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Aula 8: Segregação socioespacial as diferentes formas no tempo Sentido político (significado): afastar os pobres do centro e da cidade. Negação do convívio e do encontro de diferentes. Destruição da cidade como lugar de sociabilidade (crise da cidade). Pobres: perda do sentido da cidade e do urbano. Manutenção e reprodução de relações de dominação.

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Aula 8: Segregação socioespacial

as diferentes formas no tempo

Sentido político (significado): afastar os pobres do centro e da

cidade. Negação do convívio e do encontro de diferentes. Destruição

da cidade como lugar de sociabilidade (crise da cidade).

Pobres: perda do sentido da cidade e do urbano. Manutenção e reprodução de relações de dominação.

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Segundo Lefebvre (Direito à cidade – cap. Análise espectral): Segregação ocorre de 3 formas (SIMULTANEAS e SUCESSIVAS) 1) Segregação espontânea: ela resulta do preço da terra, do

quanto posso pagar

2) Segregação voluntária: resulta do desejo de distância, de separação (auto-segregação dos condomínios fechados)

3) Segregação programada: sob ação do estado, do planejamento (Cohabs na Zona Leste)

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Formas diferentes no tempo/conteúdo semelhante desejo de separação/necessidade de separação como fruto da ideologia de classe/manutenção da hierarquia social, das diferenças de classe

Reprodução das relações sociais de produção (relações de dominação e opressão)

4 formas no tempo (Brasil)

1) Separação física/proximidade espacial (até 1930/40)

2) Construção das periferias (pós 1940):oposição centro-periferia 3) Auto-segregação: “enclaves fortificados” (anos 1990)

4) Gentrificação (2000)

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1º momento Separação física Proximidade espacial Cidade era concentrada e diversa socialmente Escala da cidade permitia proximidade maior, ainda que a localização e a forma da moradia se diferenciasse. Pobres estavam na região central Separação se dava pelo preço da terra (aluguel) – espontânea Separação se dava pelas normas urbanísticas - programada

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Mapa de SP, ano 1855.

Bairro operário do Bom Retiro: imigrantes e mais tarde migrantes atraídos pela proximidade com ferrovia. Fim da colina, proximidade com várzea (terrenos mais baratos) Bairro dos Campos Elíseos: planejado para elites da economia do café. Loteamento de Glete e Nothman (empreendedores). Ferrovia separa Segregação espontânea

SP: separação física/proximidade espacial

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Foto 1: Palacete Elias Chaves, Campos Elíseos (Palácio do Governo). Foto 2: Casa Operária em Vila, no Bom Retiro. Foto 3: Cortiço no Bexiga.

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Segregação nas cidades do Brasil Colonial (separação física/proximidade espacial)

São Luiz do Paraitinga

Normas urbanísticas definiam padrões para construção (alinhamento,

regularidade). Praça central: somente casarões. Rua do Carvalho, encosta acima:

casas de meia morada (mais pobres)

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Desmonte do Morro do Castelo, RJ Até 1904, pobres moravam em cortiços no centro da cidade: Morro do Castelo e Morro Santo Antonio. Desmonte do Morro do Castelo, que foi a origem da cidade. Antigos palacetes viram cortiços. Reforma Pereira Passos (1904) inicia o desmonte do morro com a justificativa higienista e embelezadora da cidade. Reformas Urbanas: “era das demolições”para acabar com os cortiços e adequar a capital do país à modernidade.

Fonte: SANTOS, N.M. “Era uma vez o Morro do Castelo”.

Eliminação dos cortiças dá origem ao crescimento de favelas do RJ

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Fonte: Abreu, M. Reconstruindo uma história esquecida: origens e expansão inicial das favelas no Rio de Janeiro

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2ºmomento: modelo centro – periferia (1930/40) Construção das periferias (segregação programada) Centro da cidade: políticas públicas para embelezamento ou abertura de viário (fluidez) Estado: inviabiliza planos expansão da Light (bondes elétricos) . Novo modelo transporte: rodoviarismo (GM e Ford entram no país). Em 1948: 52% transporte era por bondes. Em 1966: 2,6% Plano de Avenidas – Prestes Maia

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Sistema Y: Plano de Avenidas de São Paulo, mesmo esquema de Paris.

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Estado: urbanismo viário que abre a cidade para as

periferias

Associação capitais: setor transporte (ônibus) e setor

imobiliário (loteadores)

Criação das periferias para trabalhadores: Nova forma morar: casa própria, auto-construção, na periferia precária

Especulação (terra como reserva de valor)

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Bairros operários, zona leste SP em 1930. Primeiro anel de periferia: Vila Maria, Vila Prudente, Ipiranga, Vila Guilherme, Santana. 1º anel: pressão popular e melhoramentos urbanos e anistias. Valorização e reprodução da periferia para mais distante. Fonte: Passos & Emídio, 2009

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Outros elementos processo:

Década de 1940: crise dos aluguéis (pressão sobre custo de vida trabalhador e movimento operário)

Estado (Ditadura Vargas) intervém: Lei do Inquilinato (1942) congela aluguéis. Construção de conjuntos habitacionais (IAPs – Institutos de

Aposentadorias)

Redução mercado produção casa para alugar e despejos em massa (Bonduki: 15% da população de SP)

Setor Privado: novo modelo de moradia popular – casa própria na periferia

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Anos 1970/1980: intensificação do modelo centro-periferia com a adoção de políticas de construção em massa

Conjuntos habitacionais COHAB, CDHU: generalização do Habitat (Lefebvre) Produção moradia barata e padronizada Monotonia construtiva Desenho urbano precário Ausência de qualidade construtiva e de projeto Relação agressiva com ambiente Cidade Tiradentes – 220 mil hab.

40 mil unidades habitantes

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3ºmomento: Auto-segregação “enclaves fortificados” (Caldeira) Segregação voluntária Centro-periferia não é mais o modelo: condomínios estão na fronteira Início: ricos deixam áreas centrais: crise da cidade (violência, trânsito, poluição). Condomínios horizontais. Aldeia da Serra, Tamboré. Busca do viver entre-iguais (homogeneidade social) Generaliza-se como modo de vida: outras formas. Condomínios verticais e Clubes de Morar. Dentro da cidade. Condomínios verticais: necessidade terrenos amplos. Voltam-se para antigas áreas industriais (enclaves estão nos bairros antigos = reprodução do espaço urbano) Segregação generaliza-se para totalidade vida social: condomínios de negócios, lazer no shopping e parques temáticos. Fechamento da sociedade.

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4ºmomento: Gentrificação Ruth Glass (1964) verifica na Inglaterra que bairros operários londrinos foram invadidos por classes médias. Casinhas modestas tornam-se elegantes residências, pensões que ocupavam residências vitorianas foram “recuperadas”. Chamou de gentrificação (enobrecimento) a mudança morfológica e social de bairros antigos. Neil Smith e a gentrificação generalizada: começou com o privado (classes médias). Agora atuam Estado e empresas na gentrificação (PPP). Tornou-se mundial, mas as experiências são muito diferentes (contexto local).

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Gentrificação implica na expulsão de população pobre das áreas centrais (natureza classista do processo). EUA: era esporádica até fim anos 1970 (atores individuais). Consolidou-se nos anos 1980 com atuação público-privado (Soho, Harlem). Generalizou-se anos 1990 (Brooklin, Queens, Nova Jersey). Terceira onda da gentrificação: não se restringe a reabilitação de moradias. Novos restaurantes, parques em frente a rios, cinemas,, museus, complexos culturais. Caráter residencial não se separa de uma nova paisagem do lazer e do consumo. Conquista classista da cidade Pseudo-democratização da cidade: “consumo do centro depois de eliminada a miséria”. Contrário: paisagens gentrificadas são altamente vigiadas (controle de acesso e intimidação)

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Bibliografia complementar: SMITH, N. “A gentrificação generalizada: de uma anomalia local à regeneração urbana como estratégia urbana global”. LEFEBVRE, H. Direito à cidade. Cap. Análise espectral. CALDEIRA, T. Cidade de muros. CARLOS, A.F.A. Segregação como fundamento da crise urbana.