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1 Magistério na Educação Básica, com concentração em Interdisciplinaridade na Escola,

História, Colégio Meneleu de Almeida Torres.

2 Doutor, Tese - Entre “Preceitos” e “Conselhos”: Discursos e Práticas de Médicos-Educadores em Ponta Grossa/PR (1931-1953), História, UEPG, Professor Adjunto.

A PRESENÇA DO NEGRO NA HISTORIOGRAFIA DO TROPEIRISMO

Autor: Rosangela Carneiro Pires1

Orientador: Niltonci Batista Chaves2

RESUMO

Neste artigo, expõem-se as discussões sobre a presença do negro na historiografia do tropeirismo, considerada como uma importante contribuição para educação compatível com uma sociedade democrática, multicultural e pluriétnica. A escolha por este trabalho surgiu de uma problemática vivida no interior da sala de aula, tendo em vista a bibliografia consultada sobre a figura do negro no Brasil, observou-se que era ignorada ou mencionada de forma complementar a outros sujeitos. No caso do tropeirismo, ele aparece em rápidas citações, resultado de uma visão eurocentrica ainda presente em alguns escritores em nossa sociedade. A partir daí foi realizado um trabalho para fazer com que alunos do Ensino Fundamental percebessem as mudanças na historiografia sobre a questão do negro africano no tropeirismo, na região dos Campos Gerais. Nessa linha de raciocínio, procurou-se retomar a discussão sobre a escravidão, revisando o papel social do negro escravizado na própria história.

Palavras-chave: Tropeirismo, escravidão, historiografia.

1. INTRODUÇÃO

Este trabalho traz uma discussão em torno da implementação da

intervenção pedagógica na escola, intitulada “A presença do negro na

historiografia do tropeirismo”, no Colégio Estadual Meneleu de Almeida Torres,

2

no período 2010 - 2011, por ocasião no Programa de Desenvolvimento

Educacional (PDE), oriundo do Governo do Estado do Paraná.

A partir daí foi realizada uma intervenção pedagógica com alunos da 8º

ano, do Ensino Fundamental, com o intuito de levá-los a perceberem as

eventuais mudanças na historiografia sobre a questão do negro africano no

tropeirismo, na região dos Campos Gerais.

Para tanto, procurou-se estimular nesses alunos o interesse pela

história local, assim como atender as iniciativas da Lei Federal 10639/03, que

oportuniza maior visibilidade do negro enquanto sujeito histórico, também

fortalecer o espírito de cidadania e engajamento do conhecimento histórico

com o desenvolvimento de nossa região combinando-o com o turismo histórico

e cultural, bem como conhecer e valorizar o papel e o trabalho do negro

escravizado no desenvolvimento histórico e econômico dos Campos Gerais.

Nessa linha de raciocínio procurou-se retomar a discussão sobre a

escravidão, revisando o papel social do negro escravizado na própria história.

O estudo está em consonância com as Diretrizes Curriculares do

Estado do Paraná, que está fundamentada nas correntes historiográficas a

Nova História, Nova História Cultural e a Nova Esquerda Inglesa, com a

valorização e diversificação de documentos como imagens, canções, objetos

arqueológicos e na construção do conhecimento histórico que torna o estudo

de História mais atraente para o aluno. (DCE, 2008). Sendo que um dos

desafios dos educadores é fazer com que os alunos conheçam e valorizem a

história de sua localidade para que se sintam parte desse contexto, como

atores da história.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Ao questionar a história do negro no Brasil e, mais especificamente, no

Estado do Paraná, na região dos Campos Gerais, fez-se um levantamento

bibliográfico em livros, artigos, textos de memorialistas e viajantes, imagens,

dissertações de mestrado e teses de doutorado sobre o que se tem produzido

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a respeito do assunto. Desse levantamento, foram encontrados alguns autores,

tais como: Saint Hilaire, Thomas Bigg-Wither, o pintor Jean B. Debret, Salvador

José Correia Coelho, Rui C. Wachowicz e Otavio Ianni e Oney B. Borba.

A seguir, apresenta-se um resumo das ideias centrais de cada um

desses autores, em relação à abordagem historiográfica sobre a figura do

negro no Estado do Paraná.

Os primeiros relatos sobre o Paraná foram realizados pelos cronistas

estrangeiros entre eles Saint Hilaire, botânico francês que descreve a fauna e

flora, também o cotidiano das pessoas na sua obra “Viagem à Curitiba e

província de Santa Catarina”. Compreende-se que negro é visto por ele como

sendo alguém difícil de lidar, pois não conseguem cumprir ordens, se queixa de

seus auxiliares. O referido autor (1978, p. 56) declara que quando esteve na

cidade de Castro “o índio Firmiano procurava desculpar suas escapadas com

uma série de mentiras; além disso, faltou-me com o respeito varias vezes,

tentou fugir e me causou verdadeiro desgosto”.

Mais adiante na mesma obra (p. 56), Saint Hilaire reclama da mudança

de comportamento do negro Manuel, dizendo que:

o negro liberto que me acompanhava, chamado Manuel, cumpria perfeitamente suas obrigações quando estávamos em viagem, mas no momento em que chegávamos a um povoado qualquer ele trocava de roupa e sumia, não voltando a aparecer nem de noite nem de dia a não ser nas horas das refeições. (SAINT HILAIRE, 1978, p. 56).

A citação acima expõe a indignação do autor em relação ao

comportamento do negro Manuel, seu acompanhante de viagem, que quando

chegava a algum povoado desaparecia sem dar satisfação alguma de onde ia

e quando voltaria.

Precisando acondicionar em caixas sua coleção de Historia Natural,

Saint Hilaire (1978, p. 56), necessitou contratar um carpinteiro europeu

radicado na região. A forma de tratamento de Saint Hilaire em relação ao

profissional mostrou-se diferente da dispensada ao negro.

O excerto abaixo explicita:

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Esse homem, de raça branca pura, sempre dizia com orgulho ser originário da França, e de fato ele se mostrava muito mais ativo do que o comum das pessoas do país, demonstrando a crença que tinha na superioridade de raça dos os europeus em relação aos brasileiros das classes mais baixas segundo ele “cheios de vícios e que não dispõe de qualquer instrução moral e religiosa”. (SAINT HILAIRE, 1978, p. 56).

Ao negro fazia-se crítica, exigia-se satisfação, obediência e disciplina;

do europeu, tecia-se muitos elogios demonstrando o quanto o seu compatriota,

francês era competente.

O engenheiro inglês Thomas P. Bigg-Wither1, em seu livro “O novo

caminho no Brasil Meridional: a Província do Paraná, 1872/1875”, apresenta o

Paraná, aos colonizadores nacionais e estrangeiros, como sendo uma região

caracterizada por abundância de campos e florestas, que ainda não fora

desbravados e povoados.

Nele descreve a região como sendo “fresca de pinheiros”. Ao contrário

de Saint Hilaire (1978), que reclama do comportamento dos seus auxiliares, ele

se queixa da falta de mão-de-obra especializada, sobretudo, canoeiros. Dessa

forma, o índio, que até então era desacreditado e mal visto pelos brasileiros em

geral, começou a ser solicitado para contribuir com a sua mão-de-obra, os

quais se destacaram como bons trabalhadores. O autor (p. 171) relata que

“empregamos, mais tarde vários destes índios para trabalharem conosco,

abrindo picadas”. Mais adiante, (p. 186) afirma que “o silvícola brasileiro talvez

seja o melhor ‘machadeiro’ do mundo; certamente ninguém o vence”.

A experiência foi, ao contrário do que se esperava, coroada do melhor

êxito, acabou por se tornar defensor de nosso selvagem, falando bem dele,

mostrando quanto de leviano e injusto havia no retrato estereotipado que se

costumava fazer do ser indolente e preguiçoso, pouco dado a qualquer espécie

de disciplina ou obrigação. Sempre que lhe era dada alguma oportunidade,

1 Thomas P. Bigg-Wither publicou a edição original do seu livro em Londres em 1878, com o título de

Pioneering in South Brazil.

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saia em defesa do índio brasileiro, fazia elogios aos índios que nunca lhes

causaram problemas, pois se tornaram ótimos canoeiros.

Na região dos Campos Gerais, Bigg–Wither refere-se ao atual

município de Tibagi, local onde o garimpo de rio mostrou-se prospero desde o

século XIX, favorecendo o deslocamento de mão-de-obra da roça para tal

atividade. Bigg-Wither faz um relato do início da exploração até o esgotamento

das minas, e seu abandono em 1871. O trabalho realizado pelos escravos na

mineração em Tibagi pode ser constatado em livros, fotografias e objetos

encontrados no museu da cidade – museu do garimpo.

A presença africana na região pode ser percebida nos relatos de Bigg-

Wither sobre a Fazenda Fortaleza, que contou com uma grande quantidade de

escravos quando se dedicava a agricultura. Essa fazenda mais tarde deixou a

agricultura e migrou para a pecuária e, desde então, conta com um numero

menor de escravos. Segundo o autor (p.406), “cem escravos trabalhavam até

então, quando agora eles estavam reduzidos a oito”, dedicando-se à criação de

gado bovino e de muares.

Jean Baptiste Debret, francês chegou ao Brasil em 1816 e permaneceu

até 1831, fez parte na Missão Artística Francesa, desempenhando a função de

pintor do império e professor de pintura histórica e de assuntos oficiais. Viera

para documentar fauna, flora, paisagens e costumes do povo brasileiro.

A obra “Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil”, foi organizada em três

volumes: o primeiro é dedicado à vida do indígena brasileiro: o segundo, à vida

nas cidades, trata dos costumes da vida cotidiana na corte e de seus

arredores, aí é preponderante a figura do negro; o terceiro contempla a “história

política e religiosa brasileira”, enfatizando as instituições educacionais e a

história da monarquia no Brasil (DEBRET, 1989 – tomo I: 24, tomo II: 13,tomo

III:13).

Há o reconhecimento da figura do negro, como uma espécie humana

que foi, durante muito tempo, degredada, degenerada, sendo, agora, na visão

do autor, necessário recuperar essa posição por meio de um processo

civilizador europeu. Com essa visão o artista plástico, afirma a “superioridade”

europeia, e a possibilidade de formação de um novo “povo”, por meio da

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mistura do negro com o mulato, o qual seria incorporado à civilização, daí a

possibilidade de se criar uma identidade nacional.

Debret passou pela região dos Campos Gerais, no final da década de

1820, produzindo uma série de aquarelas com temáticas sobre o negro.

Esses autores eram viajantes estrangeiros que passaram pelo Paraná

no século XIX, e retrataram, em suas obras, o Brasil pela ótica europeia,

impregnada de princípios discriminatórios e fazendo comparação de culturas,

muitas vezes, com caráter preconceituoso demonstrando sua suposta

superioridade cultural e pretensa objetividade.

Salvador José Correia Coelho, intelectual paranaense apresenta uma

visão diferenciada dos autores citados acima. Cassiana Lacerda Carollo, ao

prefaciar a obra “Passeio à minha Terra”, em sua edição de 1995, diz que esse,

por sua vez, faz um relato comprometido com a terra que descreve. Sua obra,

portanto, é marcada pelo caráter nacionalista apoiada na ideologia romântica e

descreve, também, a natureza e os costumes das pessoas por onde passa.

Nessa obra, Salvador José Correia Coelho fornece importantes

informações sobre a região do Estado do Paraná, relata como foi a viagem que

fez a sua terra natal em 1844. Um roteiro sentimental, que segue a rota

costeira de Santos ─ Itanhaém ─ Varadouro ─ subida da Serra, e retorna pelo

caminho das tropas Palmeira ─ Ponta Grossa ─ Castro ─ Itararé ─ Sorocaba.

No meio do caminho ─ ponto culminante de sua peregrinação ─ a vila de Santo

Antonio da Lapa.

Ao referir-se à região de Ponta Grossa, Salvador José Correia Coelho

menciona que essa está localizada perto das Palmeiras do rio Tibagi ─ afluente

do rio Paranapanema. De acordo com o autor (p. 93), a “Vila está assente

sobre a elevação de um monte”. Apresenta a região dizendo que “cujos

edifícios são vulgares goza-se de bela e muito extensa vista do campo.” (p. 93).

Todavia Salvador José Correia Coelho (1995, p. 93), se queixa do

vento da região dizendo “o vento que aí de contínuo sopra não cessa de

incomodar ao viajante que não está habituado a sentir os seus ásperos

afagos”. Comenta, ainda, sobre os costumes da região dizendo que “seus

habitantes que vivem da cria de suas estâncias são muito dados aos jogos das

cartas e às corridas de cavalos.” (p. 93).

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Descreve a vestimenta usada por uma pessoa que se ocupa da criação

no campo, faz o serviço a cavalo que chama de “monarca da coxilha.” (p.94). E

também observa o jeito de falar que, segundo o autor (p.95), “é cheio de

interjeições; sempre exprime os diminutivos com a desinência em ‘ito”.

Nessa obra a questão sobre a escravidão quase não aparece a não ser

quando é citado o episódio conhecido do “Cormorant”, ocorrido a 28 de junho

de 1850. Os navios ingleses perseguiam navios nacionais de transporte

negreiro por não cumprirem a Bill Aberdeen. Essa medida declarava ilegal o

tráfico de escravos e declarava ao governo inglês o direito de aprisionar navios

negreiros de qualquer nacionalidade e julgar os traficantes de acordo com as

leis do país. Na época, a Inglaterra pressionava o Brasil para acabar com a

escravidão. Conforme o autor (p. 66), o “Cormorant entrou na baía de

Paranaguá perseguindo os navios com escravos, houve resistência até por

parte da população”.

Salvador José Correia Coelho (1995, p. 66-67) declara-se admirador da

Inglaterra, a favor da extinção da escravidão, reclama do ataque inglês a

Paranaguá, dizendo:

Admiro, sobretudo a sua filantropia ou antes a sua caridade cristã à favor dos infelizes da África que parece ao vulgo, ter no rosto estampa e cor indelével da maldição, mas esse estado do meu espírito não sobe de ponto que minha consciência sancione atos dessa não, os quais tendem a consagrar a força em lugar do direito como procedeu conosco. (COELHO, 1995, p. 66-67).

O autor deixa claro a sua formação jurídica, questionando que a

Inglaterra devia respeitar a soberania do Brasil, adotando uma solução

diplomática para questão, acusa os ingleses de estar advogando a favor dos

escravos para tirar vantagem própria.

A historiografia a respeito da escravidão no Paraná apontou uma

participação menos intensa de escravos na região do que em outras partes do

Brasil. No Paraná, tal assertiva baseou-se no fato desse estar fora do eixo das

economias agro exportadoras de grande porte como a região Nordeste ou,

extrativas como a de Minas Gerais. Nesse sentido, houve uma interpretação

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onde se minimizou o trabalho escravo feito na província confirmada em

trabalhos como de Romário Martins (1995), Wilson Martins (1975) e Rui

Wachowicz (1967).

Já na década de 70, encontrou-se Rui C. Wachowicz, com sua obra

“História do Paraná”, editada pela sétima vez em 1995. Considerado um

clássico da historiografia paranaense, discute a condição do negro a partir dos

fatos registrados nos documentos históricos. Assim, para ele o documento é a

história e aquilo que o documento não diz, não pode ser dito.

Em sua obra Wachowicz apresenta o negro submisso, não ativo, ignora

a sua condição, exalta o progresso com o europeu, analisando o Paraná até os

anos 60.

Nessa obra o autor apresenta as três frentes histórico-culturais que

ocuparam e colonizaram Paraná, as quais Wachowicz intitula de Os três

Paranás. O autor faz um relato desde as origens do Paraná até a época em

que enfrentou um rápido progresso com a ocupação e colonização do restante

do território, discute ainda a fundação de Londrina e o predomínio do cultivo do

café nesta região, destacando a influência benéfica isto é, a importância dos

imigrantes como alemães, poloneses e outros que foram chegando com a

abertura da estrada da Graciosa, para o desenvolvimento de Curitiba.

Segundo ele:

Os alemães, que haviam chegado antes dos poloneses, estabeleceram-se no comércio, dentro do quadro urbano. Fizeram-se cervejeiros, ferreiros, carpinteiros, salsicheiros, ferradores, construtores de carros, padeiros, açougueiros etc. Não tardou para que o próprio aspecto físico da cidade fosse passando a transformar-se a olhos vistos, por influência patente desses alienígenas. (WACHOWICZ, 1995, p. 71).

Com relação à ocupação dos Campos Gerais, o autor destaca a

existência de grande quantidade de escravos na região, considerada uma

sociedade escravocrata, sendo que na primeira metade do século XVIII havia

50 casas, habitada com a maioria da população de negros ou escrava, a maior

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parte das fazendas era administrada pelos escravos (capataz/escravo), que

criavam e vendiam os animais, onde o proprietário ou preposto passava

esporadicamente pela fazenda e recebia a prestação de contas. A importância

dessa mão-de-obra pode ser percebida pela quantidade de escravos existente

nessa região, que segundo o autor em 1780, das nove fazendas existentes

entre São Luiz do Purunã e as proximidades de Pitangui (Ponta Grossa) havia

apenas cinco habitantes livres e 308 escravos.

O autor comenta que a região era um sertão bruto e inculto, assim

sendo em suas matas ocultavam-se os escravos fugidos de São Paulo e do

próprio local e dos núcleos de Curitiba e do litoral, que formaram os quilombos,

e seus moradores ficaram conhecidos como quilombolas, considerados na

época como (fora da lei, bandidos), um perigo para a sociedade dos Campos

Gerais. Com isso a câmara de Curitiba obteve permissão do capitão geral de

São Paulo para nomear Capitães do Mato para combater e aprisionar os

negros considerados fugitivos. Se esses resistissem à prisão, os Capitães do

Mato poderiam atirar para matar. O governo de São Paulo autorizou a Câmara

de Curitiba a fazer um carimbo de ferro com a letra “F” (que significava fugido),

a fim de marcar os escravos que fossem capturados nos quilombos dos

Campos Gerais.

Em seus escritos sobre o Paraná, Wachowicz destaca que devido ao

tipo de economia que se diferenciava das demais regiões do Brasil, com

destaque para a pecuária e agricultura:

a sociedade organizada hoje em território paranaense, era semelhante à que se encontrava no restante do Brasil, mas não era idêntica. Aqui, o sistema do trabalho escravo, fosse africano ou indígena, foi também empregado, mas não chegou a ser exclusivo, devido ao tipo de economia que aqui se desenvolveu, uma vez que o regime escravocrata instalou-se no Paraná com inicio da mineração de ouro no litoral. Os elementos lusos, para cá atraídos por tal atividade, não chegavam a ganhar o avultado capital necessário para a compra de grande número de escravos africanos, de modo que, no século XVII, o trabalho escravo existente no Paraná baseava-se, sobretudo no índio (WACHOWICZ, 1995, p.134).

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Suas afirmações acima citadas são baseadas principalmente na

situação nordestina, onde a economia era baseada no cultivo da cana-de-

açúcar, voltada para a exportação de açúcar, que requeria grande contingente

de mão-de-obra. Assim, se justifica que no Paraná, a pecuária (criação de gado

bovino), utilizava também a mão-de-obra escrava, porém com menos

intensidade.

Com as leis que proibiam a entrada de escravos africanos no Brasil, a

partir de 1850, o governo brasileiro incentivou a vinda de imigrantes europeus

para substituir a mão de obra escrava na lavoura. Esse fato justifica a influência

da cultura europeia em nossa sociedade, pois foi restringida a entrada de

africanos, se não fosse esse direcionamento político a cultura africana seria

muito mais presente em nosso meio. A partir do século XIX, ocorreu no Brasil,

inclusive no Paraná, a tendência para o branqueamento de sua população,

promovendo um elevado índice de miscigenação entre os vários grupos étnicos

formadores da nossa população.

Otavio Ianni, marxista, trata a questão do negro na perspectiva de

classe. Para Otavio Ianni, seu livro “As Metamorfoses do Escravo”, insere-se

no debate sobre a influência da questão racial na formação da sociedade

brasileira. Focalizando Curitiba e o Paraná, analisa as metamorfoses do negro,

escravo e cidadão, indo do século XVI, a meados do XX. O trabalho escravo,

os vínculos entre economia e estrutura social, e entre escravo e senhor, a

desagregação da sociedade escravista, a metamorfose do escravo em negro e

mulato, e as relações entre classes sociais e situação racial.

Nessa obra o autor apresenta o escravo exercendo diversas atividades

que se transformam ao longo do tempo, quando a mineração está no seu auge

todos estão envolvidos nessa atividade. Porém, quando ela entra em

decadência os escravos se deslocam para outra atividade como a pecuária, a

erva mate e a agricultura.

O grau de participação do escravo na economia e sociedade pode ser

constatado quando percebemos que o escravo era distribuído em múltiplas

posições na estrutura ocupacional da “empresa” pecuária ou agropecuária. No

entender de Ianni (1988, p. 46),

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Eram ocupados como capataz das fazendas, servindo como administrador do trabalho dos negros, índios e mestiços, cativos como eles, tornando líder do seu grupo conhecendo o comportamento psicossocial, manipula seus membros com eficácia em beneficio do senhor que apropriando do produto do seu trabalho. (Ianni, 1988, p. 46).

Conforme o autor (p.47), “a alienação do escravo é de tal modo total

que uns são feitos algozes dos outros, segundo as exigências recorrentes da

ordem escravocrata”, pois quando um dos seus se tornava capataz

conquistava ascensão social que poderia levar à alforria. Sendo assim (p.47),

“somente o cativo isolado pode vir a ser colocado na condição de poder

reivindicar ou almejar a ascensão social”.

Oney B. Borba, advogado e cronista nascido nos Campos Gerais, na

cidade de Ponta Grossa, viveu em Castro onde exerceu sua profissão, lá

encontrou o Castro Jornal, fonte de pesquisa importante para pesquisar e

escrever a História do Paraná, “Casos e Causos Paranaenses - 1972”, em seus

estudos, o autor destaca que procurou ressuscitar os dramas da nossa gente,

com a produção de inúmeras obras sobre o nosso Estado.

O autor destaca que uma das características do povo brasileiro é do

atraso cultural, e que os males que afligem a nossa sociedade são devidos a

esse atraso. Comenta como a natureza é riquíssima em recursos e o grande

tamanho do nosso país, que infelizmente explorado diariamente por uma elite

que exerce o poder sem nenhum espírito público.

Na obra “Preconceito e violência”, reportagem retrospectiva de fatos

ocorridos nos Campos Gerais do Paraná, durante o século XIX: sendo trabalho

de pesquisa, os nomes de pessoas, dos locais e as datas não são fictícios, o

autor comenta que são tratados alguns causos de amor, e de preconceito, de

violência e labéus que fazem parte de nossa História, ainda não divulgados.

(p.4), nesta obra o autor demonstra a preocupação em relatar os principais

fatos da nossa História ainda desconhecidos pelos leitores paranaenses.

A questão do negro na região dos Campos Gerais é relatada pelo autor

onde descreve vários casos ocorridos no município de Castro envolvendo

escravos, que são investigados e julgados pela justiça local. Em quase todos

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os casos os negros eram condenados, e recebiam vários tipos de penas. Em

alguns acontecimentos os escravos se rebelavam contra os castigos aplicados

pelos seus senhores, e acabavam cometendo crimes, em outros até mesmo

por serem obedientes acabavam sendo punidos.

Como no caso “mesmo obedecendo, escravo leva a pior”, onde um

escravo é condenado por atirar em uma pessoa a mando de seu senhor, nesse

caso a queixa sobre o senhor do escravo, um francês comerciante de jóias foi

retirado e o escravo levou a culpa pelo ocorrido. O autor afirma que “como o

leitor vê, não adiantou nada o escravo dizer a verdade e ser obediente, mas

que houve alguns regalos dos franceses nesta querência, isso, quase que

certo, houve, para serem tão rapidamente liberados”. (BORBA,1987, p.17).

Outro episódio apresentado pelo autor é o caso “Xavier que desgosta

do nome”, ocorrido na fazenda Caxambu. João José Xavier da Silva levou seu

irmão Pacífico Xavier da Silva para ver o andamento da construção de um

galpão (um tendal para proteger o feijão que estava sendo colhido), lugar

conhecido como Cuitelo, junto ao rio das Cinzas. Nessa ocasião, o senhor João

José Xavier da Silva reclamou ao escravo Lázaro – responsável pela execução

do serviço –, que a obra estava muito atrasada. Foi então, que ao responder

Lázaro foi mal interpretado pelo seu senhor. Segundo Lázaro o serviço atrasou

pelo fato de que tinha a sua disposição apenas o escravo Manoel e mais duas

escravas. Para ele as escravas não faziam o trabalho com a mesma habilidade

dos escravos homens, que eram mais fortes e rápidos. Essa resposta irritou o

seu senhor que resolveu aplicar um corretivo, como era de costume na época.

Deu ordem a outro escravo – Manoel – que, segurasse Lázaro para aplicar-lhe

o castigo merecido. Lázaro começou a correr com a intenção de se abrigar em

uma capoeira próxima, mas antes de conseguir seu intento foi capturado por

Pacífico, um jovem delegado, irmão de seu senhor. Nesse momento, Lázaro

sacou uma faca e sem perceber quem havia lhe agarrado, desferiu alguns

golpes de faca, conseguindo, assim, se soltar e fugir para a capoeira, porém

neste momento percebeu que ferirá Pacífico, moço branco e não Manoel, seu

igual. Então, se deu conta que havia cometido um crime terrível, pois havia

ferido um homem branco, arrependido entregou-se à prisão.

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As testemunhas arroladas ao processo eram pessoas brancas que

ficaram sabendo do episódio por meio do senhor e da vitima, a declaração dos

escravos sobre o fato ocorrido não tinha relevância para o inquérito policial:

os escravos que depunham, só mereciam constar quando favoráveis ao senhor. Assim mesmo, constou que o escravo Manoel, o mesmo que fora designado para segurar Lázaro declarou que seu senhor gritará, enquanto Lázaro corria: - Pacífico, dá um tiro nele! (BORBA, 1987, p.1O7).

Observa-se nesse processo que a versão dada pelo senhor e pelo

escravo são contraditórias visto que o escravo não quis faltar com respeito com

o seu senhor, que distorceu os fatos em seu depoimento, pois conforme cita

Borba “João José, o senhor de escravo, torcia os fatos. Em suas declarações

aparece até como herói, em vez de ser a figura prepotente e atrabiliária do

escravista!”. (p. 108).

Como resultante desse processo o escravo Lázaro com cinquenta anos

de idade, fora condenado a vinte anos de galés – na legislação penal de então,

significava trabalhos forçados, o que levou Pacífico a se sentir culpado pela

condenação de Lázaro. Tal fato deixou sequelas, subjetivas no jovem delegado

que começou a implicar com o seu próprio nome e resolveu mudá-lo para

Pacífico Firmino Caxambu.

Esse processo retrata o modelo do sistema estabelecido no Brasil até

final do Segundo Império, o da exploração do trabalho escravo nas relações de

produção.

Outras contribuições encontradas sobre o tema estão apresentadas

nos Cadernos Temáticos: Historia e cultura Afro-brasileira e Africana, produzido

para auxiliar os profissionais da educação na questão da Cultura Afro-Brasileira

pela Secretaria Estadual de Educação do Estado, em 2008.

A leitura prévia sobre a historiografia do negro no estado do Paraná

levou-me a propor uma análise da forma de pensar dos diferentes autores em

relação ao negro no estado do Paraná. Assim, tem-se por o objetivo fazer um

levantamento bibliográfico procurando analisar se houve variações na

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abordagem historiográfica sobre a figura do negro e o que caracteriza tais

variações.

3. O PERCURSO DA IMPLEMENTAÇÃO

Para que se atendesse aos objetivos propostos no projeto de

intervenção pedagógica que foi realizado com os alunos do 8ª ano do Ensino

Fundamental do Colégio Estadual Meneleu de Almeida Torres, do município de

Ponta Grossa, Paraná, no ano 2011, foram iniciadas as atividades na primeira

semana do mês setembro e concluídas na penúltima semana de novembro.

O primeiro encontro da implementação contou com a presença dos

alunos das 03 (três) turmas do 8º ano, os quais foram convidados para

participarem como sujeitos da ação. Os alunos levaram uma ficha de

autorização para ser assinada pelos pais, a qual deveria ser entregue à

professora PDE no próximo encontro. Nesse mesmo encontro, ficou combinado

que eles iriam participar de 32 aulas, sendo distribuídas de acordo com a

necessidade das atividades, entre elas as saídas de campo (viagens, visitas

aos museus, clubes), bem como as aulas teóricas dentro do colégio em contra

turno.

O segundo encontro aconteceu por meio de questionamentos sobre o

que os alunos conheciam a respeito do tema O negro na historiografia do

tropeirismo.

Para esse primeiro momento escolhe-se a imagem “Escravo negro

conduzindo tropas na Província do Rio Grande”, do artista francês Jean B.

Debret. A estratégia utilizada para o desenvolvimento dessa atividade foi o

levantamento dos conhecimentos prévios dos alunos sobre a tela de Debret.

Solicitou-se que observassem e fizessem oralmente comentários a respeito do

que estavam vendo e entendendo.

Essa atividade causou certo espanto nos alunos, pois muitos deles

ainda não haviam relacionado à participação do negro na historiografia do

tropeirismo. Comentaram que sempre viam o negro como uma pessoa

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escravizada totalmente desvinculado do tropeirismo. Conforme ilustra as falas

dos alunos: “Professora, o negro era tropeiro também?”; “Mas o que é que tem

a ver o negro com o tropeirismo?”; “Eu não sabia que o negro trabalhou como

tropeiro?.

Esses questionamentos propiciaram a apresentação da Unidade

Didática elaborada previamente para ser utilizada no processo desta

intervenção pedagógica, cuja finalidade está em abordar o negro na

historiografia do tropeirismo, oferecer aos alunos um material de estudo para a

disciplina de História com o intuito de desenvolver a consciência crítica dos

alunos sobre a importante presença do negro na história do Paraná.

O estudo justifica-se visto que apesar de haver alguma bibliografia a

cerca do negro na historiografia do tropeirismo, essa ainda não é tão

conhecida.

Nesse processo de intervenção, um dos objetivos foi levar os alunos a

perceberem as variações na abordagem historiográfica sobre a figura do negro

e o que caracteriza tais variações. Para dar subsidio aos alunos elaborou-se

um texto sobre o tropeirismo na região dos Campos Gerais. Salienta-se que o

texto é um resumo das discussões elaboradas por Silva (In: Scortegagna et al,

2005); Trindade (1992) e, das contidas nos Cadernos Temáticos: História e

cultura afro-brasileira e africana: educando para as relações étnico-raciais

(SEED, 2006), sobre o tropeirismo.

A partir da leitura, da discussão do texto e da resolução das atividades

os alunos demonstraram muito interesse pelo assunto principalmente porque o

tropeirismo, historicamente, está relacionado às origens de algumas cidades

paranaenses. Do nascimento das cidades que fizeram parte do Caminho das

Tropas surgiram algumas das tradições culturais existentes nos Campos

Gerais. Assim, o estudo da história regional está, portanto, próximo do

cotidiano do aluno. Como se pode observar nas participações dos alunos:

“A minha mãe faz arroz carreteiro lá em casa, é muito gostoso”. (Aluno – C)

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“Credo, olhe aqui, que feio que era o ponche deles, esquisito, agora é mais

bonito, mais confortável”. (Aluno – E)

“Professora, os tropeiros construíam casas nos lugares que eles passavam, ou

ficavam na casa dos outros?”. (Aluno – I)

“Como eram os acampamentos dos tropeiros? Eram como os dos ciganos?”.

(Aluno – A)

Tais questões conduziram a discussões em torno da alimentação,

vestuário, hospedagem e acampamentos e a influência dos tropeiros na região.

Hoje é onde está localizado o bairro da Ronda, em Ponta Grossa, foi lugar de

pouso dos animais no tropeirismo, bem como algumas ruas que também

nasceram do caminho das tropas em locais utilizados para a ronda dos

animais, como por exemplo, a rua das Tropas, a conhecida rua Augusto Ribas,

que faz parte do caminho utilizado pelos alunos, principalmente quando

passam pela rua Rocha Pombo, localizada próxima ao colégio, e que foi

caminho dos tropeiros quando estavam se dirigindo à Vila de Castro, atual

Município de Castro.

Os alunos foram convidados para assistir ao vídeo “26 de abril - Dia

dos Tropeiros no PR”, produzido pela TV Educativa, o qual aborda a

comemoração do dia dos tropeiros na Lapa. Disponível em:

http://www.youtube.com/watch?v=Qk3-95pJ-H4&NR=1.

Depois que assistiram ao vídeo foi realizado uma discussão sobre

como era apresentada a figura do tropeiro, como o negro aparece no contexto

do vídeo? Qual a influência do tropeirismo no cotidiano? Os alunos perceberam

que algumas cenas do vídeo podem ser vistas no dia a dia dos moradores da

cidade, pois a região dos Campos Gerais por estar no caminho das tropas

como foi observado no mapa que ilustra o caminho do Viamão, e as cidades

que surgiram ao longo dessa rota, apresentado aos alunos, preservou os

costumes tropeiros.

A seguir consultaram o texto, “Caminho de tropas no município de

Ponta Grossa nos séculos XVIII, XIX e meados do XX”, de Isolde Maria

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Waldmann, no qual foi traçado o roteiro aproximado do caminho das tropas, e

os educandos procuraram pontos de referência nas ruas: Emilio de Menezes,

Visconde de Taunay, Francisco Burzio, e Rocha Pombo.

Dando continuidade à implementação da unidade didática foi explorado

o texto, “O negro no estado do Paraná”. Nesse encontro realizou-se a leitura e

a compreensão do mesmo, onde os alunos puderam perceber como a figura do

negro foi apresentada, também identificaram as variações na abordagem sobre

a figura do negro, e o que caracterizou tais variações.

Durante a implementação os alunos puderam fazer uma visita ao

“Clube Treze de Maio”, em Ponta Grossa, um dos lugares onde se faz presente

à figura do negro, na condição de local de lazer. Os alunos foram recebidos

pelo presidente do estabelecimento em questão que deu uma entrevista

contando a história do Clube desde a sua fundação até a situação atual do

mesmo.

Continuando com a investigação visitou-se a Fazenda Capão Alto em

Castro, local este que representa outro lado da história do negro na região.

Pois aqui a sua força de trabalho foi explorada ao extremo conforme ocorreu no

sistema escravista em outras regiões do país. Lembrou-se ainda que esse local

passou pelas mãos de vários proprietários, dentre esses os padres

“carmelitas”, que em certo momento (século XVIII), abandonaram essas terras

por cerca de cem anos segundo alguns historiadores.

Nesse período os negros permaneceram na fazenda trabalhando para

obter seu sustento, e também eram motivados por uma questão religiosa, pois

eram devotos de Nossa Senhora do Carmo, esses fatos mantiveram por um

longo período os negros nessa área, que foi vendida pelos padres carmelitas.

Quando os novos proprietários vieram assumir a propriedade os negros se

recusaram a sair da fazenda, gerando um processo de resistência contra os

novos donos. Essa situação só foi resolvida com a intervenção da polícia de

Curitiba.

Durante a visita os alunos fizeram anotações sobre as informações que

observaram no local, tiraram fotos dos objetos, vestimentas, mobiliários,

instrumentos agrícolas que eram utilizados na época para a realização do

trabalho escravo. Nesse local algo que chamou bastante atenção dos

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educandos foi a existência do pelourinho, que simboliza até hoje a violência

que era empregada contra o negro escravo. Nesse momento, os alunos

ficaram curiosos: “Onde ficavam as senzalas?”, “Os negros ficavam

amarrados?”, “Mas eles não fugiam?”, “Ainda tem escravos na região?”.

No mesmo dia aproveitou-se para conhecer o Museu do Tropeirismo

localizado na cidade de Castro, onde se fez um levantamento sobre a sua

origem e o acervo que ele apresenta. Os alunos perceberam que, na exposição

organizada para mostrar aos visitantes, há um destaque para a figura do

tropeiro, homem branco, dono das tropas. Nesse ambiente, a participação do

negro é retratada de forma discreta, ou seja, só se valorizava o homem branco.

Como fechamento das atividades foi produzido um painel explicativo

com textos destacando a participação do negro no movimento do tropeirismo,

desenhos e fotos das visitas foram socializados às demais turmas convidadas

para visitar a exposição promovida na escola, com o objetivo de compartilhar o

conhecimento adquirido.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o trabalho desenvolvido foi possível perceber que temos muito

para pesquisar sobre a história do Paraná, nesse estudo sobre a participação

do negro na historiografia do Tropeirismo, na região dos Campos Gerais,

percebeu-se, por parte dos alunos, o interesse em conhecer a história de sua

região.

Os alunos que participaram da implementação, por meio das leituras

realizadas, das visitas e das discussões em classe, puderam ter um contato

com locais históricos da região, principalmente, onde o negro se fez presente,

com isso perceberam a importância do trabalho desenvolvido pelos escravos,

bem como ao longo da história do Paraná, as eventuais mudanças na

historiografia sobre a questão do negro africano no tropeirismo, na região dos

Campos Gerais, quando analisaram as falas dos diversos autores que

escreveram sobre a região.

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A intervenção contribuiu, tanto para a formação de um pensamento

mais crítico sobre a importância da presença do negro no Tropeirismo nas

regiões dos Campos Gerais, quanto à professora PDE, que propôs uma

reflexão sobre essa temática tão necessária, visto que há ainda pouquíssimos

estudos que abordam o negro como um dos responsáveis pelo

desenvolvimento sócio-cultural dos Campos Gerais.

Diante de tal estudo pode-se afirmar que a formação continuada

propiciada pelo PDE, vem ao encontro dos interesses dos educadores

paranaenses, pois há a necessidade de se refletir sobre a prática docente estar

em constante atualização dos conhecimentos e de novas práticas, muito

importantes para a melhoria da qualidade da educação, conforme o prescrito

nas Diretrizes Curriculares para a educação Básica do estado do Paraná.

5. REFERÊNCIAS

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de 9 de janeiro de 2003). Brasília, 2003. COELHO, S. J. C.. Passeio à minha terra. Curitiba: Fundação Cultural, 1995. CRUZ, C. M. et al. Quilombos: referência de resistência à dominação e luta pela terra no Paraná. (2006). In: Cadernos Temáticos: História e cultura afro-brasileira e africana: educando para as relações étnico-raciais. Secretaria de Estado da Educação Paraná. Superintendência da Educação. Departamento de Ensino Fundamental. Curitiba. SEED, 2006. FREITAS, I. B. de. Construindo o Outro: categorias de identificação nas viagens pitorescas de Jean Baptiste Debret e Johann Moritz Rugendas. Disponível em: http://snh2007.anpuh.org/resources/content/anais/Iohana%20Brito%20de%20Freitas.pdf. Acesso em 27/09/ 2010.

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Curitiba. SEED, 2006. PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação Básica de História. Paraná, 2008.

SAINT-HILAIRE, A. Viagem à Curitiba e província de Santa Catarina. Belo

Horizonte: Itatiaia, 1978. WACHOWICZ, R. C. Historia do Paraná. Curitiba: Gráfica Vicentina Ltda, 1995. SILVA, L. C. K. da. Tropeirismo. In Scortegagna et al (2005). Paraná espaço e memória: diversos olhares histórico-geográficos / autores Scortegagna et al. 2005. TRINDADE, J. B. Tropeiros. São Paulo: Editoração Publicações e

Comunicações Ltda, 1992.