a produÇÃo historiogrÁfica do gem esforÇos e … · documentos relativos à história da...

13
A PRODUÇÃO HISTORIOGRÁFICA DO GEM ESFORÇOS E AVANÇOS Elizabeth Madureira Siqueira 11 A produção anterior à UFMT/IE/GEM De 1925 a 1977 foram produzidas diversas obras sobre a educação mato-grossense, caracterizadas por uma escrita sequencial da História da Educação relatada enquanto processo e, consequentemente, ordenada de forma cronológica, uma vez que, no tratamento temático, os autores tomaram o tempo linear enquanto base de apoio. Esse material, tão relevante para pesquisas posteriores, sedimentou empiricamente novos escritos. Nesse tipo de historiografia, com raríssimas exceções, o cenário nacional é pouco mencionado, sendo a educação de Mato Grosso tratada por si mesma, como se o que se passava regionalmente pouco tinha a ver com aquilo que acontecia em âmbito nacional. Tampouco é abordada tendo por base um projeto educacional cujo modelo fora gestado no cenário europeu e transposto para o Brasil, onde se reproduziu de forma exemplar no Rio de Janeiro, então capital. Por outro lado, não se verifica, no interior dessa historiografia clássica da Educação mato-grossense, a rigidez metodológica no que tange à citação dos documentos, uma vez que não se encontravam os acervos documentais catalogados ou organizados, e tampouco se amparou, com raríssimas exceções, em pensadores, De qualquer forma, essa literatura inaugural serviu de norte para as produções posteriores, timbradas pelo cientificismo acadêmico. O trabalho que marcou o momento de ruptura entre a produção clássica e a acadêmica foi Educação e História em Mato Grosso: 1719-1864, de autoria de Gilberto Luiz Alves (1984). Essa obra inaugural buscou dar uma nova abordagem ao cenário educacional mato- grossense, seja no que tange à questão de se imbricar História e Educação, ou quanto à firme e segura abordagem teórico-metodológica no campo do materialismo histórico, além de representar um investimento valioso no campo do tratamento documental. Alves executou essa propositura com muita prioridade, percorrendo o período colonial e parte do imperial, fechando sua análise em 1870. Pelo valor da obra, foi a mesma reeditada na década de 1990. 11 Profa. Dra. em História da Educação. Membro do Grupo de Pesquisa Educação e Memória da UFMT. Curadora da Casa Barão de Melgaço. Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso e da Academia Mato-Grossense de Letra 48 III EHECO – CatalãoGO, Agosto de 2015

Upload: nguyenkhuong

Post on 18-Nov-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

A PRODUÇÃO HISTORIOGRÁFICA DO GEMESFORÇOS E AVANÇOS

Elizabeth Madureira Siqueira11

A produção anterior à UFMT/IE/GEM

De 1925 a 1977 foram produzidas diversas obras sobre a educação mato-grossense,caracterizadas por uma escrita sequencial da História da Educação relatada enquanto processoe, consequentemente, ordenada de forma cronológica, uma vez que, no tratamento temático,os autores tomaram o tempo linear enquanto base de apoio. Esse material, tão relevante parapesquisas posteriores, sedimentou empiricamente novos escritos. Nesse tipo de historiografia,com raríssimas exceções, o cenário nacional é pouco mencionado, sendo a educação de MatoGrosso tratada por si mesma, como se o que se passava regionalmente pouco tinha a ver comaquilo que acontecia em âmbito nacional. Tampouco é abordada tendo por base um projetoeducacional cujo modelo fora gestado no cenário europeu e transposto para o Brasil, onde sereproduziu de forma exemplar no Rio de Janeiro, então capital. Por outro lado, não se verifica,no interior dessa historiografia clássica da Educação mato-grossense, a rigidez metodológicano que tange à citação dos documentos, uma vez que não se encontravam os acervosdocumentais catalogados ou organizados, e tampouco se amparou, com raríssimas exceções,em pensadores, De qualquer forma, essa literatura inaugural serviu de norte para as produçõesposteriores, timbradas pelo cientificismo acadêmico.

O trabalho que marcou o momento de ruptura entre a produção clássica e a acadêmicafoi Educação e História em Mato Grosso: 1719-1864, de autoria de Gilberto Luiz Alves(1984). Essa obra inaugural buscou dar uma nova abordagem ao cenário educacional mato-grossense, seja no que tange à questão de se imbricar História e Educação, ou quanto à firme esegura abordagem teórico-metodológica no campo do materialismo histórico, além derepresentar um investimento valioso no campo do tratamento documental. Alves executouessa propositura com muita prioridade, percorrendo o período colonial e parte do imperial,fechando sua análise em 1870. Pelo valor da obra, foi a mesma reeditada na década de 1990.

11 Profa. Dra. em História da Educação. Membro do Grupo de Pesquisa Educação e Memóriada UFMT. Curadora da Casa Barão de Melgaço. Membro do Instituto Histórico e Geográficode Mato Grosso e da Academia Mato-Grossense de Letra

48

III EHECO – Catalão‐GO, Agosto de 2015

Os Programas de pós-graduação e as Frentes do GEM

Vale lembrar que os programas de pós-graduação constituíram-se em alavancas paradesencadear uma nova produção no campo da historiografia da educação. Ao lado desseimportante fator, podemos somar o esforço despendido pelos grupos de pesquisa em Históriada Educação que vêm investindo, por longos anos, na localização e catalogação dos acervos, oque ensejou novas produções. Esse foi o caso do grupo de pesquisa Educação e MemóriaGEM, do Instituto de Educação da UFMT, criado em 1996 e Coordenado, durante 20 anos,pelo Prof. Dr. Nicanor Palhares Sá, auxiliado, na parte da metodologia documental, pelahistoriadora Profª Drª Elizabeth Madureira Siqueira. Atualmente, vem sendo conduzido, commuita competência e dinamismo, pela Profª Drª Elizabeth Figueiredo de Sá, que conta comsignificativo apoio da Profa. Dra. Márcia Ferreira, e é integrada por mestrandos edoutorandos, além de bolsistas. Esse grupo conseguiu, até o momento, abrir muitas frentes detrabalho. Vejamos esse percurso:

Frente 1 – Sistematização da DocumentaçãoO GEM se empenhou, num primeiro momento, no tratamento da documentação

Imperial depositada no Arquivo Público de Mato Grosso (APMT), no Instituto Memória doPoder Legislativo (IMPL), no Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional(NDIHR) e no Arquivo da Casa Barão de Melgaço (ACBM), cujo produto final estáconsubstanciado no instrumento de pesquisa intitulado Educação e Memória: catálogo dedocumentos relativos à História da Educação de Mato Grosso (período Imperial), com 431páginas e incluindo, aproximadamente, 3.000 verbetes. Esse material se encontra tambéminformatizado, estando disponibilizado aos consulentes e interessados, não somente osverbetes, mas também parte da documentação que se encontra transcrita e digitada na íntegra.Desse trabalho, que perfez quase três anos ininterruptos de presença nos arquivos, redundouainda a publicação da obra Leis de Regulamentos da Instrução Pública do Império em MatoGrosso, organizada pelos dois citados Coordenadores, e publicada em Campinas, EditoresAssociados/SBHR/INEP, no ano de 2000. Outra publicação, Discursos pronunciados porocasião da inauguração do Liceu Cuiabano em 1880, depositado na Biblioteca da Casa Barãode Melgaço, reuniu diversos pronunciamentos que marcaram indelevelmente a conduçãopolítica republicana implementada pela primeira escola de ensino secundário (hoje médio) deMato Grosso. Fontes, pesquisa e escrita da História consubstanciou outro esforço, de sedivulgar e reunir em livro, parte da investigação e dos avanços na área.

Idêntico trabalho foi elaborado com relação à documentação educacional daRepública: 1890-1950, durante quase três anos de investigação e intervenção junto aosacervos. Nessa medida, o grupo de pesquisa Educação e Memória oferece hoje aospesquisadores um Catálogo do período republicano sob o suporte virtual (CD-ROM) eorganizado por Instituição educacional, perfazendo, aproximadamente, 4.500 verbetes, e,ainda, uma farta documentação transcrita e digitalizada na íntegra.

49

III EHECO – Catalão‐GO, Agosto de 2015

Frente 2 – O emolduramento de Mato Grosso no cenário nacional

A produção científica do período inicial, ao contrário do que até então havia produzidoa historiografia clássica, investiu, num primeiro momento, em trabalhos investigativos decunho mais conjuntural, como foram os casos de Luzes e Sombras: modernidade e educaçãopública de Mato Grosso (1870-1889), tese de doutorado, hoje publicada, que recuperou asegunda metade do século XIX em Mato Grosso, em estreita relação com o cenário nacional,sem descurar das especificidades regionais. O segundo trabalho, Nas trilhas do ensino, deLaci Alves, procurou fazer uma abordagem conjuntural de 1910 e 1946, cotejando a realidademato-grossense e os movimentos educacionais ocorridos no Rio de Janeiro. Estado,Educação Escolar, Povo - A reforma mato-grossense de 1910, de autoria da saudosa MariaBenício Rodrigues, cotejou os movimentos nacionais escolanovistas com a realidade mato-grossense, aprofundando e enriquecendo os estudos de contexto.

Frente 3 – Instituições escolares urbanasApós os exaustivos trabalhos de levantamento de fontes, seguidos da produção mais

contextualizada, o GEM investiu no tratamento mais pontual da educação mato-grossense,quase todos tendo Cuiabá como campo de investigação sob o olhar citadino que, quebrandocom o cenário conjuntural, mas dele não se apartando, estudou instituições escolares urbanas,num primeiro momento. Foi o caso da Coletânea Educação e Memória , em 4 volumes,coordenada pelos Profs. Drs. Nicanor Palhares Sá e Elizabeth Madureira Siqueira. Essaprodução, de grande aceitação no interior da comunidade universitária, logo se esgotou, vistoabordar temáticas até então pouco trabalhadas, como foi o caso do Asilo Santa Rita,instituição responsável pela formação das jovens mato-grossenses e que ensinava tambémartes domésticas, preparando as jovens para o casamento, de autoria de Ivone Goulart Lopes;Escola Normal de Cuiabá, de autoria de Elizabeth Figueiredo de Sá, que analisou a primeiraescola de formação de professores à luz de um interessante acervo documental produzido pelainstituição na primeira metade do século XX; o terceiro volume da coletânea, Palácios daInstrução: instituição dos Grupos Escolares em Mato Grosso (1910-1927), da lavra deRosinete Maria dos Reis e Nicanor Palhares Sá, apresentou, no interior do Regulamento de1910, a criação dos dois primeiros Grupos Escolares em Cuiabá; sendo que o último volume,sob o título de Processo de profissionalização docente em Mato Grosso (1930-1960), deautoria de Regina Aparecida Versoza Simião, buscou recuperar a trajetória profissionaldocente no cenário de Mato Grosso.

50

III EHECO – Catalão‐GO, Agosto de 2015

Elizabeth Figueiredo de Sá investiu ainda no estudo da infância e suas representações nocenário de Mato Grosso, ao publicar De criança a aluno: as representações da escolarizaçãoda infância em Mato Grosso (1910-1927), contribuindo para a ampliação do olhareducacional que, saindo das instituições escolares, focou em seus protagonistas, as crianças.Na mesma direção é Revisitando a história da escola primária: os grupos escolares emMato Grosso na primeira República, da mesma autora em parceria com Nicanor Palhares Sá.

Em seguida, ainda na linha da investigação sobre instituições escolares, Nádia CuiabanoKunze se debruçou na pesquisa sobre a primeira instituição escolar pública federal de MatoGrosso, A Escola de Aprendizes Artífices de Mato Grosso (1910-1941), iniciando, nessamedida, os estudos sobre o ensino profissionalizante. No mesmo período, Arilson Martinsinvestigou o primeiro estabelecimento de ensino secundário de Mato Grosso, com SeminárioEpiscopal da Conceição: da materialidade física à proposta pedagógica, pesquisa até entãoinédita e cujo filão documental foi encontrado em um acervo eclesiástico, cujas peçasdocumentais integravam o Instituto de Pesquisas D. Aquino Corrêa, hoje todo digitalizadopelo Arquivo da Casa Barão de Melgaço. No seu doutorado, em Lisboa, Arilson deuprosseguimento à pesquisa, defendendo a tese O Seminário Episcopal da Conceição naFormação das Elites de Mato Gross – Brasil (1858-1880).

Frente 4 – Afunilando o olhar sobre a Educação mato-grossense Afunilando o olhar sobre o cenário educacional, vem a lume, em 2005, A Leitura e aEscrita na Cultura Escolar de MT (1837-1889), de autoria de Ana Paula da Silva Xavier,pesquisa que, deixando de lado as instituições escolares per si, abriu um olhar diferenciadosobre os compêndios didáticos utilizados nas escolas de Mato Grosso durante o períodoimperial. Na mesma linha de investigação, em 2007, Paula Regina Moraes Martins Campos,em O ensino da leitura e da escrita em Mato Grosso na passagem do Império para República(1888-1910) , analisou a história da alfabetização, entendida como história do ensino da leiturae da escrita em Mato Grosso, na passagem do Império para a República, objetivandoaveriguar/investigar se os arranjos legais vigentes no período estudado, colaborando para aimplantação de um método de ensino da leitura e da escrita nas escolas públicas primárias deMato Grosso. Novas investigações sobre livros didáticos foram aprofundadas na primeiraRepública, a exemplo da pesquisa desenvolvida por Aparecido Borges da Silva, em 2009,intitulada Mato Grosso nos livros didático de história (1889-1930): imaginários erepresentações, que analisou o material didático de História manuseado pelos alunos de MatoGrosso durante a primeira República. A dissertação defendida em 2010, Educação moral ecívica: disciplina e poder disciplinar no ensino de primeiro grau mato-grossense da décadade 1970, estudo de Dayenne Karoline Chimiti Pelegrini, investigou na disciplina escolarEducação Moral e Cívica, a partir da análise do conteúdo de livros didáticos para o ensinofundamental e que foram utilizados no Estado de Mato Grosso, durante a década de 1970.

51

III EHECO – Catalão‐GO, Agosto de 2015

Maria Teresinha Fin, em 2011, aprofundou a formação de professores sob a ótica dadocumentação relativa à primeira Escola Normal de Cuiabá, criada pelo Regulamento de1910, com a dissertação A Apropriação das ideias Escolanovistas no curso de Formação deProfessores em Mato Grosso (1910/1937). Nessa pesquisa foi localizada uma ricadocumentação até então inédita desse estabelecimento escolar, guardada numa escola públicade Cuiabá, criada pós-1970. Estudos sobre outras escolas públicas específicas também vieram a lume, em 2009,como a dissertação de mestrado de Marcos Roberto Gonçalves, intitulada Centro de InstruçãoMilitar de Mato Grosso (1952 a 1960), criado em 22 de agosto de 1952 com o objetivo deformar oficiais e praças para atuar na Policia Militar do Estado, o pioneiro no trato do ensinomilitar.

Frente 5 – Escolas campesinas: propedêuticas e técnicas

Estudo relativo às escolas urbanas terminou por se revelar acanhado às propostas doGEM, uma vez que Mato Grosso foi e ainda é conhecido por sua potencialidade rural, porémas escolas localizadas para além das cidades ainda se mantinham, até então, silenciadas.Assim, ir além do cenário urbano se fazia necessário. Um forte investimento foi feito tendopor base o Regulamento da Instrução Pública de Mato Grosso de 1927, ocasião em que foramorganizadas as escolas urbanas, reunidas e rurais. Fruto de reflexão sobre essa legislaçãoespecífica, surgiram Escolas Reunidas na sedimentação da escola moderna, de autoria deElton Castro (2012), e Escola Primária Rural: trilhar caminhos e transpor barreiras naeducação em Mato Grosso (1927-1945), de Marineide de Oliveira da Silva (2012). Taisesforços investigativos fizeram avançar a análise da realidade educacional de Mato Grossoabrindo novas perspectivas de pesquisas referentes à educação do campo mato-grossense, atéentão pouco exploradas. O cenário educacional foi ampliado, novos acervos escolaresconsultados e sistematizados, assim como sujeitos silenciados até então, tiveram suas vozesreveladas. Ao mesmo tempo, o estudo da escola rural, trouxe vigorosa discussão sobre aprodução historiográfica clássica da educação de Mato Grosso, até então pouco explorada, aexemplo das obras de Gervásio Leite e de Júlio G. Vaz Cerquinho, apresentados no VIIICongresso Brasileiro de Educação (1942), reflexões até então praticamente inéditas e quesofreram releitura muito interessante desses textos.

O estudo sobre o ensino técnico agrícola ministrado na zona rural do município deSanto Antônio de Leverger teve início com Luciane Neuvald, em A maior dádiva do EstadoNovo: o Aprendizado Agrícola Gustavo Dutra no período populista e o processo demodernização da agricultura de Mato Grosso (1943-1964), pioneiro nos estudos de educaçãotécnica voltada para a área agrícola. Em seguida, no ano de 2006, Lindamar Etelvino SantosSoares, em Escola de iniciação agrícola Gustavo Dutra: o poder disciplinar no contexto do

52

III EHECO – Catalão‐GO, Agosto de 2015

ensino agrícola de Mato Grosso, privilegiou também em serra de São Vicente, zonacampesina pertencente ao município de Santo Antônio de Leverger e que se dedica ao ensinotécnico agrícola. Na mesma direção, Abimael Antunes Marques aprofundou as pesquisasanteriores, visto ter consultado o acervo institucional, cujo resultado foi O AprendizadoAgrícola Gustavo Dutra: seu papel e importância no contexto agrícola de Mato Grosso,dissertação de mestrado defendida em 2005. O mesmo pesquisador deu continuidade àsinvestigações sobre a mesma instituição, concluindo a tese A Ocupação do tempo e do espaçoescolar no Ginásio Agrícola Gustavo Dutra como elemento de contribuição para a formaçãoda cidadania do seu corpo discente -1969 a 1974, defendida em 2015, junto à UFU.

Outras instituições escolares rurais também mereceram abordagens, como foi o casoda investigação de Lucas Paulo de Freitas que, tomando como base uma escola confessionalevangélica Buriti (Chapada dos Guimarães), produziu, em 2013, o texto Entre o evangelho eo ensino: o Colégio Presbiteriano Buriti (1923-1965), abrindo novo flanco no que se refere àsescolas confessionais rurais de cunho evangélico. Importante ressaltar que na pesquisa foilocalizada a documentação da instituição, hoje organizada e digitalizada pelo citadopesquisador e incorporada ao acervo do GEM.

Em 2012, Rômulo Pinheiro de Amorim , em Professoras primárias em Mato Grosso:trajetória profissionais e sociabilidade intelectual na década de 1960, analisou a capacitaçãodas professoras normalistas de Mato Grosso, na década de 1960, e seu papel na divulgaçãodos ensinamentos recebidos nos cursos de especialização, realizados fora de Mato Grosso, e ametodologia de transmissão dos novos conhecimentos às professoras leigas, o que lhes valeua constituição de um campo de poder, visto que consideradas intelectuais daquele período.

Frente 6 – Educação e questão étnica

Por outro lado, novas temáticas ainda mais invisíveis ganharam status no interior doGEM, a exemplo daquelas ligadas à questão racial, com abordagem na educação indígena enegra. Em 2010, Mary Diana da Silva Miranda, em Crianças negras na Instrução Pública emCuiabá/MT (1870-1890), investigou, no período imperial, a presença de crianças negras nointerior das escolas primárias, verificando que em Mato Grosso elas eram superiores às deoutros estados, durante o Império. Maricilda do Nascimento Farias, em 2009, tambémrecuperou na pesquisa intitulada Representações dos negros nos livros escolares utilizados emMato Grosso na Primeira República, os compêndios didáticos e a representação do segmentonegro no interior desse material. Visando imprimir à questão racial uma tônica maisespecífica, Nailza da Costa Barbosa Gomes, em 2009, escreveu Uma professora negra emCuiabá na Primeira República: limites e possibilidades, ao investigar a trajetória pessoal eprofissional de Bernardina Maria Elvira Rich, professora primária em Cuiabá durante asprimeiras décadas do período republicano brasileiro. Já Carla Patrícia Marques de Souza, em2009, ao defender a dissertação Os jovens negros e a educação em Cuiabá (1889-1910) ,

53

III EHECO – Catalão‐GO, Agosto de 2015

avançou no marco cronológico, centrando a discussão nas escolas da Capital, Cuiabá. Nessainvestigação foi utilizada, além da documentação oficial, também o censo demográfico de1890, importante fonte para identificação da cor de alunos, professores e suas famílias.Concluiu a mestranda que a República, ao contrário do que se pensava, excluiu esse segmentonegro infantil dos bancos escolares. Prosseguindo nos estudos sobre segmentos poucoestudados pela história da educação do negro no cenário regional. Paulo Divino Ribeiro daCru z , em 2009, também direcionou seu olhar para a questão racial, ao escrever A influênciado racismo na educação mato-grossense na transição do século XIX ao XX, analisando ainfluência racista na educação mato-grossense na transição do século XIX para o XX, tendocomo ferramentas de análise os conceitos de Eurocentrismo, Colonialidade e Racismo.

Já em 2009, Paulo Sérgio Dutra, em Memórias de professores negras no Guaporé: do silêncioà palavra , entrecruzou a educação de outro estado e a questão de cor, descrevendo umaexperiência com professoras negras de uma escola fundada na cidade de Guajará-Mirim, nadécada de 30, por Dom Francisco Xavier Rey, e destinada à preparação das primeirasprofessoras para atender às povoações localizadas ao longo do Vale do Guaporé, no extremooeste mato-grossense, objetivando vencer o analfabetismo. Já Educação e Fronteira: AQuestão do Negro em Mato Grosso, de autoria de Nicanor Palhares Sá e Lourenço Ocuni Cá,marcou o avanço das análises relativas à presença do negro no interior do processo escolar.

Outra vertente aberta pelo GEM no campo investigativo do GEM se refere àrecuperação do segmento indígena no cenário educacional de Mato Grosso, iniciado com aobra História da Educação indígena e Colonialidade, de autoria de Adriane Pesovento,Nicanor Palhares Sá e Sandra Jorge da Silva. Pela primeira vez se fez investimentos no campoeducativo voltado para as populações ancestrais de Mato Grosso, os índios. Essa obraconsubstanciou as investigações de Sandra Jorge da Silva, em sua dissertação de mestradoque teve como objeto o estudo da Colônia Thereza Christina, sob administração salesiana, nofinal do século XIX e início do XX. Já Pesovento, em sua tese de Doutorado História daEducação Indígena na Província de Mato Grosso, privilegiou referenciais da História Novacotejando-os com os clássicos e contemporâneos da Antropologia. No entanto, o que semostrou inovador foi o tratamento da educação indígena à luz da colonialidade, referencialteórico interessantíssimo. A tese representou uma inovação no interior do GEM, contribuindopara os avanços da linha da História da Educação de Mato Grosso.

Frente 7 – Educação e Saúde

54

III EHECO – Catalão‐GO, Agosto de 2015

Educação e Saúde estiveram historicamente unidas, por isso algumas pesquisas doGEM efetivaram o entrecruzando dessas duas áreas, a exemplo de Escola de Auxiliar deEnfermagem Dr. Mário Corrêa da Costa: a profissionalização da enfermagem em MatoGrosso (1952-1975), de autoria de Lidiana Laura Campos Borralho de Arruda, defendida em2012, o que representou a possibilidade de interface interessante, na medida em que essainstituição escolar foi pioneira em Mato Grosso na formação do profissional enfermeiro. Jáem 2012, Catiane Peron, em A tendência ao vórtice da desconstrução: reflexão sobre acondição do adoecimento, privilegiou a vivência do adoecimento pelo enfermeiro professorda Faculdade de Enfermagem (FAEN), da Universidade Federal do Mato Grosso – UFMT,objetivando refletir e compreender a vivência do adoecimento pelo enfermeiro professor,buscando discutir como a doença desconstrói e reconstrói a realidade e identidade do sujeito,além de compreender como, após o acometimento de uma doença, o enfermeiro professorvivência e constitui essa nova notícia sobre si. Já em 2012, Neide Tarsila da Costa, em Adimensão educativa do trabalho do enfermeiro: a percepção dos docentes do curso deenfermagem da UFMT/Sinop, investigou a percepção dos docentes do curso de enfermagemoferecido pela UFMT, campus Sinop, quanto à dimensão educativa do trabalho do enfermeiro.

Frente 8 – Educação e imprensaO campo documental levantado no primeiro momento do GEM serviu de inspiração

para trabalhos com periódicos, ampliando, nessa medida, as perspectivas de abordagem. Foi ocaso das teses de doutorado de Simone Nolasco, O fazer-se cidadão: o jornalismo estudantilnas décadas de 20 e 30 no Liceu Cuiabano, que investigou um filão documental até entãoinédito, dando-lhe tratamento por temáticas e colaborando para o elaboração da trajetória dosarticulistas que colaboraram junto aos diversos jornais estudantis da instituição. MarijaneSilveira da Silva investigou especificamente um periódico educacional de Mato Grosso, aRevista Educação em Mato Grosso: criação, produção e circulação (1978-1986), avaliandosua importância enquanto mecanismo de capacitação dos professores, assim como discutindoos artigos por temas e problemas.

Frente 9 – Educação de Mato Grosso e suas conexões Latino-americanasA inserção de Mato Grosso no cenário latino-americano e sua estreita e histórica

vinculação com países desse contexto, ensejou dois relevantes trabalhos. O primeiro,intitulado Escola Nova. Educação. Mato Grosso e Santa Fé, de autoria de Ana Paula Ennes deMiranda Eto, defendido em 2010, tomou como objeto de estudo a realização da Escola Novaem Mato Grosso - a 1ª Escola Urbana Masculina e Feminina do município de Diamantino - ea escola argentina Dr. Gabriel Carrasco, em Santa Fé. O segundo trabalho investigativo tomoucomo cenário a realidade colombiana, Escuela Nueva colombiana: representações daruralidade nos seus manuais escolares (1970-1990), de autoria de Sara Evelin Urrea Quintero.A dissertação aclarou a representação da Escola Nova no cenário latino-americano, tomando a

55

III EHECO – Catalão‐GO, Agosto de 2015

Colômbia rural como especificidade analítica, suas contradições, metodologia e situaçãocontemporânea.

Frente 10 – Educação e GêneroAnálises de gênero e etnia marcaram o início das defesas do GEM, ainda na década de

1970, com Sílvia Vitorino que estudou ______, trabalho percursor no campo da história daeducação de Mato Grosso, visto ter sido a primeira dissertação defendida no Programa. Emseguida, Ilza Dias Paião, em 2005, introduziu, em Professoras de pena, papel e tinta:trabalho feminino entre representações e práticas de gênero em Mato Grosso (1870-1892),um novo olhar sobre a questão de gênero no interior do processo educacional, que objetivouentender e analisar o processo de constituição do lugar e papel da professora pública primáriano final do século XIX, em Mato Grosso. Mais recentemente, Linet de Sá Santos, em MulherMato-grossense na era Vargas: educação e representações, investigou um momentoimportante da história brasileira, com enfoque especial para um período em que o sexofeminino iniciou uma trajetória fora do lar, exercendo profissões diversas e conseguindoemancipar-se, inclusive politicamente, quando conquistou o direito ao voto. Em Mato Grosso,o Grêmio Literário Júlia Lopes congregou uma série de mulheres que se tiveram uma atuaçãosignificativa em termos de emancipação durante a Era Vargas, estudadas na dissertação.

Frente 11 – Nacionalismo e Civismo na Educação

Nacionalismo e civismo constituíram outra frente de investigação do GE. Tudo inicioucom Carlos Américo Bertolini, no ano de 2000, com a pesquisa Encenações Patrióticas: AEducação e o Civismo a Serviço do Estado Novo (1937-1945), a qual partiu do pressuposto deque a educação pública foi um dos principais instrumentos de construção da nacionalidadebrasileira durante as décadas de 1930-1940, ocasião em que os agentes históricos e asautoridades estatais penderam para uma visão autoritária, dentro da qual ganharam relevo asconcepções nacionalistas que apontavam para um reforço do patriotismo e do civismo. Emseguida, em ____, surge Emilene Xavier, com _______, investigando as práticas cívicas nointerior de uma escola pública do município de Santo Antônio de Leverger-MT.

Frente 12 – Educação Superior Na tentativa de traçar um quadro avaliativo do Programa de Pós-Graduação emEducação, duas dissertações, defendidas em 2007, foram importantes no desvendamento dosespaços acadêmicos, na para da Educação, de discussão e ampliação do debate, a saber, OSeminário Educação: produção e intercâmbio (1992-2006) , de autoria de Maria José Batista daSilva; e História do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFMT (1987-2007), deLiana Deise da Silva. A Revista consubstancia produções intelectuais de alto nível, visto que,hoje, a Revista está qualificada pela Capes como A. Já o Seminário Educação, hojesedimentado, incorpora discussões internacionais, nacionais e regionais.

56

III EHECO – Catalão‐GO, Agosto de 2015

Frente 13 – Educação e Oralidade

Em seguida e até certo ponto concomitante, o Grupo de Pesquisa investiu também naprodução de novos documentos através de projetos de História Oral, no interior do qual forame ainda estão sendo entrevistados professores antigos residentes nas mais variadas cidades doEstado. Os depoimentos foram gravados de duas formas: através de fita cassete e também pormeio de filmadora digital, sendo que ao final o depoimento sofreu transcrição e também agravação em CD-ROM, mecanismo democratizador do acesso às informações. O grupoinvestiu paralelamente em estudos e discussões no campo da História Oral, convidandoexponenciais da área para capacitação dos integrantes do GEM. Para realizar as entrevistas,alguns passos metodológicos foram e ainda são seguidos: dossiê do entrevistado, elaboraçãodo roteiro da entrevista, realização da entrevista e sua transcrição e reprodução em CD-ROM.

Parte dessas entrevistas foi consubstanciada na obra Lembranças de Professores eAlunos Mato Grossenses 1920-1950, que reuniu interessantes depoimentos sobre o serprofessor em Mato Grosso, seja durante o período imperial, ou na primeira metade do séculoXX, onde imperava um cenário político que impunha andamento específico ao sistemaescolar.

Frente 14 – Educação e ImagensO GEM, a partir dos investimentos em pesquisa, se deparou com um quadro de

imagens, utilizadas nas dissertações e teses, resolveu fazer um investimento nos arquivosimagéticos escolares de Mato Grosso. Esse filão documental, para além da mera ilustração,proporciona uma leitura diferenciada, considerando que as imagens são reveladoras deaspectos que a documentação escrita não é capaz de oferecer, a exemplo das edificaçõesescolares, vestuário de alunos e professores, cenário urbano e identidade do corpoadministrativo da educação mato-grossense, tanto no que diz respeito a gênero quanto à etnia.

Frente 15 – Educação no contexto contemporâneo

Na atualidade, o Grupo de Pesquisa Educação e Memória, já sedimentado e com maisde 25 anos de efetiva e permanente atuação, investe em novas frentes de investigação,considerando que no ano de 1977, com a divisão geopolítica de Mato Grosso, o governofederal, em parceria com o estadual e a iniciativa privada, promoveu o desenvolvimento doprocesso de colonização rumo à Amazônia, incluindo regiões do Norte/Noroeste mato-grossense. A década de 1980 foi expressiva na dinamização desse contemporâneo processo decolonização, que contou com efetiva participação dos migrantes das regiões Sul, Sudeste e

57

III EHECO – Catalão‐GO, Agosto de 2015

Nordeste do Brasil. Foi a partir dessa movimentação que novos espaços foram colonizados,dando nascimento a muitos municípios, como Sinop, Alta Floresta, Tangará da Serra e outros.

Esses territórios, que na concepção do governo federal estavam “vazios”, na realidadejá eram secularmente habitados por nações indígenas que deles foram deslocados, muitasvezes a força, para dar lugar a uma nova realidade, onde capital e trabalho imperavam.

Interessante observar que essa movimentação teve como grande atrativo a aquisição deterras na Amazônia Brasileira, o que foi muito bem propagandeado pelas EmpresasColonizadoras que colocavam, além da possibilidade de terras baratas, a chance deenriquecimento rápido, mas também seu comprometimento com a escolarização dos filhosdos colonos. Esperançosos de conseguir todos esses benefícios, os migrantes deixavam suasterras e se dirigiam para Mato Grosso, dedicando-se, majoritariamente, às lides agrícolas.Assentadas as famílias, erguidas suas residências, era a hora de se pensar na escola que,muitas vezes, ficava apenas na promessa da colonizadora. Nessa circunstância, os colonosarregaçavam as mangas e, com os próprios braços, ergueram escolas improvisadas, demadeira. Dar a seus filhos o alimento educacional era prioridade para os migrantes. Nascia,nessa medida, uma nova escola e também um novo modelo de professor, aquele que tinhapouca instrução, mas muita boa vontade, que não apenas ensinava, mas era o merendeiro, ofaxineiro e ao mesmo tempo o diretor da escola. A ele cabia funções que, nas cidades maistradicionais, eram impensáveis, visto que o professor deveria ser, obrigatoriamente, formadoem escola normal, e designado para lecionar em grupos escolares ou em escolas urbanas. Saíade casa bem vestido e sua função na escola era unicamente a de ensinar e educar crianças ejovens. O professor da zona rural das grandes cidades também não era agraciado com boascondições escolares, muitas vezes se incumbindo de produzir o próprio material didático.

A escola e o professor das zonas de colonização recente reproduziram as condiçõesimpostas por esse processo. Mas, não só eles, mas também pais e familiares dos alunos, queergueram, muitas vezes à própria custa, o edifício escolar. De outro, nascia um novo alunado,que se adaptava às condições precárias do meio, caminhando muitos quilômetros para chegarà escola, que ajudava a professora/diretora/faxineira/merendeira em todas as atividades, masque também aprendia não só isso, mas também conteúdos, permanecendo muitas horas naescola.

Nessa medida, o GEM vem investindo na recuperação desse processo escolar nointerior dos espaços de nova colonização, seja através da documentação encontrada nosacervos escolares, muitas vezes ainda existente e em bom estado de conservação, mas tambémpor meio de entrevistas com antigos professores e dirigentes. Esse movimento demandou umestreitamento entre História e Educação, uma vez que, para compreender o processo que

58

III EHECO – Catalão‐GO, Agosto de 2015

gerou o “Novo Mato Grosso”, mestrandos e doutorandos de Educação têm se apropriado dacompetente produção científica da área da História. Esse entrelaçamento tem beneficiadoambas as áreas e, no interior da pós-graduação em História já existe uma linha sobre ensino dahistória, gerando uma produção interessantíssima.

Josiane Brolo Rohden, em 2012, investigou a realidade educacional de Sinop-MT,espaço de recente colonização, tendo como resultado A Reinvenção da Escola: História,Memórias e Práticas Educativas no Período Colonizatório de Sinop-MT, dissertação queinaugurou um olhar direcionado para os espaços migratórios contemporâneos. Na mesmaperspectiva, em 2013, Araguaia: entre palavras, roças e fuzis. A pedagogia dos agentespastorais no nordeste mato-grossense, nos anos 1960/70, de autoria de Paulo Cesar MoreiraSantos, consubstanciou uma reflexão sobre o caso do povoado de Serra Nova Dourada,situado na região do Médio Araguaia, MT, onde viviam diversas famílias que, em início dosanos 1970, foram pressionadas para abandonar suas terras e dar espaço à nova empresaagropecuária que se ali se instalava, objetivando efetivar o projeto do capital nacional einternacional aliado ao governo militar. Sob a mesma perspectiva, em 2015, Clailton LiraPerin defendeu a dissertação Escola, Colonização e Formação da Identidade do Colono:História e Memórias da Terra Prometida de Alta Floresta-MT (1976-1982), estampando oresultado de extensa investigação que teve como apoio a documentação da Colonizadora, daprimeira escola da localidade, acrescentando muitos depoimentos dos colonizadores ecolonizados.

Tal movimentação contemporânea, gerou um vertiginoso aumento populacional, cujosintegrantes, em sua maioria, não dispunha da escolaridade necessária, fazendo-se necessáriocapacitá-los através de cursos específicos. Para analisar esse contexto, em 2011, DéboraRoberta Borges produziu Movimento de Educação de base: ação e repercussão em MatoGrosso estudando criticamente o processo de instalação e funcionamento inicial doMovimento de Educação de Base (MEB) em Mato Grosso, na década de 1960, tendo Cuiabáenquanto espaço de estudo.

Outras Frentes Diversas outras frentes, ainda com reduzido número de pesquisas, também foram

abertas no interior do Grupo de Pesquisa, a exemplo da abordagem da arquitetura escolar,desenvolvida, em 2009 por Eduardo Ferreira da Cunha, em Grupo escolar “Palácio daInstrução” de Cuiabá (1900-1915): arquitetura e pedagogia , tomando como objeto de análiseo “Palácio da Instrução”, prédio inaugurado em Cuiabá, no ano de 1914, e no qualfuncionaram o Grupo Escolar Barão de Melgaço e a Escola Normal Pedro Celestino.

Educação no período colonial - Márcia Miranda Bretas, no ano de 2000, em suadissertação de mestrado, escreveu o primeiro trabalho investigativo sobre Educação colonial

59

III EHECO – Catalão‐GO, Agosto de 2015

em Mato Grosso, A Gênese do Ensino Estatal em Mato Grosso (1759-1808). Avançando nocampo nos estudos coloniais, Nileide Souza Dourado, em sua tese de doutorado, defendidaem 2014, Práticas educativas culturais e escolarização na capitania de Mato Grosso (1748-1822), evidenciou as diversas modalidades do fazer educacional - de natureza escolar e nãosistematizada, para o quê, lançou mão das categorias “educar” e “instruir”, importantesauxiliares na compreensão dos aprendizados realizados no espaço das práticas educativasdinamizada por colonizadores e colonizados e reveladas nos espaços de sociabilidade dacapitania de Mato Grosso, particularmente na Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá e emVila Bela da Santíssima de Trindade, inovando conceitos e trazendo a luz uma documentaçãoaté então inédita.

A educação em outros territórios, que não Mato Grosso, também foi objeto deanálise, a exemplo da investigação feita por Pascoal de Aguiar Gomes em 2007, A educaçãoescolar no Território Federal do Guaporé (1943-1956) , que analisou a implantação,organização e o desenvolvimento da educação escolar nessa localidade que viria a ser oestado de Rondônia, assim como recuperou, através da seleção e organização de fontesdocumentais escritas e orais, a História da Educação ali realizada. Educação contra a Ordem, de autoria de Nicanor Palhares Sá, é mais uma produçãodo GEM em frente ampla e contextual com análise crítica da política educacional brasileira eos movimentos em seu interior.

REFERÊNCIAS

Alves, Gilberto Luiz. Educação e História em Mato Grosso: 1719-1864. Campo Grande,UFMS, 1984.

Corrêa Filho, Virgílio. Questões de Ensino. Cuiabá, IHGMT, 2001. (Publicações Avulsas, 29)

Leite, Gervásio. Um Século de Instrução Pública: história do ensino primário em MatoGrosso. Cuiabá, 1971.

Mendonça, Rubens de. Evolução do ensino em Mato Grosso. Cuiabá, s.ed., 1977.

Marcílio, Humberto – História do Ensino em Mato Grosso. Cuiabá, SECS-MT, 1963.

Sá, Nicanor Palhares e Siqueira, Elizabeth Madureira. Educação e memória: Catálogo deDocumentos Relativos à História da Educação de Mato Grosso (Período Imperial) (org.)Cuiabá, EdUFMT/CNPq, 1998

Sá, Nicanor Palhares e Siqueira, Elizabeth Madureira (Org). Leis de Regulamentos daInstrução Pública do Império em Mato Grosso. Campinas, Editores Associados/SBHR/INEP,2000.

Siqueira, Elizabeth Madureira. Luzes e Sombras: Modernidade e Educação Pública em MatoGrosso 1870-1889. Brasília/Cuiabá INEP-EdUFMT, 2000.

Siqueira, Elizabeth Madureira. História de Mato Grosso: da ancestralidade aos diasatuais. Cuiabá, Entrelinhas Editora, 2002.

60

III EHECO – Catalão‐GO, Agosto de 2015