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A POSSÍVEL INFLUÊNCIA DA MÍDIA NA ESCOLHA DO ESPORTE COMO CONTEÚDO DE AULA PELOS PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA DO ENSINO MÉDIO Amanda C. L. Romão 1 Ana Cláudia G. de O. Duarte (O) 2 1- INTRODUÇÃO Durante o período de estágios de cunho obrigatório do curso de graduação em Licenciatura em Educação Física da UNESP de Bauru pude conhecer o trabalho de diversos professores que atuavam em escolas particulares e outros que trabalhavam na rede pública naquela cidade. Analisando o conteúdo da Educação Física das aulas que assisti, várias vezes encontrei práticas incoerentes e conteúdos baseados unicamente em esportes que eram trabalhados em todos os níveis escolares, principalmente no Ensino Médio, onde a Educação Física parece encontrar dificuldades para organizar seus objetivos, conteúdos e metodologias específicas. Um outro ponto que me chamou a atenção foi o fato de prevalecerem às modalidades coletivas, como o futebol, o voleibol, o basquetebol e por vezes o handebol, mais valorizadas pela mídia, em termos de quantidade de horas de transmissão, horário e o canal de vinculação. O fato é que se nossos alunos necessitassem apenas de uma bola na quadra e, com ela, jogar os quatro esportes tradicionais para a nossa cultura/realidade brasileira (futebol, voleibol, basquetebol e o handebol) e nada mais, para quê freqüentaríamos tanto tempo uma instituição de ensino superior específica na área? É uma incoerência saber que possuímos tanto conhecimento para transmitir, como as danças, os jogos, as lutas, as ginásticas, e ao mesmo tempo, não somos capazes de elaborar um plano de ensino que atenda às necessidades de nossos alunos, não impedindo dessa forma que a aula se torne rotineira e mecânica perdendo a importância dentro do ambiente escolar. Diante de tal fato, algumas questões principais passaram a me incomodar e me levaram a desenvolver esse trabalho: por que os professores de Educação Física não conseguem utilizar os inúmeros conteúdos que esta área abarca? Por que acabam restringindo- se apenas ao conteúdo esporte, já que não é nossa função formar atletas dentro do ambiente 1 Professora de Educação Física da Rede Estadual de Ensino de São Paulo, Diretoria Regional de Ensino de Santo André e aluna da I Turma do Curso de Especialização em Educação Física Escolar (lato sensu) do DEFMH/UFSCar. 2 Professora Adjunta do DEFMH/UFSCar e do Curso de Especialização em Educação Física Escolar.

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A POSSÍVEL INFLUÊNCIA DA MÍDIA NA ESCOLHA DO ESPORTE COMO

CONTEÚDO DE AULA PELOS PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA DO

ENSINO MÉDIO

Amanda C. L. Romão1 Ana Cláudia G. de O. Duarte (O)2

1- INTRODUÇÃO

Durante o período de estágios de cunho obrigatório do curso de graduação em

Licenciatura em Educação Física da UNESP de Bauru pude conhecer o trabalho de diversos

professores que atuavam em escolas particulares e outros que trabalhavam na rede pública

naquela cidade. Analisando o conteúdo da Educação Física das aulas que assisti, várias vezes

encontrei práticas incoerentes e conteúdos baseados unicamente em esportes que eram

trabalhados em todos os níveis escolares, principalmente no Ensino Médio, onde a Educação

Física parece encontrar dificuldades para organizar seus objetivos, conteúdos e metodologias

específicas.

Um outro ponto que me chamou a atenção foi o fato de prevalecerem às

modalidades coletivas, como o futebol, o voleibol, o basquetebol e por vezes o handebol, mais

valorizadas pela mídia, em termos de quantidade de horas de transmissão, horário e o canal de

vinculação. O fato é que se nossos alunos necessitassem apenas de uma bola na quadra e, com

ela, jogar os quatro esportes tradicionais para a nossa cultura/realidade brasileira (futebol,

voleibol, basquetebol e o handebol) e nada mais, para quê freqüentaríamos tanto tempo uma

instituição de ensino superior específica na área? É uma incoerência saber que possuímos

tanto conhecimento para transmitir, como as danças, os jogos, as lutas, as ginásticas, e ao

mesmo tempo, não somos capazes de elaborar um plano de ensino que atenda às necessidades

de nossos alunos, não impedindo dessa forma que a aula se torne rotineira e mecânica

perdendo a importância dentro do ambiente escolar.

Diante de tal fato, algumas questões principais passaram a me incomodar e me

levaram a desenvolver esse trabalho: por que os professores de Educação Física não

conseguem utilizar os inúmeros conteúdos que esta área abarca? Por que acabam restringindo-

se apenas ao conteúdo esporte, já que não é nossa função formar atletas dentro do ambiente 1 Professora de Educação Física da Rede Estadual de Ensino de São Paulo, Diretoria Regional de Ensino de Santo André e aluna da I Turma do Curso de Especialização em Educação Física Escolar (lato sensu) do DEFMH/UFSCar. 2 Professora Adjunta do DEFMH/UFSCar e do Curso de Especialização em Educação Física Escolar.

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escolar? E, ainda que somente esportes fossem ministrados nas aulas, por que se limitam aos

esportes tradicionais como futebol, basquete, vôlei e às vezes o handebol?

Será que a resposta está no fato de as mídias3, em especial a televisão,

divulgarem com certa freqüência essas modalidades e de repente influenciarem também no

dia a dia do professor de Educação Física? Esses esportes oferecidos na televisão são

ofertados porque o público contempla uma demanda, ou o público aceita essa proposta porque

na televisão não são ofertadas outras modalidades? Esses questionamentos que me

inquietavam enquanto estagiária, passaram a me inquietar agora como professora da rede

pública. Como levar em consideração os interesses, motivos e anseios dos alunos, se nós

professores não conseguimos garantir sequer, formas variadas de prática esportiva em nossas

aulas? Afinal, supomos que os alunos já vivenciaram ao longo desses anos atividades

esportivas que privilegiavam a aprendizagem das habilidades motoras necessárias para a

execução dos gestos esportivos específicos de cada modalidade esportiva. Ou seja, se o aluno

já sabe sacar, chutar e arremessar, ele agora pode apenas ter aulas em que o jogo completo

toma grande parte do tempo de aula de Educação Física no Ensino Médio? Enfim, devido aos

restritos trabalhos acadêmicos sobre o Ensino Médio, e a ausência de propostas para os alunos

que freqüentam este nível de ensino, focaremos o trabalho na relação/influência que a mídia

pode ter com a escolha das modalidades aplicadas nas aulas pelo professor de Educação

Física. Dessa forma, a presente pesquisa objetiva investigar se a aplicação de determinadas

práticas esportivas nas aulas de Educação Física do Ensino Médio é decorrente de certa

influência que a mídia, mais especificamente a televisão, exerce não só nos alunos desse nível

de ensino, mas também nos professores de Educação Física ou se esta aplicação ocorre em

virtude apenas da história da nossa área e das características de formação e atuação

profissionais.

2. EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA

A Educação Física é um componente curricular, segundo a atual Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que possibilita, talvez mais do que outros

espaços, um conteúdo que pode dar início a mudanças significativas na maneira de se

implementar o processo de ensino/aprendizagem, tendo em vista as diversas situações em que

3 Por “mídias” entendemos os meios de comunicação como jornal, rádio, televisão, internet etc. A opção pelo uso do plural decorre do entendimento compartilhado com Santaella (1996), que vê uma crescente proliferação e diferenciação das mídias, cumprindo cada uma delas funções específicas e inter-complementares.

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os dados do cotidiano associados à cultura corporal de movimento4 podem ser utilizados

como objetos para reflexão. Porém, muito pouco é feito na direção de alguma mudança na

maneira de educar "para a vida". O tecnicismo e o "fazer por fazer" ainda são hegemônicos.

A história da Educação Física no Brasil, assim como a da educação, em cada

época, liga-se à representação de diversos papéis determinados pelos interesses da classe

dominante. Assim, assume funções com diversas tendências: militarista, higienista, de

biologização, de psicopedagogização, que ainda hoje permeiam sua prática (GONÇALVES,

1994).

Pode-se dizer que "os conteúdos de ensino emergem de conteúdos culturais

universais, constituindo-se em domínio de conhecimento relativamente autônomos,

incorporados pela humanidade e reavaliados, permanentemente, em face da realidade social"

(LIBÂNEO, 1985, p. 39). E nesta perspectiva veremos que o principal vetor de tais

características, não só no ciclo de iniciação à sistematização do conhecimento, mas também

na Educação Física como um todo, é o esporte, dividido em modalidades que se tornam

conteúdos e são utilizados no intuito de se alcançar os objetivos propostos pelos educadores.

Há muito tempo, vê-se que o Esporte e a Educação Física são muitas vezes

confundidos, mas é plausível relatar que o esporte por si só não é considerado educativo, a

menos que seja "pedagogicamente transformado" (Kunz citado por SILVEIRA s/d),

considerando que se torna um reflexo daqueles que o praticam. Cada um desfrutará do esporte

da forma como lhe foi apresentado. Uma aula de Educação Física metodologicamente

tradicional vem a ser, muitas vezes, o determinante para a aversão à sua prática social. E a

respeito de metodologias para a aplicação educativa do esporte, é válido salientar que quando

utilizado de uma forma irrefletida "serve apenas para dar continuidade ao processo de

dominação capitalista" (Bracht citado por BETTI, 1997, p.38), pois através destes moldes

"receita de bolo" o aluno se torna um ser passivo nas mãos de um professor também passivo

(uma vez acrítico) que utiliza seus conteúdos fundamentados na hegemonia capitalista

(mesmo que não tenha consciência disso). Sendo assim, torna-se responsável pela criação de

um futuro homem adestrado, submisso às regras e passivo às decisões tomadas, por seus

governantes, com intuito de favorecer as classes dominantes as quais representam.

Ainda nessa linha de pensamento, a vivência no esporte pode ser responsável

por várias características que o indivíduo carregará para o resto da sua vida, em relação a sua

4 Entendemos por “cultura corporal de movimento” aquela parcela da cultura geral que abrange algumas das formas culturais que se vêm historicamente construindo, nos planos material e simbólico, mediante o exercício sistemático da motricidade humana – jogo, esporte, ginásticas e práticas de aptidão física, atividades rítmicas/expressivas etc.

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cultura de movimento e para além dela. Assim como em uma aula de Matemática (ou outro

componente curricular da escola), dependendo da forma como o conteúdo for trabalhado o

aluno se afeiçoará àquilo ou detestará; na aula de Educação Física, o professor ao desenvolver

uma atividade esportiva de forma hierarquizada, fazendo com que o aluno fique com uma

função inferior, ou não lhe dê a atenção necessária, pode estar colaborando para que este

mesmo aluno inferiorizado em sua função se torne passivo e adaptado à inferioridade. Kunz

(1994) caracteriza como uma irresponsabilidade pedagógica do professor proporcionar

vivências esportivas de sucesso para uns poucos e de fracasso para muitos, que resultará

futuramente na sua inclusão à margem do mercado de trabalho, ou seja, a mão-de-obra barata

e explorada.

Para Bracht (1989), o esporte foi introduzido dentro da instituição escolar

imbuído de todos os princípios de rendimento atlético/desportivo, de competição acrítica, de

comparação de rendimento, de regulamentação rígida, de racionalização de meios e técnicas,

agravando-se ainda mais nas décadas de 1960 e 1970, quando, segundo Betti, (1991), o

professor, em detrimento de seu papel de educador, passou a ser um treinador, e o aluno,

quase um atleta, surgindo a assim denominada linha mecanicista.

De acordo com Soares et al. (1992), a influência do esporte no sistema

educacional é tão forte que não é o esporte da escola, mas sim o esporte na escola.

A partir da década de 1980, os estudiosos da Educação Física começaram a

questionar o papel dessa disciplina dentro do currículo escolar. Houve reações não só contra o

mecanicismo, mas também contra a Educação Física acrítica e subjugada (BETTI, 1991, p.

127).

Segundo Kolyniak (2000), um dos motivos para que esta indefinição ocorra são

os problemas específicos, como a ausência de um corpo teórico próprio que seja referência

para toda a categoria profissional. Dessa forma, se a Educação Física faz parte do currículo

escolar, é e deve ser considerada uma disciplina que possui um objeto de estudo, nesse caso, o

movimento humano e, consequentemente, conhecimentos a serem transmitidos, vivenciados e

(re) construídos.

A Educação Física tem no movimento tanto um meio quanto um fim para

atingir seu objetivo educacional dentro do contexto escolar. O movimento pode ser entendido

como uma atividade, no caso corporal, que se manifesta pelo jogo, pelo esporte, pela dança ou

pela ginástica (BETTI, 1995).

Mas, na prática, apenas alguns conteúdos de algumas modalidades esportivas

são trabalhados, restringindo assim as possibilidades de experimentação dos alunos em seu

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processo de educação, em que a cultura erudita prevalece como principal fonte de conteúdos,

e como conseqüência a grande massa popular absorve o saber produzido por uma minoria

dominante, de forma que interesses como obediência, respeito à hierarquia, humildade,

submissão e capacidade de repetição, são alcançados facilmente. A partir do momento em que

os conteúdos tiverem uma ligação orgânica com as realidades sociais, ou seja, eles

incorporarem a cultura escolar começarão então, as mudanças (SILVEIRA s/d).

Daólio (1996) defende a prática esportiva nas aulas de Educação Física desde

que ela vá além de regras, táticas e técnicas, devendo ser contextualizada à realidade

sociocultural em que está inserida. Alerta ainda para o fato de que não se deve apenas

considerar os “ditames culturais” para orientar a prática, porque o indivíduo, mais do que

fruto é também agente da cultura.

Para Bento (1995), refletir sobre o desporto é refletir sobre o ser humano,

porque são os homens que praticam o desporto que o inventaram e que lhe dão forma e

conteúdo.

Embora o esporte não deva ser a idéia central, Galvão (1999) ressalta muito

bem que deixar de aplicar o conteúdo esportivo seria como abdicar, talvez, do conteúdo mais

importante do meio educacional da Educação Física.

O esporte pode e deve funcionar no ambiente educacional como alavanca de

contextualização social, a qual pode muito bem ser abordada nas aulas, trazendo para a

Educação Física uma idéia da realidade dos alunos de modo que eles sejam capazes de tirar

proveito dessas atividades por toda a vida. Talvez ele seja o conteúdo que melhor atende as

especificações para o trabalho da Educação Física Escolar, visto o grande repertório de

possibilidades e objetivos que estão associados a este conteúdo. Aliás, é um campo muito

grande de ações, em que através das vivências em situações decorridas, o indivíduo

desenvolve sua atitude e capacidade de ação, além é claro de perceber o seu mundo de

movimentos, entender as implicações deste para a sua saúde e estética e também entender as

questões éticas relacionadas ao esporte (como por exemplo, o por quê dos jogadores de

futebol fingirem contusões para prejudicar a outra equipe e conseqüentemente favorecer a

sua), pois surgem muitos problemas a serem resolvidos, não diferente da vida em sociedade.

Porém, a Educação Física não pode ser apenas para os mais habilidosos que se

identificam ou têm certa experiência em determinada habilidade. O esporte competitivo pode

ser seletivo e excluir alguns, mas o desporto escolar deve oferecer uma possibilidade de

vivência a todos.

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Essa priorização do esporte como pedra fundamental da educação é discutida e

criticada por Betti (1991, p. 58): “É necessário igualmente ter em conta que, apesar de seu

posto central na sociedade moderna, o esporte não esgota o conjunto das necessidades e

potencialidades existentes na Educação Física do homem”.

Mais importante que o aperfeiçoamento técnico é a vivência motora e a

diversidade dessas vivências que retrata o verdadeiro princípio da Educação Física.

Freire (1994), diz ser tarefa da Educação Física educar as pessoas para se

conhecerem e se perceberem enquanto corpos, criticando a maneira discursiva dos meios

acadêmicos, reconhecendo que precisamos de procedimentos pedagógicos, ações e que

precisamos criar conflitos em nossos alunos.

Para Betti (1991), a Educação Física deve ir além do simples fazer, ou seja: não

basta correr ao redor da quadra; é preciso saber porque se está correndo, como correr, quais os

benefícios advindos da corrida, qual intensidade, freqüência e duração são recomendáveis. De

acordo com o mesmo autor, uma das funções da Educação Física na escola é justamente

integrar e introduzir o aluno em toda a dimensão da cultura corporal de movimento,

contribuindo para formar o cidadão que irá usufruir, partilhar, produzir, reproduzir e

transformar as formas culturais desse âmbito. (BETTI, M.1992).

A partir dessas considerações passaremos, a seguir, a entender a situação que

se encontra o Ensino Médio, os alunos que freqüentam essa seriação e a Educação Física

nesse espaço.

3. EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO MÉDIO

As propostas pedagógicas para o Ensino Médio na área da Educação Física são

bem restritas, pois se buscarmos na literatura obras destinadas ao Ensino Fundamental

encontraremos uma desproporção assustadora com relação ao Ensino Médio. Pode-se dizer

que essa restrita literatura revela, além de um certo descaso com o Ensino Médio, a ausência

de uma perspectiva pedagógica que sensibilize o professor que trabalha com este nível de

ensino a reconhecer as diferenças de uma Educação Física para o Ensino Fundamental e de

uma outra para o Ensino Médio (FERREIRA, 2000).

Vejamos então como se dá a seleção dos conteúdos da Educação Física para a

seriação escolar de acordo com Oliveira (2006): 1º à 4º séries – vivências motoras gerais

(brincadeiras (queima)/ trabalho básico do atletismo – 3º e 4º séries, em especial, iniciação

aos jogos pré-desportivos); 5º à 8º séries – iniciação desportiva (basquetebol, voleibol,

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handebol e futebol); Ensino Médio –iniciação desportiva (basquetebol, voleibol, handebol e

futebol) – para o Ensino Médio existe a possibilidade de escolha de uma ou outra modalidade

para iniciar. Assim, podemos apresentar alguns questionamentos para reflexões: Como se

sentir motivado com aproximadamente dez anos de conteúdos repetidos? Como visualizar

valor em conteúdos que são praticados e úteis, em sua grande maioria, apenas durante as

aulas?

Dessa forma, quando chegam nesta etapa do ensino, os alunos vão perdendo o

interesse em praticar as aulas de Educação Física. Segundo pesquisa realizada por Ribeiro

(2005), de uma grande adesão da quinta-série do ensino fundamental para um baixo nível de

participação no Ensino Médio acontecem principalmente por duas razões.

Primeiro, a necessidade de se dedicar às disciplinas que são consideradas mais

importantes para o vestibular e a carreira profissional dos alunos, fazem com que a Educação

Física não seja mais uma prioridade nesse momento de suas vidas. Pois, se considerarmos que

a Educação Física é essencialmente lúdica, pode existir uma dificuldade de relacionar por

parte do aluno, que a participação dessa disciplina no futuro profissional/intelectual pode vir a

beneficiá-lo.

O segundo motivo para o mesmo autor, seria de ordem qualitativa, ou seja,

nem sempre oferecemos atividades esportivas/físicas adequadas e diferenciadas para essa

faixa etária e, normalmente, o que temos como aulas são práticas dirigidas, nas quais os

“rachões” e as “partidas” acontecem sistematicamente.

Quantas horas/aulas de Educação Física nós tínhamos na década de oitenta nas

escolas? Média de três horas/aula por turma. Hoje, a média é de duas horas/aula no Ensino

Fundamental e nas duas primeiras séries do Ensino Médio e, na terceira série do Ensino

Médio, a média é de uma hora/aula. Por que as escolas não mantiveram o número médio de

três horas/aula (somente algumas escolas que realizavam um trabalho diferenciado

mantiveram as três horas/aula)?

Os atuais diretores, coordenadores pedagógicos, secretários, pais, demais

professores e comunidade de uma forma geral são frutos da prática citada. Essas pessoas não

conseguem, tendo em vista suas vivências com a Educação Física Escolar, encontrar valor no

seu ensino, pois foram, com muita chance de acerto, vítimas das experiências citadas. Com

isso, queremos chamar a atenção de todos para a necessidade de se entender como esse

quadro se organiza na sociedade. As coisas são cíclicas e hoje estamos colhendo o que

plantamos. A Educação Física Escolar não pode ser valorizada se não se apresentar de forma

diferente, com consistência pedagógica, com o desenvolvimento de conteúdos significativos e

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propiciando possibilidades de autonomia sobre o mundo motor. Ainda para finalizar essa

reflexão, podemos fazer uma pequena análise de quanto os conteúdos apresentados pela

Educação Física são úteis ao nosso cotidiano. Uma simples pergunta pode ser feita: quantos

de nós temos o hábito de uma prática desportiva recreativa dentro das modalidades que a

escola passa dez anos, em média, aplicando?

Qualquer conta que fizermos não nos possibilitará chegar a um valor superior a

10% da sociedade, numa visão muito otimista é claro. Então, alguma coisa está muito errada!

Estamos no sistema educacional e não estamos atendendo ao papel básico a ele determinado,

ou seja, propiciar a integração do sujeito ao meio social. Tampouco estamos atentos à seleção

dos conteúdos que devem ser trabalhados nas diversas disciplinas, dentro das características

básicas da validade, significação, utilidade, viabilidade e flexibilidade citadas por Oliveira

(2006).

Analisando essa população podemos afirmar que a sua grande maioria é

composta por adolescentes. Para Ferreira (2000), tais adolescentes além de terem esses

conflitos sociais como o ingresso em algum curso superior e a entrada no mercado de

trabalho, eles são marcados por uma fase de profundas mudanças corporais, biológicas,

afetivas, cognitivas, mas que no ponto de vista da autora não podem servir de padrão para

qualificar, ou melhor, estereotipar o adolescente. Argumentos do tipo “é da natureza do

adolescente ser rebelde” desprestigiam a influência significativa da cultura neste contexto,

construindo um modelo negativo para o professor que irá trabalhar com essa população.

Em pesquisa feita por Betti, I. (1992), os alunos parecem reconhecer a

dimensão lúdica e prazerosa da Educação Física, no entanto, ao chegarem ao Ensino Médio,

as cobranças sociais e a perspectiva de ter que assumir um outro papel, coloca em choque a

dimensão do gostar com a dimensão do precisar das aulas de Educação Física. Com isso, os

alunos parecem não reconhecer a importância da Educação Física para suas vidas, neste

momento em que passar no vestibular e/ou conseguir um bom emprego tornam-se

prioridades.

Gambini (1995) evidenciou que os alunos solicitam dispensas das aulas de

Educação Física prioritariamente por motivos trabalhistas, ou seja, a Educação Física

acontecendo em horário diferente das outras disciplinas impede que estes alunos que

necessitam trabalhar retornem à escola para participar da aula.

Com a nova mudança das Leis de Diretrizes e Bases da Educação (1996) a

Educação Física passa a ser incluída no horário das demais disciplinas, afastando (pelo menos

em tese) as dispensas por trabalho.

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No caso do ensino noturno, apesar das aulas de Educação Física serem

facultativas, poderão ser realizadas aos sábados, muito embora essas aulas não componham o

total da carga horária exigida pela escola nos levando a prever que a maioria da população

que compõe o Ensino Médio será excluída das aulas de Educação Física.

Uma outra questão diz respeito à repetição do conteúdo e da ausência de uma

hierarquia de complexidade motora dada em aula, o que pode vir a contribuir para a

desmotivação do aluno nas aulas de Educação Física, encontrando muitas vezes, como

demonstrou a pesquisa feita por Caravita (1998) espaços não formais (academias, clubes,

centros esportivos) para a prática de atividade física.

Desta forma, é preciso que o professor de Educação Física desta seriação

desperte (aguce) em seus alunos uma postura crítica com relação à realidade da cultura

corporal de movimento. Para Daolio (1996), por exemplo, a Educação Física neste nível de

ensino precisa ter um caráter reflexivo, permitindo ao aluno além de vivenciar, compreender,

criticar e transformar a cultura corporal de movimento.

Betti, M. (1992) embora não caracterize de forma específica o que ele entende

como finalidade da Educação Física no Ensino Médio, torna explícito, nas finalidades gerais

da Educação Física para o ensino de primeiro e segundo graus a busca pela formação da

cidadania. Nesta perspectiva o autor escreve:

... Não basta aprender habilidades motoras e desenvolver capacidades físicas (...). É preciso enfim levar o aluno a descobrir os motivos para praticar uma atividade física, favorecer o desenvolvimento de atitudes positivas para com a atividade física, levar à aprendizagem de comportamentos adequados na prática de uma atividade física, levar ao conhecimento, compreensão e análise de seu intelecto de todas as informações relacionadas às conquistas materiais e espirituais da cultura física, dirigir sua vontade e sua emoção para a prática e apreciação do corpo em movimento. (grifos do autor, p.286)

Nahas (1997) critica a Educação Física no Ensino Médio que utiliza o esporte

como conteúdo hegemônico para produzir os benefícios educacionais esperados. Desta

maneira o esporte passa a ser visto somente como fim e não como meio, oportunizando

práticas esportivas aos habilidosos em detrimento da exclusão dos menos habilidosos, estes

últimos na visão do autor são aqueles que mais poderiam se beneficiar de atividades físicas

regulares (p. 17).

O mesmo autor enfatiza que não basta dar um caráter teórico a Educação Física

no Ensino Médio, mas acrescentar significado à prática (p.20), ou seja, não basta informar o

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aluno sobre os conceitos, mas, como e porquê se faz esta ou aquela atividade corporal. Com

este enfoque o autor sugere que a Educação Física (particularmente do Ensino Médio) deve

formar cidadãos capazes de tomar decisões bem informadas na direção de um estilo de vida

mais ativo! (grifos do autor, p.20).

Não podemos nos esquecer, no entanto, que o conteúdo desenvolvido na

Educação Física do Ensino Médio não pode ser essencialmente teórico, afinal, é através do

movimento que nos impregnamos da nossa corporeidade, de sentido e significado e que por

isso, esses movimentos, precisam ser vividos e sentidos corporalmente (FERREIRA, 2000).

Betti (1997), propõe para o Ensino Médio os seguintes conteúdos básicos:

esporte; dança; ginásticas; práticas de aptidão física; práticas corporais alternativas;

conhecimentos históricos e sócio-culturais do esporte, da dança, da ginástica; conhecimentos

de fisiologia do exercício e teoria do treinamento.

Daolio (1996), sugere, em virtude do caráter mais reflexivo atribuído à

Educação Física no Ensino Médio, o trabalho com temas de estudo e aplicação que sejam

discutidos, elaborados e desenvolvidos juntamente com o professor e os alunos.

Nesta perspectiva de trabalho conjunto entre professor e aluno, citada pelo

autor acima, Correia (1996) relata sua experiência sobre uma proposta de planejamento

participativo realizada entre os alunos do Ensino Médio na área da Educação Física.

Evidencia-se no planejamento participativo um encaminhamento democrático de discussões e

votações, onde os alunos juntamente com o professor tomam parte do processo de decisão,

organização, participação e avaliação. Desta forma, elaboram os objetivos, selecionam

conteúdos e temas, organizam critérios de avaliação e propõem sugestões metodológicas.

Apesar das desvantagens referentes ao desgaste pessoal do professor quando

das providências dos recursos materiais e teóricos, como também, da carência de propostas na

área de Educação Física para orientar o ensino da Educação Física no Ensino Médio, a

evidência das vantagens, abaixo descritas, gratificam e incentivam o trabalho desta natureza.

- Níveis satisfatórios de participação e motivação nas atividades propostas; - Valorização do componente curricular por parte dos alunos e direção; - Identificação positiva no que tange a relação professor- aluno; - Repercussão do trabalho em relação aos outros grupos que não estavam engajados, o que possibilitou um repensar nas reuniões de área;

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- Menor despersonalização dos educandos, uma vez que existia a possibilidade de se expressar, face ao caráter participativo da proposta. (CORREIA, 1996, p.47)

Pellegrinotti (1995) sugere, para a Educação Física do Ensino Médio, a

análise, discussão e a reflexão de temas como: o esporte promovido pela mídia, as atividades

da moda e a sua padronização corporal, a apreciação crítica de um jogo de futebol (nas suas

dimensões: técnicas, táticas, política, social, econômica), além de enfatizar que é preciso

ensinar aos alunos a forma correta de exercitar-se, a utilização de maneira sadia do tempo

livre, o reconhecimento das mudanças corporais advindas da prática de atividades físicas.

Essas são algumas propostas para a Educação Física no Ensino Médio, e a

seguir apresentaremos as relações/influências que a mídia exerce nas aulas de Educação

Física, mais especificamente do Ensino Médio.

4. POSSÍVEL RELAÇÃO/INFLUÊNCIA DA MÍDIA ATRAVÉS DO ESPORTE NA

EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO MÉDIO

Os meios de comunicação social, popularizados aqui no Brasil pela palavra

"mídia", que sem maiores discussões semânticas, vem do latim “médium” e significa “aquele

que está a meio”, hoje constitui meio complexo, profundo e sutil que permeia a nossa vida

desde a mais tenra idade, até a nossa mais senil e frágil existência. A importância que esse

discurso assume enquanto elemento de reflexão por parte da Educação Física está explícito

em trabalhos dos professores Betti (1998) e Pires (2002).

Concebidos inicialmente como meios de divulgação e entretenimento, as

mídias assumiram vida própria e hoje concorrem entre si na busca da atenção de seus

espectadores e na responsabilidade da condução da vida de todos nós.

A televisão, por exemplo, está presente em 89,9% dos lares brasileiros segundo

dados da Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílios (PNAD) de 2002. Ela também foi

protagonista com o recorde de 15,9% na preferência dos brasileiros na hora da aquisição dos

eletrodomésticos, nos últimos dez anos (VEJA, 2003).

Para Betti (1998) a mídia tem um papel de destaque na transmissão de

elementos da cultura de crianças e adolescentes. O autor entende que é importante para a

atualização das propostas de Educação Física, interpretar as mensagens televisivas não só

sobre esporte, mas sobre as atividades físicas de uma maneira geral, decifrando os

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significados presentes e refletindo sobre as suas implicações para a Educação Física Escolar.

O esporte é um fenômeno cultural complexo e de grande importância para a sociedade

contemporânea, e que é capaz de anunciar e denunciar inúmeras manifestações latentes nos

diversos grupos sociais. Dessa forma, torna-se importante, identificarmos as representações de

esporte da mídia, em especial a televisão, onde o esporte é instrumento de publicidade, que

tece entre outras coisas, associações com a imagem do indivíduo saudável e vitorioso.

A Educação Física Escolar colabora com a sua parte para a construção do

conceito dominante de esporte, senão para atender as exigências do sistema, talvez então para

atender as próprias, buscando no fenômeno esportivo a sua legitimidade pedagógica

(BRACHT, 1992). Deste modo, a tarefa da Educação Física Escolar se limita a desenvolver a

capacidade de se praticar esportes. Sobre isto, o autor diz que “a Educação Física assume os

códigos de uma outra instituição (a esportiva), e de tal forma que temos então não o esporte

da escola e sim o esporte na escola, o que indica a sua subordinação aos códigos/sentidos da

instituição esportiva (p.22)” Desta maneira, o autor procura demonstrar que o esporte, da

forma como é desenvolvido na escola, sem uma sistematização, serve apenas como

instrumento de legitimação do sistema capitalista de produção.

Vago (1996) também demonstrou preocupação com o esporte na escola, mas

procura nos mostrar que o mesmo é uma prática cultural, e assim sendo, acaba permeado

pelos valores da sociedade onde se desenvolve e é praticado de acordo com as condições

sócio-culturais de cada comunidade. A escola é um dos locais onde se dá esta apropriação da

prática cultural de esporte, e é o tratamento que a Educação Física Escolar dá a ele, a partir

dos códigos e significados da cultura escolar, que no entendimento do autor deveria

constituir-se na tarefa da Educação Física, ou seja, deveríamos dar um “tratamento

pedagógico” ao esporte e não simplesmente reproduzi-lo.

Também Betti (1997) entende que o esporte não deva ser negado na Educação

Física Escolar, pois, o mesmo pode ser uma prática de transformação social, principalmente

quando o professor o encara como tal. Por outro lado, devemos lembrar que o esporte não é

um fenômeno natural, e sim criado pela sociedade industrial, reprodutor, portanto, dos

princípios que regem a mesma.

Muitas vezes os profissionais que trabalham com o ensino negligenciam a forte

influência que a mídia pode exercer no educando por meio de contínuos e variados modismos.

Na área de Educação Física, esse poder é mais acentuado, pois os esportes foram

transformados em grandes espetáculos.

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Percebe-se, assim, a importância do papel do educador, de que faz parte de sua

tarefa docente não apenas ensinar os conteúdos, mas também ensinar a pensar certo, ou seja,

dar um “tratamento” a esses conteúdos, ensinando o aluno a aprender criticamente

relacionando tais conteúdos com sua realidade. Daí a impossibilidade de vir a tornar-se um

professor crítico se, mecanicamente memorizador, é muito mais um repetidor cadenciado de

frases e de idéias inertes do que um desafiador (FREIRE, 1996).

O impacto da mídia sobre a escolha dos conteúdos e sobre a forma como eles

serão transmitidos, também não pode ser desprezado. Analisando o tema, mídia e Educação

Física, Kenski (1995) avalia que o esporte é um ótimo investimento, já que o espetáculo é

fácil de ser produzido, os cenários e os atletas já estão preparados e custa pouco para os

investidores. A autora afirma que: "... para a televisão, e para a mídia em geral, o esporte é

uma fonte inesgotável de notícias, de público e de lucro" (p.131). Sobre o impacto da

televisão na vida das pessoas a autora afirma:

"... a penetração da televisão é uma característica atual da civilização e precisa ser compreendida como realidade com a qual se tem que conviver, não a aceitando incondicionalmente, mas se posicionando e procurando aproveitar da melhor forma possível a nova realidade em beneficio dos ideais profissionais que merecem ser mantidos" (p.131).

A Educação Física na escola não pode ignorar a mídia e as práticas corporais

que ela retrata, bem como o imaginário que ela ajuda a criar, ao contrário, “devemos estimular

a pergunta, a reflexão crítica sobre a própria pergunta, o que se pretende com esta ou aquela

pergunta em lugar da passividade em face das explicações discursivas do professor, espécies

de respostas a perguntas que não foram feitas” (FREIRE, 1996).

Cabe ao professor propor uma variedade de conteúdos que estimulem os alunos

a participarem das aulas, ao invés de se restringirem às quatro modalidades ditas tradicionais,

uma vez que já são mais divulgadas pela mídia e, portanto, do conhecimento dos alunos que

estão o tempo todo rodeados de informações fornecidos por ela (mídia). Temos a necessidade

inata de desafios, mesmo que não aceitemos, pois do contrário tendemos a cair nas teias do

comodismo.

Em pesquisa realizada por Oliveira (2006) junto a acadêmicos do Ensino

Médio de uma escola particular de Maringá a respeito dos conteúdos que os alunos gostariam

que fossem contemplados nas aulas de Educação Física podemos citar:

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· Esportes institucionalizados (regras e técnicas);

· Esportes alternativos - musculação – tênis de mesa – tênis de campo – capoeira – artes

marciais – ciclismo e outros;

· Ginástica/ alongamentos/ relaxamento;

· Dança – teatro – expressão corporal;

· Apresentação e discussão de conteúdos como:

a) drogas

b) dopping nos esportes

c) nutrição

d) primeiros socorros

e) postura

f) avaliação física

g) sexualidade

h) problemas da adolescência

· Preparação física – métodos de treinamento

· Recreação

· Estresse

· Qualidade de vida

· Informações sobre o curso universitário de Educação Física

· Outros

Como podemos verificar, os alunos têm interesse em temas atuais, úteis a sua

formação e que também são tratados pela mídia. Não podemos nos centrar em apenas passar o

quicar da bola e o arremesso, mas sim, estarmos atentos às novas demandas e ter um olhar

crítico sobre os meios de comunicação, tirando proveito do que eles nos apresentam. A

Educação Física possui importância vital na formação de nossos jovens, e torna-se

imprescindível que os docentes se atentem para essa importância e dêem valor ao seu papel

social formativo no processo educacional.

5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

5.1. Técnicas de Pesquisa A presente pesquisa de natureza qualitativa utilizou como técnicas de pesquisa

a análise bibliográfica e a entrevista semi-estruturada, objetivando investigar se a aplicação de

determinadas práticas esportivas nas aulas de Educação Física do Ensino Médio é decorrente

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de certa influência que a mídia, mais especificamente a televisão, exerce não só nos alunos

desse nível de ensino, mas também nos professores de Educação Física ou se esta aplicação

ocorre em virtude apenas da história da nossa área e das características de formação e atuação

profissionais.

Conforme Thomas e Nelson (2002, p. 323), a pesquisa qualitativa:

“busca compreender o significado para os participantes de uma experiência em um ambiente específico e de que maneira os componentes combinam-se para formar um todo (...) tem como foco a “essência” do fenômeno. A visão do mundo varia com a percepção de cada um e é altamente subjetiva. (...) O pesquisador observa e coleta os dados no campo, isto é, no ambiente natural. ( enfatiza a indução (...) o pesquisador é o principal instrumento para a coleta e análise de dados na pesquisa qualitativa, o que é muito subjetivo. O pesquisador está interagindo com os sujeitos, e a sensibilidade e percepção do pesquisador são cruciais na obtenção e no processamento das observações e respostas”.

Já a pesquisa bibliográfica compreendeu a leitura e análise das fontes de

informação como livros, periódicos e outros, com a finalidade de embasar a revisão de

literatura. Foi realizada a análise desta revisão referente à situação da Educação Física na

escola e mais especificamente no Ensino Médio, e o papel da mídia dentro do ambiente

escolar.

5.1.2. Entrevista semi-estruturada (semi-dirigida)

De acordo com Amado e Ferreira (2002), a entrevista semi-estruturada

constitui-se como uma fonte oral de análise, a qual se legitima como uma fonte histórica, dado

seu valor informativo e por incorporar perspectivas ausentes na literatura.

A entrevista semi-estruturada seguiu um roteiro de questões elaboradas

previamente orientadas pelo objeto de estudo, mas com a flexibilidade de adicionar outras

questões para dúvidas que surgirem durante a mesma, e também permitiu que os entrevistados

fizessem suas observações e sugestões. Como afirmam Thomas e Nelson (2002, p. 34),

durante a entrevista, “o pesquisador pode reformular questões e fazer mais algumas perguntas

para esclarecer as respostas e assegurar resultados mais válidos”.

O roteiro de questões das entrevistas semi-estruturadas abordou os seguintes

pontos de análise:

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1- Formação acadêmica (local e tempo de formada)

2- Tempo de atuação e experiências como professor

3- Conteúdo das aulas

4- Esporte na televisão

5- Influências admitidas

A definição das perguntas que iríamos fazer às professoras para obtermos as

respostas que nos permitissem analisar essa possível influência da mídia na escolha dos

conteúdos, encontra-se em anexo.

Feitas as entrevistas, transcrevemos e passamos a lê-las e relê-las para

podermos analisar os dados obtidos.

5.2. Amostra

Definidas as técnicas de pesquisa, o próximo passo foi escolher a escola que

devia estar ligada ao meu público pesquisado, Ensino Médio, e de preferência que se situasse

próxima à minha casa e ao meu local de trabalho, facilitando o acesso e disponibilidade dos

meus horários com o dos professores pesquisados. De início a intenção era entrevistar as duas

professoras da escola estadual por mim escolhida, mas por incompatibilidade de horários só

foi possível realizar a entrevista com uma professora. Sendo assim, recorri à segunda escola

mais próxima, de ensino privado e chegando lá havia somente uma professora que ministrava

aulas para todas as turmas, inclusive Ensino Médio. Após contatar a direção de ambas as

escolas e ter o aval dos professores participantes, o próximo passo foi marcar um encontro

para a realização das entrevistas. Através das próprias professoras conseguimos agendar esses

horários para que pudéssemos realizar tais entrevistas.

Passaremos agora à apresentação, análise e discussão dos dados coletados.

6. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS COLETADOS.

Após várias leituras e releituras das respostas dadas pelas professoras,

encontramos 3 aspectos principais para discussão, que categorizamos e denominamos de:

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“Caracterização Profissional”, “Educação Física no Ensino Médio: objetivos, conteúdos e

estratégias” e “Mídia e Educação Física”.

6.1. Caracterização Profissional

A faixa etária das professoras participantes da entrevista é de 47 e 32 anos

respectivamente, sendo que a primeira, denominada de P1 ministra aulas no ensino público e

a segunda, P2 pertence no momento ao ensino privado. Ambas tiveram formação em

instituições particulares, sendo P1 na Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) com término

em 1980 e P2 nas Faculdades Integradas de Guarulhos (FIG), finalizando em 1996.

De acordo com a primeira entrevistada seu cargo é efetivo desde 1987,

demonstrando certa tranqüilidade já que está naquela escola desde 1982, ou seja, antes mesmo

se prestar concurso público já ministrava aulas como professora eventual naquela sede:

“Eu já trabalhei em escola particular, mas nunca deixei escola estadual, sou efetiva, concursada desde 1987. Já são 20 anos que eu to efetiva no estado. Aqui nessa escola eu estou desde 1982...24 anos” (P1).

Com quase 20 anos de experiência na área escolar, a maioria do tempo sempre

em escolas da rede pública, P1 ainda declarou que apesar de já ter tido alguma experiência

com o Ensino Fundamental, sempre se identificou mais com o Ensino Médio. Segundo ela,

nesta seriação o entendimento é mais rápido, permitindo um retorno ao professor em tempo

menor do que os outros níveis de ensino:

“Assim na forma de entender o que você quer, então o retorno é mais rápido” (P1).

No caso da segunda entrevistada, apesar de apresentar 10 anos de experiência

na área de Educação Física, apenas os últimos cinco anos é que foram dedicados ao Ensino

Médio. Antes disso, ela era coordenadora de eventos da escola e também responsável pela

Educação Física da Educação Infantil, onde trabalhava aspectos destinados a esse nível de

ensino de acordo com sua fala abaixo:

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“... eu comecei num colégio onde eu era responsável por toda Educação Física da Educação Infantil, então do Maternal até o Pré, onde eu trabalhava toda a coordenação motora, localização do espaço, diretrizes rápidas, então tudo o que tinha já nessa criação da Educação Física pra Educação Infantil eu que era responsável” (P2).

Outro ponto importante que observamos foi a ausência da formação continuada

das professoras. Ambas entrevistadas após sua formação, não buscaram nenhum curso de

atualização na área escolar, mesmo apresentando esse distanciamento entre a formação e a

atuação, mais acentuado no caso da P1.

Uma deficiência na formação inicial e continuada pode ser o começo de uma

desmotivação por parte de professores e alunos, já que não são apresentadas mudanças e

propostas para uma Educação Física adequada a este nível de ensino.

6.2. Educação Física no Ensino Médio: seus objetivos, conteúdos e estratégias.

Em nosso estudo parece claro, por parte dos professores entrevistados, a idéia

de que precisamos trabalhar a cidadania dos alunos, preparando-os para a vida em sociedade.

Mas, apesar de termos como objetivo principal a formação do cidadão, percebemos que esse

tema tenta ser desenvolvido basicamente através do conteúdo esporte – mais citados no

discurso dos professores:

“Eu trabalho com todas as modalidades esportivas exceto natação. Trabalho com atletismo, handebol, futebol, basquete, voleibol...” (P1).

“O Ensino Médio são mais jogos... No Ensino Médio a gente retoma alguns fundamentos, mas a gente trabalha mais com os jogos” (P2).

Nesse caso o sujeito 2 denomina jogos como sinônimo de esportes:

“Então o que é ministrado, os fundamentos e ministrado os jogos de todas as modalidades, basquete, handebol, vôlei, o atletismo...” (P2).

Nestas falas, assim como em pesquisa feita por Diana e Ramos (2000),

percebemos que a Educação Física no Ensino Médio ainda assume o ensino do esporte, e

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apenas alguns como única possibilidade. Isso nos remete à pesquisa feita por Caravita (1998),

em que ele se refere à repetição do conteúdo e a ausência de uma hierarquia de complexidade

motora dada em aula, contribuindo para a desmotivação do aluno quando este chega ao

Ensino Médio.

Pois muitas vezes, o mesmo conteúdo é ministrado desde as séries iniciais do

Ensino Fundamental até o final do Ensino Médio e de uma forma descomprometida, sem

objetivos pré-definidos. Além disto, e o que nos parece extremamente comprometedor, sem

considerar as diferentes características e interesses de uma faixa etária que possui elementos

específicos: a adolescência.

Com isso, os alunos não conseguem ver a importância dessas aulas, já que não

lhe são apresentadas novas propostas, novos conteúdos, novas metodologias e nem aulas

diferenciadas com o objetivo de ampliar seus conhecimentos.

No discurso de P1 a argumentação está em não fugir da realidade do aluno:

“... Eu procuro trabalhar de acordo com a realidade do aluno... porque não adianta você forçar trabalhar com o aluno uma coisa que ele não gosta que aí você não vai conseguir nada” (P1).

Porém, isso não se pode traduzir em “não poder apresentar novos conteúdos”.

Devemos sim, ampliar o leque de opções de nossos alunos, oportunizando novas experiências

dentro da cultura corporal de movimento. Até porque, surge uma já antiga questão na nossa

área: “como o aluno pode optar ou gostar de outros conteúdos se ele conhece sempre os

mesmos e poucos?”.

Num momento da entrevista, as professoras participantes chegaram a citar o

trabalho com vivências de danças, gincanas (P1) e esportes de menos conhecimento por parte

dos alunos como golfe, tênis e natação (P2).

Mesmo tratando desses temas, para P2, o sucesso nessa seriação depende muito

do histórico desses alunos, do repertório motor que adquiriram nas séries iniciais. Citou

também o uso dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para auxiliar no planejamento

das aulas:

“Então a gente segue os PCNs e procura ta dentro das necessidades do aluno” (P2).

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“Por exemplo, o conteúdo dos PCNs tem que ser dado, só que vai muito da classe. Eu posso chegar e dá o que tem que dar, só que quando a gente dá uma modalidade a gente tem que dar com qualidade, fazer com que o aluno se interesse por aquilo” (P2).

No entanto, em seu depoimento ela pareceu um pouco contraditória ao dizer

que está atenta às necessidades dos alunos, pois se mostrou mais preocupada em dar um

conteúdo que pra ela fosse importante por constar nos PCNs e não porque os alunos teriam

interesse:

“Se você for fazer tudo o que eles querem aí você não trabalha o seu conteúdo. Então na primeira aula no começo do ano eu já explico pra eles o que a gente vai ter que trabalhar. Uma aula no mês eu deixo como aula livre, então essa aula livre eles escolhem a modalidade que eles querem. Se a sala tem um excelente desempenho e atendeu as expectativas do que eu tenho que ta dando dos PCNs aí eu acabo dando até 2 aulas livres no mês” (P2).

Não se trata de uma crítica, pois sabemos que nossas aulas devem ter um

objetivo a ser atingido, mas o fato de apresentar(mos) um planejamento semestral ou anual

sem antes mesmo conhecer os alunos com quem vamos trabalhar talvez seja uma das falhas

que ainda cometemos.

Já no depoimento de P1, esta seriação “dá menos trabalho”, talvez por achar

que estes alunos cheguem ao Ensino Médio sabendo jogar as 4 modalidades tradicionais que

supostamente aprenderam nas séries iniciais. E, ainda que tenham aprendido, acredito que

nesta seriação estes conteúdos devam ser tratados com uma complexidade maior e não apenas

colocá-los para jogar como observado no dia da entrevista. Os objetivos acabam sendo os

mesmos nos três anos do Ensino Médio e por isso as aulas são iguais, sem inovações.

Diana e Ramos (2000), em pesquisa realizada, constataram através dos

depoimentos dos alunos, que estes percebem o descomprometimento dos professores e sentem

falta de uma diversidade maior dos esportes/conteúdos aplicados nas aulas:

“Não tem técnica, não tem nada. O professor dá a bola e jogo. Não tem aquele alongamento que eu fazia na 8ª, na 7ª...” (5) “(...) hoje em dia a Educação Física tipo na escola é mais assim, mais jogado (...) não ensina nada (...) no máximo ele faz uma aula de ginástica, alonga um pouco, deixa você jogar” (10)

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O eventual descompromisso necessita ser combatido, pois isto tem

influenciado negativamente alunos, a imagem do professor de EF, a área e a própria escola!

(DIANA e RAMOS, 2000).

Segundo pesquisas realizadas por Darido et al. (1999) e Zaim-de-Melo (2003),

com professores do Ensino Médio, as maiores dificuldades encontradas neste nível de ensino

são a falta de interesse dos alunos juntamente com a falta de habilidade dos mesmos. Mas,

como combater essas dificuldades se não apresentamos novas formas de trabalhar(mos) a

Educação Física? Se nossas aulas são repetitivas, nos restringindo apenas à quadra,

trabalhando apenas seqüências pedagógicas dos esportes coletivos tradicionais e raramente

incluindo no planejamento teorias e conceitos, torna-se difícil desenvolver nos alunos o gosto

pela atividade física sem mudar (mos) a nossa prática pedagógica.

A meu ver, o trabalho é árduo em qualquer seriação, exigindo muita dedicação,

boa vontade e comprometimento profissional por parte do professor. No entanto, o que vemos

são aulas com pouquíssima interferência dos professores, alunos sem autonomia para entender

e praticar tais esportes (ou outros conteúdos) e falta de entendimento/ compreensão por parte

de professores e alunos sobre a Educação Física (PEREIRA e MOREIRA, 2005).

É claro que a própria história da Educação Física Escolar em nosso país,

envolvendo preparação e atuação profissionais, proporcionou essa confusão entre Educação

Física e Esportes. A partir da década de 70, os cursos de Educação Física tiveram seus

currículos balizados pelo esporte, formando profissionais com dificuldades de trabalhar com

outros conteúdos que não fossem os esportivos.

Hoje, com as reestruturações curriculares e com a entrada de professores

formados por esses novos currículos de Educação Física onde a dança, a capoeira, as lutas, a

ginástica e a expressão corporal já fazem parte dos currículos de graduação, aos poucos

acreditamos que essas mudanças ocorrerão em escala maior.

Mas por enquanto podemos dizer, com algumas exceções, que a Educação

Física na escola ainda assume “o ensino do esporte, praticamente como única estratégia”

(BETTI, 1995, p.26).

6.3. Mídia e Educação Física

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Não há dúvidas que de uma forma ou de outra as mídias, em especial a

televisão, transmitem muitas informações sobre a cultura corporal de movimento para grande

número de pessoas, com privilégio para o esporte.

Percebemos em nosso trabalho que o acesso às mídias varia muito de acordo

com o tempo e/ou remuneração disponível de cada professor. Muitas vezes tais professores

necessitam preencher sua carga horária semanal para obterem um padrão de vida favorável e

consequentemente não conseguem usufruir dessas mídias. No caso da professora da rede

particular (P2), ficou claro em seu depoimento que devido ao excesso de aulas que ministrava,

este acesso se dava em função do canal por assinatura, pois não conseguia acompanhar a

programação esportiva da TV aberta:

“O tempo...bom eu não tenho tempo, eu tenho canal fechado, então eu assino Directv, então é o ESPN..” (P2)

Citou também o uso de outras mídias como (revistas, jornais, internet), na

realização de pesquisa com seus alunos:

“Por exemplo, eu dei um trabalho agora pra eles sobre a bibliografia dos atletas...então nesse ponto a mídia ajuda muito. A mídia, a internet, as bancas de jornais porque eu faço eles pegarem de tudo um pouco.”(P2)

De acordo com as professoras entrevistadas, a televisão influencia o nível e

tipo de conhecimento que os alunos têm sobre esporte, assim como a forma de praticá-lo e de

se comportar nas aulas de Educação Física:

“Você percebe que eles levam como se fosse a coisa mais séria do mundo, então às vezes o futebol entre eles causa brigas, desentendimento, tem aquele que é “fominha”, agora uma que eu gosto muito e eles se dão bem é o handebol, porque no handebol você ensina os detalhes, os fundamentos (...) no futebol eles vêm com aquilo que eles já sabem” (P2).

Não devemos ignorar essa influência, mas sim, trabalhá-la de forma a tornar os

alunos mais críticos, deixando de ser consumidores passivos dessas informações. Ferrés

(1996) propõe que a escola eduque no meio, ou seja, eduque na linguagem audiovisual

característica da televisão, ensine os mecanismos técnicos e econômicos de funcionamento do

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meio, ofereça orientação para análise crítica dos programas, e que eduque com o meio,

incorporando o audiovisual à sala de aula para otimizar o processo ensino-aprendizagem.

Uma professora nos pareceu preocupada com isso em sua fala:

“Eu costumo gravar até pra tá mostrando algum detalhe, pra tá expondo alguma coisa, porque é aonde eu acho que a mídia pode estar ajudando. Só que aí é no momento que você faz a gravação, você assiste antes e você mostra pra eles e discute o que ta certo e o que errado, numa atitude anti-desportiva, por exemplo, num ato impensado de um atleta, ou ao contrário, uma atleta nota 10, num super atleta.” (P2).

Para a mesma professora essa influência exercida pela mídia nos alunos é

positiva, pois acaba influenciando no entusiasmo pelo esporte:

“(...) na época do Guga, que era o tênis, sim, eu levei pra ver o tênis, mas eu levei pra ver o tênis, o golfe, levei pra ver a natação. Então assim, a gente começa a valorizar o esporte, incentiva e porque tá levando eles pra ver essas aulas diferenciadas, que são aulas que não estão nos PCNs, mas é uma modalidade, é uma forma de praticar o esporte e que hoje ta de fácil acesso pra muita gente até mesmo em parques públicos.” (P2).

Nesse discurso fica a idéia de que além de existir essa influência nos alunos,

está implícita a influência também em cima da professora, pois se aproveitando de um

momento em que o esporte foi difundido na mídia proporcionou alguma vivência relacionada

ao esporte em questão.

No discurso da P1 nos pareceu mais evidente essa influência ao falar da

cobrança dos alunos com relação ao futebol, muito valorizado pela mídia, e também por

encontrar dificuldades em ministrar outros conteúdos, então acaba se rendendo ao que a mídia

impõe.

“Então eles cobram muito da gente aquilo que a mídia trabalha.” (P1). “Então eu acho que a mídia valoriza muito o futebol e não dá muita atenção para as outras modalidades esportivas. Hoje em dia até mostra as outras modalidades, mas valoriza demais o futebol, aí eu tenho que dar (...) Por causa da mídia, porque a mídia valoriza demais.” (P1).

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“Eu uso o futebol como uma arma, é uma troca, você faz isso que eu te dou o futebol. Senão você não consegue ter retorno nas outras coisas.” (P1).

Fica claro nestas últimas falas o domínio que este meio de comunicação possui

sobre pessoas e idéias, e não podemos culpar nossos alunos, já que o professor, um dos

principais responsáveis pelo processo de formação dos mesmos, também estão rendidos à

mídia e ao que ela oferece. Para Babin e Kouloumdjian (1989), a imagem da televisão

provoca, inicialmente, um impacto emocional, que comove e, apenas numa segunda fase é

possível refletir criticamente, racionalizar. Educar para este “segundo tempo” seria o papel da

Escola. Não devemos ignorar a mídia nem tão pouco negar os modismos que caem sobre

nossos educandos. Apenas deveríamos usá-la com mais consciência e criticidade,

aproveitando momentos para discussão entre os alunos, enriquecendo nossas aulas. Tal

situação nos pareceu ser realizada pela segunda entrevistada quando perguntamos sobre a

influência sobre o professor:

“Em relação ao professor. Ajuda no sentido de: Olha! Tá tendo isso, vamos observar. Tem um programa cultural nesse sentido, vamos olhar. Eu gravei um determinado jogo, vamos observar.” (P2).

Apesar da P1 utilizar o futebol como única estratégia para conseguir aplicar os

demais conteúdos aos alunos, ou até mesmo deixar de aproveitar para trabalhar o próprio

futebol de uma forma diferenciada que não fosse o jogo pelo jogo, ela mostrou uma ponta de

preocupação com esta situação:

“E a gente tem uma população jovem grande, talentosa que poderia ta sendo aproveitada, patrocinada e não tá porque a mídia e os jovens estão direcionados pro futebol porque é isso que vem pra eles todo dia. A informação que chega pra eles é isso todo dia.” (P1).

Cabe ao professor oportunizar, ainda que de forma gradativa, porém criativa,

vivências de outras atividades da cultura corporal de movimento para que estes possam optar

por aquelas que mais os agradem e juntamente com isso fazer uso das diversas mídias que nos

cercam. A incorporação das produções das mídias, em especial da televisão (mediante o uso

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do video-cassete), ao ensino da educação física na perspectiva da

vivência/conhecimento/reflexão, pode trazer inúmeras vantagens: (1) motiva ao debate e à

reflexão, por tratar de assuntos atuais e polêmicos, sobre os quais em geral os alunos já

possuem informações; (2) a linguagem jornalística é atraente para os alunos, é mais sintética e

muitas vezes conjugada com imagens e recursos gráficos; (3) as produções audiovisuais

conseguem dar destaque e importância para informações que às vezes o próprio professor

transmite, mas não obtém repercussão satisfatória; (4) os vídeos podem sintetizar muito

conteúdo em pouco tempo, e substituir com vantagem aulas expositivas ou textos escritos; (5)

no caso da televisão, a imagem nos atinge primeiro pela emoção, e a partir deste primeiro

impacto, que co-move o aluno, o professor pode mediar uma interpretação mais racionalizada

e crítica (BETTI, 2001).

Muito pouco avançamos até agora. A Educação Física na escola está na

privilegiada posição de poder propiciar aos alunos a oportunidade de contrastar a vivência das

práticas da cultura corporal de movimento, enquanto experiência carnalmente vivida

(BELBENOIT, 1976), com a experiência de assistir, ler e ouvir enquanto consumidor das

mídias. Devemos aproveitar tal privilégio!

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa expôs-nos como os professores de Educação Física do

Ensino Médio entrevistados ainda são bastante tradicionais na maneira de atuar em seu campo

de estudo e trabalho, ou seja, a própria aula de Educação Física. É certo que ambas as

professoras entrevistadas já deixaram os bancos acadêmicos há algum tempo e não houve

nenhum aperfeiçoamento depois disso.

Assim, percebe-se certo comodismo ou a falta de coragem para ousar ou de

vontade para desacomodar-se e de relativizar suas certezas, notado principalmente na primeira

entrevistada. A ausência de programas de formação continuada regular e de incentivo por

parte da escola são fatores que ajudam a caracterizar o descaso das políticas públicas

relacionadas à educação e à Educação Física, contribuindo com a piora desta situação.

Os conteúdos se restringem, praticamente, ao esporte e nesse caso, a mídia

colabora na medida em que anuncia novas modalidades e o professor se vê “obrigado” ou

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talvez “motivado” a trabalhar tais modalidades, como foi o caso do tênis na época do Guga ou

até mesmo o futebol em tempos de Copa do Mundo.

Percebemos através das entrevistas que uma das professoras entrevistadas faz

uso das mídias de maneira geral como revistas, jornais, internet, e outros, permitindo que os

alunos criem o hábito da pesquisa e aprendam a buscar informações do seu interesse se

utilizando desses meios de comunicação tão presentes no nosso cotidiano. Na internet, por

exemplo, novas ferramentas como Orkut (site de comunidades virtuais), MSN, bibliotecas on

line, e diversos sites estão surgindo para a troca de informações e para alterar a dinâmica dos

estudos. Através de fóruns de discussão, amizades on line, a internet deixou de ser apenas

uma forma de lazer para se tornar um meio de tirar dúvidas e discutir assuntos sérios.

(FOLHA, 2006).

Faria Júnior (1969) já nos advertia, na pioneira obra ”Introdução à Didática da

Educação Física”, que:

(...) o professor de educação física procura (...) desenvolver habilidades, proporcionar conhecimentos e informações e despertar ideais, atitudes e preferências. Assim sendo, quando ministrando informações ou conhecimentos, tem ele a necessidade de acelerar cada vez mais o processo de ensino e nada melhor para fazê-lo do que a utilização de modernos meios e técnicas de comunicação. (p. 220)

Com esse estudo foi possível perceber que a mídia está mais presente do que

imaginávamos não só em nossas vidas, mas também em nossas aulas de Educação Física.

Ainda que de maneira discreta, a televisão colabora em boa parte na escolha dos conteúdos

aplicados pelos professores entrevistados em suas aulas. No entanto, cada professor se utiliza

desse recurso da forma que lhe for conveniente. Sabemos que a mídia é uma ferramenta de

extrema importância e que pode nos ajudar a tornar nossas aulas mais ricas e prazerosas.

Quando fazemos uso adequado desta ferramenta, de forma consciente, obtemos resultados

satisfatórios na medida em que trazemos informações importantes e que estão presentes no dia

a dia de nossos alunos.

O que não podemos é assumir uma mera postura de consumidores passivos

desta mídia que nos cerca e simplesmente reproduzi-la em nossas aulas sem uma

fundamentação teórica para aquele conteúdo ser dado naquele momento ou em outro. Mas

também sabemos que esta falta de preparo para lidar com esses meios de comunicação nas

aulas de Educação Física não é culpa apenas dos professores de Educação Física, porque estes

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não são responsáveis pela elaboração do currículo que orientou deficitariamente toda sua

formação profissional. Basta perguntar: quais ou quantos cursos de graduação em EF têm em

suas estruturas curriculares disciplinas/conteúdos que tratem da questão da utilização da mídia

(TV, vídeo, revistas, informática etc.) na formação do futuro professor para que estes saibam

e possam usá-las adequadamente?

Poder-se-ia colocar a culpa nas próprias escolas que não incentivam nem

valorizam novas práticas propostas pelos professores, mas enfim, esta também não pode ser

crucificada, quando o maior culpado ainda é o modelo de educação de nosso país.

Mesmo sabendo que o conhecimento atribuído à Educação Física, restringe-se,

em muitas escolas, ao esporte irrefletido/inquestionável, deve-se ter em mente que muito além

do "fazer por fazer", temos o que ensinar. E, o simples ato de reflexão já nos induz a uma

prática mais crítica e cada vez mais condizente com a realidade social, que se renova a cada

dia. Estar atento a essas renovações pode revelar as necessidades do grupo em que se atua e

qual é o melhor caminho a seguir.

Esse estudo permite sugerir outras investigações sobre o tema para um

aprofundamento dos fatores que envolvem a utilização da mídia na prática pedagógica dos

professores de Educação Física dentro do ambiente escolar.

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APÊNDICE

Questões: 1) Onde se formou? Há quanto tempo está formada?

2) Há quanto tempo trabalha na área? E como professor em escola?

3) Experiências como professor (escolas em que trabalhou, serie, quanto tempo em cada

escola, experiência com o ensino médio)

4) Para você quais os objetivos da E.F. para o ensino médio?

5) Qual (is) o(s) conteúdo(s) ministrado para o ensino médio?

6) Quais critérios você utiliza para a definição/seleção dos conteúdos da EF no EM

7) Você atende a solicitação de alunos? De que forma/maneira?

8) Quais as principais facilidades e dificuldades encontradas no Ensino Médio?

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9) Você assiste a programas esportivos? Quais?

10) Você tem alguma(s) preferência de modalidade esportiva (para apreciar, praticar ou

desenvolver junto aos seus alunos de EF no EM)?

11) Você acha que a mídia influencia as suas aulas? De que forma/maneira?

12) De que maneira a mídia (TV) influencia a relação professor-alunos-aulas de EF no EM?

Entrevistas:

Sujeito 1:

1) Eu me formei na Universidade de Mogi das Cruzes e to formada desde 1980. 2) a) Desde 1980. Quando eu tava no último ano da faculdade eu já dava aula. b) Já iniciei na escola, nunca dei aula em academia, só escola, escola da rede particular e da rede estadual. 3) Eu sempre trabalhei com o E.M. viu, não gosto muito de trabalhar com o E.F..Com o E.M. eu acho que o retorno é mais rápido, pra mim pelo menos dá menos trabalho, entendeu? Assim na forma de entender o que você quer, então o retorno é mais rápido. Eu já trabalhei em escola particular, mas nunca deixei escola estadual, sou efetiva, concursada desde 1987. Já são 20 anos que eu to efetiva no estado. Aqui nessa escola eu estou desde 1982...24 anos. É uma carreira de luta né, porque é um trabalho mal remunerado, mas é gratificante. Eu já trabalhei com o E.F., mas a maioria do tempo foi com o E.M. Já faz 18 anos que eu só trabalho com o E.M.

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4) Nos dias de hoje, eu poderia dizer que é um objetivo assim, que o aluno atinja, como eu poderia dizer, ele tem que ter um pouco de cidadania e a Ed. Física traz isso para o aluno, eu acho. Porque o aluno que não vai bem em Mat., Port, Inglês, Hist., ele consegue ir bem na E.F., ele valoriza, então a E.F. é uma forma de dar dignidade, cidadania. Você vê, o aluno de baixa renda, que são a maioria dos nossos alunos, eles não têm outras oportunidades, a oportunidade dele está ali na escola, ele não tem a oportunidade de ta freqüentando um clube, de ser selecionado por um clube e aqui na escola ele tem essa oportunidade e a E.F. pelo menos aqui na escola com meus alunos tem um rendimento muito bom, tudo o que eu peço eu consigo, eles não são bitolados só no futebol como a maioria das escolas são. Aqui eles conseguem ter a mente aberta pra outras modalidades esportivas, pra outras atividades sem ser só as esportivas, entendeu? Se eu propor uma gincana com eles eu consigo, então tudo que eu proponho com eles eu consigo ter um retorno muito positivo. 5) Eu trabalho com todas as modalidades esportivas exceto natação. Trabalho com atletismo, handebol, futebol, basquete, voleibol. Só não trabalho mesmo com a natação, o resto dos esportes escolares eu trabalho com todos menos com a natação. Trabalho com dança, projeto de teatro, seria mais da área de E.A., mas a gente faz um trabalho interdisciplinar que dá resultado também. 6) Olha, eu procuro trabalhar de acordo com a realidade do aluno. Eu não posso pedir pro aluno que mora lá no morro...lá...que vem de uma escola lá do morro que tem outro tipo de visão, onde ele jogou futebol a vida inteira, que ele chegue aqui e saiba jogar xadrez, entendeu?Eu procuro trabalhar de acordo com a realidade do aluno. Então melhorar, aprimorar aquilo que ele já sabe pra que ele passe a gostar da aula em primeiro lugar. Então o conteúdo com o aluno eu começo sempre na área do atletismo porque o atletismo consegue me mostrar onde que o aluno vai melhor, se ele não vai bem em nada de atletismo, ele não vai bem em nenhuma modalidade esportiva e aí você pode direcionar esse aluno pro xadrez, dama, tênis de mesa que aí ele se dá melhor. Então eu procuro trabalhar o conteúdo de acordo com a realidade do aluno, com o gosto dele, porque não adianta você forçar trabalhar com o aluno uma coisa que ele não gosta que aí você não vai conseguir nada. 7) De forma indireta eu atendo, mas não de forma direta. Porque eu não deixo ele perceber. De forma indireta eu faço o que ele quer, mas sem que ele imponha nada pra mim. 8) Nos dias de hoje né, porque se eu fosse falar de 20 e tantos anos atrás a coisa era diferente. Tem muitos alunos que vem pra escola hoje, que vem pra comer, que vem pra passar o tempo, a família é completamente alienada à vida escolar do aluno. É uma minoria que a família acompanha e isso dificulta porque o aluno não tem um propósito, um objetivo dentro da escola, ele não tem ninguém que cobre ele dentro de casa, fora que muitas vezes ele vem na escola pra se divertir, não vem pra aprender nem pra estudar. Então isso dificulta. Fora isso a gente consegue superar alguns obstáculos, aqui é uma escola que tem bastante material, é uma escola centralizada, então a gente tem uma clientela bem variada, tem aluno que mora no Jd. França que tem uma renda B e tem aluno considerado com renda E. Então essa diferença de aluno que tem aqui dentro é que torna as coisas mais difícil, mas contornável, dá pra trabalhar com isso. 9) Eu assisto os futebol da Bandeirantes, eu gosto de assistir o Globo Esporte, quando eu to em casa dá pra assistir. Gazeta Esportiva que passa no fim da tarde eu gosto também de assistir. 10) Eu particularmente eu gosto muito de voleibol, porque eu jogo fora daqui com o pessoal da minha idade, voleibol master que eles chamam no Clube dos Oficiais da Polícia Militar. Então eu jogo lá 3 vezes por semana, participo de campeonatos. É o meu esporte favorito porque eu pratico, mas pra trabalhar eu trabalho com todos. 11) Muito. Principalmente no futebol. Porque todo aluno hoje em dia quer ser um Ronaldinho, um Roberto Carlos (risos). E não tem jeito. Então eles cobram muito da gente aquilo que a mídia trabalha. Eu sempre critiquei a mídia nesse sentido, por exemplo, você vê, um casamento do

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Ronaldinho deu 10 minutos de Jornal Nacional e eles não conseguem mostrar a série inteira da Dayane dos Santos, entendeu? Que tem menos de 5 minutos. Então eu acho que a mídia valoriza muito o futebol e não dá muita atenção para as outras modalidades esportivas. Hoje em dia até mostra as outras modalidades, mas valoriza demais o futebol, aí eu tenho que dar. Você vê, aqui na minha aula o futebol é uma recompensa, eles gostam tanto, por exemplo, eu quero trabalhar o basquete. Eu falo pra eles: “Se vocês fizerem tudo direitinho o que eu to pedindo do basquete em 4 aulas, eu deixo vocês fazerem 2 aulas de futebol. Aí eu consigo trabalhar o basquete porque eles sabem que vão ter o futebol de recompensa. Por causa da mídia, porque a mídia valoriza demais. Eu sei que é o esporte de massa do nosso país, mas se você vê os EUA, o esporte de massa deles é o baseibol e o basquete, e no entanto, numa olimpíada eles trazem medalhas de praticamente tudo porque a visão deles não é limitada igual a nossa só pra futebol. E a gente tem uma população jovem grande, talentosa que poderia ta sendo aproveitada, patrocinada e não tá porque a mídia e os jovens estão direcionados pro futebol porque é isso que vem pra eles todo dia. A informação que chega pra eles é isso todo dia. Você vê, na nossa escola o nosso forte não é o futebol. O nosso forte aqui é o voleibol e o basquete. Se você entrar lá dentro, a gente tem uma sala só de troféus, 90% dos que estão lá são de voleibol e de basquete e de atletismo também. A gente trabalha muito atletismo. Esse ano é a primeira vez que a gente conquista um 1º lugar num campeonato de futebol feminino, não foi nem masculino. 12) Dessa maneira que eu te falei. Eles cobram muito o futebol e se a gente não der uma abertura, você não consegue resultados nas outras coisas que eu ensino. Eu uso o futebol como uma arma, é uma troca, você faz isso que eu te dou o futebol. Senão você não consegue ter retorno nas outras coisas.

Sujeito 2:

1)Eu me formei já tem 10 anos... na verdade 6 anos. Eu me formei em 1996 nas Faculdades Integradas de Guarulhos, conhecida como FIG e tem quase 10 anos.

2)Desde quando eu me formei, desde 96, tem 10 anos que eu estou na área de E.F. Professor em

escola...eu não larguei a área de E.F., mas eu também sou coordenadora de eventos ta, ajudo no social da escola.

3)Com o E.M. eu tenho uma media de 5 anos que eu dou aula para o E.M. Meus 5 primeiros anos

eu...a minha especialização era na área de Ed. Infantil, então eu fiz licenciatura plena e eu comecei num colégio onde eu era responsável por toda ed. Física da ed. Infantil, então do Maternal até o Pré, onde eu trabalhava toda a coordenação motora, localização do espaço, diretrizes rápidas, então tudo o que tinha já nessa criação da E.F. pra Ed. Infantil eu que era responsável. De E.M. nesses últimos 5 anos, não é que é diferente da Ed. Infantil, mas depende mto do histórico do que o aluno teve. Eu por exemplo quando eu estudei, eu estudei em escola pública e eu comecei a trabalhar muito cedo e eu não fazia E.F. pq eu estudava a noite então eu tinha dispensa com o atestado de trabalho. Então experiência

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minha com ed. Física eu não tenho, eu tenho experiência como professora dos alunos. Então a gente segue os PCNs e procura ta dentro das necessidades do aluno, então já aconteceu de eu pegar uma aluno do 3º ano do E.M. que não sabia nada de nada, só sabiam jogar futebol e as meninas nunca queriam, por que? Porque o histórico da escola era o professor chegava e sempre dava o futebol ou as meninas ficavam no canto delas, a E.F. era no intervalo. Então varia muito de escola pra escola.

4)A E.F. a gente tem q ter um objetivo desde o maternal. Antigamente as crianças entravam no pré

ou na 1 serie, hoje em dia não, as crianças entram na escola desde o maternal. Então no EM depende muito do histórico do aluno. O objetivo é, é que ele entenda a compreensão, o coleguismo, trabalho em equipe principalmente porque aí a gente já ta na formação do adolescente. Então hoje no EM aqui na escola onde eu trabalho atualmente e há algum tempo, eles jogam, tem boa habilidade, gostam muito. Lógico que tem sempre um ou dois que não tem nenhuma afinidade com a matéria, mas é difícil, geralmente todos gostam. Então o que que acontece, o objetivo da E.F. é realmente um trabalho em equipe, o coleguismo, o companheirismo, ta avaliando a atitude de cada um conforme o jogo, o respeito entre os amigos, nem tanto a habilidade porque quem tem habilidade no E.M. tem, quem não tem não vai pegar do 1º ao 3º ano. Não é que não vai pegar, depende do trabalho do professor, mas é que já tem aqueles que gostam mais disso ou mais daquilo e acabam se sobressaindo. Mas o objetivo em si não seria formar atletas e sim o cidadão por causa do trabalho em equipe.

5)O ensino médio são mais jogos. Então toda a parte de fundamentos, de diretrizes rápidas, a

localização do espaço, o espaço temporal, a gente tem tudo isso desde a 1ª serie até o fundamental 2. No EM a gente retoma alguns fundamentos, mas a gente trabalha mais com os jogos. Então o que é ministrado os fundamentos e ministrado os jogos, jogos de todas as modalidades, basquete, handebol, vôlei, o atletismo e eu faço um trabalho aqui nessa escola que me deram a liberdade de eu ta mostrando outras modalidades. Então a gente já saiu pra saber um pouco do golfe, pra fazer aula de natação, nós já saímos pra ter uma noção de aula de tênis. Então quando aparece essas modalidades para o EM a gente pode ta mostrando. Então esse ano vai ser uma aula recreativa na piscina. Tem aluno do EM que tem medo de água, então eles entram dentro da piscina, faz a aula recreativa, ninguém vai mandar nadar , nem nada. Mas eles trabalham com prancha, com isopores e a gente vai explicar o porquê, qual a finalidade da natação, que músculos que se trabalham, fora o bem estar que a natação traz e no caso da idade deles e de qualquer indivíduo a gente pode dizer que é uma das modalidades mais benéficas e que não é tão prejudicial.

6)Depende da sala. Se eu to numa escola que eu acompanho os alunos é fácil de eu analisar qual

que é o critério, critério de dificuldade, critério as vezes de união da turma. Agora por exemplo, o conteúdo dos PCNs tem que ser dado, só que vai muito da classe. Eu posso chegar e dá o que tem que dar, só que quando a gente dá uma modalidade a gente tem que dar com qualidade, fazer com que o aluno se interesse por aquilo. Então de repente uma modalidade que eu deveria ta dando no bimestre, eu consigo dá no bimestre em 1 mês e meio com qualidade e eu sei que aquela sala tem dificuldade em outra modalidade, eu já posso entrar nessa outra modalidade. Então o critério vai muito da classe. Mas o que tem que ser dado é dado, mas o que dá pra gente ta caprichando, ajudando, colaborando com eles, depende muito da classe.

7)Se você for fazer tudo o que eles querem aí você não trabalha o seu conteúdo. Então na primeira

aula no começo do ano eu já explico pra eles o que a gente vai ter que trabalhar. Uma aula no mês eu deixo como aula livre, então essa aula livre eles escolhem a modalidade que eles querem. Se a sala tem um excelente desempenho e atendeu as expectativas do que eu tenho que ta dando dos PCNs aí eu acabando dando até 2 aulas livres no mês. Eu atendo sim a solicitação, mas com o critério de...eles sabem que tem uma aula livre e que eles podem escolher a modalidade. Eles ficam a vontade, mas eles sabem que a aula é dobrada, não apito jogo, não faço nada, eles que tem que se organizar, quem vai apitar, o time, ou seja, se der uma confusão entre eles, eles já sabem que a nota já pesa por causa daquilo. Então cada aula eles tem uma nota, eles não fazem prova, eles são avaliados toda aula em atitude, em desenvolvimento, comportamento e a responsabilidade. Então não adianta o aluno ser habilidoso e não se comportar, achar que é o melhor. Tem que ter um companheirismo entre a equipe.

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8)Facilidade é no caso se é uma escola que você já conhece os alunos, é você já saber o que eles conseguem e o que não conseguem fazer. Então quando você já ta algum tempo na escola e acompanhou os alunos desde uma 5ª serie ou desde uma 1ª serie, você já conhece os alunos e sabe o dia que o aluno ta bem, o dia que não ta. Então essa é uma das facilidades, o conhecimento do aluno. A dificuldade são aqueles alunos que não querem fazer. Então você vê que as vezes o aluno entra no jogo e você vê que ele não ta jogando, participando como ele poderia participar. Então a dificuldade é essa dos alunos que não tão nem aí, não querem nada com nada, que estão rezando para o 3º acabar logo.

9)O tempo...bom eu não tenho tempo, eu tenho canal fechado, então eu assino Directv, então é o

ESPN. Eu assisto muito quando tem são os campeonatos porque geralmente eu costumo gravar até pra ta mostrando algum detalhe, pra ta expondo alguma coisa, porque é aonde eu acho que a mídia pode estar ajudando. Só que aí é no momento que você faz a gravação, você assiste antes e você mostra pra eles e discute o que ta certo e o que errado, numa atitude anti- desportiva por exemplo, num ato impensado de um atleta, ou ao contrário, uma atleta nota 10, num super atleta.

10)Olha, eu gosto de todas as disciplinas, a que eu menos gosto é o futebol, não é que eu não goste

de dar, vc percebe que eles levam como se fosse a coisa mais seria do mundo, então as vezes o futebol entre eles causa brigas, desentendimento, tem aquele que é “fominha”, agora uma que eu gosto muito e eles se dão bem é o handebol, porque no handebol você ensina os detalhes, os fundamentos...no futebol eles vem com aquilo que eles já sabem. Então pra você tirar um vício do futebol é mais difícil, do que um voleibol, um basquete, um handebol, do que um atletismo.

11) Isso para o EM., por exemplo, agora é um ano de copa, então vai ajudar muito porque a gente

pede trabalho, pede pra que eles fiquem atentos, é uma forma de você fazer com que eles se interessem pelo esporte. Nesse sentido, a mídia ajuda e no sentido positivo no caso de você ta ajudando eles a avaliarem que tipo de esporte, que tipo de programa é pra eles tarem assistindo. Tem um programa do Guga que passa na TV cultura, é um programa excelente, num nível cultural riquíssimo. Então a gente indica. Agora por exemplo, tem esses bate bola, que você vê que é específico daquilo. Bom, eu acho que a mídia ajuda, não acho que ela atrapalhe, só que não pode virar um vício pro aluno. Eu não tenho muitos alunos que chegam falando: olha, eu assisti isso, eu assisti aquilo. Eles comentam, mas acaba sendo uma coisa natural. Hoje em dia o esporte ta tão presente na mídia que acaba sendo uma coisa natural. Muitos aqui como é uma escola particular tem canal fechado, então acabam assistindo jogos, campeonatos internacionais, então eles se interessam por isso.

Então como eu tenho esse trabalho de já ta explicando pra eles tudo o que a gente vai trabalhar durante o ano todo eu não tenho esse problema por exemplo de na época do Guga, que era o tênis...sim, eu levei pra ver o tênis, mas eu levei pra ver o tênis, o golfe, levei pra ver a natação. Então assim, a gente começa a valorizar o esporte, incentiva e porque ta levando eles pra ver essas aulas diferenciadas, que são aulas que não estão nos PCNs, mas é uma modalidade, é uma forma de praticar o esporte e que hoje ta de fácil acesso pra muita gente até mesmo em parques públicos. Você as vezes até encontra um parque público que tenha essa possibilidade, que tenha aulas de tênis. O golfe é mais difícil. Mas o tênis de uma época pra cá ficou mais popular em academias...tem aquele squash. Então são algumas modalidades que estão mais populares, não tão quanto as outras , mas eles já conhecem. Que nem o golfe, não são todos que conhecem e não é uma modalidade fácil. O objetivo de ta levando eles pra conhecer é que de repente como eles são novos, podem gostar e de repente pode virar até um profissional.

12) Eu vou falar não só da TV, mas da mídia num modo geral, porque é assim, a gente tem muita

revista desportiva. Então por exemplo, começa a copa, eles tão com aquele álbum da copa, aquelas figurinhas...Então acho que influencia nos alunos no entusiasmo pelo esporte, então isso eu acho positivo. Por exemplo, eu dei um trabalho agora pra eles sobre a bibliografia dos atletas, então por exemplo, numa sala com 15 alunos, cada um vai fazer de atleta que foi convocado pra copa da seleção brasileira. Por quê? Porque depois eu vou expor isso na escola, é uma forma deles conhecerem a história do atleta. Porque os mais conhecidos a gente acaba sabendo pela mídia. E os outros? Eles não têm tanto conhecimento, vão saber agora porque foi pra copa. Mas como eles começaram? Ninguém

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sabe. Então esse trabalho é justamente pra cada um pesquisar o seu e depois ler o do amigo. Então nesse ponto a mídia ajuda muito. A mídia, a internet, as bancas de jornais porque eu faço eles pegarem de tudo um pouco. Em relação ao professor. Ajuda no sentido de: Olha, ta tendo isso, vamos observar. Tem um programa cultural nesse sentido, vamos olhar. Eu gravei um determinado jogo, vamos observar. Então na minha concepção eu não vejo um lado negativo porque eu não fico trabalhando só em cima da mídia: Ah ta, é a copa , então só vai ter futebol. Não! Vai ter tudo o que a gente tem que ter, o futebol vai ter seu momento, ou agora ou depois, mas não pode atrapalhar a aula. Então eu acredito que aí vai muito do professor.