a perspectiva filosófica do conceito de lazer

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Vinicius F. G. da Silva; Renato farjalla Licere, Belo Horizonte, v.10, n.3, dez./2007 A Perspectiva Filosófica do Conceito de Lazer 1 A PERSPECTIVA FILOSÓFICA DO CONCEITO DE LAZER NO ÂMBITO DA EDUCAÇÃO FÍSICA Recebido em: 05/08/2007 Aceito em: 07/10/2007 Vinicius Fernandes Gomes da Silva 1 Renato Farjalla 2 UNESA – Petrópolis - RJ/Anima-UFRJ Rio de Janeiro-RJ, Brasil RESUMO: O presente trabalho tem como tema o conceito de lazer observado por uma perspectiva filosófica, em relação ao contexto da Educação Física. Para tanto se objetiva realizar uma análise crítica, feita através de estudo teórico e pesquisa de campo, sobre a representação deste conceito feita pelos profissionais de Educação Física. As origens etimológica e filosófica, e os contextos sócio-culturais envolvidos nas ocasiões históricas que permearam a construção do termo lazer foram utilizados para a confecção do estudo teórico. A palavra lazer surgiu do verbo francês loisir, que por sua vez se origina na forma infinitiva latina de licere, que significa ¨o permitido¨. Diante da escassez de literatura específica abordando este aspecto e da possibilidade de se compreender a importância do lazer na formação pessoal e social, surge um questionamento sobre qual é a representação deste conceito pelos profissionais de Educação Física. A pesquisa foi realizada através de entrevistas com autores que versam sobre lazer e questionários semi-estruturados respondidos por profissionais de Educação Física. O estudo teórico realizado aponta para a possibilidade de observação do lazer por uma perspectiva filosófica, tendo em vista que aspectos inerentes a sua atual conceituação foram abordados no âmbito da Filosofia. Pretendeu-se realizar uma cartografia sobre a representação dos profissionais de Educação Física sobre o conceito de lazer. Para tal foi feita uma categorização no intuito de englobar respostas que apontavam para um mesmo sentido. Também foram feitas entrevistas com autores que versam sobre o tema lazer, a fim de obter dados sobre o atual estado da arte de forma mais ampla e profunda. PALAVRAS-CHAVE: Lazer. Filosofia. Educação Física. THE PHILOSOPHICAL PERSPECTIVE OF THE CONCEPT OF LEISURE IN THE SCOPE OF THE PHYSICAL EDUCATION ABSTRACT: The present work consernning the concept of leisure, take in account the philosophical perspective, in relation to the context of the Physical Education. For if in such a way objective carrying through a critical, done analysis through theoretical study and 1 professor de Educação Física 2 Professor da UNESA- Petrópolis-RJ/Anima.

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  • Vinicius F. G. da Silva; Renato farjalla

    Licere, Belo Horizonte, v.10, n.3, dez./2007

    A Perspectiva Filosfica do Conceito de Lazer

    1

    A PERSPECTIVA FILOSFICA DO CONCEITO DE LAZER NO MBITO DA EDUCAO FSICA

    Recebido em: 05/08/2007Aceito em: 07/10/2007

    Vinicius Fernandes Gomes da Silva1

    Renato Farjalla2

    UNESA Petrpolis - RJ/Anima-UFRJRio de Janeiro-RJ, Brasil

    RESUMO: O presente trabalho tem como tema o conceito de lazer observado por uma perspectiva filosfica, em relao ao contexto da Educao Fsica. Para tanto se objetiva realizar uma anlise crtica, feita atravs de estudo terico e pesquisa de campo, sobre a representao deste conceito feita pelos profissionais de Educao Fsica. As origens etimolgica e filosfica, e os contextos scio-culturais envolvidos nas ocasies histricas que permearam a construo do termo lazer foram utilizados para a confeco do estudo terico. A palavra lazer surgiu do verbo francs loisir, que por sua vez se origina na forma infinitiva latina de licere, que significa o permitido. Diante da escassez de literatura especfica abordando este aspecto e da possibilidade de se compreender a importncia do lazer na formao pessoal e social, surge um questionamento sobre qual a representao deste conceito pelos profissionais de Educao Fsica. A pesquisa foi realizada atravs de entrevistas com autores que versam sobre lazer e questionrios semi-estruturados respondidos por profissionais de Educao Fsica. O estudo terico realizado aponta para a possibilidade de observao do lazer por uma perspectiva filosfica, tendo em vista que aspectos inerentes a sua atual conceituao foram abordados no mbito da Filosofia. Pretendeu-se realizar uma cartografia sobre a representao dos profissionais de Educao Fsica sobre o conceito de lazer. Para tal foi feita uma categorizao no intuito de englobar respostas que apontavam para um mesmo sentido. Tambm foram feitas entrevistas com autores que versam sobre o tema lazer, a fim de obter dados sobre o atual estado da arte de forma mais ampla e profunda.

    PALAVRAS-CHAVE: Lazer. Filosofia. Educao Fsica.

    THE PHILOSOPHICAL PERSPECTIVE OF THE CONCEPT OF LEISURE IN THE SCOPE OF THE PHYSICAL EDUCATION

    ABSTRACT: The present work consernning the concept of leisure, take in account the philosophical perspective, in relation to the context of the Physical Education. For if in such a way objective carrying through a critical, done analysis through theoretical study and 1 professor de Educao Fsica2 Professor da UNESA- Petrpolis-RJ/Anima.

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    research of field, on the representation of this concept made for the professionals of Physical Education. The etymological and philosophical origins and the involved partner-cultural contexts in the historical occasions that permeated the construction of the term leisure had been used for the confection of the theoretical study. The word leisure appeared of the French verb to loisir that in turn it originates in the Latin infinitive form of licere thatmeans the permit. Ahead of the scarcity of specific literature approaching this aspect and of the possibility of if understanding the importance of the leisure in the personal and social formation, a questioning appears on which is the representation of this concept for the professionals of Physical Education. The research was carried through through interview with persons who turn on leisure and half-structuralized questionnaires answered for professionals of Physical Education. The carried through theoretical study it points with respect to the possibility of comment of the leisure for a philosophical perspective, in view of that inherent aspects its current conceptualization had been boarded in the scope of the Philosophy. It was intended to carry through cartography on the representation of the professionals of Physical Education on the leisure concept. For such the categories in the intention of conglobated answers was made that pointed with respect to one same sensible one. Also interviews with authors had been made who turn on the subject leisure, in order to get given on the current state of the art of ampler and deep form.

    KEYWORDS: Leisure. Philosophy. Physical Education.

    Introduo

    O objeto de estudo deste trabalho ser a origem filosfica do conceito de lazer em

    relao ao contexto da Educao Fsica. Para tal, pretende-se fazer uma anlise sobre a

    filosofia, o lazer sob uma perspectiva filosfica e sobre como esse tema observado pelos

    profissionais de Educao Fsica atuantes na rea do lazer.

    Segundo Chau (2006), a filosofia (do grego : philia - amor, amizade +

    sophia - sabedoria) atualmente se apresenta como uma disciplina ou rea de estudos que

    envolve a investigao, a discusso, a formao e reflexo de idias (ou vises de mundo)

    em uma situao geral, abstrata ou fundamental. De acordo com Marcondes (2004), seu

    surgimento se deu na Grcia antiga, por volta do sc. VI a.C., com Tales de Mileto sendo

    considerado como o primeiro filsofo.

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    O surgimento do pensamento filosfico-cientfico ocorreu devido a uma mudana

    de papel do pensamento mtico e foi proveniente de um longo perodo de transio e

    transformao da sociedade grega (ARANHA; MARTINS, 2002). Nos assinala Marcondes

    (2004) que o pensamento filosfico-cientfico apresenta como uma de suas noes

    fundamentais o carter crtico, que v as teorias formuladas no de forma dogmtica, mas

    sim como assuntos passveis de discusso, permitindo formulaes e propostas alternativas,

    opondo-se ao pensamento mtico, que uma forma, advinda de tradio cultural e

    folclrica, pela qual um povo explica aspectos essenciais da sua realidade e que constitui

    explicao do real pelo sobrenatural, pelo mistrio. E por ser parte de uma tradio cultural

    acaba por configurar a prpria viso de mundo dos indivduos, pressupondo aceitao e

    adeso destes, sendo assim, o mito no se presta a questionamentos, crticas ou correes .

    A anlise da origem etimolgicas e filosficas, observando os contextos scio-

    culturais envolvidos em cada ocasio histrica na quais a discusso do lazer est envolvida,

    foi utilizada, no presente trabalho, para abordar a questo do lazer no contexto da Educao

    Fsica.

    Verificando a etimologia, segundo Vaz (2003) a palavra lazer surgiu do verbo

    francs loisir, que por sua vez se origina na forma infinitiva latina de licere, que significa o

    permitido. Um outro caminho para se buscar o sentido etimolgico da palavra lazer,

    segundo Maffei Junior (2004), observar que, entre os gregos e os romanos, a noo de

    lazer se origina de schol, palavra grega utilizada para designar o tempo ocupado por

    atividades ideais e nobres para o ser (como a contemplao terica, a especulao filosfica

    e o cio), sendo que o sentido atual de lazer provm da noo romana de otium (cio).

    Nos dias atuais, a concepo mais difundida de lazer a que Dumazedier (1999)

    prope, dizendo que o lazer diz respeito a um conjunto de ocupaes s quais o indivduo

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    entrega-se de vontade espontnea, depois de se ter livrado das responsabilidades

    profissionais, familiares e sociais.

    Notadamente a evoluo deste termo, levando em conta as variveis culturais e

    psicolgicas, demonstra a importncia de seu estudo, pois como nos assinala Dumazedier

    (1999), se na Grcia antiga o termo que originou a palavra lazer tinha o sentido de

    aproveitamento do tempo livre para o desenvolvimento pessoal e social, deve-se levar em

    conta que essa sociedade tinha seu modelo pautado no trabalho escravo, dando classe

    dominante a oportunidade de usar seu tempo como bem entendesse, enquanto atualmente,

    segundo Camargo (1999), o lazer tem como condio de existncia o tempo livre, noo

    fundamentada na organizao industrial da sociedade moderna.

    Ante a escassez de literatura abordando este aspecto, pretende-se abordar a evoluo

    do conceito de lazer sob uma perspectiva filosfica, considerando sua origem etimolgica;

    as variveis scio-culturais que permearam tal evoluo e observar como aspectos

    relacionados atual noo de lazer foram tratados pela Filosofia. Tambm se objetiva

    realizar uma pesquisa de campo no intuito de elaborar uma anlise cartogrfica sobre a

    representao do lazer entre os profissionais de Educao Fsica, suas correlaes com o

    contexto scio-econmico, seus possveis valores filosficos e sua influncia na construo

    da subjetividade do indivduo, alm da realizao de entrevista com especialistas sobre o

    tema lazer, no intuito de ilustrar os seus pareceres sobre este tema.

    Fundamentao Terica

    Segundo Chau (2006), a palavra "filosofia" (do grego ) tem sua origem

    etimolgica na unio de outras duas palavras: "philia" (), que significa "amizade",

    "amor fraterno" (no no sentido ertico) e respeito entre os iguais e "sophia" (), que

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    significa "sabedoria", "conhecimento". Da palavra "sophia" provm a palavra "sophos"

    (), que significa "sbio", "instrudo". A partir disto percebe-se que filosofia significa

    a amizade pela sabedoria, o amor e respeito pelo saber, indicando que o "filsofo" seria

    aquele que ama e busca a sabedoria, tem amizade pelo saber e o deseja indicando um

    estado de esprito daquele que deseja o conhecimento, o estima, o procura e o respeita.

    Ainda assinalando Chau (2006), diz a tradio que o filsofo Pitgoras de Samos (que

    viveu no sculo V antes de Cristo) criou a palavra.

    Devido abordagem da questo do pensamento filosfico, entender como este se

    estruturou se torna imprescindvel para a sua compreenso.

    Assinala Marcondes (2004) que os primeiros pensadores deixaram, como principal

    contribuio para o pensamento filosfico-cientfico, um conjunto de noes que buscam

    explicar a realidade. Devido ao prprio momento de surgimento essas noes se mostram

    um tanto imprecisas, porm pode-se dizer que atravs delas a filosofia e a cincia tem o seu

    incio em nossa tradio cultural. De certa forma essas noes so o ponto de partida de

    uma viso de mundo que, mesmo com as profundas transformaes ocorridas, permanece,

    ainda hoje, em nossa maneira de compreender a realidade.

    As Noes Fundamentais do Pensamento Filosfico

    Segundo Marcondes (2004), so seis as noes fundamentais do pensamento

    filosfico. A primeira dessas noes a physis, que diz respeito natureza. O objeto de

    investigao dos primeiros filsofos-cientistas o mundo natural, o que faz com que suas

    teorias busquem uma explicao causal dos processos e fenmenos naturais a partir de

    causas naturais, onde a compreenso da realidade natural encontra-se nesta prpria

    realidade e no fora dela.

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    A causalidade se apresenta como outra noo fundamental do pensamento

    filosfico, pois com ela os primeiros filsofos atribuem uma relao de causa e efeito para a

    explicao dos fenmenos naturais. A conexo causal entre determinados fenmenos

    naturais constitui a forma bsica da explicao cientfica, sendo, por este motivo,

    consideradas as primeiras tentativas de elaborao de teorias sobre o real como o marco

    inicial do pensamento cientfico. importante ressaltar que o nexo causal deve-se dar entre

    fenmenos naturais, pois do contrrio o pensamento mtico tambm estabeleceria

    explicaes causais. Com isso percebe-se que a explicao causal tem carter regressivo,

    com cada fenmeno sendo tomado como efeito de um fenmeno anterior, porm isso

    invalidaria o prprio sentido da explicao, pois levaria ao inexplicvel, sendo da que se

    torna necessrio o estabelecimento de uma causa primeira que sirva de ponto de partida

    para as demais.

    Para evitar que a explicao causal regredisse ao infinito levando ao inexplicvel, os

    primeiros filsofos postulavam a existncia de um elemento primordial, que venha a servir

    de ponto de partida para todo o processo, que foi chamado de arqu.

    O termo kosmos denota diretamente a idia de ordem, harmonia e at mesmo

    beleza, sendo assim o cosmos o mundo natural e o espao celeste, enquanto realidade

    ordenada de acordo com princpios racionais, sendo a sua idia bsica que h uma

    ordenao racional, hierrquica, onde certos elementos so mais bsicos, tendo a

    causalidade como lei principal, o que caracteriza a noo de cosmo. A noo de logos

    aparece como a racionalidade desse cosmo e como explicao racional, j que esse termo

    significa literalmente discurso, e enquanto discurso difere-se de mythos, que a narrativa

    de carter potico e fantasioso, sendo o logos, fundamentalmente uma explicao racional.

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    Segundo Marcondes (2004) a noo do carter crtico consiste, basicamente, em que

    as idias formuladas no sejam aceitas de forma dogmtica, como sendo verdades absolutas

    e imutveis, mas sim como passveis de discusses, suscitando divergncias, permitindo

    novas formulaes, pois como se tratam da construo do pensamento humano, as idias de

    um filsofo esto sempre abertas a discusses, reformulaes e correes.

    Esta ltima noo, o carter crtico, merece destaque por dar a oportunidade do

    desenvolvimento da construo do pensamento humano, devido sua caracterstica da

    justificativa, da explicao e da fundamentao de propostas divergentes, e tambm de ser

    passvel de novas crticas.

    Para compreender o lazer de forma filosfica e cientfica buscou-se remontar a

    origem etimolgica desta palavra, bem como observar suas noes e definies iniciais e a

    evoluo histrica do conceito, juntamente com os contextos scio-culturais que

    permearam esta evoluo.

    Etimologia

    Segundo Vaz (2003) a palavra lazer surgiu do verbo francs loisir, que por sua vez

    tem sua origem na forma infinitiva latina de licere, que significa o permitido. De acordo

    com Maffei Junior (2004) o francs loisir origina a expresso inglesa leisure, que,

    tecnicamente, utilizada para designar tempo livre, sendo que um outro caminho para se

    buscar o sentido etimolgico da palavra lazer observar que, entre os gregos e os romanos,

    a noo de lazer se origina de schol, palavra grega utilizada para designar o tempo

    ocupado por atividades ideais e nobres para o ser (como a contemplao terica, a

    especulao filosfica e o cio), sendo que o sentido atual de lazer provm da noo

    romana de otium (cio).

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    Trs tendncias podem ser apontadas para a anlise etimolgica da palavra lazer,

    sendo que, para a primeira, o que caracteriza o lazer a idia de permisso para atuar, onde

    o lazer seria apontado como um conjunto de atividades onde proibies, restries,

    censuras e represso so ausentes.

    A segunda tendncia aponta a ausncia de impedimentos de ordem temporal no

    lazer, o que nos remete idia de lazer como um tempo livre, sem restries ou

    compromissos.

    J a terceira tendncia v no sentido etimolgico de lazer uma noo de qualidade

    de ordem subjetiva, onde o lazer seria constitudo por atividades livremente escolhidas, ou

    seja, autnomas e agradveis e com benefcios fsicos e psicolgicos (JIMENEZ

    GUZMAN, 1986 apud MAFFEI JUNIOR, 2004).

    As duas ltimas tendncias corroboram com uma das definies de lazer mais

    difundidas e aceitas atualmente, que foi a dada por Joffre Dumazedier (1999), onde ele

    define lazer como sendo um conjunto de ocupaes s quais o indivduo entrega-se de

    vontade espontnea, depois de se ter livrado das responsabilidades profissionais, familiares

    e sociais.

    Na discusso das possveis relaes entre o lazer e a filosofia, se faz pertinente uma

    abordagem sobre como esta abordou as discusses sobre o descanso, o desenvolvimento e o

    divertimento, que so atualmente classificados, segundo Camargo (2006) como as trs

    categorias do lazer.

    O Lazer na Histria da Filosofia

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    Segundo Aristteles3 (1996), a felicidade o objetivo final da vida humana,

    incluindo-a na categoria de atividade desejvel em si, pois nada lhe falta, sendo, ento,

    auto-suficiente, apontando ainda que esta dependeria do lazer4. Nas atividades desejveis

    em si nada se busca alm do exerccio da prpria atividade, tornando-as aes conforme a

    excelncia moral, pois estas so caracterizadas por atos nobilitantes e bons, e estes, por sua

    vez, so desejveis em si. Esta felicidade, alm de ser uma ao conforme a excelncia

    moral, ser uma atividade perfeita a partir do momento que for conforme a excelncia

    pertinente melhor parte de cada um. Assim, esta ser a atividade contemplativa, que

    intelectual.

    A atividade contemplativa vista como superior em termos de importncia de seu

    mrito, no visando outro objetivo alm de si mesma e tem o prazer que lhe inerente.

    Com isso percebe-se que Aristteles (1996) j discutia e analisava a questo das

    atividades prazerosas, praticadas em tempo que no o de trabalho, e que tinham o prazer

    inerente a elas mesmas, caractersticas que, segundo Dumazedier (1999), so observadas na

    atual noo de lazer.

    De acordo com Toms de Aquino (apud DUFLO, 1999), ao jogo pode ser atribuda

    uma dupla positividade. Uma delas consiste em que o jogo se mostra como um repouso

    espiritual, que pertence ao domnio do repouso necessrio s atividades intelectuais, s

    quais no se pode entregar-se continuamente sem se sentir uma fadiga proporcional

    dificuldade das tarefas, sendo que do mesmo modo que o repouso material destri a fadiga

    3 tica a Nicmaco, obra originalmente publicada por volta de 350 a.C., traduzida na obra intitulada Os pensadores, 1996.4 Aristteles (1996) afirma que essa felicidade depende do lazer, porm acredita-se que a palavra lazer tenha sido usada por uma questo de traduo, j que foi mencionado anteriormente que seu surgimento se deu a partir do vocbulo francs loisir. Diante disto, para um melhor entendimento, alm de evitar possveis confuses acerca do uso e do surgimento do termo, assume-se no presente estudo que a idia pretendida por Aristteles (1996) seria a de cio, pois, inclusive, o autor faz uma analogia dizendo que se trabalha para ter lazer (ou cio) como se faz guerra para obter paz.

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    do corpo a fadiga do esprito deve ser combatida com o repouso espiritual. O outro aspecto

    diz respeito capacidade do jogo em desenvolver o bom humor, que seria uma virtude

    necessria em sociedade.

    Porm, segundo Duflo (1999) essa dupla positividade est sujeita condio do

    comedimento, sendo que o jogo visto como um repouso necessrio, mas que s

    justificvel como repouso, sendo ainda considerado uma necessidade do tipo inferior ligada

    apenas a finitude e a carnalidade, como comer ou dormir.

    Assim, percebe-se que Toms de Aquino trata o jogo sob a perspectiva de sua

    relao com uma atividade laboriosa que impe cansao mental, estabelecendo uma relao

    entre trabalho e atividades praticadas no tempo livre, que um dos aspectos abordados nos

    atuais estudos sobre o lazer, como ressalta Marcellino (1996).

    De acordo com Duflo (1999), Schiller elabora toda uma teoria sobre o jogo, que

    veio a marcar a prpria historia da noo sobre este, na Filosofia e alm dela. No jogo o

    homem totalmente homem, pois no est sobre coero, onde Schiller se resume dizendo

    que: O homem no joga seno quando na plena acepo da palavra ele homem, e no

    totalmente homem seno quando joga..

    Segundo Koogan, Houaiss (1994), se entende jogo como:

    Ao de jogar; folguedo, brinco, divertimento. O que serve para jogar: comprar um jogo de damas. Exerccio ou divertimento sujeito a certas regras: jogo de futebol. Passatempo em que se arrisca dinheiro: uma dvida de jogo. Divertimento pblico composto de exerccios esportivos: os Jogos Olmpicos.

    Deste modo, de acordo com um significado proposto para o termo jogo, pode-se

    enquadr-lo como uma atividade que se caracteriza como pertencente de uma das trs

    categorias do lazer assinaladas por Camargo (2006): o divertimento. Com isso,

    contextualiza-se o jogo dentro da discusso sobre o lazer.

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    Schiller (apud DUFLO, 1999) formula uma teoria sobre o tema jogo na Filosofia,

    apresentando como noo de jogo atividades nas quais o homem tem a possibilidade de

    uma ao equilibrada de foras fsicas e espirituais, fazendo com este seja concebido como

    uma totalidade. So apresentados como exemplos de jogo a ao livre dos membros de um

    atleta, os Jogos de Olmpia, na Grcia, entre outros.

    Em sua teoria sobre o jogo, Schiller (apud DUFLO, 1999), busca no pensamento

    kantiano um tema fundamental, que o da diviso do homem entre a razo e a

    sensibilidade. A anlise se inicia em uma antropologia do ponto de vista pragmtico, que

    analiticamente leva a uma antropologia pura, onde vai buscar o fundamento dessa diviso e

    a possvel soluo do problema por ela levantado.

    Atravs da antropologia pragmtica, se observa que o homem primeiramente um

    ser da natureza, pois esta, inicialmente, o produz e vela por seus primeiros dias. Sendo

    assim, o que primeiro aparece no homem, do ponto de vista cronolgico, o homem natural

    ou homem fsico, que se assujeita s necessidades naturais, centrado em si mesmo,

    egosta e violento. Porm o homem homem porque, ao contrrio de outras criaturas, est

    em condies de no se limitar a esse assujeitamento necessidade natural, pois pode neg-

    la (ao menos pela mente) e, sobretudo, transform-la profundamente em seu sentido. Isto

    faz dele livre, ou seja, autnomo, significando que deve ter por princpio a lei que

    estabeleceu para si prprio. Diante disto, o homem solicitado por uma dupla legislao, a

    da natureza e a da razo.

    Internamente dividido, o homem marcado por um duplo apego, que toma a forma

    de uma oposio estril e sem fim, pois se uma dessas legislaes esmagasse a outra at

    que desaparecesse, seria o homem que desaparecia. O problema antropolgico, que

    formulado desta forma seria insolvel numa primeira aparncia, consiste em encontrar um

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    terceiro carter que concilie os dois, se apresentando como testemunho sensvel da

    moralidade no sensvel. O desafio proposto no se encerra na esfera terica, tambm

    tico e poltico, pois para acabar com a oposio do homem consigo mesmo e realizar no

    Estado uma mudana que possa faz-lo passar da arbitrariedade racionalidade sem afetar

    a existncia sensvel dos indivduos, deve ser encontrado um homem que possua um carter

    total.

    Atravs de uma anlise da antropologia pura, depara-se com um duplo paradoxo,

    sendo o primeiro que essa diviso cuja origem colocada na essncia do homem tem como

    fenmeno uma histria. Ento se poderia dizer que de um lado a diviso antropolgica no

    fatal, pois a sociedade grega mostrou que o homem total possvel, por outro lado essa

    mesma diviso fatal, j que presente na prpria essncia do homem. O outro paradoxo diz

    respeito ao radicalismo que pretende encontrar uma unidade, remontando, para isso, ao

    conceito puro de humanidade. Porm esta abordagem s acentua a diviso, pois se ancora

    no ser do homem, que por sua vez apresenta a diviso em sua essncia.

    Nos dois casos a conciliao de duas asseres aparentemente contraditrias se

    concretiza com a adoo da noo de tendncias (Triebe). Quando expressa nos termos de

    uma antropologia pura, essa diviso se apresenta sob a forma de distino entre a pessoa e o

    estado, entre o eu e suas determinaes. Com isso entram em oposio permanncia da

    pessoa e as mudanas do estado, a existncia absoluta de uma e a existncia da outra no

    tempo, com um lado insistindo sobre a liberdade e o outro sobre a passividade. Dessa

    oposio inerente natureza ao mesmo tempo sensvel e sensata do homem vo decorrer

    duas exigncias contrrias, onde, na primeira o homem tende realidade absoluta, devendo

    transformar em mundo tudo o que forma e exteriorizar as suas virtualidades, e na

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    segunda, tende forma absoluta, devendo exteriorizar tudo o que interior e formalizar

    tudo o que exterior.

    Com isso, nos assinala Schiller (apud DUFLO, 1999), que essas exigncias se

    apresentam no homem em forma de contradio interna da humanidade, que se expressa em

    termos de tendncias. Estas sero duas: a tendncia sensvel (Sinnliche Trieb) e a tendncia

    formal (Formtrieb). Essas tendncias podem ser comparadas a energias, sendo esse o seu

    carter dinmico. A tendncia sensvel quer as intuies, a mudana, enquanto a tendncia

    formal quer a eternidade, a verdade e a justia. As duas tendncias produzem movimentos

    aparentemente opostos, embora esta oposio seja atenuada pelo fato de cada um desses

    movimentos terem um domnio prprio, e delas esgotarem sozinhas a totalidade do campo

    humano.

    O conflito entre as tendncias ocorre se uma delas ultrapassar seu domnio legtimo,

    como, por exemplo, quando a tendncia sensvel requer uma mudana no domnio

    atemporal dos princpios. A delimitao das tendncias em seus domnios assegurada pela

    cultura. Mesmo que condies harmoniosas (difceis de conseguir) evitem o conflito

    interno do homem, h no ser humano uma verdadeira diviso que parece tornar impossvel

    constituio do homem total, que deveria ser o objetivo final da humanidade, pois se a

    tendncia sensvel dominar a formal, obtm-se o homem selvagem, passional e brbaro,

    enquanto se a tendncia formal dominar a sensvel obtm-se o homem moral, procurando

    verdade e justia, mas que ao negar uma parte igualmente importante de si mesmo viver se

    vexando, numa uniformidade formal distante da plenitude harmoniosa. Por outro lado, com

    uma separao correta dos domnios o homem no deixaria de estar cindido, frente a sua

    conscincia humana, em duas tendncias no convergentes.

  • Vinicius F. G. da Silva; Renato farjalla

    Licere, Belo Horizonte, v.10, n.3, dez./2007

    A Perspectiva Filosfica do Conceito de Lazer

    14

    O meio para se acabar com essa diviso a relao de tendncias, sem a dominao

    unilateral de uma sobre a outra, mas sim recproca, tomando a forma de uma terceira

    tendncia, que seria o fruto da ao combinada das duas tendncias. Essa chamada

    tendncia ao jogo (Spieltrieb).

    A reciprocidade de subordinao das duas tendncias se apresentaria como a

    soluo do problema da diviso antropolgica, pois permitiria a realizao do homem

    total pretendido. A tendncia ao jogo exercer sobre a alma uma coero moral e fsica, e

    suprimindo a contingncia suprimiria tambm toda a coero, dando ao homem a liberdade,

    tanto fsica quanto moralmente. Assim, na medida em que tira dos sentimentos e paixes a

    influncia e o poder dinmico, estes entraro em acordo com a razo, enquanto que tirando

    das leis da razo a coero moral, promover a reconciliao desta com o interesse dos

    sentidos. Com isso cria-se um ser humano total, livre em sua sensibilidade e sensvel em

    sua liberdade.

    O jogo , aqui, considerado como vetor de harmonia, portanto de beleza e equilibro

    para o fsico e o espiritual do homem. Sua noo serve para dar a idia de uma ao

    equilibrada das foras umas com as outras, sendo isso possvel porque o homem que joga

    ento unicamente concebido como totalidade, e no como soma de elementos separados,

    tratados especificamente por diferentes disciplinas. Porm, o jogo no tido somente como

    princpio de unidade, pois mostra tambm uma capacidade de estabelecer uma legalidade

    no sensvel e no passional que no seja percebida com estranheza, mas sim como uma

    escolha livre, exaltando a vida. O jogo um ponto de interseo de duas sries de

    oposies, onde no h intercambialidade, mas o encontro de todos os termos. O jogo,

    ento, onde o homem mais completo.

  • Vinicius F. G. da Silva; Renato farjalla

    Licere, Belo Horizonte, v.10, n.3, dez./2007

    A Perspectiva Filosfica do Conceito de Lazer

    15

    Percebe-se que dentro da histria da Filosofia questes como descanso,

    divertimento e desenvolvimento foram pensadas. Diante disto acredita-se que, j que o

    lazer apresenta como suas categorias estes mesmos termos, ele se apresenta como uma

    noo que merece ser tratada filosoficamente.

    Para pensar o lazer e remontar a evoluo de seu conceito necessrio observar a

    questo do trabalho, j que lazer sempre aparece vinculado, de uma forma ou de outra, ao

    trabalho, pois segundo Marcellino (1996) o tempo de lazer no se ope, mas sim se

    relaciona com o tempo das obrigaes, entre elas, principalmente as profissionais, ou seja,

    o trabalho.

    O Lazer e o Trabalho

    Segundo Camargo (1998), a palavra trabalho nasceu do termo latino tripalium, que

    se referia a um instrumento de tortura, sendo que, na sociedade greco-romana, onde existia

    escravido, uma minoria rica no trabalhava, vivendo apenas para o seu desenvolvimento

    pessoal, o que fazia com que o trabalho fosse considerado por eles como uma tortura,

    advindo da a utilizao deste termo. Assinala Maffei Junior (2004) que a ociosidade nesta

    civilizao era associada idia de cidado livre, homem completo, pois ocupava o tempo

    consigo mesmo e com suas atividades fsicas, artsticas e intelectuais, ficando o trabalho a

    cargo dos escravos, que no eram considerados humanos.

    Para a civilizao romana, que dominou o mundo nos primeiros sculos, o trabalho

    no era considerado como um mal, porm os romanos, ao contrrio dos gregos, no usavam

    o seu tempo livre para a contemplao e sim para a recuperao e preparao do corpo para

    a volta ao trabalho, tendo em vista serem ativos guerreiros (REQUIXA, 1977 apud

    MAFFEI JUNIOR, 2004). Contudo uma separao entre povo e elite ainda se fazia

  • Vinicius F. G. da Silva; Renato farjalla

    Licere, Belo Horizonte, v.10, n.3, dez./2007

    A Perspectiva Filosfica do Conceito de Lazer

    16

    presente, pois as diverses populares, consideradas vulgares e alienadas, eram desprezadas

    pela elite intelectualizada (MAFFEI JUNIOR, 2004).

    Segundo Maffei Junior (2004), na Idade Mdia, devido grande influncia da

    religio apresentando a concepo de pecado, as pessoas deviam trabalhar muito, pois o

    cio era considerado pecado. Camargo (2006) chega a apontar como hiptese a idia de que

    o monotesmo sempre olhou para o ldico, tanto o da vida cotidiana como o que ilustrava

    os ritos politestas, com suspeio, como se, ao definir um nico Deus, a mente humana

    elegesse o outro lado, nesse caso o politesmo e o seu carter ldico, como o esprito do

    mal, o que levou as categorias faber e ludens a se colocarem em posies polares, como

    se Deus fosse amante do trabalho e o Diabo amante do ldico.

    De acordo com Melo e Alves Junior (2003), atribui-se o aparecimento do lazer ao

    surgimento da Revoluo Industrial (modelo de produo fabril e organizao do trabalho

    em fbricas), no final do sculo XVIII, pois a vida dos trabalhadores passou a ser

    comandada pela jornada de trabalho, e o tempo de no trabalho tambm passou a ser mais

    controlado e pensado.

    Segundo De Masi (2000), nos dias atuais o trabalho perdeu o papel central que

    ocupou nos ltimos dois sculos, o que implica em, ao lado da atual educao profissional

    dos jovens, ser colocado um outro tipo de educao, igualmente sria, visando as atividades

    ldicas e culturais, onde da mesma forma em que se aprende uma profisso especfica e

    suas atribuies, tambm se aprende a ser um cidado, um pai ou um turista.

    Porm, independentemente das diferentes interpretaes possveis para a palavra

    lazer, o mais importante a ser observado em qual modelo de organizao social estas

    interpretaes esto sendo feitas, pois este modelo determina suas funes e caractersticas,

    conforme o sistema de aspiraes, necessidades e valores vigentes nesses momentos e

  • Vinicius F. G. da Silva; Renato farjalla

    Licere, Belo Horizonte, v.10, n.3, dez./2007

    A Perspectiva Filosfica do Conceito de Lazer

    17

    vlidas para toda a organizao (JIMENEZ GUZMAN, 1986 apud MAFFEI JUNIOR,

    2004), e, hoje em dia, o lazer apresenta as caractersticas da sociedade atual (MAFFEI

    JUNIOR, 2004).

    Em uma reflexo sobre o lazer, alm das consideraes a serem feitas sobre a

    etimologia e o conceito de acordo com os contextos histricos, faz-se necessria uma

    abordagem sobre as suas trs categorias: descanso, divertimento e desenvolvimento, j

    citadas acima, assim como uma anlise de como esses conceitos se articulavam na

    antiguidade, como se articulam nos dias atuais e como o lazer se apresenta em face de esse

    contexto.

    As Trs Categorias do Lazer

    De acordo com Camargo (2006) os termos descanso, divertimento e

    desenvolvimento so ambguos, e, alm disso, no se ajustam entre si, com exceo do

    ocorrido na civilizao grega, onde essas categorias foram percebidas harmonicamente,

    sofrendo diferenciao e se opondo no decorrer dos tempos, sobretudo com o advento da

    revoluo industrial. A civilizao greco-romana resolveu a questo da ambigidade dos

    termos de forma original, especialmente os gregos, que negaram o trabalho, chegando a

    proibi-lo aos seus cidados, e sistematizaram as trs categorias num termo nico, o schol,

    j citado anteriormente, onde essas categorias se ajustavam perfeitamente. Para os gregos o

    descanso no tinha nada a ver com a recuperao fsica, salvo nos casos em que se tratava

    de uma pausa depois de caminhada ldica, que objetivava vislumbrar o caminho percorrido,

    e nesse sentido se casava bem com o divertimento, que por sua vez no era considerado

    como qualquer forma vulgar de usar o tempo, antes, era visto como um ideal para o ser

    humano e para civilizao.

  • Vinicius F. G. da Silva; Renato farjalla

    Licere, Belo Horizonte, v.10, n.3, dez./2007

    A Perspectiva Filosfica do Conceito de Lazer

    18

    A paidia (vivncia ldica) era condio da paidia (educao/cultura) que se dava

    na schol (tempo/espao da educao), sendo o desenvolvimento, enquanto significado

    etimolgico (des-envolver, des-enrolar) parte da paidia, e um ideal do homem grego

    civilizado (CAMARGO, 2006).

    A ttulo de definio o processo educativo pode ser tido, segundo Piletti (2003),

    como um processo que existe e se d de maneira diferente e particular, dependendo da

    sociedade, do pas onde est se desenvolve, pois essas diferentes sociedades tm valores e

    realidades diferentes e com isso uma concepo diferente de educao.

    O lazer, segundo Camargo (1999), no impermevel s aes educativas, pois nele

    pode-se exercitar equilibradamente a participao social ldica, processo que se denomina

    educao no-formal ou animao scio-cultural, que visa mostrar que a participao em

    atividades voluntrias, desinteressadas, prazerosas e liberatrias pode ofertar uma vida

    cultural intensa, diversificada e equilibrada com as obrigaes profissionais. Com isso

    percebe-se a educao para o lazer ou atravs do lazer.

    Para complementar a abordagem feita acima interessante observar a questo da

    animao scio-cultural segundo os mais recentes estudos. Sendo assim, de acordo com

    Melo (2006), a animao cultural tem nos dias atuais uma conceituao mais especfica,

    devido ao fato de estar sendo mais amplamente estudada, portanto esta pode ser definida

    como uma tecnologia educacional, uma proposta de interveno pedaggica, pautada na

    idia radical de mediao, que jamais pode ser tomada como imposio, que busca

    contribuir para permitir maior compreenso sobre os sentidos e significados culturais

    (considerando as tenses que nesse mbito se estabelecem) que concedem concretude a

    nossa existncia cotidiana, feita a partir do princpio de estmulo s organizaes

    comunitrias (que pressupe a idia de indivduos fortes para que tenhamos realmente uma

  • Vinicius F. G. da Silva; Renato farjalla

    Licere, Belo Horizonte, v.10, n.3, dez./2007

    A Perspectiva Filosfica do Conceito de Lazer

    19

    construo democrtica), sempre tendo em vista provocar questionamentos acerca da

    ordem social estabelecida e contribuir para a superao do status quo e para a construo de

    uma sociedade mais justa.

    Assim, nos assinala Camargo (1999), que se pode pensar o lazer como um modelo

    cultural que interfere no desenvolvimento pessoal dos indivduos e tem as suas atividades

    repousadas numa dinmica social complexa, onde as discusses suscitadas nos pontos de

    encontro de amigos, nas peladas de rua, etc, consistem numa educao informal, e nesse

    sentido o lazer se apresenta como um tempo de anarquia cultural, onde as pessoas

    assimilam, digerem ou expelem, seguindo motivaes prprias, as normas, prescries ou

    at sugestes das instituies de base da sociedade, que seriam o trabalho, a famlia, a

    religio, ainda expressando atitudes autoritrias.

    Porm, a partir do momento que tange o aspecto da educao, a discusso precisa

    abordar a questo da educao para e pelo lazer, j citados anteriormente.

    Educao Pelo Lazer e Para o Lazer

    Educao pelo Lazer

    A importncia do lazer no desenvolvimento pessoal e social das pessoas se

    demonstra na busca da realizao pessoal em atividades que se encontram,

    preponderantemente, no tempo livre, e no no tempo de trabalho, evidenciando que aquele

    se apresenta como campo frtil para esta realizao pessoal, que pode ser encontrada ao

    assistir um filme, uma pea de teatro, em uma viagem, etc. Com isso percebe-se a ateno

    que devem ter os educadores para que a oposio entre lazer e trabalho no seja uma fonte

    de desajuste do indivduo consigo mesmo e com a sociedade (CAMARGO, 1999).

  • Vinicius F. G. da Silva; Renato farjalla

    Licere, Belo Horizonte, v.10, n.3, dez./2007

    A Perspectiva Filosfica do Conceito de Lazer

    20

    Educao para o Lazer

    A educao para o lazer consiste em estimular a produo cultural, mesmo que essa

    seja apenas diletante. Consumir as obras prontas, como, peas de teatro, filmes e livros ,

    sim, bom e desejvel, desde que no iniba a capacidade prpria de produzir ou criticar.

    Existem pedagogias renovadas no lazer que buscam, simultaneamente, introduzir a prtica

    criativa despretensiosa (inseridas nas necessidades ldicas do cotidiano) e aprimorar a

    apreciao crtica das obras dos gnios (CAMARGO, 1999).

    A prpria educao vista pela sociedade como um valor e a Educao Fsica faz

    parte da educao, sendo componente ativo do desenvolvimento dos alunos e o lazer,

    dentro da Educao Fsica, um instrumento para propiciar este desenvolvimento

    (MAFFEI JUNIOR, 2004).

    importante ser observado que os Parmetros Curriculares Nacionais (PCNs)

    apontam a importncia de se educar para o lazer (BRASIL, MEC, 1996), apesar de no

    indicarem como fazer isso. Diante disso deve-se atentar para qual formao os professores

    de Educao Fsica esto recebendo em relao ao lazer, tendo em vista que esses

    conhecimentos so trabalhados de forma rpida e superficial, diante da pouca abertura que

    tm, em relao carga horria, nmero de disciplinas especficas e abordagem dentro de

    outras disciplinas do currculo (ISAYAMA, 2002 apud MAFFEI JUNIOR, 2004).

    Sendo assim, fica ntida a importncia de uma anlise relativa abordagem

    filosfica do lazer. Esta considera a forma como aspectos que se relacionam com a atual

  • Vinicius F. G. da Silva; Renato farjalla

    Licere, Belo Horizonte, v.10, n.3, dez./2007

    A Perspectiva Filosfica do Conceito de Lazer

    21

    noo deste termo foram tratados na histria da filosofia, alm da origem etimolgica da

    palavra, bem como os contextos histricos nos quais a evoluo do termo lazer se deu.

    Tendo em vista a escassez de literatura abordando este aspecto, pretende-se abordar

    a evoluo do conceito de lazer sob uma perspectiva filosfica, considerando sua origem

    etimolgica, as variveis scio-culturais que permearam tal evoluo e como aspectos

    relacionados atual noo de lazer foram tratados pela Filosofia.

    Outro objetivo visado foi realizao de uma pesquisa de campo onde se pretendeu

    a elaborao de uma anlise cartogrfica sobre como os profissionais de Educao Fsica

    representam:

    1. O conceito de lazer;

    2. A correlao entre o lazer e o contexto scio-econmico;

    3. Os possveis valores filosficos agregados ao lazer;

    4. A possvel influncia do lazer na construo da subjetividade do indivduo.

    O trabalho objetivou tambm a realizao de entrevista com especialistas sobre o

    tema lazer, no intuito de ilustrar os seus pareceres sobre este tema.

    O presente trabalho justifica-se no fato de que existe uma escassez de estudos sobre

    o tema do lazer com fundamentao terica de natureza filosfica, que possam servir de

    norte para o estabelecimento de parmetros que venham a balizar as atuaes e

    intervenes dos profissionais de Educao Fsica que trabalham na rea de lazer.

    H a possibilidade do tratar e trabalhar o lazer de modo que ele permita o

    desenvolvimento da formao pessoal e social dos indivduos. Desta forma, pretende-se

    suscitar debates tericos no sentido de iniciar uma reflexo acerca das possibilidades da

    Educao Fsica compreender o lazer de modo que ele permita o entretenimento e a

    formao, tanto pessoal quanto social dos indivduos.

  • Vinicius F. G. da Silva; Renato farjalla

    Licere, Belo Horizonte, v.10, n.3, dez./2007

    A Perspectiva Filosfica do Conceito de Lazer

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    O embate terico sobre o lazer no se concretiza atravs de publicaes, no

    permitindo anlises criteriosas sobre a produo dos autores da rea (WERNECK, MELO,

    2006). Diante disto, percebe-se que existe uma escassez de estudos que abordem o lazer

    atravs de um enfoque filosfico.

    A populao foi constituda pelos profissionais de Educao Fsica. A amostra foi

    constituda por 20 profissionais de Educao Fsica que trabalham nas cidades de

    Terespolis e Petrpolis, Estado do Rio de Janeiro.

    Instrumento de Coleta de Dados

    Os dados foram coletados atravs de entrevistas com autores que estudam o lazer e

    questionrios semi-estruturados para profissionais de Educao Fsica.

    Os questionrios foram respondidos pelos sujeitos da pesquisa mediante a

    assinatura de Termo de consentimento livre e esclarecido, em duas vias, ficando uma em

    poder de cada participante, de acordo com a resoluo 196/96 do Conselho Nacional de

    Sade. Os dois autores entrevistados afirmaram que a sua adeso, bem como o

    consentimento para a utilizao de seus pareceres, se deu com a resposta entrevista que

    lhes foi enviada atravs de e-mail, apesar do Termo de consentimento livre e esclarecido ter

    sido enviado juntamente com a entrevista, no mesmo e-mail.

    Os dados foram coletados, no caso dos questionrios, junto a 20 profissionais de

    Educao Fsica nas cidades de Terespolis e Petrpolis, Estado do Rio de Janeiro.

    As entrevistas foram feitas aos autores Victor A. Melo e Luiz Octvio de Lima

    Camargo, sendo que o contato foi feito via e-mail.

    Utilizou-se a construo de categorias para a anlise dos dados coletas atravs dos

    questionrios aplicados aos profissionais de Educao Fsica. Tal construo foi feita com o

    agrupamento de respostas que apontavam para um mesmo sentido, sendo que aquelas

  • Vinicius F. G. da Silva; Renato farjalla

    Licere, Belo Horizonte, v.10, n.3, dez./2007

    A Perspectiva Filosfica do Conceito de Lazer

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    denominadas outros englobam apontamentos variados, que no se enquadraram nas

    categorias criadas e nem apresentaram nmero significativo para a criao de uma nova

    categoria.

    Somente as respostas afirmativas foram consideradas para a categorizao, j que as

    respostas negativas no careciam de justificativas ou comentrios por parte dos

    participantes da pesquisa. Alm disso, o percentual que se encontra ao lado dos nmeros

    que indicam a quantidade de respostas para cada categoria est calculado em relao

    quantidade de respostas sim, com o intuito de alcanar uma anlise mais especfica no

    que tange a relao entre o total de respostas afirmativas e o seu percentual em cada

    categoria. Os percentuais contidos nas clulas superiores do canto direito das tabelas esto

    calculados em relao ao nmero total de participantes da pesquisa.

    As informaes dadas pelos autores no sero includas na anlise dos dados diante

    do fato de terem sido obtidas atravs de entrevista aberta, tendo assim um aspecto mais

    amplo e profundo no tocante sua especificidade. Com isso, elas sero abordadas nas

    consideraes finais do presente trabalho e as entrevistas anexadas ao seu final.

    Na questo 1 - O Sr. (a) conhece a origem etimolgica do termo lazer? - 30% dos 20

    profissionais de Educao Fsica responderam que sim, sendo que destes, 50% se

    enquadraram na categoria A e os 50% restantes na categoria B.

    CATEGORIASNMERO DE RESPOSTAS 6

    (30%)A Licere; permisso; surgiu com a revoluo industrial. 3 (50%)B Outros 3 (50%)

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    Na questo 2 - O Senhor (a) conhece o conceito de lazer? -, 75% responderam que

    sim. Destas, foram enquadradas na categoria A 64,7% das respostas, na categoria B 29,4%

    e na categoria C 5,88%.

    CATEGORIASNMERO DE

    RESPOSTAS 17 (75%)

    A

    Atividades: prazerosas; autnomas; sem impedimentos de ordem temporal; que proporcionem descanso; entretenimento; relacionadas qualidade de vida e a harmonia.

    11 (64,7%)

    BOcupao do tempo livre (sem obrigaes profissionais, familiares ou sociais) com prazer.Atividades fora da rotina do trabalho

    5 (29,4%)

    C Outros 1 (5,88%)

    Na questo 3 - O Sr.(a) acredita que o lazer oferece possibilidades de

    desenvolvimento cultural, educacional, social e pessoal? 100% responderam que sim.

    Destas, 75% das respostas foram enquadradas na categoria A, 20% na categoria B e 5% na

    categoria C.

    CATEGORIASNMERO DE RESPOSTAS

    20 (100%)

    AAtravs de atividades culturais, com divertimento e prazer, ou que proporcionem harmonia e equilbrio entre as dimenses do homem.

    15 (75%)

    BAtravs de projetos sociais, polticas pblicas e atividades dirigidas.

    4 (20%)

    C Reestruturao frente ao estresse profissional e cotidiano 1 (5%)

    Na questo 4 - Acredita que o contexto scio-econmico pode influenciar a forma

    do lazer e a sua procura? 95% responderam que sim, sendo que destes, 84,16%

    enquadraram-se na categoria A e15,78% na categoria B.

    CATEGORIASNMERO DE

    RESPOSTAS 19

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    A Perspectiva Filosfica do Conceito de Lazer

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    (95%)

    A

    Poder aquisitivo proporcionando diferentes acessos (influncia do sistema).Idem e diferenas de acesso por questes culturais.Maior poder aquisitivo proporcionando maior diversidade de lazeres.

    16 (84,16%)

    BAtravs dos recursos financeiros investidos no lazer e projetos sociais que ofeream lazer.

    3 (15,78%)

    Na questo 5 - Acredita que o lazer pode influenciar o contexto scio-econmico? -,

    90% responderam que sim. Destas, foram enquadradas na categoria A 61,05% das

    respostas, na categoria B 27,75% e na categoria C 11,1%.

    CATEGORIASNMERO DE

    RESPOSTAS 18 (90%)

    A Atravs do enriquecimento cultural 11 (61,05%)

    B

    Lazer se tornando ou gerando um trabalho remunerado;Com aumento nas relaes sociais;Lazer livrando indivduo do estresse, aumentando o rendimento no trabalho.Atravs da preparao de futuros atletas.

    5 (27,75%)

    C Outros 2 (11,1%)

    Na questo 6 - O Senhor (a) estrutura suas atividades de lazer em objetivos pr-

    determinados? 75% responderam que sim. Destes, 73,26% das respostas foram

    enquadradas na categoria A, 13,32% na categoria B e 13,32% na categoria C.

    CATEGORIASNMERO DE

    RESPOSTAS 15 (75%)

    A

    Objetivos traados de acordo com o grupo a ser trabalhado;Objetivos que favoream o enriquecimento cultural;Objetivos relacionados ao prazer, ao bem-estar, qualidade de vida e ao desenvolvimento pessoal.

    11 (73,26%)

    BMelhoria do rendimento;Objetivos com alcance facilitado pelo prazer.

    2 (13,32%)

    C Outros 2 (13,32%)

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    A Perspectiva Filosfica do Conceito de Lazer

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    Na questo 7 - O Senhor (a) conhece os contextos scio-econmicos envolvidos na

    evoluo do termo lazer? 40% responderam que sim. Destes, 25% das respostas foram

    enquadradas na categoria A e 75% na categoria B.

    CATEGORIASNMERO DE RESPOSTAS 8

    (40%)

    ACitaram a revoluo industrial; o aumento do tempo livre; lazer para permitir maior consumo; migrao para as reas urbanas.

    2 (25%)

    B Outros 6 (75%)

    Na questo 8 - Todas as pessoas deveriam se envolver em atividades de lazer?

    100% responderam que sim. Destes, 55% das respostas foram enquadradas na categoria A,

    35% na categoria B e 10% na categoria C.

    CATEGORIASNMERO DE

    RESPOSTAS 20 (100%)

    A

    Devido ao lazer oferecer influncia positiva na auto-estima e motivao;Aumento da capacidade de produzir;Por ocupar o tempo livre;Influenciar o nvel sociocultural;Diminuir o estresse (atravs do prazer)

    11 (55%)

    B

    Propiciar diverso, permisso para atuar, prazer.Entretenimento, satisfao, desenvolvimento.Propiciar momentos de harmonia e equilbrioPropiciar bem-estar e vida saudvelInfluenciar positivamente aspectos como educao, afetividade e poltica.Por fazer parte da vida do ser humano

    7 (35%)

    C Outros 2 (10%)

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    A Perspectiva Filosfica do Conceito de Lazer

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    Na questo 9 - O Senhor (a) v algum valor filosfico agregado ao lazer? 60%

    responderam que sim. Destes, 83,3% das respostas foram enquadradas na categoria A e

    16,66% na categoria B.

    CATEGORIASNMERO DE

    RESPOSTAS 12 (60%)

    A

    Suscitar pensamentos e reflexes;cio, prazer, tempo livre como correntes filosficas; agir modificando as prxis das sociedades.Melhoria do ser humano diante de possibilidades, como a diverso.Filosofia de vida (com o desprendimento do cotidiano).

    10 (83,3%)

    B Outros 2 (16,66%)

    Na questo 10 - Acredita que o lazer pode influenciar na construo da

    subjetividade do individuo? 100% responderam que sim. Destes, 60% das respostas

    foram enquadradas na categoria A, 20% na categoria B e 20% na categoria C.

    CATEGORIASNMERO DE

    RESPOSTAS 20 (100%)

    A

    Adquirindo novos conhecimentos;Suscitando reflexes em relao ao papel do indivduo na sociedade;Aumento na capacidade de criticar;Influncia na criatividade e na construo do indivduo;Autoconhecimento e prazer como fatores de desenvolvimento.

    12 (60%)

    BMelhorando a auto-estima e a motivao;Elevando a capacidade de produzir;Diminuindo o estresse.

    4 (20%)

    C Outros 4 (20%)

    Consideraes Finais

  • Vinicius F. G. da Silva; Renato farjalla

    Licere, Belo Horizonte, v.10, n.3, dez./2007

    A Perspectiva Filosfica do Conceito de Lazer

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    O referencial terico observado no presente trabalho indica que existe uma

    possibilidade de observao do lazer sob uma perspectiva filosfica, tendo em vista que

    aspectos considerados como inerentes ao lazer, tal qual o descanso, o desenvolvimento e o

    divertimento j terem sido analisados dentro da prpria Filosofia.

    No que diz respeito representao do conceito de lazer pelos profissionais de

    Educao Fsica, 55% dos participantes conceituaram lazer como atividades prazerosas,

    autnomas, sem impedimentos de ordem temporal, que proporcionem descanso,

    entretenimento e que se relacionam qualidade de vida e a harmonia, e 25% definiram que

    lazer est ligado ocupao do tempo livre, sem nenhum tipo de obrigao, e atividades

    fora da rotina de trabalho.

    Do total de participantes 55% disseram que estruturariam as atividades de lazer a

    serem ministradas aos seus alunos com objetivos que favoream o enriquecimento cultural,

    Objetivos relacionados ao prazer, ao bem-estar, qualidade de vida e ao desenvolvimento

    pessoal, e 10% fariam tal estruturao visando melhoria do rendimento ou objetivos que

    fossem alcanados mais facilmente atravs do prazer contido na prtica das atividades.

    Na possvel relao entre lazer e contexto scio-econmico, 15% dos participantes

    apontaram a origem etimolgica do lazer como advinda da palavra latina licere, da idia de

    permisso e como termo proveniente das modificaes econmicas e sociais causadas pela

    Revoluo Industrial.

    Ainda sobre a relao citada do pargrafo anterior, 10% do total de entrevistados

    apontaram como contextos scio-econmicos envolvidos na evoluo do termo lazer a

    revoluo industrial, o aumento do tempo livre, o aparecimento do lazer para permitir

    maior consumo e a migrao para as reas urbanas. Dentre os 20 profissionais

    entrevistados, 80% disseram acreditar que o contexto scio-econmico pode influenciar na

  • Vinicius F. G. da Silva; Renato farjalla

    Licere, Belo Horizonte, v.10, n.3, dez./2007

    A Perspectiva Filosfica do Conceito de Lazer

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    forma de lazer e na sua procura, com acessos diferentes e maior diversidade de lazeres

    proporcionados pelo poder aquisitivo e 55% crem que o lazer tem possibilidade de

    influenciar o referido contexto atravs do enriquecimento cultural que pode proporcionar,

    sendo que 25% disseram que esta influncia pode se dar com o lazer se tornando ou

    gerando um trabalho remunerado, com aumento nas relaes sociais, livrando indivduo do

    estresse ou aumentando o rendimento no trabalho.

    Em relao aos possveis valores filosficos agregados ao lazer, 50% dos

    participantes afirmaram que, em suas opinies eles podem existir, como no fato do lazer

    poder suscitar pensamentos e reflexes, vendo o cio, o prazer e o tempo livre como

    correntes filosficas, agindo nas prxis das sociedades e na melhoria do ser humano diante

    de outras possibilidades, como a diverso, e tambm apontando o lazer como uma filosofia

    de vida, atravs do desprendimento do cotidiano.

    No que tange a possvel influncia do lazer na construo da subjetividade do

    indivduo, 60% das respostas afirmaram que isto pode se dar adquirindo novos

    conhecimentos, promovendo influncia em relao ao papel do indivduo na sociedade e na

    sua criatividade, com o aumento na capacidade de criticar e apontando o autoconhecimento

    e o prazer como fatores de desenvolvimento. Dos 20 participantes, 20% apontaram como

    possvel influncia na construo da subjetividade a melhora da auto-estima e da

    motivao, a elevao da capacidade de produzir e a diminuio do estresse. Do total de

    respostas, 55% afirmaram que todas as pessoas deveriam se envolver em atividades de

    lazer, pois este ofereceria influncia positiva na auto-estima e na motivao, por apresentar

    a possibilidade de aumento da capacidade de produzir, por ocupar o tempo livre e

    influenciar o nvel sociocultural, alm de diminuir o estresse atravs do prazer, e 35%

    firmaram opinio no sentido de que tal influncia se dar devido ao lazer propiciar

  • Vinicius F. G. da Silva; Renato farjalla

    Licere, Belo Horizonte, v.10, n.3, dez./2007

    A Perspectiva Filosfica do Conceito de Lazer

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    diverso, permisso para atuar, prazer, entretenimento, satisfao, desenvolvimento,

    momentos de harmonia e equilbrio, bem-estar e vida saudvel, por influenciar

    positivamente aspectos como educao, afetividade e poltica.

    Dentre os 20 participantes, 75% disseram acreditar que o lazer oferece

    possibilidades de desenvolvimento cultural, educacional, social e pessoal atravs de

    atividades culturais, com divertimento e prazer, ou que proporcionem harmonia e equilbrio

    entre as dimenses do homem. Do total de participantes, 20% afirmaram acreditar nas

    mesmas possibilidades, porm atravs de projetos sociais, polticas pblicas e atividades

    dirigidas e 5% atravs da reestruturao frente ao estresse profissional e cotidiano.

    Na entrevista concedida para a confeco do presente trabalho, o autor Luiz Octvio

    de Lima Camargo ressaltou que o conceito de lazer refere-se a um fato moderno, que se deu

    ao longo da Revoluo Industrial. Anteriormente a isto o que vigorava era a ludicidade

    cotidiana controlada pela famlia e pelo culto, prtica esta que foi reelaborada pela

    modernidade, com a criao do tempo livre e do uso desse tempo pelo indivduo,

    basicamente com o descanso, o desenvolvimento e o divertimento.

    Tambm foi assinalado que as noes de liberdade e de transgresso podem ser

    tidas como valores filosficos agregados ao lazer.

    O autor viu como possibilidades de desenvolvimento poltico, social, cultural e

    educacional a liberdade para dizer no ao consumo, considerado como forma de

    adestramento a que a civilizao sujeita o indivduo contemporneo, a capacidade de

    inventar, transgredindo dentro do que culturalmente pode ser traduzido como uma

    inovao.

    O autor Victor Melo tambm fez referncia, em sua entrevista, aos aspectos do

    surgimento do termo lazer em decorrncia do modelo de produo fabril, quando da

  • Vinicius F. G. da Silva; Renato farjalla

    Licere, Belo Horizonte, v.10, n.3, dez./2007

    A Perspectiva Filosfica do Conceito de Lazer

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    Revoluo Industrial, e do consumo como fator influenciador da sociedade, acrescentando

    que devido nova ordenao do mundo do trabalho, com a diminuio do nmero de

    indstrias tradicionais e o surgimento de novas experincias de trabalhos domsticos

    decorrente de novas estruturas do tempo de trabalho, h a hiptese de que se tenha que

    redefinir o conceito de lazer frente a este conjunto de mudanas.

    No que diz respeito aos possveis valores filosficos agregados ao lazer foi dito que

    este sempre apresenta, sim, valores agregados, mas que o lazer um fenmeno

    historicamente situado, apresentando uma expresso das tenses que se estabelecem num

    ordenamento social, no guardando em si uma potencialidade, pois so suas ocorrncias

    histricas e formas de vivncia que determinam os valores a ele agregados. Diante disto, foi

    afirmado que, em no existindo uma essencialidade do fenmeno, e sim construes

    histricas que o permeiam, ser o olhar do profissional que ir determinar a forma de se

    tratar e abordar o lazer.

    Outro ponto que pode ser observado, de acordo com o exposto pelo autor, que

    ainda h um amplo leque de possibilidades que podem vir a ser exploradas nas intervenes

    feitas no campo do lazer.

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