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1 Universidade de Brasília ANA CLÁUDIA DE AZEVEDO FERREIRA A PRÁTICA DO ESPORTE COMO PREVENÇÃO AO VANDALISMO E FORMAÇÃO PARA CIDADANIA Brasília 2007

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Universidade de Brasília

ANA CLÁUDIA DE AZEVEDO FERREIRA

A PRÁTICA DO ESPORTE COMO PREVENÇÃO AO VANDALISMO

E FORMAÇÃO PARA CIDADANIA

Brasília

2007

2

ANA CLÁUDIA DE AZEVEDO FERREIRA

A PRÁTICA DO ESPORTE COMO PREVENÇÃO AO VANDALISMO

E FORMAÇÃO PARA CIDADANIA

Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar. Orientadora: Profª. Ms. Sonia Terezinha Oliveira Nogueira

Brasília

2007

3

FERREIRA, Ana Cláudia de Azevedo

A prática do esporte como prevenção ao vandalismo e formação para cidadania.

Brasília, 2007.

Brasília, 2007. 34p

TCC (Especialização) – Universidade de Brasília. Centro de Ensino a Distância,

2007.

1. Vandalismo 2. Comunidade 3. Programa Segundo Tempo

4

ANA CLÁUDIA DE AZEVEDO FERREIRA

A PRÁTICA DO ESPORTE COMO PREVENÇÃO AO VANDALISMO

E FORMAÇÃO PARA CIDADANIA

Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar pela Comissão formada pelos professores:

Presidente:

Sonia Terezinha Oliveira Nogueira

Faculdade Central de Cristalina

Membro:

Maysa Barreto Ornelas

Universidade de Brasília

Brasília,18 de agosto de 2007.

5

À Deus, o meu grande mestre, e à

minha família, que sempre esteve ao

meu lado, nesse grande desafio.

6

AGRADECIMENTOS

Ao Ministério do Esporte pela oportunidade de participar de um curso de

especialização à distância.

À profª. Sonia Nogueira, pela orientação constante e paciência nos momentos de

grande dificuldade encontrada no decorrer do curso.

Ao Senhor Zilmar Moreira e Srª. Maria Jovem, por me oportunizar a realizar este

curso de grande valia para minha formação enquanto educadora.

À minha amiga Lêda, que nunca me deixou desistir e nos momentos mais difíceis,

sempre esteve ao meu lado, me encorajando na elaboração desse trabalho.

7

“É dever do Estado fomentar práticas

desportivas formais e não formais;

como direito de cada um (...).

Constituição Federal; artigo 217”.

8

RESUMO

Esta pesquisa aborda a prática do esporte como prevenção ao vandalismo no âmbito

escolar e, principalmente, no Programa Segundo Tempo, onde as crianças também

cometem esses atos, em suas relações interpessoais. O objetivo foi explorar a relação

entre o comportamento inadequado com as implicações sócio-educacionais e familiares,

como também atentar para a conscientização do conceito de cidadania. Nosso cenário foi

o núcleo Recanto dos Jovens, onde é desenvolvido o Programa Segundo Tempo, na

cidade de Valparaíso de Goiás. No total foram aplicados 150 questionários aos pais, nas

turmas matutinas e vespertinas. O objetivo foi o de aprofundar e conhecer a opinião dos

pais sobre o assunto e verificar o sentimento dos mesmos junto aos seus filhos foi

observado como foco a influência da prática de esporte na diminuição dos atos de

vandalismo e conscientização do significado de cidadania. Os resultados atentam para a

necessidade de considerar a participação dos pais e alunos nas dinâmicas da escola, e nas

práticas esportivas, no sentido de compreender o significado da educação formal e

esportiva para eles. Foi observado, ainda, como este significado se relaciona ao

fenômeno estudando, principalmente, as escolas públicas, onde são atendidas as crianças

participantes do Programa Segundo Tempo. Além disso, foi possível analisar as

possibilidades de influência da prática do esporte na vida dessas crianças e da

comunidade, no processo de transformação do vandalismo em ações que modifiquem a

realidade em que estão inseridos.

Palavras-chaves: Vandalismo - Comunidade - Programa Segundo Tempo

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Grau de interesse pelo assunto (vandalismo).................................. 25

Gráfico 2 – Esporte: inclusão ou diversão......................................................... 26

Gráfico 3 – O esporte faz a diferença na vida do jovem................................... 27

Gráfico 4 - Mudanças de comportamento com atividades esportivas.......... 27

Gráfico 5 - Motivos que provocam o vandalismo............................................ .28

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................11

1 CAPITULO I ............................................................................................ 13

. A Violência, a Cidadania na Escola e o Programa Segundo

Tempo..................................................................................................13

1.2. O Vandalismo em Âmbitos Esportivos e Escolares ............................ 16

1.3. A atuação do coordenador de núcleo do Programa Segundo Tempo

junto à comunidade............................................................................. 19

2 CAPITULO II ...................................................................................... 22

2.1. Método ...............................................................................................22

2.2. Conhecendo o Município de Valparaíso de Goiás ..............................22

3 CAPITULO III ........................................................................................... 25

3.1. Apresentação e Discussão dos Dados.................................................. 25

3.2 Vandalismo: Alternativas Sócio-Educativas ....................................... 29

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................32

REFERÊNCIAS...................................................................................................34

11

INTRODUÇÃO

A compreensão entre a escola e as práticas de vandalismo contra o patrimônio

escolar passa pela reconstrução da complexidade das relações sociais, que estão presentes

no espaço social da escola e dos ambientes de práticas esportivas. No caso em estudo,

pretende-se analisar este fenômeno que, embora considerado novo, é motivo de

preocupação.

Rios (1991), afirma que vandalismo é todo ato destrutivo, descaracterização,

desfiguração ou mutilação intencional de objeto material, passível de avaliação econômica,

de propriedade pública ou particular, levado a cabo por um indivíduo, grupos de pessoas,

ou multidão em área urbana ou suburbana, a ponto de restringir, alterar, deturpar ou

eliminar o uso original desses bens. Partindo desse ponto de vista, percebe-se um problema

complexo, pois envolvem diferentes variáveis e motivações.

Embora este trabalho tenha como referência um núcleo, onde funciona o

Programa Segundo Tempo, como local de observação, parte-se da compreensão de que

este problema atinge não apenas as escolas ou locais de práticas esportivas, que é o foco

central, mas a sociedade como um todo.

Quando nos referimos ao esporte, temos como referência primeiramente a prática

do exercício físico, do corpo saudável e esteticamente bem modelado.

Porém, a prática do esporte não se limita apenas a uma vida saudável, e sim a

todo um contexto social mais abrangente, como a inclusão social, a construção do conceito

de cidadania, a socialização com diferentes modos de vivência e a consciência de que o

âmbito escolar e núcleos esportivos são locais de aprendizagem, de bem estar e de

construção de valores, e que por isso precisam ser conservados e bem cuidados para os fins

que os reservam.

O Programa Segundo Tempo, bem como a escola, tem por objetivo a

socialização, a construção do aprendizado por meio do esporte que, associado a esta, tem a

função de socializar, de ensinar, de proporcionar o acesso à cultura e de instrumentalizar os

educandos para compreender o mundo em que vivem.

O Programa Segundo Tempo integra o jovem por meio das modalidades

esportivas, além de contribuir para que estes saiam da ociosidade, do acesso à

marginalidade, despertando a consciência de ser cidadão, do desenvolvimento e

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conhecimento de culturas diferenciadas, através de peças teatrais, aulas diversificadas e

dinâmicas.

Entretanto, as escolas e os programas sociais voltados ao esporte, por si só, não

formam o cidadão; é função de ambos darmos condições para que este possa se formar e

construir cidadania.

Os programas de atividades esportivas e educativas, assim como as escolas,

estão inseridos numa determinada realidade que é o resultado das ações, dos valores e dos

princípios de uma comunidade, que sofre influências externas e pode influenciar naquilo

que ocorre ao seu redor.

Neste sentido, é evidente que se pode aliar práticas de esportes e escola, para

que as ações tornem-se veículos de inclusão social e mudanças de conceitos, de valores, de

cidadania, além de ser um meio minorativo para as ações do vandalismo.

Portanto, não se pode ficar lamentando o traço comportamental dos alunos, é

necessário que os educadores vejam estes aspectos como ponto de partida para uma

tomada de posição. É preciso refletir sobre essas atitudes inadequadas dos alunos, como as

pichações, destruição de móveis, entre outros e estabelecer estratégias que supram as reais

necessidades dos alunos, construindo com eles, além de conhecimento, relações humanas

que desenvolvam aspectos de ética e cidadania.

Assim, por ser um tema tão difuso e necessitar de uma análise mais profunda, e

abrangente, não poderia esgotá-lo, pois as manifestações de vandalismo são muitas, assim

como os fatores que as motivam, sendo imprescindível estabelecer algumas regras para a

abordagem do assunto.

Algumas destas regras serão discutidas neste trabalho, que tem como objetivo

considerar o esporte como meio de socialização e minorativo do vandalismo em núcleos de

práticas esportivas, além de incentivar a prática esportiva como inclusão social e

conscientização do que é cidadania; identificar qual o tipo de vandalismo comum no

Programa Segundo Tempo e perceber o sentimento do aluno em relação à prática de

esporte aliado ao entendimento do que é praticar esporte, segundo seus pais.

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1. CAPITULO I

1.1 A Violência, a Cidadania na Escola e o Programa Segundo Tempo.

Para falar sobre vandalismo na escola é preciso levar em consideração a sua

relação intrínseca com a violência. A violência é um fenômeno global, uma manifestação

que se faz presente desde os mais jovens aos velhos, entre pobres e ricos.

A escola não é um local em que a violência é notada com mais precisão, pois é

neste espaço em os alunos passam maior tempo, podendo ser observada por meio da

desordem, da transgressão e do distanciamento das normas e regras. Neste sentido, precisa

ser tratado de maneira coerente e prática, já que a compreensão de tais regras é fator

imprescindível para a vida individual e coletiva, e para uma convivência escolar saudável e

equilibrada, além da boa formação dos estudantes.

Quando a violência está voltada ao âmbito da escola e núcleos de práticas

esportivas, é preciso analisar uma série de fatores, como o por quê da violência contra o

patrimônio da escola? O por quê de o agressor tentar atingi-la? Qual o entendimento que

ele tem sobre cidadania?

Este trabalho busca entender o porquê das crianças e adolescentes, que são

atendidas pelo Programa Segundo Tempo, praticam atos de violência e vandalismo. Neste

sentido, (Guimarães1990, p.37) afirma que:

Se a escola é a expressão de um eterno conflito, a violência que daí resulta deve ser objeto de uma negociação perpétua, feita cotidianamente, enquanto as coisas estiverem acontecendo, e não através de planos que manipulam as ações das pessoas com a finalidade delas descarregarem suas energias e, desse modo, serem mais pacíficas, obedientes e submissas.

A violência é notada na escola por meio das manifestações dos alunos, quando

é trazida de fora para dentro, ou seja, o que acontece em sua vida social: a exclusão entre

classes sociais e grupos, situação econômica, adversidades de diferenças raciais, a ausência

da família, os sentimentos de carência afetiva, revolta e frustração.

O estudante não tem noção de que a escola é um local que lhe pertence e ao qual

cabe conservar, não combinando com violência e vandalismo. Ela é destinada a promover

a educação formal e tem como função conscientizar, formar, e construir o conhecimento

junto com o aluno, num processo de integração social, a partir das relações de respeito e de

valorização das pessoas e do ambiente escolar. É fácil da escola e da sociedade evitar que

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essa violência se materialize na forma de pichações das paredes e quadros de giz, na

destruição dos móveis e na depredação do patrimônio comum.

Não obstante, temos a disciplina como um dos fatores que faz parte do mundo

escolar, necessária ao estabelecimento de relações da escola como todo, como também

para a construção do conhecimento. Desta forma, é fundamental que o aluno se adapte às

normas e regras da escola, o que tem demonstrado ser extremamente complicado para o

aluno, geralmente não habituado a certas regras sociais.

É necessário que aluno siga as condutas escolares, não para obedecer, mas para

colaborar e respeitar os direitos de cada um. A gestão da escola necessita fazer com que o

aluno não veja as regras de disciplina, como intransigíveis, que alienam, mas que eduquem

e se façam necessárias para a sua vida escolar. Khouri ( 1989, p.46) argumenta que:

[...] uma alternativa que se apresenta nesta busca, é a dos educadores estarem atentos às propostas de trabalhos participativos, aos seus pressupostos teóricos e às tentativas práticas que estão sendo efetuadas, apontando suas possibilidades, limites, usos inadequados, bem como tentarem aperfeiçoá-las. Isso possibilitaria que os processos dinâmicos de mudanças inerentes à vida institucional aflorassem fatos que a encaminhariam a constantes revisões e reformulações, impedindo sua estagnação e seu afastamento dos interesses daqueles a quem deve atender.

Ao observar o ambiente da escola como um lugar de aprendizado, podemos

verificar a violência e a desordem, embora muitas vezes mascaradas, notamos a sua

presença, por meio das atitudes dos alunos em seu ambiente, mostrando-se como sintoma

das relações conflitantes e desajustadas entre o ambiente escolar e a sociedade como um

todo. Guimarães (1996, p. 77) diz que esse fenômeno é:

Um movimento ambíguo: de um lado pelas ações que visam ao cumprimento das leis e das normas determinadas pelos órgãos centrais e, de outro, pela dinâmica de seus grupos internos que estabelecem interações, rupturas e permitem a troca de idéias, palavras e sentimentos numa fusão provisória e conflitante.

A desordem no ambiente escolar é vista como um comportamento inadequado,

sendo necessárias regras que sejam cumpridas. A seção II do Regimento Escolar das

Instituições Educacionais da Rede Pública de Ensino do Distrito Federal, artigo 40, diz

claramente que “é vedado ao aluno ocupar-se, durante as aulas, com atividades não

compatíveis com o processo de aprendizagem”. (Regimento Escolar, 2001). Desta forma, a

escola precisa de regras para o funcionamento das atividades.

15

A existência de normas e regras é fator imprescindível para a vida individual

e coletiva dentro de uma instituição escolar e núcleos de práticas esportivas, que não

fogem às da escola, pois contribui para que atividades de ambas as partes sejam

evidenciadas e claramente observadas para um bom desempenho dos trabalhos de

aprendizagem.

É pertinente citar alguns direitos e deveres dos alunos (idem 38 e 39):

• Ser respeitado na sua dignidade como pessoa humana, independente de

sua convicção religiosa, política ou filosófico grupo social, etnia, sexo

ou nacionalidade;

• Conhecer e cumprir regimento da escola ou locais de práticas

esportivas;

• Participar do processo de elaboração, execução e avaliação da proposta

pedagógica;

• Emitir opiniões e apresentar sugestões em relação à dinâmica escolar;

• Aplicar-se com diligência aos estudos para melhor aproveitamento das

oportunidades de ensino e aprendizagem;

• Zelar pela limpeza e conservação do ambiente escolar, pelas instalações,

equipamentos e materiais existentes na escola e, caso venha causar dano

aos mesmos, ser responsabilizado;

• Não praticar ou induzir a prática de atos que atente contra pessoas e/ou

patrimônio escolar;

É vedado ao aluno (Artigo 39):

• Portar objeto ou substância que representem perigo para a saúde,

segurança e integridade sua ou de outrem;

• “Promover na escola qualquer tipo de campanha ou atividade sem

prévia autorização da Direção”.

A escola pode até não ser vista por todos os alunos como um lugar seguro,

longe da violência, mas também pode ser o único lugar de segurança que alguns costumam

freqüentar. Através da observação e da atuação direta com os alunos, verificou-se que a

visão dos alunos de uma escola violenta é quase sempre reflexo do meio em que estão

inseridos e do processo de exclusão a que são expostos. Neste sentido, eles culpam a

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sociedade por esta explosão de rebeldia, expressando o desejo de serem notados dentro do

ambiente escolar.

1.2. O Vandalismo em âmbitos esportivos e escolares

Quando se fala de vandalismo, recorre-se, involuntariamente, a pensar que estes

atos são vistos de uma forma grandiosa, que afeta a sociedade de maneira violenta e com

enorme abrangência, mas deve-se sempre, estar atento, pois inconscientemente, praticam-

se estes atos, quando se joga papel no chão, rasgam-se livros para recortes, rabiscam-se

carteiras, enfim, sempre o ser humano comete estes atos de vandalismo, sem perceber a sua

conseqüência.

Para iniciar a reflexão acerca da questão do vandalismo, reiteram-se as idéias de

Rios (1991, p.311) em que primeiro é preciso explicar o seu significado, afirmando que

vandalismo é:

Todo ato destrutivo, descaracterização, desfiguração ou mutilação intencional de objeto material, passível de avaliação econômica, de propriedade pública ou particular, levado a cabo por um indivíduo, grupos de pessoas, ou multidão em área urbana ou suburbana, a ponto de restringir, alterar, deturpar ou eliminar o uso original desses bens; ou seja, é uma manifestação, que não deve ser tratada, mas negociada nas formas que se fizerem necessárias.

Para discorrer sobre o assunto vandalismo, é preciso salientar alguns tipos:

� Demonstrativo – quando o agente busca atrair a atenção das autoridades, do público,

dos possíveis interessados e da mídia. Este é freqüente em motins das penitenciárias e em

movimentos reivindicatórios de estudantes, etc.

� Competitivos - quando a destruição é parte da competição, ou é entendida como

medição de forças, proeza, levadas a efeito pelas torcidas de clubes esportivos, equipes,

grupos concorrentes desavindos entre si ou inconformados com decisões de árbitros nos

estádios e em seus arredores;

� Lúdico – no caso, sobretudo de crianças e adolescentes como jogo,, brincadeira, ou

simplesmente molecagem, manifesto em pixações e garatujas, formas, quando muito de

comportamento anti-social;

17

� Egoístico ou Vicariante – quando exprime uma frustração sem objeto preciso, como a

destruição ou uso indevido de banheiros públicos, bebedouros, orelhões, caixas de

correios, etc.

Pode-se observar que todos esses tipos destacados são nitidamente observados em

todos os lugares, desde vias públicas e comércios, e principalmente nas escolas e centros

esportivos, ao qual é focada a pesquisa.

É válido salientar, que todo ambiente com finalidade educativa ou esportiva é

um espaço de interação no qual o vandalismo tem presença marcante, fazendo com que

esse ato seja pano de fundo em suas relações grupais e interpessoais. Neste sentido, é

preciso pensar nesses locais como espaço de mediação de conflitos da diversidade cultural

e social que os abrange.

Outro fator que pode se relacionar ao vandalismo nesses espaços é a significação

que têm para o aluno. Percebe-se que, muitas vezes, esses determinados locais,

principalmente a escola, que é o local de maior convívio dos alunos, não estão abertos a

novas idéias, chegando a se constituir como opressora à medida que “aquilo que a escola

ensina pouco ou nada tem a ver com a vida, com a experiência, com as necessidades e com

os interesses dos educando”. (Harper, et all 1988, p.108)

Por outro lado, a escola abre perspectivas e se coloca como fundamental para o

desenvolvimento, não apenas dos indivíduos, mas especialmente da sociedade.

Desta forma, o Programa Segundo Tempo, o qual pode ser considerado um local

de instrução, apesar de não possuir toda estrutura pertinente à escola, precisa ficar atento,

pois funciona como um instrumento de controle social, podendo intervir e participar no

comportamento de seus alunos. A escola necessita cumprir seu papel de agregadora social,

caso contrário, não será visualizada, pelas pessoas, como um bem público.

Os contextos sociais e familiares também fazem parte do processo de formação

dos sujeitos, devendo também ser considerados. Segundo Di Giorgi (1980, p. 26-27)

“(...) a família preside aos processos fundamentais do desenvolvimento psíquico e à

organização da vida afetiva e emotiva da criança (...) as experiências posteriores poderão

modificar, mas não anular completamente as familiares”.

Entretanto, a família, cada dia pressionada com a situação econômica e

preocupada em assegurar o mínimo para garantir a sobrevivência e a inclusão na sociedade

de consumo dos dias atuais, delega a educação de seus filhos à escola, abrindo mão de

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proporcionar-lhes o desenvolvimento adequado de suas capacidades emocionais e da

construção de valores.

Levando-se em conta que a família é responsável pelo sujeito e, muitas vezes

abre mão de sua responsabilidade de formadora, depositando-a na escola; verifica-se a

importância do envolvimento familiar para que essa ação de vandalismo seja transformada

de forma saudável, uma vez que o lar é o ambiente primário do aluno, sendo sua influência

predominante.

Por outro lado, para Rego (1997), mais do que esperar a transformação das

famílias ou lamentar os traços comportamentais dos alunos é necessário que os educadores

vejam estes aspectos como simples pontos de partida para uma tomada de posição. Diante

desta opinião, a gestão precisa refletir sobre essas atitudes inadequadas do aluno, não

impondo sua autoridade ou poder de disciplina, mas sim utilizando atitudes e prospectivas

de mudança, buscando criar alternativas que o resgatem para a escola, mais acolhedoras

que façam com que ele se sinta parte desse mundo chamado escola.

O referido autor (1997, p.100) complementa dizendo que:

O Comportamento indisciplinado está diretamente relacionado a uma série de aspectos associados à ineficiência da prática pedagógica desenvolvida, tais como: propostas curriculares problemáticas e metodologias que subestimam a capacidade do aluno (assuntos pouco interessantes ou fáceis demais), cobrança excessiva da postura sentada, inadequação da organização do espaço da sala de aula e do tempo para a realização das atividades, excessiva centralização na figura do professor (visto como único detentor do saber) e, conseqüentemente, pouco incentivo à autonomia e às interações entre os alunos, constante uso de sanções e ameaças visando ao silêncio da classe, pouco diálogo, etc. Talvez, neste processo de avaliação interna, é provável que a escola e os educadores descubram que motivos geralmente alegados pelos chamados ‘alunos indisciplinados’ são bastante procedentes.

Esta idéia reforça a perspectivas de que a instituição escola necessita analisar se

está realmente satisfazendo o seu alunado, favorecendo que o aluno não se coloque contra

as normas, nem tenha reações de violência e vandalismo contra ela, que deveria ser um

lugar de aprendizagem de direitos e concepções de cidadania.

O esporte tem um papel fundamental nas pequenas e grandes comunidades.

Quando os jovens participam de atividades esportivas ou têm acesso à Educação Física da

escola, podem experimentar o prazer do trabalho em equipe, além de que, os programas

19

esportivos aumentam os índices de freqüência em escolas e reduz o comportamento anti-

social, inclusive a violência.

A educação esportiva é um componente essencial de qualidade de ensino e de

vida, ela ensina aos jovens e crianças a respeitarem seu próprio corpo e dos outros, além de

ajudá-los a enfrentar os diversos desafios da juventude, como a droga, o fumo, a

marginalidade, o vandalismo, a violência, enfim toda e quaisquer conduta que desaprove a

vida em sociedade.

1.3. A atuação do coordenador de núcleo do Programa Segundo Tempo junto à

comunidade

Atualmente, as equipes que estão à frente dos programas sociais devem estar

atentas, não somente às metas que o programa pretende atingir, mas também ao que está

em sua volta, ou seja, entender a comunidade em que está inserida.

Sempre que possível, monitores e coordenadores, devem insistir nos reforços de

conhecimento de seus alunos e na retribuição dos trabalhos realizados. Esses reforços são

indispensáveis, principalmente os direcionados aos nossos principais receptores de

conhecimento, os alunos, além da comunidade.

Um fator que, de certa maneira, pode favorecer a diminuição das ações de

vandalismo é a atuação da equipe de trabalho nos núcleos esportivos, pois, segundo Alonso

( 1988, p. 140)

Os melhores dirigentes são os que capitalizam o que os membros de sua organização podem oferecer, isto cria uma equipe ou grupo mais produtivo na medida em que este crescente envolvimento cria motivações superiores, freqüentemente motivando produtividade mais elevada.

Com base nesta reflexão, se a equipe de professores, coordenadores e

funcionários sentir-se motivado a trabalhar, fará com que o ambiente de trabalho torne-se

prazeroso e, por conseqüência, despertará nos alunos, o desejo de manter o local de

aprendizado em um lugar atrativo, favorecendo o sentimento de pertença, onde as pessoas

se identificam como parte de um processo integrado entre alunos, professores e gestão.É

necessário também, que o coordenador crie um vínculo com a comunidade, fazendo com

que esta se interesse pela proteção de seu bem público. Neste sentido, cabe ressaltar uma

20

representação equivocada da sociedade que, muitas vezes, confunde o patrimônio público

com algo pertencente ao Governo, distante de si, reflexo da dificuldade do exercício e da

compreensão de cidadania.

Embora os núcleos esportivos não possam atender a todas as necessidades de que

a comunidade precisa – e tão pouco prestar a assistência social de que tanto necessitam os

marginalizados – a equipe de professores precisa fazer a diferença e mostrar que a escola e

o Programa Segundo Tempo têm condições de se adaptar ao universo dos alunos e da

comunidade.

O coordenador, juntamente com sua equipe, precisa estabelecer e desenvolver

formas de valorizar o tratamento de todos os alunos, como sentimento de orgulho por sua

escola e local de práticas esportivas, além de tentar estabelecer um maior vínculo com a

comunidade. O artigo 9º, parágrafo V e VII do Regimento Escolar das Escolas Públicas do

DF cita esta reflexão, indicando que as escolas devem incentivar a participação dos pais e

da comunidade no desenvolvimento das atividades promovidas pela instituição

educacional, além de manter-se informado sobre a realidade socioeconômica e cultural da

comunidade. Não é uma tarefa fácil, mas que se configura como um caminho para que o

vandalismo na escola tenha uma baixa significativa.

Para que o coordenador consiga interagir com a comunidade e alunado, é

necessário que os funcionários se envolvam neste trabalho e, acima de tudo, que os pais e

alunos percebam a eficácia do mesmo.

De acordo com as orientações do Currículo de Educação Básica das Escolas

Públicas do DF. o gestor deve estar atento às possibilidades de melhorar a prática

educativa vivenciada na escola. Neste sentido, destacam-se as relações da escola com a

comunidade, as inter-relações pessoais desenvolvidas no âmbito escolar, a forma de

atendimento prestado aos pais, a dinâmica do intervalo, a conservação do prédio escolar, a

definição de critérios e regras disciplinares, entre outras, constituem-se em oportunidades

ricas para o aprimoramento contínuo do trabalho educativo.

Para isso, torna-se fundamental que todos os profissionais estejam imbuídos de

seu papel de educadores. Essa forma de olhar o cotidiano educacional escolar e esportivo

põe em destaque a função pedagógica das ações administrativas.

Embora a realidade das escolas ainda esteja distante desta proposta, é preciso

haver uma maior concentração de pessoas com esse desejo de mudança, profissionais que

21

queiram realmente fazer a diferença, afinal, o professor lida com as crianças e as

conseqüências de suas aulas refletem em seu dia-a-dia, no convívio familiar e comunidade.

Considerando especialmente a problemática do vandalismo, o coordenador, por

sua vez, necessita avaliar sua proposta de trabalho juntamente com o corpo docente, para

que sejam introduzidos em seu planejamento escolar e no planejamento das ações do

Programa Segundo Tempo, atividades que contemplem as reais necessidades de seu

público alvo, levando-se em consideração a questão da conservação e manutenção.

As crianças possuem grande vulnerabilidade no ambiente e em relação às pessoas

que as rodeiam. Conseqüentemente, sofrem influências do meio em que vivem, sejam elas

positivas e negativas, e os educadores de educação física e principalmente da escola,

devem oferecer essa orientação, pois é um fator decisivo para a formação de sua

personalidade.

Quando um professor reúne um grupo de crianças e jovens, seja ela carente ou

não, para ensinar a prática de determinado esporte, com suas regras, ele começa a estimular

a disciplina deste atleta, deixando claro desde o começo a conduta a qual deve ser seguida.

É importante ressaltar o que diz Freire e Scaglia ( 2003, p.21):

À medida que a criança desse período escolar se relaciona com várias outras pessoas, passa a ver nelas aspectos que lhe despertam interesse. Ela descobre também o prazer dos jogos em grupos. Para usufruir essas vantagens, no entanto tem de chegar a acordos que pressupõem reivindicar certos interesses a abrir mão de outros. Ela precisa aprender a julgar valores certos e errados, de bem e mal, e assim por diante.

Por todas essas informações, observa-se que as crianças sofrem as mais diversas

influências no ambiente em que vivem. Por isso os educadores precisam avaliar de que

forma elas se manifestam e desenvolver trabalhos que possibilitem a transformação desses

alunos, sintetizando a força que a educação tem de transformar.

22

2. CAPITULO II

2.1. Método

A metodologia utilizada para a realização desta pesquisa se constitui num

levantamento quantitativo acerca dos aspectos relacionados ao vandalismo na escola e

núcleos esportivos como o Programa Segundo Tempo, como minorativo para essas

infrações, com o intuito de levantar informações para a compreensão deste problema.

O estudo foi realizado no núcleo Recanto dos Jovens, onde é desenvolvido o

Programa Segundo Tempo. A proposta desta pesquisa surgiu da identificação de uma

situação problema, que se caracteriza pela observação das práticas de vandalismo na escola

e pela falta de informação do que é bem público pautado em princípios de cidadania. Esta

situação foi identificada por meio de conversas com alunos e de sua manifestação não só

no Programa, mas em suas escolas.

Neste sentido, esta investigação passou por algumas etapas. Pôde-se perceber que

no Programa Segundo Tempo os alunos repetiam as mesmas ações que costumam praticar

em suas escolas, no caso, o vandalismo. Desde então se constatou que este problema atinge

todos os setores em que estes jovens estão inseridos. Foram estas experiências que me

conduziram à problemática do vandalismo nos ambientes escolares e no meu ambiente de

trabalho, passando a refletir sobre esta realidade, pautando-se em referenciais teóricos

significativos.

Além da observação, utilizou-se um questionário como instrumento de

levantamento de dados, repassado aos pais dos alunos do Programa Segundo Tempo, onde

foi possível coletar informações acerca do tema, além de buscar informações sobre o

entendimento que os mesmos possuem a respeito deste programa social.

2.2. Conhecendo o Município de Valparaíso de Goiás

O município de Valparaíso de Goiás foi parte integrante do Centenário do

município de Luziânia, antiga Santa Luzia. Teve sua emancipação após várias tentativas,

em 15 de junho de 1995, por meio eletrônico.

23

Segundo a história oficial, o município recebeu esse nome em virtude de uma

homenagem que quiseram prestar a um engenheiro, natural de Valparaíso no Chile, César

Barney, que foi responsável pelo primeiro núcleo habitacional desta cidade.

O atual município de Valparaíso conta com uma população de

aproximadamente 123.921 habitantes, demonstrando um crescimento maior em poucos

anos, devido a construção de um complexo industrial próximo a redondeza, por nome

Porto Seco, alem da proximidade com a Capital Federal.

O município é dividido em Valparaíso I E II, pela rodovia BR 040 e é composta

também por diversos bairros: Céu Azul, Cidade Jardins, Jardim Oriente, Morada Nobre, e

os bairros chamados de Parques Ipanema, Rio Branco, São Bernardo, Marajó, Santa Rita e

Esplanada.

O município conta com escolas públicas municipais e estaduais, particulares,

farmácias, bares e similares, pequenas indústrias, principalmente voltadas para o ramo

moveleiro, compondo um agrupamento industrial de 100 empresas nesse segmento,

supermercados, escritórios diversos, além de sediar as faculdades CESB, FACESA,

FIPLAC E JK.

O local em que o Programa Segundo Tempo é desenvolvido fica no setor de

Chácaras Ipiranga, cedido pelo senhor Zilmar Moreira para o desenvolvimento do trabalho.

A chácara Recanto dos Jovens é um espaço muito gratificante de se trabalhar,

pois as crianças têm contato direto com a natureza, dispondo de piscinas com água

corrente, 02 campos de futebol, quadra poliesportiva, bica d’água, banheiros com duchas

de águas correntes, churrasqueira, 01 galpão com cadeiras universitárias e mesas com

bancos, onde são realizadas aulas de acompanhamento escolar, além de várias outras

atividades, como apresentação de peças teatrais, danças, palestras e reuniões.

Embora o local tenha sido beneficiado com este Programa, o setor de chácaras,

requer maior atenção, pois não possui ruas asfaltadas, transporte coletivo ou alternativo. O

comércio mais próximo fica a uma distância razoável, sendo preciso andar bastante para

chegar ao local desejado.

As crianças que freqüentam o núcleo reclamam pela distância que têm que

andar, chegando muitas vezes a desistir de freqüentar, por medo, pois têm de atravessar por

lugares com mato e pouco movimento de pessoas. Há um ônibus que transporta as crianças

dos lugares mais distantes, como os alunos do Parque Marajó, Santa Rita e Ipanema,

viabilizando o nosso trabalho.

24

O Programa Segundo Tempo, para a comunidade local e próxima, é uma

realidade que, para muitos de nossos alunos era muito distante, por não terem condições de

pagar nenhuma destas atividades propostas. Hoje, para muitos desses participantes, os

núcleos do Programa Segundo Tempo tornou-se como uma segunda casa, que quando não

há atividades, chegam até chorar, pois são nessas poucas horas em que estão participando

no Programa, que muitos deles têm carinho, alimentação e acima de tudo, são respeitados.

25

3. CAPITULO III

3.1. Apresentação e Discussão dos Dados

Caracterização da realidade investigada:

O núcleo objeto de estudo situa-se no município de Valparaíso de Goiás, no

setor de chácaras Ipiranga, denominada Chácara Recanto dos Jovens, onde funciona o

Programa Segundo Tempo.

Tem uma área total de 40.000 m2 com muita área verde ao seu redor, próxima

ao centro desta cidade, com piscinas de água corrente, campo de futebol gramado, quadra

poliesportiva, galpão coberto com cadeiras universitárias e mesas com bancos fixos

doados, banheiros.

Análise dos dados:

Os dados representam uma amostra significativa na sinalização do que os

pais pensam a respeito do vandalismo e da significância do Programa Segundo Tempo.

O questionário foi aplicado aos pais, embora estes tenham demorado na

entrega, e outros não devolvidos, o que dificultou o trabalho de uma análise mais

constante.

Gráfico 01 -Grau de interesse pelo assunto (vandalismo)

porcentagem

19,76

29,64

3,8 0

muito interessante

interessante

indiferente

pouco interessante

26

Para os pais, o assunto da pesquisa apresenta-se bastante significativa. 29,64%

acreditam ser um assunto interessante e 19,76% muito interessante, o que revela ser um

assunto de significância no dia-a-dia da comunidade.

Gráfico 02 -Esporte : inclusão ou diversão

porcentagens

25%13%

3,90% 0Inclusão social

diversão

não entende aproposta doprograma

O gráfico nos mostra que os pais entendem qual o objetivo do Programa Segundo

Tempo, embora muitos não se envolvam na busca de uma parceria mais concreta e junção

de esforços para o melhor desenvolvimento de seu filho, sendo mais participativo nas

reuniões e acompanhamento das atividades desenvolvidas nos núcleos de atuação do

Programa.

É necessário fazer com que os pais entendam verdadeiramente o esporte,

enquanto via proporcionadora de competência pessoal e social, produtiva do jovem, e que

o intuito do Programa, não é formar atleta e sim democratizar o acesso ao esporte.

27

Gráfico 03 - O esporte faz a diferença na vida do jovem:

porcentagens

25%13%

3,90% 0 Inclusão social

diversão

não entende aproposta doprograma

É possível verificar a ação social que o esporte promove, podendo auxiliar no

resgate do aluno da criminalidade, como também influenciar em sua conduta. Quando o

jovem tem acesso a atividades esportivas, aliado à informação e desempenho de sua

prática, a marginalidade torna-se ainda mais distante, abrindo-se novos horizontes e

perspectivas de um mundo melhor. Embora essa estimativa seja importante, vale salientar

que quando o jovem é afetado por todo ou qualquer processo de exclusão, tem maiores

dificuldades em participar na sociedade, devido à inexistência de oportunidades iguais.

Para que o esporte faça a diferença, é preciso que haja a compreensão das

diferenças sócio-culturais e econômica, por meio do trabalho de conscientização sobre a

cidadania e do esporte como canal de aproximação de culturas e redução de conflitos.

Gráfico 04 - Mudanças de comportamento com atividades esportivas

porcentagens

26,80%

12,30%52,80%

consideravelmente

Não houve muitas mudanças

Obteve grandes mudanças naescola e em casa Obteve grandes mudanças naescola e em casa

28

A educação, aliada à prática do esporte, torna-se, para o jovem e a criança, um

fator imprescindível para o seu desenvolvimento, tanto na educação formal e familiar. As

mudanças de comportamento decorrem da falta de oportunidades que suas famílias

enfrentam, em virtude da situação financeira e social, tornando o jovem o seu principal

alvo de tal conflito.

O Programa Segundo Tempo, é uma porta para muitas realizações dos jovens e das

crianças que participam do projeto, assim como para seus pais, que possibilitam aos seus

filhos atividades que, a principio não poderiam financiar. Desta forma, o Programa torna-

se um local de realizações de sonhos e possibilidades de alçar grandes vôos para o mundo

do esporte e acesso à cultura, melhorando o convívio familiar e, conseqüentemente, o seu

esforço de querer aprender mais, não só no ambiente escolar.

Gráfico 05 - Motivos que provocam o vandalismo

porcentagens

56,71%

73,20%

29,90%0

Falta de medidas punitivas constantes

Falta de educação afetiva e a compreensãodos valores morais(honestidade,carisma,cooperação,etc.)

Não entende que bem público também ospertence, e que por isso não deve depredá-lo

Os atos de vandalismo, segundo a opinião dos pais, são provocados pela falta

de medidas punitivas, com 56,71%, que dificilmente é tomada pelos locais em que seus

filhos freqüentam. Apesar de termos esse índice, acredita-se que essas medidas devam ser

tomadas pelos próprios pais, pois a melhor forma de se combater esse ato é a base familiar,

que os jovens presenciam e aprendem com os pais.

Outro fator que obteve alto índice foi a falta de educação afetiva, com 73,2%, o

que mostra a necessidade dos educadores desenvolverem programas centrados em técnicas

29

de resoluções de conflitos, compreensão, através de dinâmicas, utilizando conceitos de

honestidade, cooperação, respeito com o próximo, entre outras. Também contribui para

essa opção o convívio familiar. Quando este não existe, o indivíduo fica à mercê da

sociedade, buscando valores que não são aceitos, segundo os padrões exigidos pela

sociedade. Pode-se dizer que o papel da família é fundamental para o desenvolvimento do

ser humano.

A questão do bem público também deve ser levada em conta, principalmente

pela escola, local em que os jovens e as crianças passam o maior tempo. Informando e

trabalhando a questão do direito e deveres, que os mesmos constituem, deixando claro o

que é um bem do governo e bem público, estar-se-á conceitualizando o que é cidadania.

3.2 Vandalismo: Alternativas Sócio-Educativas

O vandalismo e a violência são questões que expressam as condições

socioeconômicas da sociedade. A falta de acesso à educação de qualidade e oportunidade

de participar de programas que beneficiem a prática de esporte contribui para a elevação do

índice de criminalidade que assola o nosso país.

O Programa Segundo Tempo busca democratizar o acesso à prática de esporte, do

desenvolvimento do corpo e do jovem como pessoa, associando essa prática à educação

formal.

Oportunizar ao jovem a participação em atividades lúdico-recreativas ou

direcionadas, é mantê-lo afastado das situações de risco e perigo. A prática do esporte é

também um instrumento de educação para a vida e, a efetiva participação na comunidade

contribui para que o trabalho realizado no Programa Segundo Tempo seja completo, além

do exercício consciente da cidadania.

Diante da vulnerabilidade às quais os nossos alunos estão expostos, é

imprescindível que se invista em programas sociais para que se sintam parte da sociedade

e saibam aproveitar todas as oportunidades que lhes são oferecidas, possibilitando o

desenvolvimento social, como também física, através das atividades esportivas,

proporcionadas pelo Segundo Tempo.

30

Dakar ( 2001 item 58 ) afirma que

[...]os esportes, as atividades de lazer, tais como práticas esportivas recreativas, atividades culturais e formas tradicionais de recreação, atividades sócio-econômicas e até as diversões pagas, permitem que os indivíduos administrem seu tempo livre sem restrições. Até mesmo em situações difíceis, essas atividades dão aos jovens a oportunidade de se divertir, relaxar, jogar, brincar e encontrar enriquecimento cultural. Ademais, os esportes e as atividades de lazer dão aos jovens a possibilidade de expressarem, de realização pessoal e desenvolvimento como individuo e como membro de um grupo. Além disso o esporte e as atividades de lazer podem aumentar a consciência dos jovens e inspira-los a contribuir para a melhoria de suas condições de vida, por meio do voluntariado.Essas atividades devem estar disponíveis para todos os jovens, sem exclusão baseada em gênero, religião ou condição social.

Diante destas afirmações, as infrações cometidas pelos alunos,

conseqüentemente devem ser reduzidas mediante programas sociais que enfatizem a

prática do esporte como inclusão social, podendo reverter esse quadro de exclusão e

violência a que muitos de nossos alunos estão expostos.

Os projetos educativos aos quais estejam à frente os próprios alunos,

supervisionados pelos professores, pode ser considerada uma alternativa.

Conseqüentemente, esse índice de vandalismo poderia vir a diminuir, pois esses projetos,

sejam sobre violência, vandalismo, auto-estima, entre outros, envolveriam toda a escola.

O esporte é um elemento inclusivo fundamental no processo educativo da

criança e do jovem. Todavia, é necessário tomar alguns cuidados, especialmente com o

direcionamento das atividades esportivas, que devem ser feitas baseadas em princípios

éticos, morais e sociais, visto que o papel da família é fundamental para o bom

desenvolvimento da criança no esporte.

O Programa Segundo Tempo atua como um projeto social que tem como função a

inclusão social por meio do esporte. Sendo assim, é preciso frisar que o esporte não é

somente para o desenvolvimento do corpo, mas atua como o catalisador de percepção de

emoções. O aluno chega ao Programa, muitas vezes, com reações violentas, e

conseqüentemente, é vista como um comportamento arbitrário, fora dos padrões. É neste

momento que o educador necessita ser hábil e reverter este quadro, mostrando ao aluno a

importância da prática de esporte em sua vida, enfatizando as condutas morais necessárias

para o bom comportamento dentro e fora de seu convívio social; ainda informando valores

31

e exemplos de pessoas no mundo do esporte em sua trajetória até chegar ao seu objetivo de

vitória e reconhecimento de seu talento, aliado os acontecimentos que possam ser

colocados como formas de atenuar os possíveis atos de infração na vida desse aluno.

É preciso incluir nas práticas pedagógicas, sejam elas na área de educação ou

não, formas de trazer o aluno para este mundo chamado Educação, mostrando a ele as

várias maneiras de viver e de se auto-avaliar, como por exemplo, através dos temas

transversais, onde são envolvidos assuntos de várias esferas, sem agredir a particularidade

de cada um.

Outra medida que pode ser de grande valia são as dinâmicas de grupo, onde são

trabalhadas várias formas de atitudes, pensamentos e níveis sociais diversificados.

A família é a alternativa de maior poder, pois é nela que o aluno traça o seu

perfil de comportamento. Sendo assim, o aluno que não tem uma estrutura familiar sólida,

apoiada em valores morais e éticos, provavelmente se desviará de uma conduta

moralmente bem sucedida. Para tentar mudar esse quadro, é preciso trazer a família para o

Programa, por meio de eventos que envolvam filhos e pais, competições de caráter

recreativo e ao mesmo tempo de informação do valor do esporte na vida do aluno e em sua

comunidade. Outro fator importante para o envolvimento da família com o Programa são

as palestras informativas, como, por exemplo, sobre drogas, violência, gravidez, DST,

enfim, diversos temas que podem ser trabalhados em conjunto com os alunos e a família,

que posteriormente devem ser debatidos dentro de cada modalidade esportiva e

acompanhamento escolar.

Por fim, o Programa Segundo tempo se preocupa não somente com a

democratização do esporte, mas com o aluno em sua potencialidade, tanto físico como

intelectual, fazendo desse jovem, hoje em risco social, um vitorioso em sua trajetória de

vida no futuro.

32

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das pesquisas e análises realizadas, podem-se perceber algumas

características que marcam o fenômeno do vandalismo, em especial no caso estudado.

Neste universo, a ação de vandalismo é considerada diversão e é motivado, muitas vezes,

por descontentamento com padrões sociais e/ou familiares, fazendo dos espaços dirigidos à

educação formal e esportiva, um espaço para descarregar angústias e frustrações, tornando

as ações destrutivas como expressão do sentimento de marginalização, dos que não se vêm

como parte integrante da sociedade como um todo.

Outro fator relevante é a questão de saber o que é cidadania, conceito este, que

está longe de ser entendido pelos alunos, e que precisa ser referenciado com mais ênfase

pela escola e pela família, distinguindo-se também do que é patrimônio público.

O vandalismo está se tornando um problema que atinge não só as escolas, mas

qualquer lugar, tomando proporções grandiosas, sem que o aluno infrator seja levado a

refletir e avaliar a conseqüência de seus atos de vandalismo perante a escola e a sociedade.

A falta de envolvimento da comunidade com a escola e, no caso, com um

programa social, também é um fator relevante, pois a interação escola/programa

social/comunidade poderia amenizar de forma gradativa a questão da violência e do

vandalismo.

Os alunos do Programa Segundo Tempo, são receptivos e têm vontade de

aprender. Com isso, tem-se uma grande ferramenta a favor do trabalho, pois é nessas

características que se consegue compreender as reações dos alunos no seu dia-a-dia. Nesta

perspectiva, o profissional de educação necessita trabalhar este aspecto, enquanto educador

e colaborador social.

Acredita-se que, para integrar o esporte como ferramenta de inclusão social, é

necessário que haja integração entre todos os envolvidos nessa temática, a família

integrada com as práticas desenvolvidas e o Programa em conjunto com o todo,

comunidade/escola/aluno.

Acima de tudo, é preciso que todos contribuam um pouco nesse processo,

buscando no esporte um meio de minorar o acesso a marginalização (violência, drogas) e

práticas condenáveis pela sociedade.

33

Por fim, vale lembrar que o vandalismo é um fenômeno complexo, pois são

vários os fatos a serem analisados, o que sugere a necessidade de estudos mais detalhados

sobre esta questão.

Não se pode apenas condenar, mas certamente fazer com que este quadro seja

visto de outro ângulo, com perspectivas de mudanças, tornando o esporte uma ferramenta

de transformação para essas crianças, e buscando nesse Programa Social a liberdade de ser

criança e ao mesmo tempo de reconhecimento de suas potencialidades.

E assim, encerra-se este trabalho, esperando ter contribuído para que as pessoas

que estão à frente e as que desejam fazer parte do Programa Segundo Tempo possam ver

nas atividades oferecidas, uma forma de trazer os jovens e crianças, para uma realidade,

para muitos distante.

Esperando ainda, que o Programa Segundo Tempo possa ampliar as

oportunidades de participação das comunidades internas e externas em atividades sócio-

esportivas, desenvolvendo uma consciência crítica acerca da qualidade da corporeidade

vivida, contribuindo para a formação plena do ser humano.

34

REFERÊNCIAS

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Bertrand Brasil S.A, 1988.

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Papirus, 1988).

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versus autoritarismo. Editora pedagógica e Universitária Ltda. 1989. Capitulo 03, pagina

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PIMENTEL, Antonio. Visão Histórica de valparaíso de Goiás. Athalaia Gráfica Editora

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RIOS, José Arthur. A pau e pedra: notas sobre o vandalismo, Revista Informação

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REGO, Teresa Cristina R. A indisciplina e o processo educativo: uma análise na

perspectiva Vygotskiana. In: Aquino, Julio R. G. (org) indisciplina na escola: alternativas

teóricas e práticas. São Paulo

35