a percepÇÃo ambiental de alunos do ensino mÉdio -...
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ISSN 2176-1396
A PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO
Flávia Tiburtino de Andrade Sales1- UERN
Mayara Raffaelli Maia Medeiros2 - UERN
Maria do Socorro da Silva Batista3 - UERN
Grupo de Trabalho – Educação e Meio Ambiente
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
No início da história humana a natureza era vista como algo sagrado, e havia uma relação de
dependência e exploração do necessário a sobrevivência, porém, nos últimos séculos esta
visão foi sendo alterada. Hoje a natureza é vista, pela sociedade capitalista, como fonte
inesgotável de recursos a serem explorados ao máximo. Assim, nossa civilização chegou a
uma crise ambiental de proporções enormes, ameaçando a sustentabilidade do nosso planeta e
comprometendo a sobrevivência de todos os seres vivos. O sistema educacional precisa
avançar na construção de um entendimento que contribua para minimizar a crise ambiental,
com a mudança de hábitos e atitudes. Partindo do pressuposto de que para intervir de forma
eficaz em qualquer tipo de comunidade é fundamental identificar a percepção ambiental das
pessoas envolvidas, esta pesquisa teve como objetivo realizar um diagnóstico da percepção
ambiental dos alunos da primeira série do Ensino Médio e sua relação com a preservação do
meio ambiente. A pesquisa realizou-se numa escola pública do município de Severiano
Melo/RN. Para análise da percepção ambiental dos alunos, foram utilizados como
instrumentos de coleta de dados um questionário contendo perguntas subjetivas e uma
atividade lúdica de produção de um desenho que representasse o meio ambiente de acordo
com a percepção individual de cada aluno. Os dados mostram que a maioria dos pesquisados
percebe o meio ambiente como um santuário intocável, sem problemas e sem a interferência
humana. No entanto, estão conscientes da existência de problemas ambientais na sua cidade.
Apesar de não se sentirem responsáveis por causar tais problemas, propõem medidas que
devem ser adotadas para sua conservação. Por percebem apenas o ambiente físico, não
incluindo a dimensão social e cultural das questões ambientais, faz-se necessário oferecer aos
alunos uma visão contextualizada de tais questões para que os mesmos compreendam sua
complexidade e amplitude.
Palavras-chave: Educação Ambiental. Concepção ambiental. Percepção ambiental.
Introdução
Ao longo de sua existência a humanidade foi construindo uma concepção de meio
ambiente como algo separado, distante da concepção cultural e histórica do ser humano,
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assim, formou-se uma concepção de que somos parte da natureza e não um todo com ela.
Neste sentido, Guimarães (2007) afirma que os seres humanos foram apropriando-se da
natureza de forma dominadora e antropocêntrica, foram distanciando-se, desintegrando-se do
todo, até que passou a sentir-se apenas parte da mesma, alcançando assim, o extremo do
individualismo. Tal percepção conduziu a humanidade a agir de forma predatória e
dominadora frente ao meio ambiente, e por agir continuamente em desarmonia sobre a
natureza, nossa civilização chegou a uma crise ambiental de proporções enormes, ameaçando
a sustentabilidade do nosso planeta e comprometendo a sobrevivência de todos os seres vivos.
Mais do que qualquer outra geração, estamos sofrendo as consequências dos muitos anos de
degradação ambiental. Para Morin (2003), todos esses problemas ambientais que estamos
vivenciando são resultantes da forma como os diferentes grupos sociais pensaram e
construíram suas relações com a natureza, originando uma crise de valores e de percepção.
Assim, se a origem dos problemas ambientais está na forma como enxergamos e nos
relacionamos com o meio, é preciso repensar os valores que nos regem. Neste sentido,
Guimarães (2007, p. 14) afirma que, “Uma nova ética nas relações sociais e entre diferentes
sociedades, e estas na relação com a natureza, precisa ser construída para que possamos
conseguir um desenvolvimento realmente sustentável ambientalmente”. Por isso, o modelo
cartesiano de percepção vem sendo, contínua e crescentemente, questionado.
Segundo Martins (2012), diante desde cenário é necessário que o homem e a natureza
coexistam de forma equilibrada. Logo, o processo educativo, especialmente a educação
ambiental (EA), é tido como um dos principais instrumentos de mudança, capaz de solucionar
este quadro de degradação vigente. Pois, Palma (2005) aponta a EA como um dos principais
instrumentos de mudança diante do quadro de crise ambiental vivenciado atualmente. Ainda
afirma que a EA é um mecanismo através do qual os indivíduos adquirem continuamente
conhecimentos que alargam suas percepções e promovem mudanças de atitudes, que irão
evitar mitigar, ou mesmo não mais impactar o meio ambiente.
De acordo com Guimarães (2007), a importância da educação ambiental reside no
papel que esta tem de promover nas pessoas o desenvolvimento da percepção de que o ser
humano e o ambiente formam uma unidade integral, onde há uma relação de interdependência
entre ambos. Essa percepção holística é essencial para que se possa compreender e agir
equilibradamente no meio ambiente.
Inserir este tipo de prática transformadora no processo educativo tem se tornado
objeto de estudo de muitos pesquisadores. Já que segundo Oliveira (2011), as práticas
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pedagógicas dessa ‘ação educativa’ apresentam-se frágeis, por não refletirem em ações
transformadoras da realidade vivenciada. Neste contexto, a pesquisa que resultou neste
trabalho teve como objetivo realizar um diagnóstico da percepção ambiental dos alunos da
primeira série do Ensino Médio.
Compreendemos que se torna de fundamental importância investigar a percepção
ambiental destes alunos já que segundo Palma (2005), o estudo da percepção leva-nos a
compreender as inter-relações entre o ser humano e o meio ambiente, como também,
possibilita identificar as necessidades da população estudada e propor melhorias. Ainda, de
acordo com Berna (2001) e Silva (2009), é a partir da identificação da percepção das pessoas
envolvidas que será possível construir estratégias de sensibilização.
Assim, realizar um diagnóstico dessa realidade possibilitará a construção de conceitos
e teorias que servirão de base para práticas pedagógicas mais eficazes, com o intuito de
solucionar alguma deficiência, que possa ser encontrada durante a pesquisa. De tal modo, toda
a população será beneficiada, já que as ações frente às questões ambientais partirão da
realidade do público estudado.
Referencial Teórico
Educação Ambiental
Desde o surgimento de sua espécie, a humanidade, tem se relacionado com a natureza
de forma dinâmica. No início da história humana a natureza era vista como algo sagrado, e
havia uma relação de dependência e exploração do necessário a sobrevivência, porém, nos
últimos séculos esta visão foi sendo alterada. Hoje a natureza é vista, pela sociedade
capitalista, como fonte inesgotável de recursos a serem explorados ao máximo para alimentar
o padrão consumista e a riqueza de uma minoria em detrimento da qualidade de vida da
maioria pobre (SOUZA, 2013).
O modelo de desenvolvimento capitalista, que rege a economia mundial e prega o
acúmulo permanente e cada vez maior de bens num menor espaço de tempo, tem contribuído
em larga escala para que o meio ambiente seja degradado em ordem planetária ao longo dos
anos (SILVA, 2011).
Na busca por um mundo social e ecologicamente mais justo foram desenvolvidas
muitas estratégias e uma delas é a educação ambiental que segundo Silva (2004), surge com o
objetivo de acordar a consciência da população, de tal forma que a leve a desenvolver novas
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atitudes, comportamentos, aptidões e habilidades que busquem reverter o quadro atual de
crise ambiental. Mesmo reconhecendo que sozinha a educação não pode enfrentar os fatores
mais determinantes da insustentabilidade, Benfica (2008) acredita que o desenvolvimento
sustentável só será possível se for orientado pela educação. Não qualquer educação, mas a que
pauta-se por uma mudança nas relações humanas, sociais e ambientais de forma crítica e
participativa.
No Brasil, a educação ambiental avançou a partir dos anos 80 e se consolidou de
forma significativa nos anos 90 a partir da Conferência da ONU para o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento Sustentável - CNUMAD, em 1992 (LOUREIRO, 2008). Mas, desde a
década de 70 o Ministério da Educação elaborou um documento com as diretrizes da EA no
Brasil. Este documento segue as orientações da Conferência Intergovernamental de Educação
Ambiental de Tbilisi e enquadra a EA em seis características (MARTINS, 2012).
Uma de suas características diz que a educação ambiental deve ser abrangente, e neste
sentido Martins (2012, p.7) acredita que deve: “extrapolar as atividades internas da escola
tradicional; deve ser oferecida continuamente em todas as fases do ensino formal, envolvendo
ainda a família e a coletividade. A eficácia virá na medida em que sua abrangência vai
atingindo a totalidade dos grupos sociais”.
Assim, para que as atividades internas da escola tradicional sejam extrapoladas é
preciso haver uma reforma educacional, capaz de criar uma nova consciência e transformar o
atual modelo de desenvolvimento (BENFICA, 2008).
Nesta perspectiva a EA, dentro do currículo escolar, deve ser tratada de forma
contínua, permanente, dinâmica, interativa e com enfoque inter e transdisciplinar, ou seja,
com uma visão sistêmica (SILVA, 2000). No entanto, de forma generalizada a educação
ambiental formal ainda tem sido tratada de forma mecanicista, pois considera apenas as
dimensões físicas e biológicas do meio ambiente, em vez de considerar de forma holística, as
dimensões física, biológica, social, psicológica e afetiva (SEABRA, 2011).
Por conseguinte, urge a promoção de uma educação ambiental eficiente e crítica, que
conduza a transformação da sociedade proporcionando-lhe uma melhor qualidade de vida.
Onde a educação, no âmbito da pedagogia crítica, tem como preocupação central a prática
social transformadora, a construção de relações sociais plenas de humanidade dirigidas para a
sustentabilidade social e ambiental, tratando de educar para a transformação, não do sujeito
individual, mas das relações sociais de dominação que determinam relações sociais e
ambientais predatórias (TOZONI-REIS, 2007).
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Assim, deve-se abordar a EA em uma perspectiva crítica, visto que esta, segundo
Tozoni-Reis (2007, p.180) “tem caráter essencialmente político, democrático, emancipatório e
transformador”. Sendo essa formação crítica possível quando a educação ambiental se inicia
na escola e posteriormente transpõe os seus muros atingindo os demais segmentos da
sociedade (SILVA E LEITE, 2008).
Metodologia
A pesquisa foi realizada em uma escola da rede pública estadual situada na zona
urbana, da cidade de Severiano Melo – RN. Sendo esta, uma escola polo para o referido
município, recebendo alunos da zona urbana e rural. Administrada pelo estado, esta
instituição possui 200 alunos matriculados no Ensino Médio, que funciona nos turnos
matutino, vespertino e noturno, abrangendo o ensino fundamental II e nível médio.
A turma selecionada para pesquisa foi a 1ª série do Ensino Médio, do turno matutino,
composta por 35 alunos. A escolha desta série para o desenvolvimento da pesquisa se deu em
virtude de acreditarmos que estes alunos trazem uma bagagem de conhecimento adquirido no
ensino fundamental I e II, bem como cultural e social em processo de construção.
A presente pesquisa é de cunho quantitativo/qualitativo. Para seu desenvolvimento
fez-se uso de questionários, contendo sete perguntas subjetivas e três objetivas referentes à
identificação do entrevistado e aos seguintes temas: concepção sobre meio ambiente;
percepção da relação ser humano/meio ambiente; fontes de informações sobre o tema;
atividades e ações ambientais na escola. Também foi solicitado aos participantes que
desenhassem em uma folha de papel oficio algo que definisse o meio ambiente de acordo com
a percepção de cada um. Para a confecção dos desenhos foram disponibilizamos papel oficio e
lápis grafite. Esta estratégia foi utilizada uma vez que, de acordo com Antônio e Guimarães
(2005), é através do desenho que o indivíduo materializa seu inconsciente e, de forma
simples, expressa simbolicamente no papel a percepção do que o envolve no seu cotidiano.
Os dados foram analisados de forma qualitativa e quantitativa. As respostas obtidas
através do questionário foram organizadas em gráficos e tabelas de acordo com a frequência
de respostas. Os desenhos foram organizados em categorias e analisados de acordo com a
classificação proposta por Brasil (2001) e Pedrini, Costa e Ghilardi (2010). Foram escolhidos
os três melhores desenhos em cada categoria para representar os resultados, e os alunos foram
identificados por números.
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Resultados e Discussões
Caracterização do público estudado
A pesquisa foi realizada com um total de 26 alunos matriculados no 1º ano do Ensino
Médio. O sexo feminino representou 46% do universo amostral, enquanto que o sexo
masculino representou 54% dos pesquisados. Estes estudantes são residentes da zona urbana
(58%) e da zona rural (46%) do município. Os alunos pesquisados apresentaram faixa etária
entre 14 e 18 anos de idade, conforme destacado na Figura 1.
Figura 1: Distribuição dos alunos pesquisados por faixa etária.
Fonte: As autoras
Analisando as informações contidas na Figura 1, observa-se que a maioria dos alunos
(62%) pesquisados apresenta alguma distorção de idade para a série em estudo, sendo que, um
percentual de 23% apresentou idade precoce, enquanto 39% apresentou idade avançada.
Apenas 31% enquadraram-se dentro da idade média regular para a série pesquisada.
Análise e discussão dos desenhos
Intencionando avaliar a percepção ambiental dos alunos quanto à caracterização do
meio ambiente, foi solicitado aos participantes que desenhassem em uma folha de papel oficio
algo que definisse o meio ambiente de acordo com a percepção de cada um. Desta forma,
foram elaborados 26 desenhos. A análise deles nos possibilitou agregá-los de forma simples
em três categorias diferentes, de acordo com os elementos presentes relacionados ao tema
‘meio ambiente’, são elas: meio ambiente natural sem a presença do ser humano (69%); meio
ambiente construído sem problemas (15%); e meio ambiente com problemas (15%). Estas
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categorias da percepção do conceito de meio ambiente corroboram com a classificação de
Pedrini, Costa e Ghilardi (2010).
A representação do ambiente natural traz uma paisagem perfeita sem a interferência
humanos, apresentando apenas elementos naturais tais como, seres bióticos (pássaros, peixes,
árvores, flores, relva) e fatores abióticos (nuvens, água, solo, sol), conforme observado na
Figura 2. Talvez esta percepção, seja resultado de um ensino baseado em uma ideologia
conservacionista, comportamental e tecnocrática, onde, as relações ecológicas estão
desvinculadas da realidade social (LOUREIRO, 2008). Portanto, esta visão naturalista onde o
ser humano não interage com o ambiente ameaça a sustentabilidade do nosso planeta, e
consequentemente a vida terrestre, pois não se percebe a inter-relação existente entre os seres
vivos (SILVA et al, 2002).
Figura 2: Representação do meio ambiente contendo apenas elementos naturais sem a presença humana.
Fonte: As autoras
A expressão de um ambiente construído com presença de casas, cercas, ferramentas do
trabalho agrícola, bancos de praças e cestos de lixo, representou 30% dos desenhos, no
entanto, somente 15% dos pesquisados representaram um ambiente construído que não
apresenta problemas ambientais, conforme a Figura 3. Assim, o meio ambiente é percebido
como um recurso a ser administrado e explorado pela humanidade (PEDRINI; COSTA;
GHILARDI, 2010).
Esta percepção esta distorcida, pois, nas leis naturais de interação entre os seres vivos
e os fatores abióticos, sempre haverá troca de energia, interação e transformação entre ambas
as partes (BRASIL, 2001). Tais interações e transformações podem ser positivas para a
natureza e não somente interferências negativas. Mas, geralmente a percepção ambiental do
ser humano é inadequada, e este age de acordo com sua percepção causando diversos
problemas (SILVA, 2009).
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Figura3: Representação do meio ambiente construído sem problemas.
Fonte: As autoras
A Figura 4 mostra a reprodução de um ambiente construído com inserção do ser
humano (15%) e/ou suas ações antrópicas. Os desenhos trazem à memória a problemática do
lixo, embora, estes representem cenas de pessoas jogando o lixo na lixeira, atitude
indispensável para manter o ambiente limpo. Esta percepção é o verdadeiro objetivo da EA,
conduzir o ser humano a conviver de forma equilibrada com o meio ambiente, para um
verdadeiro desenvolvimento sustentável.
Figura 4: Representação do meio ambiente construído com problemas.
Fonte: As autoras
Análise e discussão dos outros dados
Com o intuito de obter informações sobre a percepção da relação ser humano/meio
ambiente foram aplicadas quatro questões, a saber: Existem problemas ambientais em sua
cidade? Quais? Quem causa os problemas ambientais de sua cidade? O que se deve fazer para
que os problemas ambientais de sua cidade sejam resolvidos? Você faz alguma coisa para
cuidar do meio ambiente?
Na tabela 1 é possível observar os principais problemas ambientais citados pelos
alunos pesquisados. O mais citado dos problemas ambientais foi o lixo (42%); muitos fizeram
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referencia a presença de lixo nas ruas, principalmente após períodos festivos, e ao descarte
inadequado dos resíduos sólidos. A poluição somou 23% das citações, alguns alunos
detalharam essa resposta fazendo referência à poluição de açudes, rios, ar e a poluição sonora.
O desmatamento foi o terceiro problema mais citado (15%), o que demonstra certa
preocupação com a conservação do ecossistema caatinga. A escassez de água na região
também foi citada por 12% dos alunos e tem sido um verdadeiro problema socioambiental.
Tabela 1: Problemas ambientais locais citados pelos alunos.
Citações % por citação
Lixo 42%
Poluição 23%
Desmatamento 15%
Escassez de água 12%
Falta de esgotamento
sanitário 12%
Queimadas 4%
Falta de reciclagem 8%
Fonte: As autoras
Quando questionados sobre quem eram os causadores dos problemas ambientais locais
42% responderam ‘as pessoas’, 15% ‘a população’ e 12% ‘o ser humano’ (Tabela 2). Tais
respostas (69%) mostram que os educandos não se incluem como causadores dos problemas
ambientais de sua cidade, assim, não há uma compreensão que na inter-relação com o meio
nós transformamos e somos transformados. Apenas 19% dos alunos se incluíram como
agentes degradantes do meio. Essa falta de responsabilidade é proveniente em primeiro lugar
da desinformação, seguido da falta de consciência ambiental e da falta de ações práticas, que
induza a participação e o envolvimento do indivíduo (JACOBI, 2003).
Isso nos faz refletir sobre a importância de adotarmos um modelo educacional que
eduque para a cidadania. Um modelo que contribua para formar cidadãos que sejam capazes
de reivindicar seus direitos por uma vida com qualidade. Cidadãos que não se conformem
apenas em ter os direitos civis, políticos e sociais garantidos pelo Estado, mas que sejam
pessoas ativas, que lutem para que os seus direitos não sejam desrespeitados (BREDARIOL;
VIEIRA, 1998). Cidadãos que lutem para que o meio ambiente permaneça ou se torne limpo e
equilibrado, e assim, exerça verdadeiramente a cidadania.
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Tabela 2: Responsáveis pelos problemas ambientais locais.
Citações % do total citações
As pessoas 42%
Nós mesmos 19%
A população 15%
O ser humano 12%
Ninguém 4%
Os próprios habitantes 4%
Todos os cidadãos 4%
Fonte: As autoras
A Tabela 3 traz as atitudes que devem ser tomadas, na concepção dos pesquisados,
para resolver os problemas locais do meio ambiente. Não jogar lixo no chão, mas somente em
locais específicos como a lixeira, foi apontada por 31% dos participantes, uma atitude simples
e de responsabilidade individual, que contribui para manter os ambientes limpos e demonstra
ação consciente.
A conscientização das pessoas foi citada por 15% dos participantes como uma
alternativa para solução dos problemas ambientais. Para Charlot (2013) a conscientização é a
base para uma transformação tanto no âmbito social quanto no pessoal. De acordo com
Libâneo (2013) esta conscientização se desenvolve a partir da interiorização de informações e
saberes adquiridos através da educação e do ensino. Ainda alerta que, a disseminação destes
saberes precisa ir além da mera transmissão de conhecimentos, sendo necessário interferir na
capacidade de ser e agir das pessoas, formando-lhes uma nova personalidade. Corroborando
com esta ideia Guimarães (1995) esclarece que, conscientizar é estimular no educando uma
aprendizagem crítica e não neutra, é fazer com que este seja capaz de ponderar criticamente
os diferentes valores impostos pela sociedade e construir seu próprio conhecimento baseado
em sua realidade, ampliando-o, de modo que, proporcione a formação de novos valores e
comportamentos.
Tabela 3: Atitudes a serem tomadas para resolver os problemas ambientais.
Citações % do total de citações
Jogar o lixo nos lugares adequados 31%
Não poluir 19%
Conscientizar as pessoas 15%
Não desmatar 15%
Realizar a coleta seletiva 8%
Economizar água 4%
Fazer limpeza dos locais contaminados 4%
Não respondeu 4%
Fonte: As autoras
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A tabela 4 apresenta as respostas dos alunos pesquisados concernentes ao
questionamento sobre o que faziam na prática para cuidar do meio ambiente, 42% afirmaram
não jogar lixo no chão. Tal atitude demonstra que ficou incutido na consciência do educando
que através de pequenas ações, como descartar os resíduos em lugares adequados, é possível
exercer a responsabilidade de cuidar do meio em que vivemos, para que tenhamos qualidade
de vida. Para Guimarães (1995), os atos individuais são tão importantes quantos as ações
coletivas, pois estes repercutem no todo já que o ser humano e a natureza estão integrados em
uma única unidade. Inclusive somos os únicos seres vivos capazes de transformar o meio
ambiente para satisfazer aos nossos próprios desígnios (SOUZA, 2013). O problema é que as
transformações negativas têm prevalecido com mais frequência e intensidade diante das
positivas.
As demais respostas relatam atitudes que principalmente a mídia explora como, não
desmatar, não poluir e reciclar o lixo. Vale ressaltar que apenas 8% se referiram a economizar
água, uma ação que é atingível e necessária dentro da realidade deles.
Tabela 4: Atitudes dos alunos em relação ao cuidado com o meio ambiente.
Citações % por citação
Não jogar lixo no chão 42%
Não desmatar 23%
Não poluir 12%
Não faz nada 12%
Economizar água e energia 8%
Respostas incoerentes 8%
Reciclar o lixo 4%
Fonte: As autoras
Na Figura 5 é nítida a forte influência causada pela mídia aos adolescentes
pesquisados. A grande maioria (69%) respondeu que se informa sobre o tema ‘meio
ambiente’ através da televisão e 23% por meio da internet. O problema é que a mídia, muitas
das vezes, aborda as questões ambientais de forma superficial ou equivocada (BRASIL,
2001). Dados semelhantes foram encontrados no trabalho de Brandalise et al. (2009), onde a
mídia também foi apontada como a principal fonte de informação sobre as questões
ambientais. Infelizmente a escola não está sendo percebida como fonte de informação, pois
apenas 4% dos alunos a citaram.
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Figura 5: Meios de comunicação utilizados como fonte de informação sobre o tema meio ambiente.
Fonte: As autoras
Para identificar alguma ação da escola em relação à temática ambiental, os alunos
foram questionados se sua escola trabalha ou já trabalhou com o tema ‘meio ambiente’. Em
resposta, 58% dos pesquisados afirmaram que a escola não tem trabalhado este tema. Alguns
justificaram sua resposta alegando ser o primeiro ano deles na escola, assim, não sabem
responder quanto aos anos anteriores, mas durante este ano não foi realizada nenhuma ação no
nível de escola, apenas alguns professores abordaram o tema de forma expositiva em suas
disciplinas (Figura 6). Este quadro não caracteriza apenas esta realidade, segundo Guimarães
(1995) o ensino da EA nas escolas brasileiras tem priorizado a transmissão de informações
teóricas e secundarizado a ação prática.
Os demais (42%), afirmaram que a escola trabalha a temática, no entanto, alguns não
souberam expressar de forma clara que tipo de ação foi ou está sendo realizada. Suas
respostas foram vagas, do tipo: “algumas coisas”; “alguns projetos”. As principais citações
dos que responderam positivamente encontra-se na Figura 6.
Figura 6: Ações realizadas pela escola em relação ao tema Meio Ambiente na percepção dos alunos.
Fonte: As autoras
Diante da Figura 7 fica evidente que o tema meio ambiente não é trabalhado de forma
continua e interdisciplinar como propõe os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN
(BRASIL, 2001) e a Política Nacional de Educação Ambiental, Lei 9.795/99 (BRASIL,
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1999). 31% dos alunos apontam a disciplina geografia como a que trabalha ou já trabalhou o
tema meio ambiente. Esse dado revela o distanciamento entre a proposição política e a
vivência cotidiana dos alunos no que se refere ao estuda da educação ambiental. Mesmo
nesta lógica nos chama a atenção o fato de que apenas 4% dos entrevistados tenham citado a
biologia, uma vez que tradicionalmente esta disciplina é vista como espaço de abordagem da
educação ambiental numa visão disciplinar.
Figura 7: Disciplinas que abordam o tema meio ambiente na percepção dos alunos.
Fonte: As autoras
Considerações Finais
A maioria dos alunos entrevistados percebe o meio ambiente como um santuário
intocável, sem problemas e sem a interferência humana. No entanto, estão conscientes da
existência de problemas ambientais locais e até propõem medidas necessárias à sua resolução,
apesar de não se responsabilizarem por causar tais problemas.
Ao apontarem os problemas ambientais locais percebem apenas os relacionados ao
lixo, desmatamento e poluição. Não estão conscientes dos problemas sociais que influenciam
diretamente na qualidade de vida. Também é visível que não identificam qualquer relação
entre a degradação ambiental e o modelo de desenvolvimento atual, pautado pelos interesses
do capital, o que nos faz inferir que essa ausência resulta da concepção de educação ambiental
disseminada em sala de aula pelos professores.
É preocupante observar que dentre os desenhos confeccionados nenhum trouxe uma
representação do bioma Caatinga, espaço geográfico onde os alunos estão inseridos. São
sempre desenhos de árvores frondosas, muitas flores e frutos e rios com abundancia de água e
peixes. Tal percepção revela a ausência de um sentimento de pertencimento ao contexto
específico permeado de características que definem a vida de uma determinada comunidade.
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Por perceberem apenas o ambiente físico, não incluindo a dimensão social, econômica
e cultural das questões ambientais, faz-se necessário oferecer aos alunos uma visão
contextualizada de tais questões para que os mesmos, compreendendo sua complexidade e
amplitude, possam repensar suas atitudes. Inserir este tipo de prática transformadora no
processo educativo tem se tornado objeto estudos e práticas pedagógicas em educação
ambiental, apesar de Oliveira (2011) afirmar que as práticas pedagógicas dessa ‘ação
educativa’ apresentam-se frágeis, por não refletirem em ações transformadoras da realidade
vivenciada. Fato que também foi evidenciado neste estudo.
Por fim, compreendemos que práticas e projetos de educação ambiental podem ser
realizados para levar o indivíduo a perceber e entender a importância de se conhecer o meio
em que vive para que possa cuidar cada vez melhor dele, e agir de forma diferenciada. A
apreensão de uma percepção contextualizada do ambiente emerge como uma condição
fundamental para a formação de conceitos éticos que valorizem o respeito ao meio ambiente
como condição para a sustentabilidade humana.
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