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GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 21, pp. 103 - 118, 2007 A RELAÇÃO ENTRE ESPAÇO GEOGRÁFICO E O SURGIMENTO DE INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS : O CASO DAS EMPRESAS LATI- NO-AMERICANAS DE GRANDE PORTE. Paulo Roberto Feldmann* RESUMO: O texto mostra que o atraso tecnológico da América Latina ocorre devido às suas condições geográficas , que não contribuem para criar um contexto favorável ao surgimento de inovações, principalmente junto às grandes empresas da região. O artigo trata da relação entre as condições geográficas de uma determinada região e o surgimento de inovações, com o objetivo de analisar possíveis causas para o atraso da América Latina nas questões referentes ao desenvolvimento tecnológico. O texto aborda o problema tendo em vista as maiores empresas da região discutindo qual a explicação para o fato destas raramente estarem nos setores classificados como de alta tecnologia. Para buscar essa explicação, o artigo percorre vários autores que se debruçaram sobre o tema detendo-se, principalmente, naqueles que estabelecem comparações com outras regiões do globo, mormente os países asiáticos, tendo em vista caracterizar os aspectos geográficos decisivos para a ocorrência de inovações. O resultado é altamente preocupante, pois são raras as empresas da América Latina que conseguem projeção mundial, e as mesmas quase sempre fazem parte de setores da economia cujo o conteúdo tecnológico muito baixo. PALAVRAS-CHAVE: Inovação, América Latina, Ambiente Empresarial, Atraso Tecnológico ABSTRACT: The paper shows that the technology “gap” faced by Latin America is due to its geographical circumstances, which do not contribute to create a favorable environment in terms of innovation , mostly with respect to the large enterprises of the region.The paper deals with the relation between geographical conditions in a specific region and the occurrence of innovations . The objective is to analyze the reasons for the backwardness of Latin America in matters related to technology development. The article’ s approach is to observe the largest companies of the region, trying to understand why they almost never are part of the high technology industries. In order to get these explanations, the article mentions many authors that have dedicated themselves to this subject, paying more attention to those who had made comparisons with other regions in the world, specially Asia . The aim here was to characterize the geographic circumstances that were decisive to the ocurrence of innovations.The results are deeply alarming not only because of the low number of latin american companies that have reached worldwide recognition , but also because, almost always, these few companies came from where the technology content is very low . KEY-WORDS: Geography, Innovation, Latin America, Business Environment, Technological Delay *Professor da FEA - USP. E-mail: [email protected]

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GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 21, pp. 103 - 118, 2007

A RELAÇÃO ENTRE ESPAÇO GEOGRÁFICO E O SURGIMENTODE INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS : O CASO DAS EMPRESAS LATI-

NO-AMERICANAS DE GRANDE PORTE.

Paulo Roberto Feldmann*

RESUMO:O texto mostra que o atraso tecnológico da América Latina ocorre devido às suas condiçõesgeográficas , que não contribuem para criar um contexto favorável ao surgimento de inovações,principalmente junto às grandes empresas da região. O artigo trata da relação entre as condiçõesgeográficas de uma determinada região e o surgimento de inovações, com o objetivo de analisarpossíveis causas para o atraso da América Latina nas questões referentes ao desenvolvimentotecnológico. O texto aborda o problema tendo em vista as maiores empresas da região discutindoqual a explicação para o fato destas raramente estarem nos setores classificados como de altatecnologia. Para buscar essa explicação, o artigo percorre vários autores que se debruçaram sobreo tema detendo-se, principalmente, naqueles que estabelecem comparações com outras regiõesdo globo, mormente os países asiáticos, tendo em vista caracterizar os aspectos geográficosdecisivos para a ocorrência de inovações. O resultado é altamente preocupante, pois são raras asempresas da América Latina que conseguem projeção mundial, e as mesmas quase sempre fazemparte de setores da economia cujo o conteúdo tecnológico muito baixo.PALAVRAS-CHAVE:Inovação, América Latina, Ambiente Empresarial, Atraso TecnológicoABSTRACT:The paper shows that the technology “gap” faced by Latin America is due to its geographicalcircumstances, which do not contribute to create a favorable environment in terms of innovation ,mostly with respect to the large enterprises of the region.The paper deals with the relationbetween geographical conditions in a specific region and the occurrence of innovations . Theobjective is to analyze the reasons for the backwardness of Latin America in matters related totechnology development. The article’s approach is to observe the largest companies of the region,trying to understand why they almost never are part of the high technology industries. In order toget these explanations, the article mentions many authors that have dedicated themselves to thissubject, paying more attention to those who had made comparisons with other regions in theworld, specially Asia . The aim here was to characterize the geographic circumstances that weredecisive to the ocurrence of innovations.The results are deeply alarming not only because of thelow number of latin american companies that have reached worldwide recognition , but alsobecause, almost always, these few companies came from where the technology content is verylow .KEY-WORDS:Geography, Innovation, Latin America, Business Environment, Technological Delay

*Professor da FEA - USP. E-mail: [email protected]

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A importância do efeito da tecnologia nodesempenho e na competitividade dasempresas é indiscutível: atualmente novosprodutos e processos dão às empresas apossibilidade de compensar seus fatoresescassos ou fraquezas. E esses novos produtose processos são obtidos através da tecnologia.Se repararmos na competição existente namaioria dos setores da economia, notaremosque as empresas que são bem sucedidas sãoas que conseguem usar bem as novastecnologias, e, de preferência, antes que seusconcorrentes o façam.

A tecnologia diminuiu muito aimportância dos antigos fatores de produçãoconsiderados fundamentais. As vantagensclássicas, como salários baixos, matérias primasabundantes, capital barato ou os grandesmercados internos foram completamenteanulados pela competição global que hojeprevalece entre as nações. O novo paradigmada competição é baseado na capacidade dospaíses e de suas respectivas empresas deinovarem. No entanto, como pretendemosmostrar, as empresas latino-americanasinvestem muito pouco em pesquisa &desenvolvimento e raramente atuam nossetores denominados de alta tecnologia.Governos têm responsabilidade neste fato, pornão contribuírem para criar um ambienteempresarial apropriado para o surgimento deinovações. Mas talvez a principal causa para estainapetência tecnológica esteja na própriageografia da região. O presente artigo pretendeexaminar justamente esta relação entre oespaço latino americano e a ocorrência deinovações tecnológicas.

I- A importância das condições geográficas nosurgimento de inovações tecnológicas

O que torna alguns lugares do mundomais propensos à inovação do que outros?David Landes (1998) pergunta por que aRevolução Industrial aconteceu na Europa emais especificamente na Grã Bretanha, e não

em outros países. O próprio Landes respondecom razões de ordem cultural, histórica egeográfica, mas enfatiza que na Grã Bretanhade meados do século XIX havia uma crescenteautonomia da investigação intelectualcombinada com um enorme interesse acerca doque na época se chamava “a invenção dainvenção”, e que Landes denomina derotinização da invenção. Este aspecto acabousendo o motor que desencadeou o surgimentode inúmeras descobertas científicas e inovaçõestecnológicas por parte da Grã-Bretanha e queresultou no domínio britânico sobre a economiamundial no final do século XIX.

Ao longo do século XX, várioseconomistas tem se dedicado a explicar ocrescimento econômico como algo muito ligadoà localização das cidades e países, destacando-se Marshall (1920) como um dos pioneiros nestetema, foi somente nos últimos quinze anos quecresceu a consciência por parte de algunsautores eminentes como Paul Krugman (1995),Peter Dicken (1998) ou Michael Porter (1993) arespeito da importância das condiçõesgeográficas para o desenvolvimento econômico.A razão para esta conscientização tem váriasexplicações, mas uma delas refere-se ao fatode que o progresso e as melhorias das condiçõesde vida têm se concentrado de forma acentuadaem algumas regiões do globo, por sinal, agrande maioria situada no hemisfério norte.

A análise da relação entre a mudançatecnológica e o desenvolvimento econômicotambém não é um assunto novo, tendo sido umdos temas principais de J. Schumpeter, um dosmaiores economistas do início do século XX.Para Schumpeter (1943), a economia estánormalmente em estado de equilíbrio em seusfluxos de capital, mas a atividadeempreendedora e a inovação alteram estatendência criando monopólios temporários egerando riquezas. Após algum tempo, comodecorrência da inovação ter se tornado madurae de outros competidores adentrarem omercado, o equilíbrio torna a voltar, para, então,consequentemente, surgir outra inovaçãoacompanhada de um empreendedor, a qual

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causará uma destruição criativa, mudandonovamente a ordem econômica vigente. Ouseja, segundo Schumpeter, as inovações têm opoder de alterar equilíbrios existentes emsetores e até de destruí-los totalmente paracolocar algo novo em seu lugar. Não restadúvida que Schumpeter está bastante atual.

Também datam do início do século XX asanálises do economista russo Kondratiev. Deacordo com Kondratiev (1925), o crescimentoeconômico ocorre em ondas, onde cada umadelas tem uma duração aproximada entre 50e 60 anos. Cada uma destas ondas estáassociada a alguma importante mudançatecnológica. Já aconteceram quatro ondas eestamos agora na metade da quinta, conformemostrado no quadro 1. Kondratiev dizia que amudança tecnológica que caracteriza cada ondatem um impacto enorme sobre toda a economiae a sociedade no período da sua vigência. Cadaonda, segundo ele, teria 4 subfases: 1.prosperidade com crescimento; 2. recessão; 3.depressão e 4. decadência com substituição poruma nova onda. Assim sendo, inicialmente anova onda provoca um grande crescimentoeconômico e enormes mudanças na sociedade,incluindo quebra de paradigmas e mudançasculturais. No entanto, ao final do período ademanda começa cair, além de haver umasaturação devido ao grande número deempresas competindo entre si. Nesse momentoos investimentos também diminuem, asempresas se concentram em racionalização e odesemprego aumenta. É quando começa asurgir a próxima onda com base no aparecimentode alguma nova tecnologia revolucionária. OQuadro 1 – “As 5 ondas de Kondratiev” mostraas características principais das 4 ondasanteriores e a que estamos vivenciando agora,a quinta, que é a onda da Tecnologia daInformação.

A última linha do Quadro 1, mostrajustamente quais os países que se saírammelhor em cada uma das 5 ondas. Dicken (1998),ao analisar os ciclos de Kondratiev, ressalta queem cada uma das fases, uma dada mudançatecnológica predominou e permitiu que algumas

nações crescessem bem mais que outras,concluindo assim que só este fator já seriasuficiente para que a questão geográfica fossemelhor compreendida no sentido de se tentarentender como surgem as inovaçõestecnológicas. Ou seja, a questão crucial é porque as inovações tecnológicas são muitofreqüentes em algumas regiões e escasseiamou não existem em outros espaços geográficos.

Michael Porter (1993), no final dos anos80, passou a pesquisar o que havia de especialno ambiente de negócios de algumas naçõesque as tornava mais desenvolvidas e avançadasdo que outras; assim como, por que em outroscasos, nações não conseguiam avançar oumelhorar as condições de vida de suaspopulações. Desta forma no início dos anos 90,divulgou o resultado de uma pesquisa queabrangeu 10 países, infelizmente nenhum delesna América Latina, e a partir da mesma criouum modelo para análise de situações que elemesmo denominou de “modelo do diamante”.Uma das constatações iniciais de sua pesquisaé a de que não são as nações que sãodesenvolvidas ou poderosas economicamente,mas sim as empresas que têm sede nessespaíses. Ou seja, os Estados Unidos, porexemplo, têm uma importância enorme naeconomia mundial, mas esse mérito se deve aogrande numero de empresas com sede nestepaís que ocupam posições de destaque nocenário global.

Porter (1993) enfatiza que aprosperidade das Nações depende da melhoriados fundamentos microeconômicos dacompetição. Isso está intimamente relacionadocom fatores estritamente locais tais como aexistência de clusters , o tipo de demanda criadapor parte dos consumidores , o grau da rivalidadeentre as empresas, as estratégias adotadaspelas mesmas, além de aspectos bem regionais,como recursos naturais, competênciasespecificas e qualificações em recursoshumanos.

Michael Porter possui um artigo clássicopor ele juntamente com Scott Stern em 2002

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publicado na Sloan Management Review,denominado “Innovation: location matters”.Neste artigo, Porter e Stern criticam a ênfaseque normalmente tem sido dada à discussão arespeito do ambiente interno das empresascomo um fator preponderante para osurgimento de inovações tecnológicas. Segundoos autores “... o ambiente externo é, no mínimo,tão importante quanto o interno para a inovação...”e prosseguem dizendo que a localizaçãogeográfica é crucial para a inovação e que agestão das inovações pelas empresas, deve serfeita de acordo com a região onde a empresaestá instalada. Segundo Stern e Porter, afertilidade da localização geográfica no tocanteà inovação também varia significativamenteconforme o setor de atividade, e exemplificam:Os Estados Unidos ofereceram um ambienteparticularmente atraente para inovação emprodutos farmacêuticos nos anos 90, ao mesmotempo em que a Suécia e a Finlândia atingiramextraordinários índices de inovação na área de

comunicação sem fio.

Ao chamar a atenção para a importânciada geografia e do espaço no surgimento deinovações tecnológicas, Peter Dicken (1998)destaca quais são estes aspectos locais quedevem ser levados em consideração: “....... ageografia desempenha um papel fundamental noprocesso de inovação e aprendizagem, na medidaem que as inovações na maioria das vezes sãomenos o resultado de empresas individuais esim as de um conjunto de recursos,conhecimentos e outros inputs e capacidades queestão localizados em lugares específicos. A reuniãodestes inputs como pesquisa & desenvolvimentodas universidades e das empresas, aglomeraçãode empresas manufatureiras em setores afins, enetwork de provedores de serviços acaba por criareconomias de escala, facil idades nocompartilhamento de conhecimento, e fertilizaçãocruzada de idéias promovendo interações cara acara que acabam por permitir a verdadeira

ONDA: Primeira Segunda Terça Quarta Quinta

Início eTérmino

1770/80 a1830/40

1830/40 a1880/90

1880/90 a1920/30

1920/30 a1970/80

1970/80a?

Descrição mecanização força a vapor eferrovia

energia elétrica,engenharia pesada

produção em massa,“fordismo”

Tecnologias dainformação

Fator-chave algodão eferro fundido

carvão etransporte

aço petróleo e derivados microeletrônica,tecnologia digital

Setoresalavancadoresde crescimento

têxteis e seusequipamentos,fundição emoldagem de ferro,energia hidráulica

máquinas enavios a vapor,máquinas ferramentas,equipamentosferroviários

engenharia eequipamentoselétricos,engenharia eequipamentospesados

automóveis ecaminhões,tratores e tanques,indústria aeroespacial,bens duráveis,petroquímicos

equipamentos deinformática etelecomunicações,robótica,serviços info intensivos,softwares

Infra-estrutura canais,estradas

ferrovias,navegação mundial

energia elétrica auto-estradas,aeroportos,caminhos aéreos

redes e sistemas“information highways”

Outros serviçoscrescendorapidamente

máquinas a vapor,maquinaria

aço,eletricidade,gás,corantes sintéticos,engenharia pesada

indústria automobilística eaeroespacial,rádio e telecomunicações,metais e ligas leves,bens duráveis,petróleo e plásticos

fármacos,energia nuclear,microeletrônica,telecomunicações

biotecnologia,nanotecnologia,atividades espaciais

Paíseslíderes

Grã-Bretanha,França e Bélgica

Grã-Bretanha,França, Bélgica,Alemanha e EUA

Alemanha, EUA,Grã-Bretanha,França, Bélgica,Suíça e Holanda

EUA, Alemanha,outros países da CEE, JapãoRússia, Suécia, Suíça

Japão, EUA, Alemanha,Suécia, outros países daCEE, Taiwan e Coréia

Quadro 1: “As 5 ondas de Kondratiev”, extraído de Dicken, P.( 1998)

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transferência de tecnologia......”.

Mas e a América Latina? Um dosobjetivos do presente artigo é justamentetentar estabelecer as relações entre ascondições geográficas da América Latina e osurgimento de inovações tecnológicas no interiordas grandes empresas locais. Além de procurarmostrar em quais setores da economia localestariam as melhores condições para taldesenvolvimento.

II- O panorama tecnológico daAmérica Latina

Até o início do século XVI alguns dospovos que habitavam a América Latina,principalmente astecas, maias e incas, detinhamconhecimentos científicos e tecnológicos muitasvezes superiores aos que, à mesma época,existiam na Europa ou na China. Em algumasáreas como astronomia, botânica, farmacologia

e metalurgia, os espanhóis assimilaram osconhecimentos adquiridos na região e osdisseminaram pela Europa.

Hoje, no entanto, a América Latinadeixou de ser um importante provedor deconhecimentos científicos e tecnológicos, poisapesar de representar cerca de 9% dapopulação mundial, a região como um todo,corresponde a apenas 1,6 % do total investidoglobalmente em Ciência & Tecnologia. Segundoa OCDE - Organização para a CooperaçãoEconômica e o Desenvolvimento , no ano 2001,o mundo investiu cerca de 587 bilhões dedólares nesta área. Do total deste investimentoapenas 9,4 bilhões foram gastos pelos paíseslatino americanos. Isto representou cerca de 0,7% do PIB somado dos países da região, o quenão deixa de representar um avanço em relaçãoaos anos 80. Naquele período, a média degastos dos países da região com pesquisa edesenvolvimento em relação ao PIB foi de

Quadro 2- Gastos de alguns países em Ciencia &Tecnologia em relação aos PIBs em 2003.Conforme site da OCDE – www.oecd.org

3,9 Suécia

2,9 Japão

2,9 Coréia do Sul

2,7 Estados Unidos

2,3 Alemanha

2,2 França

2,2 Média para os países OCDE

1,9 Reino Unido

1,0 BRASIL

0,4 Argentina México 0,3

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apenas 0.45 % (Malecki 1997), contra 2,0 % namédia européia e 2,9 % nos Estados Unidos.

O quadro 2 - Investimentos de algunspaíses em Ciencia&Tecnologia em relação aos PIBsnaquele ano, mostra quanto alguns paísesinvestiram em P&D em 2003 segundo a OCDE.Por ele se percebe que mesmo o país latinoamericano que mais gasta com P&D, que é oBrasil, está muito abaixo do que gastam ospaíses desenvolvidos. Este é um problemacrônico da região que só tem se acentuado como tempo. O papel da América Latina na área deCiência & Tecnologia mundial é cada vez menor.Este fato é confirmado sempre que algumaanálise global acerca dos paises mais fortes éfeita nessa área.

Erber (2000) aponta três razõesestruturais para comprovar a dificuldade e apouca atenção com a questão tecnológica nocontinente latino-americano:

1. A desproporção entre o peso econômicoda região e os esforços feitos em C&T, sejameles expressos pelos gastos com pesquisa edesenvolvimento ou pelo número depublicações cientificas e patentes depositadasnos EUA.

2. O claro desempenho melhor em atividadescientíficas do que em atividades tecnológicas

3. O predomínio de tecnologias importadas,provocando uma limitada articulação entreatividades científicas e tecnológicas naregião.

Freeman & Soete (1997) fazem umaretrospectiva histórica do que aconteceu naregião, destacando que até o início dos anos50, o desenvolvimento industrial em todaAmérica Latina caracterizou-se pelo reduzidograu de sofisticação tecnológica e pela simplesimportação de tecnologia, principalmente dosEstados Unidos e Alemanha, que vinhaincorporada aos bens de capital. A partir dasegunda metade dos anos 50, vários paísesintroduziram medidas de proteção aos seusrespectivos mercados nacionais tentandoeliminar ou substituir as importações.

Foi nesta época que países da regiãocomeçaram a produzir bens de consumo durávele bens intermediários com maior complexidadetecnológica. A estratégia seguida basicamentepor Brasil, Argentina e México foi a de buscarinvestimento por parte de empresasestrangeiras, principalmente no segmento dasmontadoras de automóveis. Os respectivosgovernos também investiram, mas nossegmentos de maior prazo de maturação, comoos de matérias primas e de infra-estrutura, masnão em setores de média ou alta densidadetecnológica. O que ocorreu é que se avolumoumuito a importação explicita de tecnologia e deserviços tecnológicos sem que houvessemesforços internos aos países para absorveressas tecnologias.

Desde meados dos anos 60, em todosestes países, assiste-se à criação de váriosinstitutos e centros de Pesquisa &Desenvolvimento de caráter público. No entanto,poucos foram aqueles que mereceram verbas eatenções especiais dos respectivos governos.Apesar disso, alguns deles foram decisivos paraa criação de pesquisa de qualidade nos setoreseconômicos em que atuam ou atuaram e hojedesempenham um papel fundamental. Apenaspara ficar em dois exemplos brasileiros, destaca-se o CTA – Centro Tecnológico da Aeronáuticaque é considerado o principal responsável pelosucesso da Embraer e a EMBRAPA – EmpresaBrasileira de Agropecuária consideradaresponsável pela maior parte das pesquisasque resultaram no enorme aumento daprodutividade da agricultura brasileira nosúltimos anos. Malecki (1997) considera que oque aconteceu no Brasil nestas duas áreasdeveria ser um modelo do que deve ser seguidopor outros países latino americanos.

Ainda segundo Malecki, o panoramageral da tecnologia na América Latina mostraque as instituições são fracas e as interferênciasou atuações políticas predominam, o que acabaacarretando na falta de estratégias de longo prazopara ciência & tecnologia e no pouco envolvimentodo setor privado, como iremos discutirposteriormente na seção 4 do presente artigo.

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III- Enquadramento das grandes empresaslatino americanas de acordo com a densidadetecnológica dos setores em que atuam.

O objetivo desta seção é demonstrarque nem mesmo as maiores empresas latinoamericanas podem ser consideradas comoexpressivas e atuantes nas áreas em queocorrem os mais importantes desenvolvimentostecnológicos. Malecki (1997) menciona que osdois indicadores mais utilizados para definir oque são setores de alta tecnologia são: 1.intensidade dos esforços em pesquisa edesenvolvimento em cada setor, medida pelapercentagem das vendas que é gasta com P&D

e 2. pela percentagem de trabalhadores deformação técnica, como engenheiros, cientistase tecnólogos em relação ao total detrabalhadores do setor. Com base nestescritérios, Malecki apresenta uma tabelaelaborada pela OECD em 1995 classificando 23setores econômicos industriais em 3 categorias– Alta, Média e Baixa Densidade Tecnológica,sendo que as proporções dos gastos em P&Dsobre o total das vendas eram, em média, emcada categoria de 8,1, 2,5 e 0,5,respectivamente. O quadro 3 lista estes setores,conforme classificados pela OECD, em cada umadas 3 categorias acima citadas. Conhecendo

Fonte : OCDE in Malecki (1997)

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quais são os setores industriais de alta, médiae baixa intensidade tecnológica vamos agorapesquisar em quais deles podemos aglutinar asgrandes empresas da América Latina. Para issoprecisamos, antes de mais nada, obter a relaçãodas mesmas, o que poderia ser feito de diversasformas, no entanto optamos por recorrer àsrevistas especializadas na elaboração derankings de maiores empresas. Julgamos válidoconsultar 4 publicações: AmericaEconomia,

Business Week, Forbes e Latin Trade.

A revista Business Week publicaanualmente a relação das 1200 maioresempresas por valor de mercado. Em sua últimaedição constavam 35 empresas latino-americanas das quais 20 fazem parte de setoresligados a serviços como bancos e varejo,restando, portanto, apenas 15 empresasligadas às atividades industriais. Estas 15

Quadro 4- As maiores empresas industriais da América Latina por país e por setor da economia

Obs; Este quadro foi elaborado pelo autor pesquisando as revistas AmericaEconomia, LatinTrade,Forbes e Business Week.

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empresas estão incluídas juntamente com asdemais empresas que compõe o Quadro 4mostrado na página 33. Já a revista Forbes,apresenta anualmente a relação das 2000maiores empresas do mundo, por meio de umcritério misto que considera para cada empresa,o seu valor de mercado, ativos, faturamento elucros. Dessas organizações listadas, apenas46 são latino-americanas das quais 21 atuamem setores industriais: todas também seencontram na lista mostrada no Quadro 4 - Asmaiores empresas industriais da América Latinapor país e por setor da economia. (V.pagina 16).O quadro 4 lista as principais empresasindustriais da América Latina por país de origeme por setor industrial, e foi elaborado com basenas listas das duas revistas acima mencionadase mais as listas das revistas AmericaEconomiae LatinTrade. Usamos um critério misto queponderou igualmente faturamento e valor demercado das empresas para escolher as 63maiores.

O que se vê, pelo quadro 4, é que das63 maiores empresas latino-americanas, 46empresas tem sua sede ou no México ou noBrasil. Interessante agora, enquadrarmos estasorganizações nos setores mencionados das 3categorias de Malecki: Alta, Média e Baixadensidade tecnológica. Assim percebemos queaparecem apenas dois setores de altatecnologia, que são o setor aeroespacial e oeletroeletrônico. Há três setores consideradosde media densidade tecnológica, que são oquímico, o de manufaturas e o de não ferrosos.E finalmente há cinco setores de baixadensidade tecnológica que são os restantes:Alimentos e Bebidas, Extração, Aço, Papel eCelulose e Petróleo. Dessa forma verificamos quedas 63 maiores empresas latino americanasapenas duas, Embraer e Mabe, podem serconsideradas como de alta tecnologia. Há 17empresas que se enquadram entre os setoresde média intensidade tecnológica e a grandemaioria das 63 empresas, ou seja, 44 (70 %)organizações referem-se a setores de baixaintensidade tecnológica.

Esses dados e um outro importanteestudo recente, feito pela Booz Allen acerca das1000 maiores empresas do mundo por gastosna busca de inovações tecnológicas, indicam quea situação das empresas latino-americanas érealmente ruim. Nesta pesquisa, denominada“Money isn’t everything - Booz Allen HamiltonGlobal Innovation 1000” , realizada e divulgadaem 2005, a Booz Allen fez um extensivolevantamento junto às maiores empresas domundo para verificar quanto cada uma investiacom pesquisa & desenvolvimento e desta formaestabeleceu um ranking dos gastos porempresas . As vinte primeiras com os respectivosgastos em P&D em bilhões de dólares no ano2004 estão mostradas no quadro 5.Nesta relação das 1000 empresas aparece umaúnica da América Latina que é a brasileiraPetrobras, que está na posição 277, com umgasto em P&D de 238 milhões de dólares em2004, o qual representou apenas 0,6 % do seufaturamento de 37 bilhões de dólares. Semdúvida este é um dos dados mais preocupantesdo estudo da Booz Allen, ou seja, a quase total

1. Microsoft 7,78 2. Pfizer 7,683. Ford 7,404. Daimler- Chrysler 7,035. Toyota 7,026. General Motors 6,507. Siemens 6,168. Matsushita Electric 5,739. IBM 5,6710. Johnson & Johnson 5,2011. GlaxoSmithKline 5,2012. Intel 4,7813. Volkswagen 4,7214. Sony 4,6715. Nokia 4,6416. Honda 4,3517. Samsung Electronics 4,3218. Novartis 4,2019. Roche 4,0720. Merck 4,01

Quadro 5 - As maiores empresas do mundoem investimento de P&D em bilhões dedolares no ano 2004

Fonte : Booz Allen – www.bah.com

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ausência de empresas latino americanas nestarelação. Mas há outras importantesinformações neste estudo que também nãosão animadoras, como por exemplo, o fato deque em 2004 estas 1000 empresas investiram384 bilhões de dólares em P&D dos quais 96,8% foi investido por empresas com sede noprimeiro mundo. Ou seja, apenas 3,3 % dototal foi gasto por empresas com sede naChina, Índia, América Latina e outras regiõesde pa íses emergentes. Outro dadointeressante é a or igem por setores daeconomia das 1000 empresas e ,consequentemente, em qua is setores ogasto com P&D é maior. Para essa análise oestudo classificou as 1000 empresas em 11categorias de setores, mostrados no quadro6, acompanhados da informação de quantodo total de 384 bilhões de dólares foi gastoem cada setor em P&D em 2004. Sevoltarmos para o quadro 4, onde estãoapontadas as 63 maiores empresas latinoamericanas, veremos que nenhuma delas fazparte dos dois setores mais importantes doponto de vista de gastos em tecnologia,segundo este estudo da BozzAllen e quesão os setores de Saúde (a í inc lu ída aindústria farmacêutica) ou o de Software. Napróxima seção analisamos este aspecto.

IV- O porquê do pequeno envolvimento dasempresas e das nações latino-americanas comas tecnologias.

A abundância de recursos naturais naAmérica Latina, tem sido apontada como umaexplicação importante para a baixa preocupaçãocom a inovação que predomina na região.Lindsay & Fairbanks (2000) afirmam que osempresários locais tendem a pressupor que asvantagens em recursos naturais, matériasprimas abundantes e mão de obra barata, vãolhes proporcionar posições de liderança nosmercados exportadores e, assim, deixam de criarcondições para a inovação. Adotando essafilosofia, são constantemente ultrapassados porpaíses da Ásia ou da África, que conseguem oubaratear ainda mais o custo de sua mão de obra,ou entram no mercado internacional vendendoum recurso natural a um preço ainda mais baixodo que vinha sendo praticado por eles. Alémdisso, Lindsay & Fairbanks (2000) apontam outrarazão importante para a inexistência deinovações: trata-se da cooperação deficienteentre as empresas. Segundo eles não existe acultura da cooperação entre as empresas daregião, ao contrario de países como a Itália,onde a existência dos “clusters”, tambémchamados de agrupamentos industriais,promovem a cooperação e incentivam com queas empresas se unam para, por exemplo, buscar

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conjuntamente mercados externos, lançar umanova marca, ou então investir conjuntamenteem P&D- Pesquisa & Desenvolvimento, naAmérica Latina quase que invariavelmente osempresários só enxergam nos concorrentes uminimigo que deve ser abatido.

Isso contribui para criar um clima dedesconfiança dentro de cada setor que sempreaniquilou qualquer possibilidade de cooperação.Honrosas exceções constituem-se asmontadoras automobilísticas e suas relaçõescom as fornecedoras de autopeças tanto naArgentina, como no Brasil ou no México. Maseste desvio da regra, provavelmente, deva-seao fato destes serem setores onde ocorre apredominância do capital estrangeiro.

Essa ausência de cooperaçãoempresarial também explica o pequeno numerode clusters na região e como reafirmam Lindsaye Fairbanks (2000) : “ ...notamos uma profundaausência de clusters de setores correlatos ou deapoio , e uma correspondente falta de inovação :empresas que não cooperam entre si não sãocapazes de aprender umas com as outras. “

Peter Dicken (1998) enfatiza que umacaracterística importante no desenvolvimento depaíses do terceiro mundo sejam eles asiáticoou latino americanos é a forte presença doEstado. No entanto, este autor assinala o fatode que na América Latina os governos nãoforam tão bem sucedidos como na Ásia. Segundoele, a razão principal para este insucesso dosvários governos desses países, foi a falta depreocupação com o aumento da capacitaçãointerna com vistas à aumentos de exportações.Enquanto na Ásia, a preocupação maior era ocrescimento das exportações de produtosindustrializados, na América Latina a ênfase erana substituição de importações.

Dicken chama a atenção para o fato deque a antiga divisão de trabalho , quando asnações desenvolvidas produziam bensmanufaturados e as nações em desenvolvimentovendiam suas commodities ,sejam estasminerais ou produtos agrícolas, não é maisválida. Hoje o fluxo de mercadorias pelo mundo

é extremamente complexo e se tornou possívelgraças à fragmentação das cadeias produtivas.No entanto, o que vemos na prática é aexistência de algumas cadeias produtivas quese estendem por vários países da AméricaLatina, mas que são quase que totalmentecomandadas por empresas com sede em paísesdo primeiro mundo. Como exemplos dessascadeias podemos citar os setoresautomobilísticos, farmacêutico, equipamentosde informática e de telecomunicações, o setorde bens eletrônicos de consumo, e o setorquímico.

De uma forma geral, as empresas destessetores estão na América Latina em busca dorentável mercado, cujo tamanho não é pequeno,e também na intenção de obter mão de obrabarata, para empregar em suas linhas deprodução, o que na grande maioria dos casosse limita à montagem final de bens. Qualqueretapa do vasto processo das cadeias de valordas empresas globais deixará de ser realizadonas respectivas subsidiarias da América Latina,se nesta etapa houver necessidade de algumdesenvolvimento tecnológico. Nesta hipótese,será realizada certamente na sede principaldestas empresas que em geral está ou naAmérica do Norte, ou na Europa ou no Japão.

Larrain (in Gwynne, 1999) ao explicarpor que a América Latina não avançou tantocomo a Ásia nos últimos 20 anos, atribui boaparte deste atraso ao fechamento de mercadoe ao protecionismo que predominou em nossaregião nos anos 70 e 80; isto por que estasuspensão não expôs as empresas da região àcompetição internacional, e também acabouadiando a construção da infra-estrutura paraque os pesquisadores locais adquiríssem osmeios necessários para desenvolver seustrabalhos.

Nessa mesma linha de pensamento,Chris Freeman e Luc Soete (1997) aocompararem o desenvolvimento econômico dealgumas nações da Ásia, especialmente Coréiado Sul e Taiwan, com o progresso da AméricaLatina na década nos 80, chamam a atenção

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para a importância das diferenças que existemem alguns poucos aspectos abaixoenumerados. Estes aspectos, segundo osautores, que foram decisivos para explicar oenorme crescimento dos tigres asiáticos e aestagnação das nações latino americanasnaquele período. Para eles, as cincodeficiências abaixo citadas estão entre osprincipais problemas do continente quandocomparado com os tigres asiáticos.

1. Sistema Educacional deteriorado combaixa formação de engenheiros.

2. Muita transferência de tecnologia,especialmente dos Estados Unidos, mas baixacapacidade de absorção devido ao pequenoinvestimento das empresas locais em Pesquisa& Desenvolvimento.

3. Fraca infra-estrutura de Ciência &Tecnologia.

4. Atraso no desenvolvimento dastelecomunicações

5. Nenhuma ênfase ao setor deprodutos eletrônicos

Porém, existe algo que os governospossam fazer para tornar seus países maisférteis em inovações? Segundo Porter e Stern(2001), conforme mencionado no relatório járeferido anteriormente a resposta é sim. Mascom ressalvas, pois os governos são apenasum dos componentes de um grande conjuntode fatores presentes no ambiente empresarialdos países que afeta a capacidade de inovação.E, seguramente, segundo eles, não é o fatormais importante.

Para que um dado setor econômico deum determinado país tenha propensão a inovarexistem dez fatores cruciais. Estes pontos jáhaviam sido identificados por Porter em seu livro“A Vantagem Competitiva das Nações”. Noentanto, nesta ocasião sua preocupação eramostrar o que faz com que um setor econômicoem um determinado país consiga ter projeção esucesso mundial. Agora, com Stern, Porter arrolapraticamente o mesmo conjunto de fatores, masenfatizando que são eles que garantem o

surgimento de inovações. Não se pode discordarde Porter de que se um dado setor econômicoem um país é palco de inovações tecnológicasbem sucedidas, então há grandes chances deque este mesmo setor venha a ser consideradode excelência mundial. Os fatores consideradosimportantes por Porter e Stern são osseguintes:

1. Recursos Humanos de alta qualidade

2. Sólida Infra-estrutura de pesquisa emUniversidades

3. Infra-estrutura de informação de altaqualidade

4. Ampla oferta de capital de risco

5. Presença de clusters em vez de empresasisoladas

6. Rede de fornecedores de alta competência/excelência

7. Consumidores exigentes e demandantesde qualidade e sofisticação

8. Consumidores que criam a demanda deforma pioneira e inédita antes que outrosconsumidores em outros países o façam

9. Intensa rivalidade entre as empresaslocais do setor em questão

10. Contexto local que encoraje oinvestimento em pesquisa

Ao percorrer este conjunto de 10fatores, é fácil perceber que alguns delesrealmente inexistem ou são muito fracos emtoda a América Latina. Isso ocorreprincipalmente nosseguintes casos

2. Sólida infra-estrutura de pesquisa emUniversidades

4. Ampla oferta de capital de risco

8. Consumidores que criam a demanda deforma pioneira e inédita antes que outrosconsumidores em outros países o façam

10.Contexto local que encoraje oinvestimento em pesquisa

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Um dos economistas contemporâneosmais respeitados e que mais tem estudado arelação entre desenvolvimento econômico etecnologia é o premio Nobel de 2000, JosephStiglitz que escreveu juntamente com Carl Walshum livro sobre Microeconomia em que destacao papel da Tecnologia. Stiglitz & Walsh (2003)mostram que as duas formas mais importantese consensuais de que governos se devemutilizar para encorajar as atividades inovadorassão a proteção ao sistema de patentes e o apoioà pesquisa básica. Além disso, Stiglitz & Walshdefendem que governos concedam subsídiospara empresas desenvolverem novastecnologias. Ao contrário de Porter e Stern(2001), eles são favoráveis a uma forte atuaçãogovernamental para favorecer o surgimento deinovações por parte das empresas. No entantoreconhecem que a atividade de pesquisa estácada vez menos ao alcance da pequenaempresa por varias razões, mas principalmentepelo fato de bancos não concederemempréstimos para este tipo de atividade, fatoque aumenta a importância dos subsídios,segundo Stiglitz & Walsh.

No entanto, concessão de incentivosfiscais para projetos de pesquisa &desenvolvimento é assunto pouco prioritáriona agenda da grande maioria dos governosdos países latino-americanos. O país maisadiantado neste tema é o Brasil que apenasrecentemente aprovou uma legislação de apoioà inovação, mas que apenas timidamente tateiaa questão dos incentivos.

Cumpre destacar que Porter e Sternmencionam a América Latina e destacam comograndes vulnerabilidades da região no que dizrespeito ao surgimento de inovações a poucaligação entre as empresas e as universidades.Segundo eles “O sistema de ensino superior naAmérica Latina tem pouca ligação com asempresas e muito pouco envolvimento com aspolíticas nacionais voltadas para ciência etecnologia.” Isto é confirmado por outrosautores que se dedicaram a analisar a questãocientifica e tecnológica do continente. Sagasti(1981) aponta como um dos problemas crônicos

da América Latina o enorme distanciamentoentre a produção de ciência e a geração detecnologia o que segundo ele é umaconseqüência da inexistência de relação entrea Universidade e a Empresa.

Esse mesmo aspecto é colocado porMillan B. & Concheiro (2000) quando analisamas razões do atraso do México nas questõesde Ciência & Tecnologia. Estes vão além,mencionando que uma razão adicional para oatraso do país nesta questão, é a falta de umapolítica industrial que definisse as áreasprioritárias para investimentos, e deixam bemcaracterizados que ao contrário dos países maisdesenvolvidos onde quem mais investe empesquisa & desenvolvimento são as empresas,no caso do México esse gasto é em sua maiorparte feito pelo governo. Assim enquanto noJapão, na Alemanha e Estados Unidos asempresas privadas são responsáveisrespectivamente por 67,1 %, 61,1% e 58,4%do total dos gastos com P&D, no México essevalor é de apenas 17,6%.

O mesmo ocorre com o Brasil, conformemostrado no texto produzido pelo prof. CarlosHenrique Brito Cruz em 2002,” A Universidade,a Empresa e a Pesquisa”. Neste trabalho oProfessor Cruz compara Brasil e Coréia emfunção do numero de engenheiros, cientistas epesquisadores que trabalham ligados àpesquisa & desenvolvimento. Apesar de o nossopaís ter uma população quatro vezes superiora da Coréia, a quantidade de trabalhadoresnessas funções é maior na Coréia chegando a159 773 pessoas, enquanto no Brasil totaliza125 645 pessoas, lembrando que, ambos osdados se referem a 2001. Mas no Brasil somente23 % destas pessoas estão em empresasprivadas enquanto na Coréia esta porcentagemé de 59 %. Assim, a grande maioria dosbrasileiros que trabalham em pesquisa, cercade 77 % do total dos pesquisadores , está ouna Universidade ou nos institutos mantidos pelogoverno, enquanto na Coréia trabalham nestasinstituições apenas 41 % do total depesquisadores.

Em 1999 a revista britânica Nature

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produziu uma edição especial chamada “Ciênciana América Latina”. No artigo dedicado aoMéxico consta uma análise importante sobre umfato que ajuda a explicar os números acima eque se repete por todo o continente: - “Partedo problema é cultural. O México herdou a tradiçãoeuropéia do cientista como acadêmico e não omodelo norte-americano do cientista inventor eempresário. A ligação de um pesquisadoruniversitário com a Indústria é considerado peloscolegas como uma forma de prostituição. Do ladoda indústria, não há forte tradição de investimentoem P&D. Até o início dos anos 80, o México tinhauma política industrial de propriedade estatal eprotecionismo que resultava em pouco incentivoao investimento em inovação. Agora as empresasquerem modernizar sua tecnologia, mas voltam-se mais para as empresas estrangeiras atrás deajuda, e não se mostram dispostas a esperar otempo necessário para que a ciência e a tecnologianacionais encontrem respostas para suasnecessidades.”.

Em suma, há várias razões para que oenvolvimento das empresas e dos países daAmérica Latina com desenvolvimento tecnológicoseja pequeno. Mas para finalizar esta relaçãonão se pode deixar de mencionar os aspectosculturais e a análise amarga de Montaner: “Areal tragédia da América Latina é que o capital élimitado e boa parte dele está em mãos deempresários não comprometidos com o risco oucom a inovação mas sim com a especulação....Nãosão capitalistas modernos mas atuam comosenhores da terra de tradição feudal.”

V- Considerações Finais

A América Latina é muito rica em recursosnaturais e de uma forma geral sua mão de obraé barata. Estes são os aspectos principais doseu espaço geografico que deram origem àsgrandes empresas originarias da região, comraríssimas exceções. Dessa forma, nossocontinente ostenta algumas empresaspoderosas, mas quase sempre atuantes emsetores que foram importantes no século XIX,mas que deixaram de ser relevantes neste

século XXI. Ter destque em setores comobebidas, cimento, mineração, agricultura, pescaou aço não é de todo mau, mas não é suficiente.Como vimos, os países mais avançados contamcom empresas nos setores que hoje dominama economia mundial como telefonia, software,hardware, equipamentos médicos ou a indústriafarmacêutica. Verificamos que mesmo asgrandes empresas latino- americanas de umaforma geral estão fora dos setores de altatecnologia, com raríssimas exceções como abrasileira Embraer ou a mexicana Mabe.Empresas do nosso continente quandoconseguem porte e projeção para atuar nomercado mundial estão em setores de baixatecnologia na maioria dos casos produzindo“commodities”, Petrobras e Cemex são ótimosexemplos.

Nos países mais avançados quem maisgera inovações e tecnologia é a grandeempresa, cabendo aos governos, o papel decriar as condições para que estas empresaspossam florescer. Isto representa um problemapara a América Latina, pois o número degrandes empresas é limitado quandocomparado com o primeiro mundo. Entre as 2000maiores empresas listadas na Business Week,aparecem apenas 46 empresas latinoamericanas e na relação das 500 maiores daFortune apenas 7 são da nossa região.

Mesmo os grandes grupos empresariaislatino americanos são pequenos (em termos defaturamento e patrimônio liquido) quandocomparados aos grupos empresariais dos paísesdesenvolvidos ou, até mesmo, de países comoa Coréia e Taiwan. Como quase todos os setoresindustriais e de serviços estão se concentrando,tamanho passa a ser fundamental. A empresaque tem uma grande dimensão possui tambémcapacidade administrativa, mercadológica etecnológica por causa das economias de escala.Tanto a economia japonesa como a coreanacresceram baseadas num modelo deconglomerados composto por grandes empresasem torno dos quais giram outras empresas médiase pequenas. Estas grandes organizações forammuito competentes em difundir suas marcas pelo

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mundo o que foi feito com grande sucesso, bastandocitar Sony, LG, Toyota ou Hiunday.

Os governos dos países mais avançadosjá perceberam, há tempos, que acompetitividade das nações é resultado dacompetitividade de suas empresas e que,portanto, o que lhes compete é criar ascondições para que suas empresas locaispossam concorrer a nível internacional. Por isso,dão todo o suporte necessário aodesenvolvimento da ciência & tecnologia, poisquem cria as novas tecnologias são asempresas , que como mostrou o estudo da BoozAllen, investem somas enormes em P & D. Elessabem, também, que nenhuma nação pode serauto-suficiente em todas as tecnologias. Assim,por exemplo, os Estados Unidos seaperfeiçoaram e criam tecnologia em áreas comofarmacêutica, informática e telecomunicações, aAlemanha em mecânica, o Japão em robótica, ea Inglaterra em biotecnologia e genética.

Apesar da importância das empresas nageração de tecnologia, como o presente artigoprocurou deixar claro, é inegável que a solução dosproblemas não cabe somente a elas: algumasmedidas de apoio governamental se fazem

necessárias, e a principal delas é a de estimular aformação de grandes conglomerados e a de apoiara formação de clusters.

Mas é claro que o tratamento desta questãoé extremamente difícil para os vários governos daregião: sem grandes grupos, fortes e saudáveis, ecom administração profissional não teremos comocompetir no difícil cenário da globalização. Tambémsem agrupamentos horizontais e verticais deempresas afins, ou seja, os “clusters”, nãoalcançaremos nem economias de escala, nemdesenvolvimento tecnológico.

Basear seu desenvolvimento em recursosnaturais não é a única característica referente àgeografia da região que afeta a existência ou nãode inovações tecnológicas. O baixo investimento emeducação, a pequena infra-estrutura destinada àpesquisa e mesmo a cultura conservadora e poucoarrojada de empresários que viveram muito temposem a necessidade de competir com produtosestrangeiros acabam por explicar a pequenapresença da América Latina, no que há de relevanteem Ciência & Tecnologia no mundo de hoje.

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Artigo enviado em novembro de 2006

Artigo aceito em abril de 2007

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