a problemÁtica em relaÇÃo Às caracterÍsticas ... · dalva maria righi dotto 2 resumo o...

24
II Seminário Internacional sobre Desenvolvimento Regional Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional Mestrado e Doutorado Santa Cruz do Sul, RS – Brasil - 28 setembro a 01 de outubro. A PROBLEMÁTICA EM RELAÇÃO ÀS CARACTERÍSTICAS COMPETITIVAS DE INTERDEPENDÊNCIA DA PEQUENA E MICRO EMPRESA DO SETOR DO VESTUÁRIO DE SANTA CRUZ DO SUL Milton Luiz Wittmann 1 Dalva Maria Righi Dotto 2 Resumo O desenvolvimento regional e a nova concepção de mercado tornaram difícil a tarefa de adequar a gestão regional, relativas a estratégias de micro e pequenas empresas a essa nova realidade, cuja configuração criou a necessidade dos governos nacionais e regionais e empresas redirecionarem suas estratégias voltadas para atender este novo ambiente concorrencial. Esse estudo justifica-se pelo alto número de micro e pequenas empresas, que segundo SEBRAE (1999) respondem por 98% do total de empresas do Brasil, responsáveis por 28% do PIB (Produto Interno Bruto) e representam 43% da mão-de-obra ocupada, informações estas que nos lembram a importância deste segmento na economia nacional. A pesquisa baseou-se no método descritivo utilizando- se da técnica de levantamento com aplicação de questionário na forma de entrevistas junto a uma amostra de 22 micro e pequenas empresas inscritas no Sindicato dos Empregados do Vestuário de Santa Cruz do Sul. Como conclusões principais verificou- se que a grande maioria das empresas (64%) segue o ramo de confecções em geral, sendo as demais fabricantes de produtos esportivos, para festas e roupas íntimas e malharia, sacolas, bolsas e cortinas e 55% direto ao consumidor e 45% vendem para outras empresas. Em relação aos concorrentes, as micro empresas são as que oferecem maior concorrência para as empresas entrevistadas e, para 59% das empresas, a principal estratégia para superar os concorrentes é diferenciação do produto. 1 Doutor pela FEA/USP, Prof. do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional – Mestrado e Doutorado da UNISC e líder do Grupo de Pesquisa ESCORE. Prof. dos Programas de Pós- Graduação em Administração e Engenharia de Produção da UFSM. [email protected] 2 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional – Mestrado e Doutorado da UNISC, participante do Grupo de Pesquisa ESCORE e professora do Departamento de Ciências Administrativas da UNSIC.

Upload: dodiep

Post on 11-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

II Seminário Internacional sobre Desenvolvimento Regional Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional Mestrado e Doutorado Santa Cruz do Sul, RS – Brasil - 28 setembro a 01 de outubro.

A PROBLEMÁTICA EM RELAÇÃO ÀS CARACTERÍSTICAS COMPETITIVAS DE INTERDEPENDÊNCIA DA PEQUENA E MICRO EMPRESA DO SETOR DO VESTUÁRIO DE SANTA CRUZ DO SUL

Milton Luiz Wittmann1 Dalva Maria Righi Dotto2

Resumo

O desenvolvimento regional e a nova concepção de mercado tornaram difícil a

tarefa de adequar a gestão regional, relativas a estratégias de micro e pequenas empresas

a essa nova realidade, cuja configuração criou a necessidade dos governos nacionais e

regionais e empresas redirecionarem suas estratégias voltadas para atender este novo

ambiente concorrencial. Esse estudo justifica-se pelo alto número de micro e pequenas

empresas, que segundo SEBRAE (1999) respondem por 98% do total de empresas do

Brasil, responsáveis por 28% do PIB (Produto Interno Bruto) e representam 43% da

mão-de-obra ocupada, informações estas que nos lembram a importância deste

segmento na economia nacional. A pesquisa baseou-se no método descritivo utilizando-

se da técnica de levantamento com aplicação de questionário na forma de entrevistas

junto a uma amostra de 22 micro e pequenas empresas inscritas no Sindicato dos

Empregados do Vestuário de Santa Cruz do Sul. Como conclusões principais verificou-

se que a grande maioria das empresas (64%) segue o ramo de confecções em geral,

sendo as demais fabricantes de produtos esportivos, para festas e roupas íntimas e

malharia, sacolas, bolsas e cortinas e 55% direto ao consumidor e 45% vendem para

outras empresas. Em relação aos concorrentes, as micro empresas são as que oferecem

maior concorrência para as empresas entrevistadas e, para 59% das empresas, a

principal estratégia para superar os concorrentes é diferenciação do produto.

1 Doutor pela FEA/USP, Prof. do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional – Mestrado e Doutorado da UNISC e líder do Grupo de Pesquisa ESCORE. Prof. dos Programas de Pós-Graduação em Administração e Engenharia de Produção da UFSM. [email protected] 2 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional – Mestrado e Doutorado da UNISC, participante do Grupo de Pesquisa ESCORE e professora do Departamento de Ciências Administrativas da UNSIC.

Abstract

Regional development and the new conception of market made difficult to work

to adequate the regional strategies administration of local firms into this new reality,

which configuration produce a demand to change the strategy course of national and

regional government and firms in order to attend the new concurrence environment.

This study warrant because of the high number of local firms. SEBRAE (1999)

indicates that 98 per cent of the entire Brazilian local firms respond for 28 per cent of

PIB and 43 per cent of active engaged labor, information that shows the importance of

this segment to the national economy. The presented research had base on descriptive

methodology and take advantage of a questionnaire that was introduced to a sample of

22 local firms from Santa Cruz do Sul Textile Labor Union. Some interesting

conclusions are making in realizing that most local firms follow general textile

manufacture processes (64%), while others are manufacturing sport’s articles, parties

articles, underwear articles and weft, knapsacks, purses and curtains. The sample

indicates that 55 per cent of all articles produced are launched to end-users, while 45 per

cent are launched to retailers. Another important observation is that the concurrence

came from small industries and 59 per cent of sample indicates that the most important

strategy used to overcome the concurrence is the product differentiation strategy.

1 Introdução

O desenvolvimento regional depende de vários fatores, sejam eles sociais,

culturais, políticos ou econômicos. Neste sentido, essa pesquisa sobre características de

interdependência de micro e pequenas empresas, reveste-se de relevância social, pois se

volta para uma pesquisa em cujo setor verificam-se altos índices de mortalidade que

geram transtornos sociais, como o desemprego e a estagnação econômica local e

regional. Ressalva-se que o grande número de empresas deste porte é predominante

dentro da economia mundial e responsável pelo maior número de postos de trabalho e

por grande percentual da arrecadação de tributos. O conhecimento das características de

interdependência competitivas de micro e pequenas empresas reveste-se também de

importância, pelo fato de alertá-las em relação às suas deficiências e superá-las de forma

a promover a respectiva sustentabilidade através da formação de parcerias e alianças

empresariais.

Os objetivos propostos neste trabalho consistiram em identificar relações com

fornecedores e clientes e características de interdependência quanto a existência de

investimentos em atividades conjuntas entre as empresas, ações e estratégias utilizadas

para superar concorrentes e as principais dificuldades das micro e pequenas empresas

do setor do vestuário de Santa Cruz do Sul.

2 Problema da pesquisa

A nova concepção da economia, a partir da globalização de mercados, tornou

difícil a tarefa de adequar as micro e pequenas empresas a esta nova realidade. Esse

novo ambiente competitivo, modificado pela introdução de tecnologias avançadas e

pelo processamento em tempo real das informações, criou a necessidade das empresas

redirecionarem suas estratégias.

Observa-se, neste cenário, uma maior complexidade nas relações funcionais do

comércio, de tal modo que cresce a necessidade de formação de alianças, ou seja,

trabalhar de forma associada ou cooperativada com outros empreendimentos alicerçados

no comprometimento de inter-relações entre os membros organizados em redes de

negócios.

Kessler (1998) observa que, ao longo do século XX, o poder econômico se

caracterizou pelo domínio da grande empresa industrial. A pequena empresa, segundo o

autor, nas raríssimas ocasiões em que logrou ser considerada como força econômica, foi

vista como o resquício simpático, porém anacrônico, de uma era econômica mais

simplória, mas causando impacto na transformação do panorama econômico. Apesar de

essenciais para a economia, conforme Heemann (2000), só há muito pouco tempo

percebeu-se que o futuro depende de pequenos estabelecimentos, produzindo renda e

emprego para a grande maioria da população.

Embora, muitas vezes não reconhecido, o papel das micro e pequenas empresas é

muito importante, principalmente no que tange ao número de postos de trabalho e

geração de renda.

Mesmo considerando a grande representatividade no contexto nacional, segundo o

SEBRAE, 80% das pequenas e microempresas abertas anualmente no Brasil, fecham

suas portas antes de completar um ano de existência. Apesar disso, Heemann (2000)

observa que este fechamento ou insolvência não repercute nos ouvidos das

comunidades, porque o reflexo da sucumbência é ínfimo se comparado com o

fechamento/insolvência de uma empresa de grande porte.

Contudo, Lustosa (1986) quando escreve sobre as dificuldades das pequenas

empresas afirma que a crise não é o grande adversário dos pequenos negócios no Brasil.

Ao contrário, ela tem funcionado como elemento propulsor para a expansão das micro e

pequenas empresas, dentro da tecnologia de sobrevivência que a classe média concebeu

para enfrentar o desemprego. O grande inimigo dos pequenos é, segundo o autor, a

cultura do grande, isto é, o condicionamento das elites brasileiras a lidar com os

grandes empreendimentos, de feição oligopolista, caracterizando o que classifica de

síndrome de faraonismo.

Frente a este cenário surge a interrogação: Como as micro e pequenas empresas

industriais do vestuário de Santa Cruz do Sul enfrentam o mercado concorrencial

considerando fatores de interdependência?

3 A competitividade na era da globalização

Está-se passando por um momento da economia e do desenvolvimento

contemporâneo, em que a globalização e, em conseqüência, a competitividade,

tornaram-se as regras do jogo.

Segundo Vigevani (1998), a globalização, enquanto abertura e liberalização dos

mercados, não pode ser encarada como uma novidade absoluta, a não ser pela

formidável aceleração que promoveu e que tem como uma de suas principais causas o

impulso dado pelas novas tecnologias. Os grandes avanços tecnológicos foram

fundamentais para que se chegasse a esta etapa do desenvolvimento social e econômico.

Estas mudanças tecnológicas determinam crescentes dicotomias entre empresas e

trabalhadores caracterizados como incluídos ou excluídos do mercado, devido à

inaptidão dos mesmos aos novos padrões de competitividade.

Quando menciona empresas, Vigevani (1998), lembra que a globalização as faz

pensarem estrategicamente e de forma global, uma vez que elas estão inseridas num

panorama mundial. Conforme o ponto de vista do referido autor, elas têm a obrigação,

se quiserem permanecer e se desenvolver, de atender às exigências de um mercado

transnacionalizado, ou seja, tem-se clientes em todo mundo, mas em contrapartida, há

também concorrentes em nível mundial.

Considerando especificamente a atuação das empresas é importante enfatizar que

a cada dia crescem as exigências. Além da eficiência na administração dos negócios, da

obtenção de resultados e da qualidade dos produtos que oferece a seus clientes, as

empresas devem demonstrar que estão comprometidas com o desenvolvimento da

sociedade como um todo, exercendo a cidadania empresarial. Esta ação compreende a

atividade econômica, geração de empregos, estabelecimento de novas relações de

trabalho que propiciem o desenvolvimento profissional e pessoal para todos os

colaboradores, e principalmente, remunerando tanto o trabalho, o governo e o acionista.

É evidente que as grandes empresas estão plenamente comprometidas com este

processo, sendo que para as micro e pequenas empresas não é simples, mas, se quiserem

permanecer e se desenvolver neste mercado, terão que se adequar com a máxima

urgência. Segundo Casarotto Filho (1998), a globalização cada vez mais acentuada dos

mercados e da produção está pondo em questionamento a competitividade das pequenas

e médias empresas. Lembra ainda que estas empresas dificilmente terão alcance

globalizado se continuarem atuando de forma individual.

Como as empresas necessitam adequar-se a esta globalização, também os

governos, países, estão inseridos neste contexto. Principalmente os países

subdesenvolvidos encontram grandes dificuldades para adequar-se ao sistema. Na

maioria dos casos eles não dominam as tecnologias de ponta e são, por isso, obrigados a

se submeter aos países desenvolvidos. Esta dependência gera déficits na balança

comercial, trazendo graves problemas econômicos.

Para suprir, pelo menos em parte, esta dependência e ganhar projeção e

competitividade no cenário internacional, estes países recorrem a alianças entre blocos

econômicos, a exemplo do Mercosul. Por outro lado os países do primeiro mundo

também formam alianças entre si justamente para obterem mais domínio e opor-se às

alianças dos países terceiro mundistas, a exemplo do Mercado Comum Europeu.

Outro problema que a globalização trouxe, principalmente para os países

subdesenvolvidos, foi a exclusão social, que pode ser entendida como sinônimo de

exclusão do mercado de trabalho (Sen, 2000). A corrida por tecnologia cada vez mais

avançada e a busca pela competitividade faz com que ocorra o interesse pela redução de

custos e aumento da produtividade, ocasionando a redução do número de postos de

trabalho.

Drucker (1996) fala em economia mundial, fazendo as seguintes observações:

a economia mundial tornou-se demasiado importante para que um país não tenha uma

política econômica mundial. O comércio administrativo é uma ilusão de grandeza. O

protecionismo só pode prejudicar. Mas não ser protecionista não basta. O que é necessário é

ter uma política deliberada e ativa, na verdade agressiva, que dê à economia externa, às

suas demandas, oportunidades e dinâmicas, prioridade sobre as demandas e problemas da

economia doméstica (p. 107).

Para Vigevani (1998), exclusão e globalização estão inter-relacionadas, mas não

de maneira unilinear. Ele entende que há tanto oportunidades quanto desvantagens.

Defende o referido autor que o desafio é a construção de instituições, seguramente tanto

em níveis regional e nacional, que possam universalizar os benefícios potenciais da

integração global e assentá-la na integração social.

Observa-se, como conseqüência da exclusão social, o crescente aumento do

subemprego e da informalização, como uma maneira dos excluídos do mercado de

trabalho e do consumo sobreviverem, já que não podem viver com dignidade.

Cabe aqui descrever as principais características da globalização conforme os

apontamentos de Podestà (1998):

- é um processo expansivo que, no campo econômico, vem limitando

drasticamente as opções de política dos Estados;

- conta com o aparecimento ou com o acréscimo de grandes unidades

econômicas que concentram poder cada vez maior, sendo em grande parte,

incontroláveis;

- está impulsionada, sobretudo, pelo comércio, apesar de vir acompanhada de

mudanças tecnológicas radicais, em especial no campo da telemática;

- como processo, está acentuando a polarização social entre os países, apesar

de, ao mesmo tempo, permitir que alguns deles, em grupo numericamente

menor, dinamizem sua economia, aumentando sua riqueza;

- no interior dos países, a globalização tende a ser socioeconomicamente

excludente;

- trouxe consigo o aparecimento de uma espécie de apartheid tecnológico,

apreciável inclusive nos países desenvolvidos;

- não é um processo tão absolutista nem incontestável quanto se pensava em

1990, quando diversos autores expuseram as primeiras teses sobre ele

(p.293).

No Brasil, a globalização tornou-se uma realidade a partir da abertura da

economia no Governo Collor no início da década de 1990. Antes disso o mercado

brasileiro estava protegido da globalização, da concorrência e competição de empresas

estrangeiras. Com a abertura, as empresas brasileiras se viram diante de riscos de sua

competitividade, havendo a necessidade de mudanças estratégicas para não sucumbir.

As questões ligadas à qualidade de produtos e de atendimento, aliados a custos e preços

reduzidos, tornaram-se ferramentas-chave para a sobrevivência das empresas.

Mas, segundo Lettieri (1998), a novidade da globalização não está na abertura

progressiva dos mercados, mas na sua extraordinária aceleração. O tempo passa a ser

um fator determinante associado ao avanço generalizado do mundo eletrônico, das

comunicações e da informática, o que possibilita maior rapidez e precisão na tomada de

decisões.

Eis que surge o que se poderia denominar ociosidade humana ou ainda como

denomina Guerreiro Ramos, citado em Pereira e Fonseca (1997, p. 72) “o homem está

em estado de suspensão, perplexo ante a crise”. Para sobreviver neste contexto precisa

encontrar novas formas para administrar a crise. Um estudo social urge de decisões

políticas adequadas que insiram e adaptem o homem à nova realidade. Precisa encontrar

meios para aliar a tecnologia avançada como ferramenta inovadora para o

desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida em todos os campos.

A globalização da economia não mais perdoa decisões tardias e equivocadas,

sendo relevante que pessoas e empresas desenvolvam altos níveis de eficiência e

eficácia. Oportunidades de negócios terão de ser vislumbradas, estratégias

transformadoras para manter os demandantes fiéis e novos nichos de mercado para a

expansão dos empreendimentos.

Neste contexto, analisando os efeitos da globalização, observa-se que as pequenas

e microempresas são as que mais sofrem seus impactos, uma vez que elas, na sua

grande maioria, não estão preparadas para competir com as grandes empresas, seja em

função de tecnologia ou de recursos financeiros e humanos.

4 Influências da globalização na competitividade

Competitividade é uma palavra que vem acompanhando a economia ao longo da

história, com mais ou menos ênfase nas distintas épocas, mas parece evidente que é na

atualidade que ela recebe mais destaque, constituindo-se em uma das palavras-chave no

mundo globalizado em que vivemos.

Empresas estão constantemente à procura de vantagens competitivas; governos

lamentam-se da sua falta de competitividade no mercado mundial e o mundo está em

busca de conhecimento, pois as perspectivas são de um futuro cada vez mais

competitivo.

O momento pelo qual passa a economia, a globalização tornou-se a regra do jogo

e a concorrência passou a ser internacionalizada. As perspectivas de futuro próximo,

identificadas pelas tendências do mercado, de maior qualidade ao menor preço,

selecionarão os fornecedores dos produtos e serviços. Os clientes por sua vez, elevarão

gradativamente seus padrões de exigência e só serão fiéis quando, em troca, receberem

atendimento personalizado que supere as suas expectativas a custos competitivos,

exigindo um contínuo aprimoramento das práticas administrativas para gerir de maneira

adequada os componentes modificativos de influência deste novo século.

Todo e qualquer processo administrativo é reflexo da aceitação do seu produto

pelo seu público-alvo. Essas relações de negócios são regidas pelo que denominamos

mercado, ingrediente catalisador entre níveis de satisfação de quem demanda, em

contrapartida ao desempenho e habilidades de quem vende.

Avaliar a competitividade requer aprofundar o estudo das vantagens competitivas

que estão vinculadas ao produto, processo de produção, vendas, mercado, relações com

os fornecedores, clientes e concorrentes, políticas de governo, entre outras.

De acordo com Ferraz, Kupfer e Haguenauer (1995), cada empresa é parte

integrante de um sistema que favorece ou restringe seu potencial, de modo que sua

competitividade não depende só das condições internas da empresa. Cada empresa

integra um sistema que favorece ou restringe a sua capacidade competitiva, de modo

que o desempenho alcançado, as estratégias praticadas e a capacitação acumulada não

dependem somente de condutas adotadas por elas. A análise deve levar em conta os

processos internos e as condições econômicas gerais onde a empresa está situada. Os

referidos autores definem competitividade como a capacidade da empresa formular e

implementar estratégias concorrenciais, que lhe permitam ampliar ou conservar, de

forma duradoura, uma posição sustentável no mercado.

Ferraz et al (1995), relatam que as empresas competem em atividades de gestão,

inovação, produção e recursos humanos. Para se obter um determinado desempenho

competitivo, em um momento específico, elas necessitam elaborar e reestruturar

constantemente suas estratégias de atuação a fim de capacitarem-se cumulativamente.

Para tanto, as estratégias podem assumir duas formas distintas: a) agressivas-inovativas

– quando dominam o ritmo do mercado, ou b) passivas imitativas – quando buscam

imitar as inovações da concorrência. Mas acima de tudo as estratégias devem ser

factíveis e economicamente atrativas e, segundo os mesmos autores, associarem-se a

fatores estruturais e sistêmicos.

Em relação aos fatores estruturais, estes são os que sofrem parcialmente a

influência da empresa. Mercado, configuração da indústria, regime de incentivos e

regulação da concorrência constituem fatores estruturais igualmente decisivos para a

competitividade.

Há também os fatores sistêmicos, de origem macroeconômica, político-

institucional, legal-regulatória, social e internacional, sobre os quais a empresa não

exerce nenhum poder, a fim de modificá-los em seu benefício. A competitividade não é

local ou regional, é mundial. Temos que ter consciência de que nossos concorrentes não

estão na nossa rua, cidade ou país. Eles estão espalhados em todo mundo. Produtos de

muitos países lutam por espaço na prateleira de grandes varejistas e compradores. Para

melhor compreensão destes fatos é necessário que olhemos a nossa volta e analisemos a

procedência dos produtos que nos cercam. Portanto, segundo Casarotto Fl. e Pires

“com raríssimas exceções, as empresas, sejam elas de qualquer dimensão ou setor,

encontram-se competindo num mercado internacionalizado” (1998, p. 3).

A pressão dos tempos atuais requer que as empresas convivam com a diversidade

e sejam dinâmicas e abertas para o mercado. As empresas precisam ter um foco de

atuação e se diferenciar nisso. É fundamental localizar as necessidades do consumidor e

satisfazê-lo de uma maneira mais eficiente que a concorrência. Ser competitivo requer

estratégias, qualidade e inovação. Cada empresa possui características únicas que

devem ser usadas como diferencial competitivo.

Cada empresa tem a necessidade de estar preparada estrategicamente para o

mercado globalizado. Porter (1999) enfatiza que a estratégia é vista como a construção

de defesas contra as forças competitivas ou como a descoberta de posições no setor

onde as forças são mais fracas. O conhecimento das capacidades da empresa e das

causas das forças competitivas realçará as áreas em que a empresa deve enfrentar ou

evitar a competição.

Os gerentes de empresas têm atribuído muita importância à definição do negócio

como um passo crucial na formulação da estratégia. Há a importância de olhar para

além do produto e focalizar a função na definição do negócio, de transpor as fronteiras

nacionais, e perquirir o potencial da concorrência internacional e de ultrapassar os

escalões dos concorrentes de hoje, para chegar àqueles que talvez se transformem nos

concorrentes de amanhã. Como resultado dessas premências, a definição adequada do

setor ou dos setores de atuação de uma empresa se tornou objeto de um debate sem fim.

Porter (1999) lembra que o desempenho de qualquer empresa num determinado

ramo de atividade depende do desempenho médio de todos os concorrentes e do

desempenho relativo da empresa no setor.

Quando fala em competitividade no patamar da globalização Carr (1997), afirma

que a geração e o uso do saber serão a chave da sobrevivência em um número cada vez

maior de empresas, mas a chave do êxito será a geração e o uso do saber criativo. Assim

como as grandes organizações, além de procurar o seu nicho de mercado, as micro e

pequenas empresas terão que ser inovadoras e competentes. Elas terão que estar

afinadas com as tendências do futuro, que podem determinar seu sucesso ou fracasso.

5 Competitividade de micro e pequenas empresas

Sendo a competitividade o principal fator propulsor do desenvolvimento ou

fracasso das empresas na era da globalização, vale ressaltar a sua importância para as

micro e pequenas empresas.

As micro e pequenas empresas vêm ganhando maior valorização por parte de

analistas econômicos devido a seu potencial de geração de renda e de emprego e alta

flexibilidade gerencial e operacional. Os pequenos empreendimentos se espalham em

alta velocidade, sendo hoje um dos mais importantes segmentos da economia. Na

maioria dos setores tradicionais da economia, um grande número de pequenos

produtores é responsável por parte significativa da produção total. Portanto, buscar a

competitividade deste segmento requer, de certa forma, estudar as tendências do

mercado.

A globalização da economia, das informações e do mercado, não mais perdoam

decisões tardias, e muito menos equivocadas. É extremamente importante que as

empresas desenvolvam altos níveis de eficiência e eficácia. Oportunidades de negócios

terão que ser vislumbradas, assim como estratégias transformadoras deverão ser

adotadas para manter os demandantes fiéis e novos nichos de mercado devem ser

buscados para a expansão dos empreendimentos. Portanto, haverá maior probabilidade

de desenvolvimento para as empresas de pequeno porte, para aquelas que estiverem

alicerçadas sobre bases tecnológicas e capital humano intelectual qualificado, a fim de

conduzir suas decisões de forma continuada e sustentável no sentido de se tornarem

mais competitivas e inovadoras, colocando sempre em evidência o cliente. Dessa forma

garantirão a liderança em seus segmentos de atuação avançando cada vez mais para o

domínio definitivo dos seus mercados.

6 Formas alternativas de obter mais competitividade

Na busca de alternativas que elevem as vantagens competitivas, pode-se perceber

um crescimento de parcerias entre empresas. Estas parcerias têm como um dos seus

objetivos atender o consumidor que está cada vez mais exigente, devido à abertura de

fronteiras que levam ao seu alcance uma maior diversidade de ofertas no mercado.

Casarotto Fl. e Pires (1998) lembram que sem dúvida, a não ser que a pequena

empresa tenha um bom nicho de mercado global, dificilmente terá alcance globalizado

se continuar atuando de forma individual. Mas mesmo que ela tenha um mercado

global, não está livre de, a qualquer momento, ser atropelada por uma empresa do

exterior, em seu tradicional mercado.

Pode-se observar na prateleira de qualquer supermercado a exposição de produtos

de vários países competindo de igual para igual com produtos nacionais. Nesta guerra,

acaba conquistando o cliente aquele que lhe oferecer maior custo-benefício, ou seja,

desenvolvem-se estratégias para se defender de concorrentes de qualquer parte do

mundo.

Gabrio Casadei Lucchi, citado por Casarotto Fl e Pires (1998), afirma que a

pequena empresa, operando de modo individualizado, não poderá mais servir como um

modelo empresarial para o futuro. Ela deve, além de manter os fatores de sucesso

experimentados até agora, investir em velocidade e responsividade, inserindo-se em

redes relacionais.

De acordo com Casarotto Fl. e Pires (1998), pequenas empresas normalmente são

mais ágeis e flexíveis do que grandes empresas. Se elas puderem agregar vantagens de

grandes empresas em função da logística, marca ou tecnologia, elas terão grandes

chances de competição.

Um exemplo concreto de associativismo de empresas, conhecido

internacionalmente é relatado por Putnam (2002) em pesquisa feita na Itália, na qual

pequenas empresas têm demonstrado que podem continuar pequenas e adquirir maior

competitividade, contudo detectou também a existência de capital social.

Tecnicamente a base das redes é juntar esforços em funções em que se necessita

de uma escala maior para a viabilidade competitiva. Neste tipo de parceria é

fundamental que as empresas colaborem entre si, e não se comportem como

concorrentes, mas sim como cooperativados e que estejam na busca do mesmo objetivo.

Além das redes, uma alternativa para desenvolver competitividade pode ser os

clusters. Teoricamente, mercados internacionais mais abertos, transportes e

comunicações mais velozes deveriam diminuir as disparidades e distâncias geográficas

entre as empresas. Afinal, tudo pode ser eficientemente comprado a distância. Porter

(1999) defende a idéia de que, em uma economia globalizada, muitas vantagens

competitivas dependem de fatores locais; por isso ganham importância as concentrações

geográficas das empresas. O autor aposta na formação de clusters (grupos,

agrupamentos ou aglomerados) que são concentrações geográficas de empresas de

determinado setor de atividade e organizações correlatas, de fornecedores de insumos a

instituições de ensino e clientes. Como exemplo brasileiro de cluster pode-se citar o

caso dos fabricantes de cristais ao redor de Blumenau (SC).

Nos clusters a concorrência convive com a cooperação, pois as duas concorrem de

forma a confluir interesses entre os partícipes. Nos clusters as redes, alianças e parcerias

se constituem uma alternativa de organização da cadeia de valor, mas com a vantagem

de não impor às empresas as características de inflexibilidade da integração vertical ou

os desafios de criar e manter uma simples fusão.

Os clusters podem ser uma boa alternativa para países pobres e em

desenvolvimento, uma vez que estes têm o poder de promover o desenvolvimento

regional. No entanto, para que ocorra a formação de clusters nestes países, é

fundamental que as políticas governamentais de desenvolvimento econômico expandam

o comércio interno entre cidades e estados e com países vizinhos, ao invés de se

voltarem para mercados desenvolvidos, onde comercializam principalmente

commodities e bens sensíveis ao custo da mão-de-obra (Porter, 1999).

Além destas alternativas, pode-se citar ainda a formação de alianças e joint

ventures, nos quais as pequenas empresas se associam a uma firma com uma marca

consolidada no mercado ou tecnologia, cujos laços de cooperação permitem a essas

empresas o acesso a novos mercados. O acesso a novos mercados é importante para as

firmas desenvolverem práticas de padronização e certificação de qualidade, que por sua

vez podem estimular a adoção de novas técnicas organizacionais que impulsionem a

competitividade das empresas.

7 Micro e pequenas empresas no Brasil

De acordo com Gonçalves e Koprowski (1995), as micro e pequenas empresas

correspondem a 98% do total de empresas existentes no Brasil, respondendo por quase

metade da produção total, 60% do emprego no setor privado e 42% dos salários pagos

aos trabalhadores brasileiros. Esses números remetem à necessidade de um novo

tratamento estratégico para tal segmento econômico, por parte de todos os que têm

algum grau de compromisso com seu conhecimento, consolidação e expansão.

Apesar da importância deste segmento para a economia brasileira não ser

novidade, pode-se afirmar que o reconhecimento da importância econômica e do papel

social das micro e pequenas empresas pelo governo e pela sociedade são recentes.

Mesmo considerando a grande representatividade no contexto nacional, segundo o

SEBRAE, 80% das pequenas e microempresas abertas anualmente no Brasil fecham

suas portas antes de completar um ano de existência.

Os problemas em relação ao desaparecimento dos pequenos empreendimentos

fazem lembrar que as principais causas desta mortalidade são os problemas de crédito,

de capitalização e de capacitação empresarial, que são agravados pelos problemas de

ordem burocrática, perante os quais é praticamente impossível à pequena empresa

cumprir todo o aparato de leis e decretos-leis existentes. Além disso, o tratamento não-

diferenciado da vigente política tributária e fiscal leva os pequenos à sonegação, se não

à marginalização e à clandestinidade, como forma de sobrevivência.

Por muitos anos, no Brasil, governantes optaram por uma política de

desenvolvimento econômico voltada para projetos de grande porte, beneficiando as

grandes empresas. Existia uma estrutura de mercado com características oligopolistas

que não permitia a expansão de pequenos negócios. E, quando despertou para a

importância das micro e pequenas empresas, conforme Henriques e Soares (1996), o

governo teve ambivalência e ambigüidade. Ao mesmo tempo em que criou instituições

como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE e

dispositivos legais como o Estatuto da Microempresa, teve uma total assimetria em

termos de recursos financeiros destinados às grandes e pequenas empresas.

8 Micro e pequenas empresas em Santa Cruz do Sul

Com a libertação dos escravos, a partir da Lei Áurea, surgiu no Brasil a

problemática da falta de mão-de-obra, principalmente nas lavouras de café no centro do

país. Por causa disso começaram a surgir incentivos para a imigração, principalmente de

alemães e italianos, para a ocupação de terras brasileiras até então não exploradas e

também, evidentemente, para suprir a falta de mão-de-obra nas fazendas cafeeiras.

Até este período, na região sul do Brasil existia apenas estancieiros que ocupavam

as terras de fronteiras com os países vizinhos, terras essas concedidas a militares que

lutavam pelo país e como recompensa recebiam uma estância, onde, na maioria das

vezes, tornavam-se criadores de gado pelas condições naturais que as terras concedidas

apresentavam.

Com o surgimento das políticas de imigração, uma parte das terras do Rio Grande

do Sul, hoje conhecida por Santa Cruz do Sul, foi colonizada por imigrantes alemães

devido a um conjunto de fatores tais como: população excedente na Europa; esperança

de viverem em melhores condições; políticas do governo em povoar o Brasil e produzir

alimentos; políticas do país alemão em criar “colônias”; e a propaganda sobre o paraíso

que seria esta nova terra.

Martin (1979) diz que em 19 de dezembro de 1849 chegava a primeira leva de

colonos ao Faxinal de João de Faria, hoje Linha Santa Cruz (altos do Acesso Grasel),

vindos da Silésia exceto um, de procedência prussiana.

Nesta primeira fase que, segundo Krause (1991), se estende até 1859, a economia

da região é de subsistência e auto-suficiente, isto é, cada unidade familiar produzia o

que necessitava para a sua sobrevivência. O excedente, embora pequeno, servia como

moeda de troca. No segundo período (1860-1881) ocorre a estruturação dos setores

econômicos, expansão agrícola e o início da exportação de excedentes: produção

simples de mercadorias. De 1882 a 1917 ocorre a integração à divisão inter-regional do

trabalho e criação das pré-condições para a penetração do capital na produção. O

período seguinte, que se estende de 1918 a 1965, caracteriza-se pela expansão do

capitalismo na economia da área. Entre 1966 e 1975 ocorre a entrada e consolidação do

capital internacional – domínio do capital monopolista.

No primeiro período, como já foi descrito, caracterizado por uma economia de

subsistência, semelhante a de uma família camponesa medieval, Roche (1969), descreve

a ocorrência do seguinte:

tão logo construída a choupana, que assegurava um abrigo precário, era preciso desbravar a

mata imediatamente para pôr em prática algumas culturas indispensáveis, batata-doce,

feijão preto, batata inglesa; em seguida semear o milho, o produto-chave da economia

pioneira, e, depois, plantar a cana-de-açúcar, o fumo (p.52).

Observa-se, portanto, que os colonizadores não encontraram facilidade quando

chegaram à região, muito pelo contrário, as dificuldades eram inúmeras. Vale ressaltar

que o fumo esteve presente desde os primórdios da colonização, cultura esta que até

hoje impulsiona grande parte da economia local de Santa Cruz do Sul.

Até 1954 as terras eram concedidas aos imigrantes gratuitamente, pois o governo

tinha a intenção de dificultar a invasão de espanhóis e para produzir alimentos para o

centro do país. A partir de novembro de 1954 o governo começou a conceder lotes de

terras somente através da venda.

Krause (1991) relata que apesar da maioria dos imigrantes serem agricultores e se

ocuparem da agricultura e virem para o Brasil com este objetivo, sabe-se que muitos

eram artesãos, como por exemplo um grupo de 71 chefes de família chegados à colônia

de Santa Cruz em 1852, entre os quais constavam 25 artesãos e 46 agricultores. Relatos

de imigrantes mostram que o Brasil era uma esperança de vida melhor, pois, na Europa,

em meados do século XIX, sobrava mão-de-obra devido ao fim do período feudal e à

expansão do capitalismo.

No entanto, como descreve Roche (1969), apesar da diversidade profissional dos

imigrantes, todos chegavam ao Brasil sob as mesmas condições:

qualquer que seja nosso esforço de imaginação, custa-nos imaginar os sentimentos que

oprimiram os imigrantes postos na floresta virgem. O comboio de mulas era dividido. As

bagagens haviam sido amontoadas à beira da picada. Esta era a única brecha aberta na

mata, apenas um túnel de três ou quatro metros de largura, onde tropeçavam nas raízes e

nos cepos, onde se feriam no fio das hastes cortadas acima do solo. De um a outro lado,

elevavam-se as árvores monstruosas, estreitavam-se os arbustos e as plantas do sub-bosque,

enlaçavam-se os cipós. Era a obscuridade misteriosa, a umidade sufocante do dia, a ameaça

confusa da noite, a angústia e o desespero. O funcionário que acompanhara o colono para

lhe indicar onde ficava a sua concessão, entregava-lhe algumas ferramentas indispensáveis:

foice, facão, machado, serra, enxadão. A terra arável, o espaço, a luz, tudo devia ser

conquistado à floresta. (p.52).

No período compreendido entre 1860 e 1881, as atividades de subsistência

permaneciam. Contudo, este foi um período marcado pela diversificação e

comercialização dos produtos coloniais. Paralelo à diversificação da produção, pode-se

observar o desenvolvimento inerente às atividades agrícolas ou mercantis de cada um,

que deram surgimento às primeiras indústrias de Santa Cruz (Kessler, 1998).

Segundo Godinho et al (1980), o início da industrialização em Santa Cruz do Sul

deveu-se ao sucesso de sua agricultura, voltada para a exportação que, por um lado,

estimulou o desenvolvimento das indústrias de beneficiamento de produtos primários

sustentado pelo excedente monetário e de mão-de-obra das lavouras, e por outro,

permitiu que se acumulasse capital nas mãos dos comerciantes-exportadores locais, o

que tornou possível a instalação de novas unidades de produtos utilizando tecnologia

mais avançada.

Entre 1918 e 1965 ocorreu o período que se caracteriza pela dominação capitalista

de setores da produção na economia santa-cruzense. A transformação das relações de

produção, em relações capitalistas, tem seu início na indústria – principalmente no ramo

fumageiro – e se propagou, embora com menor ímpeto, aos demais setores, não

chegando, no entanto, a alterar as relações de produção vigentes no setor agrícola.

Segundo Godinho et al (1980), no período pós I Guerra Mundial, houve um

processo de evolução industrial, em que se verifica então, a multiplicação e o

desenvolvimento de principalmente dois tipos de indústrias: as de beneficiamento de

produtos locais com vistas ao mercado nacional (Rio e São Paulo), tais como as de

alimentos e fumo – embora esse último seja parcialmente exportado para o exterior – e

as de transformação de produtos locais ou não, que visavam ao atendimento regional,

tais como as de vestuário, móveis e metalúrgicas, participando do lento processo de

substituição regional de produtos importantes.

Também as pequenas empresas sempre foram muito importantes para o

desenvolvimento do município. O Cadastro Industrial de 1965, conforme apontamentos

de Silva (2000), mostra que dos 515 estabelecimentos existentes em Santa Cruz do Sul,

435 (84,5%) ocupavam de 1 a 4 pessoas, 69 (13,4%) ocupavam de 5 a 49 pessoas,

existindo apenas 6 estabelecimentos com 55-90 pessoas ocupadas, e 5 ocupando 100 a

249.

Apesar da evidente importância do fumo na economia local, o setor do vestuário

também sempre esteve presente na economia da cidade. Conforme Krause (1991), em

1994 existiam em Santa Cruz do Sul 403 indústrias, assim divididas, por ramo de

atividade: 91 do setor têxtil, vestuário e artefatos de tecidos, calçados; 85 metalúrgicas,

mecânicas; 74 do ramo de madeira, mobiliário e papel, papelão; 65 de produtos

alimentares e bebidas; 14 do setor de fumo e as restantes 74 eram distribuídas em

diversos setores, de menor relevância.

9 Metodologia

Segundo Lakatus e Marconi (1986) o método é o conjunto das atividades

sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o

objetivo traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do

cientista.

Esta pesquisa se baseou no método indutivo que, conforme apontamentos de

Lakatus e Marconi (1986), permite fazer a respectiva generalização para um conjunto

maior a partir de constatações individualizadas.

Segundo Vergara (1998), a pesquisa é dividida em dois critérios, ou seja, quanto

aos fins e quanto aos meios. Quanto aos fins esta pesquisa será descritiva e explicativa.

Descritiva porque estudou as características competitivas de interdependência de micro

e pequenas empresas e descrevendo-as, como forma de orientar o leitor quanto à

realidade destes empreendimentos. Explicativa porque, através do estudo, identificou-se

características de interdependência.

Quanto aos meios, foi realizada uma pesquisa de campo e bibliográfica. A

pesquisa de campo foi realizada através da aplicação de entrevista à micro e pequenos

empresários do setor de vestuário de Santa Cruz do Sul. Já a pesquisa bibliográfica foi

realizada com base em materiais publicados em livros, revistas, jornais, redes

eletrônicas, isto é, material acessível ao publico em geral, que diga respeito ao assunto

objeto deste estudo.

O universo do presente trabalho resume-se, na sua primeira etapa às micro e

pequenas empresas industriais do setor de vestuário de Santa Cruz do Sul, regularmente

inscritas no Sindicato dos Empregados do Vestuário de Santa Cruz do Sul, trabalhando-

se com uma amostra de 22 empresas que se prontificaram a responder à pesquisa.

10 Análises dos resultados

Da amostra de empresas pesquisadas constatou-se que 78% das empresas

pesquisadas possuem um número de funcionários entre 0 e 20 funcionários, por se

tratarem preponderantemente de micro e pequenas.

Verificou-se que 64% das empresas pesquisadas seguem o ramo de confecções

em geral, enquanto os produtos esportivos, para festas e roupas íntimas mostram-se

empatados com 18% e malharia 9%. Outros produtos como sacolas, bolsas e cortinas

representam 23% do que é produzido, observando que algumas empresas atuam em

mais de um ramo.

Quanto à demanda, 55% das empresas pesquisadas vendem direto ao consumidor

e 45% vendem para outras empresas. As empresas pesquisadas têm em Santa Cruz do

Sul 63% de seus clientes em relação ao faturamento. Somando o percentual de Santa

Cruz do Sul e Região do Vale do Rio Pardo, nota-se que grande parte da produção é

destinada a estes (75%). Os clientes do Estado do Rio Grande do Sul representam 21%

e outros Estados 4%. Contudo, do total de fornecedores, 64% são e outros Estados,

26,5% são do Estado do Rio Grande do Sul e de Santa Cruz do Sul correspondem a um

percentual de apenas 9,5%.

Relativo ao ambiente concorrencial local, as micro empresas são as que oferecem

maior concorrência para as empresas entrevistadas, representando 75%, as médias

apresentam-se em 2º lugar com 17% e as grandes empresas são as que menos

representam ameaças a nível local, com 8% das indicações.

A pesquisa demonstrou o baixo índice de alianças ou convênios com outras

empresas, sendo que 95% das empresas investigadas não possuem qualquer tipo de

aliança ou convênio, prevalecendo o tradicional conceito de que o concorrente deve ser

tratado como concorrente, exceto atividades de terceirização e/ou subcontratação.

Contudo, 32% delas mostram-se interessadas em formar algum tipo de aliança ou rede

de empresas. Relativo aos benefícios da formação de redes, a preponderância refletiu

que trata-se de uma estratégia para enfrentar os concorrentes e desenvolvimento e/ou

aquisição de novas tecnologias.

Para 59% das empresas entrevistadas, a principal estratégia para superar os

concorrentes é diferenciação do produto, seguido do preço com 50%. O atendimento

também é um fator considerado muito importante para as empresas, (27%). O marketing

não é uma estratégia muito usada, segundo os entrevistados, por causa do alto custo que

apresenta (14%). A distribuição do produto também apresenta baixa representação, pois

não influencia muito na superação dos concorrentes.

Verificou-se que a nível local as principais dificuldades para competir no mercado

são : preço (50%), prazo de pagamento (41%) e qualidade (27%). A nível regional as

principais dificuldades são : preço novamente (23%) e prazo de pagamento (14%). A

nível de estado a maior dificuldade são preço e qualidade (ambos com 9% das citações).

O mercado nacional apresenta pouca significância porque as empresas pouco atuam

nesse mercado.

Referências

CARR, Clair. O poder competitivo da criatividade. São Paulo: Makron Books, 1997.

CASAROTTO FL, Nelson, PIRES, Luis Henrique. Redes de pequenas e médias

empresas e desenvolvimento local: estratégias para conquista da competitividade global

com base na experiência européia. São Paulo: Atlas, 1998.

DRUCKER, Peter F. Administração em tempos de grandes mudanças. 5ª edição. São

Paulo: Pioneira, 1996.

FERRAZ, J.C.; KUPFER, D.; HAGUENAUER, L.. Made in Brazil. Rio de Janeiro:

Campus, 1995.

GODINHO, Rute et al. Estudos de população VI. Estudo de caso: dinâmica

populacional, transformações sócio-econômicas, atuação das instituições. São Paulo:

CEBRAP, 1980.

GONÇALVES , A. e KOPROWSKI, S.. Pequenas empresas no Brasil. São Paulo:

Imprensa Oficial do Estado, Ed. Universidade de São Paulo, 1995.

HEEMANN, Naide Regina. A competitividade das micro e pequenas empresas.

Monografia do Curso de Pós-Graduação Especialização em Gestão Empresarial. Santa

Cruz do Sul: UNISC, 2000.

HENRIQUES, He Ilton Santini e SOARES, Marcelo. Centro de Ensino Tecnológico de

Brasília – CETEB. Revolta do princípio: a revolução do pequeno. Série Idéias e

Propostas. Coordenador: Flávio Ramos. Brasília, Edição SEBRAE, 1996.

KRAUSE, Silvana. Economia, política e religião em Santa Cruz do Sul na República

Velha. Dissertação de Mestrado em Ciência Política. Instituto de Filosofia e Ciências

Humanas. UFRGS, 1991.

KESSLER, Ingo Paulo. Constituição, desenvolvimento e extinção de micro e pequenas

empresas de Santa Cruz do Sul. Dissertação de Mestrado em Desenvolvimento

Regional. UNISC, 1998.

LAKATUS, Eva M. e MARCONI, Mariana de. Fundamentos de metodologia científica.

São Paulo: Atlas, 1986.

LETTIERI, Antônio. Notas sobre a globalização e sua ideologia. In: VIGEVANI,

Tullo, LORENZETTI, Jorge. Globalização e integração regional: atitudes sindicais e

impactos sociais. São Paulo: LTR, 1998, p. 80-100.

LUSTOSA, Paulo. O Brasil advento dos pequenos. Posfácio a Steven. Solomon A

grande importância da pequena empresa: A pequena empresa nos Estados Unidos, no

Brasil e no Mundo. Rio de Janeiro: Nórdica, 1986.

MARTIN, Hardy Elmiro. Santa Cruz do Sul: de colônia a freguesia 1849-1859.

Associação Pró-Ensino de Santa Cruz do Sul - APESC, 1979.

PEQUENAS EMPRESAS GRANDES NEGÓCIOS. Ano VII, nº 84, janeiro, 1996.

Editora Globo.

_____________________ano IX, nº 100, maio/1997.

PEREIRA, Maria José Lara de Bretãs, FONSECA, João Gabriel Marques. Faces da

decisão: as mudanças de paradigmas e o poder da decisão. São Paulo: Makron Books,

1997.

PODESTA, Bruno. Globalização, integração e sociedade sob a perspectiva Latino-

Americana. In: VIGEVANI, Tullo, LORENZETTI, Jorge. Globalização e Integração

Regional: atitudes sindicais e impactos sociais. São Paulo: LTR, 1998, p. 291-302.

PORTER, Michael. Estratégia competitiva: técnicas para análise de indústrias e da

concorrência. São Paulo: Campus, 1986.

PORTER, Michael. Competição- estratégias competitivas essenciais. Rio de Janeiro:

Campus, 1999.

PUTNAM, Robert D. Comunidade e democracia: a experiência da Itália moderna. Rio

de Janeiro: FGV, 2002.

RAMOS, Flávio. A grande dimensão da pequena empresa: perspectivas de ação.

Coordenador.Brasília: Edição SEBRAE, 1995.

RATTNER, Henrique. Acumulação de capital, internacionalização da economia e as

RESNIK, Paul. A bíblia da pequena empresa: como iniciar com segurança sua pequena

empresa e ser muito bem sucedido. São Paulo: Makron Books, 1990.

ROCHE, Jean. A colonização alemão e o Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Globo,

1969.

SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras,

2000.

SILVA, Carina Inês Panke da. Estudo da Competitividade da indústria moveleira de

Santa Cruz do Sul. Dissertação do Mestrado em desenvolvimento Regional. UNISC,

2000.

VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. São

Paulo: Atlas, 1998. 90p.

VIGEVANI, Tullo, LORENZETTI, Jorge. Globalização e integração regional:

atitudes sindicais e impactos sociais. São Paulo: LTR, 1998.