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Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 Crato Ceará Brasil - 2015 1 A PRODUÇÃO ORGÂNICA NOS ASSENTAMENTOS EM SANTANA DO LIVRAMENTO: UMA ANÁLISE DE LIMITES E POSSIBILIDADES Juliana Gomes Moreira 1 Ana Monteiro Costa 2 Marcos Vinicius Dalagostini Bidarte 3 Resumo O processo de assentamento rural foi atípico em Santana do Livramento, RS, durante a sua constituição, sendo formado por agricultores de várias regiões do estado e também do país, os quais trouxeram técnicas e experiências passadas de plantação, diferentes das práticas, basicamente, de pecuária da região da campanha. Este trabalho teve por objetivo fazer uma análise dos entraves e das possibilidades para a produção de alimentos orgânicos nos assentamentos rurais de Santana do Livramento. Adotou-se, partindo do referencial teórico sobre o desenvolvimento territorial, o método do estudo de caso, com 22 produtores. Os resultados mostram que o principal entrave é a pouca estrutura para produção de alimentos, oferecida aos agricultores e a principal possibilidade para desenvolver a produção orgânica é a conscientização dos agricultores dos males trazidos pelos aditivos químicos aplicados nas lavouras. Concluiu-se que é viável a produção orgânica nos assentamentos do município, mediante uma reforma estrutural nos assentamentos, possibilitando maior acesso ao mercado. Palavras-chave: Desenvolvimento Territorial; Assentamentos Rurais; Produção de Alimentos Orgânicos. 1. Introdução Em um país onde a desigualdade convive muitas vezes com bons resultados econômicos, os movimentos sociais podem ser um meio para a luta contra o pré-conceito e má distribuição de renda e riqueza. Vários movimentos surgiram a partir da necessidade de mudança por parte da sociedade, destaca-se no meio urbano a Central Única dos Trabalhadores (CUT), e no campo, o Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST), este último o que mais se destacou por sua força, organização e quantidade de filiados (CARTER, 2010). Impulsionado pela má distribuição de terras, o MST surge com o objetivo de lutar pela reforma agrária e de transformar as terras improdutivas em fontes de renda para uma produção voltada para atender a demanda local. Deste modo, acaba promovendo o 1 Graduanda do Curso de Graduação em Administração, Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), Santana do Livramento, RS, Brasil, e-mail: [email protected]; 2 Professora Adjunta, Universidade Federal do Pernambuco (UFPE), Recife, PE, Brasil, e-mail: [email protected]; 3 Bacharel em Administração, Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), Santana do Livramento, RS, Brasil, e- mail: [email protected].

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Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1

A PRODUÇÃO ORGÂNICA NOS ASSENTAMENTOS EM SANTANA

DO LIVRAMENTO: UMA ANÁLISE DE LIMITES E POSSIBILIDADES

Juliana Gomes Moreira1

Ana Monteiro Costa2

Marcos Vinicius Dalagostini Bidarte3

Resumo

O processo de assentamento rural foi atípico em Santana do Livramento, RS, durante a

sua constituição, sendo formado por agricultores de várias regiões do estado e também

do país, os quais trouxeram técnicas e experiências passadas de plantação, diferentes das

práticas, basicamente, de pecuária da região da campanha. Este trabalho teve por objetivo

fazer uma análise dos entraves e das possibilidades para a produção de alimentos

orgânicos nos assentamentos rurais de Santana do Livramento. Adotou-se, partindo do

referencial teórico sobre o desenvolvimento territorial, o método do estudo de caso, com

22 produtores. Os resultados mostram que o principal entrave é a pouca estrutura para

produção de alimentos, oferecida aos agricultores e a principal possibilidade para

desenvolver a produção orgânica é a conscientização dos agricultores dos males trazidos

pelos aditivos químicos aplicados nas lavouras. Concluiu-se que é viável a produção

orgânica nos assentamentos do município, mediante uma reforma estrutural nos

assentamentos, possibilitando maior acesso ao mercado.

Palavras-chave: Desenvolvimento Territorial; Assentamentos Rurais; Produção de

Alimentos Orgânicos.

1. Introdução

Em um país onde a desigualdade convive muitas vezes com bons resultados

econômicos, os movimentos sociais podem ser um meio para a luta contra o pré-conceito

e má distribuição de renda e riqueza. Vários movimentos surgiram a partir da necessidade

de mudança por parte da sociedade, destaca-se no meio urbano a Central Única dos

Trabalhadores (CUT), e no campo, o Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST),

este último o que mais se destacou por sua força, organização e quantidade de filiados

(CARTER, 2010).

Impulsionado pela má distribuição de terras, o MST surge com o objetivo de

lutar pela reforma agrária e de transformar as terras improdutivas em fontes de renda para

uma produção voltada para atender a demanda local. Deste modo, acaba promovendo o

1Graduanda do Curso de Graduação em Administração, Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), Santana do

Livramento, RS, Brasil, e-mail: [email protected];

2Professora Adjunta, Universidade Federal do Pernambuco (UFPE), Recife, PE, Brasil, e-mail: [email protected];

3Bacharel em Administração, Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), Santana do Livramento, RS, Brasil, e-

mail: [email protected].

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desenvolvimento pessoal dos envolvidos que possuem pouca qualificação para o trabalho

urbano e que, muitas vezes, possuem apenas o conhecimento de técnicas agrícolas e/ou

práticas de manejo de animais, os quais poderiam ser usados para a própria sobrevivência,

mas que não podem realizar suas atividades por falta de terras (CARTER, 2010).

O governo, através do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

(INCRA), participa em conjunto com as lutas do MST de maneira efetiva, pois o INCRA

é o órgão responsável por desapropriar legalmente as terras destinadas aos assentamentos

rurais e facilitar junto ao governo o mantenimento dos assentamentos. Neste ponto,

destaca-se a existência de dois tipos de assentamentos constituídos em Santana do

Livramento, RS, que se diferenciam quanto a sua origem: os assentamentos estaduais,

constituídos através do Banco da Terra e assistidos pelo estado; e os assentamentos

federais, instituídos pelo INCRA e assistidos pelo governo federal (CARTER, 2010).

Santana do Livramento, Rio Grande do Sul, foi fundado oficialmente em 30 de

julho de 1823, e carrega em sua história a formação de latifúndios, com vocação pecuária.

A cultura do gaúcho desses pagos é mais individualista e voltada para as atividades

extensivas e especializadas, sendo esta diferente da cultura alemã e italiana, as quais

possuem o hábito de produção para auto-sustento através da agricultura diversificada e

da utilização da mão-de-obra familiar4. Especificamente, a formação dos assentamentos

rurais em Santana do Livramento agregou agricultores oriundos de outras regiões

colonizadas por italianos e alemães e agricultores que trabalhavam nas fazendas

desapropriadas, o que, posteriormente, gerou conflitos nos assentamentos rurais devido

às suas diferenças culturais (POTOKO, 2011).

O processo de reterritorialização sofrido pelos imigrantes alemães e italianos

ocasionou transformações na Campanha Gaúcha e propiciou novas leituras sobre

mudanças identitárias a respeito da região (CHELOTTI, 2013). Ressalta-se que os

assentados “nativos” de Santana do Livramento, em sua maioria, não trabalhavam com

produção agrícola, ofertando sua mão de obra aos grandes latifundiários para os quais

trabalhavam, em geral, vinculados à produção do gado de corte. Portanto, a vinda destes

imigrantes proporcionou uma nova configuração da Campanha Gaúcha, tendo como base

a experiência que os novos habitantes traziam com a incorporação do saber local.

4O Rio Grande do Sul se difere em termos de desenvolvimento econômico, estrutura fundiária e origem étnica de

formação, grosso modo, entre metade sul, de maioria lusitana, com maior número de latifúndios e mais empobrecida;

e metade norte, com médios e minifúndios, menor desigualdade e com grande participação de colonização ítalo

germânica. Dessas diferenças surgem duas culturas produtivas diversas.

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No entanto, o processo de reterritorialização, caso não seja amparado por

políticas públicas, acolhido pela comunidade e viável economicamente, tende a gerar

evasão nos assentamentos. Nessa perspectiva, a busca por alternativas produtivas que

agreguem valor à produção e que melhorem a qualidade de vida dos agricultores são

fundamentais. Como exemplo, a agricultura orgânica mostrou-se sustentável econômica,

social e ambientalmente em diversos assentamentos.

O Ministério da Agricultura e do Abastecimento (MAPA, 2000) aborda a

agricultura orgânica como um sistema de produção agropecuária e industrial, que adota

tecnologia que otimiza o uso dos recursos naturais e socioeconômicos, com respeito a

integridade cultural. A agricultura orgânica possui como objetivo a auto-sustentação no

tempo e no espaço, maximizando os benefícios sociais e minimizando a dependência de

energias não renováveis e a eliminação do uso de agrotóxicos e outros insumos artificiais

tóxicos, transgênicos, ou radiações ionizantes em qualquer fase do processo de produção,

armazenamento ou consumo, e entre os mesmos, privilegiando a preservação humana e

ambiental, assegurando a transparência em todos os estágios da produção.

Muitos agricultores optaram pela agricultura orgânica como forma de escaparem

dos problemas causados a saúde em função do uso de agrotóxicos e pelo alto preço dos

pacotes tecnológicos (aditivos químicos, pesticidas e maquinário) empregados nas

lavouras. Os produtores vislumbraram ainda um mercado potencial onde os consumidores

exigem alimentos mais saudáveis e que contribuam com o desenvolvimento sustentável.

Essa busca por um novo modo de produção pode ser uma alternativa viável de

permanência dos agricultores na nova terra, visto que, não somente o preço de

comercialização pode vir a ser mais elevado, como as condições de vida e econômicas

tendem a melhorar com esse tipo de produção mais saudável e limpa (IPD, 2011).

Porém, a produção orgânica requer uma série de acessos e é indispensável

analisar os entraves dessa, tais como: as dificuldades para se combater as pragas que

podem vir a ocorrer nas lavouras; a assistência técnica disponibilizada para orientar no

modo de produção; o posicionamento dos assentados diante da agricultura orgânica; os

acessos ao mercado; a infraestrutrura de produção e de logística, entre outros possíveis

fatores desfavoráveis que possam surgir por parte dos próprios agricultores assentados.

Diante deste contexto, o presente trabalho visa discutir o problema cultural do

município de Santana do Livramento acerca dos assentados, bem como a possibilidade

de tornar esses núcleos de produtores familiares como uma alternativa para desenvolver

a produção de produtos orgânicos no referido município. Para tanto, a presente pesquisa

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procurou responder quais os fatores que poderiam ser vistos como favoráveis ou

desfavoráveis à produção de produtos orgânicos. O objetivo geral foi analisar a

viabilidade da produção orgânica nos assentamentos rurais de Santana do Livramento.

Justifica-se essa proposta pela importância de abordar a implantação e

viabilização de assentamentos de reforma agrária, além da busca pela produção agrícola

sustentável. Destaca-se que, do ponto de vista do desenvolvimento para além do

econômico, a produção de produtos orgânicos pode potencialmente gerar benefícios ao

ambiente da região, bem como beneficiar a saúde daqueles que produzem e consomem

tais produtos. Para tanto, a seguir apresenta-se uma breve discussão sobre a reforma

agrária, assentamentos rurais e territorialização e produção de produtos orgânicos. Na

seção subsequente os procedimentos metodológicos, e, após, a seção dos resultados. Por

fim, são apresentadas as considerações finais.

2. Referencial Teórico

O referencial teórico está estruturado de forma a situar o leitor sobre (i) alguns

apontamentos sobre a reforma agrária e (ii) assentamentos rurais e territorialização.

Apresenta-se ainda (iii) um breve histórico sobre a formação dos assentamentos no Rio

Grande do Sul e (iv) a produção de orgânicos como alternativa de sustentabilidade.

2.1 Alguns apontamentos sobre a reforma agrária

A reforma agrária para o capitalismo é apenas uma forma de resolver a questão

social do acúmulo de terras. Quando o Estado assume as desapropriações de terra, os

entraves que as envolviam foram resolvidos, já que o Estado apenas criou uma maneira

de reverter o dinheiro para os capitalistas-proprietários. Como o Estado não garante o

processo dentro da lógica capitalista, as reformas agrárias tem sido apenas movimentos

circunstanciais para amenizar as consequências sociais que a má distribuição de terras

traz, ou seja, a luta pela terra não se restringe apenas ao fato de se apropriar dela, mas sim

lutar contra quem está por traz dessa propriedade, o capital (OLIVEIRA, 2007).

As políticas fundiária e agrícola foram os dois pilares da reforma agrária

brasileira. A política fundiária tem foco na aquisição da terra e a política agrícola centra-

se na permanência na terra adquirida, com um conjunto de ações sociais, técnicas e

financeiras que ofereçam condições para que os assentados permaneçam nas propriedades

e possam gerar renda e melhorar sua condição social. Infelizmente na prática, isso nem

sempre se efetiva (OLIVEIRA, 2007).

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A reforma agrária vem sendo discutida no Brasil desde o início do século XX,

principalmente depois de sua promulgação na Constituição Federal, em seus Artigos 186

e 187, e no Decreto-Lei n° 8.629, de fevereiro de 1993. A reforma agrária foi instituída,

na época, pela ação da “bancada ruralista”, apoiada pela União Democrática Ruralista

(UDR), conseguindo superar o Estatuto da Terra, o qual já trazia muitos direitos básicos

aos trabalhadores do campo (BRASIL, 1988; 1993; OLIVEIRA, 2007).

Para abordar a questão agrária e as lutas pela terra no Brasil, se faz necessário

retomar a constituição da nova agricultura brasileira, que se dá a partir de 1967, com a

posse de Delfim Netto no Ministério da Fazenda, do Governo Castello Branco, através da

incorporação dos pressupostos da Revolução Verde, constituindo, assim, uma

modernização agrícola baseada no capitalismo e domínio do homem sobre a natureza.

Nesse processo, conforme Neto e Hespanhol (2009), o carro-chefe da modernização

agrícola foi o crédito subsidiado, que privilegiou os grandes proprietários de terras,

causando graves danos aos pequenos proprietários de terras.

Para Bocchi et al. (2005), as várias políticas de incentivos à modernização da

agricultura, como por exemplo, o Programa de Garantia de Atividade Agropecuária

(PROAGRO), a criação de vários órgãos de pesquisa como a Empresa Brasileira de

Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e o Programa Nacional de Fertilizantes e Calcário

(PNFCA) contribuíram para formação dos complexos agroindustriais, que aconteceu no

auge do “Milagre Econômico” (1968-1983), quando o PIB cresceu mais de 10% a.a..

Esses complexos industriais trazem uma mudança radical na agricultura brasileira,

transformando-se num dos elementos centrais de acumulo capitalista, porém a custa de

grande desigualdade, já que apenas uma pequena parcela dos produtores rurais usufruiu

das “benesses” do Estado, deixando-se de fora principalmente os minifundiários.

A reforma agrária, apesar de estar presente na Constituição Federal, até hoje não

foi efetivamente realizada, porém a discussão permanece. Segundo Oliveira (2007), essa

discussão exige atenção especial às questões da democracia no acesso a terra, já que os

países capitalistas que desenvolveram mercados de consumo de massas adotaram uma

estratégia na garantia do abastecimento a baixo custo, privilegiaram a agricultura familiar,

geraram empregos e aumentaram os salários reais dos trabalhadores de baixa renda. Para

tanto, promoveram políticas de reforma agrária.

Hoje, tem-se que a questão agrária não se limita à questão econômica, estando o

meio rural vinculado a um modo de vida, que é garantido em um determinado território.

A permanência e a garantia de viabilidade econômica, de sustentabilidade social e

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ambiental das famílias dos agricultores não estão subordinadas aos interesses citadinos,

mas referem-se a uma conquista própria. Por isso, faz-se necessário abordar a questão do

território um pouco mais profundamente.

2.2 Assentamentos rurais e territorialização

Segundo Santos (2004), o território é imutável em seus limites, é uma linha

traçada em comum acordo ou através da utilização de força. Forçadamente, o território

não tem a mesma extensão através da história, mas representa um dado fixo em um dado

momento. Esse território se chama espaço, logo que encarado segundo a sucessão

histórica de situações de ocupação efetiva de um povo, bem como do resultado da ação e

do trabalho de um povo, trabalho esse realizado de acordo com as regras fundamentadas

no modo de produção adotado e no poder soberano as torna coercitivas. É o uso deste

poder que, posteriormente, determina os tipos de relações entre classes sociais e as formas

de ocupação do território.

A ação das sociedades territoriais é condicionada no interior de um determinado

território pelo modo de produção dominante à escala do sistema internacional, sejam

quais forem as combinações concretas; pelo sistema político, que é responsável pelas

formas particulares de impacto do modo de produção; e, pelos impactos dos modos de

produção precedentes e dos momentos precedentes ao modo de produção atual (SANTOS

2004).

No que diz respeito à territorialidade, Raffestin (1993 apud RÜCKERT, 2004)

afirma que a territorialidade reflete a multidimensionalidade do “vivido” territorial pelos

membros da coletividade e pelas sociedades em geral, quer se tratem de relações

existenciais ou produtivistas, sendo que todas são relações de poder, onde os atores

interagem e procuram modificar tanto as relações com a natureza como as relações

sociais.

As relações de território e territorialidade estão diretamente ligadas à reforma

agrária e a luta pela terra e na terra. Primeiro, é necessária a conquista do território e,

posteriormente, a sobrevivência no mesmo, e ambos envolvem poder. No caso da

desapropriação de terras, o poder do dinheiro ou do documento que comprove sua

aquisição; e, no caso da territorialidade, a dificuldade de desenvolver econômica, social

e produtivamente aquele local. A luta pela terra remete ao processo de formação dos

assentamentos agrários (CARTER, 2010).

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2.3 Um breve histórico sobre a formação dos assentamentos no Rio Grande do Sul

Em maio de 1978, cerca de 1.100 famílias de índios Kaingang, procuraram a

ajuda do padre Arnildo Fritzen, responsável por uma casa paroquial no município de

Ronda Alta. Uma semana depois, o Padre Arnildo recebeu a visita de quatro jovens

profissionais de Porto Alegre-RS, que haviam ouvido falar do envolvimento de Arnildo

com uma nova organização progressista da Igreja que ajudava lavradores familiares com

dificuldades. Em maio de 1979, depois da união de uma equipe dinâmica, formada pelo

padre, os jovens profissionais, os trabalhadores rurais e um enérgico economista chamado

João Pedro Stédile, criava-se uma rede local que ajudara, na época, a organizar três

importantes assembléias entre famílias sem-terra (CARTER, 2010).

Recorrendo aos seus contatos políticos, padre Arlindo, em 1° de agosto de 1979,

depois de uma amigável reunião com o governador do estado, Amaral de Souza, e a

garantia de um lote a cada um dos participantes da reunião em trinta dias, ciente da

advertência da invasão das fazendas de propriedade do governo, Macali e Brilhante, as

duas partes iniciavam uma comunicação amistosa. Entretanto, passaram-se 45 dias e a

promessa não foi cumprida e os sem-terra, no dia 07/09, ocuparam a Fazenda Macali, sem

imaginar a dimensão que seu ato teria, iniciaram formão modo de organização do

principal movimento social da América Latina, o Movimento dos Trabalhadores sem

Terra (MST) (CARTER, 2010).

Carter (2010) afirma que o Rio Grande do Sul tem sido de vital importância para

o desenvolvimento nacional do MST. De 1979 a 2005, muitos fatos de extrema

importância para melhorar as condições de vida dos sem-terra aconteceram no estado,

estes expostos na Tabela 1.

Tabela 1 – Fatos importantes para o MST, ocorridos no Rio Grande do Sul entre 1979 e

2005

Ano Evento

1979 Os sem-terra organizam a primeira ocupação planejada de terra.

1981 O primeiro grande acampamento dos sem-terra;

Fundação da gazeta do movimento - O Jornal dos Trabalhadores Rurais

Sem-Terra.

1982 Estabelecida a primeira escola de acampamento.

1984 O primeiro assentamento coletivo.

1985 A primeira ocupação massiva da terra.

1986 A primeira marcha de longa distância.

(Continua)

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Fonte: Elaborado pelos autores adaptado de Carter (2010).

No entanto os maiores conflitos ocorreram no centro e na metade norte do estado

do Rio Grande do Sul. Em relação à estrutura fundiária de Santana do Livramento,

município pautado na produção pecuária com concentração de terras, localizado na

fronteira oeste, divisa com Uruguai, devemos voltar às origens dessa concentração como

forma de compreender tal conflito.

Na primeira metade do século XIX, a concentração fundiária estava associada à

doação de sesmarias pela Coroa Portuguesa, no processo de conquista das fronteiras de

Rio Pardo e Rio Grande, levando à formação dos grandes patrimônios fundiários da

Fronteira Meridional do Brasil. Ao lado dessas doações de sesmarias, as posses por

simples ocupação, as compras e usurpações também marcaram a formação desses grandes

patrimônios. Dentre os maiores proprietários de terra estavam Cirino José de Carvalho e

o Tenente Coronel Severino Ribeiro de Almeida, porém essas doações de terras eram

apenas um dos elementos de uma voraz política fundiária. Mas, para construção desses

patrimônios fundiários, os proprietários precisavam combinar ações para reproduzir sua

riqueza tanto monetária quanto de relações sociais, que ocupava uma importante posição

na análise hierárquica socioeconômica da fronteira (FARINATTI, 2009).

No ano da Independência do Brasil, em 1822, a lei das sesmarias deixou de ter

validade e a ocupação simples tornou-se a única forma de aquisição de propriedade. A

simples ocupação, para Treccani (2009), é a ocupação de terras públicas abandonadas,

comum antes de 1850, e era uma prática conhecida, na qual as pessoas que viviam nessas

terras construíam uma cultura efetiva e uma morada habitual. Porém, em 1850, a Lei de

Terras modificou novamente o modo de aquisição de terras, tornando possível o

reconhecimento de posses adquiridas anteriormente a esse ano somente por meio de um

processo judicial específico (TRECCANI, 2009).

Ano Evento

1990 A primeira confederação estadual de cooperativas;

O primeiro curso de magistério para os educadores do movimento.

1996 A primeira cooperativa de trabalho para levantar fundos para a luta dos

sem-terra.

1997 A primeira escola itinerante para acompanhar as crianças durante as

marchas e mudanças de acampamentos;

A primeira cooperativa de produção de sementes orgânicas.

2003 A organização do primeiro “acampamento permanente”, visando treinar os

moradores da favela para trabalhar no campo.

2005 Criação da primeira agência estadual de notícias do movimento.

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Segundo Ribeiro (2009 apud MONTEBLANCO, 2013), como as grandes

propriedades de pecuária extensiva eram as que ofereciam maior respaldo a população,

moldaram o Pampa e o homem, produzindo modos de vida peculiares, importantes traços

da identidade no rural da campanha, em particular em Santana do Livramento, que

mantém essas particularidades até hoje. Monteblanco (2013) destaca que a constituição

de um espaço rural socialmente vazio, se deu pelo desfecho de uma história de levas de

famílias que aos poucos deixaram o campo, em função das constantes crises na pecuária

e da substituição da lavoura mecanizada.

No que se refere especificamente ao município de Santana do Livramento, entre

as décadas de 1970 e 1990, o processo de diminuição da população rural no município

acelerou, concomitantemente com as graves crises da pecuária, quando muitos venderam

suas terras e outros tantos viram-se desempregados, obrigados então a deixarem o campo.

Além das crises na pecuária, este período foi de inserção da lavoura moderna em Santana

do Livramento, atividade que substituía a mão de obra humana pelas máquinas

(MONTEBLANCO, 2013).

Segundo Chelotti (2013), dos trinta assentamentos localizados no município

santanense, dezoito produzem leite objetivando a geração de renda. A produção é

destinada a Cooperativa Regional dos Assentados da Fronteira Oeste Ltda.

(COPERFORTE), e chega a uma produção diária de 22 mil litros, totalizando 800 mil

litros mensais. Esta produção é comercializada pela cooperativa, a qual possui caminhões

próprios para o transporte do leite e tanques de expansão com capacidade de armazenar

23 mil litros de leite. Essa estratégia de reprodução representa uma mudança na

racionalidade da pequena propriedade da região, que historicamente desenvolve a

pecuária de corte por uma questão “mais” cultural do que de condições desfavoráveis a

outras culturas.

Essas estratégias colaboram para o desenvolvimento da região da campanha que

está menos desenvolvida que outras regiões do Rio Grande do Sul, como a região serrana,

por exemplo, e unem duas diferentes identidades culturais do estado. Para Chelotti

(2009), o encontro entre duas sociedades rurais distintas, camponeses pecuaristas e

camponeses agricultores, tornou-se difícil, produzindo identidades territoriais distintas no

tempo e no espaço. O autor supracitado entende que esses difíceis encontros permanecem

latentes, principalmente na Campanha Gaúcha devido ao processo de reterritorialização

camponesa, sendo que os camponeses sem-terra foram “obrigados” a se defrontarem com

uma diferente identidade territorial, a qual exigiu novas estratégias de sobrevivência, num

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território dominado pelo latifúndio pecuarista e sua composição simbólica e cultural. A

tabela 2 apresenta um comparativo entre os camponeses pecuaristas e os camponeses

agricultores.

Tabela 2 – Características dos camponeses da campanha e camponeses da colônia que

formam os assentamentos rurais de Santana do Livramento

Identidade

territorial

Camponeses da campanha Camponeses da colônia

Origem

Surgiram no século XVII, nas bordas

das primeiras estâncias como

agregados, desenvolvendo atividades

complementares á estância pastoril. A

posse da terra ocorreu por meio de

concessão.

Surgiram no século XIX, nas áreas

florestais desprezadas pela atividade

pastoril, devido ao processo de

colonização com imigrantes europeus.

A posse da terra ocorreu por meio da

aquisição da propriedade.

Etnia

Sua descendência de origem é luso-

brasileira, mas com a presença de

mestiços, afro-brasileiros, hispanos e

indígenas.

Sua descendência majoritária é

ítalogermânica e, em menor, escala

mestiços.

Modo de

vida

Estilo de vida campeiro, com casa de

torrão de barro coberta de capim.

Grande dispersão entre as residências.

Em função das longas distancias, a

vida social comunitária centrava-se

em torno do bolicho de campanha, no

jogo de taba, na corrida de cavalos.

Estilo de vida colonial, com casa de

madeira ou pedra. As residências

localizadas umas próximas das outras,

favorecendo a vida social comunitária

em torno da igreja (católica ou

protestante), e do salão de festas.

Fonte: CHELOTTI (2009, p. 174).

Chelotti (2009) reconhece que hoje essa diferenciação foi amenizada com o

avanço das relações capitalistas no campo, mas que alguns elementos socioculturais são

mantidos pelos camponeses, já que o processo de modernização não foi homogêneo,

atingindo apenas uma parte dos camponeses e desterritorializando os demais. Esses traços

socioculturais não se perderam nessa trajetória de reterritorialização, mesmo essa sendo

longe dos territórios antigos de vida dos assentados, pelo contrário, são marcas da

resistência camponesa diante às diversidades para sobreviver e para sua reprodução social

nos novos territórios (CHELOTTI, 2009).

Monteblanco (2013) afirma que do ano de 1992 até o ano de 2003 foram

instalados 23 assentamentos em decorrência de conflitos que ocorreram em outros

municípios do estado do Rio Grande do Sul, ou seja, os assentamentos não foram

instalados em função de conflitos fundiários, ocupações, acampamentos, etc., ocorridos

no próprio município. Deve-se considerar o fato de que 90% das áreas desapropriadas

entre 1992 e 2003 no país aconteceram pela ocupação de movimentos camponeses

(FERNANDES, 2009 apud MONTEBLANCO, 2013). A Tabela 3 resume esses eventos.

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Tabela 3 – Processo de instalação de assentamentos em Santana do Livramento entre os

anos de 1992 a 2008

Fonte: Elaborado pelos Autores adaptado de Monteblanco (2013).

Porém, a chegada e adaptação dessas novas famílias aos novos locais de vida foi

conturbada. Chelotti (2013) conta que a chegada das famílias sem-terra despertou

preconceito e descriminação por parte de alguns moradores do município. Esses fatos

influenciaram diretamente na adaptação na nova terra. Primeiramente, tiveram de se

adaptar ao ambiente, com campos abertos a perder de vista, ao contrário de seu local de

origem; depois ao clima, que é muito frio no inverno e intenso calor no verão, com

períodos de pouca chuva. Outro fato que causou estranhamento aos recém-chegados foi

o isolamento em relação à vida comunitária, que pela baixa densidade demográfica tem

um pequeno número de comunidades rurais (igrejas, clubes, armazéns), diferentemente

das áreas de origem dos assentados.

Santana do Livramento é o município com maior número de assentamentos do

Rio Grande do Sul, sendo que a maior parte (71%) foi constituída pelo INCRA, e os

demais (29%) adquirida pelo governo estadual. Ressalta-se que 49% foram provenientes

de desapropriações e 51% de compras de terras para a reforma agrária, sendo as

desapropriações feitas pelo INCRA, e as compras realizadas em sua maioria pelo governo

estadual. As áreas que foram compradas pelo governo estadual, nas quais foram

Ano Evento

1992 Instalação do primeiro assentamento com 1.577 hectares, PA Liberdade no

Futuro (Cerro dos Munhoz).

1996–1998 Foram desapropriados mais de 10.000 hectares, onde foram instalados 12

PA's, com 334 famílias assentadas, em decorrência da política de reforma

agrária do Governo Fernando Henrique Cardoso, que consistia em resolver

localizadamente os conflitos de terra.

1999–2002 Entra em cena o Governo Estadual, sob a gestão de Olívio Dutra, que

privilegiou a campanha gaúcha com a instalação de novos assentamentos,

como política de desenvolvimento regional. Foram adquiridos mais de 7.500

hectares em Santana do Livramento pelo governo estadual, onde foram

instalados nove assentamentos, com mais de 254 famílias assentadas.

2003–2004 Não foram instaladas novas áreas de assentamentos, porém iniciou-se um

período de reforma agrária no município, onde o governo federal volta à cena,

com a eleição do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que em 2003

apresentou o Plano Nacional de Reforma Agrária, com meta de assentar 400

mil famílias por meio de desapropriações e 130 mil famílias por meio de

crédito fundiário (FERNANDES, 2009 apud MONTEBLANCO, 2013).

2005-2008 Foram instalados oito novos assentamentos em decorrência das vistorias,

desapropriações e compra de terras em Santana do Livramento, em mais de

6.900 hectares com 266 famílias assentadas, sendo que em 2008 foi o ano da

instalação do último assentamento no município.

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instalados os projetos de assentamentos estaduais, foram reconhecidos pelo INCRA, e os

projetos da reforma agrária da instituição foram implantados, cumprindo todo o processo

de desenvolvimento de assentamentos, que envolve a implantação, a consolidação e a

emancipação dos mesmos (FERNANDES, 2009 apud MONTEBLANCO, 2013).

Os assentados do município, em geral, parecem conscientes da fragilidade do

solo da região por sua condição arenosa e de consequentemente necessitar de um cuidado

maior no manejo. Assim sendo, os agricultores acharam como alternativa, a técnica do

plantio direto, que é viabilizada pela utilização de herbicidas a base de glifosato, o que

descarta a necessidade de revirar a terra. Porém, o uso desse herbicida é utilizado de forma

banal, sendo aplicado em cultivos de arroz, milho, pastagens, hortas, pomares e até em

pequenos serviços ao redor das habitações, não se restringindo apenas ao cultivo da soja

transgênica (VIEIRA, 2011).

Para Vieira (2011), muitos assentados do município de Santana do Livramento

não acreditam nos riscos que estão correndo ao fazer uso dos agrotóxicos, e muitos

relatam que sem os pacotes tecnológicos é quase impossível manter as lavouras. Afora a

crença de “falta de alternativa”, as observações por parte da autora dão conta de diversas

bulas de herbicidas, e mostra uma enorme distância entre as prescrições e a realidade na

aplicação dessas substâncias, principalmente entre os pequenos agricultores assentados,

onde qualquer recurso é escasso.

2.4 A produção de orgânicos como alternativa de sustentabilidade

A produção orgânica pode ser uma alternativa para os assentados da reforma

agrária por, a priori, ter um menor custo de produção, em função do uso alternativo dos

defensivos, um maior retorno econômico, por ser um produto de maior valor agregado,

além de benefícios ao meio ambiente e à saúde das famílias de agricultores. No entanto,

parte desses benefícios está relacionada à certificação de produção orgânica, que passa

por um processo oneroso e que para muitos agricultores é inacessível.

Segundo Molina (2012), nos últimos dez anos, o mercado mundial cresceu 93%

em comparação a um crescimento de 190% do mercado brasileiro. Em 2008, o Brasil

passa a liderar o ranking dos maiores consumidores mundiais de agrotóxicos,

ultrapassando os Estados Unidos. Em 2010, o mercado brasileiro movimentou cerca de

U$ 7,3 bilhões, o que representou 19% do mercado global de agrotóxicos. De acordo com

a pesquisa, existe uma concentração do mercado de agrotóxicos em determinadas

categorias de produtos. Alguns exemplos são os herbicidas que representaram, em 2010,

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45% do total de produtos comercializados, os fungicidas 14% do mercado nacional; os

inseticidas 12% e as demais categorias de agrotóxicos 29% do consumo.

Deste modo, Hespanhol (2010) verifica que o ritmo da modernização da

agricultura reduziu, a partir do início da década de 1980, em razão da crise econômica

mundial e das crises fiscal e financeira que atingiram o Brasil. Mesmo assim, a agricultura

moderna em bases empresariais expandiu-se e continua esse processo por meio do

crescimento das áreas de cultivo de soja, de milho, de algodão mecanizado e de cana-de-

açúcar. Diante disso, o autor supracitado afirma que a agricultura moderna apesar de seus

perversos resultados sociais e ambientais continua prevalecendo no âmbito nacional e

global.

Em contra partida à produção convencional, a produção orgânica, sem o uso dos

pacotes tecnológicos, vem crescendo, recorrendo aos aprendizados dos antepassados dos

produtores rurais e trazendo uma nova cultura de produção, a chamada agricultura

ecológica (RADOMSKY, 2010).

Agricultores ecológicos não apenas produzem de maneira diferente de

agricultores convencionais, eles constituem também outras formas de

entendimento sobre a natureza e os cultivos. Além disso, suas práticas os

conduzem a diferentes justificativas e conceituações de seu trabalho

(RADOMSKY, 2010, p. 97).

A agroecologia é uma nova abordagem que pode integrar os conhecimentos

científicos agronômicos, veterinários, zootécnicos, ecológicos, sociais, econômicos e

antropológicos aos conhecimentos populares para implementação de sistemas agrícolas,

visando à sustentabilidade (EMBRAPA, 2008).

Quanto ao mercado, segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto de Promoção

e Desenvolvimento (IPD) de 2011, a comercialização de produtos orgânicos ainda está

concentrada em alimentos frescos, como vegetais e frutas, mas o consumo não se restringe

apenas aos alimentos frescos, já que o arroz, os molhos, os condimentos e as conservas

foram bastante procurados na área de alimentos embalados orgânicos. O potencial dos

produtos embalados atraiu investimentos significativos no mercado varejista a partir de

2009.

A pesquisa do IPD (2011) revela que a percepção dos orgânicos, por parte dos

consumidores, é de um produto saudável e sem agrotóxico, não oferecendo riscos à saúde

do produtor, do próprio consumidor e do meio ambiente e o perfil desse cliente é, em sua

maioria, de maior grau de instrução e predominantemente de classe média. Através da

divulgação da garantia de qualidade e da credibilidade do produto orgânico, a procura por

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tais produtos tende a aumentar e, com isso, percebe-se a necessidade de investimentos a

serem efetuados no esclarecimento do consumidor em relação aos benefícios dos

orgânicos. Uma característica importante dos consumidores de orgânicos envolve a

fidelização do produto e a garantia de frequência nas compras. Tal fato atrai novos canais

de vendas para o setor, possibilitando também oportunidades ao pequeno produtor.

A pesquisa do IPD (2011) informa que o Programa de Aquisição de Alimentos

(PAA), uma das ações do Fome Zero, tem por objetivo garantir o fornecimento de

alimentos em quantidade, qualidade e regularidade às populações em situação de

insegurança alimentar e nutricional, e promover a inclusão social no campo por meio do

fortalecimento da agricultura familiar. O programa adquire direitos de aquisição de

alimentos com isenção de licitação, por preços de referência que não podem ser superiores

nem inferiores aos praticados nos mercados regionais, e paga 30% a mais pelo produto

orgânico fornecido pelo produtor da agricultura familiar e ou suas organizações. Outro

canal de vendas de produtos orgânicos é a internet e a venda direta ao consumidor. O IPD

(2011) afirma que o mercado brasileiro apresenta grande potencial para os produtores

locais e para produtores de outros países. No entanto, o maior desafio do setor de

orgânicos, além da garantia do fornecimento, será oferecer produtos com preços mais

acessíveis para os clientes.

Segundo informações passadas pela Cooperativa de Prestação de Serviços

Técnicos (COPTEC), que conta com 12 profissionais nas áreas técnicas, social, entre

outras, e atende 30 assentamentos, existem vários projetos de agricultura orgânica para

os assentamentos de Santana do Livramento, mas as famílias que produzem

organicamente em sua maioria produzem apenas para consumo próprio e para venda

produzem de forma convencional, por falta de infra-estrutura para produzir em maior

escala produtos ecológicos. A COPTEC faz duas visitas anuais em cada assentamento,

por falta de infraestrutura e de contingente, mas, mesmo assim, está articulando uma

forma participativa de certificação que já existe na região metropolitana de Porto Alegre-

RS, que produz arroz orgânico e é certificada pela TAEQ e Companhia de Processamento

de Dados do Rio Grande do Sul (PROCERGS). A seguir são apresentados os

procedimentos metodológicos do presente trabalho.

3. Procedimentos metodológicos

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O presente estudo é do tipo exploratório, com análise qualitativa, realizada

através da aplicação de um questionário semi-estruturados. O método empregado foi o

estudo de caso, que tem por objetivo descrever a situação em que está sendo realizada a

investigação (GIL, 2010). Escolheu-se esse método com vistas a aprofundar a percepção

dos agricultores acerca da produção de orgânicos.

Para tanto, o questionário fundamentou-se em aspectos relativos à produção de

orgânicos, a assistência técnica, o acesso ao mercado e a conscientização sobre o uso de

defensivos químicos. O questionário foi aplicado nos dias 13 de dezembro de 2014, e 4

e 8 de fevereiro de 2015, em 5 assentamentos federais, com total de 20 entrevistados, e 2

assentamentos constituídos pelo estado, através do Banco da Terra, com 2 entrevistados.

A amostra é composta por 22 assentados que produzem, ou não, algum tipo de alimento

orgânico em seus lotes.

A escolha dos assentamentos se deu por informações sobre a produção de

orgânicos, localização e pela viabilidade de execução da pesquisa. As informações

coletadas foram reunidas e comparadas entre si através da análise comparativa, de forma

a discorrer sobre os seus contrastes e similitudes (MARCONI; LAKATOS, 2009). Após,

foram examinadas em conjunto com a teoria, visando, assim, elucidar a problemática e

os objetivos propostos pelo presente estudo.

4. A produção de alimentos orgânicos como alternativa de sustentabilidade: a visão

dos agricultores assentados

Quando questionados sobre a produção de orgânicos, a maioria dos entrevistados

(12) afirmou plantar apenas para o consumo da família. As pastagens para as vacas de

leite são plantadas com a adição de produtos químicos. Foi possível observar durante as

visitas aos assentamentos que há um aumento significativo da monocultura; no caso

cultura da soja para a comercialização, em sua maioria há a adição de químicos.

Observaram-se também pequenas hortas e pomares sem a adição de produtos químicos,

com produção em pequena escala para o consumo dos assentados.

Em relação à razão de produzir sem a adição dos produtos químicos, alguns

entrevistados (8) produzem sem produtos químicos pela preocupação com a saúde, porém

o entrevistado 15 afirma que apesar da preocupação com a saúde, produzir sem o produto

químico é sinônimo de fracasso na lavoura e “não dá quase nada”. Outros entrevistados

(4) dizem plantar sem a adição de produtos químicos pela cultura passada de pai para

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filho, sendo que o entrevistado 18 diz que o seu bisavô o aconselhava a plantar sem o

produto químico pelos danos causados a saúde e ao ambiente.

Com relação ao supracitado, ainda que se considere a limitação da amostra,

pode-se perceber uma resistência à produção “modernizada” por parte dos assentados

entrevistados, isto é, com a utilização de químicos, pesticidas e maquinários, indo em

direção às técnicas contemporâneas de aproveitamento ecológico, concomitantemente

com um tipo de retorno à agricultura praticada pelos seus pais e avós. Essa relação

passado-presente vinculada à agricultura ecológica, que não recebia o nome de ecológica,

embora não fizesse uso de produtos químicos nas lavouras, mas tinha o conceito

contemporâneo da agricultura ecológica, que de acordo com o Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento (2000), é considerada um sistema orgânico de produção

agropecuária e industrial, onde se adotam tecnologias que otimizam o uso de recursos

naturais e sócio-econômicos, respeitando a integridade cultural e tem por objetivo a auto-

sustentação no tempo e no espaço além da maximização dos benefícios sociais e a

minimização da dependência de energias não renováveis e a eliminação do emprego de

agrotóxicos e outros insumos artificiais tóxicos.

Alguns entrevistados (10) afirmaram plantar sem o produto químico por falta de

recursos financeiros para a aquisição dos pacotes tecnológicos, e outros entrevistados (2)

afirmaram não produzir nenhum produto orgânico pela facilidade trazida com a adição

de produtos químicos, já que a aplicação dos secantes e dos agrotóxicos combatem as

pragas e diminuem a força de trabalho.

Indagados se possuem conhecimentos sobre os programas técnicos que

esclarecem e orientam em relação à promoção da produção orgânica, a maioria dos

entrevistados (11) respondeu possuir conhecimentos sobre os programas de incentivo aos

orgânicos. Alguns entrevistados (3) ressaltaram que quando o técnico é requisitado a

comparecer na propriedade e este não vai, apenas cumpre seu roteiro de visitas.

Os entrevistados (10) que responderam “sim” quando questionados se detinham

conhecimentos sobre os programas técnicos quanto à produção orgânica, foram

questionados se esses programas os influenciaram na decisão de produzir organicamente.

A maioria dos entrevistados (6) afirmou que foi influenciada pelos programas, porém

alguns entrevistados (2) afirmaram não terem sido influenciados pelos programas e ainda

ressaltaram o fato das famílias se organizarem para produzir produtos orgânicos.

Questionados sobre o que eles pensavam que poderia ser feito em suas

propriedades para que houvesse um aumento na produção de orgânicos, alguns

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entrevistados (6) atentaram para a falta de incentivo financeiro por parte do governo, de

políticas públicas, de mais informação, aproveitamento do preço de mercado

diferenciado, ingresso ao mercado e principalmente acesso à certificação. Outros

entrevistados (5) observam a ocorrência de falta de mão de obra, pois, em muitos casos,

residem apenas o casal nos lotes. Os entrevistados (6) também destacaram a falta de

assistência técnica e de maiores informações sobre experiências que deram certo como

forma de incentivo, além de sementes que resistam sem o uso de produtos químicos. Além

disso, apontam a certificação como modo de incentivo à produção de produtos orgânicos.

Sobre os empecilhos, um entrevistado reclamou sobre a dificuldade de se fazer

uma grande plantação de produtos orgânicos, já que a terra, em suas palavras, está muito

“judiada” e há muita “erva daninha” e, por isso, optou pela produção do milho

transgênico. Alguns entrevistados (2) responderam não ter interesse em plantar orgânicos.

Diante das respostas dos entrevistados em relação às duas questões supracitadas,

percebe-se empiricamente que, mesmo diante de um cenário promissor quanto ao

mercado de produtos orgânicos, nota-se, na prática, a falta de informações aos assentados

de Santana do Livramento, sobre as vantagens e desvantagens das técnicas da agricultura

ecológica e, principalmente, sobre a crescente demanda por produtos mais saudáveis por

parte dos consumidores. Porém, há consciência quanto aos malefícios causados pela

utilização de produtos químicos. Pode-se verificar que apesar do envolvimento da

EMATER em difundir a agroecologia, há muita dificuldade estratégica. Segundo o

técnico da EMATER entrevistado, poucos agricultores praticam a agricultura ecológica

por falta de assistência técnica, além de que há pouco ou nenhum conhecimento em como

combater pragas sem precisar utilizar agrotóxicos.

Em relação aos agricultores que praticam a agricultura orgânica, estes visam o

estilo de vida herdado de seus familiares, ou mesmo por experiências práticas que deram

certo e que conseguiram fornecer alimentos para as escolas estaduais através do Programa

de Aquisição de Alimentos (PAA), com um maior valor agregado.

A COPTEC desenvolve vários projetos de agricultura orgânica para os

assentamentos de Santana do Livramento, mas as famílias que produzem organicamente,

em sua maioria, o fazem apenas para consumo próprio e, para a venda plantam de forma

convencional, justamente por haver carência de infraestrutura para produzir em maior

escala produtos ecológicos. Os técnicos da COPTEC disseram fazer duas visitas anuais

em cada assentado e alegaram falta de infraestrutura e de contingente. No entanto, ainda

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que exista essa limitação, está sendo articulada uma forma participativa de certificar os

produtos.

Do total de assentados questionados sobre os custos de produção de alimentos

orgânicos vis-à-vis os custos sobre a aquisição dos pacotes tecnológicos, a maioria dos

entrevistados (10) respondeu que gastaria menos produzindo orgânico e que está

preocupada com o aumento da força de trabalho. Indagados se teriam vantagens

financeiras produzindo organicamente, incluindo o custo de produção, como insumos e

força de trabalho, e a maioria dos entrevistados (13) respondeu que teria vantagens

financeiras em produzir orgânicos, porém atentou para a falta de mercado e para o

aumento significativo da força de trabalho. Outros entrevistados (2) citaram a certificação

como entrave à produção orgânica, além do preço diferenciado aparecer novamente como

entrave.

Percebe-se que, além do aumento da demanda por parte dos consumidores por

alimentos mais saudáveis, o aumento da produção orgânica decorre da baixa dependência

por insumos externos e pelo aumento do valor agregado ao produto. Assim sendo, esse

mercado cria uma expectativa de aumento na renda do agricultor e propicia a conservação

de recursos naturais, fazendo com que a agricultura orgânica se apresente como um

mercado sustentável e inovador, criando oportunidades, sobretudo, para os pequenos e

médios produtores, incluindo as comunidades de agricultura familiar e outros vários

segmentos da cadeia produtiva. Em um contexto de busca por fortalecimento para

assentamentos da reforma agrária, essa alternativa se coloca como uma boa via de

sustentabilidade econômica, ambiental e social.

Quando questionados se recebiam visitas de fabricantes de agrotóxicos

oferecendo seus produtos, a maioria dos entrevistados (18) afirmou não receber visitas.

Foi questionado o que o produtor considerava como entrave para produzir organicamente

e as respostas foram bastante variadas. A resposta mais frequente refere-se à falta de mão

de obra, a carência de assistência técnica e a ausência ou insuficiência de incentivos do

governo para a produção orgânica, além da falta de mercado e de certificação. A

qualidade da terra como principal entrave foi outra resposta levantada pelos entrevistados,

já que estes alegam que a terra está inçada e não tem como combater as pragas e ervas

daninhas apenas manualmente. Assim, acharam uma alternativa para não revirar a terra,

o que só é possibilitado pela utilização de herbicidas à base de glifosato na técnica do

plantio direto. Porém, o uso desse herbicida é utilizado sem assistência técnica, sendo

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aplicado em cultivos de arroz, de milho, de pastagens, etc., sem o devido controle no

manuseio.

Além disso, alguns entrevistados (6) não acreditam nos riscos que estão sujeitos

ao fazer uso dos produtos químicos. A maioria dos entrevistados (14) relata que sem os

pacotes tecnológicos é quase impossível manter as lavouras. Apenas um entrevistado

citou o clima como maior entrave; outros entrevistados (2) citaram a mão de obra e

também as pragas, como a lagarta. Um entrevistado citou a questão do retorno financeiro

desproporcional ao aumento da força de trabalho exigida por uma plantação orgânica. Já,

para um entrevistado, o fator que mais pesa para o entrave da produção é a falta de

organização do mercado, sugerindo que a produção orgânica deveria ser “puxada” por

um grupo de pessoas interessadas em efetivá-la. Outro entrevistado atribuiu suas

dificuldades à quantidade exigida e a aparência do produto orgânico, geralmente menor

que o produzido com químico.

Quando questionados se faziam parte do PAA ou do PNAE5, a metade

entrevistados (11) não faz parte dos programas, devido a quantidade insuficiente de

produção. Entre os entrevistados que fazem parte do PAA ou do PNAE, alguns afirmaram

não ser repassado nenhum incentivo para quem entrega produtos orgânicos; outros

afirmam não terem repassado alimentos durante o ano passado, por julgarem mais

rentável vender aos seus vizinhos. Em relação ao modo como é realizada a

comercialização de seus produtos orgânicos, alguns entrevistados (4) responderam apenas

repassar para o PAA ou PNAE, e o leite para a COPERFORTE. Neste ponto notam-se

algumas vias de acesso ao mercado por parte dos assentados.

Ainda sobre os fatores que poderiam melhorar o acesso ao mercado, todos os

assentados entrevistados citaram como principal fator a estrutura (estrada e transporte);

alguns entrevistados (3) citaram o aporte financeiro, que poderia ser repassado pelo

governo para a produção de orgânicos. As respostas obtidas mostram a dificuldade de

comercialização da produção dos assentados, não só a orgânica, mas também a

convencional, demonstrando que um dos maiores desafios do setor de orgânicos, além da

garantia do fornecimento, é oferecer produtos com valores mais acessíveis para os

clientes, o que passa por um custo de transporte menor. Porém, o aumento do segmento

de consumidores com maior renda e com responsabilidade social, que buscam produtos

5PAA, Programa de Aquisição de Alimentos e PNAE, Programa Nacional de Alimentação Escolar, são programas

governamentais que privilegiam a compra da produção de alimentos da agricultura familiar, com bonificação para

orgânicos.

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e serviços de alta qualidade, e que leva em conta as considerações em relação ao meio

ambiente, faz com que as perspectivas futuras para o setor sejam bastante otimistas.

Indagados se havia preocupação com a qualidade de vida deles e dos animais da

propriedade, como também quanto ao uso de medicamentos, a qualidade e a quantidade

da alimentação, o grau de estresse entre outros fatores, todos os assentados responderam

que se preocupam com sua própria saúde e a dos animais, por isso tem interesse em

produzir produtos orgânicos. Porém, verificou-se observações variadas sobre o uso de

produtos químicos, mesmo com a consciência dos danos causados a saúde e ao meio

ambiente. Cinco entrevistados tiveram respostas parecidas, citando as dificuldades de

sobrevivência da plantação sem o uso dos agrotóxicos, “ou passa veneno ou morre tudo”,

diz um entrevistado. Para dois entrevistados, não tem como produzir sem o veneno; citam

a necessidade da utilização do veneno para produzir em grande escala. Todos os

entrevistados utilizam equipamentos de proteção individual (EPI) para aplicação dos

produtos químicos e consomem apenas produtos orgânicos de suas hortas.

Um entrevistado observou que o produto orgânico não é apenas uma plantação

sem a aplicação de químicos, mas uma filosofia de vida e a venda dos produtos orgânicos

é apenas uma consequência, sendo que o mais importante é a qualidade de vida trazida

pela produção orgânica. Outro entrevistado afirmou plantar sem os químicos porque eles

contaminam tudo a sua volta e também pelas dívidas que podem vir a acumular se plantar

a cultura da soja para a Agrosoja6, como no caso da quebra de safra. Para um entrevistado,

a questão da saúde é mais importante. Este disse possuir conhecimento de muitos casos

de pessoas que morreram em função da utilização dos produtos químicos aplicados nas

lavouras.

5. Considerações Finais

O objetivo geral da presente pesquisa foi analisar a viabilidade da produção

orgânica nos assentamentos rurais de Santana do Livramento, RS, e obteve-se como

resposta que é viável a produção orgânica nos assentamentos rurais. A importância de se

incentivar de modo diferenciado essa produção justifica-se por esta atender aos três

pilares da sustentabilidade: o econômico, pelo alto valor agregado de um produto

orgânico; o social, pela melhora na saúde devida a ausência de químicos, tanto para o

6Agrosoja Santana Comércio de Produtos Agrícolas Ltda., que compra a colheita dos assentados e encaminha para a

exportação.

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produtor, quanto para o consumidor; e o ambiental, com o uso sustentável do bioma

pampa.

Os entraves identificados foram em relação ao aumento significativo da

plantação de soja nos assentamentos rurais, estimulada por uma forte rede de

fornecimento de insumos, assistência técnica e garantia de compra da produção do

agricultor. Isto traz segurança financeira para os agricultores, já que estes vivem com

muitas dificuldades em seus lotes. Observou-se também que à medida que o

fortalecimento do agronegócio limita as possibilidades de redistribuição de terras, renda

e poder, gerando pouco emprego e tendo alto custo ambiental pela preferência da

monocultura, aumenta-se o uso intensivo de pesticidas e há uma considerável

contribuição para o desmatamento, assim, contrariando os princípios da agricultura

familiar sustentável.

Destaca-se que a força de trabalho escassa, a insuficiente assistência técnica, a

necessidade de práticas de melhoramento nas condições do solo, além de uma necessária

descontaminação deste e a falta de união de todos os assentados que rodeiam as áreas de

transição constituem outros entraves no que se refere uma produção orgânica em maior

escala. As aplicações de produtos químicos em lavouras convencionais contaminam

grandes áreas plantadas, o que compromete as lavouras dos demais assentados.

Apesar dos entraves, menciona-se que há uma consciência e um princípio de

transição por parte dos assentados, pois há possibilidades de uma produção de orgânicos,

mas faltam incentivos para esses produtores, já que a maioria dos assentados produz

alimentos sem químicos apenas para consumo da família. Essa produção orgânica

realizada em pequena escala demonstra que a grande maioria dos assentados tem

conhecimento dos malefícios trazidos pela utilização de químicos, pois busca resguardar

sua saúde alimentar.

Assim sendo, com o envolvimento das equipes que prestam assistência técnica

aos assentados e dos governos federal e estadual, repassando informações, incentivos

financeiros, garantia de valor agregado para os produtos orgânicos, melhores condições

de escoamento da produção, melhor acesso ao mercado, a própria união dos assentados

para uma certificação participativa são fatores que podem culminar na transição de um

plantio convencional para um plantio orgânico. É importante salientar que as diferenças

aqui citadas foram trazidas pela visão dos próprios assentados e, apesar da amostra não

ser representativa do todo, permite inferências sobre os assentados de Santana do

Livramento. Sugere-se a continuidade de estudos sobre alternativas que possam

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potencializar a produção da agricultura familiar e, assim, o desenvolvimento territorial da

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CLIMA, POBREZA E DESERTIFICAÇÃO: UMA ANÁLISE DAS

VULNERABILIDADES MUNICÍPIO DE IRAUÇUBA - CEARÁ

Francisco Aquiles de Oliveira Caetano1

Milena Monteiro Feitosa2

Raquel Neris Texeira3

José de Jesus Sousa Lemos4

Resumo

O clima semiárido e caatinga dotam a região Nordeste de característica e dinâmicas

únicas, contudo essas particularidades tornam essa área mais sensível a mudanças. A

desertificação é resultado do uso inadequado dos recursos naturais diante de um ambiente

frágil. O presente estudo expõe um diagnóstico socioeconômico-ambiental em Irauçuba,

Ceará, um dos municípios mais afetados pelo processo de desertificação no Brasil. A

pesquisa foi feita através de questionários estruturados e semiestruturados aplicados em

cinquenta (50) famílias da área rural do município, realizada durante o mês de outubro de

2014. Observou-se que 66% da população não tem qualquer tipo de coleta de lixo, que

78% das famílias tem renda domiciliar de até um salário mínimo, 30% não tem onde

colocar os seus dejetos e 72% dos entrevistados não sabe o que é desertificação. Ficou

constatada a elevada vulnerabilidade socioeconômica da população rural desse

município, evidenciada pelos altos índices de pobreza e exclusão social, que inclui o não

acesso a bens e serviços sociais públicos. A pesquisa conclui que as medidas de prevenção

à desertificação implicam em um incremento no desenvolvimento econômico e nos níveis

de educação, bem como uma melhoria nos padrões tecnológicos de exploração dos

recursos naturais em Irauçuba.

Palavras-chave: Desertificação; Pobreza rural; Degradação dos recursos naturais.

1. Introdução

A desertificação é um dos mais graves fenômenos ambientais em escala global,

suas implicações decorrem em agravamento dos quadros social e econômico, da

degradação da cobertura vegetal, do desaparecimento da fauna nativa e da mudança da

paisagem. O uso inapropriado dos recursos naturais é a principal fonte de degradação do

patrimônio biológico da caatinga, bioma predominante no semiárido nordestino.

Frequentemente, as atividades econômicas são acompanhadas de desmatamentos

indiscriminados da vegetação local, ocasionando graves consequências para os geótopos

e para as biocenoses (ALVES; DE ARAUJO; DO NASCIMENTO, 2009). Esse processo

1 Graduado em Ciências Econômicas, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza-CE/Brasil,

[email protected] 2 Graduada em Ciências Econômicas, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza-CE/Brasil,

[email protected] 3 Estudante de Agronomia, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza-CE/Brasil, [email protected] 4 Dr. Professor de Economia, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza-CE/Brasil, [email protected]

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tem início com a retirada da cobertura vegetal para dar lugar a culturas de ciclo curto e

também com a remoção da vegetação arbustiva para dar lugar a pastos, comportamento

responsável pela perda da proteção do solo contra o processo de erosão.

A Organização das Nações Unidas (ONU) realizou em 1977 a Conferência das

Nações Unidas sobre a desertificação, motivada pelo agravamento ambiental da região

de Sahel, na África subsaariana. O tema foi recorrente em outras convenções da ONU,

contudo, em 1992, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o

Desenvolvimento (Rio 92), concluiu que a degradação em terras áridas, semiáridas e

subúmidas secas, havia aumentado e que se tornava necessária uma convenção específica

para tratar de desertificação visando maior comprometimento, especialmente de países

desenvolvidos. A Convenção Internacional de Combate à Desertificação (UNCCD5),

realizada em Paris, se iniciou em 1993 e teve o seu término em 17 de junho de 1994, data

que se tornou o “Dia Mundial de Combate à Seca e à Desertificação”. A UNCCD definiu

desertificação como o processo de degradação do solo nas regiões áridas, semiáridas e

subúmidas secas, resultante de fatores naturais, como por variações climáticas e secas, e

de intervenções humanas, como em queimadas e manejo inadequado do solo (UNCCD,

1996).

Segundo a CEPAL2 (2007), mais de 50% das terras da América Latina e do

Caribe estão degradadas. No Brasil, a região Nordeste, o norte de Minas Gerais e o norte

do Espírito Santo são as áreas mais afetadas. Alguns núcleos de desertificação que foram

identificados no Atlas das Áreas Suscetíveis à Desertificação no Brasil, do BRASIL

(2007), são Irauçuba(CE), Cabrobró(PE), Gilbués(PI) e Seridó(RN). Esses municípios

compartilham, além de secas e solos degradados, altos índices de pobreza e exclusão

social (LEMOS, 2012).

O Nordeste brasileiro, por encontrar-se em grande parte inserido nos climas

semiárido e subúmido seco, apresenta um baixo índice pluviométrico, além de

precipitações irregulares concentradas no início do ano, altas taxas de evapotranspiração

e baixa fertilidade natural, ou seja, fatos que obstaculizam o desenvolvimento de práticas

agrícolas. A população pobre dessas áreas tem uma grande dependência dos recursos

naturais para a subsistência e, diante das necessidades fisiológicas básicas, extraem de

um ambiente que já é frágil contribuindo assim para o incremento dessas dificuldades.

Devido à matriz energética regional ser predominantemente preenchida pelo uso de

5 United Nations Convention to Combat Desertification 2 CEPAL - Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe

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madeira na forma de lenha ou de carvão, o bioma da caatinga é fortemente atingido pela

extração desordenada de seus recursos. Isto se deve ao fato desse bioma ser

constantemente confundido com vegetação morta, pelos troncos desfolhados e seu

aspecto esbranquiçado e seco que prevalecem durante a maior parte do ano.

O estado do Ceará apresenta em torno de 92% do seu território inserido no clima

semiárido, e 14% de sua superfície está em processo de degradação, portanto suscetível

à desertificação (SOUSA, 2000). O município de Irauçuba, situado no noroeste do estado,

faz parte de um núcleo de áreas degradadas que também inclui os municípios de Forquilha

e Sobral, e foi identificado como área-piloto no mapeamento de áreas de atenção especial

(BRASIL, 1998), passando a receber maior atenção do Ministério do Meio Ambiente e

de outras instituições de fomento.

Devido à relevância do tema para o estado do Ceará e para o Nordeste semiárido

em geral, esta pesquisa busca avaliar o estágio atual de indicadores sociais e econômicos

do município de Irauçuba e como esses indicadores se rebatem agravando o processo de

degradação daquele município. De forma específica a pesquisa objetiva: a - investigar o

estágio atual dos indicadores sociais e econômicos de Irauçuba; b – aferir a influência de

variáveis socioeconômicas na desertificação do município de Irauçuba/CE, bem como

avaliar o comportamento da população rural diante do quadro de degradação do

município.

1.1 Revisão de Literatura

A desertificação é um fenômeno que provoca, além de impactos sociais,

ambientais e econômicos, o deslocamento de milhares de pessoas em busca de terra e

comida. Um dos primeiros registros de preocupação com esse tema no Brasil data do ano

de 1956, quando aconteceu o XVIII Congresso Internacional de Geografia, no Rio de

Janeiro, que decorreu na criação da Comissão Especial para Estudo da Desertificação em

Terras Áridas. No ano de 1972, houve a criação de um novo grupo de trabalho sobre

desertificação, e em 1976, no Simpósio sobre Desertificação em Terras Áridas, realizado

em Moscou, os frutos desse esforço apareceram com a apresentação de inúmeros estudos

sobre o tema. Contudo, apenas em 1977, na Conferência de Nairobi, sob coordenação da

ONU, a temática extrapolou a esfera geográfica, passando a assumir um carater global e

interdisciplinar (CONTI, 2008).

A forte seca que atingiu a região de Sahel, situada na África subsaariana, entre

os anos 1968 a 1974, intensificou a pobreza, a fome, a destruição dos recursos naturais e

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aumentou, sobremaneira, os movimentos migratórios no continente Africano. Esse

quadro degradativo chamou a atenção mundial e motivou a ONU, através do Programa

das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA, a criar a primeira Conferência das

Nações Unidas sobre a Desertificação, no ano de 1977 em Nairobi, que gerou o Plano

Mundial de Ação contra a Desertificação. Surgiu a primeira delimitação oficial do que

seria desertificação, que foi definida, então, como a deterioração do potencial biológico

da terra que pode conduzí-la a condições similares a de um deserto, ademais foi elaborado

um mapa (Figura 1) que representa as áreas em risco de desertificação, de forma a

demonstrar a distribuição espacial desse tipo de degradação. Houve a participação de 95

países, incluindo o Brasil que, através de pesquisas coordenadas por João Vasconcelos

Sobrinho, apresentou um Relatório Nacional nessa conferência. Até aquele momento, a

desertificação só havia se apresentado como preocupante no continente africano (PAN-

BRASIL, 2005).

Figura 1. Mapa das áreas de risco de desertificação da Conferência sobre Desertificação das

Nações Unidas (1977)

Fonte: Ministério do Meio Ambiente e Recursos Hídricos e da Amazônia Legal, 1992 apud SUERTEGARAY, 2001.

Uma das maiores contribuições da Conferência sobre Desertificação de Nairóbi

foi a inserção dessa temática na pauta da comunidade científica e do governo Brasileiro.

Entre os pesquisadores do PNUMA, era forte a tendência em creditar as causas da

desertificação aos fatores climáticos, principalmente porque Sahel, área que se

apresentava em elevado processo de degradação, havia vivenciado uma forte seca nos

anos anteriores. Era comum a proposição de termos técnicos para diferenciar a formação

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de desertos causada por fatores naturais ou antrópicos, definidos como desertificação e

desertização, respectivamente. Na década de 1980, intensificaram-se as pesquisas em

Universidades e órgãos brasileiros de meio ambiente, no sentido de unificar o

conhecimento e aprofundar os estudos. O termo mais utilizado, à época da Conferência

de Nairobi, “formação de desertos”, foi posteriormente substituído por desertificação

(MEUNIER, 2008).

Apesar dos avanços na discussão conceitual sobre desertificação no decorrer dos

anos 1980, só se pode observar um verdadeiro alinhamento a partir da publicação da

Agenda 21, na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,

CNUMAD / ECO-92, realizada no Rio de Janeiro em 1992. Esse documento dedica todo

o capítulo 12 para tratar da Luta Contra a Desertificação e o Efeito da Seca, além de

ratificar a importância dos países signatários assumirem o compromisso com um

desenvolvimento sustentável, como estratégia para reduzir a pobreza e melhorar a

qualidade de vida de milhares de pessoas que vivem em ecossistemas frágeis.

Por meio da Conferência realizada no Rio de Janeiro, foi viabilizada a

Convenção Internacional de Combate à Desertificação da Organização Nações Unidas –

UNCCD, ou simplesmente CCD, realizada durante o ano de 1993 e concluída em 17 de

junho de 1994, com a aquiescência de mais de 150 países, inclusive o Brasil. Ficou

estabelecido que no dia de conclusão dessa convenção fosse celebrado o Dia Mundial de

Combate à Desertificação e à Seca (LUZ, 2007). Deve-se fazer uma ressalva a esta

definição, tendo em vista que seca é um fenômeno natural que não há formas de combater,

mas de encontrar mecanismos ou instrumentos tecnológicos, de políticas ou de

alternativas para que as populações possam mitigar e conviver sob regime de seca. Mas

jamais combate-la, por ser impossível.

O conceito de desertificação atualmente válido e internacionalmente aceito é o

mesmo que foi elaborado pela Convenção Internacional de Combate à Desertificação

(CCD), fundada na França em 1994. Após alguns anos de estudos e discussão e com a

efetiva contribuição da Agenda 21, a CCD conceituou desertificação como “a degradação

das terras nas zonas áridas, semiáridas e subúmidas secas resultantes de fatores diversos

tais como as variações climáticas e as atividades humanas” (UNCCD, 1996).

No que se refere às causas naturais, destacam-se os eventos climáticos extremos,

como a seca, que é responsável por níveis de precipitação pluviométrica abaixo da média

e que acarreta deficiência hídrica, solos mais frágeis, afeta o desenvolvimento da

vegetação local e compromete as práticas agrícolas. As fortes chuvas também contribuem

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para o agravamento da desertificação removendo os sedimentos da camada superficial do

solo, especialmente em áreas onde o solo se encontra desprotegido, em decorrência do

desmatamento.

Denota-se como forte a contribuição das intervenções humanas nesse processo,

que ocorrem, principalmente, pela retirada da cobertura vegetal do solo e pelas práticas

agrícolas predatórias que induzem ao uso inadequado do solo para a agricultura. Outros

fatores agravantes do processo de desertificação são a utilização excessiva de

agroquímicos, em geral ou ainda nas práticas inadequadas de irrigação, que provocam

salinização dos solos. As queimadas, a pecuária extensiva, a lavoura itinerante, o reduzido

tempo de pousio para as áreas cultivadas e o uso intensivo dos solos, também são

elementos que podem ser citados como fatores da ação antrópica que agravam a pressão

sobre os recursos ambientais.

Para a classificação climática é utilizado o índice de aridez, criado em 1948 que

relaciona a quantidade de precipitação pluviométrica anual com a perda máxima possível

de água através de transpiração e evaporação - evapotranspiração potencial. O índice

define o clima das regiões terrestres em cinco classes, porém as áreas que estão sujeitas a

desertificação são apenas as classificadas como Áridas, Semiáridas e Subúmidas Secas,

ou seja, as que se encontram entre 0,05 e 0,65 (Tabela 1).

Tabela 1: Classificação do clima de acordo com o índice de aridez.

Fonte: Conselho Nacional do Meio Ambiente – Resolução No. 238/97 (Conama, 1997)

A forma como evolui a desertificação deve ser amplamente conhecida e

divulgada entre os sujeitos diretamente envolvidos, sobretudo os agricultores, a fim de

evitar o seu surgimento ou avanço em áreas susceptíveis e barrar a sua expansão em áreas

que já foram atingidas. Essas etapas de agravamento são de fácil constatação e podem ser

identificadas pela população, caso seja instruída para isso. Em Irauçuba foi desenvolvido

o projeto Folha Educativa Irauçuba, que busca levar até a população as informações sobre

esse andamento e sobre o quadro atual do município. Com base nas informações de

Raviolo (2012), pode-se definir as etapas desse processo em: 1) Elimina-se a cobertura

Classes Climáticas Índice de Aridez

Hiperárido < 0,05

Árido 0,05 – 0,20

Semiárido 0,21 – 0,50

Subúmido Seco 0,51 – 0,65

Subúmido Úmido > 0,65

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vegetal da terra, seja por desmatamento, excesso de pastoreio ou queimadas; 2) Sem

cobertura vegetal, perde-se a reposição de matérias orgânicas que alimentam e dão

fertilidade ao solo. A terra fica nua e exposta ao sol calcinante; 3) Havendo pecuária

com muitos animais em pequenos espaços, há consequentemente a compactação do solo;

4) As propriedades físicas do solo são afetadas. A terra fica dura, a água das chuvas não

infiltra e passa a escorrer pela superfície; 5) A água se transforma em inimiga da terra.

Ao escoar pelos declives carrega a camada superficial do solo, a mais rica. Em lugares

com declives fortes o processo é mais rápido; 6) As ventanias agregam sua quota de

erosão, carregando a terra solta. 7) A vida vai embora. Recuperar áreas que chegaram a

esse estágio de degradação é muito difícil e economicamente inviável. A terra pode se

tornar estéril.

Os procedimentos de recuperação de solos degradados são bastante dispendiosos

e, dependendo do nível de degradação, podem ser considerados economicamente

inviáveis. Em algumas localidades, devido ao elevado grau de depredação, esses solos

podem estar em situações irrecuperáveis ou até mesmo estéreis. Alguns estudos apontam

para procedimentos alternativos para barrar e também recuperar solos degradados, como

o estudo desenvolvido por Thales Carvalho e Edinaldo Barros na Universidade Federal

Rural de Pernambuco (UFRPE), que sugere a utilização da espécie vegetal Atriplex

nummularia L. para solos degradados por salinização, além de poder ser utilizada como

forragem para o gado. Teixeira (2014) entrevistou a indiana Suprabha Seshan que sugere

que o replantio de espécies nativas da região, com técnicas simples de jardinagem, pode

recuperar áreas degradadas pela ação humana. O processo, que foi intitulado de Green

Phoenix (Fenix Verde, em tradução livre), foi utilizado com sucesso no Santuário

Botânico Guruluka (SBG) na Índia, e propõe a conscientização das populações nativas

para que compreendam a importância da conservação da biodiversidade, a fim de manter

o equilíbrio entre o homem e o meio ambiente.

De acordo com as projeções publicadas no estudo Mudanças Climáticas,

Migrações e Saúde: Cenários para o Nordeste Brasileiro, 2000-2050

(CEDEPLAR/UFMG e FIOCRUZ, 2008), o Nordeste será uma das regiões mais afetadas

pelas mudanças climáticas; desigualdades sociais e econômicas serão acentuadas e a

migração da população mais carente para os grandes centros urbanos será cada vez mais

constante. O estudo mapeou algumas consequências sociais e econômicas das mudanças

climáticas sobre a região nas próximas décadas. Dentre as principais conclusões estão:

Maior suscetibilidade a surgirem casos de desnutrição infantil no Maranhão e de

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mortalidade infantil por diarreia em Alagoas, no Maranhão e em Sergipe; Maior

suscetibilidade à ocorrência de esquistossomose na Bahia, de leishmaniose tegumentar

no Maranhão, de leishmaniose visceral no Maranhão e no Ceará, de leptospirose no Ceará

e em Pernambuco, e de Chagas em Sergipe; Entre 2030 e 2050, aumento significativo

(até 24%) na taxa de migração das áreas mais carentes para os grandes centros urbanos

do Nordeste e de outras regiões; Agravamento das doenças crônico-degenerativas da

população de idosos, que aumentará de tamanho e deverá contribuir para uma elevação

de R$ 1,43 bilhão nos gastos com saúde em 2040; Encolhimento de 79,6% nas terras

cultiváveis do CE, de 70,1% nas do PI, de 66,6% nas da PB e 64,9% nas de PE; Queda

de 11,4% na taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Nordeste

(CEDEPLAR/UFMG e FIOCRUZ, 2008).

É importante frisar que a grande maioria das ações invasivas do homem tem

origem na pobreza e na insegurança alimentar (PAN BRASIL, 2005). Logo, se pode

concluir que estas são as causas e, simultaneamente, as consequências da desertificação,

pois a busca por extrair cada vez mais de um ambiente bastante fragilizado acarreta no

esgotamento dos recursos e, consequentemente, em desertificação.

A relação cíclica entre pobreza e desertificação/degradação começou a ser

evidenciada a partir do relatório de Brundtland, publicado em 1987, conhecido como

Nosso Futuro Comum, onde se debateu a ideia de crescimento econômico ligado à

preservação ambiental. Percebeu-se que a pobreza rural acelera os processos de

degradação e cria um “círculo vicioso”, composto por diversos fatores econômicos,

sociais e ambientais.

A desertificação que decorre de um processo avançado de degradação dos

recursos naturais, pode ser compreendida como agente responsável pela pobreza e

também como consequência dela. O esgotamento dos recursos naturais em regiões

atrasadas em infraestrutura e serviços básicos, como no Nordeste brasileiro, é um dos

principais obstáculos para que uma população pobre busque a subsistência, quase sempre

pela agricultura. A pobreza rural, em um quadro onde são escassas as alternativas de

subsistência, potencializa o mau uso dos recursos disponíveis e encontra como única saída

a extração do ambiente ecologicamente frágil, perpetuando o círculo vicioso.

Irauçuba possui área com extensão aproximada de 1.450 km2 e a sua maior

expressão territorial na compartimentação geomorfológica é a depressão sertaneja,

presente em 1.165 km2 (INSTITUTO CACTOS, 2009). Esse tipo de planície favorece a

prática agropastoril, porém é importante que fatores como clima sejam observados para

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que não haja desgaste e degradação da área utilizada. Em Irauçuba, o sistema

convencional de exploração da terra se dá através das culturas de ciclo curto que

produzem, basicamente, milho e feijão, sendo que os agricultores são meeiros e plantam

em propriedades cedidas para este fim. Essa população pobre das áreas rurais

(proprietários ou não) depreda de forma contínua a vegetação natural, dando lugar a uma

vegetação secundária, de baixo valor biológico, ou até mesmo deixando o solo desnudo

e exposto ao sol. Essa forma de produção utiliza pouco capital de investimento e nível

tecnológico baixo, decorrendo em baixas produção e produtividade, e agrava fortemente

o quadro de degradação ambiental (INSTITUTO CACTOS, 2009).

2. Material e Métodos

Irauçuba é um município localizado no estado do Ceará, na região Noroeste, que

dista 150 km da capital Fortaleza. Segundo o Censo Demográfico do IBGE de 2010,

Irauçuba tem uma população de 22.324 pessoas, mas possui apenas 1.722 postos de

empregos formais, a maior parte deles na administração pública (910). O PIB de Irauçuba

no ano de 2012, último dado disponibilizado pelo IBGE, foi de R$103.580.000,00,

assumindo a 90a colocação no estado do Ceará. No mesmo ano, o PIB per capta de

Irauçuba foi de R$4.554,58, fato que deixou a cidade na 110a, perante os 184 municípios

cearenses. É possível observar também que o salário mínimo anualizado de 2012 (R$

7.464) é cerca de 61% superior ao PIB per capta de Irauçuba (R$4.554,58), evidenciando

a grave situação econômica do município.

Há a predominância da agricultura de sequeiro por grande parte da população

rural, uma técnica agrícola de cultivo de terrenos em áreas de baixa pluviosidade. As

lavouras, que em sua maioria são temporárias, são cultivadas para a subsistência e

dependem fortemente da queda de chuvas, que é intermitente ao longo dos anos e

concentrada em alguns poucos meses do ano, quando ocorrem. As mais comuns são

milho, feijão e mandioca. A pecuária e a criação de outros animais também são comuns

nas propriedades rurais de Irauçuba, constantemente praticadas com baixo nível

tecnológico, no qual predominam rebanhos bovinos, caprinos e ovinos.

O município de Irauçuba encontra-se na zona sertaneja, inserida no clima

semiárido, com pluviosidade média anual de 540 mm, temperaturas médias que giram em

torno de 27ºC e umidade relativa do ar que varia de 50% a 80%, a depender do período.

A vegetação predominante no município é a Caatinga, bioma exclusivamente brasileiro,

composta por árvores de pequeno porte, cactáceas e arbustos tortuosos. De acordo com

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Ipece (2013), predominam em Irauçuba solos rasos ou pouco profundos, dentre eles estão

os solos Bruno não Cálcico, Litólicos, Planossolo Solódico e Podzólico Vermelho-

Amarelo. Nestes solos acentua-se as texturas arenosa e argilosa, características que

favorecem os processos erosivos do vento e da chuva.

2.1 Base de Dados

Trata-se de estudo transversal, do tipo descritivo, onde são enfatizados os

aspectos referentes aos níveis de desertificação e pobreza, através de pesquisa de campo,

documental e bibliográfica. No trabalho foram explorados dados primários e secundários

referentes ao município de Irauçuba no Estado do Ceará. Os dados primários foram

obtidos através de pesquisa de campo, com aplicação de questionários e entrevistas

realizadas na zona rural do município. Foi realizado um levantamento de dados

secundários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Instituto de

Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE).

2.2 Definição da Amostra

O presente estudo avaliou cinquenta (50) famílias que vivem na zona rural de

Irauçuba - Ceará. Foi realizada uma pesquisa de campo, no mês de Outubro de 2014, em

que os entrevistados foram escolhidos de forma aleatória, de acordo com

representatividade da população de cada distrito na população total do município. Foram

incluídas famílias que habitam na zona rural da cidade de Irauçuba - CE, representadas

pelos líderes familiares, de ambos os sexos, que concordaram em participar do estudo de

maneira colaborativa depois de provocados pelos pesquisadores.

Para a coleta das informações foi utilizado um questionário semiestruturado

subdivido em quatro partes: a primeira se refere a identificação do entrevistado, a segunda

aborda os indicadores sociais da população estudada, a terceira retrata os indicadores de

produção e a quarta se refere aos indicadores de recursos naturais.

3. Resultados e Discussão

Das cinquenta (50) famílias entrevistadas, os líderes se dividiram em 22 homens

(44%) e 28 mulheres (56%), com idade entre 19 e 78 anos (Tabela 2). Nota-se,

inicialmente, que há uma predominância do gênero feminino na liderança das famílias

estudadas, isso se deve possivelmente à inclusão das mulheres como beneficiárias

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titulares dos programas sociais do Governo Federal e, consequentemente,

administradoras da renda da família.

Tabela 2. Dados sociodemográficos da população estudada (N=50).

Fonte: Dados da pesquisa de campo

3.1 Indicadores Sociais de Irauçuba

O número médio de pessoas por domicílio investigado é de 4,5, com um desvio

padrão de 2,1. Em torno dessa média gravitaram um total de membros familiares variando

de duas (2) a doze (12) pessoas, o que proporcionou um desvio padrão de 2,1. O tempo

de residência na cidade variou de 1 a 74 anos com média de 33,6 anos e desvio padrão de

21,1 anos (Tabela 2).

Das cinquenta famílias entrevistadas, 92% moravam em domicílio próprio, 92%

disseram ter energia elétrica em casa, 46% água encanada, 70% disseram possuir esgoto

ou fossa séptica e 66% apresentam em sua casa um banheiro privado (Tabela 2).

É importante destacar que, apesar de 46% da população apresentar encanamento

de distribuição de água, no período da pesquisa não havia disponibilidade de água para a

maioria dessas residências. A falta de água nas torneiras das casas que a possuem é uma

constante, conforme foi informado pelos entrevistados. No ano de elaboração da pesquisa

(2014), o último açude com disponibilidade de água do município, o Jerimum, que

abastece parte da cidade, encontrava-se com baixo nível de água, estando quase

Variáveis Sociodemográficas Moradores de Irauçuba (N=50)

Sexo. Masculino/Feminino (%) 44

Idade (anos). Média (desvio padrão) 48,0 (15,6)

Tempo que reside na cidade. Média (desvio

padrão)

33,6 (21,1)

Número de familiares. Média (desvio padrão) 4,5 (2,1)

Proprietário da Casa própria. (%) 92

Possui Energia Elétrica em casa (%) 92

Possui água encanada no domicílio (%) 46

Possui Esgoto ou fossa séptica em casa (%) 70

Possui Banheiro privado em casa (%) 66

Coleta de lixo (%)

Nenhuma vez/semana

De uma a duas vezes/semana

Mais de duas vezes/semana

66

32

2

Tem aparelho de Televisão (%) 92

Tem Geladeira (%) 92

Tem Telefone (%) 70

Possui Aparelho de Som (%) 50

Possui Bicicleta (%) 58

Possui Motocicleta (%) 64

Possui Automóvel de passeio (%) 12

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totalmente seco. O abastecimento de água do município estava sendo feito através de

caminhões pipa vindos de outras cidades e a água distribuída é de baixa qualidade, quase

sempre salobra.

Os moradores foram questionados sobre a coleta de lixo semanal e observou-se

que 33 famílias (66%) não tinham acesso a este serviço essencial; outras 16 residências

(32%) tinham coleta de lixo de uma a duas vezes por semana e uma família declarou ter

mais de duas vezes/semana (Tabela 2).

Apesar de haver a presença de um lixão na cidade, a coleta de lixo é bastante

deficitária. Os distritos mais distantes que possuem coleta sistemática, comumente, a tem

devido a existência de escolas-modelo estaduais, como é o caso da localidade de Juá,

onde a população deixa o lixo ao lado da escola, pois o caminhão só vai até este local.

Perguntados sobre qual destino é dado ao lixo doméstico, apenas 30% afirma ter a

cobertura da coleta sistemática, 56% afirmam que queimam todo o lixo e outros 12%

utilizam outros meios para se desfazer do lixo.

Outro fato que merece destaque é o alto percentual de moradores sem acesso a

qualquer tipo de esgotamento sanitário, 30% da população entrevistada. Os dejetos

humanos, de toda essa população, são jogados fora sem qualquer preocupação, com o

único intuito de descarta-los, aumentando a percepção de pobreza e degradação dos

recursos naturais.

(...) se forem privadas de locais adequados para colocarem os dejetos humanos

e também privados do serviço de coleta sistemática do lixo, as famílias pobres

ou socialmente excluídas terão que dar um destino para esses resíduos, e os

colocarão nos córregos, nas ruas, no mato, ou em outros lugares não

apropriados (...) [trata-se] de busca de formas (ainda que inadequadas) para se

livrarem de resíduos indesejáveis, e que não o podem fazer da forma que,

provavelmente, desejariam, por absoluta falta de oportunidade. Afinal,

nenhum ser humano quer conviver com lixo ou com dejetos nas suas

imediações.

Ao agirem dessa forma, acabam contribuindo para a poluição e para a

degradação do ambiente em que sobrevivem. Em assim agindo, tornam-se

mais pobres e incrementam o seu nível de exclusão social, num verdadeiro

processo de ciclo vicioso. Pobreza causa mais pobreza e causa mais

depredação dos recursos naturais e do ambiente. Ciclo que torna-se difícil de

ser rompido na medida em que aumentar o contingente de famílias que estejam

obrigadas a viverem em semelhantes situações (LEMOS, 2012).

Quanto à presença de utensílios eletrônicos no domicilio, quarenta e seis famílias

(92%) relataram a existência de pelo menos uma televisão; 92% têm geladeira; 35

famílias (70%) têm telefone; outros 50% têm aparelho de som. No que diz respeito ao

meio de transporte da população, a grande maioria, 29 famílias (58%) fazem uso apenas

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de bicicleta e 64% utilizam motocicleta. Apenas 12% dos entrevistados tinham um

automóvel para locomoção (Tabela 2).

As motocicletas são o meio de transporte mais utilizados em Irauçuba. O

município tem distritos bastante longínquos, e as estradas de terra batida sempre

obstaculizaram os deslocamentos dentro do próprio município. Porém, com a elevação da

disponibilidade de crédito com maior facilidade, associados ao baixo custo de

manutenção, as motocicletas passaram a ser uma constante, não apenas na sede do

município, mas também nos distritos mais afastados.

A população rural de Irauçuba é bastante envelhecida, devido à alta taxa de

migração da população mais jovem, e isso se reflete nos índices de educação da população

rural. A análise da escolaridade dos moradores e seus agregados, mostra que 46% da

população avaliada maior de quinze anos é analfabeta, 26% têm até quatro anos de estudo,

12% completou o ensino médio e nenhum dos indivíduos analisados tinha o ensino

superior (Figura 2). Parte da população maior de quinze anos que indicou ter até 4 anos

de estudo pode ser considerada analfabeta ou analfabeta funcional, pelo pouco contato

que tiveram com a escola e por saberem apenas desenhar o nome.

Figura 2. Escolaridade de todos os moradores dos domicílios analisados. *Dados

expressos em valores percentuais.

Fonte: Dados da pesquisa de campo.

A renda familiar dos entrevistados variou de nenhuma renda a três salários

mínimos. Observa-se que 2% da população pesquisada não apresentava qualquer tipo de

renda familiar; 16% sobrevivia com até meio salário mínimo por mês no domicílio; 60%

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de meio a um salário mínimo de renda domiciliar; 20% de um a dois salários mínimos de

renda no domicílio, como especificando na Figura 3.

Figura 3. Renda mensal das famílias estudadas no município de Irauçuba- CE.

Fonte: Dados da pesquisa de campo.

Foram pesquisadas, juntamente com os líderes familiares, quais as principais

fontes de renda do grupo familiar, e a maior parte dos moradores (38%) recebia

aposentadoria. Esta informação é um indicador do envelhecimento da população que

permanece no município, um sintoma claro de desertificação, haja vista que os jovens

tendem a emigrar. Observa-se que 18% das famílias entrevistadas participavam de

programas assistências (Bolsa família), 14% da população sobrevivia de atividades da

agricultura, 12% tinham algum tipo de trabalho assalariado, 16% apresentavam outras

fontes de renda e 2% não tinha, sequer, renda familiar (Figura 4).

O agravamento dos quadros de seca e de desertificação colabora de maneira forte

com a migração da zona rural para a zona urbana e desses municípios para as grandes

capitais. Segundo o Perfil Básico Municipal, realizado pelo IPECE (2013), a população

rural do município de Irauçuba em 1991 correspondia a 55,09% da população total, em

2000 correspondia a 44,41% e em 2010 correspondia a 35,75% do total do município.

Esse deslocamento populacional para as grandes cidades, “inchaço urbano”, ocorre

devido ao esgotamento dos meios de subsistência no campo e favorece o surgimento dos

cinturões de pobreza nos centros urbanizados.

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Das famílias entrevistadas em Irauçuba, 14% apontou a agricultura como fonte

de renda, geralmente produzida no período chuvoso dos primeiros meses do ano e que

pode ser classificada com renda não-monetária.

Figura 4. Dados da principal fonte de renda dos moradores de Irauçuba (N=50). *Dados

expressos em valores percentuais.

Fonte: Dados da pesquisa de campo.

3.2 Indicadores de produção em Irauçuba

Ao avaliar as principais atividades produtivas da população zona rural de

Irauçuba, constatou-se que 58% tinham atividade na agricultura, 10% na pecuária, 14%

na área de serviços, 3% tinham outras fontes de renda e 12% não tinham qualquer fonte

de renda monetária. (Figura 5).

Figura 5. Descrição da principal atividade da propriedade ou dos moradores. *Dados expressos

em valores percentuais.

Fonte: Dados da pesquisa de campo.

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As famílias que extraem renda das atividades agrícolas o fazem através do uso

de uma agricultura de sequeiro, em que predominam as culturas de milho e feijão, onde

se produz apenas para a subsistência. A maioria (52%) não detém a propriedade da terra

e a utiliza como meeiro, ou seja, utiliza a terra de terceiros para plantar no período

chuvoso. Quando as chuvas são mais intensas e a produção rende mais que o esperado, o

excedente geralmente é compartilhado com vizinhos e familiares. No geral não vendem

os eventuais excedentes de produção agrícola.

Dos moradores que praticam pecuária em sua propriedade (10%), grande parte

cria animais de pequeno porte como aves, caprinos e ovinos, destinados à alimentação da

própria família.

3.3 Indicadores de recursos ambientais em Irauçuba

Os dados referentes aos indicadores ambientais estão descritos na Tabela 3. Após

questionar os moradores sobre a existência de mata nativa em sua propriedade e sobre o

sumiço de espécies vegetais em sua região, observou-se que grande parte da população

86% não apresentava mata nativa em seus domínios e 61% conheciam espécies vegetais

que tinham sumido, o que sugere uma perda consistente da flora nativa local.

Um dado alarmante desse estudo foi a desinformação de grande parte da

população. Dos entrevistados, 76% não conheciam os problemas ambientais de seu

município e 72% não sabiam o que é desertificação e nem mesmo as maneiras de a evitar

(76%).

Um dos objetivos do Plano de Ação Municipal de Combate à Desertificação de

Irauçuba, lançado em 2009, foi o de criar meios para popularizar as informações sobre

esse tema. Segundo a Lei Municipal 645/2009, que criou a Política Municipal de Combate

à Desertificação, é objetivo “Promover a educação ambiental, para formar pessoas

capazes de atuar na pesquisa, controle e recuperação das áreas degradadas, bem como na

conscientização e sensibilização da população”. Foram colocadas em prática iniciativas

nesse sentido, como o lançamento do Folha Educativa Irauçuba, um pequeno jornal com

informações como causas, consequências e formas de evitar a desertificação. Porém, a

iniciativa não teve muito alcance, visto que a maioria da população rural tem mínimo grau

de instrução, muitos não sabem ler.

Em um programa de entregas de cisternas à população, a secretaria de recursos

hídricos fazia uma série de reuniões com as associações de moradores, com objetivo de

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conscientizar a população sobre temas como desertificação, queimadas e uso consciente

da água. Porém, a maioria sempre se mostrou resistente, principalmente os mais velhos.

Um dado que reflete isso é o desconhecimento dos problemas ambientais do município

por 76% da população.

Um total de 60% (30 famílias), faz uso de queimadas e derruba a vegetação para

limpar o terreno. Ou seja, constantemente observa-se a retirada da cobertura vegetal do

solo, agravando os processos de degradação.

Tabela 3. Indicadores de recursos ambientais dos moradores da Zona rural de Irauçuba.

Fonte: Dados da pesquisa de campo.

A população, de forma leiga, por não conhecer as características da caatinga,

constantemente confunde os aspectos daquele bioma com vegetação morta. Com isso, é

comum observar a população usar a expressão “limpar o terreno” e cortar, além da

vegetação rasteira, também as espécies arbustivas. A maioria (60%), além de cortar a

vegetação local, ainda coloca fogo no terreno, intensificando o quadro de degradação

daquela região.

4. Considerações Finais

Desde a década de 1950, minimizar os desequilíbrios regionais tem sido um

desafio para a administração pública federal e diversas políticas de desenvolvimento

foram implementadas nesse período, em especial na região Nordeste. Contudo, apenas

com a evolução de estudos climáticos ocorridos a partir do final da década de 1970, houve

um esforço para pensar políticas que fustiguem o desenvolvimento sustentável. Muito

disso se deve ao fato dos processos de desertificação acontecerem em áreas que, de forma

geral, tiveram seu processo de exploração e ocupação associados às populações mais

Variáveis de recursos ambientais Sim (%)

Existência de mata nativa na sua propriedade 14

Espécie vegetal que tenha sumido 61

Animais que não existam mais em sua

propriedade

46

Conhecimento de problemas ambientais em

seu município?

24

Sabem o que é desertificação 28

Conhecem Maneiras de evitar a desertificação 24

Utiliza queimadas 60

Derruba e queima a vegetação para limpar o

terreno

60

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pobres e de baixo grau de instrução. Isto posto, tem-se que as medidas de prevenção aos

processos de desertificação implicam em um incremento no desenvolvimento econômico

e nos níveis de educação, bem como uma melhoria nos padrões tecnológicos de

exploração dos recursos naturais.

A pobreza é, evidentemente, um dos motivadores da ação humana interventora

e modificadora no meio ambiente. O agravante se dá quando essa ação interventora ocorre

em ambientes já degradados ou em ecossistemas frágeis, com forte colaboração dos

fatores climáticos, como nas terras degradadas do semiárido nordestino. Esse binômio

pobreza/degradação causa grandes estragos, visto que sugere a presença de um círculo

vicioso entre eles. A ação antrópica desordenada e imediatista, motivada pela satisfação

das necessidades fisiológicas básicas, associada à fragilidade geoambiental, decorre em

aceleração dos processos de degradação e diminuição da área produtiva até o seu

esgotamento, agravando, cada vez mais, os números de pobreza. Ambos os fatores estão

presentes na zona rural de Irauçuba, fortalecendo o processo cíclico entre pobreza e

degradação.

As famílias tinham em média 4,5 pessoas, e 98% delas apresentavam renda igual

ou inferior a dois salários mínimos. O estudo identificou também que para 38% das

residências a principal fonte de renda é a aposentadoria, sugerindo um envelhecimento da

população rural. Esse fato condiz com a realidade da migração de jovens dessas áreas

para os grandes centros urbanos, fato este que contribui para aumentar os números de

desemprego e subemprego, a marginalização, as favelas, além de induzir o

estrangulamento dos serviços públicos básicos.

A maioria da população rural de Irauçuba (78%), não sabe o que é desertificação.

Geralmente esses moradores resumem os problemas ambientais do município à seca.

Além disso, há um desconhecimento total das características do bioma caatinga, visto que

a população confunde aquela vegetação peculiar com vegetação morta e age de forma a

devasta-la sem o conhecimento da sua importância.

Torna-se necessária uma política de desenvolvimento regional específica para

regiões degradadas, que tenha como foco políticas de convivência e defesa contra os

efeitos da seca, proteção e recuperação da biodiversidade, educação ambiental, além de

políticas econômicas que possam garantir o crescimento econômico e o desenvolvimento

sustentável da região. Também é importante a continuidade das políticas de distribuição

de renda e o combate à pobreza extrema, de maneira a garantir o combate a insegurança

alimentar e uma melhor qualidade de vida a essa população.

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5. Agradecimentos

Os autores agradecem a Universidade Federal do Ceará e ao LabSar, Laboratório

do Semiárido.

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desertificação e áreas de atenção especial no Brasil. Brasília: MMA/SRH. 1998.

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in Those countries expecting serious drought and/or desertification, particularly in

Africa. 1996.

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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E TURISMO NO ESPAÇO

RURAL: UMA PERSPECTIVA EXPLORATÓRIA NO TRIANGULO

CRAJUBAR.

Camila Pereira Brígido Rodrigues1

Denis Fernandes Alves2

Maria Daniele Cruz dos Santos3

José Márcio dos Santos4

RESUMO

Tem-se o turismo como uma nova forma de ocupação não agrícola dentro do meio rural,

sendo tema de grandes debates e fazendo com que ocorra ações de políticas públicas para

o desenvolvimento do campo. Apesar de ser uma ramificação do setor da economia global

que mais cresce, trazendo o desenvolvimento local, além de gerar emprego e renda, o

turismo rural no estado do Ceará ainda não é um assunto tão abordado. O objetivo desse

trabalho é discutir algumas proposições para as cidades que compõe o triangulo

CRAJUBAR – Crato, Juazeiro e Barbalha - no interior do estado do Ceará, e como a

exploração do turismo rural sustentável é de grande valia para o desenvolvimento de

famílias roceiras. Optou-se por uma metodologia de análise explanatória, expondo apenas

algumas questões, pois a exploração de tal forma de turismo vem apenas começando a

ganhar força na região. Tendo a noção que o turismo rural é uma importante tática de

desenvolvimento dos pequenos e médios agricultores abre-se espaço para discutir

políticas públicas que se adequem a região, fazendo com que essa forma de turismo ganhe

cada vez mais lugar, tendo assim, por consequência além do desenvolvimento do espaço

rural o desenvolvimento da região como um todo.

Palavras-Chaves: Desenvolvimento sustentável, Turismo Rural e CRAJUBAR

1 INTRODUÇÃO

Desde os anos 1990, vem surgindo uma ampla discussão em torno da

organização da produção agrícola no espaço rural. A modernização do campo provoca

mudanças significativas – novas técnicas de colheita, mecanização, inovações no plantio

– fazendo surgir um novo contexto no espaço campesino, amarrado ao meio urbano. Esse

1 Graduada em Economia pela Universidade Regional do Cariri - URCA, Mestranda em Economia Rural pela

Universidade Federal do Ceará - UFC e bolsista Capes. Fortaleza/Brasil. Email: [email protected]

2 Graduando em Economia pela Universidade Regional do Cariri – URCA e Bolsista de Iniciação Cientifica do

Programa Integral de Bolsas de Iniciação Cientifica da Universidade Regional do Cariri – PIBIC/URCA. Crato/Brasil.

Email: [email protected]

3 Graduada em Economia pela Universidade Regional do Cariri - URCA, Pós-Graduanda em Gestão Financeira e

Consultoria Empresarial pela URCA e Professora do departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri.

Juazeiro do Norte/Brasil Email: [email protected]

4 Professor Assistente da Universidade Regional do Cariri (URCA), Mestre em Economia pela Universidade Federal

da Paraíba (UFPB) e Graduado em Economia pela Universidade Regional do Cariri (URCA). Barbalha/Brasil. Email:

[email protected]

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espaço deixa de ser puramente agrícola e passa a desenvolver novas atividades, fazendo

surgir uma nova concepção para o meio rural.

Nos estados em que o turismo rural já é visto como atividade economicamente

viável - Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo – tem-se um desenvolvimento

relevante aos empresários que adotaram a atividade transformando-a em uma atividade

como alta rentabilidade.

À medida que agricultores começam a assumir novas tarefas tem-se um contíguo

de novas funções no meio rural, tais modificações ocorrem além da área econômica, na

área social e cultural, causando impactos positivos e negativos na população residente.

Para Schneider (2007, p.22) “a medida que as famílias conseguem ter um

portfólio mais diversificado de opções de trabalho, tornando-se plurativas, suas rendas

tendem a se elevar, adquirir maior estabilidade, e as fontes tende a se diversificar”.

O novo rural se insere nesse contexto, em que famílias de trabalhadores que eram

voltadas apenas para o setor agrícola, passam a adquirir novos conhecimentos e tentam

combinar, desta maneira, em formas diversas de ocupação que, segundo Lacerda (2005),

distribuem-se em diferentes ramos, de atividades agrícolas e não agrícolas. Este fato

acontecem muitas vez porque no período de estiagem a agricultura, a atividade deixa de

ser rentável, e também já não necessita de todo o tempo das famílias. Posto isso, serviços

que estão ligados ao turismo rural se tornam economicamente viáveis.

As vantagens desse tipo de turismo vão além de benefícios somente dos que

empreendem nesta atividade, influenciando também na qualidade de vida do turista, na

preservação ambiental, resgatando a cultura local e a popular, dentre outros.

No Ceará, apesar desta atividade ter apenas iniciado, já é notável as modificações

que esta provoca. “Com o turismo rural há uma oportunidade de complementação de

renda em períodos críticos para tais famílias, visto que tais atividades turísticas têm seu

pico máximo nos períodos em que a agropecuária no estado está em baixa, segundo

semestre do ano” (SILVA, FILHO E LIMA, 2010, P. 03)

A atividade é tida como uma estratégia que as famílias utilizam para a

complementação da renda, porém tais famílias, não precisam modificar sua rotina. Assim,

continuam a produção agropecuária e estimulam o desenvolvimento local, pois trocam

experiências com os turistas atraídos por esta atividade econômica.

Nesse sentido, pretende-se discutir algumas conjecturas para as cidades que

compõe o triangulo CRAJUBAR – Crato, Juazeiro e Barbalha - no interior do estado do

Ceará, e como a exploração do turismo rural sustentável é de grande valia para o

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desenvolvimento de famílias roceiras.

Para atingir o objetivo acima proposto, o artigo encontra-se assim estruturado:

além das considerações iniciais, a segunda seção propõe uma discussão sobre a definição

do conceito de turismo rural, com ênfase nos principais fatores que o ocasionam; na

terceira seção, mostrar-se como pode ser explanado o turismo rural, na quarta seção tem-

se os procedimentos metodológicos acerca do estudo; na quinta seção, mostram-se os

resultados e discussões e, por último, faz-se algumas considerações finais.

2. O TURISMO RURAL E SUAS DEFINIÇÕES

Muitas são as definições do que vem a ser o turismo rural, sobretudo, seus meios

de utilização, se são somente as atividades campestres, ou se engloba também a

hospedagem no campo.

O surgimento do Turismo Rural no Brasil se dá posteriormente a década de 1990.

As primeiras experiências ocorrem nos estados do Sul do país, sendo a pioneira a fazenda

de Pedra Branca na cidade de Lages-SC.

Segundo Almeida e Rield (2000, p.07) o:

turismo rural é conhecido como atividade turística que ocorre na zona rural,

integrando a atividade agrícola e pecuária à atividade turística, é um fenômeno

social que consiste no envolvimento dos indivíduos ou grupo de pessoas,

gerando múltiplas inter-relações de importância social, economia e cultura.

Para o Ministério do Turismo no Brasil (2014), Turismo Rural é o:

Conjunto das atividades turísticas desenvolvidas no meio rural,

comprometidas com a produção agropecuária, agregando valor a produtos e

serviços, resgatando e promovendo o patrimônio cultural e natural da

comunidade.

Oxinalde apud Graziano da Silva (2000), descreve que turismo rural abrange

várias formas de realizar turismo “que não se excluem e que se complementam, de forma

tal que o turismo no espaço rural é a soma de ecoturismo e turismo verde, turismo cultural,

turismo esportivo, agroturismo e turismo de aventura”.

Assim como tantas outras novas atividades desenvolvidas no campo, o Turismo

Rural também pode ser visto como uma forma de complementação da renda. Porém, "a

relativa inexperiência do homem do campo com atividades não tradicionais, aliadas ao

desconhecimento das especificidades do turismo rural" (ALMEIDA E RIELD, 2000,

p.09) podem gerar pontos negativos ao desenvolvimento dessa atividade.

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As vantagens desse tipo de turismo vão além de benefícios exclusivos àqueles

que empreendem na atividade. Influenciam também itens como a qualidade de vida do

turista, na preservação ambiental onde é praticada, resgatando assim a cultura local e a

popular, dentre outras.

A busca por ambientes de descanso diferentes dos habituais é um dos fatores que

fazem o turista urbano optar por esse tipo de turismo. De acordo com Zimmermann (1996)

as características do visitante (homem urbano), que traz em si todos os problemas

vivenciados nos grandes centros urbanos (stress, poluição, insegurança, etc.),

oportunizam no turismo rural vivenciar o outro lado do seu cotidiano.

A partir desta experiência o homem urbano, busca, sobre tudo seu bem-estar, e

desta forma é possível perceber sua preocupação com o meio ambiente, em preservá-lo

para que possa desfrutar deste rico ambiente não só natural (ainda mesmo que este seja

um dos fatores mais relevantes) como também cultural, social. É nesse contexto que se

torna possível afirmar que o turismo rural proporciona ainda a satisfação e bem-estar de

todos os envolvidos no ato, desde a comunidade até quem oferece (Zimmermann, 1996).

Como atividade econômica, o turismo rural parece ser uma via natural para o

progresso de zonas rurais desfavorecidas, permitindo aos agricultores combinar

diversificação de suas atividades com uma valorização de suas produções e de seu

patrimônio cultural (ALMEIDA, 1999).

De acordo com Zimmermann (1996) "O Turismo Rural tem se revelado como

uma atividade econômica completa", ou seja, seu aspecto econômico resulta em geração

de divisas e receitas internas, desta forma é importante ressaltar a importância do mesmo

nos períodos de estiagem, seca. Já em aspectos sócias o turismo rural é caracterizado

como forte gerador de empregos e melhorias como qualificação da mão de obra.

Posto isso é inserido a relação dos empregos em diretos e indiretos, ou seja, a

cada um emprego direto gerado em função de uma nova atividade turística e esta situada

na zona rural, é gerado três novos empregos de forma indireta segundo a OMT -

Organização Mundial de Turismo.

Esse tipo de turismo também tem influência na geração de novos empregos, além

de melhorar a infraestrutura local, favorecer o aumento dos serviços e produtos da

agropecuária e incentivar empresas relacionadas ao setor.

Segundo Graziano da Silva (2000) o turismo rural também tem um papel

fundamental na gestão territorial, uma vez que o mesmo tem a capacidade de estimular o

aproveitamento do potencial endógeno de um determinado local. Tal potencial surge

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como uma forma de manutenção de características culturais de uma população.

Conceituado o turismo rural resta-nos saber a definição do turismo no Espaço

Rural, uma forma bem mais abrangente do Turismo que iremos abordar neste estudo e

que conforma nossas expectativas principais acerca da atividade que iremos explorar.

O Ministério do Turismo corrobora com a definição de turismo no espaço rural

de Graziano da Silva5, que diz que

“Todas as atividades praticadas no meio não urbano, que consiste de atividades

de lazer no meio rural em várias modalidades definidas com base na oferta:

Turismo Rural, Turismo Ecológico ou Ecoturismo, Turismo de Aventura,

Turismo de Negócios e Eventos, Turismo de Saúde, Turismo Cultural,

Turismo Esportivo, atividades estas que se complementam ou não”.

Neste trabalho será abordado o turismo no Espaço Rural, uma vez que a

caracterização do Turismo rural restringe o campo de pesquisa, o que não se deseja no

momento pelo fato de que esse tipo de turismo ainda é pouco explorado e divulgado e

não haver trabalhos com maiores detalhes acerca do Turismo Rural propriamente dito.

No Manual do Ministério do Turismo de Mapas Conceituais, as atividades

turísticas no meio rural constituem-se da oferta dos seguintes elementos:

i) Hospedagem;

ii) Alimentação;

iii) Recepção à visitação em propriedades rurais;

iv) Recreação, entretenimento e atividades pedagógicas vinculadas ao

contexto rural;

v) Outras atividades complementares às acima listadas, desde que praticadas

no meio rural, que existam em função do turismo ou que se constituam no

motivo da visitação.

3. COMO O TURISMO RURAL PODE SER EXPLORADO

É certo que a sazonalidade rural, os períodos de estiagem e o mau tempo trazem

prejuízos financeiros as comunidades rurais, principalmente àquelas onde a única renda

é extraída do cultivo ou de atividades relacionadas. Ter uma experiência a qual se possa

gerar renda nos períodos difíceis pode ser uma alternativa não só de suprir as necessidades

em períodos de baixos rendimentos, como também ajudar a manter essas famílias no local

5 GRAZIANO DA SILVA, José et al. Turismo em áreas rurais: suas possibilidades e limitações no Brasil. In:

ALMEIDA, J.A. et al. (Org.). Turismo Rural e Desenvolvimento Sustentável. Santa Maria: Centro Gráfico, 1998:14.

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onde vivem, evitando assim o êxodo rural e a aglomeração nas grandes cidades.

Essa atividade de visitação às propriedades rurais não é tão nova no Brasil e no

restante do mundo data-se atividades recreativas já no séc. XIX (RUSCHMANN, 2000,

p.63). Porém somente a partir de 1980 é que este segmento foi considerado uma atividade

econômica e houve a sua classificação como turismo rural.

Para facilitar a abordagem ao mercado consumidor, é interessante a criação de

segmentação, classificando as suas preferências e utilizando as ferramentas de marketing

com foco em quem se deseja atingir e como. A segmentação de mercado nada mais é do

que selecionar um “grupo específico de consumidores que possuem necessidades,

comportamentos de compra e/ou características similares” (TULESKI, 2009).

Com base nesse conceito, segmentar é “o processo de dividir o mercado em

grupos de potenciais consumidores com necessidades e/ou características similares e que

estão propensos a ter um mesmo comportamento de compra” (TULESKI, 2009).

Diante disso, segmentar o mercado de turismo rural é uma parte fundamental

para transformar esse acolhimento de visitantes em um empreendimento lucrativo e sem

muitos custos, já que se utiliza da paisagem local e das atividades e instalações do meio,

onde o turista desse tipo de serviço não busca o luxo e sim a autenticidade rústica local

com conforto e qualidade (MINISTÉRIO DO TURISMO, p. 38).

Fora citado por Ruschmann (2000) no seu trabalho uma pesquisa que fora

realizada nos Estados Unidos a qual difunde que os clientes que procuram pelo turismo

rural estão descontentes com as ofertas de turismo habituais como mar e montanha. O que

eles buscam, segundo a pesquisa são “os aspectos simples e autênticos, característicos do

dia-a-dia do meio agrícola” porém com um “conforto razoável se comparado àquele de

seu cotidiano”.

Uma pesquisa realizada no Brasil em 2009 pelo Instituto Vox Populi sobre os

hábitos de consumo de turismo do brasileiro revela que 33,9% de clientes atuais6

escolheram o estado de destino pelo motivo de beleza natural/natureza.

Segundo o Ministério do Turismo (2014), alguns dos serviços que podem ser

explorados pelo pequeno empreendedor dentro da propriedade rural seriam a

hospedagem, que não precisa ser sofisticada, mas ofereça conforto, alimentação com

6 Público alvo: Turistas brasileiros maiores de 18 anos, das classes A, B, C e D, com os seguintes perfis.

Clientes atuais: consumidores que compraram serviços de turismo em pacotes ou em partes nos últimos dois

anos;

Clientes potenciais: consumidores que podem vir a comprar serviços e produtos turísticos em pacotes ou em

partes nos próximos dois anos.

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produtos típicos, guiamento, condução e recepção para orientação individual ou em grupo

de turistas e o transporte no local, que vai desde os modos urbanos como ônibus e vans,

até mesmo os já oferecidos no meio, como passeio de trator ou charrete.

Além desses serviços, pode-se diversificar a estadia do visitante com outras

atividades, tais como o plantio, manejo de animais (como ordenha e pesque-pague),

atividades de transformação como fabricação de compotas, doces, queijos, etc.

Atividades do turismo de esporte, como trilhas, rapel, observação da fauna e da

flora, reforçam o contato do turista com atividades que não são do seu cotidiano, mas que

resultam em lembranças e momentos prazerosos. Desta forma, a preferência por estes

locais se torna relevante, pelo alto poder de contato com a natureza, fator este que

influência diretamente no bem-estar do indivíduo.

Atividades culturais como manifestações populares, produção de artesanato,

visita a museus e a gastronomia local também são uma excelente opção para aqueles que

desejam sair da rotina urbana e adentrar em um mundo repleto de atividades simples, mas

que podem gerar um relaxamento natural pelo contato com a vida campestre e suas

rotinas.

4 METODOLOGIA

4.1 Caracterização da Área de Estudo

A região do Cariri faz parte de uma extensa área de uma das microrregiões no

estado brasileiro do Ceará, que segundo o IBGE, essa região possui uma área total de

4.115,828 km². Pertencente à Mesorregião Sul Cearense. Em Junho de 2009, foi aprovada

na Assembleia Legislativa do Ceará a mensagem do Executivo que cria a Região

Metropolitana do Cariri. A autonomia do Cariri esteve sempre ancorado, pela condição

geoambiental da região que lhe conferia um destaque como ilha natural e de prosperidade

em meio ao sertão árido do Nordeste (QUEIROZ, 2013).

A Região Metropolitana do Cariri, apesar de bastante questionada dentre outras

literaturas, vem crescendo economicamente, tornando-se destaque social em geração de

empregos e renda. A cidade de Juazeiro do Norte assim como o Crato e Barbalha

desenvolve-se a passos rápidos, à medida que as cidades periféricas como Nova Olinda,

Santana do Cariri, Farias Brito, Missão Velha, Jardim e Caririaçu, mesmo que próximas

não se desenvolvem de forma integrada.

Desta forma é importante mencionar que Juazeiro do Norte funciona como polo

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de grande desenvolvimento para os municípios do sul do estado do Ceará e regiões

circunvizinhas, acompanho por a cidade de Crato e Barbalha. Ponto central e aglomeração

urbana, concebido o nome de Crajubar.

Ao analisar o mapa da RMC (Figura 01) obtido através do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE), Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará

(IPECE) pode-se notar que mesmo geograficamente menor que as demais Juazeiro do

Norte, enquanto Santana do Cariri, Missão Velha e Jardim, apesar de extensas áreas

territoriais não tem desenvolvimento de forma integrada em todo o seu conjunto,

caracterizando-se como cidades rurais.

FIGURA 01: Mapa da Região Metropolitana do Cariri - RMC

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Instituto de Pesquisa e Estratégia

Econômica do Ceará (IPECE) 2014.

O Triângulo Crajubar, é situado na parte central da RMC, composto pelas

cidades de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha, possuem uma população de

aproximadamente 426.690 habitantes, segundo dados do IPECE (2010). Juazeiro do

Norte destaca-se por ocupar o lugar de terceira maior cidade do estado (IBGE, 2010).

Como principais características este município possui um elevado dinamismo comercial,

influenciado pelo turismo religioso que a cidade oferece através das romarias criadas a

partir da imagem do Padre Cícero.

De acordo com Carvalho et. al. (1998), “geograficamente o Triângulo Crajubar

está situado na Região do Cariri cearense, distando, em média, 612 Km de Fortaleza,

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Recife, João Pessoa, Natal e Teresina e um pouco mais de Salvador. São Paulo está a

3800 Km e Rio de Janeiro a 3000 Km.”

FIGURA 02: Mapa da Conurbação CRAJUBAR

Fonte: Mapa criado pelos próprios autores a partir de mapas do IPECE 2014

A cidade de Juazeiro do Norte possuía no ano de 2010 uma população de

249.939 habitantes com uma estimativa segundo o IBGE Cidades de mais de duzentos e

sessenta três mil habitantes para o ano de 2014. Está localizada na Região Sul do Estado

do Ceará na Região Metropolitana do Cariri – RMC, e faz fronteira com as cidades de

Crato, Barbalha, Missão Velha e Caririaçu.

Em 2010, o número de habitantes da zona rural era de 9.815, representando

3,93% do total. O Valor adicionado do PIB neste mesmo ano na agropecuária foi de R$

5.910,00 de um total R$1.966.331,00 geral, o que representa 0,3% do PIB total. O PIB

per capita em 2010 fora de R$ 602,20 contra R$ 8188,82 do restante da população

(indústria e comércio).

O Município de Barbalha no último censo (2010) teve contabilizados 55.323

habitantes, com estimativas para o ano de 2014 de 58.347. O PIB em 2011 fora de 455.763

mil reais, dividido em 11.772 mil reais para a agropecuária (2,58%), 138.755 mil reais

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para a indústria (30,45%) e 305.236 mil reais para o comércio (66,97%). O PIB per capita

em 2011 era de R$8.681,00.

O Município do Crato possuía no último censo (2010), 121.428 habitantes, seu

PIB a preços correntes era de 932.173 mil reais, sendo que o PIB agropecuário

representava 2,35%, totalizando 21.879 mil reais. O PIB industrial representou uma valia

de 18,4% (171.560 mil reais) enquanto que 642.988 mil reais expressavam 79,25%do

total do PIB do comércio.

Localiza-se no sopé da Chapada do Araripe no extremo-sul do estado e na

Microrregião do Cariri, integrante da Região Metropolitana do Cariri. Faz limites

territoriais no Ceará com as cidades de Santana do Cariri, Nova Olinda, Farias Brito,

Várzea Alegre, Barbalha, Juazeiro do Norte e Caririaçu. Seus limites com o Pernambuco

são com as cidades de Exu e Moreilândia onde constitui também um entroncamento

rodoviário que a interliga ao Piauí, Paraíba e Pernambuco, além da capital do Ceará,

Fortaleza. Conhecido como o "Oásis do Sertão" devido as suas características climáticas

mais úmidas e favoráveis à agropecuária.

5. A EXPLORAÇÃO DO TURISMO RURAL NO CRAJUBAR:

POSSIBILIDADES E UMA ABORDAGEM EXPLORATÓRIA.

5.1 Um Breve Panorama Sobre o Turismo no Interior

Segundo a SETUR/CE, alguns esforços são realizados para a interiorização do

turismo como forma de desconcentração da renda gerada pelo turismo na capital. No ano

de 2008, cerca de 65,3% dos turistas que visitaram a capital cearense visitaram outras

cidades do interior, as quais tiveram os percentuais de preferência destacados a seguir no

quadro 1.

Quadro 1 – Interiorização da Demanda turística segundo as áreas visitadas

1998/2008

Local 1998 2008

Variação % Turistas % Perm. Turistas % Perm.

Litoral 463.617 82,5 3,1 1.149.178 80,8 2,8 147,9

Serra 19.478 3,5 5,6 68.633 4,8 3,0 252,4

Sertão 78.786 14,0 4,7 204.642 14,4 6,6 159,7

Total 561.881 100,0 4,5 1.422.453 100,0 3,6 153,2 Fonte: SETUR/CE 2014

Pode-se perceber que num período de 10 anos houve um aumento significativo

em relação a interiorização do turismo no Ceará, bem como o aumento do fluxo de turistas

para essa região, subindo de 561.881 turistas no ano de 1998 para 1.422.453 em 2008, o

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que representou uma variação de 153,2%, com média anual de crescimento em torno de

15%.

O número de estabelecimentos com hospedagem em Juazeiro do Norte, só no

ano de 2012, estava entre 19 e 39 estabelecimentos de acordo com a figura 1. Esse número

é bem expressivo uma vez que em todo o Estado, apenas dez municípios (incluindo

Juazeiro) possui esse número de estabelecimentos para se hospedar. Já nos municípios de

Barbalha e Crato, ainda que em número inferior, possuem entre 5 e 18 estabelecimentos

para hospedagem cada uma. Apenas 32 municípios cearenses (incluindo esses dois

últimos) possuem esse número de estabelecimentos com hospedagem.

FIGURA 03 – Número de Estabelecimentos com hospedagem – 2012

Fonte: IPECE 2014

É possível verificar segundo relatório executivo de pesquisa sobre a

Caracterização e Dimensionamento do Turismo Doméstico no Brasil – 2010/2011

realizada pela FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, diversos aspectos

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628,39

2.398,85

4.543,62

2.523,62

1.437,84

De 0 a 4 SM De 4 a 15 SM Acima de 15 SM Média Ceará Média Brasil

De 0 a 4 SM De 4 a 15 SM Acima de 15 SM Média Ceará Média Brasil

importantes sobre o turismo no Brasil. Uma delas é a característica brasileira de turismo

doméstico e suas potencialidades. Segundo esse estudo, é possível afirmar que no ano de

2011, a cada 100 domicílios (a nível de população urbana brasileira), em 44 deles, pelo

menos 1 de seus residentes realizou pelo menos 1 viagem doméstica; em 7 deles, pelo

menos 1 de seus residentes realizou viagens rotineiras e 4,3 deles, pelo menos um

residente fez uma viagem internacional.

Esses números são importantes porque mostram o quão disponível para viagens

domésticas o brasileiro está. No caso cearense, os principais emissores de turistas para o

Estado são do próprio estado, que representam 52,7% do total de turistas, cerca de

5.812.000 versus viagens domésticas. Os gastos médios na principal viagem doméstica

segundo a mesma pesquisa, está dividida de acordo com o gráfico 1.

Gráfico 1 – Gasto Médio na Principal Viagem Doméstica, por Renda,

segundo UF de Destino – Ceará

Fonte: Elaboração própria de acordo com dados do FIPE 2012.

A cidade de Juazeiro do Norte é conhecida mundialmente pelo seu turismo

religioso, onde se destacam as atrações turísticas a visitação às igrejas centenárias, tais

como a Basílica Menor de Nossa Senhora das Dores e a Capela de Nossa Senhora do

Perpétuo Socorro. A visitação a estátua do Padre Cicero Romão Batista localizada na

colina do Horto também é atrativo para os visitantes desse tipo de turismo.

Barbalha por possuir um clima mais ameno, possui balneários com fontes

naturais como o Balneário do Caldas, localizado na subida da serra na CE 386 e parque

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aquático com áreas de preservação, como o Arajara Park, localizado a 14min deste

Balneário de carro pela CE 386.

Na entrada da cidade, existe um lugar chamado Sitio Pinheiros, um hotel aberto

à visitação, acampamento e lazer além das atividades próprias de hotel. Por sua beleza

natural é local de bastante procura e visitação, servido inclusive de cenário fotográfico

pré-nupciais, gestacionais, de aniversário, entre outros.

O município do Crato possui também excelentes locais para desenvolvimento do

turismo rural, como trilhas na chapada do Araripe (trilha do Belmonte, etc.).

A articulação bem estruturada do desenvolvimento do turismo rural nesses

locais, atrelado a uma boa política de incentivo ao turismo, poderá atrair bem mais

visitantes pressurosos por esse tipo de atração.

Com este trabalho nunca se pretendeu excluir ou dividir o turismo atrativo das

cidades estudadas, e sim mostrar a capacidade que elas têm de diversificar a oferta atual,

aumentando possivelmente o fluxo de turistas e consequentemente aumentando o

emprego e a renda, principalmente na área rural.

5.2 Turismo Rural no CRAJUBAR

Conjecturando a disponibilidade de gastos do turista dos últimos anos com

visitação fora da capital no Ceará, vislumbrando também que à esse mesmo turista deve-

se um acréscimo significativo na procura pelo interior do Estado para turismo e tendo em

vista que o acesso as cidades do CRAJUBAR atualmente, tanto por meio aéreo quanto

terrestre está cada vez mais fácil, frequente e barato, interligando regiões de alto fluxo de

tráfego aéreo do país como Brasília, Fortaleza e Recife, além de localização privilegiada

terrestre (localizada à menos de 700km das capitais nordestinas, excetuando-se São

Luis/MA e Salvador/BA), é que se verifica o quão a região poderá ter implementadas

políticas de desenvolvimento do turismo rural bem mais eficientes e geradoras de renda

e riqueza local.

A parceria com empresas de turismo é importante para ajudar na divulgação dos

pontos turísticos da cidade, apesar de não ser expressivo o número de pessoas que

utilizaram pacotes turísticos (apenas 4,4% utilizaram o serviço contra 95,6% que não

utilizou). Mas a divulgação e despertar individual no turista para conhecer os pontos de

turismo rural no CRAJUBAR é de suma importância para trazer cada vez mais renda e

empregos diretos e indiretos oriundos da atividade turística, de modo também a fixar esses

rendimentos no âmbito rural.

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“... as principais atividades não-agrícolas desenvolvidas no meio rural da região

do Cariri são o artesanato (esculturas em madeira, manufatura de chapéus de palha para

a celebração da ‘missa do chapéu’ em Juazeiro do Norte, redes)” (AGRICULTURA), já

que a cidade de Juazeiro do Norte é fortemente impulsionada pelo turismo religioso.

Faz-se necessário a integração das comunidades locais com as propriedades

rurais por meio do desenvolvimento do turismo campesino, aumentando a autoestima do

homem do campo e valorizando as práticas do meio rural. Para isso é preciso que

autoridades locais percebam o quão importante para o desenvolvimento agrário são

atividades afora aquelas já cultivadas na agricultura.

Esse turismo irá proporcionar ao homem do campo um maior contato com o seu

consumidor, seja ele das atividades campestres, seja dos produtos produzidos na lavoura.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O meio rural por si só não possui todo o ferramental necessário a sobrevivência

e manutenção das famílias no campo. Os fatores naturais do semiárido contribuem e

muito para insucessos de colheitas, a justificativa mais plausível para este fato é o clima

da região.

Não excluindo a responsabilidade pública de se fazer políticas para a prevenção

de perda e organização prévia do meio rural e todas as suas peculiaridades, é necessário

também que se reforce as atividades que estão além da capacidade da terra em gerar renda.

É nesse tocante que surge o turismo no espaço rural como fonte alternativa.

Essa combinação deve ter como objetivos a agregação de valor ao espaço rural,

a verticalização da produção para disponibilizar aos turistas como forma de geração de

renda extra bem como a interatividade campo-cidade.

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ECONOMIA POPULAR E DESENVOLVIMENTO RURAL

SUSTENTÁVEL: O CASO DO ASSENTAMENTO MALHADA.

Isac Alves Correia1

Maria Rosa Dionísio Almeida2

Otácio Pereira Gomes3

Hélio Pereira de Oliveira4

Resumo O Assentamento Malhada tornou-se referência para as localidades vizinhas e seus

empreendimentos vem ganhando repercussão em debates acadêmicos e meios de

comunicação local nos últimos dois anos. O difícil acesso a terra e, mais tarde, a escassez

de chuvas na região e de recursos para financiamento das lavouras impulsionaram um

grupo de 11 famílias a se organizarem de forma coletiva no campo na busca de

fortalecimento das lutas por assistências técnica e creditícia e acesso a políticas públicas

de fomento a agricultura familiar. As práticas cooperativistas tem facilitado o alcance de

uma economia mais sustentável e gera ao mesmo tempo emprego e renda para os

trabalhadores que não conseguiram ser inseridos no mercado de trabalho. O protótipo

padrão da Economia Solidária além de facilitar a relação entre os envolvidos através da

autogestão estabelece normas de preservação ambiental. A pesquisa acerca do tema tem

como objetivo dar contribuição teórica a respeito do assunto e promover discussões sobre

as iniciativas e políticas públicas de fomento a Economia Solidária, gerando

possibilidades do desencadear de novas experiências autogestionárias e de

desenvolvimento sustentável local.

Palavras-chave: Sustentabilidade. Economia Solidária. Autogestão.

1. INTRODUÇÃO

A abertura da economia e a má distribuição de riquezas deixaram grande parte

da população em condições de pobreza extrema. Para Singer (2002), a Economia

1 Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA). Assistente Fiscal, Tecnus

Contabilidade Ltda, Juazeiro do Norte – CE/Brasil. . E-mail: [email protected]; Cel. (88) 99963-2855.

2 Economista pela Universidade Regional do Cariri – URCA. Fiscal de Tributos da Secretaria Municipal da Fazenda

de Mauriti-CE/Brasil. E-mail: [email protected] Cel. (88) 99605-7733.

3 Economista pela Universidade Regional do Cariri (URCA), Mestre em Economia Rural pela Universidade Federal

do Ceará (UFC-MAER), e atualmente é professor temporário da URCA-UDI, campus Iguatu – CE/Brasil. Email:

[email protected]; Cel. (88) 99601-1930.

4Administrador de Empresas pela Faculdade Latino Americana (FLATED). Graduando em Ciências Econômicas pela

Universidade Regional do Cariri (URCA). Assistente Fiscal e Contábil pela empresa Ampliatto Indústria de Móveis

Ltda, Iguatu-CE/Brasil. E-mail: [email protected]; Cel. (88) 99835-2664.

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Solidária é um jeito diferente de produzir pensando no bem de todos e uma boa alternativa

para a geração de trabalho e renda, além de contribuir para a inclusão social.

Na Economia Solidária, de forma oposta ao Sistema Capitalista, não existe a

relação patrão-empregado baseada na exploração e reconhece a autogestão como a

principal característica e de bastante importância nos empreendimentos solidários. Tanto

os meios de produção, tais como a terra e equipamentos agrícolas como acontece no meio

rural, são pertencentes a todos os trabalhadores quanto à partilha dos rendimentos ocorre

de forma democrática e a administração é coletiva (SINGER, 2002).

A Economia Popular surge como uma alternativa para as pessoas que foram

excluídas do mercado de trabalho, resultante do ‘desenvolvimento’ do capitalismo. Além

disso, tem o objetivo de proporcionar um novo modelo de Economia Sustentável, através

da criação de elos entre os que produzem, comercializam e os que consomem e ao mesmo

tempo respeitando a igualdade de todos nas decisões, como uma forma de resposta a

inclusão social.

No âmbito do Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária – SIES,

a Economia Solidária é caracterizada por atividades econômicas de produção,

distribuição, consumo, poupança e crédito organizados sob a forma de autogestão. Além

de gerar renda, ela propõe uma mudança nas relações interpessoais e com a natureza,

pregando a cooperação em vez da competição e em defesa da conservação do meio

ambiente e da não exploração dos trabalhadores.

O movimento vem ganhando força no Brasil e na América Latina nos últimos

anos. Segundo a Secretaria Nacional de Economia Solidária – SENAES, órgão do

Ministério do Trabalho criado pelo Governo Federal para apoiar as associações e

cooperativas de trabalho, até 2008 havia mais de vinte e dois mil empreendimentos

solidários no país movimentando cerca de oito bilhões de reais por ano, tornando-se

referência internacional no assunto.

O Assentamento Malhada é formado por um grupo de 11 famílias que trabalham

em conjunto conforme os princípios da Economia Solidária. A comunidade tem se

tornado referência para as localidades vizinhas pela iniciativa tomada pelos moradores no

que diz respeito à forma de organização e manejo da produção. O movimento além de

gerar renda para os assentados contribui para o desenvolvimento sustentável local e

permite o desencadear de novas experiências.

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2. ECONOMIA SOLIDÁRIA: POSSIBILIDADES E DESAFIOS

2.1 Associativismo e Cooperativismo

A cooperativa é a forma mais clássica de Economia Solidária e foi criada pelo

inglês Robert Owen (1771-1858) há mais de duzentos anos. As primeiras experiências

foram na Inglaterra, com a crise nas minas de carvão em que os trabalhadores se uniram

na alternativa de tornarem-se donos para as mesmas não fechassem as portas. No Brasil

o movimento cooperativista nasceu 1980 e na Argentina com a crise de 2001 (SINGER,

2002).

O associativismo ganhou forças em uma época de instabilidade e esgotamento

do modo de produção capitalista. Em 1980, populações inteiras foram lançadas em

difíceis encruzilhadas após grandes anos de comprometimento dos Estados Nacionais

com o capital especulativo. O momento de crise e endividamento brasileiro, em que uma

grande parcela da sociedade foi excluída e considerada derrocada pelo sistema de cortes

cria ao mesmo tempo a necessidade de se construir um espaço de superação às mazelas

deixadas pelas falhas do sistema capitalista (idem).

Essa forma de organização propicia benefícios tanto em termos social e

financeiro, quanto permite reduzir o caráter alienado do trabalho. O próprio Marx afirmou

que o trabalho por meio de associações e cooperativas representa uma ruptura da forma

mais antiga, em que o homem é explorado e oprimido na sociedade como um todo

(BENINI et al, 2012).

Em 2002, os empreendimentos solidários no Brasil tiveram seus primeiros

avanços com a eleição do presidente Lula no que refere-se à criação da Secretaria

Nacional de Economia Solidária – SENAES, após inúmeras iniciativas bem sucedidas de

prefeituras e governos estaduais (SINGER apud FRANÇA FILHO et al, 2006).

A Economia Solidária surgiu no Brasil como uma forma de superar a crise no

mundo do trabalho e a exclusão social. Um dos objetivos da mesma é tentar inserir os

agentes que foram excluídos do sistema capitalista no meio, através de um sistema

democrático. Esse novo sistema nasceu devido à organização articulada dos movimentos

sociais e pela incapacidade da sociedade civil em estabelecer a construção de uma ordem

econômica que assegurasse melhoria na qualidade de vida das pessoas e distribuição de

renda de forma uniforme (SCHIOCHET, 2012).

Dessa forma, o processo movido pela autogestão em que os trabalhadores

associam-se e para definir atividades econômicas organizadas coletivamente, estimula a

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solidariedade e através dessa prática dá ênfase na ajuda aos menos favorecidos (SINGER,

2002). As iniciativas de trabalho associado estão presentes no artesanato, na culinária,

cooperativas de crédito e no extrativismo – desde as quebradeiras de coco, rendeiras,

bordadeiras e seringueiros – e na pecuária e agricultura familiar com maior

predominância.

2.2 O Papel da Economia Popular para o Desenvolvimento Rural Sustentável (DRS)

Segundo Lima (2006), a ideia de Sustentabilidade surgiu de um discurso

desenvolvimentista da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da

ONU em 1978. O conceito considera a hipótese de que os recursos naturais não são

inesgotáveis e chama a atenção no que tange a ação humana diante da natureza no sentido

de evitar o desgaste dos recursos para que não comprometa as necessidades das gerações

futuras.

Para Bertucci e Silva (2003, p.78), “o paradigma de solidariedade no

desenvolvimento baseia-se numa ótica em que acontece o compartilhamento dos dons de

natureza e os bens socialmente produzidos, com vistas à realização de todas as pessoas”.

Desse modo, torna-se desafiador compatibilizar interesses como o

desenvolvimento econômico com a defesa dos recursos naturais. Diante disso, é sugerida

uma reforma na estrutura das ações de forma coletiva, através de estruturas produtivas

associadas às transformações sociais, econômicas e políticas, reconhecendo ainda a

importância das organizações e instituições da sociedade civil (BERTUCCI e SILVA,

2003).

Diferente da grande produção agrícola, a chamada agricultura industrial em que

há alto nível tecnológico e utilização de produtos químicos em alta escala, a economia

“verde” (orgânica) praticada nos empreendimentos solidários é baseada no manuseio e

técnicas conhecidas como produção orgânica, em que plantas e galhos secos, por

exemplo, servem de insumos na produção de outras plantas (SINGER, 2012).

2.3 Formas Sustentáveis de Manejo e Produção no Campo

De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (EMBRAPA),

instituição pública vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,

criada em 1973 que tem como objetivos a produção do conhecimento científico e o

desenvolvimento de técnicas de produção para a agricultura e a pecuária existem quatro

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métodos indispensáveis para o alcance de uma economia sustentável no campo

(HECKLER. JC.; HERMANI, L.C.; PINTOL, 1998).

Mandala

A mandala é um sistema de produção de alimentos em que a horta é plantada em

forma de círculos ao redor de um lago, permitindo um maior aproveitamento da água e

do solo (ver Figura 1). O consórcio de plantas e hortaliças proporciona uma ajuda mútua

entre elas, colaborando para uma maior conservação da biodiversidade e da riqueza do

solo. Também são introduzidos os conceitos de cortina de quebra de ventos, onde dentre

outros benefícios é freada a perda de água e reduz os prejuízos ocasionados pelo vento e

o com auxílio de plantas repelentes de insetos.

Geralmente utiliza-se da criação de patos e outros animais que serão suporte no

controle equilibrado e sustentável de pragas (MARTINS et al, 2012). Para Coelho et al

(2012), os custos com sistemas industriais de irrigação por mais simples que sejam são

relevantes para pequenos agricultores. Nesse sentido, o sistema mandala demonstra-se

como uma alternativa inteligente de reduzir os gastos sem comprometer o equilíbrio do

ecossistema.

Figura 1: orta Mandala

Fonte: EMBRAPA (2008)

Sistema de Plantio Direto (SPD)

Apesar de ser uma alternativa sustentável e por isso um conceito ainda bastante

utilizado entre estudiosos e agricultores, desenvolvendo-se das mais variadas formas,

adaptadas a diferentes regiões e níveis tecnológicos, o Sistema de Plantio Direto (SPD) é

uma tecnologia que foi difundida desde a década de 1990 no Brasil. O SPD é considerado

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uma ferramenta essencial para a pratica de uma agricultura sustentável além de aumentar

a capacidade que o solo tem de absorver nutrientes e água, necessários ao

desenvolvimento das plantações.

Figura 2: Plantio Direto

Fonte: EMBRAPA (2010)

O Plantio Direto consiste basicamente em permitir que o solo permaneça com

restos de plantas e resíduos vegetais, permitindo maior proteção do impacto das chuvas,

do escoamento superficial da água e de erosões (conforme demonstrado na Tabela 3). O

cultivo utiliza-se dessa técnica sem que antes haja o preparo convencionalmente

conhecido como aração. Estudiosos afirmam que a implantação do sistema requer uma

análise criteriosa e uma série de cuidados, porém esses esforços se convertem em

benefícios como um maior rendimento das culturas e fertilidade e preservação das

características naturais do solo com a redução da erosão e capacidade de contaminação

do meio ambiente.

Tabela 3 – Efeitos de Diferentes Níveis de Resíduos Culturais no Escorrimento

Superficial, Infiltração e Perda de Solo, em Declividade de 5%.

Resíduos (t/ha) Efeitos sobre a água e solo

Escorrimento (%) Infiltração (%) Perda de solo (%)

0 45,30 54,70 13,69

0,55 24,30 74,70 1,56

1,102 0,50 99,50 0,33

2,205 0,10 99,90 -

4,41 - 100,00 - Fonte: Adaptado de Ramos (1976) apud Ruedell (1998).

Porém, o SPD é um método de cultivo ainda complexo e para sua implantação são

definidos alguns critérios enumerados a seguir:

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1. Qualificação do Agricultor e Treinamento da Mão-de-Obra seja ela

familiar ou terceirizada, para facilitar o manejo de fertilizantes e plantas auxiliares

e no controle rígido de doenças e pragas;

2. Drenagem dos Solos, permitindo o escoamento da água, pois em culturas

as quais são adotadas essa sistemática os solos são naturalmente bastante úmidos

e faz-se necessário escoar as águas de áreas encharcadas, seja através de tubos,

valas, canais, túneis e outros meios;

3. Nivelamento do Solo e Eliminação de Camadas Adensadas, antes da

implantação é necessário eliminar essas camadas que são geralmente provenientes

do uso inadequado de sistemas de arado e que podem prejudicar a produtividade.

Também é interessante nivelar o espaço para que se torne o mais homogêneo

possível;

4. Cobertura do Solo, através de restos culturais (variando de espécie para

cada região de acordo com as condições climáticas e a época da semeadura)

distribuídos de forma uniforme.

Rotação de Culturas

A implantação do Plantio Direto torna-se mais eficiente quando aliada ao sistema

de Rotação de Culturas a qual permite a manutenção de certa quantidade de palhada na

superfície do solo. Essa palhada, como a do milho que é comumente utilizada no esquema

de produção milho/soja por se tratar de uma cultura bastante resistente a diferentes

condições, promovem vantagens de adaptação e aproveitamento melhor dos nutrientes.

Figura 3: Restos Culturais

Fonte: EMBRAPA (2010

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Especialistas indicam o consórcio do milho com o feijão e leguminosos

familiares com espaçamento mais estreito para proporcionar uma formação elevada de

fitomassa, sendo esta a medida da quantidade de carbono por hectare. Além disso, após o

cultivo do milho alguns nutrientes como o potássio são conservados em quantidades

favoráveis a soja, por exemplo.

Tabela 4 – Efeitos da Rotação Soja/Milho.

Rotação Rendimento (kg ha-¹)

Milho após milho 9.680 (100%) 6.160 (100%)

Soja após soja 10.520 (109%) 6.732 (109%)

Soja após soja 3.258 (100%) 2.183 (100%)

Milho após milho 3.425 (105%) 2.517 (115%) Fonte: Adaptado de CRUZ (1982) e de MUZILLI (1981), citado por DERPSCH (1986).

Em algumas regiões do Brasil em que há escassez de chuvas de maio a gosto

dificultam o incremento de variadas opções de rotação de culturas, diferente da região Sul

em que é possível envolver tanto cultura de verão como as de inverno pelas condições

climáticas serem bastante favoráveis a essa prática.

Adubação Orgânica

A adubação é o processo pelo qual se fornece nutrientes ao solo de modo a

conservar e recuperar sua fertilidade, melhorando a qualidade das lavouras. A adubação

do tipo orgânica utiliza-se de restos de plantas, folhas, alimentos quando de origem

vegetal e esterco quando de origem animal. As utilizações de resíduos sejam de origem

animal ou vegetal permite a geração dos humos (compostos de 58% de carbono e 5% de

nitrogênio) que promove uma melhoria na estrutura do solo, fornecem nutrientes aumenta

e aumenta a capacidade de absorção de água na terra dentre outros benefícios além de não

afetar o funcionamento do ecossistema.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O trabalho foi realizado utilizando-se da base de dados da Empresa Brasileira de

Pesquisas Agropecuárias – EMBRAPA para um maior entendimento do contexto

histórico a respeito do desenvolvimento de tecnologias na produção agrícola.

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Fez-se necessário, ainda, o auxílio de estudos realizados por Singer (2002) a

respeito do nascimento e evolução da Economia Solidária no Brasil e na América Latina.

Para uma maior compreensão do caso, utilizou-se da pesquisa de Moura et al. (2012), em

análise à viabilidade de uma cooperativa agroindustrial (CAIPEMA) do Assentamento

Malhada através de aspectos socioeconômicos. O estudo descritivo permite desvendar

características de uma situação, grupo ou indivíduo (SELLTIZ et al, 1975).

De acordo com Beuren (2004), a pesquisa qualitativa permite uma análise mais

aprofundada do objeto a ser estudado e é preferível para pesquisadores que desejam

ampliar seus conhecimentos sobre um caso específico. Desse modo, o estudo foi realizado

através da abordagem qualitativa a respeito dos empreendimentos da propriedade rural

do Assentamento Malhada.

Com o objetivo de se aproximar do objeto de estudo faz-se necessária a

utilização de variáveis, através de dados secundários e inquéritos por questionário para

verificação das respostas e hipóteses, a fim de medir coisas ou fenômenos, fatos e causas

ligados aos empreendimentos solidários do Assentamento.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 O Caso do Assentamento Malhada

A comunidade do Sítio Malhada é localizada no interior do município do Crato

– Ce, há aproximadamente 18 km da sede da cidade. O assentamento possui 236 hectares

onde se praticam a fruticultura irrigada e outros negócios sob a forma da autogestão. Dos

empreendimentos, ganham destaque além das frutas como a goiaba que é considerada a

melhor da região, a banana, o maracujá, o amendoim, a mandioca de sequeiro, criação de

caprinos, ovinos e de gado voltado para o beneficiamento do leite, além de outros

produtos oriundos da agricultura familiar e que são vendidos numa feira quinzenal do

Distrito de Ponta da Serra5 a 3 km do assentamento e em exposições e feiras mais

conhecidas da região como a Exproaf, Berro, Expo Crato e Expo São João.

Os assentados organizam-se desde o ano de 1955 para a construção de uma vila

com uma capela, uma escola e 16 casas para se libertarem da exploração dos patrões. A

5. cf. ALBUQUERQUE, Silvia (2009). A Modernidade da Tradição (Ponta da Serra – Crato). In. OLIVEIRA, Celso (org). Agricultura Familiar (O

Desenvolvimento Passa por Aqui). Fortaleza: Revista Nossa Terra.

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principal característica do grupo desde a época é o trabalho em mutirão. A primeira

conquista da comunidade foi em 2003, quando adquiriram um terreno através do

Programa de Crédito Fundiário, tornando-se o primeiro assentamento dessa modalidade

no município com 236 hectares partilhados para 18 famílias. Após fundada a associação,

os membros decidem produzir coletivamente mandioca, farinha, goma e beiju e logo

depois vem as fruteiras.

O produto de maior destaque é a mandioca, com uma área de 6 hectares destinada

ao seu cultivo, chegando sua produção a atingir 16 toneladas ao ano. A Casa de Farinha,

a qual recebeu incentivos do Projeto São José e passou por processos de melhorias

mantem em funcionamento a mais de 100 anos e todos os rendimentos são divididos

igualmente pelos trabalhadores engajados no projeto (SOUSA; PIANCÓ, 2013).

Cerca de 20% das terras são dedicadas a Apicultura, sendo predominante sua

prática no período invernoso. É na casa de mel onde se desenvolve a apicultura, atividade

também bastante importante para a geração de renda para os moradores do Assentamento,

tornando-se referência para as localidades vizinhas (idem).

Quanto à criação de gado, o Assentamento toma posse até os dias de hoje de 20

cabeças chegando alguns deles a atingir uma produção de 25 litros de leite ao dia que são

comercializados em parceria entre a rede pública e municipal de ensino e a mini-indústria

CAIPEMA (Cooperativa dos Produtores de Leite da Malhada) de propriedade dos 22

membros que desenvolvem a pasteurização do leite.

De acordo com Sousa e Piancó (2013), as famílias se organizaram a partir de

uma iniciativa da EMATERCE através de um cadastro. Inicialmente, em 2006, o grupo

era formado por 65 pessoas cadastradas no Programa de Reforma Agrária do Governo do

Estado do Ceará, resultando hoje em 11 famílias.

Aspectos Socioeconômicos

O acesso a terra foi por meio de compra de um terreno de propriedade de Telma

Brito, para quem trabalhavam os beneficiários na condição de arrendatários, em que dois

dias de trabalho a cada semana eram cedidos ao patrão sem remuneração. Das 11 famílias

cadastradas no Programa de Reforma Agrária duas moram no assentamento; e nove já

possuem casa própria e apenas fazem o uso da terra, residindo na Vila Malhada por opção

própria. Há predominância de atividades agrícolas decorrente da maior parte da área do

assentamento ser agricultável. As atividades são desenvolvidas com base nos princípios

da agroecologia e Economia Solidária.

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Os assentados possuem faixa etária de 31 a 86 anos, com idade média de 49 anos.

A idade representa uma influência sobre os empreendimentos, uma vez que as iniciativas

com intuito de aprimorar as técnicas e desenvolver melhorias contrapõem-se aos

associados de maior faixa etária. Quanto a escolaridade, somente dois associados à

CAIPEMA possuem ensino superior e a maioria dos demais não tem o ensino

fundamental completo. A escolaridade dos membros está diretamente relacionada com o

modo que os mesmos administram os negócios, sendo que a maior parte não utiliza de

recursos de controle de despesas e receitas (MOURA et al, 2012).

Os membros afirmam que há a necessidade de complementar a renda, devido a

sazonalidade na produção de leite, mandioca, entre outros e oscilação do preço dos

produtos. O leite, por exemplo, tem um custo mais elevado em períodos de seca pela

escassez de pastagens evidenciando a necessidade de complementar a alimentação do

gado com o auxílio de rações adquiridas de fornecedores.

Os empreendimentos contam com a participação da assistência técnica da

EMATERCE, porém considerada insuficiente pelos assentados. Quanto aos agentes

financeiros, a associação recebe recursos do Programa Nacional de Fortalecimento a

Agricultura Familiar (PRONAF) e do Fundo Constitucional de Desenvolvimento do

Nordeste (FNE).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

5.1 Políticas de Fomento ao Cooperativismo

É perceptível que a Economia Solidária consolidou-se no Brasil a partir da

década de 1980, em resposta as consequências das políticas neoliberais sobre o mercado

de trabalho. As altas taxas de desemprego uniram os trabalhadores na luta por melhores

condições de vida através da criação de associações cooperativas de trabalho angariadas

pelas agências de fomento e poder público.

Entretanto, a formulação de uma política pública eficaz é uma necessidade

apontada inclusive no caso estudado – o Assentamento Malhada – para que o modelo de

desenvolvimento econômico solidário possa fazer frente ao modo de produção

predominante, justamente por existirem particularidades bem distintas de região para

região, positivas ou negativas. Ao passo que os costumes, tradições e a culinária, por

exemplo, podem contribuir para o fortalecimento de empreendimentos solidários as

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condições climáticas por outro lado podem influenciar negativamente no

desenvolvimento das lavouras.

Julgamos relevante destacar que o acesso à terra pelos assentados do Sítio

Malhada foi por meio de compra e não por desapropriação o que caracteriza uma certa

ineficiência por parte do governo no que se refere a políticas de reforma agrária, apesar

de existir um grande número de latifúndios improdutivos.

Quanto à assistência técnica dada pela EMATERCE, a mesma é vista inclusive

pelo grupo de assentados como insuficiente para acompanhar as demandas da

comunidade. O baixo nível de escolaridade entre os membros inviabiliza o

desenvolvimento de novas técnicas de cultivo, manejo e administração dos

empreendimentos.

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FATORES DETERMINANTES DA SUSTENTABILIDADE AGRÍCOLA

NA AMAZÔNIA PARAENSE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE FATORIAL

MULTIVARIADA

Profa. Dra. Gisalda Carvalho Filgueiras1

Prof. Pós-Dr. André Cutrim Carvalho 2

Prof. Esp. Auristela Correa Castro 3

Resumo

Este trabalho visa identificar e analisar os fatores da sustentabilidade agrícola na

Amazônia paraense a fim de contribuir para a definição de políticas orientadas para um

melhor desempenho da atividade. Foram utilizados os dados do Censo Agropecuário

2006 para as 22 microrregiões. Para isso, empregou-se a técnica estatística de análise

fatorial multivariada, combinada com a análise de aglomerados. Foram extraídos dois

fatores representativos do conjunto de variáveis selecionadas para o estudo da análise

fatorial e, pela análise de aglomerados três grupos. A principal conclusão da pesquisa é

que o nível de aplicação de técnicas sustentáveis no setor agrícola ainda é baixo na região,

embora já se denote em curso certas práticas de exploração agrícolas menos impactantes

ao meio ambiente. Além disso, a microrregião Bragantina foi a única que registrou um

alto Índice de Sustentabilidade Ambiental (ISA), com resultado igual a 0,843, o que

confirma que os gestores dos órgãos de fomento ao setor têm um considerável desafio

para fazer com que, cada vez mais, os produtores sejam orientados de que o aumento da

produtividade depende da adoção e desenvolvimento de inovação tecnológica limpa,

sendo algumas práticas simples e com custos moderados, viáveis à implantação de

práticas sustentáveis.

Palavras-chave: sustentabilidade agrícola; Amazônia paraense; análise fatorial

multivariada.

FACTORS OF AGRICULTURAL SUSTAINABILITY IN THE AMAZON

PARAENSE FROM THE PERSPECTIVE OF FACTORIAL MULTIVARIATE

ANALYSIS

Absctract

The objective of this study was to identify and analyze the factors of agricultural

sustainability in Pará Amazon, in the state of Pará in order to contribute to the definition

of policies for better performance of the activity. The data of the Agricultural Census

2006 to the 22 micro-regions were used. For this, we used multivariate statistical

technique factorial analysis, combined with the cluster analysis. Two representative

factors were extracted from the set of variables selected for the study of factor analysis

and cluster analysis for the three groups. The main conclusion of the research is that the

level of implementation of sustainable techniques in agriculture is still low in the region,

though already underway denote certain farm operating practices less impact to the

1 Professora Doutora, Faculdade de Economia do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do

Pará (FACECON/ICSA/UFPA), Belém/Brasil

2 Professor Pós-Doutor, Faculdade de Economia do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal

do Pará (FACECON/ICSA/UFPA), Belém/Brasil, e-mail: [email protected]

3 Professora Especialista, Instituto Esperança de Ensino Superior (IESPES), Santarém/Brasil, e-mail:

[email protected]

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environment. In addition, the micro Bragantina was the one that recorded a high

Environmental Sustainability Index (ISA in Brazil), with score of 0.843, confirming that

the managers of the sector by funding agencies have a considerable challenge to make

increasingly more producers are oriented to the understanding that productivity growth

depends on the adoption and development of clean technology innovation, with a few

simple practices and moderate cost, viable the implementation of sustainable practices.

Keywords: agricultural sustainability; Pará Amazon; multivariate factor analysis

Área 1: Desenvolvimento Rural Sustentável

1 Introdução

Na atualidade, o tema acerca da sustentabilidade está em evidência,

principalmente quando se trata de atividade econômica diretamente relacionada com o

uso e a exploração de recursos naturais. Isto tem forte relação com a forma histórica com

que os indivíduos vêm se relacionando com a natureza. Os processos produtivos, de modo

especial suas técnicas, transcendem, em muitos casos, a real capacidade de recuperação

dos recursos explorados.

Entretanto, como observa Sachs (2008), é importante destacar que toda e

qualquer atividade econômica envolve, ainda que indiretamente, o uso da natureza. Não

obstante tal aspecto, o drama mais evidente é vivido nas chamadas atividades primárias

(agricultura, pecuária, pesca), principalmente nas regiões onde os níveis de

desenvolvimento são baixos, como é o caso, por exemplo, de grande parte da Amazônia

brasileira, sustenta Oliveira (2008).

Porém, a sustentabilidade não deve ser reduzida tão somente a preservação de

espécies. Esta forma de conceber a sustentabilidade está em desacordo com as demandas

efetivas de sua concretização. A biodiversidade não deve ser tomada como sinônimo da

sustentabilidade, uma vez que é tão somente um instrumento, um meio para atingi-la,

embora não haja dúvida de sua importância fundamental tanto para o funcionamento do

ecossistema quanto para seu valor econômico potencial, assevera Macgrath (1997).

Esta visão de sustentabilidade tem uma preocupação transcendente à ecologia.

Segundo Brüseke (1996, p. 9), esse tipo de olhar “precisa ser agregada às dimensões

econômica e a sociopolítica a fim de que a discussão tome a forma holística, por meio da

qual se possa entender “o processo de destruição da sociedade moderna [...] de uma forma

totalizante”.

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A sociedade moderna tem incentivado e investido pesadamente em processos

inovativos, onde a eficiência econômica, medida principalmente em termos de

produtividade, é o norte das tomadas de decisões. Novos processos e novos métodos de

gestão e de produção são desenvolvidos e adotados rotineiramente e os países e regiões

que estão na fronteira tecnológica, ou muito próximos a ela, detêm grande vantagem em

relação aos demais.

Neste modelo global de desenvolvimento, as desigualdades são as características

mais marcantes, pois muito do que é produzido, principalmente conhecimento, é pouco

difundido. Desse modo, o acesso é restrito e os custos para acessá-los nem sempre são

possíveis de serem arcados. A riqueza é produzida, em geral por todos, mas é dividida de

forma desigual.

O lucro não deve ser o único objetivo da produção, mas deve ser agregado aos

objetivos ambientais e sociais para que o desenvolvimento aconteça em bases

sustentáveis. Brüseke (1994, p. 11) sugere que “o desenvolvimento sustentável quer um

desenvolvimento com eficiência econômica, prudência ecológica e justiça social”. Como

equacionar tal problema, principalmente para países e regiões onde a produção acontece

em bases quase rudimentares, com baixa intensidade tecnológica?

É evidente que, nos países em desenvolvimento, o desafio da sustentabilidade é

ainda maior. Os atropelos estruturais são de grande dimensão e geram efeitos capazes de

minar quaisquer tentativas de “avanço racional”. As potencialidades locais, representadas

por seus nichos ecológicos, em nome de um desenvolvimento rápido, são dizimadas e

têm pouco retorno em termos de benefícios sociais.

Conforme destaca Brüseke (1993), o modelo de desenvolvimento tardio,

portanto, aquele aplicado às sociedades atrasadas economicamente, é abraçado

politicamente sem a percepção de destruição dos aspectos que geram um

desenvolvimento equilibrado socialmente em sua totalidade. Desta forma, de acordo com

Brüseke (1993, p. 11), “a modernização não acompanhada da intervenção do estado

racional e das correções partindo da sociedade civil desestrutura a composição social, a

economia territorial, e seu contexto ecológico”.

Este aspecto da discussão evidencia a necessidade de uma evolução das

instituições no sentido de promoverem a valorização das aptidões locais para que o

desenvolvimento de base sustentável possa efetivamente acontecer. As dimensões

sociais, econômicas e ambientais precisam ser congregadas na mesma dimensão

temporal, pois é desta forma que a sustentabilidade alcança a transversalidade.

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A transversalidade é entendida na concepção de Brüseke (1993; 1996) como

perspectiva multidimensional e a ciência é a ferramenta fundamental de sua solidificação,

sendo que a boa vontade e a disponibilidade de recursos financeiros para se implementar

processos sustentáveis não são suficientes para que se mantenham ao longo do tempo. É

preciso haver intencionalidade para se superar as defasagens institucionais que bloqueiam

a efetivação do desenvolvimento sustentável. Ainda assim, mesmo que as diversas

sociedades do globo atinjam o desenvolvimento de base sustentável na proposição

multidimensional, as desigualdades não serão eliminadas, porém as oportunidades de se

alcançar um novo estágio valorizando suas potencialidades locais serão provavelmente

melhor aproveitadas.

Deste modo, o desenvolvimento sustentável propõe uma ruptura com o modelo

de desenvolvimento atrelado somente às inovações eficientes economicamente. Brüseke

(1996, p. 4), por exemplo, sugere nova postura e nova forma de produzir e gerir os

recursos (naturais, sociais e econômicos) a fim de promover eficiência também na

distribuição da riqueza. Buscam-se visões alternativas no âmbito da economia, pois “a

teoria econômica que acompanhou o surgimento da sociedade industrial, era incapaz de

identificar a natureza como fonte de valor e como algo esgotável”.

O objeto de estudo desta pesquisa é a Amazônia paraense, ou seja, o

correspondente territorial da unidade federada do Pará da República do Brasil. O Estado

do Pará possui uma área de 1.247.565 km², isto é, um equivalente a 14,6% do território

brasileiro; e uma população de 7.065.573 habitantes. Portanto, no caso especifico da

Amazônia paraense, o desenvolvimento assentado em bases sustentáveis é possível, desde

que alguns requisitos sejam levados em consideração.

Autores como Azzoni et al. (2009) destacam a vasta disponibilidade de recursos

naturais e seu uso sustentável deve passar, primeiramente, por um processo de valoração

econômica. A sustentabilidade, então, é entendida sob dois aspectos: o da preservação e

da conservação. Assim, para Azzoni et al (2009, p. 29):

Em termos de conservação, existe “um grande espectro de opções [...],

principalmente quando se leva em consideração os demais objetivos de

desenvolvimento de uma região (geração de emprego, redução da pobreza

absoluta, etc.) e os respectivos trade-off, os quais se definem, economicamente,

a partir de seus custos e benefícios sociais relativos.

Portanto, para o referido autor, Azzoni et al. (2009, p. 30), “o desenvolvimento

sustentável, do ponto de vista ambiental, envolve a maximização dos benefícios líquidos

do desenvolvimento econômico, sujeito à manutenção dos serviços e da qualidade dos

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recursos naturais ao longo do tempo”. De tal modo, é possível atingir o crescimento por

meio do aumento da produção em bases sustentáveis, ainda que o processo seja assentado

em tecnologias simples, como, por exemplo, o plantio direto e a rotação de culturas, pois

assim os recursos (renováveis) serão utilizados a taxas suportáveis permissivos de

regeneração.

A agricultura paraense, apesar de ter passado por grandes transformações nas

últimas décadas, principalmente com o avanço da monocultura de algumas commodities,

tem sofrido com a estagnação de setores tradicionais, os quais esbarram nos limites da

produtividade e da baixa capacidade de aliar crescimento econômico com conservação

ambiental. Desse modo, o presente artigo tem a intenção de mostrar e analisar importantes

fatores que podem contribuir para uma melhor reflexão sobre a própria dinâmica e a

sustentabilidade da atividade agrícola da Amazônia paraense.

O presente artigo foi estruturado da seguinte forma, além desta introdução, a

saber: na segunda seção são apresentados os aspectos metodológicos desenvolvidos para

essa pesquisa, principalmente, com a utilização de técnicas de análise fatorial; na terceira

seção é realizada uma análise dos resultados; e, por fim, as considerações finais.

2. Metodologia: Material e Método

A área de estudo inclui as 22 microrregiões do estado do Pará e os dados

trabalhados são do Censo Agropecuário 2006, a partir da base de dados do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, ano de 2009. A opção em utilizar os dados

agregados por microrregiões se deve ao fato de alguns municípios não apresentarem

informações para algumas das variáveis selecionadas.

Em função de sua praticidade, optou-se pela técnica de análise fatorial para a

identificação dos fatores da sustentabilidade da agricultura na Amazônia paraense, a qual

permite a transformação de um número maior de variáveis originais em um número

reduzido de fatores latentes, de tal modo que possa explicar, de maneira simples, o

conjunto de variáveis originais, conservando suas informações, como testado por autores

como: Hair et al. (2008) e Santana (2005).

O presente trabalho analisa sete variáveis que foram submetidas aos testes de

validação à aplicação da análise fatorial. Para isso, foram aplicados os métodos de Kaiser-

Meyer-Olkin Measure of Sampling Adequacy (KMO) e o de Bartlett Test of Sphericity

(BTS), com o intuito de testar a hipótese de que a matriz de correlação é uma matriz

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identidade, logo quanto mais próximo da unidade estiver o KMO, mais adequada será a

utilização da análise fatorial.

O modelo de análise fatorial de Análise dos Componentes Principais apresenta-

se da seguinte forma:

CP1 = 11 X1 + 12 X2 + . . . + 1P Xp

CP2 = 21 X1 + 22 X2 + . . . + 2P Xp

CPq = q1 X1 + q2 X2 + . . . + qP Xp

De acordo com Fávero et al. (2009), a partir da padronização de X – média igual

a xero e desvio padrão igual a um – o modelo fatorial passa a ser escrito, genericamente,

da seguinte forma:

Xi = Ai1F1 + Ai2F2 + ... + AikFk + Ei (1)

Em que:

X i = são as i-ésimas variáveis ( i = 1, 2, ..., p);

F1, F2, ..., Fk = são fatores extraídos;

Ai = são as cargas fatoriais (sendo i=1..., k);

i = são os i-ésimos fatores únicos.

Após a obtenção dos fatores, quando as variáveis são agrupadas em fatores a

partir da magnitude de suas cargas fatoriais, o fator pode ser definido da seguinte forma:

Fj = λj1X1 + λj2X2 + λj3X3 + ..., + λjnXn (2)

Onde:

Fj: i-ésimo fator;

λji: são os coeficientes dos escores fatoriais;

n: é o número de variáveis.

Assim como em outros procedimentos estatísticos, o modelo de análise fatorial

apresenta dois testes de validação, basicamente. Autores como Santana et al. (2008) e

Fávero et al. (2009) destacam que o mais usual à ser encontrado é a estatística de Kaiser-

Meyer-Olkin (KMO), a qual compara as correlações simples com as parciais. Tal teste é

apresentado matematicamente como a seguir:

Em que: (3)

rij é o coeficiente de correlação da amostra entre as variáveis;

aij é o coeficiente de correlação parcial entre as mesmas variáveis; e

i i jij

jij

i jij

ar

rKMO 22

2

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Por fim, se a matriz de correlação apresentar um KMO < 0,5 não se aceita a

análise fatorial. A matriz de correlação, portanto, é o ponto de partida da análise fatorial.

A partir dela pode-se determinar se tal técnica é adequada ou não para o estudo que se

pretende desenvolver. Além do teste KMO, tem-se a análise da matriz por meio de seu

determinante, o qual é realizado por meio do teste de esfericidade de Bartlett, como

destacado por Santana et al. (2008). Para que se dê prosseguimento à técnica da AF o

determinante da matriz de correlação precisa ser diferente de zero.

No caso do teste de Bartlett, segundo Fávero et al. (2009, p. 241), o objetivo

fundamental é “avaliar a hipótese de que a matriz das correlações pode ser a matriz

identidade com determinante igual a um, pois caso assim seja, as inter-relações entre as

variáveis são iguais a zero, devendo-se, neste caso, se reconsiderar a utilização da AF”.

Tal teste é expresso da seguinte forma:

Em que: (4)

|R|: é o determinante da matriz de correlação;

n: é o número de observações;

p: é o número de variáveis.

Os fatores produzidos a partir da AF podem em um primeiro instante não serem

facilmente interpretados e, por isso, necessitam ser rotacionados, ou seja, reagrupados.

Existem basicamente dois tipos de rotação de dados. Nesta pesquisa, se utilizará a rotação

pelo método varimax, pois de acordo com Reis (2001) citado por Fávero (2009, p. 245)

“é um método ortogonal e pretende que, para cada componente principal, existam apenas

alguns pesos significantes e todos os outros sejam próximos de zero, isto é, o objetivo é

maximizar a variação entre os pesos de cada componente principal”.

Desta forma, chega-se a última etapa da técnica de análise fatorial, onde define-

se os fatores e procede-se com a interpretação e a respectiva nomeação dos mesmos a

partir de suas cargas fatoriais, cujas dependem do tamanho da amostra utilizada e não

devem ser inferiores a 0,30. Visando detectar quais as microrregiões com maior ou menor

indicador de sustentabilidade agrícola na Amazônia paraense, foi calculado o Índice de

Sustentabilidade Ambiental (ISA), com base na metodologia descrita por Santana (2005)

e Gama (2006). Estimou-se a matriz de escores fatoriais após a rotação ortogonal da

estrutura fatorial inicial que, por definição, situa cada observação no espaço dos fatores

comuns. A expressão matemática do ISA é dada por:

||ln)].52(

6

11[

2

Rpn

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q

jij

jj

j

FPISA1 (5)

Sendo que é a variância explicada por cada fator e é a soma total da

variância explicada pelo conjunto de fatores comuns. O escore fatorial foi padronizado

(FP) para obtenção de valores positivos dos escores originais e permitir a hierarquização

das microrregiões, uma vez que os valores do ISA variam entre zero e um. A fórmula

matemática utilizada foi a seguinte:

FFFF

FPi

i

minmax

min

(6)

Em que Fmin e Fmax são os valores máximo e mínimo observados para os escores

fatoriais associados às microrregiões da Amazônia paraense. Conforme proposto por

autores como: Santana (2005) e Gama (2006), e para facilitar a interpretação dos

resultados, estabeleceu-se os seguintes intervalos de valores do ISA, agrupando as

microrregiões conforme o grau de sustentabilidade: i) valores do índice situados abaixo

de 0,4 são considerados baixo; ii) valores entre 0,4 a 0,69 representam nível de

sustentabilidade intermediário; iii) valores superiores a 0,70 são considerados altos em

sustentabilidade.

Para um quadro analítico da Amazônia paraense, sob o ponto de vista de sua

sustentabilidade, foram definidas sete variáveis, buscando-se a adequação do modelo à

realidade do estado, a saber:

1ª) Energia obtida: refere-se à energia no estabelecimento rural, proveniente de

uma rede geral ou obtida de outra forma, como: gerador, conversor de energia, etc.

2ª) Assistência técnica: consiste, no âmbito da política agrícola, em disseminar

conhecimentos e formar produtores rurais, famílias rurais e organizações, nos aspectos

tecnológicos e gerenciais do sistema produtivo agrícola, visando à geração de emprego,

renda e desenvolvimento rural sustentável;

3ª) Rotação de culturas: é uma prática agrícola que consiste alternar, anualmente,

espécies vegetais numa mesma área agrícola;

4ª) Adubo orgânico: proveniente de restos de plantas e/ou animais (esterco e

urina de animais), outros compostos orgânicos que são facilmente dissolvidos e

desintegrados pelo solo, tais como: adubação verde, vinhaça, húmus de minhoca,

biofertilizantes e inoculantes (fixador de nitrogênio).

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5ª) Agricultura orgânica: é um sistema de produção que evita ou exclui

amplamente o uso de todo e qualquer produto químico na exploração agrícola.

6ª) Plantio Direto: é um sistema diferenciado de manejo do solo, visando

diminuir o impacto da agricultura e das máquinas agrícolas sobre o mesmo.

7ª) Plantio em nível: é uma prática agrícola, cujas linhas de plantio são feitas

seguindo as curvas de nível, isto é, locais com a mesma altitude.

Com a finalidade de classificar as diversas microrregiões paraenses em termos

de práticas sustentáveis reveladas pela análise fatorial, utilizou-se, ainda, a técnica de

análise de agrupamentos, a qual, segundo Hair et al. (2008), é um grupo de técnicas

multivariadas cuja finalidade primária é agregar objetos com base nas características que

eles possuem. Tal como a análise fatorial é uma técnica multivariada de dados. Sua

diferença está na forma de agregação dos dados, pois busca agregar objetos (municípios,

regiões, empresas, etc) com base na similaridade deles.

Em geral, existem três tipos de medidas de similaridade: medidas de distância,

medidas correlacionais, e medidas de associação. Por conta disso, Fávero et al. (2009, p.

201) ressaltam que “as medidas mais comuns de similaridade são as de distância, em

especial, a distância euclidiana simples e a quadrática”. Assim, segundo Santana et al.

(2008), de forma genérica tem-se que a medida de distância euclidiana entre a observação

i e a observação j ( ) é dada por:

(7)

Onde é o valor da variável para a observação i e é o valor da variável

para a observação j. Porém, Hair et al. (2008) lembram que a distância euclidiana simples

trabalha com dados não-padronizados, o que pode gerar inconsistências entre soluções de

agrupamentos quando a escala das variáveis é mudada. Para solucionar esse problema é

comum à padronização das variáveis, procedimento que consiste na conversão de cada

variável em escores padrão pela subtração da média e divisão pelo desvio-padrão para

cada variável.

O passo seguinte na análise de agrupamento, após a definição da medida que

será utilizada para mensurar a similaridade, é a seleção do método utilizado para agrupar

as variáveis. Nesta etapa a escolha pode seguir dois caminhos, os métodos hierárquicos e

os não-hierárquicos.

n

k

kjkiij XXD1

22 )(

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Os métodos hierárquicos podem ser de dois tipos: aglomerativos ou divisivos.

Nos aglomerativos cada objeto começa como seu próprio agrupamento, em passos

seguintes os dois agrupamentos mais próximos são combinados em um novo agregado,

reduzindo assim o número de agrupamentos em uma unidade em cada passo. Quando o

processo de agrupamento prossegue na direção oposta dos métodos aglomerativos, ele se

autodenomina como sendo o método divisivo, tal como destacado por Hair et al. (2008).

Entre os métodos hierárquicos aglomerativos os mais populares são: ligação

individual, ligação completa, ligação média, método de ward e método de centróide.

Esses métodos diferem na forma como a distância entre os agrupamentos é computada.

Os métodos não-hierárquicos dependem da especificação prévia pelo pesquisador do

número de agregados. Neste trabalho será utilizado o método hierárquico aglomerativo

de Ward, o qual tem como objetivo avaliar os grupos pelo seu grau de dispersão d. Na

visão de Santana et al. (2008), a dispersão intragrupo é medida pela soma dos desvios

quadráticos (SDQ) entre seus elementos de tal modo que:

(8)

Em que “o” é o centroide (média) do grupo.

3. Análise dos Resultados

A amostra utilizada apresentou-se adequada para a utilização da análise fatorial.

O teste de Bartlett, com valor 83,5, confirmou a significância da matriz de correlação ao

nível de 1% de probabilidade de erro. Isto permitiu aceitar-se a hipótese alternativa de

que a matriz de correlação não é identidade. Esta adequação também fora confirmada

pelo teste KMO, que apresentou valor igual 0,798, significando boa condição de

adequação dos dados.

Desse modo, procedeu-se com a extração dos fatores e as respectivas estimações

das cargas fatoriais.

A Tabela 1, a seguir, apresenta os resultados da solução inicial e rotacionada

para os sete fatores possíveis e suas respectivas relevâncias explicativas.

2

1

,

q

i

i oedSQD

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Tabela 1: Variância total explicada dos fatores extraídos para as microrregiões paraenses

Componentes

Autovalores e variância iniciais Variância após a rotação

Variância

total

% da

variância

Variância

acumulada Total

% da

variância

Variância

acumulada

1 3,966 56,651 56,651 3,371 48,156 48,156

2 1,426 20,367 77,017 2,020 28,862 77,017

3 0,575 8,213 85,230

4 0,420 5,995 91,225

5 0,299 4,272 95,497

6 0,204 2,907 98,404

7 0,112 1,596 100,000 Fonte: Censo Agropecuário (IBGE) de 2006.

Aplicando-se o critério da raiz latente, foram confirmados dois componentes, os

quais explicam 77, 02% da variância total do conjunto dos dados, satisfazendo o critério

da porcentagem da variância. A Tabela 2 apresenta as cargas fatoriais das variáveis que

compõem cada um dos fatores, representadas nas três primeiras colunas, assim como o

grau de correspondência entre cada variável e fator, ou seja, sua comunalidade mostrada

na quarta coluna.

Em linhas gerais, todas as variáveis apresentaram boa significância no que tange

a explicação de suas variâncias. A penúltima linha, correspondente à soma do quadrado

dos autovalores, apresentou valores da ordem de 3,371 e 2,020, respectivamente, para os

dois fatores extraídos. Conforme Santana et al. (2008, p. 131) estes dados indicam “a

importância relativa de cada fator na explicação da variância associada ao conjunto de

variáveis analisado”.

Tabela 2: Matriz de cargas fatoriais, após rotação ortogonal pelo método varimax.

Fatores Comunalidade

F1 F2

Plantio em nível 0,928 0,188 0,897

Adubo orgânico 0,920 0,087 0,853

Energia obtida 0,900 0,093 0,819

Agricultura orgânica 0,772 0,343 0,713

Plantio direto 0,055 0,850 0,725

Assistência técnica 0,132 0,842 0,726

Rotação de culturas 0,487 0,649 0,659

Soma do quadrado do autovalor 3,371 2,020 5,391

Porcentual do traço(%) 48,156 28,862 77,017 Fonte: Censo Agropecuário (IBGE) de 2006.

A extração de fatores, via de regra, ocorreu por ordem de importância em relação

ao total da variância explicada. Após a realização do processo de rotação dos dados, o

Fator 1 explicou 48,16%, enquanto o Fator 2, 28,86%. O valor equivalente a 5,391,

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apresentado na penúltima linha da Tabela 2, representa a soma total do quadrado dos

autovalores indicando a parcela total de variância extraída após o ajustamento dos dados.

Como cada variável tem um autovalor máximo igual à unidade, então é possível

comparar a parcela da variância total a ser explicada obtida pela solução fatorial (5,391)

com a variação total do conjunto das variáveis representada pelo traço da matriz fatorial.

O traço é a variância total a ser explicada, a qual é obtida por meio da relação entre a

soma do quadrado do autovalor com a soma dos autovalores de todos os fatores possíveis

de serem gerados. Conforme os resultados pode-se afirmar que os dois fatores extraídos

conseguem explicar 77,02% do total da variância. Este índice é considerado satisfatório,

demonstrando um bom grau de correlação entre as variáveis.

Conforme Santana et al. (2008), toda vez que uma solução fatorial satisfatória é

obtida, faz-se necessário atribuir um significado a ela. Uma vez extraídos os fatores,

procede-se a nominação, a fim de ajustar a técnica à discussão estabelecida,

considerando-se a escolha dos objetivos e dos dados para alcançá-los. Levam-se em

consideração os sinais, bem como o padrão das cargas fatoriais, de modo especial as com

os mais altos valores.

As variáveis selecionadas para esta solução fatorial estão relacionadas com a

sustentabilidade de conservação, descrita no início deste artigo. Trata-se de práticas e

técnicas conservacionistas, as quais visam a utilização dos recursos no processo produtivo

de uma forma mais racional, onde a produtividade cresça sem prejudicar as características

naturais basilares dos recursos envolvidos. Deste modo, a nominação dos fatores

mostrou-se desafiadora.

O primeiro fator agrega as variáveis plantio em nível, adubo orgânico, energia

obtida e agricultura orgânica, praticamente a totalidade com valores altos, refletindo

coerência com a discussão da sustentabilidade. A prática do plantio em nível, além de

melhorar a produtividade é indispensável para sua conservação, pois favorece o aumento

da infiltração de água e reduz a erosão e a consequente perda do solo. Entretanto, o uso

desta técnica não deve ser feito de forma isolada. Deste modo, a adubação orgânica,

juntamente com a energia e a agricultura orgânica, fortalece o processo de conservação

do solo. Assim sendo, o Fator 1 foi denominado “produção conservacionista”, pois uma

vez combinadas adequadamente tais variáveis, se consegue aliar produtividade com

conservação.

O Fator 2 foi composto pelas variáveis: plantio direto, assistência técnica e

rotação de culturas. Estas variáveis estão também relacionadas com a conservação e o

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melhoramento do solo, diferenciadas das demais pelo fato de apresentarem vantagem de

produtividade e de custos. O plantio direto melhora a resistência da lavoura em relação

às plantas daninhas, bem como torna o solo mais propício à produção.

Para Golla (2006), a rotação de culturas também contribui para uma redução de

plantas daninhas, pragas e doenças, ao mesmo tempo em que contribui para a manutenção

da estrutura do solo. Desse modo, aliadas a uma assistência técnica adequada, tais

procedimentos podem impulsionar de uma forma diferenciada a produção. Assim sendo,

o Fator 2 foi denominado “gestão conservacionista”.

Em termos de índice de sustentabilidade ambiental (ISA), obtido a partir dos

escores fatoriais associados a estas dimensões, as microrregiões paraenses apresentaram-

se, em maior parcela, baixa sustentabilidade. De acordo com a Tabela 3, subsequente,

apenas duas microrregiões, Guamá e Santarém, apresentaram sinal positivo para os dois

fatores. Isto significa conjugação das práticas conservacionistas, ou seja, tanto produção

quanto gestão estão convergindo para uma produção dentro dos moldes da

sustentabilidade.

Tabela 3: Valores dos escores fatoriais originais e padronizados e o Índice de

Sustentabilidade Ambiental (ISA) da Agricultura da Amazônia paraense

Microrregiões Escore fatorial original Escore fatorial padronizado ISA

Fator 1 Fator 2 FP1 FP2

Bragantina 2,982 -0,304 1,000 0,582 0,843

Cametá 1,824 -0,328 0,715 0,509 0,638

Guamá 1,266 1,506 0,578 0,473 0,539

Tomé-Açu 0,737 -0,355 0,448 0,440 0,455

Santarém 0,523 1,555 0,395 0,407 0,407

Castanhal 0,413 -0,276 0,368 0,419 0,387

Salgado 0,409 -0,417 0,367 0,419 0,386

Tucuruí 0,162 -0,012 0,306 0,403 0,342

Altamira -0,062 1,323 0,251 0,389 0,303

Furo de Breves -0,230 -1,257 0,210 0,378 0,273

Parauapebas -0,403 -0,677 0,167 0,367 0,242

São Félix do Xingu -0,443 -0,531 0,157 0,365 0,235

Redenção -0,451 -0,424 0,155 0,364 0,234

Marabá -0,484 -0,202 0,147 0,362 0,228

Óbidos -0,508 -0,478 0,141 0,361 0,223

Itaituba -0,658 0,308 0,104 0,351 0,197

Belém -0,664 -0,928 0,103 0,351 0,196

Portel -0,745 -0,961 0,083 0,346 0,181

Arari -0,754 -0,637 0,081 0,345 0,180

Almeirim -0,787 -0,753 0,073 0,343 0,174

Paragominas -1,047 1,225 0,009 0,326 0,128

Conceição do Araguaia -1,082 2,620 0,000 0,324 0,122

Valor máximo 2,982 2,620 Média 0,314

Valor mínimo -1,082 -1,257 Mediana 0,239 Fonte: Censo Agropecuário (IBGE) de 2006.

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Na microrregião Guamá, a rotação de culturas é mais incidente, bem como

assistência técnica, fatores que permitem um melhor desempenho no aspecto da produção

com conservação. As demais microrregiões, com exceção de Altamira, Itaituba,

Paragominas e Conceição do Araguaia, apresentaram sinal negativo para o Fator 2. A

ausência de assistência técnica é o principal motivo justificador para esta situação.

Quinze microrregiões, ou seja, 68,18% do total apresentaram sinal negativo para

o primeiro fator. De certo modo, isto revela que as práticas utilizadas em maior

intensidade divergem daquelas aqui postas como determinantes para a sustentabilidade

da agricultura.

Nestas microrregiões predomina a produção mecanizada e em larga escala, com

uso abundante de áreas territoriais. Um grupo de 10 microrregiões apresentou sinal

negativo para os dois fatores, o que determina a condição de menos conservacionistas em

suas práticas e gestões de produção. Em termos de ordenação do ISA, apenas uma

microrregião atingiu alto grau de sustentabilidade ambiental, com ISA > 0,7 (a

microrregião Bragantina obteve ISA igual a 0,843).

Além disso, quatro microrregiões apresentaram grau de sustentabilidade

ambiental intermediário, com ISA entre 0,4 e 0,7 (microrregião Cametá, Guamá, Tomé-

Açu e Santarém, com respectivamente, ISA = 0,638, 0,539, 0,445 e 0,407). As demais

microrregiões (17), que representam 77,3%, apresentaram baixo grau de sustentabilidade

ambiental.

Analisado do ponto de vista dos valores médios e medianos do ISA, temos que

oito microrregiões estariam acima da média e 11 acima do índice mediano. Para efeitos

de análise, podemos inferir que tais resultados demonstram a necessidade de se incutir

tais práticas conservacionistas a fim de que se obtenham melhores resultados tanto do

ponto de vista ambiental, quanto econômico e social, pois uma vez aliadas tais variáveis,

os resultados nestas três dimensões se potencializam. Da mesma forma, tais resultados

servem como elementos de observação e orientação para os órgãos de fomento e de

desenvolvimento de políticas agrícolas para que possam elaborar com mais eficácia suas

ações e estratégias de promoção do desenvolvimento da atividade agrícola.

Adicionalmente, a análise do agrupamento das microrregiões paraenses com

base na similaridade que elas possuem em relação a práticas de sustentabilidade

ambiental, utilizando o método hierárquico de Ward como método de agrupamento e a

distância euclidiana com variáveis padronizadas como medida de similaridade mostrou

que essas microrregiões podem ser divididas em três grupos. De outro modo, para a

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validação desse agrupamento, empregou-se o teste ANOVA, que por sua vez mostrou-se

estatisticamente significativa a 5% de probabilidade de erro para todas as variáveis

analisadas.

Os resultados indicam uma convergência entre a maioria das microrregiões com

destaque para a Bragantina, conforme já destacou o ISA. De acordo com o dendrograma,

que pode ser visualizado através da Figura 1, a agricultura da Amazônia paraense em

termos da incidência de práticas sustentáveis na sua produção apresenta três grupos

importantes, os quais coincidem com os diferentes níveis de adoção de práticas

sustentáveis: baixa, média e alta, fato confirmado pela linha imaginária que corta (forma)

os três grupos de microrregiões (entre as distâncias 5 e 10, respectivamente).

O 1º agrupamento é formado pelas microrregiões Almerim, Belém, Portel, Arari,

São Félix do Xingu, Marabá, Parauapebas, Redenção, Furos de Breves, Óbidos, Itaituba,

Salgado, Tomé Açu, Castanhal e Altamira. Depois, um 2º agrupamento (Tucuruí,

Paragominas, Conceição do Araguaia, Bragantina, Cametá e Santarém) e por fim um

agrupamento de uma única microrregião, que é Guamá.

Do resultado da pesquisa empírica, foi possível visualizar microrregiões com

ISA mais elevados em microrregiões paraenses, aonde vem se desenvolvendo as práticas

de exploração agrícola mais recomendada para diminuir o impacto negativo no ambiente,

que procuram combinar exploração da agricultura com pecuária, ainda que esta última

não seja muito desenvolvida em microrregiões com maiores níveis do ISA. Tanto assim

que, em 2006, o Pará registrava 10.825.117 ha de pastagens, dos quais, 15,70%

pertenciam a microrregião de São Félix do Xingu, com um ISA de 0,235, portanto, abaixo

da média estadual (0,239), enquanto Bragantina, maior ISA (0,843), tinha menos de 1%

em área de pastagem, ou seja, 94.815 ha de pasto.

Figura 1: Dendrograma das microrregiões com práticas de exploração mais semelhantes entre si, formando agrupamentos

de sustentabilidade: ano 2006

Fonte: elaboração própria a partir do software SPSS 17.

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Ademais, faz-se necessário registrar que entre 2006 e 2009, áreas plantadas com

lavouras com temporárias e permanentes sofreram decréscimos de 12,87% e 4,45%,

respectivamente, ainda que o VBP, de ambas, cresceu, talvez devido ao aumento de

preços dos produtos agrícolas. Nesse sentido, este estudo mostra-se consistente na

orientação de práticas agrícolas sustentáveis que resultem em maior produtividade em

menor área explorada.

4. Considerações Finais

A técnica de análise fatorial possibilitou o agrupamento das variáveis que

influenciam nas práticas de exploração agrícola consideradas sustentáveis nas

microrregiões paraenses. Dois grupos, apenas, explicaram 77,02% da variância total dos

dados, que foram denominados como produção conservacionista e gestão

conservacionista.

Ademais, os resultados do ISA confirmaram que as microrregiões do estado do

Pará possuem um baixo desempenho em sustentabilidade ambiental, uma vez que das 22

microrregiões, 17 registraram um baixo índice, o que corresponde 77,27% do total,

revelando deficiências na orientação, na execução e na gestão de políticas agrícolas para

uma produção que resulte numa menor degradação ambiental.

Em estágio intermediário de práticas sustentáveis na agricultura, enquadraram-

se quatro microrregiões: Cametá, Guamá, Tomé Açu e Santarém, com ISA entre 0,4 ≥

0,7. Este resultado já permite uma indicação para que os formuladores de política agrícola

ou de fomento ao desenvolvimento rural observem cada uma dessas microrregiões, em

critérios que indiquem práticas de exploração agrícolas mais sustentáveis.

Somente a microrregião de Bragantina obteve um ISA de 0,84, portanto,

considerado alto. Esta microrregião apresentou escores fatoriais positivos e relativamente

altos nos dois principais fatores, indicando práticas sustentáveis, tais como: plantio em

nível uso de adubo orgânico, plantio direto, rotação de cultura e outros, ou seja, práticas

e gestão conservacionistas do uso do solo e, assim, se destacando frente às demais

microrregiões.

Por fim, a análise de agrupamento corroborou nos resultados da análise fatorial,

isto é, as explorações agrícolas nas microrregiões paraenses puderam ser enquadradas em

três estratos do ISA: alto, intermediário e baixo, com a predominância para este último.

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TERRITÓRIO RURAL E SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL: A INTERFACE

EXPRESSA NAS PRODUÇÕES CIENTÍFICAS BRASILEIRAS

Maria Rosilene Cândido Moreira1

José Ferreira Lima Júnior2

Suely Salgueiro Chacon 3

Resumo

Este estudo se propôs a investigar o perfil das pesquisas sobre território rural e

sustentabilidade ambiental nos artigos publicados em periódicos nacionais e em

dissertações e teses oriundas dos programas nacionais de pós-graduação stricto sensu na

área de ciências ambientais. Trata-se de estudo bibliométrico para examinar a produção

científica da última década e nortear estratégias de futuras pesquisas. Utilizou-se como

fonte de dados a Biblioteca Científica Eletrônica on line SciELO Brasil, por ser de fácil

acesso e difundir de maneira abrangente os artigos publicados no país, além do Banco de

Teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), que

coordena o Sistema de Pós-graduação brasileiro. Na busca por sustentabilidade

ambiental, foram encontrados 23 artigos, 1.308 dissertações e 306 teses; mas ao incluir o

termo território rural, apenas trabalhos de pós-graduação foram achados (sete),

possibilitando verificar que a dimensão ambiental da sustentabilidade vem sendo

estudada em diversas áreas do conhecimento, com tendência crescente, entretanto,

necessitando que mais trabalhos/artigos sejam produzidos para difundirem o

conhecimento proveniente dos cursos de pós-graduação. Sob outro enfoque, evidenciou-

se escassez de trabalhos que abordem a dimensão do território rural e sua interface com

a sustentabilidade ambiental, sinalizando haver uma lacuna nesta seara do conhecimento.

Palavras-chave: Sustentabilidade ambiental, territórios rurais, estudos bibliométricos.

1 Introdução

As pesquisas sobre Desenvolvimento Sustentável (DS) emergiram no Brasil a

partir da década de 1990, sendo alavancadas a partir do ano de 2002, como resultado das

discussões sobre preservação do meio ambiente e condições sociais e econômicas da

sociedade (SOUZA; RIBEIRO, 2013), amplamente discutidas no evento

internacionalmente conhecido como Rio+20.

A partir dos debates estabelecidos nos encontros que discutiram o problema da

degradação do meio ambiente e da necessidade de sua preservação, a Comissão Mundial

1 Professora Adjunta da Universidade Federal do Cariri (UFCA). Juazeiro do Norte, Ceará, Brasil. Email:

[email protected].

2 Professor Adjunto da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Cajazeiras, Paraíba, Brasil. Email:

[email protected]. Bolsista do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional Sustentável da

Universidade Federal do Cariri (PNPD/UFCA).

3 Professora Adjunta da Universidade Federal do Cariri (UFCA). Juazeiro do Norte, Ceará, Brasil. Email:

[email protected]. Docente do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional Sustentável da

Universidade Federal do Cariri (UFCA).

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sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD, 1988) definiu Desenvolvimento

Sustentável como sendo aquele capaz de atender às necessidades do mundo

contemporâneo, sem comprometer as gerações futuras na satisfação de suas próprias

necessidades. Esta definição abrange três dimensões consideradas os pilares do DS, sendo

elas a ambiental, a econômica e a social (BARBOSA, 2008).

Assim, do sentido mais amplo de Sustentabilidade, como sendo aquele cujas

ações garantem qualidade de vida, conservação do meio ambiente e adequação ao

território (MENDES, 2009), emergiu a definição de que a Sustentabilidade Ambiental

pode ser alcançada através da intensificação dos recursos existentes e potenciais, da

limitação do consumo de recursos esgotáveis e da utilização de produtos renováveis,

sendo necessário para isso o incremento de pesquisas que proponham o desenvolvimento

de tecnologias limpas, pois significa produzir e consumir de maneira a garantir os

recursos sem esgotá-los, possibilitando sua autorreparação (NASCIMENTO, 2012).

Consistindo uma das principais dimensões, as demandas socioambientais do

Desenvolvimento Sustentável são elementos inerentes às Ciências Ambientais, uma vez

que o escopo desta área é multidisciplinar, requerendo a compilação de diferentes áreas

do saber, possibilitando reflexões sob diferentes compreensões e perspectivas

(COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR

- CAPES, 2013).

Torna-se evidente que a dimensão ambiental do DS encontra espaço nos diversos

segmentos sociais e econômicos, tendo alcance direto sobre os problemas emergentes das

populações, quer sejam provenientes dos espaços urbanos ou rurais. Nesse contexto, o

conceito de território passa a valer como uma categoria influente na preservação ou

degradação dos recursos naturais existentes, uma vez que, na perspectiva

multidimensional da Sustentabilidade, o território integra o homem aos recursos naturais

que, ao ser ocupado e explorado, tem seu grau de preservação ou degradação estabelecido.

Com este entendimento, considera-se que a dimensão do território deve ser

valorada na relação direta com o DS, pois o território constitui espaço de liberdade,

resultante da interação com o homem e alvo das políticas públicas, cujos envolvidos

podem contribuir para a tomada de decisões para os problemas socioambientais locais

(SANTOS; LORETO, 2012).

Sob este pilar, ancora-se a Sustentabilidade espacial ou territorial, configurando-

se como a busca de equilíbrio entre o rural e o urbano, com melhor distribuição dos

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espaços e assentamentos humanos, a fim de garantir a conservação da biodiversidade e

do ecodesenvolvimento (MENDES, 2009).

É dentro dessa lógica que se insere o território rural, espaço de produção, de

criação e recriação, mas também de degradação, se os atores envolvidos não dispuserem

de meios e estratégias para sua sustentabilidade.

Preocupados com a preservação da natureza e na busca de tecnologias

renováveis limpas, os pesquisadores brasileiros tem enveredado esforços em pesquisas e

produções científicas que discutem amplamente a questão da Sustentabilidade e sua

dimensão ambiental, debates expressos em congressos e simpósios da área, nos cursos de

pós-graduação e nas produções textuais científicas nacionais e internacionais.

Entretanto, poucos são os estudos realizados sobre o que é produzido na área de

sustentabilidade ambiental e publicado em periódicos (SOUZA; RIBEIRO, 2013), assim

como não foi encontrada na literatura revisada nenhum artigo acerca das produções

oriundas dos programas stricto sensu do país afins à temática em questão, especialmente

quando se referem ao território rural e à Sustentabilidade Ambiental.

Com base nessa constatação, e considerando ser premente que mais estudos

aprofundem a temática, uma vez que a questão ambiental sustentável constitui tema

inesgotável de investigação e reflexões, propôs-se o presente trabalho, que buscou avaliar

o perfil das pesquisas sobre território rural e Sustentabilidade Ambiental nos artigos

publicados em periódicos nacionais e em dissertações e teses oriundas dos programas

nacionais de pós-graduação stricto sensu na área de Ciências Ambientais.

Pretende-se, com este artigo, contribuir para disseminar o tema da Sustentabilidade

Ambiental e sua interface com o território rural, fomentando curiosidades científicas aos

pesquisadores da área, além de pretender apresentar o que tem sido explorado atualmente

nesta dimensão do Desenvolvimento Sustentável.

2 Metodologia

Este estudo caracteriza-se como descritivo, documental, com abordagem

quantitativa, que utilizou técnicas de análise bibliométrica, cuja intenção é quantificar e

analisar a produção científica acerca do tema escolhido e assim possibilitar a elucidação

de estratégias para futuras pesquisas que aprofundem o assunto (SOUZA; RIBEIRO,

2013). Estudos deste tipo são também denominados meta-análises.

Por bibliometria compreende-se um método quantitativo e estatístico de medição

dos índices de produção e disseminação do conhecimento científico, uma vez que, estudos

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dessa natureza, abrangem toda pesquisa que tem o intuito de quantificar os processos de

comunicação escrita (PRITCHARD, 1969; ARAÚJO, 2006 apud FERREIRA, 2010).

Com esta definição, optou-se por este tipo de estudo, uma vez que ele pretende investigar

amplamente a produção textual publicada através de artigos científicos, dissertações e

teses sobre sustentabilidade ambiental, na dimensão do território rural, enquadrando-se,

este trabalho, na essência dos estudos bibliométricos.

Para viabilizar a análise dos trabalhos, foram consideradas as três leis básicas da

bibliometria: a Lei de Bradford (produtividade de periódicos), também conhecida por lei

da dispersão, sob a qual é possível estabelecer o núcleo e as áreas de dispersão sobre

determinado assunto em um mesmo conjunto de revistas, através da medição da

produtividade dos periódicos; a Lei de Lotka (produtividades de autores), também

reconhecida como Lei do Quadrado Inverso, considera a perspectiva da probabilidade em

publicar trabalhos, considerando que à medida que muitos autores escrevem um só

trabalho isto se torna inversamente proporcional a quantidade de autores diversos que

escrevem sobre um mesmo tema, ou seja, quanto mais se publica, mais fácil se torna

publicar novo trabalho; e c) Lei de Zipf (freqüência de ocorrência de palavras), também

compreendida como Lei do Menor Esforço, que reflete a medição da freqüência do

aparecimento dos termos pesquisados nos diversos documentos científicos, o que gera

uma listagem ordenada sobre determinado assunto, viabilizando sua medição e análise

(FERREIRA, 2010).

No presente estudo, para cumprir os preceitos da Lei de Bradford, utilizou-se o

Banco de Dados do Portal de Revistas Eletrônicas on line SciELO Brasil e o Banco de

Teses da CAPES, a fim de identificar os periódicos e as instituições depositárias das

produções acerca do tema sob estudo e assim poder verificar a dispersão do tema em

âmbito nacional; para cumprir uma das premissas da Lei de Lotka, buscou-se averiguar

as publicações e classificá-las conforme as diversas áreas do conhecimento, tomando

como base as credenciais dos autores informadas nos artigos. Por último, em

cumprimento à Lei de Zipf, foram adotados dois termos de busca para identificação dos

trabalhos – sustentabilidade ambiental e território rural – a fim de padronizar as pesquisas

e encontrar o maior número de publicações e produções acadêmicas existentes nas

bibliotecas investigadas.

Para a coleta de dados foram utilizadas como fontes a Biblioteca Científica

Eletrônica on line SciELO Brasil, por ser de fácil acesso e difundir de maneira abrangente

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os artigos publicados no país e o Portal de periódicos e o Banco de Teses da CAPES que

coordena o Sistema de Pós-graduação brasileiro.

Foram analisados artigos publicados e dissertações e teses defendidas na última

década, a fim de estabelecer uma análise de tendência. Os artigos foram lidos na íntegra

e avaliados quanto ao periódico de publicação, área de conhecimento relacionada,

conteúdo da pesquisa, formação/credenciais dos autores e evolução cronológica das

publicações. Além desses quesitos, o conceito Qualis da CAPES também foi mensurado,

tomando-se por base a avaliação trienal 2013 (CAPES, 2013), pois considera-se que, para

a realidade brasileira, o Qualis da CAPES e o formato de avaliação por estratos é a melhor

maneira de analisar a qualidade das revistas científicas (FERREIRA, 2010).

As dissertações e teses tiveram seus resumos lidos e foram examinadas quanto à

área de conhecimento envolvida, conteúdo do trabalho, ano de defesa, instituição de

educação superior vinculada e evolução cronológica das produções.

Todos os documentos textuais foram lidos durante o mês de julho de 2015 e os

resultados digitados e tabulados no Microsoft Excel 2007, sendo apresentados sob a

forma de tabelas e gráficos, mediante análise estatística descritiva.

3 Resultados e discussão

Foram encontrados 23 artigos na base de dados SciELO Brasil, cuja análise

bibliométrica foi subdividida em três tópicos: periódicos e classificação Qualis; evolução

das publicações e áreas de conhecimento relacionadas.

Foram identificadas 13 revistas científicas que agruparam os 23 artigos

analisados. Somente uma delas não possuía inclusão na classificação Qualis da CAPES e

duas não tiveram avaliações em Ciências Ambientais, que foi a área escolhida neste

trabalho como item de padronização para classificar todos os periódicos (Tabela 1).

Destaca-se que a área de Ciências Ambientais foi introduzida no contexto da

pós-graduação da CAPES no ano de 2011, decorrente da necessidade de contemplar as

produções que envolvem a complexidade dos problemas ambientais, mediante o caráter

indissociável entre os sistemas antrópicos e naturais que emergem no mundo

contemporâneo. Com este entendimento, a CAPES considera que os programas quando

tratam das questões ambientais, tanto nas áreas de concentração, como nas linhas de

pesquisa, trazem implícita a diversidade desta área, que considera ainda as palavras chave

meio ambiente, desenvolvimento, recursos naturais, ecologia, políticas públicas,

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planejamento, gestão, tecnologias e educação, como termos afins que direcionam os

trabalhos produzidos para esta área de conhecimento (CAPES, 2013).

Tabela 1: Publicações sobre Sustentabilidade Ambiental, por periódico e classificação Qualis.

Periódico Classificação Qualis

Revista de Administração Contemporânea A2

Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental A2

Revista Brasileira de Ciência do Solo A2

Estudos Avançados A2

Engenharia Sanitária e Ambiental A2

Ciência Rural B1

Ambiente construído B1

Revista Ciência Agronômica B2

Revista Ambiente & Água B2

Arquivos do Instituto Biológico B2

REAd. Revista Eletrônica de Administração Não se aplica

Perspectivas em Ciência da Informação Não se aplica

Production Sem qualis Fonte: Autoria própria, 2015.

Analisando-se os estratos Qualis, verifica-se que 38,5% dos periódicos estão

avaliados e classificados com Qualis A2 (cinco periódicos), representando 47,9% dos

artigos publicados na temática (11 artigos), o que é considerado padrão ouro na produção

nacional conforme a classificação da CAPES na avaliação dos docentes orientadores

pertencentes aos programas de pós-graduação stricto sensu no país. No estrato B1, foram

encontrados dois periódicos (15,4%) e no B2 três revistas (23,1%), todos considerados

bons estratos para credenciamento, manutenção e qualificação dos programas de

mestrado e doutorado no país.

Analisando a evolução cronológica das publicações, verifica-se que há uma

tendência crescente, porém discreta, refletindo a escassez de produções textuais nos

periódicos nacionais, sendo mais evidente a partir do ano 2009, sendo de 2,4 a média de

artigos publicados sobre a temática em questão, durante a década pesquisada (Figura 1).

Figura 1: Evolução cronológica das publicações sobre Sustentabilidade Ambiental, por

ano.

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Quanto às áreas de conhecimento relacionadas às publicações, optou-se por

agrupá-las a partir da leitura do conteúdo textual e das credenciais dos autores. Os

resultados estão expressos conforme as grandes áreas do conhecimento reconhecidas pela

CAPES (Tabela 2).

Tabela 2. Áreas de conhecimento relacionadas aos artigos sobre Sustentabilidade

Ambiental.

Área de conhecimento f %

Agronomia 11 47,8

Engenharia 05 21,7

Administração 04 17,4

Zootecnia 01 4,3

Ciência da Informação 01 4,3

Outro 01 4,3

TOTAL 23 100,0 Fonte: Autoria própria, 2015.

Verifica-se que Agronomia é a área que detém a maior parte das publicações

envolvendo o tema sustentabilidade ambiental, enfocando, sobretudo, o cultivo do solo

(MORAIS; OLIVEIRA; MAIA, 2014; DALCHIAVON, 2013; LIMA et al, 2010; LIMA

et al, 2009), os recursos hídricos (PORTUGAL JUNIOR; REYDON; PORTUGAL, 2015;

PIZELLA; SOUZA, 2007) e a produção de etanol/biocombustíveis (SALLA et al, 2009;

SALLA et al, 2010a; SALLA et al, 2010b) no escopo das pesquisas. A Engenharia

também tem sido uma área de conhecimento com produção científica na temática,

ocupando o segundo lugar em maior quantidade de artigos relacionados, revelando

pesquisas sobre sustentabilidade dos esgotos domésticos (SANTOS et al, 2011), resíduos

de origem animal (VALENTE et al, 2011; SANTOS et al, 2014), das bacias hidrográficas

(KELLNER; CALIJURI; PIRES, 2009), sistemas de irrigação de plantações e

preservação/reaproveitamento de áreas preservadas/degradadas (BARBISAN et al, 2009;

PAULA; UEICHI; MALHADO, 2013).

Destacam-se as áreas de Ciência da Informação, que publicou artigo de pesquisa

em uma rede social, a fim de identificar discussões sobre sustentabilidade ambiental pelos

que acessaram a referida rede social (SILVEIRA; CRUZ, 2012), e da Administração, que

publicou pesquisas acerca das produções sobre sustentabilidade ambiental e sua inserção

no campo da administração (MACHADO JUNIOR; SOUZA; PARISOTTO, 2014;

SOUZA; RIBEIRO, 2013; SOUZA et al, 2013). Esta iniciativa demonstra que o tema

sustentabilidade ambiental é transversal, podendo ser matéria de estudo de variadas áreas

de conhecimento.

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Houve ainda um artigo cuja área de conhecimento não foi possível de ser

identificada, devido ser uma produção oriunda de um programa de pós-graduação em

Desenvolvimento Sustentável que avaliou a sustentabilidade ambiental dos municípios

envolvidos com o cultivo da cana-de-açúcar no Estado de São Paulo, no período

correspondente à safra de 2007/2008 (RODRIGUES FILHO; JULIANI, 2013), sendo

classificado em outro tipo de área do conhecimento.

Ressalta-se a ausência de artigos publicados expressando a relação da dimensão

ambiental da sustentabilidade com o território rural, embora tenham sido encontrados

estudos que envolvem tratamento do solo, água de irrigação e aspectos tecnológicos das

plantações de cana-de-açúcar e de mandioca na produção de etanol e biocombustíveis.

Em relação às dissertações e teses disponíveis no Banco de Teses da CAPES, ao

utilizar o termo Sustentabilidade Ambiental, foram encontrados um total de 1.630

registros; entretanto, refinando-se a pesquisa com a inclusão do termo Território rural

através do conector AND, resultaram sete trabalhos, sendo seis oriundos dos programas

de mestrado e um de doutorado (Tabela 4).

A análise bibliométrica realizada nos trabalhos foi subdividida em três tópicos:

tipo de trabalho (dissertação ou tese), instituições de educação depositárias e evolução

das produções.

Tabela 4: Dissertações e Teses sobre Sustentabilidade Ambiental e território rural.

Descrição f %

Termos da busca: Sustentabilidade Ambiental

Dissertação (mestrado acadêmico) 1.117 68,5

Dissertação (mestrado profissional) 191 11,7

Tese (doutorado) 306 18,8

TOTAL 1.630 100,0

Termos da busca: Sustentabilidade Ambiental AND território rural

Dissertação (mestrado acadêmico) 06 85,7

Dissertação (mestrado profissional) 00 0,0

Tese (doutorado) 01 14,3

TOTAL 07 100,0 Fonte: Autoria própria, 2015.

Avaliando-se os tipos de produção científica, observa-se que as publicações

sobre território rural e sua dimensão ambiental da sustentabilidade foram produzidas, em

sua maioria, a partir dos cursos de mestrado acadêmico, embora tais trabalhos ainda sejam

incipientes quando comparados ao montante de trabalhos na temática maior, pois este

tipo de pesquisa representa somente 0,43% do total de produções encontradas.

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Este dado reflete uma extensa lacuna, haja vista haver incipiente exploração

deste campo do conhecimento, resultando em escassez de revelações científicas,

inovações e incremento de práticas sustentáveis no meio rural.

Na análise das instituições depositárias dos trabalhos acadêmicos verifica-se que

as maiores detentoras de produções sobre sustentabilidade ambiental concentram-se nas

Universidades de Brasília, Federal Fluminense, de São Paulo, Federal de Pernambuco e

Federal do Rio de Janeiro, somando 18,6% do total de produções (Tabela 5).

No que se referem aos trabalhos que envolvem o território rural na dimensão

ambiental da sustentabilidade, observa-se uma distribuição dispersa pelas instituições de

educação superior do país, sendo cadastrados trabalhos em instituições de educação

superior nos estados de Sergipe, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa

Catarina e Amazonas.

Tabela 5: Instituições de Educação depositárias dos trabalhos sobre Sustentabilidade

Ambiental e território rural.

Instituição de Educação Superior

Sustentabilidade

ambiental

Sustentabilidade ambiental

e território rural

f % f %

Universidade de Brasília 64 3,9 00 0,0

Universidade Federal Fluminense 62 3,8 00 0,0

Universidade de São Paulo 61 3,7 00 0,0

Universidade Federal de Pernambuco 61 3,7 1 14,3

Universidade Federal do Rio de Janeiro 57 3,5 01 14,3

Fundação Univ. Federal de Sergipe 49 3,0 02 28,6

Universidade Federal de Goiás 47 2,9 00 0,0

Universidade Federal do Ceará 47 2,9 00 0,0

Universidade Federal de Campina Grande 37 2,3 00 0,0

Universidade Federal de São Carlos 35 2,2 00 0,0

Universidade Federal de Santa Catarina 33 2,0 00 0,0

Universidade Federal do Paraná 31 1,9 00 0,0

Univ. Federal do Rio Grande do Norte 30 1,8 00 0,0

Univ. Federal do Rio Grande do Sul 28 1,7 01 14,3

Universidade Federal do Amazonas 27 1,7 01 14,3

Universidade Regional de Blumenau 11 0,7 01 14,3

Demais instituições 950 58,3 00 0,0

TOTAL 1.630 100,0 07 100,0 Fonte: Autoria própria, 2015.

Para analisar a evolução cronológica das produções acadêmicas buscou-se no

Banco de Teses a listagem de trabalhos da última década (2005 – 2015); entretanto, como

forma de garantir a consistência das informações, a equipe responsável pelo banco de

dados da CAPES está realizando uma análise dos dados informados e identificando

registros que por algum motivo não foram informados de forma completa à época de

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coleta dos dados, disponibilizando no portal apenas os trabalhos defendidos em 2011 e

2012.

Diante disso, a análise dos dois anos disponíveis não possibilita traçar um

panorama sobre a evolução cronológica das produções; entretanto, os dados apresentados

no biênio registram o quantitativo de 1.308 dissertações e 306 teses, em um total de 745

trabalhos em 2011 e 869 em 2012, possibilitando verificar um acréscimo de um ano para

o outro. As dissertações representaram 81% do total de produções, sinalizando a intensa

contribuição dos programas de mestrado no incremento das pesquisas em sustentabilidade

ambiental.

Esses dados refletem ainda uma tendência crescente de produção textual oriunda

dos programas de pós-graduação do país, cuja média de dissertações foi de 654 e de teses

153, por ano, durante o biênio pesquisado (Figura 2).

Figura 2: Dissertações e teses defendidas sobre Sustentabilidade Ambiental no biênio

2011-2012.

Fonte: Autoria própria, 2015.

Analisando as produções acadêmicas conforme a área de conhecimento

relacionada, verifica-se que a maior parte delas está concentrada nas Ciências ambientais,

que detém 20,5% das produções acadêmicas sobre sustentabilidade ambiental.

Observa-se ainda a existência de trabalhos acadêmicos nas áreas de

Administração, Engenharia civil, Direito, Sociais e humanidades, em uma demonstração

de que a sustentabilidade ambiental constitui dimensão transversal para as diversas áreas

do conhecimento científico (Tabela 6).

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Tabela 6: Áreas de conhecimento relacionadas aos trabalhos acadêmicos sobre

Sustentabilidade Ambiental e território rural.

Área de conhecimento

Sustentabilidade

ambiental

Sustentabilidade ambiental

e território rural

f % f %

Ciências ambientais 334 20,5 00 0,0

Administração 129 7,9 00 0,0

Geografia 116 7,1 03 42,9

Engenharia civil 103 6,3 00 0,0

Direito 77 4,7 00 0,0

Engenharia de produção 69 4,2 00 0,0

Sociais e humanidades 69 4,2 00 0,0

Agronomia 66 4,1 01 14,3

Meio ambiente e agrárias 46 2,8 01 14,3

Planejamento urbano e regional 40 2,5 02 28,6

Demais áreas 581 35,6 00 0,0

TOTAL 1.630 100,0 07 100,0

Fonte: Autoria própria, 2015.

Avaliando detalhadamente as produções acadêmicas, foi possível verificar que

os trabalhos envolvendo o tema sustentabilidade ambiental e sua interface com o território

rural, concentrados na área de Geografia, abrangem estudos sobre os impactos

provocados na Área de Preservação Permanente do Parque das Nascentes do Igarapé

Mindu – Manaus/Amazonas, tendo por base os instrumentos de gestão ambiental

participativa e as territorialidades do lugar (BORGES, 2012); análise da unidade de

produção familiar camponesa, localizada no Território do Alto Sertão Sergipano, a partir

do Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA (SANTOS, 2012) e verificação de

como a transição da agricultura convencial para as praticas de agricultura de base

ecologica - transição agroecologica - interfere na organização territorial, na qualidade de

vida e no manejo dos bens naturais pelos componentes da comunidade de Mocotó, em

Vitoria de Santo Antão, estado do Pernambuco (CUNHA, 2012).

Na área de Agronomia, um trabalho buscou discutir o papel da agroecologia na

construção do desenvolvimento rural sustentável na perspectiva territorial, elucidando a

identidade rural do Território Sul Sergipano e caracterizando seu estilo produtivo

(FONTES, 2012).

Na área de Meio ambiente e agrárias, uma dissertação explorou o processo de

construção de identidades relacionadas aos processos organizativos de três associações

camponesas que procuram a constituição de Zonas de Reserva Campesina (ZRC) na zona

montanhosa dos municípios de Caloto, Corinto e Miranda no norte do Cauca (Colômbia),

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a fim de elucidar os processos de identificação dos camponeses como sujeitos coletivos

através de suas reivindicações pelo território e o desenvolvimento no meio das diferentes

dinâmicas sociais e políticas da região, e das relações inter-étnicas com outros grupos

sociais, como os indígenas (VARONA, 2011).

Destaca-se, dentre as áreas de conhecimento relacionadas, a de Planejamento

urbano e regional, que contemplou dois trabalhos defendidos, sendo uma dissertação, que

analisar como a identidade territorial pode contribuir para o desenvolvimento local nas

comunidades da microbacia hidrográfica do Rio Sagrado, no município de Morretes,

estado do Paraná (DOURADO, 2011) e uma tese, que discutiu as dimensões tecnológicas

da disputa entre distintas formas de produção vigentes na agricultura brasileira,

especificamente, o sistema de produção em assentamentos rurais nos municípios de

Conceição da Barra e São Mateus/ES (CANAVESI, 2011). Estes documentos confirmam

a versatilidade do tema sustentabilidade ambiental como objeto de estudo no meio

científico.

Ressalta-se a existência de poucos trabalhos defendidos que expressam a relação

da dimensão ambiental da sustentabilidade com o território rural; embora tenham sido

encontrados estes estudos, eles representam somente 0,43% da produção total de

dissertações e teses defendidas no mesmo período.

4 Conclusão

A análise bibliométrica das produções científicas nacionais sobre

sustentabilidade ambiental revelou que a dimensão ambiental da sustentabilidade vem

sendo estudada em diversas áreas do conhecimento, com tendência crescente, entretanto,

necessitando que mais trabalhos e artigos sejam produzidos para difundirem o

conhecimento proveniente dos cursos de pós-graduação e assim incrementar as pesquisas

na área, agregando valor aos cursos de mestrado e doutorado, pesquisadores docentes

envolvidos e respectivas instituições de educação depositárias dos trabalhos.

Sob outro enfoque, evidenciou-se escassez de trabalhos que expressem a

dimensão do território rural e sua interface com a sustentabilidade ambiental, sinalizando

haver uma lacuna nesta seara do conhecimento, necessitando que estudos futuros teçam

reflexões acerca dos possíveis fatores contribuintes para este reduzido número de

trabalhos envolvendo essa interface.

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