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CALVO, Lucas Moreira.
Histórias conectadas no ensino de História: tecendo conexões entre o Norte da África e a Península Ibérica no período da expansão islâmica (VII-IX) / Lucas Moreira Calvo, 2016.
Material didático (Mestrado Profissional em Ensino de História) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em Ensino de História, Rio de Janeiro, 2016.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Mônica Lima e Souza.
Apresentação
Este material didático apresenta uma oficina sobre a convivência de
muçulmanos e cristãos no mundo islâmico entre os séculos VII e IX. Seu
objetivo é oferecer outra perspectiva sobre a expansão islâmica e promover
a participação dos estudantes na construção do conhecimento histórico.
É importante salientar que seu diferencial reside na abordagem do
conteúdo didático, pensado a partir das histórias conectadas. Com o auxílio
de extratos de documentos históricos, atividades, mapas e outros recursos,
buscamos explorar o tema inter-relacionando histórias do Oriente Médio, do
Norte da África e da Península Ibérica.
Acreditamos que o estudo da História a partir de uma perspectiva
crítica ao eurocentrismo seja fundamental para a construção da cidadania.
Estamos convencidos de que este material pode ajudar alunos e professores
a exercer a alteridade em suas relações interpessoais.
O autor
Sumário
1. MATERIAL PARA O PROFESSOR ................................................................... 3
1.1 Descrição da oficina .......................................................................................... 3
1.2 Objetivos ............................................................................................................ 3
1.3 Conteúdos ........................................................................................................... 4
1.4 Estratégias .......................................................................................................... 4
1.5 Texto de problematização geral ....................................................................... 7
1.6 Texto de apoio .................................................................................................... 8
1.7 Material complementar .................................................................................. 11
1.8 Trabalho com esquete ..................................................................................... 18
2. MATERIAL PARA O ALUNO ........................................................................... 19
2.1 Trabalho com o documento A ........................................................................ 19
2.2 Trabalho com o documento B ........................................................................ 24
2.3 Trabalho com o documento C ........................................................................ 29
2.4 Trabalho com os documentos D1 e D2 .......................................................... 35
SÍTIOS CONSULTADOS ........................................................................................... 43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 44
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1. MATERIAL PARA O PROFESSOR
1.1 Descrição da oficina
A proposta do material didático gira em torno da utilização das histórias
conectadas em sala de aula, como forma de estabelecer relações entre conteúdos
históricos que geralmente são apresentados de maneira compartimentada para nossos
alunos. A ideia é que a professora ou professor possa estabelecer conexões entre a História
da África e a História Medieval através de uma oficina de análise de documentos
históricos, no intuito de construir novas percepções sobre a expansão árabe-muçulmana,
o tema de fundo que une todas as fontes.
A oficina consta de uma seleção de fontes escritas em que são apresentados alguns
aspectos da convivência entre árabes muçulmanos, cristãos e berberes no mundo islâmico
entre os séculos VII e IX. Cada documento apresenta um problema específico que deverá
ser resolvido pelo grupo de estudantes encarregado de analisá-lo. Além dos documentos,
a oficina também inclui textos e indicações de mapas que auxiliam na contextualização e
esclarecimento da autoria das fontes apresentadas. Trata-se de uma proposta
experimental, que busca contornar a estrutura tradicional da narrativa histórica escolar
(eurocêntrica, linear e universalista), e construir uma história relacional que possibilite
abordar temas consagrados pelos currículos escolares sob outros ângulos.
1.2 Objetivos
a) Compreender a História como uma narrativa que depende da interpretação dos
historiadores.
b) Identificar as diferenças entre a tolerância no período medieval e na
contemporaneidade.
c) Caracterizar o preconceito étnico e religioso no mundo islâmico e na sociedade atual.
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d) Explicar a intolerância religiosa como um fenômeno condicionado por circunstâncias
históricas e não pela doutrina de religião A ou B.
e) Reconhecer a importância de respeitar povos e culturas diferentes.
1.3 Conteúdos
Do ponto de vista conceitual, esta oficina busca explorar os conflitos e
contradições do regime de tolerância imposto pelos árabes muçulmanos às populações
conquistadas ao longo da expansão islâmica. Os alunos devem identificar as
características dessa política de tolerância e as circunstâncias históricas em que ela se
desenvolveu.
Quanto aos conteúdos relativos aos processos, trata-se de reconhecer que:
a) A fonte por si só não é capaz de produzir História.
b) O trabalho de investigação histórica só é possível se houver a indagação das fontes.
c) A interpretação da fonte exige crítica documental, sendo necessário buscar
informações adicionais sobre o autor e o contexto de produção das fontes.
d) A utilização de material adicional como mapas, cronologias, fontes secundárias etc.
são importantes para cruzar informações e obter uma melhor compreensão da fonte
analisada.
1.4 Estratégias
A oficina está dividida em etapas que podem ou não ser seguidas, cabe ao(a)
professor(a) determinar o que é mais adequado fazer em função de suas preferências e do
grupo de alunos com o qual vai trabalhar. O único alerta a ser feito é que os alunos já
deverão ter tido o primeiro contato com os conteúdos de Idade Média e Expansão
Islâmica, com o objetivo de facilitar o processo de análise dos documentos. Uma outra
possibilidade, que de certa forma subverte a estrutura da oficina aqui proposta, é
introduzir o conteúdo através da problematização das fontes históricas apresentadas.
Como dito anteriormente, a forma de trabalhar os documentos depende das escolhas e
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preferências do(a) professor(a). Portanto, reafirmamos que as etapas da oficina a seguir
constituem apenas uma proposta.
1ª etapa: a turma deverá ser dividida em quatro equipes e cada uma deve receber um
dicionário de Língua Portuguesa.
2ª etapa: esse é o momento da problematização. Com auxílio das informações do texto
de problematização, o problema deverá ser construído junto com a turma. Embora haja
no material um problema “pré-formatado”, é importante dialogar com os alunos para
aproximar o máximo possível a problemática da realidade social deles e,
consequentemente, dos conhecimentos que eles têm sobre a temática. Nesse momento, é
possível utilizar vídeos, imagens, textos, músicas ou qualquer outro material que suscite
o diálogo. Alguns desses materiais estão disponíveis nos sites sugeridos na seção 1.7
Material complementar do presente livro. Ao final dessa etapa, os documentos deverão
ser distribuídos junto as fichas de identificação, análise e comentário. Cada um dos seus
integrantes deverá receber um dos quatro documentos com o seu respectivo
“microproblema” que deverão resolver para que na etapa final a turma possa resolver o
problema construído coletivamente.
3ª etapa: baseado em seus conhecimentos disciplinares sobre o tema, nas informações do
texto de apoio e na leitura de algumas indicações de leitura, caso haja tempo ou interesse,
deverá ser apresentado o contexto de produção dos documentos, tendo atenção para os
dois níveis de contexto: o global e o local. A ideia é que primeiro seja construído o
contexto maior com ajuda dos alunos, que já terão visto a matéria de Idade Média e
Expansão Islâmica, e depois os contextos locais de cada documento. É importante lembrar
que estamos lidando com histórias conectadas, o que exige uma contextualização um
pouco mais complexa. Nesse momento, deverá ser explicado aos alunos a atividade de
análise, os elementos do material que eles têm em mãos (folhas de introdução,
informações sobre o documento, informações adicionais, documento e fichas de
identificação, análise e comentário), e a finalidade de cada material que eles receberam.
4ª etapa: agora é a hora de estimular os alunos a fazer uma primeira leitura dos
documentos e identificar as palavras que não conhecem e procurar seus significados. Em
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seguida, com o auxílio da ficha de identificação, os alunos deverão preencher o que se
pede. Caso haja dúvidas ou dificuldades, o professor deverá intervir.
5ª etapa: nesse momento os alunos deverão realizar uma segunda leitura do texto e com
o auxílio da ficha de análise decompor os elementos do texto. Nesse momento, a folha
com as informações sobre o autor e o contexto deverão ser utilizadas com mais
intensidade, assim como as informações adicionais. Nesta etapa, os alunos deverão tentar
relacionar o máximo de informações possíveis para responder as perguntas da ficha. É
muito importante que nesta fase da oficina o professor estimule, apoie e tire as dúvidas
dos alunos, lembrando que todos devem atingir os objetivos para posteriormente
participar da resolução do problema construído no início da atividade.
6ª etapa: depois de cumprida as etapas anteriores, as equipes deverão elaborar um
comentário por escrito na ficha disponibilizada para isso. Indicamos o seguinte modelo
para o comentário:
Introdução: apresentação dos elementos de identificação da fonte em forma de texto e do
problema vinculado à fonte.
Desenvolvimento: explicação das informações obtidas através da ficha de análise.
Conclusão: possibilidade de resposta ao problema vinculado à fonte.
Esta talvez seja a etapa que os alunos encontrem maior dificuldade em realizar,
muito por conta das dificuldades de leitura e interpretação de textos que acabam refletindo
na capacidade de estruturar ideias por meio da linguagem escrita. Caso se perceba que os
alunos não conseguirão cumprir esta etapa dessa forma, é possível optar por outras formas
de linguagem como o desenho, a história em quadrinhos, cartazes com ideias-chave e a
exposição oral.
7ª etapa: ao final do trabalho de análise, as equipes deverão socializar com o restante da
turma os resultados obtidos, para que depois, a turma inteira possa retornar aquele
problema proposto no início da oficina e levantar as possibilidades de resposta para ele.
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8ª etapa: como atividade final, as equipes deverão preparar esquetes baseadas nos textos
trabalhados. Os alunos poderão utilizar o modelo de esquete disponibilizado nesse
material didático ou, se possível, com o auxílio dos professores de Português e/ou Artes,
desenvolver um estudo sobre esse tipo de linguagem teatral que hoje é muito popular na
internet e em programas televisivos de humor. Na seção 1.8 Proposta de trabalho com
esquetes, é possível encontrar algumas sugestões para ajudar os alunos a montar um
esquete a partir de um breve estudo sobre esse gênero.
1.5 Texto de problematização geral
O islamismo é uma das maiores religiões monoteístas do mundo. Essa religião
nasceu no século VII, na Península Arábica, e teve como seu profeta Muhammad, mais
conhecido no Ocidente como Maomé. Baseado em seus ensinamentos, muitas tribos
árabes se converteram ao islã e começaram a professar a fé em Alá, que em árabe significa
Deus. Atualmente, é relativamente comum assistir na televisão notícias de atentados
terroristas praticados por grupos radicais islâmicos que utilizam os ensinamentos do
Corão, o livro sagrado islâmico, para justificar seus atos de violência. Muitas dessas
pessoas se enxergam na obrigação de praticar contra os infiéis a chamada jihad, entendida
por eles como guerra santa, seja para converter aqueles que não acreditam na mensagem
islâmica ou para alcançar objetivos políticos específicos.
Por outro lado, a maioria da comunidade muçulmana espalhada pelo mundo
condena essas práticas violentas, que segundo eles, contrariam os ensinamentos
corânicos. Nesse sentido, a doutrina islâmica em si não explica o comportamento violento
de alguns extremistas, até porque a conduta intolerante não é uma exclusividade
muçulmana. Embora o islã seja constantemente caracterizado como uma religião
intolerante, alguns cristãos também costumam desrespeitar outras religiões. No Brasil,
por exemplo, não é difícil achar notícias de pessoas sendo agredidas, xingadas,
humilhadas, discriminadas por grupos isolados de cristãos porque não têm a mesma fé
que eles.
Um dos principais alvos desse tipo de intolerância no Brasil são os praticantes das
religiões de matriz africana. Taxados com adjetivos pejorativos, suas crenças são
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demonizadas e tratadas como religiões inferiores. Muitas vezes, o preconceito religioso
vem acompanhado ou é fruto do preconceito étnico-racial, o racismo. Enfim, a
intolerância e o preconceito com aqueles que pensam diferente não é um comportamento
exclusivo dos terroristas que vemos pela televisão, mas um problema que também está
presente em outras religiões. Isso nos leva a perguntar: Será que a intolerância e o
preconceito étnico e religioso são causados pela religião? Será a religião o fator que
determina o comportamento preconceituoso, intolerante e até violento dos religiosos?
Vamos ver o que o estudo da prática da tolerância no mundo árabe-muçulmano entre os
séculos VII e IX tem a nos dizer sobre isso.
1.6 Texto de apoio
Conflitos e contradições no regime de tolerância do mundo árabe-islâmico (VIII-IX)
O Corão é o livro sagrado dos muçulmanos. Nele estariam as palavras de Deus
(Alá) recitadas pelo profeta Maomé ao longo de 23 anos. As revelações recebidas pelo
profeta estão organizadas em versetos (āya, plural: āyāt) e reunidas em 114 capítulos
desiguais (sūra, plural: sūrāt, ou suratas). Entretanto, diferente do que às vezes é veiculado
no Ocidente, o Corão não é a Bíblia muçulmana ou o livro “santo” escrito por Maomé.
Na realidade, para os islâmicos, o livro seria aquilo que Jesus é para os cristãos, isto é, o
Verbo de Deus. Seus ensinamentos buscam orientar a relação dos homens com Deus e
dos membros da comunidade humana (EL FASI, 2010, 43-44). Em última análise, o
Corão é um livro que reúne os ensinamentos revelados ao profeta que devem ser
utilizados por cada muçulmano como um guia para suas vidas.
O texto corânico só foi oficialmente padronizado sob o califado de Otman
(22/644-34/656), cerca de vinte anos depois da morte do profeta. É importante destacar
que o Corão não é uma revelação única, mas foi revelado a Maomé em fragmentos,
respondendo a contextos e problemas vivenciados pela comunidade islâmica. Dessa
forma, assim como qualquer outra escritura, o Corão apresenta diversas contradições e
inconsistências. Esse é o caso do tema jihad (“luta”) no interior do texto corânico, que
além de não ser uma temática central do livro, nem sempre é empregada com o sentido
de guerra. Na verdade, apenas em dez ocasiões se refere especificamente à atividade
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guerreira (ARMSTRONG, 2016, p. 198-199). Na maioria das vezes, portanto, a palavra
e suas derivações aparecem associadas ao esforço muçulmano voltado para uma luta
introspectiva de cada fiel contra seus próprios desvios ou para expandir a paz e a justiça
islâmica sem necessariamente o uso da força.
Antes de ser compilado em texto, os ensinamentos de Maomé eram registrados
por escrito ou memorizados por seus seguidores. Isso levava a diferentes versões da
mensagem, o que provavelmente foi objeto de disputa entre os muçulmanos durante e
após a morte do profeta. Como sugere o pesquisador estadunidense Reuven Firestone, “os
versículo contraditórios, na verdade, expressavam visões de grupos diferentes dentro da
ummmah” (Ibid., p. 200). Esta também parece ser uma suspeita de Hourani (2006, p. 41),
que ao tratar do assunto, afirma que “algumas seitas muçulmanas acusaram outras de
inserirem no texto material que não havia sido transmitido pelo Profeta”. Essa disputa
entre diferentes facções islâmicas e, portanto, entre diferentes versões dos ensinamentos
do profeta é sem dúvida uma explicação possível para as contradições existentes no texto
corânico, principalmente em relação a jihad. Essa interpretação também é sugerida pela
pesquisadora Karen Armastrong:
A existência de desacordos e facções no início da ummah não era surpreendente. Assim como os cristãos, os muçulmanos interpretariam a revelação de modos radicalmente divergentes e, como em qualquer outra fé, o islã se desenvolveu em resposta a circunstâncias em constante mutação. O Alcorão parece saber que alguns muçulmanos não ficariam felizes de ouvir que Deus incentivava o combate: “Está-vos prescrita a luta (pela causa de Deus), embora o repudieis”. Quando a ummah passou a guerrear, há indícios de que um grupo, forte o suficiente para oferecer uma rejeição importante, se recusava consistentemente a tomar parte [...] No final, entretanto, os grupos mais combativos prevaleceram, possivelmente porque no século IX, muito depois da morte do Profeta, os versículos mais agressivos refletiam a realidade, pois nessa época os muçulmanos estabeleceram um império que só seria mantido por meio da força militar (2016, p. 200).
De todo modo, é importante destacar que o Corão é um texto histórico, moldado
pelas relações de força entre as diferentes facções islâmicas que se formaram na ummah
durante a vida de Maomé, e compilado em um contexto de expansão do Islã, que agrega
um ideal militar aos ensinamentos corânicos. Neste cenário, os muçulmanos que lutavam
nas guerras e aqueles que permaneciam em sua terra natal interpretavam a jihad de forma
diversa, tendo em vista que projetavam na religião anseios diferentes. Logo, as
divergências em torno da jihad também se expressariam em outro conjunto de textos que
também são importantes na tradição islâmica: o hadith (plural: ahadith).
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Os ahadith são os relatórios que registram as palavras e histórias do profeta
excluídos do Corão. Embora os cronistas árabes posteriores enalteçam o tempo das
conquistas do Islã, para Karen Amstrong (2016, p. 204), estes foram tempos difíceis,
principalmente para os que estavam na frente de batalha. Longe de casa e de suas famílias,
nem sempre coroados pela vitória ou por grandes butins, deixavam suas inquietações
escapar nesses textos apócrifos sobre a vida de Maomé. Isso acabou fazendo com que
algumas tradições de ahadih incorporassem a visão da guerra como o meio escolhido por
Deus para espalhar a fé muçulmana. Muitos desses textos, além de justificarem o uso da
força contra os infiéis, também descreviam as recompensas que Deus reservava para
aqueles que morressem precocemente na guerra. De certa forma, estes escritos vinham
atender aos anseios dos soldados que lutavam sob a bandeira do islã.
Assim, a guerra fez emergir no seio da ummah um ideal militar que representava
os guerreiros que morriam precocemente nos campos de batalha como mártires da fé
islâmica. Em contraposição a este ideal, existiam muçulmanos que defendiam toda morte
precoce como forma de martírio, fosse por “afogamento, doença, fogo ou acidente
também ‘davam testemunho’ da finitude humana e mostravam que só havia segurança no
Deus ilimitável, e não nas instituições humanas em que as pessoas confiavam”
(AMSTRONG, 2016, p. 206). Contudo, conforme o império muçulmano era consolidado
e uma máquina político-administrativa era estruturada após a crise sucessória de Ali,
novos dilemas surgiram na ummah com relação ao uso da violência.
Após os sábios estudiosos (ulemás) formularem sistemas de leis padronizados que
viriam a se dividir em quadro escolas jurídicas (maddhab), a interpretação da jihad
enquanto atividade guerreira se tornou um pouco mais precisa. Todas as escolas jurídicas
concordavam, com exceção do hanbalismo, que a jihad era uma obrigação desde que os
infiéis desencadeassem as agressões e houvesse chances razoáveis de sucesso. Em caso
de ataque, mesmo escravos e crianças deveriam defender a comunidade, quem não o
fizesse seria um pecador e um hipócrita (EL FASI, 2010, p. 57). Contudo, a jihad
enquanto “esforço para dar o melhor de suas capacidades”, permanece como a grande luta
de todo muçulmano pelo reino da paz e justiça.
Ao longo da expansão árabe-muçulmana, os muçulmanos mantiveram uma
relação de relativa tolerância com os não muçulmanos que dominavam. Eles os dividiam
em dois grupos: os que eram pessoas do Livro e os que não eram. Os não muçulmanos
que praticavam o cristianismo, o judaísmo e o zoroastrismo não seriam obrigados a se
converter ao islã. Porém, gozavam de um status social inferior ao dos muçulmanos, sendo
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obrigados a pagar a djizya, um imposto que lhes garantia a condição de protegido
(dhimmi). Caso quitasse a taxa, não precisaria se converter ao islã, no entanto, eram
obrigados a viver em uma situação de desigualdade reconhecida e permanente perante os
muçulmanos (MANTRAN, 1977, p. 212). Por outro lado, essas restrições não impediram
cristãos e muçulmanos de ocuparem cargos importantes na administração árabe.
Já os povos considerados pagãos tinham que escolher entre a morte e o combate.
Caso fossem derrotados, eles eram condenados à escravidão. Diferente dos dhimmis, os
pagãos não tinham parte da revelação, a mensagem de Deus não havia chegado a nenhum
deles para guia-los. Diante desse caso, como Maomé fora enviado particularmente para
pregar o islã aos que ainda não conheciam a revelação, seus sucessores tinham o dever de
converter os infiéis e combater a religião tradicional (EL FASI, 2010, p. 57).
Dessa forma, o universo cultural nascido do processo de expansão islâmica, que
territorialmente se estendeu da Ásia à Península Ibérica, era um verdadeiro mosaico de
etnias e religiões. Marcado por conflitos de origem econômica, social, cultural e religiosa,
o mundo islâmico também foi espaço de relativa tolerância. Trata-se, sem dúvida alguma,
de uma realidade histórica marcada pela contradição. E é justamente esse aspecto que os
documentos selecionados tentam explorar: a contradição entre a tolerância e a
intolerância nas relações étnico-religiosas no mundo islâmico.
1.7 Material complementar
Nesta seção, disponibilizamos um conjunto de mapas e sites associados ao tema
da tolerância no mundo islâmico entre os séculos VI e IX e na contemporaneidade, que
podem ser utilizados pelo professor não apenas na oficina proposta, mas também em suas
aulas sobre a expansão árabe-islâmica e outros recortes espaço-temporais. Ao final,
também trazemos uma lista do califado ortodoxo, do califado omíada e do emirado de
Córdoba.
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Mapas:
Fonte: RIBEIRO, Vanise Maria. Piatã: história: 7º ano. Curitiba: Positivo, 2015.
Fonte: PONTES, Maria Aparecida. Integralis história 7º ano. São Paulo: IBEP, 2015.
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Fonte: Fonte: RIBEIRO, Vanise Maria. Piatã: história: 7º ano. Curitiba: Positivo, 2015.
Outras opções de mapa:
http://islambr.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=958:a-espanha-muculmana&catid=151:o-legado-islamico&Itemid=111. Site do Centro de Divulgação do Islam para a América Latina com textos e mapas sobre a Espanha muçulmana.
https://www.youtube.com/watch?v=43VNMG-cYT4. Animação infográfica sobre a expansão do Islamismo pelo território asiático e europeu, utilizada no Centro Cultural Banco do Brasil como parte da exposição ISLÃ.
http://explorethemed.com/RiseIslamPt.asp?c=1. Mapa interativo sobre a expansão do Islã, de 632 a 733. Ao passar o mouse sobre os ícones de cidades e batalhas no mapa, é possível acessar em uma pequena janela informações sobre tais lugares e eventos.
Vídeos:
https://www.youtube.com/watch?v=EvT15mqsMJw. Primeira parte da animação O Islã da série Grandes Civilizações produzida em 2009 pela Sol 90 Audiovisual (Barcelona).
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Os episódios, de aproximadamente 11 minutos, foram exibidos no Brasil pelo canal TV Escola.
https://www.youtube.com/watch?v=YtwRj4qV2Sg. Segunda parte da animação O Islã, da série Grandes Civilizações.
https://www.youtube.com/watch?v=ecsHNhTkYiY. Curta-metragem de animação Tolerância, de Ivan Ramadan, que como o próprio nome indica, aborda a questão da intolerância entre as pessoas. Este curta, que foi a primeira animação em 3D da Bósnia e Herzegovina, foi premiado em sete oportunidades.
https://www.youtube.com/watch?v=dIZkLBDYYWI. Vídeo de divulgação da campanha
Filhos do Brasil.
www.youtube.com/watch?v=qDovHZVdyVQ. Palestra da escritora Chimamanda
Adichie sobre os perigos da história única.
https://www.youtube.com/watch?v=LpDgYNORa40. Vídeo sobre a construção de
estereótipos do homem africano pelo discurso cinematográfico de Hollywood.
Charges
https://latuffcartoons.wordpress.com/tag/intolerancia-religiosa/. Site com duas charges
sobre intolerância religiosa do chargista e ativista político Carlos Latuff.
https://bhumanas.files.wordpress.com/2012/04/21.png. Charge que problematiza a
intolerância praticada pelos ocidentais contra os muçulmanos.
http://portalimprensa.com.br/noticias/internacional/70704/um+mes+apos+atentado+no+charlie+
hebdo+cartunistas+arabes+pedem+mais+tolerancia. Charge do cartunista sudanês Khalid Albaih
criticando o crescimento da intolerância contra os muçulmanos no Ocidente após o atentado
terrorista à redação da revista satírica francesa Charlie Hebdo.
Notícias
http://odia.ig.com.br/noticia/rio-de-janeiro/2015-06-16/intolerancia-religiosa-leva-
menina-a-ser-apedrejada-na-cabeca.html. Intolerância religiosa leva menina a ser
apedrejada na cabeça.
http://www.geledes.org.br/pastores-protestantes-destroem-imagens-de-santos-e-geram-
indignacao-em-catolicos/. Pastores protestantes destroem imagens de santos e geram
indignação em católicos.
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http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015/08/rj-registra-mil-casos-de-intolerancia-
religiosa-em-2-anos-e-meio.html. Rio de Janeiro registra mil casos de intolerância
religiosa em 2 anos e meio.
http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2015-08/mulcumanos-estao-
entre-principais-vitimas-de-intolerancia-religiosa. Muçulmanos estão entre as principais
vítimas de intolerância religiosa no Rio.
http://www.brasil.gov.br/intolerancia-religiosa/textos/para-lideres-crimes-de-
intolerancia-religiosa-estao-associados-a-discriminacao-racial. Para líderes religiosos,
crimes de intolerância estão associados à discriminação racial
Entrevistas
http://www.a12.com/editora-santuario/noticias/detalhes/para-antropologo-intolerancia-
reforca-visao-de-que-todo-muculmano-e-terrorista. Entrevista com o pesquisador Paulo
Gabriel Hilu da Rocha Pinto, Ph.D. em Antropologia pela Universidade de Boston (EUA)
sobre como a intolerância alimenta a visão de que todo muçulmano é terrorista.
http://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia/expansao-islamica-muculmanos-
dominaram-peninsula-iberica.htm. Entrevista com o escritor e historiador Mustafa
Yazbek sobre a expansão árabe-islâmica na Idade Média e as heranças deixadas por essa
cultura no Ocidente.
Livros
ARMSTRONG, Karen. Campos de sangue: religião e a história da violência. São
Paulo: Companhia das Letras, 2016
BISSIO, Beatriz. O mundo falava árabe: a civilização árabe-islâmica clássica através
da obra de Ibn Khaldun e Ibn Batuta. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012.
CARDAILLAC, Louis (Org.). Toledo, séculos XII-XIII: muçulmanos, cristãos e
judeus: o saber e a tolerância. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 1992.
EL FASI, Mohammed (Ed.). História geral da África, III: África do século VII ao XI.
Brasília: UNESCO, 2010.
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GIORDANI, Mário Curtis. História da África: anterior aos descobrimentos.
Petrópolis: Vozes, 2013.
HOURANI, Albert. Uma história dos povos árabes. São Paulo: Companhia das Letras,
2006.
JOMIER, Jaques. Islamismo: história e doutrina. Petrópolis: Vozes, 1992.
MANTRAN, Robert. Expansão muçulmana: séculos VII-XI. São Paulo: Pioneira, 1977.
SANCHEZ, Maria Guadalupe. História da Idade Média: textos e testemunhas. São
Paulo, Editora UNESP, 2000.
Lista de califas
Califas ortodoxos (632-661)
• Abu Bakr (632–634)
• Umar ibn al-Khattab (Omar) (634–644)
• Uthman ibn Affan (Otman) (644–656)
• Ali ibn Abi Talibe (Ali) (656–661)
• Hasan ibn Ali (661-661) (somente para os xiitas)
Califas omíadas de Damasco (661-750)
• Moáuia I (661–680) (fundador da dinastia omíada).
• Yazid I (680–683)
• Moáuia II (683–684)
• Marwan I (684–685)
• Abd al-Malik (685–705)
• Al-Walid I (705–715)
• Sulayman (715–717)
• Omar II (717–720)
• Yazid II (720–724)
• Hisham (724–743)
• Al-Walid II (743–744)
17
• Yazid III (744)
• Ibrahim (744)
• Marwan II (744–750)
Emires de Córdoba (756-929)
• Abderramão I (756–788)
• Hixeme I (788–796)
• Aláqueme I (796–822)
• Abderramão II (822–852)
• Maomé I (852–886)
• Almondir (886–888)
• Abdalá I (888–912)
• Abderramão III (912–929) (se declarou "califa")
Califas abássidas de Bagdá até o início do século X
As-Saffah (750–754) (fundador da dinastia abássida).
Almançor (754–775)
Al-Mahdi (775–785)
Al-Hadi (785–786)
Harune Arraxide (786–809)
Alamim (809–813)
Almamune (813–833)
Al-Mu'tasim (833–842)
Al-Wathiq (842–847)
Mutavaquil (847–861)
Al-Muntasir (861–862)
Al-Musta'in (862–866)
Almutaz (866–869)
Al-Muhtadi (869–870)
Almutâmide (870–892)
Almutadide (892–902
18
1.8 Trabalho com esquete
Para concretizar a última etapa da oficina, a encenação, sugerimos o uso do
formato de esquete por ser uma linguagem teatral muito dinâmica e popular, já conhecida
pelos alunos, que possibilita apresentações de curta duração. Além disso, a estrutura dos
roteiros de esquete, seja cômico ou trágico, é bastante simples, o que facilita a apropriação
desse formato por parte dos alunos para construir suas encenações. Sugerimos que esta
etapa da atividade envolva a participação dos professores de Português e/ou Artes. Caso
isso não seja possível, indicamos abaixo alguns sites que podem auxiliar o(a) professor(a)
na organização dessa atividade final:
http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/handle/mec/11121. Site para download do
aplicativo Vamos escrever!. Trata-se de uma ferramenta prática que pode ser utilizada
pelos alunos para escrever o roteiro de sua esquete.
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=18642. Plano de aula
sobre esquetes com algumas ideias interessantes para aproximar os alunos desse gênero
teatral.
http://www.guroo.com.br/wp-content/uploads/2014/02/MATERIAL-
COMPLEMENTAR-Roteiro-Teatral.pdf. Texto introdutório sobre a estrutura do roteiro
de um esquete, que traz como exemplo o roteiro da peça O Sequestrador, encenada pelo
grupo teatral Os Melhores do Mundo.
https://www.youtube.com/watch?v=-R43T7N09bw. Esquete O Sequestrador, do grupo
teatral Os Melhores do Mundo.
19
2. MATERIAL PARA O ALUNO
2.1 Trabalho com o documento A
I. Introdução ao trabalho do historiador
Prezado(a) aluno(a),
Quando o historiador pesquisa algum tema do seu interesse, o ponto de partida
do seu trabalho é a pergunta. Toda pesquisa parte da dúvida, começa por aquilo que
queremos saber. Por isso que é muito importante para o historiador formular bem o
problema, isto é, aquela pergunta que ele busca responder através da pesquisa. No
entanto, pergunta-se o que para quem?
Sabemos que o objeto de estudo dos historiadores é o passado, e para conhece-
lo é necessário ter acesso aquilo que chamamos de fontes históricas, que são os
vestígios deixados pelos homens e mulheres do passado na sua passagem pelo mundo.
Existem fontes escritas, visuais, orais e da cultura material. Para esclarecer aquela sua
pergunta inicial, o historiador questiona as fontes históricas para obter informações que
possam solucionar o seu problema. Ao reunir essas informações, o historiador torna-se
capaz de produzir uma interpretação sobre o tema que ele estuda e uma argumentação
que responda à questão colocada inicialmente.
Nessa oficina, o historiador é você. Com a(s) pergunta(s) formulada(s)
inicialmente, e com a ajuda dos seus colegas, você deverá investigar o problema
apresentado junto com a sua fonte. Para efetivar sua investigação, você dispõe de fichas
que oferecem questionamentos para interrogar a fonte. E lembre-se, para que as fontes
falem, é preciso questioná-las.
Boa pesquisa!
20
II. Informações sobre o documento A
Autoria:
Como a maioria dos livros sagrados, o Corão (a recitação) não foi escrito por
Maomé (Mohamad). Ele, aliás, provavelmente não sabia escrever. Após a morte do
profeta em 632, seu sucessor Abu-Bakr, com medo que a mensagem do profeta se
perdesse com a morte dos amigos que tinham os textos memorizados, pediu à Zaid Ibn-
Thabet, um de seus homens de confiança, que reunisse todos os fragmentos. Zaid fez
isso durante 2 anos, de 632 à 634. No século VII, diante do rumor de que existiam
várias versões do texto corânico, Otman, o terceiro califa, mandou organizar o texto
definitivo do Corão, versão que chegou até nós, dividida em 114 capítulos ou suratas,
os quais são subdivididos em 6236 versículos.
Contexto:
O texto corânico só foi oficialmente padronizado sob o califado de Otman (644-
656), cerca de vinte anos depois da morte do profeta. Até então, o texto era transmitido
oralmente pelos seguidores de Maomé. Aquele era um tempo de guerras contra os
infiéis nas fronteiras do império, mas também de disputa entre os próprios muçulmanos
sobre o significado da jihad (“luta”) nos ensinamentos corânicos. De um lado, alguns
defendiam que a jihad era o dever dos fiéis combater os não muçulmanos pela guerra,
já outros, diziam que a palavra se referia à luta de cada muçulmano contra o egoísmo,
o pecado e a injustiça. Assim, quando saiu o texto final, um grupo acusava o outro de
ter inserido material que não tinha sido transmitido por Maomé. Essa divergência
acabou se refletindo no texto corânico.
21
III. Documento A
A jihad em alguns versículos corânicos
Combatei aqueles que não creem em Alá e no Dia do Juízo Final, nem se abstêm
do que Alá e Seu Mensageiro proibiram, e nem professam a verdadeira religião daqueles
que receberam o Livro, até que paguem de bom grado a Jizya (taxa ou tributo pago pelos
não-muçulmanos dentro do Estado Islâmico) e se sintam submissos.
(Corão, surata 9, versículo 29)
Se eles se inclinam à paz, inclina-te tu também a ela, e confia em Alá, porque Ele
é o Oniouvinte [aquele que tudo ouve], o Sapientíssimo [extremamente sábio].
(Corão, surata 8, versículo 61)
Combatei, pela causa de Alá, aqueles que vos combatem; porém, não pratiqueis
agressão, porque Alá não estima os agressores.
(Corão, surata 2, versículo 190)
Os significados dos versículos do Alcorão Sagrado (trad. Prof. Samir El Hayek). São Paulo: MarsaM
Editora Jornalística, 1994.
Problema
O islã é uma religião que prega a violência?
22
IV. Fichas de identificação e análise
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO DO DOCUMENTO
Fonte:
Natureza:
Autoria:
Datação:
Palavras-chave:
FICHA DE ANÁLISE DO DOCUMENTO
1) Quem reuniu os fragmentos do texto?
2) Em que circunstâncias esses fragmentos foram reunidos?
3) Antes de ser oficialmente compilado em texto, como os fragmentos corânicos eram
transmitidos?
4) Qual era a intenção de Abu-Bakr ao mandar compilar as mensagens do profeta? E
de Otman, ao mandar fixar um texto oficial?
5) Os versículos falam de que assunto?
6) A quem os versículos eram destinado?
7) Identifique os versículos que admitem o comportamento violento em relação aos
infiéis.
8) Identifique os versículos que prescrevem o comportamento pacífico diante dos
infiéis.
9) Nos versículos que admitem o uso da violência contra os infiéis, a violência é
limitada de alguma maneira? Explique.
10) A partir da análise dos versículos, podemos afirmar que os ensinamentos corânicos
sobre o uso da violência são contraditórios? Justifique sua resposta.
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V. Comentário
COMENTÁRIO DO DOCUMENTO
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2.2 Trabalho com o documento B
I. Introdução ao trabalho do historiador
Prezado(a) aluno(a),
Quando o historiador pesquisa algum tema do seu interesse, o ponto de partida
do seu trabalho é a pergunta. Toda pesquisa parte da dúvida, começa por aquilo que
queremos saber. Por isso que é muito importante para o historiador formular bem o
problema, isto é, aquela pergunta que ele busca responder através da pesquisa. No
entanto, pergunta-se o que para quem?
Sabemos que o objeto de estudo dos historiadores é o passado, e para conhece-
lo é necessário ter acesso aquilo que chamamos de fontes históricas, que são os
vestígios deixados pelos homens e mulheres do passado na sua passagem pelo mundo.
Existem fontes escritas, visuais, orais e da cultura material. Para esclarecer aquela sua
pergunta inicial, o historiador questiona as fontes históricas para obter informações que
possam solucionar o seu problema. Ao reunir essas informações, o historiador torna-se
capaz de produzir uma interpretação sobre o tema que ele estuda e uma argumentação
que responda à questão colocada inicialmente.
Nessa oficina, o historiador é você. Com a(s) pergunta(s) formulada(s)
inicialmente, e com a ajuda dos seus colegas, você deverá investigar o problema
apresentado junto com a sua fonte. Para efetivar sua investigação, você dispõe de fichas
que oferecem questionamentos para interrogar a fonte. E lembre-se, para que as fontes
falem, é preciso questioná-las.
Boa pesquisa!
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II. Informações sobre o documento
Autoria:
O documento conhecido como o Pacto de Omar tem a autoria atribuída a
Sofrônio, patriarca de Jerusalém entre 634 e 638. Antes de ser elevado a mais alta
posição do importante episcopado de Jerusalém, Sofrônio foi monge e teólogo com
papel de destaque na controvérsia monotelita.
Contexto:
Em 638, Omar Ibn al-Khattab, o segundo dos quatro primeiros califas que
governaram o império árabe muçulmano, atacou o sudoeste do império bizantino e
sitiou a cidade de Jerusalém. Após as negociações, Sofrônio lhe escreve a carta em
nome da comunidade cristã de seu episcopado, rendendo-se e aceitando as condições
impostas pelos muçulmanos. Essa carta, conhecida como o Pacto de Omar, estabelece
as regras de convivência entre cristãos e muçulmanos. Embora a autenticidade desse
documento seja questionada, não há dúvidas da autenticidade das suas informações,
confirmadas por fontes arqueológicas daquele período.
Controvérsia monotelita: a controvérsia monotelita refere-se ao conflito religioso
gerado pela defesa de Sérgio de Constantinopla, no ano de 619, da vontade única em
Cristo, reforçando sua natureza divina e negligenciando sua natureza humana. Essa
doutrina, chamada de monotelismo, foi vista como uma tentativa de recuperar a heresia
monofisista, que afirmava a natureza única (divina) de Cristo, para a comunhão
católica. Sofrônio resistiu contra essa doutrina, pois a considerava em de acordo com a
definição de fé do concílio de Calcedônia (451), tida pelos católicos como a ortodoxia.
Diante dessa situação, o imperador Constantino IV convoca o terceiro concílio
ecumênico de Constantinopla, o qual condenaria o monotelismo como heresia,
reafirmando o credo calcedônico.
26
III. Documento B
O pacto de Omar
Quando vós [Omar] viestes até nós, pedimos-vos a segurança para nossas vidas,
nossas famílias, nossos bens e pessoas de nossa religião, sob as seguintes condições: pagar
o tributo sem demora e ser humilhados; não impedir nenhum muçulmano de se abrigar
em nossas igrejas durante o dia e a noite, hospedá-lo ali por três dias, dar-lhe comida e
abrir-lhe as portas; tocar apenas de leve o naqus (prancha de madeira que substitui os
sinos) e não cantar em voz alta; não construir igrejas, conventos ou capelas, nem consertar
os que estão em mau estado; não fazer ostentação de idolatria, ou fazer convites para as
sessões, não expor a cruz sobre nossas igrejas, nem em estradas ou mercados
muçulmanos; não estudar o Corão, nem ensiná-lo aos nossos filhos; não impedir que
algum parente nosso se volte para os muçulmanos, se assim o desejar; não se assemelhar
aos muçulmanos na aparência e nas roupas; honrá-los e respeitá-los; levantar-nos quando
estivermos juntos, não fazer nossas casas mais altas do que as deles; não guardar armas
ou espadas, não usá-las na cidade ou em trajeto por território muçulmano; não bater num
muçulmano, não ter escravos que pertenceram a muçulmanos. Nós nos impomos estas
condições assim como a nossos correligionários; aquele que rejeitá-las não será protegido.
Adaptado de: MANTRAN, Robert. A expansão muçulmana: séculos VII-XI. São Paulo, Pioneira, 1977, p.
212-213.
Problema
Por que os cristãos de Jerusalém se submeteram a um regime de convivência que os discriminava?
27
IV. Fichas de Identificação e análise
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO DO DOCUMENTO
Fonte:
Natureza:
Autor:
Datação:
Palavras-chave:
FICHA DE ANÁLISE DO DOCUMENTO
1) Quem escreveu o documento?
2) De onde o autor fala? Que instituição representa?
3) Em que circunstâncias o documento foi escrito?
4) Qual era a intenção do seu autor?
5) Que tipo de documento é este?
6) A quem este texto era destinado?
7) O que o texto estabelece?
8) De acordo com o texto, quem estaria protegido por este pacto e quem não estaria?
9) No interior da sociedade islâmica, os cristãos tinham os mesmos direitos que os
muçulmanos? Justifique sua resposta baseado no texto.
10) Você acha que a sociedade muçulmana pode ser considerada tolerante em relação
a nossa sociedade? Justifique sua resposta.
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V. Comentário
COMENTÁRIO DO DOCUMENTO
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2.3 Trabalho com o documento C
I. Introdução ao trabalho do historiador
Prezado(a) aluno(a),
Quando o historiador pesquisa algum tema do seu interesse, o ponto de partida
do seu trabalho é a pergunta. Toda pesquisa parte da dúvida, começa por aquilo que
queremos saber. Por isso que é muito importante para o historiador formular bem o
problema, isto é, aquela pergunta que ele busca responder através da pesquisa. No
entanto, pergunta-se o que para quem?
Sabemos que o objeto de estudo dos historiadores é o passado, e para conhece-
lo é necessário ter acesso aquilo que chamamos de fontes históricas, que são os
vestígios deixados pelos homens e mulheres do passado na sua passagem pelo mundo.
Existem fontes escritas, visuais, orais e da cultura material. Para esclarecer aquela sua
pergunta inicial, o historiador questiona as fontes históricas para obter informações que
possam solucionar o seu problema. Ao reunir essas informações, o historiador torna-se
capaz de produzir uma interpretação sobre o tema que ele estuda e uma argumentação
que responda à questão colocada inicialmente.
Nessa oficina, o historiador é você. Com a(s) pergunta(s) formulada(s)
inicialmente, e com a ajuda dos seus colegas, você deverá investigar o problema
apresentado junto com a sua fonte. Para efetivar sua investigação, você dispõe de fichas
que oferecem questionamentos para interrogar a fonte. E lembre-se, para que as fontes
falem, é preciso questioná-las.
Boa pesquisa!
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II. Informações sobre o documento C
Autoria:
Abu ibn Jarir al-Tabari foi um importante historiador e estudioso do Corão que
viveu na região onde hoje fica o Irã entre 840 e 923.
Contexto:
Assim como a maioria das crônicas árabes sobre as conquistas islâmicas, este
relato de Abu al-Tabari foi escrito quase um século depois dos fatos relatados.
Interessado em história, al-Tabari viajou para Síria, Palestina e Egito e teve acesso as
mais variadas fontes de informação. É possível que este relato efetivamente reproduza
o comunicado deixado ao califa Hisham al-Malik (724-743) pela delegação berbere
conduzida por Maysara que desencadearia uma grande revolta contra a dinastia
abássida. Este comunicado com as reivindicações berberes foi escrito em um contexto
de grande indignação desses povos Norte africanos com a discriminação dos árabes,
que chegavam a identificá-los como “a lepra da terra”. Embora a maioria deles tivesse
se convertido ao islã, eles continuavam tendo que pagar a djizya, a taxa de capitação
cobrada dos não muçulmanos. Por serem tratados como infiéis pelo Estado islâmico,
mesmo sendo muçulmanos, os berberes, que pertenciam a seita islâmica Kharidjita,
acabaram se revoltando contra as autoridades árabes.
Berbere: a palavra berbere diz respeito aos povos que habitam o Norte da África, que
falam línguas berberes, da família linguística afro-asiática. No entanto, estes povos
designam a si mesmo com termo imazighen, plural de amazigh, que significa “homem
livre” ou “homem nobre”. Desde a década de 1980, estes povos, marginalizados tanto
pela historiografia colonial quanto pela nacionalista, reivindicam o reconhecimento da
identidade amazigh, rechaçando a identidade berbere historicamente construída pelo
colonizador europeu e, em certa medida, reproduzida pela tendência nacionalista, mais
preocupada em afirmar a importância árabe/muçulmana na história do Magreb
(MARTIN, 2009, p. 93-96).
Maysara: líder berbere pertencente a seita islâmica Kharidjita.
31
Califado abássida: foi o terceiro califado islâmico, responsável pela derrubada da
dinastia omíada. Após a conquista do poder, a capital do império é transferida de
Damasco para Bagdá.
Djizya: os povos que pertenciam às religiões do Livro, que, portanto, conheciam a tradição
profética a qual pertencia o islamismo, tinham o privilégio da dhimma, conversão de proteção
que lhes garantia os direitos de reconhecimento de sua personalidade; de habitar em terras
islâmicas; de gozar das liberdades públicas e dos direitos privados. Esses direitos só eram
concedidos através do pagamento de um imposto especial chamado djizya, e da submissão à
autoridade muçulmana (MANTRAN, 1977, p. 212).
Kharidjismo: foi uma vertente islâmica nascida na fitna, guerra civil que se deu entre
os muçulmanos após o assassinato de Uthman (635-656), o terceiro califa rashidun.
Trata-se de uma força revolucionária cuja teologia política determinava “o princípio da
eleição do imame, chefe supremo da comunidade, sem distinção de raça, de país ou de
coloração de pele, devendo o poder ser entregue ao melhor”, mesmo que este fosse um
escravo (TALBI, 2010, p. 296). Além disso, essa doutrina defendia a igualdade
absoluta entre os muçulmanos e considerava a dinastia omíada um poder usurpador e
injusto. Seria, portanto, não só um direito, mas um dever religioso se rebelar contra a
opressão e as injustiças fiscais promovidas pelos omíadas.
32
III. Documento C
As queixas dos berberes em relação ao tratamento recebido dos árabes
Maysara [líder berbere] partiu para o Oriente à frente de uma delegação de
aproximadamente dez pessoas, pretendendo obter uma entrevista com Hisham, o califa
omíada que governava o império muçulmano. Eles solicitaram uma audiência e
encontraram muitas dificuldades. Dirigiram-se então a al-Abrash, o camareiro do califa e
pediram-lhe encarecidamente para levar ao conhecimento do Príncipe dos crédulos
[Hisham] o seguinte: “O nosso emir parte em campanha conosco e as suas tropas árabes.
Ao proceder ao saque, ele nos exclui da partilha e nos diz: ‘Os árabes a ele têm mais
direito’. Nós pensamos: Assim seja! Nosso combate na via de Deus torna-se ainda mais
puro, pois que nada recebemos por ele. Se temos direito, renunciamos a ele
voluntariamente em seu proveito, e se não tivermos nenhum direito, de todo modo nós
não o pretendemos.” Então acrescentaram: “Quando cercamos uma cidade, o nosso emir
também nos disse: ‘Avancem!’ E ele mantém as suas tropas na retaguarda. Nós dizemos
aos nossos: Assim seja, novamente! Avancem, a sua parcela no combate na via de Deus
aumentará e vocês serão daqueles que se sacrificam pelos seus irmãos. Assim nós os
preservamos ao preço das nossas vidas, sacrificando-nos em seu lugar.
Em seguida foi a vez dos nossos rebanhos. Colocamo-nos a sacrificar as nossas
ovelhas prenhas em busca das peles brancas dos fetos, destinadas ao Príncipe dos
crédulos. Matávamos mil ovelhas para obter apenas uma pele. Nós pensamos: Como tudo
isso é simples para o Príncipe dos crédulos! Entretanto, nós suportamos tudo; nós
permitimos que tudo ocorresse.
Em seguida, a nossa humilhação foi levada até o ponto de nos arrancarem todas
as nossas mais belas filhas. Nós levantamos então a observação a indicar que nada
justifica este procedimento no Livro de Deus ou na tradição. E, no entanto, somos
muçulmanos.
Agora, nós desejamos saber: tudo isso seria intenção do Príncipe dos crédulos,
sim ou não?
Adaptado de: EL FASI, Mohammed. História geral da África, III: África do século VII ao XI. Brasília: UNESCO, 2010. p.295-296.
Problema O que possibilitava aos árabes discriminar os berberes?
33
IV. Fichas de Identificação e análise
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO DO DOCUMENTO
Fonte:
Natureza:
Autor:
Datação:
Palavras-chave:
FICHA DE ANÁLISE DO DOCUMENTO
1) Quem escreveu o documento?
2) A que etnia pertencia o autor?
3) Quando o documento foi escrito?
4) Que tipo de documento é este?
5) Este documento relata as informações de um comunicado. Em que contexto este
comunicado foi escrito?
6) A quem o comunicado foi destinado?
7) Quais as queixas dos berberes?
8) Os berberes eram tratados em pé de igualdade com os árabes muçulmanos?
Justifique sua resposta com base no documento.
9) Baseado nas informações do documento, tente deduzir o que os beberes defendiam?
10) Vimos que os árabes tratavam os berberes com preconceito e não os viam como
iguais, apesar deles também serem muçulmanos. Tente estabelecer semelhanças e
diferenças entre o preconceito árabe e o racismo presente em nossa sociedade.
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V. Comentário
COMENTÁRIO DO DOCUMENTO
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2.4 Trabalho com os documentos D1 e D2
I. Introdução ao trabalho do historiador
Prezado(a) aluno(a),
Quando o historiador pesquisa algum tema do seu interesse, o ponto de partida
do seu trabalho é a pergunta. Toda pesquisa parte da dúvida, começa por aquilo que
queremos saber. Por isso que é muito importante para o historiador formular bem o
problema, isto é, aquela pergunta que ele busca responder através da pesquisa. No
entanto, pergunta-se o que para quem?
Sabemos que o objeto de estudo dos historiadores é o passado, e para conhece-
lo é necessário ter acesso aquilo que chamamos de fontes históricas, que são os
vestígios deixados pelos homens e mulheres do passado na sua passagem pelo mundo.
Existem fontes escritas, visuais, orais e da cultura material. Para esclarecer aquela sua
pergunta inicial, o historiador questiona as fontes históricas para obter informações que
possam solucionar o seu problema. Ao reunir essas informações, o historiador torna-se
capaz de produzir uma interpretação sobre o tema que ele estuda e uma argumentação
que responda à questão colocada inicialmente.
Nessa oficina, o historiador é você. Com a(s) pergunta(s) formulada(s)
inicialmente, e com a ajuda dos seus colegas, você deverá investigar o problema
apresentado junto com a sua fonte. Para efetivar sua investigação, você dispõe de fichas
que oferecem questionamentos para interrogar a fonte. E lembre-se, para que as fontes
falem, é preciso questioná-las.
Boa pesquisa!
36
II. Informações sobre o documento
Informações sobre os documentos D1 e D2
Autoria:
O padre Eulógio (800-859), hoje considerado santo pela Igreja Católica, viveu
na cidade de Córdoba, quando o sul da atual Espanha estava sob o domínio muçulmano.
Foi um encorajador do movimento dos mártires de Córdoba, que em meados do século
IX, reagia ao domínio islâmico. Eulógio morreu em 859, quando foi decapitado pelas
autoridades islâmicas por esconder uma mulher muçulmana que havia se convertido ao
cristianismo, o que era proibido naquele contexto.
Contexto:
Os textos Memórias de Eulógio e O islamismo na perspectiva de Eulógio de
Córdoba foram escritos em um clima de acirramento das relações entre cristãos e
muçulmanos em meados do século IX. Durante o califado de Abd ar-Rahman II, foi
iniciado um processo de islamização da população de Al-Andalus, forma como os
árabes chamavam a Península Ibérica. O fluxo de trocas culturais com o Oriente
aumentou consideravelmente e a população ibérica cristã foi perdendo a sua identidade
cultural. Muitos começaram a falar e escrever em árabe, abandonando o latim, quando
não se convertiam ao islã.
Esse fenômeno produziu efeitos opostos, que iriam intensificar os conflitos
entre muçulmanos e cristãos. Por um lado, ele aumentou o orgulho dos muçulmanos
em relação a sua própria cultura, produzindo uma percepção de superioridade cultural
sobre os cristãos. Por outro, deixou alguns cristãos acuados e preocupados com o
destino de sua cultura. Esse processo refletiu no aumento da discriminação praticada
pelos muçulmanos contra a população cristã.
Os cristãos eram constantemente discriminados pela população muçulmana.
Além dos moçárabes cristãos terem de se vestir diferente dos muçulmanos, não podiam
usar armas, andar a cavalo, casar ou ter relações sexuais com muçulmanas. Já os
muçulmanos podiam até se casar com mulheres cristãs, mas caso tivessem um filho,
esse deveria obrigatoriamente seguir a religião do pai. Em suas memórias, Eulógio se
queixa justamente desse contexto em que os cristãos eram humilhados por essas
imposições. Esse cenário levou uma parcela minoritária do clero a assumir uma postura
37
extremista para preservar os seus costumes e tradições contra o avanço da cultura
islâmica. Nascia assim, o movimento dos mártires de Córdoba, incentivado pelos textos
de Eulógio e seu discípulo Álvaro.
Os mártires de Córdoba foram executados em junho de 851 por acusar
publicamente Maomé de falso profeta, inspirado por demônios e destinado ao inferno.
Como a maioria do clero de Córdoba tinha se posicionado contra o movimento dos
mártires, a situação se acalmou. Mas cerca de seis anos depois, Eulógio reascende o
espírito daquele movimento ao escrever sua apologia aos mártires, no qual retoma a
demonização de Maomé e sua religião. Eulógio morreria decapitado cerca de dois anos
depois, acusado de esconder uma muçulmana de origem nobre que havia se convertido
ao cristianismo.
Moçárabes: termo utilizado para designar os cristãos ibéricos que viviam sob o
domínio muçulmano. Embora seus descendentes tenham permanecido cristãos, aos
poucos abandonaram sua cultura tradicional e passaram a adotar a cultura árabe.
Entretanto, isso não impediu que os moçárabes sofressem preconceito por parte dos
muçulmanos.
38
III. Documentos D1 e D2
Memórias de Eulógio
Quando movidos por alguma necessidade [...], nos apresentamos em público [...],
logo que os infiéis veem nosso hábito clerical assobiam e correm para nos agredir [...];
Além da zombaria cotidiana de seus meninos, que, não contentes com seus gritos
provocativos e indecentes, saem atrás de nós atirando-nos pedras.
Não deixam de levantar calúnias contra nós, e em todas as partes temos que sofrer
suas crueldades por sermos cristãos; muitos deles acreditam que serão contaminados só
de tocar nossas roupas e também se sentem sujos se nos aproximamos deles, se os
tocamos ou tivermos o menor contato com suas coisas.
Adaptado de: CABRERA, Emilio. Musulmanes y cristianos em Al-Andalus. Problemas de
convivência. Extraído do site: http://www.um.es/cepoat/antig%C3%BCedadycristianismo/wp-
content/uploads/2014/10/antiguedadycristianismo_28_6.pdf
Acesso em 15 jul. 2016.
O islamismo na perspectiva de Eulógio de Cordoba
Maomé, o fundador da heresia, nasceu no tempo do imperador Heráclito [...]
começou a participar assiduamente das pequenas reuniões dos cristãos, e, como astuto
filho das trevas que era, guardou na memória algumas lembranças extraídas das
assembleias de cristãos, e tornou-se mais instruído que todos os homens de sua terra,
aqueles animais brutos que são os árabes. Inflamado pela chama da sensualidade, não
hesitou em fornicar com sua tutora, segundo o costume dos bárbaros. Depois, o espírito
do erro, aparecendo-lhe na forma de abutre com cabeça de ouro, afirmou que era o anjo
Gabriel e deu-lhe ordem de mostrar-se profeta entre seu povo. Cheio de orgulho, começou
a fazer previsões inauditas àquelas bestas brutas e insinuou, como se nisso houvesse
alguma razão, que eles deveriam abandonar o culto aos ídolos e adorar no céu um deus
Problema
A intolerância e o preconceito são marcas essenciais do cristianismo?
39
de carne. Ordenou àqueles que creem nele que tomassem armas e, assim como ele se
tornara um zeloso fiel, convidou-os a passar os infiéis pelo fio da espada [...]. Previu...que
ressuscitaria no terceiro dia. Depois que entregou a alma aos infernos, curiosos do milagre
que lhes fora prometido, seus compatriotas ordenaram que seu cadáver fosse vigiado por
guardas severos [...]; feito anjos, alguns cães se aproximaram, atraídos pelo fedor, e lhes
devoraram as entranhas [...]. Ele cometeu muitos outros crimes que não são relatados
neste livro. Eis aí tudo o que está dito, para que o leitor tenha uma ideia da grandeza
daquele profeta.
Adaptado de: FLORI, Jean. Formação da ideia de cruzada no Ocidente cristão. Campinas, SP: Editora da
Unicamp, 2013.
40
IV. Fichas de identificação e análise
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO DO DOCUMENTO D1
Memórias de Eulógio
Fonte:
Natureza:
Autor:
Datação:
Palavras-chave:
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO DO DOCUMENTO D2
O islamismo na perspectiva de Eulógio de Cordoba
Fonte:
Natureza:
Autor:
Datação:
Palavras-chave:
41
FICHA DE ANÁLISE DOS DOCUMENTOS
1) Quem escreveu os documentos?
2) De onde o autor fala? Que instituição ele representa?
3) Onde os documentos foram escritos?
4) Os dois documentos são do mesmo tipo?
5) Quando os documentos foram escritos? Qual era o contexto?
6) O que é relatado em Memórias de Eulógio?
7) De acordo com as Memórias de Eulógio, podemos afirmar que os muçulmanos eram
preconceituosos em relação aos cristãos?
8) Como Eulógio caracteriza o islamismo e Maomé em O islamismo na perspectiva de
Eulógio de Córdoba? Extraia trechos que justifiquem sua resposta.
9) Podemos afirmar que Eulógio apresenta uma visão preconceituosa da religião
muçulmana em O islamismo na perspectiva de Eulógio de Córdoba? Justifique sua
resposta.
10) Embora cristãos e judeus tivessem menos direitos que os muçulmanos, a sociedade
ibérica muçulmana era considerada tolerante, pois as três religiões conviviam, mesmo
que houvesse alguns conflitos. Considerando essas informações, seria correto adotar
esse tipo de tolerância como modelo para as relações religiosas na atualidade?
Justifique sua resposta.
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V. Comentário
COMENTÁRIO DO DOCUMENTO
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