pedagógica, em todas suas características e determinantes

com intencionalidade e coerência, o que transparece um compromisso político ao

garantir que o processo de ensino e aprendizagem esteja a serviço da mudança

necessária.

Para além da função pedagógica de interlocução com o corpo docente para efetivação de uma prática pedagógica que cumpre com os pressupostos conceituais e práticos expostos no Projeto Político-Pedagógico (e Proposta Pedagógica Curricular), há a função do pedagogo na gestão escolar. Ou seja, a função da Equipe Pedagógica encontra-se maximizada no processo educativo agindo em todos os espaços para a garantia da efetivação de um projeto de escola que cumpra com sua função política, pedagógica e social. (PARANÁ, 2010, p. 27)

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O reconhecimento e efetivação do papel do pedagogo dependem do

reconhecimento da intencionalidade e especificidade do trabalho pedagógico junto a

toda comunidade escolar. Portanto, o envolvimento do pedagogo com questões do

dia-a-dia escolar não deve extrapolar seu tempo e espaço do fazer pedagógico, já

que problemas de indisciplina, falta de interesse, notas baixas, falta de

acompanhamento familiar, etc., são problemas da escola como um todo e, portanto,

o seu coletivo deve planejar ações para enfrentamento destas questões.

A REALIDADE DA COMUNIDADE PESQUISADA

O Colégio Estadual Eleodoro Ébano Pereira, localizado na região central da

cidade de Cascavel – PR atende aproximadamente 2.200 alunos e possui uma

proposta diferenciada de ensino e de avaliação na qual o colégio aponta para uma

nova concepção de negação da reprovação, ou seja, para a progressão

automática de seus educandos.

De acordo com o Projeto Político Pedagógico da escola (2012, p. 14), a não

reprovação é um meio de democratizar a educação e permitir que o ciclo de

aprendizagem torne-se ininterrupto. A proposta foi implantada no colégio no ano de

1994, a princípio englobou apenas as séries finais do Ensino Fundamental,

gradativamente passando também a contemplar as séries do Ensino Médio.

Conforme apontam os profissionais da instituição, os resultados têm sido

muito positivos desde então, tendo em vista que muitos são os estudantes que

ingressam no Ensino Superior (em sua maioria, público), que adquirem boas notas

no Enem e que fazem aumentar o IDEB da instituição.

Contudo, negar a reprovação não implica em negar-se o ensino, a

aprendizagem ou a importância do trabalho do pedagogo na escola. A progressão

automática exige comprometimento de toda a comunidade escolar, exige formas de

busca cotidiana pela qualidade do ensino e a mediação constante do pedagogo na

organização do trabalho pedagógico e na práxis escolar.

De acordo com a proposta de progressão automática do Colégio Eleodoro

propõe-se um ensino em que não exista reprovação em nenhuma de suas séries, o

que causa, a princípio, muitos questionamentos: Se não existe reprovação então

não existe avaliação? Se não há a necessidade de apresentação de notas ou

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menções então não é preciso ensinar? Sabe-se que todos não aprendem da mesma

forma e ao mesmo tempo, então nesta proposta não há a preocupação com o aluno

que não domina os conteúdos basilares do ano? Se não há reprovação então o

professor não precisa organizar nenhum tipo de planejamento ou procurar seguir

Diretrizes da escola ou da Secretaria Estadual de Educação? Se a família sabe que

o aluno não vai reprovar no final do ano então não precisa se preocupar com a

frequência e o acompanhamento pedagógico? E não menos importante, se não há

reprovação então o papel do pedagogo se resume apenas a mediar conflitos de

indisciplina entre os alunos?

Como se vê, muitos são os questionamentos, mitos e preconceitos que

cercam o trabalho da escola no processo de progressão automática. Assim, este

estudo buscou investigar como e qual é o trabalho do pedagogo na organização do

trabalho pedagógico no processo de promoção automática do Colégio Eleodoro.

Buscou-se analisar o processo de avaliação, bem como o trabalho pedagógico,

avaliando suas formas e métodos, intencionalidades para tomadas de decisão,

organização e avaliação das atividades realizadas no interior da escola.

RESULTADOS ENCONTRADOS

O projeto de intervenção propôs-se a analisar, avaliar e intervir na

organização do trabalho pedagógica realizada pelos pedagogos do Colégio Estadual

Eleodoro Ébano Pereira, do município de Cascavel – Paraná.

Para tanto, investigou-se como os pedagogos planejam e efetivam ações

que visam organizar o processo pedagógico dentro da instituição. Buscou-se

analisar como o pedagogo intervém e media situações que possam auxiliar

educadores e educandos no processo ensino-aprendizagem.

Durante este processo de intervenção levantamos muitas hipóteses, as

quais propunham-se responder, tais como: numa escola onde não há reprovação, o

papel do pedagogo se resume a mediar situações de indisciplina e conflito na

relação professor-aluno; como intervir no processo de avaliação visto que os alunos

sabem que não irão reprovar no final do ano letivo; como fazer da família co-

participante no processo de ensino em uma escola onde a progressão é automática;

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o fato de negar a reprovação pode efetivamente configurar-se na garantia da

qualidade de ensino, entre outras.

Para início dos trabalhos na escola, o primeiro passo foi ir in loco

acompanhar a rotina de trabalho da equipe pedagógica. Foram feitas observações

no trabalho do pedagogo, como se dá a relação que este estabelece com o corpo

docente e diretivo da escola, como ele media o diálogo entre a família, os

educadores e o aluno. Foram realizadas entrevistas com pedagogos da escola, com

alunos e também com pais, de modo que estes apontassem a relevância (ou não)

do trabalho do pedagogo para a organização do trabalho pedagógico da escola e a

melhoria do processo ensino-aprendizagem. As entrevistas foram realizadas com 10

pedagogos, 10 pais e 40 alunos das mais diversas turmas e anos.

As entrevistas buscaram responder as hipóteses levantadas, mas também

que a comunidade escolar avaliasse a implantação do programa de progressão

automática da escola, seus avanços e seus limites.

Neste sentido, 90% do total dos entrevistados, avaliam como ótimo devido

aos resultados obtidos pela escola e 10% não souberam responder, visto que estão

a pouco na escola e não a conheciam antes do processo de progressão automática.

Questionou-se quais os maiores entraves para que o programa de

progressão automática tenha sucesso na escola. Os mesmos responderam que a

participação da família ainda é pouca (47%), a rotatividade de professores (24%), o

excesso de alunos oriundos de muitas instituições (19%), o excesso de alunos

faltosos (10%).

As pedagogas foram questionadas sobre como se dá a participação dos pais

neste processo. As mesmas responderam que muitos pais só comparecem em

momentos de reuniões (67%) ou quando são convocados por questões de

indisciplina, excesso de faltas ou não realização de atividades pelos alunos (33%).

Neste sentido, as mesmas apontam que o ideal seria se a família pudesse estar

mais presente no cotidiano escolar, acompanhando efetivamente a escolarização

dos filhos. Se isso se realizasse, muitos problemas seriam amenizados ou até

evitados.

Perguntou-se as pedagogas como os alunos se comportam com relação aos

estudos no cotidiano sabendo que ao final do ano letivo serão aprovados. De acordo

com as mesmas, esta sempre foi uma preocupação antes da implantação do projeto

de progressão automática. Imaginou-se que eles não teriam maturidade para

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absorver esta mudança. Contudo, acreditam que a maturidade, não somente dos

alunos mais da comunidade escolar, foi crescendo aos poucos.

A mesma pergunta foi realizada com pais e alunos, ou seja, como o aluno se

comporta durante o ano sabendo que não irá reprovar? Dos entrevistados 37%

respondeu que tem a mesma responsabilidade pois se preocupam com a

aprendizagem; 29% tranquilos pois podem estudar sem nenhuma pressão de

reprovar; 18% pressionados pois a escola cobra bastante para a garantia da

qualidade do processo de ensino-aprendizagem; 10% realizados pois confiam no

trabalho da escola; 6% não souberam responder.

Questionou-se qual o ponto de destaque no programa de progressão

automática. Aqui 57% a valorização do aluno e o reconhecimento de seus limites;

20% a continuidade do processo; 12% a baixa evasão escolar; 11% os avanços

obtidos pela escola em avaliações externas (Prova Brasil, Enem, Vestibulares, etc.).

Perguntou-se qual o maior entrave que ainda dificulta o sucesso total do

programa. Os mesmos responderam a rotatividade de profissionais da escola (37%);

o excesso de alunos (29%); a pouca participação da família (18%); alunos que

faltam demais (12%); 4% não souberam responder.

Os entrevistados foram perguntados se o pedagogo desenvolve um papel

importante para que o programa de progressão automática tenha sucesso. Neste

sentido, os mesmos responderam: 85% sim; 13% em parte, pois este trabalho

precisa do desempenho do aluno e do aluno, bem como do acompanhamento da

família; 2% não.

De posse destes dados, iniciaram-se as oficinas com os pedagogos da

instituição. Na primeira delas o tema foi Plano de Trabalho Docente (PTD). Buscou-

se investigar como as pedagogas acompanham o processo de produção e

efetivação do PTD dentro da instituição.

Percebeu-se que as mesmas dialogam sobre o assunto e que o PTD da

maioria dos professores da escola está em consonância com as Diretrizes

Curriculares da Educação do Paraná, bem como das legislações vigentes.

Na próxima oficina discutiu-se sobre critérios e instrumentos de avaliação no

sistema de progressão automática. Esta foi uma oficina bastante rica por promover a

análise do sistema de avaliação da escola. Percebeu-se que neste sentido, a escola

ainda tem limites principalmente no consenso de critérios estabelecidos pelos

educadores. Em outras palavras, percebeu-se que cada professor ainda estabelece

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critérios e seleciona instrumentos de forma individual, não há um consenso entre os

mesmos. Isso se torna um limite no processo de ensino-aprendizagem

principalmente quando o aluno troca de turma ou de turno.

A próxima oficina uniu dois temas bem próximos: Gestão Democrática e

Instâncias Colegiadas. Nesta oficina discutiu-se e avaliou-se como se dá o processo

de gestão democrática na escola e como está a participação das instâncias

colegiadas da escola. Neste encontro as pedagogas apontaram a importância do

pedagogo para a articulação das instâncias colegiadas da escola, bem como a

relevância da gestão democrática para o sucesso do programa de progressão

automática.

No sétimo encontro realizou-se uma oficina sobre indisciplina escolar. Foi

oportunizado assistir vídeos sobre o assunto e também a leitura e interpretação de

textos que discorrem sobre o assunto. As pedagogas apontaram que ainda existe

indisciplina na escola, porém o modo como cada educador lida com as situações

conflitantes em sala de aula, reforça ou elimina focos de indisciplina. As mesmas

apontaram a importância de um bom planejamento e do domínio do conteúdo por

parte do professor para que a indisciplina seja minimizada dentro da escola.

Na próxima oficina discutiu-se sobre a implementação, manutenção e

avaliação do Projeto Político Pedagógico (PPP). Nesta oficina, as pedagogas

disseram que ainda há limites no processo de manutenção e acompanhamento do

PPP. De acordo com elas, a escola realiza bimestralmente a autoavaliação do aluno,

o que contribui muito para o processo educativo. Contudo, ainda falta mais

participação de toda a comunidade escolar para a implementação de muitas ações

do PPP. Sobretudo, quando se trata de pais ou comunidade externa à escola, está

participação ainda é mínima.

A oficina de tecnologias aplicadas às práticas educativas (uso da TV

pendrive, portal dia-a-dia educação, etc.), foi importante para auxiliar as pedagogas

no uso destas tecnologias. Avaliou-se o uso destas tecnologias por parte de

educadores e de alunos na instituição. De acordo com as pedagogas,

gradativamente tem-se aumentado a utilização destas tecnologias dentro da escola.

As mesmas apontam que o aluno está cada vez mais utilizando estas tecnologias

em seus lares, em seus trabalhos e na sociedade em geral. Assim, a escola precisa

incentivar o uso, bem como utiliza-las como importantes recursos metodológicos no

processo ensino-aprendizagem.

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No último encontro, avaliou-se a relevância do projeto de intervenção dentro

da escola. De acordo com os participantes o projeto foi importante até para o

reconhecimento do importante papel desempenhado pelas pedagogas na

organização do trabalho pedagógico. Apontou-se que as pedagogas têm sobre sua

responsabilidade a articulação, mediação, organização e encaminhamentos de

importantes ações para o processo de ensino-aprendizagem. E que, portanto, a

escola necessita de mais pedagogos para que a demanda de trabalhos pertinentes a

eles, possam ser realizado com ainda mais sucesso na escola.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A organização do trabalho pedagógico dentro da escola passa, sem dúvida

nenhuma, pelo importante trabalho desenvolvido pelo pedagogo dentro da

instituição. Dada a organização da práxis pedagógica, o rigor teórico-prático, a

tomada de decisão, os encaminhamentos e demais funções inerentes ao seu papel

dentro da escola, o pedagogo contribui efetivamente com o processo de ensino-

aprendizagem.

Seja mediando conflitos, analisando dados, dialogando com a comunidade e

intervindo em situações que comprometem a qualidade de ensino, o pedagogo

estabelece uma relação muito estreita entre a prática e a teoria.

Cabe ao pedagogo dar o suporte necessário para que o educador possa

efetivar o Plano de Trabalho Docente e a Proposta Pedagógica Curricular da escola.

Para tanto, o pedagogo dialoga diretamente com a comunidade escolar, mediando

situações que possam se configurar em entraves ao processo de ensino, tais como

a indisciplina, as dificuldades de aprendizagem, o acompanhamento da família, os

métodos de ensino utilizados por docentes, os instrumentos e critérios de avaliação

estabelecidos, entre outros.

Na escola pesquisa, que aparentemente não tem problemas por não

reprovar alunos, analisou-se a relevância do papel do pedagogo para que esta

reprovação não se efetive.

Percebeu-se a constante necessidade de avaliar as estratégias de ensino

utilizadas pelos professores, do diálogo necessário com a família, da avaliação

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sistemática das ações da escola, mas principalmente, da necessária organização do

trabalho pedagógico e acompanhamento do educando.

O fato de não reprovar o aluno, relegando ao mesmo a culpa pelo seu

insucesso escolar, traz um comprometimento muito maior por parte dos educadores.

Isso porque todas as ações se voltam para que o aluno tenha qualidade no processo

de aprendizagem.

De acordo com a realidade observada e analisada neste estudo, o programa

de progressão automática não é algo fácil, expropriado de responsabilidade e

compromisso com a educação. O programa exige uma sintonia de ações e de

estratégias por parte de educadores, educandos e familiares.

Neste sentido, o pedagogo tem um papel de fundamental relevância. É

preciso considerar que a relação entre o projeto de sociedade e de educação,

estabelecida e evidenciada no Projeto Político Pedagógico da escola, e os projetos

individuais do aluno, do professor e dos pais, passam necessariamente pela

mediação do pedagogo. Portanto, cabe a ele articular as ações da escola para que

estas sejam democráticas e garantam a função social da escola na apropriação e

democratização dos conhecimentos por parte da comunidade escolar.

Por fim, é importante destacar que o pedagogo tem um papel muito

importante para a efetivação da gestão democrática da escola, o que vai além da

interlocução com o corpo docente para a efetivação do Plano de Trabalho Docente,

Proposta Pedagógica Curricular e/ou Projeto Político Pedagógico. A função da

Equipe Pedagógica encontra-se maximizada no processo educativo agindo em

todos os espaços para a garantia da efetivação de um projeto de escola que cumpra

com sua função política, pedagógica e social. Portanto, quando a escola propõe uma

prática de progressão automática, o pedagogo se destaca na articulação e na

mediação de ações que congreguem resultados positivos.

Page 16: A RELEVÂNCIA DO PAPEL DO PEDAGOGO NA … · trabalho pedagógico. Portanto, sugere a própria compreensão de que ser pedagogo significa ter o domínio sistemático e intencional

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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