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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ ANA CAROLINE RAMALHO CARRARO A QUESTÃO TEMPORAL DOS ALIMENTOS COMPENSATÓRIOS CURITIBA 2015

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

ANA CAROLINE RAMALHO CARRARO

A QUESTÃO TEMPORAL DOS ALIMENTOS

COMPENSATÓRIOS

CURITIBA

2015

A QUESTÃO TEMPORAL DOS ALIMENTOS

COMPENSATÓRIOS

CURITIBA

2015

ANA CAROLINE RAMALHO CARRARO

A QUESTÃO TEMPORAL DOS ALIMENTOS

COMPENSATÓRIOS

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito do Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná. Orientador: Professor Sérgio Said Staut Júnior

CURITIBA

2015

TERMO DE APROVAÇÃO

ANA CAROLINE RAMALHO CARRARO

A QUESTÃO TEMPORAL DOS ALIMENTOS

COMPENSATÓRIOS

Esta monografia foi julgada e aprovada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito do Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, __ de _________ de 2015.

___________________________________________ Prof. Dr. Eduardo de Oliveira Leite

Coordenação do Núcleo de Monografia Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas

Universidade Tuiuti do Paraná Orientador: ___________________________________________ Professor Sérgio Said Staut Júnior Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas Universidade Tuiuti do Paraná ___________________________________________ Professor(a): Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas Universidade Tuiuti do Paraná ___________________________________________ Professor(a): Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas Universidade Tuiuti do Paraná

Dedico esta Monografia

primeiramente a Deus, que nos

momentos mais difíceis me iluminou, além

de me dar muita força e esperança para

continuar lutando.

À minha família, especialmente à

minha mãe Sonia que sempre foi meu

exemplo, mais que me incentivou a

batalhar para realizar meus sonhos, guiou

meus passos me apoiando de maneira

incondicional.

Aos meus amigos que não somente

souberam entender minha ausência, mas

me apoiaram e torceram muito pela minha

conquista.

Agradeço muito a Deus por sempre

me ouvir, me acalmar e iluminar os meus

caminhos.

À minha família e amigos que, além

de me ajudarem até mesmo emprestando

livros, compreenderam meus momentos

de fragilidade, ausência e continuaram

acreditando em mim e me incentivando a

persistir em busca da realização dos

meus sonhos.

Aos grandes mestres da

Universidade Tuiuti do Paraná que ao

longo destes cinco anos transmitiram

muito conhecimento e sabedoria,

trazendo uma perspectiva diferente da

vida e do mundo. Especialmente ao

Professor Sérgio Said Staut Junior, que

me orientou e tornou possível levar a

termo o presente trabalho.

“Teu dever é lutar pelo Direito, mas se um dia encontrares o Direito em conflito com a Justiça, luta pela Justiça.”

Eduardo Couture

RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso tem por objetivo apresentar a

figura jurídica dos alimentos compensatórios, instituto jurídico já adotado em outros

países como Alemanha, França e Argentina, e recentemente vem sendo incorporada

no Brasil. Também pretende expor sobre a possibilidade do cabimento dos

alimentos compensatórios no direito brasileiro como um instituto de reparação que

visa evitar os prejuízos que resultam da dissolução da sociedade conjugal, prejuízo

que se verifica no desequilíbrio econômico conseqüente do fim do casamento ou

união estável. A prestação de alimentos compensatórios restaura a situação que era

proporcionada durante a relação das partes, evitando o enriquecimento injusto de

uma delas. Além disso, analisa as diferenças entre as modalidades dos alimentos, o

dever e a obrigação alimentar, quem pode pleitear alimentos e quem será o devedor

da prestação alimentícia, o surgimento dos alimentos compensatórios no direito

brasileiro e no exterior, como esta nova figura jurídica funciona e quais são suas

principais críticas.

Palavras chave: alimentos, solidariedade, compensatórios, desequilíbrio econômico,

cônjuges, dissolução, obrigação alimentar, reparação, restauração.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................9

2 ALIMENTOS ....................................................................................................11

2.1. CONCEITO ......................................................................................................11

2.2. MODALIDADES ...............................................................................................13

2.3. O DEVER ALIMENTAR ...................................................................................16

2.4. DA OBRIGAÇÃO DE ALIMENTAR .................................................................17

2.5. CREDORES DOS ALIMENTOS .....................................................................19

2.6. DEVEDORES DOS ALIMENTOS ...................................................................21

2.7. ALIMENTOS ENTRE CÔNJUGES E COMPANHEIROS ..............................23

2.8. A INFLUÊNCIA DA CULPA PELA DISSOLUÇÃO DO CASAMENTO ..........25

3 ALIMENTOS COMPENSATÓRIOS ...............................................................26

3.1. ALIMENTOS COMPENSATÓRIOS NO EXTERIOR ......................................29

3.2. A DURAÇÃO DOS ALIMENTOS COMPENSATÓRIOS ................................31

3.3. CRÍTICAS AOS ALIMENTOS COMPENSATÓRIOS .....................................32

3.4. ALIMENTOS COMPENSATÓRIOS X ALIMENTOS TRANSITÓRIOS .........33

4 CONCLUSÃO ..................................................................................................35

REFERÊNCIAS ........................................................................................................37

9

1 INTRODUÇÃO

Os alimentos em direito de família representam uma das principais

concretizações e expressões do princípio constitucional da solidariedade, no sentido

de cuidado, preocupação e até mesmo responsabilidade pelo outro.

Os alimentos podem se encontrar em diversas modalidades, classificados

pela doutrina de acordo com vários critérios sejam eles quanto à natureza, causa

jurídica, quanto à finalidade e também quanto ao momento em que são reclamados.

Em 2002 o Código Civil igualou ex-cônjuges e ex-companheiros de união

estável aos titulares de alimentos reconhecidos através da relação de parentesco. A

Jurisprudência dos tribunais brasileiros tem admitido o critério temporal para fixar

alimentos entre ex-cônjuges ou entre ex-companheiros quando estes ainda se

encontram em idade suficiente para lhes permitir a inserção ou reinserção no

mercado de trabalho, por ser uma decisão lógica e que visa não prejudicar ambas as

partes, ou seja, os alimentos são deferidos por determinado período de tempo para

que o alimentando possa prover seu próprio sustento.

A doutrina e a jurisprudência brasileira têm se referido a outra espécie de

alimentos, os alimentos compensatórios, figura jurídica já adotada em outros países

e vem sendo incorporada no Brasil.

Os alimentos compensatórios, especificamente, são destinados a restaurar o

equilíbrio econômico-financeiro danificado com a dissolução do casamento. Já

presente na doutrina, porém pouco discutido na jurisprudência brasileira. A figura

jurídica dos alimentos compensatórios vem sendo construída pela jurisprudência

contemporânea, cuja instituição já é regulada em outros países e assegura

alimentos para aquele cônjuge que trabalhe ou não, mas seu padrão de vida pode

sofrer brusca queda na comparação com a forma de vida proporcionada durante o

casamento vista a maior remuneração do outro cônjuge.

Os alimentos civis são devidos normalmente entre parentes, cônjuges ou

companheiros, baseando-se principalmente no princípio constitucional da

solidariedade, o qual versa sobre o respeito e consideração mútuos entre os

10

integrantes da figura familiar, tanto no que tange ao patrimônio quanto ao que se

refere à afetividade e bem estar, ou seja, tal princípio versa sobre a mútua

assistência que as pessoas da família possuem uns com os outros através deste

laço familiar.

Já na forma de alimentos compensatórios, o juiz analisa o caso concreto

entre os ex-cônjuges e tanto pode determinar um período de tempo suficiente para a

preparação do alimentando para a nova realidade econômica resultante do fim da

pensão e inserção ao mercado de trabalho, quanto pode deferir esta prestação por

tempo indeterminado, caso seja cabível.

Neste trabalho serão abordadas as diferenças entre as modalidades dos

alimentos, o dever e a obrigação alimentar, quem pode pleitear alimentos e quem

será o devedor da prestação alimentícia, o surgimento dos alimentos

compensatórios no direito brasileiro e no exterior, como esta nova figura jurídica

funciona e quais são suas principais críticas.

11

2 ALIMENTOS

2.1 CONCEITO

Compreende-se por alimento, de acordo com os dicionários da língua

portuguesa, aquilo que nutre, alimenta, mantém e sustenta o corpo físico. Contudo,

no mundo jurídico o alimento é entendido como todos os meios indispensáveis ao

sustento do alimentando que o tem direito, ou seja, aquilo que, além da alimentação

propriamente dita, é necessário à subsistência e manutenção do ser humano,

incluindo-se os chamados alimentos civis, entre eles a habitação, vestuário,

educação, assistência médica, transporte e o que mais for necessário a uma vida

plena.

Na legislação brasileira, o instituto dos alimentos está disposto no artigo

1920 do Código Civil de 2002, o qual repetiu o texto do Código Civil anterior, ou seja,

Código Civil de 1916, que expressa: “O legado de alimentos abrange o sustento, a

cura, o vestuário e a casa, enquanto o legatário viver, além da educação, se ele for

menor.”.

Há também a disposição sobre a possibilidade do pedido de alimentos entre

parentes, cônjuges ou companheiros, para ter a possibilidade de viver de modo

compatível com sua condição social, disposição esta encontrada no artigo 16941 do

Código Civil vigente.

Vários doutrinadores redigiram conceitos que versam no mesmo sentido,

conduzindo ao mesmo entendimento. Segundo Orlando Gomes (2002, p. 427),

“alimentos são prestações para satisfação das necessidades vitais de quem não

pode provê-las por si. Tem por finalidade fornecer a um parente, cônjuge ou

companheiro o necessário à sua subsistência.”.

De acordo com Yussef Cahali (2002, p.16), “constituem os alimentos uma

modalidade de assistência imposta por lei, de ministrar os recursos necessários à

subsistência, à conservação da vida, tanto física como moral e social do indivíduo”.

1 “Artigo 1.694: Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os

alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com sua condição social, inclusive para

atender as necessidades de sua educação.” (BRASIL, Código Civil)

12

Segundo Silvio Rodrigues (2004, p. 373), o dever de socorro dos

necessitados, segundo a tendência moderna, é determinado ao Estado, tarefa que

este se desincumbe, ou deve desincumbir-se através de sua atividade assistencial,

porém na inviabilidade de cumprir este encargo ou de aliviar-se dele, o Estado se

valendo de determinação legal encarrega os parentes, cônjuges ou companheiros

do necessitado, cada vez que seja possível que estes atendam a tal encargo.

Segundo Carlos Roberto Gonçalves (2005, p. 440), os alimentos têm a

função de fornecer ao parente, cônjuge ou companheiro o necessário à sua

subsistência.

O dever de prestar alimentos se constitui a partir da moral, da solidariedade

humana e econômica, além do princípio da dignidade humana, que deve existir entre

os membros da família, devendo sempre ser observados os pressupostos para sua

fixação, ou seja, observar a necessidade do alimentando, a possibilidade do

alimentante, o vínculo jurídico e a proporcionalidade.

Através da ação de alimentos uma pessoa, que possa apresentar prova pré-

constituída do parentesco (certidão de nascimento) ou do dever alimentar (certidão

de casamento ou comprovante de companheirismo), pode exigir de outra os

recursos que necessita para sua subsistência, na impossibilidade de prover por si o

próprio sustento.

Mantém entre si e por seus laços de parentesco um dever, uma obrigação

de solidariedade alimentar, os ascendentes, colaterais e também os descendentes

maiores e capazes, desde que seja observada a necessidade do alimentando, a

possibilidade do alimentante além do vínculo jurídico e da proporcionalidade da

obrigação. Conforme o disposto no artigo 16972 do Código Civil brasileiro, o direito

de alimentos segue em parte os princípios do direito sucessório, porém inicia-se

pelos ascendentes, em seguida os descendentes e caso estes faltem ou não haja a

possibilidade da prestação do dever, a obrigação alimentícia é repassada para os

irmãos, sejam estes germanos ou unilaterais.

2 “Artigo 1.697. Na falta dos ascendentes cabe a obrigação aos descendentes, guardada a

ordem de sucessão e faltando estes, aos irmãos, assim germanos como unilaterais.” (BRASIL,

Código Civil)

13

2.2 MODALIDADES

Os alimentos podem se encontrar em diversas modalidades, classificados

pela doutrina de acordo com vários critérios sejam eles quanto à natureza, quanto à

causa jurídica, quanto à finalidade e quanto ao momento em que são reclamados.

Quanto à natureza os alimentos podem ser naturais ou civis. Os naturais (ou

necessários) limitam-se no que se verifica indispensável à satisfação das

necessidades entendidas como primárias da vida, ou seja, se refere ao que é

realmente necessário à sobrevivência do alimentando, como por exemplo a

alimentação, a habitação, a cura, o vestuário. Já os civis (ou côngruos), são

destinados a preservar e conservar a condição social da família, isto é, aqueles que

se destinam à manutenção da condição social do credor de alimentos, incluindo

também a alimentação, a habitação, a cura, o vestuário, lazer e necessidades de

acordo com a ordem intelectual e moral, alimentos estes que serão quantificados

conforme as condições financeiras de quem fornecerá os alimentos.

Os alimentos naturais são aqueles entendidos como necessários

estritamente à vida, como por exemplo, a alimentação, a cura, a habitação e o

vestuário. Já os alimentos civis versam ao que tange ao necessário à pessoa, ou

seja, compreende necessidades morais e intelectuais, variando relativamente à

posição social do alimentado.

Esta classificação entre naturais ou civis foi introduzida no Código Civil de

2002 e está expressa no artigo 1694, o qual traz no caput a compreensão de que os

alimentos devem ser fixados em quantia suficiente para possibilitar ao alimentado a

vivência de modo compatível com a sua condição social. Em seu §2º, o mesmo

artigo restringe o direito a alimentos em alguns casos, ao imprescindível à

subsistência do alimentado, ou seja, nestes casos restringe aos alimentos naturais,

necessários. Já no §1º fica estabelecido que os alimentos sejam fixados

obrigatoriamente conforme a dimensão das necessidades do indivíduo que os

pleiteia e também dos recursos da pessoa obrigada, ou seja, para que aquele possa

viver conforme a posição social deste, o que nos traz a observação do que se refere

14

aos alimentos civis, ou seja, aqueles que vão além do valor indispensável à

sobrevivência e integram ao que é necessário à pessoa.

A doutrina e a jurisprudência brasileira têm se referido à outra espécie de

alimentos, os compensatórios, já adotados em outros países como França, Espanha

e mais recentemente no Brasil. Esta espécie pretende evitar o enorme desequilíbrio

econômico-financeiro do cônjuge dependente, desequilíbrio este inviável de ser

afastado apenas com pensões mensais e que geralmente ocorre nos casos em que

um dos parceiros não inclui nenhum bem em sua meação seja em razão do regime

de bens convencionado afastar a comunhão de bens ou porque não ocorreu

nenhuma aquisição patrimonial na constância da união.

Quanto à causa jurídica os alimentos podem ser legais (ou legítimos),

voluntários ou ainda indenizatórios. Os alimentos legítimos, conforme sua própria

denominação são devidos por conseqüência de uma obrigação legal, que pode advir

do grau de parentesco, do casamento ou até mesmo companheirismo. Os alimentos

voluntários decorrem de uma declaração de vontade assumida contratualmente por

quem não tinha a obrigação legítima de prestar alimentos ou declaração de vontade

indicada em testamento. Já os alimentos indenizatórios decorrem da prática de

prática ilegal e consiste forma de indenização do dano.

Os alimentos voluntários pertencem ao direito das obrigações quando

tratados inter vivos, ou seja, quando a declaração de vontade for assumida em

contrato por quem não tinha a obrigação de prestar alimentos definida em lei,

diferente de quando a declaração de vontade é realizada através do testamento, ou

seja, causa mortis, quando os alimentos pertencerão respectivamente ao direito das

sucessões.

Apenas os alimentos legais pertencem ao direito de família, sendo a assim a

única espécie em que a prisão civil pelo não pagamento da dívida de alimentos é

permitida, de acordo com o artigo 5º, LXVII3 da Constituição Federal, pois compõem

3 “Artigo 5º, LXVII: não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo

inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel;”

(Constituição da República Federativa do Brasil)

15

relação de direito de família, sendo incabível em caso de não pagamento de

alimentos voluntários ou indenizatórios.

Quanto à finalidade, os alimentos são classificados em definitivos,

provisórios, provisionais e transitórios. Alimentos definitivos são aqueles de cunho

permanente, determinados pelo juiz na sentença ou conforme acordo homologado

entre as partes. Provisórios são aqueles alimentos fixados através de medida liminar

em despacho na ação de alimentos, visando resguardar a dignidade do alimentando

mesmo antes da cognição exauriente do juiz acerca do caso. Alimentos provisionais

são aqueles determinados em medida preparatória, cautelar ou incidental, de ação

de divórcio, separação judicial, anulação ou nulidade de casamento ou de alimentos.

Destina-se a manter o requerente durante a tramitação do processo, além das

despesas judiciais e honorários advocatícios. Os Alimentos Transitórios,

recepcionados pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, são aqueles em

que o ex cônjuge ou ex companheiro tem idade hábil para o trabalho, mas necessita

dos alimentos somente até o momento em que se atinja a autonomia financeira, ou

ao final de certo tempo em que não dependa da tutela do alimentante.

Os alimentos provisórios necessitam de prova pré constituída seja do

parentesco, companheirismo ou do casamento. Já os provisionais, além de exigirem

a comprovação dos requisitos inerentes às medidas cautelares, ou seja, fumus boni

juris e o periculum in mora, conservam sua eficácia até o momento do julgamento da

ação principal, mas a qualquer tempo podem ser modificados ou até mesmo

revogados.

Quanto ao momento em que são reclamados, os alimentos são dispostos

em pretéritos, atuais e futuros. Alimentos pretéritos ocorrem quando o pedido

retrocede a tempo anterior ao ajuizamento da ação. Alimentos atuais são aqueles

postulados a partir do ajuizamento da ação. Já os alimentos futuros são aqueles

devidos somente a partir da sentença.

Os alimentos pretéritos não são admitidos pelo direito brasileiro, pois há o

entendimento de que estes alimentos referentes a período anterior à propositura da

ação não são devidos seguindo a lógica de que se o alimentando conseguiu

sobreviver sem o auxílio do alimentante, bem ou mal, não pode pretender receber o

16

pagamento dos alimentos relativos ao passado, ou seja, não tem que compensar por

algo que o alimentando já conseguiu de forma independente.

2.3 O DEVER ALIMENTAR

O dever alimentar se origina distintamente da obrigação de sustento, visto

que se vincula ao poder familiar e ao parentesco. Dever e obrigação de alimentar se

configuram de formas diferentes, ou seja, são distintas uma da outra. O dever de

alimentar se encontra no vínculo de solidariedade que se mostra muito mais

profundo e expressivo, pois é amparado no núcleo familiar, ou seja, entre pai, mãe e

filhos. Já a obrigação alimentar é expressada através de graus de parentesco não

tão próximos quanto o núcleo familiar, ou seja, através de irmãos e avós, cônjuges e

companheiros, além dos filhos maiores e capazes que já não se encontram mais sob

o abrigo do poder familiar.

Há um dever ilimitado nos casos de solidariedade familiar entre pais e filhos

menores e incapazes, dever este que pode chegar ao fim de exigir a venda de bens

pessoais dos pais de modo a garantir por todas as formas o direito constitucional à

vida digna, onde todo e qualquer esforço deve ser aplicado pelos pais para atender

toda a variedade de necessidades dos filhos que ainda dependem do subsídio dos

pais, ou seja, dos filhos menores e incapazes.

Ainda que já fosse uma obrigação conseqüente das relações de parentesco,

este dever alimentar entre pais e filhos foi reforçado pela Constituição Federal.

Vejamos o disposto no artigo 229 da Constituição Federal Brasileira, no capítulo

referente à família, criança jovem e ao idoso: “Os pais tem o dever de assistir, criar e

educar os filhos menores, e os maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na

velhice, carência ou enfermidade”. Entendemos então que este dever é retribuído,

pois no início da vida enquanto pessoa menor de idade e incapaz (ou relativamente

incapaz) o filho recebe amparo e cuidado dos pais, sendo no mínimo justo cuidar e

amparar os pais quando enfermos, carentes ou em idade avançada.

17

Entretanto, a maioridade civil dos filhos não causa impedimento de que

estes procedam com pedido de alimentos, porém estes alimentos não decorrem

mais pelo vínculo do poder familiar, nem pela presunção absoluta de necessidade,

mas sim pela constituição de obrigação condicional de alimentos resultante da

relação de parentesco, além da continuidade de sua necessidade de alimentos tanto

naturais quanto civis.

2.4 DA OBRIGAÇÃO DE ALIMENTAR

Conforme visto no tópico anterior, entre pais e filhos menores, cônjuges e

companheiros não existe exatamente a obrigação familiar, mas sim o dever familiar,

dever este relativo ao sustento e à mútua assistência. A obrigação familiar refere-se

então às demais pessoas da família, porém de graus não tão próximos quanto a

relação entre pais e filhos menores, cônjuges e companheiros, ou seja, é baseado

no parentesco, ficando determinada aos ascendentes, descendentes e colaterais até

o segundo grau, baseando-se principalmente no princípio constitucional da

solidariedade alimentar.

Não obstante a responsabilidade de amparar aos que não podem

provisionar o seu próprio sustento pertença essencialmente ao Estado, este a

transfere às pessoas pertencentes ao mesmo grupo familiar, pessoas estas que por

ordem da própria natureza acabam tendo o compromisso moral convertido em

obrigação jurídica de auxiliar e proporcionar uma condição digna para os que

necessitem deste auxílio.

Entretanto não se deve confundir a obrigação de prestar alimentos com os

deveres familiares de socorro, sustento e assistência como os que têm os pais em

relação aos filhos enquanto estes são menores e o marido para com a mulher (e

vice e versa), pois a obrigação de prestar alimentos advém do parentesco e

depende das possibilidades do devedor e apenas se torna exigível se quem pede tal

prestação realmente esteja necessitado, ou seja, realmente precise daquela

prestação para sua própria subsistência.

18

O autor Orlando Gomes (2002, p. 429) esclarece que

“o dever de sustento que incumbe ao marido toma, entretanto, a

feição de obrigação de alimento embora irregular, quando a sociedade

conjugal se dissolve pela separação judicial, ocorrendo a mesma

desfiguração em relação aos filhos do casal desavindo. No rigor dos

princípios, não se configura, nesses casos, a obrigação propriamente dita,

de prestar alimentos, mas, para certos efeitos, os deveres de sustento,

assistência e socorro adquirem o mesmo caráter”.

O Código Civil de 1916 referia-se, em seu capítulo relacionado aos

alimentos, apenas aos alimentos que eram devidos decorrentes do parentesco,

versando também sobre pensão entre cônjuges, ao mesmo tempo em que a

obrigação entre os conviventes era prevista nas Leis 8.971/94 e 9.278/96,

prevalecendo nestes casos o caráter indenizatório-punitivo. A obrigação de

alimentos escorava seus princípios na solidariedade familiar, enquanto o dever

alimentar era próprio do então intitulado pátrio poder, o que teve seu entendimento

modificado a partir do Código Civil de 2002.

Seguindo este raciocínio, Francisco José Cahali (2001, p. 182) afirma

“Em um só subtítulo, entre os artigos 1.694 e 1.710, trata-se

promiscuamente dos alimentos, quer tenham eles origem na relação de

parentesco, quer sejam conseqüentes do rompimento do casamento ou da

convivência. Esta modificação estrutural, sem dúvida, repercute na

interpretação das regras e princípios sobre a matéria, indicando venha

prevalecer o tratamento estritamente idêntico da pensão,

independentemente da origem da obrigação. Daí, como se verá,

restabelece entre os cônjuges a invalidade da renúncia à pensão e estende

aos alimentos decorrentes do parentesco a transmissibilidade da obrigação

alimentar”.

19

Francisco José Cahali ainda complementa no sentido de que a referida

mudança no novo código altera as normas de modo que aproxime qualquer espécie

de alimentos decorrentes do Direito de Família, tanto quanto às características

quanto aos efeitos, mesmo que contrariando a predisposição, o costume dos

tribunais de distinguir os alimentos conforme sua origem.

Entende-se assim que a obrigação alimentar se difere do dever

principalmente pelo fato de que o dever resulta de imposição legal, geralmente

aplicado aos pais em relação aos filhos menores, isto é, ato unilateral e seu

cumprimento deve ser efetuado incondicionalmente, ficando sujeito até mesmo à

prisão civil caso não cumpra tal prestação, enquanto a obrigação alimentar é

embasada no princípio da solidariedade, o qual versa no sentido de que o dever de

ajuda é recíproco, e deve ser determinado baseando-se de acordo com a

necessidade de quem pleiteia e na possibilidade de quem possivelmente irá prestar

os alimentos.

2.5 CREDORES DOS ALIMENTOS

Os credores titulares dos alimentos também são chamados de alimentandos,

pois são as pessoas físicas no contexto da relação de parentesco que não estão em

condições de prover seu próprio sustento, seja a relação de parentesco biológico ou

socioafetivo.

As principais relações de parentesco que constituem alimentos são as que

se encontram mutuamente entre pais e filhos, independente de ter havido

convivência familiar ou não. Geralmente os filhos pleiteiam alimentos no momento

em que os pais se separam e também quando há o reconhecimento judicial de

paternidade.

Existem dois tipos de obrigações de alimentos em que o filho postula em

relação aos pais, um proveniente do poder familiar, da autoridade parental, que

perdura enquanto o filho é menor de dezoito anos, prolongando-se até que o filho

complete 29 (vinte e nove) anos, conforme pode ser observado no artigo 8º do

20

Estatuto da Juventude4, enquanto for aluno de educação superior, onde a

necessidade é presumida, e outra obrigação advinda do parentesco, durante a

maioridade do filho, cuja necessidade deve ser comprovada.

Em 2002 o Código Civil igualou ex-cônjuges e ex-companheiros de união

estável aos titulares de alimentos reconhecidos através da relação de parentesco. A

Jurisprudência dos tribunais brasileiros tem admitido o critério temporal para fixar

alimentos entre ex-cônjuges ou entre ex-companheiros quando estes ainda se

encontram em idade suficiente para lhes permitir a inserção ou reinserção no

mercado de trabalho, por ser uma decisão lógica e que visa não prejudicar ambas as

partes, ou seja, os alimentos são deferidos por determinado período de tempo para

que o alimentando possa prover seu próprio sustento.

Através da relação de parentesco, também são titulares legítimos os idosos,

ou seja, pessoas acima de 60 (sessenta) anos têm direito à prestação de alimentos

na forma da lei civil, conforme disposição do artigo 11 do Estatuto do Idoso5, isto é,

poderão pleitear os alimentos aos ascendente e na falta deles, a obrigação cabe aos

descendentes, guardada a ordem de sucessão e faltando estes, poderão pleitear

aos irmãos, conforme se pode observar o disposto no artigo 1967 do Código Civil

Brasileiro6. Ainda no Estatuto do idoso, em seu artigo 137, objetivando facilitar o

alcance aos alimentos nestes casos, entende-se que as transações relativas aos

alimentos podem ser celebradas perante o Promotor de Justiça ou até mesmo o

Defensor Público, que as confirmará e passarão a ter força de título executivo

extrajudicial, conforme as normas do Código de Processo Civil. Vale dizer que

4 “Artigo 8º. O jovem tem direito à educação superior, em instituições públicas ou privadas,

com variados graus de abrangência do saber ou especialização do conhecimento, observadas as

regras de acesso de cada instituição.” (Lei 12.852/2013)

5 “Artigo 11. Os alimentos serão prestados ao idoso na forma da lei civil.” (Lei 10.741/2003)

6 “Artigo 1.697. Na falta dos ascendentes cabe a obrigação aos descendentes, guardada a

ordem de sucessão e faltando estes, aos irmãos, assim germanos como unilaterais.” (BRASIL,

Código Civil)

7 “Artigo 13. As transações relativas a alimentos poderão ser celebradas perante Promotor

de Justiça ou Defensor Público, que as referendará, e passarão a ter efeito de título executivo

extrajudicial nos termos da lei processual civil.”

21

quando o idoso pleitear alimentos do cônjuge ou companheiro, esta prestação não

será em virtude de sua situação proveniente da idade em que se encontra.

Em seu artigo 1.7078, o Código Civil de 2002 aprimorou a idéia que já

constava no artigo 402 do Código Civil de 1916, que versa sobre a possibilidade do

credor não exercer o direito a alimentos, porém lhe é vedado renunciar este direito,

sendo tal crédito insuscetível de cessão, compensação ou penhora, isto é, o credor

pode dispensar, mas não renunciar. Entretanto, a Suprema Corte aprimorou seu

entendimento quanto à prestação alimentar entre companheiros de modo que

passou a admitir a renúncia caso o renunciante possua uma reserva de bens e

meios suficientes para manter sua própria subsistência, devendo esta renúncia ser

expressa, sendo então entendida como uma cláusula válida e eficaz, enquanto a

dispensa é momentânea e caso o credor futuramente venha a necessitar da

prestação de alimentos ainda poderá solicitar.

2.6 DEVEDORES DOS ALIMENTOS

O dever de prestar alimentos recai reciprocamente entre os ascendentes,

descendentes e irmãos, de acordo com a ordem de classe de parentesco, esta que

deve ser observada na seqüência, em primeiro lugar os pais, ou seja, os parentes de

primeiro grau, em seguida os avós, parentes em segundo grau, e assim

sucessivamente, sendo chamados de alimentantes os devedores desta prestação

alimentícia.

Caso os devedores sejam os avós, supondo que todos (maternos e

paternos) ainda estejam vivos, o valor dos alimentos será dividido de maneira

proporcional entre eles, conforme suas possibilidades. Os avós assumem

relativamente a parte dos alimentos que o progenitor que não possui a guarda do

filho menor, seja pai ou mãe, não puder sustentar sozinho, Segundo observação de

8 “Artigo 1.707. Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o direito a

alimentos, sendo o respectivo crédito insuscetível de cessão, compensação ou penhora.” (BRASIL,

Código Civil)

22

Paulo Lobo9, todos os avós vivos serão devedores proporcionalmente, não apenas

os avós que são pais do progenitor que não possui a guarda, ou seja, se o pai é o

alimentante e seus pais não tem condições econômicas de complementar os

alimentos devidos pelo primeiro, a responsabilidade recai sobre os avós maternos

do alimentando.

Assim como ocorre com o alimentando, ou seja, com o credor de alimentos,

não basta apenas a relação de parentesco para que seja constituído o dever de

alimentos. Além de serem observadas as ordens de classe e de grau, deve se

observar os requisitos da prestação alimentícia, principalmente no que se refere à

possibilidade de fornecer alimentos de modo que não venha a prejudicar o

necessário para o seu próprio sustento. Por exemplo: caso o pai possua recursos

suficientes apenas para o seu sustento, ou seja, se viesse a prestar alimentos ao

filho teria desfalque no que lhe é necessário, seria destituído da obrigação, sendo

esta passada aos avós da criança que, por sua vez, dividirão o encargo de forma

proporcional. Vale dizer ainda que versando sobre alimentos, nenhuma disposição é

definitiva, isto é, caso a situação do pai que foi destituído da obrigação venha a

melhorar de modo que possibilite o pagamento integral dos alimentos, os avós serão

desobrigados.

Partindo do princípio da reciprocidade, levando em conta que os pais e avós

se obrigam a prestar alimentos, os filhos e netos também são incumbidos da

responsabilidade da obrigação em benefício daqueles, caso venham a ter a

necessidade de alimentos, sendo tal obrigação amparada também no principio da

solidariedade, ou seja, enquanto jovem a pessoa precisa do suporte dos mais

velhos, quando velhos (ou ao menos quando os jovens já não são seus

dependentes) as pessoas talvez necessitem ser amparadas pelos mais jovens.

Caso não haja ascendentes ou descendentes, o dever da prestação de

alimentos é assumido pelos irmãos, que também terão o encargo uniformemente

proporcional à possibilidade de cada irmão, seguindo a mesma lógica e

pressupostos.

9 LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias, p. 353.

23

Esta é uma característica especial do direito brasileiro, uma vez que em

outros países nenhum parente colateral assume o dever de alimentos, visto que esta

reciprocidade alimentar relacionada aos irmãos é originada na reciprocidade

inerente ao parentesco que cria o vínculo entre eles.

2.7 ALIMENTOS ENTRE CÔNJUGES E COMPANHEIROS

Em meio a vários resultados pessoais e patrimoniais conseqüentes do

casamento encontra-se a prestação de auxílio recíproco, auxílio este composto pela

prestação de assistência material e moral e que surge desde os deveres de ambos

os cônjuges dispostos no artigo 1.56610 do Código Civil, ou seja, desde a eficácia do

casamento.

No que tange ao auxílio material, entende-se devida a mutua assistência

entre os cônjuges, como forma de materializar a integralidade da comunhão de vida

estabelecida no casamento. No decorrer do casamento, a mútua assistência se

realiza através do sustento, da divisão de despesas comuns à família e colaboração

entre ambos os constituintes da relação, obrigação de esforço conjunto ao alcance

dos objetivos familiares de forma proporcional às suas possibilidades. Cooperação

esta que geralmente melhora a condição social individual de cada um destes que se

uniram.

Entretanto, caso um dos cônjuges descontinuar esta cooperação, esta

contribuição com a mútua assistência, independente do rompimento da relação,

haverá a possibilidade de pedido de alimentos entre eles. Sendo assim, entende-se

que a obrigação alimentícia entre eles resulta da frustração do dever de mutua

assistência e tem a capacidade de realizar, ou seja, materializar os efeitos impostos

pelo casamento.

10 “Artigo 1.566. São deveres de ambos os cônjuges: I - fidelidade recíproca; II – vida em

comum, no domicílio conjugal; III – mútua assistência; IV – sustento, guarda e educação dos filhos;

V– respeito e consideração mútuos.” (BRASIL, Código Civil)

24

A obrigação de mútua assistência, de sustento recíproco entre os cônjuges

já se encontrava disposta no código de 1916, em seu artigo 231, que definia tal

obrigação como um dos deveres inerentes ao casamento, sendo dominante o

entendimento de que mesmo com a dissolução da sociedade conjugal através de

separação judicial, consensual ou litigiosa este dever não se extinguiria, mas se

alterava para dever alimentar. Diferente deste entendimento, Arnold Wald (WALD

comenta:

“Pensamos, em oposição à jurisprudência dominante, que, nos

casos de separação judicial amigável ou por culpa de um dos cônjuges,

pode cessar também a obrigação de assistência mutua. Esta é de ordem

publica na vigência da sociedade conjugal e independe do comportamento

do outro cônjuge. Com a separação litigiosa, tal obrigação passa a

depender da existência de culpa por parte do marido e pobreza por parte da

mulher. Na separação amigável, torna-se um dever jurídico de caráter

supletivo, que as partes por acordo de vontades podem extinguir ou deixar

de exercer”.11

Seguindo este raciocínio, entende-se que o dever de assistência, apesar de

compreender a assistência material e, desta forma, o compromisso de sustento e de

cooperação recíproca que deve haver no casamento, não se confunde com a

obrigação alimentar, uma vez que esta só surge com a dissolução do matrimônio em

vida, sendo observada a necessidade e possibilidade para sua fixação, onde o mais

necessitado receberá os alimentos do que possuir melhores condições para cumprir

esta obrigação, sem que seja necessário determinar inocência ou ao menos

ausência de culpa pela dissolução.

Sendo casamento ou união estável, a reciprocidade do dever de assistência

material é inafastável, pois ambos visam o estabelecimento de legítima sociedade

conjugal e comunhão de vidas. Entretanto, a obrigação não nasce automaticamente

quando dissolvida a união estável, onde deverá acontecer um acordo entre os

cônjuges ou companheiros com o propósito de reconhecer e fixar determinado valor

11 WALD, Arnold. O novo Direito de Família, p. 151 e 152.

25

ou outra forma que possa satisfazer tal encargo alimentar, e se necessário, o

necessitado deverá reclamar judicialmente os alimentos que o outro pode e deverá

então prestar.

2.8 A INFLUÊNCIA DA CULPA PELA DISSOLUÇÃO DO CASAMENTO

O Código Civil de 2002 esclareceu a questão dos alimentos fundados na

culpa pelo rompimento da sociedade conjugal. Anteriormente, o reconhecimento

desta culpa implicava na perda do direito à pensão e também no estabelecimento de

uma obrigação de fornecer alimentos ao cônjuge declarado inocente conforme

disposição do artigo 19 da Lei do Divórcio12, o que gerou uma polêmica doutrinária

que discutia se existia ou não caráter reparatório na obrigação alimentar que, na

verdade se refere à manutenção do alimentando.

Além de tal norma ser evidentemente absurda, sua concretização era

prejudicada pela grande dificuldade na indicação de um culpado pelo fim da

conjugalidade e na preservação da intimidade das pessoas, ainda sem versar sobre

a controversa razoabilidade da imposição de certa sanção a alguém que agiu

externamente de determinada forma, sem conhecer suas razões intrínsecas.

Seguindo este raciocínio, o código atual afasta a obrigatoriedade da

prestação de alimentos pelo culpado, que apenas será obrigado à prestação de

alimentos, dentro de suas possibilidades, caso o “inocente” realmente necessitar

desta.

Por outro lado, observa-se que é mantida a importância da culpa na fixação

de alimentos, pois de acordo com o parágrafo único do artigo 170413 o cônjuge

12 “Artigo 19. O cônjuge responsável pela separação judicial prestará ao outro, se dela

necessitar, a pensão que o juiz fixar.” (Lei n.º 6.515/77)

13 “Artigo 1.704. Parágrafo único. Se o cônjuge declarado culpado vier a necessitar de

alimentos, e não tiver parentes em condições de prestá-los, nem aptidão para o trabalho, o outro

cônjuge será obrigado a assegurá-los, fixando o juiz o valor indispensável à sobrevivência. (BRASIL,

Código Civil)

26

declarado culpado pelo fim do casamento pode receber alimentos caso vier a

necessitar e não tiver parentes em condições de prestá-los, além da ausência de

aptidão para o trabalho.

O sucesso ou o fracasso da sociedade conjugal ocorre pela colaboração de

ambos os consortes, de modo que deve ser observada a solidariedade e o fato de

terem estado casados um com o outro.

Entende-se assim que a importância da culpa para a determinação de

alimentos ao cônjuge culpado é simplesmente quantitativa, de modo a influenciar a

fixação do valor da prestação.

27

3 ALIMENTOS COMPENSATÓRIOS

Uma vez observados os principais aspectos do direito a alimentos, ainda que

de maneira concisa, é possível compreender esta nova figura jurídica denominada

alimentos compensatórios, cuja instituição já é regulada em outros países e vem se

fortalecendo cada vez mais na doutrina e jurisprudência nacional.

Mesmo sem ter uma disposição legal expressa, os alimentos

compensatórios vêm sendo admitidos no Brasil. Por ter pouca coisa em comum com

o conceito clássico de alimentos, o instituto dos alimentos compensatórios recebeu

muitas críticas questionando principalmente sua nomenclatura e seu cabimento.

Entende-se que o tesouro construído ao longo do casamento ou da união

entre os consortes é fruto da cooperação e dedicação do casal e caso ocorra a

dissolução do casamento (ou união), pode acontecer de uma das partes vir a se

encontrar em um padrão de vida mais baixo em relação ao outro, momento este em

que pode surgir o direito aos alimentos compensatórios para aquele “prejudicado”

com a dissolução.

Segundo Rolf Madaleno (2011, p. 952),

“O propósito da pensão compensatória é indenizar por algum tempo ou não

o desequilíbrio econômico causado pela repentina redução do padrão

socioeconômico do cônjuge desprovido de bens e meação, sem pretender a

igualdade econômica do casal que desfez sua relação, mas que procura

reduzir os efeitos deletérios surgidos da súbita indigência social, causada

pela ausência de recursos pessoais, quando todos os ingressos eram

mantidos pelo parceiro, mas que deixaram de portar com o divórcio.”

Ou seja, trata-se de uma prestação periódica em dinheiro realizada por um

cônjuge em favor do outro quando ocorre a dissolução da sociedade conjugal, onde

resultou um desequilíbrio econômico em comparação com o estilo de vida

vivenciado durante a sociedade conjugal, sendo compensada desta forma a

desproporção social e econômica coma a qual se encontra o ex-cônjuge prejudicado

28

em função da separação, comprometendo além de sua subsistência pessoal, suas

obrigações materiais e seu estilo de vida.

Apesar do nome “alimentos compensatórios”, este instituto não tem caráter

alimentar, e sim caráter reparatório, pois visa corrigir ao máximo o desequilíbrio

econômico financeiro conseqüente da separação dos cônjuges. Tal desequilíbrio

reflete não somente nas obrigações patrimoniais do ex-cônjuge prejudicado, mas

também acarreta na perda de benefícios pessoais e sociais, influências,

oportunidades, relações sociais, entre vários outros aspectos que provoquem uma

piora em relação à realidade experimentada durante a união.

Portanto, entende-se que sua finalidade não é atender a necessidades

básicas nem à sobrevivência do credor, mas ressarcir um dano objetivo originado na

dissolução da sociedade conjugal, visando equilibrar o patrimônio de maneira justa

sem pretender igualar a riqueza patrimonial dos litisconsortes. Além da indicação

objetiva deste desequilíbrio, é imprescindível que este tenha advindo da dissolução

da união entre ambas as partes, ou seja, tem que ser conseqüente do momento em

que se verificou a separação ou divórcio, do momento em que foi interrompida a

situação, a posição e o prestígio estabelecidos durante a união, não quando

ajuizado o pedido ou proferida a sentença.

De acordo com a doutrina, a fixação dos alimentos compensatórios está

sujeita à existência de duas condições objetivas, ou seja, depende da dissolução da

sociedade conjugal e do desequilíbrio econômico entre ambos os litisconsortes.

Complementam ainda, Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2012, p. 790-791):

“Defende-se, então, a possibilidade de fixação do pensionamento em perspectiva compensatória sempre que a dissolução do casamento atinge, sobremaneira, o padrão social e econômico de um dos cônjuges sem afetar o outro. Especialmente, naquelas relações efetivas que se prolongam por muitos anos, com uma história de cooperação recíproca. Nessas circunstâncias, advindo o divórcio, após longos anos de relacionamento, o patrimônio comum será partilhado, a depender do regime de bens e o cônjuge que precisar poderá fazer jus aos alimentos, para sua subsistência. Todavia, considerando que um dos cônjuges tem um rendimento mensal mínimo, absolutamente discrepante do padrão que mantinha anteriormente, pode se justificar a fixação dos alimentos em valor compensatório.”

29

Sendo assim, compreende-se que o pagamento de pensão alimentar de fato

não impede a definição de alimentos compensatórios uma vez que aquela tem

natureza alimentar, visando a subsistência do alimentando, enquanto os alimentos

compensatórios tem caráter estritamente indenizatório, independentemente do

regime de bens adotado, pois este não compromete o cabimento dos alimentos

compensatórios.

Diferente da pensão alimentícia, os alimentos compensatórios podem ser

renunciados e sua demanda não é de caráter obrigatório, sendo encaminhados

apenas ao ex-cônjuge ou ex-companheiro para compensar a perda do padrão social

e econômico que resultou do fim da relação entre o casal.

Visto isso, os alimentos compensatórios serão devidos quando houver um

desequilíbrio econômico entre os ex-cônjuges ou ex-companheiros como

conseqüência da dissolução da sociedade conjugal, independente de culpa de

qualquer das partes. Além disso, poderão ser fixados até mesmo nos casos em que

o ex-cônjuge prejudicado com a dissolução ainda tenha condições de prover seu

próprio sustento, pois havendo bens em comum que produzam renda e estejam sob

a posse ou administração restrita de uma das partes, a outra terá direito ao

recebimento de parte dessas rendas.

3.1 ALIMENTOS COMPENSATÓRIOS NO EXTERIOR

Da mesma maneira que diversas outras construções doutrinárias brasileiras,

os alimentos compensatórios surgiram no exterior e foram inseridos no Brasil através

dos doutrinadores.

Sendo assim, a análise dos alimentos compensatórios no exterior vai além

do simples interesse pelo conhecimento, sendo imprescindível para entender melhor

o tema.

Atualmente esta figura jurídica é admitida em vários países como França,

Espanha e Argentina, além da Alemanha, Inglaterra, Itália, Dinamarca, El Salvador,

Áustria, entre outros países.

30

A primeira manifestação de alimentos compensatórios ocorreu quando foi

mencionado o termo Ausgleichsleitung, que em alemão significa linha de equilíbrio,

para basear o estabelecimento deste instituto.

Após a Alemanha, outros países foram de extrema importância para a

evolução desta figura jurídica, destacando principalmente França, Argentina e

Espanha.

Em 1975, na França, foi construída a primeira figura dos alimentos

compensatórios mais sólida, quando a culpa não foi mais considerada na discussão

da determinação destes alimentos e o desequilíbrio econômico passou a ser

considerado de forma objetiva.

A prestação de alimentos compensatórios na França pode ser fixada por

acordo ou por decisão judicial e pode ser paga em uma única prestação ou

mensalmente em dinheiro, seja através da entrega de bens, usufruto de alguma

propriedade ou até mesmo através da cessão de créditos.

Além disso, na França o exercício de profissão não impede que o

litisconsorte prejudicado adquira os alimentos compensatórios, visto que é

necessária a verificação de desequilíbrio econômico que adveio da dissolução da

união sociedade conjugal.

Na Argentina, o direito aos alimentos compensatórios também se originou

após o término da questão da culpa no divórcio, visando restaurar o equilíbrio

patrimonial entre os litisconsortes nos casos em que o rompimento da relação traga

uma diferença notadamente grande entre ambos.

Ainda na Argentina, a polêmica para a determinação ou não de alimentos

compensatórios é meramente objetiva, sendo satisfatória a verificação do resultado

de desequilíbrio econômico em comparação com a forma de vida vivenciada durante

a união, advindo da separação.

Por ser o país mais próximo do Brasil a admitir tal instituto, foi um dos

principais a influenciar na aparição desta figura na doutrina Brasileira, baseando-se

principalmente na descrição do jurista argentino Jorge O. Azpiri (2002, p. 28), que

define os alimentos compensatórios como

31

“uma prestação periódica em dinheiro, efetuada por um cônjuge em favor do outro na ocasião da separação ou divórcio vincular, onde se produziu um desequilíbrio econômico em comparação com o estilo de vida experimentado durante a convivência matrimonial, compensando deste modo a disparidade social e econômica com a qual se depara o alimentando em função da separação, comprometendo suas obrigações materiais, seu estilo de vida e subsistência material.”

Já na Espanha, os alimentos compensatórios estão fundamentados no artigo

97 do Código Civil Espanhol, artigo este que determina vários elementos que devem

ser observados pelo juiz para que possa proceder e determinar a quantidade dos

alimentos compensatórios. Elementos como a vontade das partes, idade e estado de

saúde, qualificação profissional e probabilidade de acesso ao mercado de trabalho,

a dedicação passada e futura à família, colaboração com seu trabalho em relação às

atividades mercantis, industriais ou profissionais da outra parte, duração do

casamento e da convivência conjugal, eventual perda do direito de pensão, riqueza

e meios econômicos e as necessidades de ambas as partes e qualquer outra

circunstância relevante devem ser observados pelo magistrado para determinar a

quantidade dos alimentos compensatórios, mas não influenciam no direito a eles.

Observando as principais características dos alimentos compensatórios nos

países mencionados acima, é possível afirmar que, de modo geral, é necessária a

ocorrência de um desequilíbrio econômico ao fim da relação do casal para que haja

a fixação de tal instituto, baseando-se então em uma condição objetiva, excluindo a

polêmica da culpa pela dissolução da união, discussão corriqueira até recentemente

em casos de separação ou fim da união estável.

3.2 A DURAÇÃO DOS ALIMENTOS COMPENSATÓRIOS

Conforme a doutrina explica, os alimentos compensatórios não têm prazo

predefinido ou fixado de forma padrão disposto em lei, cabendo então ao juiz

analisar cada caso concreto e determinar a prestação de acordo com o que entender

ser mais justo.

32

Para resolver até quando a prestação compensatória será devida, o julgador

deverá observar com muito cuidado a principal característica deste instituto, quer

dizer, evitar o desequilíbrio entre as partes. O magistrado deve evitar que ela se

transforme em alimentos incessantes e em qual ponto passaria a desaparecer o

desequilíbrio econômico que provocou o direito a este instituto.

Para a alteração ou extinção dos alimentos compensatórios é necessária

ação revisional para descobrir se o desequilíbrio econômico continua presente ou se

já foi superado.

É possível existir alimentos compensatórios por prazo indeterminado,

conforme versa Rolf Madaleno (2011, p. 963):

“Podem existir alimentos compensatórios por tempo indeterminado, muitos

próprios daquelas uniões longas, da mulher dedicada à casa e aos filhos,

sem jamais ter trabalhado ou se aprimorado profissionalmente, e contado

com avançada idade por ocasião de seu divórcio”

Nestes casos em que um dos ex-cônjuges se afasta do mercado de trabalho

por acordo entre o casal para promover os interesses de ambos, geralmente a

mulher que se afasta visando cuidar da família, filhos e lar, as chances da pensão

ser vitalícia são grandes, pois há grande dificuldade de conseguir montante

semelhante no mercado de trabalho, visto que não há qualquer experiência, senão a

do cuidado com a própria família e seu lar.

3.3 CRÍTICAS AOS ALIMENTOS COMPENSATÓRIOS

Conforme já visto, a determinação de alimentos compensatórios não tem

natureza alimentar, mas sim indenizatória e está sujeita à existência de duas

condições objetivas, ou seja, depende da dissolução da sociedade conjugal e do

33

desequilíbrio econômico entre ambas as partes, desequilíbrio este que resulte

necessariamente da dissolução.

Justamente por não ter natureza alimentar, a grande crítica aos alimentos

compensatórios versa sobre a nomenclatura do instituto. Alguns autores dizem que

tal nome pode confundir e induzir ao erro, fazendo confusão com alimentos civis,

sugerindo terminologias que acreditam ser mais adequadas, como por exemplo

pensão compensatória, Fração Patrimonial para Reequilíbrio Econômico-Financeiro

Outra grande crítica é quanto ao seu cabimento, onde aparentemente há um

receio da generalização tal instituto, o que acarretaria em um meio facilitador para

pessoas mal intencionadas, em casos de casamentos por interesse puramente

patrimonial, no qual o casal tem uma grande diferença de idade por exemplo.

Entretanto, deve-se ter muito cuidado na sua fixação, visto que apesar de

ainda não haver previsão legal, há vários outros aspectos que devem ser

observados minuciosamente para não dar continuidade ao desequilíbrio econômico,

muito menos autorizar que haja abuso e gere espécie de “aposentadoria”. Muito pelo

contrário, os alimentos compensatórios visam proteger a qualidade de vida de

pessoas que se submeteram e dedicaram parte de suas vidas, se sacrificando em

prol de algo que, além de não lhe render frutos, o tirou de seu meio, de suas

condições, suas relações sociais entre vários aspectos envolvendo também seu

status social.

3.4 ALIMENTOS COMPENSATÓRIOS X ALIMENTOS TRANSITÓRIOS

Visto que não há previsão expressa na legislação brasileira, é comum a

confusão entre os dois institutos, tanto no que tange ao conceito quanto à

abrangência de cada uma das figuras jurídicas.

Alimentos Compensatórios têm clara natureza indenizatória, uma vez que tal

prestação visa corrigir o desequilíbrio econômico gerado com o fim da relação

conjugal, ou seja, tem por objetivo compensar o ex-cônjuge prejudicado pela queda

34

do padrão socioeconômico e de seu status social resultantes da dissolução do

casamento ou união.

Tal prestação pode ser feita através de parcela única, prestação vitalícia,

temporária ou até meso através meramente da entrega de bens, relativamente a

cada caso concreto.

Já os Alimentos Transitórios referem-se à prestação de pensão alimentar por

tempo predefinido, visando suprir temporariamente as necessidades do alimentando

que não possui condições de manter seu próprio sustento, tendo este período como

tempo suficiente para sua inserção ou até mesmo reinserção no mercado de

trabalho.

Enquanto os alimentos compensatórios restringem-se à ex-cônjuges ou ex-

companheiros, por tempo determinado ou não, os alimentos transitórios serão

definidos em situações pontuais sempre com um termo final para sua constância, de

modo a estimular a busca de condições para não depender mais de tal prestação,

que cessará automaticamente após o fim do termo predefinido, diferente dos

alimentos compensatórios os quais exigem razões para a alteração ou extinção da

prestação.

35

4 CONCLUSÃO

O Direito diante da sociedade funciona como um agente transformador, o

qual pretende garantir os valores desta sociedade, uma vez observada a evolução

legislativa que concedeu mudanças significativas para o direito de família.

Sendo assim, é importante que sejam incorporadas novas figuras jurídicas

ao nosso ordenamento, garantindo cada vez mais os valores da sociedade, visto

que com figuras jurídicas são reconhecidos direitos que num momento anterior

talvez não fossem resolvidos ou quando vistos, não eram tratados de forma

específica por serem incorporados à outro instituto legal.

É o que ocorre no caso dos alimentos compensatórios, que vem sendo cada

vez mais estudados e admitidos no Brasil, visando evitar o desequilíbrio causado

pela dissolução da sociedade conjugal.

Os Alimentos compensatórios surgem da identificação objetiva de um

desequilíbrio econômico entre os cônjuges decorrente do fim da relação entre o

casal, seja casamento ou união estável e visa reequilibrar a situação de

desvantagem do cônjuge prejudicado com o término da relação, de modo a restaurar

o estilo de vida que o cônjuge prejudicado dispunha durante a sociedade conjugal,

não porque ambos devem seguir vivendo da mesma forma, mas sim porque uma

das partes não pode decair em sua condição financeira no mesmo momento em que

o outro mantenha a mesma condição que tinha durante a união.

Ainda durante a relação, caso um dos cônjuges descontinuar a cooperação

existente entre eles, a contribuição com a mútua assistência, independente do

rompimento da relação, haverá a possibilidade de pedido de alimentos entre eles.

Sendo assim, entende-se que a obrigação alimentícia entre eles resulta da

frustração do dever de mutua assistência e tem a capacidade de realizar, ou seja,

materializar os efeitos impostos pelo casamento.

Geralmente o rompimento da relação faz com que um dos cônjuges sofra

grande desvantagem em relação à situação do outro, o que expressa um

desequilíbrio que não iria se verificar se o casamento ou união prosseguisse, visto

que é certo que o rompimento não afeta as partes de modo igual.

36

Desta forma, diferente dos alimentos civis que são baseados na

necessidade do alimentando, entende-se que a finalidade desta nova figura jurídica

não é atender a necessidades básicas nem à sobrevivência do credor, mas ressarcir

um dano objetivo originado na dissolução da sociedade conjugal, visando equilibrar

o patrimônio de maneira justa sem pretender igualar a riqueza patrimonial dos

litisconsortes, tendo então um caráter reparatório.

Além da indicação objetiva deste desequilíbrio, é imprescindível que este

tenha advindo da dissolução da união entre ambas as partes, ou seja, este

desequilíbrio deve ser resultante do momento em que se verificou a separação ou

divórcio, ou seja, do momento em que foi interrompida a situação, a posição e o

prestígio estabelecidos durante a união, e não quando ajuizado o pedido ou

proferida a sentença.

Alimentos compensatórios, finalmente, não significam a busca pela

igualdade econômica daqueles que foram casados, mas sim reduzir os efeitos

negativos causados pela súbita e clara alteração no padrão de vida de um dos

cônjuges, visto que a desigualdade financeira já existia durante o casamento, porém

era compensada pelo dever de assistência do cônjuge, ou seja, são devidos para

que haja uma diminuição na disparidade econômica e em todas as áreas que sofrem

os efeitos desta disparidade advinda do fim da sociedade conjugal, visto que na

constância da relação houve cooperação entre ambas as partes, dedicação e mútua

assistência.

37

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