tavira islâmica - 2º semestre

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Universidade de Évora Departamento de História Tavira Islâmica Docente: Dr. Panayotis Sarantopoulos Discente: Ana Rita Faleiro, nº 18889, H.V.A. Cadeira: Métodos e Técnicas de Arqueologia II Évora, Junho de 04

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Page 1: Tavira Islâmica -  2º semestre

Universidade de Évora Departamento de História

Tavira Islâmica

Docente: Dr. Panayotis Sarantopoulos Discente: Ana Rita Faleiro, nº 18889, H.V.A.

Cadeira: Métodos e Técnicas de Arqueologia II

Évora, Junho de 04

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Tavira Islâmica

Ana Rita Faleiro – nº 18889 – 2º ano de Arqueologia

Docente: Dr. Panayotis Sarantopoulos Cadeira: Métodos e Técnicas de Arqueologia

1

Introdução

Tavira tem uma ampla tradição islâmica, ainda que a

informação sobre este período não seja muito abundante.

Algumas questões se nos põem. Quando apareceu Tavira? Quais

as evoluções que sofreu? Em termos de legado islâmico, o que de mais

importante há a referir nesta actual cidade do Sotavento algarvio?

Por certo que os seus únicos encantos não são a praia, o sol e

os turistas. Por trás da sua primeira fachada turística, Tavira tem muito

mais a oferecer a quem saiba procurar nos sítios certos.

Assim, fica aqui o desfio de, com a ajuda deste breve trabalho

sobre a época islâmica desta cidade, se partir à aventura e à descoberta

do que em Tavira há para oferecer, para ver.

Fica aqui o desafio de nos deixarmos enfeitiçar pela cidade das

moiras encantadas, pela cidade da magia árabe, da magia islâmica.

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Índice

Introdução ..........................................................................1

Desenvolvimento histórico de Tavira....................................3

Breve cronologia da história de Tavira Islâmica ...................8

As Muralhas Islâmicas ......................................................10

Legados e Descobertas islâmicas .......................................14

Conclusão .........................................................................16

Anexos ..............................................................................17

Bibliografia........................................................................29

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Desenvolvimento histórico de Tavira

O primeiro ponto a apontar sobre Tavira islâmica tem a ver com

o seu nome. Nas fontes medievais1, aparece Ťabira (ou seja, com um “t”

enfático, acentuado), e parece lícito a vários estudiosos desta cidade

afirmar que este topónimo parece derivar de tabara, étimo árabe que

significa “esconder”. Assim Tabira seria aquela que estava escondida.

Não será preciso pensarmos muito no porquê desta característica; de

facto, se tivermos em conta a sua localização geográfica, em que está

entre a serra e o mar, mas sempre protegida por factores naturais, não

nos é difícil perceber porque razão lhe terão os árabes atribuído este

nome.

Passemos agora à sua evolução histórica no período

muçulmano.

Parece Tavira ter surgido apenas durante o domínio islâmico do

Garb al-Andaluz, uma vez que estudos efectuados durante anos

parecem ter a certeza de que Balsa não era Tavira.

Num período pré-almorávida (séc. X), será que já existia Tavira?

Na realidade, ainda que não existisse já uma cidade propriamente dita,

1 Note-se que a primeira referência que há a Tabira deve-se a al-Idrici, na sua obra Nuzhat al-muxtâq fi ikhtirâq al-Âfâq, ou “O contentamento do ambicioso na descoberta dos horizontes”, obra terminada ca. de 1154.

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existia pelo menos uma alcaria – a Gillah2 – e uma torre/castelo isolado.

Será este o futuro castelo de Tavira, a antiga alcaria islâmica mas que

nunca chegou a estar dentro do recinto amuralhado (segundo o Dr.

Manuel Maia).

De 1091 a 1044 – ou seja, em pleno período almorávida – existe

já a alcaria Tabira; é importante notar que nesta altura, esta alcaria era

praticamente insignificante e dependia de Cacela (ou pelo menos do

termo de Cacela).

Em 1044, acontece algo muito importante não só para Tabira

mas também para todo o Garb al-Andaluz: revolta dos Ibn Qassi3

contra o poder Almorávida, revolta esta que facilita a emergência de

chefes locais; é importante referir que apesar de os almôadas terem

entrado no al-Andaluz, não vêm interferir com o poder destes mesmos

chefes locais. Estes Ibn Qassi montaram o seu “quartel general” (passo

a expressão) na antiga alcaria Gillah, agora transformada num ribat.

Durante o período compreendido entre 1144 e 1168, Tabira

floresceu e ganhou importância; houve uma grande imigração (não

podemos desligar este período da história de Tabira do avanço cristão

que se fazia sentir) que levou à necessidade de se criar um novo bairro.

Para além disso, em toda a zona que mediava entre as muralhas e a

zona ribeirinha do porto, começou a desenvolver-se um grande negócio

2 Pensa-se que terá sido esta alcaria que terá dado nome ao rio que banha parte de Tavira, o rio Gilão; por outro lado, este nome poderá derivar de um bispo moçárabe que lá viveu, o bispo Julianus. 3 Ibn Qassi foi um muladie que comandou o movimento sofista no Garb al-Andaluz.

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ligado às actividades piscatórias e aquela zona passou a designar-se por

Terreiro da Vila.

É desta altura que data a ampliação das muralhas de Tabira, já

considerada como um hisn (ou praça fortificada).

Foi durante esta época igualmente que Tabira alcançou a sua

independência graças às revoltas levadas a cabo pelo seu chefe local,

Âmir Ibn Mahîb. No entanto, este homem, anos mais tarde (1151) foi

chamado para prestar homenagem ao soberano almôada. No entanto,

isto significaria que seria necessário renunciar aos seus territórios.

Todavia, os almôadas não conseguem ainda dominar Tabira;

Maîb recusou-se a prestar homenagem e a perder os seus territórios.

Sobe assim ao poder outro chefe local – Âli al-Wuhaibî; este também vai

resistir fortemente ao domínio almôada e comanda uma revolta em

Niebla. No entanto, é obrigado a bater em retirada e refugia-se em

Tabira. Nesta altura, por curioso que pareça vai aliar-se a Ibn Arríque –

ou deveremos dizer Afonso Henriques, senhor de Coimbra?

Pouco tempo mais tarde, durante o domínio de Abû Iaqûb Iûsuf,

com o objectivo de subjugar as revoltas locais no Garb al-Andaluz,

monta cerca a Tabira durante dois. No entanto, mais uma vez, Tabira

resistiu e os almôadas bateram em retirada. Apenas impuseram uma

condição – a de que, todas as sextas feiras, durante a oração, se

proclamasse o nome do califa; isto serviria para mostrar que se

reconhecia a autoridade deste poder.

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Apesar de os almôadas ainda não terem conseguido conquistar

definitivamente Tabira, continuaram a investir contra ele; isto levou a

que o chefe local Âli al-Wuhaibî se tenha retirado.

Apenas em 1169 é que Tabira foi tomada pelos almôadas, e dois

anos mais tarde foi enviado para esta zona um governador almôada.

Durante o período almôada, há uma expansão urbana e o

amuralhamento de um arrabalde na zona ocidental. Para além disso, é

também neste período que se reforçam as estruturas defensivas e

edificam-se novas torres em taipas militares. Assim, é a época que

remonta a torre albarrã do actual Castelo.

Nesta época, passa a ter o estatuto de capital provincial,

chegando mesmo a ultrapassar em termos de importância a cidade

vizinha de Šanta Maria do Algarve (a actual Faro). Torna-se então parte

de uma subdivisão administrativa conhecida nas fontes árabes como

K�RAT UKŠUNUBA.

Passemos agora a outro ponto da história de Tabira, ponto este

que todos os tavirenses conhecem. De facto, ninguém que more nesta

cidade desconhece a lenda de D. Paio Peres Correia e dos 7 cavaleiros

mortos à traição pelos mouros.

D. Paio Peres Correia era um mestre da ordem militar de

Santiago e foi encarregue de participar na Reconquista Cristã, empresa

que foi bastante facilitada pela “anarquia que grassa no al-Andaluz e no

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Maghreb por causa das disputas pelo poder entre os diversos membros

da dinastia berbere”4.

Tabira ficou muito fragilizada aquando da tomada da fortaleza

de Cacela (recordemos que no início, Tabira era apenas uma alcaria

dependente de Cacela, daí se explica esta fragilidade em que cai) e

torna-se “presa” fácil dos ataques cristãos. Foi atacada em 1243 e conta

lenda que mouros e cristãos se tinham entregue a tréguas, tinham

interrompido as suas lutas.

Nesse contexto, sete cavaleiros de D. Paio aventuraram-se ao

exterior. No entanto, sem ninguém saber porquê, quando os cavaleiros

regressavam à sua base, foram mortos pelos mouros pelas costas. Os

contingentes cristãos reagiram e tomaram a cidade, e os sete cavaleiros

são até hoje recordados, existindo uma calçada com esse título –

calçada dos 7 cavaleiros: D. Pedro Paez, Mem do Valle, Damião Vaz,

Estêvão Vasques, Valério de Ossa et Álvaro Garcia. A estes se juntou

Garcia Rodrigues (de Faro) e que com eles foi morto.

4 KHAWLI, A. “Tavira Islâmica – Novos dados sobre a sua História, in Tavira, Território e Poder, pg. 135

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Breve cronologia da História de Tavira Islâmica

711 – início da conquista muçulmana;

834 – Rebelde berbere Mahmud Ibn Abd al-Jabbâr refugia-se no

Algarve;

929 – integração do Algarve no domínio do Califa Abd al-

Rahman III;

1134 – Tropas tavirenses ajudam, em conjunto com as tropas de

Sevilha, Ta�fin, senhor de Córdoba.

1147/8 – ataque almôada contra o Garb após a sua revolta.

Tabira e Silves resistem ao cerco.

1151 – Âmir Ibn Mahîb reconhece em Salé a autoridade do califa

e renuncia, a favor dos almôadas de Tavira. Ibn Qassî é assassinado em

Silves.

1152 – Derrotado e morto o rebelde de Tavira, Omar Ibn Tut

Walqût.

1154 – Alî al-Wahîbî, após sua tentativa abortada de ocupar

Niebla aos almôadas, refugia-se em Tavira. Ibn Wasîr é nomeado pelos

almôadas governador de Silves no lugar de Muhammad Ibn al-Mundir.

1157 – cerco almôada de Tavira.

1158 – Alî al-Wahibi abandona Tavira e vai para Alcácer do Sal.

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1168 – conquista de Tavira pelos almôadas.

1169 – Iahiâ Ibn Sinân é nomeado governador de Tavira.

1182 – Ibn Sinân abandona Tavira para governar a cidade de

Murcia.

1204 – Nasce Abû Otmân Saîd.

1121 – Morte do sábio tavirense Abd al-Aziz Ibn Hilâla no

Oriente islâmico.

1242 – tomada de Tavira por D. Paio Peres Correia e Ordem de

Santiago.

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Muralhas Islâmicas de Tavira

Falou-se já anteriormente que Tavira, no séc. XII, era

considerada um hishn – ou seja, uma praça fortificada. Terá sido o

Castelo, futura alcaria, sido este primeiro hishn? O Dr. Manuel Maia,

do Centro arqueológico de Tavira, assim parece pensar.

Não há muito a dizer sobre o recinto amuralhado de Tavira na

época islâmica, uma vez que as informações ainda são escassas.

No entanto, através do artigo do Dr. Manuel Maia podemos

retirar algumas informações importantes.

Assim, podemos começar por dizer que embora actualmente a

cintura defensiva abarque uma determinada área, no século XII esta

área era muito menor. É igualmente importante referir que o Castelo,

embora tenha sido a antiga alcaria, não esteve nunca, durante o

período islâmico, dentro do recinto amuralhado. Adianta o Dr. Maia que

ele era mais como uma “ponta, uma zona avançada, que controlava a

barra e o curso inferior do Gilão”5.

Há duas fases de amuralhamento da cidade – ou, se quisermos,

duas muralhas, em Tavira.

A primeira muralha tem uma orientação Este-Oeste e não Norte-

Sul como muito tempo se pensou. Esta muralha é anterior ao período 5 MAIA, M., “As muralhas islâmicas de Tavira”, pg. 156

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das Segundas Taifas – deve por conseguinte ser anterior ao séc. XII,

embora nenhuma fonte árabe refira estruturas defensivas em Tavira

antes de 1160. Não é no entanto isto muito provável, devido à ajuda

prestada a Tasfin no ano de 1134.

O percurso provável para estas primeiras muralhas seria o

seguinte: no sentido dos ponteiros do relógio, as muralhas sairiam do

actual Castelo, desceriam, até Santiago, continuariam até ao largo do

Postigo, de seguida passariam entre a rua António Viegas e o actual

Convento da Graça, tocariam a Calçada de Santa Maria, passariam pela

Cerca do Palácio da Galeria e retornariam ao Castelo.

Esta primeira muralha teria 3 portas, em princípio. Uma no

cruzamento da calçada de Don’ana com a calçada de Santa Maria (ver

foto 11), uma no Largo do Postigo e outra na Calçada dos 7 cavaleiros

(ver fotos 6 e 7).

No que diz respeito à Muralha das Segundas taifas, podemos ver

que foi feita em taipa ciclópica e o seu percurso seria bastante idêntico

ao da primeira muralha. No entanto, seria um pouco mais alargado

(uma vez que a própria cidade e a população se iam expandindo). Temos

assim o seguinte percurso: Banco Nacional Ultramarino (BNU), de onde

seguiria até à Porta de D. Manuel, passaria dentro da actual Pensão do

Castelo, de onde subiria até à face leste do Castelo. Daqui desceria de

novo até à Igreja de Santiago, seguiria até ao Largo da Porta do Postigo,

daqui passaria entre a Rua António Viegas e o convento da Graça,

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subiria até à Torre de Vigia, descia sobre a zona da Bela Fria, virava

para a margem do rio, ligava o Largo do Parguinho ao Terreiro da Vila e

de seguida chegaria à Praça da República e é aqui que encontramos um

troço desta muralha posto a descoberto, no edifício do BNU.

Esta muralha, segundo informações gentilmente doadas pelo

serviço de arqueologia da Câmara Municipal de Tavira, data do séc. XII

e corresponde a uma ampliação da muralha existente no século XI. É

constituída por alvenaria de pedra argamassada de excelente qualidade,

e apresenta sinais de nele terem sido executados diversos cortes,

passagens e cavidades, em resultado das conveniências das sucessivas

gerações de utentes dos edifícios a ela adossados. Vejamos então duas

imagens deste troço posto a descoberto e que se tem tentado recuperar.

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No entanto, o que acabou de ser dito pode parecer muito vago,

ainda mais para quem não tem a toponímia de Tavira “decorada e

sabida”. Por essa mesma razão, nos anexos, foram incluídos dois

mapas, gentilmente cedidos pelo Posto de Turismo de Tavira e nos quais

se faz o enquadramento cartográfico destas muralhas.

Falta-nos apenas referir a fortificação almôada, o último

alargamento da cintura defensiva posterior à submissão a este poder.

Nesta altura a muralha alargou-se, saindo da antiga mesquita (actual

Igreja de Santa Maria), indo por detrás da Rua de Mouros, seguia então

para a Rua do Postigo e encontraria o troço previamente existente, ao

qual se juntava.

Na época almôada, como já foi referido anteriormente, as

muralhas foram reforçadas e construíram-se as torres albarrãs que

ainda hoje se podem observar: temos a torre albarrã do Castelo (a única

que ainda está completamente visível), outro passadiço na zona da rua

de Trás os Muros que poderá ter sido outra torre albarrã; esta última

poderia guardar a porta da Vila Fria, uma porta que dava acesso à

cidade a partir de uma antiga via romana que aí passava.

Desta época são ainda outras torres, como por exemplo a Torre

que se situava nas imediações do BNU (e que actualmente foi

destruída), as torres na Rua de Mouros, as torres na Rua de Trás dos

Muros ou ainda uma edificação almôada que terá dado origem à actual

Torre de Vigia.

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Legados e Descobertas islâmicas

Como facilmente se calcula, o facto de os muçulmanos terem

dominado esta zona durante algum tempo levou obrigatoriamente a

legados islâmicos na cidade de Tavira.

Muitos dos seguintes legados foram já abordados ao longo do

trabalho, pelo que este ponto funcionará mais como um resumo do que

de mais importante ficou entre nós da cultura árabe.

Assim, podemos começar por referir primeiramente – e por

muito curioso que pareça – a Ponte “romana” de Tavira; ou melhor, a

Ponte conhecida por de Santiago (ver foto 1). Nada nos prova uma

ocupação romana em Tavira propriamente dita, e já vimos que Balsa

não corresponde a esta cidade. Assim, muito provavelmente esta será

uma construção medieval, anterior à ocupação da cidade pela ordem

militar de Santiago.

Outro dos legados é a zona da actual Igreja de Santa Maria ( ver

foto 8 e9) – construída, segundo tudo parece, na antiga Mesquita

aljama, ou seja, a antiga mesquita principal de Tavira; o que de mais

importante há a reter deste sítio é o seu minarete, que segundo a Dra.

Sandra Cavaco e a Dra. Jaquelina Covaneiro apresentava três funções

principais: chamamento dos fiéis às orações diárias, o controlo da costa

marítima e a orientação da entrada no porto de Tavira.

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Quanto à antiga alcáçova, esta é ainda visível – trata-se do

antigo Castelo, tal como já tem vido a ser referido ao longo deste

trabalho. No Castelo, há uma torre octogonal (fotos 4 e 5) que possui

ainda a sua taipa original no embasamento.

Para além das muralhas, das quais ainda são visíveis alguns

troços, podemos referir as portas da cidade: Alfeição, São Brás, Bela

Fria e Pelames.

Não nos esqueçamos ainda da já referida muralha – ou troço de

muralha – encontrado dentro do edifício do BNU.

Um importante achado no possível bairro islâmico foi uma casa

islâmica. No entanto, por dificuldades técnicas, não me foi possível

obter informações nem imagens sobre esta importante descoberta.

Quanto a espólio encontrado, sem dúvida que o mais

importante foi o Vaso de Tavira, do qual farei uma breve análise nos

anexos. Este Vaso parece representar uma cerimónia nupcial berbere e

deve remontar a século XI e foi feito em argila..

Para além deste famosíssimo Vaso, encontrou-se mais espólio,

como por exemplo tigelas, uma floreira do séc. XI, o “Cantil do gato”

(peça que numa das faces apresenta a cara de um gato, derivando daí o

nome), uma tigela decorada a corda seca total, cântaros, tigelas,

púcaros... O achado mais interessante (a nível de ser curioso) foi sem

dúvida uma panela que ainda continha caracóis que remonta aos séc.

XI-XIII.

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Conclusão

Como se viu ao longo deste breve trabalho teórico sobre Tavira,

esta é uma cidade recheada de sítios e artefactos islâmicos; para onde

quer que nos voltemos, eles lá estão, parecem dizer-nos “nós estivemos

cá e sempre estaremos; estamos cá para vos lembrar o início desta

cidade que hoje se expande a olhos vivos”.

Variadíssimo é o espólio deixado cá por esta maravilhosa

civilização: desde uma ponte a um Vaso (tão famoso e importante que

se tornou no símbolo, no logotipo do CAT – Centro Arqueológico de

Tavira), passando por um minarete da Igreja de Santa Maria... A

contribuição islâmica foi de tal ordem que temos inclusivamente largos

na cidade que têm nomes com ela relacionados – refiro-me por exemplo

ao largo Abu Otman, junto à Igreja de Santa Maria e junto ao Castelo.

No entanto, muito “jaz” ainda enterrado, esperando pela sua vez

de surgir à superfície e contar a sua parte na descoberta no mundo

islâmico que se sediou em Tavira durante tanto tempo.

Para tal, será necessário trabalhar-se em equipa, pondo de lado

ressentimentos e concorrências que não levarão a lado nenhum.

Fica pois este desafio e a esperança de que este breve trabalho

tenha encorajado qualquer pessoa que o leia a partir à descoberta de

Tavira Islâmica...

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Anexos...

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Bibliografia:

“Tavira – território e poder”, Catálogo de exposição,

Coordenação científica de Marco Lopes, 2003

FRAGA, L., “Tavira Islâmica”, CAT;

http://www.limag.com/Textes/ZekriMostafa/ColloqueAlg

arve.htm;

http://www.sotavent.de/tavilesf.htm

www.oz-diagnostico.pt/conservacao.htm