a presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas mirza pellicciotta

43
III SOU ÁFRICA EM TODOS OS SENTIDOS SOU EU ...ORGULHO DE ZUMBI Palestras, Oficinas, Rodas de Conversa - Exposição, Pratos típicos, Fomento e Difusão da Cultura Negra A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de Campinas Mirza Pellicciotta Historiadora, Coordenadora de Turismo da Secretaria de Comércio, Indústria, Serviços e Turismo Campinas, 15/11/2011

Upload: em-casa

Post on 05-Jun-2015

1.028 views

Category:

Education


4 download

DESCRIPTION

Apresentação para o evento Sou África. Casa de Cultura Roseira/ Campinas, 15/11/2011

TRANSCRIPT

Page 1: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta

III SOU ÁFRICA EM TODOS OS SENTIDOS SOU EU ...ORGULHO DE ZUMBI Palestras, Oficinas, Rodas de Conversa - Exposição, Pratos típicos, Fomento e Difusão da Cultura Negra

A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de Campinas

Mirza Pellicciotta

Historiadora, Coordenadora de Turismo da Secretaria de Comércio, Indústria, Serviços e Turismo

Campinas, 15/11/2011

Page 2: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta

Campinas: primórdios da formação territorial

Page 3: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta
Page 4: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta
Page 5: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta

A população original do bairro rural do Mato Grosso compunha-se de paulistas (mestiços de índios e europeus) e sertanejos de regiões diversas da capitania, que no curso do século XVIII se fixaram nas proximidades da Estrada dos Goiases para desempenhar atividades de abastecimento.

Page 6: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta
Page 7: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta

Marcos de transformação: implantação e desenvolvimento da economia açucareira (1770/1830)

As populações africanas começam a chegar ao território campineiro com as lavoras de cana de açúcar nas últimas décadas do século XVIII, período em que o bairro rural transforma-se em Freguesia e em seguida, numa Vila.

Page 8: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta
Page 9: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta
Page 10: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta

Procedentes de diferentes regiões africanas, a região registra uma importante heterogeneidade cultural, apesar de prevalescer os povos bantu (Robert Slanes). Por outro lado, os escravos não se mantém concentrados numa mesma propriedade: um quarto das fazendas contava com menos de 20 cativos, metade delas menos de 50 e 87% menos de 100 (Slenes, 1999, p57).

Na Vila de São Carlos, cresce progressivamente o número de escravos: 1775: 18,3% (cerca de 50 escravos entre 247 pessoas) 1797: por volta de 29% (700 escravos entre 2107 pessoas) 1814: 33,8% 1829: 56,2%

Page 11: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta
Page 12: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta
Page 13: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta

Na origem da malha urbana, as áreas conhecidas como “campinas velhas” e “bairro de santa cruz” , localizadas nas proximidades dos pousos, reúnem o maior contingente de trabalhadores livres e escravos)

Page 14: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta
Page 15: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta

Nos desenhos de Miguel Dutra, de meados do século XIX, identificamos as marcas de uma malha urbana que cresce em meio às lavouras extensivas. Uma população mestiça, ocupada em atividades de comércio e serviços, faz crescer lentamente a Vila de São Carlos (1797) e a cidade de Campinas (1842)

Page 16: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta

Marcos de transformação: implantação e desenvolvimento da economia cafeeira (1830/1930)

Page 17: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta
Page 18: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta
Page 19: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta
Page 20: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta

Evolução da População Escrava

Campinas, 1836-1886

0

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

14.000

1836 1854 1874 1886

Anos

Po

pu

lação

Gráfico 1: Evolução da população escrava. Município de Campinas 1836-1886

Fonte: Elaborado a partir de Camargo, 1981: 68

A economia cafeeira sacramenta o trabalho escravo e promove a fixação de uma população negra nas áreas rural e urbana do município. Em meados do século XIX, etnias africanas compõem a maior parte da população de Campinas.

Page 21: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta
Page 22: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta

Da porção rural da Vila (1797) e da cidade (1842) origina-se a acumulação de riquezas do município, gerada com base nem relações de escravidão.

Page 23: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta

Na porção urbana, crescem as atividades e as modalidades de trabalho que também se fundamentam, em largas proporções, em relações de escravidão

Page 24: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta

Com a chegada da ferrovia, em 1872, as dinâmicas de produção, comércio e serviços se intensificam, assumindo Campinas o papel de entroncamento ferroviário dos sertões paulistas.

Page 25: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta

Na aceleração do desenvolvimento rural e urbano da Província, o mundo paulista promove a imigração em massa: 70 grupos étnicos passam por Campinas rumo às lavouras e novas cidades entre as décadas de 1870 e 1930 . Mas neste mesmo período – em que a população de Campinas aumenta quase 4 vezes - a população de cor não apresenta crescimento proporcional respondendo em boa medida à política oficial de reduzir o contingente de população negra no interior do Brasil.

Page 26: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta
Page 27: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta
Page 28: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta

No início do século XX, com uma malha urbana cada mais mais complexa e diversa, trabalhadores das mais variadas etnias e procedências disputam espaço em busca de sobrevivência.

Page 29: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta

Uma sociedade de origens étnicas diversas compõe o cenário da cidade, e em meio a ela, um grande contingente de origem negra cumpre papel estrutural, destacando-se nas mais variadas modalidades de trabalho, cultura, educação, especialização.

Page 30: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta

Cleber Maciel da Silva (1987): a partir dos registros de imprensa, a população negra entre as décadas de 1880 e 1920, a depender dos recursos econômicos, achava-se representada como "homens de cor", "brasileiros negros", "mulatos", "pardos“, "mestiços”, "pretos" e "pretas".

Page 31: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta

Flor da Mocidade: entre as décadas de 1880 e1920 Filhas de Averno: 1888 a 1895 Sociedade Beneficente Luiz Gama: fundada em 1888, resiste pela décade de 1890 Sociedade 13 de Maio: fundada em 1888, resiste pela décade de 1890 Violeta: 1895 Estrela do Oeste: 1895 Sociedade Beneficente Isabel a Redentora: a partir de 1899 Sociedade Dançante Familiar União da Juventude: a partir de 1901 “Club União”: 1920 Federação Paulista dos Homens de Cor: 1902 Centro Recreativo Dramático Familiar 13 de Maio: 1909/1919 Liga Humanitária dos Homens de Cor: 1915 Sociedade Cívica Homens de Cor: 1915 Grêmio Recreativo Dançante Estrela Celeste: 1916 e 1917 Estrela do Norte. Existiu em 1916 e 1917. Clube Recreativo 28 de setembro: 1916 e 1917. Grêmio Recreativo Dançante Familiar José do Patrocínio: 1917 Liga Protetora dos Homens de Cor: 1917 a 1923. Associação Protetora dos Brasileiros Pretos: 1918 a 1928 Grêmio Dramático Luiz Gama. 1919 a 1923. Excêntricos: 1919. Sofreu violenta perseguição e violência da polícia. Centro Cívico dos Homens de Cor. 1922. Sociedade Campineira dos Homens de Cor: 1922. Associação Campineira dos Homens de Cor: 1923 Centro Cívico Palmares: 1926

Jornais: O Bandeirante (1910), O Menelick (1916), jornal Hífen (1915), Getulino

Page 32: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta

“Salta aos olhos no noticiário a representatividade numérica das festas dançantes – classificadas ali nas categorias festas, saraus e bailes –, as quais, segundo as notícias, realizavam-se semanalmente (saraus dançantes), ou mensalmente, ou em datas e quadras comemorativas (Carnaval, Dia do Trabalhador, Dia da Abolição, Dia "da Mãe", Quadra Junina, Natal, Ano Novo, Aniversário do Clube etc.). Essas reuniões festivas tinham lugar nos salões e eram patrocinadas por dois grandes clubes negros campineiros: o Clube Nove de Julho e o Elo Clube, e reuniam a "melhor sociedade campineira". Elas contavam ainda, muitas vezes, com a participação (sempre noticiada) de "caravanas" vindas de outras cidades do "interior paulista" – organizadas por representantes de entidades, clubes e jornais da gente negra de cada uma delas – e também da gente da capital que desfrutava, na ocasião, de uma temporada na "Princesa do Oeste", designativo elogioso usado para a cidade de Campinas. A longa lista desses encontros dançantes incluía os seguintes: Baile dos Veteranos; Baile das Rainhas; Baile do Mambo; Baile dos Penteados; Sarau do Sweter [sic]; Tarde Dançante "Agulha de Ouro" (com desfile de modas, de "25 senhoritas de nossa sociedade"); Festa Americana (ao som de hi-fi7, em vez de orquestra ou conjunto); Baile da Elegância (com escolha "dos 10 e das 10 mais elegantes freqüentadores do clube"); Baile da Aleluia; Baile do Rock'n Roll (organizado, em Campinas, por um clube da capital); Festa da Mãe do Ano (no "Dia da Mãe" [sic], com eleição da "Mãe do Ano"); Baile do Perfume; Baile "Uma Noite de Maio"; Festa dos Brotos; Baile "Noite de Natal"; Baile da Pérola Negra; Baile de Coroação da Jóia d'Ébano [sic]; Festa do "Desfile Bossa Nova"; Baile Esporte (com traje esporte obrigatório). São, portanto, vinte tipos de bailes, dos quais, pelo menos alguns deles, de acordo com a forma de comentá-los, realizaram-se com certa continuidade. Estão neste caso os bailes: das Rainhas, dos Veteranos, da Pérola Negra, da Jóia d'Ébano, e as festas da Mãe do Ano e Americana (...) Baile das Rainhas, realizado no "Ginasium do Club Campineiro de Regatas e Natação" – cuja sede, até os anos setenta pelo menos, era alugada para festas promovidas por entidades negras” (Maria Angelica Motta-Maués, Negros em bailes de negros*: sociabilidade e ideologia racial no "meio negro" em Campinas (1950/1960)

Page 33: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta

“Campinas é objeto de inúmeros relatos de casos concretos de atitudes racistas, perpetradas em seus estabelecimentos comerciais (bares, restaurantes, barbearias etc.), os quais, ou não atendiam negros, simplesmente, ou só o faziam em espaços determinados para eles (no fundo das lojas ou fora do salão principal), ou em horários não freqüentados pelos fregueses brancos. Como era o caso de barbearias, que atendiam os negros antes de abrir ao público para não "ofender" os clientes.5 Essa presença visível do racismo contra o negroqua negro, não mais o escravo ou o liberto – que já se via nas duas primeiras décadas do século XX (cf. particularmente Maciel, 1987), tal como será em São Paulo, especialmente a partir do começo dos anos 30, com o processo de industrialização (cf. Fernandes, 1978; Hasenbalg, 1979; Andrews, 1991), implica, por seu turno, em que Campinas seja também uma espécie de berço da luta negra na segunda metade do recém-passado século”. (Maria Angelica Motta-Maués, Negros em bailes de negros*: sociabilidade e ideologia racial no "meio negro" em Campinas (1950/1960)

Page 34: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta
Page 35: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta

Marcos de transformação urbana: nova dinâmica de desenvolvimento industrial e de serviços

Page 36: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta

Reconfigurações sociais no espaço urbano a partir das décadas de 1950 e 1960

Page 37: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta

Irene Barbosa (1983): presença nas décadas de 1960/1970 de uma elite (assim classificada pelos integrantes) que conta com padrões semelhantes aos "das famílias brancas de classe média e (...) cuja característica mais importante é o cultivo da respeitabilidade"

Evolução da População de Campinas, 1900-2000

0

200.000

400.000

600.000

800.000

1.000.000

1.200.000

1900 1920 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000

Anos

Po

pu

lação

Page 38: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta

Exposição “Campinas Vertical”. Embrapa Monitoramento Satélite/CMU Unicamp, 2011

Page 39: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta

Em meio às novas frentes de acumulação : a região central vive mudanças, deslocamentos e ocultamentos

Page 40: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta

Ocultamentos,

resigificações...

Page 41: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta

Ocultamentos,

resigificações...

Page 42: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta
Page 43: A presença negra e o patrimônio cultural negro na cidade de campinas   mirza pellicciotta

Lugar!