a producao efeitos com computacao grafica

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Alexandre Vieira Maschio Celso Ricardo Loureno Garcia Claudemir de Oliveira Evelyn Torres

A PRODUO DE EFEITOS ESPECIAIS UTILIZANDO A COMPUTAO GRFICA

FAAC Unesp Bauru Maio de 2002

Alexandre Vieira Maschio Celso Ricardo Loureno Garcia Claudemir de Oliveira Evelyn Torres

A PRODUO DE EFEITOS ESPECIAIS UTILIZANDO A COMPUTAO GRFICA

Trabalho de aproveitamento da disciplina "Tecnologia em Rdio e TV", ministrada pelo Professor Willians Cerozzi Balan no 3 Termo da Faculdade de Radialismo do curso de Comunicao Social da FAAC, Unesp Campus Bauru.

FAAC Unesp BauruMaio de 2002

NDICE

INTRODUO.................................................................................................................................................6 1 - A HISTRIA DO RDIO NO MUNDO...................................................................................................7 1.1 - AS ORIGENS DA RADIODIFUSO ..............................................................................................................7 1.2 - PRIMEIRAS EXPERINCIAS COM TRANSMISSO DE SOM................................................................................7 1.3 - A TELEGRAFIA E A TELEFONIA COM FIOS.................................................................................................7 1.4 - AS ONDAS ELETROMAGNTICAS..............................................................................................................8 1.5 - O PAPEL DE GUGLIELMO MARCONI.........................................................................................................8 1.6 - TRABALHO DE ROBERTO LANDELL DE MOURA..........................................................................................9 1.7 - A TRANSMISSO DE SOM SEM A UTILIZAO DE FIOS................................................................................11 1.8 - SURGIMENTO DO RDIO.......................................................................................................................12 1.9 - O RDIO NOS ESTADOS UNIDOS...........................................................................................................14 1.10 - O RDIO NO MUNDO........................................................................................................................16 2 - A HISTRIA DO RDIO NO BRASIL..................................................................................................17 2.1 - A RDIO SOCIEDADE DO RIO DE JANEIRO..............................................................................................18 2.2 - UMA NOVA FASE PARA AS EMISSORAS PAULISTAS......................................................................................20 2.3 - O FUTEBOL E A PUBLICIDADE.................................................................................................................21 2.4 - A DCADA DE 30 SURGE UM VECULO DE COMUNICAO DE MASSA.........................................................22 2.5 - AMADURECIMENTO E CRESCIMENTO........................................................................................................23 2.6 - RADIODIFUSO E POLTICA...................................................................................................................24 2.7 - MAIS INVESTIMENTOS , MAIS RENOVAO................................................................................................25 2.8 - A RDIO NACIONAL ...........................................................................................................................26 2.9 - A DCADA DE 40 - O APOGEU..............................................................................................................26 2.10 - AS RADIONOVELAS............................................................................................................................27 2.11 - OS PROGRAMAS DE AUDITRIO............................................................................................................27 2.12 - O HUMOR EST NO AR........................................................................................................................28 2.13 - REPRTER ESSO NO AR......................................................................................................................28 2.14 - O MAGNATA DA COMUNICAO...........................................................................................................29 2.15 - OS ANOS DE TURBULNCIA A DECADNCIA DO RDIO............................................................................29 2.16 - TEMPOS DE REPRESSO MAIS UM GOLPE.............................................................................................30 2.17 - O FM E A SEGMENTAO O RDIO SE REESTRUTURA...........................................................................31 2.18 - OS JORNAIS NACIONAIS JOVEM PAN E RADIOBRS.............................................................................33 2.19 - AS TRANSMISSES VIA SATLITE..........................................................................................................34 2.20 - SOB O CONTROLE DE POLTICOS E IGREJAS.............................................................................................34 2.21 - O RDIO DAQUI PARA FRENTE..............................................................................................................35 3 - A HISTRIA DA TV NO MUNDO.........................................................................................................36 3.1 - O CINEMA - O PRINCPIO DO AUDIOVISUAL:..............................................................................................36 3.2 - A TELEVISO.....................................................................................................................................39 3.3 - COMO FUNCIONA A TV........................................................................................................................41 3.4 - ONDAS ELETROMAGNTICAS.................................................................................................................41 3.5 - CUIDADO COM AS ONDAS......................................................................................................................42 3.6 - O QUE J FOI COMPROVADO..................................................................................................................42 3.7 - RAIOS CATDICOS................................................................................................................................42 3.8 - CARACTERSTICAS DAS PRINCIPAIS RADIAES..........................................................................................43 3.9 - ONDAS DE RDIO PROPRIAMENTE DITAS..................................................................................................43 3.10 - ONDAS DE TV..................................................................................................................................43 3.11 - MICROONDAS...................................................................................................................................43 3.12 - A TECNOLOGIA DA TV DIGITAL - MINI DV.........................................................................................44 3.13 - TECNOLOGIA DIGITAL........................................................................................................................44 4 - HISTRIA DA TV NO BRASIL..............................................................................................................46 4.1 - BREVE CRONOLOGIA DA HISTRIA DE TV...............................................................................................52 5 - EFEITOS ESPECIAIS UTILIZANDO-SE DA COMPUTAO GRFICA...................................59 5.1 - APRESENTAO...................................................................................................................................59 5.2 - PESQUISA DE CAMPO VISITA FINALIZADORA CASABLANCA...................................................................59

5.3 - INTRODUO.......................................................................................................................................61 5.4 - ESCANEAMENTO 3D............................................................................................................................61 5.4.1- Escaneamento a Laser: ............................................................................................................63 5.4.2- Escaneamento de Toque com Brao Mecnico: ......................................................................64 5.4.3- Canal Alfa................................................................................................................................65 5.4.4- Renderizao em camadas........................................................................................................67 5.4.5- Captura de Movimento.............................................................................................................68 5.4.6- ptico.......................................................................................................................................70 5.4.7- Mecnico..................................................................................................................................71 5.4.8- Magntico.................................................................................................................................71 5.4.9- Acstico....................................................................................................................................71 5.5 - AS PARTES QUE FORMAM O TUDO DA MAGIA DOS EFEITOS ESPECIAIS.........................................................73 5.5.1- Criao dos Modelos em 3D....................................................................................................73 5.5.2- Escaneamento dos Modelos......................................................................................................73 5.5.3- Modelagem...............................................................................................................................73 5.5.4- Texturas....................................................................................................................................75 5.5.5- Filmagem da Cena Real...........................................................................................................76 5.5.6- Reconstruo do Set de Filmagem em 3D................................................................................79 5.6 - ANIMAO.........................................................................................................................................81 5.6.1- Referncia.................................................................................................................................81 5.6.2- Movimentando os personagens 3D...........................................................................................82 5.6.3- Renderizao............................................................................................................................83 5.6.4- Composio..............................................................................................................................84 5.7 - OUTRAS INFORMAES EM RELAO S INTERAES.................................................................................84 5.8 - AS INTERAES MAIS DIFCEIS...............................................................................................................87 5.8.1- Partculas.................................................................................................................................87 5.8.2- gua.........................................................................................................................................88 5.8.3- Plos.........................................................................................................................................89 6 - CURIOSIDADES........................................................................................................................................91 7 - MAIS EXEMPLOS.....................................................................................................................................92 CONCLUSO.................................................................................................................................................95 GLOSSRIO...................................................................................................................................................96 BIBLIOGRAFIA.............................................................................................................................................97 REFERNCIAS NA INTERNET.................................................................................................................98

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IntroduoEste trabalho foi dividido em duas partes. Na primeira parte, feita uma abordagem histrica do que aconteceu e acontece com os meios de comunicao rdio e televiso no mundo e no Brasil. J na segunda parte a pesquisa voltada para uma rea um pouco mais especfica da produo audiovisual, que a realizao de efeitos especiais, utilizando a computao grfica. Procuramos desenvolver um trabalho de bom contedo, para que o leitor possa enriquecer seus conhecimentos em qualquer um dos temas abordados. Esperamos que aprecie. Boa Leitura.

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1 - A Histria do Rdio no Mundo1.1 - As Origens da Radiodifuso Pensar as origens e o desenvolvimento da radiodifuso sonora implica percorrer duas linhas de raciocnio diferentes, mas complementares: a do desenvolvimento de uma tecnologia que permitisse a transmisso, sem fios, de sons a distncia e a da utilizao destes avanos tcnicos em um meio de comunicao massivo. Esta duplicidade possvel porque os princpios fsicos e os equipamentos usados no rdio assemelham-se aos da radiotelefonia, mudando apenas os objetivos da transmisso. No telefone, tem-se uma comunicao bidirecional e privada entre duas pessoas. O rdio pressupe um fluxo unidirecional e pblico no qual se envia uma mesma mensagem para centenas ou milhares de pontos de recepo. Esta diferena, hoje bvia, representa um marco na histria da comunicao humana. 1.2 - Primeiras Experincias com Transmisso de Som De 1830, aproximadamente, at o final da dcada de 10, j no sculo 20, a tecnologia a ser empregada no meio de comunicao de massa rdio desenvolve-se com base nas pesquisas sobre a existncia de ondas eletromagnticas e nos avanos obtidos a partir do telgrafo e do telefone. Embora o senso comum atribua a inveno do rdio ao italiano Guglielmo Marconi, pode-se afirmar que a radiodifuso sonora constitui-se no resultado do trabalho de vrios pesquisadores em diversos pases ao longo do tempo, representando o esforo do ser humano para atender a uma necessidade histrica: a transmisso de mensagens a distncia sem o contato pessoal entre o emissor e o receptor, origem dos servios de correio e dos primitivos sistemas de comunicao por sinais (tochas luminosas, bandeiras, fumaa, tambores...). O contexto histrico em que as novas tecnologias desenvolvem-se marcado pelo colonialismo europeu na frica e na sia. J os Estados Unidos enfrentam de 1861 a 1865 a Guerra de Secesso. Durante o conflito, o telgrafo constitui-se em importante elemento estratgico e, com a vitria da Unio sobre os confederados, transporte e comunicao sero essenciais integrao e manuteno da unidade nacional. No final do sculo 19, a maior potncia mundial seguia sendo a GrBretanha, mas os EUA j despontavam no cenrio internacional. Ao mesmo tempo, amparado pela Revoluo Industrial praticamente consolidada na Europa e na Amrica do Norte, o capitalismo expandia-se. Radiotelegrafia e radiotelefonia eram, portanto, tecnologias importantes poltica e economicamente. 1.3 - A Telegrafia e a Telefonia com Fios J em 1 753, Benjamin Franklin propunha o uso da eletricidade para a transmisso de mensagens a distncia. No final da segunda dcada do sculo 19, o dinamarqus Hans Christian Oersted observa que a corrente eltrica em um

8 condutor afeta a agulha de uma bssola colocada prxima a ele, comprovando que a eletricidade e o magnetismo esto relacionados. Joseph Henry e Michael Faraday vo desenvolver e comprovar o raciocnio do cientista escandinavo. Estas idias serviro de base a dois novos meios de comunicao: o telgrafo e o telefone. O termo telgrafo surgiu no final do sculo 18 para denominar a transmisso de sinais a distncia. Um dos primeiros sistemas a utilizar os princpios do eletromagnetismo foi patenteado em Londres por William Fothergill Cooke e Charles Wheatstone. Usava um conjunto de nmeros e letras impressos em um painel, sendo indicados por um ponteiro. No entanto, o telgrafo, na forma como se popularizou, o resultado do trabalho desenvolvido pelo norte-americano Samuel Morse entre 1832 e 1837. O seu aparelho intercalava impulsos eltricos breves e longos que correspondiam, respectivamente, a pontos e traos de acordo com um cdigo que passou histria com o nome de seu inventor. A operacionalizao do sistema de telegrafia proposto por Morse ocorreria a partir de 1844, quando, com verba aprovada pelo Congresso norte-americano, comea a funcionar uma linha experimental. Quatro dcadas depois, em 1876, Alexander Graham Beil obtinha uma carta patente para o telefone, aparelho no qual as vibraes da voz humana so transformadas em um fluxo de eltrons e recompostas, na seqncia, na forma de som. Assim, ao falar, uma pessoa faz vibrar uma membrana metlica colocada junto a um pequeno recipiente repleto de carbono granulado submetido a uma corrente eltrica. Este fluxo de eltrons varia conforme as vibraes. Na outra ponta, a do receptor, d-se o processo inverso. 1.4 - As Ondas Eletromagnticas Paralelamente ao desenvolvimento do telgrafo e do telefone, seguiam as pesquisas sobre a eletricidade e suas caractersticas. Em Cambridge, na GrBretanha, o professor de Fsica James Clerk Maxwell demonstra no ano de 1863, por dedues matemticas, que o efeito combinado da eletricidade e do magnetismo manifesta-se no espao, originando um campo o qual se propaga sob forma de vibrao ondulatria com a velocidade da luz (2,997925 x lO8mIs). A teoria de Maxwell ratificada experimentalmente, em 1887, pelo fsico alemo Heinrich Rudolf Hertz. Com o tempo, as ondas previstas pelos clculos de Maxwell e confirmadas pelas experincias de Hertz passariam a ser conhecidas como hertzianas. A deteco e o estudo dos campos eletromagnticos ainda era difcil quando o francs Edouard Branly, em 1890, apresenta Academia de Cincias, em Paris, o coesor, um tubo de vidro cheio de limalha de ferro, ou seja, partculas do metal, que, na presena de ondas hertzianas, se unem fortemente, permitindo a passagem de energia eltrica. Utilizando coesores, o britnico Oliver Lodge demonstra publicamente, em 1 894, a possibilidade de transmitir e receber as ondas eletromagnticas, passo fundamental para o desenvolvimento da radiotelegrafia. 1.5 - O Papel de Guglielmo Marconi Sem desconsiderar a importncia do seu trabalho, pode-se afirmar que a inveno do rdio atribuda erroneamente a Guglielmo Marconi. Mais do que tudo, o italiano foi um industrial astuto e empreendedor. A sua empresa detinha patentes sobre diversos inventos que ele soube - e a est talvez o seu grande mrito -

9 aprimorar, desenvolvendo novos e mais potentes equipamentos. A aparelhagem das primeiras experincias de Marconi, em 1894, na VilIa Grifone exemplifica bem isto. Inclua um oscila-dor semelhante ao desenvolvido por Heinrich Hertz, mas aperfeioado por Augusto Righi, pesquisador de quem o jovem Guglielmo era uma espcie de discpulo. A antena seguia o modelo da utilizada pelo russo Aleksandr Popov. Alm disso, Marconi empregava coesores como os de Branly e tinha conhecimento do trabalho de Lodge. No se tire, no entanto, o mrito do pesquisador italiano que empregou esses equipamentos em suas tentativas, fazendo soar uma pequena campainha ligada aos equipamentos de recepo em transmisses que chegaram, gradativamente, distncia de um quilmetro. Mais tarde, j na Gr-Bretanha, comea a, sistematicamente, ampliar o raio de ao de seus aparelhos at que, em 27 de julho de 1896, realiza a primeira demonstrao pblica confirmada da radiotelegrafia:"Quando tudo estava pronto, Guglielmo Marconi pressionou a chave Morse. A cerca de um quilmetro no terrao de outro edifcio, a mensagem comeou a surgir na impressora Morse, vista de todos! Os acontecimentos se precipitaram. Uma segunda demonstrao foi marcada para 2 de setembro. Agora, alm de outros representantes dos Correios, faziam parte da platia membros do Exrcito e da Marinha da Inglaterra. Os sinais enviados por Marconi atravessaram os quase trs quilmetros de extenso da plancie de Salisbury". 1

Graas a estas demonstraes, Marconi obteve a patente sobre o telgrafo sem fio. No ano seguinte, transmitiria sinais a uma distncia de 14,5 quilmetros. Em 1901, conseguiria enviar o primeiro sinal radiotelegrfico transocenico. No dia 13 de dezembro, uma estao em Newfoundland, no Canad, recebia a letra S em cdigo Morse transmitida de Poldhu, na Gr-Bretanha. 1.6 - Trabalho de Roberto Landell de Moura Ao mesmo tempo em que eram realizadas pesquisas na Europa e na Amrica do Norte, o padre brasileiro Roberto Landell de Moura obtinha em seus experimentos resultados, segundo os divulgadores de suas pesquisas, por vezes superiores aos dos cientistas estrangeiros. As suas primeiras experincias com transmisso e recepo de sons por meio de ondas eletromagnticas teriam ocorrido entre 1893 e 1894. Ernani Fornari chega a registrar o desenvolvimento pelo padre gacho de uma lmpada de trs eletrodos, semelhante que Lee DeForest criaria em 1906 e indispensvel para a transmisso da voz humana. Outro estudioso, B. Hamilton Almeida, mais cauteloso, observa com relao s afirmaes de Fornari sobre o pioneirismo do religioso gacho:"Esta informao no pode ser confirmada e se choca com outros documentos que no merecem ficar margem. Vale, portanto, como indicao" 21

BIRCH, Beverly. Guglielmo Marconi. Rio de Janeiro: Globo, 1993. p.42.Landell de Moura. Porto Alegre: Tse/RBS, 1984. p.25.

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Mais confivel, deste modo, parece ser a notcia publicada pelo Jornal do Comrcio, do Rio de Janeiro, em 10 de junho de 1900, a respeito de experincias publicas ocorridas no dia 3 daquele ms:"No domingo prximo passado, no alto de Santana, cidade de So Paulo, o padre Roberto Landell fez uma experincia particular com vrios aparelhos de sua inveno, no intuito de demonstrar algumas leis por ele descobertas no estudo da propagao do som, da luz e da eletricidade atravs do espao, da terra e do elemento aquoso, as quais foram coroadas de brilhante xito.

Estes aparelhos, eminentemente prticos, so, como tantos corolrios, deduzidos das leis supracitadas. Assistiram a esta prova, entre outras pessoas, o sr. P. C. P. Lupton, representante do governo britnico, e sua famlia". O mesmo peridico publicava no dia 16 de junho de 1900 uma carta em que Landell de Moura recorria ao governo britnico na tentativa de obter financiamento para suas pesquisas. O padre gacho indica que, na demonstrao do dia 3, cinco aparelhos haviam sido apresentados. Dois deles chamam a ateno:"Com o anematofono, sem fio, obtm-se todos os efeitos da telefonia comum, porm com muito mais nitidez e segurana, visto funcionar ainda mesmo com vento e mau tempo. admirvel este aparelho, pelas leis inteiramente novas que revela, como outrossim, o que se segue. O teletiton, sorte de telegrafia fontica com o qual, sem fio, duas pessoas podem se comunicar, sem que sejam ouvidas por outra. Creio que com este meu sistema poderse- transmitir, a grandes distncias e com muita economia, a energia eltrIca, sem que seja preciso usar-se de fio ou cabo condutor. Disse com este meu sistema porque no fao uso de nenhum dos aparelhos ou das peas at hoje imaginados para este fim, como bem para a cabal resoluo do magno problema da telegrafia sem fio".

Os dois aparelhos em questo remetem radiotelefonia e radiotelegrafia. Com um equipamento semelhante, Landeli de Moura obtm em 9 de maro de 1901 a patente brasileira sob o nmero 3279, assim definido no memorial descritivo encaminhado ao governo:"O objeto da inveno um aparelho que se presta transmisso a distncia com fio e sem fio condutor, tanto atravs do espao e da terra, como do elemento aquoso.

Vrias das peas utilizadas, no entanto, no chegam a ser precisamente analisadas pelo inventor, dificultando um conhecimento maior da abrangncia e da validade dos dois equipamentos descritos - o telogostomo e o teleauxiofone -, ambos voltados transmisso de voz sem o uso de fios. Bem mais precisos e

11 dignos de crdito so os projetos que, em 1904, foram reconhecidos pelo governo dos Estados Unidos. Naquele ano, The Patent Office at Washington concedeu a Roberto Landell de Moura trs cartas patentes: para um telgrafo sem fio (nmero 775.846), um telefone sem fio (nmero 775.337) e um transmissor de ondas (nmero 771.91 7). Conforme registra B. Hamilton Almeida 101 com base em noticirio do The New York herald, os pedidos aprovados pelos norte-americanos foram acompanhados de modelos para demonstrao, o que d mais credibilidade ao trabalho do cientista brasileiro. Como refere Fernando Cauduro, o desconhecimento a respeito das pesquisas de Roberto Landell de Moura pode ter razes polticas e econmicas. A radiotelegrafia e a radiotelefonia eram um interesse militar estratgico por facilitarem as comunicaes militares entre os navios de uma frota. A Gr-Bretanha ainda dominava os mares e era a principal potncia mundial, embora os Estados Unidos j comeassem a despontar no cenrio internacional. Desde 1896, quando reconheceram oficialmente a validade da telegrafia sem fio, concedendo o registro a Marconi, os britnicos analisavam as possibilidades militares e estratgicas dos, ento, novos meios de comunicao. Ao mesmo tempo, nos dez anos entre a experincia pblica do italiano em Londres e as transmisses radiofnicas iniciais nos Estados Unidos, comeou a se desenvolver a indstria eletro-eletrnica. Alm disto, inegavelmente, Marconi era um pioneiro em termos empresariais. A primeira empresa do setor foi a sua Wireless Telegraph and Signal Company Limited, fundada em 20 de julho de 1 897 e, mais tarde, transformada na Marconi's Wireless Telegraph Company. Os empreendimentos do industrial italiano tinham carter multinacional com investimentos, em especial, na Gr-Bretanha e nos Estados Unidos. 1.7 - A Transmisso de som sem a utilizao de fios No inicio do sculo, os pesquisadores enfrentavam um grande problema para a transmisso de sons sem o uso de fios. A voz humana necessita de uma certa estabilidade no fluxo das ondas eletromagnticas somente obtida em 1906, quando o norte-americano Lee DeForest, com base no diodo inventado dois anos antes pelo ingls John Ambrose Fleming, desenvolve o triodo ou vlvula amplificadora, que aumenta as caractersticas do sinal, estabilizando-o. Este passo internacionalmente aceito como definitivo para o surgimento da radiodifuso sonora. Entretanto, como j foi referido, existem registros de que a lmpada de trs eletrodos, citada por LandelI de Moura no seu projeto de transmissor de ondas patenteado nos EUA, em 1904, fazia o mesmo que o triodo de Lee DeForest. A primeira transmisso comprovada e eficiente ocorreu na noite de 24 de dezembro de 1906. Usando um alternador desenvolvido pelo sueco Ernest Alexanderson, o canadense Reginald A. Fessenden transmitiu o som de um violino, de trechos da Bbila e de uma gravao fonogrfica. Da esao em Brant Rock, Massachussetts, as emisses foram ouvidas em diversos navios na costa norteamericana. Fessenden aplicava os princpios da amplitude modulada:"O objetivo de Fessenden era transmitir msica e a voz humana. Para conseguir isto, ele desenvolveu a teoria da onda contnua - ou seja, a onda sonora era sobreposta de rdio e transmitida ao receptor, onde o ouvinte ficava apenas com o som (a onda contnua a base que tornou as transmisses de rdio e TV possveis).

12 Em outras palavras, Fessenden desenvolveu a estrutura bsica do processo de transmisso em amplitude modulada. H registros de outras experincias bemsucedidas do pesquisador canadense anteriores da vspera de Natal de 1906. Em dezembro de 1900, ele j teria conseguido transmitir precariamente a voz humana. 1.8 - Surgimento do Rdio A obteno da tecnologia necessria para transmitir sons usando ondas eletromagnticas no significa o surgimento do rdio. Mais do que tudo representa o advento da radiotelefonia. O seu uso na forma que se convencionou chamar de rdio comea a se delinear somente 10 anos aps a experincia de Reginald Fessenden. Em 1916, o russo radicado nos Estados Unidos David Sarnoff antev na Marconi Company as possibilidades de utilizao da tecnologia existente para a conformao de um novo produto. Ele sugere ento a idia diretoria da empresa em um memorando, no qual o rdio como veculo de comunicao de massa minuciosamente descrito:"Concebi um plano de desenvolvimento que poderia converter o rdio em um meio de entretenimento domstico como o piano ou o fongrafo. A idia consiste em levar a msica aos lares por meio da transmisso sem fios. (...) Poder-se-ia instalar, por exemplo, um transmissor radiotelefnico com um alcance compreendido entre 40 e 80 quilmetros em um lugar determinado em que seria produzida msica instrumental ou vocal ou de ambos os tipos (...). Ao receptor poder-se-ia dar a forma de uma singela caixa de msica radiotelefnica, adaptando-a a vrios comprimentos de onda de modo que seria possvel passar de uma a outra apenas fazendo girar uma chave ou apertando um boto. A caixa de msica radiotelefnica possuiria vlvulas amplificadoras e um alto-falante, tudo acondicionado na mesma caixa. Colocada sobre uma mesa na sala, fazendose girar a chave escutar-se-ia a msica transmitida (...). O mesmo princpio pode ser estendido a muitos outros campos, como por exemplo escutar, em casa, conferncias, que resultariam perfeitamente audveis. Tambm poder-se-ia transmitir e receber simultaneamente acontecimentos de importncia nacional".

13 A idia de Sarnoff significa, deste modo, uma mudana de mentalidade. Maria Cristina Romo Gil marca bem esta transio:"No princpio, (o rdio] nasceu como um meio de comunicao bidirecional. Sua funo era servir como elo de ligao entre dois sujeitos fisicamente afastados que precisavam estar em constante comunicao. A transmisso e a recepo atuavam entre os dois, havendo comunicao propriamente dita entre ambos. Em 1916, David Samoff intuiu a possibilidade de transformar o rdio em um meio de comunicao massiva. Os avanos tcnicos tomaram possvel que o rdio perdesse sua bidirecionalidade constituindo-se em um meio de comunicao massiva unidirecional". 3

Quatro anos depois, com a companhia j transformada na Radio Corporation of America (RCA), ele apresentaria novamente a idia, mas sem sucesso. Caberia a uma outra indstria, a Westinghouse Eletric and Manufacturing Company, com a sua KDKA, tornar as possibilidades previstas por Sarnoff uma realidade. Neste caso, destaca-se o papel precursor das transmisses de Frank Conrad a partir da sua casa em Wilkinsburg, no estado norte-americano da Pensilvnia." a Frank Conrad que a indstria de radiodifuso deve a sua existncia. Trabalhando poucas horas por manh na oficina de sua garagem, ele desenvolveu no s a tecnologia, mas tambm os conceitos empresariais sobre os quais a indstria est baseada. Quando substituiu o fongrafo por um microfone, ele descobriu uma grande quantIdade de ouvintes que tinham construdo seus prprios receptores de galena e que, ao escutarem msicas, escreviam e telefonavam pedindo mais canes e notcias. Baseado nestas solicitaes, Conrad decide transmitir regularmente programas estruturados para satisfazer seus ouvintes. Quando faltam discos de sua prpria coleo, ele toma emprestado de uma loja de Wilkinsburg em troca de mencionar o estabelecimento comercial no ar - o primeiro anncio radiofnico (o dono da loja descobriria que os discos tocados na estao de Conrad vendiam mais do que os outros). Todos estes conceitos de radiodifuso - a estao, o pblico, os programas e o anncio subvencionando a programao so resultados do trabalho de Conrad." 4

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GIL, Maria Cristina Romo. lntroduccin a conocimiento y prctica de la radio. Mxico: Diana, 1994.p.35-6.16 Op. clt. p.19.

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NATIONAL MUSEUM OF BROADCASTING. Frank Conrad. Disponvel na lnternet http:I/www. trln.pgh.pa.uslorgslnmbcnrd.htm 6 set. 1998.

14 O ento vice-presidente da Westinghouse, Harry P. Davis, ao se dar conta da popularidade das transmisses experimentais de Conrad refletida na venda de aparelhos receptores, convence a empresa a criar a KDKA, verdadeiramente a primeira emissora de rdio. E importante observar que, dois anos antes, terminara a Primeira Guerra Mundial, para cujo esforo blico as indstrias haviam colaborado. Aps o conflito, empresas como a Westinghouse possuam capacidade superior demanda dos tempos de paz, tendo de redirecionar sua produo para outros mercados. Assim, em 2 de novembro de 1 920, na cidade de Pittsburgh, ao comear suas transmisses, nascia com a KDKA oficialmente a indstria de radiodifuso, no sentido de produo e transmisso de contedos, um novo campo para investimento de capital. Convm lembrar que a rdio KQW, de San Jos, na Califrnia, reivindica o pioneirismo nos Estados Unidos, tendo comeado suas transmisses regulares em 1912. A KDKA seria, no entanto, a primeira a obter uma licena comercial para funcionar, transmitindo constantemente a partir de ento. Desta forma, pode-se afirmar que, se Sarnoff inventou o conceito do meio de comunicao rdio, Conrad lanou as bases da emissora comercial. Caberia, nesta linha de raciocnio, a Guglielmo Marconi o pioneirismo em termos de indstria eletroeletrnica. 1.9 - O Rdio nos Estados Unidos Uma inveno de 1906 seria fundamental para que o rdio se popularizasse nas duas primeiras dcadas do sculo 20. Usando um fragmento de sulfeto de chumbo natural (a galena, que daria o nome popular do aparelho), Henry H.C. Dunwoody desenvolveu um receptor simples e de fcil fabricao que se difundiria rapidamente. O pedao de sulfeto de chumbo era ligado a uma antena por um fio fino (o bigode de gato), com o som chegando ao ouvinte atravs de um par de fones auriculares. A variao de uma agulha sobre o cristal de galena fazia a sintonia da emissora. Este tipo de receptor seria a alternativa barata aos ento caros aparelhos produzidos industrialmente que, por sua vez, teriam seus preos reduzidos at meados dos anos 30. No incio da dcada de 20, a indstria norte-americana disputa o controle das cartas patentes necessrias implementao das comunicaes por ondas eletromagnticas. A produo, que crescera durante a Primeira Guerra Mundial, corria riscos por falta de demanda. A radiodifuso sonora aparece como uma sada economicamente vivel. A American Marconi detinha as principais tecnologias necessrias, exceo do alternador desenvolvido por Ernest Alexanderson para a General Electric. Quando a empresa de Guglielmo Marconi buscava um acordo com a GE, uma outra concorrente, a American Telegraph and Telephone Company, de Alexander Graham BelI, fez gestes junto ao governo norte-americano contra o domnio tecnolgico crescente do industrial italiano. Havia tambm a oposio das foras armadas dos EUA, j que a tecnologia radiofnica era estratgica para as comunicaes militares. Em especial, a marinha preocupava-se com a presena estrangeira no setor. Como resultado, a Marconi teve de vender suas aes Radio Corporation of America. Criada em outubro de 1919, da RCA fariam parte ainda a Westinghouse, a AT&T, a Western Electric e a United Fruit. A partir da RCA, surge a primeira rede norte-americana, em 1 5 de novembro de 1926, a National Broadcasting Corporation (NBC), inicialmente subdividida em duas - Red Network e Blue Network -, como explica Sebastio Squirra:

15"A origem da denominao dessas redes algo curiosa: os engenheiros da NBC usavam estas cores para marcar nos mapas as reas de localizao e cobertura de cada rede. Entretanto, elas tinham linhas de programao distintas. A Vermelha era mais popular e difundia os programas de maior apelo comercial. A Azul seguia linha mais cultural e refinada na sua programao, que era definida como mais intelectual (high-brow)". 5

Antes do surgimento da NBC, a Radio Corporation of America viveu uma fase de desvantagem concorrencial. A AT&T, que se retirara da RCA, lanara em 16 de agosto de 1922 a primeira emissora sustentada por anncios publicitrios, a WEAF, de Nova Iorque, modelo do sistema comercial norte-americano de rdio. Como detinha o controle das linhas telefnicas, a American Telegraph and Telephone Company dava prioridade sua emissora, recusando aos concorrentes a liberao dos canais necessrios s lucrativas transmisses interurbanas. Quando a AT&T resolveu abandonar a radiodifuso, em 1926, as emissoras encabeadas pela WEAF foram vendidas para a RCA, dando origem Red Network da NBC. A Blue Network engloba uma cadeia liderada pela WJZ e criada, de incio, para concorrer com as rdios da AT&T. No ano seguinte, surgiria a United lndependent Broadcasters que, em 1928, adota a denominao de Columbia Broadcasting System. Em 1934, a CBS j possua 97 afiliadas contra 127 da NBC. Naquele ano, comea a operar a Mutual Broadcasting System (MBS) com base na WGN, estao controlada pelo Chicago tribune, e em quatro emissoras independentes lideradas pela WOR, de Nova lorque. A ltima das grandes redes dos EUA, a American Broadcasting Company (ABC), formada em 1943 com base na Blue Network, vendida por US$ 8 milhes em uma ao antitruste ordenada pelo governo norte-americano devido s propores atingidas pela National Broadcasting Corporation. Alm destas quatro grandes cadeias de emissoras, existem hoje vrias redes regionais nos Estados Unidos.

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O sculo dourado: a comunicao eletrnica nos EUA. So Paulo: Summus, 1995. p. 19-8.

16 1.10 - O Rdio no Mundo Nas primeiras duas dcadas do sculo 20, dissemina-se no mundo uma clara diviso entre os trs ramos das comunicaes que estavam se consolidando: Radiotelegrafia - Telegrafia sem fios com mensagens transmitidas em cdigo Morse, usando ondas eletromagnticas, entre dois pontos pr-definidos. Radiotelefonia - Telefonia sem fios em que o som transmitido por ondas eletromagnticas entre dois pontos pr-definidos. Radiodifuso - Emisso e recepo de programas informativos e de entretenimento, por meio de ondas eletromagnticas entre um ponto de transmisso determinado (a emissora de rdio) e diversos pontos no determinados onde esto os ouvintes. O progresso da radiodifuso sonora na Europa e no restante do mundo ocorre com mais lentido do que nos Estados Unidos. Pierre Albert e Andr-Jean Tudesq registram que, em 1925, j existiam transmisses regulares em 19 pases europeus, na Austrlia, no Japo e na Argentina. A estes pases, pode-se acrescentar o Brasil, onde as primeiras emisses regulares datam de 1923. Um dos marcos do rdio mundial surge em meados dos anos 20. Desde 1919, a British Marconi fazia emisses regulares na Gr-Bretanha. Com outros grupos empresariais cria, em 18 de outubro de 1922, a British Broadcasting Company. Em 1926, o governo britnico estatiza a radiodifuso no pas e encampa a empresa que integra, a partir de ento, a British Broadcasting Corporation. O surgimento da BBC estabelece uma forma de fazer rdio nitidamente distinta da norte-americana:"A emisso radiofnica passa a ser concebida como um servio pblico alheio aos interesses das indstrias radiofnicas e independente do governo, baseado em um estatuto especial de concesso que lhe garante o monoplio e inteiramente financiado pelos usurios do servio". 6

Com variaes, o modelo de radiodifuso pblica introduzido pela BBC dominaria o cenrio europeu at os anos 70. Ao contrrio, no Brasil, a influncia norte-americana sempre foi muito forte.

SARTORI, Cario, GRAZZINI, Enrico. O rdio, um veculo para todas as ocasies. ln: GIOVANNINI, Giovanni (org.). Evoluo na comunicao: do slex ao silcio. 2.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987. p.228.

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2 - A Histria do Rdio no BrasilExatamente quando o pas completava seu centenrio da independncia, no dia 07 de setembro de 1922, o Brasil ouvia sua primeira transmisso de rdio. Esta transmisso foi feita pela Westinghouse e ocorreu durante a Exposio Internacional do Rio de Janeiro, a pedido da Repartio Geral dos Telgrafos. Neste mesmo evento a tambm americana Western Eletric trouxe dois transmissores de 500 watts, instalados na Praia Vermelha. A estao da Westinghouse foi desmontada dias depois, mas o governo comprou a estao montada pela Western Eletric. A Westinghouse distribuiu 80 receptores para autoridades civis e militares do Rio de Janeiro. Instalou diversos alto-falantes no Palcio dos Catetes e tambm nas grandes praas da capital nacional, de So Paulo, Niteri e Petrpolis. A torre de transmisso foi colocada no alto do morro do Corcovado. Foram transmitidos os discursos do ento presidente Epitcio Pessoa, alm de trechos da obra de Carlos Gomes, O Guarani, apresentado no Teatro Municipal. Naquela poca o termo rdio era pouco empregado. O sistema de radiodifuso era mais conhecido pelo termo TSF, ou Telefonia Sem Fio. Os receptores eram chamados de telefone de alto-falante. O importante lembrar o momento histrico que propiciou ao pas a vinda da radiodifuso. Aps o fim da Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos vem suas indstrias de eletro-eletrnicos perder grande parte de seu mercado consumidor, j que a Europa recuperara sua capacidade de voltar a produzir. Com isso inicia-se uma busca por novos mercados para consumir a produo americana. A Westinghouse uma das empresas que sai a procura de novos compradores. A exibio que fez no Brasil nada mais foi do que uma tentativa de seduzir os brasileiros com a nova tecnologia. Deu certo. O rdio se tornaria uma febre no pas e a Westinghouse, assim como as empresas similares, teriam um amplo mercado para explorar no pas. Os primeiros a adquirirem os aparelhos no pas foram os membros de uma pequena elite que em breve formaram uma espcie de sociedade ou clubes. Sua inteno era divulgar os conhecimentos sobre o rdio, ganhar novos adeptos e at mesmo propiciar-lhes treinamento para se constiturem pelo menos em radioescutas. Eram basicamente amadores, porm de alto poder aquisitivo, j que um receptor dos mais simples custava muito caro. Os amadores no princpio tiveram que se contentar em captar as emisses realizadas nos Estados Unidos e na Europa, pases estes j experientes em radiotransmisses. De fato, foi o Rdio Clube do Pernambuco que efetivamente faz a primeira transmisso de sinais de rdio no Brasil, embora sem freqncia ou continuidade. Foi no dia 06 de abril de 1919 que jovens da elite de Recife fundaram a entidade em um velho sobrado do bairro do Santo Amaro. Posteriormente, em um projeto idealizado por Joo Cardoso Aires, os scios da Rdio Clube adquiriram alguns instrumentos da Westinghouse durante a Exposio do Centenrio da Independncia. Com um aparelho radiotelegrfico adaptado emisso de sons ligado a um amplificador e um transmissor de 10 watts, iriam realizar transmisses irregulares a partir de 17 de outubro de 1923. Os clubes de radioamadores constituem-se em uma espcie de embries do que futuramente seriam as rdios no Brasil. Primeiro intelectuais e outros curiosos (porm abastados) reuniram-se e decidiram fundar os clubes. Depois estabeleceuse que os scios deveriam pagar uma mensalidade para ajudar nas despesas que as transmisses envolviam. Em So Paulo por exemplo, os scios da Sociedade

18 Educadora Paulista (a primeira rdio do estado) pagavam 5$000,00 (cinco mil contos de ris) para poderem receber em suas casas as transmisses de TSF que eles mesmos financiavam. Estes clubes, embora importantes para o desenvolvimento das rdios no Brasil, no conseguiriam se sustentar por muito tempo, como se ver mais adiante. Em termos prticos, at esta poca no haviam emissoras de rdio capazes de manter uma programao constante e nem tempos longos de emisso de sinais, devido ao amadorismo predominante na poca. a Rdio Sociedade do Rio de Janeiro em 1923 inaugura uma nova fase do rdio no Brasil, agora visando profissionalizao das transmisses. Porm o rdio ainda estaria longe de se tornar um veculo comercial. 2.1 - A Rdio Sociedade do Rio de Janeiro Em 20 de Abril de 1923 estreou no Brasil a primeira emissora regular. O fundador da emissora foi Edgard Roquette-Pinto, professor e cientista, que viu na TSF uma forma nova e interessante de transmitir cultura e informao, seus principais ideais. Segue-se um trecho da entrevista dada por Roquette-Pinto ao jornalista Reynaldo Tavares: que, durante a Exposio Centenria da Independncia, em 1922, muito pouca gente se interessou pelas demonstraes experimentais de radiotelefonia ento realizadas pelas companhias norte-americanas Westinghouse, na estao do Corcovado e da Western Eletric, na Praia Vermelha. Muito pouca gente se interessou. Creio que a causa deste desinteresse foram os alto-falantes instalados na exposio. Ouvindo discurso e msica reproduzidos no meio do barulho infernal, tudo distorcido, arranhando os ouvidos, era uma curiosidade sem maiores conseqncias. No comeo de 1923, desmontava-se a estao do Corcovado e a da Praia Vermelha ia seguir o mesmo destino se o governo no a comprasse.O Brasil ia ficar sem rdio. Ora, eu viva angustiado com essa histria, porque j tinha convico profunda do valor informativo e cultural do sistema desde que ouvira as transmisses do Corcovado alguns meses (...) Resolvi interessar no problema a Academia Brasileira de Cincias (ABC).Era presidente nosso querido mestre Henrique Morize.Eu era secretrio. E foi assim que nasceu a Rdio Sociedade do Rio de Janeiro a 20 de abril de 1923. (TAVARES;1997). Por causa do pioneirismo de Roquette-Pinto, no dia de seu aniversrio, 25 de setembro (de 1884), comemorado o Dia Nacional da Radiodifuso. No dia 20 de abril daquele mesmo ano, Roquette-Pinto e Morize se reuniram na ABC para criarem a emissora, que emprestou do governo a torre de transmisso da Praia Vermelha por uma hora ao dia. A rdio s entraria definitivamente no ar no dia 1 de maio daquele ano, transmitindo esporadicamente e de maneira precria. Sem uma programao definida. Somente em outubro daquele ano a emissora definiria uma programao permanente. O estdio no tinha a menor sofisticao, a aparelhagem era simples. A antena era sustentada por um pedao de bambu, fios de cobre e uma bobina de papelo. Porm a recepo do sinal em toda capital carioca era perfeita. O sinal chegava a morros e depresses com a qualidade peculiar do sinal AM. O slogan da rdio refletia bem os ideais de seus criadores: Trabalhar pela cultura dos que vivem em nossa terra e pelo progresso do Brasil. De fato, Roquette-Pinto utiliza as transmisses da Rdio Sociedade do Rio de Janeiro para seus ideais de difundir cultura e educao. As primeiras transmisses

19 da emissora so palestras, conferncias e anlise de fatos histricos e polticos, alm de msica erudita. Ao microfone da Rdio Sociedade falam cientistas e intelectuais. O mais famoso deles talvez seja o cientista alemo Albert Einstein. Tendo em vista esta programao, pode-se dizer que o pblico ao qual as transmisses eram destinadas era a elite. O sonho de Roquette-Pinto em ter a rdio como difusora de cultura logo esbarra em dois obstculos. O primeiro, e mais urgente, o alto custo para manter a emissora. O segundo obstculo era o pouco interesse que a populao demonstrava pelo rdio. O alto custo de aquisio e manuteno dos equipamentos no Brasil fez com que o pas entrasse gradativa e lentamente na era radiofnica. Ao passo que nos Estados Unidos j havia 3 milhes de receptores, no Rio de Janeiro havia apenas 7 aparelhos e em So Paulo pouco menos de 10 receptores. Na Argentina, para se ter uma idia, existiam 200 mil receptores. Para o primeiro obstculo (apoio financeiro para manter o funcionamento das emissoras) encontrou-se uma soluo. Para ajudar a manter os gastos da emissora, eram cobradas altas taxas de seus scios. Os ouvintes passaram a manter as emissoras. A tabela abaixo contm os valores das taxas cobradas dos scios da Rdio Sociedade do Rio de Janeiro (FEDERICO, 1982): DISCRIMINAO DA COBRANA (mensal) Taxa de scio contribuinte Autorizao do Ministrio da Aviao* Autorizao do departamento de Correios e Telgrafos TOTAL VALOR (em Ris) 5$000 2$000 1$600 8$600

* na poca o Ministrio da Aviao era o responsvel pela regulamentao da radiodifuso, por se tratar sinais transmitidos pelo ar.

Eram valores altos. Mas no parava por a. O preo de um receptor de galena (o mais simples da poca; podia ser montado em casa, bastando colocar em contato com a galena dois pedaos de arame e poder-se-ia captar as ondas) e um fone de ouvido custavam 50$000. Porm, o preo mais alto era cobrado na taxa de adeso aos rdios-clube: 100$000. Para se ter uma idia, um trabalhador urbano do setor industrial ganhava por ms entre 80$000 e 120$000 (FEDERICO, p. 47; 1982). A sada da cobrana de mensalidades portanto fio a mais vivel no momento. At aquele momento no se cogitava em utilizar o rdio como veculo comercial. Este pensamento voltado para o lucro seria incorporado ao veculo em 1 de junho de 1924, na Rdio Clube do Brasil (RJ) por Elba Dias, um dos tcnicos que ajudara na implantao da Rdio Sociedade. A emissora foi a primeira do pas a obter autorizao para transmitir publicidade. No mesmo ano, em So Paulo a Rdio Sociedade Educadora Paulista tambm passa a utilizar-se da publicidade. Entretanto, vale notar que a publicidade era associada s emissoras, e no veiculadas nas mesmas. Ou seja, as emissoras colocavam anncios em jornais divulgando seus programas e as lojas apareciam nos anncios como apoiadores. Era uma prtica pouco comum poca, mas que ganhou importncia e substituiu os scios na tarefa de manter as emissoras. A Rdio Club de So Paulo, por exemplo, divulgou seu primeiro anncio vinculado publicidade no dia 30 de novembro de 1924, no jornal O Estado de So Paulo, junto ao Guaran Espumante, em forma de poesia.

20 O ano de 1924 traria outras novidades para o Brasil. Alm da publicidade, as empresas Phillips, RCA, Michigan e De Forest trariam para o pas seus novos receptores, ainda mais caros mas com capacidade de recepo e qualidade de sons bem maiores. Para os de menor poder aquisitivo, chegam ao pas novos kits para rdios rudimentares. Eram rdios de galena, construdos pelos amadores em casa. O kit continha um cristal de galena, um par de fones de ouvido, duas agulhas e um pedao de arame fino. As pessoas tinham que juntar a galena com o arame e bater com a agulha na mesma. Assim conseguiam ouvir transmisses at da Argentina com o aparato. Mas as transmisses no agradavam a todos. Na verdade, observava-se uma pssima qualidade de emisses de ondas. Do lado tcnico, tinha-se transmissores pouco potentes, de 10 ou 15 Kw, alimentados por baterias no muito confiveis que acabavam no meio das transmisses, msicas tocadas em gramofones comuns (os discos eram fornecidos por scios) e uma dependncia das condies do tempo para funcionar. Do lado humano, nota-se a falta de profissionais e o improviso de programaes. Neste quesito os scios reclamavam muito, porque pagavam muito caro e as emissoras no funcionavam em tempo integral. Em So Paulo, a Rdio Sociedade funcionava diariamente das 16:30 h s 17:30 h, e das 21 h s 22:30 h. A Rdio Club funcionava apenas nas teras-feiras, quintas-feiras e sbados, das 15 h s16 h e das 20 h s 21 h . Ainda em 1924, a rdio Educadora, no interesse de que suas ondas atinjam um pblico maior, busca subsdios junto ao Estado para a aquisio de um novo transmissor de 1000 Watts. O Estado financia a compra e a Rdio Educadora agora com maior potncia inaugura uma nova programao, porm ainda amadora, sem horrios fixos, das 11 h s 12, das 16 h s 18 h e das 19 h s 22 h. A Rdio Clube de So Paulo, com problemas tcnicos em seus transmissores, encerra suas atividades neste mesmo ano. 2.2 - Uma nova fase para as emissoras paulistas Em 1926, apenas duas emissoras ainda transmitem em So Paulo, a Rdio Educadora e Cruzeiro do Sul. Passaram-se cinco anos desde que o rdio chegou ao pas, entretanto, o nmero de scios contribuintes permaneceu praticamente o mesmo. Vendo suas tentativas de progresso e investimentos barradas pela pequena verba que dispem, as emissoras buscam na publicidade uma nova fonte de renda. importante lembrar que nesta poca os comerciais no eram veiculados na programao das rdios. Os anncios eram feitos em jornais, da seguinte forma: as emissoras colocavam os anncios de seus programas em colunas prprias para este tipo de anncio, e ao lado tinha o lembrete de que tal programa era patrocinado por tal loja. O patrocnio ocorria tambm pea doao de discos de msica para as emissoras. Em 25 de novembro de 1926, a rdio Educadora inaugura seu novo estdio. Neste mesmo dia, revoluciona as emisses ao realizar a primeira transmisso conjunta das rdios no Brasil. A Educadora retransmite o sinal da Rdio Club do Rio de Janeiro. O feito foi realizado pelo engenheiro Leonardo Jones Jnior. Alguns meses depois, o mesmo realizaria, no dia 3 de maio de 1927, a primeira experincia de recepo e retransmisso de sinais de ondas curtas das rdios europias. Foram retransmitidas partes de programas das rdios Phillips (de Heinhoven, Holanda), e Rdio WGY, dos Estados Unidos. Para que a Educadora captasse melhor o sinal destas rdios, foi pedido aos paulistanos que no sintonizassem aquelas emissoras internacionais.

21 Por outro lado, a Rdio Cruzeiro do Sul enfrentava srios problemas tcnicos. Por diversas vezes chegava a interferir nas transmisses da Educadora. Ficava mais tempo fora do ar que em transmisso. No conseguindo resolver seus problemas, a Rdio Cruzeiro do Sul encerra suas transmisses no dia 11 de novembro de 1927. 2.3 - O futebol e a publicidade Desde 1924 os paulistanos ouviam as transmisses de jogos de futebol em praas pblicas. Os eventos eram realizados ligando-se fios de telefones em altofalantes instalados nas praas. Em So Paulo, o locutor pioneiro nas transmisses foi Leopoldo Santanna. Mas no dia 13 de novembro de 1927, a Rdio Educadora realizou a primeira transmisso de uma partida de um jogo de futebol no estado. O locutor at hoje desconhecido, por no haver registros histricos que o identifiquem. Ligou-se uma linha telefnica direto ao estdio de So Janurio, Rio de Janeiro. Uma ponta da linha telefnica recebia o som do microfone do locutor, a outra ponta estava devidamente instalada na mesa de som da Educadora. Quem tinha rdio em casa (naquela poca j havia mais de 60 mil receptores no estado de So Paulo) e tambm quem ouvia as transmisses de jogos nos alto-falantes das praas pode acompanhar o duelo entre Club Desportivo Vasco da Gama e Sociedade Esportiva Palestra Itlia, pela Liga Rio-So Paulo de Futebol. Com o tempo e com a televiso tomando espao do rdio mais para frente, o futebol e o rdio fortalecer-se-iam mutuamente. Ainda em 1927 encontramos o primeiro programa com denominao no pas, tratava-se do ERLA, programa que levava o nome de seu patrocinador exibido nas noites da Educadora. At o final da dcada de 20 a publicidade era proibida nas emissoras do pas. Porm com a crescente necessidade de verbas para incrementar a programao, as emissoras comeam a inventar novas formas de conseguir patrocnio. Alm de criar programas com o nome dos anunciantes, publicavam poemas e piadas em jornais, sempre associando o programa ao patrocinador. Em 1929 ocorre um importante fato para a profissionalizao da publicidade no Brasil. A vinda da agncia J.W. Thompson, que viera para atender as necessidades da montadora General Motors, recm instalada no pas. Aos poucos a publicidade ganhar seu espao no rdio e as agncias de publicidade tero fundamental importncia para o crescimento vertiginoso que o veculo experimentar na dcada seguinte. Em 1928, dois fatos devem ser ressaltados na histria do rdio paulista. O primeiro a inaugurao da Rdio Sociedade Record, pertencente a lvaro Liberato de Macedo, proprietrio da Casa de Discos Record. A esta altura a Educadora era hegemnica no estado. A Record seria uma coadjuvante at meados da dcada de trinta. O segundo fato importante diz respeito ao embrenho poltico da Rdio Educadora na passagem de 1928 para 29. A emissora passa a apoiar a candidatura de Jlio Prestes sucesso de Washington Lus na poltica Caf-com-leite. Para os scios e para muitos scios contribuintes e para a sociedade da poca, a emissora estava afastando-se de seus ideais de difuso cultural e educativa. A Educadora defendia-se com discurso de estar defendendo a integridade nacional, mas mesmo assim enfrenta duras crticas da imprensa. Este fato, associado ao crescimento da Rdio Record, contribuir para a decadncia da Rdio Educadora na dcada de trinta. A Rdio Educadora, alis, pressionada pelos scios, v-se obrigada a investir em sua programao. Uma das mais importantes alteraes diz respeito primeira transmisso de um evento realizado em um teatro, no dia 14 de maro de 1929. Foi transmitida uma pea de teatro direto do Theatro Municipal de So Paulo (estas

22 transmisses tornar-se-iam comuns na dcada de 30, e foram os embries das to famosas rdio-novelas da dcada de 40). A dcada de trinta representar uma nova era para as emissoras de rdio do pas, no por acaso. A era de ouro do rdio se inicia, paradoxalmente, com o crack da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929. Com este duro golpe, as emissoras brasileiras comeam a se livrar das garras das oligarquias (agora enfraquecidas) e passam a popularizar suas programaes. Esta popularizao a marca registrada da dcada de 30, fato que atrair patrocnio para as emissoras, que agora transformadas em veculo comercial, investiro em equipamentos e artistas. A dcada de trinta importante para consolidar as emissoras, que atingiro seu pice na dcada de 40. 2.4 - A Dcada de 30 surge um veculo de comunicao de massa A esta altura, o Brasil j possua um sistema industrial desenvolvido. Assim, as empresas passaram a investir em publicidade e possibilitaram s emissoras um assombroso crescimento tanto no plano tcnico quanto no plano artstico. Outro fato que reala a importncia do rdio no pas a importncia que o ento novo presidente, Getlio Vargas, d a este veculo. O rdio passa a ser visto com outros olhos e nesta dcada aparece como fator essencial aos polticos (mesmo contra a vontade dos donos das emissoras). O que tambm se nota na dcada de 30 o desaparecimento das Sociedades e Clubes radiofnicos. Os scios j no so mais a base de sustentao das emissoras, este espao passa a ser preenchido pela publicidade. At porque muitos scios j no mais se interessavam em pagar cotas to altas para as emissoras, se no final das contas scios e cidados tinham o mesmo tratamento, recebiam o mesmo tipo de programao, sendo a nica diferena que os scios estavam pagando por isso. Em 1932, o governo Vargas promulga o decreto 21.111, regulamentando outro decreto, o de nmero 20.047, de maio do ano anterior, que definia o papel do governo na difuso sonora. (Ferrareto, 2001; p.102) Este mesmo decreto previa a insero de publicidade no rdio, desde que esta ocupasse 10% da programao (com o tempo, este valor subiria para 20%, devido a presses de emissoras que diziam no conseguir lucro com o percentual anterior, estando hoje fixada em 25% da programao das emissoras). O dinheiro obtido com as propagandas pode ser reinvestido na prpria emissora, contribuindo fundamentalmente para seu desenvolvimento. Ainda em 1932, quando irrompe a Revoluo Constitucionalista, o veculo adquire importncia fundamental. Como diz Ferrareto :Durante meses, as transmisses das emissoras paulistas em especial da Record mobilizam a oposio ao Governo Vargas. A partir da, a sociedade toma conscincia das possibilidades econmicas e polticas do rdio. Estavam lanadas as bases para a sua configurao como indstria cultural. 7

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Ferrareto 2001; p 103

23 2.5 - Amadurecimento e crescimento Atravs do decreto 20.047 o governo assegurava para si a condio de poder concessrio e previu a criao de uma rede nacional sob controle do Estado, vinculado ao Ministrio da Educao e Sade Pblica. O decreto 21.111 destinava uma hora da programao das emissoras para a veiculao de um programa noticioso, A Hora do Brasil, que atualmente o A Voz do Brasil. Por outro lado o rdio traz novidades de programao. No incio da dcada de 30 surge no pas programas de calouros, o Concurso de Cantores da Rdio Record, patrocinado pela Joalheria ADAMO. (Rocha, 1993; p.38) Em uma poca em que os aparelhos receptores de rdio eram vendidos de porta em porta, o pas v nascer uma nova forma de comunicao : as adaptaes de teatro para o rdio. Rocha, em seu livro, indica que desde o final do ano de 1929, a Rdio Educadora transmitia peas de teatro na ntegra. Mas como as transmisses eram longas e enfadonhas, resolveu adaptar a linguagem teatral para a linguagem radiofnica. Surge o rdio teatro. Baseava-se em textos curtos e em geral cmicos, com no mximo trs personagens. Em 1931, a Rdio Record transforma-se em uma verdadeira empresa: contrata Paulo de Machado Carvalho para o cargo de diretor da emissora. Ele profissionaliza a Record, dando-lhe elenco fixo e trazendo uma nova programao: jornal falado, programa infantil, programa feminino, notcias sobre o mercado financeiro , rdio teatro noite, diviso de ritmos musicais por quartos de hora, entremeados por partes faladas com carter educativo, em linguagem rpida e humorstica. Monteiro Lobato era um dos grandes contratados da Record. Seu programa era um infantil onde ele contava algumas de suas famosas histrias. Rocha classifica o ano de 1932 como o ano em que o rdio se profissionaliza. Tanto pela renovao das programaes das emissoras, quanto pela chegada de grandes anunciantes como GM, Siemens, etc. Avalia tambm ser de grande peso a importncia poltica que o rdio obteve a partir deste ano. Em So Paulo, a Record torna-se popular. A Rdio Sociedade do Rio de Janeiro investe em programas populares, sendo que o mais famoso deles o Programa Cas (neste programa, consta-se, foi criado o primeiro jingle do rdio brasileiro, para a Padaria Bragana, criado pelo radialista e compositor Antnio Gabriel Nssara). Com Adhemar Cas e outros grandes locutores da poca, os locutores ganham mais prestgio. Para as emissoras, os speakers, como eram chamados, so um elo entre a emissora e seu pblico. Para este, a presena de tcnicos e outros profissionais do rdio era ignorada, sendo que o locutor era a cara da rdio, sua alma. Outro famoso Csar Ladeira. Na dcada de 30 surgem no rdio brasileiro os programas de variedade, os programas de auditrio, as radionovelas, enfim, todos os programas que fizeram o rdio se tornar a mais importante via de comunicao da poca. Ainda no ano de 1932, a Rdio Cruzeiro do Sul volta ao ar e passa a transmitir em conjunto com a Rede Verde Amarela, idealizada por Alberto Byington, uma associao entre emissoras de vrios estados, que tinham horrios para transmisso prpria e em outros horrios transmitiam a mesma programao. Integravam a rede, alm da Cruzeiro do Sul, de So Paulo, a Rdio Philips do Brasil, a Mayrink Veiga, ambas do Rio de Janeiro, a Rdio Club Juiz de Fora (MG) e a Rdio Club de Santos (SP).

24 2.6 - Radiodifuso e Poltica O envolvimento das emissoras com a poltica ocorre de maneira desordenada. Primeiro foi a Rdio Educadora (SP) que, em 1929, saiu em defesa dos interesses dos cafeicultores paulistas, aps a quebra da bolsa de Nova York. Defendendo a permanncia de So Paulo no poder da poltica caf-com-leite, a Educadora se indisps com o resto do pas e saiu enfraquecida do fato. Em 1930, universitrios porto-alegrenses invadiram os estdios da rdio Sociedade Gacha (RS) para lerem seus manifestos a favor do governo Vargas e receberam o apoio da populao da regio. Em 1932, durante a Revoluo Constitucionalista, estudantes invadiram a Rdio Record e leram um manifesto contra o autoritarismo do governo Vargas. A populao aplaudiu o ato de protesto. Percebendo que poderia beneficiar-se com o fato, a Rdio Record coloca alto-falantes em frente de suas instalaes e em praas e transmite notcias e debates sobre a revolta paulista contra o Estado. No Rio de Janeiro, sede do governo Vargas, a Rdio Philips rebate as acusaes e defende a integrao nacional, dizendo que os paulistas queriam a volta da poltica oligrquica. Cria-se uma guerra ideolgica no ar. Os nimos esquentam tambm em 1934, quando o Estado restringe o tempo destinado ao patrocnio das emissoras em 10% do horrio em que as estaes permaneciam no ar. Isso representava que cada emissora s poderia transmitir quatro anunciantes por hora. Desta vez todas as emissoras se uniram e em defesa de seus interesses conseguem aumentar o tempo para 20%, conseguindo tambm iseno de impostos. No mesmo ano, o ministro da aviao Jos Amrico emite decreto obrigando as emissoras do pas a veicular gratuitamente a Hora Nacional, um programa do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), uma espcie de propaganda do Estado. O programa ia ao ar das 20:30h s 21:30h. Novamente as emissoras paulistas se indispem com o Estado, negando-se a transmitir o programa, sob a alegao de no transmitirem quaisquer propagandas visando interesses polticos. (ROCHA apud Jornal do Brasil, 26/05/1934). Em resposta a Hora Nacional (posteriormente Hora do Brasil), as emissoras paulistas criam a Hora do Silncio, desligando seus transmissores durante o programa estatal. Trava-se uma batalha jurdica e, estrategicamente o Governo Vargas recua. O tempo do programa cai para meia hora diria, agora das 19:30h s 20h. O contedo do programa tambm no poderia ter matrias poltico-partidrias. O Estado se responsabiliza pelo pagamento das linhas telefnicas necessrias s transmisses do programa e as emissoras ganham o direito de transmitir mais de um intervalo por hora, criando blocos de programao. O governo tambm ganha, pois consegue manter sua autopropaganda no ar (A Hora do Brasil o programa de rdio mais antigo do mundo, hoje se chama Voz do Brasil. Algumas emissoras conseguiram na Justia o direito de no transmisso, processo esse iniciado pela Rdio Eldorado (SP), sob o pretexto de ser mais til ao paulistano ter notcias sobre sua cidade e sobre o trnsito que a veiculao da Voz do Brasil. Foi criada jurisprudncia e vrias outras emissoras no pas conseguiram esse direito).

25 2.7 - Mais investimentos, mais renovao Impulsionadas pelo capital publicitrio e pressionadas pela perca de pblico para as emissoras argentinas, as rdios brasileiras passam a investir mais em equipamentos tcnicos e em cast (artistas, locutores e profissionais). Do ponto de vista tcnico, as emissoras compram transmissores mais potentes e aparelhos de ltima gerao. As transmisses de jogos passam a serem feitas diretamente dos estdios, com vrias linhas telefnicas instaladas nas cabines de transmisso e indo diretamente para as mesas de som das emissoras (no mais passavam pelas centrais telefnicas). Na parte artstica, notamos a migrao de locutores, cantores e artistas de uma emissora para a outra, em especial de So Paulo para o Rio de Janeiro. O primeiro a mudar de emissora justamente o mais famoso dos locutores. Csar Ladeira deixa a Record e Vai para a Mayrink Veiga, em 02 de agosto de 1933. As peas de rdio-teatro ficam cada vez mais populares, sendo que agora quase todas as emissoras tm uma ou mais atraes do gnero. Na Record, Nicolau Tuma consagra-se como Speaker Metralhadora, criando o estilo de locuo rpida do futebol no rdio. Emissoras e clubes de futebol discutem por causa do afastamento dos torcedores dos estdios. A confuso s acaba quando a FBF(federao brasileira de futebol) faz um acordo no qual as emissoras passam a comprar o direito de transmisso dos jogos. Neste cenrio movimentado, onde o rdio cada vez mais faz parte da vida dos brasileiros, novas emissoras continuam surgindo. Apenas em So Paulo, surgem em 1934 as Rdios Cosmos e a Rdio Difusora, sendo esta a primeira a abandonar os scios e viver unicamente dos lucros publicitrios (assumindo carter de sociedade annima e no mais rdio sociedade); posteriormente, surgem a Rdio Tupi (1937), a Rdio Cultura e a Rdio Excelsior.No Rio de Janeiro, a maior novidade a Rdio Nacional, no ar em 12 de setembro de 1936, esta que se tornaria a maior rdio do Brasil. Quanto programao, alm do rdio-teatro e do futebol, surgem programas humorsticos, ganham importncia os programas de auditrio e o de calouros. Vale lembrar que nenhum destes tipos de programas foi criao brasileira. Em geral, os programas nacionais eram inspirados em programas dos EUA, inclusive o estilo de jornal radiofnico. A onda de programas de auditrio no rdio despertou uma nova corrida: a da criao de estdios capazes de recepcionar a platia. Esta onda levou as emissoras a voltar a investir altas somas de ris. A nica rdio que no aderiu aos programas de auditrio foi a Rdio Excelsior. Para se promoverem as emissoras comearam a investir em marketing, em especial anncios em jornal. Nos anos seguintes, os programas de auditrio se diversificariam e s perderiam a liderana de audincia para as rdio novelas.

26 2.8 - A Rdio Nacional Esta emissora merece um captulo parte, j que se tornou o maior sucesso radiofnico do Brasil. Entrou no ar em 12 de setembro de 1936, na voz do locutor Celso Guimares. Sua primeira frase foi: Al, al Brasil! Est no ar a Rdio Nacional, do Rio de Janeiro. (FERRARETO, 2001;p. 109) A rdio entrou no ar com m transmissor de 25 kW, que pertencia Rdio Philips, que encerrara suas atividades. A Nacional pertencia ao grupo A Noite, que editava os jornais A Manh e A noite e as revistas Carioca e Vamos Ler. Na Nacional grandes astros do rdio surgiram: Almirante, Haroldo Barbosa, Pixinguinha e outros. A Mayrink Veiga era ainda a mais ouvida das 65 emissoras de rdio do Brasil. Mas a Nacional, depois de ser encampada pelo governo ditatorial de Vargas, mudaria a histria do rdio brasileiro, possuindo os programas de maior sucesso no Brasil. Entre estes programas, destacamos Curiosidades Musicais, de abril de 1938, sob o comando de Almirante, a primeira novela brasileira, Em busca da felicidade, o programa Um milho de melodias, que lanou a Coca Cola no Brasil e o principal noticirio radiofnico brasileiro, o Reprter Esso. 2.9 - A dcada de 40 - o apogeu O mundo vive seu perodo mais complicado. A ascenso nazista e a Segunda Guerra Mundial trazem um clima de instabilidade, insegurana e temor a todos os cantos. No final da dcada de 30 o Brasil entra na batalha. O mundo divide-se em dois blocos: os que apiam o comunismo e os que o combatem, estes liderados pelos EUA, os outros pela Alemanha. O Brasil apia o bloco liderado pelos norte-americanos. Assim, os programas do rdio brasileiro comeam a imitar os estilos daqueles que so grandes sucessos na terra do Tio San. Proliferam por aqui as radionovelas, os programas de auditrio, os humorsticos e o estilo americano de noticirios. O jornalismo ganha importncia medida que o pas entra na guerra. Os brasileiros param para ouvir o que acontece com os pracinhas brasileiros l fora, e apavora-se com o cenrio desalentador que dava notas de que o imprio alemo avanava cada vez mais. Talvez por isso o rdio na dcada de 40 tenha se tornado o veculo de propagao do entretenimento no pas. Esporte, novelas, musicais, humor, enfim, programas que faziam as pessoas em casa se emocionarem e esquecerem por alguns instantes da Guerra. Em 1940, o governo Vargas encampa a Rdio Nacional. O pretexto foi uma dvida de cerca de 3,000,000.00 que o grupo A Noite devia ao governo. Mesmo assim a Nacional continuou com sua programao sem intervenes estatais e manteve-se sustentada por anncios publicitrios. Mas agora pde investir todo esse montante em sua prpria programao, j que o pagamento de suas dvidas ficou a cargo do Estado. Assim a Nacional pode criar um cast consideravelmente grandioso. J em 40 contrata todo o elenco musical da Mayrink Veiga. Em vinte anos (de 36 a 56) o faturamento saltou de Cr$ 900.000,00 para cem vezes esse valor. (FERRARETO apud FEDERICO, 1982; p. 78). Construiu mais 5 estdios, um deles com auditrio para 496 espectadores e contava com mais de 500 funcionrios, entre tcnicos, empregados, msicos e artistas.

27 2.10 - As radionovelas O gnero radioteatro sem dvida foi o precursor das radionovelas. A diferena bsica entre eles que o radioteatro era uma pea de teatro transmitida na ntegra diretamente dos teatros da poca. Este estilo jamais alcanou popularidade tanto por ser o teatro um gnero elitista quanto por ser entediante ouvir duas ou trs horas de um gnero que no foi feito apenas para ser ouvido, mas tambm visto. Por isso na dcada de trinta as peas de teatro sofreram adaptaes para a linguagem radiofnica. Passaram a ser sketches de curta durao e com poucos personagens. As radionovelas vieram para completar a evoluo deste segundo gnero. Passaram a contar com caracterizaes sonoras e trilhas musicais. s 9:30h do dia primeiro de junho de 1941 foi ao ar a primeira novela transmitida no Brasil, Em busca da felicidade. A novela era baseada na congnere homnima criada pelo cubano Leandro Blanco, exibida neste pas. O responsvel pela traduo e adaptao da radionovela no pas era Gilberto Martins. Mas no mesmo ano passou a ser transmitida Fatalidade, de Oduvaldo Vianna, a primeira novela produzida no Brasil. A caracterstica bsica das radionovelas era o carter conservador e de dramalho romntico. Em 1945, a Nacional transmitia 14 produes do gnero. Em todas as emissoras, era o gnero mais famoso. Em 1951, outra novela cubana adaptada por Eurico Silva, faria o Brasil parar para ouvir o rdio: O Direito de Nascer, da Nacional. A novela foi ao ar de 8 de janeiro de 51 a 17 de setembro de 52. Foi a mais famosa das radionovelas, revelando nomes que fariam sucesso posteriormente na TV. 2.11 - Os programas de auditrio Muitos historiadores indicam que o gnero chegou ao Brasil em 1933, atravs de Celso Guimares, na Rdio Cruzeiro do Sul. Posteriormente Ary Barroso lana Calouros em desfile, na Rdio Kosmos, das Organizaes Byington. Na dcada de 40, Renato Murce lana o Papel Carbono (Rdio Clube do Brasil), onde alm de cantar os candidatos teriam que ter suas vozes parecidas com a de algum cantor famoso. No Programa Case j na dcada de 30 cantores j se apresentavam perante platias no quadro Palmolive no Palco. No entanto na Nacional que o gnero torna-se famoso, nas vozes de Paulo Gracindo, Manoel Barcelos e em especial de seu maior nome, Csar Alencar. Em dezembro de 1948, o gacho Manoel Barcelos (ex Rdio Tupi e Rdio Globo) estria na Nacional. Em uma estratgia mercadolgica, Barcelos e Alencar apadrinham Emilinha Borba e Marlene, respectivamente, ressuscitando o concurso Rainha do Rdio. Com isso cada programa cria a rivalidade entre as duas e aumenta a audincia dos dois programas. Numa estratgia mercadolgica, a Companhia Antarctica Paulista quem est por trs da disputa. Patrocina o programa Manoel Barcelos (Marlene) com seu Guaran Caula e o programa Csar de Alencar (Emilinha) com seu outro produto, o Guaran Champagne Antarctica. Fora os interesses comerciais do veculo que caminha cada vez mais para a dependncia publicitria, os programas de auditrio (quase todos essencialmente musicais) tornam-se febres nacionais, chegando inclusive a ter fs clubes torcendo pelos candidatos. Mais para frente, este tipo de programa seria copiado pelas emissoras de televiso.

28 2.12 - O humor est no ar O humor no rdio surgiu em 1931, na Rdio Sociedade (RJ), com um programete de cinco minutos, Manezinho e Quintanilha, personagens criados e interpretados por Arthur de Oliveira e Salu Carvalho. (Cf. Ferrareto, p. 124) Ao longo dos anos 30, outros programas formados por duplas humorstica surgiram, como Alvarenga e Ranchinho e Jararaca e Ratinho. Da vieram grandes sucessos. Dentre eles costuma-se destacar PRK 30, Edifcio Balana Mas No Cai, Tancredo e Trancado e Piadas do Manduca. PRK 30 surgiu na rdio Clube do Brasil, com o nome de PRK 20 e depois passou pela Mayrink Veiga, Nacional e Tupi. Os atores Castro Barbosa e Lauro Borges interpretavam vrias vozes, fazendo um humor escrachado, onde valia at inventar palavras. J Balana mas no cai, criado por Max Nunes, surgiu para substituir PKR 30 quando este saiu da Nacional, levado para a Tupi. As situaes cmicas ocorriam dentro de um edifcio, que dava nome ao programa. O quadro mais famoso foi o Primo Rico e Primo Pobre, interpretados por Paulo Gracindo e Brando Filho. Outro grande nome do humor radiofnico foi o Programa Luiz Vassalo, no qual eram Tancredo e Trancado (que eram chamados para solucionar problemas, mas faziam o contrrio) e Piadas do Manduca (idealizado por Renato Murce, onde um grupo de alunos se reunia toda semana na casa de uma professora aposentada que fazia perguntas aos alunos nada espertos). Outro humorista que no pode ser esquecido Nh Totico, que interpretava todas as vozes de seu programa, Escolinha da Dona Olinda. 2.13 - Reprter Esso no ar Como j foi dito, o jornalismo no Brasil surge ainda no incio da dcada de 30, mas s cresce em importncia e popularidade na dcada de 40, quando o pas entra na Segunda Grande Guerra. Da aproximao entre Brasil e EUA, o Reprter Esso chega ao Brasil. O estilo de noticirio j existia em todos os pases onde os norte-americanos tinham interesses, como Argentina, Chile e Peru. O programa era patrocinado pela Esso Brasileira de Petrleo, e recebia informaes da United Press Intertnational (UPI). A primeira edio do programa foi ao ar s 12:55h do dia 28 de agosto de 1941. De incio, apenas a Nacional (RJ) e a Record (SP) transmitiam o informativo. Depois o programa se espalhou. Passaram a transmitir o programa a Farroupilha (RS), Inconfidncia (MG) e Jornal do Comrcio (PE). O modelo americano de jornalismo trouxe um modelo gil e linear de edio. Alm disso, trouxe grande credibilidade ao programa, alavancando-o posteriormente para a TV. Os locutores variavam de estado para estado: Heron Domingues (RJ, Nacional), Dalmcio Jordo, Fbio Peres (ambos de So Paulo), Ruy Figueira e Lauro Hagemann (RS), Alosio Campos (MG) e Edson de Almeida (PE). Mas havia uma edio nacional. Esta ficou na Rdio Nacional at 1962, quando se mudou para a Rdio Globo. E foi nesta emissora que no dia 31 de dezembro de 1968 o locutor Roberto Figueiredo anunciou com lgrimas nos olhos (e com a voz claramente chorosa, pausada) o fim do Reprter Esso. Roberto Figueiredo (chorando) O Reprter Esso, um servio pblico da Esso Brasileira de Petrleo e dos revendedores Esso encerra aqui o seu perodo de apresentaes atravs do rdio. Boa noite, ouvintes, e feliz ano novo, so os votos da Esso. 88

FERRARETO, 2001;p. 130.

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2.14 - O magnata da comunicao Um dos homens mais importantes da comunicao brasileira sem dvida foi Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello, nascido em 04 de outubro de 1892. Durante sua vida, acumulou um verdadeiro imprio de comunicao. Dono dos Dirio e Emissoras Associados, o maior conglomerado de comunicao da histria do Brasil, Chateaubriand detinha 33 jornais, 25 emissoras de rdio, 22 estaes de TV, uma editora, 28 revistas, duas agncias de notcias, trs empresas de servios, uma de representao, uma agncia de publicidade, duas fazendas, trs grficas, e duas gravadoras de discos. (Cf. WAINBERG, 1997;p. 230) A Rdio Tupi, a Cacique do Ar, foi sua primeira empresa no setor radiofnico, inaugurada no dia 25 de setembro de 1935. Ao longo da dcada de 40, Chateaubriand aumenta sua rede de emissoras de rdio adquirindo vrias estaes: Difusora (SP), Rdio Mineira e Rdio Guarani (MG), Sociedade da Bahia (BH), Educadora do Brasil (RJ), Farroupilha e Porto Alegre (RS). Para vencer a dura concorrncia de Record e Nacional, Chateaubriand investiu pesado na contratao de locutores e cantores, tendo como mais famoso exemplo o salrio pago pela Tupi para Carmem Miranda. Ou o exorbitante cach do locutor Ary Barroso. A Tupi carioca adquire um novo transmissor de 50 kW, para fazer frente Nacional. Posteriormente, contrata Paulo Gracindo, Almirante e Paulo Tapajs, trs dos maiores nomes da Nacional, que apesar dos desfalques manteve sua liderana. Chateaubriand foi um homem notvel na histria do rdio. O imprio que construiu era um dos maiores do mundo. Sua personalidade visionria auxiliou no profissionalismo do rdio, ampliou suas fronteiras. Mas de certa forma, ele um dos principais responsveis pela decadncia do rdio que estava por vir. No dia 18 de setembro de 1950, Chateaubriand inaugurou a PRF-3 TV TupiDifusora (a primeira emissora de tv da Amrica Latina, que levava o nome das duas emissoras de rdio paulistas que pertenciam ao Dirio e Emissoras Associados). Que de incio no abala a hegemonia do rdio, mas aos poucos rouba seu elenco e as idias de seus principais programas. Em meados da dcada de 80, a concesso da TV Tupi foi cassada. 2.15 - Os anos de turbulncia a decadncia do rdio O fim da era de ouro do rdio coincide com a chegada da televiso. Mas este processo de decadncia no foi imediato. Durante os primeiros anos da dcada de 50, o rdio ainda era o preferido das donas de casa e chefes de famlia, j que entre estes e o rdio havia estreita relao de cumplicidade desenvolvida atravs de trinta anos de histria do rdio. Somado a isso, importante salientar o fato de que na poca um aparelho de televiso era extremamente caro. A era da imagem havia chegado apenas para a elite. A televiso tambm enfrenta dificuldades para atrair anunciantes, o que dificulta seu crescimento. Mas aos poucos, a tv vai encontrando o caminho para crescer. Para isso, investe em frmulas de popularizao que foram desenvolvidas para o rdio: programas de auditrio, telenovelas, humorsticos e nos artistas de renome que atraam legies de fs. O fato que o brasileiro apaixona-se pelo novo veculo, e a televiso expande seus horizontes no Brasil. O rdio, resiste ao crescimento da rival de modo displicente, o que contribui para seu declnio de popularidade e publicidade. Dris Haussen cita os principais fatores para a decadncia do rdio:

30 A diminuio das verbas publicitrias, um reflexo do deslocamento de anunciantes para a televiso; A repetio dos mesmos tipos de programa; A demisso dos radialistas aps o golpe de 1964. (Ferrareto apud Haussen, 1997; p. 114) Com a televiso tornando-se cada vez mais atraente para os anunciantes, os salrios para os profissionais que l trabalhavam tambm cresceram. Isso motivou a sada de vrios profissionais de rdio para irem trabalhar na tv. O rdio teria ido a derrocada j em na dcada de 50, mas um importante aliado do rdio chegou ao Brasil em 1954, o que deu popularidade e flego ao veculo: o transistor. Inventado em 1947, o transistor chegou ao pas apenas em 1954, quando a empresa IDEA(Industrial Development Engineering Associates, de Indianpolis) licenciou o aparelho e iniciou suas vendas. J no final da dcada de 50, o Brasil produzia o produto em territrio nacional e nesta poca j haviam milhares de rdios transistorizados no pas (em especial por causa o preo - bem mais acessvel, US$49,95 e por causa da mobilidade que proporcionava, j que seu antepassado era enorme e s podia ser ouvido dentro de casa). (FERRARETO, 2001; p.137-138) O rdio ainda teria mais um momento de reafirmao de sua popularidade: foi o nico veculo a transmitir ao vivo as partidas do Brasil nas Copas do Mundo de Futebol em 1962 e 66. A mobilidade do transistor deu a oportunidade de se ouvir rdio no trabalho, em casa, na rua, em bares, etc. Mas esta vantagem do rdio durou pouco, porque em 1970 a televiso transmite sua primeira Copa do Mundo, na qual o brasileiro pode ver a seleo levantar a taa do tri-campeonato. O rdio tenta outros artifcios para crescer: transmisso de desfiles de carnaval, programas jornalsticos policialescos, festivais de msica. Tudo com xito. Tanto xito que, para variar, a tv copiava a frmula e roubava a cena novamente. 2.16 - Tempos de represso mais um golpe Em 27 de novembro de 1962, surge a mais importante associao empresarial do setor de comunicao do pas : a ABERT (Associao Brasileira de Emissoras de Rdio e Televiso). A criao da entidade teve fundamentos polticos. Deu-se em um momento em que o governo de Joo Goulart (Jango) votava em Congresso o Cdigo Brasileiro de Telecomunicaes, o qual previa que as emissoras fossem estatizadas. O lobby da ABERT conseguiu derrubar o projeto, mas criou uma inimizade que se acentuaria nos anos que estavam por vir. O poder poltico percebia novamente o poder das empresas de comunicao e abririam ainda mais os olhos contra elas. Quando explode o Golpe Militar de 1964, a sociedade como um todo sofre com a perca de liberdade e direitos. As emissoras de rdio e televiso no escapam aos avanos militares. Algumas emissoras de rdio haviam se levantado contra os atos militares e defendiam a democracia, chegando at a criar a Rede da Legalidade, que defendia a posse de Jango como presidente e julgando um absurdo o governo militar-parlamentarista. Estas emissoras da Rede da Legalidade foram as primeiras que sofreram intervenes e atos de censura quando a Ditadura Militar chegou ao pas. No dia 1o de abril de 1964, a Mayrink Veiga teve seus transmissores lacrados, voltando ao ar apenas trs semanas depois. No dia 26 de julho de 1965, o presidente Castello Branco cassa a concesso da Mayrink. Os proprietrios da emissora conseguem retardar a cassao, mas em trs de novembro do mesmo ano a Mayrink Veiga sai definitivamente do ar.

31 A censura aplicada aos jornais era aplicada da mesma foram ao rdio. Todos os dias as emissoras recebiam telegramas que identificavam que tipos de notcias no deviam ir ao ar (alguns comunicados de censura chegavam s redaes at antes mesmo dos fatos ocorrerem, como no caso da bomba na Rua da Praia, (RJ), onde as redaes receberam a proibio da polcia federal sobre uma exploso de bomba em um carro horas antes de o fato ocorrer). A censura tambm ocorria quanto s msicas que tocavam no rdio. Msicas como Pra no dizer que no falei de flores, de Geraldo Vandr e Apesar de voc, de Chico Buarque no poderiam mais ser executadas pelas emissoras, por seu carter antimoralista e subversivo aos preceitos do novo governo. Csar de Alencar, um dos nomes mais famosos de todos os tempos do rdio serviu de espio ao governo militar. Indicava o nome das pessoas que se diziam contra o militarismo e que organizavam atos que iam contra o sistema. Estas pessoas indicadas sofriam sanes, que iam desde demisses e afastamento permanente do setor de comunicao at priso e tortura. (FERRARETO, 2001; p.152). Durante o perodo, 67 funcionrios do ramo radiofnico foram afastados, outros 81 tiveram suas vidas investigadas e vigiadas. O governo tambm usava as emissoras para fazer suas propagandas ideolgicas. Estes fatores contriburam para uma conscincia de que a transmisso de informaes via rdio estava comprometida e que investir pesado nesse tipo de programao deixou de ser prioridade. Esta nova conscincia teria grande importncia nos anos que se seguiriam, marcando a reestruturao do rdio e seu novo perodo de crescimento, iniciado na dcada de 70. 2.17 - O FM e a segmentao o rdio se reestrutura No incio da dcada de 70, o cenrio radiofnico comea a se reestruturar. Em grande parte, este processo se deve ao nmero das emissoras que passaram a transmitir em Freqncia Modulada (FM). No princpio, eram transmisses de msica ambiente, mas copiando um modelo de sucesso nos EUA, a programao das Fm comea a direcionar-se para o pblico jovem. Neste novo contexto, comea a delinear-se no rdio uma tendncia que se concretizaria na dcada de 80: a segmentao dos ouvintes, com diferentes tipos de programao de uma rdio para outra e entre os tipos de faixa. Ou seja, as rdios AM direcionaram suas programaes para o jornalismo, coberturas esportivas e prestao de servios. As FM ficaram com uma programao quase que inteiramente voltada para as msicas. A tecnologia FM (desenvolvida em 1939, durante a Segunda Guerra Mundial) chegou ao Brasil, na forma de rdio comercial, no dia 2 de dezembro de 1970, quando a empresa Dirio e Emissoras Associados inaugurou em So Paulo a Rdio Difusora FM. No comeo, a Difusora tinha uma programao voltada para a elite, tocando msicas clssicas, peras e ignorando as msicas populares brasileiras, como samba e sertanejo, alm de notcias sobre mercado financeiro, bolsa de valores, etc, em blocos de 20 minutos, das 7 horas da manh at as 22 horas. No entanto, o ano de 1970 marca apenas o incio da utilizao de ondas FM para constituio da primeira emissora do gnero no pas. Na verdade, o FM chegou ao Brasil bem antes. Na dcada de 50, as prprias emissoras de AM utilizavam sinais de FM para interligar o estdio aos transmissores (esta prtica foi proibida pelo Estado em 1968). (FERRARETO apud MOREIRA, 1991;p.43)

32 A Rdio Imprensa AM (RJ), tambm utilizava as ondas em FM no ano de 1955, sendo portanto, a primeira emissora do pas a realizar irradiaes em freqncia modulada, como lembra Moreira: (...) [A Rdio Imprensa] comeou vendendo sua programao, em 1955, para os Supermercados Disco. Possua dois canais, um comercial e outro no comercial, cuja programao era vendida para lojas e escritrios. (MOREIRA, 1991; P.43) A Imprensa encarregava-se de instalar os receptores e equipamentos nos estabelecimentos e cobrava uma taxa mensal (Cr$ 100,00) dos clientes. Ferrareto lembra que, como este tipo de transmisso era particular e no aberta, no se deve considerar a Imprensa como a primeira emissora de FM do pas, ficando este papel para a Difusora. A Rdio Eldorado AM, comea em 1958 a transmitir a mesma programao do AM em FM. Ainda assim, no se constitui uma empresa que sobreviva e tenha uma programao exclusiva em FM. As transmisses em FM s ganhariam espao quando em 27 de abril de 1973 o Governo Federal cria a portaria n 333, do Ministrio das Comunicaes. Atravs dela, o Estado estabelece que o desenvolvimento das transmisses em FM como prioridade e cria incentivos fiscai