a produção de sentidos através da eufemização

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47 Línguas e Instrumentos Linguítiscos – Nº 33 - jan-jun 2014 A PRODUÇÃO DE SENTIDOS ATRAVÉS DA EUFEMIZAÇÃO NO ACONTECIMENTO ENUNCIATIVO E SEUS EFEITOS NA DESCRIÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA Carolina de Paula Machado UFSCar/UEHPOSOL Resumo: De uma perspectiva enunciativa, este artigo propõe investigar os sentidos da palavra ‘preconceito’ em Raízes do Brasil (1936), de Sérgio Buarque de Holanda, buscando compreender a eufemização como um dos modos pelos quais as relações sociais brasileiras são descritas na primeira metade do século XX. Carolina Machado mostra o preconceito contraditoriamente inscrito na sua eufemização. Abstract: From an enunciative perspective, this paper proposes to investigate the meanings of the word 'prejudice' in Roots of Brazil (1936), by Sérgio Buarque de Holanda, seeking to understand euphemization as one of the ways in which Brazilian social relations are described in the first half of twentieth century. Carolina Machado shows the prejudice contradictorily included in its euphemization. Investigar os sentidos de uma palavra de nosso ponto de vista é também observar, do lugar específico da semântica, a maneira como uma parte do real é interpretada. Ao analisar a maneira como a palavra preconceito é significada na famosa obra Raízes do Brasil (1936), de Sérgio Buarque de Holanda, buscamos compreender uma das maneiras

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47

Línguas e Instrumentos Linguítiscos – Nº 33 - jan-jun 2014

A PRODUÇÃO DE SENTIDOS

ATRAVÉS DA EUFEMIZAÇÃO

NO ACONTECIMENTO ENUNCIATIVO

E SEUS EFEITOS NA DESCRIÇÃO

DA SOCIEDADE BRASILEIRA

Carolina de Paula Machado

UFSCar/UEHPOSOL

Resumo: De uma perspectiva enunciativa, este artigo propõe

investigar os sentidos da palavra ‘preconceito’ em Raízes do Brasil

(1936), de Sérgio Buarque de Holanda, buscando compreender a

eufemização como um dos modos pelos quais as relações sociais

brasileiras são descritas na primeira metade do século XX. Carolina

Machado mostra o preconceito contraditoriamente inscrito na sua

eufemização.

Abstract: From an enunciative perspective, this paper proposes to

investigate the meanings of the word 'prejudice' in Roots of Brazil

(1936), by Sérgio Buarque de Holanda, seeking to understand

euphemization as one of the ways in which Brazilian social relations

are described in the first half of twentieth century. Carolina Machado

shows the prejudice contradictorily included in its euphemization.

Investigar os sentidos de uma palavra de nosso ponto de vista é

também observar, do lugar específico da semântica, a maneira como

uma parte do real é interpretada. Ao analisar a maneira como a palavra

preconceito é significada na famosa obra Raízes do Brasil (1936), de

Sérgio Buarque de Holanda, buscamos compreender uma das maneiras

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EUFEMIZAÇÃO NO ACONTECIMENTO ENUNCIATIVO

E SEUS EFEITOS NA DESCRIÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA

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Línguas e Instrumentos Linguítiscos – Nº 33 - jan-jun 2014

como as relações sociais brasileiras são descritas na primeira metade do

século XX.

Nesse processo analítico constatamos que poucas vezes a palavra

preconceito aparecia ao longo do texto, algo que nos chamou a atenção

por se tratar de uma obra que analisa a formação social brasileira. A

pouca ocorrência dessa palavra levou-nos a olhar para uma série de

outras palavras e expressões que, num primeiro olhar analítico,

considerando a história de enunciações da palavra preconceito em

outros textos1, estavam relacionadas aos sentidos da palavra, levando-

nos a questionar se, na textualidade, elas poderiam estar substituindo a

palavra preconceito.

Analisamos a relação semântica da palavra preconceito com estas

outras palavras e expressões no livro de Holanda, considerando que

expressões como “orgulho de raça”, “sentimento de distância”, entre

outras, funcionam no acontecimento enunciativo do texto como formas

de redizer a palavra preconceito suspendendo a sua circulação e

atribuindo-lhe outros sentidos.

Consideramos que os sentidos, assim como os sujeitos, se

constituem no acontecimento enunciativo e que a linguagem é posta em

funcionamento pela história. É assim que chegamos àquilo que a

palavra designa no acontecimento. Nesse caso, buscamos compreender

como ocorre o processo de designação, perguntando-nos se a produção

de sentidos se dá através de um mecanismo textual que eufemiza o

preconceito.

1. Enunciação: acontecimento de linguagem

A análise dos sentidos de uma palavra, a partir da Semântica do

Acontecimento, leva em consideração o fato de que essa palavra integra

um enunciado que por sua vez é enunciado de um texto. O sentido, ou

Carolina de Paula Machado

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Línguas e Instrumentos Linguítiscos – Nº 33 - jan-jun 2014

seja, o que a palavra designa, se dá na relação entre textualidade e

enunciação.

Definindo o que é enunciação, Guimarães (1995) estabelece a

relação entre sujeito, sentido e história, pensando a história não como

sucessão de fatos no tempo, sem considerar o sujeito como centro do

dizer e considerando que o sentido, juntamente com os sujeitos, se

constitui no acontecimento na relação entre textualidade e

historicidade. Ele define a enunciação como

um acontecimento de linguagem perpassado pelo interdiscurso,

que se dá como espaço de memória no acontecimento. É um

acontecimento que se dá porque a língua funciona ao ser afetada

pelo interdiscurso. É, portanto, quando o indivíduo se encontra

interpelado como sujeito e se vê como identidade que a língua se

põe em funcionamento (1995, p.70).

A relação com a história se dá através do conceito de interdiscurso,

proveniente da Análise de Discurso francesa, fazendo intervir o já dito

para a produção de sentidos na enunciação. É assim que o autor define

“o sentido de um enunciado como os efeitos de sua enunciação” (p. 70).

Quando passa a tratar mais especificamente do acontecimento na

relação com a enunciação, Guimarães considera que a temporalidade é

definida pelo acontecimento enunciativo, que estabelece um presente

que recorta um passado e projeta um futuro. Para o autor,

algo é acontecimento enquanto diferença na sua própria ordem.

E o que caracteriza a diferença é que o acontecimento não é um

fato no tempo. Ou seja, não é um fato novo enquanto distinto de

qualquer outro ocorrido antes no tempo. O que o caracteriza

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EUFEMIZAÇÃO NO ACONTECIMENTO ENUNCIATIVO

E SEUS EFEITOS NA DESCRIÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA

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como diferença é que o acontecimento temporaliza. Ele não está

num presente de um antes e um depois no tempo. O

acontecimento instala sua própria temporalidade: essa a sua

diferença (GUIMARÃES, 2002, p.11-12).

Nesse caso, o presente do acontecimento recorta o passado, como

memorável2, isto é, trata-se de uma “rememoração de enunciações”

recortada pelo presente do acontecimento. Ao mesmo tempo,

estabelece-se um futuro, uma projeção de interpretação e é nessa

relação temporal no acontecimento de linguagem, observada a partir da

textualidade, que os sentidos se constituem.

Considerando a noção de enunciação como acontecimento de

linguagem, passemos agora à textualidade. Os procedimentos de

reescrituração e de articulação entre as palavras são os responsáveis

pela textualidade.

Segundo Guimarães, o procedimento de reescrituração

(...) é o procedimento pelo qual a enunciação de um texto rediz

insistentemente o que já foi dito fazendo interpretar uma forma

como diferente de si. Este procedimento atribui (predica) algo ao

reescriturado (2007, p.84).

Ou seja, a reescrituração é o procedimento de redizer uma palavra

pela sua repetição, por outras palavras que a substituem, expandem,

condensam, a definem, ou pelo apagamento da palavra (elipse),

produzindo-se, assim, sentidos.

Carolina de Paula Machado

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Línguas e Instrumentos Linguítiscos – Nº 33 - jan-jun 2014

Por outro lado, segundo o autor, a articulação “diz respeito às

relações próprias das contigüidades locais. De como o funcionamento

de certas formas afetam outras que elas não redizem” (GUIMARÃES,

2007, p.88). Nesse caso, trata-se da maneira como uma palavra se

articula a outra, seja através de conjunções, de preposições, por

exemplo.

Outra questão que consideramos importante destacar é a relação

integrativa3 dos enunciados no texto (GUIMARÃES, 2002), ou seja, o

sentido de uma palavra e do enunciado depende do texto que integram,

isto é, o sentido de uma palavra depende do sentido do texto do qual ela

faz parte.

A utilização desses conceitos permitiu que percebêssemos que, na

medida em que o autor ia descrevendo as relações sociais entre brancos

e negros, dominadores e escravos, na obra que analisamos – Raízes do

Brasil –, havia uma série de expressões que descreviam como essas

relações aconteciam e que essas expressões estavam relacionadas

semanticamente com o domínio semântico de determinação da palavra

preconceito se consideramos a história de enunciações dessa palavra.

2. Análise

i) Reescrituração por repetição da palavra preconceito

Primeiramente, vejamos as reescrituras da palavra preconceito por

repetição que estão em negrito, que ocorrem nos seguintes recortes

retirados da obra Raízes do Brasil:

1) Outras ocupações reclamam agora igual eminência, ocupações

nitidamente citadinas, como a atividade política, a burocracia, as

A PRODUÇÃO DE SENTIDOS ATRAVÉS DA

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profissões liberais. É bem compreensível que semelhantes ocupações

venham a caber, em primeiro lugar, à gente principal do país, toda ela

constituída de lavradores e donos de engenhos. E que, transportada de

súbito para as cidades, essa gente carregue consigo a mentalidade, os

preconceitos e, tanto quanto possível, o teor de vida que tinham sido

atributos específicos de sua primitiva condição (HOLANDA, 1995,

p.82).

2) Dos fidalgos portugueses que andavam então pelas partes do Oriente

sabemos como, apesar de toda a sua prosápia (altivez, orgulho), não

desdenhavam os bens da fortuna, mesmo nos casos em que, para

alcançá-los precisassem desfazer-se até certo ponto de preconceitos

associados à sua classe e condição (Ibidem, p.136).

3) A relativa inconsistência dos preconceitos de raça e de cor (Ibidem,

p.184).

4) A tese das origens especificamente protestantes dos modernos

preconceitos raciais, e, em última análise das teorias racistas, é

atualmente defendida com ênfase pelo historiador inglês Arnold J.

Toynbee (Ibidem, p.198).

No primeiro recorte, o preconceito é atribuído à gente dos engenhos

que o traz para a cidade. Engenho é oposto à cidade, oposição que

remete ao memorável da oposição entre rural/urbano, então vamos

Carolina de Paula Machado

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considerar que cidade está no domínio antonímia com engenho (meio

rural) e que palavra preconceito determina4 o sentido de engenho.

No segundo recorte temos a articulação de preconceito à expressão

associados a sua classe e condição articulação que nos leva a

considerar que se trata de um tipo de preconceito, o preconceito de

classe. Mas é preciso atentar que o Locutor explica que os fidalgos

portugueses desfaziam-se dos preconceitos quando precisavam.

E temos mais dois tipos de preconceito elencados nos dois últimos

recortes, o preconceito de raça/ preconceitos raciais e preconceito de

cor. O que podemos então ver são especificações para a palavra

preconceito que mostram tipos distintos de preconceitos mencionados

pelo autor da obra a partir da sua descrição da formação da sociedade

brasileira. Vejamos o Domínio Semântico de Determinação (DSD)5 da

palavra até agora:

Observando esse DSD especificações não dizem muito do sentido

que a palavra preconceito tem na obra analisada.

preconceitos raciais/de raça

fidalguia ├ Preconceito ┤ preconceitos de cor

Engenho (rural)

___________________________________________

citadino

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E SEUS EFEITOS NA DESCRIÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA

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Línguas e Instrumentos Linguítiscos – Nº 33 - jan-jun 2014

Podemos perceber que na descrição do Locutor os preconceitos são

da vida do engenho (meio rural) e quem os tem são os lavradores e os

donos de engenho. Por outro lado, o Locutor afirma que os fidalgos

portugueses desfazem-se deles quando precisam, e afirma uma “relativa

inconsistência” dos preconceitos. Ora o Locutor fala de uma posição

em que afirma a existência do preconceito entre fidalgos, entre

trabalhadores e senhores de engenho, ora fala de uma posição em que

considera relativamente inconsistente os preconceitos ou afirma que os

fidalgos portugueses desfazem-se deles.

ii) O apagamento da palavra ou reescrituração por substituição

Buscando saber mais sobre a significação da palavra preconceito na

obra Raízes do Brasil, observamos que ela era retomada no texto através

de outras expressões que a substituem mesmo não estando diretamente

articuladas a ela no funcionamento sintático.

Essas expressões não foram tomadas aleatoriamente no texto.

Chegamos a elas através de palavras que têm relações de sentidos com

a palavra preconceito por sua história de enunciações, observadas em

outras obras por nós analisadas6. Assim, selecionamos recortes nos

quais encontramos certas expressões que estabelecem, no

acontecimento enunciativo, relações de sentido com a palavra

preconceito por estarem também especificadas por palavras ou

expressões que remetem a de cor e de raça.

Outro critério utilizado foi o do contexto imediato: o Locutor estava

descrevendo como se dava as relações entre

brancos/portugueses/dominadores/donos de engenho/homens de cor/

escravos/trabalhadores, quando justamente a palavra preconceito serve

como categoria explicativa da sociedade, mas que nos recortes não

Carolina de Paula Machado

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Línguas e Instrumentos Linguítiscos – Nº 33 - jan-jun 2014

aparece. Além disso, há uma certa regularidade sintática, pois as

expressões são complementos verbais.

Vejamos, então, as expressões que estão sublinhadas nos recortes

que seguem:

(5a) A vida parece ter sido aqui incomparavelmente mais suave,

mais acolhedora das dissonâncias sociais, raciais e morais.

(5b) (...) Nossos colonizadores eram, antes de tudo, homens que

sabiam repetir o que estava feito ou o que lhes ensinara a rotina. Bem

assentes no solo, não tinham exigências mentais muito grandes e o

Céu parecia-lhes uma realidade excessivamente espiritual, remota,

póstuma, para interferir em seus negócios de cada dia. A isso cumpre

acrescentar outra face bem típica de sua extraordinária plasticidade

social: a ausência completa ou praticamente completa, entre eles, de

qualquer orgulho de raça.

(6a) Compreende-se, assim, que já fosse exíguo o sentimento de

distância entre os dominadores, aqui, e a massa trabalhadora

constituída de homens de cor.

(6b) O escravo das plantações e das minas não era um simples

manancial de energia, um carvão humano à espera de que a época

industrial o substituísse pelo combustível. Com freqüência as suas

relações com os donos oscilavam da situação de dependente para a

de protegido, e até de solidário e afim.

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Sua influência penetrava sinuosamente o recesso doméstico, agindo

como dissolvente de qualquer idéia de separação de castas ou

raças, de qualquer disciplina fundada em tal separação.

(6c) Era essa a regra geral: não impedia que tenham existido casos

particulares de esforços tendentes a coibir a influência excessiva do

homem de cor na vida da colônia (...).

(6d) Mas resoluções como essa – decorrentes, ao que consta, da

conjuração dos negros e mulatos, anos antes, naquela capitania –

estavam condenadas a ficar no papel e não perturbavam seriamente

a tendência da população para um abandono de todas as barreiras

sociais, políticas e econômicas entre brancos e homens de cor, livres

e escravos.

(7) (...) o exclusivismo racista, como se diria hoje, nunca chegou a

ser, aparentemente, o fator determinante das medidas que visavam

reservar a brancos puros o exercício de determinados empregos.

Muito mais decisivo do que semelhante exclusivismo teria sido o

labéu tradicionalmente associado aos trabalhos vis a que obriga a

escravidão (...).

(8) A essas inestimáveis vantagens acrescente-se ainda, em favor

dos portugueses, a já aludida ausência, neles, de qualquer orgulho

de raça.

Carolina de Paula Machado

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Línguas e Instrumentos Linguítiscos – Nº 33 - jan-jun 2014

Nestes recortes, além das palavras e expressões raciais ou de raça e

de cor, também podemos observar outras expressões e palavras que

geralmente podem aparecer determinando a palavra preconceito pela

relação entre o passado de enunciações e o presente do acontecimento

enunciativo. São elas:

a) locução adjetiva e adjetivos: de castas, morais, sociais.

b) os substantivos e expressões (sintagmas nominais): dissonâncias;

orgulho; sentimento de distância; ideia de separação; esforços tendentes

a coibir; barreiras; exclusivismo.

Os substantivos e as expressões em (b) remetem à palavra

preconceito. Podemos considerar que enunciadas no acontecimento

enunciativo, reescrevem a palavra preconceito por substituição e, nessa

medida, atribuem-lhe certos sentidos, constituindo-se então o que a

palavra designa nos recortes analisados. Elaboramos então o seguinte

DSD com os núcleos dos sitagmas e com dois sintagmas os quais:

O preconceito é uma dissonância social, moral e racial; é o orgulho

de raça; é o sentimento de distância; é uma barreira social, política e

econômica; é um exclusivismo racista; é o esforço que tende a coibir.

Orgulho

dissonâncias ┤ ├ sentimento de distância

Preconceito

barreira ┤ ├ ideia de separação

┬ ┬

Exclusivismo coibição

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Línguas e Instrumentos Linguítiscos – Nº 33 - jan-jun 2014

O preconceito que é referido pelo Locutor nos recortes é sempre dos

brancos contra os negros: dominadores (portugueses), brancos,

colonizadores contra a massa trabalhadora; homens de cor, livres e

escravos.

É preciso atentar também para a articulação entre as expressões no

texto. Nos recortes em questão, há negação das expressões destacadas

de forma direta ou a amenização do preconceito. Vejamos as expressões

em negrito que se articulam, através de preposições, de artigos, às

expressões que consideramos serem reescrituras de preconceito:

5a’) a vida parece ter sido aqui incomparavelmente mais suave,

mais acolhedora das dissonâncias sociais, raciais e morais.

5b’) a ausência completa ou praticamente completa, entre eles, de

qualquer orgulho de raça.

6a’) que já fosse exíguo o sentimento de distância entre os

dominadores, aqui, e a massa trabalhadora constituída de homens de

cor.

6b’) agindo como dissolvente de qualquer idéia de separação de

castas ou raças,

Carolina de Paula Machado

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Línguas e Instrumentos Linguítiscos – Nº 33 - jan-jun 2014

6c’) casos particulares de esforços tendentes a coibir a influência

excessiva do homem de cor na vida da colônia (...).

6d’) para um abandono de todas as barreiras sociais, políticas e

econômicas entre brancos e homens de cor, livres e escravos.

7’) exclusivismo racista, como se diria hoje, nunca chegou a ser,

aparentemente, o fator determinante das medidas que visavam

reservar a brancos puros o exercício de determinados empregos (...)

8’) a já aludida ausência, neles, de qualquer orgulho de raça.

Vejamos o desdobramento de enunciadores no enunciado (5a’), em

que E significa enunciador:

E1: a vida aqui tem dissonâncias sociais, raciais e morais; (pressuposto)

E2: a vida parece ter sido incomparavelmente mais suave, mais

acolhedora das dissonâncias sociais, raciais e morais.

Podemos perceber nesses enunciados que há um enunciador (E1)

que afirma, de forma genérica, a existência das dissonâncias sociais,

raciais e ao mesmo tempo em que há um enunciador individual (E2),

A PRODUÇÃO DE SENTIDOS ATRAVÉS DA

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E SEUS EFEITOS NA DESCRIÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA

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Línguas e Instrumentos Linguítiscos – Nº 33 - jan-jun 2014

que ameniza, atenua a afirmação da existência das dissonâncias através

de expressões que minimizam a existência delas (incomparavelmente

mais acolhedora; mais suave) por parte dos brancos puros / portugueses

/ colonizadores / dominadores / senhores / donos contra os homens de

cor / trabalhadores / escravos.

Nos demais recortes – 5b’, 6a’, 6b’, 6c’, e 7’ –, esse funcionamento

se repete, sendo que apenas nos enunciados 6d’ e 8’ não há a atenuação,

sendo negada a existência do orgulho de raça e das barreiras sociais. O

locutor enuncia de uma posição de amenizar e de negar a existência

dessas reescriturações de preconceito.

O locutor minimiza, ameniza a existência, por parte dos portugueses

/ dominadores / brancos puros / donos, de dissonâncias sociais, morais,

raciais; do orgulho de raça; do sentimento de distância; ideia de

separação; da coibição da influência; das barreiras sociais, políticas e

econômicas; e do exclusivismo racista contra os homens de cor;

escravos; trabalhadores. Desse modo, consideramos as reescriturações,

nesse acontecimento, como uma forma de eufemismos.

3. Eufemismo e Tabu

A partir da análise acima realizada, em que ocorre um movimento

semântico de amenizar o preconceito, faremos uma breve reflexão

sobre o eufemismo. Benveniste (1974) em um artigo intitulado “La

blasphémie et l’euphémie” discute a blasfêmia associando-a à eufemia7.

O autor analisa especificamente expressões religiosas ao tratar da

blasfêmia e afirma que a eufemia é simetricamente oposta à blasfêmia.

Carolina de Paula Machado

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Línguas e Instrumentos Linguítiscos – Nº 33 - jan-jun 2014

(...) o léxico da imprecação ou, se se preferir, o repertório das

locuções blasfêmicas, tem sua origem e encontra sua unidade

numa característica singular: ele procede da necessidade de

violar a interdição bíblica de pronunciar o nome de Deus. A

blasfemia é de ponta a ponta um processo de fala; ela consiste,

de uma certa maneira, em substituir o nome de Deus por sua

injúria (BENVENISTE,1974, p.259-260).

A blasfêmia, no domínio discursivo da religião, é relacionada ao

tabu, tal como é descrito por Freud e retomado por Benveniste:

O tabu (...) é uma proibição muito antiga, imposta de fora (por

uma autoridade) e dirigida contra os desejos mais intensos do

homem. A tendência a transgredi-la persiste em seu inconsciente,

os homens que obedecem ao tabu são ambivalentes em relação

ao tabu. (FREUD apud BENVENISTE, 1974, p.260).

A blasfêmia então é uma forma de profanar o nome de Deus, nome

este proibido de ser dito fora do culto ou em situações que não sejam

solenes.

Segundo o autor, a expressão blasfêmica consiste em uma

exclamação, como exemplo, ele cita a expressão em francês “Nom de

Dieu!” (nome de Deus!). A censura da exclamação blasfêmica suscita,

segundo ele, uma “eufemia”. Vejamos então aquilo que o autor chama

de eufemia:

A PRODUÇÃO DE SENTIDOS ATRAVÉS DA

EUFEMIZAÇÃO NO ACONTECIMENTO ENUNCIATIVO

E SEUS EFEITOS NA DESCRIÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA

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Línguas e Instrumentos Linguítiscos – Nº 33 - jan-jun 2014

A eufemia não refreia a blasfemia, ela a corrige na sua expressão

de fala e a desarma enquanto imprecação. Ela conserva o quadro

locucional da blasfemia, mas introduz três espécies de

modificações:

1. A substituição do nome de “Deus” por qualquer termo

inocente: (“nom d’une pipe!” [nome de um cachimbo!],(“nom

d’un petit bonhomme!”[nome de um homenzinho!] ou (bon sang!

[“bom sangue!”]);

2. A mutilação do vocábulo “Dieu” [Deus] por aférese da final

“par Dieu!”> pardi!” ou a substituição de uma mesma

assonância: “parbleu!”;

3. A criação de uma forma de non-sense no lugar da expressão

blasfêmica: “par le sang de Dieu!” transforma-se em

“palsambleu!”, “je renie Dieu! Torna-se “jarnibleu!”. (p.262).

Desse modo, segundo o autor, a eufemia retira o sentido da

blasfêmia. “Assim anulada, a blasfêmia faz alusão a uma profanação de

linguagem sem realizá-la e preenche sua função psíquica, mas

desviando-a e disfarçando-a” (p.262). A noção de eufemia está

intrinsecamente relacionada à blasfêmia, e, portanto, a uma substiuição

de palavras religiosas, mais especificamente do nome de Deus.

Silveira Bueno (1965) trata da questão do eufemismo relacionando-

o, também, com o tabu, mas não especificamente com a blasfêmia. Para

este autor, o tabu significa “uma palavra, um vocábulo que não pode ser

dito em público, numa determinada comunidade social” (p.189). Já o

eufemismo “é o sinônimo, a perífrase que se deve usar em lugar da

palavra direta para amenizar, diminuir, velar o significado rebarbativo

ou cru que a sociedade repele” (SILVEIRA BUENO, 1965, p.189).

Carolina de Paula Machado

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Línguas e Instrumentos Linguítiscos – Nº 33 - jan-jun 2014

Nesta definição, o eufemismo tem como contraparte um tabu

simbolizado por uma palavra a qual é substituida por uma palavra

sinônima com um sentido “ameno”. O tabu, segundo o autor, ocorre por

causa da existência da malícia e do medo na humanidade. Ele dá como

exemplo disso, dentre outros, a folha de parra de Adão que teria sido o

primeiro objeto eufêmico conhecido.

Ainda, segundo ele, os tabus e os eufemismos variam de acordo com

a época e com a cultura de cada povo. A “tabuização” (sic) de uma

palavra acontece porque é atribuida uma força que é intrínseca às

palavras. Estas seriam capazes de produzir concretamente o que elas

significam havendo palavras boas, que carregam a felicidade e palavras

ruins, que carregam o azar e que são maléficas. Como causas das

palavras-tabu ele aponta também o “temor supersticioso”, “o

sentimento de polidez” e a “moralidade”.

Do lado da retórica literária, Lausberg (2004) relaciona o eufemismo

à noção de tropos. Ele explica que esta noção diz respeito à passagem

de um conteúdo primitivo de um corpo de palavra para outro conteúdo

e “a função principal do tropos é o estranhamento”. Ele dá como

exemplo a seguinte frase:

i. Aquiles é um leão.

Nessa frase, o conteúdo frásico é “Aquiles é um guerreiro feroz” e

desse modo, houve uma substituição do conteúdo primitivo do corpo da

palavra leão. “Animal feroz” era o conteúdo primitivo de “leão” e é

substituído por “guerreiro feroz”. A substituição, segundo ele, pode se

tornar uma necessidade, como no caso em que seja necessário banir os

“verba propria”, isto é, os tabus.

A PRODUÇÃO DE SENTIDOS ATRAVÉS DA

EUFEMIZAÇÃO NO ACONTECIMENTO ENUNCIATIVO

E SEUS EFEITOS NA DESCRIÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA

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Línguas e Instrumentos Linguítiscos – Nº 33 - jan-jun 2014

Em nota de rodapé, Lausberg explica que o eufemismo é “a

substituição de uma palavra proibida por tabu” (p.145), ou seja, trata-

se da substituição da palavra que não pode circular por causa da

interdição provocada pelo tabu. Assim, a passagem de um conteúdo

primitivo de um corpo de palavra para outro conteúdo é o que ele chama

de tropos, e o eufemismo seria a substituição de uma palavra proibida

de ser pronunciada por causa da existência do tabu, havendo assim a

substituição de conteúdo.

A partir do que os autores afirmaram, podemos compreender que o

eufemismo é uma palavra que subistiui outra palavra impedindo a sua

circulação por causa da proibição de uma palavra tabu, que pode ser

moral, religiosa, etc, como uma forma de impedir o(s) sentido(s) da

palavra inicialmente utilizada fazendo circular outro(s) sentido(s) com

a palavra substituta.

Os três autores acima citados colocam o tabu como o que produz a

necessidade de substituir uma palavra tabu por um eufemismo.

Lausberg e Silveira Bueno analisam o eufemismo sem considerar a

circulação da palavra na enunciação, no texto, o que possibilita

inclusive que Silveira Bueno considere haver uma força que é própria

às palavras.

Já Benveniste, para tratar da eufemia, analisa a enunciação de frases

exclamativas, mas não no texto, e considera o locutor como centro,

responsável pela enunciação, e assim pela produção do sentido8.

Por outro lado, em outro artigo, intitulado “Eufemismos antigos e

modernos”, Benveniste também discute a explicação do termo grego do

qual eufemismo é proveniente. Segundo ele, os dicionários definem o

termo grego de duas maneiras: “dizer palavras de bom augúrio” e

“evitar as palavras de mau augúrio”. Benveniste afirma que é a primeira

definição, a “positiva”, a mais adequada para o termo grego. Além

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disso, analisando palavras que afirma serem eufemismos, o autor nos

diz que

É preciso, para apreciar um eufemismo, reconstituir tanto quanto

possível as condições de emprego no discurso falado (...). Só a

situação determina o eufemismo. E essa situação, conforme seja

permanente ou ocasional, modifica o tipo da expressão

eufemística segundo normas próprias de cada língua.

(BENVENISTE, 1966, p. 342).

Ele mostra assim que são as condições de emprego que vão definir

se uma expressão ou palavra é ou não um eufemismo. Como no

enunciado: “se me acontecer algo (=se eu morrer)” (p.342), em que algo

pode ser um eufemismo de morrer se as condições de emprego assim o

permitirem. A questão então é pensar o que faz com que uma palavra

seja um eufemismo de outra, no emprego da língua.

Buscamos então pensar a substituição de uma palavra por outra no

funcionamento enunciativo no texto considerando a história, o social, o

político e o sujeito, não como centro, na produção do sentido.

A análise do funcionamento da palavra preconceito e das palavras e

expressões que a substituem mostrou que a eufemização acontece com

a reescrituração por substituição, com a amenização através de outras

palavras articuladas, e, também, pelo memorável recortado no

acontecimento, isto é, pelos sentidos que circulam no presente do

acontecimento que determinam preconceito atribuindo-lhe sentidos.

4. Algumas considerações

A relação entre as expressões grifadas nos recortes 5b’, 6a’, 6b’, 6c’,

6d’ , 7’, 8’ e a palavra preconceito se dá de forma indireta, ou seja, estão

distantes no texto numa relação transversal que rompe a

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segmentalidade, relacionadas, portanto, semanticamente no

acontecimento enunciativo, sendo preciso levar em consideração a

exterioridade, isto é, a história de sentidos da palavra em outras

enunciações para que se compreenda que preconceito e as expressões

grifadas pertencem ao mesmo domínio semântico de determinação.

A análise enunciativa das expressões no funcionamento textual da

obra Raízes do Brasil mostra o que a palavra preconceito designa pela

sua substituição por expressões que expandem o seu sentido

significando-a como dissonância social, moral e racial; como orgulho

de raça; como sentimento de distância; como uma barreira social,

política e econômica; como um exclusivismo racista; como o esforço

que tende a coibir. O locutor-autor-sociólogo-historiador enuncia como

enunciador individual, de uma posição sujeito que minimiza e até

mesmo nega a existência desses sentidos que substituem a palavra

preconceito no texto quando descreve as relações sociais entre brancos

e negros (“homens de cor”).

Com a reescrituração da palavra através de outras expressões de

forma constante ao longo do texto, a circulação da palavra preconceito

é suspensa e as expressões que a substituem são minimizadas e negadas.

Assim, ao invés de considerarmos o eufemismo como a palavra que

substitui a palavra tabu, entendemos que há um processo de

eufemização em que há a substituição da palavra preconceito por outras

palavras e expressões que são articuladas a palavras e/ou expressões

que as minimizam, que as amenizam ou que as negam. O procedimento

de reescrituração através do qual vai se dando a textualidade é feito

através não apenas da substituição mas através das articulações à

adjetivos e advérbios. Assim, a combinação da reescritura por

substituição com a articulação produz a eufemização, configurando-se

como procedimento de reescritura por substituição por eufemização.

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Deste modo, ao significar o preconceito como separação,

exclusivismo, distanciamento, orgulho, coibição e, negando a sua

existência e amenizando-a, descreve-se uma sociedade brasileira em

que as relações sociais, trabalhistas, etc, entre negros e brancos se dão

como uma convivência quase que harmônica, com a ausência, ou quase

ausência de preconceito contra os negros ou “homens de cor”. E é

justamente com a eufemização que se dá a contradição: apesar do

impedimento da circulação da palavra preconceito, ainda assim

circulam os sentidos de preconceito através da história de enunciações.

Notas

1 Refiro-me aqui as análises realizadas em minha dissertação de mestrado intitulada “A designação da palavra preconceito em dicionários atuais” defendida em 2007, e às outras análises realizadas em minha tese de doutorado intitulada “Política e Sentidos da palavra preconceito: uma história no pensamento social brasileiro na primeira metade do século XX”, defendida em 2011. 2 Schreiber da Silva (2012) trata da especificidade da noção de memorável na relação com a noção de acontecimento, tal como este é definido por Guimarães (2002). Para a autora, o memorável “é o passado pensado de maneira enunciativa e de acordo como tempo no acontecimento” (2012, p.4). 3 Segundo Guimarães (2002), Benveniste propôs a integração considerando-a “como o movimento integrativo de uma unidade lingüística. Para ele, esta relação (integrativa) dá o sentido de unidade. Ou seja, o sentido de um elemento lingüístico tem a ver com o modo como este elemento faz parte de uma unidade maior ou mais ampla” (GUIMARÃES, 2002, p.7). A questão é que Benveniste considerava como unidade mais ampla o enunciado, enquanto que Guimarães propõe considerar o texto como limite. 4 Trata-se da determinação semântica entre palavras que pode se dar no interior de um sintagma nominal. Por outro lado, a predicação é a relação semântica entre sintagma verbal e sintagmas nominais, que é também considerada como uma relação de determinação. Para Guimarães, “uma expressão determina outra na medida em que esta se apresenta como por ela determinada pela enunciação. Isto, por outro lado, levaria a se pensar como o processo enunciativo constrói a língua” (2007, p.79). Oliveira (2006), tratando da determinação e da predicação, faz uma discussão interessante considerando a predicação como uma “relação enunciativa”.

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5 O Domínio Semântico de Determinação (DSD) representa o sentido da palavra. Ele é construído “pela análise das relações de uma palavra com as outras que a determinam em textos em que funciona” (GUIMARÃES, 2007, p.80). O sinal ˧ significa “determina”, tal como explicado na nota anterior. 6 Em nossa tese de doutorado intitulada “Política e sentidos da palavra preconceito: uma história no pensamento social brasileiro na primeira metade do século XX”, analisamos mais três obras que analisam a formação da sociedade brasileira: Casa-grande e Senzala, de Gilberto Freyre; Evolução do povo Brasileiro, de Oliveira Vianna; Formação do Brasil contemporâneo, de Caio Prado Júnior, todas da primeira metade do século XX.. Além disso, em nossa dissertação de mestrado, também analismos os sentidos da palavra preconceito nas definições lexicográficas de um conjunto de dicionários do século XX e início do século XXI. 7 A palavra eufemia é a tradução da palavra euphémie na edição em português do artigo, do original em francês. 8 O autor define enunciação como um “processo de apropriação”, “o locutor se apropria do aparelho formal da língua e enuncia sua posição de locutor por meio de índices específicos (...)” (Benveniste, 1989, p. 84).

Referências bibliográficas BENVENISTE, E. (1966). Problemas de Linguística Geral I. Campinas:

Pontes, 1988. ______. (1974). Problemas de Linguística Geral II. Campinas: Pontes,

1989. BUENO, S. (1965). Tratado de Semântica Brasileira. São Paulo: Edição

Saraiva, 4ª ed. GUIMARÃES, E. (2002). Semântica do Acontecimento. Campinas: Pontes,

2002. ______. (2007). “Domínio Semântico de Determinação”. In: GUIMARÃES,

E.; MOLLICA, M. (orgs.). A Palavra: Forma e Sentido. Campinas: RG/Pontes.

______. (1995). Os Limites do sentido: um estudo histórico e enunciativo da linguagem. Campinas: Pontes, 2002, 2ª ED.

HOLANDA, S. B. (1936). Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

LAUSBERG, H. Elementos de Retórica Literária. (1967). Lisboa: Fundação Calouste Gubenkian, 2004.

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OLIVEIRA, S. E. (2006). Cidadania: história e política de uma palavra.

Campinas: Pontes, RG Editores. PAULA MACHADO, C. de. (2011). Política e sentidos da palavra

preconceito: uma história no pensamento social brasileiro na primeira metade do século XX. Tese de doutorado. Campinas: IEL/Unicamp.

SCHREIBER DA SILVA, S. (2012). “O memorável na relação entre línguas”. In: Web Revista discursividade. Edição em homenagem ao prof. Dr. Eduardo Guimarães. Edição número 9, Janeiro/2012 –Julho/2012. Disponível em: http://www.discursividade.cepad.net.br/EDICOES/09/09.htm Acesso em: 01/10/2014. Palavras-chave: preconceito, eufemização, enunciação Keywords: prejudice, euphemization, enunciation

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