a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

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Londrina 2016 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM METODOLOGIAS PARA O ENSINO DE LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS LUISA MIYUKI YOSHIKAWA GÊNEROS, LETRAMENTO E CIDADANIA: A PRODUÇÃO DE UM JORNAL ESCOLAR NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

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Page 1: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

Londrina 2016

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM METODOLOGIAS PARA O ENSINO DE LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS

LUISA MIYUKI YOSHIKAWA

GÊNEROS, LETRAMENTO E CIDADANIA: A PRODUÇÃO

DE UM JORNAL ESCOLAR NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E

ADULTOS

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LUISA MIYUKI YOSHIKAWA

GÊNEROS, LETRAMENTO E CIDADANIA: A PRODUÇÃO

DE UM JORNAL ESCOLAR NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E

ADULTOS

Dissertação apresentada à Universidade Norte do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias. Orientadora: Profª. Drª. Rosemari Bendlin Calzavara

Londrina- PR 2016

Page 3: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

LUISA MIYUKI YOSHIKAWA

GÊNEROS, LETRAMENTO E CIDADANIA: A PRODUÇÃO DE UM JORNAL

ESCOLAR NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Dissertação apresentada à UNOPAR, no Mestrado em Metodologias para o Ensino

de Linguagens e suas Tecnologias, área de concentração em Ensino de Linguagens

e suas Tecnologias como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre

conferido pela Banca Examinadora formada pelos professores:

____________________________________

Profª. Drª. Rosemari Bendlin Calzavara UNOPAR

____________________________________

Profª. Drª. Eliza Adriana Sheuer Nantes UNOPAR

____________________________________

Profª. Drª. Lidia Maria Gonçalves UEL

Londrina, _____de ___________de _____.

Page 4: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

Dedico este trabalho a minha mãe,

Catharina Satiko Yoshikawa, pelo seu

apoio incondicional, em todos os projetos

da minha vida.

Page 5: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

AGRADECIMENTOS

A Deus, pela força e sabedoria para superar os obstáculos e chegar à

realização deste sonho.

À Profª. Dra. Rosemari Bendlin Calzavara, por ter acreditado em mim,

sempre com orientações valiosas.

Aos professores, pelos saberes compartilhados.

Às minhas amigas Marcia Rosi Benetti e Silvia Maria Rodrigues, grandes

incentivadoras dessa caminhada.

A todos os amigos que sempre me impulsionaram a seguir em frente.

À diretora Sonia de Souza Silva Álvares, aos professores e alunos da

Educação de Jovens e Adultos, do Colégio Professor João Rodrigues da Silva, pelo

apoio e interesse em contribuir com este trabalho.

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Não posso ser professor se não percebo

cada vez melhor que, por não ser neutra,

minha prática exige de mim uma

definição. Uma tomada de posição.

Decisão. Ruptura.

Paulo Freire

Page 7: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

YOSHIKAWA, Luisa Miyuki. Gêneros, letramento e cidadania: A produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos. 99f. Dissertação (Mestrado em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias) – Universidade Norte do Paraná, Londrina, 2016.

RESUMO

O jornal impresso é um dos meios de comunicação mais tradicionais na veiculação de informações e discussões sobre o contexto histórico-social de uma comunidade. No âmbito da educação, a utilização do jornal como ferramenta pedagógica vem crescendo no Brasil, especialmente depois da publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) em 1998, propondo o estudo dos gêneros textuais, inclusive os da mídia jornalística, como elementos centrais do ensino e aprendizagem da língua portuguesa. O objetivo desta pesquisa é apresentar uma proposta de utilização do jornal escolar na educação de jovens e adultos (EJA), a partir de um conjunto de práticas sociais de leitura e escrita com base em gêneros textuais da esfera jornalística, levando os alunos a desenvolverem a competência discursiva, por meio de um conjunto de atividades que propiciem a leitura, a produção de texto e a análise linguística. O ensino de Língua Portuguesa deve enfocar a funcionalidade desses gêneros, ou seja, o aluno deve estar preparado para reconhecê-los e produzi-los sempre que necessários. Para cumprirmos essa meta, apoiamo-nos em alguns teóricos que abordam o tema, como Freinet (1974), Bakhtin (1997), Marcuschi (2008), Dolz e Schneuwly (2004), Baltar (2006), entre outros. Configura-se como pesquisa-ação, pois são estabelecidas ações por parte dos envolvidos, docentes, discentes e a pesquisadora. A publicação da primeira edição do jornal confirma a hipótese de que o trabalho com a produção de um jornal escolar contribui para que o ensino da língua materna promova o letramento do aluno, por meio da escrita e leitura de textos por eles mesmos produzidos, efetivando a sua formação crítica e cidadã. Palavras-Chave: Ensino de Língua Portuguesa. EJA. Gêneros Textuais. Letramento. Jornal Escolar. Cidadania.

Page 8: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

YOSHIKAWA, Luisa Miyuki. Genders, literacy and citizenship: the production of a school newspaper in adult education. 2016. 99f. Dissertação (Mestrado em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias) – Universidade Norte do Paraná, Londrina, 2016.

ABSTRACT The printed newspaper is one of the traditional media in the dissemination of information and discussions on the historical and social context of a community. In education, the use of the newspaper as a teaching tool is growing in Brazil, especially after the publication of the National Curriculum Parameters (PCNs) in 1998, proposing the study of genres, including the news media, as central elements of teaching and learning Portuguese. The objective of this research is to present a proposal for the use of the school newspaper in adult education (EJA), from a set of social practices of reading and writing based on genres of journalistic sphere, leading students to develop discourse racing through a set of activities that facilitate reading the text production and linguistic analysis. The teaching of Portuguese should focus on the functionality of these genres, example, the student must be prepared to recognize them and produce them whenever required. To fulfill this goal, we support you in some theorists on the topic, as Freinet (1974), Bakhtin (1997), Marcuschi (2008), Dolz and Schneuwly (2004), Baltar (2006), among others. It appears as action research, since actions are established by the involved teachers, students and the researcher. The publication of the first issue of the journal confirms the hypothesis that working with the production of a school newspaper helps the mother tongue teaching promotes literacy student, through writing and reading texts for themselves produced, effective the its critical training and citizen. Keywords: Portuguese Language Teaching. Adult education. Textual genres. Literacy. School newspaper. Citizenship.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APMF Associação de Pais, Mestres e Funcionários

CEAA Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos

CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

CNE Conselho Nacional de Educação

CNEA Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo

CNER Campanha Nacional de Educação Rural

CPC Centros Populares de Cultura

DCE Diretrizes Curriculares Estaduais

EJA Educação de Jovens e Adultos

GNL Grupo de Nova Londres

INEP Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos. Atualmente é

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

Teixeira.

LDB Leis de Diretrizes e Bases da Educação

LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MCP Movimento de Cultura Popular

MEB Movimento de Educação de Base

MEC Ministério da Educação e Cultura

MOBRAL Movimento Brasileiro de Alfabetização

PCNs Parâmetros Curriculares Nacionais

PNA Programa Nacional de Alfabetização

UEL Universidade Estadual de Londrina

UNE União Nacional dos Estudantes

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação

Page 10: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

LISTA DE TABELAS

Quadro 1 – Aspectos Tipológicos ............................................................................. 26

Quadro 2 – Principais Classificações Brasileiras..................................................... 27

Quadro 3 – Estrutra Interna das seções do jornal João Rodrigues........................ 68

Quadro 4 – Esquema da Sequência Didática.......................................................... 72

Page 11: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 12

1.1 HIPÓTESE ........................................................................................................ 14

1.2 OBJETIVOS ....................................................................................................... 15

1.2.1 Objetivo Geral ................................................................................................. 15

1.2.2 Objetivos Específicos...................................................................................... 15

1.3 JUSTIFICATIVA ................................................................................................... 15

1.4 METODOLOGIA .................................................................................................. 16

2 MÍDIA E EDUCAÇÃO..................................................................................... 19

2.1 O JORNAL ESCOLAR NA CONCEPÇÃO DE FREINET ............................................... 21

2.2 O JORNAL NA SALA DE AULA .............................................................................. 22

2.3 OS GÊNEROS TEXTUAIS DO JORNAL DE SALA DE AULA ........................................ 24

3 A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS .................................................... 30

3.1 EJA- EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS ............................................................ 30

3.2 O FENÔMENO DA JUVENILIZAÇÃO NA TURMA DA EJA ........................................... 35

3.3 A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DA EJA .......................................................... 38

3.4 O CURRÍCULO NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS .......................................... 41

4 APRENDER A APRENDER ........................................................................... 47

4.1 LETRAMENTO: RUMO À CIDADANIA ..................................................................... 47

4.2 PEDAGOGIA DOS MULTILETRAMENTOS.................................................................49

4.3 PEDAGOGIA DE PROJETOS..................................................................................52

5 JORNAL JOÃO RODRIGUES ....................................................................... 57

5.1 METODOLOGIA DO PROJETO: OS PRIMEIROS PASSOS .......................................... 57

5.2 AS MÍDIAS IMPRESSAS E DIGITAIS ....................................................................... 59

5.3 A CONSTRUÇÃO DO JORNAL .............................................................................. 61

5.4 PERCALÇOS NA TRAJETÓRIA .............................................................................. 66

5.5 ANÁLISE DOS GÊNEROS TEXTUAIS DO JORNAL .................................................... 68

Page 12: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 77

REFERÊNCIAS .............................................................................................. 80

ANEXOS ......................................................................................................... 88

ANEXO A – JORNAL JOÃO RODRIGUES .................................................... 90

ANEXO B – JORNAL FOLHA DE LONDRINA. ..............................................99

Page 13: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

1 INTRODUÇÃO

A realização deste estudo partiu da preocupação com o panorama atual

do sistema de ensino e aprendizagem da língua materna no Brasil. Apesar dos

avanços relacionados ao ensino da língua escrita ocorridos nos últimos anos, o

ensino de Língua Portuguesa ainda permanece centrado em práticas

conservadoras. Segundo Baltar (2006, p. 13),

ensinar uma língua é dar condições aos alunos, falantes dessa língua, para desenvolverem uma competência discursiva necessária para o diálogo e para a transformação dos espaços discursivos letrados que compõem o tecido social.

O autor propõe uma reflexão sobre a prática do ensino e da escrita em

sala de aula, centrada na redação escolar. Esse tipo de atividade escolar é

uma produção distanciada do uso real da linguagem e não promove a interação

em uma determinado contexto social.

Conforme Pécora (1999, p. 85), a produção textual na escola passa a

ser uma “via-crúcis”, uma carga que o aluno precisa finalizar com o intuito de

ganhar uma recompensa, a nota. O aluno escreve para alguém que não existe

e, quando existe, esse leitor é o professor, que, na verdade, não interage, mas

apenas procura erros no texto do aluno. A própria ausência de um interlocutor

definido já constitui um obstáculo na hora de se produzir um discurso, seja ele

oral ou escrito.

Oposto do escritor de uma mera redação, um usuário competente

discursivamente é aquele que pensa a produção de textos situando-os dentro

de um gênero com sua estrutura relativamente estável, considera o ambiente

discursivo como produção escrita dialógica, busca atingir objetivos sócio-

discursivos específicos. É aquele sujeito-produtor que interage com outros

sujeitos dentro de uma instituição dada, de acordo com as situações de uso

real da língua, compreendendo o mundo discursivo e as possibilidades de

expressão, de acordo com a variedade de gêneros textuais que esse mundo

discursivo possibilita (BALTAR, 2006, p. 17).

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) e a Lei de Diretrizes e

Bases da Educação (1996) são exemplos de documentos oficiais que têm

Page 14: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

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delineado um novo sistema de ensino. Apesar da legitimidade do discurso

oficial, os professores ainda encontram dificuldades para incorporar essa nova

concepção de ensino no meio escolar.

Segundo Dolz e Schneuwly (2004), o ensino da Língua Portuguesa deve

ser pautado nos diferentes gêneros textuais, orais ou escritos. Os gêneros são

produtos sociais bastante heterogêneos, produzidos nas diferentes esferas da

sociedade em que o indivíduo circula, possibilitando inúmeras construções

durante a interação.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997, p. 20),

podemos considerar o ensino e a aprendizagem de Língua Portuguesa na

escola resultantes da articulação de três variáveis: o aluno, a língua e o ensino.

O primeiro elemento dessa tríade, o aluno, é o sujeito da ação de aprender, aquele que age sobre o objeto de conhecimento. O segundo elemento, o objeto de conhecimento, é a Língua Portuguesa, tal como se fala e se escreve fora da escola, a língua que se fala em instâncias públicas e a que existe nos textos escritos que circulam socialmente. E o terceiro elemento da tríade, o ensino, é, neste enfoque teórico, concebido como a prática educacional que organiza a mediação entre sujeito e objeto do conhecimento.

O ensino da Língua Portuguesa na escola deve ser pautado em ações

concretas que oportunizem à construção da cidadania e o aumento de saberes,

viabilizando a vida do jovem e do adulto em sociedade, tornando-o um agente

transformador. Para que essa mediação aconteça, cabe ao professor planejar,

implementar e dirigir as atividades didáticas, com o objetivo de garantir o

acesso aos saberes linguísticos, textuais e discursivos necessários para o

exercício da cidadania.

Para tanto, é preciso assumir o letramento como objetivo do ensino na

Educação de Jovens e Adultos, o que implica em adotar uma concepção social

da escrita que considera a aprendizagem de leitura e produção textual como a

aprendizagem de competências e habilidades individuais.

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14

1.1 HIPÓTESE

A nossa primeira experiência com a produção do jornal escolar foi no

início de 2009, em uma escola particular brasileira, no arquipélago japonês, na

cidade de Kariya, no estado de Aichi-Ken, onde estudavam filhos de

dekasseguis. Com o respaldo desta experiência, retornando ao Brasil,

efetivamos esse mesmo projeto no ano de 2011, em uma escola estadual de

Londrina.

Ao longo desse período, temos verificado que a produção do jornal

escolar, ao tomar como ponto de partida as práticas sociais, oportuniza e

estimula uma infinidade de ações, de experiências e de vivências, entre os

vários atores envolvidos (alunos, professores, pesquisadora, funcionários da

escola), que irão enriquecer e favorecer o processo de ensino e aprendizagem.

Uma visão social da escrita [...] pode nos ajudar a desenvolver uma pedagogia que ensine aos alunos que gêneros não são somente formas textuais, mas também formas de vida e de ação. Eles [os alunos] encontrarão sua agência não na concorrência com os textos autoritários da escola, mas na contribuição para o diálogo da sala de aula, na promoção de projetos locais, no engajamento da vida de suas comunidades. Assim, os alunos verão não somente sua escrita influenciando pessoas e projetos que os cercam, mas serão motivados a buscar mais recursos para serem ainda mais efetivos [...] O truque na sala de aula é tornar viva aquela agência para os alunos, para que eles percebam que a escrita é uma poderosa ferramenta para a formação e o desempenho de intenções em todas as esferas de atividade (BAZERMAN, 2006, p. 19).

Assim, cada uma das atividades é parte indissolúvel de um processo,

cujo resultado é a publicação do jornal e, tão importante como o próprio

processo, é apreciar o resultado dessa jornada intelectual, em que vão se

imprimindo as histórias de alunos, de professores, de pesquisadora, que ao

mesmo tempo ensina e aprende.

O que se pretende mostrar por meio desta pesquisa é que o trabalho

com a produção de textos, associado à noção de gêneros textuais circulantes

no ambiente discursivo jornalístico escrito, pode contribuir para desenvolver

competências em nossos alunos, ou seja, desencadear conhecimentos e

habilidades que os usuários da língua têm para interagir dentro de um

determinado contexto social.

Page 16: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

15

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

- Divulgar estratégias para o desenvolvimento das competências de leitura e

de escrita.

1.2.2 Objetivos Específicos

- Desenvolver a competência redacional dos estudantes;

- Propiciar ao aluno o conhecimento da produção de um jornal escolar;

- Incentivar a produção de diversos gêneros textuais;

- Promover a leitura crítica, discussão da realidade e leitura de mundo.

1.3 JUSTIFICATIVA

O propósito desta pesquisa é mostrar que o trabalho com gêneros

textuais, especificamente os gêneros que ocorrem no ambiente discursivo

jornalístico escrito, promovem o desenvolvimento da competência discursiva

em nossos alunos, ou seja, "a capacidade do usuário empregar a língua

adequadamente nas diversas situações” (TRAVAGLIA, 1997, p. 17).

O domínio de um gênero nos torna aptos para agir em sociedade, pois,

ao nos apropriarmos de uma forma linguística, conseguimos a socialização e

inserção nas práticas sociais humanas. Por isso, a ênfase no ensino deve se

voltar para a funcionalidade destes gêneros nas práticas sociais, ou seja, o

aluno deve estar preparado para reconhecê-los e produzi-los sempre que

necessários.

Para que o aluno saiba utilizar os gêneros textuais de forma adequada

nos diversos ambientes discursivos (acadêmicos, profissionais ou meio social),

é preciso que haja uma mudança mais efetiva no ensino da Língua Portuguesa.

Não basta trocar a gramática tradicional pelos gêneros textuais, mas,

sobretudo, é necessário que o material produzido pelos alunos possa ser

usado como instrumento de interação dentro e fora do ambiente escolar.

Page 17: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

16

Assim, ao adotarmos como prática de ensino a produção de um jornal

escolar, pretendemos usar este tipo de mídia como instrumento de motivação.

O primeiro passo para a produção de um texto acontece a partir de uma determinada motivação. A motivação humana é um fenômeno altamente complexo e, em grande parte, ainda desconhecido, mas de maneira geral, a motivação para o surgimento de um texto acontece como resultado da interação dos seguintes componentes: 1) desejos, necessidades ou conflitos gerados a partir da história discursiva individual de cada pessoa e, 2) necessidade, conflitos ou diferenças gerados dentro dos diferentes discursos institucionais (MEURER; MOTTA-ROTH, 1997, p. 18).

Ao participar da confecção de um jornal escolar, os alunos se sentem

mais envolvidos e motivados com relação ao seu ensino e aprendizagem,

porque vislumbram a efetivação do produto final. Como reitera Baltar (2006, p.

105), “trabalhar engajado num projeto funciona como que se a classe

assinasse um contrato de empreendimento e soubesse que precisará executá-

lo para depois socializá-lo.”

Além do fator motivacional, o trabalho com produção de um jornal,

promove o desenvolvimento e a aquisição das competências da língua escrita,

sendo elas gramaticais, sociolinguísticas, discursivas e estratégicas, pois os

textos produzidos para o jornal passam por um processo de escrita e reescrita

para fazer parte de um todo organizado, que deve espelhar a realidade dessa

comunidade escolar e dialogar com ela.

1.4 METODOLOGIA

A pesquisa classifica-se como qualitativa, pois os resultados foram

(extraídos da base de dados comprovados) sustentados por meio de um

levantamento teórico e, posterior estudo de campo delimitado por corte

temporal espacial. Esse corte define a escola e a dimensão em que o projeto

foi desenvolvido. No desenvolvimento desta pesquisa ficou claro que o mundo

objetivo e a subjetividade do sujeito não podem ser reduzidos a números, ou

seja a investigação é descritiva em forma de palavras ou imagens e não de

números. Para Nery e Borges (2005, p. 15), “o ambiente natural é a fonte direta

para a coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave. É descritiva. O

processo e seu significado são os focos principais de abordagem.”

Page 18: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

17

Assim, a teoria e a prática são partes indissolúveis da pesquisa, portanto

é necessário que as diretrizes metodológicas deste trabalho fossem

demarcadas. Sendo assim, entendemos que a pesquisa-ação foi um

instrumento valioso, que nos forneceu subsídios para melhorar o ensino e

aprendizagem, e, conforme salienta a pesquisadora Michel (2005, p. 35),

[...] é um tipo de investigação social com base empírica, isto é, vivenciada, que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo, no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.

Deste modo, o percurso do presente estudo partiu, primeiramente, de

um levantamento bibliográfico, apropriando-se de pesquisas que abordam a

temática deste trabalho para embasar cientificamente esta dissertação.

Posteriormente, partimos para o estudo de campo em que ocorreu uma

pesquisa-ação no Colégio Estadual Professor João Rodrigues da Silva, com os

alunos do Ensino Médio, da EJA - Educação de Jovens Adultos, onde foi

produzido o jornal.

A seguir, apresentamos uma síntese de cada capítulo que compõe este

trabalho.

No capítulo 1, “Mídia e Educação”, abordamos a importância de oferecer

a todos os cidadãos as competências necessárias para compreender a

informação sob um olhar crítico (UNESCO,1982).

No capítulo 2, “Jornal Escolar”, fazemos uma abordagem histórica do

jornal escolar, enfocando a sua origem no início do século XX. Nesse capítulo,

discutimos a importância do uso do jornal de sala de aula para o ensino e

aprendizagem da língua, enfatizando os benefícios do uso dessa mídia como

prática de letramento, respaldados na concepção teórica de gênero de discurso

de Bakhtin (1997). Para tal discussão, nos ancoramos especialmente em

Freinet (1974), Baltar (2006), Pavani (2002), Faria (2003). Num segundo

momento, discutimos a respeito dos gêneros textuais como unidade de ensino

da língua materna. Para isso, nos apoiamos nos estudos de Marcuschi (2008),

Dolzs e Schneuwly (2004), Bazerman (2006) e PCNs (1997).

Page 19: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

18

No capítulo 3, “Educação de jovens e adultos”, traçamos o histórico

dessa modalidade no Brasil, nos embasando nas pesquisas de Gadotti e

Romão (2001), Lima (2012), Carvalho (2009), Freire (2001), Haddad e Di Pierro

(2000), Cury (2002). Abordamos a questão da juvenilização na EJA, sob o

olhar de Arroyo (2009), Vale (2010), Amaral e Ferrari (2005) e com Ausubel

(2003) vemos como se processa a aquisição do conhecimento. Nesse capítulo,

a formação dos profissionais da EJA e o currículo na EJA são estudados a

partir de pesquisadores como Freire e Papert (1996), Péres Gomez (1998),

Arendt (1983), Silva (2007), Arroyo (1996), Libâneo (1994), entre outros.

No capítulo 4, “Aprender a aprender”, abordamos a importância do

letramento para o exercício da cidadania, nos reportando à Soares (2009) e

Kleiman (2008), Tfouni (1988) e Dolz e Schneuwly (2004). A Metodologia de

Projetos e a interdisciplinaridade é referendada a partir das pesquisas de

autores como Hernandez (1998), Behrens (2005), Morin (2001), Abrantes

(1995), Vasconcellos (2002).

No capítulo 5, “Jornal João Rodrigues”, relatamos como ocorreu o

processo de nossa pesquisa. Primeiramente, informamos quais foram os

primeiros passos para efetivação do projeto, nesse momento, fazemos uma

diferenciação entre “mídia impressa e digital.” Na “construção do jornal”,

analisamos os gêneros textuais produzidos e relatamos as estratégias

utilizadas para se obter os resultados estabelecidos como objetivos específicos

do nosso projeto de pesquisa.

No capítulo 6, “Considerações Finais”, trazemos uma síntese da

realização desta pesquisa, explicitando que os objetivos estabelecidos para

este trabalho foram alcançados e que a confecção de um jornal escolar na

Educação de Jovens e Adultos contribuiu para o desenvolvimento da

competência comunicativa o que envolve componentes linguísticos, textuais e

discursivos.

Page 20: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

19

2 MÍDIA E EDUCAÇÃO

As mídias estão presentes em nossas vidas de forma cada vez mais

precoce e abrangente. Os avanços da tecnologia e das técnicas de

comunicação possibilitaram a sofisticação da publicidade e de um estilo de vida

em que o consumo tem um papel preponderante. Nesse contexto, os meios de

comunicação de massa assumem expressiva importância. Sendo assim, é

necessário estarmos preparados para a compreensão e análise desse

fenômeno no que diz respeito ao papel pedagógico e ideológico das mídias.

A UNESCO, em janeiro de 1982, formaliza a Declaração de Grünwald,

um documento de ação educativa internacional, com representantes de 19

países na Alemanha Ocidental, ratificando a obrigatoriedade dos sistemas

educacionais promoverem uma melhor compreensão dos fenômenos da

comunicação, especialmente, nas novas gerações, visando à construção de

uma consciência crítica e participação ativa do cidadão na sociedade. É

considerado um dos documentos de referência na área pedagógica e, apesar

das transformações ocorridas no campo comunicacional e midiático,

destacamos a pertinência e clareza das suas propostas. Os países que

assinaram esta declaração, por meio dela, comprometeram-se a:

1. Organizar e apoiar programas integrados de educação para as mídias, do nível pré-escolar à universidade e à educação de adultos, visando a desenvolver os conhecimentos, as técnicas e as atitudes próprias para promover o desenvolvimento de uma consciência crítica e, por consequência, de uma competência maior entre os utilizadores das mídias eletrônicas e impressas. Idealmente, estes programas deveriam ir da análise do conteúdo das mídias até o emprego de instrumentos de expressão criativa, passando pela utilização dos canais de comunicação disponíveis, baseada em uma participação ativa. 2. Desenvolver os cursos de formação destinados aos educadores e diferentes tipos de animadores e mediadores, visando ao mesmo tempo a melhorar seu conhecimento e sua compreensão das mídias e a familiarizá-los com os métodos de ensino apropriados, levando em conta o conhecimento das mídias, muitas vezes considerável mas ainda fragmentado, que a maioria dos estudantes já possui. 3. Estimular as atividades de pesquisa e desenvolvimento que interessam à mídia-educação, em áreas como a psicologia, a sociologia e as ciências da comunicação. 4. Apoiar e reforçar as ações empreendidas ou consideradas pela UNESCO que visam a encorajar a cooperação internacional no campo da mídia-educação (UNESCO, 1982).

Page 21: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

20

Este documento ressalta a responsabilidade dos “sistemas nacionais” de

promoverem nos cidadãos uma compreensão crítica dos fenômenos de

comunicação, enfatizando a necessidade do professor utilizar a mídia-

educação como ferramenta pedagógica, visto que os meios de comunicação de

massas (jornal, rádio, televisão, etc.) interferem na formação e no cotidiano dos

cidadãos, pois reproduzem e transmitem cultura.

Diante disso, é preciso estabelecer pontes efetivas entre educadores e

meios de comunicação no intuito de formar os educadores para que, junto com

os seus alunos, compreendam o inquestionável processo de troca das

informações da linguagem midiática. Para Moran (2007, p. 162), podemos

pensar na relação Comunicação, Meios de Comunicação e Escola em três

níveis:

1. organizacional 2. de conteúdo 3. comunicacional - no nível organizacional: uma escola mais participativa, menos centralizadora, menos autoritária, mais adaptada a cada indivíduo. Para isso, é importante comparar o nível do discurso - do que se diz ou se escreve - com a práxis - com as efetivas expressões de participação. - no nível de conteúdo: uma escola que fale mais da vida, dos problemas que afligem os jovens. Tem que preparar para o futuro, estando sintonizada com o presente. É importante buscar nos meios de comunicação abordagens do quotidiano e incorporá-las criteriosamente nas aulas. - no nível comunicacional: conhecer e incorporar todas as linguagens e técnicas utilizadas pelo homem contemporâneo. Valorizar as linguagens audiovisuais, junto com as convencionais.

Assim, os sentidos culturais da sociedade contemporânea estão cada

vez mais atrelados às mídias, porque elas são mediadoras entre os sujeitos e a

cultura modificando as interações coletivas. Devido à relevância que a mídia

assumiu no mundo contemporâneo, fazendo-se presente em vários aspectos e

momentos de nossas vidas, é preciso desenvolver práticas de leitura e escrita

compatíveis com o mundo midiatizado, ou seja, atrelar a educação à

comunicação. Como lembra Fantin (2006, p. 28), “a comunicação é

imprescindível para a educação, pois toda prática educativa é prática também

comunicativa.”

Neste sentido, deve-se trabalhar o senso crítico, aguçando a percepção

dos alunos e a capacidade de criticar as informações recebidas, para um

Page 22: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

21

entendimento mais amplo do processo de desconstrução e difusão das

informações midiáticas. Também devemos incentivar a capacidade dos alunos

de produzirem materiais midiáticos e contemplar os conteúdos da grade

curricular com informações provenientes da mídia, proporcionando desta

maneira um aprendizado condizente com o contexto sócio-cultural dos alunos.

Diante dessa nova ordem sociocultural, os modos de ensinar precisam

ser reavaliados, é preciso incorporar a mídia-educação no currículo como

prática social e cultural, pois hoje é condição sine qua non do exercício da

cidadania, e, portanto, deve estar inserida na educação escolar e na formação

de professores.

Martin-Barbero (1997) destaca a “tecnicidade midiática” como dimensão

da cultura, portanto a escola necessita reorganizar os saberes partindo dos

fluxos e das redes que mobilizam o intercâmbio de informação, ou seja, saber e

aprender em uma sociedade baseada na economia informacional demanda

novos dispositivos de produção e apropriação cognitiva que se encontram nas

diversas interfaces e telas disponibilizadas na mídia impressa e digital.

Kellner (2001, p. 17) enfatiza que “as novas tecnologias estão alterando

todos os aspectos da sociedade e cultura e que precisamos compreendê-las e

utilizá-las tanto para entender quanto para transformar nossos mundos.” É

preciso promover a educação para a mídia, como o objetivo de aguçar a

percepção e a crítica dos indivíduos, possibilitando enxergar o que está

implícito no texto midiático.

2.1 O JORNAL ESCOLAR NA CONCEPÇÃO DE FREINET

Na Europa, do início do século XX, o educador francês Celéstin Freinet

(1974) adotou o jornal impresso como aliado indispensável no processo

educacional, pois considerava o sistema formal de ensino arcaico e limitador da

liberdade. Por aliar a proposta do jornal escolar como peça essencial de uma

prática pedagógica, o autor constitui a primeira referência para quem trabalha

com jornal escolar.

Page 23: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

22

A técnica dos manuais, dos deveres e das lições, está hoje ultrapassada, como o foi a técnica do manuscrito e da pena de pato. Porém, os velhos hábitos, inscritos no modo de vida e na tradição, obstinam-se em sobreviver [...]. Em educação, a revolução é ainda mais lenta e laboriosa do que nas outras técnicas de trabalho; as pessoas têm tendência em impor às gerações que se lhes seguem os mesmos métodos que as formaram, ou deformaram. A cultura tradicional continua obstinadamente baseada num passado caduco e trava as forças inovadoras que dinamizam o avanço (FREINET, 1974, p. 12).

A introdução do jornal impresso no âmbito das salas de aula é a solução

encontrada para motivar à criatividade dos alunos, a expressão livre, a

observação e a experiência. Freinet (1974, p. 62) considera a imprensa escolar

como "um dos maiores elementos de uma pedagogia aberta sobre o mundo e

sobre a vida, suscetível de dar um sentido novo à cultura em que a escola, em

todos os seus graus, vai assentar-se e preparar a eclosão.”

O autor destaca que as atividades com o jornal escolar estimulam o

desejo de escrever e ler, além de promoverem o trabalho em equipe

influenciam de “uma forma determinante sobre a formação profunda dos

indivíduos, sobre a sua capacidade geral de melhor cumprir a sua função de

homens e cidadãos” (FREINET, 1974. p. 78).

A elaboração de um periódico escolar busca dinamizar a ação educativa

e a preparação dos futuros cidadãos é feita a todo momento: a preparação

individual e coletiva de cada página, o voto regular que decide da escolha dos

textos, a organização cooperativa necessária ao trabalho e a redação e difusão

do jornal. Este aspecto, o da formação crítica e cidadã, por meio do jornal

escolar, constitui um dos principais pilares da nossa pesquisa, uma vez que os

textos são produzidos, não para serem avaliados, mas para serem lidos pela

comunidade escolar, promovendo a função social da escrita.

2.2 O JORNAL NA SALA DE AULA

No trabalho com a leitura, o professor deve estabelecer laços entre a

escola e a sociedade. Assim, levar jornais para a sala de aula é promover a

leitura analítica da realidade feita por meio da compreensão e da discussão dos

fenômenos sociais.

Page 24: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

23

Segundo Pavani (2002, p. 24), “o jornal é um meio eficaz de auxílio e

dinamização do ensino e da aprendizagem, promovendo a interdisciplinaridade

e a consequente integração de conhecimentos.” A leitura do jornal leva o aluno

a vivenciar situações de aprendizado sobre uma gama de assuntos que estão

presentes nas diferentes ciências sociais e humanas, incentivando a análise

dos fatos e fenômenos da sociedade em suas variadas dimensões.

O jornal oferece uma pluralidade de gêneros, o que está em

consonância com a proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997,

2000a), documento que incentiva o trabalho nas escolas com textos de

gêneros textuais diversos, como os textos utilizados na linguagem jornalística:

crônica, entrevista, debate, depoimento, notícia, editorial, artigo, carta do leitor,

reportagem, charge, tira, entrevista e propaganda.

Os PCNs (1997, p. 15-25) recomendam que

O domínio da língua, oral e escrita, é fundamental para a participação social efetiva, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo, produz conhecimento. Por isso, ao ensiná-la, a escola tem a responsabilidade de garantir a todos os seus alunos o acesso aos saberes lingüísticos, necessários para o exercício da cidadania, direito inalienável de todos. [...] Toda educação verdadeiramente comprometida com o exercício da cidadania precisa criar condições para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaça necessidades pessoais — que podem estar relacionadas às ações efetivas do cotidiano, à transmissão e busca de informação, ao exercício da reflexão.

A escola objetiva formar cidadãos livres, autônomos e responsáveis na

sociedade em que vivem, e a proposta de se adotar o jornal baseia-se na

concepção de que este suporte textual traz o cotidiano para a escola. É preciso

considerar cada parte do jornal e trabalhar com o tipo de verdade que se

produz.

O discurso jornalístico é impregnado de subjetividade, cabendo ao leitor

perceber as implicaturas, as ambiguidades e as pressuposições no que é lido.

Compete ao professor, orientar o aluno na leitura do jornal para que a noção de

verdade seja um fenômeno mais abrangente, pois assim ele perceberá que um

acontecimento está intrinsecamente ligado ao seu contexto histórico-social e

divulgar os fatos dessa ou daquela forma revela um tipo de leitura da realidade.

Page 25: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

24

2.3 OS GÊNEROS TEXTUAIS DO JORNAL DE SALA DE AULA

A confecção de um jornal escolar em sala de aula é uma atividade de

linguagem que demanda uma produção de gêneros textuais específicos desse

suporte de textos, ou seja, os textos empíricos têm como propósito

comunicativo a interação com a comunidade escolar.

Para Baltar (2006, p. 123),

[...] quando pensamos na produção de um jornal de sala de aula, feito por alunos, sujeitos que atuam no âmbito do discurso escolar, propondo-lhes transitar por gêneros textuais de outro âmbito discursivo (a mídia impressa), nosso objetivo, além de propiciar a interação sociodiscursiva entre escritor e leitor de um texto empírico (escrito numa atividade de linguagem legítima como a produção do jornal escolar), é também, o de ampliar a competência discursiva desses alunos, despertando sua conduta sociodiscursiva diante dessa atividade de linguagem.

Assim, para se manifestar, o discurso usa o texto, que podemos definir

como um processo e produto da interação verbal e o enunciado, sua unidade

real, pois, segundo Bakhtin (1997, p. 293), “o discurso se molda à forma do

enunciado (unidade real de comunicação verbal), que pertence a um sujeito

falante e não pode existir fora dessa forma.” O sujeito tem à sua disposição

uma imensa variedade de gêneros discursivos e ele escolhe uma das formas

dos enunciados em função do objeto que está diretamente ligado à esfera

discursiva.

A realização efetiva de uma ação de linguagem é decorrente da

exploração das formas comunicativas que estão inseridas no quadro de uma

formação discursiva, o que demanda empréstimo dos construtos históricos que

são os gêneros de texto ou do discurso (LARA; COHEN, 2009). Nesse

contexto, observamos que os conceitos de gênero como categoria textual-

discursiva diferem de acordo com a perspectiva abordada pelos teóricos.

Marcuschi (2008) destaca a existência de um consenso dentre as várias

perspectivas, pois, para nos comunicarmos, precisamos recorrer aos gêneros

para atender a uma determinada situação comunicativa. Como seres sociais

estamos imersos em uma sociedade que nos controla sob diversos aspectos e

nos conduz a determinadas ações. Ora, se os textos e/ou discursos circulam a

Page 26: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

25

partir da escolha dos gêneros, por que então o uso de termos distintos como

gênero do discurso ou gênero discursivo e gênero textual?

Para Marcuschi (2008, p. 154), essa discussão não é tão relevante e

posiciona-se dessa forma: “[...] todas essas expressões podem ser usadas

intercambiavelmente, salvo naqueles momentos em que se pretende, de modo

explícito e claro, identificar algum fenômeno específico.”

O autor concebe o gênero como um artefato textual-discursivo, sendo

analisado no aspecto organizacional interno e em seu funcionamento

sociointerativo. Por exemplo, o gênero textual carta aberta é “um texto

argumentativo, utilizado por uma pessoa ou um grupo de pessoas para

manifestar publicamente sua opinião” (SARMENTO; TUFANO, 2010, p. 365).

Ao fazer uso desse gênero, o indivíduo deve se adequar às exigências

impostas pela situação comunicativa. Sendo assim, ele pode defender-se de

uma acusação pública ou fazer uma reinvidicação e o seu texto poderá circular

em órgãos de impressa, caso seja aceito para publicação. Portanto, o gênero

é uma escolha que traz consigo uma variedade de consequências formais e

funcionais.

A própria seleção da linguagem segue a decisão do gênero e seu funcionamento discursivo no contexto pretendido. Na realidade, se observamos como agimos nas nossas decisões na vida diária, dá-se o seguinte: primeiramente, tenho uma atividade a ser desenvolvida e para a qual cabe um discurso característico. Esse discurso inicia com a escolha de um gênero que, por sua vez, condiciona uma esquematização textual (MARCUSCHI, 2008, p. 85).

Nesse contexto, os Parâmetros Curriculares Nacionais propõem que o

ensino da Língua Portuguesa deve ter como objeto os gêneros textuais. E, “os

textos a serem selecionados são aqueles que, por suas características e usos,

podem favorecer a reflexão crítica, o exercício de formas de pensamento mais

elaboradas e abstratas” (BRASIL, 1998, p. 24).

Partindo dessa perspectiva, é pertinente ressalvar que os gêneros

materializam as ações comunicativas que são produzidas por determinada

forma de organização social. Assim, é necessário abordarmos a questão do

agrupamento dos gêneros, pois está relacionado com as escolhas que os

alunos fizeram para a produção do jornal.

Page 27: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

26

Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004) propõem o quadro geral abaixo para

tratar do ensino de gêneros.

QUADRO 1 - ASPECTOS TIPOLÓGICOS

DOMÍNIOS SOCIAIS DE COMUNICAÇÃO

CAPACIDADES DE LINGUAGENS DOMINANTES

EXEMPLOS DE GÊNEROS ORAIS E ESCRITOS

Cultura literária Ficcional

NARRAR Mimeses de ação através da criação de intriga

Conto maravilhoso Fábula Lenda Narrativa de aventura Narrativa de ficção científica Narrativa de enigma Novela fantástica Conto parodiado

Documentação e memorização de ações humanas

RELATAR Representação pelo discurso de experiências vividas, situadas no tempo

Relato de experiência vivida Relato de viagem Testemunho Curriculum vitae Notícia Reportagem Crônica esportiva Ensaio biográfico

Discussão de problemas sociais controversos

ARGUMENTAR Sustentação, refutação e negociação de tomadas de posição

Texto de opinião Diálogo argumentativo Carta do leitor Carta de reclamação Deliberação informal Debate regrado Discurso de defesa (adv.) Discurso de acusação adv.

Transmissão e construção de saberes

EXPOR Apresentação textual de diferentes formas dos saberes

Seminário Conferência Artigo ou verbete de enciclopédia Entrevista de especialista Tomada de notas Resumo de textos expositivos ou explicativos Relatório científico Relatório de experiência científica

Instruções e prescrições DESCREVER AÇÕES Regulação mútua de comportamento

Instruções de montagem Receita Regulamento Regras de jogo Instruções de uso Instruções

Fonte: Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004, p. 121).

Os gêneros materializam as ações comunicativas e “o domínio do uso

de determinados enunciados gêneros textuais/discursivos, de acordo com a

Page 28: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

27

situação de uso, vai determinar o nível da competência de um indivíduo em

uma determinada língua” (BALTAR, 2006, p. 37).

Como o nosso enfoque são os gêneros jornalísticos, antes de iniciarmos

o nosso projeto, explicamos aos alunos que os gêneros textuais nos jornais de

grande circulação estão dispostos em dois grandes grupos: gêneros opinativos

e gêneros informativos.

A partir da pesquisa do professor Luiz Beltrão (1976), defensor da

divisão do jornalismo informativo, opinativo e interpretativo, José Marques de

Melo (1985) fez um mapeamento dos estudos dos gêneros jornalísticos e

sugeriu uma classificação que se tornou referência bibliográfica brasileira.

QUADRO 2 – PRINCIPAIS CLASSIFICAÇÕES BRASILEIRAS

Classificação Beltrão, Luiz (1976) Marques de Melo, José (1985)

Informativo História de interesse humano

Notícia

Reportagem

Informação pela imagem

Nota

Notícia

Reportagem

Entrevista

Opinativo Editorial

Artigo

Fotografia e ilustração

Crônica

Charge/caricatura

Colaboração do leitor

Editorial

Artigo

Resenha

Crônica

Caricatura

Carta

Comentário

Coluna

Interpretativo Reportagem em

profundidade

Fonte: Melo (1985, p. 73).

Segundo Melo (1985, p. 74),

classificar gêneros jornalísticos é o maior desafio do jornalismo, como campo do conhecimento, é, sem dúvida, a configuração da sua identidade enquanto objeto científico e o alcance da autonomia jornalística que passa inevitavelmente pela sistematização dos processos sociais inerentes à captação, registro e difusão da informação da atualidade, ou seja, do seu discurso manifesto.

Page 29: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

28

Posteriormente, além dos gêneros informativo, opinativo e interpretativo,

Melo e Assis (2010) incorporam os gêneros utilitário com os formatos indicador,

cotação, roteiro e serviço, e o diversional, composto por história de interesse

humano e história colorida. O gênero utilitário ou jornalismo de serviço tem o

objetivo de “orientar o leitor, seja para o consumo de bens simbólicos, para o

lazer e a cidadania” (MELO; ASSIS, 2010, p. 228).

O Manual da Redação da Folha de S. Paulo (2010, p. 73) orienta que os

gêneros opinativos e interpretativos devem ser fundamentados em informações

concretas. E agrupa os textos jornalísticos em gêneros:

1) análise: contém a interpretação do autor e é sempre assinada; 2) artigo: contém a opinião do autor e é sempre assinado; 3) editorial: expressa a opinião do jornal e nunca é assinado; deve ser enfático, equilibrado e informativo, apresentar a questão tratada e desenvolver os argumentos defendidos pelo jornal, ao mesmo tempo em que resume e refuta os contrários; 4) crítica: avalia trabalho artístico, acadêmico ou desempenho esportivo e é sempre assinada; 5) crônica: aborda assuntos do cotidiano de maneira mais literária do que jornalística e é sempre assinada; 6) “feature”: apresenta a notícia em dimensões que vão além do seu caráter factual e imediato, em estilo mais criativo e menos formal; pode ser o perfil de um personagem ou uma história de interesse humano; 7) resenha: faz o resumo crítico de um livro e é sempre assinada; 8) notícia: relata a informação da maneira mais objetiva possível; raramente é assinada; 9) reportagem: traz informações mais detalhadas sobre notícias, interpretando os fatos; é assinada quando tem informação exclusiva ou se destaca pelo estilo ou pela análise.

Como o objetivo do nosso projeto não era reproduzir um jornal com fins

comerciais, conforme os mandamentos dos manuais jornalísticos, essa

classificação em alguns textos adquiriu configuração própria, evidenciando o

surgimento de gêneros específicos do jornal escolar.

O jornal permitiu trabalhar com o gênero textual dentro de uma

dimensão contextualizada, nos moldes do que ensina Bazerman (2006, p. 10),

ao enfatizar a necessidade de que o gênero seja ensinado “como ação

tipificada pela qual podemos tornar nossas intenções e sentidos inteligíveis

para outros.”

Dessa forma, a utilização do jornal na sala de aula mobilizou recursos de

vários níveis, pois cada gênero é adaptado para conceitualizar alguns aspectos

da realidade melhor do que outros. Assim, a competência discursiva se

Page 30: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

29

estabelece, quando o aluno se prepara para produzir um texto empírico:

precisa tomar uma série de decisões com relação à situação no qual ele está

envolvido e para atingir o efeito desejado deve ter a capacidade de organizar

esse discurso dentro do gênero escolhido (BALTAR, 2006).

Page 31: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

3 A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

3.1 EJA – EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade de ensino

que atende ao Ensino Fundamental e Médio da Educação Básica, assegurando

aos estudantes jovens e adultos o direito à formação e a continuidade dos

estudos, conforme estabelece o Parecer 11/2000 do Conselho Nacional de

Educação/Câmara de Educação Básica, que institui as Diretrizes Curriculares

para a Educação de Jovens e Adultos:

Propiciar a todos a atualização de conhecimentos por toda a vida é a função permanente da EJA. [...] Mais do que uma função, ela é o próprio sentido da EJA. Ela tem como base o caráter incompleto do ser humano cujo potencial de desenvolvimento e de adequação pode se atualizar em quadros escolares ou não escolares. Mais do que nunca, ela é um apelo para a educação permanente e criação de uma sociedade educada para o universalismo, a solidariedade, a igualdade e a diversidade (BRASIL, 2003, p. 11).

Segundo Gadotti e Romão (2001, p. 121), a EJA deve “construir

identidade própria, sem concessões à qualidade de ensino e propiciando uma

terminalidade e acesso a certificados equivalentes ao ensino regular.” Dessa

forma, a EJA tem o compromisso legal com a formação humana dos

estudantes, preocupando-se em diagnosticar as características históricas,

sociais, econômicas dos alunos, da comunidade e estabelecer uma relação de

confiança, baseada em valores e crenças democráticas, considerando como

fundamento o pluralismo e a diversidade cultural.

Para refletirmos sobre a história da EJA no país, é necessário levarmos

em consideração os diferentes momentos sociais, políticos, econômicos e

culturais pelos quais o Brasil passou ao longo de sua história.

As lógicas político-educativas, as prioridades, as dimensões organizacionais e administrativas, mesmo os elementos de ordem conceptual, mudam com frequência, interrompendo e abandonando certas políticas públicas para dar lugar a outras e assim sucessivamente. A heterogeneidade e a pluralidade da educação de adultos enquanto campo de práticas sociais nunca terá sido objeto de políticas sociais globais e polifacetadas, mas antes de orientações segmentadas e heterogêneas, geralmente de curto prazo (LIMA, 2012, p. 72).

Page 32: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

31

De acordo com Carvalho (2009), as primeiras iniciativas políticas do

Governo Federal direcionadas ao ensino de jovens e adultos ocorreram no

governo de Eurico Gaspar Dutra, quando foi lançada a Campanha de

Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA – 1947 a 1950), que estabelecia a

alfabetização em três meses e a redução do curso primário para dois períodos

de sete meses. Posteriormente, o mesmo governo lançou a Campanha

Nacional de Educação Rural (CNER – 1950 a 1959).

No Programa de Metas de Juscelino Kubitschek é lançado a terceira

grande campanha de alfabetização, intitulada “Campanha Nacional de

Erradicação do Analfabetismo” (CNEA – 1958 a 1963), tendo como objetivo o

aperfeiçoamento e na extensão da escolaridade primária, pois seus

idealizadores encaravam o analfabetismo de jovens e adultos como o resultado

da ineficiência da escola primária regular.

A CNEA priorizou o ensino primário regular (de 7 a 11 anos), pois os

responsáveis pela campanha, técnicos do Instituto Nacional de Estudos

Pedagógicos (INEP), haviam concluído que o elevado índice de analfabetismo

no país era decorrente do sistema educacional primário ineficiente. Portanto,

era necessário professores bem formados, prédios adequados e material

didático de qualidade.

Nos períodos de 1959 a 1964, segundo Haddad e Di Pierro (2000),

emergiram movimentos importantes como: o Movimento de Educação de Base

(MEB – 1961 a 1966) que nasceu por iniciativa da Conferência Nacional dos

Bispos do Brasil (CNBB); o Movimento de Cultura Popular (MCP – 1960 a

1964), de Recife; os Centros Populares de Cultura (CPC – 1961 a 1964),

associados à União Nacional dos Estudantes (UNE); a campanha “De pé no

chão também se aprende a ler” (1961 a 1964); e, finalmente, o Programa

Nacional de Alfabetização (PNA – 1964) do Ministério da Educação e Cultura,

que contou com a participação de Paulo Freire.

Freire (2001) trata a formação escolar de adultos pelo ponto de vista

político e ideológico, pois a educação configura-se enquanto conhecimento

libertador da opressão e da miséria. E, adota novas metodologias de ensino, a

fim de desencadear a participação popular em comunidades rurais e urbanas.

Afinal, “o analfabetismo não é nem uma ‘chaga’, nem uma ‘erva daninha a ser

Page 33: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

32

erradicada’, nem tão pouco uma enfermidade, mas uma das expressões

concretas de uma situação social injusta” (FREIRE, 2001, p. 18).

O golpe de 1964 interrompe o Programa Nacional de Alfabetização e dá

lugar “A Cruzada ABC” e ao Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL).

Esses programas propunham a erradicação do analfabetismo e a alfabetização

funcional de jovens e adultos, visando à aquisição das técnicas de leitura,

escrita e cálculo. Após a redemocratização do país, em 1985, o MOBRAL foi

substituído pela “Fundação Educar”, que tinha a função de financiar e dar

suporte técnico às ações educativas. A partir da promulgação da Constituição

Federal de 1988, surge uma nova concepção da EJA, sendo reconhecida como

um direito de todos e oferecida pela rede escolar pública e privada do Brasil

(HADDAD; DI PIERRO, 2000).

A Constituição Federal (promulgada em 1988), garantiu avanços

importantes no campo da EJA. Conforme o artigo 208, a Educação passa a ser

direito de todos, independentemente de idade, e nas disposições transitórias

são definidas metas e recursos orçamentários para a erradicação do

analfabetismo.

O governo manteve a gratuidade da educação pública a todos que não

tiveram acesso à escolaridade básica, reconhecendo que a sociedade foi

incapaz de garantir escola básica para todos na idade adequada. Apesar do

artigo que definiu na Constituição a educação como “direto de todos”,

chegamos à década de 90 com políticas públicas educacionais pouco

favoráveis a este setor, porque os programas que foram ofertados após 1988

estiveram longe de atender à demanda populacional.

Com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional-

LDBEN nº 9394/96, promulgou-se a primeira referência sobre a EJA no Título

III, artigos 4º e 5º, trazendo um considerável ganho à educação de adultos,

institucionalizando esta modalidade de ensino.

De acordo com a LDB nº 9.394/96, é dever do Estado, garantir a oferta

de educação escolar regular para jovens e adultos, com características e

modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades,

assegurando aos que não tiveram acesso à escola na idade adequada as

condições de acesso e permanência nesse ambiente educacional.

Page 34: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

33

A Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (Lei nº 9.394/96) imprimiram mudanças conceituais

significativas na EJA, principalmente no que se refere à expansão do tipo de

oferta de programas.

Portanto, a partir da aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (Lei Federal nº 9.394/1996), a EJA passa a ser

considerada uma modalidade da Educação Básica, tendo como objetivo a

eliminação do analfabetismo, por meio da oferta de cursos e de exames

destinados à população de jovens e adultos que, na faixa etária apropriada,

não conseguiu concluir o Ensino Fundamental ou o Ensino Médio Regular.

Nesse contexto, Cury (2002, p. 575) enfatiza “que a lei considera o

jovem e o adulto como sendo capazes de fazer uma opção consciente. Se

qualquer um deles exigir a vaga, é obrigação do poder público atendê-los.”

A LDB de 1996 reitera a preocupação com a universalização do Ensino

Fundamental e com a erradicação do analfabetismo:

Art. 4º. O dever do Estado com a educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria [...] VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; VII - oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola. O artigo 5º, parágrafo 1º, da LDB de 1996, destaca que: Compete aos Estados e aos Municípios, em regime de colaboração, e com a assistência da União: I - recensear a população em idade escolar para o ensino fundamental, e os jovens e adultos que a ele não tiveram acesso; II - fazer-lhes a chamada pública; III - zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola (BRASIL, 1996, p. 2-3).

O artigo 37, parágrafo 1º, da LDB de 1996 determina que os sistemas de

ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não tiveram

condições de terminar os estudos na idade regular, oportunidades

educacionais adequadas, levando em conta as características do alunado,

seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames

(BRASIL, 1996).

Por um longo período, a Educação de Jovens e Adultos foi vinculada a

políticas de educação e alfabetização “[...] enquanto possibilidade de elevação

Page 35: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

34

de escolaridade e de qualificação dos trabalhadores, e apresentada como

geradora de oportunidades diferenciadas” (RUMERT, 2007, p. 39), por visar

uma suposta inclusão social e combate à pobreza desconsiderando as suas

particularidades e singularidades.

O Parecer CNE/CEB 11/2000, que apresenta as Diretrizes Nacionais

Curriculares para a Educação de Jovens e Adultos, determina três funções

para a educação de jovens e adultos: reparadora, equalizadora e qualificadora.

Sobre a função reparadora, o parecer atribui à Educação de Jovens e

Adultos a função de restaurar o direito de todos que não tiveram acesso à

escolarização básica na idade apropriada. Assegurando a educação escolar de

qualidade a todos, sem discriminação, oportunizando o acesso a um bem real,

social e simbolicamente importante. Assim, a reparação é a oportunidade

concreta de jovens e adultos estarem na escola e uma alternativa viável em

função das especificidades socioculturais desses segmentos para os quais

entende que a EJA necessite ser pensada como um modelo pedagógico

próprio, objetivando criar situações pedagógicas e satisfazer necessidades de

aprendizagem de jovens e adultos.

Quanto à função equalizadora, o referido parecer recomenda que os

jovens e adultos que tiveram interrompida sua trajetória educacional deva ser

alvo de políticas que objetivem favorecê-los, garantindo o retorno e a

permanência em universo escolar que lhes seja próprio, de forma a efetivar

competências adquiridas na educação extraescolar e na própria vida. O Estado

deve assegurar àqueles a quem foi negado o direito à educação todas as

condições necessárias para que adquiram ou complementem sua escolaridade.

Nesse contexto, a EJA representa uma possibilidade de construir um caminho

de desenvolvimento a todas as pessoas, de todas as idades, permitindo que

jovens e adultos atualizem seus conhecimentos, mostrem habilidades, troquem

experiências e tenham acesso a novas formas de trabalho e cultura.

Com relação à função qualificadora ou permanente, a EJA tem a tarefa

de propiciar a todos a atualização de conhecimentos ao longo da vida,

proporcionando as condições necessárias para que, em qualquer momento,

exerçam seu direito de aprender. Constitui o próprio sentido da EJA. É o que

permanecerá, quando a efetiva democratização da sociedade tornar

desnecessária a função reparadora e equalizadora.

Page 36: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

35

As Diretrizes Curriculares Estaduais de EJA do Paraná estabelecem o

perfil de seus educandos, a função social dessa modalidade de ensino, as

formas de avaliação, metodologia e, especialmente, os três eixos articuladores

do currículo de EJA, a saber: cultura, trabalho e tempo. De acordo com a DCE-

EJA/PR (2005, p. 37):

A partir das reflexões durante o processo de elaboração das DCE para a Educação de Jovens e Adultos, identificaram-se os eixos cultura, trabalho e tempo como os que deverão articular toda a ação pedagógico-curricular nas escolas. Tais eixos foram definidos tendo em vista a concepção de currículo como um processo de seleção de cultura, bem como pela necessidade de atender o perfil do educando da EJA.

Esse documento caracteriza a EJA como uma modalidade de ensino

mais flexível do que as escolas regulares, em que o tempo de aprendizagem

de cada aluno é diferenciado, portanto, deve-se atender as necessidades

individuais dos educandos, com propostas educativas que garantam o acesso

e, sobretudo, a permanência e o êxito na escola. Embora, atualmente e cada

vez mais, a EJA atenda uma população de jovens adultos oriundos de

processos de exclusão escolar, gerados pela repetição, por evasão ou pelo

ingresso precoce no mercado do trabalho.

Assim, as políticas públicas que estruturam a educação nacional

intensificaram o retorno de jovens e adultos ao convívio da escola e a

juvenilização vem mudando a realidade anterior da EJA, que cada vez mais, é

desafiada a atender a um público jovem, oriundo de processo de exclusão

escolar (devido à repetição, evasão e ingresso precoce no mercado de

trabalho), tornando ainda mais complexas as práticas pedagógicas dos

professores, o que tem se configurado como um amplo desafio para uma nova

forma de fazer a EJA.

3.2 O FENÔMENO DA JUVENILIZAÇÃO NA TURMA DA EJA

As Diretrizes Curriculares Estaduais da Educação de Jovens e Adultos

enfatizam como ponto principal em sua versão inicial, a compreensão sobre o

perfil de seus educandos, “[...] sujeitos com diferentes experiências de vida e

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que em algum momento afastou-se da escola devido a fatores sociais

econômicos políticos e ou culturais” (DCEs, 2005, p. 33).

A Educação de Jovens e Adultos possui uma identidade específica que

a diferencia da escolarização regular e essa diferenciação nos remete a

questão de especificidade etária e sócio histórico-cultural.

Segundo Arroyo (2009), os alunos da Educação de Jovens e Adultos

foram sempre vistos nas escolas com trajetórias incompletas, permeadas por

problemas de reprovações sucessivas, por não terem se adaptado às normas

das escolas. Esses aspectos, fazem com que a EJA seja convertida “[...] em

mecanismo de aceleração de estudos para adolescentes e jovens com baixo

desempenho na escola regular” (VALE, 2010, p. 25).

É importante identificarmos esse sujeito, cuja história é diferente de

outros jovens da mesma idade, que estão ingressando num nível superior de

escolaridade ou buscando cursos de especialização profissional para

aprimoramento ou a inserção no mercado de trabalho. “O jovem da EJA deve

ser visto como uma pessoa, cuja condição de existência remete a dupla

exclusão, de seu grupo de pares da mesma idade e do sistema regular de

ensino, por evasão ou retenção” (AMARAL; FERRARI, 2005, p. 15).

Nesse processo de exclusão, o insucesso na aprendizagem tem se

destacado e promove o medo e a rejeição em relação à escola que parece

inacessível ao aluno, como reitera Santos (2003, p. 74):

Os jovens e adultos pouco escolarizados trazem consigo um sentimento de inferioridade, marcas de fracasso escolar, como resultado de reprovações, do não - aprender. A não-aprendizagem, em muitos casos, decorreu de um ato de violência, porque o aluno não atendeu às expectativas da escola. Muitos foram excluídos da escola pela evasão (outro reflexo do poder da escola, do poder social); outros a deixaram em razão do trabalho infantil precoce, na luta pela sobrevivência (também vítimas do poder econômico).

Destacamos que, em qualquer fase da vida escolar, a aquisição de

novos conhecimentos deve considerar os saberes prévios dos alunos. Quando

trata do saber prévio, Ausubel (2003) refere-se à situação de ancoragem, ou

seja, ao processo de integração de novos conteúdos (conceitos, proposições) à

estrutura cognitiva do sujeito. Além do conhecimento prévio do estudante são

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37

condições básicas para uma aprendizagem significativa: a organização do

conteúdo e a predisposição do aluno para aprender.

A teoria da aprendizagem significativa estabelece o conhecimento prévio

do sujeito como elemento básico e determinante na organização do ensino.

Segundo Ausubel, Novak e Hanedian (1980, p. 137), “se eu tivesse que reduzir

toda a psicologia educacional a um único princípio, diria isto: o fator singular

que mais influencia a aprendizagem é aquilo que o aprendiz já conhece.

Descubra isso e ensine-o de acordo.”

Assim, em relação ao aprendizado dos jovens e adultos, é primordial

partir dos conceitos decorrentes de suas vivências, suas interações sociais e

sua experiência pessoal. Como já detêm conhecimentos diversificados

decorrentes de sua vivência pessoal e profissional, podem enriquecer a

abordagem escolar, formulando questionamentos, confrontando possibilidades

e propondo alternativas a serem consideradas.

As ações educativas na Educação de Jovens e Adultos devem ser

articuladas no sentido de capacitar o cidadão a ler e interpretar a realidade,

conforme a sua própria vivência, buscando, principalmente, a aceitação do

indivíduo como ser social, visando a construção de seu projeto de vida e

direcionando caminhos para a sua vida em sociedade; o que exige reorientar a

nossa prática pedagógica para ações que incluam o desenvolvimento da

pessoa humana de forma integrada e completa, no atendimento de suas

necessidades cognitivas, afetivas, motoras e sociais.

Para Santos (2008, p. 5), o desafio imposto para a EJA na atualidade é

[...] mudar radicalmente a maneira como a EJA é concebida e praticada; buscar novas metodologias, considerando os interesses dos jovens e adultos; pensar novas formas de EJA articuladas com o mundo do trabalho; investir seriamente na formação de educadores; e renovar o currículo interdisciplinar e transversal, entre outras ações, de forma que esta passe a constituir um direito, e não um favor prestado em função da disposição dos governos, da sociedade ou dos empresários.

Diante do exposto, precisamos estar atentos às peculiaridades que

surgem durante a prática docente, pois os sujeitos jovens nas turmas da EJA

encontraram nessa modalidade uma oportunidade de retornar à escola. Dessa

forma, pensando nesse novo alunado, devemos utilizar estratégias

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metodológicas visando o desenvolvimento da competência comunicativa que,

segundo Canale e Swain (1980), refere-se a conhecimentos e habilidades. O

conhecimento é aquilo que um indivíduo sabe sobre a língua e habilidade

refere-se à aplicação desse conhecimento em comunicação real.

Assim, fica evidente que o conhecimento é útil se o indivíduo possui a

habilidade de utilizá-lo em situações concretas. Para Marcuschi (2008, p. 243),

“um texto é produzido sob certas condições, por um autor com certos

conhecimentos e determinados objetivos e intenções.”

Portanto, quando o aluno entende que cada gênero textual tem uma

função que o determina em domínios discursivos específicos, por exemplo, a

produção e o trato de um poema são diferentes de um artigo de opinião ou

editorial, ele percebe que os gêneros são formas de ação social, que nos

possibilitam sermos compreendidos e participarmos ativamente da comunidade

em que vivemos.

3.3 A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DA EJA

O documento oficial das Diretrizes para a Formação Inicial de

Professores para a Educação Básica em cursos de nível superior estabelece

que

A aprendizagem por competência supera a dicotomia teoria-prática, definindo-se pela capacidade de mobilizar conhecimentos adquiridos na reflexão sobre as questões pedagógicas e aqueles construídos na vida profissional e pessoal, para responder às diferentes demandas das situações de trabalho. O desenvolvimento de competência pede uma outra organização do percurso de aprendizagem, no qual o exercício de práticas profissionais e da reflexão sistemática sobre elas ocupa um lugar central (BRASIL, 2000c, p. 13).

A formação do professor deve ser embasada na perspectiva reflexiva da

docência, ou seja, deve ser constituído por um saber-fazer sólido, teórico e

prático, criativo, que possibilite trabalhar contextos instáveis, enfrentando

situações nem sempre previsíveis e visando a construção de respostas

próprias para questões complexas e singulares. O Parecer CNE/CEB n°

11/2000 destaca que “[...] o preparo de um docente voltado para a EJA deve

incluir, além das exigências formativas para todo e qualquer professor, aquelas

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relativas à complexidade diferencial desta modalidade de ensino” (BRASIL,

2003, p. 56).

Para tanto, é fundamental que na formação docente haja a apropriação

teórico-metodológica dos conceitos de diversidade cultural, diálogo e

autonomia. Acreditamos que o saber é um processo em permanente

desconstrução, sendo assim, o conceito de formação continuada é regido por

uma pedagogia dialética, em que o ser humano é capaz de produzir, recriar,

como sujeito de ação no mundo.

Freire (2002) ensina-nos que a escola deve ser um lugar de trabalho,

ensino e aprendizagem, portanto ao longo desse processo elaboram-se novos

saberes significativos, tanto para os alunos quanto para os professores. “O

trabalho de construção de autonomia é o trabalho do professor com os alunos,

e não do professor consigo mesmo” (FREIRE, 2002, p. 71), em um processo

de tomada de decisão e de humanização que vamos construindo

historicamente.

Nessa abordagem, a educação possibilita a cada indivíduo desenvolver

a capacidade de conduzir o seu próprio processo formativo. O professor deve

coordenar a ação educativa, possibilitando ao educando uma ação

participativa; instaurando na sala de aula um espaço de diálogo que permita a

superação das dificuldades, porque a escola é o espaço privilegiado para

pensar.

A formação continuada faz parte do desenvolvimento profissional que

ocorre ao longo da atuação docente, possibilitando um novo sentido à prática

pedagógica, pois é baseado num processo reflexão-na-ação, ou seja, um

ensino cujo aprender está entrelaçado com o fazer; um ensino que permite

articular novos saberes na construção da docência, dialogando com os

envolvidos no processo que envolve a formação (IMBERNÓN, 2010).

Segundo Pérez Gómez (1998, p. 372), a reflexão

[...] é uma forma de praticar a crítica com o objetivo de provocar a emancipação das pessoas, quando descobrem que tanto o conhecimento quanto a prática educativa são construções sociais da realidade, que respondem a interesses políticos e econômicos contingentes a um espaço e a um tempo e que, portanto, podem mudar historicamente.

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A prática exige do sujeito que a realiza, um pensar que qualifique o seu

fazer. Como afirma Vazquez (1986, p. 94), "é preciso que a teoria intervenha

para que a verdade inscrita na prática se torne evidente.” Sendo assim, esta

qualificação perpassa pela compreensão dos valores e das concepções

político-filosóficas que estão inseridas na prática cotidiana do professor e que

só se torna possível realizá-la partindo do esforço intelectual crítico e rigoroso.

Freire (2002, p. 30) aborda os saberes necessários à prática educativa e

nos conduz a reflexão sobre competência docente.

Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos [...], discutir com os alunos a razão de ser de alguns desses saberes em relação com o ensino dos conteúdos. Ensinar exige disponibilidade para o diálogo nas relações com os outros que não fizeram necessariamente as mesmas opções que fiz em nível de política, da estética, da pedagogia [...], no respeito às diferenças entre mim e eles ou elas [...]. Ensinar exige o reconhecimento e a assunção da identidade cultural, assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos. Ensinar exige apreensão da realidade, transformar a realidade, nela intervir, recriando-a. Ensinar exige segurança, competência profissional e generosidade. O fundamental no aprendizado do conteúdo é a construção da responsabilidade que se assume.

Nesse sentido, refletir sobre a prática e transformá-la, a partir desta

reflexão, acontece de forma dialética, uma vez que os professores constroem

seu próprio conhecimento ao entrarem num diálogo, tanto com a situação

concreta de sua ação, quanto ao conhecimento que irá orientar essa ação.

Então, “[...] dentro deste enfoque o docente enfrenta necessariamente a tarefa

de gerar novo conhecimento para interpretar e compreender a específica

situação em que se move” (PÉREZ GÓMES, 1998, p. 373).

O professor da Educação de Jovens e Adultos precisa levar em conta

que sua prática pedagógica tem que ir além do conteúdo-rendimento-indivíduo,

pois cotidianamente há um confronto com os dilemas de uma modalidade de

ensino que tem na sua origem a desigualdade e a exclusão, exigindo a

compreensão de que “no homem, a alteridade que ele divide/vivencia com tudo

que vive, passa a ser a unidade e a pluralidade humana é a paradoxal

pluralidade de seres únicos” (ARENDT,1983, p. 232).

O exercício da docência na EJA implica assumir a dimensão de

educação como um direito de cada cidadão; como enfatiza Arendt (2002, p.

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605), “nós não nascemos iguais; nos tornamos iguais como membros de um

grupo, em virtude de um grupo, em virtude de nossa decisão de nos

garantirmos mutuamente direitos iguais.”

Assim, a observação atenta das múltiplas realidades presentes na EJA

constitui, portanto, um caminho para que a comunidade escolar reconheça e

valorize os saberes não formais estruturados nas relações sociais dinâmicas

da família, do trabalho, de grupos de convivência e outros, visando a

articulação desses saberes com o conhecimento ocidental acumulado, uma vez

que estar “privado desse acesso é de fato, a perda de um instrumento

imprescindível para a presença significativa na convivência social

contemporânea” (BRASIL, 2000b, p. 5).

Decorre daí a importância da formação continuada, sobretudo para que

os professores consigam superar o descompasso entre a formação inicial e a

prática docente na EJA, tendo em vista a compreensão ampla da diversidade

cultural dos sujeitos dessa modalidade, pois a EJA tem uma demanda social

vinculada à ampliação da cidadania aos segmentos excluídos da sociedade

brasileira, é instrumento de ampliação e aprofundamento da democracia no

Brasil.

Para isso, é fundamental ressignificar alguns fundamentos da educação,

entre eles, o papel do currículo na educação e da própria organização

curricular, elencando novos objetivos, inserindo novas preocupações e

desenvolvendo novas abordagens, visando a construção de uma sociedade

mais justa.

3. 4 O CURRÍCULO NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

A concepção de currículo como seleção de conteúdos e disciplinas

organizados em uma grade curricular prevaleceu durante anos. No entanto, a

partir da década de 1980, as teorias pós-críticas derrubam o paradigma

curricular vigente e apresentam uma nova concepção de currículo, na qual são

elencados diferentes saberes, incluindo as questões das diferentes

identidades, poderes, gêneros e espaços.

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Segundo Tomaz Tadeu da Silva (2007, p. 147),

[...] depois das teorias críticas e pós-críticas do currículo torna-se impossível pensar o currículo simplesmente através de conceitos técnicos como os de ensino e eficiência ou de categorias psicológicas como as de aprendizagem e desenvolvimento ou ainda de imagens estáticas como as de grade curricular e lista de conteúdos.

No contexto atual da Educação de Jovens e Adultos, faz-se necessário

repensar o currículo, sua funcionalidade e implicações na vida dos sujeitos que

participam dessa modalidade de ensino. Para tanto, a discussão do papel da

escolarização para esses sujeitos que não conseguiram concluir a educação

básica na idade própria é um aspecto primordial na educação brasileira. A

educação básica independentemente da idade deve oportunizar o

desenvolvimento do potencial de forma coletiva e individual, pois além de ser

um direito, é também uma responsabilidade para com a sociedade (SOUZA,

2001).

O jovem adulto da EJA procura a escola com o objetivo de conseguir

melhores oportunidades de emprego e são, em grande parte, marcados por

uma história de entradas e saídas de cursos anteriores, por motivos variados,

desde os de ordem pessoal, como cansaço após a jornada de trabalho e

desestímulo, até aos relacionados com o sistema educacional, como

metodologias e recursos pedagógicos inadequados. Essa perspectiva é

claramente explicitada por Thompson (2002, p. 13), quando afirma:

O que é diferente acerca do estudante adulto é a experiência que ele traz para a relação. A experiência modifica, às vezes de maneira sutil e às vezes mais radicalmente, todo o processo educacional; influencia os métodos de ensino, a seleção e o aperfeiçoamento dos mestres e do currículo, podendo até mesmo revelar pontos fracos ou omissões nas disciplinas acadêmicas tradicionais e levar à elaboração de novas áreas de estudo.

Sendo assim, as suas trajetórias pessoais conferem um conhecimento

da materialidade da vida que não pode ser ignorado pela escola, o que implica

como desafio uma nova relação teoria-prática, estruturando, em novas bases,

os aspectos referentes à organização e ao funcionamento da escola, em que

estão inscritas as propostas curriculares.

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Nessa perspectiva, a formação humana exige da escola profundas

reformulações para potencializar a riqueza e a diversidade, que para ela,

convergem quando atende alunos da classe trabalhadora. É necessário que se

ressignifique a função social da escola, de forma que ela promova a construção

de uma educação de qualidade para os sujeitos da EJA que foram ao longo da

história marginalizados e impedidos que ter acesso aos bens tanto materiais e

como culturais, no sentido amplo de cultura. É preciso oferecer aos educandos

a possibilidade da construção do conhecimento, de forma condizente a sua

idade e vivência, levando em conta não a simples aquisição de um diploma,

mas o direito de participar ativamente da sociedade (ARROYO, 1996).

As relações pedagógicas são socialmente constituídas e expressam as

correlações de forças de uma determinada sociedade. Tais relações inserem

no âmbito escolar um processo permanente de tensões e assimetrias de poder.

Sendo assim, as escolhas que estruturam a organização curricular provêm da

eleição de critérios de caráter sócio-político que, consequentemente,

direcionam a escolha de procedimentos teórico-metodológicos, de conteúdos e

de sua forma de organização (TRAGTENBERG, 1981).

Assim, o currículo não é neutro e deve ser compreendido em suas três

dimensões: currículo formal ou prescrito, currículo vivo ou real e currículo

oculto, conforme explicitam as Diretrizes Curriculares da Educação de Jovens e

Adultos (2000b, p. 34):

O currículo formal tem suas bases assentadas na regulação prévia estabelecida seja pela escola, seja pelo sistema educacional. É o que se prescreve como intenção na formação dos indivíduos. O currículo real ou vivo, é aquele que acontece na sala de aula, produz e reproduz usos e significados, por vezes, distintos das intenções pré-determinadas no currículo formal. Nele se explicitam, com maior nitidez, as visões de mundo e as ações dos diferentes sujeitos da prática educativa no espaço escolar. O currículo oculto é inerente a toda e qualquer ação pedagógica que media a relação entre educador e educando no cotidiano escolar, sem estar, contudo, explicitado no currículo formal. Desde a organização do horário das aulas, a organização da entrada dos educandos na escola, os métodos, as ideologias, a organização do espaço e do tempo, bem como todas as atividades que, direta ou indiretamente disciplinam, regularizam por meio de normas as atitudes, os valores e os comportamentos dos educados.

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A elaboração de uma proposta curricular deve levar em conta os sujeitos

envolvidos no processo e o contexto sócio-político no qual está inserido.

Partindo deste enfoque, devemos estar atentos ao uso das categorias: cultura,

trabalho, controle social, poder, hegemonia e ideologia que constituem

elementos fundamentais para romper com as ações pedagógicas

conservadoras. Então, se o currículo direciona a ação pedagógica,

[...] ele deve expressar os interesses dos educadores e educandos: oferecer os conhecimentos necessários para a compreensão histórica da sociedade; usar metodologias que dêem voz a todos os envolvidos nesse processo e adotar uma avaliação que encaminhe para a emancipação (BRASIL, 2000b, p. 34).

É imprescindível que o educador da EJA conheça os conteúdos que

ensina e saiba identificar as necessidades dos alunos. Também deve analisar

crítica e reflexivamente a sua ação educativa para assim estabelecer uma

proposta curricular que possibilite a inserção dos jovens e adultos no processo

de desenvolvimento como cidadãos produtivos, o que demanda ações

educativas. Para Libâneo (1994, p. 35), “a escolarização tem como função a

socialização daquela parcela de saber sistematizado que constitui o

indispensável à formação e ao exercício da cidadania.”

Acreditamos que a proposta curricular da educação de Jovens e Adultos

deva estabelecer uma discussão curricular baseada num ensino

contextualizado e crítico, valorizando as experiências dos envolvidos, tanto dos

professores quantos alunos. Portanto, a flexibilidade curricular deve ser um

momento de aproveitamento em situações práticas, envolvendo experiências

diversas que esses alunos trazem consigo e a partir desse contexto explorar

aspectos do conhecimento sistematizado, com o objetivo de superar os

mecanismos de exclusão escolar, presentes no interior da escola (SANTOS,

2000).

A questão curricular não se limita a um simples problema técnico a ser

resolvido, é um processo contínuo e possui uma arquitetura complexa que

perpassa o ambiente simbólico, material e humano constantemente em

reconstrução (MOREIRA, 2000).

O educador da EJA deve estabelecer um diálogo com outros

educadores e, juntamente com os educandos, definir os temas que farão parte

Page 46: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

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do currículo escolar, visando o desenvolvimento integral daqueles, como

enfatiza o Parecer CNE/CEB 11/2000 do MEC:

A flexibilidade curricular deve significar um momento de aproveitamento das experiências diversas que estes alunos trazem consigo como, por exemplo, os modos pelos quais eles trabalham seus tempos e seu cotidiano. A flexibilidade poderá atender a esta tipificação do tempo mediante módulos, combinações entre ensino presencial e não-presencial e uma sintonia com temas da vida cotidiana dos alunos, a fim de que possam se tornar elementos geradores de um currículo pertinente (BRASIL, 2003, p. 61).

Na EJA, além das disciplinas de base comum, enquadram-se disciplinas

como subjetividade e vivência coletiva, em que devem ser considerados o

desenvolvimento da personalidade dos alunos e o atendimento das suas

exigências sociais. Esse currículo precisa estar centrado no processo de

reflexão, no tipo de pessoa e na sociedade que deseja formar. Também deve

se incluir atividades voltadas para a formação profissional dos jovens e adultos,

ou seja, os professores devem criar condições que sejam favoráveis à

realização de uma série de atividades e experiências que serão vivenciadas

juntamente com os alunos e que escapam aos manuais curriculares e suas

imposições estruturais.

A compreensão do currículo somente como um instrumento de

orientação curricular é uma forma de entendimento que deixa a margem todo o

processo de produção sociocultural que está implicado no dia a dia das escolas

e classes, em que se relacionam as formas culturais dominantes,

frequentemente, e outras formas, a dos protagonistas: professores e alunos.

Apesar das tentativas de homogeneização existem nas escolas uma variedade

de currículos em ação (OLIVEIRA, 2001).

Os educadores da EJA vêm ressignificando alguns fundamentos da

educação, entre eles, o papel do currículo na educação e da própria

organização curricular, elegendo novas abordagens. É nessa perspectiva,

portanto, que deve organizar-se o currículo dos sujeitos da Educação de

Jovens e Adultos, reconhecendo suas especificidades e peculiaridades.

Assim, os objetivos da prática educativa, antes de tudo deve reconhecer

a realidade do educando, mapeando os diferentes saberes que são originados

dessa realidade, de forma a transformá-los em mecanismo de aprendizagem

Page 47: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

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para todos os sujeitos (docentes e discentes) envolvidos nesse processo de

troca que é ensinar e aprender.

Nesse contexto, Freire (2002, p. 33-34) questiona:

Por que não discutir com os alunos a realidade concreta a que se deva associar a disciplina cujo conteúdo se ensina, a realidade agressiva em que a violência é a constante e a convivência das pessoas é muito maior com a morte do que com a vida? Por que não estabelecer uma necessária “intimidade” entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos? Por que não discutir as implicações políticas e ideológicas de um tal descaso dos dominantes pelas áreas pobres da cidade? Há ética de classe embutida neste descaso? Porque, dirá um educador reacionariamente pragmático, a escola não tem nada que ver com isso. A escola não é partido. Ela tem que ensinar os conteúdos, transferi-los aos alunos. Aprendidos, estes operam por si mesmos. Nesse sentido, devemos dar importância à individualidade do aluno e ao contexto social e cultural do ensino, visando promover conexões e significados pessoais no processo de aprendizagem.

A principal preocupação do trabalho pedagógico passa a ser a de

construir saberes que promovam o desenvolvimento da consciência crítica, o

que não significa uma opção por qualquer tipo de reducionismo, ou minimizar

conteúdos para facilitar, mas, antes de tudo, perceber que a aprendizagem

cultural é um ato de recriação por parte de cada pessoa. Portanto, a construção

do currículo, a partir de uma perspectiva dialogada exige dos profissionais da

EJA uma constante reflexão e aprimoramento de sua prática, visando a

ressignificação e reconstrução dos conhecimentos.

É nessa perspectiva que a ação pedagógica realizada pelo

desenvolvimento do projeto Jornal João Rodrigues trilha o seu caminho, na

busca por aplicar um currículo no qual os atores envolvidos se percebam como

protagonistas do processo ensino e aprendizagem.

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4 APRENDER A APRENDER

4.1 LETRAMENTO: RUMO À CIDADANIA

Na literatura educacional brasileira, ainda existe uma imprecisão quanto

ao conceito de letramento, uma vez que o termo é considerado bastante

recente no campo da educação brasileira. De acordo com as pesquisas de

Soares (2009), esse termo surgiu pela primeira vez, em 1986, na obra “No

mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística”, de Mary Kato. Mais tarde,

no ano de 1995, como parte de título dos livros: “Os significados do

letramento”, organizado por Angela Kleiman e “Letramento e Alfabetização”, de

Leda V. Tfouni.

Soares (2009, p. 18) define letramento como “o estado ou a condição

que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se

apropriado da escrita.”

Para Kleiman (2008, p. 18), letramento é “um conjunto de práticas

sociais que usam a escrita, como sistema simbólico e como tecnologia, em

contextos específicos, para objetivos específicos.”

Tanto Soares como Kleiman abordam o conceito de letramento a partir

das práticas sociais de leitura e escrita, ou seja, levando em conta os aspectos

sócio-históricos da aquisição de um sistema escrito por uma sociedade. Esta

concepção baseia-se no pressuposto de que indivíduos ou grupos sociais que

dominam o uso da leitura e da escrita possuem habilidades e atitudes

essenciais para uma participação ativa e competente em situações em que

práticas de leitura e/ou de escrita se fazem necessárias, inserindo-os em uma

sociedade letrada.

Por sua vez, Tfouni (1988, p. 16) conceitua o termo letramento, em

oposição com alfabetização, enfatizando o caráter individual daquela e social

deste:

A alfabetização refere-se à aquisição da escrita enquanto aprendizagem de habilidades para leitura, escrita e as chamadas práticas de linguagem. Isso é levado a efeito, em geral, por meio do processo de escolarização e, portanto, da instrução formal. A alfabetização pertence, assim, ao âmbito do individual. O letramento, por sua vez, focaliza os aspectos sócio-históricos da aquisição da escrita.

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48

O letramento parte do pressuposto de que o indivíduo saiba responder

às exigências de leitura e de escrita que a sociedade faz continuamente, ou

seja, está relacionado com a língua escrita e seu lugar. As sociedades são

organizadas em torno de um sistema de escrita e assume importância central

os alunos da EJA participarem de maneira competente nos eventos de

letramento (MORTATTI, 2004).

Diante desse contexto, o letramento também influencia a relação dos

sujeitos com a sociedade, ou seja, como outros sujeitos. Assim, precisamos

ficar atentos ao indivíduo alfabetizado que sabe ler e escrever, no entanto não

consegue exercer práticas de leitura e nem interagir de maneira eficiente num

mundo letrado, pois somente alfabetizar não garante a formação de sujeitos

letrados. Conforme enfatiza Soares (2009, p. 40),

Um indivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduo letrado; alfabetizado é aquele indivíduo que sabe ler e escrever; já o indivíduo letrado, o indivíduo que vive em estado de letramento, é não só aquele que sabe ler e escrever, mas aquele que usa socialmente a leitura e a escrita, pratica a leitura e a escrita, responde adequadamente às demandas sociais de leitura e de escrita.

É fato que o domínio de uma língua tem uma relação intrínseca com a

participação social, pois o sujeito que consegue se comunicar, expressa e

defende pontos de vista, tem acesso à informação, constrói conhecimentos e

visões de mundo. Isso nos faz refletir até que ponto a nossa prática docente

tem contribuído para a construção das habilidades de leitura, escrita e

oralidade, quanto o trabalho com o ensino de línguas tem alcançado os alunos.

O grande desafio para os professores da EJA, é encontrar estratégias

mais produtivas para, ao mesmo tempo em que conquistam o envolvimento

dos alunos com a leitura e escrita, garantam que esse aprendizado seja

eficiente.

Desse modo, a escola torna-se por excelência a agência de letramento

da nossa sociedade, o espaço social que permite ao aluno o desenvolvimento

pleno da educação linguística escolar que é sistematizada por processos

pedagógicos,

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49

[...] em que devem ser criados espaços para experimentar formas de participação nas práticas sociais letradas e, portanto, acredito também na pertinência de assumir o letramento, ou melhor, os múltiplos letramentos da vida social, como o objetivo estruturante do trabalho escolar em todos os ciclos (KLEIMAN 2007, p. 4).

Para que isso ocorra, o processo de aprendizagem deve partir do

concreto, valorizando o conhecimento prévio adquirido nas experiências de

vida, uma vez que essa relação possibilita que os sujeitos do processo de

aprendizagem aprendam a conhecer a realidade cognitiva buscando um novo

desenvolvimento intelectual para tornar a relação de aprendizagem

democrática, autônoma e produtiva.

Diante disso, faz-se necessário uma prática intensa da leitura, escrita e

oralidade, de maneira integrada com as novas modalidades de práticas sociais

de leitura e de escrita, propiciadas pelas recentes tecnologias de comunicação

eletrônica – o computador, a rede (a web), a Internet.

Nessa perspectiva, o trabalho com a Língua Portuguesa deve ter como

base os textos orais e escritos ordenados em gêneros textuais para uso em

situações concretas, ou seja, a língua não pode ser reduzida a um conjunto de

regras fixas, conforme afirmam os autores: Dolz e Schneuwly (2004),

Marcuschi (2008), Kato (1985) e Kleiman (1989).

Assim, o professor da EJA deve respaldar a sua prática em fundamentos

teóricos, considerando todas as concepções que envolvem o processo do

letramento, só assim o aluno conseguirá “compreender e usar a língua

portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da

organização do mundo e da própria identidade” (BRASIL, 2000, p. 8-10). Essa

competência comunicativa permitirá ao aluno a sua integração num mundo

globalizado, desenvolvendo habilidades sociocognitivas e apropriando-se de

conhecimentos e de culturas necessárias à sua inserção no meio em que vive.

4.2 PEDAGOGIA DOS MULTILETRAMENTOS

O termo pedagogia dos multiletramentos foi cunhado por um grupo de

pesquisadores, Grupo de Nova Londres (GNL). A partir de um Colóquio, em

1996 publicou-se o Manifesto A pedagogyofmultiliteracies – designing social

futures (“Uma pedagogia dos multiletramentos – desenhando futuros sociais”).

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50

Esse manifesto indicava a necessidade de novos paradigmas para a educação

e aprendizagem (ROJO; MOURA, 2012), pois, com o advento da tecnologia

instauraram-se novas práticas de comunicação e formas de representação de

textos. E, para transformarmos a informação em conhecimento, é preciso

compreendermos que o letramento digital vai além de aprender a usar o

computador e o teclado, ou fazer pesquisas na web.

Os PCNs (1998, p. 90-91), ao abordarem as Tecnologias da Informação

e Comunicação enfatizam o uso da internet “por combinar diferentes

linguagens e atividades multidisciplinares, favorecem a construção de uma

representação não-linear do conhecimento”, isso permite que o educando

aprenda de acordo com o seu ritmo, ou seja, ele busca, seleciona a informação

em diversas linguagens (imagem, som, animação), em situação real de escrita

e leitura.

A proposta dos multiletramentos considera “os letramentos (no plural),

múltiplos em dois sentidos: na diversidade cultural e linguística e na influência

de novas tecnologias comunicativas” (COPE; KALANTZIS, 2008, p. 197). No

ensino da Língua Portuguesa devemos inserir as múltiplas variedades

linguísticas, culturais e tecnológicas presentes nas práticas sociais

contemporâneas, o qual demanda diversificados conhecimentos e habilidades.

A título de exemplo, quando o aluno faz a leitura da versão online de um jornal

abrem-se várias janelas para os cadernos do jornal, os links que direcionam

[...] para textos diversos, mas finitos, passíveis de circulação no domínio discursivo daquele jornal em questão. Já no interior de um texto qualquer, as conexões estabelecidas pelos links tendem a funcionar como as conhecidas notas de rodapé dos textos impressos. Em um caso ou outro, tais conexões promoverão a possibilidade de novos ingredientes gravitando naquela tessitura textual (CAVALCANTE, 2010, p. 203).

Assim, o aluno tem várias opções de caminhos a escolher, caso queira

ele poderá verificar outras fontes e só depois chegar à conclusão de uma

determinada questão. No entanto, o uso apressado e dispersivo dos links pode

dificultar a leitura, pois “quebra o fluxo semântico responsável pela coerência,

tal como ocorre em uma leitura convencional” (XAVIER, 2010, p. 212).

Portanto, devemos estar atentos aos procedimentos metodológicos adotados

Page 52: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

51

nessa nova arquitetura textual, para o aluno dar conta do processamento

cognitivo e ter mais participação na constituição do seu saber.

Nessa perspectiva, o ensino deve preparar o aluno para os

multiletramentos, sendo assim, ele precisa compreender a multimodalidade ou

multissemiose dos textos, tanto em textos impressos quanto digitais (anúncios

publicitários, panfletos, vídeos, entre outros), ou seja, “textos compostos de

muitas linguagens (ou modos, ou semioses) e que exigem capacidades e

práticas de compreensão e produção de cada uma delas [...]” (ROJO; MOURA,

2012, p. 19).

Os textos multimodais, gêneros que reúnem diversas linguagens,

materializados pelos hipertextos são definidos por Xavier (2010, p. 208) como

[...] uma forma híbrida, dinâmica e flexível de linguagem que dialoga com

outras interfaces semióticas, adiciona e acondiciona à sua superfície formas

outras de textualidade.” O hipertexto possibilita a leitura do mundo, uma vez

que a virtualidade permite que esses textos sejam acessados em qualquer

parte do mundo, a qualquer momento e, simultaneamente, por mais de um

leitor.

Desse modo, a proposta da Pedagogia de Multiletramento tem como

objetivo proporcionar ao aluno habilidades para ler e produzir textos, com uma

metodologia que garanta manipular as diversas tecnologias da informação e da

comunicação dos textos multimodais, nos quais coexistem mais de um modo

de configuração semiótica, como o visual, sonoro, gestual, etc. (KRESS; VAN

LEEUWEN, 2006).

Como vemos, é imprescindível irmos além da prática de ensinar a usar

um recurso (uma ferramenta, como editor de texto, de vídeo ou de imagem),

nos moldes de uma aula de informática. Para tanto, faz-se necessário adotar

estratégias de organizar atividades de aprendizagem que habilitem os alunos a

resolver problemas e formular estratégias de ação.

É preciso compreender as mudanças instauradas pelas novas

tecnologias e transformar os alunos em criadores de sentidos, ou seja,

cidadãos capazes de ler, e produzir diferentes gêneros textuais presentes na

esfera social, de forma crítica e transformadora.

Page 53: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

52

4.3 PEDAGOGIA DE PROJETOS

De acordo com Boutinet, no período de 1915 a 1920, Dewey (1916) e

Kilpatrick (1918) tentaram opor-se à pedagogia tradicional, os autores

buscavam “uma pedagogia progressista, também chamada de pedagogia

aberta, na qual o aluno se tornava ator de sua formação através de

aprendizagens concretas e significativas para ele” (BOUTINET, 2002, p. 81).

Ao propor uma pedagogia de projetos, nos anos 1920, Dewey e

Kilpatrick vislumbravam a transformação do aluno em sujeito de sua própria

aprendizagem, embasada pelo movimento da Escola Nova. Embora, nessa

época vigorava uma formação com base no modelo fordista, que preparava as

crianças apenas para o trabalho em uma fábrica, sem inserir aspectos da

realidade cotidiana dentro da escola (BOUTINET, 2002).

Ao longo dos anos, no campo educacional, o sentido de projeto adquiriu

outros significados, por exemplo, pedagogia do projeto, trabalho por projetos,

aprendizagem por projetos, ensino por projeto, projeto educativo, metodologia

de projetos, entre outros. Nos anos oitenta, em uma abordagem progressiva,

ressurge a proposta Projeto de Trabalho, tendo como finalidade a tentativa da

aproximação da aprendizagem na escola com a realidade na qual o aluno se

insere (HERNANDEZ, 1998).

No início deste século, dentre as inúmeras denominações que envolvem

projetos ao longo da história da Educação, surge com mais ênfase a

Metodologia de Projetos, que Behrens (2005) elege por denominação, uma vez

que reflete uma metodologia comprometida com o paradigma da complexidade

para ensinar e aprender.

A opção por metodologia de projetos justifica-se porque é imprescindível

romper a visão reducionista na educação. Como alerta Morin (2001, p. 15),

[...] nos ensinam a isolar os objetos (do seu meio ambiente), a separar as disciplinas (em vez de reconhecer suas correlações), a dissociar os problemas, em vez de reunir e integrar. Obrigam-nos a reduzir o complexo ao simples, isto é, a separar o que está ligado; a decompor, e não a recompor; a eliminar tudo o que causa desordens ou contradições em nosso entendimento.

Page 54: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

53

Acreditamos que o aprendizado sob a ótica da complexidade, é uma

questão fundamental, uma vez que se centra na necessidade de os indivíduos

compreenderem o mundo em que vivem, ou seja, transformarem-se “em reais

sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado, ao lado do

educador, igualmente sujeito do processo” (FREIRE, 2002, p.29).

Assim, as dimensões epistemológicas que estruturaram esta pesquisa

rompem com a visão da educação tradicional, atrelada aos processos de

reprodução de conteúdos, o qual ainda permeia a educação. Por conseguinte,

assume a concepção de uma educação voltada para a autonomia, embasada

nos ensinamentos de Freire (2009), o qual defende uma pedagogia da

autonomia fundada na ética, no respeito à dignidade e à própria autonomia do

sujeito.

É neste sentido também que a dialogicidade verdadeira, em que os sujeitos dialógicos aprendem e crescem na diferença, sobretudo no respeito a ela, é a forma de estar sendo coerentemente exigida por seres que, inacabados, assumindo-se como tais, se tornam radicalmente éticos (FREIRE, 2002, p. 60).

Considerando que a atitude ativa do sujeito é essencial no processo de

ensino e aprendizagem, é pertinente a discussão sobre projetos de trabalho,

uma vez que estes podem ser um caminho para repensar o espaço escolar,

com vistas em sua recriação, possibilitando aos educandos a construção dos

conhecimentos, de forma que possam desenvolver a autonomia e a formação

de sujeitos mais críticos.

Isso posto, o trabalho com projetos traz uma nova perspectiva ao

processo de ensino e de aprendizagem, pois aprender deixa de ser um simples

ato de memorização e ensinar não significa mais repassar conteúdos prontos

(HERNANDEZ, 1998). Nessa perspectiva, o aluno é chamado a atuar de

maneira ativa e consciente, imprimindo às experiências sua história de vida,

seus modos de viver, suas experiências culturais, de acordo com o contexto

sócio-histórico a que pertence.

Dessa forma, ao participar de um projeto, o aluno está envolvido em

uma prática educativa em que o processo de construção de conhecimento está

entrelaçado às práticas vivenciadas. Sendo assim, o aluno deixa de ser apenas

um “aprendiz” do conteúdo, de uma área de conhecimento qualquer, ou seja,

Page 55: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

54

“[...] os educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da

reconstrução do saber ensinado” (FREIRE, 2002, p. 29). É um sujeito que está

desenvolvendo uma atividade complexa e que, nesse processo está se

apropriando ao mesmo tempo de um determinado objeto de conhecimento

cultural e se formando como sujeito cultural (JOLIBERT,1994a, 1994b).

Nesse contexto, os projetos possibilitam a reorganização da gestão do

tempo, do espaço, a relação entre os educadores e os educandos e,

primordialmente, aquilo que regulamenta o que deve ser ensinado e como

fazê-lo e também do que é aprender e como se aprende. Portanto, conforme

Behrens (2005) tornam-se importantes as propostas do aprender a aprender,

numa visão complexa, pois permitem a continuidade de um processo que

nunca termina, trata-se de enveredar por caminhos cujas descobertas

acontecem diariamente, assim, professor e alunos tornam-se receptivos para

as mudanças que se fazem necessárias.

De uma certa forma, na prática que desenvolvemos somos escravos da teoria que temos sobre as questões relativas a esta prática. Isto é, somos escravos do conjunto de representações mentais que constituem a nossa teoria. Percebam que falo em representações mentais e não apenas idéias. Porque, diferentemente das teorias que costumamos ver formuladas, a teoria que sustenta a nossa prática também é composta de emoções, sentimentos, recordações e eventuais ligações, experiências e raciocínios que vamos construindo durante a nossa vida (BRASIL, 2006, p. 36).

Assim, faz-se necessária a reflexão sobre a proposição de novas

metodologias que possibilitem o desenvolvimento de estratégias de indagação,

interpretação e apresentação do processo - o que implica a investigação de um

tema por meio de um problema, que, por sua complexidade, favoreça o melhor

conhecimento dos alunos, dos docentes, de si mesmos e do mundo.

Abrantes (1995) indica algumas características fundamentais do trabalho

com projetos, a saber: intencionalidade, autonomia, autenticidade,

problematização e cronograma.

Como um projeto é uma atividade intencional, o envolvimento dos alunos

é um ponto-chave do trabalho de projetos, o que demanda um objetivo que

estabelece unidade e sentido às atividades, e também um produto final que

pode assumir formas diversas.

Page 56: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

55

Em um projeto, a responsabilidade e autonomia dos alunos são

imprescindíveis, pois os alunos são co-responsáveis pelo trabalho e pelas

escolhas ao longo do desenvolvimento do projeto que é realizado em equipe,

razão pela qual a cooperação está também quase sempre vinculada ao

trabalho.

A autenticidade é uma característica fundamental de um projeto. O

problema a solucionar é real e está inserido no contexto sociocultural do aluno.

Por não se tratar de mera reprodução de conteúdos prontos, os alunos

procuram construir respostas pessoais e originais.

Um projeto envolve a resolução de problemas e percorre várias fases,

como escolha do objetivo central, formulação dos problemas, planejamento,

execução, avaliação e divulgação dos trabalhos.

Assim, trabalhar com projetos gera situações de aprendizagem reais e

diversificadas. A inclusão de problemas e situações sempre novas valoriza

uma metodologia baseada na indagação e no enfrentamento de situações-

problema, possibilitando a estimulação do pensamento e da aprendizagem, e,

decorre daí a apropriação do saber construído pela humanidade que é

fundamental para a compreensão do mundo em que vivemos (JOLIBERT,

1994b).

Partindo desses pressupostos, é possível compreender que a

interdisciplinaridade está presente na metodologia de projetos. Conforme

explicita (HAAS, 2011, p. 61),

Admite-se que a Interdisciplinaridade propõe novas relações entre as disciplinas, ampliando os espaços de intercâmbio dinâmico e experiências pedagógicas inovadoras. A opção pela interdisciplinaridade também leva a refletir sobre o tempo necessário para o processo de formação, exigência para o assentamento das novas práticas e modos vivenciados no curso. A Interdisciplinaridade, uma experiência prática e sem dúvida vivenciada coletivamente, provoca o diálogo, possibilitando a cada participante o reconhecimento do que lhe falta e do que tem para contribuir, ampliando as trocas com a atitude de humildade requerida para receber dos outros.

Para tanto, é importante priorizar uma metodologia na perspectiva

dialética, ou seja “[...] numa concepção de homem e de conhecimento onde se

entende o homem como um ser ativo e de relações” (VASCONCELLOS, 2002,

Page 57: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

56

p. 55). Compreende-se, portanto, que a interdisciplinaridade presente na

integração de conteúdos valoriza todas as práticas o que impulsiona e promove

a construção do conhecimento pelo sujeito a sua relação com os outros e com

o mundo.

Em síntese, a interdisciplinaridade pode ser vista como uma teoria epistemológica ou como uma proposta metodológica. Também como uma modalidade de aplicação de conhecimentos de uma disciplina em outra. Igualmente, como modalidade de colaboração entre professores e pesquisadores ou simplesmente como um sintoma de crise das disciplinas, do excesso e da fragmentação de conhecimentos, da especialização que perde a visão do todo (PAVIANI, 2008, p. 14).

O educador que pensa na ação metodológica, a partir do viés

interdisciplinar do saber, considera a discussão cultural, as histórias de vida

dos sujeitos aí inseridos, cujo material é indispensável para se constituir o eixo

de um currículo interdisciplinar, alicerçado na perspectiva dialética da

educação. Conforme lembra Vasconcellos (2002, p. 40), “[...] o conhecimento a

ser trabalhado em sala de aula não tem um fim em si mesmo. O conhecimento

tem sentido quando possibilita o compreender, o usufruir ou transformar a

realidade.”

Assim, a prática pedagógica deve estar estruturada numa visão

globalizante e interdisciplinar de organização das disciplinas e dos conteúdos

escolares. É preciso romper com a fragmentação das disciplinas, entrelaçando

a ciência, a sociedade e as várias formas de saberes nela presentes.

A metodologia de projetos possibilita, nesse termos, um caminho para

transformar o processo de ensino e aprendizagem, em um espaço aberto a

aprendizagens significativas, o que implica um olhar crítico e atento para os

conceitos que fundamentam a prática pedagógica, considerando que a

organização dos projetos não acontece em detrimento dos conteúdos das

disciplinas, mas envolve tais conteúdos em uma concepção de conhecimento

como produção coletiva, na qual a experiência vivida e a produção cultural

sistematizada se coadunam, dando significado às aprendizagens construídas.

Page 58: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

57

5 JORNAL JOÃO RODRIGUES

5.1 METODOLOGIA DO PROJETO: OS PRIMEIROS PASSOS

Ao assumirmos a turma da EJA - Ensino Médio, em 10 de fevereiro de

2014, no Colégio Estadual Professor João Rodrigues da Silva, localizado à Rua

Jurema nº 229, Conjunto Antares, região leste da cidade de Londrina/PR,

buscamos viabilizar a produção de um jornal escolar e a diretora geral Sonia de

Souza Silva Álvares nos apoiou nessa jornada.

A escola foi criada pela Resolução nº 188/98, de 27/01/98 e possui em

seu quadro 55 professores, 05 funcionários administrativos e 08 funcionários

de serviços gerais para atender uma clientela de 657 alunos matriculados no 6º

ao 9º ano do Ensino Fundamental II, e EJA (Fundamental e Médio). Atende a

comunidade no período matutino, vespertino e noturno, nos respectivos

horários: 7h30 às 11h45; das 13h30 às 17h45 e das 18h40 às 22h10.

(PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO, 2014, p. 4-5).

Assim, respaldados na metodologia de projeto, que favorece a

autonomia do aluno no sentido de estimulá-lo a realizar a aprendizagem

significativa tanto no âmbito individual como no coletivo, adotamos alguns

procedimentos nessa turma da Educação de Jovens e Adultos (faixa etária de

20 a 50 anos), totalizando 15 alunos. Conforme Mercado orienta (1999, p.81),

[...] estabelecer relações entre os vários aspectos que estão envolvidos no tema o assunto que está sendo discutido; realizar relações com outros assuntos já vistos; desenvolver a capacidade de se colocar questões e de ressignificar as informações que já havia construído em função dos novos fatos e conhecimentos apresentados e discutidos pelo professor ou pelo grupo; reconhecer contradições e construir argumentos consistentes em favor de seu ponto de vista ou visão sobre o tema em questão.

Nessa perspectiva, considerando o aluno como sujeito ativo do processo

de aprendizagem, iniciamos uma conversa com os alunos na terceira semana

de aula, sobre o projeto e seus objetivos, ao mesmo tempo em que solicitamos

sugestões de como trabalhar o jornal impresso, o que eles gostariam de saber,

promovendo também uma discussão a respeito do que eles já conheciam

desse meio de comunicação.

Page 59: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

58

Em seguida, houve a apresentação da diversidade de cadernos (Política,

Esporte, Economia & Negócios, Classificados, Cidades, etc.) e assuntos

abordados no jornal Folha de Londrina, identificando os diferentes gêneros

textuais encontrados nesse jornal (notícia, reportagem, editorial, entrevista,

crônica entre outros) e a finalidade de cada um. Esse foi trabalho foi realizado

em grupos, visando a localização e leitura das matérias que considerassem

mais interessantes.

Destacamos que os gêneros jornalísticos orientam os leitores na leitura

do jornal, possibilitando “um diálogo entre o jornal e o leitor, pois é através das

exigências dos leitores que as formas e os conteúdos se modificam” (MEDINA,

2001, p. 50).

A discussão sobre a utilização dos gêneros textuais foi uma constante

no desenvolvimento deste projeto. Acreditamos que a inserção dos gêneros

textuais nas aulas de Língua Portuguesa não deva se restringir somente ao

enfoque das situações de análise linguística, mas que se almeje alcançar a

competência comunicativa.

Também enfatizamos o trabalho em grupo, pois:

O trabalho em equipe, além de ressaltar o repto da competência formal coloca a necessidade de exercitar a cidadania coletiva e organizada, à medida que se torna crucial argumentar na direção dos consensos possíveis. Neste sentido, pode-se trabalhar a solidariedade e a ética política de maneira mais objetiva, lançando

sobre o conhecimento o desafio da qualidade política (DEMO,1998, p.

18).

Quando os alunos se depararam com as matérias no jornal Folha de

Londrina foram desafiados a interpretarem, com olhar crítico, as informações e

as imagens divulgadas, estabelecendo novas relações ao explicar sobre os

fatos noticiados. Esta preocupação vai além do saber escolar, pois está

relacionada à possibilidade de viver no mundo contemporâneo sem ficar à

margem dele, enfrentando uma sociedade informatizada e midiática na qual as

condições e fontes de informação estão em constante processo de mudança.

No espaço midiático, há várias vozes sociais que manifestam pontos de

vista, nem sempre idênticos. Cabe ao leitor, questionar, estabelecer um diálogo

com o autor, por meio do texto, porque ler é ação de interpretar, embora a

relação estabelecida aparentemente possa ser de caráter unidirecional, pois o

Page 60: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

59

jornal produz um discurso quase inquestionável, para a maioria dos leitores.

Entretanto, o leitor comum dificilmente consegue avaliar o discurso recebido e

medir a influência do modo como ele foi construído, sendo manipulável com

certa facilidade (GONÇALVES, 2004).

Nesse sentido, todo discurso é uma construção retórica que o leitor não

pode aceitar passivamente,

Os jornais fazem interpretações da realidade, segundo a sua linha editorial, a sua visão de mundo. Quanto mais o leitor ciente de que a notícia revela visões sobre o mundo, mais fácil será a sua compreensão do discurso jornalístico. Portanto, o leitor crítico tem consciência de que, ao narrar um acontecimento, o jornalista remete-nos a um outro mundo, um mundo do expor, delimitado por técnicas de produção, estratégias mercadológicas, de restrições do código linguístico, em que as verdades não são absolutas (YOSHIKAWA, 2012, p. 27).

Diante disso, quanto mais o leitor/aluno estiver ciente de que o discurso

jornalístico revela visões sobre o mundo, mais fácil será a compreensão de que

o jornal é um veículo formador de opinião e de comportamento, influindo na

orientação política da sociedade.

Assim, ao propor a produção de um jornal em sala de aula tibemos o

objetivo de praticar a língua escrita e possibilitar aos alunos o contato com

textos legítimos que circularam na escola. Tal prática faz parte do processo de

formação do escritor, capacitando-o a interagir com o seu leitor e compreender

o seu papel dentro do meio socioinstitucional em que está inserido de

(BALTAR, 2006).

5.2 AS MÍDIAS IMPRESSAS E DIGITAIS

Nesse contexto de mudanças tecnológicas que estamos vivendo, os

jornais também acompanharam e se adaptaram às transformações ocorridas

na sociedade emergente. Com o advento da Internet, surgiram novos hábitos

de leituras chamadas virtuais. Em consequência, os leitores também passaram

a ler as informações dos jornais online, que passaram de simples reproduções

diárias para fornecedores de conteúdos digitalizados, com informações

divulgadas em tempo real dos acontecimentos.

Page 61: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

60

A partir da implantação do jornalismo na web consolidou-se um novo

segmento do meio informativo, o denominado webjornalismo, em que a

atualização das notícias pode ocorrer a qualquer momento. Isso propiciou

novas formas de editar notícias na rede, a primeira por meio de informação

online, em tempo real e a segunda nos sites de publicações (MOHERDAUI,

2000).

O grande impacto da mídia digital é a possibilidade da leitura não-linear,

pois o leitor navega e busca exatamente o que deseja e aos jornais cabe

oferecer a informação atualizada durante vinte e quatro horas. Portanto, o

leitor inserido em uma comunidade virtual tem maior participação na

constituição do seu saber, uma vez que ele não precisa seguir uma trajetória

determinada pela empresa jornalística, ou seja, “[...] o leitor desfruta da

informação como bem lhe apetecer e pode dar uma nova versão ao do que foi

lido conforme a sua compreensão textual e seu ponto de vista” (YOSHIKAWA,

2012, p. 36).

É preciso destacar que essa revolução informacional aponta um novo

direcionamento nas práticas que envolvem leitura e escrita, por meio da

manipulação das informações em tempo real da ocorrência dos fatos. Por

serem veículos de comunicação, jornal digital e impresso funcionam como

canal para mediar e traduzir a realidade social, favorecendo o conhecimento.

Sendo assim, a escola não pode ficar à margem de todas essas evoluções

surgidas em razão das novas necessidades da sociedade emergente.

Em um universo marcado pela linguagem digital e impressa, acentuam-

se as migrações do conhecimento e da informação e proporcionam aos

educandos da EJA a vivência de experiências que não se limitam à tradição

conteudista e enciclopédica que rege a educação formal. É nesse contexto que

se firma o desafio de adquirir competências indispensáveis para transformar as

informações veiculadas pelos mais diversos meios de comunicação em

conhecimento.

Para tanto, como mestranda e professora da EJA preparamos nossos

alunos para filtrar as informações disponíveis em sociedade e oportunizarmos

um diálogo com os textos midiáticos, criando situações para refletirem e

participarem de forma mais ativa e crítica dentro e fora da sala de aula.

Page 62: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

61

Dentro desse contexto, levamos os alunos ao laboratório de informática,

na quarta semana de aula, a fim de que acessassem o site do jornal Folha de

Londrina para o estudo, análise e comparação do jornal digital e impresso.

Depois dessa discussão, optamos por elaborarmos um jornal impresso, uma

vez que o suporte tecnológico da escola é precário, o que impossibilitaria a

viabilização do projeto no formato digital. E, além disso, acreditamos que o

registro impresso cause maior impacto nos leitores e a autoestima do redator.

5.3 A CONSTRUÇÃO DO JORNAL

Iniciamos o trabalho definindo que, das dez aulas semanais, seriam

utilizadas duas para escrever o jornal. Começamos pela elaboração do projeto:

objetivos, justificativa, metodologia, cronograma e custo. Nessa fase, os alunos

ainda estavam temerosos se a proposta realmente iria dar certo.

Quando o aprendiz é desafiado a questionar, quando ele se perturba e necessita pensar para expressar suas dúvidas, quando lhe é permitido formular questões que tenham significação para ele, emergindo de sua história de vida, de seus interesses, seus valores e condições pessoais, passa a desenvolver a competência para formular e equacionar problemas. Quem consegue formular com clareza um problema, a ser resolvido, começa a aprender a definir as direções de sua atividade (FAGUNDES, 1999, p. 16).

Partimos do pressuposto que a motivação é intrínseca, própria do sujeito

que aprende, portanto, nessa perspectiva, o aluno é responsável por sua

aprendizagem, ou seja, “[...] faz com que assumam como próprio o tema, e que

aprendam a situar-se diante da informação a partir de suas próprias

possibilidades e recursos” (HERNANDEZ, 1998, p. 75). No caso desta

pesquisa, constatamos que o trabalho favoreceu a interação entre os alunos e

a professora, pois passaram a vê-la como uma orientadora, que não tem todas

as respostas para as suas indagações, mas elas seriam respondidas ao longo

do desenvolvimento do projeto e, de fato, foram.

Projetos entendidos em sua dimensão pedagógica e simbólica, podem

permitir o impulso no letramento e no exercício da cidadania, como é o caso

desta proposta desenvolvida durante o nosso mestrado em Metodologia para o

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62

Ensino de Linguagens e suas Tecnologias, conforme a visão de Hernandez

(1998, p. 61), projetos como este objetivam:

a) aproximar-se da identidade dos alunos e favorecer a construção da subjetividade, longe de um prisma paternalista, gerencial ou psicologista, o que implica considerar que a função da escola não é apenas ensinar conteúdos, nem vincular a instrução com a aprendizagem. b) revisar a organização do currículo por disciplinas e a maneira de situá-lo no tempo e no espaço escolar. O que torna necessária à proposta de um currículo que não seja uma representação do conhecimento fragmentada, distanciada dos problemas que os alunos vivem e necessitam responder em suas vidas, mas, sim, solução de continuidade. c) levar em conta o que acontece fora da escola, nas transformações sociais e nos saberes, a enorme produção de informação que caracteriza a sociedade atual, e aprender a dialogar de uma maneira crítica com todos esses fenômenos.

A aprendizagem significativa é característica principal da metodologia de

projetos e, nesse processo, o aluno é visto como sujeito que utiliza sua

experiência e conhecimento para resolver problemas (MERCADO, 1999).

Assim, posto no papel as intenções do grupo, ficou mais fácil para os

nossos alunos visualizarem a possibilidade concreta da confecção do jornal.

Para a execução do projeto, definimos as estratégias de ação embasados nas

pesquisas de Baltar (2006) e a nossa experiência com a produção de jornal

escolar em duas instituições, uma particular (2010) e outra pública (2011).

Assim, o jornal foi elaborado pelo grupo de alunos da EJA, como atividade das

aulas de Língua Portuguesa; o nome e logotipo do jornal foi uma escolha dos

alunos da EJA, Ensino Fundamental e Ensino Médio, do período noturno; as

seções do jornal foram definidas pelos discentes e escritas em diversos

gêneros textuais: notícia, reportagem, entrevista, artigo, classificados, charge,

etc., e o modo de organização permaneceu a critério do grupo.

Os alunos tiveram liberdade de escolher os conteúdos temáticos das

seções e essa tarefa foi orientada por esta professora de Língua Portuguesa;

depois de escritos, revisados e reescritos, os textos foram digitados em formato

Word e enviados para esta coordenadora do projeto.

O cronograma foi o seguinte: início das atividades dia 10 de março de

2014, com a apresentação do projeto aos alunos, escolha dos grupos e das

seções; controle das tarefas feitas nas aulas de Língua Portuguesa, todas às

quartas-feiras. No dia 10 de junho, foi enviado o material para o diagramador;

Page 64: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

63

em 16 de junho, data do envio ao jornal Folha de Londrina para a impressão e,

por fim em 23 de junho, data da distribuição do jornal na escola.

A APMF comprometeu-se a arcar com as despesas da impressão do

jornal; a coordenadora do projeto buscou uma parceria com a Universidade

Estadual de Londrina – UEL para a diagramação do jornal; o custo do jornal

para uma tiragem mínima de 1000 exemplares, no formato tabloide, com seis

páginas foi de R$ 340,00; depois de impresso pelo jornal Folha de Londrina, o

jornal foi distribuído gratuitamente para a comunidade do Colégio Estadual

Professor João Rodrigues da Silva. E, a avaliação da turma ocorreu de forma

quantitativa, observando os critérios da organização geral do jornal e também

qualitativa, observando os critérios de participação, comprometimento e prazos.

E foi assim que, em março de 2014, iniciávamos o projeto de confecção

do jornal com a turma da EJA, Ensino Médio, turno noturno (quinze alunos), no

Colégio Estadual Professor João Rodrigues da Silva. Embora, a intenção fosse

o caráter interdisciplinar, não foi possível colocar na prática a “idéia de que ler e

escrever poderiam ser um compromisso de todas as áreas.” (BALTAR, 2006, p.

118)”, em virtude do formato da modalidade EJA, em que o aluno escolhe a

disciplina e dependendo da carga horária termina aquela matéria em até seis

meses. Sendo assim, os alunos dessa turma de Língua Portuguesa não

cursavam as mesmas disciplinas, o que impediu a integração com outras

áreas. Então, o controle da produção textual do jornal acabou ficando a cargo

da disciplina de Língua Portuguesa.

Escolhido o nome, em votação com os alunos do período noturno (Jornal

João Rodrigues) e o logotipo, seguimos em frente e passamos a refletir sobre

quais seções gostaríamos de ter no nosso jornal. Após discussão, decidimos

pelas seguintes seções: Editorial, Entrevista, Artigo, Saúde, Cultura, Esporte e

Moda.

Depois disso, estudamos a configuração interna das seções, uma vez

que precisávamos definir qual espaço dedicaríamos a cada seção. Essa foi

uma das fases mais importantes do processo, pois queríamos aproveitar cada

espaço do jornal. “A escolha dos textos para a publicação do jornal seria feita

em conjunto. Observando os critérios de autoria, relevância do tema para a

comunidade, qualidade de produção escrita e criatividade” (BALTAR, 2006, p.

113).

Page 65: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

64

E assim, o projeto ia caminhando. Cada grupo de três alunos ficou

responsável pela produção de textos das seções: artigo, saúde, cultura,

esporte e duas alunas responsáveis pelas seções Entrevista e Moda. A seção

Editorial esteve sob responsabilidade da coordenadora do projeto. A produção

de texto acontecia nas aulas de Língua Portuguesa, e as pesquisas eram feitas

no laboratório de informática.

À medida que os textos eram produzidos, sugeríamos a reescrita,

chamando à atenção para os mecanismos linguísticos e discursivos. É comum

o aluno, mediante o pedido para que reescreva um texto, agir como mero

revisor, efetuando somente as alterações apontadas ou, então, sentir que o

texto não merece crédito. O cerne da questão está, portanto, em fazer o aluno

perceber que a reescrita não é um mero trabalho de adequação às normas

gramaticais, mas sim, um tipo de atividade em que o sujeito que escreve vai

construindo sua própria escrita por meio das ações que pratica com a

linguagem.

Solé (1998, p. 96) expõe que na prática da correção textual, o “ler para

revisar um escrito próprio” tem uma lógica diferenciada de funcionamento,

porque:

[...] quando lê o que escreveu, o autor/revisor revisa a adequação do texto que elaborou para transmitir o significado que o levou a escrevê-lo; neste caso, a leitura adota um papel de controle, de regulação, que também pode adotar quando se revisa um texto alheio, mas não é a mesma coisa. Quando leio o que escrevi, sei o que queria dizer e tenho que me por simultaneamente em meu lugar e no do futuro leitor, isto é, você. Por isso, às vezes os textos são tão difíceis de entender – é possível que o autor tenha se posto apenas em seu próprio lugar e não no dos possíveis leitores [...] É uma leitura crítica, que nos ajuda a aprender a escrever e em que os componentes meta compreensivos tornam-se muito evidentes.

Nessa perspectiva de escrita, a produção textual é vista, segundo

Geraldi (2006), como ato de interlocução em sala de aula. É a partir dessa

concepção que se espera que o aluno/escritor/revisor seja capaz de reformular

o que escreveu, localizando disfunções e reescreva seu texto, suprimindo,

acrescentando, deslocando e trocando aquilo que julgar conveniente, visando à

adequação de seu enunciado escrito às contingências da situação enunciativa.

Desse modo, a revisão não é mero ato de limpar o texto, mas de

retornar para rever/repensar o escrito, a partir das possibilidades apresentadas

Page 66: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

65

pelo professor. Portanto, a revisão e a reescrita são procedimentos inerentes à

prática social de produção de textos, pois tem na sua essência a participação

do sujeito em situações sociais de uso da linguagem.

No decorrer do processo de produção textual, surgiram alguns

imprevistos, comprometendo o planejamento, como a falta de

comprometimento de alguns alunos com o cronograma do projeto, quase

sempre decorrentes de problemas com a frequência às aulas; alguns alunos

tinham dificuldade em diferenciar o texto jornalístico dos trabalhos escolares.

Por exemplo, os responsáveis pela seção esporte entregaram um texto copiado

da internet. Argumentamos sobre a importância da autoria, que os textos para

o jornal seriam todos originais e pedimos que reescrevessem o seu trabalho,

colocando-se na posição de autores que escrevem para um veículo de mídia

específico, com leitores reais, como o do nosso jornal João Rodrigues.

Um ponto forte do projeto foi a matéria publicada no Jornal Folha de

Londrina sobre o trabalho que estávamos desenvolvendo. Como o jornal não

poderia enviar um fotógrafo no período noturno, ficamos encarregados de tirar

as fotos. Foi um momento muito divertido e, ao mesmo tempo, estressante,

pois recebemos a orientação de tirarmos fotos naturais, e a aluna/fotógrafa

imbuída dessa orientação nos fez tirar inúmeras fotos. A seção durou uma

aula. E, como amadores, não sabíamos se as fotos tinham ficado boas. Até

então, alguns alunos ainda estavam descrentes com a publicação da matéria.

Mas, no dia 01 de abril de 2014, na seção Cidadania, do Jornal Folha de

Londrina, foi publicada a matéria com o título “Periódico escolar contribui para a

experiência do aluno” (anexo B), em que relatamos a participação no projeto de

extensão da Universidade Estadual de Londrina, intitulado “Impulso no

conhecimento da Língua Portuguesa por meio dos gêneros textuais da esfera

jornalística em situações de ensino da região de Londrina/PR”, coordenado

pela professora doutora Lidia Maria Gonçalves, que visa desenvolver

[...] um conjunto de práticas de letramento com base em gêneros textuais da esfera jornalística, levando os alunos das escolas participantes a refletirem sobre práticas sociais que se dão em situações enunciativas concretas. [...] Por sua vez, aos discentes e cidadãos voluntários colaboradores do projeto cabem a tarefa de selecionar textos jornalísticos para trabalhar com os alunos da educação básica (GONÇALVES, 2013, p. 160).

Page 67: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

66

Soma-se a experiência no desenvolvimento da produção de um jornal

escolar, o trabalho realizado em uma escola particular no arquipélago japonês,

e também o trabalho em outra escola pública em Londrina/PR. Além disso, esta

mestranda já possuía uma bagagem sobre a análise do discurso jornalístico

oriunda de sua Especialização em Estudos da Linguagem.

Ao ser publicada a matéria jornalística sobre a prática pedagógica

desenvolvida durante esta pesquisa stricto sensu (anexo B), compramos vários

exemplares e levamos para os alunos. Nesse momento, tivemos a certeza de

que este projeto estava contribuindo para elevar a autoestima do grupo. Eles

ficaram eufóricos e o discurso foi esse: “agora é ponto de honra, temos que

publicar o jornal.”

Nas palavras de Souza (2011, p. 33), é complexo trabalhar com uma

educação transformadora,

receber, acolher, estimular e coletivizar pessoas, nas quais a baixa autoestima e a falta de amor próprio e autoconfiança formaram uma espécie de cadeado, que fecha boa parte das passagens no coração humano para uma vida mais intensa, vivida com mais profundidade na sua dimensão humanista e filosófica. Curiosamente, essa condição representa algo parecido com uma espécie de cárcere ou prisão, sendo, nesse caso, bem diferente daquilo que encontramos pelas delegacias e presídios de nossas cidades e do nosso país. Trata-se de um “aprisionamento sem paredes.”

Diante disso, assumimos a tarefa do educador da EJA, de promover a

inclusão nos limites que denominamos de cidadania, para que as grades da

exclusão social, da qual muitos alunos são vitimados, não se tornem perpétuas.

5.4 PERCALÇOS NA TRAJETÓRIA

O tempo foi passando e a produção textual continuava. Surgiu um fato

que modificou substancialmente nosso projeto. No dia 13 de julho de 2014, o

colégio sofreu um assalto e os ladrões levaram os computadores do laboratório

de informática. Conforme relata o site de notícias Bonde:

Page 68: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

67

Londrina: escola sofre 3º assalto e fica sem laboratório de informática A escola estadual Professor João Rodrigues da Silva, no Jardim Antares, zona leste de Londrina, foi assaltada na madrugada do último domingo (13). Os bandidos arrombaram as portas do colégio e levaram monitores, impressoras, computadores, câmeras, tablets e um roteador do laboratório de informática. Esse é o terceiro assalto que a escola sofreu no último mês. A cantina e o refeitório foram roubados durante os jogos do Brasil na Copa do Mundo. Os criminosos levaram eletrodomésticos do colégio e até as merendas dos alunos. De acordo com a diretora auxiliar, Juliana Guergoleti, o sistema de segurança da escola também não funciona por conta de outro assalto, quando os bandidos destruíram as câmeras e os alarmes. Além disso, em janeiro, o laboratório de informática foi incendiado por criminosos. "Novamente, vamos ter que aguardar o envio de equipamentos do Governo do Estado para o laboratório de informática", lamentou. Devido ao assalto, o retorno das férias para as turmas do turno da manhã foi adiado para esta terça-feira (15). Após alguns reparos, o colégio voltou a funcionar ainda na tarde de segunda-feira (14).

Esse fato impactou financeiramente o nosso projeto, pois a APMF não

mais teria condições de arcar com os custos da impressão. Levamos o

problema aos alunos e, rapidamente apareceu a solução: abriríamos espaço no

jornal para os anúncios publicitários. Os alunos encarregam-se de buscar os

anunciantes, a um custo de R$ 20,00. Conseguimos sete anunciantes, mas

ainda não cobria os gastos. Então, a escola promoveu o “Dia do pastel” e uma

parte da renda foi destinada ao jornal (R$ 120,00). E, o restante foi doada por

uma professora, ela acreditou nos frutos dos projeto, testemunhou os reflexos

desse processo construtivo na vida dos alunos, por essa razão contribuiu

financeiramente.

Como vislumbrávamos dar continuidade ao projeto, decidimos em

conjunto com a direção da escola cobrar R$ 1,00 dos alunos, dos períodos

noturno (EJA- Ensino Fundamental e Ensino Médio), matutino (EF – 8º e 9º

anos), vespertino (EF- 6º e 7º anos), para fazer um caixa para a segunda

edição.

Assim, tivemos que envolver os alunos dos períodos matutino e

vespertino, e isso provocou alterações nas seções dos jornais. Afinal, os novos

colaboradores também deveriam apresentar sugestões e participar ativamente

do processo de elaboração do jornal.

Page 69: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

68

5.5 ANÁLISE DOS GÊNERO TEXTUAIS DO JORNAL JOÃO RODRIGUES

As seções do jornal ficaram dispostas da seguinte forma: Editorial,

Entrevista, Artigo, Sou Assim, Vida de Estudante, Superação, Classificados,

conforme explicitado no quadro 3, apresentado a seguir.

Desse modo, quando pensamos na produção de um jornal na sala de

aula, feito por alunos, o nosso objetivo foi promover o trânsito por gêneros

textuais de outro ambiente discursivo (a mídia impressa). Conforme enfatiza

Baltar (2006, p. 124),

além de propiciar a interação sociodiscursiva entre o escritor e o leitor de um texto empírico (escrito numa atividade de linguagem legítima como a produção do jornal escolar), é numa atividade de linguagem legítima como a produção do jornal escolar), é também, o de ampliar a competência discursiva desses alunos, despertando sua conduta sociodiscursiva diante dessa atividade de linguagem.

QUADRO 3 – ESTRUTURA INTERNA DAS SEÇÕES DO JORNAL JOÃO RODRIGUES

JORNAL JOÃO RODRIGUES

SEÇÃO GÊNERO TEXTUAL

TÍTULO AUTORIA

Capa Jornal João Rodrigues Equipe do jornal

Entrevista

Editorial Editorial Coordenadora do projeto

Entrevista

Entrevista Direção: escolha ou vocação Aluna G. S. H.

Artigo

Artigo Paródia Poema Nota informativa Classificados

Diga não à maioridade penal Canção da desesperança Cada palavra uma folha Biblioteca Monteiro Lobato Diversos

Aluno M. L. de S. Aluna C.A.S. Cecília Meireles Equipe do jornal Equipe do jornal

Sou assim

Perfil Sou assim Equipe do jornal

Vida de estudante

Relato

Minha história G. S. H

Superação

Relato Trabalho escolar Classificados

Exemplo de Superação História do Colégio Estadual Professor João Rodrigues da Silva Diversos

Equipe do jornal Equipe do jornal Equipe do jornal

Fonte: Dados compilados do Jornal João Rodrigues (2014).

Page 70: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

69

No papel de leitores do mundo, os indivíduos envolvidos no projeto

utilizam vários gêneros textuais para formar intenções e/ou verbalizar ações,

pois assumiram o papel de mediadores em processos discursivos. E, quando

os alunos demarcam o território do seu texto, é possível identificar “os aspectos

emocionais, intelectuais e simbólicos que permitem o reconhecimento dos tipos

de jogos de ação envolvidos” (BAZERMAN, 2006, p. 47).

Nesse aspecto, a produção de uma matéria para o jornal escolar

demandou uma ação retórica dinâmica, decorrente do comportamento

comunicativo em um contexto social específico, baseada em práticas

discursivas estabelecidas socialmente.

Para compreender os gêneros e seu funcionamento dentro de um jornal

escolar foi preciso levar os alunos a entender que os gêneros estão inseridos

em atividades, papéis e organizações sociais, ou seja, são um meio de

comunicação entre a comunidade escolar.

Nesse contexto, foram produzidos dois textos do gênero textual relato

pessoal. No que tange especificamente ao gênero relato pessoal, Bräkling

(2009) propõe a organização interna deste gênero da seguinte forma:

a) Contextualização inicial do relato, identificando tema/espaço/período. b) Identificação do relator como sujeito das ações relatadas e experiências vivenciadas. c) Referência à(s) ação(ões)/situação(ões) que será(ão) relatada(s). d) Apresentação das ações seqüenciando-as temporalmente, estabelecendo relação com o tema/espaço/período focalizado no texto, explicitando sensações, sentimentos, emoções provocados pelas experiências. Nesse processo poderá ou não ser estabelecida relação de causalidade entre as ações/fatos relatados, pois se trata de ações acontecidas no domínio do real e, dessa maneira, o que define a relação de causalidade são os fatos, em si, ou a perspectiva/compreensão do relator. e) Encerramento, pontuando os sentimentos, efeitos, repercussões das ações relatadas na vida do relator e dos envolvidos. f) A experiência vivenciada por uma pessoa pode envolver terceiros, o que pode derivar na introdução das vozes desse terceiro no relato elaborado (BRÄKLING, 2009, mimeo).

Embasados nas orientações do autor, levamos os alunos a produziram:

“Minha história” e “Exemplo de superação.” O primeiro texto é o relato de uma

aluna da equipe do jornal, sobre a sua experiência de morar na Espanha; o

Page 71: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

70

outro texto narra a história de uma professora da escola sobre um grave

acidente automobilístico que sofreu e o processo de sua recuperação.

Minha história Morei na Espanha, no período de 2007 a 2012, em uma cidade chamada Aranjuez, na província de Madrid. Estudei em dos melhores colégios da cidade. Lá não havia colégios particulares, apenas “concertados”, cinquenta por cento particular e a outra metade pública. A educação era muito diferente do Brasil, os professores eram mais severos e os alunos mais dedicados. Concluí o segundo ano do ensino médio, mas infelizmente não houve aproveitamento das disciplinas e tive que recomeçar do 9º ano (HIDALGO, 2014, p. 6, grifo nosso). Exemplo de superação [...] Voltei para casa, como se fosse um bebê. Usava fralda, não tinha coordenação motora nenhuma, recebia comida na boca, apoiada num travesseiro para não cair. Fazia fisioterapia três vezes por semana Quando completou dois meses, comecei a gemer. Fiz uma tomografia e foi constatado que o coágulo havia aumentado e estava pressionando o meu cérebro. Tive que fazer uma cirurgia extremamente delicada, corria-se o risco de drenar a massa cefálica e eu teria sequelas irreversíveis. No entanto, foi um sucesso! (JORNAL JOÃO RODRIGUES, 2014, p. 7, grifo nosso).

Esses relatos nos fizeram repensar a diferença entre o nosso jornal de

sala de aula e os jornais comuns. Os temas que os alunos queriam escrever

teriam que tocá-los de uma forma especial. Isso se refletiria na escolha dos

gêneros textuais.

Destacamos também o gênero textual entrevista, e, segundo o Manual

da Redação da Folha de São Paulo (2010, p. 41), a característica deste gênero

“é permitir que o leitor conheça opiniões e ideias, pensamentos e observações

de personagem da notícia ou de pessoa que tem algo relevante a dizer.”

Assim, o que prevalece no discurso é a interação entre a entrevistada

(diretora da escola) e a aluna-escritora-repórter com sequências dialogais e

expositivas. Em sala de aula, explicamos que a entrevista obedece algumas

técnicas de preparação e foi feita a leitura das recomendações do Manual da

Redação da Folha de São Paulo (2010, p. 41):

1) Marque-a com antecedência. 2) Informe o entrevistado sobre o tema e a duração do encontro. 3) Anote e, de preferência, também grave a entrevista, para poder reproduzir com absoluta fidelidade eventuais declarações curiosas, reveladoras ou bombásticas. 4) Vista-se sem destoar do ambiente em que será feita a entrevista, para não inibir ou incomodar o entrevistado.

Page 72: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

71

5) Faça perguntas breves e diretas, que não contenham resposta implícita. 6) Identifique contradições, cite pontos de vista opostos e levante objeções, sem ser deselegante com o entrevistado. 7) Não deixe de abordar temas considerados “sensíveis” pelo entrevistado. Faça perguntas diretas e ousadas. Insista quantas vezes achar necessário se o entrevistado se recusar a responder a alguma pergunta. 8) Registre essa recusa, se for significativa.

De posse do planejamento, a aluna foi a campo (a entrevista seria

gravada), não escondendo o seu nervosismo, pois iria entrevistar a diretora da

escola. Segue um trecho da entrevista:

DIREÇÃO: Escolha ou vocação JR: Como funciona o processo de manutenção do colégio? Sonia: Durante um ano, o governo repassa quatro verbas, visando à realização da manutenção, que inclui desde o corte da grama, a troca das partes danificadas. Também há uma verba específica para consumo, para aquisição de material de expediente, limpeza, material pedagógico e esportivo. No entanto, as verbas não são suficientes para atender toda a demanda (JORNAL JOÃO RODRIGUES, 2014, p. 2, grifo nosso).

Após, a transcrição das falas, o texto foi submetido a uma revisão. A

versão final foi mostrada para a entrevistada que sugeriu algumas retificações

no texto.

Assim, a aluna demonstrou ter se apropriado do gênero entrevista,

“manejando as sequências dialogais, os mecanismos de textualização com

autoria” (BALTAR, 2006, p. 135), ou seja, assumindo a conduta sociodiscursiva

de uma aluna-repórter, com o objetivo de publicar uma entrevista atrativa para

os leitores do jornal João Rodrigues.

O outro gênero textual trabalhado foi o artigo de opinião. É interessante

observar que ao propormos essa produção de texto em sala, houve uma

resistência, pois os alunos ainda não tinham se desvinculado da ideia de que

escrever é algo maçante e difícil. Vencidas as primeiras resistências, iniciamos

as aulas a respeito desse gênero textual.

Nesta ambientação, esta docente apropriou-se da teoria proposta por

Dolz e Schneuwly (2004), uma vez que esses autores agregam as orientações

do PCNs (1998) e, ainda, sugerem uma sequência didática que tem por

Page 73: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

72

objetivo trabalhar as particularidades de cada gênero, conforme explicitado

abaixo:

Sequência didática é: Uma sequência de módulos de ensino, organizados conjuntamente para melhorar uma determinada prática de linguagem. As sequências didáticas instauram uma primeira relação entre um projeto de apropriação de uma prática de linguagem e os instrumentos que facilitam essa apropriação (DOLZ; SCHNEUWLY, 2004, p. 51).

Dolz e Schneuwly (2004) orientam que as atividades deverão ser

realizadas nos módulos: apresentação da situação, produção inicial, módulo 1,

módulo 2, módulo 3 e produção final. Os módulos constituem várias oficinas

de atividades (exercícios ou pesquisas) que permitem a apropriação do gênero,

conforme esquema proposto pelos autores:

QUADRO 4 – ESQUEMA DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA

Fonte: Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004, p. 98).

A construção da sequência didática, a seguir, ocorreu num total de dez

encontros com duas aulas cada um. No primeiro momento, apresentamos a

situação (gênero) de forma detalhada aos alunos, para verificar qual o

conhecimento que eles já possuíam sobre o gênero artigo de opinião, só então,

adaptamos as atividades que foram realizadas pelos alunos ao longo da

sequência didática.

Embora os autores recomendem a produção inicial, para avaliar o nível

de dificuldades dos alunos, decidimos não aplicar este módulo devido ao

pouquíssimo conhecimento que tinham sobre o gênero.

APRESENTAÇÃO DA SITUAÇÃO

Produção Inicial

Produção Final

Módulo 1

Módulo 2

Módulo 3

Page 74: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

73

Depois da avaliação das dificuldades decorrentes do pouco

conhecimento prévio que os alunos tinham sobre o gênero, trabalhamos com

diversas atividades que lhes permitiram dominar o gênero escolhido. Por

exemplo, a partir da análise dos artigos selecionados na revista Veja, os alunos

puderam conhecer a estrutura do artigo de opinião. Também foram feitos

diversos exercícios do livro didático Português: literatura, gramática, produção

de texto, dos autores Leila Lauar Sarmento e Douglas Tufano (2010).

Trata-se de uma coleção de três volumes, cada um dos quais é

destinado a uma série do ensino médio. Cada unidade possui três capítulos:

“Literatura”, “Gramática” e “Produção de texto.” Essa sequência abarca os três

campos anunciados no subtítulo da obra: literatura, gramática e produção de

texto.

Diante dessa macroestrutura, nosso foco concentrou-se no décimo sexto

capítulo “O texto dissertativo-argumentativo.” O trabalho de produção, neste

capítulo, têm como base o estudo de textos dissertativos-argumentativos.

Explicamos aos alunos que o texto dissertativo-argumentativo apresenta

um “plano de trabalho”, ou seja, uma estruturação já estabelecida. Constitui-se,

em geral, de três partes: introdução, desenvolvimento e conclusão. Ao produzir

um texto desse tipo emprega-se diversos recursos linguísticos com o objetivo

de persuadir o interlocutor, de forma intencionalmente objetiva (SARMENTO;

TUFANO, 2010).

Nesse capítulo, trabalhamos os textos dissertativos-argumentativos

“Sucesso tem fórmula, de Cláudio de Moura Castro”, da revista Veja; “Pesquisa

com animais deve ser desmitificada”, do jornal O Estado de S. Paulo; “Na

primeira infância”, do jornal Folha de S. Paulo. Os alunos responderam

questões sobre a estrutura desses textos, conforme exemplificamos abaixo:

Pesquisa com animais deve ser desmitificada

1. Qual é a tese ou ponto de vista que está exposto no primeiro parágrafo, e que será defendido nos demais parágrafos? 2. Que argumentos Michael Conn desenvolveu no segundo parágrafo, ao defender seu ponto de vista? 3. No terceiro parágrafo, o endocrinologista utiliza outros mecanismos argumentativos, desenvolvendo opiniões que se toram ainda mais convincentes. Comente esses argumentos. 4. Explique como o autor do texto retomou a ideia inicial ou ponto de vista, no último parágrafo.

Page 75: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

74

5. Releia o texto, se necessário, e explique como o autor conseguiu manter a unidade no encadeamento de ideias. 6. De que modo ele conferiu credibilidade às idéias apresentadas, com o objetivo de convencer o leitor a aceitar seu ponto de vista (SARNENTO; TUFANO, 2010, p. 333, grifos dos autores).

Dentre os textos selecionados para estudo, o que mais chamou à

atenção dos alunos foi o artigo de opinião “Sucesso tem fórmula”, em que

Castro defende a sua tese embasado nos resultados apresentados pelo Brasil

na Olimpíada do Conhecimento (World Skills International), pois passamos de

13º lugar (1985), para o 2º lugar (2007). Na conclusão, o autor afirma: “A

fórmula serve para toda competição: qualidade valorizada, seleção dos

melhores, prática obsessiva e persistência. Quem aplicar essa receita terá os

mesmos resultados” (VEJA, 2010, p. 22-24).

Assim, o ensino com os módulos possibilitou a compreensão de

determinadas situações sociais, por exemplo, os alunos conseguiram perceber

a necessidade de transpor essa ideia de sucesso para as suas vidas. Uma das

falas de um dos alunos foi essa “sem persistência e dedicação não

conseguimos nada na vida.” E também apropriaram-se de operações de

linguagem indispensáveis à produção do artigo de opinião.

Depois de um estudo aprofundado das particularidades do gênero, na

produção final, os alunos colocaram em prática os instrumentos elaborados nos

módulos do gênero estudado, ou seja, produziram o artigo de opinião. E, dentre

os vários textos produzidos, escolhemos o de um aluno que desde o início

mostrou-se muito entusiasmado com a temática sobre a redução da maioridade

penal e, em seu artigo, apresentou argumentos convincentes para defender a

sua tese, conforme excerto abaixo:

Diga não à maioridade penal Essas crianças desassistidas pelo poder público serão os futuros menores infratores. Assim, antes de pensar na redução da maioridade penal, devemos pensar em oferecer uma educação de qualidade para crianças e adolescentes, em tempo integral (SOUZA, 2014, p. 3).

Nessa linha, trabalhamos o gênero textual paródia que possui em sua

essência o processo de intertextualidade. Esse processo ocorre quando, “[...]

Page 76: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

75

um texto, está inserido em outro texto (intertexto) anteriormente produzido, que

faz parte da memória social de uma coletividade” (KOCH e ELIAS, 2008, p. 86).

Na visão de Sant’Anna (2000), a paródia é um processo heterogêneo

que dialoga com outros textos, alimentando-se de seus conteúdos e/ou formas

para produzir uma espécie de textualidade antropofágica, ou seja, é uma forma

de sobreposição estrutural de textos, em lugar de endossar o modelo

retomado, perverte o texto anterior, visando a ironia, ou a crítica.

Tendo como texto-base a “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias, uma

aluna elaborou o texto a seguir, publicado no jornal João Rodrigues (2014, p.

3):

Canção da desesperança Minha terra tem corruptos Que nos roubam sem parar Em cada parte do país Eles estão sempre a pipocar Chega a época da campanha A todos nos vêm iludir Minha terra tem primores Com as quais quero sonhar Mas devido a tanta ladroagem Vivo sempre a desconfiar Não permita Deus que eu morra Sem ao menos presenciar Quem um dia nessa vida Essa roubalheira venha a acabar (SILVA, A. C. 2014, p.3)

Nessa paródia, a aluna satiriza o texto original de Gonçalves Dias. A

intenção não é mais a de exaltação da pátria; o sentido original foi alterado

para criticar os políticos corruptos.

O gênero textual “Perfil” ocupou três páginas do tabloide, pois

divulgamos os perfis dos alunos do matutino (Ensino Fundamental – 8º e 9º

anos), vespertino (Ensino Fundamental – 6º e 7º anos) e noturno (Ensino

Fundamental e Ensino Médio– EJA), conforme fragmento abaixo:

Nome: V. M. Série: EJA/EF Idade: 28 anos Estilo musical: eclética Hobby: Assistir filmes Programa de TV: Mais Você Filme: À espera de um milagre Livro: As mulheres são de Marte e os homens são de Vênus

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76

Esporte: dança Quem sou: “Uma pessoa complicada, batalhadora, procuro ser uma boa mãe, foco nos meus objetivos. Procuro unir o útil ao agradável” (JORNAL JOÃO RODRIGUES, 2014, p. 8).

Por fim, com todas as produções de texto finalizadas, precisávamos

decidir sobre a configuração do gênero textual capa. Entre os elementos que

caracterizam a capa do jornal João Rodrigues estão os seguintes: nome do

jornal, logotipo, número de edição, data, fotografia do colégio e da equipe do

jornal. Como estávamos atrasados com o cronograma, coube à coordenadora

do projeto, a digitação das seções e a entrega do material ao diagramador.

E foi assim que, no dia 10 de setembro de 2014, estávamos distribuindo

os jornais para a comunidade escolar João Rodrigues, como uma atividade de

culminância do projeto, visto que esta fase cumpre o papel de socializar os

textos produzidos na esfera escolar com a sociedade, configurando-se, assim,

o aluno ter assumido o papel de sujeito autor e produtor dos seus próprios

textos, conforme postula (GERALDI, 2006).

Page 78: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

77

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No trabalho com a produção do jornal escolar, estudamos a língua como

fator social, segundo a visão interacionista e discursiva de Bakhtin (1997). É

fato que o desenvolvimento do ser humano está relacionado às formas de

atividades sociais, regidas pela comunicação. Afinal, os elementos

responsáveis pela interação entre os indivíduos são fornecidos pelo grupo

cultural, que disponibilizam formas de perceber e organizar a sua realidade.

Marcuschi (2008) compartilha dessa noção de língua como interação

defendida por Bakhtin (1997), ainda acrescenta que o texto é o próprio lugar da

interação e que as nossas manifestações verbais diante da língua são

configuradas pelos textos e não com elementos linguísticos isolados. Sendo

assim, o texto não pode ser considerado apenas como um produto, mas um

processo e está em constante renovação ao longo da história.

Acreditamos que os gêneros devem ser os princípios que estruturam o

ensino da Língua Portuguesa, conforme preconizam os Parâmetros

Curriculares Nacionais (1997). Mas, como promover a competência

comunicativa dos alunos da EJA, de uma forma diferenciada, desvencilhando-

se do estigma da redação escolar?

A nossa inquietação nos levou a adotar o jornal escolar como tema

deste estudo, visando promover o ensino e aprendizagem do aluno em todas

as suas facetas, trabalhando as suas habilidades e suas competências para

enfrentar os desafios que surgirem, tanto no ambiente escolar, como no

trabalho em outros meios sociais.

Assim, a escolha da produção do jornal escolar deve-se ao fato de

considerarmos essa mídia um importante suporte pedagógico, uma vez que

esse instrumento serviria como possibilidade concreta de os alunos

escreverem textos reais e em diversos gêneros textuais, permitindo a

circulação desses produtos e a interação com os leitores da comunidade

escolar.

Ao longo do desenvolvimento do projeto, sentimos que os alunos

estavam mais à vontade para escrever, um bom exemplo disso é que os alunos

passaram a entregar a primeira versão dos gêneros solicitados, com uma

postura mais confiante, de sujeitos produtores que escrevem para leitores

Page 79: a produção de um jornal escolar na educação de jovens e adultos

78

reais. E, acima de tudo, perceberam que os textos publicados no jornal João

Rodrigues poderiam intervir de alguma forma no ambiente escolar, pois a

palavra escrita tinha um suporte textual legítimo e público.

A pesquisa apontou que o projeto do jornal escolar possibilitou aos

alunos da EJA o desenvolvimento de um olhar mais crítico quanto à produção

escrita; maior interesse pela leitura; valorização dos textos em sala de aula e

preocupação com o modo de reagir do leitor diante do seu texto. Sendo assim,

ao publicarmos a 1ª edição do jornal João Rodrigues concretizamos o objetivo

principal deste estudo: demonstrar a relevância do jornal escolar para a

produção de textos de diferentes gêneros textuais/discursivos no ensino e

aprendizagem da língua materna.

A efetivação dessa pesquisa, em uma turma da EJA, só foi possível,

porque partimos do pressuposto de a pesquisa ser parte fundamental na

natureza da prática educativa, conforme ensina Freire (2002, p. 32): “Não há

ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino.” Acreditamos que a formação do

professor está embasada em dois papéis fundamentais: o de mediador e o de

pesquisador. No ato de ensinar, o papel de mediador está relacionado ao saber

dialogar com o aluno, pois essa interação que acontece no processo ensino e

aprendizagem deve ser o ponto de partida para qualquer ação pedagógica.

Cabe ao educador, mediar conhecimentos historicamente acumulados e

também os conhecimentos atuais, possibilitando ao educando dialogar de

maneira eficaz com a sociedade no que concerne aos objetos de

conhecimentos. A valorização do diálogo como interação social encontra

respaldo na teoria bakhtiana, para quem o sujeito possui capacidade de

construir significados, a partir de complexas interações.

Dessa forma, o professor não deve olhar para a Educação de Jovens e

Adultos sob um viés compensatório, baseado em um referencial pedagógico

conteudista, distanciado da realidade do aluno. Ao tomar a decisão de retorno

à educação formal, o aluno, jovem ou adulto, expõe a sua condição de pouca

escolaridade e os sentidos extraídos das muitas idas e vindas aos bancos

escolares necessitam ser construídos na relação pedagógica.

Já o ato de ensinar está vinculado ao papel de pesquisador, por meio da

prática, uma vez que a pesquisa é um processo privilegiado de construção do

conhecimento. A integração do ensino e pesquisa é fundamental na formação

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do educador, porque por meio do ensino, o professor auxilia o aluno a

aprender, como também reformula a sua prática pedagógica.

É no cotidiano da sala de aula que o professor toma decisões e constroi

seu saber, refletindo sobre a sua práxis. Essa ação-reflexão-ação deve emergir

da prática em sala de aula, efetivando-se na discussão coletiva, na troca de

experiências e na busca dos saberes. Nesse processo de reflexão, o professor

prático-reflexivo percebe o seu fazer como um constante processo de

aprimoramento para atender as demandas inerentes ao espaço escolar,

sobretudo no que diz respeito à sala de aula e seus sujeitos.

Portanto, faz-se necessário resgatar o papel do professor como

pesquisador, como aquele que indaga, repensa o seu próprio fazer, produz

teoria a partir da prática, ou seja, garanta que a sala de aula seja um espaço de

construção conjunta, para proporcionar um ambiente de ensino e

aprendizagem favorável ao desenvolvimento das competências em todas as

áreas.

Por meio desta dissertação de Mestrado, esperamos ter contribuído para

o aprimoramento das pesquisas relacionadas ao ensino e aprendizagem da

escrita em Língua Portuguesa, dando mais suporte aos educadores/leitores

dessa dissertação para planejarem a sua prática pedagógica; além disso, esse

trabalho registra os nossos esforções no sentido de ampliar o campo teórico-

metodológico para a concretização do direito à Educação de Jovens e Adultos.

Finalizamos esse texto retomando as palavras do editorial publicado no

Jornal João Rodrigues (2014).

EDITORIAL É com muita alegria que apresentamos a primeira edição do Jornal João Rodrigues, resultado da dedicação dos alunos da EJA-Educação de Jovens e Adultos, ensino médio, com apoio da direção, equipe pedagógica e professores que não mediram esforços para o desenvolvimento do projeto. O jornal João Rodrigues desenvolve um conjunto de práticas de letramento com base em gêneros textuais da esfera jornalística, levando os alunos a refletirem sobre práticas sociais que ocorrem em situações enunciativas concretas. Nessa perspectiva, a produção do jornal vai além de divulgar informações, fazer propagandas, trabalhar em grupo, pois desenvolve a competência linguística, criticidade e discussão sobre a realidade social. Nesta edição, trabalhamos diversos gêneros textuais como relato pessoal, artigo de opinião, entrevista com a diretora, e paródia. E, na seção “Sou assim”, vocês poderão conhecer o perfil de alguns alunos do ensino fundamental e ensino médio.Desejamos a todos uma ótima leitura! (YOSHIKAWA, 2014, p. 2, grifo nosso).

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ANEXOS

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ANEXO A Jornal João Rodrigues

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ANEXO B Jornal Folha de Londrina

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